PAPER 1/6 Micro central hidrelétrica com turbina hidrocinética (Estudo de caso no Rio Caçadorzinho) Title Registration Nº: (Abstract) AWLC6774 Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR (Campus Pato Branco) Via do Conhecimento, Km 1, 85501-970, Pato Branco, Paraná, Brasil. Name César Augusto Portolann Sergio Luis Ribas Pessa Juliana Kock Geovane Snizer Authors of the paper Country Rua Francisco Xavier, 244, 85505020, Centro, Pato Branco, PR, Brasil Rua Manaus, 55, 85504-270, Bairro Pinheiros, Pato Branco, Paraná, Brasil Brasil Thiago Prado De Campos Rua Duque de Caxias, SN, 85550000, Coronel Vivida, PR, Brasil Brasil Daniel Prado De Campos Brasil e-mail (055) 46 3220 2589 [email protected] (055) 46 3220 2585 [email protected] [email protected] [email protected] thiagopradodecampos@hotmail. com [email protected] Key words Carga dump, Controle de tensão, Eficiência energética, Micro-central hidrelétrica, Turbina hidrocinética. Resumo O Sudoeste do Paraná necessita de incentivos para um desenvolvimento mais sustentado. Pequenos e médios agricultores dessa região podem contribuir nisso, se tiverem maior oferta de energia elétrica para manufatura de produtos. Grande parte dos agricultores recebe potência em 5 KVA. Com maior capacidade instalada, poderão industrializar e agregar valor a produtos antes comercializados “in natura”, e também oferecer serviços. O incremento na oferta de eletricidade poderá ser feito por meio de micro-centrais hidrelétricas, que sejam atrativas técnica e economicamente. Em geral, pequenas plantas de geração convencional não são atrativas devido ao custo da turbina e dos reguladores de tensão e velocidade. Este estudo propõe uma micro usina que usa turbina hidrocinética, e os controles de tensão e frequência se utilizam de “link” de corrente contínua, carga “dump” e inversor de tensão. Este tipo de geração se caracteriza pelo baixo custo, aliado à confiabilidade, onde se evita a construção de barragem, operando de forma a extrair máxima potência, com custo inicial e de manutenção baixos, operação automática confiável, pouca exigência de manutenção e espera-se vida longa. O projeto tem o objetivo de desenvolver uma micro-central hidrocinética que tenha boa aceitação entre os agricultores, e consequentemente facilidade para a difusão do seu uso. Neste artigo a ênfase é dada ao controle de tensão, que é uma parte vital do projeto, pois é também responsável pela qualidade da energia elétrica gerada. Uma equação mostra a relação entre a tensão terminal da micro-central e a ação do controlador sobre a carga “dump”. São obtidos resultados de um protótipo que confirmam a teoria preestabelecida. 1/6 PAPER 2/6 1 - Introdução 2 - Descrição sucinta do sistema Este trabalho visa contribuir para a difusão de micro-usinas hidrelétricas (MCH) nas regiões sudoeste do Estado do Paraná e Oeste de Santa Catarina (Brasil), onde se verificam baixos índices de desenvolvimento humano (IDH). Uma maior oferta de energia elétrica permite que famílias manufaturem produtos, agregando valor, ao invés de comercializá-los “in natura”, como é o caso de frutas, legumes, cereais e carnes, que poderiam ser transformados em geléias, compotas, vinhos, biscoitos e embutidos, etc. Também, os agricultores sofrem com interrupções frequentes no fornecimento de energia elétrica, que implica em ordenha manual e falta de refrigeração do leite. A difusão destas usinas ocorre basicamente por meio da minimização dos custos globais, ao mesmo tempo que se mantém a confiabilidade e a boa qualidade da energia. Para alcançar esses objetivos, neste projeto, duas ações básicas são consideradas. A primeira refere-se à utilização de turbina hidrocinética, que evita a construção de barragem, canalização, tubulação forçada e comporta, conferindo mais economia. A segunda ação diz respeito ao processamento da energia gerada, que deve ser de boa qualidade, porém, os controladores devem ser simples e robustos. De modo mais específico, é necessário que a amplitude e a frequência da tensão gerada sejam mantidas controladas, através de dispositivos baratos e confiáveis. O controle da frequência será de responsabilidade de inversor(es) de tensão, cuja saída fornece uma frequência fixa; assim, a ênfase deste trabalho será o controle da amplitude da tensão. O projeto desta micro usina está previsto para ser implementado no Rio Caçadorzinho, município de Vitorino ou no Rio Marmeleiro no município de Marmeleiro, ambos no estado do Paraná. O artigo está estruturado como segue. Depois da introdução será vista uma breve descrição geral do esquema proposto. Na sequência serão abordados os aspectos teóricos, que justificam por meio de equações, a relação da tensão com alguns parâmetros. Em continuidade são apresentados os resultados, obtidos de um protótipo, com a finalidade de atestar o controle de tensão. Finalmente são feitas as conclusões. A Figura 1 representa o sistema, que é composto de turbina hidrocinética, gerador de indução auto-excitado (ou gerador de ímã permanente ou síncrono), retificador a diodos, controlador de tensão e inversor de tensão. Fig. 1 - Esquema da micro-central proposta. Uma parte fundamental da MCH é a turbina, que no caso optou-se por uma do tipo hidrocinética, conforme justificado anteriormente. A foto dessa máquina a ser utilizada no projeto, pode ser vista na Figura 2. A aplicação do gerador de indução tipo gaiola de esquilo, em sistemas autônomos ou isolados, como nesse caso, é muito difundida, principalmente por sua robustez, e pouca necessidade de manutenção. O retificador trifásico, sendo do tipo não controlado, oferece simplicidade e baixo custo. É seguido de um filtro passa-baixas que minimiza a ondulação da tensão gerada, contribuindo para a boa eficiência do controlador de tensão. Fig. 2 – Turbina hidrocinética utilizada. 2/6 PAPER O “link” de corrente contínua é desejável, e importante porque simplifica o controle da frequência que é ajustada por um inversor de tensão, permitindo que o controle de tensão seja efetuado por uma única chave semicondutora. O inversor de tensão se constitui num conversor CC-CA, e providencia a tensão alternada para cargas como motores em geral, iluminação fluorescente e outras cargas, com a frequência fixa, no caso em 60 Hz. 3 - O controle de tensão 3.1 - Generalidades O controlador de tensão é sintetizado por um conversor “chopper” atuando sobre uma carga “dump”. Do circuito da Figura 1, tem-se que: V E Ir onde: (1) V: tensão nos terminais das cargas; E: tensão na saída do retificador; I: corrente no link CC; r: soma de diversas resistências. Considerando que a potência nas cargas é: (2) Pc VI Substituindo (1) em (2): Pc E Ir I (3) Pc EI I 2 r (4) Isolando I em (1) e substituindo em (4): I E V r E V Pc E r (5) 2 E V r r (6) EV V 2 (7) r r Multiplicando por r, resulta a seguinte expressão, que pode refletir a regulação do link de CC, como função da f.e.m., de r e da carga total Pc: Pc V 2 EV rPc 0 (8) A tensão terminal pode ser mantida constante pelo “chopper”, por meio de variações apropriadas na potência demandada pela carga dump R2 (Subramanian, Ray). Com 3/6 base no fato que a tensão terminal cai com o aumento da carga, e vice-versa, a minimização da regulação de tensão ocorre obviamente da seguinte forma: se a tensão terminal tende a cair por causa do aumento da carga principal (ou ainda em razão de um déficit da energia primária, que por sua vez implica em uma redução da tensão E), a potência na carga dump é automaticamente reduzida, com base na variação da largura de pulso de tensão aplicado em R2. Se a tensão tende aumentar, a largura de pulso é incrementada adequadamente. A carga principal em uma micro-central com link de CC, pode ser constituída de vários aparelhos, tais como aquecedores, lâmpadas incandescentes, motores CC, carregadores de baterias e inversores de tensão para cargas de corrente alternada. No caso, para facilidade na obtenção dos resultados, R1 foi formada somente por quatro lâmpadas incandescentes de 100W, 220V. A carga dump foi constituída por uma resistência em série com um transistor Mosfet IRF730. O sinal de tensão é obtido de um divisor de tensão formado pelos resistores Ra e Rb. Este sinal é introduzido em um dispositivo que converte o sinal de tensão contínua, em sinal de tensão pulsante, com largura de pulso proporcional ao sinal de entrada – PWM. No caso foi utilizado o circuito integrado LM3524. Na prática, a carga dump R2 pode ser plenamente utilizada, como por exemplo em aquecimento de água, aquecimento de fornos e carga de baterias, dentre outras aplicações. 3.2 - Tensão versus largura de pulso (w) A carga “dump” tem o objetivo de manter a potência gerada, aproximadamente constante (valor nominal), mantendo fixa a queda de tensão natural ou regulação. Assim, ele executa um papel de controlador de tensão, compensando variações na carga principal, e na força eletromotriz gerada (Stein, Manwell). A carga dump é modulada por um conversor CC-CC, sintetizado por um único semicondutor de potência, significando maior confiabilidade e possível menor custo. Algumas vantagens deste controle: Substitui a excitatriz (caso de gerador síncrono), ou controle de tensão em geradores de indução, via de regra complexos; Contribui para a regulação de velocidade, substituindo em parte o regulador de velocidade, geralmente oneroso; 3/6 PAPER Previsão de bom comportamento para grandes e súbitas variações de carga; A mão-de-obra para instalação não necessita ser especializada. De modo geral, o funcionamento da carga “dump” é representado como segue, onde se despreza as perdas: V 4/6 2 E E 1 r G2 o 1 T w 0 2 G2,max dt (15) 2 Potência gerada = carga dump + carga principal A função da carga dump, neste caso, é “casar” a potência gerada com as variações de carga. Assim, a potência gerada deve ser constante, independentemente das variações na carga principal. Com a técnica de controlar a carga através de um dispositivo eletrônico, uma carga ôhmica pode ter os seus valores médio e eficaz controlados [2,3]. Por conveniência a carga dump será tratada inicialmente como condutância efetiva. 4r R1 R2 w R1 R2 T A tensão depende da potência modulada pela carga dump, que por sua vez está relacionada com a largura do pulso de tensão aplicado sobre R2. Se a corrente da carga principal aumenta/diminui, a largura de pulso diminui/aumenta respectivamente, para que a carga dump se adapte, fazendo com que o gerador perceba uma corrente constante nos seus terminais. A Figura 3 ilustra essa adaptação da largura de pulso para diferentes resistências (R1) da carga principal, em Ω. (9) 230 225 w G2 o G2,max T (10) (11) A expressão (11) constitui a resistência efetiva da carga dump, como função da largura de pulso w do conversor CC-CC: Tensão terminal (V) 1 T 1 G2 o w G2,max 220 215 210 205 200 195 190 185 R2 o T R2 w (12) Por sua vez, a resistência efetiva total de carga do link CC, pode ser dada por: Rc R1 R2 (13) w R1 R2 T Considera-se também que a potência gerada pode ser estabelecida por: Pg E2 r Rc r E2 R1 R2 (14) w R1 R2 T Admitindo as perdas desprezíveis frente às cargas, permitindo aproximar Pc = Pg, a expressão (8) pode ser rearranjada para (15), a qual evidencia a relação da tensão V com a largura de pulso w. w(163,3) 0 0.5 1 w(R1=121ohm) w(242) 1.5 w(484) 2 2.5 3 Largura de pulso - w (us) w(inf) 3.5 4 x 10 -4 Fig. 3 - Tensão versus w. 4 - Resultados Com base no esquema da Figura 1, se verifica o comportamento em regime permanente do sistema apresentado. Efetuaram-se variações na carga principal, reduzindo-se a sua potência, desde um valor máximo até zero. R1 se constituiu inicialmente de quatro lâmpadas incandescentes de 100W/220V. A carga dump R2 foi formada por uma resistência com aproximadamente o mesmo valor e potência da carga principal, e submetida à modulação PWM. A partir desse estado inicial, a carga principal foi reduzida em degraus iguais, e registrada a largura de pulso respectivo, ilustrado nas Figuras que seguem, bem como outras grandezas de interesse. 4/6 PAPER Ponto 1 – estado inicial Cada estado do pequeno sistema isolado foi rotulado como um ponto diferente do outro. O ponto 1 é caracterizado pelo fato da carga principal ser máxima. A tensão terminal foi de 193 V, a corrente na carga principal foi de 1,73 A, enquanto na carga dump foi nula. Para este caso, a largura de pulso w também foi zero. Utilizando a expressão (11), a resistência efetiva da carga dump, e a potência dissipada nela, tiveram respectivamente os seguintes valores: R2 o ,1 P2,1 5/6 Ponto 3 A Figura 5 mostra a largura de pulso w, resultante do caso onde a potência da carga principal foi reduzida pela metade, e a corrente dela caiu para 0,862 A. Para manter a tensão em 193 V, foi necessário incrementar w para o valor de 156 µs, representando um aumento da corrente na carga dump para 0,894 A. 380 121 ; 0 1932 0 W . Ponto 2 Neste segundo estado, a corrente da carga principal foi reduzida para 1,296 A devido à redução da potência. A tensão terminal V tenderia a aumentar, porém foi mantida em 193 V, graças ao aumento da corrente na carga dump para 0,447 A (valor médio), como conseqüência de um incremento na largura de pulso w, para 52 µs. Isto pode ser verificado na Figura 4. A resistência efetiva da carga dump diminuiu como resultado da modulação PWM. Naturalmente, a potência desta carga aumentou. Fig. 5 - W para P1=½Pmax Os valores de resistência efetiva e de potência para a carga dump foram respectivamente: R2 o ,3 P2,3 380 121 188,8 ; 156 1932 197, 3 W . 188,8 Ponto 4 A Figura 6 ilustra o penúltimo estado das variáveis foi caracterizado pela corrente principal reduzida para o valor de 0,428 A. Fig. 4 – W para P1=¾Pmax Esses valores são mostrados a seguir. R2 o ,2 380 121 327,1 ; 52 2 P2,2 193 113,9 W . 327,1 Fig. 6 - W para P1=¼Pmax. Agora, com um aumento da corrente em R2 para 1,125 A, decorrente de um incremento de w para 260 µs, a tensão terminal foi garantida no valor de 193 V. Os valores de resistência efetiva e de potência para a carga dump, neste caso, foram respectivamente: 5/6 PAPER R2 o ,4 P2,4 6/6 A Figura 10 resume o efeito de compensação da carga dump. Neste gráfico é mostrado que a variação da carga principal é sempre complementada pela carga dump, ou seja, a potência gerada é mantida aproximadamente constante, de forma que as variações de tensão sejam reduzidas. 380 121 146, 3 ; 260 1932 254, 6 W . 146,3 Ponto 5 – estado final 400 P1: Carga principal P2: Carga auxiliar P: Potência gerada 350 300 Potência (W) Neste estado a carga principal foi zerada, e a carga dump compensou mais uma vez a variação de R1, assumindo toda demanda de potência. Pode-se verificar na Figura 9 que a largura de pulso w, praticamente se confunde com o período estabelecido de 380 µs, fazendo com que a potência da carga secundária seja máxima. A corrente média verificada foi de 1,60 A. Para este ponto, a resistência efetiva de R2 e a sua potência são: 250 200 150 100 50 0 R2 o ,5 P2,5 0 380 121 121 ; 380 0.5 1 1.5 2 2.5 Tempo (min) 3 3.5 4 Fig. 10. Carga dump x carga principal. 5 - Conclusões 1932 307,8 W . 121 O estudo permite fazer algumas afirmações. A geração de energia elétrica de pequeno porte com turbina hidrocinética e “link” CC, numa estrutura onde a excitatriz ou outro esquema complexo de controle de tensão é substituído por uma carga eletrônica, fica muito simplificada. Pode-se atestar a viabilidade técnica para a regulação de tensão com este esquema proposto, o que foi indicado pelos valores e formas de onda obtida. A mínima quantidade de materiais e dispositivos indica que o investimento e custo de manutenção são menores do que aqueles das técnicas convencionais. Fig. 9 - W para P1=0. 6 – Referências bibliográficas A Tabela 1 contém os principais resultados do ensaio, onde I2m e I2o representam respectivamente as correntes média e eficaz na carga dump. Tabela 1 - Resumo dos resultados do ensaio. Pto w(µs) R2o(Ω) I 1(A) I 2m(A) I 2o(A) P1(W) P2(W ) 1 0 ∞ 1,730 0,000 0,000 334 0 2 52 327 1,296 0,447 0,590 250 114 3 156 188 0,862 0,894 1,022 166 197 4 260 146 0,428 1,125 1,319 83 254 5 380 121 0,000 1,600 1,600 0 308 [1] Subramanian, K., Ray, K. k., Voltage Regulation of 3-Φ Self Excited Asynchronous Generator, International of Engineering Science and Technology (IJEST), Vol. 2(12), 2010, ISSN: 0975-5462. [2] Henderson, D., An Advanced Electronic Load Governor for Control of Micro Hydroelectric Generation, IEEE Trans. on Energy Conversion, Vol. 13, No. 3, Sept. 1998. [3] Portolann, C. A., Farret, F. A., Machado, R. Q, Electronic Regulation by the Load of the Electrical Variables and Speed of Asynchronous Micro Turbogenerators, V IEEE International Power Electronics Congress – CIEP´96, Anais pp. 125-130, Cuernavaca, Mex., Outubro 1996. 6/6