XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC 2º SEMINÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO ÁREA TEMÁTICA: INOVAÇÃO APLICADA AO PLANEJAMENTO: SUB-ÁREA: FERRAMENTAS DE PLANEJAMENTO E GESTÃO. PROTOCOLO DE MANCHESTER: MAIS DO QUE UM SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO DE RISCO: Revisão da história e análise de impactos secundários positivos produzidos pela utilização do MTS Glaucia Taborda M Francisco1 Izaura Alberton de Lima2 Resumo Introdução: O uso de escores de estratificação de risco em unidades de emergência (UE) tem se tornado cada vez mais rotineiro, tanto no serviço publico quanto no privado. Estes escores propõem-se a identificar os pacientes mais graves e/ou de maior potencial de gravidade, priorizando seu atendimento. Dentre estes escores destaca-se o Manchester Triage System (MTS), que desde a sua criação naquela cidade britânica, em 1997, vem sendo cada vez mais utilizado; inicialmente na Europa e atualmente em vários países ao redor do mundo. Esta difusão deve-se as características do protocolo, em que a queixa do paciente leva a um fluxograma de apresentação com vários discriminadores; e as respostas positivas ou negativas a estes discriminadores levam a uma prioridade clínica definida por cores, as quais correspondem gravidade e tempo máximo que o paciente pode esperar por atendimento. Este tempo pode variar de imediato (cor vermelha) ate espera estimada de 240 minutos (cor azul). Estas características possibilitam sua fácil reprodutibilidade, bem como adaptabilidade a diversas condições locais. Também requer que haja treinamento especifico para todo o pessoal envolvido no atendimento. Habitualmente o protocolo é aplicado pelo profissional de enfermagem de nível superior. No Brasil é utilizado em serviços públicos desde 2008, tendo sido o estado de Minas Gerais o pioneiro. Objetivo: O MTS passou por diversos trabalhos de pesquisa que avaliaram sua validade e confiabilidade, que foram sistematicamente confirmadas, havendo inclusive inúmeros trabalhos de revisão a este respeito. Mais recentemente surgiram outras linhas de pesquisa a respeito do MTS, questionando se este protocolo poderia ser mais do que uma ferramenta eficaz para estratificação de risco dos pacientes aguardando atendimento em unidades de emergência. Estes trabalhos pesquisaram ligações entre o uso do MTS e os desfechos finais dos pacientes (hospitalização e taxa de mortalidade) e variáveis como o nível de satisfação dos clientes antes e depois do uso deste protocolo. Este trabalho tem por objetivo fazer uma revisão histórica do MTS e avaliar os impactos positivos produzidos além do objetivo inicial do Protocolo, a estratificação de risco dos pacientes em UE’s. Metodologia: foi feita revisão de literatura sobre o tema a partir das bases PubMed, Scielo, BDTD e também de material publicado como TCC ou dissertação fora destas bases. Discussão/Resultados: Foram incluídos 08 trabalhos. Entre os que fazem revisão sistemática sobre validade/confiabilidade do MTS todos tiveram resultados positivos. Entre os demais, os estudos apontam que o MTS tem correlação com a evolução final dos pacientes, especialmente quanto a hospitalização e mortalidade. Destes chama a atenção um estudo realizado na cidade de Lisboa, Portugal, pelo número bastante significativo de pacientes e pelo tempo de seguimento. Apenas um estudo, realizado na Holanda, desenhado para 1 Mestranda do Programa de Mestrado Profissional em Planejamento e Governança Pública da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. E-mail: [email protected] 2 Doutora em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina e professora na Universidade Tecnológica Federal do Paraná. E-mail: [email protected] Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina 1 XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC avaliar o nível de satisfação dos pacientes antes e depois da implantação do MTS reuniu condições para ser incluído nesta analise, pois não existiam fatores que pudessem servir de viés na avaliação dos resultados (mudança no perfil/número de pacientes atendidos ou da equipe de atendimento) e mostrou aumento do nível de satisfação dos pacientes após a introdução do Protocolo de Manchester. Conclusões: o uso do MTS nas unidades de emergência tem se confirmado exaustivamente como ferramenta eficaz na classificação de risco dos pacientes. Mas também tem se mostrado eficaz como preditor de desfechos e influenciado positivamente no nível de satisfação dos clientes. Palavras-chave: Manchester Triagem System, Estratificação de risco, Preditor de desfechos, Satisfação do cliente. Abstract Background: The use of scores for risk stratification in the emergency units (EU) has become increasingly routine, both in public service and private settings. These scores are proposed to identify the worst and / or most potential severity patients, prioritizing their care. Among these scores highlight the Manchester Triage System (MTS), which since its creation in that British city in 1997, has been increasingly used; initially in Europe and now in several countries in 5 continents. This release should be the characteristics of the protocol, in which the patient's complaint leads to a flow chart presentation with multiple discriminators; and positive or negative responses to these discriminators lead to a clinical priority defined by colors, that match the severity and the maximum time that the patient can wait for care. This time can vary from immediate (red) until estimated waiting 240 minutes (blue). These characteristics allow its easy reproducibility and adaptability to different local conditions. It also requires that there be specific training for all staff involved in the care. Usually the protocol is implemented by top-level nursing professional. In Brazil it is used in public services since 2008 and was the state of Minas Gerais pioneer. Objective: The MTS underwent several research studies evaluated its validity and reliability, which were systematically confirmed, including having numerous review papers in this regard. More recently, other lines of research regarding the MTS arose, questioning whether this protocol could be more than an effective tool for risk stratification of patients waiting for care in emergency rooms. This work investigated the use of the links between MTS and the final patient outcomes (hospitalization and mortality) and variables such as the level of customer satisfaction before and after the use of this protocol. This study aims to assess the impacts produced beyond the initial objective of the Protocol, risk stratification of patients in the EU, when using the MTS. Methodology: literature review on the topic from PubMed, Scielo and BDTD was taken, in addition to published material as CBT or dissertation. Results: 08 papers were included. They point out that MTS has correlation with the final outcome of patients, especially regarding hospitalization and mortality. These calls attention to a study in the city of Porto, Portugal, the very significant number of patients and the follow-up period. Only one study, conducted in the Netherlands, was designed to assess the level of patient satisfaction before and after implementation of the MTS met conditions to be included in this analysis because there were no factors that could serve to bias the outcome (change in the profile or number of treated patients or the care team) and showed increased level of patient satisfaction after the introduction of the Manchester Protocol. Conclusions: The use of MTS in the emergency units has been extensively confirmed as an effective tool for risk stratification of patients. But it has also been proven effective in predicting outcomes and influenced the customer’s satisfaction level. Keywords: Manchester Triage System, Risk Stratification, Outcome Predictor, Customer Satisfaction. Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina 2 XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC 1. Introdução As primeiras atividades de triagem de pacientes por gravidade teve início nas guerras napoleônicas; ‘triage’ significa separar, classificar, em francês. O cirurgião Dominique Jean Larrey criou o primeiro sistema de estratificação de gravidade para os soldados feridos durante as batalhas. Também contribuiu com a criação do primeiro sistema de ‘ambulâncias’ (carruagens modificadas) para retirada dos feridos em campo para os hospitais de guerra, montados nas imediações. Até os anos 60 estes sistemas foram basicamente utilizados pelos militares, quando passaram a ser utilizados em hospitais civis nos Estados Unidos. Nas décadas de 70 e 80 houve um grande debate sobre as questões éticas envolvidas na triagem dos pacientes e também na redução do tempo de espera dos pacientes graves. No final dos anos 80 a atividade de triagem estava amplamente difundida, porém não padronizada. Isto é, era feita em cada local de uma forma e por um profissional diferente (médico ou enfermeiro). Na década de 90 tiveram início as primeiras sistematizações que culminaram com o desenvolvimento de vários sistemas de triagem, que poderiam ter sua eficácia mensurada facilmente. O primeiro destes foi desenvolvido na Austrália. Em seguida, Canadá e Estados Unidos. Em 1997 foi usado pela primeira vez na cidade de Manchester um sistema de estratificação desenvolvido pelo Grupo de Triagem de Manchester (GTM). No ano de 2000 o protocolo passou a ser utilizado por dois grandes hospitais portugueses, sendo também criado o Grupo Português de Triagem (GPT) em 2001. No Brasil, em 2002, o Regulamento Técnico dos Sistemas Estaduais de Urgência e Emergência impulsionou a organização dos sistemas de urgência em todos os níveis. Também recomendou a substituição do termo triagem por classificação de risco. Já em 2007 ocorreu em Belo Horizonte o primeiro curso sobre o protocolo de Manchester, ministrado pelo GPT. Em 2008 o MTS começou a ser usado em alguns locais naquela cidade. Em 2010 todo o estado de Minas Gerais o estava utilizando. Também em 2008 foi constituído o Grupo Brasileiro de Classificação de Risco (GBCR), com vistas a promover revisões, adaptações e, especialmente, auditorias do MTS. Atualmente o protocolo vem sendo utilizado em vários países ao redor do mundo. No Brasil também seu uso está sendo rapidamente difundido. Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina 3 XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC Figura 1: Linha do tempo dos Sitemas de Triagem 1792: Guarda Imperial de Napoleão. Dominique Jean Larrey cria o primeiro sistema de triagem, para atendimento aos soldados feridos em batalha 1960: Primeiros Serviços de Emergência utilizando sistemas de triagem, nos EUA 1997: Criação do Sistema de Triagem de Manchester, na Inglaterra 2000: Início da utilização do MTS em Portugal 2008: INÍCIO DA UTILIZAÇÃO DO MTS NO BRASIL (MG) O MTS baseia-se não em diagnósticos, mas na apresentação do quadro clínico do paciente que procura atendimento da Unidade de Emergência. A queixa do paciente leva a um fluxograma de apresentação em que a presença (ou ausência) de certos discriminadores estabelece uma prioridade clínica definida por cores. Cada cor corresponde à gravidade do caso e implica em um tempo máximo para o atendimento do paciente. A figura 2 exemplifica como funciona este fluxograma num caso de dor torácica. Atendimento Imediato Máximo 10 minutos Máximo 60 minutos Máximo 120 minutos Máximo 240 minutos •Obstrução vias aéras •Respiração inadequada •Choque •Dor precordial ou cardíaca •Dispnéia aguda •Pulso Normal •Dor intensa •Dor pleurítica •Vômitos persistentes •História cardíaca importante •Dor importante •Vômitos •Dor leve recente •Evento recente •Dor leve e/ou crônica •Sem vômitos ou outros sintomas associados •Sem história cardíaca Figura 2: Exemplo de fluxograma de priorização de atendimento pelo MTS para queixa de dor torácica (adaptado do GPT, 1997). Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina 4 XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC O MTS é bastante flexível e permite a criação de protocolos internos complementares. Por exemplo, em Portugal foram criadas as ‘vias verdes’ para otimizar ainda mais o atendimento a casos suspeitos de AVC (derrame), IAM (infarto agudo do miocárdio) e sepse. Cada uma destas vias verdes inclui a realização de exames confirmatórios destes diagnósticos em um curto espaço de tempo. Por exemplo, a via verde coronária (para suspeita de IAM) prevê a realização de eletrocardiograma em no máximo 10 minutos; confirmado o infarto, o tratamento (por uso de trombolítico ou realização de angioplastia) deve ser realizado em no máximo 30 minutos. No Brasil, o GBCR recomenda a realização de ECG para todos os casos de dor torácica, independente do nível de prioridade atribuído na avaliação inicial. Também foi criada a cor branca, para identificar os pacientes que procuram as unidades de emergência sem apresentar qualquer queixa aguda, mas que demandam algum cuidado, processo diagnóstico ou terapêutico de forma eletiva. Tal cuidado em diferenciar pacientes ‘não emergenciais’ é importante para evitar viés nas auditorias internas do MTS. Devido a estas características o MTS foi sendo rapidamente aplicado em vários países, muitos dos quais com adaptações como as descritas acima. Também foram sendo produzidos estudos sobre a validade e confiabilidade deste protocolo de triagem. Mais recentemente começaram a ser publicados estudos sobre impactos produzidos pelo uso do MTS além da estratificação de risco dos pacientes. Alguns estudos correlacionaram o uso do protocolo com o desfecho final dos pacientes. Outros avaliaram nível de satisfação dos usuários do sistema de saúde antes e depois da instituição do MTS. Este trabalho se propõe a fazer uma breve revisão histórica sobre o Protocolo de Manchester e avaliar os impactos positivos secundários advindos do uso deste sistema de triagem em particular. 2. Objetivo Revisão breve do histórico de implantação (especialmente nos países em que foram feitas adaptações locais) e dos processos de aferição da validade/confiabilidade do Manchester Triage System e avaliação dos impactos secundários positivos obtidos em serviços que utilizam este Protocolo. Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina 5 XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC 3. Metodologia Revisão bibliográfica utilizando as bases de pesquisa Pubmed, Scielo e BTDB. Foram inicialmente selecionados artigos que citassem o MTS e validade/confiabilidade (validity/reliability). Destes resultados iniciais foram excluídos estudos internacionais mais antigos, até o ano de 2008, ou por terem sido utilizados em revisões sistemáticas mais recentes e abrangentes ou por não apresentarem universo significativo de pacientes (pelo menos 1000 pacientes incluídos no estudo). Foram, portanto, incluídos papers publicados entre 2008 e 2014 e que contivessem um universo significativo de pacientes ou que fossem revisão sistemática de estudos previamente publicados. Também foram incluídas dois TCC, um apresentado em faculdade de enfermagem de uma universidade brasileira e outro em faculdade de medicina de universidade portuguesa; o primeiro pela quantidade e qualidade de artigos citados no capítulo referente a validade/confiabilidade do MTS; o segundo por fazer revisão sistemática do período inicial do uso de protocolo em Portugal e uma comparação destes resultados iniciais com os obtidos após o estabelecimento das vias verdes. Também foram incluídos artigos recentes sobre os resultados obtidos na Holanda e na Alemanha, ambos já com adaptações locais do MTS, também pela quantidade significativa de pacientes incluídos nestes estudos e pela qualidade da análise estatística. Foi também incluído um estudo brasileiro, por ter sido realizado no período inicial do uso de MTS em Belo Horizonte e fazer uma comparação entre os resultados obtidos na classificação de risco pelo protocolo institucional anteriormente utilizado e o de Manchester, através de análise estatística muito detalhada. Uma segunda pesquisa foi realizada nas mesmas bases, selecionando os estudos sobre os impactos secundários positivos no uso do MTS. Diversos estudos relacionando desfechos finais (mortalidade e hospitalização) dos pacientes triado pelo MTS apareceram. Todos com resultados bastante similares. Foram, então, selecionados dois, um produzido em Portugal, por ser aquele com maior número de pacientes incluídos, e outro no Brasil, para uma melhor avaliação da nossa realidade. Embora tenham sido produzidos vários estudos pesquisando nível de satisfação dos pacientes antes e depois do uso do MTS nas unidades de emergência, apenas um foi incluído, por explicitar na sua metodologia a ausência de qualquer outro fator que pudesse causar viés na interpretação dos resultados obtidos. Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina 6 XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC 4. Discussão e Resultados Na revisão histórica foi incluído um estudo publicado no início de 2014 (Parenti et al, Int J Nurs Stud) que fez uma revisão sistemática sobre a validade/confiabilidade do protocolo de Manchester. Trata-se de um estudo que arrolou papers publicados entre 1997 e novembro de 20012, selecionados através da diretriz PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic reviews and Meta-Analisys). Cabe um parêntese sobre a diretriz PRISMA: trata-se de um check list de 27 itens e um diagrama de fluxo de 4 fases que visa tornar mais transparentes e uniformes os trabalhos que a utilizam para revisões e análises, especialmente na área de saúde. A diretriz foi desenvolvida no início da década de 2000 por um grupo criado com esta finalidade específica, congregando pesquisadores e autores ligados a instituições das áreas de saúde e pesquisa no Canadá, Inglaterra e Itália e vem sendo utilizada com frequência cada vez maior. Pode ser acessada no site www.prisma-statement.org Utilizando a diretriz Prisma foram incluídos 12 trabalhos publicados em 5 bases de dados diferentes. Estes trabalhos tratavam da aferição da validade/confiabilidade do MTS em diversos países: Austrália, Canadá, Inglaterra, Portugal, Holanda, Suécia. Todos os estudos foram produzidos entre 1997 e 2012, incluíram número significativo de pacientes (ao menos 5000) e usaram a análise de concordância Kappa na avaliação da confiabilidade inter e intra-avaliadores. Portanto, trata-se de uma revisão bastante abrangente, que incluiu os principais trabalhos publicados sobre este tema no período. A conclusão obtida foi que o MTS apresenta taxa de concordância prevalentemente boa ou muito boa. Também apontou que a qualidade da informação nestes estudos de avaliação de confiabilidade/validade foi boa. Também foram incluídos dois trabalhos publicados após esta revisão sistemática, um holandês (Van der Wulp et al, Med Emerg J, 2011) e outro alemão (Graff et al, PLow One, 2014), por relatarem o uso de versões adaptadas do MTS. No caso da Holanda, foram incluídos alguns discriminadores específicos para crianças, que aumentaram a sensibilidade do protocolo. No caso da Alemanha, foram introduzidas mudanças nos diagramas de apresentação das queixas e dos indicadores, visando aumentar a sensibilidade do MTS. Este estudo reuniu uma amostra de 45.469 pacientes; a avaliação mostrou que houve correlação significativa entre o nível de prioridade dos pacientes e os desfechos (morte e hospitalização); as categorias vermelho e laranja tiveram um número significativamente maior de procedimentos invasivos (cateterismo e endoscopia digestiva, Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina 7 XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC por exemplo), enquanto as categorias verde e azul tiveram basicamente pacientes que foram liberados para casa. Também foi feita uma avaliação posterior de uma sub-amostra em que especialistas em emergência refaziam a estratificação dos pacientes conforme os dados das fichas de atendimento; a concordância entre os avaliadores (enfermeiros na primeira avaliação e os especialistas na segunda) foi quase perfeita (k=0,954). Em relação aos estudos produzidos no Brasil, a maioria foi produzida no estado de Minas Gerais. Em 2011 foi publicado um estudo muito interessante (Souza et al, Rev. Latin. Enferm), comparando os resultados obtidos na estratificação dos pacientes pelo índice próprio do Hospital Municipal Odilon Behrens (HBO) em comparação com os obtidos pelo MTS. O protocolo de Manchester foi considerado mais inclusivo do que o protocolo local, mas foi detectada uma dificuldade em identificar pacientes que sofrem deterioração da sua condição clínica após avaliação inicial. Na questão dos impactos secundários, esta foi uma discussão lançada por um grande estudo português (Martins et al Emerg Med J, 2009) em que foram analisados 321.539 prontuários de atendimentos realizados num período de 30 meses. Este estudo detectou uma correlação clara entre a classificação de risco inicial e taxas de mortalidade e hospitalização: os pacientes inicialmente triados como de maior gravidade tiveram maior índice de hospitalização e de mortalidade tanto inicial como num prazo de 30 dias. Também detectou um menor poder discriminatório entre especialidade médica e cirúrgica. Após este estudo foram feitas modificações em alguns discriminadores no protocolo e um novo estudo em 2014 incluindo 25.218 casos (Santos et al, Emerg Med J) mostrou que esta diferença na avaliação entre pacientes clínicos e cirúrgicos havia desaparecido. No Brasil, foi realizado um estudo por Pinto Jr. et al (Rev Latino am de Enf, 2012) abrangendo um universo de 300 pacientes atendidos em serviço de pronto socorro de um grande hospital de Belo Horizonte. Ao invés de avaliar taxas de hospitalização e mortalidade este estudo avaliou o TISS-28 (Therapeutic Intervention Scoring System), um índice utilizado para mensurar a gravidade do quadro clínico do paciente. A conclusão é de que houve diferenças significativas na pontuação do TISS entre os pacientes inicialmente triados para as cores vermelho, laranja e amarelo. Um estudo holandês publicado em 2014 (Storm-Versloot et al) incluiu 1.800 pacientes que foram entrevistados quanto ao nível de satisfação dos pacientes atendidos em uma UE. A primeira série de 900 entrevistas foi feita imediatamente antes e a segunda imediatamente após a implantação do MTS naquela Unidade. O grau de satisfação relatado pelos clientes foi significativamente maior na segunda série, muito embora o tempo total Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina 8 XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC de permanência na Unidade não tenha sido alterado; ao contrário, entre os grupos classificados como de menor risco houve um incremento neste tempo de espera. Este trabalho deixa claro em seu desenho que não houve mudanças no número de pacientes que procuraram atendimento, na equipe que prestou atendimento ou na estrutura física da UE. Os autores chamam a atenção que o simples uso do MTS não incrementa a qualidade do atendimento prestado no serviço, quando são avaliados indicadores específicos. Assim, pode-se concluir que o uso do Protocolo por si só gerou este aumento do nível de satisfação entre os clientes. 5. Conclusões O MTS é uma ferramenta efetiva na classificação de risco de pacientes a espera de atendimento em Unidades de Emergência, fato comprovado através de inúmeros estudos que confirmaram sua validade e confiabilidade. Em relação aos estudos produzidos no Brasil, há indícios de que deve ser estabelecida um intervalo para reavaliações após concluída a avaliação inicial, pois vários estudos citam que o protocolo por si só não é capaz de detectar a deterioração do quadro clínico dos pacientes. Entretanto, agrega também impactos positivos secundários. Vários trabalhos o apontam como sendo também um bom preditor de desfechos para os pacientes avaliados inicialmente como os de maior risco. E, mais recentemente, também a sua utilização foi associada a aumento do nível de satisfação dos usuários de UE’s. Assim, torna-se uma ferramenta útil na gestão de assistência à saúde. BIBLIOGRAFIA CITADA Anziliero, Franciele. Emprego do Sistema de Triagem de Manchester na Estratificação de Risco: Revisão de Literatura. TCC apresentado na Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, 2011 Graff I, Goldschmidt B, Glien P, Bogdanow M, Fimmers R, Hoeft A, The German Version of the Manchester Triage System and its quality criteria- first assessment of validity and reliability in PLos One 2014 Feb 24;9(2):e88995 Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina 9 XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC Martins HM, Cuña LM, Freitas P, Is Manchester (MTS) more than a triage system? A study of its association with mortality and a admission to a large portuguese hospital in Emerg. Med. J. 2009 Mar;26(3):183-6 Parenti, N; Reggiani, ML; Iannone, P: Dowding, D. A systematic review on the validity and reliability of na emergency department traige scale, the Manchester Trigae System in Int J Nurs Stud. 2014 Jul51(7);1061-1069 Pinho, Ana. Manchester Triage System Analysing Waiting Times: Theory vs Practice. TCC apresentado na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, Cidade do Porto, Portugal, 2010. Pinto D Jr, Salgado P de O, Chianca TC, Predictive validity of the Manchester Triage System: evaluation of outcomes of patients admitted to an emergency department in Revista Latino-americana de Enfermagem, 2012 nov-dec;20(6)1041-1047 Santos, AP, Freitas P, Martins HMG, Manchester Triage System version II and resource utilisation in the emergency department in Emerg Med J 2014;31:148-152 Souza CC, Toledo AD, Tadeu LFR, Risk Classification in na Emergency Room: Agreement Level Between a Brazilian Institutional and the Manchester Protocol in Revista Latino-Americana de Enfermagem, 2011 jan-feb;19(1) Storm-Versloot, MN; Vermeulen, H; van Lammeren N; LuitsC: Influence of the Manchester triage system on waiting time, treatment time, lenght of stay and a patient satisfaction; a before and after study in Emerg. Med. J 2014 Jan;31(1):13-18 Van der Wulp I, Van Baar ME, Schrijvers AJ, Reliability and validity of the Manchester Triage System in a general emergency department patient population in the Netherlands: results of a simulation study in Emerg Med J, 2011 Jul;25(7):431-4 Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina 10 XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina 11