projeto cinoterapia - Sociedade Inclusiva

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PROJETO CINOTERAPIA
Ana Carolina Melo Alves1
Adriana Carvalho Rocha1
Angélica Mayra Vieira Fernandes1
Cristina Ferreira Hoffman de Castro1
Patrícia Campos Paraíso1
Rua Rio Negro, 1070 – Barroca. Belo Horizonte/ MG
(31) 3371 – 3772/ (31) 96359220.
[email protected]
1. INTRODUÇÃO
O Projeto Cinoterapia é uma das propostas de atendimento aos alunos da Associação
de Pais e amigos dos excepcionais de Sabará (APAE – Sabará), pioneira nesta modalidade de
intervenção no Estado de Minas Gerais, realizada através da parceria entre as equipes da
APAE de Sabará e o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG) - este último
representado pelo Canil desta Instituição. É uma terapia facilitada por cães, onde profissionais
de diversas áreas utilizam este instrumento como reforçador, estimulador e facilitador da
reabilitação global do assistido.
Venturoli (2004) cita em seu artigo estudos que demonstram que os animais de
estimação satisfazem várias necessidades humanas – da saúde física e emocional ao
aprendizado intelectual e motor. Este mesmo autor afirma que pesquisas demonstram que
crianças que têm um bichinho por companhia desenvolvem mais rapidamente suas
habilidades cognitivas e sócio-emocionais: as mascotes incentivam a comunicação, a
responsabilidade das crianças e facilitam sua convivência com os demais membros de seu
grupo. Ajudam a fazer amizades e a encarar a vida com otimismo.
Venturoli (2004) e Bergamo (2005) afirmam que a explicação encontrada por
psicólogos para todo esse efeito benéfico é que a atenção dispensada a um animal de
companhia nos transmite a sensação de utilidade, conforto e segurança. Segundo os
profissionais da saúde, o contato com os bichos libera no corpo a endorfina e serotonina,
1
APAE – Sabará - Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Sabará
substâncias que funcionam como analgésico, relaxante natural, reforçam as defesas do
organismo e proporcionam sensação de prazer.
O primeiro indício concreto do elo afetivo entre um humano e um animal, de acordo
com Venturoli (2004), data de 12.000 anos. São os restos fossilizados de uma mulher
abraçada a um filhote de cão ou de lobo encontrados em uma região que hoje corresponde a
Israel. Teixeira (2007) acrescenta que há suspeitas que o homem tenha começado a conviver
com algumas espécies, em um regime de colaboração mútua, muito antes de domesticá-las.
Sabe-se que a domesticação se iniciou há mais de 100.000 anos, quando os ancestrais do
homem começaram a dar abrigo aos filhotes de lobos que rondavam seus acampamentos.
Estes inicialmente representavam proteção do acampamento e, posteriormente, companhia.
Bergamo (2005) e Amorim (2004) afirmam que o uso de animais como auxiliares em
centros de saúde iniciou em 1792, no Retiro York, quando pacientes com doenças mentais
puderam cuidar de animais da Instituição, no caso cães, e recebiam reforço positivo da equipe
que os acompanhava. Esta técnica recebeu a denominação de Terapia Facilitada por cães
(TFC), atualmente denominada de Cinoterapia - modalidade de terapia facilitada por animais,
onde o cão atua como instrumento reforçador, estimulador e reabilitador global do indivíduo a
ser abordado.
De acordo com Bergamo (2005), o primeiro estudo científico sobre o assunto foi
publicado na década de 60 e nos anos 80 já havia vários estudos comprovaram a eficácia deste
tipo de técnica para beneficiar a coordenação motora, habilidades cognitivas e sócioemocionais, diminuir a ansiedade e motivar o indivíduo, entre outras.
Este mesmo autor acrescenta que a Cinoterapia com crianças tem o Dr. Levinson
como introdutor da técnica. Após pesquisa intensa, chegou-se à conclusão de que a terapia
com cães é benéfica em atividades educacionais e terapêuticas. As crianças ficam mais
dispostas, interessadas e mais à vontade nas atividades em que o cão está presente. Johnson,
em 1983, discutiu os benefícios da Terapia com cães em trabalhos com crianças portadores de
necessidades especiais. A Cinoterapia foi capaz de provocar boas respostas nesta clientela.
Em 1989, Redefer e Goodman conduziram um estudo em que crianças com autismo
interagiram com um cão de terapia e demonstraram aumento significativo em seus
comportamentos pró-sociais.
No Projeto Cinoterapia realizado na APAE – Sabará, as pessoas, em sua maioria
crianças e adolescentes, são estimuladas pela presença de cães e assim conseguem se
desenvolver de uma forma mais rápida e eficaz. O cão motivador é conduzido nas sessões por
um bombeiro militar capacitado e o paciente acompanhado por um profissional de saúde
habilitado, compondo um conjunto de sucesso.
Além dos atendimentos, avaliações e capacitações periódicas são realizadas com o
intuito de quantificar os resultados obtidos com cada assistido pelo Projeto e deste na
qualidade de vida de cada indivíduo, sua família e meio social.
2. JUSTIFICATIVA
Os processos e técnicas de reabilitação dos portadores de necessidades especiais
atendidos pela APAE – Sabará vêem sendo desenvolvidos seguindo caminhos convencionais.
Em avaliação realizada pela equipe técnica da APAE - Sabará, observou-se a
necessidade da busca de novos recursos e novas estratégias de intervenção, visando provocar
respostas até então não obtidas pela terapia convencional, para que a pessoa atendida obtenha
melhores resultados e, conseqüentemente, um melhor
desenvolvimento de suas
potencialidades, facilitado assim o processo de inclusão social.
Pesquisas realizadas pela equipe da APAE – Sabará em busca desta nova proposta de
abordagem demonstrando que a Terapia Facilitada por Animais é benéfica a crianças de
diversas maneiras mas, especialmente, em atividades educacionais e terapêuticas. Esta
descoberta veio de encontro com a disponibilidade técnica do CBMMG em fornecer
condições para que a proposta de trabalho pudesse ser implantada e, com isso, uma inovadora
conduta pudesse ser ofertada para os assistidos pela APAE – Sabará.
Dentro desta perspectiva, surgiu a possibilidade de implantar a Cinoterapia,
modalidade de tratamento que utiliza cães devidamente treinados para fins de intervenções em
processos terapêuticos, sendo neste contexto, utilizada no tratamento de pessoas portadoras de
deficiências. Os profissionais envolvidos, os bombeiros e principalmente as crianças
portadoras de necessidades especiais podem desfrutar dos benefícios da Cinoterapia, através
dos trabalhos com a fala (comandos verbais dados ao cão), motricidade, afetividade, interação
social, estimulação sensorial entre outros aspectos.
3. OBJETIVOS
3.1 Objetivo Geral
O Projeto Cinoterapia tem por objetivo geral Oferecer modalidade terapêutica –
Cinoterapia – aos portadores de necessidades especiais da APAE de Sabará, buscando o
aprimoramento da reabilitação e contribuindo para melhoria da qualidade de vida, dentro de
enfoque científico, numa perspectiva interdisciplinar ao seu assistido, fazendo com que este
desenvolva suas capacidades físicas, cognitivas, sociais e funcionais necessárias para seu
desenvolvimento global e, com isso, assumir o máximo de independência possível para sua
efetiva inclusão social.
3.2 Objetivos Específicos
¨
Aplicar a Cinoterapia como recurso alternativo no tratamento de pessoas com
necessidades especiais;
¨
Possibilitar ao paciente uma complementação aos tratamentos alopáticos através do
contato com o animal e a expressão da afetividade;
¨
Trabalhar o ser humano de modo holístico, equalizando o físico, mental e social;
¨
Utilizar o cão como um mediador do processo de reabilitação;
¨
Controlar, acompanhar e avaliar todo o processo;
¨
Desenvolver todo o processo fundamentado na metodologia científica;
4. METODOLOGIA
A Cinoterapia ocorre na APAE – Sabará desde 2004. Esta é utilizada por profissionais
que compõem a equipe do Projeto, capacitados em diferentes especialidades das áreas de
saúde e educação, uma vez por semana, no dia e horário pré-estabelecidos pela Instituição e
CBMMG.
1ª etapa: Avaliação
A avaliação dos possíveis assistidos pelo Projeto Cinoterapia baseia-se em uma
observação inicial que consiste em detectar quanto positiva poderia ser a inclusão do aluno
neste tipo de abordagem. Para isso observa-se:
Dificuldade de motivação do assistido durante a terapia convencional e quanto
tempo este vem sendo submetido a este tipo de abordagem;
Interesse do assistido pelo animal ou dificuldade apresentada de relação
interpessoal e com o meio;
Quadro clínico apresentado e possíveis ganhos sobre este.
Após esta observação, com resultado positivo para inclusão nos atendimentos
cinoterápicos, realiza-se o teste alergológico (exame médico padronizado) que, após negativo
para alergias à pêlos de cães e poeira, solicita-se a autorização dos responsáveis para inclusão
no Projeto e divulgação da imagem do menor.
Uma avaliação padronizada na área que este receberá intervenção é feita para que se
possa mensurar habilidades e dificuldades a serem abordadas.
Associado a esta avaliação, coleta-se o relato dos pais e do professor referência deste
aluno. Com isso, traçasse os objetos individuais para a terapia.
2ª etapa: Atendimentos
Esta etapa é composta pelas atividades propriamente ditas. Utilizam-se modelos,
técnicas e abordagens próprias de cada área de atuação em concomitância com a inclusão do
cão nestas.
As atividades são avaliadas previamente de acordo coma necessidade de cada
assistidos, sendo planejadas e estruturadas visando os pontos a serem trabalhados e objetivos
a serem alcançados.
Tais atividades podem ser realizadas de maneira individual ou grupal, no setting
cinoterápico ou área externa a este, dentro ou fora da Instituição. Porém, serão sempre
acompanhadas pela profissional responsável.
3ª etapa: Reavaliação
O assistido é reavaliado a cada 06 meses, tendo seu desenvolvimento catalogado e
mensurado. Desta forma, pode-se atualizar os pontos de necessidade de reforço e adequar os
objetivos às reais necessidades do assistido pelo projeto.
A cada 06 meses, associado a esta reavaliação, é realizada a filmagem do assistido
onde este é direcionado a realizar tarefas abordadas em sua avaliação e objetivadas nesta com
o intuito de catalogar o processo e avaliar este.
4ª etapa: Alta
A alta neste tipo de abordagem se dá quando:
Não há adaptação do assistido ao tipo de acompanhamento. Esta adaptação é
avaliada pela motivação em atendimentos, reações do assistido ao animal ou ao momento de
intervenção;
Analise das reavaliações, com mensuração da alteração do quadro, tanto para
melhoras quanto para estagnação/ regressão.
5. RESULTADOS GERAIS
Baseando-se nas avaliações de observação por área de intervenção, citadas
anteriormente, associada à avaliação qualitativa dirigida aos pais/ responsáveis e aos
professores dos assistidos pelo projeto, onde aborda-se sua percepção à respeito da melhora
global do assistido, quantificou-se os resultados desta proposta de intervenção.
Aspectos cognitivos
90
75
60
%
Ano 2007
45
30
15
0
Áreas avaliadas
Dos 100% dos assistidos pelo projeto Cinoterapia, nas diferentes especialidades de
assistência reabilitadora, 95% melhorou sua participação ativa durante os atendimentos
cinoterápicos; 80% destes apresentou mudanças positivas em suas relações interpessoais na
Instituição; 90% melhorou sua capacidade de atenção/ concentração durante a realização de
atividades; 80% obteve melhora na organização de idéias, assimilação de conteúdos e
transposição destes aprendizados para suas atividades de rotina e escolares.
Área Motora
30%
45%
15%
10%
Melhora global
Melhora parcial
sem alterações
sem comprometimento inicial
55% dos assistidos pelo projeto apresentavam alguma alteração de suas habilidades
motoras. Destes, 30% obteve melhora global, não necessariamente alcançando melhora total.
15% obteve melhora em algum aspecto e 10% não obteve alteração de seu quadro motor. Os
demais (45%), não apresentavam alterações motoras que necessitem intervenções
reabilitadoras.
Observação em relação a melhora global do assistido
100
90
80
70
60
% 50
40
30
20
10
0
Ano 2007
Responsável
Professor/cuidador
Avaliador
100% dos responsáveis e dos cuidadores julgaram que seus parentes ou assistidos
obtiveram melhoras globais atribuídas aos atendimentos cinoterápicos.
6. CONCLUSÃO
A Terapia Facilitada por cães (TFC), Cinoterapia, vem demonstrando ao longo dos
tempos ser uma forma de abordagem muito útil e eficaz para a melhora do indivíduo em
diferentes quadros de patologias.
Esta poderá representar um meio para o avanço dos assistidos pela APAE – Sabará
uma vez que proporcionará a estes novos estímulos, tentativas, realizações e conquistas. Desta
forma, gerará mudanças de quadros funcionais e conseqüente melhora da auto-estima e
qualidade de vida de seus assistidos e das famílias destes.
REFERÊNCIAS
AMORIM, L.J. et all. Valorizando a vida e a cidadania através da Terapia Facilitada por
Cães. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL – SOCIEDADE INCLUSIVA, 3, 2004, Belo
Horizonte. Anais... Belo Horizonte: PUCMG, 2004. p. 01.
BERGAMO, Guiliana. O doutor é animal. Veja, São Paulo, 30 nov. 2005. Saúde, p. 66 – 68.
TEIXEIRA, Jerônimo. Amigos até que a morte nos separe. Veja, São Paulo, 24 jan. 2007.
Especial. Disponível em: < http://veja.abril.com.br/240107/p_068.html>. Acesso em: 10 jun.
2007.
VENTUROLI, Thereza. Por que amamos os animais: Dez mil anos de amizade. Veja, São
Paulo, 24 nov. 2004. Especial. Disponível em: <
http://veja.abril.com.br/241104/
p_114a.html>. Acesso em: 10 jun. 2007.
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