Uma abordagem pastoral

Propaganda
1
Reunião de Pastores do Distrito Paulista – 31 de maio de 2011
Tema: A união estável homoafetiva e a igreja luterana
Documentos e considerações contidas neste “arrazoado”:
1. A posição oficial da IELB
2. A posição da CNBB – notas do documento oficial
3. Um ponto de vista jurídico do jurista William Douglas – Juiz Federal, Mestre
em Direito e Professor da Universidade Federal do RJ.
4. Questões para reflexão 5. Uma abordagem pastoral - 01
6. Uma abordagem pastoral – 02
1. A posição oficial da IELB
(transcrição literal do texto publicado no site www.ielb.org.br)
A Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB) está estabelecida num país onde há
liberdade de viver, se expressar e agir conforme a decisão ou vontade de cada um.
Assim, a opção sexual faz parte dessa liberdade. Por outro lado, a IELB também entende
que a liberdade de discordar e não aceitar em seu meio uma união homossexual, por
esta ferir os princípios da Bíblia Sagrada, faz parte da sua liberdade e não lhe pode ser
cerceada, pois fere a Constituição Nacional. A Constituição Brasileira, no seu Artigo V,
incisos IV, VI, VIII e IX, diz:
IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre
exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto
e a suas liturgias;
VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção
filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos
imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,
independentemente de censura ou licença;
Assim, precisamos diferenciar homossexualismo de homofobia. A Igreja Luterana
não concorda com a conduta homossexual, mas não discrimina o ser humano
homossexual.
Por isso declaramos:
1 – A IGREJA EVANGÉLICA LUTERANA DO BRASIL crê e confessa que a
sexualidade é um dom de Deus, destinado por Deus para ser vivido entre um
homem e uma mulher dentro do casamento.
2-
A IELB crê e confessa que o homossexual é amado por Deus como são amadas por
Deus todas as suas criaturas.
2
3 - Em amando todas as pessoas e também o homossexual, Deus não anula o
propósito da sua criação.
4-
Por esta razão, a igreja, em acordo com a Sagrada Escritura, denuncia na
homossexualidade um desvio do propósito criador de Deus, fruto da corrupção
humana que degrada a pessoa e transgride a vontade de Deus expressa na Bíblia.
“Com homem não te deitarás, como se fosse mulher: é abominação. Nem te
deitarás com animal, para te contaminares com ele, nem a mulher se porá perante
um animal, para ajuntar-se com ele: é confusão. Portanto guardareis a obrigação
que tendes para comigo, não praticando nenhum dos costumes abomináveis que
praticaram antes de vós, e não vos contamineis com eles: Eu sou o Senhor vosso
Deus” (Levítico 18.22,23,30); “Por isso Deus entregou tais homens à imundícia,
pelas concupiscências de seus próprios corações, para desonrarem os seus corpos
entre si; semelhantemente, os homens também, deixando o contato natural da
mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza,
homens com homens, e recebendo em si mesmos a merecida punição do seu erro”
Romanos 1.24,27); “Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus?
Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados,
nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem
roubadores herdarão o reino de Deus” (1 Coríntios 6.9-10).
5-
Porque a homossexualidade transgride a vontade de Deus e porque Deus enviou a
igreja a levar Cristo Para Todos, a igreja se compromete a encaminhar o
homossexual dentro do que preceitua o amor cristão e na sua competência de
igreja, visando a que as pessoas vivam vida feliz e agradável a Deus; Mateus 19.5:
“... Por esta causa deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, tornandose os dois uma só carne.”
6-
A IELB, repudiando qualquer forma de discriminação, deve estar ao lado também
das pessoas de comportamento homossexual, para lhes dar o apoio necessário e
possam vir a ter a força para viver vida agradável a Deus.
7-
Diante disto repudiamos a ideia de se conceder à união entre homossexuais o
caráter de matrimônio legítimo porque contraria a vontade expressa de Deus e
dificulta, se não impossibilita, a oportunidade de tais pessoas revisarem suas
opções e comportamento.
8-
Repudiamos também, por consequência, a hipótese de ser dado a um casal
homossexual a adoção e guarda de crianças como filhos porque entre outros
prejuízos de formação, formará na criança uma visão distorcida da sua própria
natureza.
Fiéis ao nosso lema CRISTO PARA TODOS, ensinamos que a igreja renova
também o seu compromisso de receber pessoas homossexuais no amor de Cristo
visando que a fé em Jesus as transforme para a nova vida da qual Deus se agrada.
Em nome da Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Rev. Egon Kopereck
Presidente IELB
*(A posição da IELB atende ao disposto em parecer da Comissão de Teologia e Relações Eclesiais, da 57ª Convenção
Nacional)
3
2. Notas do documento oficial da CNBB
2.1 A diferença sexual é originária e não mero produto de uma opção cultural. O
matrimônio natural entre o homem e a mulher, bem como a família monogâmica,
constituem um princípio fundamental do direito natural. As Sagradas Escrituras, por sua
vez, revelam que Deus criou o homem e a mulher à sua imagem e semelhança e os
destinou a ser uma só carne (cf. Gn 1,27; 2,24). Assim, a família é o âmbito adequado
para a plena realização humana, o desenvolvimento das diversas gerações e constitui o
maior bem das pessoas.
(…)
2.2 As pessoas que sentem atração sexual exclusiva ou predominante pelo mesmo sexo
são merecedoras de respeito e consideração. Repudiamos todo tipo de discriminação e
violência que fere sua dignidade de pessoa humana (cf. Catecismo da Igreja Católica,
nn. 2357-2358).
2.3 As uniões estáveis entre pessoas do mesmo sexo recebem agora em nosso país
reconhecimento do Estado. Tais uniões não podem ser equiparadas à família, que se
fundamenta no consentimento matrimonial, na complementaridade e na reciprocidade
entre um homem e uma mulher, abertos à procriação e educação dos filhos. Equiparar
as uniões entre pessoas do mesmo sexo à família descaracteriza a sua identidade e
ameaça a estabilidade da mesma.
(…)
2.4 É atribuição do Congresso Nacional propor e votar leis, cabendo ao governo garantilas. Preocupa-nos ver os poderes constituídos ultrapassarem os limites de sua
competência, como aconteceu com a recente decisão do Supremo Tribunal Federal. Não
é a primeira vez que no Brasil acontecem conflitos dessa natureza que comprometem a
ética na política.
3. Um ponto de vista jurídico do jurista William Douglas – prof. de Direito
da Universidade Federal do RJ.
A decisão do STF, de ser comemorada e criticada, é apenas mais um round na
luta irracional que se desenvolve entre religiosos e o movimento gay. O STF acertou na
decisão, mas errou em sua abordagem. Ao invés de interpretar a Constituição, ousou
reescrevê-la sem legitimidade para tanto. Mas, que razões levaram a Corte Suprema a
isso? A imperdoável incapacidade dos contendores de agir de forma tolerante,
democrática e respeitosa. A terrível intenção, de ambos os lados, de forçar o outro a
seguir seus postulados, tem atentado contra a liberdade de escolha, opinião e crença.
Quem ler os relatos contidos em anais da constituinte verá que incluir o casamento
gay na Constituição foi assunto derrotado nas votações. O STF mudar esse conceito e
ignorar a decisão do constituinte originário é ativismo judicial da pior espécie, mas o STF
tem suas razões: os religiosos, ao invés de negociar uma solução, se negam a mexer na
Constituição.
4
O erro da intolerância, o movimento gay também comete ao tentar impor um novo
conceito de casamento ao invés da aceitação da união civil estável homoafetiva, e mais
ainda, ao defender um projeto de lei contra homofobia que desrespeita a liberdade de
opinião e religiosa (PLC 122). Isso para não falar do "kit gay", uma apologia ofensiva e
inaceitável para grande parcela da população. Não há santos aqui, só pecadores. Em
ambos os lados.
Erram os religiosos ao querer impedir a união civil homossexual, calcando-se em
suas crenças, as quais, evidentemente, não podem ser impostas à força. Mas erra
também o movimento gay em querer enfiar goela abaixo da sociedade seus postulados
particulares. Vivemos uma era de homofobia e teofobia, uma época de grupos discutindo
não a liberdade, mas quem terá o privilégio de exercer a tirania.
Negar o direito dos gays é tirania dos religiosos. De modo idêntico, impor sua
opinião aos religiosos, ou calá-los, ou segregá-los nas igrejas como se fossem guetos é
tirania do movimento gay. Nesse diálogo de surdos, o STF foi forçado a decidir em face
da incompetência do Congresso, dos religiosos e do movimento gay, pela incapacidade
de se respeitar o direito alheio.
Anotemos os fatos. O STF existe para interpretar a Constituição, não para
reescrevê-la. Onze pessoas, mesmo as mais sábias, não têm legitimidade para decidir
em lugar dos representantes de 195 milhões de brasileiros. Os conceitos "redefinidos"
pelo STF são uma violência contra a maioria da população. Nesse passo, basta ler o
artigo Ulisses e o canto das sereias: sobre ativismos judiciais e os perigos da instauração
de um terceiro turno da constituinte, de Lênio Luiz Streck, Vicente de Paulo Barreto e
Rafael Tomaz de Oliveira, disponível em meu blog. O resumo: apenas Emenda à
Constituição pode mudar esse tipo de entendimento. O problema: a maioria se recusa a
discutir uma solução contemporizadora que respeite e englobe a todos.
O Supremo agiu bem em alertar sobre a incapacidade das partes de resolverem seus
problemas no Congresso, mas errou em, ao invés de se limitar a assegurar direitos de
casais discriminados, invadir o texto da Constituição para mudá-lo manu militari.
O STF não se limitou a garantir a extensão de direitos, mas quis reescrever a
Constituição e modificar conceitos, invadindo atribuições do Poder Legislativo. Conceder
aos casais homossexuais direitos análogos aos decorrentes da união estável é uma
coisa, mas outra coisa é mudar conceito de termos consolidados, bem como inserir
palavras na Constituição, o que pode parecer um detalhe aos olhos destreinados, mas é
extremamente grave e sério em face do respeito à nossa Carta Magna. “Casamento” e
“união civil” não são mera questão de semântica, mas de princípios, Nem por boas
razões o STF pode ignorar os princípios da maioria da população e inovar sem respaldo
constitucional.
Enfrentar discriminações é louvável, mas agir com virulência contra os conceitos
tradicionais, e, portanto, contra o Congresso e a maioria da população, diminui a
segurança jurídica diante da legislação. A tradição existe por algum motivo e não deve
ser mudada pelo voto de um pequeno grupo, mas pela consulta ao grande público ou
através de seus representantes, eleitos para isso.
5
O art. 1.726 do Código Civil diz que uma união estável pode ser convertida em
casamento mediante requerimento ao juiz. Ora, pelo que o STF decidiu, foi imposto,
judicialmente, o casamento gay. Até os ativistas gays, os moderados, claro, consignam o
cuidado de não se chamar de casamento a união civil. Os ativistas não moderados, por
sua vez, queriam exatamente isso: enfiar goela abaixo da maioria uma redefinição do
conceito de casamento. Não se pode, nem se deve, impedir que um casal homossexual
viva junto e tenha os direitos que um casal heterossexual tem, mas também não se pode
impor um novo conceito que a maioria recusa.
Abriu-se, em uma decisão com intenção meritória, o precedente de o STF poder
substituir totalmente o Congresso. Salvo expressa determinação da Constituição para
que o faça, quando o Congresso não legisla sobre um tema, isso significa que ele não
quer fazê-lo, pois se quisesse o teria feito. Há um período de negociação, existem
trâmites, existem protocolos. O STF não pode simplesmente legislar em seu lugar, tomar
as rédeas do processo legislativo. Mas, que o Congresso e as maiorias façam sua mea
culpa em não levar adiante a solução para esse assunto.
O STF deve proteger as minorias, mas não tem legitimidade para ir além da
Constituição e profanar a vontade da maioria conforme cristalizada na Constituição. O
que houve está muito perto de criar, pelas mãos do STF, uma ditadura das minorias, ou
uma ditadura de juízes. O STF é o último intérprete da Constituição, e não o último a
maculá-la. Ou talvez o primeiro, se não abdicar de ignorar que algumas coisas só os
representantes eleitos podem fazer.
Precisamos caminhar contra a homofobia e o preconceito. E também precisamos
lembrar que cresce em nosso meio uma nova modalidade de preconceito e
discriminação: a teofobia, a crençafobia e a fobia contra a opinião diferente – o que já
vimos historicamente que não leva a bons resultados.
O PLC (Projeto de Lei da Câmara) 122, em sua mais nova emenda, quer deixar ao
movimento gay o direito de usar a mídia para defender seus postulados, mas nega igual
direito aos religiosos. Ou seja, hoje, já se defende abertamente o desrespeito ao direito
de opinião, de expressão e de liberdade religiosa. Isso é uma ditadura da minoria! Isso é,
simplesmente, inverter a mão do preconceito, é querer criar guetos para os religiosos
católicos, protestantes, judeus e muçulmanos (e quase todas as outras religiões que
ocupam o planeta) que consideram a homossexualidade um pecado. Sendo ou não
pecado, as pessoas têm o direito de seguir suas religiões e expressar suas opiniões a
respeito de suas crenças.
E se o STF entender que o direito de opinião e expressão não é bem assim? Isso
já é preocupante, porque o precedente acaba de ser aberto. E se o STF quiser, assim
como adentrou em atribuições do Congresso, adentrar naquilo que cada religião deve ou
não professar?
O fato é que as melhores decisões podem carregar consigo o vírus das maiores
truculências. Boa em reconhecer a necessidade de retirar do limbo os casais
homossexuais, a decisão errou na medida. Quanto ao mérito da questão, os religiosos e
ativistas moderados deveriam retomar o comando a fim de que a sociedade brasileira
possa conviver em harmonia dentro de nossa diversidade.
William Douglas é juiz federal, mestre em Direito,
especialista em políticas públicas e governo. www.williamdouglas.com.br
6
4. Questões para reflexão:
4.1 No livro, Da Autoridade Secular, Lutero fala de resistência à autoridade. Lutero
chama à desobediência contra os tiranos, quando eles agem contra o Evangelho, contra
a verdade. No entanto, seus direitos de governantes não deveriam ser atingidos. No
tocante a questões seculares Lutero, está disposto a obedecer ao pior dos tiranos. A
tirania merece castigo, mas é a Deus quem compete impor tal castigo.
Para ele, a autoridade secular foi diretamente investida por Deus em sua função. Sua
função divina é a de manter a ordem e a de assegurar a paz interna e externa. Daí
resulta que a precípua função do governante é a de zelar pelo cumprimento do direito,
descrito no decálogo, que é idêntico ao direito natural. A autoridade não governa
segundo o sermão do monte (Mateus 5-7), mas segundo o decálogo. Por isso, é possível
que o cristão reconheça e aceite a autoridade dos governantes também entre pagãos e
turcos. Não há Estado cristão. O que pode haver é um governante cristão, mesmo que
este seja “ave rara”.
Lutero não conhece nosso conceito moderno da separação de Estado e Igreja ou de
Igreja e sociedade. O mundo de Lutero é o mundo da “cristandade”, do “corpo cristão”. É
nesse mundo da “cristandade”, do “corpo cristão”, que Lutero procura fazer suas
afirmações acerca dos limites impostos por Deus à autoridade secular.
Em 1520, Lutero escrevera À nobreza cristã de nação alemã..., dizendo, o que deveriam
fazer; em 1523, quando escreve “Da Autoridade Secular”, diz o que devem deixar de
fazer. “Pois Deus, o onipotente, enlouqueceu os nossos príncipes, de sorte que pensam
poderem fazer e ordenar a seus súditos o que quiserem; e também os súditos se
enganam, quando crêem estarem obrigados a cumprir tudo isso plenamente”.
Assim como o Evangelho confirma a autoridade, assim também confirma os direitos
naturais e legais; e não há dúvida de que cada pai deve, segundo as suas possibilidades,
proteger esposa e criança frente ao assassinato público; e aqui não há distinção entre
um assassino privado e o imperador, quando faz uso fora de seu ministério de autoridade
injusta e, especialmente, quando faz uso de autoridade injusta pública ou notória, pois
violência pública põe fim a todos os compromissos entre súdito e senhor.
É Deus quem dá a autoridade ao governante, portanto, devemos obediência
incondicional a Deus, mas não ao governante. Nem mesmo o militar cristão deve
obediência absoluta ao governante.
O limite da obediência está dado pela palavra de Deus: o Evangelho e o decálogo.
O cristão não obedece cegamente. Ele tem que formar sua opinião própria.
Quando a autoridade o quer forçar a fazer injustiça, tem o compromisso de desobedecer,
de resistir com a palavra, de sofrer com a palavra.
Fonte: Martinho Lutero e Tomás Müntzer – A justificação teológica da autoridade secular e a revolução política – Martin N.
Dreher
4.2 O império romano era dirigido por “mão pagã”, mesmo assim, o apóstolo Paulo
orienta os cristãos a obedecerem à autoridade.
4.3 Ao Estado cabe regular e proteger os direitos civis de todos. As minorias também
devem ter a proteção do Estado. As igrejas minoritárias também usufruíram do benefício
desse dever do Estado.
4.4 A lei da União Homoafetiva não obriga a igreja a realizar cerimônias de casamento
para homossexuais.
7
4.5...
4 Uma abordagem cristã – 01
(as partes sublinhadas são “grifo meu”)
Os batistas americanos e outras denominações históricas estão profundamente divididas
sobre a questão sobre qual o posicionamento adequado da igreja a respeito de gays em
nosso meio. Creio que é importante compartilhar com vocês minhas reflexões interinas
sobre este assunto.
A primeira coisa que quero dizer, e a mais importante, é que devemos esquecer soluções
simples. Elas não existem. Nós estamos iludindo-nos a nós mesmos se pensamos que
elas existem. Com certeza não há respostas simples sobre como ou por que uma pessoa
se torna homossexual. O debate prossegue sobre se ele é causado por fatores genéticos
ou do ambiente. As duas opções não se excluem mutualmente. Há evidência que há
uma relação genética com a homossexualidade (estudos sobre gêmeos), mas os
mesmos estudos indicam que fatores genéticos por si só não são suficientes para tornar
uma pessoa homossexual. Alguns teorizam que a homossexualidade é uma heterofobia
profundamente enraizada (este é, em essência, o ponto de vista freudiano). Talvez seja
para alguns. Mas nosso conhecimento não é suficiente para criarmos qualquer teoria
satisfatória sobre por que uma pessoa se torna homossexual.
Os psiquiatras estão de acordo que um indivíduo não escolhe sua orientação sexual.
Porém, os seres humanos são criaturas flexíveis, e há evidência que a orientação sexual
e o comportamento de alguns pode ser modificado. Mas, em geral, é o consenso entre
psiquiatras que a maioria das pessoas não conseguem alterar sua orientação sexual.
Nós na igreja deveríamos ter isto em mente quando lutamos com o assunto. Não
devemos estar ávidos em oferecer soluções simples. Se há algo que gays sabem, é que
não há respostas simples. Se quisermos manter alguma credibilidade com eles, não
deveríamos oferecer nenhuma. Infelizmente o fazemos, repetidamente. As respostas que
oferecemos diferem uma da outra, mas em geral padecem do mesmo defeito: são muito
simples.
Antes de continuar, deixe-me dizer algo sobre o espírito do debate, particularmente
nosso debate na igreja. Ele em geral tem sido por demais hostil. Cristãos têm proferido
os termos “homossexual” e “homofóbico” com a mesma bile. Isto não deveria ser assim.
Vamos concordar logo de início que, quaisquer que sejam nossas opiniões, todos somos
pecadores, mas somos pecadores buscando a coisa certa a fazer.
A resposta cristã “conservadora” que a igreja tem dado é mais ou menos a seguinte:
A Bíblia claramente ensina que o homossexualismo é pecado. Portanto, gays têm de se
arrepender (mudar) e buscar perdão. Mesmo se eles não têm o poder de mudar sua
orientação sexual, Deus tem. Se tão somente os gays chegarem a Deus em
arrependimento e fé, Deus tem o poder de mudá-los.
Há muito que se elogiar neste ponto de vista. Aqueles que o mantêm o fazem porque
mantêm uma visão elevada da autoridade bíblica e do poder transformador de Deus.
Porém, creio que no final este enfoque falha. Ele é muito simplista. Obviamente Deus
tem o poder de alterar a orientação sexual de um indivíduo. Deus tem o poder de curar
8
diabete, também, mas usualmente ele não o faz. A única alternativa “moral” que sobra
para a pessoa gay é viver uma vida celibatária completa. Alguns homossexuais e
heterossexuais o conseguem (sou uma prova viva disto), mas a maioria não. Você
conseguiria?
A resposta cristã “progressista” vai mais ou menos nesta linha: Nós não deveríamos
tomar o que a Bíblia fala sobre a homossexualidade como ponto fechado. Apesar de a
Bíblia sempre falar de atos homossexuais sob uma ótica muito negativa, ela na verdade
fala muito pouco sobre a homossexualidade. Certamente os autores bíblicos não sabiam
tanto sobre a constituição da homossexualidade como nós sabemos. E deve-se notar
que Jesus não menciona o assunto de forma alguma. Quando Pedro recebeu a visão do
lençol de animais imundos descendo do céu, ele ouviu a voz de Deus lhe falando para
“levantar-se, matar e comer”. Pedro objetou. Sua Bíblia (o antigo testamento) lhe dizia
que isto era pecaminoso. Mas a voz do céu disse: “Não considere impuro nada daquilo
que Deus declara puro.” Pedro tomou esta visão como a autorização divina para levar o
evangelho aos gentios “impuros”. A visão forçou-o à conclusão de que o que sua Bíblia
lhe dizia não era necessariamente assim. Talvez devêssemos reexaminar a
homossexualidade à luz disto. Não somos criados por Deus? Quer sejamos gays ou
hetero, o somos porque Deus nos fez desta forma. Devemos aceita-lo e nos alegrar nos
dons que Deus nos deu. Nossa orientação sexual, em última instância, não tem maior
significado moral que a nossa cor da pele, ou em sermos destros ou canhotos.
Este ponto de vista tem muito a ser elogiado. Ele é compassivo. Ele demonstra com
razão que não devemos ser superficiais no uso das escrituras. (Eu notaria que mesmo o
mais ardoroso pregador fundamentalista não é literalista neste assunto. Não ouvi de
nenhum deles que os gays deveriam ser apedrejados até a morte.) Os argumentos
“progressistas” sobre interpretação da Bíblia têm peso. No final, porém, creio que esta
visão também é muito simplista e também não funciona na realidade.
Creio que ela falha primeiro na área em que mais quer sucesso. Ela carece de
sensibilidade pastoral. Dizer a uma pessoa gay que “Deus o fez deste modo” com
freqüência encontrará a resposta (interior, se não verbal): “Que tipo de brincalhão cruel é
este Deus?” A verdade é que muitos gays prefeririam ser diferentes. Alguns pagam até
milhares de dólares para psicólogos e passam anos em terapia tentando alterar sua
orientação sexual, somente para descobrir que não o conseguem.
Alguns terapeutas cristãos “progressistas” se esforçam em convencer seus clientes gays
de que deveriam aceitar sua homossexualidade como um dom de Deus. Isto em geral é
um negócio difícil. A pessoa não consegue escapar facilmente do intenso sentimento
íntimo de que a vida, ou o destino, ou Deus, ou alguém está fazendo uma brincadeira de
mal gosto com ela. Nós estamos trabalhando contra o ponto desejado tentando
convencer a pessoa gay do contrário. Creio que não estamos considerando seriamente
sua dor ou sua situação. Estamos tentando tornar as coisas simples demais. Estamos
clamando “Paz, paz” onde não há paz.
Também não encontro garantia ou fundamento algum em dizer que ser gay é um dom de
Deus. Certamente não há base bíblica para isto. Parece que se baseia somente na
pressuposição a priori de que tudo o que somos é o que Deus nos fez. Bebês nascem
cegos porque Deus quis que eles fossem assim? A orientação sexual de todos é um dom
9
de Deus? O que dizer sobre pedófilos? (Por favor, não me entenda mal. Não estou de
modo algum sugerindo uma equivalência moral entre homossexuais e pedófilos.)
Pedófilos também não escolhem sua orientação sexual, nem pode ela ser alterada
facilmente. Devemos dizer a eles: “Deus o fez pedófilo. Alegre-se e esteja satisfeito com
isto!”
A verdade é que todos nós, heteros e gays, sabemos fundamentalmente que a razão
natural do sexo, embora não a única, é a reprodução biológica. Não há modo de desviarse disto. O homossexual sabe que, à vista deste fato mais básico, sua sexualidade é
distorcida, e ele ou ela padece com isto. Eles sofrem em saber que nunca conhecerão o
amor completamente complementar de uma pessoa do sexo oposto. Eles lamentam
porque nunca poderão ter filhos. Deveríamos sofrer com eles.
A resposta cristã “moderada” é mais ou menos assim: Não cremos que Deus jamais
intencionou que qualquer um de seu povo fosse homossexual. Cremos que as pessoas
são gays não porque optaram por sê-lo, mas porque toda a natureza é caída.
Reconhecemos que Deus nem sempre remove o espinho de nossa carne ou psique, não
importa o quão ardorosamente oramos para ele fazê-lo (embora às vezes ele talvez o
faça). Embora o espinho seja um “mensageiro de Satanás”, nós, como Paulo, podemos
finalmente ser gratos porque ele nos ensina a depender mais da graça de Deus. Nosso
conselho prático para os gays cristãos é mudar sua orientação se for possível. Se não,
seja celibatário se possível. Se não, seja tão moral (i.e, monogâmico) quanto for
possível.
Muitos rejeitarão esta visão “moderada” porque ela é um caminho de tensão. Preferirão
antes ser “conservadores” ou “progressistas”. Estas posições lidaram com a tensão,
negando-a. Mas há muito que recomenda a visão “moderada”. Pessoalmente, me sinto
bastante confortável com ela. Ela leva tanto as escrituras como a situação e a dor da
pessoa gay a sério. Reconhece a dificuldade de a pessoa alterar sua orientação sexual.
Também reconhece a dificuldade de viver uma vida celibatária.
Porém, esta visão soa melhor do que funciona na prática. Ela encoraja uma pessoa gay
a ter uma relação gay monogâmica, se necessario; porém não reconhece a dificuldade
em fazer assim. Caso você não tenha notado, parece que os heterossexuais têm tido um
tempo difícil para viverem em relações monogâmicas também. Isto é o caso mesmo com
todos os sistemas eclesiásticos e civis de suporte da instituição do casamento
heterossexual. Pense como deve ser difícil para uma pessoa gay viver uma vida
puramente monogâmica sem a bênção ou qualquer apoio da igreja e da sociedade.
Todas as respostas da igreja são simples demais. Até todos nós reconhecermos isto,
nunca estaremos numa posição de realmente ministrar ao homossexual. Dado isto, o
que deve a igreja fazer?
Um sermão de William Willimon fez uma passagem do livro de Atos se tornar viva para
mim. Nem o sermão de Willimon nem a passagem bíblica menciona homossexualidade,
mas não consigo ler a passagem sem pensar sobre o assunto. A história é sobre o
eunuco etíope. Para ser exato, um eunuco, um homem que foi castrado, e um
homossexual não são a mesma coisa, mas há similaridades. Nenhum dos dois pode
funcionar plenamente como heterossexual. Nenhum escolheu sua “orientação”.
10
Este eunuco, um alto oficial etíope, está rodando pela estrada em sua carruagem, lendo
o profeta Isaías. Por quê? Por que ele está lendo a Bíblia? Um eunuco não era nem
permitido de entrar no templo em Jerusalém. O antigo testamento declara em
Deuteronômio 23:1: “Nenhum homem que tenha sido castrado poderá ser incluído no
povo do Senhor.”
Você pode imaginar como é isto? Ser excluído do povo de Deus? Ser proibido mesmo de
entrar na igreja?
A passagem que o eunuco está lendo diz: “Ele foi levado como um cordeiro para o
matadouro; como uma ovelha ... Quem declarará sua posteridade?”
Que posteridade? Este homem foi “cortado fora”. Ele não terá posteridade, nenhum
descendente. Ele é como o eunuco. Não terá filhos, nem família.
O eunuco pergunta a Filipe, a quem Deus havia enviado para encontrar sua carruagem:
“Quem é este homem de quem o profeta fala?”
Ele quer saber desesperadamente. Estou certo que ele também conhecia a passagem
em Isaías que diz: “Os dias virão em que o estrangeiro não mais dirá: ‘O Senhor me
separará de seu povo’. Os dias virão em que o eunuco não mais dirá: ‘Sou apenas um
galho seco’. Os dias virão em que o eunuco que me ama e à minha casa e à minha
aliança estará melhor que mil filhos e filhas, e será lembrado para sempre”.
Poderia ser que o homem de quem o profeta fala seria aquele que traria este novo dia
quando mesmo um eunuco poderia ser parte da família de Deus?
Depois de ouvir Filipe contar a história sobre Jesus, o eunuco pergunta-lhe: “Posso ser
batizado? Posso ser parte desta nova família de Deus”?
Filipe responde “sim”. (Sem dúvida, ele estava pensando: “Vou ter problemas por causa
disto.” Ele já tinha tido problemas com alguns na igreja por batizar alguns samaritanos.)
Como disse antes, esta passagem não menciona gays, mas podemos realmente dizer
que não tem nenhuma aplicação para eles?
Quando eu pastoreava uma igreja em New Jersey, eu tinha o costume de visitar todas as
pessoas novas que mudavam para a vizinhança da igreja para desejar-lhes as boasvindas à comunidade e para convidá-los a cultuar conosco. Um dia, ouvi que dois
homens haviam mudado para uma casa próxima à igreja. Circulava o boato de que eles
eram gays. E se eles fossem mesmo? Deveria convidá-los à igreja? E se eles viessem?
Seriam benvindos? E se eles desejassem se tornar membros? O que faríamos? Decidi
não os visitar.
Veio à minha mente que eles poderiam vir à igreja por iniciativa própria, e que assim
todos os eventos que imaginei realmente ocorressem. O que eu faria? O que a igreja
faria? Obviamente, a igreja deveria decidir por si própria. Eu decidi que falaria com eles
do modo mais pastoralmente sensível possível. Provavelmente falaria com eles sobre
minhas lutas com a questão da homossexualidade do mesmo modo que estou fazendo
11
aqui. O ponto meu e da igreja seria: Nem eu nem a igreja podemos aprovar
incondicionalmente o modo de vida de vocês, mas vocês são bem-vindos.
Não sei se eu estaria certo ou não, mas não sei nenhuma outra opção mais correta.
Talvez depois de eles se tornarem parte de nossa comunidade, poderíamos dar-lhes
apoio para serem tão morais quanto eles conseguissem, fosse o que fosse isto.
O amor gay é distorcido e pervertido?
Sim, mas todo amor humano é até certo ponto distorcido e pervertido. Isto vem do fato
de que todos somos pecadores. Só que nosso amor é pervertido e distorcido de formas
diferentes. Amor gay também pode trazer satisfação e admiração. Como alguém pode
negar isto após ver um homem gay cuidar com compaixão de seu companheiro
morrendo de AIDS? Deveriam os homossexuais ter todos os direitos civis e proteções
que as outras pessoas? Sim, definitivamente. Também diria que, por causa daqueles
cuja orientação sexual ainda está em formação, a sociedade precisa expressar de
alguma forma sua clara preferência pela heterossexualidade, sem negar a dignidade de
ninguém. Não quero parecer que creio que isto seja fácil.
A igreja pode tratar deste assunto em uma forma que é compassiva e fiel ao ensino
bíblico que a sexualidade deveria ser plenamente expressa apenas numa relação
monogâmica heterossexual por toda a vida? Sim. A igreja já mostrou que isto é possível
na maneira que aprendemos a lidar com divórcio e novo casamento.
Não muito tempo atrás a igreja ensinava a seus membros que eles nunca deveriam se
divorciar. Caso se divorciassem, não deveriam casar enquanto seu ex-cônjuge
continuasse vivo. Fazê-lo seria viver em uma espécie de adultério legal. A igreja cria que
esta era a posição bíblica mais clara. A igreja, como Jesus no evangelho de Mateus (mas
não em Marcos ou Lucas) admitia uma exceção no caso de infidelidade conjugal. Nós
nos distanciamos disto consideravelmente.
Reconhecemos as complexidades que levam à separação de nós, pecadores
heterossexuais. A igreja finalmente decidiu que a compaixão não permite requerer de
cristãos divorciados que vivam uma vida de celibato forçado, frustração sexual e solidão.
A igreja decidiu que, mesmo não aprovando incondicionalmente o divórcio, podia e iria
receber pessoas divorciadas e recasadas na vida da comunidade.
Em última instância, a palavra que a igreja tem de dar a gays ou a quaisquer outros não
é “Eu estou OK, e você não está OK.” Nem tampouco é “eu estou OK, e você está OK.”
Nossa mensagem é, em última instância, “eu não estou OK, e você não está OK. Mas
isto é OK”.
No fundo, a igreja não tem respostas simples para gays ou para quaisquer outras
pessoas. A única coisa que ela tem a oferecer é a única que ela realmente tem: Cristo
crucificado, o cordeiro que foi morto. A cruz também não é uma resposta simples, nem
mesmo para o filho de Deus. Ele está lá na cruz para todos, sentindo suas dores ao
carregar seus pecados. Sua palavra a todos é: “Eu perdoo. Faça o melhor possível em
sua luta contra o pecado, e confie em minha graça para o resto”.
12
Para os gays, eu digo: Não há respostas simples e fáceis para vocês. Obviamente vocês
já sabem disto. Vocês podem optar por viver no armário, sempre com medo de ser
descoberto. Você pode optar por sair do armário e ser ostracizado, total ou parcialmente,
por sua família, seus amigos, sua igreja, seu empregador. Sair do armário pode significar
sua expulsão do resto da sociedade para um gueto gay.
Vocês são as pessoas mais ostracizadas na nossa sociedade. Negros podem ser
discriminados na escolha de moradia e emprego, mas pelo menos podem contar com o
apoio de família, amigos e igreja. Vocês não podem. Vocês não têm escolhas simples. A
igreja também não tem respostas simples para vocês, mas sofremos com vocês.
Jesus convida você para vir ao pé da cruz. À cruz é para onde você pode vir quando tiver
esgotado todas as respostas simples. (Existe alguém que vem à cruz em qualquer outro
momento?) Cristo está na cruz para você. Ele não o mandará embora. Isto é o que Jesus
fará com você. Não sei o que o resto de nós reunidos aqui no Calvário fará com você.
Realmente não. Mas eu espero que nós escolhamos receber você.
Por C. David Hess – pastor batista americano no Boletim de Psicoteologia do site do
Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos: www.cppc.org.br (grifo nosso)
5 Uma abordagem pastoral - 02
A Igreja luterana não pode aprovar a união conjugal de pessoas do mesmo sexo. Sua
norma é a Sagrada Escritura. Embora a “ecclesia semper reformanda est” e “ecclesia
semper facienda est”, ainda assim não pode fazer o que quer, não pode instituir um
critério de bem e de mal, de certo ou de errado de modo independente e até mesmo
contrário à norma do Evangelho. Para todo o cristianismo – também para a igreja
luterana – Jesus é a verdade; não uma verdade teórica, abstrata: ele é a Verdade em
Pessoa; Jesus é o homem perfeito; nele há nova vida, perdão e salvação eterna. Esta é
a fé dos cristãos.
Ora, as Escrituras, que dão testemunho de Jesus, afirmam que o caminho para a
sexualidade humana é o caminho heterossexual: "Homem e mulher ele os criou; à sua
imagem ele os criou!" Definitivamente, Deus não criou Adão e Ivo, nem Eva e Iva, mas
Adão e Eva – ou seja – macho e fêmea. Assim, para nós, cristãos, a questão do gênero
não é somente cultural. O masculino e o feminino são dois modos de realização do ser
humano, dois modos reais e complementares. A variante homossexual não faz parte do
desígnio original de Deus para a humanidade. A Escritura condena explicitamente a
prática homossexual. E ensina que a humanidade foi mortalmente ferida pelo pecado,
por isso é uma humanidade doente. Aliás, esta é uma das mais doutrinas bíblicas mais
difíceis de defender nos dias de hoje. Alguns dos principais adversários são: o
13
relativismo moral (não há uma base intelectual para a construção de valores morais
absolutos), o relativismo biológico (nosso comportamento é determinado por causas
fisiológicas) e o determinismo social (o homem nasce bom, porém a sociedade o
corrompe). A Bíblia, no entanto, afirma claramente que todos, sem exceção, a partir da
queda em pecado, nascem com natureza pecaminosa. A partir desse evento fatídico,
todo ser humano não é mais expressão daquele projeto que Deus havia “sonhado” no
princípio. Essa ferida da humanidade manifesta-se de diversos modos: problemas de
temperamento, problemas morais, problemas afetivos, problemas na área da
sexualidade, problemas nas relações sejam em nível pessoal sejam em nível social e
problemas com nossos instintos e impulsos. Todos temos de exclamar com o Salmista:
"Em pecado me concebeu minha mãe” (Salmo 51.5). A homossexualidade é uma das
manifestações do pecado que atinge a nossa condição humana.
A igreja luterana crê, ensina e confessa também que, por ter sido atingida pelo
pecado, a humanidade sozinha não pode se encontrar, por isso, o Pai enviou o seu Filho
que por nós morreu e ressuscitou. Que ele assumiu nossas dores, nossas angústias,
nossos conflitos.
Assim, amar o homossexual compreendê-lo, acompanhá-lo, respeitar sua condição,
sim; fazer a apologia da prática homossexual, não! Portanto, um homossexual, que
deseja manter comunhão com Cristo e sua Igreja, jamais poderá dizer que a
homossexualidade é tão válida moralmente quanto à heterossexualidade. A Palavra de
Deus impede tal afirmação. E quem nela não crê? Faça como quiser, já que seu critério
não é Cristo e sua Palavra.
A missão da igreja, portanto, continuará sendo a de voz profética de Deus no mundo,
chamando as pessoas ao arrependimento e a vida de fé em Cristo, o único Salvador,
denunciando o pecado (também do homossexualismo), e amando – acolhendo e
integrando – todo pecador arrependido (também o homossexual).
São Paulo, 31 de maio de 2011.
Enio Starosky
Download