Cuidado de enfermagem ao paciente com comorbidade clínico

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
MARCIO ROBERTO PAES
CUIDADO DE ENFERMAGEM AO PACIENTE COM COMORBIDADE
CLÍNICO-PSIQUIÁTRICA NO PRONTO ATENDIMENTO DE UM
HOSPITAL GERAL
CURITIBA
2009
MARCIO ROBERTO PAES
CUIDADO DE ENFERMAGEM AO PACIENTE COM COMORBIDADE
CLÍNICO-PSIQUIÁTRICA NO PRONTO ATENDIMENTO DE UM
HOSPITAL GERAL
Dissertação apresentada como requisito parcial à
obtenção do grau de mestre em Enfermagem pelo
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem,
Área de Concentração – Prática Profissional de
Enfermagem na linha de pesquisa Processo de
cuidar em Saúde e Enfermagem – Setor de Ciências
da Saúde, Universidade Federal do Paraná.
Orientadora: Profª Drª Mariluci Alves Maftum
CURITIBA
2009
FICHA CATALOGRÁFICA
Paes, Marcio Roberto
Cuidado de enfermagem ao paciente com comorbidade clínicopsiquiátrica no pronto atendimento de um hospital geral / Marcio Roberto
Paes – Curitiba, 2009.
144f.: il.
Inclui referências bibliográficas.
Orientadora: Mariluci Alves Maftum
Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Setor de Ciências da
Saúde, Universidade Federal do Paraná.
1.Cuidados
de
enfermagem.
4.Comunicação. I. Título.
2.Saúde
mental.
3.Comorbidade.
TERMO DE APROVAÇÃO
MARCIO ROBERTO PAES
CUIDADO DE ENFERMAGEM AO PACIENTE COM COMORBIDADE
CLÍNICO-PSIQUIÁTRICA NO PRONTO ATENDIMENTO DE UM
HOSPITAL GERAL
Dissertação aprovada como requisito parcial à obtenção do Título de Mestre em
Enfermagem, Área de Concentração Prática Profissional de Enfermagem, na linha
de pesquisa Processo de cuidar em Saúde e Enfermagem – Programa de PósGraduação em Enfermagem, Setor de Ciências da Saúde, Universidade Federal do
Paraná, pela seguinte banca examinadora:
Curitiba, 18 de dezembro de 2009.
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho à minha esposa Eva pela
compreensão, amor e companheirismo e por sempre estar
ao meu lado me ajudando em cada passo
e agora compartilha comigo esta conquista.
Aos meus filhos Marrie, Lorran e Marcio Filho
simplesmente por existirem, dando-me forças e me
impulsionando a sempre seguir avante.
À grande amiga Enf. Msc. Valdete Alves da Silva
Quadros (in memorian) que por vontade de Deus muito
cedo nos deixou, mas seu exemplo de profissionalismo
será sempre lembrado.
AGRADECIMENTOS
A Deus, Autor e Consumador da minha fé, que nos momentos difíceis nunca
me abandonou, sempre se mostrando benigno, misericordioso e companheiro.
À minha mãe Neuli e aos meus irmãos Denise, Jakson e Robson pelo apoio e
carinho.
À minha orientadora Professora Doutora Mariluci Alves Maftum, pela paciência,
incentivo e apoio, e pelas orientações tanto para este trabalho, quanto para a vida.
Às professoras Doutoras Maria Angélica Pagliarini Waidman, Maria de Fátima
Mantovani, Verônica de Azevedo Mazza, Maria Conceição B. Mello e Souza pelo
aceite em compor a banca para a sustentação deste trabalho.
Às amigas Letícia de Oliveira Borba e Tatiana Braga de Camargo pelo
companheirismo, incentivo e pelos momentos de descontração, que fortaleceram os
laços de amizade e compreensão nas horas de estresse. A amizade é demonstrada
nas dificuldades, nas horas tristes e tensão; quando há necessidade de se
empenhar e ajudar seu amigo, nem que isso demande boa parte de sua energia e
tempo.
Às colegas do curso de Mestrado do PPGEnf/UFPR Anelise Ludmila Vieczorek,
Janislei Giseli Dorociaki Stocco, Juliana Helena Montezeli, Franciele Marchewsky,
Karla Crozeta, Kriscie Kriscianne Venturi e Luciane Fávero pela união demonstrada
nessa caminhada trilhada por todos nós durante os últimos dois anos.
Aos colegas da equipe de enfermagem do Pronto Atendimento Adulto do
Hospital de Clínicas da UFPR, pelo carinho, estímulo e confiança. Aos Enfermeiros
Jossandro Rodrigues da Cruz, Ieda Leal da Cruz, Lucimare de Souza Justino, Marli
Meireles, Humberto Picanço, Juliana Mendes e, em especial às Enfermeiras Denise
Jorge Munhoz da Rocha e Rejane Maestri Nobre Albini pela compreensão, incentivo,
conselhos e, por representarem modelo permanente em minha trajetória profissional.
À equipe de enfermagem da UTI pediátrica por onde passei por algum tempo e,
em especial à Enfermeira Christiane Natal Souza Niszczak por todo o apoio e
consideração dispensados a mim naquele período.
À equipe de enfermagem da UTI Cardiológica. À minha equipe composta por:
Bianca Cristina Mocelin, Vera Lucia Fortunato e Jacira Alves Dutra. Às colegas
Enfermeiras Adriana Ribeiro Silva de Castro, Rosilde Aparecida Ferreira Gomes,
Laura Eliane Amarília Boeira, Ana Valesca Gonçalves Andrade, Claudia Denise
Giusti de Oliveira, Marilene Faustino e Francisca Fontoura pelo incentivo.
Ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFPR pela oportunidade
que me confiaram em cursar o mestrado.
À Alcioni Marisa de Freitas secretária da Pós-Graduação em Enfermagem da
UFPR pela atenção e gentileza com que sempre me atendeu.
À Profª Drª Maria Ribeiro Lacerda, coordenadora do Núcleo de Estudo,
Pesquisa e Extensão em Cuidado Humano de Enfermagem – NEPECHE / UFPR e
aos demais membros e pesquisadores, pelas contribuições e orientações científicas
recebidas para a realização desta pesquisa.
Aos funcionários do Hospital Colônia Adauto Botelho pelo carinho com que tem
acolhido aos mestrandos, alunos de graduação e professores da UFPR.
Aos amigos de perto e os de longe por sempre ter uma palavra ou atitudes de
incentivo. Muito obrigado!
Jesus (...) põe sempre ao teu lado muitos anjos;
Anjos vestidos de homens, amigos de todos os momentos;
Que nunca te deixam, que nunca te exploram,
Amigos verdadeiros...
Carlos Moysés e Elizabeth Moysés
Depois de algum tempo você aprende a diferença,
a sutil diferença entre dar as mãos e acorrentar uma alma.
E você aprende que amar não significa apoiar-se,
e que companhia nem sempre significa segurança.
(...)
E aprende a construir todas as suas estradas no hoje,
porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos,
e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.
(...)
Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.
(...)
Aprende que as circunstâncias e os ambientes têm influência
sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos
(...)
Descobre que se leva muito tempo para se tornar
a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto.
(...)
Portanto, plante seu jardim e decore sua alma,
ao invés de esperar que alguém lhe traga flores.
E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida!
Nossas dádivas são traidoras e nos fazem perder o bem
que poderíamos conquistar se não fosse o medo de tentar.
William Shakespeare
RESUMO
PAES, M.R. Cuidado de enfermagem ao paciente com comorbidade clínicopsiquiátrica no pronto atendimento de um hospital geral. 144fls. (Dissertação)
Mestrado em Enfermagem. Programa de Pós-Graduação em Enfermagem.
Universidade Federal do Paraná, 2009.
Trata-se de uma pesquisa qualitativa com método exploratório, desenvolvida no
período de 2008 a 2009 no Pronto Atendimento Adulto de um hospital universitário
de grande porte na cidade de Curitiba – Paraná. Teve como questão norteadora:
como a equipe de enfermagem percebe o cuidado que desenvolve ao paciente com
comorbidade clínico-psiquiátrica no Pronto Atendimento de um Hospital Geral? Para
responder a essa indagação foi elaborado o objetivo: apreender a percepção da
equipe de enfermagem relativa ao cuidado que desenvolve ao paciente com
comorbidade clínico-psiquiátrica. Participaram desta pesquisa 27 sujeitos: seis
enfermeiros, sete técnicos de enfermagem e 14 auxiliares de enfermagem. Os
dados foram obtidos por meio de entrevista semiestruturada, gravada em fita
cassete. Os dados foram submetidos à Análise de Conteúdo temático-categorial. As
categorias que emergiram foram: 1) Cuidado de enfermagem ao paciente com
comorbidade clínico-psiquiátrica no Pronto Atendimento; 2) O paciente com
comorbidade clínico-psiquiátrica requer cuidados específicos; 3) O cuidado ao
paciente com comorbidade clínico psiquiátrica no Pronto Atendimento: dificuldades
sentidas pela equipe de enfermagem; e, 4) Preconceito e estigma com relação ao
paciente com comorbidade clínico-psiquiátrica. Os resultados permitiram apreender
que o cuidado desenvolvido ao paciente com comorbidade clínico-psiquiátrica no
Pronto Atendimento do Hospital Geral é tecnicista, com preocupação com a
segurança do paciente e da equipe, focado na utilização de contenção física e
química. Os sujeitos reconheceram a necessidade de cuidados específicos para
essa clientela, que incluem a observação contínua, utilização da comunicação como
instrumento de cuidado, humanização do cuidado e inclusão da família no cuidado
ao paciente. Entretanto, relataram que não se sentem capacitados para prestar esse
cuidado e nem para se comunicar com o paciente. Enfatizaram as dificuldades
encontradas no cotidiano como déficit de conhecimento na formação relativa à
saúde mental, falta de atualização e capacitação nessa área, falta de estrutura física
do Pronto Atendimento. Referiram que a saúde mental dos profissionais influencia
no cuidado aos pacientes. Evidenciou-se a presença de preconceito, de estigma e
de rejeição dos profissionais de enfermagem em relação ao paciente com
comorbidade clínico-psiquiátrica cuidado no Pronto Atendimento do Hospital Geral.
Concluiu-se que há necessidade de se superar o tecnicismo e de implantar
programas locais de capacitação em saúde mental, visando a sensibilizar os
profissionais de enfermagem quanto aos cuidados aos pacientes com comorbidade
clínico-psiquiátrica.
Palavras-chave:
Comunicação.
Cuidados
de
enfermagem.
Saúde
mental.
Comorbidade.
ABSTRACT
PAES, M.R. Nursing care to patients with comorbidity clinical and psychiatric in
the Emergency Service of a General Hospital. 144fls. Dissertation (Master's
degree in Nursing) - Program of Graduation in Nursing, Federal University of Paraná,
2009.
This is a qualitative study of exploratory method, developed in the period 2008 to
2009, in the Adult Emergency Service of a large university hospital of the city of
Curitiba – Paraná - Brazil. Had the question: How the nursing team perceive the care
that is developed for patients with comorbidity clinical and psychiatric in the
Emergency service of a General Hospital? To answer this question was prepared the
objective: to apprehend the perceptions of the nursing team on the care that is
developed for patient with comorbidity clinical and psychiatric. Participants were 27
subjects: six nurses, seven nursing technicians and 14 nursing assistants. The data
were collected through semistructured interviews, recorded on cassette tape and
subjected content analysis thematic-categorical. The categories that emerged from
the analysis were: 1) Nursing care for patients with comorbidity clinical and
psychiatric in the Emergency Service; 2) Patients with comorbidity clinical and
psychiatric requires special care; 3) Nursing care for patients with comorbidity clinical
and psychiatric in the Emergency Service: difficulties experienced by nursing team.
4) Preconception and stigma in relation to the patient with clinical and psychiatric
comorbidity. The results led to apprehend that the care developed for the patient with
comorbidity clinical and psychiatric in the emergency unit of general hospital it is
technical with concern for patient safety and nursing team, focused on the use of
physical restraint and chemical. The subjects recognized the need for special care for
this clientele, which includes continuous observation, use of communication as an
instrument of care, and humanization of care including the family in patient care.
However, they do not feel qualified to provide that care and have difficulties in
communicating with the patient. They emphasized the difficulties encountered in daily
life a lack of knowledge in training on mental health, lack of updating and training in
this area, lack of physical structure in the Emergency Service. Reported that mental
health of the professional of the nursing can influence care developed for the patient.
Evidenced the presence of preconception, stigma and rejection of nursing team to
the patient with comorbidity clinical and psychiatric in the Emergency Service of
General Hospital. It was concluded that there is need to overcome the technical and
implementation of local training in mental health to raise awareness among
nurses about the care of patients with comorbidity clinical and psychiatric.
Keywords: Nursing care. Mental health. Comorbidity. Comunication.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
QUADRO 1 -
CARACTERIZAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM, QUE
ATUAM NO CUIDADO DIRETO AOS PACIENTES, SEGUNDO
CATEGORIA PROFISSIONAL E TURNO DE TRABALHO...........................
53
QUADRO 2 -
SÍNTESE DAS CATEGORIAS E SUBCATEGORIAS QUE TRATAM DA
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS..........................................
59
QUADRO 3 -
CARACTERIZAÇÃO
DOS
SUJEITOS
SEGUNDO
CATEGORIA
PROFISSIONAL, SEXO, TURNO DE TRABALHO E TEMPO DE SERVIÇO
NA INSTITUIÇÃO...........................................................................................
60
QUADRO 4 - CONSTRUÇÃO DAS CATEGORIAS EMPIRICAS: QUANTIDADE E
PERCENTAGEM DAS UNIDADES DE REGISTRO POR CATEGORIA.........
62
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................
1.1 OBJETIVO..........................................................................................................
2 REVISÃO DE LITERATURA................................................................................
2.1 CUIDADO DE ENFERMAGEM NA PERSPECTIVA TEÓRICA.....................
2.2 CUIDADO DE ENFERMAGEM À PESSOA COM TRANSTORNO
MENTAL.........................................................................................................
2.3 BREVE HISTÓRICO DO NASCIMENTO DO HOSPITAL: “LUGAR DE
LOUCO É NO HOSPÍCIO!”............................................................................
2.4 COMORBIDADE CLÍNICO-PSIQUIÁTRICA..................................................
3 A COMUNICAÇÃO TERAPÊUTICA COMO REFERENCIAL TEÓRICO............
4 METODOLOGIA...................................................................................................
4.1 MÉTODO............................................................................................................
4.2 LOCAL DA PESQUISA......................................................................................
4.3 SUJEITOS DA PESQUISA................................................................................
4.4 ASPECTOS ÉTICOS.........................................................................................
4.5 OBTENÇÃO DOS DADOS.................................................................................
4.6 PROCEDIMENTO PARA ANÁLISE DOS DADOS............................................
5 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS................................................
5.1 CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS...............................................................
5.2 AS CATEGORIAS E SUBCATEGORIAS TEMÁTICAS...................................
5.2.1
Cuidado de enfermagem ao paciente com comorbidade clínicopsiquiátrica no Pronto Atendimento.........................................................
5.2.1.1
Segurança e proteção ao paciente com comorbidade clínicopsiquiátrica ..............................................................................................
5.2.1.2
Contenção física e química como medidas de proteção ao paciente.....
5.2.1.3
A contenção física como proteção à equipe de enfermagem..................
5.2.2
O paciente com comorbidade clínico-psiquiátrica requer cuidados
específicos...............................................................................................
5.2.2.1
A comunicação com o paciente...............................................................
5.2.2.2
Cuidados humanizados de enfermagem.................................................
5.2.2.3
A participação da família no cuidado.......................................................
5.2.3
O cuidado ao paciente com comorbidade clínico psiquiátrica no Pronto
Atendimento: dificuldades sentidas pela equipe de enfermagem...........
5.2.4
Preconceito e estigma com relação ao paciente com comorbidade
clínico-psiquiátrica...................................................................................
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................
REFÊRENCIAS........................................................................................................
APÊNDICES............................................................................................................
ANEXOS..................................................................................................................
12
19
20
20
23
30
34
44
50
51
51
53
54
55
56
60
60
62
63
68
73
79
82
86
94
96
98
109
116
120
134
142
12
1 INTRODUÇÃO
O cuidar em saúde requer dos profissionais uma visão ampla que lhes
permita perceber o ser humano em sua totalidade e, assim, contemplar suas
dimensões biológica, psicológica, social e espiritual. Isso se torna imprescindível
para realizar o cuidado com qualidade, que constitui um desafio diante das
constantes e intensas transformações que atualmente ocorrem na assistência à
saúde.
Essas transformações são efeitos da globalização e da revolução científicotecnológica ocorridas nas últimas décadas e que na área da saúde são
representadas pelo desenvolvimento do modelo biomédico-biologicista. Esse modelo
se caracteriza pelo retorno econômico imediato e resolutivo, o que o torna fortalecido
e com tendência a se manter, devido à sua adesão e larga aceitabilidade pelas
instituições de saúde. Por outro lado, nele se evidenciam características negativas
como a impessoalidade e fragmentação da assistência à saúde, de modo que as
pessoas se tornam objeto da ação dos profissionais ao invés de participantes do
processo saúde-doença (GOMES; OLIVEIRA, 2008).
Corroborando esta ideia Borille (2008) descreve que o cuidado desenvolvido
pelos profissionais de saúde, por influência do modelo biomédico, se volta à
fragmentação do ser humano na qual sua totalidade se encontra dividida e sem
relação entre as dimensões psicológica, biológica e espiritual. Dessa forma, o
cuidado se apresenta mecanizado, com ênfase na doença e escassa abordagem
nas dimensões psicossociais.
A Enfermagem como uma das profissões da área de saúde se torna parte
desse contexto, entretanto, tenta se manter fiel às suas características essenciais,
as quais são voltadas ao cuidado humano com respeito à sua totalidade
(CROSSETTI et al., 2000; GOMES; OLIVEIRA, 2008). Destarte, a Enfermagem é a
profissionalização da capacidade humana de cuidar de outras pessoas e traz como
exigência a busca constante do conhecimento, habilidades e atitudes para o
desenvolvimento das competências específicas que dela são esperadas (WALDOW,
2007).
Os profissionais de enfermagem possuem uma característica que os
diferencia dos demais da saúde, porque são os que dispensam maior tempo junto ao
13
paciente. Assim, devem se valer dessa condição e envidar esforços no sentido de
atuar na promoção do bem-estar bio-psico-sócio-espiritual do ser humano. Para
isso, é necessária a capacidade de perceber as necessidades da pessoa nos
diferentes momentos da vida e buscar supri-las mediante o desenvolvimento do
cuidado qualificado utilizando as competências adquiridas em sua formação e na
prática profissional (ORIÁ; MORAES; VICTOR, 2004; STEFANELLI; CARVALHO;
ARANTES, 2005).
O cuidado de enfermagem tem sido compreendido comumente como um
conjunto de técnicas e procedimentos, uma vez que a Enfermagem é uma área do
conhecimento reconhecida por seu aspecto prático. Entretanto, ela deve ir além
dessa compreensão e sustentar suas ações no respeito à subjetividade e
individualidade, construindo a relação interpessoal com o paciente (MONTEIRO,
2006). Assim, o cuidado se expressa no compartilhamento do ato de cuidar
proporcionado pelo ambiente, no qual as pessoas se sintam bem, reconhecidas,
seguras e aceitas em suas particularidades, de modo que possam apresentar
condições a aderir às ações planejadas (WALDOW, 2005).
Nos diversos espaços de cuidado em que a Enfermagem está inserida, é na
instituição hospitalar que os profissionais apresentam maior dificuldade em
desenvolver o cuidado integral. Isto pode ser devido à presença de inúmeras
especialidades médicas e dos equipamentos sofisticados, que têm necessitado de
cada vez mais conhecimentos específicos. Para tanto, Thomas et al. (2007), alertam
que o trabalho da Enfermagem em um hospital geral1 deve incorporar novas
tecnologias especializadas para o cuidado ao paciente, mas que isto não venha
trazer fragmentação e mecanização às ações.
As instituições hospitalares contemporâneas têm sido transformadas em
ambientes de ações dos profissionais sobre o doente e a doença com o auxílio das
inovações tecnológicas de ponta em busca da melhor condição de saúde dos
indivíduos. Porém, para o êxito do cuidado integral se deve superar o predomínio
das técnicas e valorizar a interação e o relacionamento humano entre o profissional
e o paciente (CROSSETTI et al., 2000). Na instituição hospitalar, dentre os serviços
ou unidades existentes, pode-se considerar o Pronto Atendimento (PA) o que
abrange os cuidados voltados aos pacientes com as mais diversas patologias
1
O termo hospital geral será utilizado nesta pesquisa para se referir ao hospital clínico.
14
clínicas, por se constituir porta de entrada principal para internamentos no hospital.
Deste modo, o Pronto Atendimento se distingue das demais por ser a unidade que
se destina ao cuidado da saúde em caráter emergencial ou de urgência, com intuito
de prolongar a vida ou de prevenção de consequências críticas (SÁ, 2005;
MARQUES; LIMA, 2008).
Existem alguns fatores presentes no cotidiano do trabalho de um serviço de
emergência que o tornam dinâmico, desafiador e em alguns momentos estressante.
Isso ocorre pela quantidade excessiva de pacientes, variedade na gravidade dos
quadros patológicos apresentados, escassez de recursos humanos, sobrecarga da
equipe multiprofissional, falta de condições para prestação da continuidade do
cuidado e desvalorização dos profissionais (SOUZA; SILVA; NORI, 2007; GALVÃOALVES, 2007).
Nesse ambiente com tamanha diversidade, a equipe de enfermagem deve
atender as necessidades prioritárias dos pacientes mediante os cuidados
fundamentados em competências técnico-científicas. Como resultado da variedade
de pacientes com diferentes patologias, bem como pelo próprio ritmo dinâmico do
serviço de emergência, há dificuldade de comunicação dos profissionais de saúde
entre si e com os pacientes. Esse fator também gera fragmentação do cuidado
devido à impessoalidade, que causa desconforto ao paciente e caracteriza o cuidado
de enfermagem limitado às técnicas e procedimentos, sem espaço para a interação
e percepção das necessidades que excedem as físicas como, por exemplo, as
psicossociais (SOUZA; SILVA; NORI, 2007).
Os quadros clínicos apresentados pelos pacientes nos serviços de urgência
e emergência exigem dos profissionais de enfermagem conhecimento técnicocientífico relacionado à maioria das especialidades para desenvolver suas ações.
Entretanto, observa-se existência de dificuldades apresentadas pela equipe ao
prestar o cuidado quando o paciente apresenta conjuntamente ao quadro clínico, um
transtorno mental (CAMPOS; TEXEIRA, 2001; SOUZA; SILVA; NORI, 2007).
Há uma tendência dos profissionais de enfermagem se voltarem para o
atendimento das necessidades físicas, dando pouca atenção, ou em casos mais
extremos, deixando de abordar os aspectos psíquicos e emocionais. Tais atitudes
são justificadas pela insuficiência de conhecimento dos profissionais de saúde
naquilo que concerne às psicopatologias e à abordagem aos pacientes com algum
tipo de transtorno mental (SCHERER; SCHERER; LABATE, 2002). Portanto, a
15
equipe multidisciplinar de um hospital geral em sua maioria não se sente à vontade
no cuidado ao paciente em sofrimento mental, devido à falta de qualificação ou por
sua formação ter sido focada exclusivamente no atendimento dos pacientes dentro
dos
hospitais
psiquiátricos
característicos
do
modelo
manicomial
(MION;
SCHNEIDER, 2003). Essa condição foi confirmada no estudo realizado em um
serviço de Pronto Atendimento, em que os profissionais de enfermagem
apresentaram sentimentos como raiva, piedade e medo durante o cuidado às
pessoas com transtorno mental (CAMPOS; TEIXEIRA, 2001).
Nos últimos anos, a assistência à saúde mental no contexto brasileiro tem
passado por intensas transformações, e o marco de tais mudanças tem sido o
movimento da Reforma Psiquiátrica. Trata-se de um processo complexo de ordem
política, filosófica, social e cultural, em que, além das modificações no modelo
assistencial em saúde mental, enfoca a necessidade de transformação nas relações
dos profissionais e da sociedade com essa clientela. Portanto, torna-se
indispensável a construção de nova visão a partir de ampla reflexão sobre o modelo
psiquiátrico convencional, que não conseguia ver saúde nas pessoas, mas apenas
doença (AMARANTE, 2006). Nessa perspectiva, é imprescindível que as
concepções que se relacionam com a temática saúde mental sejam repensadas e
modificadas, caso contrário, as relações e modelos manicomiais subsistirão nos
atuais espaços terapêuticos (SILVEIRA; BRAGA, 2005).
Deve-se ter a compreensão que os transtornos mentais costumam submeter
seus portadores a situações de comprometimento funcional da mente, o que pode
prejudicar momentaneamente sua percepção da realidade. Desse modo, o cuidado
de enfermagem deve estar focado no relacionamento interpessoal, a fim de formar o
vínculo profissional-paciente para intervir na situação manifestada. Uma vez
alcançado o vínculo de confiança com o paciente, sustentado pelo relacionamento
interpessoal terapêutico, pode-se, então, lhe oferecer apoio, conforto e segurança.
Para que isso ocorra, é preciso que a comunicação seja utilizada de forma
terapêutica, pois ela interfere e influencia no comportamento das pessoas
(STEFANELLI, 1993; 2005b). O cuidado humanizado, construtivo, verdadeiro,
consciente, transformador e que contemple a totalidade do ser humano envolve a
competência do uso da comunicação (BRAGA; SILVA, 2007).
Comunicação é compreendida como mais que um instrumento básico para o
cuidado de enfermagem, é uma das necessidades humanas básicas, pois sem ela a
16
existência humana seria impossível. Sem comunicação não há relacionamento
interpessoal terapêutico entre os profissionais de enfermagem e o paciente. Assim, a
comunicação terapêutica é a competência profissional adquirida pelo conhecimento
e uso da comunicação humana. Ela tem como objetivo oferecer suporte ao ser
humano em certo momento da vida a fim de torná-lo autônomo, por meio do
desenvolvimento da capacidade de descobrir e utilizar seus potenciais para se
ajustar e enfrentar os desafios para a autorrealização, ensejando-lhe melhor
condição de vida (STEFANELLI, 1993; 2005b).
A hospitalização clínica pode ocorrer em qualquer fase da vida de uma
pessoa e por diversas razões. Na maioria das vezes, ela representa um alento por
encontrar a possibilidade de tratamento e cura da enfermidade, que acomete o
indivíduo. Por outro lado, os pacientes hospitalizados passam pelo desafio de
adaptar-se a essa situação e isso resulta que cada um apresente uma determinada
reação frente a essa circunstância. As maneiras como os pacientes em hospitais
gerais vão responder ao tratamento, à doença, ao ambiente e ao tempo de
internamento irão variar de pessoa para pessoa (SCHERER; SCHERER; LABATE,
2002). Quando se trata de paciente com comorbidade clínico-psiquiátrica, essa
situação pode ser extrema, visto que ao adentrar o serviço de emergência além do
quadro clínico que o levou até ali, ele pode vir a desencadear sinais e sintomas de
desequilíbrio psíquico como agitação psicomotora, confusão ou agressividade
(CAMPOS; TEIXEIRA, 2001). Isso requer que o cuidado contemple suporte além
das necessidades físicas da pessoa.
O termo comorbidade se originou da junção do prefixo latino "cum", que
significa contiguidade, correlação, companhia e pela palavra morbidade, originada
de "morbus", que designa um estado patológico ou doença. Com isso, o emprego do
termo comorbidade de forma correta se refere à coexistência de duas ou mais
doenças ou transtornos (PETRIBÚ, 2001). Entende-se por comorbidade clínicopsiquiátrica o surgimento de um transtorno mental, que ocorre conjuntamente com a
evolução de uma doença clínica.
Os estudos sobre as comorbidades clínico-psiquiátricas têm sido relevantes
e de interesse para a área de saúde em geral e não somente na de saúde mental.
Isso se justifica quando eles demonstram que as psicopatologias aumentam o risco
do surgimento de doenças orgânicas e igualmente as doenças clínicas podem
contribuir para a gênese de psicopatologias, principalmente a depressão decorrente
17
de efeitos diretos na função cerebral ou como consequências de fatores psicológicos
e/ou psicossociais (DUARTE; REGO, 2007).
Existe um contingente significativo de pessoas que apresentam algum tipo
de transtorno psiquiátrico em comorbidade a doenças clínicas ou ao tratamento
cirúrgico em hospitais gerais. Com oscilação tem-se que em torno de 30% dos
pacientes internados em unidades clínicas ou cirúrgicas apresentam algum
diagnóstico psiquiátrico. Atualmente, observa-se uma frequência média de
diagnóstico psiquiátrico em pacientes internados em hospitais gerais em tratamento
clínico, que apontam para 35% de transtornos do humor (episódios depressivos,
transtorno bipolar); 20% de transtornos de ansiedade; 20% de transtornos
relacionados ao uso de substâncias; 20% de transtornos mentais orgânicos; e 5% de
outros transtornos (SCHMITT; GOMES, 2005).
Tenho acompanhado as transformações na assistência a pessoas com
transtorno mental desde 2000, quando se iniciou minha atuação profissional em um
hospital psiquiátrico de internação integral do município de Curitiba. Naquela
instituição, tive a primeira oportunidade de prestar cuidado aos pacientes com
transtormo mental internados, bem como de tentar compreender os diversificados e
intensos sinais e sintomas que apresentavam.
Essa experiência me ensejou confrontar alguns estigmas que trazia do
senso comum como, por exemplo, conceber o “louco”2 como indivíduo perigoso,
violento, agressivo, de hábitos e formas animalescas. Entretanto, logo constatei que
aqueles que estavam diante de mim e sob meus cuidados eram seres humanos, em
um momento de intenso sofrimento psíquico. Compreendi que juntamente com essa
condição surgem outras que afetam o indivíduo, como por exemplo, perda de
autonomia, de liberdade, de identidade, decorrentes do sistema de submissão,
reclusão-exclusão e ainda pelas consequências dos sinais e sintomas das
psicopatologias.
Muitos
desses
pacientes
foram
vítimas
dos
tratamentos
preconizados pela psiquiatria convencional, caracterizada pela exclusão social e
medicalização3 da loucura e dos hospitais psiquiátricos, porém ressalto que naquela
2
A palavra “louco” quando utilizada neste trabalho será para designar a forma como a pessoa com
transtorno mental é concebida pelo senso comum ou quando se referindo a conceitos conforme a
época histórica.
3
Medicalização ou medicalizar – tornar algo foco ou instrumento da ação e intervenção
exclusivamente do médico (AMARANTE et al., 2003).
18
época alguns dos pacientes já eram encaminhados para o processo de reintegração
social proposta pela Reforma Psiquiátrica.
Em 2002 iniciei o curso de graduação em Enfermagem pela Universidade
Federal do Paraná (UFPR), que me proporcionou visão ampliada e organizada da
profissão. Como acadêmico de enfermagem, tive condições de permanentemente
buscar embasamento teórico para as questões relacionadas com a prática
profissional em saúde. Elas surgiram a todo instante e me permitiram desenvolver
postura crítica e reflexiva voltada à práxis em todos os campos de atuação, inclusive
na área da saúde mental, que despontou como de maior interesse para mim durante
a graduação.
Em 2007, desenvolvi o Estágio Supervisionado pertencente ao décimo e
último período da Graduação em Enfermagem, com carga horária de 360 horas, em
uma instituição psiquiátrica de internação integral, situada na região metropolitana
de Curitiba. Igualmente, o Trabalho de Conclusão de Curso (Monografia) foi
desenvolvido na temática saúde mental sobre a contenção física realizada a
pacientes em uma instituição Psiquiátrica, relacionada com o cuidado de
enfermagem e abordagens terapêuticas aos pacientes, que eventualmente
necessitam de tal procedimento. Essa experiência fortaleceu meu interesse em
aprofundar o conhecimento e desenvolver competências profissionais na área de
saúde mental.
Destarte,
competência
profissional
se
desenvolve
ao
assumir
responsabilidades e desempenhar atitudes sociais, antes de ser um conjunto de
conhecimentos profissionais, sendo construída durante a trajetória profissional
(AMARANTE et al., 2003). No campo da saúde mental, acrescenta-se o compartilhar
experiências na prática do cuidado às pessoas com transtorno mental. Nesse
sentido, em 2008, a fim de agregar conhecimento e aprimoramento, participei do
curso “Distúrbios emocionais e comportamentais do cliente na clínica” ofertado pelo
Programa de Aperfeiçoamento Profissional – Proficiência do Conselho Federal de
Enfermagem; e do Curso de Pós-Graduação em Saúde Mental com enfoque nas
políticas públicas pela Escola Nacional de Saúde Pública ENSP/Fiocruz, com o
objetivo de angariar formação que me possibilitasse aplicar e desenvolver
criativamente alguns conceitos primordiais para o entendimento das políticas
nacionais em saúde mental.
19
No curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da
Universidade Federal do Paraná (UFPR), vivenciei algumas atividades de ensino
relacionadas à área de saúde mental proporcionadas pela Disciplina Prática
Docente, com a docente responsável por tal enfoque e estudantes do sétimo período
do Curso de Graduação em Enfermagem da UFPR.
Na prática em hospital geral, mais precisamente em Pronto Atendimento,
percebi a existência significativa da demanda de pacientes com comorbidade clínicopsiquiátrica e das dificuldades em sua abordagem pela equipe de enfermagem.
Tenho como pressupostos que tais dificuldades são devidas a que os profissionais
de enfermagem do Pronto Atendimento não se sentem capacitados para prestar o
cuidado ao paciente com comorbidade clínico-psiquiátrica e que estes profissionais
sentem dificuldades em se comunicar com pacientes nestas condições.
Com bases nas considerações exaradas, desenvolvi esta pesquisa que teve
como questão norteadora: como a equipe de enfermagem percebe o cuidado que
desenvolve ao paciente com comorbidade clínico-psiquiátrica no Pronto Atendimento
de um Hospital Geral?
Para tentar responder a essa indagação, foi elaborado o seguinte objetivo:
1.1 OBJETIVO
Apreender a percepção da equipe de enfermagem relativa ao cuidado que
desenvolve ao paciente com comorbidade clínico-psiquiátrica.
20
2 REVISÃO DE LITERATURA
Este tópico constitui-se de breve revisão, que tem por finalidade aprofundar
a compreensão do tema cuidado de enfermagem ao paciente com comorbidade
clínico-psiquiátrica em hospital geral. Inicialmente, discorro sobre o cuidado de
enfermagem na perspectiva teórica e na prática de saúde mental, na sequência faço
breve relato sobre a história e a função do hospital ao longo dos anos, finalizando
com a descrição das principais comorbidades clínico-psiquiátricas.
2.1 CUIDADO DE ENFERMAGEM NA PERSPECTIVA TEÓRICA
A palavra cuidar é derivada do latim cogitare, que tem como significado
pensar, julgar, tomar conta, e cuidado deriva de cogitatus, que traduz preocupação,
carinho, diligência e atuação. Dessa forma, para cuidar de pessoas é preciso
dispensar atenção e interesse sobre as necessidades dela, refletir sobre todos os
elementos relacionados ao ambiente de cuidado e então agir a favor do indivíduo
(SOUZA, 2000).
O cuidado de enfermagem tem sido compreendido comumente como
técnicas e procedimentos realizados pelos profissionais, uma vez que a
Enfermagem é uma área perfilada por seu aspecto prático. No entanto, ao se
deparar com o ser cuidado, o profissional de enfermagem reconhece que é
impossível cuidar sem abarcar os diferentes aspectos de sua natureza física, social,
psicológica e espiritual. Para isso, sua relação com o ambiente necessita ser
considerada para que resulte em condições propícias para que o cuidado ocorra de
forma interativa entre os elementos: cuidador - ambiente - ser cuidado (WALDOW,
2005).
O cuidado ultrapassa a compreensão comum e vai além da atenção à saúde
desenvolvida por procedimentos técnicos. Reporta-se a ações de integralidade com
significados e sentidos voltados para a promoção da saúde, como o direito do ser
humano, expresso pelo respeito, acolhimento, atendendo ao indivíduo no momento
21
de fragilidade social e/ou de sofrimento, em que a interação entre pessoas se torna
característica desse contexto (PINHEIRO; MATOS, 2004).
Para que a interação se efetive, há necessidade de compreender que ela se
faz pela troca de experiências e não unidirecionalmente (STEFANELLI, 2005c). No
modelo biomédico hegemônico existem poucos espaços para a escuta dos
pacientes e de seus anseios, tensões e sofrimentos. Esses sentimentos estão
presentes de modo intenso e contínuo no processo de adoecimento, principalmente
nos casos em que os pacientes se deparam com a ausência de prognóstico de cura.
Destarte, o cuidado profissional auxilia o indivíduo no enfrentamento de situações
relativas à doença, na redução do impacto e sofrimento causados por ela, bem como
dá oportunidade às pessoas de expressar e compartilhar seus sentimentos
(LACERDA; VALLA, 2005).
O cuidado se traduz no ato de reciprocidade prestado a nós mesmos e que
nos torna capazes e autônomos para prestá-lo a outros que apresentam definitiva ou
temporariamente necessidade de ajuda (COLLIÈRE, 1999). A natureza do cuidado
se torna imprescindível à Enfermagem como disciplina e profissão, pois ele não se
desenvolve no vazio, mas no contexto em que está inserido, levando em conta as
experiências humanas, a subjetividade, a consciência e a vida, sentindo
primeiramente em si próprio, para então buscá-las no outro (SILVA, 2000).
O cuidado é o resultado do processo de cuidar, que se distingue pelo
encontro entre o ser cuidado e o cuidador em ambiente propício, envolto por
comportamentos
e
atitudes
que
se
destacam
pelo
respeito,
gentileza,
responsabilidade, interesse, segurança e oferta de apoio, confiança, conforto e
solidariedade. Entretanto, é importante destacar que esses fatores só são efetivados
em ambiente interacional e comunicacional, uma vez que ao faltarem interação e
comunicação o cuidado se torna simples procedimento técnico (WALDOW, 2005).
Os
profissionais
de
enfermagem
ao
assumir
seus
papéis
com
responsabilidade tendem a sentir-se integrados ao seu meio e, assim, aprimorar sua
percepção. Nesse sentido, passa a existir a oportunidade de experimentar
sentimentos de motivação com elevação da autoestima ao se perceber como
profissional competente, capaz de contribuir com a sociedade ao cuidar do outro em
suas necessidades básicas humanas (BISON, 2003).
Entretanto, de forma geral, a academia tem discutido pouco sobre o cuidado
com foco na integralidade do ser humano, o que acaba resultando no despreparo
22
dos profissionais de saúde para lidar com as situações que se apresentam no
cotidiano da prática profissional (LACERDA; VALLA, 2005).
A preocupação de ser reconhecido como profissional com atribuições e
competências para o cuidado não se deve centrar unicamente em aplicação de
técnicas e procedimentos. A percepção do cuidado deve ser ampliada ao levar em
consideração igualmente a percepção daquele que recebe o cuidado por intermédio
dos processos comunicacional e interacional (WALDOW, 2007).
O cuidado humano de enfermagem é imbuído de sentimentos e valores que
podem fortalecer ou enfraquecer as oportunidades de criar vínculo e interação entre
cuidador e ser cuidado. Para isso, as pessoas que estão envolvidas nesse cuidado
necessitam perceber o outro e suas necessidades, o ambiente e os fatores a eles
relacionados e, não menos importante, a percepção de si mesmas (BISON, 2003).
A percepção é entendida como processo interativo do indivíduo com o meio
ambiente, em que se adquire conhecimento por meio dos sentidos. Seu conceito, de
modo mais amplo, é caracterizado pelo processo de cognição em que os
procedimentos mentais se realizam mediante o interesse ou a necessidade de
estruturar nossa interface com a realidade e o mundo e selecionar as informações
percebidas,
armazenando-as
e
conferindo-lhes
significado.
Ela
pode
ser
considerada um dos principais comportamentos recorrentes, através dos quais
construímos nossa realidade (OLIVEIRA; DEL RIO, 1999).
O termo percepção designa o ato que nos proporciona condições para
conhecermos um objeto do meio exterior. A maior parte de nossas percepções
conscientes provém do meio externo, pois as sensações dos órgãos internos não
são conscientes na maioria das vezes e desempenham papel limitado na elaboração
do conhecimento do mundo. Trata-se a percepção como uma situação subjetiva
baseada em sensações, acompanhada de avaliação e frequentemente de juízos.
Assim, é possível perceber o ambiente de várias maneiras, em que indivíduos
diferentes percebem um mesmo espaço de forma distinta (OLIVEIRA; DEL RIO,
1999).
A percepção das ações de enfermagem se torna referência para se ter
consciência dos elementos que norteiam e fortalecem a relação entre o profissional
de enfermagem e a pessoa cuidada no ambiente e no instante do cuidado.
Confirma-se que a percepção é subjetiva e importante para nutrir a essência do
23
momento do cuidado, dignificando a condição de ser humano, dando-lhe
oportunidade de fortalecer sua autonomia (RIVERA ÁLVAREZ; TRIANA, 2007).
2.2 CUIDADO DE ENFERMAGEM À PESSOA COM TRANSTORNO MENTAL
No Brasil as primeiras pessoas a desenvolver a Enfermagem como
ocupação,
os
chamados
“enfermeiros
práticos”,
atuaram
nas
instituições
psiquiátricas surgidas na segunda metade do século XIX, sendo que o primeiro e o
mais conhecido foi o Hospício Pedro II, situado na cidade do Rio de Janeiro, capital
imperial. Anteriormente a essa época, a Enfermagem não tinha distinção profissional
e nem funcional, mas retratava o cuidado realizado por religiosas e leigas
(MIRANDA, 1994).
Com o início do funcionamento do Hospício Pedro II, houve a necessidade
de contratação mão de obra barata para os serviços auxiliares no atendimento aos
loucos. Dessa forma, para qualquer pessoa com pequena experiência no cuidado
aos enfermos era conferido o título prático de enfermeiro, cuja função era ser um
agente intermediário entre o guarda e o médico do hospital. Ele deveria apresentar
as seguintes qualidades para o desempenho das tarefas que eram lhe confiadas:
severidade,
doçura,
coragem,
prudência,
discrição,
caridade,
inteligência,
capacidade para entender o médico e o doente. Devia, ainda, ser um homem probo,
ativo, zeloso, apresentar robustez e força física para o exercício da prática coercitiva
aos doentes mentais. Portanto, naquela época os homens eram em maior
quantidade na Enfermagem (MIRANDA, 1994; BELMONTE et al., 1998).
Nessa perspectiva pode-se afirmar que a enfermagem brasileira nasceu no
hospício com as funções de vigiar, reprimir e controlar os alienados4, que se
encontravam internos naquele lugar. Cabia aos médicos decidir os meios de
repressão e coerção e aos enfermeiros executá-los (BELMONTE et al., 1998).
Com a Proclamação da República, o Estado e o Clero sofreram quebra de
4
Alienado – Para Pinel, seria o que se deixa dominar por paixões artificiais, distantes da realidade
objetiva. Considerado pelos médicos do século XVIII e XIX como um distúrbio das paixões, que em
proporções exageradas causam alienação mental e, consequentemente, ausência da razão e do
juízo (AMARANTE et al., 2003, p.13).
24
aliança, o que resultou na saída das irmãs de caridade do poder de direção das
Santas Casas de Misericórdia e, consequentemente, da assistência aos doentes.
Assim, coube a responsabilidade de manutenção do hospício e hospital ao Estado e
a direção para os médicos. Em 1889, o Hospício Pedro II foi separado da Santa
Casa de Misericórdia e passou a ser denominado Hospício Nacional de Alienados
(MIRANDA, 1994; BELMONTE et al., 1998).
Com a saída das religiosas, houve uma crise de pessoal nos hospitais e,
principalmente, no hospício, haja vista que neles a quantidade de pacientes era
superior à das Santas Casas de Misericórdia. Essa situação fez com que o Governo
Provisório da Primeira República, pelo Decreto nº. 791, de 27 de setembro de 1890,
instituísse, nas dependências do Hospício Nacional de Alienados, a primeira escola
profissionalizante em Enfermagem no Brasil. Inicialmente, recebeu o nome de
Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras e, a partir de 1904, passou a
chamar-se Escola Alfredo Pinto, que se mantém até a atualidade. Essa escola tinha
o objetivo de preparar os enfermeiros práticos em profissionais para atuar no
hospício e Santa Casa de Misericórdia. O currículo de formação consistia em
adquirir
noções
práticas
de
higiene
hospitalar,
curativos,
aplicação
de
balneoterapias, noções gerais de administração interna e escrituração do serviço
sanitário e econômico das enfermarias (MAGALHÃES, et al., 2004; SOUZA;
MOREIRA; PORTO, 2005).
Entretanto, mesmo recebendo formação, os enfermeiros mantiveram as
compreensões sobre doença e doente mental conforme o concebido pelos modelos
da psiquiatria convencional, pautada na exclusão social e na medicalização dos
manicômios, sem haver modificações de comportamento, de concepções e de
melhoramento das práticas de cuidado aos doentes mentais (CASTRO; SILVA,
2002; AMARANTE et al., 2003).
Em 1923, foi fundada no Rio de Janeiro a Escola de Enfermagem Anna
Nery, sob os moldes da Enfermagem moderna da “Era Nightingaliana”, acrescida da
vinda de enfermeiras norte-americanas. O curso de Enfermagem visava a formar
enfermeiras sanitaristas para atuar na área de saúde pública, entretanto, dentre as
disciplinas do currículo havia a que dava ênfase à psiquiatria com denominação de
“a arte de enfermeira: em doenças nervosas e mentais”. O conteúdo teórico era
ministrado por um médico psiquiatra, e nos primeiros anos da escola essa disciplina
não oferecia aulas práticas. Somente a partir de 1949, foram iniciados os estágios
25
no Hospício de Engenho de Dentro, acompanhados por duas enfermeiras
especialistas em psiquiatria. O estágio consistia em realizar a higiene dos pacientes,
oferecer alimentação e realizar técnica de contenção física (MIRANDA, 1994).
Cabe ressaltar que, por força de dispositivo legal pela Lei n.775/49,
iniciaram-se os estágios e as aulas práticas de Enfermagem Psiquiátrica da Escola
Anna Nery, uma vez que esta lei exigia estágios em todos os campos assistenciais
básicos. Dentre as dificuldades encontradas pelas docentes e pelas alunas desta
escola, uma delas consistia em não possuir um modelo de enfermeira em psiquiatria
para se espelhar, uma vez que nas instituições psiquiátricas não havia enfermeiras
diplomadas, sendo o serviço conduzido pelos profissionais sem formação superior,
que corresponderiam hoje aos auxiliares de enfermagem (PERES; BARREIRA,
2008).
O louco não foi considerado nas propostas da Enfermagem moderna de
Florence
Nightingale.
Do
mesmo
modo,
no
Brasil,
a
Enfermagem
que
paradoxalmente nasce no hospício também foi esquecida ou muito pouco lembrada
pela academia quanto à necessidade de qualificação dos trabalhadores na área da
psiquiatria. A Enfermagem era vista como aquela que preparava os pacientes para
outros profissionais aprimorarem seus conhecimentos, e para isso não era
necessária muita qualificação. Nessa perspectiva, o cuidado de enfermagem em
saúde mental se manteve por longo tempo restrito à higiene corporal, alimentação,
contenção física, manutenção da ordem e à observação do estado do paciente.
Havia, portanto, a necessidade de ampliar suas ações para contemplar a totalidade
dos portadores de transtorno mental (MIRANDA, 1994; MAFTUM, 2004).
Em resposta às necessidades evolutivas da profissão e, como elementos de
sustentação da prática profissional, surgiram as Teorias de Enfermagem norteadas
por quatro conceitos fundamentais: ser humano, ambiente, saúde-doença e
enfermagem. Buscavam construir e fortalecer o corpo de conhecimento da
Enfermagem, desenvolver consciência crítica e reflexiva sobre o significado de seus
conceitos, demonstrados pela habilidade em aplicar o conhecimento em novas
situações. Vale destacar que as primeiras Teorias de Enfermagem emergiram no
contexto da saúde mental tendo como foco a inter-relação pessoal. São exemplos as
Teorias de Hildegard Peplau em 1952 e Joyce Travelbee em meados 1960
legitimando a relação pessoa a pessoa na profissão da Enfermagem, como
instrumento de ação na área de saúde mental (GEORGE, 2000).
26
No Brasil, as Teorias começaram a ser estudadas e empregadas a partir de
1970, em razão das mudanças educacionais e dos avanços da Enfermagem como
projeto acadêmico caracterizado na formação de graduação, mestrado e doutorado.
Contudo, esse aspecto não significou mudanças na prática do cuidado às pessoas
com transtorno mental ficando restrito à academia (CARVALHO, 2004; WALDOW,
2007).
Percebe-se que, atualmente, a área de saúde mental passa por uma série
de mudanças, o que requer atitudes diferentes diante dos cuidados desenvolvidos
às pessoas com transtorno mental. Para tanto, os profissionais de enfermagem
devem angariar novos conhecimentos relacionados a cuidados alicerçados na ética,
integralidade e humanização. Nesse sentido, os enfermeiros da área de saúde
mental têm buscado promover a conscientização dos demais profissionais de
enfermagem quanto aos novos rumos da assistência em saúde mental por meio da
educação permanente ou na formação de futuros profissionais.
A prática contemporânea da Enfermagem voltada às pessoas com
transtorno mental apresenta três domínios para o cuidado: o assistencial direto ao
paciente, a comunicação e o gerenciamento desse cuidado. As funções de ensino,
coordenação, delegação e colaboração por parte dos enfermeiros se encontram
implícitas nesses domínios de forma sobrepostas (STUART; LARAIA, 2002).
Dessa forma, o enfermeiro e sua equipe, ao desenvolverem o cuidado aos
pacientes com transtorno mental, devem adotar um método que sistematize o
processo de trabalho e lhes permitam estabelecer e aplicar critérios produtivos em
sua atuação. Com isso, cria-se a oportunidade de repensar e transformar sua
prática, que por muito tempo esteve com a atenção centrada no cuidado baseado
em pressupostos que fortaleciam o controle e a rigidez dos antigos modos de
tratamento manicomial. Há que se abandonar a fragmentação do cuidado,
sustentada no modelo de assistência que enfoca a doença e pouco nos potenciais
de reabilitação psicossocial (CASTRO; SILVA, 2002; JORGE et al., 2006; SAIDEL et
al., 2007).
Por outro lado, podem-se notar modificações importantes na prática da
Enfermagem, alavancadas pela relevante solidificação do ensino de enfermagem
psiquiátrica e saúde mental. Esta conquista se deve ao trabalho dos docentes da
disciplina de saúde mental na graduação em Enfermagem, ao incluir no ensino a
ênfase no relacionamento interpessoal e comunicação terapêutica. Outro ponto
27
fundamental tem sido o destaque nas políticas públicas em saúde mental e o
incentivo ao posicionamento crítico-reflexivo sobre os fatores determinantes e
condicionantes à dinâmica das mudanças contemporâneas, tanto no que se refere à
temática de saúde mental, quanto às mudanças mundiais ocorridas em todas as
áreas do conhecimento (KANTORSKI; PINHO; SCHRANK, 2007; MAFTUM;
ALENCASTRE, 2009).
Os profissionais de enfermagem da área de saúde mental buscam se
distanciar da prática que tradicionalmente se desenvolvia quando os tratamentos
consistiam em modelos manicomiais. Essa característica se confirma com a
possibilidade de atendimento de pacientes com transtorno mental nos hospitais
gerais (THOMAS et al., 2007). Portanto, um novo campo de atuação para o
enfermeiro tem despontado na área de saúde mental: a consultoria, ou interconsulta
de enfermagem em psiquiatria. Ela pode ser definida como a prestação do cuidado
de enfermagem especializado em psiquiatria em uma unidade de hospital geral.
Nessa modalidade, o enfermeiro atuante em unidades de emergências
clínicas, obstétricas ou cirúrgicas solicita ao enfermeiro psiquiátrico uma consultoria
para desenvolver o plano de cuidado referente ao paciente com comorbidade
clínico-psiquiátrica. Entretanto, o enfermeiro interconsultor não assume o paciente,
mas orienta e apoia a equipe de enfermagem daquela unidade no atendimento
adequado das necessidades de atenção psicossocial do paciente (SCHERER;
SCHERER; LABATE, 2002; THOMAS et al., 2007).
O movimento dos enfermeiros de saúde mental ocupando cargos em
hospitais gerais na prática da consultoria iniciou-se por volta de1960. A definição do
papel do interconsultor de enfermagem é dada pela Nurse Consultant Associates
(NCA) como aquele que utiliza conhecimentos de Enfermagem e sua experiência
para promover cuidados de saúde psíquica. A consultoria vem ganhando destaque e
importância no Brasil desde a década de 1980, integrando o atendimento clínico e
cirúrgico com a abordagem biopsicossocial do indivíduo doente (THOMAS et al.,
2007).
Ressalta-se que a interconsulta psiquiátrica em Enfermagem não deve ser
entendida como fortalecedora do modelo biomédico, no qual há a fragmentação do
cuidado. Pelo contrário, ela vem ao encontro da busca da integralização do cuidado
para que os profissionais de enfermagem nos hospitais gerais, possuindo
experiência e capacidade para atuar ali, tenham, igualmente, condições de abordar
28
e prestar o cuidado às pessoas com transtorno mental de forma adequada e
abrangente (SCHERER; SCHERER; LABATE, 2002).
Uma das dificuldades do trabalho do enfermeiro interconsultor no hospital
geral é a resistência da equipe de enfermagem em prestar o cuidado que foge de
sua área mais abrangente, ou seja, a clínica. Cabe ao enfermeiro interconsultor
utilizar suas competências em comunicação para fortalecer o vínculo com essa
equipe e mostrar a existência da capacidade dela realizar o atendimento integral ao
paciente
e
evitar
a
cisão
da
inter-relação
profissional
(HILDEBRANDT;
ALENCASTRE, 2001).
Dentre os obstáculos encontrados pela equipe de enfermagem do hospital
geral no cuidado ao paciente com comorbidade clínico-psiquiátrica, está o manejo
da agressividade, que eventualmente ele possa apresentar uma vez que é possível
a admissão de pacientes com comportamento violento, agressividade verbal,
agitação extrema, episódios de delírios, psicose aguda e confusão mental em
serviços de emergências dos hospitais gerais (JIMENÉZ BUSSELO et al., 2006).
Esses comportamentos exteriorizados podem provocar medo, ansiedade e
insegurança naqueles que estão próximos ao paciente, inclusive, nos profissionais
de saúde. Os profissionais devem se esforçar para dominar suas emoções e avaliar
a situação para que as medidas a serem tomadas sejam adequadas e seguras
(MARCOLAN, 2004; PAES, 2007).
As manifestações de agitação e agressividade que são visualizadas em
hospitais gerais acontecem, principalmente, em unidades de emergências, e a
maioria por pacientes sob efeito de substâncias psicoativas ilícitas. Ressalta-se que
é difícil prever quando o paciente apresentará comportamento agressivo e violento,
entretanto, são poucos os que realmente constituem perigo genuíno. Esse medo,
algumas vezes inconsciente, que os profissionais de saúde sentem ao atender a
uma pessoa com transtorno mental, interfere na avaliação do paciente, tanto pela
equipe médica, como pela da enfermagem. O resultado dessa condição é o uso
excessivo de sedação e a contenção física como primeiro procedimento a ser
realizado (SADOCK; SADOCK, 2007).
Diante da apresentação de episódios de agressividade, existem três
medidas cabíveis de intervenção para garantir a segurança do paciente e da equipe
que o atende: contenção verbal, contenção química e contenção física no leito
(CÁNOVAS RODRÍGUEZ; HERNÁNDEZ ORTEGA, 2008).
29
A contenção verbal deve ser a primeira estratégia a ser utilizada e, para sua
efetividade, o profissional deve oferecer segurança, ajuda e compreensão ao
paciente. Para isso, é preciso se mostrar calmo, com tom de voz adequado, porém
com firmeza e segurança, tentando distrair a atenção do paciente do foco da
agitação. Portanto, o profissional deve lançar mão da competência em comunicação
humana e terapêutica, uma vez que ela é a essência dessa abordagem e ainda
possuir o mínimo de conhecimento sobre os sinais e sintomas das psicopatologias.
Quando a causa da agitação ou agressividade for orgânica, a contenção química,
por meio de medicações prescritas pelo médico, deve ser a estratégia de primeira
escolha, seguida da contenção física (STEFANELLI, 1993; 2005; CÁNOVAS
RODRÍGUEZ; HERNÁNDEZ ORTEGA, 2008).
Contudo, quando a agressividade ou a agitação do paciente oferecer risco à
integridade física de si ou de terceiros, deve-se utilizar a contenção física no leito
como medida de primeira escolha, em seguida, a contenção química. Esses
pacientes podem ser contidos por um curto espaço de tempo para receber
medicações ou períodos mais longos quando não houver possibilidade de uso de
medicamento ou pela falta de eficácia do efeito farmacológico desejado, que é o de
diminuição da agitação motora (SADOCK; SADOCK, 2007).
O conceito de contenção química depende de como o fármaco é utilizado:
como parte do tratamento do paciente ou simplesmente para controlar o
comportamento do paciente. Se um medicamento é prescrito como parte de uma
avaliação ou de um plano racional de cuidados, é um tratamento. Se prescrito
simplesmente como uma reação ao comportamento do paciente, é uma forma de
contenção. Assim, a mesma medicação administrada ao mesmo paciente pode ser
um tratamento e, em algumas circunstâncias, uma medida de contenção química
(CURRIER; ALLEN, 2000).
Um dos cuidados que a equipe de enfermagem pode realizar com pacientes,
que eventualmente apresentem alteração de conduta e agressividade, é tentar
avaliar se esse comportamento tem relação com o ambiente. O enfermeiro, ao
perceber essa situação, pode utilizar sua competência gerencial do cuidado e intervir
nesse ambiente conforme a dinâmica da unidade e reconhecer que a ação de
enfermagem apropriada nessas situações é a prevenção do comportamento, que
poderia culminar na necessidade de contenções físicas e sedação (STUART;
LARAIA, 2002).
30
As circunstâncias que levam a maioria dos pacientes, de forma geral, a
serem contidos no leito, são: confusão mental, agitação psicomotora ou risco de
queda do leito, tracionamento e extração de sondas nasogástricas, cateteres
venosos, vesicais, entre outros (SMELTZER; BARE, 2002). As contenções físicas no
hospital geral diferenciam-se das realizadas nas instituições psiquiátricas: na
primeira utiliza-se com maior frequência a restrição de movimento dos membros
superiores e inferiores com ataduras, e a outra com enfaixamento da maior parte do
corpo com tecido de algodão cru (PAES, 2007). Cabe ressaltar que ao mesmo
tempo em que a contenção física ou a restrição de movimentos pode significar
segurança, ação protetora, ela pode funcionar como forma de atemorização e
punição, pois alguns profissionais a utilizam para subjugar os pacientes,
descaracterizando
esse
procedimento
como
cuidado
(BOTEGA;
DALGALARRONDO, 1997).
Para adequar o uso das contenções físicas, a equipe de enfermagem
precisa se preocupar com as características que envolvem o procedimento: o
material a ser utilizado, da real necessidade, se há outras possibilidades, o que pode
ser listado em protocolos de atendimentos, devendo tomar o hábito de anotar toda a
sequência realizada no procedimento (PAES, 2007).
2.3 BREVE HISTÓRICO DO NASCIMENTO DO HOSPITAL: “LUGAR DE LOUCO É
NO HOSPÍCIO!”
O estudo da história do hospital e das instituições psiquiátricas se torna
necessário para a compreensão de alguns discursos ainda presentes no imaginário
social e de profissionais de saúde nos dias atuais como, por exemplo, “lugar de
louco é no hospício!”, porque essa crença traz consequências nas concepções sobre
saúde e doença mental e nas práticas sociais e de saúde.
O termo hospital origina-se do latim hospitale, que significa hospedaria,
hospedagem ou hospitaleiro, e sua origem remonta há séculos, uma vez que a
história registra a existência de hospitais cristãos nos anos 369-372 d.C. Sua missão
era dar abrigo, alimento, alento às almas por meio da caridade, dádiva que deveria
31
possuir o bom cristão e, assim, praticar a palavra de Deus, servindo ao próximo
necessitado (AMARANTE et al., 2003).
As pessoas recebidas no hospital medieval eram os devassos, prostitutas,
delinquentes, venéreos, pobres, desabrigados, doentes, os que estavam morrendo e
os loucos. O cuidado prestado ali era o religioso, com a preocupação de salvar as
almas, portanto, sem visar à cura ou tratamento físico (AMARANTE et al., 2003).
Essa forma de cuidado subsistiu até meados de 1780 quando na Europa o hospital
começou a ganhar aspectos de instrumento terapêutico de cura com a entrada ativa
dos médicos e o surgimento de novas práticas como a observação sistematizada do
doente e aplicação de conhecimentos clínicos (FOUCAULT, 1979).
Com a reorganização das instituições hospitalares existentes no século
XVIII, deixou-se a assistência religiosa e de caridade para transformá-las em espaço
terapêutico, instrumento da medicina moderna, campo de ensino e aprendizagem
por meio da observação da evolução das doenças. Com isso, a presença do médico
passou a ser integral no espaço hospitalar, tornando-o local que oferecia tratamento
para as doenças, caracterizando a denominada clínica médica (FOUCAULT, 1979).
A palavra grega Klinus deu origem ao vocábulo clínica, cujo significado é
leito ou cama com o sentido de inclinar-se a eles. Assim, de forma generalizada,
clínica significaria estar ao lado do leito do doente observando constantemente sua
evolução, coletando dados na busca de soluções (AMARANTE et al., 2003).
Com a observação do doente e dos sinais e sintomas das doenças, a
medicina moderna aprimorou e acrescentou seus saberes, por intermédio do
conhecimento empírico. Com isso, foram iniciados o emprego de linguagem própria,
sistematização da observação, organização da experiência vivida junto ao doente
conforme a evolução e descrição dos sinais e sintomas das doenças, bem como os
próprios resultados. Em suma, a clínica se fundamentou no olhar do médico sobre a
doença a fim de classificá-la e defini-la baseada nos sinais e sintomas, para em
seguida, tratá-la. Para que isso fosse possível, houve necessidade da busca de uma
relação mais forte entre o médico e o paciente, visto que os sinais deveriam ser
percebidos pelo médico sem que o paciente os referisse (AMARANTE et al., 2003).
O hospital geral tem íntima relação histórica com a hegemonia do discurso
médico, do orgânico, e, nesta concepção, os espaços para tratar os males psíquicos
32
deviam ter conformação geográfica específica, os quais foram representados pelos
hospícios, manicômios, asilos e instituições próprias5.
A partir do final do século XVIII, a loucura passou a ser entendida como
doença da mente, pois anteriormente a essa época ela não era sistematicamente
condicionada ao internamento, mas considerada como uma forma de erro ou de
ilusão. Dessa forma, a loucura começou a ser considerada doença e objeto de
intervenção médica, passível de cura e com necessidade de um local para seu
tratamento. Diante disso, criaram-se os hospícios como um espaço próprio e
instrumento básico para a intervenção medicalizada ao portador de transtorno
mental (HILDEBRANDT; ALENCASTRE, 2001; SILVEIRA; BRAGA, 2005).
Em 1793, Philippe Pinel (1745-1826) iniciou a organização do primeiro
hospital psiquiátrico situado na França, influenciado pela Revolução Francesa e
seus ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, pelo fortalecimento do
pensamento positivista e, consequentemente, pela medicalização do hospital. A
transformação do espaço filantrópico em instituição para tratamento dos males da
mente se deu por propostas terapêuticas, chamadas de tecnologia pineliana,
baseadas no isolamento do mundo exterior, constituição da ordem asilar e da
relação na autoridade. Um fator importante que contribuiu para a concretização e
propagação das propostas terapêuticas de Pinel foi o primeiro livro de psiquiatria
como especialidade médica, no qual se encontrava a primeira classificação de
doenças mentais (AMARANTE et al., 2003).
O interesse dos médicos pela psiquiatria como especialidade e a criação de
espaços hospitalares especializados são criados igualmente na Inglaterra e Itália por
intermédio de William Tuke (1732-1822) e Vincenzo Chiarugi (1759-1820),
respectivamente (AMARANTE et al., 2003). Nesse contexto, percebe-se a
separação estrutural e nosográfica, bem como na concepção das pessoas o hospital
geral está para a doença física e o hospício para a da mente.
As ideias de Pinel ao chegarem no Brasil provocaram um movimento em prol
da construção de instituições como as da Europa, com o lema “Aos loucos, o
hospício!”. Com isso, são construídos e inaugurados na segunda metade do
5
Há diferenciação entre manicômio, asilo e hospício e deve-se ter a atenção para o uso errôneo deles
como sinônimo. Hospício: parte exclusiva para o louco anexado a um hospital geral (separação do
louco dos outros doentes). Manicômio, característico por acolher somente doentes mentais e dar-lhes
tratamento médico sistemático e especializado. Asilos, instituições que abrigavam os loucos, mas
sem fim terapêutico médico (PESSOTTI, 1996).
33
século XIX no Rio de Janeiro e São Paulo os dois primeiros hospícios brasileiros. A
partir dos primeiros anos do século XX, o conceito de institucionalização de doentes
mentais difundiu-se por todo o Brasil, encarcerando milhares de pessoas nos
manicômios e hospícios (BRASIL, 2004a).
Pelo princípio do isolamento, em que se isola para observar, observa-se
para conhecer e conhece-se para administrar6, muitas pessoas ficaram por anos
isolados da sociedade pelos internamentos institucionais. Parte dessa população
não teve condições de sair de lá devido à perda do contato com familiares, pela
presença de sequelas dos mais variados tipos de tratamentos ofertados pelas
instituições ou pelo seu estado psíquico alterado e, em muitos casos, pela própria
cronificação da doença (AMARANTE et al., 2003; SILVA, 2007).
Outra condição que se deve salientar é a mercantilização da loucura,
principalmente no início da década de 1940, em que havia quase 56 mil leitos
psiquiátricos no Brasil, por se demonstrarem rentáveis às instituições. Isso porque
os pacientes em suma não requeriam seus direitos e, assim, havia a
despreocupação em oferta de serviços com qualidade e qualquer lugar serviria de
enfermaria para alocar os doentes, tendo como consequência a superlotação das
instituições e a banalização das doenças mentais (AMARANTE et al., 2003; SILVA,
2007).
Todos esses fatores influenciaram nas concepções de saúde e doença
mental pela sociedade em geral e, consequentemente, na vida da própria pessoa
portadora de transtorno mental. Atualmente, sabe-se da existência de pacientes
moradores, asilados em instituições psiquiátricas, visto que pelo tempo de
permanência naquele espaço e mesmo com a intervenção da equipe multidisciplinar
não houve condições de devolvê-los à sociedade devido à tamanha cronificação
mental gerada ou agravada pelos anos de institucionalização.
Com isso, a sociedade ocidental contemporânea tem mantido o rótulo da
doença mental como objeto de intervenção da ciência médica e/ou de outras
práticas “psi”, com quadros nosológicos delimitados pela visão que se construiu
sobre a pessoa com transtorno mental durante anos (SILVEIRA; BRAGA, 2005).
Deste modo, percebe-se a presença de alguns fatores no hospital geral que
dificultam o cuidado de pacientes com transtorno mental como, por exemplo, falta de
6
Administrar no sentido de subjugar, controlar, disciplinar.
34
preparo dos profissionais de saúde, de espaço físico para a movimentação dos
pacientes, locais para realização de grupos terapêuticos, além dos resquícios de
concepções convencionais de que o hospital geral não é lugar para tratar doentes
mentais e de que eles representam risco para os outros pacientes (HILDEBRANDT;
ALENCASTRE, 2001).
Com a aprovação da Lei n. 10.216, de 06 de abril de 2001, que dispõe sobre
a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e
redireciona o modelo assistencial em saúde mental, houve uma conquista e uma
concretização dos ideais daqueles que se empenharam na luta para transformar o
cenário que envolvia as formas de tratamento às pessoas com transtorno mental.
Essa lei trouxe parâmetros normativos quanto aos direitos das pessoas portadoras
de transtorno mental, das responsabilidades do Estado na promoção da saúde
mental, nas formas de internamento em hospitais psiquiátricos e em serviços extrahospitalares. Ao contrário daquilo em que algumas pessoas acreditam, a referida lei
não dispõe sobre a extinção dos hospitais psiquiátricos, mas sobre a organização do
sistema que regulamenta as políticas de saúde mental no Brasil. Entretanto, cabe
ressaltar que ela proíbe a internação de pacientes com transtorno mental em
instituições com características asilares (BRASIL, 2001).
Os processos de mudanças geram em seus elementos inseguranças,
conflitos e medo, sendo essas as possíveis razões que mantêm parte dos
profissionais de saúde ligados aos paradigmas da psiquiatria convencional, nos
quais o internamento manicomial constitui instrumento básico de intervenção.
Entretanto, a consciência dessa nova realidade que se delineia rapidamente em
meio à sociedade, busca desencadear estratégias de ações de educação em saúde
pública que contribuam para a melhoria da qualidade no cuidado às pessoas com
transtorno mental (HILDEBRANDT; ALENCASTRE, 2001).
2.4 COMORBIDADE CLÍNICO-PSIQUIÁTRICA
Neste item serão descritos alguns transtornos mentais e de comportamentos
que comumente estão presentes associados às doenças clínicas se caracterizando
como comorbidades clínico-psiquiátricas: depressão, ansiedade com ou sem relação
35
ao uso de substâncias psicoativas, transtornos mentais orgânicos, entre outros
(SCHMITT; GOMES, 2005).
A comorbidade entre doença clínica e psíquica tem sido foco de pesquisas
que demonstram elevados índices epidemiológicos, o que a torna de interesse dos
profissionais da área de saúde (PETRIBÚ, 2001). Como já mencionado, a
comorbidade é definida como o aparecimento de outra patologia quando já havia
uma preexistente ou o aparecimento de duas patologias distintas em determinado
momento. A relação entre saúde mental e física ainda não tem uma explicação
satisfatória, entretanto, pelas recentes observações científicas, não há dúvidas de
que a saúde mental está relacionada com a física e vice-versa (OMS, 2001).
A doença ou transtorno mental pode ser compreendido como respostas
inadaptadas aos estressores provenientes do ambiente externo ou fatores internos,
evidenciados
por
pensamentos,
sentimentos
e
comportamentos
que
são
incongruentes com as normas socioculturais locais e que interferem na atuação
social, ocupacional e/ou física da pessoa. Por outro lado, a definição de saúde
mental é muito mais abrangente do que a ausência de uma doença mental e pode
ser concebida como a adaptação bem-sucedida aos estressores provenientes do
ambiente interno ou externo. Assim, saúde mental pode ser evidenciada por
pensamentos, sentimentos e comportamentos que são adequados à idade e
congruentes com as normas culturais e locais, abrangendo, entre outras coisas, o
bem-estar subjetivo, autoeficácia percebida, autonomia, autorrealização do potencial
intelectual e emocional (OMS, 2001; COFEN, 2008).
Os transtornos mentais podem afetar pessoas em todas as idades, de
crianças até idosos, em todos os países, tanto homens quanto mulheres, trazendo
sofrimento aos seus portadores, bem como às suas famílias e à sociedade. Estimase que uma a cada quatro pessoas será afetada por um transtorno mental em dada
fase da vida (OMS, 2001).
Para que se possa entender o processo saúde-doença mental, bem como
conceituá-lo, é indispensável ter a compreensão da multicausalidade a que as
pessoas estão sujeitas e as quais levam a desenvolver o transtorno mental em
determinado momento de sua história. Os preconceitos, discriminação, estigmas,
crendices, mitos e estereótipos envolvidos com o conceito de doença mental tornam
esse processo cada vez mais complexo e foco de estudos a fim de se obter a
compreensão dos fatores determinantes. Isso deve ocorrer por meio da identificação
36
e discussão dos problemas relacionados com a doença mental, numa visão
multidisciplinar, para então propor uma nova prática em saúde mental objetivando a
desmitificação da doença mental (NASCIMENTO; BRAGA, 2004; GRAHAM et al.,
2007).
A depressão é uma doença psicofísica na qual as pessoas podem
experimentar sintomas tanto físicos quanto psíquicos, mas a natureza exata varia de
pessoa para pessoa. Os sinais e sintomas que caracterizam a depressão são:
tristeza, apatia, sentimentos de inutilidade, autolamentação, pensamentos mórbidos,
insônia, baixa autoestima e baixa autoconfiança, anorexia, perda ou aumento
considerado de peso, diminuição da libido, redução ou aumento de atividades e
dificuldade de concentração. Dependendo do grau de depressão, o paciente pode
apresentar pensamentos suicidas, delírios e alucinações (SMELTZER; BARE, 2002).
Os episódios depressivos são apresentados em três graus: leve, moderado
e grave. No leve, geralmente o paciente se refere a dois ou três dos sintomas
anteriormente citados e que lhe causam sofrimento, no entanto, não há empecilho
para desenvolvimento da maior parte de suas atividades diárias. No episódio
moderado, o paciente começa a manifestar dificuldades para continuar a
desempenhar suas atividades cotidianas e apresenta quatro ou mais dos sintomas
citados. A forma acentuada de vários sinais e sintomas, entre eles, a perda da
autoestima, pensamentos e ato suicida, alucinação, ideias delirantes, lentidão
psicomotora e estupor, caracterizam os episódios depressivos graves (CID-10,
2006). É importante não confundir a depressão com tristeza, que se refere a um
sentimento normal e próprio do ser humano, em resposta a períodos de dificuldades,
e a partir do instante em que estes momentos são superados, tais sentimentos se
dissipam (SADOCK; SADOCK, 2007).
A depressão é uma síndrome psiquiátrica com alta prevalência na população
geral. Quando se trata de pacientes internados em hospitais para tratamento clínico,
estima-se que esteja em torno de 9% a 16%. Esses números poderiam ser maiores,
pois os casos de depressão são subdiagnosticados, uma vez que o foco do
tratamento desses pacientes é a doença clínica e isso tem comprometido o
diagnóstico, a evolução e o tratamento dos episódios depressivos (TENG; HUMES;
DEMETRIO, 2005).
No hospital geral, principalmente no serviço de urgência e emergência,
pode-se notar a presença de elevado número de pessoas com quadros variados de
37
doença clínica que comumente estão acompanhadas com síndromes álgicas
(SMELTZER; BARE, 2002). Esse fato pode ser bastante importante para a
intervenção da equipe multidisciplinar, no concernente à relação da doença clínica
com o transtorno mental. Um estudo sobre dor e bem-estar realizado pela
Organização Mundial de Saúde com 5.447 sujeitos em 15 centros de estudos na
Ásia, África e Américas, mostrou que pessoas com dor persistente têm a
probabilidade quatro vezes maior de sofrer de ansiedade ou transtornos depressivos
em relação às demais pessoas (GEORGE et al.7, 1998 apud OMS, 2001).
As depressões secundárias podem também estar relacionadas aos
seguintes fatores: efeitos colaterais de medicações, distúrbios neurológicos,
eletrolíticos,
hormonais
e
deficiências
nutricionais.
Há
possibilidade
de
desenvolvimento de depressões por outras condições fisiológicas como distúrbios de
colágeno, lúpus eritematoso sistêmico, miocardiopatias, insuficiência cardíaca
congestiva, infarto agudo do miocárdio, encefalites, hepatites, mononucleose,
pneumonias, sífilis e diabetes melittus (COFEN, 2008).
Outro componente importante para contribuição do surgimento de sintomas
da depressão é o envelhecimento aliado às doenças crônicas. O envelhecer não
significa possuir doença crônica, porém os idosos em sua maioria apresentam
doenças crônicas e múltiplas. Com isso, a comorbidade em pacientes idosos entre
doenças crônicas e depressão passa a ser algo real e repercute de forma orgânica e
psicossocial (DUARTE; REGO, 2007; GRAHAM, et.al., 2007).
Em um estudo com 1.120 sujeitos em atendimento ambulatorial clínico no
qual se verificou a associação entre doenças crônicas e depressão em idosos, os
episódios depressivos graves foram diagnosticados em 23,4% dos idosos. As
doenças crônicas apresentadas nesse estudo com maior significância para a
comorbidade doença crônica-depressão foram: Doença de Parkinson, Hipertensão
Arterial Sistêmica (HAS), Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), Diabetes
mellitus (DM). Os autores chamam a atenção para a compreensão da depressão
como doença e não como manifestação fisiológica do envelhecimento, e para tanto
deve-se ter uma atenção especial sobre os cuidados desenvolvidos para essa
clientela (DUARTE; REGO, 2007).
7
GEORGE, O. et al. Persistent pain and well-being: a World Health Organization study in primary
care. Journal of the American Medical, 1998.
38
Os pacientes com doenças crônicas possuem a característica de apresentar
consecutivos episódios de descompensação de sistemas vitais, levando-os a
constantes internamentos em unidades de emergência hospitalar (BENSEÑOR,
1998).
Esses pacientes têm necessidade de uso contínuo de medicações, que
podem levá-los a um estado depressivo como, por exemplo: cimetidina,
metoclopramida,
ampicilina,
metronidazol,
tetraciclina,
sulfametoxazol,
estreptomicina, levodopa, corticosteróide, prednisona, anticoncepcionais orais,
propranolol, reserpina, lidocaína, clonidina, metildopa, entre outros (SADOCK;
SADOCK, 2007).
Outro transtorno mental que pode estar em comorbidade a doenças clínicas
é a ansiedade. Ela é fundamental para a sobrevivência dos seres humanos, por ser
um sinal de alerta para que o indivíduo possa tomar atitudes frente a perigos
iminentes, dando-lhe condições de lidar com a ameaça. No entanto, ela deve ser
diferenciada do medo, que é um sinal de alerta a ameaças externas conhecidas, e
na ansiedade esses temores são desconhecidos, internos e conflituosos (STUART;
LARAIA, 2002; SADOCK; SADOCK, 2007).
Em condições normais, a ansiedade pode proporcionar motivação para a
busca daquilo que se deseja, bem como salvaguardar os indivíduos de ameaças
pela prevenção de prejuízos ao alertá-los a realizar atitudes que bloqueiem o perigo
e que se dissipam quando o perigo deixa de existir (SADOCK; SADOCK, 2007).
Contudo, a presença de níveis elevados de ansiedade caracteriza a gravidade e
incompatibilidade com a vida, tornando-se transtorno psiquiátrico (STUART;
LARAIA, 2002).
Como nos episódios depressivos, a ansiedade também se apresenta
branda, moderada, grave e de pânico (STUART; LARAIA, 2002; SADOCK;
SADOCK, 2007). Na ansiedade branda, são apresentadas características em níveis
satisfatórios e associadas às tensões do cotidiano, em que o indivíduo apresenta
seu campo de percepção aumentado e se mostra motivado ao aprendizado,
produzindo crescimento e criatividade. Na ansiedade moderada, a pessoa focaliza
as preocupações imediatas envolvendo a diminuição do campo de percepções e
bloqueio periférico, com redução da capacidade de ver, ouvir e aprender. O
indivíduo bloqueia áreas selecionadas, mas pode dispensar maior atenção às
atividades quando instruído a fazê-lo. A ansiedade grave está caracterizada pela
presença da redução extensa no campo da percepção, de maneira que o indivíduo
39
tenha desatenção e todo o comportamento esteja voltado para a obtenção do seu
alívio. Já o nível de pânico da ansiedade está associado ao pavor, medo e terror. Há
perda completa do controle e não há condições de realizar suas atividades do dia a
dia. O pânico envolve a desorganização da personalidade, surge maior atividade
motora, menor capacidade de inter-relação pessoal, distorção da percepção e
racionalidade de pensamento (STUART; LARAIA, 2002).
O transtorno do pânico é caracterizado pela ocorrência espontânea e
inesperada de pânico, medo intenso ou terror, frequentemente associado a uma
sensação de morte iminente acompanhado de sintomas clínicos e desconforto físico.
Ele costuma se apresentar em comorbidade à agorafobia, que consiste em medo de
ficar em lugares públicos. Um ataque de pânico apresenta sintomas que,
eventualmente, podem ser confundidos com doenças clínicas agudas de manejo
emergencial como, por exemplo, acidente vascular cerebral e infarto agudo do
miocárdio. Entre esses sintomas podem-se citar: taquicardia, palpitações, sudorese,
tremores finos ou grosseiros, dispneia, sensação de sufocação, algia torácica e/ou
abdominal, tontura, sensação de perda da consciência, parestesias, calafrios ou
ondas de calor, entre outros (TOWNSEND, 2002; SADOCK; SADOCK, 2007).
Os distúrbios somatoformes se caracterizam pela presença de sintomas
físicos de uma doença clínica, no entanto, sem indícios mecânicos fisiopatológicos
demonstráveis que a possam diagnosticar. Sendo assim, esse quadro é classificado
como transtorno mental por não haver processo patológico clínico diagnosticável ou
compreensível pelos exames diagnósticos ou laboratoriais. O termo somatização
designa todos os mecanismos pelos quais a ansiedade se traduz em sintomas de
doenças físicas ou queixas semelhantes às da clínica (TOWNSEND, 2002).
Além da presença de queixas frequentes de sintomas físicos que sugerem
um substrato orgânico, mas que não se diagnostica ou caso haja alguma doença
orgânica presente, esta não justifica toda a sintomatologia referida, existindo uma
dificuldade em estabelecer vínculo com esse paciente. Isso decorre dos
questionamentos do paciente, que exige a detecção de um substrato orgânico em
resposta à sintomatologia que ele apresenta (BOMBANA; LEITE; MIRANDA, 2000).
Os sintomas mais frequentes referidos pelos que somatizam são:
palpitações, toracalgia, lombalgia, fadiga, tontura, dispneia, cefaleias, dores
abdominais
(COELHO;
AVILA,
2007).
Os
somatizadores
são
usualmente
denominados pelos profissionais de saúde como os chatos, os difíceis, os que dão
40
“pitis”, que procuram os serviços de saúde por falta de ter o que fazer em casa. Essa
forma de percebê-los influencia no cuidado desenvolvido, que acaba não sendo de
forma integral, o que possibilitaria serem encaminhados para o serviço de saúde
mental para investigação psiquiátrica (BOMBANA; LEITE; MIRANDA, 2000;
COELHO; AVILA, 2007).
As características principais desse distúrbio são as alucinações e os delírios.
As alucinações são falsas percepções sensoriais sem a presença de estímulos
externos, que podem envolver qualquer ou todos os órgãos do sentido, por exemplo,
audição de vozes e visões. Os delírios são distúrbios do pensamento, que se
caracterizam por falsas crenças pessoais, não consistentes com a inteligência ou
referência cultural da pessoa como, por exemplo, crer ser enviado de Deus para
salvar o mundo (TOWNSEND, 2002).
As condições médicas comuns que podem causar sintomas psicóticos são:
1. Condições neurológicas: neoplasias, doenças vasculares cerebrais,
doença de Huntington, epilepsia, lesões do nervo auditivo, surdez, cefaleia
enxaquecosa.
2. Condições
endócrinas:
hipertireoidismo,
hipotireoidismo,
hiperparatireoidismo, hipoparatireoidismo, hipoadrenocorticismo.
3. Condições metabólicas: hipóxia, hiperglicemia, hipoglicemia.
4. Distúrbios autoimunes: lúpus eritematoso sistêmico.
5. Outros: distúrbios do equilíbrio hídrico ou eletrolítico, doenças hepáticas
ou renais (TOWNSEND, 2002).
Os distúrbios psicóticos induzidos por drogas ilícitas ou não, podem
apresentar, muitas vezes, alterações importantes de comportamento. Há igualmente
a possibilidade de que isso ocorra a partir do uso de determinadas medicações
como
sedativos,
hipnóticos,
ansiolíticos,
anticolinérgicos,
antiparkinsonianos,
anestésicos, analgésicos, anticonvulsivantes, anti-histamínicos, corticosteróides,
anti-inflamatórios
não
esteróides,
anti-hipertensivos,
quimioterápicos,
antimicrobianos, relaxantes musculares (SADOCK; SADOCK, 2007). Nesse
distúrbio, há presença de alucinações e delírios atribuídos aos efeitos fisiológicos da
droga que pode ser: droga de abuso, medicação ou toxinas. O diagnóstico é feito a
partir da perda do juízo crítico, exame físico e exames laboratoriais específicos para
41
indicativos do uso das drogas. Existem outras substâncias que podem causar
distúrbios psicóticos:
1. Drogas de abuso: álcool, alucinógenos, anfetaminas, feniclidina,
cocaína, maconha, opioides.
2. Toxinas:
dióxido
de
carbono,
gases
nervosos,
inseticidas,
orgafosforados, monóxido de carbono, substâncias voláteis como solventes,
gasolina ou tintas (TOWNSEND, 2002).
Outra forma de comorbidade clínico-psiquiátrica, que comumente se observa
nos serviços de emergência, são as relacionadas à tentativa de suicídio. O suicídio é
um distúrbio de comportamento descaracterizado como transtorno mental,
entretanto, mais de 90% dos suicídios são cometidos por pessoas que se encontram
psiquiatricamente doentes (TOWNSEND, 2002). Ele é visto pelo paciente como a
única saída de uma crise, situação ou problema que lhe causa intenso sofrimento.
Suicídio deriva da palavra latina para “autoassassínio”. Quando o ato suicida é
concretizado, representa o desejo real do indivíduo de morrer. O sofrimento da
pessoa suicida é inexprimível e difícil de lidar, o que traz como consequência um
nível de confusão e devastação que na maioria dos casos está além da descrição
(SADOCK; SADOCK, 2007).
Os transtornos mentais são os principais fatores de risco para o suicídio,
contudo não são os únicos e podem ser citados outros como fatores
sociodemográficos, psicológicos e relacionados a condições clínicas incapacitantes
(dor crônica, lesões desfigurantes perenes, epilepsia, trauma medular, neoplasias
malignas e AIDS, entre outras) (OMS, 2000).
Dentre os métodos utilizados para cumprir com o intento suicida estão:
disparo de arma de fogo, enforcamento, salto de lugares altos, ingestão de
substâncias psicoativas ou veneno. Os três primeiros itens são praticados
principalmente por homens e acabam por ter um índice maior de sucesso.
Entretanto, quando o ato suicida praticado não se concretiza e há a possibilidade de
socorro, os potenciais suicidas são encaminhados ao serviço de emergência na
tentativa de salvamento da sua vida (SADOCK; SADOCK, 2007).
O serviço de atendimento de emergência possui profissionais capacitados
para o manejo das consequências clínicas que o intento suicida produziu.
42
Entretanto, uma grande dificuldade é o desenvolvimento dos cuidados relativos à
comorbidade psiquiátrica que eventualmente esse paciente apresenta, bem como a
abordagem adequada ao suicida (SILVA; BOEMER, 2004).
O estudo realizado sobre a forma como o suicídio se mostra, em sua
essência, aos profissionais de saúde de um serviço de emergência, apontou que
esses entendem que os motivos que levaram a pessoa a atentar contra a própria
vida são de extremo sofrimento. Entretanto, houve profissionais que afirmaram que
os potenciais suicidas tinham a intenção de chamar a atenção para si e não de se
matar e houve aqueles que disseram não ter condições de desenvolver o cuidado
integral aos pacientes devido à falta de recursos materiais, humanos e estrutura
física. Alguns discursos deixaram clara a visão mítica e religiosa sobre o tema
interferindo no cuidado, ao referir fazê-lo por compaixão e piedade do paciente
(SILVA; BOEMER, 2004).
Dentre os problemas encontrados que dificultam o diagnóstico de tentativa
de suicídio dos pacientes, que são admitidos no serviço de emergência de um
hospital geral, encontra-se a omissão de informações, as quais podem possibilitar a
certeza da intencionalidade do ato, o que acaba por impedir que esse tenha
avaliação e acompanhamento de serviços de saúde mental. Outra questão
importante observada no cuidado às pessoas com esse tipo de comorbidade clínicopsiquiátrica no hospital geral é a falta de preparo dos profissionais de saúde em
detectar componentes suicidas e dar sequência ao atendimento respeitando todas
as reais e potenciais necessidades da pessoa (AVANCI; PEDRÃO; COSTA
JUNIOR, 2005).
Um dos componentes mais graves no cuidado aos potenciais suicidas
consiste na falta de reconhecê-los como seres humanos em um momento difícil e de
necessidade de ajuda. Os profissionais de saúde devem se mostrar livre de
preconceitos, discriminação e juízo de valores em relação ao paciente (AVANCI;
PEDRÃO; COSTA JUNIOR, 2005).
Destaca-se que quando o paciente que já está internado por algum outro
motivo no hospital geral vem a tentar ou consumar o suicídio, gera uma situação que
tende a desencadear sentimentos de inadequação profissional, culpa, dúvida sobre
a própria competência e medo de perder a reputação (OMS, 2000).
Os profissionais de enfermagem ao lançar mão da comunicação humana e
terapêutica têm maiores condições de identificar em algumas falas do paciente,
43
sinais que indiquem ideação suicida. Para isso, deve-se abdicar dos pensamentos
míticos relacionados ao suicídio como as pessoas que prometem se matar,
raramente cometem e perguntar sobre as causas do suicídio pode induzir a atos
suicidas (IGUE; ROLIM; STEFANELLI, 2002). As ameaças devem ser levadas a
sério, pois os pacientes que cometem suicídio normalmente dão alguma pista ou
aviso antecipadamente. O profissional capacitado pode perguntar sobre suicídio, o
que reduzirá a ansiedade a respeito deste tema, pois o paciente pode sentir-se
aliviado e mais bem compreendido (OMS, 2000).
Os profissionais poderiam receber essa capacitação na academia, no
entanto, pouco tem se discutido sobre o suicídio na graduação. Essa discussão deve
ir além de aspectos clínicos e técnicos, mas envolver a capacidade do profissional
em abordar adequadamente o paciente em risco de suicídio, criar situações e
ambiente para que ocorra o cuidado necessário ao suicida, por meio do
relacionamento interpessoal (IGUE; ROLIM; STEFANELLI, 2002).
Outra forma de comorbidade clínico-psiquiátrica está relacionada a doenças
clínicas decorrentes da dependência química. Existem dois tipos de dependência
química mais frequentes entre os usuários dos serviços de emergências: o
alcoolismo e toxicomania. O alcoolista busca atendimento em serviços de
emergência em razão de uma doença clínica, com ou sem relação com a
dependência de álcool, ou ainda em função dos efeitos psíquicos do etilismo. São
exemplos
dessa
condição
hepatopatia
alcoólica,
na
grande
maioria
com
encefalopatia; quadro de delirium tremens, hemorragia digestiva alta ou baixa (HDA
ou HDB) e episódio agudo de hipoglicemia.
Quando percebido se tratar de
alcoolista, a equipe de saúde tende a desconsiderá-lo como pessoa e dispensar
pouca atenção à sua condição (GALVÃO-ALVES, 2007).
Tal como na situação do alcoolista, o atendimento de toxicômanos,
geralmente, tem sido marcado pela rejeição da equipe de saúde. Comumente, esse
paciente vem trazido ao serviço de emergência em coma por overdose, ou em
estado de agitação psicomotora, com alucinações, verborreico e em situações
extremas apresentando agressividade. Quando isso ocorre, torna-se mais difícil
mobilizar a equipe para o atendimento das necessidades do paciente que devem ser
supridas, devido ao medo, à ansiedade, ao preconceito e ao despreparo dos
profissionais (MARCOLAN, 2004; GALVÃO-ALVES, 2007).
44
3 A COMUNICAÇÃO TERAPÊUTICA COMO REFERENCIAL TEÓRICO
O referencial teórico que sustenta este estudo é o da Comunicação
Terapêutica de Stefanelli (1993; 2005 a, b, c, d) em cujo tópico são descritos os
conteúdos do tema e os conceitos eleitos: comunicação humana, comunicação
terapêutica, ser humano, cuidado de enfermagem, ambiente, saúde e doença.
Maguida Costa Stefanelli é estudiosa da temática comunicação humana e
comunicação terapêutica no Brasil. É doutora pela Escola de Enfermagem da
Universidade de São Paulo (USP), onde é professora Titular e Livre Docente. Parte
da literatura brasileira em livros e artigos publicados sobre comunicação terapêutica
foi escrita, orientada ou com co-participação de Stefanelli. Para ela, os cuidados de
enfermagem estão permeados pela comunicação, pois se trata de instrumento
imprescindível para o desenvolvimento das ações e de utilizá-la com propriedades
terapêuticas. Para tanto, o profissional de enfermagem necessita desenvolver a
competência da comunicação terapêutica em sua prática (STEFANELLI, 1993).
Nesse sentido, para o desenvolvimento dessa competência, é necessário buscar
conhecimento específico em comunicação humana (BRAGA; SILVA, 2007).
O cuidado de enfermagem deve ocorrer mediante o fortalecimento do
vínculo enfermeiro-paciente. Desse modo, são imprescindíveis que haja interação
entre ambas as partes e o reconhecimento da comunicação terapêutica como
instrumento eficaz e à disposição para o desenvolvimento do vínculo. Portanto, o
cuidado de enfermagem inexiste sem a interação, que é subsidiada pela
comunicação entre enfermeiro-equipe e Enfermagem-paciente. Essa concepção tem
sido percebida desde as primeiras Teorias de Enfermagem, que abordam a relação
interpessoal entre Enfermagem-paciente, como as Teorias de Hildegard Peplau e
Joyce Travelbee, que datam de meados 1950 e 1960 (GEORGE, 2000;
STEFANELLI, 2005 a; c).
A comunicação humana é inerente aos seres humanos e dela
dependemos para sobreviver e perpetuar a espécie, cultura, ciência e tudo o que foi
conquistado desde os povos primitivos, fazendo parte da história de cada pessoa e
de sua relação com os outros e com o ambiente (STEFANELLI, 1993; 2005a;
BRAGA; SILVA, 2007). Trata-se de um processo complexo, que engloba
compreensão, emissão e recepção de mensagens, que surtam efeitos imediatos, a
45
médio e longo prazo, no comportamento das pessoas envolvidas no ambiente
interacional (STEFANELLI, 1993; 2005a).
Por sua complexidade e influência em todas as atividades das pessoas, a
comunicação humana traz consigo a necessidade da abordagem teórica para
melhor compreensão e utilização dos elementos a ela intrínsecos. São eles:
“emissor ou remetente: é a fonte da emissão da mensagem, é quem a codifica,
produz e a emite ao outro. Receptor ou destinatário: é aquele que recebe a
mensagem; é para quem a mensagem é enviada e este deve emitir uma resposta
para que se considere que o processo de comunicação realmente tenha ocorrido”
(STEFANELLI, 1993, p.32).
A mensagem é o que é transmitido, produzido pelo emissor e recebido pelo
receptor e que tenha significado comum a ambos. Ela se apresenta nas formas
verbais (falada ou escrita) e não-verbais. Existe uma terceira forma de comunicação,
a paraverbal ou paralinguística, que se expressa pela entonação da voz, ritmo em
que são pronunciadas as palavras, choro, entre outras. As mensagens são
transmitidas, captadas e percebidas pelos órgãos dos sentidos (canais da
comunicação), que são: visão, audição e tato, não desconsiderando o olfato e
gustação, sendo eles que asseguram a percepção acurada da mensagem,
principalmente quando ocorre na forma não-verbal (STEFANELLI, 1993; 2005a).
A comunicação verbal ocorre em todos os momentos da vida, pois é inerente
ao ser humano, contudo ela é acompanhada pela forma não-verbal. A comunicação
verbal é entendida pela expressão e transmissão da mensagem por linguagem
falada. Contudo, ela ocorre através da linguagem escrita ou falada (sons e palavras),
que tenha objetivo se comunicar. Nela a pessoa expõe suas ideias, partilha
experiências com outras e legitima o significado simbólico da percepção sobre
determinado assunto e qual a sua posição diante dele (STEFANELLI, 1993; 2005a).
A comunicação não-verbal se dá por intermédio das mensagens expressas
pela linguagem corporal com suas qualidades fisiológicas, físicas e gestuais como,
por exemplo, de gestos, expressões faciais, olhares e toques e, dependendo da
maneira como são manifestadas, as mensagens podem transmitir conforto e
empatia ao outro. Esse tipo de comunicação tem extrema importância na prática da
enfermagem, visto que, por meio dela se podem apreender necessidades que o
paciente eventualmente não consiga expressar por palavras (STEFANELLI, 1993;
SILVA 2005).
46
Conforme Silva (2005), a comunicação não-verbal tem como funções
complementar ou contradizer a verbal e demonstrar sentimentos. Cabe ressaltar que
dois terços da comunicação que realizamos acontecem de forma não-verbal, o que
demonstra sua relevância nos relacionamentos humanos.
O uso da comunicação humana de forma consciente, planejada, com
conhecimento profissional para prestar cuidado ao outro, torna-se terapêutica.
Assim, Comunicação Terapêutica é a:
competência do profissional de saúde em usar o conhecimento sobre
comunicação humana para ajudar o outro a descobrir e utilizar sua
capacidade e potencial para solucionar conflitos, reconhecer as limitações
pessoais, ajustar-se ao que não pode ser mudado e a enfrentar os desafios
à autorrealização, procurando aprender a viver da forma mais saudável
possível, tendo como meta encontrar um sentido para viver com autonomia
(STEFANELLI, 2005, p. 65).
Para que o enfermeiro e sua equipe possam desenvolver a competência em
se comunicar de modo terapêutico, há necessidade de se referenciar nas premissas
da comunicação, haja vista que ela “é o eixo integrador entre a assistência, ensino e
pesquisa em enfermagem”. A comunicação proporciona condições favoráveis ao
relacionamento interpessoal e permite o exercício da Enfermagem de modo a
desenvolver os cuidados de forma integral e humanizada às pessoas (STEFANELLI,
2005 b, p.65).
Na dinâmica da comunicação, pode-se lançar mão de algumas estratégias
que facilitam a interação entre a equipe de enfermagem e o paciente, as quais
podem ser empregadas juntas ou separadamente em um único diálogo, porém
deve-se considerar o seu uso em situações específicas. Deste modo, com finalidade
didática, a autora organizou as estratégias de comunicação terapêutica em três
grupos: expressão, clarificação e validação. Contudo, salienta que se trata de guias
e, portanto, não devem ser utilizadas de maneira rígida e repetitiva, pois não são
roteiros para serem usados mecanicamente ou de modo sequencial, mas como
linhas gerais ou sugestões (STEFANELLI, 1993; 2005c).
As estratégias do Grupo de Expressão são úteis para o estabelecimento do
clima propício de interação e são utilizadas com maior ênfase no início do
relacionamento terapêutico com o paciente. As técnicas a seguir têm a finalidade de
ajudar o outro a demonstrar ou exteriorizar ideias e sentimentos como, por exemplo,
ouvir reflexivamente, usar terapeuticamente o silêncio, verbalizar aceitação,
47
verbalizar interesse, usar frases reticentes, repetir as últimas palavras ditas pelo
paciente no mesmo assunto, permitir ao paciente que escolha o assunto, colocar
em foco a ideia principal, verbalizar dúvidas, dizer não, estimular expressão de
sentimentos subjacentes e o uso terapêutico do humor (STEFANELLI, 2005c).
As estratégias no Grupo de Clarificação visam a fornecer condição ao
paciente de organizar seu pensamento e expressá-lo. Tais estratégias possuem a
finalidade de ajudar o profissional a entender e a tornar claro o que o paciente quer
expressar, sendo elas: estimular comparações, solicitar ao paciente que esclareça
termos incomuns, manifestar o agente de ação e descrever os eventos em
sequência lógica. Deste modo, a equipe de enfermagem pode ajudar a esclarecer o
que é falado pelo paciente quando ele não consegue se expressar com clareza.
O último Grupo de Validação tem a finalidade de verificar a compreensão
das informações e orientações fornecidas ao paciente e ajudá-lo a ter uma visão
mais realística do mundo e a experimentar a sensação de ser compreendido.
Permite verificar a existência de significados e possibilita ao profissional constatar
que a mensagem expressa pela pessoa foi corretamente entendida. A validação na
comunicação terapêutica garante que o significado das mensagens seja comum às
pessoas envolvidas, pelo uso das técnicas como: repetir a mensagem do paciente,
pedir ao paciente para repetir o que foi dito e sintetizar o conteúdo da interação.
Para tanto, torna-se imprescindível compreender o ser humano como um
sistema, um todo comportamental que funciona de forma interdependente em todas
as suas relações, capaz de sentir, agir, pensar e refletir sobre suas ações. E como
um ser complexo e organizado sistematicamente, ele se encontra continuamente
sob o impacto do campo interacional a que está sendo submetido ou vivenciando
por meio da comunicação (STEFANELLI, 1993; 2005a).
A comunicação entre os seres humanos tem a potencialidade de acelerar a
evolução da espécie, no entanto, quando a comunicação se torna ineficaz, ela pode
produzir ansiedade, medo, angústia e insegurança. Essa situação é visível quando
os indivíduos se sentem isolados, em ambientes com pessoas estranhas, com
línguas não conhecidas ou em situações novas, como acontece com pacientes
hospitalizados, que enfrentam a ansiedade ante a presença de um diagnóstico de
doença, medo do desconhecido e a exposição a um linguajar alheio ao seu, como
ocorre com termos técnicos e científicos utilizados na área da saúde (STEFANELLI,
2005a; b).
48
O ambiente interfere na qualidade da comunicação e, consequentemente,
na interação entre os seres humanos. Ele pode influenciar as condições emocionais,
físicas e psíquicas das pessoas envolvidas no âmbito interacional, interferindo na
expressão do emissor e na percepção do receptor. Sendo assim, o ambiente pode
ser compreendido como espaço em que ocorre o processo de interação entre as
pessoas, envolvendo as dimensões biopsicossociais inerentes ao ser humano. Os
indivíduos e o ambiente traçam uma relação de influência entre si, em que o homem
influencia o ambiente, assim como o ambiente o homem (MAFTUM, 2000;
STEFANELLI, 2005a).
A interação é um processo dinâmico e presente no desenvolvimento do
cuidado de enfermagem, haja vista que a comunicação permeia todo esse contexto.
Alguns sentimentos podem ser experimentados nesse processo como: empatia
(percepção do mundo do outro); confiança (que inclui respeito, honestidade,
consistência, fé e esperança); respeito mútuo; e a capacidade de desenvolver
algumas atitudes importantes para que a comunicação se efetive como flexibilidade,
eficiência, coerência e impacto da resposta (STEFANELLI; CARVALHO, 2005).
O cuidado de enfermagem é visto na sua integralidade e se baseia em
conteúdos conceituais e experimentados em teoria e prática, levando a reflexões
sobre na qualidade de seu desenvolvimento. O cuidado não se caracteriza somente
pelos procedimentos técnicos desenvolvidos pelo profissional, mas leva em
consideração sua postura, olhar, gestos, a forma de tocar no paciente. Assim, deve
ser desenvolvido com o intuito de ajudá-lo a manter sua dignidade e condição
humana nos momentos de fragilidade (SILVA, 2005). Cabe ressaltar que, na
enfermagem, há algumas premissas consideradas essenciais para que o enfermeiro
adquira a competência em comunicação humana e terapêutica, e uma delas é que
“a comunicação é a essência do cuidado humanitário” (STEFANELLI, 2005b, p. 64).
O processo saúde-doença traz a visão da interação entre o indivíduo e o
meio no qual vive, adaptando-se e estando condicionado a essas particularidades,
procurando um equilíbrio entre esses dois pólos. O ser humano, numa situação de
fragilidade, seja pelo excesso de trabalho por parte do profissional ou do paciente
em processo de adoecimento, apresenta barreiras que interferem na comunicação
entre o cuidador e o ser cuidado, pois quem está cansado percebe de forma
diferente os sinais do outro, o mesmo ocorre com o paciente, que, fragilizado, está
49
mais voltado para si e, nessa situação, normalmente, não consegue saber e
expressar a dimensão exata da sua dor (STEFANELLI; CARVALHO, 2005).
O profissional de enfermagem deve considerar e estar consciente quanto às
barreiras que eventualmente possam surgir no ambiente interacional mediado pelo
processo de comunicação, visto que as barreiras à comunicação podem impedir,
limitar ou retardar o desenvolvimento desse processo (STEFANELLI, 1993; 2005d).
A autora lista alguns aspectos que considera barreiras à comunicação:
limitação do emissor ou receptor, falta de capacidade de concentração da atenção,
pressuposição da compreensão da mensagem, imposição de esquema de valores
ausência de linguajar comum e influência de mecanismos inconscientes.
Da mesma maneira como Stefanelli (1993; 2005d) apresenta as barreiras à
comunicação, discorre também sobre os modos não terapêuticos, presentes no
momento da comunicação e prejudicam a emissão e a compreensão das
mensagens. São eles: não saber ouvir ou não refletir sobre o que ouviu, usar jargões
técnicos ou linguagem científica, dar conselhos, falsa tranquilização, julgar o
comportamento, manter-se na defensiva, induzir respostas, pôr o paciente à prova,
mudar de assunto subitamente, comunicar-se unidirecionalmente.
50
4 METODOLOGIA
A pesquisa tem em sua essência um caminho a ser percorrido pelo
investigador, que deve apresentar-se munido de uma forma particular de olhar e
pensar sobre determinada realidade, que, a partir de experiências, empregam
objetivos a aprimorar e a apropriar-se mais intensamente de conhecimentos
específicos. Com isso, é indispensável que a trajetória que permitiu a realização da
pesquisa seja detalhada e descrita para que se dê a conhecer passo a passo desse
processo metodológico de produção do conhecimento (DUARTE, 2002).
A opção pela pesquisa qualitativa se deu porquanto esta modalidade de
investigação enseja compreender a relação complexa dos seres humanos com a
natureza, com a realidade em que vivem e com o fenômeno em estudo. Isso só é
possível quando há conhecimento sobre os indivíduos, utilizando-se a descrição da
experiência humana, da forma como é vivida e compreendida por eles (POLIT;
BECK; HUNGLER, 2004).
A abordagem qualitativa investiga fenômenos que, por essência, não são
mensuráveis como, por exemplo, crença, representação, estilo pessoal de relação
com o outro, estratégia em face de um problema, enfim, aqueles que possuem
características específicas dos seres humanos. Ela propõe elucidar e conhecer os
complexos processos que constituem fatos subjetivos, que se diferenciam e se
distanciam das hipóteses quantitativas de predição, descrição e controle
(HOLANDA, 2006).
Pela sua característica em se evidenciar rica em conteúdo e em
profundidade, a pesquisa qualitativa tem-se mostrado atrativa. Contudo, ao
empreitar nesse tipo de estudo, o investigador deve ter a clareza de que esse
processo consome tempo e energia para desbravar um caminho em meio ao
emaranhado de dados coletados (CASSIANI; ALMEIDA, 1999; POLIT; BECK;
HUNGLER, 2004).
51
4.1 MÉTODO
O método de escolha para esta pesquisa é o exploratório mediante o qual se
busca solução para as indagações do pesquisador, que denota ser mais do que
simplesmente observar e descrever. Investigam-se a sua natureza e a complexidade
adjuntas a ela, tornando-se ferramenta valiosa no processo investigativo de
questões de áreas novas ou de que se tenha pouca compreensão (POLIT; BECK;
HUNGLER, 2004). A pesquisa exploratória é aquela desenvolvida em áreas e sobre
problemas dos quais há escasso ou nenhum conhecimento acumulado ou
sistematizado (TOBAR, 2001).
4.2 LOCAL DA PESQUISA
O cenário em que esta pesquisa se desenvolveu foi um Pronto-Atendimento
destinado a pacientes adultos de um Hospital Universitário de Grande Porte da
cidade de Curitiba-Paraná. Inaugurado em 1961, possui 49.195,80 metros
quadrados de área construída, 191 consultórios, 374 ambulatórios e dispõe de 635
leitos distribuídos em 45 especialidades. Nele trabalham 3.471 funcionários, 218
docentes do curso de medicina e, ainda, 228 residentes atendendo um universo
populacional regional de 4.128.156 pessoas (Curitiba e Região Metropolitana),
sendo realizados em média 2.757 atendimentos/dia, com um índice de 74
internações/dia, perfazendo um total de 745.200 atendimentos ao ano. É o maior
prestador de serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) do Estado do Paraná,
maior hospital do Estado e um dos seis maiores hospitais gerais universitários do
Brasil.
Os hospitais universitários são instituições hospitalares públicas ou privadas,
que integram a rede própria, contratada ou conveniada ao SUS, certificados
pelo Ministério da Saúde e da Educação, que participam na formação
de
estudantes
de
cursos
técnicos,
graduação
e
pós-graduação
e
que contribuem com o desenvolvimento científico, avaliação tecnológica e pesquisa.
52
Constituem importantes espaços de referência da atenção à saúde de alta
complexidade (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008).
O Pronto Atendimento Adulto está vinculado à Unidade de Urgência e
Emergência Adulta (UUEA), que se localiza em um prédio anexo ao Hospital. A
UUEA é constituída pelas unidades: Pronto Atendimento Adulto (PAA), Centro de
Terapia Semi-Intensiva (CTSI) e Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O ProntoAtendimento se subdivide em três subunidades alocadas em dois andares:
Emergência, situada no andar térreo, Observação e Unidade da Dor Torácica (UDT)
ambas no primeiro andar.
A escolha do Pronto Atendimento como local para desenvolver esta
pesquisa se justifica por constituir a porta de entrada do hospital e, assim, nela
encontrar a totalidade da clientela com quadros clínicos variados. Os pacientes
admitidos no PAA são referendados pelas Unidades Básicas de Saúde 24 horas da
cidade de Curitiba e região metropolitana. Existem aqueles que procuram o serviço
por demanda espontânea e que, após serem atendidos pelo Serviço de
Acolhimento, não sendo identificada urgência, são encaminhados para as Unidades
Básicas de Saúde 24 horas.
O Serviço de Acolhimento existente no PAA é uma estratégia pertencente ao
Programa Nacional de Humanização (HumanizaSUS), que traz como objetivos:
1. Acolher a demanda por meio de critérios de avaliação de risco,
garantindo o acesso referenciado aos demais níveis de assistência.
2. Comprometer-se com a referência e a contrarreferência, aumentando a
resolução da urgência e emergência, provendo o acesso à estrutura
hospitalar e a transferência segura, conforme a necessidade dos usuários.
3. Definir protocolos clínicos, garantindo a eliminação de intervenções
desnecessárias e respeitando as diferenças e as necessidades do sujeito
(BRASIL, 2004, p. 14).
A unidade de Emergência do PAA é uma área crítica de cuidados
emergenciais com três leitos e infraestrutura para procedimentos de alta
complexidade como entubação endotraqueal de emergência, reanimação cárdiopulmonar, cardioversão emergencial, atendimento de pacientes em risco iminente de
morte, entre outros. Nesse espaço ainda existem nove boxes que servem como
consultórios ou como sala de observação para pacientes para os quais não se
tenha previsão de internamento.
A unidade de Observação possui 11 leitos de internação de curta duração
para observar a evolução clínica aguda, dos quais, posteriormente, o paciente pode
53
ser transferido para uma das unidades de internação especializada ou concedida
alta hospitalar. No entanto, cabe ressaltar que há casos em que não havendo
condições de transferência para outras unidades, o paciente é mantido internado na
Observação até a alta hospitalar, que pode levar de 7 a 30 dias.
A Unidade da Dor Torácica (UDT) possui dois leitos femininos e dois
masculinos para internamento de pacientes com dor torácica tipo não anginosa, que
ali permanecem até que seja descartada a relação da dor apresentada com
Síndrome Coronariana Aguda (SCA) de manejo emergencial, como infarto agudo do
miocárdio ou angina instável.
4.3 SUJEITOS DA PESQUISA
A equipe de enfermagem do PAA é composta de 67 profissionais entre
enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, distribuídos nos turnos da manhã,
tarde e noite apresentados no (QUADRO 1) a seguir:
PROFISSIONAL
Enfermeiro
Técnico em enfermagem
Auxiliar de enfermagem
Total por turno
MANHÂ
02
06
20
TARDE
02
01
08
NOITE
02
05
21
28
11
28
QUADRO 1 –
CARACTERIZAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM, QUE ATUAM
NO CUIDADO DIRETO AOS PACIENTES, SEGUNDO CATEGORIA
PROFISSIONAL E TURNO DE TRABALHO
FONTE: O autor (2008)
Os enfermeiros de cada turno são responsáveis pelas três subunidades e
utilizam escalas para alocar os técnicos e auxiliares de forma que atendam as três
subunidades pertencentes ao PAA. Essas escalas têm a característica de fazer um
rodízio dos técnicos e auxiliares, de maneira que a cada plantão eles estejam em
uma das três subunidades. Três auxiliares de enfermagem do turno da manhã não
atuam no cuidado direto aos pacientes porque são responsáveis pela reposição de
materiais de insumos e transporte de materiais à Central de Materiais Esterilizados
(CME).
54
A carga horária semanal da grande parte dos profissionais desse hospital
geral, incluindo os de enfermagem, é de 30 horas, sendo que pela manhã e tarde a
jornada trabalhada é de 6 h/dia em 5 dias/semana, enquanto o noturno 12 h/noite,
intercalando 60 horas de descanso entre os plantões.
Foram estabelecidos como critérios de inclusão para participar desta
pesquisa: ser da equipe de enfermagem do Pronto Atendimento Adulto, atuar no
cuidado direto ao paciente e concordar em participar desta pesquisa assinando o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foram excluídos três
auxiliares de enfermagem por não atuarem no cuidado direto aos pacientes, dois
auxiliares de enfermagem e quatro técnicos de enfermagem que se encontravam em
férias ou em afastamento para tratamento médico no período da coleta de dados.
O critério de escolha da população a ser investigada na abordagem
qualitativa não é numérico, uma vez que a amostra ideal é aquela capaz de refletir a
totalidade de suas diversas dimensões (MINAYO, 2004). A amostragem em
pesquisas qualitativas constitui o subconjunto com representatividade no contexto
geral da investigação e com potencial de validação científica (FONTANELLA;
RICAS; TURATO, 2008).
Nesta
pesquisa,
o
número
de
participantes
mediante
entrevista
semiestruturada foi estabelecido levando em consideração os próprios dados
obtidos. Com isso, foram entrevistados todos os enfermeiros (seis) e técnicos de
enfermagem (sete) e, na sequência, os auxiliares de enfermagem dos três turnos até
que o conteúdo das entrevistas, mediadas por leituras flutuantes realizadas pelo
pesquisador, satisfizesse o objetivo proposto para esta pesquisa. Deste modo, 27
sujeitos participaram desta pesquisa: seis enfermeiros, sete técnicos e 14 auxiliares
de enfermagem.
4.4 ASPECTOS ÉTICOS
Os aspectos éticos para esta pesquisa foram assegurados mediante
autorização formal da Direção da Instituição, campo de estudo, para entrevistar os
profissionais da equipe de Enfermagem (ANEXO 1). Este projeto foi aprovado pelo
55
Comitê de Ética e Pesquisa do Setor de Ciências da Saúde, sob o protocolo com o
registro CEP/SD: 614.151.0808, CAAE: 0220. 0.208. 091-08 (ANEXO 2).
Os participantes da pesquisa receberam as informações a respeito de toda a
trajetória e objetivos da pesquisa, sendo-lhes facultada desistência a qualquer
momento. Foi fornecido o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(APÊNDICE 1) para assinarem depois de discutir com o pesquisador sobre os
detalhes e procedimentos do trabalho, atendendo a Resolução 196/96 do Conselho
Nacional de Saúde, que trata de pesquisa envolvendo seres humanos (BRASIL,
1996). Para garantir o sigilo e o anonimato, os participantes foram codificados pelas
letras E, T e A - Enfermeiro, Técnico de Enfermagem e Auxiliar de Enfermagem seguidas de números arábicos por ordem numérica para cada categoria (E.1, E.2...
E.7), (T.1....T.7); (A.1....A.14) não guardando relação com a ordem das entrevistas.
Foi utilizado o critério de ordenação dos sujeitos por tempo de serviço na instituição.
4.5 OBTENÇÃO DOS DADOS
Os dados de uma pesquisa são informações obtidas de forma sistemática,
que dão subsídio para análise e interpretação dos resultados do estudo (POLIT;
BECK; HUNGLER, 2004).
A coleta de dados ocorreu por intermédio de entrevista semiestruturada
(APÊNDICE 2), cujo instrumento foi constituído de duas partes: a primeira se
destinou à coleta dos dados de caracterização dos sujeitos, categoria profissional,
tempo de atuação na instituição, atuação específica em saúde mental, formação
completar voltada a saúde mental, sexo, idade.
A opção pela obtenção dos dados pela técnica de entrevista se deu por ser
dentre as abordagens para coleta de informações a mais utilizada em pesquisas
qualitativas. Consiste na técnica que ocorre mediante o diálogo entre duas pessoas
com propósitos bem definidos, que, em um primeiro nível, se caracteriza pela
comunicação verbal que reforça a importância da linguagem e do significado da fala,
e em outro, serve como um meio de coleta de informações sobre um determinado
tema. Trata-se de uma técnica que faculta ao indivíduo discorrer e informar
pessoalmente a respeito de sua situação e, por meio dela, podem-se obter dados
56
objetivos e subjetivos (MINAYO, 2004).
A entrevista semiestruturada é “baseada no uso de guia de entrevistas, que
consta de uma lista de perguntas ou temas que necessitam ser abordados durante
as mesmas” (TOBAR, 2001, p.101). Por meio dela, podem-se obter dados difíceis de
ser conseguidos por outras fontes como censos, estatísticas e registros civis. Ainda
pode oferecer a oportunidade de apreender fatos, sentimentos, maneiras de pensar,
ideias, crenças, atitudes, enfim, informações mais profundas e abrangentes da
realidade. Nessa técnica, existem perguntas abertas e um guia de tópicos que
permite aos sujeitos da pesquisa discorrer sobre o assunto proposto, sem respostas
preestabelecidas pelo investigador (MINAYO, 2004).
As entrevistas foram realizadas no período de setembro a outubro de 2008,
em horário de preferência e disponibilidade dos sujeitos. Elas foram marcadas com
antecedência e realizadas em sala reservada e indicada pela chefia de enfermagem
da unidade. Salvaguardaram-se os critérios de fidelidade e credibilidade, requeridos
para atender ao rigor científico e ao anonimato dos participantes. Foi solicitada
também aos sujeitos permissão da gravação em fita cassete, que durou em média
35 minutos.
Ao iniciar cada entrevista, ressaltei a importância da participação dos
sujeitos e que tudo que fosse dito seria respeitado, não imputando certo ou errado
para as declarações. Ao finalizá-las, agradeci aos sujeitos pela disponibilidade em
participar dessa pesquisa e me coloquei à disposição para esclarecimento de
eventuais dúvidas em relação ao estudo.
4.6 PROCEDIMENTOS PARA ANÁLISE DOS DADOS
Neste estudo, os dados foram tratados mediante a Análise de Conteúdo
proposta por Bardin (2000), por ser aquela que com maior rigor analisa o vasto
campo da comunicação, o que facilita e enriquece as falas exploradas dos sujeitos.
A Análise de Conteúdo consiste em:
um conjunto de técnicas da análise das comunicações visando a obter, por
procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das
mensagens, que permitam inferência de conhecimento relativos às
condições de produção/recepção destas mensagens. (BARDIN, 2000, p.42).
57
Dentre os diferentes tipos de técnicas que podem ser adotadas para
desenvolvimento da Análise de Conteúdo, encontra-se a Análise temático-categorial
(BARDIN, 2000; OLIVEIRA, 2008). Essa modalidade se caracteriza pela contagem
de um ou vários temas ou itens de significação, numa unidade de codificação
previamente determinada. “Tema é a unidade com relevante significado que emerge
do texto analisado seguindo critérios preestabelecidos e adotados pelo investigador.”
Para avaliar os dados utilizando a modalidade temático-categorial, devem-se
descobrir os núcleos de sentido presentes nos relatos dos entrevistados, nos quais a
presença e a frequência sejam significativas para o objetivo analítico a que o estudo
se propõe (BARDIN, 2000, p.77).
A análise temático-categorial organiza-se em volta do processo de
categorização
que
consiste
em
operação
de
classificação
de
elementos
pertencentes ao conjunto, por diferenciação e reagrupamento por critérios
previamente definidos. As categorias se reúnem em um grupo de elementos sob um
título genérico agrupando-os em função dos temas que os representa (BARDIN,
2000).
De forma a sistematizar a análise dos dados obtidos, foram utilizados a
técnica e o instrumento de análise propostos por Oliveira (2008), elaborados com
base em Bardin por meio dos passos descritos a seguir.
Após a escuta e transcrição na íntegra das entrevistas gravadas,
desenvolveu-se a primeira etapa: pré-análise. Nela há a escolha do material a ser
analisado, revendo as hipóteses, nesse caso os pressupostos, os objetivos do
trabalho e confrontando-os com os documentos que serão interpretados. Nesta
etapa foram realizadas as leituras flutuantes, que consistem em várias leituras
consecutivas com objetivo de familiarizar-se com o texto e obter maior clareza dos
dados que constam nas informações recebidas dos sujeitos mediante as entrevistas
(BARDIN, 2000; OLIVEIRA, 2008).
No segundo passo, a Exploração do Material, os dados brutos são lapidados
visando ao alcance dos núcleos de compreensão do texto, que realce a ideia central
e de interesse do estudo. Nessa etapa, foram iniciados os recortes das unidades de
registro (UR), relacionados à sua significação e relevância para o estudo. As UR são
unidades de segmentação ou de recorte do conjunto de análise do texto – “são os
temas (regra de recorte de sentido e não da forma representada por frases,
parágrafos, resumo etc.)”. Para tanto, os temas devem possuir relação com as
58
unidades de contexto e apresentar significação ao objetivo da pesquisa (BARDIN,
2000; OLIVEIRA, 2008, p. 572).
Unidades de Contexto (UC): são unidades de compreensão da unidade de
registro e correspondem ao segmento da mensagem cujas dimensões são
maiores do que aquelas da unidade de registro. São segmentos de texto
que permitem compreender a significação das unidades de registro,
recolocando-as no seu contexto, tratando-se sempre de uma unidade maior
do que a UR. Ex. a frase para a palavra, o parágrafo para o tema.
(OLIVEIRA, 2008, p.571).
As UR com significação foram associadas e transcritas na coluna 2 do
Instrumento 1 elaborado por Oliveira (2008). A partir da identificação dos temas,
passa-se à sua quantificação em cada entrevista, denominada no Instrumento como
“corpus”. Em seguida, os temas identificados e quantificados foram transcritos para
o Instrumento 2 (APENDICE 3).
No Instrumento 2 (APÊNDICE 3), os temas foram agrupados, conforme
critérios teóricos e definidas as dimensões em que eles aparecem nas entrevistas, e
seguidos da quantificação das UR/categoria e da porcentagem que ela representa,
de forma a construir as categorias e subcategorias. Para tanto, foram seguidos
alguns critérios teóricos para a seleção dos temas nas categorias: homogeneidade
(os temas tratam de um assunto em comum); objetividade (os temas pertencentes a
uma categoria devem chegar a resultados semelhantes); adequação e pertinência; e
importância quantitativa e qualitativa do tema. Um tema, mesmo sem importância
quantitativa, mas que seja fundamental para compreender o objeto de estudo ou
desvelar dimensões do referencial teórico deve ser considerado na construção das
categorias empíricas (OLIVEIRA, 2008).
A terceira etapa se refere ao Tratamento dos Resultados Obtidos e
Interpretação, em que os dados mais relevantes são articulados com a teoria, em
que o pesquisador propõe inferências para a interpretação final (BARDIN, 2000;
OLIVEIRA, 2008).
Por meio do agrupamento das unidades de significação, foram construídas
as categorias e para melhor apresentação dos dados, igualmente foram propostas
as subcategorias. Após essa etapa, são discutidas as ideias centrais baseadas nos
referenciais teórico-conceituais.
59
Os temas que surgiram a partir da análise dos dados foram organizados e
são apresentados em categorias temáticas e subcategorias no Quadro 2.
CATEGORIAS
5.2.1
5.2.2
Cuidado de enfermagem
ao paciente com
comorbidade clínicopsiquiátrica no Pronto
Atendimento
O paciente com
comorbidade clínicopsiquiátrica requer
cuidados específicos
SUBCATEGORIAS
5.2.1.1
Segurança e proteção ao paciente
com
comorbidade
clínicopsiquiátrica
5.2.1.2
Contenção física e química como
medidas de proteção ao paciente
5.2.1.3
A contenção física como proteção
à equipe de enfermagem
5.2.2.1
A comunicação com o paciente
5.2.2.2
Cuidados
humanizados
enfermagem
5.2.2.3
Participação da família no cuidado
de
5.2.3
O cuidado ao paciente com comorbidade clínico-psiquiátrica no
Pronto Atendimento: dificuldades sentidas pela equipe de
enfermagem
5.2.4
Preconceito e estigma com relação ao paciente com comorbidade
clínico-psiquiátrica
QUADRO 2 -
SÍNTESE DAS CATEGORIAS E SUBCATEGORIAS QUE TRATAM DA
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS
FONTE: O autor (2009).
60
5 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS
Neste item, inicialmente, é apresentada a caracterização dos sujeitos,
seguida pelas categorias e subcategorias (QUADRO 2) que emergiram das
entrevistas com os profissionais de enfermagem do Pronto Atendimento do hospital
geral. Os dados estão organizados em categorias temáticas, conforme proposto por
Bardin (2000).
5.1 CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS
SUJEITO
E.1
E.2
E.3
E.4
E.5
E.6
T.1
T.2
T.3
T.4
T.5
T.6
T.7
A.1
A.2
A.3
A.4
A.5
A.6
A.7
A.8
A.9
A.10
A.11
A.12
A.13
A.14
QUADRO 3 –
CATEGORIA
PROFISSIONAL
Enfermeiro
Enfermeiro
Enfermeiro
Enfermeiro
Enfermeiro
Enfermeiro
Técnico de Enfermagem
Técnico de Enfermagem
Técnico de Enfermagem
Técnico de Enfermagem
Técnico de Enfermagem
Técnico de Enfermagem
Técnico de Enfermagem
Auxiliar de Enfermagem
Auxiliar de Enfermagem
Auxiliar de Enfermagem
Auxiliar de Enfermagem
Auxiliar de Enfermagem
Auxiliar de Enfermagem
Auxiliar de Enfermagem
Auxiliar de Enfermagem
Auxiliar de Enfermagem
Auxiliar de Enfermagem
Auxiliar de Enfermagem
Auxiliar de Enfermagem
Auxiliar de Enfermagem
Auxiliar de Enfermagem
SEXO
TURNO DE
TRABALHO
M
M
F
X
X
X
T
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
N
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
TEMPO DE TRABALHO
NA INSTITUIÇÃO
Anos
23
14
11
04
04
02
23
14
06
04
04
04
04
23
14
14
06
05
04
04
04
04
04
04
04
04
02
Meses
02
00
10
07
06
02
00
10
00
10
09
08
06
00
00
00
00
00
10
10
10
10
09
09
09
08
10
CARACTERIZAÇÃO
DOS
SUJEITOS
SEGUNDO
CATEGORIA
PROFISSIONAL, SEXO, TURNO DE TRABALHO E TEMPO DE SERVIÇO NA
INSTITUIÇÃO
FONTE: O autor (2009).
61
Dos 27 sujeitos desta pesquisa: seis são enfermeiros, sete técnicos de
enfermagem e 14 auxiliares de enfermagem. Em relação ao gênero, cinco sujeitos
são do sexo masculino e 22 do feminino, o que confirma a predominância feminina
no exercício da Enfermagem. O maior número de mulheres em relação aos homens
atuando na Enfermagem remonta à própria história da profissão e do Brasil. As
pessoas que exerciam a Enfermagem nos hospícios brasileiros da segunda metade
do século XIX eram a maioria do sexo masculino, devido às características do
trabalho voltadas à manutenção da ordem. Para tanto, a força física dos homens era
considerada imprescindível para a atuação dos enfermeiros no cuidado aos loucos
nos primeiros hospícios brasileiros, pois:
um enfermeiro de alienados deveria casar a severidade com a doçura, a
coragem com a prudência, discrição e caridade e uma certa espera
intelectual para entender o médico e o doente. Deve ser um homem probo,
ativo, zeloso, inteligente e com longa experiência. Sem esquecer de exaltar
as qualidades físicas de robustez e força para o pleno exercício das tarefas
para ele determinadas pelo hospício do século XIX (MIRANDA, 1994, p.88).
Em 1923, houve a criação da Escola Anna Nery, a primeira formadora de
enfermeiras sob os moldes “naghtingaleano” e que instruía somente mulheres.
Concomitante a essa época, mais precisamente em 1919, iniciaram-se as lutas
feministas que visavam a conquistas sociais e políticas, culminando com a criação
da Liga para Emancipação Intelectual da Mulher no Brasil. Isso proporcionou
maiores condições às mulheres de se profissionalizar, e a Enfermagem era uma
opção bastante válida. Dessa forma, o número de mulheres foi se ampliando e em
1985, segundo dados estatísticos disponibilizados pelo Conselho Federal de
Enfermagem e pela Associação Brasileira de Enfermagem, 94,1% dos profissionais
atuantes na Enfermagem eram do gênero feminino. Atualmente há pequena
elevação no quantitativo de homens na Enfermagem, mantendo o caráter “feminino”
da profissão (PADILHA; VAGHETTI; BRODERSEN, 2006; PEREIRA, 2008).
Quanto à distribuição por turno de trabalho: nove são da manhã, sete da
tarde e 11 do noturno. Desses, 14 têm em torno de cinco anos de trabalho na
instituição, 12 variando entre seis e 23 anos e apenas dois sujeitos têm
aproximadamente dois anos. O tempo de serviço se repete em igual tempo para
vários sujeitos, isso se justifica pela instituição ser pública e o seu quadro funcional
contratado por intermédio de concursos públicos.
62
Dentre os participantes da pesquisa, somente um trabalhou em hospital
psiquiátrico de internação integral por três meses, e a maioria referiu ter contato com
a temática saúde mental exclusivamente na disciplina de Enfermagem Psiquiátrica
nos cursos de formação.
5.2 AS CATEGORIAS E SUBCATEGORIAS TEMÁTICAS
Foram identificadas 654 unidades de registro com significação para o
estudo, que subsidiaram a construção das categorias e subcategorias empíricas
(QUADRO 4).
ITEM
5.2.1
5.2.2
5.2.3
CATEGORIAS
nº e % UR / CATEGORIA
Cuidado de enfermagem ao paciente com
comorbidade clínico-psiquiátrica no Pronto
Atendimento
247 UR
37,77%
O paciente com comorbidade clínicopsiquiátrica requer cuidados específicos
236 UR
36,08%
O cuidado ao paciente com comorbidade
clínico-psiquiátrica no Pronto
Atendimento: dificuldades sentidas pela
equipe de enfermagem
5.2.4
Preconceito e estigma com relação ao
paciente com comorbidade
clínico-psiquiátrica
QUADRO 4 –
146 UR
22,32%
25 UR
3,83%
CONSTRUÇÃO
DAS
CATEGORIAS
EMPIRICAS:
QUANTIDADE
PERCENTAGEM DAS UNIDADES DE REGISTRO POR CATEGORIA
FONTE: O autor (2009).
E
A categoria a seguir é composta por 247 unidades de registro, que
equivalem a 37,77% do total de 654 unidades identificadas e analisadas a partir das
63
entrevistas com os sujeitos. Nela estão presentes as subcategorias: preocupação da
equipe de enfermagem em proporcionar segurança ao paciente; Contenção física e
química como medidas de proteção do paciente; e A contenção física como proteção
à equipe de enfermagem na abordagem ao paciente.
5.2.1 Cuidado de enfermagem ao paciente com comorbidade clínicopsiquiátrica no Pronto Atendimento
De acordo com o relato dos sujeitos, foi possível constatar que os cuidados
desenvolvidos ao paciente com comorbidade clínico-psiquiátrica têm enfoque
generalista e técnico baseado em procedimentos. Os sujeitos mencionaram que o
cuidado é prestado de igual modo a todos os pacientes, independentemente de
apresentarem ou não transtorno mental, expresso como cuidado geral. Relataram
que dão maior ênfase aos cuidados denominados ‘básicos’ como, por exemplo,
conforto, administração de medicações, medidas de segurança e auxílio na
deambulação:
“O que eu tento fazer é o máximo (...) prestar o cuidado na
parte técnica que eu sei” (E.4).
“Atendo igual (...) se tem que levar ao banheiro, se tem
medidas de conforto assim, é igual aos outros” (A.10).
“O meu cuidado é geral, aqui não tem muitos cuidados
específicos para o paciente psiquiátrico, que tem algum
distúrbio” (A.3).
“Os cuidados que faço para ele [paciente com comorbidade
clínico-psiquiátrica] são os que eu faço para qualquer outro”
(T.7).
“(...) é o mesmo cuidado que você tem que ter com os outros:
ter cuidado com quedas, medicações, coisas básicas assim”
(A.13).
64
Houve referência de um sujeito sobre a distinção entre patologia clínica e
psiquiátrica, em que a primeira é considerada doença normal em relação à segunda.
Enfocaram ainda que não prestam cuidados específicos ao paciente em questão
devido à falta de ‘informações’ em saúde mental e de uma vivência maior junto
àquela clientela:
“Para ela [referindo-se a uma paciente com comorbidade
clínico-psiquiátrica] não tinha cuidados maiores, era cuidado
como outras doenças normais, não tinha nenhum cuidado
específico. É bem isso, eu acho que muitos de nós aqui do PA,
a gente não tem muita vivência com paciente psiquiátrico,
então a gente sabe os cuidados básicos: levantar as grades,
conter, medicação nos horários certos, do jeito que ele toma
em casa. Mas um cuidado especial a gente não sabe não é
nossa realidade aqui no PA” (A.11).
“meu cuidado não é direcionado para o tratamento específico
psiquiátrico” (E.3)
“Não é diferenciado o cuidado que damos ao paciente em geral
e o paciente clínico-psiquiátrico, porque devido à falta de
informação não tem muita diferença” (A.3).
A Enfermagem é a profissionalização do cuidado humano que visa a elevar
as condições de saúde do indivíduo ao seu melhor patamar. Para tanto, prima por
fundamentar suas ações em bases científicas, bem como refletir sobre sua prática,
principalmente no campo clínico visando à transformação e à evolução do seu fazer.
A referência dos sujeitos aos cuidados técnicos está na relação da Enfermagem com
o reconhecimento de seu aspecto prático, uma vez que a maior parte de suas ações
se centra no desenvolvimento de procedimentos (WALDOW, 2007; 2009).
Assim, diferentemente do que foi exposto pelos sujeitos nos relatos
anteriores, o cuidar deve distanciar-se da compreensão da simplicidade do “fazer
por fazer”, pois ele não se concretiza em um padrão único de procedimentos e
técnicas. Cada pessoa deve ser cuidada de forma diferente umas das outras, visto
que cada ser humano é único com particularidades que devem ser consideradas no
momento do cuidado (WALDOW, 2008).
O profissional de enfermagem deve compreender que o ser humano é
formado de dimensões que contemplam ao mesmo tempo os aspectos biológicos,
65
psíquicos, sociais e espirituais, que devem ser considerados no processo de cuidar
(WALDOW, 2007; 2009).
O cuidado, ainda, pode ser entendido como um fenômeno relacional,
existencial e contextual. Desse modo, deve-se atentar que cada ser humano possui
subjetividades, crenças, valores, ideias, bem como sua história de vida e relação
com a sociedade (WALDOW, 2008; BAGGIO, CALLEGARO, ERDMANN, 2008). O
fenômeno existencial se expressa ao conceber o ser cuidado como humano e
carecedor de cuidados, o contextual é entendê-lo em suas várias dimensões e o
relacional diz respeito às interrelações com o ambiente e com os outros seres
humanos (WALDOW, 2008).
Prestar o cuidado centrado na técnica e procedimentos como relatado pelo
sujeito E.4, pode configurar-se na mecanização do processo de cuidar.
rotinização
e
a
mecanização
do
cuidado
na
Enfermagem
centrada
A
em
procedimentos tendem a inibir a percepção dos profissionais às questões além do
físico-biológico e acabam por excluir as possibilidades de que, por meio da
comunicação e interação possa-se visualizar como o indivíduo se comporta, o que
ele sente e pensa (SOUZA; SILVA; NORI, 2007). No entanto, é importante que os
profissionais de enfermagem possuam conhecimento científico e destreza técnica,
visto que eles são elementos essenciais para transmitir confiança ao paciente no
momento de cuidar (BAGGIO; CALLEGARO; ERDMANN, 2008).
Com o advento da modernidade, da tecnologia de ponta e da evolução no
campo técnico-científico há, concomitantemente, o surgimento de diversas
inovações tecnológicas utilizadas nos serviços de emergências. Elas têm auxiliado
no processo de trabalho da Enfermagem, por outro lado, deve-se ter a compreensão
de que os aparatos tecnológicos não podem transmitir sentimentos, que são próprios
dos humanos. O profissional de enfermagem deve dispor-se em favor do cliente a
fim de evitar o distanciamento que os equipamentos tecnológicos podem
proporcionar se não forem bem utilizados. Um exemplo prático consiste na situação
em que um monitor multiparamétrico esteja instalado no paciente e o profissional
não necessita tocá-lo para mensurar seus sinais vitais, prejudicando os aspectos
interacionais e comunicacionais entre os envolvidos (CROSSETTI et al., 2000).
O processo comunicacional como mediador da interrelação entre as pessoas
é instrumento essencial para o trabalho da Enfermagem em saúde. É por meio da
comunicação que a equipe de enfermagem compreende os aspectos relacionados à
66
vida cotidiana do paciente, o que por vezes dá sustentação às ações a serem
desenvolvidas (STEFANELLI; CARVALHO; ARANTES, 2005).
O sujeito A.3 refere desenvolver os cuidados básicos e gerais, devido à falta
de informação sobre cuidados específicos ao paciente com comorbidade clínicopsiquiátrico. Entretanto, cabe ressaltar que as necessidades psicossociais das
pessoas bem como o atual sistema de saúde do nosso país exigem que os
profissionais de enfermagem desenvolvam visão crítico-reflexiva voltada à realidade
individual e coletiva da população. Para tanto, é necessário conhecimento e respeito
aos direitos humanos e sociais, assim como a importância da troca de experiências
entre enfermeiro-pessoa-família para subsidiar o planejamento, a gerência e o
desenvolvimento do cuidado (RIVERA ÀLVAREZ; TRIANA, 2007).
Ao contrário do que foi exposto pelos sujeitos ao referirem que os cuidados
são gerais e iguais para todos os pacientes, a Enfermagem deve prestar os
cuidados centrados nas necessidades de saúde de cada pessoa, considerando
todas as suas dimensões, especificidades de cuidado e subjetividade e deixar de
lado as atitudes que generalizam e despersonalizam o ser humano superando,
assim, o paradigma biomédico e o tecnicismo (MARQUES; LIMA, 2008). O homem é
um ser em constante evolução e à medida que isso ocorre, há mudanças em seus
aspectos psicossociais e culturais. Nessa perspectiva, as ações desenvolvidas pela
Enfermagem não podem ser estáticas e padronizadas, deste modo os profissionais
de enfermagem devem esforçar-se em consumir e produzir conhecimentos novos
sobre o cuidado humano, refletindo e inovando sua prática (WALDOW, 2008).
Os sujeitos reconheceram que o cuidado de enfermagem ao paciente com
comorbidade clínico-psiquiátrica no Pronto Atendimento tem sido desenvolvido de
modo a dar suporte às necessidades clínicas e não contemplam as necessidades
psíquicas:
“O paciente que vem aqui não tem o manejo adequado para
ele, o paciente psiquiátrico. A gente só consegue fazer a
abordagem clínica. A gente consegue atendê-lo na parte da
intercorrência clínica. Na parte da intercorrência psiquiátrica, eu
acho que fica muito a desejar. A gente não consegue abordá-lo
de uma forma adequada” (E.5)
67
“Então ele vai melhorar a parte clínica, mas na parte
psiquiátrica, eu me sinto muito longe [...] Sinto que está fora do
meu alcance” (A.7)
A unidade de urgência e emergência é um serviço de saúde que apresenta
complexidade nas ações que são desenvolvidas, o que influencia as relações
humanas e o processo de cuidar. Assim, corroborando o que foi exposto pelos
sujeitos nos relatos anteriores, os profissionais dos serviços de emergências tendem
a focar sua atenção nas dimensões biológicas, com pouca consideração à totalidade
do ser humano, o que, consequentemente, leva à fragmentação do cuidado
(CROSSETTI et al., 2000; BAGGIO, CALLEGARO, ERDMANN, 2008).
À medida que a fragmentação do cuidado surge nos serviços de saúde, as
atitudes dos profissionais culminam no distanciamento entre o cuidador e o ser
cuidado, na falta de responsabilidade sobre o cuidado individualizado, no descaso
diante das queixas e sofrimento do paciente, na impessoalidade e desumanização
(MARQUES; LIMA, 2008).
Em serviços de emergências, há de se levar em conta diversos fatores que
elevam a dinamicidade e o grau de complexidade e de estresse no processo de
trabalho da equipe de enfermagem como pacientes com doenças graves e em risco
de morte, maiores demanda de cuidados, escassez de recursos humanos e
materiais. Contudo, as ações de enfermagem necessitam que sejam desenvolvidas
com qualidade, eficiência e eficácia (SOUZA; SILVA; NORI, 2007; BAGGIO,
CALLEGARO, ERDMANN, 2008).
No Pronto Atendimento é preconizado que exista rotatividade dos pacientes
para atender a grande demanda que necessita dos serviços prestados naquele local.
Assim, uma vez sanadas as necessidade emergenciais do paciente é concedida a
alta hospitalar. Contudo, se ele ainda inspirar cuidados deve-se mantê-lo em
observação no Pronto Atendimento até no máximo 72 horas e, a partir disso,
encaminhá-lo a uma outra unidade de internação ou conceder alta hospitalar
(CAMPOS; TEIXEIRA, 2001).
Entretanto, percebeu-se no campo de pesquisa que devido a algumas
dificuldades de disponibilidade de leitos nas unidades de internamento, os pacientes
acabam por permanecer além desse período nos leitos de observação do Pronto
Atendimento. Mas, esse fator não impede a condução das terapêuticas médicas e
do cuidado de enfermagem. No estudo desenvolvido por Campos e Teixeira (2001),
68
verificou-se que a equipe de enfermagem sente dificuldades em desenvolver o
cuidado quando o paciente apresenta algum sinal ou sintoma relativo às
psicopatologias, o que promove por vezes um distanciamento entre o cuidador e o
ser cuidado, corroborando o que foi relatado anteriormente pelos sujeitos E.5 e A.7.
Assim, ressalta-se que quando o cuidado de enfermagem está centrado no
biológico, nos sinais e sintomas de doenças e nas ações curativas do corpo sem dar
a devida importância aos aspectos psicossociais, espirituais e interacionais,
inevitavelmente, conduz às ações que não atendem plenamente as necessidades do
indivíduo. Deste modo, percebe-se o fortalecimento da visão biologicista e do
modelo biomédico (SILVA et al., 2002; BAGGIO; CALLEGARO; ERDMANN, 2008).
Nesse modelo, há a tendência dos profissionais de saúde em enfocar suas ações
nas técnicas, procedimentos e no corpo anátomo-biológico, em que o tecnicismo e o
cuidado mecanizado assumem papel relevante nas práticas dos profissionais da
área da saúde (CROSSETTI et al., 2000; MARQUES; LIMA, 2008).
5.2.1.1 Segurança e proteção ao paciente com comorbidade clínico-psiquiátrica
Apreendeu-se nos relatos dos sujeitos a preocupação em oferecer proteção
aos pacientes para evitar outros agravos e citaram retirar estímulos externos como
álcool, promover medidas que evitem o uso errôneo e excessivo de automedicação
pelos pacientes e protegê-los contra queda do leito ou da maca. A maioria dos
sujeitos relatou que os cuidados de segurança que desenvolvem aos pacientes com
comorbidade clínico-psiquiátrica são voltados à proteção da integridade física:
“(...) e evitar que ele corra risco de queda, de tomar alguma
medicação que ele traga consigo e faça uso indiscriminado.
Tirar o álcool que fica no Box e que de repente ele pode, num
momento de descuido, fazer uso desse álcool” (E.3).
“Em primeiro lugar você tem que preservar a segurança do
paciente, quando ele chega aqui (...). Dentre os cuidados de
maior relevância está a segurança do paciente (...). Que o
paciente quando chega [no PA] naquele surto,a primeira coisa
que você faz é pela segurança” (T.2).
69
“Mas os cuidados de enfermagem são: manter a integridade do
paciente, tanto a física como a que ele possa se manter calmo”
(E.3).
Historicamente, a proteção das pessoas com transtorno mental foi
prerrogativa para muitas medidas, que teoricamente seriam para o seu bem.
Entretanto esse intento, em meio aos anos, conduziu os loucos à exclusão,
desconsideração e negação de seus direitos de cidadão, como ocorreu na
institucionalização e medicalização da loucura (SILVA, 2007).
Ao instituir a clínica psiquiátrica no final do século XVIII, Philippe Pinel (17451826) defendia uma nova visão relacionada à loucura, a fim de dar maior proteção
aos “loucos”. Dentre as ações mais importantes, estava a ‘libertação’ dos doentes
mentais dos porões e das correntes de ferro. Entretanto, sua proposta era
acrescentada pelo modelo de tratamento psiquiátrico em regime de isolamento nos
manicômios, defendida pela premissa de que era necessário proteger o louco do
mundo exterior e da sociedade (AMARANTE et al., 2003; SILVA, 2007).
Para Pinel, a loucura consistia em um distúrbio da razão e o louco um
alienado mental recuperável, uma vez que, ao afastá-lo das causas dessa alienação,
o médico conseguiria corrigir seus hábitos e lhe dar a cura. As causas da alienação
poderiam ser os vícios, a ociosidade, a falta de regras na vida cotidiana, as paixões,
a promiscuidade da vida social. Para que o louco pudesse ser curado, precisava ser
protegido pelo isolamento, que o distanciasse dessas causas (AMARANTE et al.,
2003; SILVA, 2007).
A partir da disseminação dessas ideias, iniciou-se um crescimento
desenfreado dos manicômios e hospícios por toda a Europa. No início do século
XIX, as propostas de Pinel chegaram ao Brasil culminando com o movimento
incentivado pela recém-criada Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro, cujo lema
era “Aos loucos, o hospício” e que objetivava a retirada dos doentes mentais dos
cárceres e dos porões da Santa Casa de Misericórdia. Assim, em 1853, foi
inaugurado no Rio de Janeiro o primeiro hospício do Brasil, o Pedro II. Porém, o
motivo principal da institucionalização dos doentes mentais no Brasil foi a
urbanização das cidades, em que havia a necessidade de retirá-los das ruas,
transferindo-os para um local em que não ficassem à vista da sociedade (BRASIL,
2004a).
70
Nessa perspectiva, a importância da proteção no modelo manicomial não
significou o emprego de medidas expressivas e adequadas voltadas à promoção da
saúde mental das pessoas. A imagem de proteção externada pelos sujeitos nas
falas anteriores está vinculada ao pensamento de que a pessoa com transtorno
mental é perigosa, agressiva, furiosa e sem condições de autocontrole e em
algumas situações comparada a um animal selvagem. Destarte, precisava ser
protegida de sua ferocidade e animalidade, devendo ser submetida às inúmeras
formas de restrições por força físicas, sem ser avisada previamente, sem
consentimento ou tentativas de medidas alternativas para abordá-la (SILVA, 2007).
Cabe fazer a ressalva que todos os pacientes que adentram os serviços de
saúde e que estão sob os cuidados dos profissionais de enfermagem devem receber
proteção e segurança, uma vez que a exposição a riscos são reais. Há grupos
específicos de pacientes que precisam de maior atenção quanto à segurança dentre
eles: crianças, idosos, deficientes físicos, pacientes com alteração de conduta e
agitação psicomotora (TIMBY, 2001). Assim, percebe-se que não são somente os
pacientes com transtorno mental que devem ser foco de preocupação quanto a
receber cuidados que garantam sua segurança pela equipe de enfermagem.
Nos relatos a seguir, os sujeitos demonstraram a preocupação com os
sintomas psíquicos apresentados pelo paciente, e A.11 o caracteriza como aquele
que tem sérios problemas e necessita de cuidados constantes. Existe ainda a
generalização pelos sujeitos dos sinais e sintomas que podem ser apresentados
pelos pacientes com comorbidade psiquiátrica como a confusão mental, agitação,
agressividade e a potencialidade de oferecer riscos de autoagressão. Por outro lado,
eles reconheceram que o paciente precisa ser cuidado de forma intensiva, o que
consideram tarefa difícil. Com isso, mencionaram que para os pacientes agitados
deve-se ter a atenção redobrada de maneira que eles não extraiam sondas, drenos
e cateteres, que possuem e dão suporte ao tratamento clínico:
“Eu acho que a parte do cuidado de enfermagem é ver se esse
paciente está com grades levantadas, sempre tá atento se ele
não está com nenhuma alteração de conduta, atento ao
paciente agitado, mesmo com medicação. (...) o cuidado para
ele não se machucar, porque o paciente psiquiátrico é um
paciente com sérios problemas. Eu acho que é mais o cuidado
71
de tá protegendo ele mesmo. Eu acho que o paciente
psiquiátrico tem que ter um cuidado constante”. (A.11).
“É mais na parte dele não se machucar. É um paciente que vai
estar se batendo, se machucando, vai arrancar o acesso
venoso, tudo. Vai estar confuso, vai querer tomar álcool. Por
isso, não deixar nada ao alcance desse paciente, não deixar
coisas perigosas ao alcance dele, principalmente se ele estiver
sozinho (...) aqui precisa cuidar em dobro, porque ele tem o
acesso venoso, ele tem os remédios e a gente precisa cuidar.
É um paciente clínico, mas também é psiquiátrico, é um
paciente confuso, arranca isso, arranca aquilo, se joga pela
janela, se machuca, toma álcool. Não é fácil” (T.7).
“(...) nós teríamos que ter algum tipo de medicações sedativas
específicas, para diminuir essa agressividade, essa violência
que ele possa apresentar no momento, até para os cuidados
pessoais dele mesmo. Para evitar traumas e lesões corporais
no paciente” (E.1).
Os sintomas citados pelos sujeitos A.11, T.7 e E.1 para descrever a pessoa
com transtorno mental apresentam generalizações de forma a entender que todos
os pacientes são agressivos e agitados. A relação entre as pessoas com transtorno
mental e agressividade, violência e perigo tem sido transferida de geração a geração
e, ainda, se mantém no imaginário social e de alguns profissionais da saúde
(SADOCK;
SADOCK,
2007).
Nas
falas
anteriores,
pôde-se
apreender
a
preocupação dos sujeitos com a agressividade, a agitação e confusão mental que
eventualmente o paciente apresente e, consequentemente, com a necessidade de
empregar medidas de restrição física ou sedação como medidas de proteção.
Apesar de estudos revelarem que poucos são os pacientes com transtorno
mental que realmente apresentam comportamento agressivo e violento, esta é uma
preocupação presente no dia a dia dos profissionais de enfermagem que prestam
cuidados a essa clientela, seja em serviços especializados ou não (FRIEDMAN,
2006; SADOCK; SADOCK, 2007; PAES, 2009).
A administração de medicação com intuito de sedar o paciente foi citada
como um dos recursos utilizados para mantê-lo calmo e em segurança. Há ainda
menção a que esses talvez pelo seu estado de saúde mental não consigam
gerenciar a ingestão da dose certa de medicação em casa, o que torna importante a
administração correta de medicamentos pela equipe de enfermagem enquanto o
72
paciente estiver sendo cuidado no Pronto Atendimento. Um dos relatos externou a
inquietação do profissional em administrar a medicação sedativa para diminuir a
agressividade que o paciente venha a apresentar e, consequentemente, oferecer
segurança a ambos.
Percebeu-se que a prescrição médica e a terapêutica medicamentosa têm
sido os norteadores dos cuidados de enfermagem prestados aos pacientes com
comorbidade clínico-psiquiátrica. Não foram mencionadas ações autônomas da
equipe quanto ao cuidado, inclusive sendo referido que em situações de
emergências os cuidados ao paciente com comorbidade clínico-psiquiátrica são
realizados sem conhecimento:
“Outro cuidado seria na questão de você avaliar a medicação,
que é feita. É um cuidado que a gente acaba fazendo, a dose
certa. Geralmente eles acabam tomando medicamento [em
casa] um pouco mais ou um pouco menos” (T.2).
“Primeiro eu sigo a prescrição médica e quando a gente vê que
tá muito grave o caso dele, muita agitação, tem que ir até ao
médico para ter uma orientação melhor” (A.2).
“(...) chega um paciente psiquiátrico e daí que acaba sendo
aquele corre-corre, assim da gente fazer as coisas por fazer,
mas não que a gente saiba o que realmente a gente está
fazendo” (T.5).
As várias referências dos sujeitos sobre a administração de medicamentos e
seguir a orientação e prescrição do médico são atitudes que remontam à história da
psiquiatria, fortemente presente a partir da medicalização do hospício. Com a
entrada da clínica médica nos hospitais gerais e o surgimento dos manicômios, a
loucura passou a ser objeto da medicina. Inicialmente, a psiquiatria clássica esteve
às voltas do louco a fim de codificar os fenômenos psíquicos relacionando-os com
as disfunções orgânicas, intervindo sobre eles por meio do uso de variadas formas
de tratamento como, por exemplo, o moral e físico (AMARANTE et al., 2003;
GUARIDO, 2007).
A partir da segunda metade do século XX, iniciou-se o processo de
aceleração do desenvolvimento técnico-científico no mundo todo e, assim, a
farmacologia começou a produção em larga escala das primeiras drogas
psicotrópicas. Com isso, há um deslocamento das ações da psiquiatria dos modos
73
de tratamento moral e físico para as terapias farmacológicas. Nos últimos anos, a
psiquiatria contemporânea tem lançado mão de uma gama de pesquisa
relacionando as psicopatologias com disfunções cerebrais. Dessa forma, têm-se a
naturalização das doenças e a subordinação das pessoas à bioquímica cerebral e a
defesa da ideia que somente pelo uso regular de medicamentos haverá melhora nos
quadros psicopatológicos (GUARIDO, 2007; CARNEIRO, 2008).
Por outro lado, o modelo psicossocial preconiza a promoção da integralidade
e integração dos cuidados. Compreendem-se por integralidade a inclusão de todas
as dimensões humanas e a integração pela articulação das várias formas de
cuidado pelos diferentes profissionais de saúde, cada um em sua área específica,
mas focado nas necessidades do paciente. Dessa forma, o espaço de cuidado às
pessoas com transtorno mental deve possuir uma equipe multidisciplinar, da qual a
Enfermagem é parte integrante (AMARANTE et al., 2003; JORGE et al., 2006).
5.2.1.2 Contenção física e química como medidas de proteção ao paciente
As medidas que foram citadas pelos sujeitos para proteção e segurança do
paciente são, essencialmente, a contenção física e/ou química. Um dos sujeitos foi
enfático em relatar que quando se pensa em paciente psiquiátrico, de imediato ele é
relacionado com a contenção física e química:
“Porque a gente quando pensa em paciente psiquiátrico só
pensa em medicação e contenção” (T.5).
“Eu acho assim, que a gente que trata desses pacientes, a
gente tende mais a querer que esse paciente esteja contido e
geralmente a gente o contém. Geralmente o tratamento é com
contenção e com drogas. Para paciente que está em crise,
além da administração de medicamentos, a gente tenta fazer
uma contenção (...)” (A.10).
“Ah, vamos conter, fazer a contenção (...). Geralmente você
não está sozinho, então segura, amarra, faz a contenção, é
esse tipo de cuidado, mas nada de específico. Além de
medicar, depende ali do paciente, o que ele está apresentando
na hora, que tudo é do momento” (A.6).
74
Da Antiguidade até a atualidade, foram utilizados verdadeiros arsenais de
instrumentos para conter o louco como correntes e cinturões de ferro, algemas,
grilhões, cordas, camisa de força, celas-forte, coleiras de couro, lençol de couro,
faixas de tecido, entre outros (PAES, 2007).
A contenção física é um procedimento utilizado nos serviços de saúde
mental, mas também na clínica geral. A relação do portador de transtorno mental
com a contenção física remonta há anos da história da loucura. Nas concepções
mítico-religiosas da Antiguidade, o louco ora era instrumento de Deus, ora do diabo,
mas, em ambas as situações, a figura de ferocidade era lhe atribuída, a qual devia
ser contida pelos grilhões de ferro ou por aprisionamento nos porões dos castelos
(PAES, 2007).
Na Idade Média, a loucura era compreendida como consequência da relação
conflituosa entre o homem e a divindade, que gerava castigos devido às faltas
morais e pecados cometidos. A doença podia ainda ser provocada pela possessão
de um espírito maligno no organismo do indivíduo ou pela evasão da alma do corpo
da pessoa. Assim, as famílias que possuíam pessoas com transtorno mental
utilizavam artifícios para isolá-las e contê-las em suas casas e, dessa forma, evitar
que a sociedade as vissem e, consequentemente, relacionasse a doença com
castigo por pecados cometidos (VIETTA; KODATO; FURLAN, 2001; PAES, 2007).
Com a Renascença e o mercantilismo, a loucura passou a ser considerada
como ociosidade e preguiça e o louco um ser improdutivo. Assim, aqueles que se
encontrassem perambulando pelas ruas eram passíveis de aprisionamentos em
cadeias e porões dos castelos, por constituírem ameaça e problema moral para a
sociedade (VIETTA; KODATO; FURLAN, 2001).
Ao institucionalizar a loucura, a partir do século XVIII, além da reclusão nos
espaços próprios para os loucos, os atos de restrição foram intensificados, uma vez
que se necessitava manter a ordem nos hospícios e manicômios. Sua utilização
visava a dominar o louco pela força em momentos de crises e submetê-lo à vontade
daqueles que os atendiam. Nessa perspectiva, a contenção física é um dos ícones
mais representativos do modelo manicomial, pois os procedimentos restritivos foram
utilizados como formas de punição, quando os loucos se apresentavam agressivos,
indisciplinados ou resistentes aos tratamentos oferecidos (SILVA, 2007). Percebe-se
pelo relato do sujeito T.5 que esse ícone mantém forte relação com os pacientes
com transtorno mental.
75
Nas instituições psiquiátricas, existiam as pessoas com a função específica
de realizar procedimentos restritivos, os “enfermeiros”. Eram trabalhadores de mão
de obra barata com pouca instrução e que tinham função de manter a ordem nos
hospícios e, para tanto, utilizavam a força física e contenções físicas. Neste
contexto, até nos dias atuais a contenção tem sido considerada prática da equipe de
enfermagem na área de saúde mental (PAES, 2007; PAES et al. 2009).
À medida que houve evolução nas práticas em saúde mental, principalmente
aquelas impulsionadas pela reforma psiquiátrica, passaram a existir novos serviços
de tratamento para pessoas com transtorno mental paralelamente à diminuição dos
leitos em espaços típicos de modelo asilar manicomial (VIETTA; KODATO; FURLAN,
2001). Com a aprovação da Lei 10.216/01, que redireciona o modelo assistencial às
pessoas com transtorno mental, surgiram espaços para discussão sobre as práticas
na área de saúde mental, as quais devem ser desenvolvidas em ambiente e com
medidas menos invasivas e restritivas possíveis (PAES et al., 2009; SILVA 2007).
Contudo, nota-se que as medidas de contenção física são procedimentos
que se mantêm na prática tanto de hospitais clínicos quanto nos serviços de saúde
mental e, que em algumas vezes, são utilizadas sem critérios preestabelecidos, o
que está em consonância com a fala do sujeito A.10 em referir sobre a tendência
que os profissionais de enfermagem têm em querer que o paciente com transtorno
mental se mantenha contido. Isto porque na concepção de alguns profissionais de
enfermagem, como se constata nos relatos anteriores, o portador de transtorno
mental sempre agride, se agita, perde o controle e não consegue se acalmar,
mesmo quando se utilizam abordagens comunicacionais e por isso deve ser contido
e sedado. Alguns estudos mostram a existência de alta prevalência de utilização de
medidas restritivas na prática clínica nos Estados Unidos e países da Europa. Os
pacientes com maior percentual de contenções são os idosos com confusão mental
e/ou transtorno mental (HAMERS; HUIZING, 2005; HUIZING et al., 2007;
FENG et al., 2009).
A contenção física pode ser utilizada de forma terapêutica, porém requer
atenção para evitar sua banalização. É um recurso que deve ser utilizado após a
tentativa de outras formas de abordagens que se mostraram insuficientes para o
manejo dos episódios de agitação ou agressividade, como a abordagem verbal
(PAES, 2007; PAES et al., 2009).
76
Alguns profissionais de saúde denominam a contenção física erroneamente,
como amarrar ou prender, termos presentes na fala do sujeito A.6. Porém, trata-se
de procedimento terapêutico de contenção física e não um ato agressivo, desumano,
antiético e grosseiro de amarrar pessoas. Contudo, observa-se que é comum tanto
em hospitais clínicos quanto psiquiátricos o uso equivocado do termo “amarrar o
paciente” ao invés de “conter o paciente” (PAES, 2007).
Em um estudo que faz uma análise da Lei nº 10.216/01, Silva (2007) mostrase contrária à contenção física de pessoa com transtorno mental tanto na prática
clínica, quanto na psiquiátrica, uma vez que não a considera medida de cuidado em
saúde. Para sustentar sua opinião, ela se reporta à história da psiquiatria e à relação
com as práticas restritivas e explicita que esses procedimentos são os que mais
apresentam “dificuldades em se justificar, tanto na perspectiva médica quanto da
jurídica”. Por outro lado, considera como ideal o uso da comunicação como
intervenção sobre episódios de agitação e agressividade, haja vista que por
intermédio desta forma de intervenção não existe violação da vontade, pois há o
consentimento do paciente e se desenvolve sem traumas e, dessa forma, pode-se
configurar como cuidado (SILVA, 2007, p. 28).
Houve a inquietação em dar conforto na contenção física no leito para evitar
outros agravos. O sujeito E.2 entendeu que a contenção, algumas vezes, é utilizada
como uma forma de uso de poder do profissional sobre o paciente:
“É fazer, melhorar o conforto, contê-lo para que não se
machuque e tentar melhorar o máximo possível do conforto
dele, para que ele não tenha danos físicos e mais danos
psiquiátricos (...). É assim que eu vejo o papel da enfermagem
nos cuidados gerais de contenção sem machucar, a
medicação” (A.10).
“Um cuidado principal seria pela agitação cuidar para que eles
não se machuquem, desde fazer uma contenção, tem que
cuidar ali na contenção para ver se não vai tracionar e para que
ele não fique se batendo, tem que se proteger. O mínimo de
conforto que você deixaria para ele, que se ele se bater para
ele não se machucar, para ele não fazer lesões” (A.2).
77
“Eu acho que a contenção do paciente é (...) é a agressividade
da equipe em resposta à agressividade do paciente, pela
ignorância, muitas vezes” (E.2).
O uso de contenção física deve receber cada vez mais atenção dos
pesquisadores, instituições e do governo. Questões como conforto durante o período
de contenção, razões que levam o paciente a ser contido, a eficácia e a
consequência de seu uso devem ser abordadas de forma mais ampla pela literatura
e com maior abrangência nas discussões da área de saúde mental e também na
clínica geral (PAES et al.,2009).
Um estudo de revisão de literatura realizado por pesquisador norteamericano referente à eficácia clínica da contenção física e isolamento concluiu que
tais procedimentos são eficazes na prevenção de agravos em situações de agitação
do paciente, por outro lado pode apresentar efeitos deletérios físicos e psicológicos
quando realizados com características coercitivas (FISHER8, 1994 apud CURRIER;
ALLEN, 2000).
Em outro estudo mais recente de revisão de literatura sobre contenção física
desenvolvida pela Cochrane, a estratégia de busca rastreou 2155 citações, em que
35 estudos foram analisados. Concluiu-se que destes nenhum possuía teor científico
nos moldes da MBE (medicina baseada em evidência) por serem estudos de
abordagem qualitativa. A conclusão, bem ao estilo das revisões da Cochrane, é
lacônica: não há evidência científica do benefício destas técnicas e, portanto, devem
ser questionadas e produzidos novos estudos conduzidos por ensaios clínicos
controlados e randomizados (SAILAS; FENTON, 2005).
No Brasil inexiste legislação de Enfermagem que regulamente as medidas
de contenção física para pessoas com transtorno mental. Após a adoção de
medidas restritivas, deve-se realizar a anotação de enfermagem no prontuário do
pacientes, visto que ele é considerado um documento legal e pode servir de material
de evidências a questionamentos administrativos, judiciais e/ou pelo conselho
profissional (TIMBY, 2001). Para lançar mão desse procedimento, deve-se ter
justificativa plausível, portanto, a documentação deve incluir uma descrição do
8
FISHER, W.A. Restraint and seclusion: a review of the literature. American Journal of Psychiatry.
v.151, p.1584-91, 1994.
78
evento que levou ao uso das medidas de contenção, as alternativas tentadas ou
consideradas e o comportamento do paciente que justifique a ação e, igualmente,
como ocorreu o cuidado desenvolvido (STUART; LARAIA, 2002).
Os sujeitos reiteraram a pessoa com transtorno mental como perigosa e o
sujeito T.6 descreveu o paciente como que sempre em surto e que em ambos os
casos deve ser contido no leito. Demonstraram a tendência de que ao se deparar
com o paciente com comorbidade psiquiátrica no Pronto Atendimento, de imediato
deve-se fazer a contenção física com a justificativa de protegê-lo:
“Se ele é perigoso, eu tenho que conter para depois medicar,
para não ter risco dele se machucar, não sair por aí e se
machucar, não cair da cama, ou fugir ou agredir” (T.1).
“Contê-lo e fazer a medicação, sempre chamando o médico
rápido quando eles estão muito agitados. (...) Ele sempre está
em surto, então é mais contenção e medicação sedativa” (T.6).
Nas falas anteriores dos sujeitos T.1 e T.6, apreendeu-se que o estigma da
figura do louco violento que ainda se encontra arraigado no imaginário popular,
também está na de alguns profissionais de saúde. Assim, esses profissionais
compreendem que independentemente da condição psíquica em que o paciente
esteja, somente pelo fato de ser pessoa com transtorno mental, deva ser contido e
sedado.
O preconceito e os mitos de ser o doente mental perigoso, amedrontador e
mau-caráter se mantêm fortalecidos na sociedade, devido serem transmitidos às
crianças no ambiente familiar e pela mídia (MAFTUM; STEFANELLI; MAZZA,1999).
Dessa forma, os profissionais de saúde, imbuídos de prejulgamentos e
generalizações, ao se depararem com o doente mental nos serviços de saúde
tendem a apresentar sentimentos de ansiedade, temor e insegurança, o que os
levam a querer que o paciente se mantenha calmo, por sedação e/ou contenção
física, sem tentar primeiramente a abordagem pela comunicação (CAMPOS;
TEIXEIRA, 2001; SADOCK; SADOCK, 2007; PAES, 2007).
A generalização da agressividade e violência da pessoa com transtorno
mental pode ser explicada pela formação de juízos provisórios, ou prejulgamentos,
que o ser humano faz em seu cotidiano. São ultrageneralizações com foco em
79
particularidades, as quais são utilizadas na presença de circunstância singulares, em
que há necessidade de organização das atividades cotidianas e, dessa forma, tentar
apreender fenômenos pouco conhecidos ou totalmente desconhecidos (HELLER9,
1992 apud CAMPOS; TEXEIRA, 2001).
5.2.1.3 A contenção física como proteção à equipe de enfermagem
Além das ações para proteção física do paciente, os sujeitos ressaltaram a
importância da segurança da equipe de enfermagem na sua abordagem em
episódios de agressividade. Destacaram o uso da contenção física para a segurança
tanto do paciente quanto dos profissionais de saúde:
“(...) outro cuidado que poderíamos ter com pacientes com
alterações seria realmente a segurança. A parte que nos
preocupa e que é de fundamental importância, é que se dê
segurança ao paciente, por estar agitado e, sobre agressões
com ele e com a equipe” (E.1).
“(...) dar assistência a ele, mas ter cuidado com você, os
profissionais, os colegas. Acho que esse é um cuidado que a
gente deve ter. Às vezes a gente acaba fazendo assim, vamos
conter prá segurança deles e da gente também (...)” (T.2).
Os profissionais de enfermagem ao desenvolverem o cuidado ao paciente
com sintomas psiquiátricos tendem a apresentar sentimentos como, por exemplo,
medo e insegurança, os quais podem dificultar e até impedir o cuidado. Para tanto,
esses sentimentos devem ser controlados para que o cuidado possa ser prestado de
forma sistemática e com qualidade (MARCOLAN, 2004).
Cabe ressaltar que são poucos os pacientes que realmente apresentam
comportamento agressivo e violento, haja vista que aquele que agride é uma pessoa
que também está amedrontada, uma vez que existe íntima relação entre
agressividade, insegurança e medo. A insegurança pode produzir o medo, que
causa o descontrole de impulsos agressivos e que resulta em agressividade
9
HELLER, A. O cotidiano e a história. 4. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1992.
80
manifestada de forma verbal ou física. O medo pode ser intensificado pela presença
de delírios ou alucinações. Diante disso, dependendo de como se aborda o paciente,
sua agressividade pode aumentar ou diminuir (SADOCK; SODOCK, 2007; PAES,
2007). Dessa forma, destaca-se a importância da equipe estar prepara para utilizar
medidas que efetivem a relação interpessoal como a comunicação, que deve ser o
recurso de primeira escolha no cuidado ao paciente com comorbidade clínicopsiquiátrica (STEFANELLI, 2005c).
Para tanto, torna-se imprescindível a desmitificação da figura do louco como
o incontrolável e perigoso, que não deixa alternativas aos profissionais de saúde,
que não seja realizar a contenção física ou a sedação, sem informar, sem dialogar,
sem tentar outras formas de abordagem, para evitar a eventual resistência do
paciente (SILVA, 2007).
Friedman (2006), em um estudo, comparou índices de violência relacionados
ao paciente com transtorno mental contra profissionais nos serviços de assistência à
saúde mental nos Estados Unidos, concluindo que o risco de violência é pequeno,
mas existe. Essa possibilidade aumenta quando se trata de pacientes com
dependência química. No manejo da agressividade, os profissionais de saúde
devem avaliar o ambiente e o estado de agitação do paciente e perceber que
quando as medidas terapêuticas de primeira escolha não surtiram efeito, medidas
restritivas podem ser adotadas visando à proteção do paciente e da equipe
envolvida. O autor enfoca que os profissionais da área da saúde não devem
esquecer que a maioria das pessoas que são violentas não são doentes mentais e a
maioria das pessoas com transtorno mental não são violentas.
Alguns sujeitos demonstraram dúvidas sobre a eficácia do uso da contenção
física no leito aos pacientes com agitação ou alteração de conduta. Reconheceram
que não são todos os pacientes psiquiátricos que necessitam ficar contidos, mesmo
após terem apresentado um episódio de agitação. Consideraram que tal
procedimento pode aumentar a agitação ou a agressividade e agravar o estado
mental do paciente, visto que o motivo da agitação manifestada pelo paciente pode
dever-se à contenção física. Para eles, a contenção física no leito não é realizada de
forma ideal, pela falta de aparatos adequados, e deveria ser melhorada. Segundo os
sujeitos, o uso de contenção química poderia substituir a física. Ao mesmo tempo
81
em que a contenção física no leito proporciona proteção ao paciente ela pode ser
agente desencadeador de injúrias físicas:
“(...) não é por ele ter um distúrbio psiquiátrico, que deve ficar
amarrado. (...) Aqui no hospital, quando o paciente se agita um
pouco: Ah! Vamos fazer contenção! Eu não acho que tem de
ser feita a contenção para todos os pacientes psiquiátricos”
(E.3).
“Eu já percebi que, às vezes, você contém o paciente porque
ele está agitado. Ou ele está agitado por estar contido. Às
vezes, o paciente está lutando, brigando, se movimentando
com toda a força, com toda a ferocidade, por estar contido”
(E.6).
“(...) erguer a grade, conter, eu acho que só isso não basta. Ao
conter, a gente machuca mais o paciente do que se a gente
ficasse aqui, procurasse o médico, ficasse por perto,
procurasse uma medicação que fosse mais eficaz que
mantivesse o paciente mais tranquilo” (T.5).
“Eu sou contra contenção, porque eu acho que ela deixa
marcas na pessoa (...) pelo comportamento dos pacientes
contidos, eu acho que esse não é o melhor método” (A.8).
A contenção física, quando realizada sem a indicação correta, pode trazer
danos físicos e psíquicos para os pacientes (FISHER8, 1994 apud CURRIER;
ALLEN, 2000; HUIZING et al., 2007). Ela é um procedimento válido que deve ser
utilizado como último recurso no manejo de episódios de agressividade
(MARCOLAN, 2004; PAES, 2007; SADOCK; SADOCK, 2007).
Existem outras estratégias que devem ser tentadas anteriormente às
medidas restritivas: primeiramente a abordagem verbal pela comunicação
terapêutica e, posteriormente, a contenção química (STEFANELLI, 1993; 2005b;
CÁNOVAS RODRÍGUEZ, HERNÁNDEZ ORTEGA, 2008). Ressalta-se que a equipe
de enfermagem deve estar atenta para evitar que elementos externos e estressores
possam influenciar o quadro psíquico do paciente, levando-o à agitação psicomotora
(STUART; LARAIA, 2002).
8
FISHER, W.A. Restraint and seclusion: a review of the literature. American Journal of Psychiatry.
v.151, p.1584-91, 1994.
82
A justificativa dos profissionais de saúde em conter os pacientes com
transtorno mental pode ser interpretada como resultado do estigma de agressividade
e violência relacionadas com as manifestações de sintomas das doenças
psiquiátricas. Uma vez que se acredita que a “loucura” seja perigosa, há a
legitimação para atos restritivos aos pacientes, pois uma vez contendo-os, diminuise o perigo iminente (SILVA, 2007).
Outro fator que pesa contra a pessoa com transtorno mental é a dificuldade
de parte da sociedade em reconhecê-la como cidadã capaz e com direitos, mas que
se encontra em um momento de fragilidade e que precisa ser cuidado por uma
equipe de profissionais qualificados e livre de estigmas e preconceitos (JORGE et
al., 2006 ; SILVA, 2007).
Assim, corroborando as falas anteriores, a contenção física em alguns casos
pode ser empregada para dar segurança ao paciente, por outro lado se não for bem
planejada e explicada a ele, tal procedimento pode significar uma forma de
atemorização e/ou punição. À medida que o paciente se sente subjugado, pode
apresentar mais agitação do que inicialmente. Dessa forma, o procedimento se
descaracteriza como cuidado e impede a oportunidade de formação de vínculo
interpessoal, que é importante para o desenvolvimento das ações com os pacientes
com transtorno mental (BOTEGA; DALGALARRONDO, 1997; PAES et al., 2009).
A categoria a seguir é composta por 236 unidades de registro, que
equivalem a 36,08% do total de 654 unidades identificadas e analisadas a partir das
entrevistas com os sujeitos.
5.2.2 O paciente com comorbidade clínico-psiquiátrica requer cuidados
específicos
Os sujeitos relataram que o cuidado é realizado de forma generalizada, sem
especificidade, entretanto, consideraram os pacientes com comorbidade psiquiátrica
‘diferentes’ em relação aos que estão em tratamento clínico. Um dos sujeitos referiu
que o que torna o paciente com transtorno mental diferente é a incapacidade de
pensar normalmente. Dessa forma, os cuidados de enfermagem voltados a essa
83
clientela devem ser diferenciados e que além da atenção ao estado clínico requerem
cuidados específicos que abranjam o psíquico. Salientaram que o cuidado ‘diferente’
não deve ser confundido com infantilização do paciente, piedade ou incapacidade de
entendimento:
“(...) é um paciente diferenciado dos pacientes clínicos. (...) a
gente tem que agir de acordo com o problema que ele tem. Eu
acho que esse cuidado deveria ser específico” (E.6).
“Mas ele precisa ter um atendimento diferenciado, para mim ele
é um paciente diferenciado. (...) eu sempre procuro tratar bem,
nada de o coitadinho (...). Não é tratar bem, mas é tratar de
uma forma diferenciada” (A.7).
“(...) porque ele é realmente um paciente diferente mesmo,
diferenciado, especial, que não está na sua capacidade de
pensar normal” (T.7)
“às vezes, a gente corre o risco de tratar o paciente como se
ele fosse uma criancinha, alguém que não entende as coisas”
(E.2).
Desde o século XVIII, época em que se iniciou a institucionalização da
loucura, as pessoas com transtorno mental, além de receberem o rótulo de “loucas”,
“alienadas” ou “paciente psiquiátricas” foram consideradas “seres diferentes”. A
diferença estava relacionada com a desrazão, incapacidade de juízo e de expressar
a verdade a que o louco estava subjugado, como foi explicitado pelo sujeito T.7.
Assim, essa concepção foi utilizada pelo saber da medicina psiquiátrica para
justificar as práticas de confinamento e a aplicação dos diversos aparatos
disciplinadores como formas de tratamento da loucura, que visavam a trazer o louco
ao seu estado racional (TORRE; AMARANTE, 2001; AMARANTE et al., 2003).
Assim, apreende-se que o ponto de vista apresentado pelos sujeitos em suas falas
descritas anteriormente está em consonância com a visão que se tinha do louco
ainda no século XVIII, em que a diferenciação entre ele e os demais doentes era
atribuída à incapacidade de pensar e agir como pessoa.
Entretanto, com a possibilidade da reinserção social das pessoas com
transtorno mental, trilha-se o caminho para a desmitificação e aceitação desses. Há
que se distanciar as práticas em saúde das concepções e atitudes segregatórias e
aproximar-se de métodos que contemplem as singularidades das pessoas. A
84
anormalidade
conferida
aos
portadores
de
transtorno
mental,
por
serem
consideradas desviantes das regras estabelecidas nas relações sociais produz, a
interdição que nega o acesso ao mundo aos que são considerados “diferentes”
(TORRE; AMARANTE, 2001; JORGE et al., 2006).
Conforme o relato do sujeito E.2, algumas pessoas, entre elas profissionais
de enfermagem, tendem a comparar e igualar o portador de transtorno mental
erroneamente com crianças, que não compreendem e não sabem nada e,
consequentemente, não sabem se cuidar. Concebem-no incapaz de compreender e
de se expressar, desvalorizando a comunicação, não dando oportunidade ao
paciente de demonstrar sua capacidade cognitiva, de autonomia e de entendimento
(MACIEL et al., 2008).
Peculiaridades devem ser consideradas, bem como que o portador de
transtorno mental necessita receber cuidados de enfermagem, que atendam sua
singularidade e que se distanciem de qualquer forma de preconceito ou exclusão.
Assim, existe a necessidade que se demonstrar respeito à subjetividade e à
particularidade de cada pessoa, o que a torna diferente uma da outra (WALDOW,
2008).
Os sujeitos externaram a importância da observação contínua e intensiva
como forma de cuidado específico ao paciente com comorbidade clínico-psiquiátrica.
A finalidade da observação é perceber a reação do paciente e, para tanto, deve-se
dispensar maior tempo junto a ele e reforçar a atenção visando à vigilância:
“(...) um cuidado de observação contínua e mais de perto (...)
esse tipo de paciente necessita que você esteja mais perto.
Tem que estar atento ao cuidado maior, à observação contínua
desse paciente” (E.3).
“A atenção é cuidar mais intensamente. É um cuidado que no
meu ponto de vista é muito importante, a observação. Ficando
mais tempo olhando o paciente, vendo qual o tipo de reação
que ele tem” (T.4).
“ter a observação contínua, não deixar o paciente sozinho, o
principal cuidado é a observação (...)” (A.9).
A observação é ato indispensável para conhecer e compreender o mundo
que nos cerca e a realidade em que estamos inseridos. A Enfermagem tem lançado
mão desse artifício em sua prática desde os tempos de Florence Naghtingale, como
85
recurso para a gerência do cuidado. Destarte, a observação se tornou instrumento
básico para o cuidado humano em Enfermagem, pois através dela se obtêm dados
valiosos sobre o paciente e o ambiente, que subsidiam as ações que somadas se
traduzem em forma de cuidados (MATHEUS; FUGITA, SÁ, 2000).
Observar significa olhar com atenção, examinar com minúcia, buscando
avaliar por vários ângulos uma mesma situação, que lhe dê condições de
compreender um fenômeno. Isto implica utilização dos órgãos da percepção, o que
demanda empenho e tempo do profissional. Assim, para que este instrumento se
mostre eficaz, é preciso ter objetivos bem claros e estabelecidos para sua utilização,
uma vez que “a observação não tem um fim em si mesma”. Para tanto, necessita ser
sistematizada, com objetivos estabelecidos para subsidiar a transformação do
contexto de ação da Enfermagem (MATHEUS; FUGITA, SÁ, 2000, p.5).
A observação da equipe de enfermagem também deve estar voltada ao
contexto ambiental em que está inserida e onde ocorre o cuidado. Pois nele, podemse encontrar vários fatores que influenciam o comportamento do paciente. É preciso
atentar a alguns detalhes quanto à luminosidade, ruído, cor, odor, ventilação,
temperatura, umidade existente no ambiente e se eles têm relação com o
comportamento ou reação do paciente (BAGGIO, CALLEGARO, ERDMANN, 2008).
A observação é essencial para a comunicação não-verbal, que é o modo que
não é expressado por palavras, mas envolve a postura corporal, gestos, fisionomia,
forma de agir. Algumas reações apresentadas pelo paciente podem subsidiar dados
importantes para o planejamento e desenvolvimento de ações preventivas ou
emergenciais pela equipe de enfermagem (STEFANELLI, 1993; SILVA, 2005).
Ressalta-se que a observação não deve ser tomada ou entendida como
elemento de vigilância da maneira expressa nas falas dos sujeitos E.3 e T.4, ação
desempenhada pela Enfermagem manicomial do século XIX. O hospício era um
local fechado, que tinha, como propriedade essencial, a vigilância, uma vez que o
louco devia ser vigiado em todos os momentos e lugares, submetido ao olhar
permanente dos enfermeiros (BELMONTE et al.,1998; PAES, 2007).
Nos relatos anteriores, os sujeitos consideraram que o paciente com
comorbidade clínico-psiquiátrica necessita que seja dispensado maior tempo junto a
ele, observando sua reação. Porém, é certo que existem dificuldades da equipe de
enfermagem de um serviço de emergência dispensar maior tempo a um único
paciente, devido à demanda e dinamicidade do trabalho nesse local. Com isso, a
86
equipe deve agir de forma proativa dando maior qualidade ao tempo dispensado ao
cliente. A comunicação bem estabelecida pode otimizar o tempo subjetivo que o
profissional de emergência vivencia em seu cotidiano. Ao utilizar-se desse
instrumento de forma empática, imbui-se de dados que subsidiam a forma de
planejar suas prioridades (SILVA, 2005; SOUZA; SILVA; NORI, 2007).
5.2.2.1 A comunicação com o paciente
Como cuidados específicos, os sujeitos citaram o diálogo, que deve ser
estabelecido com o paciente com comorbidade clínico-psiquiátrica. Expressaram
que o diálogo é elemento que subsidia o profissional de enfermagem a demonstrar
empatia pelo paciente e, com isso, criar espaços para interação a fim de conquistar
sua confiança. Referiram que o diálogo pode ser um mediador para a formação do
vínculo entre o profissional de enfermagem e o paciente:
“Uma forma de cuidado é o diálogo. Eu tento me entregar de
uma forma completa para que a pessoa sinta a empatia, eu
tento me colocar na posição dele” (T.4).
“Eu acho que você tem que tentar conquistá-lo [o paciente],
chegar e se apresentar, falar que você está ali para cuidar dele.
Tentar conquistar a confiança dele” (A.13)
“(...) tentar conversar com ele. Eu começo a perguntar da vida
dele, às vezes, não o contrariando, procurando saber o porquê
dele querer as coisas (...) para tentar formar um vínculo com
ele” (A.5).
A comunicação é imprescindível para a evolução do homem, uma vez que
por meio dela as pessoas interagem entre si, tomam conhecimento de fatos do
passado e têm condições de traçar projeções futuras. Dessa forma, a comunicação
é um fenômeno integrador, complexo e humano (STEFANELLI, 1993; STEFANELLI;
CARVALHO; ARANTES, 2005). Por sua complexidade e várias abordagens teóricas,
ela pode ser entendida como processo subsidiado pela compreensão de mensagens
compartilhadas pelas pessoas, que influenciam no ambiente e em seus
comportamentos (STEFANELLI, 2005; SILVA, 2005). Os sujeitos T.4 e A.13
expressam a importância do diálogo como instrumento de interação entre
profissional e paciente.
87
A comunicação humana se concretiza pela percepção dos órgãos dos
sentidos, sob as formas verbais e não-verbais. A forma não-verbal é caracterizada
pelas mensagens emitidas pelos gestos, expressões corporais e faciais. A verbal
refere-se às mensagens escritas e faladas. O diálogo é uma forma de comunicação
verbal que necessita ser competente e voltada a proporcionar a interação, que
permeia as ações dos profissionais de enfermagem levando em consideração os
fatores que podem ser favoráveis ou contrários à efetivação da comunicação
((STEFANELLI, 1993; 2005; BRAGA; SILVA, 2007).
À medida que o paciente recebe mensagens na forma verbal e não-verbal,
que expressem atenção, respeito e empatia, como relatado por T.4 e A.13, a
comunicação se torna terapêutica. Destarte, por meio dela, abre-se a oportunidade
de efetivar o vínculo paciente-profissional, expresso por A.5 e, assim, prosseguir as
ações propostas (STEFANELLI, 2005).
Nos relatos seguintes, os sujeitos externam que, à medida que o vínculo é
firmado, o profissional de enfermagem se torna referência para o paciente, pois o
diálogo e a conversa com ele visam à interação entre ambos e representam uma
forma de alcançá-lo. Percebeu-se que os sujeitos em seus relatos atribuíram ao
diálogo uma forma de benefício ao paciente, entretanto, não referiram desenvolver
esta prática com o paciente. Para os sujeitos, o diálogo é um cuidado, e
mencionaram a importância em se comunicar com o paciente que apresenta
depressão, uma vez que eles necessitam ser estimulados a conversar:
“o paciente em quadro depressivo é exatamente aquele que
você precisa estar conversando, tentar de certa forma alcançálo (...) muitas vezes o cliente se identifica com alguém da
equipe, e a pessoa passa a ser uma referência para ele, é
alguém que parou e conversou com ele e ele se sentiu tocado”
(E.5).
“Acho que é mais conversar (...) mas eu acho que o principal
[cuidado] mesmo é ter interação” (E.3).
“De repente, você conversa com ele, tenta conquistar a
confiança dele e é lógico que aí você tem tudo com ele. Você
pode dar o banho, ele deixa você tocar nele. A gente tenta
conversar e quando a gente conquista a confiança, eles até se
abrem mais” (A.13).
88
Há alguns anos, a comunicação tem sido foco de estudos na Enfermagem e
é considerada instrumento básico para o cuidado de enfermagem, mediador das
relações interpessoais. Ao considerar que o cuidado de enfermagem é desenvolvido
por pessoas e para pessoas, a comunicação é fator de efetivação do relacionamento
interpessoal, em concordância com o que foi referenciado pelas falas dos sujeitos e,
assim, é instrumento primordial para propor e desenvolver os demais cuidados
(STEFANELLI; CARVALHO; ARANTES, 2005).
O sujeito E.5 refere sobre a capacidade da comunicação despertar
sentimentos e fazer com que as pessoas se sintam tocadas, aspecto corroborado
por Baggio, Callegaro e Erdmann (2008), ao afirmarem que algumas atitudes
imbuídas de sentimentos viabilizam a humanização e a eficácia do cuidado de
enfermagem como delicadeza, cordialidade, atenção, respeito, dedicação e
compromisso, demonstrando a capacidade de empatia do profissional de
enfermagem. Assim, o paciente tem possibilidade de se sentir cuidado e acolhido no
ambiente por vezes hostil da emergência de um hospital.
O sujeito A.13 discorre sobre conquistar a confiança do paciente para então
desenvolver os cuidados de enfermagem que são necessários. Esse contexto está
condizente com o que explicita Pontes, Leitão e Ramos (2008), em que para o
cuidado de enfermagem ocorrer de forma efetiva, é preciso conquistar a confiança
do paciente no profissional de enfermagem. Quando isso se confirma, o paciente
discorre sobre fatos importantes, ‘se abre mais’, como explicitado pelo sujeito A.13
e, dessa forma, o enfermeiro junto com sua equipe pode criar estratégias para atingir
o melhor grau de bem-estar e de saúde o paciente.
O ambiente tem influência relevante na qualidade da comunicação, haja
vista que ele pode interferir na percepção tanto do emissor quanto do receptor
(STEFANELLI, 2005). O Pronto Atendimento, por ser um ambiente de dinamicidade
e sobrecarga de trabalho da equipe de enfermagem, exige um esforço a mais para
que esse local se torne favorável à comunicação (SOUZA; SILVA; NORI, 2007).
Os sujeitos reconheceram e valorizaram a comunicação como instrumento
para o cuidado de enfermagem, entretanto, ressaltaram que ela precisa ser
realizada de forma adequada. Salientaram que, dependendo do teor das
verbalizações e da forma como ela seja expressa, ela pode modificar o
comportamento do paciente tanto positiva quanto negativamente. A comunicação,
89
quando surte efeito positivo, pode evitar procedimentos restritivos como a contenção
física. Para que ela possa acontecer de forma efetiva, os sujeitos citaram alguns
critérios: ter paciência, possuir e transmitir calma dando maior atenção ao que o
paciente fala (escuta):
“Você não consegue desenvolver o cuidado simplesmente
chegando (...) porque é a comunicação que vai ditar a forma
como você vai fazer o cuidado (...). A forma como você se
apresenta, como fala com o paciente, é a forma que esse
paciente vai te dar abertura para você cuidar dele. Na verdade
é um instrumento para você fazer o cuidado. A parte técnica é
automática, a gente pode fazer e qualquer um faz. Mas a
sensibilidade de lidar com esse paciente, da forma como falar,
de ouvir esse paciente, é muito forte (...)” (E.4).
“(...) falar com ele [o paciente] de maneira adequada, porque
senão ele vai se aborrecer mais. Então sempre observar a
atitude dele, como faz no rosto, a expressão e ter sempre um
pouco mais de paciência. Porque, às vezes o paciente
psiquiátrico, quando você dá um pouco mais de atenção, por
mais que o serviço esteja sobrecarregado, mas o paciente
psiquiátrico é muito carente, ele precisa de sua atenção” (T.6).
“Eu acho que o mais fácil é conversar, tem que conversar com
a pessoa e ser uma pessoa calma e transmitir calma para ele.
(...) tem que ter mais cuidado com esses pacientes, até no
falar. Dependendo do que a gente fala, eles ficam mais
agressivos ou menos” (A.1)
Explicitaram, ainda, que em momentos oportunos deve-se elogiar o
comportamento apropriado do paciente, visando a trazer ânimo a ele. Quando a
abordagem pela comunicação não é adequada, ela influencia negativamente o
comportamento e o humor do paciente. Relataram sobre a importância de observar
a comunicação não-verbal realizada pelos pacientes como, por exemplo, expressões
faciais e atitudes. Enfocaram a necessidade de que sejam explicados aos pacientes
os procedimentos que forem desenvolvidos para eles, e não subestimar sua
capacidade intelectual, uma vez que eles possuem entendimento:
“Muitas vezes a conversa com o paciente elogiando-o e
trazendo ânimo para ele, isso muitas vezes muda o quadro do
90
paciente, que apresenta depressão. A pessoa se estimula e
pensa: “Alguém está me dando valor.” (...) Então tento fazer de
uma forma mais lenta, uma forma com calma para que a
pessoa sinta e para que possa ter confiança no serviço de
enfermagem (...)” (T.4).
“A gente consegue que esse paciente compreenda as coisas
se a gente se comunicar. Eu acho que é explicar passo a
passo o que você está fazendo (...) isso não tem preço, com
certeza você vai conseguir com que ele colabore, quando você
punciona uma veia, passa uma sonda, se você explicar para
ele. A comunicação acaba sendo o que é de mais útil para
você conseguir a colaboração desse paciente. (...) a tendência
é, muitas vezes, de subestimar a inteligência, de que ele não
entende nada, que ele não sabe nada e você peca por isso. Na
realidade, o que você tem é de olhar o paciente, falar com ele e
explicar o que é o esperado e tentar passar segurança para o
paciente” (E.2).
A comunicação é instrumento básico para o desenvolvimento do cuidado
com intuito de proporcionar a melhor condição de bem-estar possível ao paciente.
Para isso, a comunicação precisa ser de forma consciente e planejada, para que
produza efeito terapêutico, condição essa percebida e expressa pelos sujeitos E.4 e
E.2, conforme relatos anteriores. Para tanto, os profissionais de enfermagem devem
adquirir a competência em comunicação humana e terapêutica, uma vez que ela é
habilidade fundamental para o desenvolvimento das práticas da Enfermagem em
forma do cuidado consciente, verdadeiro, transformador, que humaniza e constrói
(STEFANELLI, 2005; BRAGA; SILVA, 2007).
Assim, cabe lembrar que comunicação terapêutica se traduz na competência
do profissional em utilizar o conhecimento de comunicação sistematicamente para
ajudar o paciente a alcançar sua melhor condição de bem-estar e de saúde
(STEFANELLI; 1993; 2005).
Alguns sujeitos mencionaram dificuldades em se comunicar de forma
adequada com paciente com comorbidade clínico-psiquiátrica. Referiram que não
sabem utilizar a comunicação em situações de emergências psiquiátricas com
pacientes agressivos e citaram como exemplo o atendimento aos potenciais
suicidas, os com agitação psicomotora. O sujeito A.7 expressou de forma categórica
que não há possibilidades de ter comunicação efetiva com os pacientes que
apresentam agitação, confusão mental ou com delírios:
91
“(...) um grave problema que temos com esse paciente é não
saber falar com ele, não saber dizer o que é esperado. Isso é
um problema com todos os pacientes, mas isso fica muito mais
gritante com o paciente psiquiátrico” (E.2).
“(...) paciente deprimido eu até consigo, a gente conversa, trata
com carinho, tenta fazer com que ele converse com a gente.
Mas, o paciente agressivo, às vezes ele não quer” (A.4).
“Eu não tenho alcance e tudo o que eu falar não vai servir para
nada, não vai tá dentro do mundo dele, sem pensar que ele
não está dentro do meu mundo, fica uma coisa estranha. Uma
sensação de distanciamento enorme sem compreensão. Eu
tenho impressão de que tudo o que eu fizer para ele ou falar
não vai resultar em nada. Eu sinto que o nosso diálogo é de
planetas diferentes” (A.7).
“(...) paciente que tenta suicídio, eu não sei bem como fazer o
primeiro contato com ele. Se devo falar como devo atuar com
esse paciente, o que se deve comentar, se não deve comentar
o assunto, fazer de conta que o paciente não tentou se matar,
não sei. (...) a gente fica meio receoso de chegar nesse
paciente, não sabe se deve tocar no assunto, falar sobre o
assunto, se não deve falar nada, se deve ficar quieto. Eu não
sei muito mesmo a forma de se portar nesse sentido” (E.6).
A comunicação, quando não utilizada de forma sistematizada, organizada e
adequada, pode caracterizar-se como não-terapêutica. Para que o cuidado de
enfermagem se efetive, existe a necessidade de interação entre a equipe de
enfermagem e o paciente, o que fortalece o vínculo entre eles. As formas de
comunicação verbal e não-verbal são instrumentos importantes nesse contexto, pois
elas oferecem subsídio à criação do ambiente terapêutico. Por outro lado, existem
algumas barreiras que acabam por impedir que a comunicação seja terapêutica,
entre elas: o julgamento do comportamento do paciente presente na fala do sujeito
A7, pôr o paciente à prova e a comunicação unidirecional (STEFANELLI, 1993;
2005d).
Quando os sujeitos E.2 e E.6 expressaram que não sabem se comunicar
adequadamente
com
o
paciente
com
comorbidade
clínico-psiquiátrica,
demonstraram a existência da necessidade em adquirir competência em
comunicação e empregá-la como recurso terapêutico. Deste modo, quando a equipe
de enfermagem utiliza a comunicação inadequadamente, ela gera ruídos no
ambiente interacional produzindo sentimentos negativos como receio, dúvidas,
92
distanciamento e medo, que são sentimentos presentes nas falas anteriores
(STEFANELLI, 2005d).
Outra dificuldade externada pelos sujeitos é estabelecer comunicação e
interação com o paciente que manifesta delírios, que representam um dos sintomas
mais aparente das psicoses, o que, por vezes, torna a fala e as ideias do paciente
incompreensíveis, como foi externado pelo sujeito A.7, ao referir que o paciente com
transtorno mental está em ‘outro mundo’. É importante fazer a ressalva de que
somente parte dos pacientes com transtorno mental apresenta tais sintomas
(SADOCK; SADOCK, 2007). No entanto, isso não pode ser fator de impedimento
para a comunicação, interação e, consequentemente, do cuidado aos pacientes.
Pacientes que sofrem de alguns tipos transtornos mentais com sintomas
psicóticos podem demonstrar dificuldades em verbalizar, dispor de ideias claras e
estabelecer relações interpessoais. Mas esses sintomas não são contínuos e o
paciente pode apresentar intervalos de adequação de comportamento, fala e
pensamento. Ainda pode apresentar insight, cujo termo em sua forma original ou
traduzido para o português insaite, que significa compreensão interna, compreensão
súbita, apreensão súbita, visão súbita, discernimento (SIQUEIRA JUNIOR et al.,
2001; SADOCK;SADOCK, 2007).
A equipe de enfermagem pode lançar mão das estratégias de comunicação
terapêutica na abordagem ao paciente com sintomas psicóticos como delírios e
alucinações e que tenha dificuldades de se expressar. As estratégias se apresentam
em três agrupamentos: de expressão, clarificação e validação. Para tornar mais
claras as verbalizações e ideias do paciente, a equipe pode utilizar o grupo de
clarificação, cujo objetivo é dar “oportunidade ao paciente para organizar seu
pensamento e expressá-lo, para que as mensagens se tornem claras e
compreensíveis”. Para tanto, pode-se valer de técnicas como estimular o paciente a
fazer comparações de situações semelhantes aquela com as quais ele lida naquele
momento; solicitar ao paciente que esclareça termos incomuns, desconhecidos pelo
membro da equipe (STEFANELLI, 2005, p.94).
O sujeito E.6 demonstrou inquietação quanto à abordagem e aos cuidados
de enfermagem ao paciente suicida. Segundo Igue, Rolim e Stefanelli (2002), os
cuidados de enfermagem a pessoas em risco de suicídio no serviço de emergência
devem estar centrados, fundamentalmente, no relacionamento dos membros da
equipe com o paciente e sua família. Para isso, a comunicação terapêutica é
93
primordial, pois por ela são elencados e considerados os sentimentos e as
necessidades dos indivíduos. Assim, a comunicação é veículo de compartilhamento
e de solidariedade, empatia e compreensão aos potenciais suicidas e sua família.
Por outro lado, se utilizada de forma inadequada, ela pode veicular sentimentos de
rejeição conferindo à ação qualidade não-terapêutica (IGUE; ROLIM; STEFANELLI,
2002).
No serviço de emergência, após a estabilização do quadro clínico decorrente
da tentativa de suicídio, deve-se perguntar ao paciente sobre os pensamentos e
planos suicidas. Essa estratégia é fundamental para a avaliação do grau de risco
que esse paciente apresenta e como subsídio para ações de prevenção de novas
tentativas (ESTELMHSTS, 2007). Dessa forma, o profissional de enfermagem, ao
abordar
o
paciente
em
risco
de
suicídio,
deve
apresentar-se
tranquilo,
emocionalmente estável, em condições de dispensar tempo e atenção ao que o
paciente fala e ouvi-lo efetivamente. Essas medidas visam a preencher a lacuna
criada pela desconfiança, desespero e perda de esperança, o que o levaria a
intentar contra a própria vida (OMS, 2000).
A abordagem a esses pacientes deve ocorrer com calma, de forma aberta,
de aceitação e de não-julgamento, o que é fundamental para facilitar a comunicação.
Existem algumas medidas que devem ser observadas para manter o ambiente
terapêutico como permitir que o paciente fale livremente; não o interrompê-lo quando
ele estiver falando; não se mostrar chocado ou emocionado com o que ele lhe
refere; não se deve apressá-lo a verbalizar, justificando que outros lhe esperam;
colocar o paciente em posição de inferioridade ou dizer que tudo vai ficar bem; e
emitir julgamentos ou tentar doutriná-lo (OMS, 2000).
A interação pela comunicação deve ocorrer de forma natural, livre de
parecer interrogatório, mas proporcionar um ambiente para o paciente discorrer
sobre o que aconteceu, bem como tomar consciência de seus atos, sentimentos.
Assim, a equipe de enfermagem deve demonstrar sua preocupação genuína com o
paciente (ESTELMHSTS, 2007).
94
5.2.2.2 Cuidados humanizados de enfermagem
Alguns sujeitos externaram a necessidade de reconhecer que o paciente
com comorbidade clínico-psiquiátrica é uma pessoa com a saúde comprometida em
um momento de vulnerabilidade e que precisa ser cuidado em suas necessidades,
inclusive, as psíquicas. Salientaram que se deve procurar desenvolver o cuidado
humanizado ao paciente e à sua família:
“Aqui, eu vejo que ele é tratado como uma pessoa que tem
uma alteração, que tem uma doença ou que não está em seu
estado normal (...). Essa pessoa é vista como uma pessoa (...)
eu tento humanizar o máximo possível. É a minha forma de
trabalhar, humanizar ao máximo possível, não desrespeitar,
não ter preconceitos para atender esse paciente. Porque é uma
pessoa que necessita de ajuda” (E.4).
“Eu sempre tento para mim e para a equipe desenvolver [o
cuidado] de maneira humanizada e mais pessoal possível. (...)
se estendendo para seus familiares, seus participantes. (...)
Para compreender os motivos dessa internação e a situação
desse nosso cliente” (E.1).
A humanização no cuidado tem sido foco de discussões na área de saúde
na última década. Essa temática vem ao encontro da necessidade de promover uma
nova cultura sobre a assistência à saúde da população em geral. Para tanto, há
necessidade de aprimorar as relações dos profissionais de saúde entre si e com os
usuários. Nesse sentido, o Ministério da Saúde tem lançado mão de estratégias com
vistas a oferecer o suporte para a humanização da assistência à saúde dos
brasileiros (DESLANDES, 2004; BRASIL, 2004b).
A estratégia de humanização dos serviços de saúde do Sistema Único de
Saúde (SUS) busca medidas para viabilizar maior interação entre os profissionais e
deles com a comunidade, objetivando formar vínculo a fim de humanizar o cuidado
(BRASIL, 2004b). Cabe relembrar que a comunicação é o instrumento que medeia a
interação e a formação de vínculos (STAFANELLI, 2005).
O cuidado humanizado está voltado a atender às necessidades do indivíduo,
e proporcionar ambiente com serviços qualificados de atenção à saúde, respeitando
95
a singularidade e particularidades das pessoas, perspectiva essa referida pelo
sujeito E.1 (BRASIL, 2004b).
Para que haja concretização do cuidado humanizado, há de se considerar a
importância da contribuição dos trabalhadores da área de saúde em reconhecer sua
condição humana, imbuída de sentimentos e que precisam de atenção, conforme
explicitou o sujeito E.4 (SOUZA, SILVA, NORI, 2007).
Dessa forma, a competência em comunicação é essencial na prática da
Enfermagem pela valorização das informações que privilegiem a humanização e a
qualidade do cuidado prestado. Assim, proporciona-se respeito ao direito do
paciente em saber o que está sendo feito, o porquê e para quê (STEFANELLI;
CARVALHO; ARANTES, 2005).
Os sujeitos referiram que no ambiente em que ocorre o cuidado devem
demonstrar
respeito,
atenção,
carinho,
paciência,
compreensão
e
apoio,
demonstrando ao paciente que a equipe de enfermagem está ali para ajudá-lo. Cabe
utilizar a comunicação, tanto verbal como não-verbal, descritas pelo sujeito T.2 com
o olhar nos olhos:
“O cuidado é você dar apoio, (...) de você olhar diretamente
nos olhos e colocar que você está ali para ajudar e não para
ser mais um obstáculo na vida dele” (T.2).
“O cuidado a este paciente deveria ser com toda a atenção,
com todo o carinho. Bem tratado, porque ele não está
consciente e por mais que ele esteja agressivo ele não tá
dentro da sua consciência. Então com todo carinho, com todo
respeito” (T.7).
Conceituar e compreender as bases que sustentam a humanização do
cuidado ainda tem sido barreira para parte dos profissionais de saúde, uma vez que
eles se portam com atitude caridosa como tentativa de incorporar em sua prática a
humanização, o que tem indicado o equívoco teórico e prático do tema, ficando
evidente no relato do sujeito T.7 (BECK et al., 2009).
Existe
a
dificuldade
em
constituir
uma
definição
consensual
de
humanização por sua abrangência teórico-prática (DESLANDES, 2004). Dessa
forma, as categorias profissionais distintas devem focar seu olhar em bases éticas,
empregando seu senso crítico e reflexivo além das experiências adquiridas em sua
96
práxis na construção teórica que sustentem o conceito de humanização
(CARVALHO; BOSI; FREIRE, 2008). É imprescindível essa discussão na área da
Enfermagem, uma vez que sua atuação não se concentra somente na prática, mas
também na pesquisa, educação e gestão dos serviços de saúde, o que requer um
olhar amplo sobre a temática (BECK et al., 2009).
Nesse sentido, compreende-se que o cuidado humanizado não se reduz a
demonstrações de atenção, carinho, paciência, compreensão e apoio ao paciente,
como citado pelos sujeitos T.2 e T.7, mas se estende à conformação de atitudes
ética e reflexiva, que sinalizem a valorização da pessoa enferma como humana
(BECK et al., 2009). Assim, o cuidado humanizado se consolida no distanciamento e
abandono de preconceitos, estigmas e desrespeito a que os pacientes com
transtorno mental têm sido vítimas nos serviços de saúde em geral.
5.2.2.3 Participação da família no cuidado
Esta subcategoria está relacionada com os relatos sobre a importância da
família acompanhando o paciente com comorbidade clínico-psiquiátrica no Pronto
Atendimento. Os sujeitos reconheceram que, com a participação da família, os
pacientes podem se sentir protegidos e acolhidos. A presença da família junto ao
paciente pode auxiliar a equipe de enfermagem no momento de prestar o cuidado,
uma vez que aquele que acompanha o paciente conhece as particularidades
apresentadas por ele:
“Eu acho que a presença do familiar é importante, tem que tá
sempre alguém, eu acho que é isso” (A.9).
“Nós damos uma abertura para o acompanhante estar
presente. Nós temos alguns cuidados que seriam a família
estar presente acompanhando mais de perto” (E.1).
“(...) porque geralmente quem convive com eles, eles confiam
mais, porque ele sabe que aquela pessoa não vai machucá-lo”
(A.13).
“Você abordar a família que é uma coisa muito interessante,
pois eles estão dentro desse contexto, eles sabem quando está
97
agressivo ou não. Eu acho que tem que envolver todo mundo.
Eu acho que tem que envolver a família em primeiro lugar (...)”
(T.2)
A participação da família no cuidado ao paciente com comorbidade clínicopsiquiátrica dá condições de propor novas práticas ou melhorar as existentes. Isso
porque, em consonância com o exposto pelo sujeito A.13, elas estão mais próximas
da realidade vivida pela pessoa portadora de sofrimento mental e possuem uma
ligação mais íntima com ela, o que faz com que descrevam com mais precisão suas
dificuldades e limitações (MELMAN, 2006).
Segundo o relato dos sujeitos A.9 e E.1 são importantes a inclusão e a
permanência da família junto ao paciente durante o internamento, bem como o
cuidado, que deve ser estendido igualmente à família. T.2 referiu sobre a abordagem
a essa família como algo interessante. Entretanto, para abordar a família, o
profissional de enfermagem precisa conhecer, interagir, entender os fatores
determinantes e condicionantes que influenciam o ambiente e aquela situação, que
pode ser nova. Assim, deve-se utilizar a comunicação como consolidadora das
relações profissional-paciente-família, sabendo que, inicialmente, elas podem se
mostrar conflituosas. Todavia, é pela competência em comunicação que o
profissional estabelece o ambiente interacional. Para efetivar o relacionamento
terapêutico com a família, o profissional deve se dispor a ouvi-la e mostrar-se
empático (WAIDMAN; STEFANELLI, 2005).
Os familiares da pessoa com transtorno mental, na maioria das vezes, se
revelam carentes de informações quanto às formas de cuidado de seu ente, bem
como a respeito da patologia. Em situações de agudização dos sintomas do
transtorno mental, os familiares necessitam de ajuda profissional para orientá-los em
diversos aspectos: jurídicos, de saúde e social (MELMAN, 2006). Assim, o cuidado
de enfermagem deve ser estendido também à atenção aos familiares dos pacientes
com comorbidade clínico-psiquiátrica no Pronto Atendimento.
Esse ponto de vista demonstrado pelos profissionais é imprescindível para o
cuidado do paciente, uma vez que a sociedade ainda não está preparada para
acolher e cuidar das pessoas com transtorno mental, devido ao preconceito e à
visão estigmatizada que se mantêm presentes no imaginário social. Essa situação
não se restringe somente ao portador de transtorno mental, mas se estende de igual
98
modo aos seus familiares, que acabam por compartilhar sentimentos de dor e
sofrimento com o membro da família adoecido (MELMAN, 2006).
A partir da institucionalização e medicalização da loucura, os espaços da
clínica psiquiátrica eram centrados exclusivamente no saber médico, excluindo toda
e qualquer possibilidade de outras intervenções. Para tanto, a família era isenta de
contribuir com o tratamento, sendo afastada de suas responsabilidades relativas ao
portador de transtorno mental e, por vezes, apontada como a causadora das
doenças mentais. Atualmente, as políticas públicas em saúde mental e o modelo
psicossocial têm revertido essa situação, quando resgatam a responsabilidade da
família sobre o portador de transtorno mental no sentido de agregar e fortalecer os
vínculos familiares a fim de ressocializá-lo (MELMAN, 2006).
A categoria apresentada a seguir é composta por 146 unidades de registro,
que equivalem a 22,32% do total de 654 unidades identificadas e analisadas a partir
das entrevistas com os sujeitos.
5.2.3 O cuidado ao paciente com comorbidade clínico psiquiátrica no Pronto
Atendimento: dificuldades sentidas pela equipe de enfermagem
Os sujeitos relataram que o déficit na formação e a falta de conhecimento na
temática saúde mental lhes dificultam desenvolver o cuidado de enfermagem de
suporte psíquico ao paciente que procura por atendimento clínico e que também
possui um transtorno mental. Referiram que nos cursos de formação, graduação,
técnico ou auxiliar de enfermagem, as disciplinas voltadas à área de enfermagem
psiquiátrica e à saúde mental não contemplaram as necessidades de cuidados aos
pacientes com transtorno mental em ambiente de emergências clínicas:
“Eu não sei como desenvolver um cuidado ao paciente
psiquiátrico. (...) Foge totalmente da minha área. Não tenho
formação. (...) Tanto que mal me lembro de como era a
disciplina de psiquiatria” (E.4).
99
“(...) toda a parte da psiquiatria que eu tenho de conhecimento
é da graduação, depois disso eu não tive mais nada” (E.5).
“(...) falta conhecimento para a gente, o que a gente teve de
psiquiatria é quase nada e no curso auxiliar eu quase não vi
nada, eu estou fazendo o técnico e não tem psiquiatria no
técnico” (A.7).
Chegaram a externar que nem mesmo se lembram de como foi o ensino
nessa área durante a formação profissional e, assim, se sentem despreparados para
cuidar do paciente com transtorno mental. Eles se reportaram às questões de
administração
de
medicamentos
sedativos
e
contenção
física
no
leito,
correlacionando-as com os únicos procedimentos aprendidos em sua formação:
“(...) o que eu vi no curso técnico foi pouca coisa. Vê alguns
tópicos e vai para o estágio, mas não dá para você ter uma
noção das patologias, de como tratar os pacientes, naquele
caso. A única coisa que você sabe é que tem que medicar e
tem que conter” (A.9).
“Tenho bastante dificuldade, porque não tenho nenhuma
experiência. Eu não fiz o curso de auxiliar de enfermagem, fiz
suplência e no técnico a gente não teve essa disciplina de
saúde mental. Eu acompanho tudo [no sentido de cuidar],
ajudo, mas formação não tenho nenhuma” (A.12).
As dificuldades e lacunas citada nas falas dos sujeitos, quando da sua
formação, principalmente, em saúde mental, têm relação com a história da
enfermagem e sua estruturação como disciplina.
No Brasil, a partir da segunda metade do século XIX, os cuidados de
enfermagem desenvolvidos à pessoa com transtorno mental foram marcados por
práticas com pouco embasamento científico, quando não, sem ele. Eram práticas de
fortalecimento do modelo violento, desumano e repressor, presentes no espaço
manicomial (ZERBETTO; PEREIRA, 2005).
O ensino da Enfermagem no Brasil iniciou-se nos últimos anos do século
XIX, e até essa época a Enfermagem era desempenhada pelas irmãs de caridade e
por leigos, denominados de enfermeiros práticos. Esses começaram a ser instruídos
por meio do processo de qualificação proporcionado pela Escola Profissional de
Enfermeiros e Enfermeiras, atualmente Escola Alfredo Pinto, no Rio de Janeiro.
100
Essa escola ficava anexa ao Hospício de Alienados, anteriormente denominado de
Pedro II, e sua formação era voltada para suprir a necessidade de mão de obra
naquela instituição. Contudo, a formação não proporcionou melhorias relacionadas
ao cuidado dos pacientes, mas enfatizava aqueles voltados a suprir as necessidades
de higiene, alimentação, manutenção da ordem e procedimentos restritivos aos
pacientes agitados (MAFTUM, 2004; ZERBETTO; PEREIRA, 2005; VILLELA, 2009).
Em 1923, fundou-se a Escola de Enfermeiras D. Ana Néri [sic] do
Departamento Nacional de Saúde, atualmente Escola de Enfermagem Anna Nery,
formadora das enfermeiras sanitaristas com currículo de curso nos moldes norteamericanos. A formação destas enfermeiras era voltada para a saúde pública, no
entanto, a formação contemplava uma disciplina teórica em psiquiatria denominada:
A Arte de Enfermeira em Doenças Nervosas e Mentais. Para esta disciplina não
havia aulas prática, sendo contempladas neste curso somente a partir de 1949, as
quais consistiam em realizar higiene, alimentação e técnica de contenção
(MIRANDA, 1994; MAFTUM, 2004; VILLELA, 2009).
Os anos 1960 a 1980 são marcados pela luta das enfermeiras docentes,
alunos dos cursos de graduação em enfermagem e Associação Brasileira de
Enfermagem (ABEn) pela reformulação dos currículos de formação, bem como da
prática da profissão no Brasil (FERNANDES, 2006).
A partir da primeira metade da década de 1990, foram conduzidas várias
discussões e mobilizações da classe de Enfermagem a fim de traçar o perfil do
enfermeiro que se desejava formar, pois era necessário construir um currículo
mínimo para esta formação. Como resultado de tais movimentos, houve subsídio ao
Parecer nº 314/94 do então Conselho Federal de Educação, homologado pela
Portaria nº 1.721/94 do Ministério da Educação. Neles, a carga horária mínima
passou a ser de 3.500 horas/aula, incluindo 500 horas destinadas a estágios
curriculares com duração não inferior a dois semestres letivos e desenvolvidos sob
supervisão docente. Buscava-se ainda assegurar a participação dos enfermeiros dos
serviços de saúde no ensino por meio de propostas de integração docenteassistencial (FERNANDES, 2006).
Em 23 de dezembro de 1996, foi publicada no Diário Oficial da União a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), Lei n.9.394 de 20 de dezembro de 1996,
que trouxe novas responsabilidades para as Universidades, docentes, discentes e
sociedade. A LDB passa a permitir a formação de diferentes perfis profissionais a
101
partir da vocação de cada curso/escola, esperando melhor adaptação ao "mundo do
trabalho", já que as instituições terão liberdade para definir parte considerável de
seus currículos plenos (FERNANDES, 2006).
Nessa perspectiva, em continuação à busca pelo perfil profissional do
enfermeiro, durante o 2° Seminário Nacional de Educação em Enfermagem no Brasil
(SENADEn) em 1997, foram discutidas das questões referentes ao ensino de
graduação, em que se destacou a existência de muitos cursos com ênfase no
modelo biomédico, com dissociação entre a teoria e a prática. Sendo assim, no 3°
SENADEn (1998), delineou-se o perfil do enfermeiro: "profissional generalista, crítico
e reflexivo, com competência técnico-científica, ético-político, social e educativa"
(SENADEn, 1998).
Concomitantemente a esses acontecimentos na área de educação e ensino
da Enfermagem, houve, a partir da década de 1970, o surgimento do movimento da
Reforma Psiquiátrica, que visava à reconstrução das práticas em saúde mental no
Brasil, bem como à formação do senso crítico-reflexivo, que proporcionasse aos
profissionais de saúde voltar seu olhar ao novo modelo de atenção psiquiátrica, o
psicossocial (ZERBETTO; PEREIRA, 2005; JORGE et al., 2006).
As políticas públicas na área da saúde mental foram sendo aprimoradas de
modo que fossem progressivamente reduzidos os leitos psiquiátricos, expandida e
fortalecida a rede substitutiva do hospital psiquiátrico. Essas políticas preconizam a
criação e manutenção de programas permanentes de formação de recursos
humanos com a visão recomendada pela Reforma Psiquiátrica. Dessa maneira,
tornou-se necessário reorganizar e atentar para a formação dos futuros profissionais
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009).
A partir do final da década de 1970, os currículos de Enfermagem
começaram
contemplar
disciplinas
que
dão
destaques
aos
aspectos
comportamentais, relações humanas e comunicação terapêutica (MAFTUM, 2004).
Nos cursos de graduação, o ensino de enfermagem em saúde mental e psiquiátrica
passa a ter por objetivo formar enfermeiros aptos a aprender, mobilizar e integrar
conhecimentos gerais em enfermagem e enfermagem psiquiátrica que lhes dessem
condições de prestar o cuidado em circunstância em que o paciente necessite de
suporte emocional e/ou abordagem de sintomas de transtornos mentais, apesar de
isso não se refletir na prática dos enfermeiros sujeitos deste estudo (CAMPOY;
MERIGHI; STEFANELLI, 2005).
102
Da formação dos profissionais de nível médio, auxiliares e técnicos de
enfermagem, espera-se que o ensino contemple a nova visão e práticas voltadas à
inserção destes profissionais nos serviços substitutivos. Entretanto, existem
dificuldades para alcançar esses objetivos, uma vez que grande parte dos
profissionais de nível médio tem lacunas em sua formação na área de saúde mental
como o exposto pelas falas dos sujeitos A.7, A.9 e A.12. Assim, esses profissionais
de enfermagem acabam por adquirir concepções e formas de cuidar no seu local de
trabalho, o que nem sempre ocorre de modo correto e adequado (ZERBETTO;
PEREIRA, 2005).
Os futuros profissionais de nível médio, devido à pouca carga horária
destinada às disciplinas de saúde mental não têm acesso a conceitos teóricos e
práticos, o que torna o ensino fragmentado e voltado a procedimentos técnicos. Com
isso, perde-se a oportunidade de abrir espaço e discussões e reflexões quanto aos
conteúdos
sobre
relacionamento
interpessoal
e
comunicação
(ZERBETTO;
PEREIRA, 2005).
Os sujeitos fizeram referência à falta de atualização e capacitação na área
de saúde mental, com vistas a melhorias na qualidade do cuidado ao paciente com
transtorno mental. Por outro lado, mostraram-se interessados em adquirir
conhecimento relacionado a essa área:
“(...) eu nunca tive uma orientação, tirando a graduação que foi
há cinco, seis anos. Eu nunca vi preparo dentro da instituição
seja esta ou a outra anterior em que eu trabalhei, preparo para
trabalhar com o paciente psiquiátrico” (E.4).
“Nesse pronto atendimento a gente não tem (...) conhecimento
específico para fazer um cuidado. E hoje, nesta instituição,
nesse pronto atendimento, a gente não tem noção, assim não
tem um embasamento para cuidar da parte psiquiátrica desse
paciente” (E.3).
“Mas é difícil tratar, a gente não está acostumada a tratar
paciente psiquiátrico. É meio complicado, a gente não tem uma
orientação “(A.10).
“(...) não temos orientações sobre como a gente se portar
diante deles” (A.8).
103
“Falta muito isso, se a gente tivesse um conhecimento a
respeito das patologias e o que se espera de reações, com
certeza, isso seria muito relevante. (...) Eu já tenho um tempo
na Enfermagem, mas ao mesmo tempo continuo não tendo um
conhecimento nessa área” (E.2).
Os inúmeros avanços ocorridos no mundo nos últimos anos trouxeram
evolução em muitos aspectos na área da saúde. Todavia, esse contexto nos faz
conviver, de modo contraditório, com problemas de diversas ordens, entre eles o
baixo investimento na qualificação dos profissionais de saúde. Isso se torna mais
complexo quando se constata que a formação dos profissionais de saúde tem se
distanciado de certa forma das discussões e das formulações das políticas públicas
de saúde (BRASIL, 2004b).
Desde a década de 1950, já se conhecia o lema, bastante divulgado na área
da educação naquela época, que ainda tem seu valor nos dias atuais. Ele afirmava
que “as pessoas tinham que se ajustar a um mundo novo em mutação, ou seja, que
todo conhecimento sofre transformação e é preciso aprender a capacitar-se e
ajustar-se às mudanças” (GIRADE; CRUZ; STEFANELLI, 2005, p. 106).
O enfermeiro tem que constantemente aprimorar seus conhecimentos por
meio do processo de educação permanente, pois são alternativas válidas em busca
de saberes teórico-práticos a fim de conferir qualidade ao cuidado e, por
conseguinte, satisfação profissional. Torna-se necessário que os profissionais exijam
da instituição na qual trabalham apoio ao desenvolvimento profissional e
aperfeiçoamento na área específica de atuação (GIRADE; CRUZ; STEFANELLI,
2006). Para tanto, docentes, pesquisadores e profissionais com conhecimento na
área de saúde mental têm a responsabilidade de estimular reflexões dos
profissionais de enfermagem que propiciem mudanças na prática frente ao cuidado
dos pacientes com comorbidade clínico-psiquiátrica.
Os sujeitos citaram a falta de estrutura física do Pronto Atendimento como
dificuldade enfrentada para desenvolvimento dos cuidados de enfermagem ao
paciente com comorbidade clínico-psiquiátrica. Ainda mencionaram a falta de
equipamentos apropriados para os procedimentos de contenção física no leito:
“Nesse pronto atendimento, a gente não tem a menor estrutura.
(...) a enfermagem aqui no pronto atendimento não tem
104
condição de ficar direto com os pacientes nos consultórios
quando ficam em observação (...). Como cuidar de uma
paciente nessas condições? Sem uma estrutura física, sem
uma equipe que não tenha contato direto todo dia” (E.3).
“Primeiro é que eles ficam numa maca e você faz uma
contenção e eles se agitam muito e corre um grande risco de
cair, de virar com essa maca e, isso pode acontecer” (A.7).
“Aqui no pronto atendimento não tem condições de atender
esse tipo de paciente. Aqui não tem uma boa rotina para
paciente psiquiátrico. Não tem condições boas, mesmo que
você esteja com o paciente, você não tem material para conter
o paciente e deixar ele contido do jeito certo. A gente improvisa
e o que acaba acontecendo é que o paciente fica na maior
parte do tempo sob efeito de drogas (...).” (A.8).
“Aqui no pronto atendimento deveria ser assim: ter mais tipo de
material para contê-lo melhor pra não machucá-lo. Desenvolver
mais materiais que sejam mais eficientes, não só o uso da
atadura, porque dependendo do tipo da patologia é melhor
contê-lo do que medicá-lo, para poder ver até onde ele vai”
(T.6)
O ambiente em que ocorre o cuidado deve representar um espaço
terapêutico, de qualidade e que o paciente se sinta acolhido, sendo esses fatores
importantes para a humanização (BECK, et al., 2009). Assim, se justifica a
preocupação dos sujeitos em relacionar à qualidade do cuidado com a adequação
do ambiente. Eles demonstraram que estão cientes de que a forma de cuidar do
paciente com comorbidade clínico-psiquiátrico tem sido inadequada e precária. Para
Almeida e Pires (2007), quando o ambiente apresenta dificuldades para se prestar o
cuidado, podem surgir interferências negativas que inibem reconhecer as
subjetividades do paciente.
O trabalho da equipe de enfermagem nos serviços de urgência e
emergência ocorre em ambiente complexo devido ao desenvolvimento tecnológico e
científico. Entretanto, a estrutura física e a adequação dos recursos materiais e
humanos não acompanham essa evolução ocasionando, além de dificuldades no
trabalho da equipe de enfermagem, sentimentos de impotência, frustração e
sofrimento, como demonstrados na fala do sujeito E.3 (ALMEIDA; PIRES, 2007;
BENETTI et al., 2009).
105
Porém, cabe ressaltar que esse panorama está presente na maioria dos
serviços de Pronto Socorro e Pronto Atendimento em todo o país. Acredita-se que
as políticas públicas que estão surgindo nos últimos anos têm estabelecido
estratégias para modificações e adequação nos ambiente físico. Com isso, os
ajustes almejados na estrutura física dos serviços de urgência e emergência
poderão levar algum tempo. Contudo, já se notam algumas mudanças em
decorrência da Política Nacional de Humanização – HumanizaSUS, que busca
orientar e organizar os serviços de emergência ao atendimento da população
(BRASIL, 2004b; SOUZA; SILVA; NORI, 2007; BENETTI et al., 2009).
Foram referidas por alguns sujeitos situações relacionadas ao seu estado de
saúde mental, que influenciam no desenvolvimento do cuidado ao paciente com
comorbidade clínico-psiquiátrica. O sujeito T.7 mencionou a existência de problemas
de ordem pessoal e que se somam aos relacionados com o trabalho e resultam em
desequilíbrio psíquico:
“(...) não tenho estrutura para trabalhar com esses ‘caras’
[refere-se a pacientes com comorbidade clínico-psiquiátrica].
Acho complicado na verdade atender paciente psiquiátrico no
clínico [hospital clínico]” (A.7).
“Tem muita coisa para melhorar (...) na equipe de enfermagem,
não no sentido da prática das pessoas, mas no sentido
psicológico. Tem hora que dá vontade de pegar ele [o paciente
com transtorno mental] pelo pescoço e estrangular, porque a
gente tem os nossos problemas e de vez em quando a gente
começa a perder a paciência com esse tipo de pessoa” (T.7).
“(...) eu fico muito irritada, quando tem aqui paciente
psiquiátrico e eu tenho que atender, geralmente eu não gosto.
Eu sinto que saio cansada do plantão, com dor nas costas, com
sintomas de depressão, com dor de cabeça, com a boca seca”
(A.1).
O cuidado é permeado por atitudes de reciprocidade e, para que se possa
desenvolvê-lo de modo eficaz, é imprescindível que o profissional de enfermagem o
preste a si mesmo e, dessa forma, seja capaz e autônomo para prestá-lo a outros
(COLLIÈRE, 1999). Assim, percebe-se que para cuidar de pessoas em sofrimento
mental o cuidador necessita ter sua saúde mental preservada.
106
No âmbito hospitalar, a unidade de urgência e emergência pode ser
considerada um dos locais em que os profissionais de saúde têm maior propensão
para apresentar sinais de sofrimento psíquico. Alguns fatores que contribuem para
tal condição são o funcionamento ininterrupto do serviço, grande demanda de
pacientes graves, convívio com situações de risco iminente de morte. Assim, o
sofrimento psíquico dos profissionais não deve ser atribuído somente à alta
complexidade dos cuidados desenvolvidos, mas ao fato de terem que lidar com
situações adversas frente às quais emergem sentimento de impotência e falta de
prazer correlacionado ao trabalho (ALMEIDA; PIRES, 2007; BENETTI et al., 2009).
A falta de condições de trabalho e de estrutura de funcionamento produz um
ambiente inadequado ao trabalhador, o que gera desconfortos físicos e psíquicos
que podem se agravar levando o profissional a um estado patológico ocupacional
(BENETTI et al., 2009).
Dentre os profissionais de saúde que atuam no ambiente hospitalar, os da
Enfermagem
são
os
que
estão
mais
expostos
ao
desgaste
mental
e,
consequentemente, ao adoecimento, uma vez que outros fatores se somam aos
citados e dão especificidade ao seu processo de trabalho. Como exemplo, a dupla
jornada de trabalho, desvalorização do trabalho, hegemonia do discurso médico em
relação aos demais profissionais e os fatores ambientais (KIRCHHOF et al., 2009).
O envolvimento nos processos decisórios de ordem técnico-científica e relacional
pode apresentar-se como elementos a mais que influenciam no desgaste mental
desses profissionais (ALMEIDA; PIRES, 2007).
Alguns sintomas podem aparecer e causar incapacidade funcional, como
tristeza, ansiedade, fadiga, diminuição da concentração, preocupação somática,
irritabilidade, insônia e estresse (KIRCHHOF et al., 2009). Nesse contexto, a
incapacidade funcional na Enfermagem significa interferências negativas no
ambiente interacional, bem como no processo de cuidar (BENETTI et al., 2009).
Quando esses sintomas de ordem emocional estão relacionados com o
ambiente de trabalho caracterizado pelas atividades de cuidado a outros, pode
tratar-se de Síndrome de Burnout. Esta se compõe de três elementos: a exaustão
emocional, incompetência e despersonalização. Na exaustão emocional, há o
surgimento de sentimentos de frustração e tensão no trabalho. No elemento
incompetência, surge a falta de satisfação no trabalho e no terceiro elemento, a
107
despersonalização, o aparecimento da descrença, insensibilidade e despreocupação
com as outras pessoas (BENETTI et al., 2009).
O cuidado de enfermagem se desenvolve levando em consideração o
contexto relacionado tanto ao cuidador quanto ao ser cuidado. Para tanto, as
experiências humanas, a subjetividade, a consciência, a história de vida e
sentimentos devem ser ponderados, uma vez que o cuidado ocorre no ambiente de
interação. Dessa forma, ele está envolto de atitudes como respeito, gentileza,
responsabilidade, interesse, segurança e oferta de apoio, confiança, conforto e
solidariedade (SILVA, 2000; WALDOW, 2005; STEFANELLI, 2005).
Para tanto, os profissionais de enfermagem devem assumir seus papéis com
responsabilidade, assim poderão sentir-se integrados ao seu meio. Com isso, buscase experimentar sentimentos de motivação para elevação da autoestima, ter
percepção de si como profissional competente que contribui para que o ser humano
seja atendido em suas necessidades e no enfrentamento das diversas situações
advindas do processo saúde-doença (BISON, 2003).
Foi possível apreender que as dificuldades apresentadas pelos sujeitos
fazem com que o cuidado prestado ao paciente com comorbidade clínicopsiquiátrica seja fragilizado e inadequado. Eles explicitaram que se sentem
despreparados para desenvolver esse cuidado. Os sujeitos E.6 e E.5, que são
enfermeiros referiram que não possuem conhecimento para cuidar do paciente e
estenderam igualmente à sua equipe.
“(...) sou pouco preparada para cuidar de um paciente que
tenha uma alteração psiquiátrica. (...) a gente não dá o cuidado
adequado, não sabe muito como agir (...). nisso a gente está
despreparado, tanto eu como enfermeira como a nossa equipe”
(E.6).
“(...) falta o preparo de como manejar esse paciente no dia a
dia, entender o que é um quadro agudo. (...) Mas é claro, que
nós como enfermeiros ou a própria equipe, muitas vezes, não
temos o preparo profissional” (E.5).
“Eu não me sinto preparado realmente, particularmente, não
me sinto preparado para trabalhar com paciente psiquiátrico”
(E.4).
108
“(...) a gente peca muito nesses cuidados, porque eu acho que
eu não saberia cuidar de paciente psiquiátrico (...) da maneira
correta ou que fosse bom prá ele naquele momento” (T.3).
O sujeito A.1 enfocou que não está preparado, pois não se sente bem ao
realizar cuidados aos pacientes psiquiátricos no Pronto Atendimento. O sujeito A.6
reconheceu suas dificuldades e prefere não realizar o cuidado e solicitar aos colegas
que o façam. Por outro lado, o sujeito A.4 chamou a atenção para a necessidade de
se capacitar, o que remete novamente à política de educação permanente e
salientou que percebe que a demanda de pacientes com comorbidade clínicopsiquiátrica no Pronto Atendimento tem aumentado:
“(...) a gente deve estar preparado para lidar com essas
pessoas, eu não me acho preparada para tratar com paciente
psiquiátrico, porque eu não me sinto bem” (A.1).
“Eu não tenho preparo nenhum para lidar com paciente
psiquiátrico. (...) até por essa dificuldade é muito difícil eu lidar
com eles. Geralmente, eu peço para outro ir. Não sei, eu me
sinto sem preparo nenhum para cuidar do paciente” (A.6).
“(...) a gente não está muito preparada para cuidar do paciente
psiquiátrico. A gente não sabe lidar com esse paciente, eu
acho que tem que ter bastante treinamento. E, está
aparecendo cada vez mais para nós esse tipo de paciente”
(A.4)
As referências dos sujeitos sobre a falta de preparo para desenvolver
cuidados de enfermagem com relação às necessidades psíquicas do paciente com
comorbidade clínico-psiquiátrica são compreensíveis. Uma vez que a formação da
maioria dos profissionais da enfermagem teve enfoque nas ações desenvolvidas ao
paciente nas instituições psiquiátricas, ela dificulta a visão do cuidado extramuros,
que é um dos motivos para que os profissionais não se sintam preparados para
cuidar dessa clientela (SILVEIRA; BRAGA, 2004).
O momento é de transição no modelo de assistência à saúde mental, em
que as políticas públicas têm se adequado no sentido de dar sustentação à visão da
Reforma Psiquiátrica. Com isso, as profissões da área de saúde buscam
109
aprimoramento no saber instrumental para formar e capacitar profissionais a respeito
das reformulações vigentes em saúde mental (AMARANTE et al., 2003).
Entretanto, a falta de preparo referida não pode ser justificativa para que o
cuidado não ocorra, uma vez que esse sentimento está presente inclusive no
cotidiano de profissionais de alguns serviços especializados em saúde mental.
Essas dificuldades são inerentes ao novo cenário, à subjetivação da experiência do
trabalho com a loucura e à resistência a mudanças (SILVEIRA; BRAGA, 2004;
SILVA et al., 2005). Dessa forma, as questões relativas aos cuidados voltados a
suprir as necessidades do ser humano em sofrimento psíquico no hospital geral
requerem que se construam espaços de reflexão, formação e capacitação para os
profissionais (SILVEIRA; BRAGA, 2004).
A categoria apresentada a seguir é composta por 25 unidades de registro,
que equivalem a 3,82% do total de 654 unidades identificadas e analisadas a partir
das entrevistas com os sujeitos. No critério quantitativo das unidades de registro ela
não tem valor significativo para compor uma categoria, no entanto, o tema proposto
para esta categoria é essencial para compreender o objeto de estudo, demonstrando
a importância qualitativa dessas unidades de registro.
5.2.4 Preconceito e estigma com relação ao paciente com comorbidade clínicopsiquiátrica
Retrocedendo à categoria “O paciente com comorbidade clínico-psiquiátrica
requer
cuidados
específicos”
na
subcategoria
“Cuidados
humanizados
de
enfermagem” na página 94 deste estudo, os sujeitos externaram a necessidade de
que o cuidado ocorra de forma humanizada. Entretanto, em meio às falas de parte
dos entrevistados pôde-se apreender que há contradição, haja vista a afirmação da
existência de preconceito, que traz como consequência a discriminação, que tem
influenciado no desenvolvimento do cuidado.
110
“(...) a gente é um pouco preconceituoso no atendimento. Ao
pegar um paciente que tenta suicídio, às vezes, a gente tende
a martirizá-lo. (...) A gente fala: ah! tentou suicídio, agora vai
sofrer. Não que a gente faça coisas ruins para esse paciente
(...). Cuida, mas não passa muito a mão na cabeça” (A.10).
“(...) a gente tem mesmo esse tipo de preconceito, é como se
não gostasse de atender, a gente deixa meio de lado, é bem
complicado mesmo” (T.5)
“(...) de toda a parte psiquiátrica, o alcoolista eu acho o pior
paciente para a enfermagem tratar. Ele dá um sentimento pior
ainda do que o [paciente] psiquiátrico. Eu acho que a
enfermagem [referindo-se a equipe de enfermagem do PA]
atende o alcoolista com discriminação muito grande e que não
vê ele como doente, acham que é uma opção dele. Tenho um
misto de dó, piedade, aversão e um sentimento de que eu tinha
que tratar ele diferente. Eu procuro num primeiro momento
tratar ele bem, mas eu sinto que eu tenho que fazer um esforço
muito grande, mas daí eu começo a tratar ele mal “(A.7).
O sujeito E.2 citou algumas atitudes que traduzem o preconceito e a
discriminação, o que se pode inferir que esse comportamento vem ao encontro da
necessidade dos profissionais demonstrarem superioridade e diferenças em relação
ao paciente diante de situações semelhantes às que experimentam em seu dia a dia:
“A gente meio que faz o estereótipo do paciente. (...) quando é
esse tipo de paciente a gente já vai meio com ódio: tanta gente
precisando de verdade e daí vem esse querer “louquiar” aqui,
acabar com o plantão tudo. E eu acho muito difícil que um
auxiliar, um técnico não tenha passado isso dentro de uma
unidade de emergência” (T.5).
“(...) Não sei se é porque eu falo demais, eles me aceitam, mas
sou eu que não os aceito. Eu não me sinto bem” (A.1).
“(...) há muito preconceito em relação ao paciente psiquiátrico e
esse preconceito as pessoas expressam, ou seja, no não vou
cuidar, seja achando engraçado, tirando sarro, mas na
realidade é a insegurança. Porque o paciente psiquiátrico mexe
muito com a cabeça das pessoas, porque muitos
comportamentos que ele tem, são coisas que às vezes você já
fez, às vezes já aconteceu alguma coisa assim. O paciente tem
uma mania e você já teve, então você se enxerga, você já fez
aquilo e por uma sorte do destino não é você que está ali no
lugar dele” (E.2).
111
Todos os pacientes que adentram as instituições de saúde têm o direito de
receber cuidado, atendimento e/ou orientações que satisfaçam suas necessidades
de saúde e devem ser tratados com humanidade e respeito que lhes são garantidos
pela legislação vigente em nosso País (BRASIL, 2004b). Entretanto, existem
dificuldades em efetivar esses pressupostos quando se trata de pacientes com
sintomas de sofrimento psíquico devido ao preconceito, que decorre da
estigmatização da loucura como citado pelos sujeitos A.10, A.7 e T.5 (GRAHAM et
al., 2007; MACIEL et al., 2008).
Ressalta-se que o “estigma resulta de um processo por meio do qual certas
pessoas ou grupos de pessoas são levados a se sentir envergonhados, excluídos e
discriminados”. Quando há atitudes de distinção, exclusão ou preferência a uma
pessoa ou ao grupo dela em detrimento a outros com ausência ou diminuição de
direitos, ocorre discriminação (GRAHAM et al., 2007, p. 42).
Estudos sobre concepções de saúde, doença, ser humano e modos de
tratamentos às pessoas com transtorno mental baseados na legislação brasileira,
paranaense e de Curitiba, desde seus primórdios até a atualidade, concluíram que a
tais legislações influenciaram nas concepções da sociedade. Dessa forma, as leis e
decretos que regulamentavam a assistência psiquiátrica no Brasil, Paraná e Curitiba
na primeira metade do século XX eram voltados ao fortalecimento das formas de
tratamento do modelo hospitalocêntrico e manicomial, marcados pela diminuição de
direitos civis das pessoas com transtorno mental, bem como pela formação de
preconceitos e estigmas relacionados a elas (CANABRAVA, 2008; GUIMARÃES,
2008; FOGAÇA, 2008).
Entretanto, a Lei 10.216/2001 representa a legislação brasileira voltada à
proteção dos direitos da pessoa portadora de sofrimento mental e tem por objetivo
lançar mão de medidas especiais para proteger os direitos desses cidadãos,
assegurar sua inclusão social e evitar atitudes discriminatórias. Por outro lado, tal lei
não possui condições de alcançar e intervir na estigmatização (BRASIL, 2001). Isso
porque a estigmatização é uma característica própria do ser humano - é invasora,
sutil e difícil de combater - visto que ela tem relação com componentes cognitivos e
comportamentais, resulta de ideias preconcebidas e do medo do desconhecido,
podendo ainda ser fortalecida por fatores culturais e juízo de valores (GRAHAM et
al., 2007).
112
Dessa forma, a estigmatização da pessoa com transtorno mental, quando
consentida por profissionais de enfermagem, pode provocar atitudes negativas e
interferir no desenvolvimento do cuidado como preconceito externado pela ideia de
que a pessoa é alcoolista por opção de vida, criação de estereótipos, ações
discriminatórias, opiniões divergentes dos profissionais de enfermagem sobre as
necessidades de cuidado do paciente, bem como pela falta de vontade em abordá-lo
e realizar levantamento de seus problemas, o que acarreta má qualidade dos
tratamentos e cuidados fornecidos. Esta estigmatização pode, ainda, incorrer em
marginalização e exclusão do paciente do processo de cuidado, negligências de
cuidados, barreira à comunicação, pela imposição de esquema de valores e
influência de mecanismos inconscientes que interfiram no ambiente interacional e
comunicacional (STEFANELLI, 2005; GRAHAM et al., 2007). Essas situações são
corroboradas por um estudo realizado sobre a abordagem da equipe de
enfermagem às pessoas com transtorno mental em um serviço de emergências, em
que se revelou a existência de incompreensão da equipe quanto ao sofrimento
psíquico do suicida, do alcoolista e toxicômano, como também foi demonstrado
pelos sujeitos deste estudo (KONDO et al., 200910).
Os sujeitos A.10, A.7 e T.5, ao citarem que existe tendência de martirizar o
paciente, de acabar tratando-o mal e deixando-o de lado, demonstraram a influência
do preconceito relativo ao paciente com transtorno mental no cuidado de
enfermagem desenvolvido a ele. Nessa perspectiva, quando houver prejuízo no
cuidado de enfermagem a uma pessoa ou a um grupo devido à estigmatização
presente nas atitudes do profissional, ele deve ser alvo de ações específicas de
conscientização a fim de redução ou extinção desse comportamento. Dentre elas
instituir medidas de ensino para mudar crenças e atitudes por meio de sensibilização
da equipe quanto ao cuidado aos pacientes com transtorno mental, proporcionar
conhecimento teórico e dar suporte na prática profissional, estabelecer e apoiar a
responsabilização
dos
profissionais
de
enfermagem
sobre
os
cuidados
desenvolvidos aos pacientes com comorbidade clínico-psiquiátrica (STEFANELLI,
2005; GRAHAM et al., 2007).
Deve-se,
ainda,
combater
qualquer
forma
de
manifestação
de
estigmatização, preconceito ou discriminação dos pacientes com transtorno mental.
10
KONDO, E.H. et al. Abordagem da equipe de enfermagem ao usuário na emergência em saúde
mental em um pronto atendimento. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 2009. Encaminhado.
113
Promover e incentivar pesquisas que identifiquem meios de intervenção para reduzir
de modo durável as formas de estigmatização e discriminação das pessoas com
transtorno mental nas instituições de saúde, conhecer a si mesmo e compreender
que no ambiente comunicacional deve-se evitar a imposição de valores, explorar e
clarificar os mecanismos inconscientes ou parcialmente conscientes, que podem
influenciar de modo negativo as atitudes e compreensão dos profissionais de
enfermagem ou do paciente no ambiente comunicacional no instante do cuidado
(STEFANELLI, 2005; GRAHAM et al., 2007).
Nos relatos seguintes, foi possível apreender que para os sujeitos o hospital
geral não é o local adequado para receber pacientes com transtorno mental e
demonstraram rejeição à entrada e à permanência do paciente com comorbidade
psiquiátrica no Pronto Atendimento. Esse comportamento em relação às pessoas
com transtornos psíquicos reafirmou a visão da exclusão social, o que acaba por
influenciar a efetividade do cuidado integral. A conservação do pensamento em
relacionar a pessoa com transtorno mental com a institucionalização ficou
evidenciada. Por outro lado, o sujeito E.5 referiu a possibilidade do paciente ser
atendido em outros serviços de saúde. Outras atitudes de rejeição para receber o
paciente com transtorno mental no hospital geral foram apontadas pelos sujeitos
como a de não aceitar trabalhar em situações de emergências psiquiátricas. O
sujeito A.6 fez uma crítica à desinstitucionalização, mencionando que os pacientes
não deveriam sair de lá e reforça a ideia de que o hospital geral não é local para os
pacientes com transtorno mental:
“A gente ainda tem a visão do paciente psiquiátrico
institucionalizado. É aquele paciente que deveria estar, no
nosso entendimento, dentro de um hospital psiquiátrico. (...)
quando ele procura um hospital “normal”, a gente não tem esse
preparo para o atendimento a esse paciente. É muito comum
quando se diz que você vai receber um paciente psiquiátrico
dentro da instituição hospitalar [hospital geral], e a primeira
coisa que se diz: aqui não é hospital psiquiátrico! Como se o
paciente que tem um quadro psiquiátrico só pudesse ser
atendido nesse tipo de hospital [instituição psiquiátrica], que ele
não pudesse ser atendido em qualquer outro local” (E.5).
“Por incrível que pareça, há uma barreira para esse paciente
psiquiátrico porque o hospital é clínico. Eu não sei se vai ser
114
válida a questão do paciente psiquiátrico aqui no pronto
atendimento clínico (...)” (E.3).
“Se o PA vier um dia atender a psiquiatria como emergência
psiquiátrica, eu creio que não ficaria no serviço, porque não me
vejo trabalhando com paciente psiquiátrico. Eu particularmente
não me sinto preparado, eu acho que uma das minhas falhas
como profissional é que eu não consigo me preparar para
cuidar do paciente psiquiátrico, porque eu não me vejo
trabalhando com paciente psiquiátrico” (E.4).
“eu acho complicadíssimo o hospital ficar com paciente
psiquiátrico no PA” (A.7)
“O hospital é um hospital clínico e ele está aqui porque não
está bem clinicamente e ele também não está bem
psicologicamente, é muito difícil. Porque quando o hospital é
psiquiátrico, ele não está bem da cabeça” (T.7).
“(...) agora estão extinguindo esses hospitais psiquiátricos. Eu
acho que eles precisam de um tratamento específico, porque
agora é tudo igual, tratamento clínico e psiquiátrico (...) não
tinha que tirar tudo de dentro do hospital psiquiátrico e jogar
tudo dentro do clínico” (A.6).
Para compreender as colocações dos sujeitos, há que se pensar sobre
questões importantes: a primeira refere-se à própria história do hospital, da loucura e
do surgimento das instituições psiquiátricas. Em seguida, podem-se citar as
concepções de segregação, que ainda, se mantêm na sociedade, bem como a
novidade representada pela estruturação dos serviços substitutivos preconizados
pela Reforma Psiquiátrica (HILDEBRANDT; ALENCASTRE, 2001; SILVEIRA;
BRAGA, 2005).
Quanto à primeira questão, a partir do momento em que se concebe a
loucura como doença e se estipula o manicômio como espaço de ação médica sobre
a doença da mente, surge o pensamento de que o lugar próprio, único e adequado
para tratar a loucura é o espaço noso-manicomial (HILDEBRANDT; ALENCASTRE,
2001; SILVEIRA; BRAGA, 2005; KONDO et al., 200910). Uma vez os loucos isolados
da sociedade, distantes dos “normais”, se estabelece a segregação social, que
10
KONDO, E.H. et al. Abordagem da equipe de enfermagem ao usuário na emergência em saúde
mental em um pronto atendimento. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 2009. Encaminhado
115
perdurou por anos e, de certo modo, ainda hoje sobrevive como verdade na
concepção de parte da sociedade (AMARANTE et al., 2003).
Assim se percebe que há resistência dos profissionais de enfermagem em
aceitar e aderir ao novo contexto da assistência à saúde mental, especialmente com
o advento da reforma psiquiátrica, com a diminuição dos leitos nos hospitais
psiquiátricos e com o atendimento na rede substitutiva, tendo em vista a inclusão do
paciente na sociedade.
A reforma psiquiátrica, apesar de ter início nos anos setenta do século
passado, ainda está se estruturando e não ocorre de forma consensual. Isso
acontece por causa da complexidade com relação à temática que envolve condições
econômicas, históricas, políticas e culturais. Dessa forma, sua efetivação necessita
de modificação na visão da sociedade em relação às pessoas com transtorno mental
para que se modifiquem as práticas e as estruturas dos serviços substitutivos
(AMARANTE et al., 2003).
Na nova visão sobre o paciente com transtorno mental, há o envolvimento
de vários serviços e profissionais de saúde. O hospital geral não é o único serviço
disponível na rede substitutiva do hospital psiquiátrico. Existem outros serviços com
maior exclusividade aos pacientes com transtorno mental como o hospital-dia;
CAPS; atendimento ambulatorial, entre outros (AMARANTE et al., 2003).
Cabe ressaltar que o hospital geral em que esse estudo se desenvolveu não
possui unidade de internamento para especialidade de psiquiatria, somente
atendimento
ambulatorial.
Com
isso,
não
é
comum
receber
pacientes
exclusivamente para tratamento psiquiátrico. Os pacientes com transtorno mental
que são atendidos ali, para atendimento clínico, são os que apresentam
comorbidade clínico-psiquiátrica. Durante o tempo em que atuei no local deste
estudo, percebi que o cuidado prestado aos pacientes em geral é de excelência,
contudo, quando há comorbidade psiquiátrica há defasagem na qualidade do
cuidado pelas dificuldades encontradas pela equipe de enfermagem em desenvolvêlo.
116
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho de pesquisa, foi proposto apreender como os profissionais de
enfermagem percebem o cuidado que desenvolvem ao paciente com comorbidade
clínico-psiquiátrico no Pronto Atendimento de um Hospital Geral, haja vista que o
cuidado é a essência da Enfermagem. Nele, buscou-se aprofundar ao máximo a
compreensão sobre a temática que envolveu o problema de pesquisa, entretanto
não se teve a pretensão em esgotá-la, pois, entre outros fatores o tempo para o
desenvolvimento do mestrado é limitado.
Deste modo, percebe-se que há muito a avançar no conhecimento na área
de saúde mental, principalmente quando relacionado ao novo ambiente de cuidados
extramuros às pessoas com transtorno mental, como é o caso de hospitais gerais.
Tendo em vista a temática abordada nesta pesquisa, não cabe fazer aqui
generalizações, mas compreender como a equipe de enfermagem de um Pronto
Atendimento atua no cuidado ao paciente com comorbidade clínico-psiquiátrica e
quais fatores estão relacionados ao seu desenvolvimento.
O momento é de transformações paradigmáticas e estruturais na área de
saúde mental no Brasil. É um período histórico com forte influência nos âmbitos
sociais, políticos e econômicos e que tem sido marcado pelo esforço dos
profissionais de várias áreas do conhecimento em busca da dignidade e identidade
da pessoa com transtorno mental. A Enfermagem se encontra entre as profissões da
área de saúde que estão empenhadas em mudar o panorama de assistência à
saúde mental no Brasil, para tanto, existe a relevância de sua atuação nas
pesquisas no campo da saúde mental.
Ao partir para o campo de investigação junto aos sujeitos, a fim de obter os
dados que respondessem à questão norteadora e alcançasse os objetivos traçados,
percebeu-se, com surpresa, por meio dos relatos dos sujeitos, suas concepções
relativas aos pacientes com comorbidade clínico-psiquiátrica, percepção sobre o
cuidado desenvolvido, formas de cuidar ou descuidar. Depois das leituras flutuantes,
verificou-se que havia necessidade de uma intervenção, a fim de sensibilizar a
equipe de enfermagem para o reconhecimento do portador de transtorno mental
como pessoa e para o cuidado desenvolvido a ele.
117
Assim, teve-se a oportunidade de realizar Grupos de Discussão com parte
da equipe de enfermagem do Pronto Atendimento, por meio da disciplina do curso
de mestrado Vivência na Prática Assistencial. Nele, traçou-se o objetivo de
apreender
as
percepções
daquela
equipe
sobre
conceitos
centrais
ao
desenvolvimento do cuidado ao portador de transtorno mental. Os conceitos
elencados foram: cuidado de enfermagem, ser humano, ambiente, saúde e doença
mental, equipe, comunicação humana e terapêutica.
Ao final dessa vivência da prática assistencial, os sujeitos concluíram sobre
a necessidade de mudança em sua prática de cuidado às pessoas com transtorno
mental. O grupo demonstrou interesse em que haja outras discussões relacionadas
ao conhecimento sobre comunicação terapêutica, uma vez que a considerou
importante como instrumento para o cuidado. Após o término deste grupo, percebeuse que ele deveria se estender aos demais profissionais de enfermagem que não
puderam participar, visto que o grupo se constituiu de nove sujeitos e o tempo
disponível para a disciplina não seria suficiente para alcançar a todos. Fica então a
recomendação à instituição para a viabilização de outras Discussões de Grupo com
vistas a contribuir para que a equipe de enfermagem adquira conhecimentos nessa
temática que impacte no cuidado qualificado.
À medida que os dados desta pesquisa eram tratados, notava-se o
distanciamento que havia entre a equipe de enfermagem e os pacientes com
comorbidade clínico-psiquiátrica devido à forma como os cuidados eram
desenvolvidos e pelas dificuldades relatadas pelos profissionais. Algo que chamou a
atenção foi a forte presença de estigmas, preconceitos e rejeição que os
profissionais de enfermagem demonstraram em relação às pessoas com transtorno
mental. Com isso, pode-se apreender que há influência desses fatores diretamente
no desenvolvimento dos cuidados de enfermagem, que em algumas situações não
ocorria.
Os resultados dessa pesquisa demonstraram a tendência dos profissionais
de enfermagem enfocarem e darem maior importância aos cuidados técnicos e
procedimentos, bem como às dificuldades em desenvolver cuidados subjetivos como
é a comunicação. Essas dificuldades são intensificadas quando o cuidado é voltado
para atender às necessidades psíquicas do paciente.
Ficou evidenciada a forte relação dos cuidados de enfermagem ao paciente
com comorbidade psiquiátrica e elementos manicomiais, que influenciam o processo
118
de cuidar como a contenção física e a sedação sem critérios preestabelecidos, o
estigma, o preconceito.
Verificou-se que o Pronto Atendimento é um cenário típico de mudanças de
paradigma, evidenciado pelas dificuldades apresentadas pelos sujeitos na
compreensão sobre a pessoa com transtorno mental e os cuidados específicos a
elas, desconhecimento das políticas públicas de saúde mental vigentes, da
elaboração do plano de cuidados que abranja as necessidades psíquicas.
A falta de programas locais de aprimoramento e capacitação em saúde
mental também foi enfatizada pelos sujeitos como um complicador em relação aos
cuidados específicos ao paciente com comorbidade psiquiátrica. Dessa forma,
dentre os elementos considerados necessários para a capacitação dos profissionais
de enfermagem encontra-se a educação permanente com ênfase em saúde mental,
que tem como uma das atribuições proporcionar o ensino e o aprimoramento das
ações desenvolvidas aos pacientes e minimizar o distanciamento entre prática e
teoria.
Outra necessidade, talvez a de maior importância, seja a sensibilização da
equipe de enfermagem com o intuito de mudanças de concepção sobre as
psicopatologias, relação profissional-paciente, processo doença-saúde mental,
aceitação do portador de transtorno mental como ser humano que carece de
cuidado qualificado. Isso acaba por ser um desafio para os profissionais de
enfermagem, visto que, além de mudança nas atitudes, há necessidade de
superação sobre alguns sentimentos expressos pelos sujeitos e que denotam
influência negativa sobre o cuidado prestado aos pacientes como medo, aversão à
pessoa com transtorno mental, piedade, ódio.
Ao finalizar este trabalho exploratório, nota-se que os dados que emergiram
podem contribuir e incentivar novos estudos que permitam a adequação e
qualificação dos cuidados de enfermagem às pessoas com transtorno mental. O
cenário brasileiro atual tem disposto de discussões e reflexões sobre as práticas em
saúde mental nos serviços substitutivos e nas poucas instituições de internação
integral existentes. Todavia, elas devem se estender, de igual modo, aos serviços de
saúde não especializados em saúde mental, que têm recebido e cuidado de
pacientes com transtorno, com pouca qualificação.
119
Isso ocorre devido à formação dos profissionais de enfermagem do Pronto
Atendimento ter acontecido na visão centrada somente no recurso dito terapêutico
representado pela instituição e práticas manicomiais.
Dessa forma, os profissionais apresentam déficit de conhecimento de
cuidados no modelo psicossocial, que se traduz no direito do paciente ser cuidado
em todos os níveis de atenção à saúde, e que acredita-se que o hospital geral pode
se tornar um dos ambientes terapêuticos mais propícios ao cuidado de pacientes
com transtorno mental.
120
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APÊNDICES
135
APÊNDICE 1
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Você está sendo convidado a participar de um estudo intitulado “Cuidado de
enfermagem ao paciente com comorbidade clínico-psiquiátrica no Pronto
Atendimento de um Hospital Geral”, que está sendo desenvolvido por Marcio
Roberto Paes, aluno do curso de Mestrado em Enfermagem da Universidade
Federal do Paraná – UFPR. É através das pesquisas que ocorrem avanços na área
da saúde, em especial, na área da Enfermagem, e sua participação é de
fundamental importância.
O objetivo desta pesquisa é: apreender a percepção do profissional de enfermagem
acerca do cuidado que desenvolve ao paciente com comorbidade clínicopsiquiátrica.
Os benefícios esperados não serão financeiros, mas pessoais. Pela sua
participação no estudo, você não receberá qualquer valor em dinheiro.
O estudo não envolve riscos, por se tratar de uma pesquisa em que a coleta
de informações acontece por meio de entrevista, e você poderá recusar-se em
participar da pesquisa a qualquer momento, caso sinta-se afetado.
A sua participação neste estudo é voluntária. Você tem a liberdade de se
recusar a participar do estudo, ou, se aceitar, retirar seu consentimento a qualquer
momento, sem que isso afete seu trabalho.
As informações relacionadas ao estudo poderão ser inspecionadas pelas
autoridades legais, no entanto, se qualquer informação for divulgada em relatório ou
publicação, isto será feito sob forma codificada, para que a confidencialidade seja
mantida. Quando os resultados forem publicados, não aparecerá seu nome, e sim
um código.
Todas as despesas necessárias para a realização da pesquisa não são de
responsabilidade do participante.
Estão garantidas as informações que você queira, antes, durante e depois do
estudo.
O pesquisador Marcio Roberto Paes, Enfermeiro, COREN-PR 6121, RG
6.133.649-4 SESP/PR, poderá ser encontrado na cidade de Curitiba, de segunda a
sexta-feira, das 8hs às 17hs, pelo telefone (41) 9134-7333.
Eu, ________________________________________ li o texto acima e
compreendi a natureza e objetivo do estudo do qual fui convidado a participar. A
explicação que recebi menciona os riscos e benefícios do estudo. Eu entendi que
sou livre para interromper minha participação no estudo a qualquer momento sem
justificar minha decisão e sem que esta decisão afete meu trabalho. Eu concordo
voluntariamente em participar deste estudo.
Data:__/__/__ Assinatura do participante: ___________________________
Nome do Pesquisador: Marcio Roberto Paes ________________________
136
APÊNDICE 2
INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS
1 IDENTIFICAÇÃO
Nome:______________________________________________________________
Endereço:___________________________________________________________
Telefone: ________________________ e-mail: _____________________________
Categoria profissional
( ) Enfermeiro
( ) Auxiliar de enfermagem ( ) Técnico em enfermagem
Tempo de trabalho na instituição
______ anos e ______ meses
Já trabalhou ou trabalha em uma instituição de saúde mental?
( ) sim ( ) não
Em caso afirmativo, quanto tempo: _________ anos ________meses.
Modalidade ( ) Hospital Dia ( ) CAPS ( ) Ambulatório ( ) Hospital Psiquiátrico
Outros:__________________________________________________________
Como ocorreu sua formação em saúde mental?
( ) Somente na disciplina do curso (graduação ou de nível técnico)
( ) mestrado
( ) especialização
( ) aperfeiçoamento
( ) capacitação
( ) Programa de educação permanente da Instituição
Outros: _____________________________________________________________
2. Questões de pesquisa
Como você percebe o cuidado de enfermagem que desenvolve ao paciente com
comorbidade clínico-psiquiátrica neste Pronto Atendimento?
6
4
14
2
10
5
1
1
8
9
5
1
1
24
21
3
2
5
1
9
10
40
39
6
6
O cuidado é desenvolvido conforme o conhecimento que tenho
O cuidado é geral
Proporcionar conforto ao paciente
Cuidados de suporte clínico
Cuido igualmente de todos os pacientes
Dar apoio ao paciente
Ter ações voltadas aos pacientes
Atender necessidades básicas humanas
Aqui o cuidado é clinico/não há cuidados psiquiátricos
Os cuidados são básicos
Nunca tive problemas para cuidar dos pacientes
Adequar o cuidado à realidade dele em casa
Cuidados para manutenção da integridade física
Medidas de segurança ao paciente
Avaliar o paciente
Não deixar álcool próximo ao paciente
Cuidados contra queda da maca/leito
Cuidados com automedicação pelo paciente
Seguir orientação e prescrição médica
Avisar ao médico sobre agitação do paciente
Realizar contenção física
Administração de medicação/contenção química
Sou contra contenção fisica
Manter o paciente tranquilo
Nº
UR/
TEMA
O cuidado é técnico
TEMAS/UNIDADES DE SIGNIFICAÇÃO
5
5
20
20
9
8
1
5
2
3
12
12
1
1
3
6
5
1
1
3
6
2
11
4
6
TOTAL
ENTR
Contenção
física
e
química como medidas
de proteção ao paciente
Preocupação da
equipe de enfermagem
em proporcionar
segurança ao paciente
com comorbidade
clínico-psiquiátrica
SUB
CATEGORIA
Cuidado de
enfermagem ao
paciente com
comorbidade clínicopsiquiátrica no Pronto
Atendimento
CATEGORIAS (CAT)
247
N./
%UR
/CAT
37,77
%
% UR/
CAT
OLIVEIRA, D.C. Análise de Conteúdo Temático-categorial: uma proposta de sistematização. Rev. Enferm. UERJ, v. 16, n.4, p. 569-76, 2008.
APÊNDICE 3
QUADRO SÍNTESE DA CONSTRUÇÃO DE CATEGORIAS NA ANÁLISE DE CONTEÚDO
137
4
9
4
17
4
24
9
2
6
32
2
8
4
1
15
2
1
5
2
5
4
A abordagem ao paciente deve ser em equipe
O paciente é diferente
O cuidado deve ser especifico e diferenciado
Dar suporte às necessidades psíquicas
Realizar observação contínua do paciente
Atentar ao comportamento do paciente
Os cuidados com o paciente são intensivos
Não deixar o paciente sozinho
Conversar com o paciente
A comunicação é um cuidado
A forma de abordagem ao paciente
A comunicação dá abertura a outros cuidados
Ouvir o paciente
Dar atenção ao paciente
A comunicação é instrumento para o cuidado
Ter interação com o paciente
Conquistar a confiança do paciente
Tocar no paciente
Postura profissional diante do paciente
Estimular o paciente a falar
Nº
UR/
TEMA
Cuidados de segurança com a equipe de enfermagem
TEMAS/UNIDADES DE SIGNIFICAÇÃO
3
3
2
3
1
2
8
1
3
4
2
19
4
1
6
10
3
12
3
8
3
TOTAL
ENTR
CATEGORIAS (CAT)
O paciente com
comorbidade clínicopsiquiátrica requer
cuidados específicos
Cuidado de
A contenção física como
enfermagem ao
proteção à equipe de
paciente com
enfermagem no cuidado comorbidade clínicoao paciente
psiquiátrica no Pronto
Atendimento
SUB
CATEGORIA
236
247
N./
%UR
/CAT
36,08
%
37,77
%
% UR/
CAT
OLIVEIRA, D.C. Análise de Conteúdo Temático-categorial: uma proposta de sistematização. Rev. Enferm. UERJ, v. 16, n.4, p. 569-76, 2008.
APÊNDICE 3
QUADRO SÍNTESE DA CONSTRUÇÃO DE CATEGORIAS NA ANÁLISE DE CONTEÚDO
138
1
2
1
1
3
2
1
1
7
23
1
2
3
7
5
1
2
4
1
2
O diálogo com o paciente não é efetivo
Falar coisas positivas para o paciente
O dialogo não alcança o paciente
A forma de se comunicar com o paciente é diferente
Tem que formar vinculo
Ter empatia
Orientar o paciente
O cuidado humanizado
O cuidado deve ser da melhor forma
Não julgar o paciente
Não infantilizar o paciente
O paciente é uma pessoa
Explicar as coisas para o paciente
Ter paciência e calma
Ter sensibilidade para cuidar
O paciente entende as coisas
Mostrar que você está ali para ajudar
Não se deve ter preconceitos
Deve-se saber abordar o paciente
Nº
UR/
TEMA
Atentar para forma de como o paciente olha, gesticula
TEMAS/UNIDADES DE SIGNIFICAÇÃO
2
1
3
1
1
4
4
2
1
1
14
3
1
1
1
3
1
1
2
1
TOTAL
ENTR
O paciente com
comorbidade clínicopsiquiátrica deve receber
cuidados humanizados
de enfermagem
SUB
CATEGORIA
O paciente com
comorbidade clínicopsiquiátrica requer
cuidados específicos
CATEGORIAS (CAT)
236
N./
%UR
/CAT
36,08%
% UR/
CAT
OLIVEIRA, D.C. Análise de Conteúdo Temático-categorial: uma proposta de sistematização. Rev. Enferm. UERJ, v. 16, n.4, p. 569-76, 2008.
APÊNDICE 3
QUADRO SÍNTESE DA CONSTRUÇÃO DE CATEGORIAS NA ANÁLISE DE CONTEÚDO
139
1
2
22
3
Na falta de familiar é melhor conter ou sedar o paciente
Não tenho paciência
Não sei lidar com o paciente psiquiátrico
Sinto-me mal cuidando do paciente
3
15
7
8
4
8
1
10
1
2
Falta treinamentos
Minha formação não contemplou o cuidado a esse paciente
Eu não tenho condições psíquicas para cuidar do paciente
Eu não tenho conhecimento para cuidar do paciente
A equipe não está preparada
Falta orientação
A equipe não pode ficar constantemente com o paciente
O PA não tem estrutura adequada
Os profissionais não querem cuidar
Os instrumentos para conter o paciente são inadequados
2
5
A família deve receber orientações
Falta conhecimento acerca do paciente
1
É mais difícil cuidar do paciente sem o familiar
2
1
Os paciente confiam mais nos familiares
33
1
A família deve se inserir no cuidado
Não estou preparado para cuidar do paciente
3
Não estamos acostumados a cuidar desse paciente
10
Os familiares conhecem melhor o paciente
Nº
UR/
TEMA
Deixar um acompanhante juntamente com o paciente
TEMAS/UNIDADES DE SIGNIFICAÇÃO
2
1
6
1
6
4
5
5
9
3
2
10
2
2
12
2
1
4
1
1
1
3
7
TOTAL
ENTR
CATEGORIAS (CAT)
O cuidado ao paciente
com comorbidade
clínico psiquiátrica no
Pronto Atendimento:
dificuldades sentidas
pela equipe de
enfermagem
O paciente com
comorbidade clínicoA participação da família psiquiátrica requer
no cuidado ao paciente cuidados específicos
com comorbidade clínicopsiquiátrica
SUB
CATEGORIA
171
236
N./
%UR
/CAT
26,15
%
36,08
%
% UR/
CAT
OLIVEIRA, D.C. Análise de Conteúdo Temático-categorial: uma proposta de sistematização. Rev. Enferm. UERJ, v. 16, n.4, p. 569-76, 2008.
APÊNDICE 3
QUADRO SÍNTESE DA CONSTRUÇÃO DE CATEGORIAS NA ANÁLISE DE CONTEÚDO
140
6
4
1
6
7
18
Tenho preocupação com a agressividade do paciente
Não gosto de cuidar do paciente psiquiátrico
Eu tenho medo do paciente
Tenho preconceito
Aqui não é lugar para esses pacientes
Nº
UR/
TEMA
Tenho dificuldades para cuidar
TEMAS/UNIDADES DE SIGNIFICAÇÃO
18
5
2
1
4
4
TOTAL
ENTR
SUB
CATEGORIA
N./
%UR
/CAT
Preconceito e estigma com
relação ao paciente com
comorbidade clínicopsiquiátrica
25
O cuidado ao paciente com
comorbidade clínico psiquiátrica
146
no Pronto Atendimento:
dificuldades sentidas pela equipe
de enfermagem
CATEGORIAS (CAT)
3,83
22,32
%
% UR/
CAT
OLIVEIRA, D.C. Análise de Conteúdo Temático-categorial: uma proposta de sistematização. Rev. Enferm. UERJ, v. 16, n.4, p. 569-76, 2008.
APÊNDICE 3
QUADRO SÍNTESE DA CONSTRUÇÃO DE CATEGORIAS NA ANÁLISE DE CONTEÚDO
141
ANEXOS
143
ANEXO 1
AUTORIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO PARA
REALIZAÇÃO DA PESQUISA
144
ANEXO 2
APROVAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA
PELO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA
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