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Recursos de enfrentamento no percurso da doença oncológica
Karine da Fonseca Gomes
Alessandra Cardoso Siqueira
Antônio Carlos Zandonadi
Recursos de enfrentamento no percurso da doença oncológica
Karine da Fonseca Gomes, Alessandra Cardoso Siqueira e Antônio Carlos Zandonadi
Recursos de enfrentamento no percurso da doença oncológica
Karine da Fonseca Gomes1
Alessandra Cardoso Siqueira2
Antônio Carlos Zandonadi3
RESUMO: Receber um diagnóstico oncológico é um momento complicado para o indivíduo, podendo
apresentar diversos sentimentos e dúvidas que, eventualmente, o acompanharão ao longo de todo o seu
tratamento. Este estudo buscou identificar, a partir dos indivíduos da ONG Mulheres de Lenço do município de
Rolim de Moura – RO, quais os principais recursos de enfrentamento utilizados por uma pessoa que recebe o
diagnóstico de câncer até o tratamento. Foi utilizado o método de pesquisa de campo de caráter descritivo, com
abordagem quanti-qualitativa. A amostra foi composta por 10 mulheres diagnosticadas com câncer,
representando 40% da população cadastrada pela ONG. Os dados foram coletados por meio de um questionário
composto por uma breve caracterização de perfil, seguido por perguntas fechadas com possibilidade de múltiplas
respostas e perguntas abertas. Os resultados apontaram o suporte familiar, a fé e a espiritualidade como sendo os
principais recursos de enfrentamento que transmitem segurança, mobilizando a esperança na cura. Além disso,
outros recursos foram identificados como a busca por médico especializado, adesão ao tratamento, atividades de
lazer, apoio social entre outros. Sobretudo, notou-se a ausência do atendimento psicológico, apesar da
importância e benefício de tal assistência.
Palavras-chave: Recursos de enfrentamento. Câncer.
Coping resources when facing oncologic diseases
ASBTRACT: Receiving a cancer diagnosis is a complicated time for the individual, which may present
various feelings and doubts possibly throughout one’s treatment. This study aimed to identify, from the
individuals of the NGO Mulheres de Lenço from the municipality of Rolim de Moura – RO, what are the main
coping resources used by a person who is diagnosed with cancer until the treatment. The descriptive research
method was conducted with quantitative and qualitative approaches. The sample consisted of 10 women
diagnosed with cancer, accounting for 40% of the population registered by the NGO. Data were collected
through a questionnaire with a brief characterization profile, followed by closed questions with the possibility of
multiple answers and open questions. The results show family support, faith and spirituality as the main coping
resources that transmit security, mobilizing the hope of a cure. In addition, other resources have been identified
such as the search for specialized doctors, adherence for the treatment, leisure activities, and social support,
among others. Above all, it was noted the absence of psychological care, despite the importance and benefit of
such assistance.
Keywords: Coping Resources. Cancer.
1 INTRODUÇÃO
O aumento significativo da incidência de câncer mundial tem sido um assunto
frequentemente discutido por cientistas e a população em geral. Receber um diagnóstico
Discente do curso de Psicologia da Faculdade de Rolim de Moura – FAROL. E-mail: [email protected].
Docente no curso de Psicologia da FAROL – Faculdade de Rolim de Moura.
3
Docente no curso de Psicologia da FAROL – Faculdade de Rolim de Moura.
1
2
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Karine da Fonseca Gomes, Alessandra Cardoso Siqueira e Antônio Carlos Zandonadi
oncológico é um momento complicado para o indivíduo, podendo apresentar intensos
sentimentos e dúvidas, que eventualmente o acompanharão ao longo de todo o seu tratamento.
Comumente, esses sentimentos manifestos são angústia, medos, sofrimento, raiva, revolta,
dor, perda de autonomia entre outros (INCA, 2015).
Neste ensejo, no estudo buscou-se identificar, a partir dos indivíduos com câncer da
ONG Mulheres de Lenço do município de Rolim de Moura – RO, quais eram os recursos
utilizados por uma pessoa que recebe o diagnóstico de câncer até o tratamento. O método de
pesquisa utilizado foi pesquisa de campo, de caráter descritivo com abordagem quantiqualitativa.
Os resultados do presente estudo estão descritos neste artigo, podendo servir como
referência para estudos futuros, bem como, fonte de dados para estudantes de psicologia ou
psicólogos atuantes e outros profissionais que trabalham na área da oncologia.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 O câncer e sua caracterização
O termo câncer é classificado como uma denominação genérica para nomear as
alterações que ocorrem em estruturas celulares num modo geral, estas que resultam em
formações tumorais (VEIT; CARVALHO, 2010; CORDEIRO; STABENOW, 2008).
Apesar de não existir câncer benigno, a malignidade e agressividade do câncer são
relativas, sendo classificadas em diferentes graus. A gravidade e o prognóstico de cada caso
são baseados em alguns critérios decisivos como o órgão inicial em que se instalou a mutação,
a dimensão e natureza do tumor, e o grau de incursão do local de origem para outros órgãos.
(VEIT; CARVALHO, 2010).
No entanto, houve uma época em que o câncer era irreversível e fatal. Os profissionais
preocupados com a associação do câncer com a morte, informavam o diagnóstico apenas aos
familiares, excluindo os pacientes das decisões tomadas sobre os procedimentos adotados.
Deste modo, a associação do câncer com a morte foi crescendo, tornando-se um estigma
popular (VEIT; CARVALHO, 2008; VEIT; CARVALHO, 2010).
Com a considerável evolução da medicina oncológica a respeito do tratamento dessa
doença, por meio de métodos cirúrgicos aliados à quimioterapia e radioterapia, e outros
tratamentos terapêuticos desenvolvidos com resultados positivos, os médicos começaram a
informar ao próprio paciente sobre o diagnóstico. Em virtude dessa evolução, a medicina não
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Karine da Fonseca Gomes, Alessandra Cardoso Siqueira e Antônio Carlos Zandonadi
enxerga mais o câncer como morte inevitável. Entretanto, cabe ressaltar que o câncer é uma
doença que provoca comportamentos distintos em cada paciente. O mesmo vem sendo
acompanhado de muitos estigmas, como o medo da morte, e conceitos equivocados acerca de
suas origens e causas (VEIT; CARVALHO, 2008). Ainda nos dias de hoje é possível
encontrar pessoas com medo até de pronunciar a palavra câncer, ocorrendo principalmente
com aqueles que não possuem conhecimento adequando sobre a doença (VEIT;
CARVALHO, 2010).
2.2 O ciclo da doença
Tendo em vista a carga emocional que a doença envolve, é importante esclarecer
algumas das respostas psicológicas ao diagnóstico do câncer, as quais podem ser identificadas
como estágios percorridos pelo paciente antes de conseguir aceitar o fato de estar doente.
Esses estágios se assemelham aos do paciente com estado terminal, descritos no modelo de
Elizabeth Kubler-Ross, embora, nem todo diagnóstico de câncer venha findar-se no óbito
(BLUMENFIELD; TIAMSON-KASSAB, 2010).
Citando as proposições de Kubler-Ross (1981) Alamy (2013) descreve em seus
estudos cinco estágios da doença, os quais todos os pacientes tendem a vivenciar, são eles:
negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Estes, não necessariamente seguem uma
ordem específica, visto que eles podem se alternar ou até mesmo repetir durante o percurso do
tratamento. Contudo, é de extrema importância que cada um desses estágios seja elaborado
pelo paciente, de modo que o mesmo seja tratado como um todo, e não apenas
biologicamente.
A negação é um estágio que a maioria dos pacientes utiliza após o diagnóstico ou nas
primeiras manifestações da doença. Ela surge como uma forma de "para-choque" do paciente,
visto que o mesmo recebe notícias inesperadas e assustadoras que provocam reações
emocionais adversas. Portanto, através da negação o paciente começa a elaborar essa situação
e se preparar para tomar outras atitudes frente à doença. Cabe ressaltar que é comum a reação
de negação ser aderida, principalmente em casos que o indivíduo recebe o diagnóstico
abruptamente por profissionais, sem que seja feita uma preparação emocional, um diálogo
preparatório, ou até mesmo sem ter realizado um diagnóstico preciso (KUBLER-ROSS,
1996).
Quando o estágio da negação não é mais cabível de ser sustentando pelo paciente, é
substituído pelo estágio da raiva, ou seja, surge um sentimento de revolta no indivíduo e a
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pergunta “por que eu?”. Diferente da negação, a raiva ou revolta é um sentimento mais
delicado de lidar, visto que a raiva do paciente pode expandir-se em todas as direções, seja na
equipe médica assistencial, na família, ou no ambiente em si. Neste estágio o paciente pode
adotar um repertório comportamental agressivo e provocativo com tudo que ocorre no
ambiente hospitalar, criticando todos os procedimentos médicos, insultando enfermeiras,
recusando a realizar testes diagnósticos, questionando Deus sem que haja motivo concreto
para suas atitudes. Em alguns casos é necessário que os psiquiatras sejam chamados para lidar
com estes pacientes hostis, apesar dessa atitude ser uma resposta defensiva a um diagnóstico,
como no caso do câncer (KUBLER-ROSS, 1996; BLUMENFIELD; TIAMSON-KASSAB,
2010).
Segundo Blumenfield; Tiamson-Kassab (2010), no terceiro estágio, o paciente adota a
atitude de barganha. Visando sua melhora o indivíduo pode fazer promessas para Deus, em
que se compromete em ser diferente caso sobreviva à doença. De acordo com Kubler-Ross
(1996), a barganha é um estágio menos conhecido, porém, é um sentimento útil para o
paciente aderir ao tratamento, mesmo que permaneça por um tempo curto neste estágio.
Comumente os pacientes neste estágio da doença passam a super idealizar e ficar dependentes
de seus especialistas. No caso dos oncologistas, os pacientes acreditam que o médico tem o
poder de curá-lo, caso o tratamento não traga bons resultados, a relação médico-paciente pode
ser rompida e o médico poderá receber a culpa pelo ocorrido (BLUMENFIELD; TIAMSONKASSAB, 2010).
O quarto estágio descrito por Kubler-Ross, refere-se à depressão, a qual pode
apresentar-se em duas formas: depressão reativa e depressão preparatória. Na depressão
reativa o paciente apresenta comportamento de tristeza diante do sofrimento que a doença
causa. A segunda forma, depressão preparatória está relacionada principalmente às perdas
trazidas pela doença, sendo estabelecido um conceito de morte simbólica, além da morte
física em si. Em alguns casos, o paciente pode adentrar no estágio de aceitação, visto que
passa a se conformar com seu diagnóstico, e espera a doença alcançar sua fase final a morte,
para a qual já se preparou (PEÇANHA, 2008).
O estágio da aceitação é abrangente, tendo significados diversificados em cada
paciente. No caso do câncer, a aceitação do diagnóstico pode proporcionar ao paciente uma
nova perspectiva da doença e mobilizá-lo a procurar diferentes formas de tratamento e apoio,
prosseguindo a luta contra o agravamento da doença. Bem como, pode manifestar a aceitação
de que não há mais solução, acreditando estar na fase terminal. A aceitação também pode ser
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de modo parcial, onde o paciente aceita o diagnóstico do câncer, no entanto, para um
prognóstico grave ainda não está preparado (BLUMENFIELD; TIAMSON-KASSAB, 2010).
O conhecimento desses estágios contribui muito para os profissionais da área na
compreensão de complicações psicológicas resultantes do diagnóstico recente de um câncer.
Cada comportamento manifesto pelo paciente deve ser compreendido e respeitado, visto que
são recursos de enfrentamento encontrados pelo paciente para lidar com a doença
(BLUMENFIELD; TIAMSON-KASSAB, 2010; PEÇANHA, 2008).
2.3 Recursos e estratégias de enfrentamento no percurso da doença oncológica
De acordo com Peçanha (2008), a doença oncológica traz consideráveis
transformações físicas e psicológicas para quem a vivência, instituindo um estressor
ambiental e psicofísico. O indivíduo acaba por ser exposto a uma rede complexa e condições
instáveis ao longo das diversas etapas da enfermidade, fazendo com que o paciente reaja
através de respostas adaptativas. Isso tudo ocorre dentro de um contexto social em que a
doença oncológica é correlacionada ao sofrimento e à morte, ou seja, o sujeito com essa
doença precisa agarrar-se a recursos psicossociais, atuando num esforço adaptativo constante
para conseguir lidar com o estresse provocado pela enfermidade. Essa mobilização emocional,
comportamental e cognitiva recebe o nome cientificamente de enfrentamento, uma vez que
visa a adaptação a situações que se modificam em cada etapa da doença.
A capacidade de enfrentamento do doente oncológico também está relacionada à
resiliência. Contudo, é importante ponderar a relatividade do conceito. A resiliência não é
uma qualidade nata do sujeito, ela implica a necessidade do mesmo ser submetido a uma
situação adversa considerável. Também devem ser considerados os aspectos de qualidades
desse indivíduo, bem como o seu ambiente familiar e o contexto social em que está inserido
(TELES; VALLE, 2010). Ainda na perspectiva do autor (2010, p. 69) “[...] o enfrentamento
pode se mostrar como elemento de proteção ou de risco. No caso de proteção, o
enfrentamento propicia uma adaptação positiva na situação doença, ou seja, a resiliência;
funcionando como risco, torna o sujeito mais vulnerável à situação estressora”.
Quando a hipótese do adoecimento oncológico surge são despertados no indivíduo
diversos tipos de sentimentos. A doença, de modo geral, acarreta muitas alterações na vida do
paciente. Essas mudanças podem ser relacionadas a papéis sociais, à percepção em relação a
si mesmo, alterações por possíveis desfigurações ou dificuldades de ordem funcional, efeitos
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Karine da Fonseca Gomes, Alessandra Cardoso Siqueira e Antônio Carlos Zandonadi
colaterais do tratamento, entre outros estressores que constituem em um quadro de estresse e
ansiedade (CARVALHO, 2008).
Neste intuito, o enfrentamento da doença oncológica implica a construção de táticas
eficazes, além da identificação das necessidades, limitações e recursos pessoais (LIBERATO;
CARVALHO, 2008).
Segundo Peçanha (2008) nenhuma estratégia de enfrentamento apresenta supremacia a
outra, ou seja, não podendo ser considerada melhor ou pior, mas entendida pela sua
funcionalidade no percurso do evento estressor. Cada qual apresenta vantagens e
desvantagens de acordo com o indivíduo, de seu grupo social, do tipo de câncer e da fase da
enfermidade. Assim, a autora (2008, p. 211) supracitada, mencionando as ideias de Cohen e
Lazarus (1979), categoriza as estratégias de enfrentamento através de cinco circunstâncias
gerais:
1.
2.
3.
4.
5.
A busca de informação, que visa à obtenção de subsídios relevantes para
resolver o problema ou regular a emoção.
A ação direta, que objetiva resolver o problema propriamente dito.
A inibição da ação, que tem como propósito conter ações consideradas
perigosas pela pessoa.
Os esforços intrapsíquicos, que permitem negar o problema ou esquivar-se dele
tendo como objetivo a regulação das emoções diante da ameaça representada
pela questão.
A busca do outro, uma estratégia que tem por objetivo utilizar o apoio social,
reconhecendo sua importância para a resolução do problema. (Grifo do autor).
Já Vitalino (1985 apud Gimenes, 1997) expõe uma série de pensamentos e ações que
indivíduos recorrem para enfrentar o estresse causado pela doença. O mesmo entende o
enfrentamento como processo, que conta com estratégias como: focalização no problema,
pensamento esperançoso, busca de apoio, esquiva, autoculpa, culpabilização dos outros,
religiosidade e focalização no positivo.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA,
2015) que cita as ideias de Fornazari e Ferreira (2010) e Guerreiro et al. (2011) a maioria dos
pacientes oncológicos atribui à fé e à espiritualidade a evolução positiva do tratamento. A fé é
cultural e acompanha o indivíduo em distintas situações da vida. Sendo indispensável
considerá-la como um recurso para adquirir esperança e apoio frente o câncer.
3 METODOLOGIA
Trata-se de um estudo de campo, descritivo, com abordagem de analise quanti-
qualitativa, realizado em uma Organização não Governamental (ONG) Mulheres de Lenço do
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Karine da Fonseca Gomes, Alessandra Cardoso Siqueira e Antônio Carlos Zandonadi
interior do estado de Rondônia. A ONG oferece apoio aos indivíduos diagnosticados com
câncer, bem como, realiza reuniões mensais, oferece atendimento psicológico, artesanatos,
palestras entre outras atividades.
Compuseram a amostra dez (10) mulheres diagnosticadas com câncer, que estavam
participando da ONG Mulheres de Lenço, tendo como critério de inclusão que todas as
participantes deveriam ter 18 anos de idade ou mais e concordassem em participar da pesquisa
mediante aceitação e assinatura do termo de consentimento livre esclarecido (TCLE). Adotouse como critério de exclusão os que não se adequaram nestes quesitos. Na ocasião da coleta de
dados, a população de mulheres com câncer cadastradas pela ONG era de vinte e cinco (25).
Deste modo, a amostra utilizada nesta pesquisa representou 40% da população estudada.
Os dados foram coletados no período de julho a setembro de 2016. Como instrumento
de coleta de dados utilizou-se um questionário elaborado pela autora do estudo, que
apresentou quais os principais recursos de enfrentamento utilizados por uma pessoa que
recebe o diagnóstico de câncer até o tratamento. O questionário foi composto por duas (2)
partes. A primeira parte compôs-se por dados de caracterização de perfil dos sujeitos (idade,
escolaridade, profissão/ocupação, estado civil e religião), seguido por um roteiro de quatorze
(14) perguntas, das quais, dez (10) foram fechadas, com a possibilidade de respostas
múltiplas, e quatro (04) perguntas abertas relacionadas à vivência das entrevistadas sobre o
percurso da doença.
Com a resposta positiva das voluntárias para o estudo, foi estabelecido contato com as
mulheres que aceitaram participar da pesquisa, para a definição de datas e horários para
aplicação do instrumento, de acordo com a disponibilidade das participantes e pesquisadores.
Deste modo, o questionário foi aplicado nas dependências da ONG, bem como na casa das
voluntárias, onde as mesmas se sentiam mais à vontade. A pesquisadora deu opção para as
entrevistadas responderem sozinhas o questionário ou responderem diretamente para a
pesquisadora, sendo que eventuais dúvidas foram esclarecidas no momento da aplicação.
Os resultados obtidos através das perguntas abertas foram analisadas por meio da
técnica de análise de conteúdo, proposta por Bardin (2007). Sendo identificadas as unidades
temáticas das respostas das entrevistadas, estas foram agrupadas por convergência dos
significados, classificadas e agregadas em categorias semelhantes, com intuito de atingir os
objetivos do estudo. Já os dados quantitativos, foram analisados e descritos através da
frequência absoluta e porcentagem. Vale ressaltar que algumas perguntas permitiam respostas
múltiplas, não sendo possível haver uma somatória total de cem porcento da amostra.
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Recursos de enfrentamento no percurso da doença oncológica
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O presente estudo foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa – CEP
da Faculdade de Rolim de Moura (FAROL), com número de CAAE 53547716.9.0000.5605,
garantindo assim o respaldo ético da pesquisa. Todos os sujeitos de pesquisa assinaram o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido em duas vias, ficando uma delas com o
participante.
4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Participaram desse estudo 10 mulheres, com idade variando entre 39 e 64 anos
(média=51,4). Na ocasião do estudo, a população de mulheres com câncer cadastradas pela
ONG era de vinte e cinco (25). Deste modo, a amostra desta pesquisa representou 40% (n=10)
da população estudada. Vale ressaltar, que a pesquisadora compareceu em dois (2) encontros
mensais, para conseguir tal número de sujeitos. Contudo, houve limitações na disponibilidade
das mulheres. Por se tratar de um problema de saúde, muitas estavam em tratamento, o que
demandava tempo e viagens para outras cidades. Além disso, também houve
indisponibilidade devido às próprias consequências da doença (por exemplo, mal estar físico,
como enjoos e cefaleias).
Tabela 1- Caracterização de perfil das entrevistadas (n=10)
Caracterização de perfil
Escolaridade
Não alfabetizado
Ensino fundamental
Ensino médio
Ensino superior
Profissão ou ocupação
Do lar
Doméstica encostada
Vendedora
Professora
Estado civil
Casada
Divorciada
União estável
Religião
Evangélica
Católica
Espírita
Região do corpo que o câncer se manifestou
Mama
Útero
Intestino
Fonte: Próprio autor (2016).
Porcentagem (%)
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10%
20%
50%
20%
70%
10%
10%
10%
50%
20%
30%
60%
30%
10%
60%
30%
10%
71
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Karine da Fonseca Gomes, Alessandra Cardoso Siqueira e Antônio Carlos Zandonadi
Dentre o total de mulheres entrevistadas, verificou-se reduzido percentual de mulheres
não alfabetizadas, equivalente a 10% (n=1) da amostra; 20% (n=2) tinham ensino
fundamental; enquanto 50% (n=5) tinham ensino médio completo e 20% (n=2), nível
superior. Quanto à situação empregatícia, 70% (n=7) referiram exercer atividades do lar, sem
remuneração salarial; 10% (n=1) referiu exercer atividades do lar com remuneração salarial;
assim como 20% (n=2) exercem atividade laboral remunerada, fora do contexto do lar, sendo
uma participante vendedora e outra professora. No que se refere à situação conjugal, 50%
(n=5) declararam-se casadas; 30% (n=3) viviam com companheiros em união estável e 20%
(n=2) eram divorciadas. Em relação à religião 60% (n=6) referiu-se como evangélica; 30%
denominou-se (n=3) católica e 10% (n=1) espírita. A localização primária que o câncer se
manifestou foi predominante na mama, equivalente à 60% (n=6) da amostra; seguido pelo
útero 30% (n=3) e intestino 10% (n=1).
Em relação ao tipo de atitude tomada a partir da detecção do câncer, 100% (n=10)
das entrevistadas afirmaram ter procurado um médico especialista como forma de resolução
para o problema. Além disso, 10% (n=1) da amostra, também referiu ter procurado opinião
familiar.
Referente os tipos de procedimentos médicos submetido, o gráfico 1 ilustra os
percentuais obtidos através de respostas múltiplas das participantes. 90% (n=9) referiu ter se
submetido à quimioterapia; 70% (n=7) passou por algum tipo de cirurgia; 50% (n=5) referiu
ter realizado radioterapia; 20% (n=2) referiu ter recebido atendimento psicológico durante o
tratamento e 10% (n=1) relatou ter realizado outros procedimentos, como braquiterapia.
Quadro 1: Tipos de procedimento médicos submetidos
Tipos de procedimentos médicos submetido
Outros
Terapia psicológica
Radioterapia
Cirurgia
Quimioterapia
0%
Fonte: Próprio autor (2016).
20%
40%
60%
80%
100%
Dentre os sentimentos mais frequentes no percurso da doença oncológica, descreve-se
abaixo na tabela 2 os resultados da pesquisa em percentuais com frequência absoluta.
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Tabela 2 – Sentimentos mais frequentes no percurso da doença oncológica
Sentimentos mais frequentes
Como você lidou com os sentimentos após o diagnóstico do câncer?
Procurei guardar para mim mesma os meus sentimentos
De alguma forma extravasei meus sentimentos
Procurei fugir dos problemas e das pessoas em geral
Falei com alguém sobre como estava me sentindo
Magnitude do sentimento de esperança no percurso da doença (escala de 0 a 5)
04
05
Fonte: Próprio autor (2016).
Porcentagem (%)
20%
20%
10%
50%
10%
90%
Em relação à pergunta como você lidou com os sentimentos após o diagnóstico do
câncer, ilustrada acima na tabela 2, percebe-se que 20% (n=2) das participantes do estudo
referiram ter guardado para si os próprios sentimentos; 20% (n=2) referiu ter de alguma forma
extravasado os próprios sentimentos; 10% (n=1) referiu ter fugido dos problemas e das
pessoas em geral, em nota destaca-se que esta mesma participante relatou ter apresentado
depressão e estresse. Já a maioria da amostra, 50% (n=5) referiu ter compartilhado com
alguém seus sentimentos. Quanto à magnitude do sentimento de esperança presente no
percurso da doença, as participantes assinalaram apenas duas alternativas em uma escala de 0
à 5. Deste modo, 10% (n=1) indicou nível 4 de esperança, enquanto que 90% (n=9) da
população estudada referiu nível 5, representando o máximo de esperança na cura.
Referente às estratégias de enfrentamento utilizadas pelas participantes, 70% (n=7)
referiu ter utilizado estratégias espirituais; 60% (n=6) utilizou estratégias sociais (frequentar
clube, grupo de apoio, conversar com amigos); 30% (n=3) utilizou exercícios físico e técnicas
de relaxamento. Vale ressaltar que os sujeitos da pesquisa relataram mais de uma estratégia de
enfrentamento e, desta forma, os percentuais acima descritos refletem múltiplas estratégias
utilizadas pelos sujeitos da pesquisa.
seguir:
Dentre os recursos de enfrentamento com respostas múltiplas, segue a tabela 3 a
Tabela 3 – Recursos de enfrentamento
Recursos de enfrentamento
Tratamentos procurados como recurso de enfrentamento
Grupo de apoio
Atividade de lazer como válvula de escape
Atendimento psicológico
Homeopatia
Porcentagem (%)
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20%
20%
10%
10%
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Karine da Fonseca Gomes, Alessandra Cardoso Siqueira e Antônio Carlos Zandonadi
Entidades religiosas
Outros
Tipo de apoio/suporte mais frequente e significativo para o enfrentamento da
doença
Familiar
Grupo de apoio
Amigos
Equipe médica
Diante do sentimento de insegurança, medo, vulnerabilidade o que à fez
tranquilizar-se e enfrentar a doença?
Fé ou espiritualidade
Família
Lazer
Remédio
Apoio social/grupo de apoio
Fonte: Próprio autor (2016).
80%
20%
100%
20%
60%
70%
100%
70%
10%
20%
20%
Quanto ao tipo de tratamento procurado como recurso de enfrentamento, 20% (n=2)
das participantes referiu ter utilizado grupo de apoio; também 20% (n=2) referiu ter aderido
alguma atividade de lazer como válvula de escape; apenas 10% (n=1) utilizou do recurso de
atendimento psicológico; assim como, 10% (n=1), utilizou de homeopatia. Contudo, 80% (8
pessoas em cada 10), utilizou alguma entidade religiosa como recurso de enfrentamento. 20%
(n=2) ainda utilizou algum outro recurso. Referente ao tipo de apoio/suporte mais frequente e
significativo para o enfrentamento da doença 100% (n=10) referiu ter sido o apoio familiar;
20% (n=2) revelou ter sido grupo de apoio; 60% (n=6) classificou os amigos como suporte e
70% referiu ter sido equipe médica. Acerca da pergunta Diante do sentimento de insegurança,
medo, vulnerabilidade o que à fez tranquilizar-se e enfrentar a doença, 100% (n=10) referiu
ter sido a fé ou espiritualidade que à tranquilizou; bem como 70% (n=7) referiu ter sido a
família; 10% (n=1) citou ter sido o lazer; 20% (n=2) mencionou o remédio; também 20%
(n=2) referiu o apoio social/grupo de apoio.
Em relação a importância da espiritualidade frente ao diagnóstico do câncer, todas as
entrevistadas referiram ter sido esta a principal motivação e fonte de esperança na cura.
Quando questionadas se já tinham passado por algum tipo de situação inesperada
parecida, 60% (n=6) referiram ter sido essa a primeira vez que enfrentaram tal situação. Os
demais sujeitos da amostra, 40% (n=4) referiram ter vivenciado outros problemas de saúde,
como perda de filhos e cirurgia.
Em relação a reação frente aos procedimentos médicos, 80% da amostra (n=8)
referiram tranquilidade, acreditando na cura. 10% (n=1) referiu um medo inicial, porém logo
em seguida houve aceitação. Outros 10% (n=1) relataram ter tido dificuldade com os enjoos
provocados pelo procedimento de quimioterapia.
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Karine da Fonseca Gomes, Alessandra Cardoso Siqueira e Antônio Carlos Zandonadi
5 ANÁLISE DOS RESULTADOS
Com base nos resultados apresentados, pode-se, em primeiro lugar, afirmar que a
pesquisa contemplou satisfatoriamente o objetivo de identificar as principais estratégias de
enfrentamento apresentadas pela população em estudo. Observou que, conforme dados da
literatura, entre as formas de negação que os pacientes podem manifestar, destaca-se o
otimismo exacerbado, ou seja, quando mesmo com o diagnóstico da doença o paciente não
considera a possibilidade de um prognóstico grave (BLUMENFIELD; TIAMSON-KASSAB,
2010). Contudo, é comum que a negação seja uma defesa temporária, e até mesmo adaptativa,
seguida de uma aceitação parcial, desde que não interfira em o paciente receber atendimento
profissional apropriado (KUBLER-ROSS, 1996; BLUMENFIELD; TIAMSON-KASSAB,
2010).
Apesar do impacto causado pelo diagnóstico da doença, e a inevitável associação com
a morte, foi identificado em todas as entrevistadas que a primeira forma de enfrentamento da
doença se fez por meio da procura por um médico especialista, e adesão à diversos tipo de
tratamento, corroborando com o estudo de Panobianco et al. (2012), que considera tal atitude
como mobilização para obter a cura. Pode ainda ser correlacionada à duas (2) circunstâncias
gerais de categorização de estratégia de enfrentamento, sendo a busca de informação e a ação
direta (PEÇANHA, 2008 apud COHEN e LAZARUS, 1979).
Referente ao tipo de apoio e suporte mais frequente e significativo para o
enfrentamento, percebeu-se o suporte familiar como um dos mais importantes, presente em
todas as entrevistadas, além da equipe médica e amigos, identificados como suportes
secundários. Dados semelhantes foram apresentados no estudo de Panobianco et al. (2012),
em que o apoio familiar representou para as mulheres estudadas segurança e força para
enfrentar o tratamento.
Citando as ideias de Valle (1997) Teles e Valle (2010), descrevem que quando o
sujeito se depara com essa doença grave, começa a refletir acerca do sentido da vida, o seu
papel familiar, os limites sobre o que é tolerável em seu corpo, além é claro do conceito da
morte. A capacidade de enfrentamento do doente oncológico também está relacionada à
resiliência, que é visto por Rutter (1987 apud TELES; VALLE, 2010, p. 63) como uma
capacidade pessoal de superar as adversidades, sendo constituída pela habilidade do sujeito
“[...] em lidar com mudanças, por sua confiança na auto eficácia e pelo repertório de
estratégias e habilidades de que dispõe para enfrentar os problemas com os quais se depara”.
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Karine da Fonseca Gomes, Alessandra Cardoso Siqueira e Antônio Carlos Zandonadi
No presente estudo foi possível observar a resiliência das mulheres entrevistadas, citada pelos
autores acima, através dos sentimentos demonstrados após o diagnóstico do câncer e como
elas lidaram com isso, sendo que a maioria (50%) relatou ter compartilhado com alguém seus
sentimentos ou ainda, procurou extravasar os sentimentos de alguma forma (20%). Contudo,
algumas guardaram para si os próprios sentimentos (20%) e (10%) fugiu dos problemas e das
pessoas em geral.
Outros tipos de recursos de enfrentamento também foram citados como utilizados,
sendo, atividades físicas, recursos psicointelecuais (meditação, artesanato), sociais (grupos de
apoio, lazer em clubes, conversar com amigos), bem como, recursos espirituais, como
afirmam em seus estudos Lorencetti e Simonetti (2005 apud PEÇANHA, 2008).
Esta pesquisa indicou também, a ausência de um recurso importante apresentado pelo
INCA (2015) por meio dos estudos de Costa Junior (2001) que refere-se à assistência
psicológica no âmbito oncológico. Os atendimentos psico-oncológicos comumente priorizam
o entendimento do doente frente à sua saúde e circunstância de vida, proporcionando
estratégias efetivas de enfrentamento da doença. Das entrevistadas neste estudo, referiram este
tipo de assistência 20% da população estudada, correlacionando a assistência psicológica
como procedimento médico submetido. Contudo, apenas 10% referiu o atendimento como
sendo tipo de tratamento procurado como recurso de enfrentamento. Ou seja, apesar da
importância e benefício de tal assistência, ainda é pouco frequente no enfrentamento da
doença.
Além do apoio familiar e outros recursos importantes utilizados no enfrentamento da
doença, este estudo observou que dentre as mulheres estudadas, todas demonstraram a fé e a
espiritualidade como sendo a principal motivação e fonte de esperança na cura. O INCA
(2015) que cita as ideias de Fornazari e Ferreira (2010) e Guerreiro et al. (2011) indica que a
maioria dos pacientes oncológicos atribui à fé e à espiritualidade a evolução positiva do
tratamento. A fé é cultural e acompanha o indivíduo em distintas situações da vida. Sendo
indispensável considerá-la como um recurso para adquirir esperança e apoio frente o câncer.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo permitiu observar os principais recursos utilizados pela população
estudada. Assim, percebeu-se claramente que os recursos e estratégias de enfrentamento são
fundamentais e acompanham os indivíduos acometidos pela doença oncológica em toda sua
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Karine da Fonseca Gomes, Alessandra Cardoso Siqueira e Antônio Carlos Zandonadi
trajetória. Mesmo antes da descoberta do diagnóstico, as participantes deste estudo relataram
preocupação, mobilizando recursos de enfrentamento para a resolução do problema, sendo a
busca por um médico especialista e adesão a algum tipo de tratamento hospitalar, unânime
entre elas.
Observou-se, ainda, o quão significativo se faz o apoio e suporte familiar no percurso
da doença, como fonte de motivação, segurança, conforto e força para continuar o tratamento,
visto, o sofrimento e desconforto causados pelos diversos tipos procedimentos submetidos.
Este dado concorda com muitas pesquisas, como a de Panobianco et al. (2012) e INCA
(2015). Dentre os resultados obtidos, destaca-se que os procedimentos mais frequentes são
quimioterapia e cirurgia.
Outros recursos destacado na pesquisa como importante, refere à fé e a espiritualidade,
a qual as representou a principal fonte de esperança na cura. Além destes, atividades de lazer,
recursos psicointelectuais, apoio social de amigos entre outros. Observa-se que apesar do
câncer ser comum a todas, cada uma mobilizou formas de enfrentamento conforme suas
crenças individuais baseadas nas experiências vivenciadas anteriores à doença.
Apesar do uso de diferentes recursos de enfrentamento, é valido destacar a ausência do
atendimento psicológico como apoio, sendo um recurso que poderia auxiliar a organização
dos sentimentos, possibilitando o doente oncológico ter melhores condições em lhe dar com a
doença, mobilizando novas formas de enfrentamento. Neste ensejo, faz-se necessário novos
estudos na área e mais equipes de profissionais especializados em psico-oncologia.
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Recebido para publicação em fevereiro de 2017
Aprovado para publicação em março de 2017
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