OS EFEITOS DA URBANIZAÇÃO NA QUALIDADE E NA

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VI Seminário Latino Americano de Geografia Física
II Seminário Ibero Americano de Geografia Física
Universidade de Coimbra, Maio de 2010
OS EFEITOS DA URBANIZAÇÃO NA QUALIDADE E NA DISPONIBILIDADE
DE ÁGUA. ESTUDO DE CASO DA REGIÃO METROPOLITANA DE PORTO
ALEGRE -RMPA – RS. BRASIL
Adriana de Fátima Penteado
Universidade de São Paulo – USP
[email protected]
Jurandyr Luciano Sanches Ross
Universidade de São Paulo – USP
[email protected]
1. INTRODUÇÃO
Em 1940 apenas 31% da população brasileira era urbana, em 1980 esse índice
atinge 68,86% configurando, num período de quatro décadas, um rápido processo de
urbanização. No que se refere a industrialização, de 1940 a 1980, o Produto Interno
Bruto - PIB brasileiro cresceu 7% ao ano, o que correspondeu sem dúvida a um
aumento excepcional da economia.
As novas indústrias exigiam grandes áreas e promoveram ainda mais a
concentração da população, pois necessitavam proximidade de centros urbanos
capazes de fornecer força de trabalho, facilidades de meio de transporte, proximidade
de infra-estrutura e serviços complementares. Esta concentração espacial levou à
metropolização das capitais brasileiras (FUJIMOTO, 1991). Entre 1973 e 1974 são
criadas as nove regiões metropolitanas brasileiras: de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo
Horizonte, Recife, Salvador, Curitiba, Belém, Fortaleza e Porto Alegre.
A Região Metropolitana de Porto Alegre - RMPA localiza-se no estado do Rio Grande
do Sul, Brasil, com uma superfície aproximada de 9.800,194 km², é constituída por 311
municípios, num total de 3.718 milhões de habitantes (METROPLAN, 2009)
concentrando cerca de 40% da população do estado. Seus municípios apresentam, em
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Alvorada, Araricá, Arroio dos Ratos, Cachoeirinha, Campo Bom, Canoas, Capela do Santana,
Charqueadas, Dois Irmãos, Eldorado do Sul, Estância Velha, Esteio, Glorinha, Gravataí, Guaíba, Ivoti,
Montenegro, Nova Hartz, Nova Santa Rita, Novo Hamburgo, Parobé, Portão, Porto Alegre, Santo
Antonio da Patrulha, São Jerônimo, São Leopoldo, Sapiranga, Sapucaia do Sul, Taquara, Triunfo, Viamão.
Fonte: Metroplan, 2009.
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Tema 3- Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais.
geral, forte industrialização, além de centros comerciais, de ensino, militares e
petroquímicos.
1.1. OBJETIVO
O objetivo geral deste trabalho é discutir alguns efeitos da urbanização e da
industrialização na qualidade e na disponibilidade de água na Região Metropolitana de
Porto Alegre – RMPA. Para atingir tal objetivo foram feitas pesquisas bibliográficas e
pesquisas de campo.
2. RESULTADOS
2.1 CONCENTRAÇÃO URBANO-INDUSTRIAL DA RMPA E SEUS EFEITOS AMBIENTAIS
NA ÁGUA
No que se refere à questão industrial da Grande Porto Alegre (Figura 01), podemos
distinguir, de forma geral, quatro zonas segundo a ordem cronológica de
desenvolvimento. A primeira e mais antiga, situa-se junto às instalações portuárias e à
via-férrea de Porto Alegre, como continuidade ao estabelecimento de um comércio
atacadista (MOLD, 1973).
A segunda zona industrial ocorre ao longo da BR 116, ligando as cidades de Canoas,
Esteio, São Leopoldo e Novo Hamburgo. O desenvolvimento comercial e industrial de
Novo Hamburgo e São Leopoldo criou laços com os municípios vizinhos,
correspondendo à continuidade dos espaços urbanos no limite norte da região
metropolitana.
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FIGURA 01: Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) e os principais centros urbanos a
partir do desenvolvimento industrial.
Elaboração: Adriana Penteado, 2005.
Devido ao baixo custo, os terrenos alagadiços às margens dos rios dos Sinos e do rio
Gravataí, no município de Canoas, atraíram grande quantidade de operários. No
período de cheia dos rios as inundações formam um contingente de flagelados (MOLD,
1973).
Na direção NE, ao longo do eixo viário que conecta os municípios de Gravataí e
Cachoeirinha, estrada que dá acesso a São Paulo pelo litoral, estabeleceu-se a terceira
zona industrial da cidade, acompanhada de loteamentos e surgimento de vilas pobres,
cujo limite de expansão compreende a várzea do rio Gravataí.
Já à sudoeste encontra-se a quarta zona industrial, de surgimento recente e que se
estabeleceu também ao longo da BR 116, porém após a travessia do Guaíba. As
restrições de urbanização neste local também estão ligadas à presença de terrenos
alagadiços. É fato, na cidade de Guaíba, o surgimento de vilas tendendo a aproximar-se
das estradas, provocando uma expansão do crescimento nesta direção.
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Tema 3- Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais.
A RMPA é formada por seis bacias hidrográficas (Guaíba, Gravataí, Sinos, Caí, Baixo
Jacuí e Taquari Antas) e, devido à grande demanda e ao mau uso da água possui
conflitos de disponibilidade e qualidade, sintetizados no quadro 01:
Quadro 01: Principais conflitos pelo uso da água e problemas ambientais da RMPA.
Insuficiência hídrica nos meses de verão.
Drenagem e aterro de planícies de inundação
Extração de água subterrânea acima da capacidade de recarga e fora
dos parâmetros de potabilidade devido ao excesso de flúor.
Lançamento de esgotos domésticos pouco ou não tratados,
comprometendo a qualidade das águas principalmente em situações de baixas
vazões
Lançamentos de efluentes industriais acima da capacidade de
assimilação do rio em períodos de baixas vazões no trecho médio – baixo.
Conflito de quantidade entre abastecimento humano e irrigação.
Conflito de qualidade entre os lançamentos de esgotos e efluentes
com outros usos (principalmente o abastecimento humano, lazer e preservação
ambiental).
Disposição indevida dos resíduos sólidos na Região Metropolitana
de Porto Alegre, gerando contaminação de recursos hídricos. Exemplo:
destinação incorreta de embalagens de agrotóxicos.
Mineração desordenada (carvão, caulim, calcário, argila, areia e
pedra grês), gerando assoreamento e poluição dos recursos hídricos.
Mau uso do solo e desmatamento nas encostas com alta
declividade, o que gera a acentuação dos processos erosivos e modificações no
balanço hídrico.
Fonte: Adaptado da Secretaria de Meio Ambiente – SEMA -RS, 2007.
Quanto ao Índice de Qualidade da Água - IQA para as seis bacias, em geral a
qualidade é melhor nas áreas próximas as nascentes, com gradativa piora no sentido
de montante para jusante, principalmente em áreas com maior adensamento
populacional.
A bacia hidrográfica que apresenta o melhor IQA é a do rio Caí, com qualidade
variando entre regular e boa. As bacias com IQA mais crítico, são a do rio dos Sinos,
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variando entre bom - regular a muito ruim, e a bacia do Gravataí variando entre ruim a
muito ruim. As bacias do rio Gravataí e do rio dos Sinos possuem a maior concentração
populacional da RMPA com 19,14% e 18,60% respectivamente.
2.1.1 EFEITOS DA INDÚSTRIA DE COURO
O Brasil é um dos líderes mundiais na exportação de couros, porém, com pouca
agregação de valor. Do total comercializado no exterior, 80% é em estágio primário de
curtimento e apenas 20% como produto inteiramente manufaturado, (Associação
Brasileira das Indústrias de Calçados – ABICALÇADOS, 2009).
As indústrias de couros e peles, um dos ramos produtivos com maior potencial
poluidor, correspondem juntamente com o setor calçadista, à atividade industrial
predominante no Rio Grande do Sul2. Durante décadas, consideráveis volumes de
efluentes líquidos das empresas de couros e peles, com elevada carga poluidora
orgânica e inorgânica, foram lançados in natura nos rios do Estado, sendo os resíduos
sólidos depositados diretamente no solo, geralmente nas margens dos rios ou em
áreas consideradas improdutivas, como terrenos alagáveis, (KRIEGER 2000, apud
RODRIGUES 2007).
O despejo de curtume contém grande quantidade de material putrescível
(proteínas, sangue, fibras musculares) e de substâncias tóxicas (sais de cromo, sulfeto
de sódio, cal livre e compostos arsenicais), que geram com facilidade gás sulfídrico,
podendo tornar a água dos corpos receptores imprópria para fins de abastecimento
público, usos industriais, agrícolas e recreacionais (BRAILE & CAVALCANTE, 1993).
O cromo é o principal material utilizado para o curtimento, (no mundo 80% e no
Brasil ultrapassando os 90%).
Os dois estados de oxidação do cromo3 mais estáveis são: Cr (III)4 (óxido de cromo),
existindo naturalmente na natureza, e o Cr (VI)5 (hexavalente), em geral produzido por
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As principais fábricas de calçados do Vale do rio dos Sinos estão localizadas nas cidades de Sapiranga,
Campo Bom, Dois Irmãos, Ivoti e Novo Hamburgo. Esta última sediou, no final do século 19, as primeiras
grandes indústrias e até hoje é conhecida como capital nacional do calçado. Numa área de 140
quilômetros, a região do Vale abriga um número estimado de 1.700 fábricas de calçados e de
componentes, indústrias de máquinas e equipamentos e curtumes. (Associação Brasileira das Indústrias
de Calçados – ABICALÇADOS, 2009).
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O Cr (III) é oligoelemento e participa na permeabilidade dos vasos sanguíneos; a sua falta absoluta
favorece o diabetes, pois o cromo é necessário para assimilar o açúcar dos alimentos. Já o Cr (VI)
(cromatos, dicromatos) é cancerígeno ao ser humano. Lesões renais e hepáticas são também relatadas,
(VAITSMAN, et al., 2001).
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Tema 3- Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais.
processos industriais. Eles são drasticamente diferentes em suas propriedades físicoquímicas e bioquímicas, o primeiro é elemento essencial e o segundo é elemento
tóxico no metabolismo de vários organismos vivos.
Além dos despejos químicos nos rios de substâncias tóxicas para a saúde humana e
o meio ambiente, é comum encontrar aterros clandestinos dos restos da indústria
coureiro-calçadista (FOTOGRAFIA 01) e assim destinados, liberam por décadas
substâncias que poluem o solo e o subsolo atingindo também a água do lençol.
FOTOGRAFIA 01: Despejo irregular dos rejeitos da indústria coureira-calçadista, planície de
inundação do rio dos Sinos.
Fonte: Adriana Penteado, 05/2006.
Em alguns casos esses rejeitos são colocados em sacos plásticos e jogados em
terrenos baldios. Estes materiais de pequenos tamanhos e variadas cores, poderiam
ser utilizados para a produção de artesanato: bolsas, pulseiras, almofadas, etc.
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O Cr (VI) penetra facilmente nas membranas biológicas, formando complexos com o DNA, tendo ainda
potencial ação oxidante sobre o mesmo. Altera a função de enzimas, os parâmetros químicos do sangue,
diminui a resistência a agentes patogênicos causa alterações de comportamento, perda de apetite,
alterações histopatológicas, inibição da fotossíntese e alterações populacionais. No ecossistema pode
ter efeitos tóxicos entre moderados e agudos sobre plantas, aves, peixes, mamíferos, etc. Não degrada
facilmente, havendo um grande potencial para sua acumulação em peixes (COMISSÃO INTERNA DE
SEGURANÇA QUÍMICA, 2004).
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2.1.2 EFEITOS DA MINERAÇÃO – PEDRA GRÊS
Na área de estudo a mineração caracteriza-se pela exploração de carvão, caulim,
calcário, argila, areia e arenito. Para este artigo será destacada a mineração do arenito
Botucatu, extraído em forma de laje, conhecida localmente como pedra grês.
Estas pedras são muito comercializadas nos municípios do Rio Grande do Sul e em
menor quantidade para o estado de Santa Catarina e Paraná. Podem ser utilizadas
como tijolos ou revestimento de calçadas.
Segundo Collaço (2003), são graves os problemas gerados pela extração do arenito.
A flora, os recursos hídricos e paisagísticos são permanentemente atingidos pela
atividade de mineração, e a mata nativa que se estende sobre as escarpas, é
constantemente agredida pelos rejeitos.
O impacto ambiental dessa atividade extrativa causa alterações no meio físico e na
biota por meio da erosão e do assoreamento, causando modificação na qualidade das
águas circundantes, supressão da vegetação para limpeza e abertura das bancadas e o
impacto visual causado pela retirada do arenito.
A fotografia 02 demonstra o assoreamento de uma planície de inundação devido à
destinação incorreta dos rejeitos produzidos pela extração da pedra grês. Segundo o
Ministério Público do Rio Grande do Sul, aproximadamente 500 frentes de lavra foram
identificadas somente no município de Taquara.
FOTOGRAFIA 02: Rejeitos da extração do arenito Botucatu em planície de inundação no
município de Taquara - RS.
Fonte: Adriana Penteado 12/2009.
A falta de um regramento e de um planejamento de forma técnica durante a lavra
implica aumento da produção de rejeitos na medida em que as direções de melhor
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Tema 3- Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais.
aproveitamento não são seguidas. Igualmente a falta de técnico responsável que
oriente a extração durante o dia-a-dia da atividade acarreta maior desperdício do
produto extraído em função da ausência de controle nas direções preferenciais de
extração.
As atividades mineradoras que existem em grande número visam a atender a
demanda da construção civil e do desenvolvimento urbano local. Estas não
apresentam planejamento, o que as tornam predatórias. Freqüentemente são
abandonadas de forma precoce e sem nenhum cuidado (CPRM, 2008).
2.1.3 ATERROS DE PLANÍCIES DE INUNDAÇÃO – TERRAS ÚMIDAS
Segundo PROTEGER (1994), a ocupação urbana ao longo da rede de drenagem
superficial tem sido cada vez mais intensa. Na Região Metropolitana de Porto Alegre –
RMPA, historicamente, as áreas urbanas e eixos de colonização desenvolveram-se a
partir dos cursos de água, junto às margens, pois estes eram os caminhos naturais de
comunicação entre diferentes regiões. Assim, o padrão da ocupação foi determinado
pela hidrografia.
Com o passar do tempo os eixos hidrográficos foram substituídos pelos rodoviários,
porém, manteve-se a mesma distribuição espacial de ocupação urbana e circulação. Os
eixos rodoviários aceleraram o processo de ocupação de grandes contingentes
populacionais, que ocuparam principalmente as planícies de inundação dos cursos de
água (PROTEGER, 1994).
Para a ocupação destas planícies, muitas terras úmidas foram aterradas ou
modificadas na sua dinâmica hídrica; construção de açudes, mudanças hidrológicas,
alteração na qualidade da água, eutrofização, assoreamento, etc.
A fotografia 03 é de uma ocupação irregular em área de planície onde se verifica a
grande presença de lixo. Isto é conseqüência de anos de despejos solicitados pelo
antigo morador que tinha uma criação de porcos no local, e este rejeito além de servir
de alimento para os animais, aterrava a área que é naturalmente sujeita a cheias.
No local é intenso o mau cheiro e a presença de moscas. O chorume liberado pelo
lixo polui a água que é utilizada para o abastecimento público.
É possível também identificar na RMPA o aterro das planícies de inundação com
restos de cerâmica, couro e rejeitos de pedreiras.
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FOTOGRAFIA 03: Aterro de planície de inundação com lixo – RMPA.
Fonte: Adriana Penteado, 2007.
3. CONCLUSÃO
A urbanização e a industrialização costumam ter muitos efeitos negativos sobre a
dinâmica hídrica de uma dada área, causando um enorme desequilíbrio no ciclo
hidrológico. Os efeitos negativos vão além da poluição da água, afetam todo um
sistema natural, que se torna cada vez mais artificializado.
O Brasil, comparado com muitos países, possui grande disponibilidade de água
doce, porém, novas formas de uso devem ser pensadas, pois a água é um recurso
indispensável para as mais primárias necessidades humanas e vem se escasseando ao
longo do tempo.
Neste contexto insere-se também a RMPA, onde inúmeros são os fatores que vêm
causando o declínio na disponibilidade e na qualidade da água.
4. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Brasileira
das
Indústrias
de
Calçados
ABICALÇADOS.
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http://www.qca.ibilce.unesp.br/prevencao/BMCISQ1004.html
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VAITSMAN, D. S.; AFONSO, J. C.; DUTRA, P.B. (2001) Para que servem os elementos
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