Contribuições semânticas dos auxiliares `andar` e `ficar` em

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Seminário do GEL (09/07/2015) - Roberlei Bertucci
Contribuições semânticas dos auxiliares
'andar' e 'ficar' em português brasileiro
Roberlei BERTUCCI
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
(UTFPR - Curitiba)
[email protected]
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Problema:
Qual a contribuição de andar e ficar para o significado da
sentença?
(1) a. Pedro jogou bola.
b. Pedro andou jogando bola.
c. Pedro ficou jogando bola.
(2) a. Pedro está/é triste.
b. Pedro anda triste.
c. Pedro fica triste.
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Objetivos

Contextos de ocorrência

Hipóteses
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Neste trabalho
1.
Questões aspectuais e iteratividade
2.
Análise dos verbos
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Questões aspectuais
A.
Castilho (2002)
 Andar+GER: aspecto iterativo (perfectivo ou
imperfectivo)
o Quantificação
o Noção de iteratividade em andar
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 Ficar+GER: imperfectivo cursivo
o Predicação em curso; sem referência ao início ou fim
Referência apenas à perífrase
Mistura entre semântica (iteratividade) e aspecto
Confusão na noção aspectual
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B. Travaglia (2006) – aspecto iterativo marcado pelas
perífrases
 Andar+GER e Ficar+GER
o Iterativo  duração descontínua e ilimitada
Referência apenas à perífrase
Classificação aspectual pormenorizada
Confusão na noção aspectual
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C. Cavalli (2008)
 Andar+GER e Ficar+GER
o Perífrases contínuas (durativas)
o Perífrases do imperfectivo
o Ficar+GER: intervalo de tempo menor que com
Andar+GER
Referência apenas à perífrase
Apenas sentenças no presente
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D. Aspecto: relação entre intervalos de tempo, à la
Klein (1994):
 Perfectivo= ME está incluído no MR (ME⊆MR)
 Imperfectivo= MR está incluído no ME (MR⊆ME)
(3) a. Ontem, a Maria jantou. (P)
b. Às 22h de ontem, a Maria estava jantando. (I)
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E. Iteração: mais de um evento do mesmo tipo
 Laca (2006): andar é operador de frequência em
espanhol.
(4) El zorro anduvo matando gallinas.
‘A raposa andou matando galinhas’
 Andar tem a função multiplicar (distribuir) os
eventos de matar galinhas.
 Temos mais de um evento de matar galinha.
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 Para obter a leitura distributiva em sentenças
como (4), precisamos de um SN distribuível:
o Ele precisa ser cumulativo; e
o precisa ser composto de entidades singulares (os
átomos acessíveis).
(5) ??El zorro anduvo matando una gallina.
‘A raposa andou matando uma galinha’
o
Bertucci (2012) defendeu o mesmo para andar e ficar
em PB.
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Mas, em PB, isso não se mantém.
(6)
a. Pedro andou comprando um carro.
b. A raposa andou matando (uma) galinha.
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 Ficar+GER: evento não precisa ser iterativo;
apenas durativo.
(7) a. Pedro ficou pensando em Maria a manhã toda.
b. #Pedro ficou pensando em Maria (exatamente) às 10h.
(8) a. Pedro fica pensando em Maria (quando escuta essa
música).
b. Pedro fica pensativo/triste/feliz (quando escuta essa
música).
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Em resumo,
o Castilho (2002), Travaglia (2006) e Cavalli (2008)
o Laca (2006) e Bertucci (2012)
não respondem qual a contribuição semântica de
andar e ficar.
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Hipóteses
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Contribuição de andar
 Bertucci (no prelo) defende que andar
o é um verbo de aspecto gramatical
o mantém traços do verbo pleno (atividade; requer
duração)

Insere ME em um MR durativo
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(9) a. A raposa andou matando galinha por vários meses.
b. A raposa anda matando galinha já faz vários meses.
c. Ontem à noite, a raposa andou matando galinha.
(10)a. #No dia 11 de março de 2015, a raposa andou
matando galinha.
b. #Neste exato momento, a raposa anda matando
galinha.
c. #Ontem, às 23h, a raposa andou matando (uma)
galinha.
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(11) a. A raposa anda violenta faz alguns meses.
b. A raposa andou violenta por alguns meses.
(12) a. #Neste exato momento, a raposa anda violenta.
b. #Ontem, às 23h, a raposa andou violenta.
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Consequências (ME inserido num MR durativo):
I. ME ≤ MR (menor ou igual)
II. a culminância ou completamento da ação pode
(ou não) ocorrer
III. duração/iteratividade não são obrigatórios
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 Para I: ruim com prospectivo e retrospectivo.
(13) a.*A raposa ia andar violenta por alguns meses.
b.*A raposa acabou de andar violenta por alguns meses.
 ME não pode suceder (prospectivo) ou preceder o
MR (retrospectivo).
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 Para II e III: culminância, duração e iteratividade
são dadas por outros elementos, que não
propriamente andar
(14) a. A raposa andou matando uma galinha. (C, ~D, ~I)
b. A raposa anda matando galinha. (~C, D, I)
c. A raposa anda violenta. (~C, D, ~I)
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 Implicatura de “desconhecimento” ou inexatidão
do ocorrido se justifica pela imprecisão da
ocorrência de ME em um MR durativo.
(Em 14a: poderíamos colocar esses dias atrás, para
marcar imprecisão).
(14) a. A raposa andou matando uma galinha. (C, ~D, ~I)
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Contribuição de ficar
 Lobo (2014): ficar+GER
o estende a duração de um evento num intervalo de
tempo fechado
o não há obrigatoriedade de iteração
(15) a. #João ficou escrevendo o soneto. (OKem casa)
b. João ficou escrevendo o soneto a noite toda.
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 Ficar: verbo de aspecto lexical
o evento durativo; características de permanência
o intervalo de tempo especificado para duração
o co-ocorre com verbos de aspecto gramatical
compatíveis
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(16) a. Quando eu der o telefone da Maria, o João vai
ficar ligando pra ela.
b. Quando souber a notícia, o João vai ficar
chateado por um bom tempo.
c. Se eu desse o telefone da Maria, o João ia
ficar ligando pra ela.
d.*O João acabou de ficar chateado/ ligando
pra Maria.
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Consequências:
a. incompatível com predicados de eventos pontuais
b. incompatível com sintagmas próprios de telicidade
(17) a. *O João fica/ficou matando um cara.
b. *As flores ficam/ficaram morrendo.
(18) a. #O João fica/ficou lendo às 10h.
b. #O João fica/ficou lendo em duas horas.
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Em resumo, andar e ficar: são de grupos aspectuais
distintos (contra análises feitas até aqui).


Andar: verbo de aspecto gramatical1
Ficar: verbo de aspecto lexical
ANDAR FICAR
 Leitura de duração obrigatória do evento
 Co-ocorre com alguns verbos de aspecto
gramatical
 Compatível com predicados télicos
1






Para uma diferença entre verbos de aspecto gramatical e de aspecto lexical, ver Bertucci (2011).
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REFERÊNCIAS
BERTUCCI, R. O sentido produzido pelo auxiliar/cópula ‘andar’ em português brasileiro. Revista do Gel (no prelo).
BERTUCCI, R. Eventualidades e nominais nus: da estrutura à operação aspectual. In: OLIVEIRA, R. P. de; MEZARI, M. P.
(orgs.). Nominais nus: um olhar através das línguas. Campinas: Mercado de Letras, 2012, p. 121-148
BERTUCCI, R. Uma análise semântica para verbos aspectuais em português brasileiro. Tese de Doutorado. Departamento de
Linguística da Universidade de São Paulo, 2011.
CASTILHO, A. Aspecto verbal no português falado. In: ABAURRE, M. B.; RODRIGUES, A. C. S. (orgs.). Gramática do
português falado. v. 8. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2002, p. 83-121.
CAVALLI, S. Perífrases durativas do português brasileiro. Curitiba: Universidade Federal do Paraná. Dissertação de
mestrado, 2008.
KLEIN, W. Time in language. London: Routledge, 1994.
LACA, B. (2006). Indefinites, quantifiers, and pluractionals: What scope effects tell us about events pluralities, in: S.
Vogeleer e L. Tasmowski (eds.). Non-definiteness and plurality. John Benjamins Publishing Company: Amsterdam/
Philadelphia.
LOBO, J. L. (2014). A expressão da duração pelos auxiliares ‘andar’, ‘ficar’ e ‘viver’ em português brasileiro. 62º. Seminário
do GEL. Pôster.
TRAVAGLIA, L.C. (2006). O aspecto verbal no português: a categoria e sua expressão. 4.ed. Uberlândia: Editora da
Universidade Federal de Uberlândia. [1ª. ed. 1981]
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