v.6, Ago. – Dez. 2012 ISSN 1982 – 2065 INFLUÊNCIA DA MÚSICA AMBIENTE NO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR: O USO DESSA FERRAMENTA PELOS LOJISTAS E A PERCEPÇÃO DO CONSUMIDOR1 Marina Braga2 Profª Dra. Theresa Jardim Frazão Orientadora – FCAP-UFPE RESUMO Marketing é experiência, é transmitir valor para o cliente ao comunicar emoções. Nesse contexto, conceitos como marketing dos sentidos e atmosfera de loja ganham importância. Compreendemos o consumidor como um ser complexo que carrega um conjunto de valores, cultura e passado, capaz de atribuir um significado singular a cada estímulo que recebe do ambiente pelos seus cinco sentidos. A atmosfera de loja é o novo laboratório de marketing, pois é onde experiências são criadas e grande parte das compras decididas. A iluminação, o layout, o aroma, a disposição dos produtos, as cores e a música ambiente são atributos da atmosfera de loja capazes de produzir uma atitude favorável para compra. Compreendendo a importância do ambiente de loja para o marketing, esse estudo visa entender melhor um dos componentes dessa atmosfera, a música, verificando sua influência no comportamento do consumidor e a aplicação da ferramenta pelos lojistas de Recife. Através de pesquisa bibliográfica e entrevista com lojistas e consumidores de varejo, verificou-se um uso ainda incipiente dessa ferramenta, o que mostra a existência de uma grande oportunidade de mercado para aquelas empresas que sabem trabalhar corretamente sua atmosfera de loja, utilizando a música como item capaz de provocar emoções e gerar atitudes que prolonguem a experiência do consumidor com a marca e que, de forma positiva, resultem na compra. Palavras-chave: Comportamento do Consumidor. Atmosfera de loja. Marketing Sensorial. Música ambiente. ABSTRACT Marketing is experience. It involves the creation of value to the consumer through emotions. In this context, concepts such as marketing of the senses and store atmosphere become an important idea in the marketing field. The consumer is a complex human being who carries a roll of values, culture and past experiences that assign a specific meaning to each stimulus he/she receives from the environment through their five senses. The lighting, the layout, the smell, the products’ arrangement, colors and physical surroundings are attributes of the store atmosphere 1 2 Trabalho selecionado em 2012 PRÊMIO FCAP – PROJETO EMPRESARIAL DE SUCESSO Especialista em Marketing pela Universidade de Pernambuco (FCAP/UPE) Graduada em Administração de Empresas pela Universidade de Pernambuco (FCAP/UPE) Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.6, Ago. - Dez. 2012 1 that can produce a favorable attitude on the purchase process. This study understands the importance of store’s environment in marketing and it aims to a better understanding of one of its components, the music, checking music influences in consumers’ behavior and the use of this tool by Recife’s retailers. Through exploratory research, that includes literature review and fieldwork that is based on observation, interviews with retailers and questionnaires with consumers, this study shows an incipient use of this marketing tool by retailers. That indicates the existence of a market opportunity for companies that know how to work properly with store’s atmosphere by using music as an item capable of producing emotions and attitudes in their consumers that could extend the brand experience and result in purchasing. Keywords: Consumer behavior. Store atmosphere. Brandsense. Ambient music Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.6, Ago. - Dez. 2012 2 1 INTRODUÇÃO A sociedade de consumo muda com o passar dos anos e, junto com a mudança no perfil dos consumidores, mudam também as técnicas mercadológicas. O marketing atual não está funcionando. Novos produtos fracassam a uma velocidade desastrosa. A maioria das campanhas de propaganda não registra nada de especial na mente dos consumidores. A maioria dos produtos é vista como mercadoria substituível, em vez de marcas poderosas. (KOTLER, 2012 apud LINDSTROM, 2012. Prefácio) Diante desse cenário, novos estudos foram desenvolvidos e conceitos como marketing dos sentidos criaram corpo no mundo corporativo e acadêmico. Pesquisadores e profissionais de marketing atentaram, então, para a importância do ponto de venda - PDV na experiência do consumidor com determinado produto ou serviço. Segundo pesquisa realizada pelo Point-of-Purchase Advertising International - POPAI Brasil, organização internacional que cuida dos estudos das atividades varejistas, sobretudo as de cunho promocional, 85% das compras realizadas pelos consumidores brasileiros são decididas no ponto de venda (BLESSA, 2003). Logo, a ambientação do ponto de venda e todos os recursos que fazem parte do mesmo passaram a ser vistos como um fator determinante na decisão de compra, pois funcionam como ferramentas para gerar uma experiência de consumo diferenciada. Atualmente, dentro do marketing dos sentidos, a faixa mais explorada é a comunicação visual, tanto que esse excesso tornou-se cansativo aos olhos do consumidor. Em seguida, destaca-se o uso das estratégias olfativas, o surgimento de aromas como identidade de marca ou chamariz para um produto/loja. Juntamente com o marketing olfativo, as estratégias que envolvem sons também ganharam espaço no desenvolvimento da atmosfera de lojas. Assim como o olfato, a audição é um canal muito sensível. A música mexe com o ânimo do ouvinte, seja para acelerar o ritmo ou relaxar, influenciando seu comportamento. Foi descoberto que uma música clássica pode reduzir o vandalismo, a ociosidade e até mesmo os crimes violentos em parques, estacionamento de lojas de conveniência e metrôs do Canadá. Números publicados em 2006 mostraram que, quando música clássica era difundida por alto-falantes no metrô de Londres, os furtos caíam 33%; as agressões contra Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.6, Ago. - Dez. 2012 3 funcionários, 25% e o vandalismo em trens e estações, 37% (LINDSTROM, 2009, p. 137) A música, ao evocar alguma lembrança, pode também definir que tipo de produto se irá consumir. Um estudo da Universidade de Leicester (LINDSTROM, 2009, p. 137) mostrou que o som pode determinar se vamos optar por uma garrafa de vinho francês ou alemão. Nesse estudo, músicas que podiam ser reconhecidas como francesas ou alemãs foram colocadas nos alto-falantes da seção de vinho dentro de um supermercado. Nos dias em que foram incorporadas à seção músicas francesas, os vinhos dessa nacionalidade tiveram 77% de aumento de vendas. A música ambiente vem sendo largamente utilizada no varejo com o objetivo de gerar sensações e emoções ou provocar atitudes no consumidor, pois é um item da atmosfera de loja de fácil manipulação. Apesar dos múltiplos estudos existentes sobre o marketing sensorial auditivo, a impressão que temos é que os lojistas ainda não entendem ou não sabem como aplicar a teoria na escolha da música ambiente dos estabelecimentos, o que muitas vezes gera uma experiência de compra ruim e um consumidor insatisfeito. “Apesar de ser uma proeminente ferramenta de marketing, a música ainda não é completamente entendida nem controlada pelos profissionais de marketing” (BRUNER, 1990, p. 1. Tradução da autora). Tendo em vista a importância da música ambiente na construção de uma atmosfera capaz de influenciar positivamente o comportamento do consumidor, o presente artigo visa mostrar, através de pesquisa, bibliográfica e de campo, como essa ferramenta está sendo atualmente aplicada pelos lojistas em Recife e sua real influência no comportamento e nas percepções do consumidor. Para isso, é feita uma análise de alguns conceitos essenciais para o melhor entendimento dos resultados, como comportamento do consumidor, marketing sensorial e atmosfera de loja. A partir dessas apreciações, é avaliada a importância da música ambiente como ferramenta mercadológica. Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.6, Ago. - Dez. 2012 4 2 CONSUMIDOR, MARKETING SENSORIAL, MÚSICA ATMOSFERA DE LOJA E 2.1 Comportamento do consumidor O propósito do marketing é satisfazer as necessidades e os desejos dos clientes-alvo. O campo do comportamento do consumidor estuda como pessoas, grupos e organizações selecionam, compram, usam, e descartam artigos, serviços, ideias ou experiências para satisfazer suas necessidades e desejos. (KOTLER, 2006, p.172) Comportamento do consumidor é a ciência que estuda como o indivíduo reage a determinados estímulos aos quais é exposto. Essa reação depende de uma série de fatores: Influências internas: próprias do indivíduo e que afetam sua avaliação de determinado produto, serviço ou experiência. Englobam fatores psicológicos e pessoais como motivação, aprendizado e estilo de vida; Influências externas: aspecto que não depende diretamente do indivíduo, é uma reação ao que o cerca e faz parte de sua rotina. Aqui podemos encontrar alguns fatores culturais e sociais, tais como opiniões de grupos familiares e grupos de referência, e restrições de certa cultura ou subcultura; Influências situacionais ou momentâneas: uma combinação de influências externas e internas que formam o ambiente no momento da decisão de compra. Essas influências englobam o ambiente físico e social onde a decisão de compra é realizada, considerando aspectos como o tempo, estado de espírito do consumidor, layout de loja, iluminação, odores, música ambiente e vários outros aspectos de merchandising. Muita coisa acontece no consciente e subconsciente do consumidor até que ele tome a mais simples decisão de compra: memória, opiniões de conhecidos, valores, renda disponível, análise de ambiente de loja, etc. Ou seja, tanto a bagagem particular de cada pessoa, como o contexto no qual ela se encontra vão afetar as respostas do consumidor perante uma marca, produto ou serviço. Pesquisas mostram que a maior parte das decisões de compra feita pelos brasileiros ocorre no ponto de venda. Logo, as influências situacionais têm papel determinante Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.6, Ago. - Dez. 2012 5 no comportamento de compra do consumidor. Por esse motivo, algumas estratégias mercadológicas como marketing dos sentidos estão ganhando espaço. 2.2 Marketing sensorial A opção por comprar ou não um determinado produto ou serviço não é uma simples escolha racional, ela envolve um vinculo emocional, muitas vezes subconsciente, que deve ser trabalhado na atmosfera de loja. O marketing sensorial parte do princípio que a percepção que o ser humano possui do ambiente tem início quando os sentidos captam os impulsos externos e os convertem em lembranças e ações. O objetivo dessa abordagem, então, é provocar sensações nos consumidores através da produção de estímulos que serão captados pelos cinco sentidos de forma a ativar mensagens conscientes ou não no cérebro, seja de bem-estar, lembranças ou desejos do consumidor; provocando, assim, determinado comportamento. Segundo Martin Lindstorm (2012, p.13) “O fato é que experimentamos praticamente toda a nossa compreensão do mundo através dos sentidos. São nossa ligação com a memória, tocam nossas emoções, passadas e presentes”. Ou seja, cada um dos cinco sentidos humanos desempenha um papel importante na forma como percebemos o ambiente que nos rodeia e é através dos impulsos recebidos por esses sentidos que vamos avaliar e tomar certas atitudes durante o processo de decisão de compra. No atual cenário de avalanche de comunicações e produtos substitutos, uma marca precisa garantir seu espaço. Para isso, ela precisa oferecer um plus: uma experiência sensorial e emocional completa. Apresentar visualmente um anúncio não é suficiente, seria interessante a inclusão de um som, símbolos poderosos, cheiros, itens, esses, não escolhidos ao acaso. Como seres humanos, somos mais receptivos quando operamos nas cinco faixas (nossos cinco sentidos); ainda assim, pouquíssimas campanhas publicitárias se preocupam em usar mais do que a visão e audição para transmitir mensagens. (LINDSTROM, 2012, p.14) Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.6, Ago. - Dez. 2012 6 O primeiro passo para a implementação do marketing sensorial é definir um posicionamento para o produto e investigar os interesses do consumidor, seu perfil, as coisas que ele valoriza e que trazem boas lembranças e como ele enxerga a categoria que esta sendo trabalhada. Com esses aspectos resolvidos, a próxima etapa será apresentar aos cinco sentidos do consumidor os estímulos que tenham maior chance de trazer uma associação positiva e gerar compra. Muitas empresas se limitam a trabalhar apenas a visão, mas é aí que se limitam, pois se trabalhassem a visão e mais outro sentido dobrariam a probabilidade de realmente conseguir transmitir uma ideia. Marketing de sentidos envolve explorar todos os canais. Os cinco sentidos podem ser trabalhados de diferentes maneiras, por exemplo: Visão: esse sentido envolve o trabalho das cores, tamanhos e formatos. O marketing das cores está bem disseminado hoje, não apenas para aplicação em embalagens, mas também para ambientação de loja – empresas utilizam o vermelho, por exemplo, para criar sentimentos de excitação ou o azul para passar uma sensação de tranquilidade. A identidade visual é importante e é facilmente percebida pelo consumidor; quando trabalhada isoladamente, no entanto, não é eficaz. Olfato: é um sentido extremamente importante e que deve ser explorado com cuidado, pois o ser humano é muito sensível nesse canal. É difícil identificar o aroma ideal para certo ambiente ou produto, pois é grande o risco de tornar o local desagradável ou de inserir um aroma que não se adequa ao produto. A aplicação de ações através desse sentido requer cuidado, mas são muito eficientes. Audição: Assim como o olfato, é um canal muito sensível. Segundo Martin Lindstrom no seu livro Brandsense (2012, p.14): “estudos mostram que marcas que incorporam som em suas páginas virtuais têm 76% a mais de chance de ter maior tráfego de internet”. A música mexe com o ânimo do ouvinte, seja para acelerar o ritmo ou relaxar, influenciando seu comportamento. Tato: Mesmo com o avanço da internet, a interação física com o produto ainda é essencial para decisão de compra de alguns itens. Ações com foco nesse Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.6, Ago. - Dez. 2012 7 sentido são comumente aplicadas, por exemplo, no lançamento de novos produtos eletrônicos. Paladar: Sentido bastante utilizado pelas empresas que trabalham com produtos/serviços alimentares. É a “provinha” antes da compra que muitas vezes leva o consumidor a experimentar um lançamento de mercado. O objetivo do marketing sensorial é transformar o processo de compra em uma experiência de sentidos, envolvendo completamente o consumidor. Sua ferramenta é estimular sentidos para provocar sensações e emoções capazes de criar empatia com o consumidor e agregar valor à marca e ao produto, aumentando a probabilidade de compra. Foi através do estudo do marketing sensorial que surgiram diferentes estratégias mercadológicas para se comunicar melhor com o consumidor. Atualmente, são muito exploradas as comunicações visuais, tanto que o uso excessivo já está saturando esse recurso. As empresas, então, começaram a recorre a dois outros sentidos humanos que trazem vínculo muito forte com as emoções do consumidor e são importantes itens no ambiente de loja: o olfato e a audição. 2.3 Atmosfera de loja A atmosfera de loja é o conjunto de mecanismos disponíveis no ponto de venda que são responsáveis por criar uma experiência sensorial para o consumidor, de forma que este fique mais disposto a comprar. Lamb et al (2004) e Churchill (2003) ressaltam como elementos integrantes da atmosfera de uma loja a arquitetura, layout, tipo e quantidade de funcionários, tipo e densidade da mercadoria, tipo e densidade das prateleiras, som, odores e fatores visuais, como esquema de cores e iluminação. Vários estudiosos explanaram sobre atmosfera de loja e sua influência no comportamento do consumidor. Dentre eles, Bitner (1992) que divide a análise do ambiente de loja em três dimensões: Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.6, Ago. - Dez. 2012 8 Condições ambientais: temperatura, som, aroma e iluminação. Essa é a dimensão que interage com os mais variados sentidos humanos – bem explorada pelo marketing dos sentidos; Layout espacial e funcionalidade: arranjo dos equipamentos e móveis no espaço físico; Símbolos e artefatos: usados para comunicação com clientes e funcionários. Cada dimensão (condições ambientais, layout e símbolos) é percebida pelo consumidor de uma forma específica e conduz a respostas individuais cognitivas, emocionais e fisiológicas que, por sua vez, vão determinar seu comportamento: Respostas cognitivas: a percepção do ambiente pode provocar respostas cognitivas no consumidor, ou seja, pode influenciar a opinião que a pessoa terá do lugar e dos produtos ali encontrados, funcionando como uma forma de comunicação não verbal. Por exemplo, quando uma loja disponibiliza todos os seus produtos em grandes tabuleiros e de forma não organizada o consumidor pode pensar que o local é mais popular e atribuir aos itens distribuídos conceitos como baixa qualidade e não exclusividade. Respostas emocionais: defende que o indivíduo reage ao ambiente pelas dimensões Pleasure-Displeasure e Amount of Arousal, em português seria prazer-desprazer e nível de excitação. Os ambientes que causam a sensação de prazer são mais propensos a serem escolhidos para se passar mais tempo ou se gastar mais dinheiro, assim como ambientes que estimulam o indivíduo. As respostas emocionais divididas nessas duas dimensões afetam o humor e a atitude do consumidor perante o ambiente. Respostas fisiológicas: a percepção do ambiente também pode afetar o consumidor em termos fisiológicos. Por exemplo, muito barulho pode causar desconforto ou a quantidade e o tipo de iluminação pode causar dor de cabeça. Os tipos de respostas vão determinar o comportamento das pessoas no ambiente. E os comportamentos, ainda segundo Bitner (1992), podem ser classificados em dois grandes grupos: approach e avvoidance, ou seja, de aproximação e de distanciamento ou repulsa: Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.6, Ago. - Dez. 2012 9 Approach: a aproximação é desejo de ficar mais tempo, de explorar o ambiente; Avoidance: o distanciamento é, justamente, o oposto, é o não querer ficar, é a repulsa. O que deve ser trabalhado é um ambiente que provoque comportamentos de aproximação, pois isso resultará em um maior período de tempo que o cliente passa na loja, podendo gerar um maior gasto com os produtos. Para se alcançar uma aproximação é necessário que as dimensões do ambiente estimulem respostas positivas emocionais, fisiológicas e cognitivas. A atmosfera de loja contém vários estímulos que influenciam os sentidos humanos, ajudando a alcançar resultados como o aumento do tempo de permanência de um consumidor no local ou a projeção de certa imagem de marca. Para passar a impressão de luxo, por exemplo, pode ser escolhida uma música clássica, cores suaves, perfumes discretos, temperaturas mais frias, organização espaça de peças e iluminação baixa. A opção depende dos objetivos da empresa e da imagem do negócio, lembrando que as escolhas de um tipo de empresa nem sempre são adequadas para outra: a música clássica, embora, em geral, acalme o ritmo do consumidor e isso ajude a aumentar o tempo que o mesmo passa na loja, talvez não seja apropriada, por exemplo, para uma loja de artigos de ginástica, pois seria incompatível com a imagem que se tem do ambiente de academia e atividades esportivas. Portanto, antes de escolher os estímulos, é preciso determinar qual a atmosfera que se deseja produzir e qual tipo de sensação que se quer estimular no cliente, pois cada loja tem um conceito próprio e um público alvo específico. É preciso saber quem é o consumidor, suas características e o que ele espera nessa experiência de compra para, em seguida, encontrar as variáveis de ambiente que podem atender ou até superar suas expectativas, de forma a conseguir comportamentos favoráveis à compra. Diante desses estudos, podemos concluir: o ambiente é fator determinante na atitude do consumidor perante uma loja e seus produtos e o processo de compra é sensorial e situacional. Os estímulos visuais, auditivos, olfativos e táteis vão Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.6, Ago. - Dez. 2012 10 influenciar o processo de decisão de compra, pois afetam o humor do indivíduo, a opinião que terá da loja, o tempo de permanência e vários outros comportamentos. A música é um elemento de extrema importância na atmosfera de loja, pois a nossa audição é um sentido muito sensível e cujos impulsos recebidos são mais facilmente registrados na memória. Segundo Martin Lindstorm (2012, p. 74) “o som está interconectado com nossos circuitos emocionais”, ou seja, a música é capaz de influenciar nosso humor e, consequentemente, nossas atitudes de compra. 2.4 Importância da música ambiente Diversos são os estudos que buscam compreender melhor como o ser humano reage aos estímulos sonoros. Psicólogos e neurocientistas investigam as reações fisiológicas e emocionais vividas e sentidas pelos indivíduos. Com o advento do marketing sensorial e a importância da atmosfera de loja como diferencial competitivo, os profissionais de marketing começam a investir nesses estudos para melhor compreender como o seu consumidor é afetado pela música ambiente e, então, poder trabalhar essa ferramenta na loja de forma a aumentar a probabilidade de compra. É fácil perceber que a música tem efeitos sobre os indivíduos pelas nossas experiências individuais. Não são raros momentos, por exemplo, em que melhoramos o humor, pelo menos por alguns minutos, quando escutamos uma determinada música, por acaso, no rádio. Também são comuns os flashes de infância que invadem nossa consciência quando escutamos alguma música associada a essa época de nossas vidas. E outra coisa que podemos evidenciar são aquelas situações que certo ritmo musical nos impele a levantar e fazer uns movimentos, ou, no mínimo, agitar os pés ou balançar a cabeça. Deixando de lado as constatações empíricas, faz-se necessário conhecer as conclusões já estabelecidas por estudiosos sobre como a música afeta o ser humano. Não é por acaso que a música ambiente é item imprescindível na atmosfera de loja, os estímulos sonoros têm influência sobre o comportamento humano, pois se conectam as emoções e às lembranças. Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.6, Ago. - Dez. 2012 11 2.4.1 Música e fisiologia A música é absorvida pelo indivíduo através do ouvido e é transmitida até o cérebro, onde atinge regiões que respondem por nossas emoções e atividades motoras. O processamento da música começa com a penetração das vibrações sonoras no ouvido interno, provocando movimentos nas células ciliares que variam de acordo com a frequência das ondas. Os estímulos sonoros seguem pelo nervo auditivo até o lobo temporal, onde se dá a sensopercepção musical: é nesse estágio que são decodificados altura, timbre, contorno e ritmo do som. O lobo temporal conecta-se em circuitos de ida e volta com o hipocampo, uma das áreas ligadas à memória, o cerebelo e a amígdala, áreas que integram o chamado cérebro primitivo e são responsáveis pela regulação motora e emocional, e ainda um pequeno núcleo de massa cinzenta, relacionado à sensação de bem-estar gerada por uma boa música. (GUERRA, 2012) Além de a música estar ligada ao nosso centro emocional, o som interage com quase todas as partes do corpo, pois as terminações nervosas dos nervos do ouvido tem uma das conexões mais extensas e distribuídas pelo corpo. O ritmo da música atua na pressão sanguínea e no ritmo de batimentos, essa influência fisiológica traz reflexos comportamentais, podendo levar os indivíduos a moldar o ritmo das suas atividades para acompanhar a musica ambiente. Esse conhecimento das alterações fisiológicas que a música faz no organismo é aplicado, por exemplo, nas marchas de soldados e nas cantigas de ninar, e agora pode ser aplicado para incentivar o consumidor a comprar nos pontos de venda. 2.4.2 Música e emoções A música não apenas está ligada ao centro de emoções do nosso cérebro, mas também as nossas experiências, situações de emoção que passamos por várias fases de nossas vidas. Momentos de transição do nosso ciclo de vida geralmente tem uma música associada, como a marcha do casamento, a música de formatura ou uma música que marca um relacionamento. Essas experiências contribuem para que o indivíduo tenha um vínculo de afeto com a música e que, portanto, certos sons sejam capazes de transmitir emoções e acabar modificando o comportamento. Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.6, Ago. - Dez. 2012 12 “A música cria novas memórias, evoca o passado e pode transportar instantaneamente para outros lugares e épocas”. (LINDSTROM, 2012, p.76). O próprio ser humano, por suas experiências, formação e traços de personalidade, costuma atribuir significados e emoções a certas músicas por algumas características como volume, timbre e ritmo. Segundo Bruner (1990), algumas das avaliações feitas são: Time (tempo): - Músicas mais rápidas são consideradas mais prazerosas e alegres; - Músicas lentas provocam sensações de tranquilidade e sentimentalismo Pith (tom): - Músicas de tom mais alto são consideradas alegres, enquanto as de baixo tom tendem a diminuir o ânimo; Texture (notas): - Músicas carregadas por instrumentos de sopro como o trombone, a trompa, o trompete, ou a corneta geralmente são caracterizadas como triunfante ou grotesca; as que se baseiam em flautas e clarinetes costumam expressar sentimentos tristes; melodias de um piano são normalmente percebidas como brilhantes e/ou e tranquilas; e sons de instrumentos de corda como guitarra, baixo elétrico e violino são associados a sentimentos felizes. - Músicas altas são descritas como animadas, enquanto músicas em baixo volume são vistas como delicadas e tranquilas. 2.4.3 Música e comportamento Segundo Bruner (1990), a música ativa o sistema nervoso e os processos químicos do cérebro, portanto, é capaz de influenciar o comportamento humano. Diversos estudos foram conduzidos para descobrir como cada tipo de música afetava o comportamento do indivíduo. Lindstrom (2009), em seu livro “A Lógica do Consumo”, cita um estudo conduzido pelo governo de Londres que atestou o poder da música clássica como ferramenta para acalmar as pessoas: quando se difundiu música clássica pelos alto-falantes do metrô da cidade, os furtos caíram 33%, as agressões contra funcionários, 25%; e o vandalismo em trens e estações, 37%. Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.6, Ago. - Dez. 2012 13 Os indivíduos sofrem alterações no comportamento, consciente ou inconscientemente, de acordo com o tipo de música ao qual são expostos. Segundo Bruner (1990) algumas afirmações gerais podem ser estabelecidas: Os indivíduos atribuem significado emocional à música; Os indivíduos têm uma experiência afetiva com a música tocada; Músicas aplicadas em ambiente de marketing e relacionadas bem com o contexto podem estimular respostas comportamentais dos consumidores; A música influencia o humor das pessoas e, por isso, pode modificar suas atitudes em um ambiente de compra. Gênero musical, ritmo, volume, compasso, entre outros componentes do som, podem gerar euforia ou calma, diminuir ou aumentar o tempo de permanência em um ambiente, mudar a concepção de um produto e gerar outras mudanças no comportamento do consumidor. A música tem forte associação com o emocional do indivíduo e, por trabalhar com as emoções, tem o poder de influenciar o comportamento humano, posto que o consumidor seja um indivíduo emocional mais que racional. A música também evoca a memória, faz relação com eventos vividos, ajudando a criar uma empatia entre o produto e o consumidor. Sabendo dessa influência da música no comportamento de consumo, os profissionais de marketing, já conscientes de ferramentas como marketing dos sentidos e também já alertados sobre a importância da atmosfera de loja, começam a prestar atenção em um item bastante importante do seu ambiente: a música. Ganha destaque, então, o “marketing sensorial sonoro”, que consiste em técnicas para aplicação da música em pontos de venda e também associação da mesma com marcas e produtos, de forma a influenciar a percepção que o consumidor tem de um local, da empresa e de seus itens. 2.4.4 Música e atmosfera de loja A proposta da música ambiente é comunicar e fortalecer certos atributos de marca e dos produtos através de estímulos emocionais. O objetivo é utilizar essa ferramenta para estimular associações afetivas, sensoriais e imaginárias capazes de influenciar Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.6, Ago. - Dez. 2012 14 o estado de espírito do consumidor, através do estímulo de emoções, de forma a resultar em um comportamento favorável ao consumo. Bruner (1990), enxerga na música três dimensões primárias: Dimensões físicas: volume, ritmo, velocidade e timbre; Emocionais: vínculo emocional que a música estabelece com o indivíduo Preferência: ligada a preferência de cada indivíduo por um tipo de música. As dimensões físicas podem ser facilmente manipuladas para gerar um melhor ambiente de loja e evitar que o consumidor tenha sua experiência de compra prejudicada por uma trilha sonora que gere impaciência e redução de atenção. No caso das dimensões emocionais e de preferência, elas exigem que a empresa conheça seu público alvo, pois a empatia com seus clientes regulares e potenciais pode ser uma estratégia de negócio bastante assertiva. Bruner (1990) e Milliman (1982) ilustram vários experimentos que buscam atestar a influência da música no comportamento do consumidor. Seguem algumas conclusões: À medida que o volume da música aumenta, diminui o tempo de permanência na loja; Ritmo lento relaciona-se com o aumento no tempo de permanência da loja; Música que não “combina” com o estilo da loja ou com os tipos de produtos comercializados, tende a gerar comportamentos de avoidance (repulsa), ou seja, a propensão de “não comprar”. A música influencia o ritmo do consumidor e seu humor, e ela pode ser trabalhada de diferentes formas pelo lojista para construir uma boa atmosfera de loja. Por exemplo, sabe-se que, em certas circunstâncias, o consumidor acompanha consciente ou não o ritmo da música, então, uma opção de estratégia seria diminuir o ritmo do som no horário de final de expediente, de forma que o consumidor possa “desacelerar”, ficando mais tempo na loja, o que aumenta a probabilidade de compra. Não é apenas uma questão de ritmo e volume, no entanto. A trilha sonora Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.6, Ago. - Dez. 2012 15 tem que ser coesa com o produto e o público alvo. Este último, segmentado por vários fatores como gênero, idade, preferências, classe social, etc. A melhor maneira de trabalhar a música na atmosfera de loja é partir para a customização. A estratégia tem que envolver uma avaliação de tipo de produto e público alvo, sazonalidade, variações diárias e semanais de fluxo, momentos de promoção e também deve estar alinhada a todo conceito da loja. A música é parte da atmosfera de loja e deve ser trabalhado em conjunto com os demais itens, como layout, odores ou qualquer outro fator. Os estímulos devem transmitir a mesma mensagem. Algumas marcas que trabalham no varejo têm utilizado o marketing sensorial para promover experiências que levem o consumidor a criar uma identidade da marca, impulsioná-lo às compras e conquistar sua lealdade. O problema é a parcela que subestima a influência da música e não a manipula com atenção. Resta descobrir se os profissionais de marketing em Recife sabem aplicar a ferramenta. Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.6, Ago. - Dez. 2012 16 3 METODOLOGIA Foi realizada pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo. Como referência bibliográfica foram consultados estudiosos como Martim Lindstorm, Philip Kotler e Paco Underhill. Além disso, foram realizadas consultas a teses de mestrado e doutorado sobre o tema, e consultas a artigos de jornais e revistas. Pesquisou-se também a existência de empresas de marketing e publicidade que atuassem no segmento de construção de estratégia de marketing auditivo. Após a coleta dos dados, foi dirigido um estudo de campo em algumas lojas do Recife para verificar a aplicação do marketing sensorial auditivo. A pesquisa de campo foi composta por: Visita a 89 lojas de um Shopping Center na cidade do Recife para verificar aquelas que tinham sistema de som ambiente; Visita a lojas de varejo de diferentes segmentos e realização de entrevista com alguns gerentes para investigar a compreensão que os mesmos têm do marketing sensorial auditivo e aplicação que fazem dessa ferramenta. Nessa parte do trabalho foram visitadas 9 lojas, sendo 4 consideradas como “lojas populares”, ou seja, que trabalham voltadas para um público de massa; e 5 de público mais seleto, muitas vezes por questões de renda e classe social do público, chamadas no presente artigo de lojas AB; Aplicação de questionário com consumidores que visitaram as lojas acima citadas, com o objetivo de identificar a percepção que cada um tem da música ambiente e como esse fator influencia o comportamento de compra dos mesmos – 14 pessoas entrevistadas. O foco desta pesquisa não é estabelecer verdades absolutas do universo de varejo em Recife, mas ajudar a compreender o universo estudado através do comportamento da amostra analisada por observações e aplicação de entrevistas e questionários. O estudo é de caráter exploratório e busca mostrar como as lojas estão trabalhando seu ambiente no que diz respeito à música e como o consumidor está percebendo esses esforços Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.6, Ago. - Dez. 2012 17 4 PESQUISA DE CAMPO 4.1 Análise das lojas Das 89 lojas visitadas para verificar a existência de sistema de música ambiente, evidenciou-se que 54% delas d contam com sistema de som.. No entanto, a diferença é muito pequena para a quantidade djas que não dispõem de som ambiente. Isso nos levar a concluir que essa ferramenta ainda não está bem disseminada, pois para lojas localizadas em um shopping,, ambiente de grande fluxo e acirrada concorrência, seria importante o uso das ferramentas de marketing disponíveis para conquistar o consumidor. Como dito anteriormente, o presente trabalho dividiu a análise entre dois grupos: o das lojas populares e o das lojas AB, pois se acreditava acredita que lojas cuja segmentação é mais restrita e o público púb mais seleto geralmente têm m uma atenção maior com ambientação de loja. Esse pensamento foi ratificado com a pesquisa de campo, campo conforme gráfico da Figura 1. Figura 1 – Lojas Populares e AB, com e sem música ambiente Do total de lojas com música ambiente (54% do universo de 89), 4% são populares. Já do universo de lojas sem música ambiente (46% do universo), evidenciamos que 20% são populares, um resultado 5 vezes superior ao encontrado para ambientes com música. Isso nos leva a inferir que as lojas populares deixam a desejar no uso efetivo da música como ferramenta de marketing no ambiente de compra. Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.6, Ago. - Dez. 2012 18 Após essa análise geral, chegamos a parte mais específica do estudo, as entrevistas em 9 lojas, dentre elas 5 são AB e 4 populares, algumas sendo franquias, outras filiais e outras lojas únicas. Os segmentos são diversos, desde vestuário até alimentos e itens para festa. O que se notou nessa altura é que lojas que carregam as características de franquia têm um comportamento singular e mais estratégico no que se refere à ambientação. A franquia recebe do franqueador a ambientação prédeterminada por coleção e será a mesma para todas as unidades do país. Ou seja, existe um marketing central que estuda a loja e seus clientes e, baseado nisso, desenvolve todo layout de loja e trilha sonora. As lojas populares, por sua vez, costumam não ter um trabalho tão bem definindo e partem muito do sentimento de um dono ou gerente, fazendo escolhas básicas de músicas ora por associar com determinada época de ano, como Natal, Carnaval e São João, ora para divulgar um produto específico. Algumas lojas focam seus esforços de ambientação no produto em si e outras por sazonalidade ou coleção. E dentro desses esforços está o trabalho da música ambiente. O primeiro ponto observado foi o estilo/ritmo da música que tocava no momento, representado na Figura 2. Figura 2 - Ritmo da música tocado nas lojas (AB + Populares) Apesar das pesquisas de Bruner (1990) mostrarem que a serenidade do som aumenta a chance de compra, pois faz o consumidor permanecer mais tempo na loja, 67% da amostra recorre à música agitada ora por levar em consideração características do seu público alvo, ora para destacar aspectos regionais – no momento do estudo a festa junina, típica da região nordeste, estava próxima, influenciando a escolha musical, pois traz no forró sua música de raiz. Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.6, Ago. - Dez. 2012 19 Uma consideração importante nesse momento é entender que, conforme horário do dia, o consumidor tem variações de humor que vão modificar sua avaliação do ambiente. Isso significa dizer que apesar de, por exemplo, o público jovem geralmente se identificar com as lojas cuja música é animada, nem sempre estarão dispostos a ficar em um ambiente assim. Ou ainda, mesmo que o nordestino goste de forró, escutar todo horário esse ritmo pode cansar. No final do dia, as pessoas costumam estar mais cansadas, então desacelerar o ritmo da música pode ser uma estratégia interessante. Ao contestar o lojista se esse tipo de pensamento era considerado no momento de desenhar a trilha sonora da loja 100% afirmou que não. Apesar de não haver mudança, algumas lojas sentem a necessidade dessa abordagem. Em uma das lojas visitadas, por exemplo, o lojista já passou pela experiência de os seus clientes reclamarem de volume e ritmo agitado de música no período da noite, quando buscam tranquilidade. Apesar de não sofrer variação ao longo do dia, a trilha sonora das lojas, populares e AB, muda conforme alguns fatores, conforme ilustrados nas figuras 3 e 4. Figura 3 - Lojas AB: seleção de música ambiente Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.6, Ago. - Dez. 2012 20 Figura 4 - Lojas Populares: seleção de música ambiente O fator que mais influencia a seleção de trilha sonora em ambos os grupos é a coleção ou época do ano. Algumas lojas têm mais de uma música tocando, pois dividem sua trilha sonora conforme setores. A loja que tem um ambiente amplo permite fazer esse trabalho evitando choque entre os sons. Conflitos de sons podem transmitir uma sensação de desorganização e é estranho aos ouvidos, causando a sensação de incomodo nos consumidores. O tipo de trilha sonora selecionada nos ajuda a entender a visão que a loja tem dos efeitos da música no seu consumidor. Os dois tipos de seleção que ganharam destaque nos resultados da pesquisa foram os que envolvem a sazonalidade e a referência ao produto, ou seja, a compreensão que os lojistas mostram da influência da música é maior no que se refere ao poder associativo da mesma, ao fato de a música poder ser usada para lembrar o consumidor de certo produto. Quando indagados sobre como a música afeta o comportamento do consumidor, a maioria mencionou o fato de remeter ao produto e apenas 20% dos lojistas AB identificaram que a música também pode afetar o ritmo de compra. Os lojistas não estão errados, a música tem poder de ativar lembranças, só que a sua função vai muito além, envolve emoção, ritmo de compra e outros conceitos até então pouco explorados. As lojas franqueadas, geralmente, têm uma compreensão melhor de atmosfera de loja e fazem um trabalho não apenas de seleção de música. Uma das lojas visitadas, por exemplo, associa a trilha sonora à coleção, mas também varia o volume da música dentro da loja – nos provadores a música fica mais baixa, em uma tentativa de aumentar o tempo do consumidor na loja no momento que ele está Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.6, Ago. - Dez. 2012 21 experimentando o produto de forma que ele possa analisar os itens com mais tranquilidade e, assim, aumentar a probabilidade de compra. O que podemos concluir é que, apesar de o varejo utilizar a música como ferramenta de marketing, ainda não existe uma compreensão completa pelos lojistas do impacto da música ambiente no comportamento do consumidor. No geral, as estratégias são simples, focando na associação da música com os produtos. 4.2 Análise dos consumidores Verificamos que os maiores frequentadores das lojas, durante a pesquisa, foram mulheres, que é um público geralmente mais perceptivo e sensível, logo é preciso atenção maior na organização e ambientação de loja. Percebemos também uma frequência grande de pessoas entre 30 e 50 anos, que geralmente preferem um clima mais ameno no local de compra, conforme Figura 5. Figura 5 - Ritmo de preferência por idade Este gráfico mostra que à medida que as pessoas vão ficando mais velhas e assumindo responsabilidades que geralmente causam estresse ou agitam seu dia a dia, a tendência é buscar lugares onde a atmosfera transmita tranquilidade. Um dos respondentes de 30 a 50 anos, ao ser indagado porque preferia músicas mais calmas, respondeu o seguinte “prefiro porque tudo na vida já é agitado demais”. Os Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.6, Ago. - Dez. 2012 22 jovens, por sua vez, tendem a se adaptar melhor em ambientes agitados e quando questionados sobre o porquê da preferência por músicas mais agitadas, boa parte respondeu que era porque o ritmo acelerado os animava. As lojas visitadas tinham diferentes tipos de música, algumas mais lentas e outras mais agitadas, e ainda dentro das agitadas foi encontrada música de um ritmo bem específico da região nordeste, o forró. Isso aconteceu porque no mês de junho, quando foi feita a pesquisa, é a época em que ocorrem os festejos de São João no Nordeste, uma festa popular cuja música tradicional é o forró. É importante destacar esse detalhe, pois é possível verificar que a cultura altera o comportamento e as percepções do consumidor: O forró cria um vínculo com essa época do ano e gera empatia, pois o nordestino valoriza a tradição. A Figura 6 mostra quantos consumidores foram expostos a cada tipo de música para que seja possível, em seguida, analisar como cada ritmo interfere no comportamento do consumidor. Figura 6 - Tipo de música ao qual o consumidor foi exposto Segundo pesquisas e estudiosos do comportamento de consumidor como Bruner e Lindstorm, a música lenta consegue provocar algumas alterações nas percepções que o consumidor tem do ambiente e também influenciar seu ritmo físico. Nessa pesquisa de campo alguns aspectos foram evidenciados. Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.6, Ago. - Dez. 2012 23 Figura 7 - Como se sente o consumidor exposto à musica lenta Ao analisar a Figura 8 percebemos que os consumidores, quando expostos a música lenta, relatam sentir uma sensação maior de tranquilidade na ambiente de compra. Isso é bastante positivo para alguns varejistas, pois um consumidor calmo tende a fazer uma melhor avaliação da loja. Figura 8 - O que acha o consumidor da loja quando exposto à musica lenta Quando indagamos sobre o que achavam do ambiente da loja e de demais fatores da atmosfera como iluminação, temperatura e aroma, os consumidores, expostos à música lenta, mostraram achar o local e seus aspectos, em sua maioria, agradáveis. A própria música foi avaliada e 100% retornaram informando que gostavam da música calma. Já quando a música é agitada, as avaliações mudam um pouco, a percentual de consumidores que se sente agoniado no ambiente de loja é maior, chegando a 50%, quando em música lenta eram apenas 20 % da amostra. Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.6, Ago. - Dez. 2012 24 Figura 9 - Como se sente o consumidor exposto à musica agitada Esse resultado, mais uma vez, mostra como o ritmo da música ambiente influencia no ritmo e nas emoções dos consumidores. No que se refere à percepção que o cliente tem da loja, quando exposto a uma música de ritmo mais acelerado, existe apenas uma mudança maior na impressão que tem do ambiente. Na música lenta, 80% achava o local agradável, com a música agitada esse resultado diminui para 50%. A avaliação dos demais fatores não muda tanto. Figura 10 - O que acha o consumidor da loja quando exposto à musica agitada A percepção da música em si também muda, pois a maioria agora encara como sendo um aspecto indiferente para o ambiente de consumo. Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.6, Ago. - Dez. 2012 25 Figura 11 - O que acha o consumidor da música agitada tocando na loja Dos que acharam agradável, todos são jovens até 25 anos, ou seja, é a associação com a faixa etária, com a modernidade desse público. Isso mostra, mais uma vez, como as características do público alvo são importantes na escolha da música ideal para determinado estabelecimento. Além dos grupos expostos à música lenta e música agitada, foi analisado separadamente um grupo de consumidores que frequentou lojas cuja música ambiente fazia associação à época junina. A música típica dessa época é o forró, que geralmente tem um ritmo agitado. O que pode ser verificado é que, apesar do ritmo agitada, os resultados da pesquisa não foram os mesmos das lojas cujo ritmo também era agitado, mas não junino. A música tradicional despertou outras emoções nos consumidores. E, apesar de ser agitada, 100% dos consumidores relataram se sentir calmos no ambiente de loja que colocou esse tipo de som. Figura 12 - Como se sente o consumidor exposto a musica sazonal A avaliação que o consumidor fez do ambiente, seu aroma, iluminação e temperatura também foi bastante positiva, conforme mostra a Figura 13. Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.6, Ago. - Dez. 2012 26 Figura 13 - O que acha o consumidor da loja quando exposto a musica sazonal A avaliação da música ambiente também foi boa, e 80% dos consumidores entrevistados elogiaram a escolha por combinar com a época do ano. Analisando esses três cenários (música lenta, agitada e sazonal), verificamos que não só o ritmo da música influencia o comportamento do consumidor, mas o tipo de música também pode ser uma grande ferramenta nas épocas sazonais típicas da região nordeste. Esse pensamento pode ser replicado para outros os festejos fazem parte da formação e cultura da população e geram empatia com o ambiente. O estilo de música também altera a impressão de tempo gasto na compra, justamente por influenciar no ritmo das pessoas e nas sensações como as de tranquilidade e agitação ou identificação. Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.6, Ago. - Dez. 2012 27 Figura 14 - Noção de tempo gasto na loja de acordo com o ritmo da música A música agitada pode causar inquietude, o que leva a sensação de tempo perdido, ou seja, mal investido, levando o consumidor a pensar que gastou mais tempo que o necessário naquele ambiente de compra. A música lenta é que apresenta o maior percentual de consumidores com a sensação de que passaram menos de 10 minutos no ambiente de compra. Após todo esse levantamento, é importante lembrar que essa pesquisa foi baseada em uma amostra de 14 pessoas de diferentes idades e em diferentes tipos de loja, logo o objetivo da pesquisa não é trazer verdades absolutas, mas explorar exemplos práticos do uso música ambiente. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O marketing evolui. Novas ferramentas foram adicionadas às estratégias tradicionais de forma que é possível uma marca alcançar a diferenciação nesse mercado de consumo cada vez mais competitivo, onde os produtos são similares e substituídos com facilidade. É a vez agora do marketing de experiência, ou seja, ações mercadológicas que envolvem o consumidor de forma a cativá-lo recorrendo não apenas as suas decisões racionais, mas ao lado emocional que tanto influencia o processo de compra. Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.6, Ago. - Dez. 2012 28 Para lidar com o emocional do consumidor o conceito de marketing sensorial ganhou mercado, evidenciando-se a ideia de que o consumidor percebe o mundo que o cerca através dos seus cinco sentidos: visão, audição, olfato, tato e paladar. Juntamente com o marketing sensorial, desenvolve-se o conceito de atmosfera de loja, cresce a importância do espaço frequentado pelo consumidor no momento que toma a maioria das decisões de compra. A atmosfera de loja envolve um conjunto de variáveis que apelam para os sentidos humanos, como layout, aroma, música ambiente, cores, entre outros. Quando bem trabalhada é capaz de produzir mudanças no comportamento do consumidor e, com isso, alavancar vendas para o varejista. Dentre os muitos aspectos da atmosfera de loja esse trabalho focou na música ambiente, por acreditar no seu poder de influenciar o consumidor e também por acreditar que esse atributo ainda não está sendo bem utilizado pelos lojistas, pois não são poucas as reclamações em loja sobre a música que está tocando. O olfato e a audição são os sentidos mais sensíveis aos estímulos externos do ser humano, por isso, altamente influentes na percepção de ambiente e igualmente perigosos se mal manipulados. Vários são os estudos sobre a influência da música no comportamento. Psicólogos e estudiosos da administração abordam o tema e afirmam que aspectos como ritmo, volume, tom, sequência de batidas e outros são capazes de produzir determinadas ações nos consumidores. A música tem vínculo físico e emocional com o consumidor: físico, pois o corpo humano é rítmico por natureza e tende a modificar seu compasso para acompanhar ritmos externos; emocional, porque a música evoca lembranças, experiências e mexe com os sentimentos humanos. A teoria é vasta, mas quando se vai a campo percebe-se que não é tão bem aplicada. Uma das hipóteses desse trabalho era que o conhecimento que lojistas da cidade do Recife tem do marketing sensorial auditivo é restrito, fazendo a escolha da música ambiente ser, muitas vezes, empírica. Esse pensamento provou ser verdadeiro. Na visita às lojas, verificou-se que o uso da música ambiente como ferramenta de marketing ainda não é bem difundido. Apesar de grande parte das lojas contarem Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.6, Ago. - Dez. 2012 29 com música ambiente, a escolha da lista de reprodução não é amplamente estudada. Muitos lojistas se baseiam apenas em uma das repercussões dos estudos sobre música ambiente: a capacidade associativa do som, ou seja, aplicam a música ambiente apenas como maneira de lembrar o consumidor de determinado tipo de produto. Outro conceito também aplicado, mas dessa vez por menos lojas, é o fato de que músicas calmas tendem a diminuir o ritmo das pessoas, deixando-as mais tranquilas no momento do consumo. Além desses dois pontos citados, pouco foi verificado na aplicação da música ambiente. Em nenhuma loja encontrou-se, por exemplo, uma variação de ritmo de música ao longo do dia, o que é uma estratégia indicada por pesquisas, já que o consumidor tem momentos do dia onde necessita estar em locais mais calmos ou momentos que precisa estar com ritmo acelerado. A ideia de que a música também minimiza a impressão de tempo gasto na loja, não é bem conhecida pelos lojistas. E poucos também abordam o fato de existir um forte vínculo emocional entre a música e o consumidor. A música ambiente é importante e a escolha da mesma deve ser feita de maneira cuidadosa, considerando não apenas o ambiente de loja e a impressão que se tem da marca, como também o perfil dos consumidores. A idade, as preferências, a cultura, os grupos sociais, os valores e todos os demais fatores sociais, pessoais, culturais e psicológicos que formam o consumidor devem ser considerados na escolha da música ambiente. Infelizmente, não foi evidenciado todo esse cuidado nas lojas. As franquias são o tipo de estabelecimento que apresentam um trabalho mais detalhado sobre esse tema, pois possuem uma estrutura complexa de marketing já bem desenvolvida. Muitas lojas, principalmente as populares, ainda escolhem a música por época do ano, como Carnaval, Natal e São João, enquanto outras usam seu sistema de som para vender os próprios itens comercializados e acabam, muitas vezes, colocando em seu ambiente um som que vai prejudicar a imagem da marca e tornar a experiência de compra do consumidor desagradável. Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.6, Ago. - Dez. 2012 30 A segunda hipótese desse trabalho era que a música ambiente é fator importante na experiência de compra e pode influenciar o comportamento do consumidor, afetando variáveis como percepção de tempo de permanência nas lojas e avaliação da experiência de compra. Verificou-se, na pesquisa de campo e bibliográfica, que o consumidor realmente apresenta diferentes comportamentos de acordo com a música a qual é exposto. Locais, por exemplo, cuja música ambiente é mais calma, existe uma melhor avaliação de aspectos da loja como atendimento, organização dos produtos e iluminação. Além disso, a impressão de tempo gasto no ambiente de compra também é menor. É importante, aqui, ratificar que esse estudo foi aplicado com uma amostra pequena de lojas e consumidores, contanto com uma variabilidade grande de segmentos e perfis, respectivamente. Portanto, a leitura de cada resultado apresentado deve ser feita considerando essas variáveis. Na pesquisa também se percebeu uma identificação do consumidor com lojas cuja música lembrava os festejos juninos. A pesquisa de campo foi conduzida em junho, mês do ano onde no Nordeste existe uma grande festa tradicional cujo ritmo musical característico é o forró. Algumas lojas utilizaram músicas desse ritmo para criar associação com produtos e outras apenas para “entrar no clima” do consumidor. Isso gerou empatia, pois muitos elogiaram quando a trilha sonora era junina, mesmo que agitada, e observou-se resultados de avaliação de loja e tempo gasto muito parecido com os de música lenta. Notamos, aqui, que para o consumidor nordestino a regionalização também é um fator que deve ser considerado na atmosfera de loja. Podemos concluir que a música é item importante da atmosfera de loja. Estudos apresentados na fundamentação teórica e os resultados da pesquisa de campo mostram a importância da música ambiente para o sucesso das estratégias mercadológicas. O mercado cresce e mais oportunidades aparecem para as marcas que sabem manipular todos os atributos de seu ambiente, criando experiências emocionais. Espera-se, então, que uma maior parcela dos lojistas de Recife venha a aplicar, num futuro próximo, a música ambiente como ferramenta estratégica. Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.6, Ago. - Dez. 2012 31 REFERÊNCIAS A música no comportamento humano. 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