O ATO DE LECIONAR NA ATUALIDADE DIANTE DOS NOVOS MEIOS TECNOLÓGICOS Roberto Leite Mestrando LHEC-UFC e-mail:[email protected] RESUMO O presente texto expõe a temática do uso de celular em sala de aula. Inserido no âmbito do lócus profissional da educação, esse equipamento é motivo de controvérsias entre os atores educacionais. Entre as posições que concordam e as que discordam de sua utilização, há uma artificialidade que não se reporta a qual é o instrumento para uma motivação concreta pelo alunado, que é a contextualização, a problematização de uma atividade escolar ou de um conteúdo disciplinar. Ao não questionamento sobre a liberação ou proibição desse aparelho tecnológico omite-se ou não se conhecem o domínio e o fascínio exercidos pelos ecrãs (telas), a subjetividade exacerbada na contemporaneidade, as possíveis instrumentalizações para um efetivo letramento através de textos digitais etc. O uso banal de um aparelho em um ambiente de aprendizagem é, pois, desaconselhável. A metodologia efetuada para a elaboração textual situa-se no âmbito da pesquisa bibliográfica. Palavras-chave: Celular. Sala. Aula. Uso. Problematização. Imagem. Introdução O ato de ensinar implica condições subjetivas e objetivas para uma melhor assimilação e acomodação por parte do alunado. Conquanto um dos fatores não forem postos, poder-se-á trazer situações de desfalque para o processo de aprendizagem. Dentre os fatores subjetivos podemos citar a capacidade de empatia, de afeto, de diálogo por parte do educador; e, no âmbito dos objetivos, citam-se os pontos vinculados às situações físicas das salas de aula, os recursos audiovisuais disponíveis nas escolas, como principalmente dos materiais didáticos (livros, apostilas, jogos educativos, textos-extras etc.). Conquanto em relação à postura do professor, há um quase consenso que o afeto é um elemento primordial na relação docente/discente, pois significa o ato de afetar na construção da personalidade e da cognição; por outro lado, a falta de diálogo pode contribuir para um relacionamento não satisfatório no processo de ensino-aprendizagem. Conforme frisa Izabel Galvão (1995, p.45), a afetividade se vincula e se incorpora ao processo cognitivo: “apesar de alternarem a dominância, afetividade e cognição não são funções exteriores uma à outra. Ao reaparecer como atividade predominante, uma incorpora as conquistas da anterior”. Isto é, o afeto é um instrumento de não apenas aproximação com o aluno, mas a própria capacidade dele ser afetado pela empatia do professor, pelo seu exemplo e pelos seus valores. Já a relação dialógica é fundamental, pois se trata da dialética na prática diária. Além desses expedientes físicos já citados, não se pode deixar de enumerar atualmente os meios de novas tecnologias, como computadores, tablets, notebooks e até mesmo os celulares. Em relação aos procedimentos pelos três equipamentos de processamento de dados citados há uma complacência e uma aceitação dita normal, mas em relação à telefonia móvel a repulsa é assaz acentuada. Isso se deve em muito à função básica de um celular, que é a comunicação interpessoal. No entanto, os atuais celulares oferecem várias utilidades que não se restringem ao telefonar em si. Até a leitura de um livro é algo possível em um telefone portátil. Experiências com alunos demonstram ser plenamente aceitável o desenvolvimento de uma razoável prática leitora com o uso desses equipamentos. Lógico que nada substitui um livro impresso, pelo fato de ser prático tátil e interessante do ponto de vista cultural, mas os denominados E-books se caracterizam como uma tendência de evolução que se iniciou com o papiro. Para Ednei Santos (2003), a mudança da configuração do livro impresso já há algum tempo que está se apresentando. Há algum tempo, o livro vinha sofrendo interferências no modo de ser e de se mostrar ao leitor. Muito de sua mudança física já vinha se configurando com o avanço das tecnologias de impressão e diagramação de páginas. Hoje, vemos o livro mudar de suporte ou mídia, e transformar-se em um novo corpo (SANTOS, 2003b, p. 2) Diante disso, como o educador deve se portar em relação aos novos meios digitais? Adotar ou não um livro digital, um tablet ou mesmo um celular para atividades pedagógicas? Estas questões permeiam o meio educacional na atualidade, sendo centro de discussões acaloradas entre professores, gestores e pedagogos. Igualmente como todo tema polêmico, o uso de celular em sala de aula vem provocando intranquilidade, desconfiança e constrangimento constantes. Longe de ser algo que torne um ambiente saudável, o uso ou não merece pelo menos um debate mais fundamentado, algo muito difícil para certa parcela do professorado. Isso, pois, implica toda uma reflexão sobre a prática pedagógica posta pela imensa maioria dos professores. Assim como afirma Gadotti (2003), os meios tecnológicos criam novos paradigmas para a construção do conhecimento. As novas tecnologias criaram novos espaços do conhecimento. Agora, além da escola, também a empresa, o espaço domiciliar e o espaço social tornaram-se educativos. Cada dia mais pessoas estudam em casa, pois podem, de lá, acessar o ciberespaço da formação e da aprendizagem a distância, buscar “fora” – a informação disponível nas redes de computadores interligados – serviços que respondem às suas demandas de conhecimento. Por outro lado, a sociedade civil (ONGs, associações, sindicatos, igrejas...) está se fortalecendo, não apenas como espaço de trabalho, mas também como espaço de difusão e de reconstrução de conhecimentos. (GADOTTI, 2003, p. 15). Outrossim, o ato da docência necessita que os aspectos subjetivos e objetivos se coadunem firmemente, sem esquecer também que é imprescindível que a missão seja reconhecida e o professor tratado como um profissional, e não como um missionário, apesar do ato de boniteza de um sonho, parafraseando Gadotti. Enfim, não se deve esquecer a formação continuada para os educadores, que reciclam e requalificam suas práticas docentes. Imbernón afirma que Já sabemos que a capacidade profissional dos professores não termina na formação técnica, disciplinar e conceitual, mas que alcança o terreno prático e as concepções pelas quais se estabelece a sua ação pedagógica. A formação continuada deveria apoiar, criar e potencializar uma reflexão real dos sujeitos sobre sua prática docente nas instituições educacionais e em outras instituições , de modo que permitisse examinar suas teorias implícitas, seus esquemas de funcionamento, suas atitudes etc., estabelecendo de forma firme um processo constante de autoavaliação do que se faz e por que se faz. Uma orientação formadora voltada para esse processo de reflexão, e os pressupostos políticos subjacentes a ela, exige uma definição crítica da organização e da metodologia da formação continuada dos professores, já que deve ajudar os sujeitos a revisarem os pressupostos ideológicos e comportamentais que estão na base de sua prática. (IMBERNÓN, 2010, p.47) A seguir, o enfoque sobre o domínio imagético que redunda no apego pelos aparelhos tecnológicos no cotidiano e que recai sobre o que fazer na escola. O domínio das imagens na era digital O domínio imagético no mundo das linguagens é notório. Advindo esse processo desde o século XVIII com a Revolução industrial, que impulsionou uma onda de invenções como a Fotografia (1832), Cinema (1895), Televisão (1922), dentre outras mais recentes. Todos esses meios de mensuração visual, vieram aprimorar o simulacro do real que era posto apenas pelas artes visuais, principalmente o desenho e a pintura. A priori, o surgimento do cinema implica uma impressão da realidade bem mais convincente que as artes visuais, pois enquanto o primeiro encerra a imagem em movimento; a segunda, posta as artes visuais de forma estática, apesar dos valores estéticos, históricos e culturais. No início, o cinema era uma espécie de teatro filmado, pois a câmera ficava parada, sem angulação ou enquadramento. Em meados da década de 10, o cinema postula uma linguagem mais própria com planos bem planejados. Esses caçadores de imagens colocavam suas câmaras fixas num determinado lugar e "registravam" o que estava na frente. Também quando teve início a ficção, a câmara ficava fixa e registrava a cena. Acabada a cena, seguia-se outra. O filme era uma sucessão de "quadros", entrecortados por letreiros que apresentavam diálogos e davam outras informações que a tosca linguagem cinematográfica não conseguia fornecer. A relação entre a tela e o espectador era a mesma do teatro. A câmara filmava uma cena como se ela estivesse ocupando uma poltrona na plateia de um teatro. (BERNARDET, 2006, p. 32). Com o advento do aparelho televisor, a sétima arte adota novos recursos, como o cinema falado a partir de 1927 (O cantor de Jazz com Al Johnson), uso dos Star System (estrelas exclusivas das grandes companhias), o cinemascope etc. Em meados do século XX, surgem as novas estéticas que renovam o a linguagem do cinema, como o Neorrealismo na Itália, Nouvelle Vague na França, o Cinema Novo no Brasil. Novos olhares, novos fazeres para cinematografia, trazem uma diversificação e uma diferenciação bem explícita à linguagem televisiva, à época. O princípio dessa renovação estética é citado por Bernardet (2006) em seu livro O que é cinema. Assim ele se aborda a questão: O início desse movimento de renovação que se dá ao nível da temática, da linguagem, dás preocupações sociais e das relações com o público pode ser datado de 1945, quando começa o neorrealismo italiano. A Itália que, cinematograficamente, fora conhecida pelos seus melodramas, suas divas dos anos 20 e 30, suas superproduções bíblicas, estava saindo do fascismo mussoliniano, da monarquia e da guerra, destroçada. Sobre as ruínas, enquanto paulatinamente se reergue um cinema comercial, desenvolve-se um cinema que cineastas e críticos vinham preparando clandestinamente nos últimos anos do fascismo. Realizam-se filmes voltados para a situação social italiana, rural e urbana, do pós-guerra. Despojam-se enredos, personagens, cenografia, de todo o aparato imposto pelo cinema de ficção tradicional. Os cineastas voltam-se para o dia-a-dia de proletários, camponeses e pequena classe média. A rua e ambientes naturais substituem os estúdios. Atores pouco conhecidos ou até não profissionais aparecem no lugar de vedetes célebres. A linguagem simplifica-se, procurando captar este cotidiano e tentando ficar sempre apegada aos personagens e suas reações nas difíceis situações cotidianas. (BERNARDET, 2006, p. 93-94) Em seu livro O ecrã global, Gilles Lipovetsky (2010) expõe o desenvolvimento da linguagem cinematográfica, descrevendo que ela sempre se adequou às inovações audiovisuais, mais propriamente da televisão, o videocassete (VHS); como até mesmo a chegada dos processos digitais. Isto se apresenta na medida em que cada nova mídia que surge, imputa a mesma, a possibilidade de ser uma linguagem específica, como aconteceu com o cinema e a televisão. O vídeo, também, possui uma estética diversa, assim como a própria fotografia, ou seja, cada um com suas especificidades e códigos inerentes. Em todos esses avanços tecnológicos, a tela se adapta ao desenvolvimento da linguagem desta ou daquela natureza audiovisual; ora grande, ora pequena, ora analógica, ora digital. O próprio cinema se renova, desfazendo uma previsão pessimista de que sucumbira diante o advento de novos meios de profusão de imagens. Isso não ocorreu, nem ocorrerá; pois antes de ser mais um meio de comunicação e entretenimento, trata-se de uma linguagem artística, e, como tal, afeita a inovações estéticas. Mesmo com o surgimento dos meios digitais, ele continua imponente, associando-se a nas tecnologias, seja com a internet, seja com a utilização do recurso 3D (terceira dimensão), que se torna uma novidade em termos de lazer. Isto é, a linguagem do cinema está sempre se reinventando, tornando-a vida perene. Todavia, como o ecrã influi e é influenciado pelo processo educacional? Uma bela pergunta, na qual a resposta ou respostas ainda estão sendo postas a cada momento. Desde o advento do cinema, para ficar adstrito ao conceito de tela como algo que se passa como uma janela para o mundo, observa-se um admoestação gradual e intermitente no ínterim dos processos de ensino-aprendizagem. No âmbito dessa concepção, a educação sofre interferência, mas se adapta, mesmo que em desvantagem de tempo. Quando o cinema e a televisão avançam tecnologicamente numa progressão geométrica, os sistemas de ensino respondem numa progressão aritmética. Enquanto já se utilizava há um bom tempo o videocassete, as escolas ainda estavam com o retroprojetor; quando as salas de exibição adotam o recurso 3D, as escolas estão com o datashow. Não que esses instrumentais tecnológicos resolvam todas as mazelas educacionais, contudo denota um atraso nos meios por onde se adentram os conhecimentos e conteúdos propostos. Por conseguinte, em se tratando de ecrãs mais recentes como o tablet e o celular, estes estão em um situação de inclusão e exclusão, respectivamente. O tablet foi experimentado em escolas particulares de Fortaleza, retornando resultados contraditórios entre eficazes e ineficazes. Há alguns que defendem o equipamento como o substituto do livro, ou melhor, como um recurso na qual os livros didático e paradidático estejam incluso. Outros defendem que o mesmo interfere negativamente, quando alunos se distraem e tornamse desatentos em sala de aula. Apesar desse debate acerca desses meios eletroeletrônicos no meio educacional, a certeza é que a escola está assaz defasada pertinente à era digital. Portanto, a instituição escolar sempre vai ter que se coadunar com os avanços das novas tecnologias. A grande dúvida é em que medida as novas gerações, que já nascem sob a égide do celular e da internet, irão se comportar em relação a tudo isto. Por enquanto, há uma grande rejeição pelo alunado ao modo como a didática está sendo implementada em sala de aula, cabendo ao professorado insurgir por novos métodos e pedagogias que coloquem as diversas linguagens à disposição dos estudantes, tentando contemplar de forma particular e individualizada, e, concomitantemente de forma coletiva, o conjunto do alunado. No tópico seguinte, uma abordagem sobre o conteúdo da internet e a relação com o trabalho de ensino pelo professor. A internet, redes sociais e o ato de lecionar. O advento da internet nos anos 90 e mais precisamente das redes sociais na primeira década do século XXI, trouxeram transformações no modo de relacionamento social, nas formas de encarar os vários matizes: sociológicas, psicológicas, culturais, políticas, educacionais etc. No âmbito econômico, também se verifica parâmetros comercias engendrados por esse meio de comunicação, que é altamente interativo. O caráter dessas mudanças são de naturezas diversas, como uma nova configuração organizativa horizontalizada, sem líderes formais; hábitos reformulados no ínterim mais íntimo (na verdade menos íntimo); privacidade assaz exposta, dentre outras. Mas há perguntas que necessitam de respostas prementes: em que aspecto todas essas nuanças interferem no processo ensino-aprendizagem? Em que situação a exposição da vida privadas dos indivíduos é algo salutar? Como uma postagem tem e deve ser encarada pelos usuários internautas? Para responder essas interrogações, faz-se necessário uma reflexão isenta de quaisquer influências pessoais, subjetivas; implica uma avaliação mais objetiva e impessoal possíveis, que vislumbre inferir, comparar e projetar situações no passado, presente e futuro. Diante disso, o surgimento da rede mundial de computadores em 1991, primeiramente nas academias universitárias, e em seguida comercialmente em 1995, possibilitou uma revolução nos costumes, relacionamentos e práticas até então resumidas num contato face a face, que mais propriamente na denominada virtualidade. Isso entendido como algo que pode ser real, sendo o virtual ainda inserido no interior da realidade concreta, e não o irreal como muitos possam pensar e acreditar. Navegar horas e horas se tornou habitual, como também viajar por lugares inimagináveis, bibliotecas, museus, espaço virtuais; tudo isto sem sair praticamente de casa, junto ao equipamento de informática. Aliado a essas facilidades apenas comparável ao período das grandes invenções na transição do século XIX para o XX, em que a lâmpada elétrica, o carro, o avião e o telefone modernizaram a vida dos indivíduos e trouxeram inovações importantes no cotidiano do meio urbano. Com isso, adveio o incremento das redes sociais em 2004. Tanto o Orkut, Facebook, Sonico e outras menos conhecidas do grande público amealharam a participação massiva de pessoas pelo mundo afora, sendo o Facebook de origem estadunidense e o Sonico oriundo da Argentina, sendo baseada no idioma espanhol. No Brasil, fez-se notar a ampla adesão ao Orkut, que de origem turca e alemã, arrebanhou mais de 50% de internautas brasileiros até 2010. Porém, com o passar do tempo, essa rede social foi perdendo sua funcionalidade básica de geração de novas amizades, reencontros com antigos amigos e conhecidos, debates nos fóruns de comunidades; enfim, os elementos imprescindíveis a esse gênero digital. Já o Facebook, que surgiu em 2004 nos Estados Unidos, possui uma interface mais interativa que a citada anteriormente, fazendo com que qualquer conteúdo posto na internet possa ser compartilhado com outras pessoas. A priori, essa rede social possibilita realmente uma interação bem mais acentuada, mas se ressente ultimamente de um rigor e disciplina nas postagens realizadas pelos usuários. Observa-se que esse meio se transformou numa rede de intrigas traduzindo todos os conflitos sociais, reverberando preconceitos recônditos, instintos maléficos; não que outros meios não o façam, mas acredito que seja por causa da facilidade de postagem e visualização das mesmas. Isso torna o ambiente virtual mais carregado. A obra Redes de indignação e esperança de Manuell Castells (2013), entretanto, traz-nos um discurso interessante sobre os recursos e um mundo de possibilidades inseridas no meio virtual, embora ele me pareça muito otimista quanto aos ditames inclusos digitalmente. Novas formas de organização e articulação políticas são exercidas por grupos de interesse comum, mas muitas vezes sem uma configuração definida, sendo aquela ideia de “tudo junto e misturado”, bem à moda pós-moderna. Também na área da educação têm-se novos parâmetros engendrados com as novas tecnologias, tanto na informática, como na telefonia celular etc. Paradigmas que revolucionam o modo de relacionamento entre educadores e educandos, com a mediação dos professores no sentido de orientar e dimensionar os conteúdos, não mais de propriedade exclusiva desses que outrora eram os senhores do conhecimento; propiciar uma relação afetuosa (nunca uma máquina poderá oferecer essa virtude essencialmente humana); bem como tentar inserir esses recursos tecnológicos ao processo de aprendizagem. Portanto em certo dia a atual estrutura escolar será alterada por ambientes distintos e mais serenos, mas jamais a profissão professor será extinta. Jamais, repito, um aparelho frio e antissocial fará do ser humano o oposto do que ele sempre foi posto na história da humanidade, ou seja, um ser social. O polêmico uso do celular em sala de aula Há um ponto de vista embasado pelo senso comum que o uso de celular atrapalha e condiciona muito mal o alunado em relação às questões de aprendizagem. Lógico que não vou me ater aqui neste pequeno texto a ratificar ou não essa premissa, mas alguns educadores não percebem que isso não é o fundamental, ou seja, utilizar ou não esses equipamentos tecnológicos não se traduz em relevo primordial para o processo de ensino-aprendizagem em comparação que possui uma educação problematizadora, por exemplo. Isto é, houve época em que não havia livro, mas não se deixava de ser ter educação, ou mesmo antes do advento das salas de aula, havia um preceptor que acompanha um aluno em sua residência. Com a evolução e o surgimento do livro didático e de outros recursos, e mesmo assim, o ensino não satisfaz aos planejamentos educacionais. Por conseguinte, tudo vai depender do tipo de uso que se faz do celular ou outros dispositivo tecnológico: caso se possibilite no âmbito de uma educação que contextualize, problematize; ou uma prática pedagógica que continue com os mesmos pressupostos da concepção tradicional. Nesse sentido, enquanto esse dilema da linha pedagógica e metodológica ficar apenas nesse ínterim no seio apenas de conteúdos das disciplinas, sem, no entanto, fazer o aluno um ser que constrói o conhecimento, ficar-se-á nessa querela: liberar ou não o uso do celular. Sobre essa dicotomia do usar ou não, assim se refere Ilana Snyder (2009): Posições polares sobre o uso das novas tecnologias para propósitos educacionais são familiares para todos nós. Em um extremo, há os promotores do último estouro tecnológico inteligente, celebrações da vida online e predições da otimização do ensino e aprendizagem quando a mais avançada tecnologia aparecer. No outro, há a ninharia nostálgica a favor do livro e da cultura do livro, críticos violentos dos computadores, dos vídeosgame e da internet, e expressões de pânico moral sobre os perigos à espreita das crianças no ciberespaço. (SNYDER, 2009, p.25). Por outro lado os que se opõem à utilização celular, sempre argumentam sobre a existência legal da não permissão de seu uso. Trata-se de uma alegação verdadeira, mas questionável do ponto de vista pedagógico. O uso de meios tecnológicos para fins de letramento O letramento é um expediente didático que se baseia na apropriação da leitura e da escrita por parte de um indivíduo. Isso do ponto de vista prático, ou seja, a partir da alfabetização, o letramento perfaz no sentido do entendimento de textos os mais variados possíveis: tirinhas, bulas de remédio, cartazes, jornais, artigos etc. Para Soares (1998), o letramento vai além da leitura e escrita em si, sendo a utilização do ler e do escrever no cotidiano do meio social. À medida que o analfabetismo vai sendo superado, que um número cada vez maior de pessoas aprende a ler e a escrever, e à medida que, concomitantemente, a sociedade vai se tornando cada vez mais centrada na escrita (cada vez mais grafocêntrica), um novo fenômeno se evidencia; não basta aprender a ler e escrever. As pessoas se alfabetizam, aprendem a ler e a escrever, mas não necessariamente incorporam a prática da leitura e da escrita, não necessariamente adquirem competência para usar a leitura e a escrita, para envolver-se com práticas sociais de escrita [...] (SOARES, 1998 p. 45-46) Concomitante ao processo de letramento como sendo o procedimento de leitura e compreensão em modo processual, inicia-se a prática leitora e gradualmente os níveis de leitura se acentuam. Primeiramente a leitura literal, o entendimento a partir do estritamente escrito (nível 1); em seguida, a leitura explícita como o exposto abertamente compreendido (nível 2); e, a leitura implícita, o que o inteligível está oculto, sendo o inferir o procedimento adequado (nível 3). Segundo Freire (1989, p. 58-59), “(...) o ato de estudar, enquanto ato curioso do sujeito diante do mundo é expressão da forma de estar sendo dos seres humanos, como seres sociais, históricos, seres fazedores, transformadores, que não apenas sabem mas sabem que sabem.”. No entanto, como se processa o letramento através da internet e das novas tecnologias? Será que o letramento possa ser trabalhado por meio de uma postagem de uma rede social? Perguntas que ficam como dúvidas na cabeça do mais instigados. Em termos de espaço, o letramento digital extrapola o ambiente da escola formal, como afirma Xavier (2005, p.3-4): “o letramento digital requer que o sujeito assuma uma nova maneira de realizar as atividades de leitura e de escrita, que pedem diferentes abordagens pedagógicas que ultrapassam os limites físicos das instituições de ensino [...]”. A era do vazio e a individualidade acentuada na contemporaneidade Valores e concepções pós-modernas norteiam nosso dia-a-dia em todos os lugares. Seja na rua, na escola, no lazer; enfim, em qualquer ambiente social, o mundo parece estar de cabeça para baixo, no falar de alguns. Percebe-se que esses novos paradigmas, a denominada era do vazio, no dizer de Lipovetsky (2010), implica ressignificar as relações sociais, inclusive o fazer educacional. Por conseguinte, o individualismo, o narcisismo, uma postura egocêntrica vêm demarcando um cenário preocupante, pois como dizia o filósofo Aristóteles (1985), o homem é um ser essencialmente social. Isto posto, há uma contradição entre a condição inerente ao ser humano e essa postura cada vez mais ligada ao “eu”. Essas condutas assaz individualistas advêm em muito por conta do uso constante de novos meios tecnológicos, como o computador, a internet, o celular; numa escala cada vez mais atomista. A condição humana almeja a liberdade, que se caracteriza pela autonomia com responsabilidade; e não uma permissividade, que se apresenta com o fazer livre, sem limites e de forma desatinada. Alguns estudiosos dizem que há uma tendência progressiva ao isolamento dos indivíduos, algo que se faz notar amplamente vários lugares, mesmo que supostamente acompanhadas em um recinto, fecham-se a uma vida mais intestina, desencadeando posições ideológicas mais irrealistas, fora de uma condição concreta de racionalidade. Não é à toa, por isso, que muito se fala em bipolaridade e psicopatia, parecendo que o mundo pós-moderno está implicando insanidades e realidades virtuais, como sendo reais. O virtual não é o real em si, poderá vir a ser. A denominada realidade virtual, embora seja parte do real; na verdade, está também próximo do irreal. A era do vazio - que traz incertezas, crises existenciais e depressões, possibilita inconstâncias durante o passar dos dias, corroborando para as situações bipolares: ora alegre, ora triste; ora entusiasmado, ora desanimado. Também possibilita que apareçam com mais frequência, pessoas com transtornos psíquicos com maior ou menor de psicopatia. Um mundo que cada vez privilegia o seu uno, a atomização; acarreta, infelizmente, essas condições e situações antissociais. No âmbito da contemporaneidade, surgem expressões e termos que perscrutam explicar as mudanças de paradigmas que atualmente estão postas. O termo globalização que começa a ser utilizado nos anos 90, mas que historicamente é um fenômeno que acontece há muito tempo; desde a invenção da imprensa, passando pelas grandes navegações, pela Revolução Industrial, até chegar a atualidade com a era digital e a rede mundial de computadores; reconstrói essas premissas que procuram chegar a conclusões explicativas acerca de todas essas novas configurações de relacionamentos. Uma vida mais retraída e de um ponto de vista individualizada, refaz prognósticos para o meio educacional, impelindo a novas reflexões sobre teoria e prática pedagógicas. Autores e pensadores da nova geração preconizam em suas impressões, reformulações nos modos de ensinar e educar, priorizando relações mais lúdicas, além da incorporação das novas tecnologias no cotidiano da escola. O educador necessita dialogar com uma geração diversa da sua, com novas inquietações, novas perspectivas e visões de mundo. Trabalhar o ensino-aprendizagem com se fazia outrora, talvez seja ineficaz, tendo que considerar esses novos fatores diante de planejamentos e metodologias em sala de aula. Como na arte contemporânea, o mundo das ideias parece reinventar e colocar tudo no liquidificador, um tudo ao mesmo tempo agora. Este é o grande dilema nos dias de hoje, como conciliar a dualidade indivíduo/coletivo no interior do meio escolar; ou melhor, a individualização e ação coletiva do fazer pedagógico. Seria realizar isto de forma concomitante, ou seria mais lógico e eficaz caso se trabalhe em separado? Como se exteriorizará a subjetividade humana? Essas perguntas terão as respostas adequadas com o desenrolar dos fatos presentes, como também prognosticados para o futuro, que se coloca como incerto. Lógico que teoricamente devemos preparar o terreno, ará-lo, adubá-lo, aguá-lo, para em seguida colher os frutos com uma nova geração mais informada, despojada e capacitada. Não tenho plena certeza do que afirmara o Gardner (1994) sobre as múltiplas inteligências possíveis na condição humana possa ser traduzida ao fazer pedagógico, mas é um dos caminhos a seguir, afora outros que postulam aqui e alhures. Considerações finais A temática sobre o uso ou não de celular é assaz polêmica. Os defensores e críticos possuem seus discursos de modo querer justificar suas posições. Entretanto fica patente que o mais relevante não seja coibir ou liberar a utilização desse equipamento em sala de aula, e sim que ele possa ser incorporado ao processo de aprendizagem; que faça parte da resolução de uma situação-problema disponibilizada pelo educador. Assim como outros dispositivos foram outrora proibidos, que ele seja permitido no ínterim de um planejamento de aula, mas sem que se faça de sua liberação uma prática e fins banais. Portanto, considerando os tópicos que reforçam o domínio imagético no mundo das linguagens, o possível letramento pelos meios digitais (web, e-books etc.) e a individualidade acentuada na contemporaneidade, justifica-se sim a sua instrumentalização como recurso pedagógico. REFERÊNCIAS ARISTÓTELES. Política. Tradução Mário da Gama Kury. Brasília, Editora Universidade de Brasília, 1985. BERNARDET, Jean-Claude. O que é cinema/Jean-Claude Bernardet. São Paulo: Brasiliense, 2006. - - (Coleção Primeiros Passos; 9) CASTELLS, Manuel. Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet. Rio de Janeiro, Zahar, 2013. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Autores Associados, 1989. GADOTTI, Moacir. Boniteza de um sonho: ensinar e aprender com sentido / Moacir Gadotti. – Novo Hamburgo: Feevale, 2003. 80p. ; 21cm. GALVÃO, Izabel. 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