TRABALHANDO COM TEMAS GERADORES NA EDUCAÇÃO DO CAMPO Maria Raquel Coutinho Cavalcanti UFPB1 [email protected] Maria do Socorro Xavier Batista UFPB2 [email protected] Resumo Nesse texto apresentamos algumas reflexões resultantes de um projeto intitulado Educação do Campo e Extensão Rural no Assentamento Tiradentes localizado na zona rural do município de Mari, Paraíba, realizado através de uma ação educativa na Escola de Educação Infantil e Ensino Fundamental Tiradentes. O projeto teve como objetivo geral contribuir para promover e fortalecer o desenvolvimento sustentável nas dimensões econômica, agropecuária, ambiental e social da comunidade do assentamento e também para a construção do projeto político pedagógico da escola para a melhoria do processo ensino-aprendizagem. Foram realizadas oficinas onde analisamos e trabalhamos temas geradores que envolve a realidade do campo e suas especificidades. Palavras-chaves : Educação do Campo; Extensão Rural; Educação Popular. Introdução Esse trabalho apresenta resultados de um projeto de pesquisa e extensão Educação do Campo e Extensão Rural no Assentamento Tiradentes 3, localizado na zona rural do município de Mari, Paraíba. Tendo com foco a Educação o Campo, essa proposta tenta somar para construir uma rede de saberes e conhecimentos que 1 Aluna do Curso de Pedagogia – Educação do Campo e bolsista do projeto Professora, Doutora, Coordenadora do projeto 3 O projeto foi desenvolvido de abril a dezembro de 2010, sob a coordenação da professora Dra. Maria do Socorro Xavier Batista e a participação dos alunos voluntários Nadirjane Medeiros C. Nascimento e Gabriel Taciano, e a participação da técnica Sonia Regina Costa Cruvinel. O projeto foi pensado em associação com a Extensão Rural com professores e alunos do Campus de Bananeiras, mas em virtude de vários problemas somente se concretizaram as oficinas pedagógicas. 2 contribuam para orientação e organização das ações pedagógico-metodológicas desenvolvidas na Escola de Educação Infantil e Ensino Fundamental Tiradentes, a partir das discussões e das propostas de atividades desenvolvidas nas oficinas pedagógicas realizadas. Também era expectativa do projeto contribuir para a construção do projeto político pedagógico da escola e para a melhoria do processo ensino-aprendizagem buscando efetivar os princípios da Educação do Campo. O projeto tem como objetivo geral contribuir para promover o desenvolvimento sustentável nas dimensões econômica, agropecuária, ambiental e social da comunidade do Assentamento Tiradentes e para a inserção da Educação do Campo na Escola de Educação Infantil e Ensino Fundamental Tiradentes. O projeto teve como objetivos: a) Promover oficinas pedagógicas para contribuir para a formação continuada dos professores do ensino fundamental (1ª fase) da Escola Tiradentes buscando promover a melhoria do processo ensino-aprendizagem das escolas; b) Oferecer oficinas com temas envolvendo a agricultura familiar orgânica, técnicas de cultivo agroecológico e visitas de atendimento técnico, veiculando as atividades de pesquisa aos serviços ofertados; c) Promover um processo de reflexão sobre a prática escolar e sobre a conjuntura do meio rural ; d) Avaliar e discutir com os professores acerca do cotidiano da sala de aula , buscando o desenvolvimento de uma prática escolar embasada no princípio da Educação Popular, da Educação do Campo e da interdisciplinaridade. As oficinas foram realizadas abordando os seguintes temas geradores sugeridos pelos educadores da escola: Piscicultura; falta de chuva prejuízos para a agricultura; produção de material didático; meio ambiente- lixo; currículo no PPP da Escola. A Educação do Campo como entendida pelos movimentos sociais e pelas definições políticas e adotada pelo projeto é aquela focada nas especificidades dos povos que vivem no/do campo, ribeirinhos, caiçaras, extrativistas, pescadores, indígenas, quilombolas, assentados com suas histórias, seus valores, cultura e modo de vida diferente. É preciso que se direcione uma educação voltada para essas pessoas sem perder a qualidade e a essência das diferentes culturas que perfilam as diversas ruralidades que caracterizam os povos do campo. Essa visão de educação tem como base a Educação Popular que visa uma interação do homem com sua realidade para produzir conhecimentos. Para a definição dos temas no primeiro encontro foi realizada uma avaliação do trabalho desenvolvido no ano anterior e foram feitas sugestões de algumas atividades para serem desenvolvidas na escola: 1) fazer uma mostra da escola para a comunidade das atividades que a escola está desenvolvendo; 2) conhecer a experiência de criação de peixes do assentamento; 3) estudo do tema agrotóxicos; 4) Trabalhar o tema Clima: falta de chuva prejuízos para a agricultura. Assim, foram desenvolvidos temas voltados para a cultura dos assentados enriquecendo as situações de ensino e aprendizagem em sala de aula; problematização de situações do cotidiano, relacionando com os conteúdos e metodologia, a fim de dirigir os conteúdos curriculares à realidade do assentamento e do meio rural; promoção de ações que busquem integrar a escola com a comunidade e a participação dos assentados no projeto político pedagógico da escola; foram registrados para compartilhar com os colegas, a fim de produzir saberes advindos do processo de reflexão teórica e da prática histórica. As atividades foram desenvolvidas através de Oficinas Pedagógicas numa perspectiva de ação cultural e não de invasão cultural como criticava Paulo Freire (1971), com uma prática dialógica na qual se buscava suscitar os saberes e as práticas dos camponeses, problematizar e apresentar alternativas de práticas educativas, buscar soluções para os problemas enfrentados pelos camponeses na sua labuta com a produção agrícola e na criação de animais. Os movimentos sociais e a educação do Campo Para entender o paradigma da Educação do Campo fazemos algumas reflexões teóricas sobre os princípios e concepções que fundamentam a Educação do Campo, destacando-a como uma educação específica para os povos que vivem no/do campo, ribeirinhos, caiçaras, extrativistas, pescadores, indígenas, quilombolas, assentados com suas histórias, seus valores, cultura e modo de vida diferente é preciso que se direcione uma educação voltada para essas pessoas sem perder a qualidade e a essência das diferentes culturas que perfilam as diversas ruralidades que caracterizam os povos do campo. A discussão em torno dos conceitos de ruralidade e desenvolvimento indica que esses termos não são meros conceitos. São campos de disputa sobre diferentes concepções de sociedade, e que têm repercussões na vida cotidiana dos trabalhadores. O espaço rural é um fenômeno social, é produto da ação dos homens e mulheres sobre o meio natural, e enquanto fenômeno social este espaço é constituído historicamente. As idéias, noções e as representações que se faz do rural, são produções racionais que sofrem transformações no tempo e no espaço, entendido como um conjunto de objetos e um conjunto de ações. O impacto negativo do modelo modernizante, baseado nos princípios da Revolução Verde, fez sentir a necessidade de se propor alternativas que tivesse no seu campo de preocupações, não somente os aspectos econômicos, mas que contemplassem as variáveis sociais, culturais e ambientais com foco na conservação do meio ambiente. Foi a partir desse pensamento que discutimos temas relacionando essa preocupação mais ampla sobre o desenvolvimento com sustentabilidade e as questões pertinentes da realidade local na Escola Tiradentes e fazer com que todos refletissem a importância de um desenvolvimento sustentável. Os movimentos sociais se articulam no final dos anos 1990 e se organizam no sentido de lutar para que a sociedade brasileira conheça e reconheça a dívida social e educacional que tem com os diferentes povos que vivem no/do campo e para reivindicar que sejam efetivadas políticas de Educação do Campo busquem desenvolver o campo da agricultura familiar camponesa e as pessoas que nele trabalham. Para transformar a educação do campo os movimentos exigem a melhoria física das escolas, a qualificação dos professores; um currículo escolar cujo sustentáculo seja a vida, a cultura e valores dos camponeses em sua rica diversidade, a fim de que a aprendizagem possa contribuir para o desenvolvimento do meio rural. Os movimentos sociais do campo entendem a educação como aliada na luta por um desenvolvimento sustentável e solidário, como destaca Batista (2008, p. 23). Esses movimentos questionam a estrutura agrária, o modelo de desenvolvimento econômico e a matriz energética, exigem a demarcação das terras indígenas e das áreas quilombolas, defendem a necessidade de se implantar e difundir uma outra lógica de desenvolvimento apoiado em alternativas ambientalmente sustentáveis, socialmente democráticas e economicamente justas, centradas no desenvolvimento dos homens e mulheres, no desenvolvimento social e humano dos sujeitos do campo. As proposições da Educação do campo anunciam a educação como parte essencial de um projeto de sociedade e de campo. Nascimento (2009, p. 100) aponta três características próprias da educação do campo: Pode-se dizer que a educação básica do campo possui três características fundamentais: é um projeto político-pedagógico da sociedade civil que busca intervir nos fundamentos históricos da educação brasileira. Além disso, é um projeto popular alternativo para o Brasil e um projeto popular de desenvolvimento para a realidade campesina. O contexto em que a escola rural está inserida relaciona-se diretamente com a realidade descrita. O histórico das políticas agrárias no Brasil, o empobrecimento no campo, os problemas ecológicos relacionados com a produção agrícola, o descaso do poder público com relação à agricultura familiar, a histórica questão agrária com a inexistente ou má distribuição fundiária, a ausência de políticas voltadas para a agricultura familiar, contribuíram e contribuem para a evasão e fracasso escolar e para os altos índices de analfabetismo. A melhora na escola certamente repercute sobre a qualidade de vida dos homens e mulheres do campo que se tornam aptos (as) para manusear tecnologias que permitirão a prática de uma agricultura sustentável. Por outro lado, o investimento direto sobre a qualidade das práticas agrícolas contribui para uma melhoria nas situação social, econômica e cultural que favorece a permanência dos filhos dos camponeses na escola rural. A Educação do Campo como salienta Munarim (2008, p. 2) se constituiu a partir da luta dos povos do campo pela reforma agrária, de suas experiências, por isso não deve perder esse vinculo de origem. Antes de tudo, é bom afirmar que a luta pela Reforma agrária constitui a materialidade histórica maior de seu berço nascedouro, uma espécie de pano de fundo, de maternidade. A experiência acumulada pelo Movimento Sem Terra (MST) com as escolas de assentamentos e dos acampamentos, bem como a própria existência do MST como movimento pela terra e por direitos correlatos, pode ser entendida como um processo histórico mais amplo de onde deriva o nascente Movimento de Educação do Campo. A Educação do Campo foi germinada na luta pela reforma agrária e nas experiências de Educação Popular desenvolvidas pelos movimentos, pelos camponeses, com o apoio de entidades religiosas, universidades, sindicatos, partidos de esquerda e educadores identificados com as lutas sociais que gestaram práticas e reflexões educativas que foram germinando um projeto alternativo de educação que servisse aos interesses dos povos do campo No entanto, os frutos dessa constituição inicial vão se fortalecer a partir do I Encontro Nacional de Educadores da Reforma Agrária (Iº ENERA), em 1997, e posteriormente com a 1º Conferência Nacional Por Uma Educação Básica do Campo, realizada em 1998, que os movimentos sociais passam a denominar de Educação do Campo, um projeto de educação emancipadora, de um novo jeito de lutar e de pensar a educação para o povo brasileiro que trabalha e vive no/do campo. Por meio do processo de construção desta Conferência os Movimentos Sociais do Campo passaram a sistematizar uma nova referência para o debate e a mobilização popular: Educação do Campo e não mais educação rural ou educação para o meio rural (CALDART, 2004). Na 1º Conferência foi reafirmado que o campo deveria ser entendido como espaço de vida digna e a se afirmar a legitimidade da luta por políticas públicas específicas e por um projeto educativo próprio para seus sujeitos (CALDART, 2004). Especialmente diante da denúncia dos graves problemas de falta de acesso e de baixa qualidade da educação pública destinada à população trabalhadora do campo. A partir de então os movimentos sociais se mobilizam e logram algumas conquistas, sendo uma das mais importantes a aprovação das Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo (Resolução 01, de 2002, do Conselho Nacional de Educação) e a entrada da questão da Educação do Campo na agenda de lutas e de trabalho de um número cada vez maior de movimentos sociais e sindicais de trabalhadores do campo, pressionando sua inclusão na agenda de alguns governos municipais, estaduais e federal. Apesar de o paradigma da Educação do Campo estar em construção, algumas questões já estão definidas. A Educação do Campo pela sua origem nos movimentos sociais se opõe ao modelo de agricultura capitalista e afirma um projeto de campo para atender aos anseios dos camponeses, no qual a Reforma Agrária combinada com a agricultura camponesa e com agroecologia popular, apontam para uma sociedade com igualdade, justiça social, solidariedade e cidadania. Portanto tem um compromisso com as lutas sociais camponesas, luta pelos direitos das mulheres do campo, pela democratização do acesso à água e com a luta das crianças pelo seu direito à infância. Nesse projeto educativo é importante a superação da dicotomia rural e urbano que difundiu uma visão de que o modo de vida urbano é mais moderno e mais avançado e o campo da agricultura camponesa é arcaico e atrasado. Por isso é importante realçar e defender o campo como uma opção de vida digna, desde que contemplado com condições de vida dignos e com políticas públicas que atendam às necessidades e aos direitos dos povos que vivem no/do campo. Para fortalecer a Educação do Campo é importante avançar no sentido de tornar os programas de educação efetivos com a responsabilidade do poder público promovendo, financiando e respeitando as práticas comunitárias, as experiências das populações em seus processos institucionais. A educação somente se universaliza quando se torna um sistema público. A educação do campo deve ser adequada à realidade do campo considerando a identidade cultural dos povos do campo. As escolas do campo devem contemplar a diversidade do campo nas dimensões sociais, culturais, políticas econômicas, de gênero, geração e etnia. É fundamental a análise das condições de vida e de trabalho da realidade onde os alunos atuam e valorizar a cultura camponesa, a experiência de vida dos sujeitos do campo. Por isso, é papel da escola contribuir para construir um ideário que orienta a vida das pessoas e inclui também as ferramentas culturais de uma leitura mais precisa da realidade em que vivem. (Caldart, 2004). Para tanto é fundamental que a escola insira em seus processos de aprendizagem a realidade da comunidade onde está inserida. Problematize as questões mais pertinentes que demandam ações da comunidade, que provoque e convoque a família a dela fazer parte, para que juntos possam encontrar soluções e organização para lutar para conquistar seus projetos. A escola deve propiciar ações educativas nas quais o professor e o aluno são companheiros e aprendem e ensinam juntos; que organiza oportunidades para que as crianças se desenvolvam em todos os sentidos, incentivando e fortalecendo os valores do trabalho, da solidariedade, do companheirismo, da responsabilidade (Dossiê MST, p.31). O diálogo entre os professores e alunos é o princípio pedagógico. Outro elemento definido é que a Educação do campo deve estar vinculada a uma cultura que se produz por meio de relações mediadas pelo trabalho, entendendo trabalho como produção material e cultural de existência humana. (Referências para uma Política Nacional de Educação do Campo, MEC Grupo Permanente de Trabalho de Educação do Campo GPREC). O homem faz cultura por meio do seu trabalho, com o qual transforma a natureza e a si mesmo. E que o aperfeiçoamento de suas atividades só é possível mediante a educação, fator importantíssimo para a humanização e socialização, pois a transmissão da herança cultural se dá tanto na família quanto na escola. Tornar a educação verdadeiramente universal, formativa, de modo que socialize a cultura herdada, dando a todos os instrumentos de crítica dessa mesma cultura, só será possível pelo desenvolvimento da capacidade de trabalho intelectual e manual integrados. A educação deve instrumentalizar o homem como um ser capaz de agir sobre o mundo, e ao mesmo tempo, compreender a ação exercida. A escola não é transmissora de um saber acabado e definitivo, não devendo separar teoria e prática , educação e vida. Para que haja de fato uma gestão democrática, precisamos da participação da família no processo de socialização e educação, ensinando através do diálogo, o que as crianças devem fazer, como refletir, como pensar, debater e transformar para construir. Sabendo que a escola não é compreendida fora do contexto social e econômico em que está inserida, fizemos nosso estudo baseados em informações ditadas pela população do assentamento juntamente com nosso levantamento teórico. Temas Geradores na realidade do Assentamento Tiradentes No primeiro encontro houve a definição dos temas geradores sugeridos pelos educadores da escola: Piscicultura; falta de chuva prejuízos para a agricultura; produção de material didático; meio ambiente- lixo; currículo no PPP da Escola. No primeiro encontro realizamos uma visita para conhecer o projeto de criação de peixes e a horta orgânica desenvolvida por oito famílias de assentados, com o objetivo de obter renda e alimentação para as famílias. Esta visita buscava entender sobre a criação de peixes e dos cuidados com a água, a quantidade de ração consumida diariamente, a capacidade da população de peixes em cada tanque, uma vez que a piscicultura iria ser parte dos estudos que a escola faria. Outro tema gerador importante foi a falta de chuva e prejuízos para a agricultura. Nesse ponto demos uma atenção especial, pois tínhamos como objetivos promover um questionamento sobre a falta de chuva na região e as conseqüências para a comunidade e para a agricultura e estudar sobre a importância da chuva na vida do assentamento. Nesse momento os professores, gestor e representante da comunidade apresentaram aspectos da situação da agricultura, do clima e da estação de chuvas, sua importância para a produção agrícola local e elencaram os problemas que a comunidade estava vivenciando pela falta de chuvas até aquele momento. Todos tiveram uma história para contar sobre essa situação. A seguir apresentamos alguns temas desenvolvidos nas Oficinas e como a Escola desenvolveu os temas com seus alunos. No primeiro encontro foi realizada uma avaliação sobre a repercussão das oficinas realizadas em 2009, um levantamento de temas a serem trabalhados em 2010 e uma sondagem sobre os alunos matriculados na escola em 2010. Na avaliação foram apresentadas as dificuldades encontradas para dar seqüência ao currículo com os temas geradores sugeridos em 2009 em conseqüência da saída do supervisor e da falta de planejamento das atividades. Foram discutidas algumas questões a seguir pontuadas: dificuldades encontradas pelos educadores para trabalhar sobre os temas desenvolvidos no ano de 2009; problemáticas do dia-a-dia do assentamento que poderiam ser discutidas e trabalhadas nesse ano na escola. Tema Gerador: Piscicultura Esse tema foi objeto da oficina no dia 21/05/2010. O objetivo era Conhecer o funcionamento da criação de peixe e os cuidados que devem ter para uma cultura adequada.Dessa oficina resultou um estudo que professores e alunos fizeram do projeto todos os detalhes do projeto de criação dos peixes e horta orgânica com uma excursão didática para conhecimento, na qual os camponeses expuseram aos alunos e professores. Em seguida diversas atividades envolvendo conhecimentos de várias áreas de conhecimentos foram desenvolvidas com os alunos do 1º, 2º, 3º 4º e 5º anos. Foram realizadas atividades de leitura, de produção de textos e desenhos relativos ao assunto. Tema Gerador: Falta de chuva prejuízos para a agricultura / Clima Essa temática foi trabalhada na Oficina Pedagógica realizada em 04/06/2010. Esse tema surgiu em conseqüência da estiagem que estava afligindo os moradores do Assentamento Tiradentes, uma vez nessa região o período de chuvas vai de fevereiro a setembro e até o mês de junho as chuvas que caíram foram poucas e irregulares o que estava prejudicando a o plantio das culturas por eles produzidas e que são fonte de renda para as famílias. Com esse tema buscava-se promover um questionamento sobre a falta de chuva na região e as conseqüências para a comunidade e para a agricultura e estudar sobre a importância da chuva na vida do assentamento. As professoras realizaram diversas atividades sobre o tema Clima. A problematização inicial foi feita com um vídeo de uma reportagem retratando a seca no semi-árido paraibano e as conseqüências da seca na região, o gado morto, o pasto seco e o sofrimento do povo. Esse filme despertou nos alunos um momento de reflexão muito significativo, no qual eles compararam a situação de seca no semi-árido e na região onde eles residem. A partir daí as professoras realizaram diversas atividades, provocando os alunos a uma reflexão profunda acerca do assunto e assim despertou mais interesse para realizar suas tarefas, compor textos e produzir poemas e redações. Foram promovidas atividades que abordaram os problemas causados pela falta de chuva para a agricultura tais como da safra de feijão que não atingiu nem o mínimo desejado, assim como a mandioca que também sofreu com a chamada “seca verde”, que acontece quando o agricultor planta, mas não consegue colher por que a chuva não caiu no tempo certo e com a freqüência necessária. Também foi abordado o tema produção local e aí foram exploradas tais palavras geradoras: mandioca, solo, clima e chuva e agricultura, agrotóxico e agricultura orgânica e agricultura convencional, o trabalho na agricultura, comercialização da produção, agronegócio versus agricultura familiar, pecuária (animais criados no assentamento). Em outra oficina foi trabalhado tema meio ambiente e o lixo, tendo como objetivo promover a conscientização dos alunos e da comunidade quanto à forma de lidar com o lixo e incentivar a coleta seletiva no dia a dia dos alunos. Foram sugeridas e realizadas atividades para identificar e diferenciar os tipos de lixo, pesquisa com os pais sobre os tipos de lixo produzidos em casa, local de despejo do lixo e solicitadas sugestões dos pais sobre o destino do lixo. Foram produzidos diversos materiais didáticos como letras do alfabeto em material emborrachado para ser trabalhado como alfabeto móvel, jogos de formação de palavras com o tema em estudo, jogos para trabalhar matemática, entre outros. As professoras fizeram muitas tarefas com materiais e papéis reciclados, brinquedos e até roupas que foram confeccionadas com a ajuda dos alunos. Os jogos e brinquedos feitos com sucata geraram curiosidade e diversão para todos que a todo o momento externavam mais a sua criatividade. Foram feitas atividades como: confecção de mini-hortas com garrafas pet, tarefas de classe com a formação de palavras com o tema abordado, confecção de cartazes e cartões com sucata, confecções de fantoche e por fim quantificar os resíduos produzidos na escola dando a noção de desperdício diário e seleção/separação dos materiais. Foram trabalhados ainda o calendário com as datas comemorativas e mais algumas outras datas importantes do calendário específico do assentamento, como por exemplo, o assassinato de João Pedro Teixeira dia 2 de abril, Dia Nacional dos Trabalhadores Rurais 25 de julho. Assim, buscamos contribuir para superar as possíveis dificuldades no que se refere: ao domínio dos conteúdos básicos para o desenvolvimento de habilidades de leitura, escrita e contagem; possibilitar a presença do diálogo entre professores e alunos; incentivar a prática do planejamento de ensino voltado para a diversificação das atividades de aprendizagem; incentivar o uso de outros materiais complementares ao livro didático, como recurso didático; incentivar a participação dos alunos no processo de construção do conhecimento; planejar o currículo com conteúdos voltados para a realidade imediata e global do aluno; incentivar no professor uma postura democrática e participativa; incentivar a prática de uma avaliação contínua e participativa. Produzir materiais didáticos e jogos educativos a partir do uso de materiais recicláveis e da região. Essa oficina foi a que mais surtiu efeito para os alunos, pois despertou uma curiosidade e um interesse em saber os porquês do clima, afinal de contas, tem tudo a ver com sua realidade. Outra oficina se destinou à produção de material didático para o ensino, visando tornar as atividades mais lúdicas e prazerosas. Foram confeccionados pelas professoras da escola diversos materiais que foram aplicados nas tarefas sobre o tema abordado que foi o clima, através de redação, explorando a criatividade depois que os alunos viram várias cenas da seca, na matemática com os jogos que foram sugeridos. Na ciência e geografia quando trabalharam atividades de gráficos, quantidade de chuva, a situação do solo, puderam ver na prática os estragos provocados pela falta de chuva na região do assentamento. E em português que a todo o momento se treinava a ortografia, produção de textos e bilhetes. As duas últimas oficinas trataram da definição do Currículo no PPP da Escola, uma vez que a escola está finalizando a confecção do documento que expressa projeto político e pedagógico da escola a partir de discussões com professores e com pessoas da comunidade. Com o objetivo de organizar democraticamente a proposta curricular da escola como um todo e de cada série de ensino. Neste encontro participaram professores, gestor da escola e representantes da comunidade onde foram apresentadas questões para orientar a definição do currículo a partir das discussões que a Escola vem fazendo desde 2008, quando começou a experiência de introduzir Temas Geradores. As discussões foram orientadas por questões que permitissem uma reflexão na elaboração do PPP. A partir das discussões a proposta Curricular da Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental Tiradentes está organizada a partir de “Eixos Curriculares” que aglutinam diversos Temas Geradores significativos para os moradores do Assentamento Tiradentes. Os Temas Geradores foram sugeridos pelos moradores do Assentamento, que participaram deste momento tendo como base a experiência que a Escola já vem desenvolvendo. A Escola adotou como eixos curriculares norteadores da prática pedagógica da escola: 01 - Eixo Curricular: Assentamento Tiradentes; Tema Gerador: Nossa produção-Agricultura familiar:. Este tema se desdobra em sub temas geradoras: A produção local (mandioca); solo, clima, chuva e agricultura; agrotóxico e agricultura orgânica; o trabalho na agricultura; comercialização da produção; agronegócio versus agricultura familiar; pecuária desenvolvida no Assentamento Tiradentes. 02 - Eixo Curricular: Meio Ambiente. Desdobrado nos seguintes temas: estudo do meio ambiente/problemas/soluções alternativas; lixo; reserva ambiental; água; relação ser humano com o meio ambiente; poluição; reciclagem, agrotóxicos. 03 - Eixo Curricular: Nossa História: memória da luta e Conquista da terra. Este está subdividido no seguintes sub temas: a luta pela terra e as mobilizações pela conquista do Assentamento Tiradentes; o acampamento (organização); o assentamento (organização, população, produção); a história da Escola Tiradentes no contexto da luta pela terra 04 - Eixo Curricular: nossa cultura. Vai desenvolver estudos envolvendo as manifestações culturais do assentamento: dança; folclore; brincadeiras populares, festas, artesanato e cultura alimentar. Essas decisões da Escola resultam do amadurecimento de uma experiência que vem sendo desenvolvida desde 1998 a partir dos projetos de extensão desenvolvidos pela UFPB, do processo de luta da escola para ter uma educação de qualidade e de acordo com as necessidades da comunidade, promovendo estudos e reflexões sobre a realidade do campo, promovendo a cultura camponesa. Considerações finais As oficinas foram trabalhadas com a participação do grupo onde houve um preparo prévio com base em textos estudados onde todos criavam e formavam idéias que iam sendo inseridas na elaboração do material que seria apresentado no ato da oficina para que houvesse uma participação dinâmica de todos, nosso objetivo foi alcançado e pudemos contribuir com o desenvolvimento e crescimento pedagógico da escola e nosso amadurecimento acadêmico com a oportunidade de vivenciarmos na prática os conhecimentos que víamos na sala de aula. Também destacamos a busca da escola para superar as possíveis dificuldades no que se refere: ao domínio dos conteúdos básicos para o desenvolvimento de habilidades de leitura, escrita e contagem. Ver como é possível a vivencia do diálogo entre professores e alunos, a prática do planejamento de ensino voltado para a diversificação das atividades de aprendizagem, o uso de outros materiais complementares ao livro didático, como recurso didático. Pudemos observar a participação dos alunos no processo de construção do conhecimento, a partir da experiência de um currículo com conteúdos voltados para a realidade imediata e global do aluno. Referências CALDART, Roseli Salete. Elementos para construção do Projeto Político e Pedagógico da Educação do Campo. In: MOLINA, Monica Catagna; JESUS, Sonia Meire Santos Azevedo de. Contribuições para a construção de um projeto de Educação do Campo. 2004. Coleção Por uma Educação do Campo, nº 5. MUNARIM, Antonio. 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