CAPA v1n1 - Faculdade Montenegro

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Enfermagem
BRASIL
Revista científica dos profissionais de enfermagem
Ano 1 nº 1 - novembro/dezembro de 2002
Sintomalogia pré-menstrual
Enfermagem Brasileira
Sua profissionalização de (1890-1905)
Uso de plantas medicinais
O resgate de sua utilização
Marketing televisivo e a enfermagem
Uma luta desigual na orientação sobre o HIV e o
aleitamento materno cruzado
Modelo de crenças e valores
na orientação dos clientes portadores
de doenças infecciosas e parasitárias
Atendimento domiciliar
de portadores de HIV/SIDA
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ISSN 1678 - 2410
Enfermagem
BRASIL
Revista científica dos profissionais de enfermagem
Ano 2 nº 1 - janeiro/fevereiro de 2003
Terapia Intensiva
• Monitorização através do
Ccateter de Swan-Ganz
• Tratamento imediato das lesões
Dde queimaduras
Epidemiologia
• Visita domiciliar e atenção à
Ssaúde da criança
• Desenvolvimento do Programa
Saúde da Família
Legislação
Os direitos do paciente
Psicologia
UTI: sentimentos em relação
ao inesperado
Cuidados
Tratamento das úlceras de
pressão não infectadas
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Enfermagem
BRASIL
Revista científica dos profissionais de enfermagem
Ano 2 nº 2 - março/abril de 2003
Epidemiologia
• Saúde e doença no envelhecimento
• Perfil dos portadores de diabetes
em um programa municipal
Terapia Intensiva
• Assistência ventilatória mecânica
• Manual de cuidados do cateter
de Hickman
Pediatria
Avaliação do desenvolvimento
pelo teste de Denver
História
Origem dos serviços de assistência
pré-hospitalar
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ISSN 1678 - 2410
Enfermagem
BRASIL
Revista científica dos profissionais de enfermagem
Ano 2 nº 3 - maio/junho de 2003
Educação
• Preparo do corpo pela equipe
de enfermagem
• Emoções e comunicação com
o corpo do cuidado
• Infecção hospitalar: conhecimentos
dos acadêmicos de enfermagem
Terapia Intensiva
Sentimentos dos pacientes com infarto
do miocárdio em UTI
Pediatria
Papel do enfermeiro e expectativas
do acompanhante da criança
Fitoterapia
Fitoterapia na comunidade:
realidade ou ficção?
Doenças Infecciosas
Alterações oculares na hanseníase
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Enfermagem
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Revista científica dos profissionais de enfermagem
Ano 2 nº 4 - julho/agosto de 2003
Psicologia
• Depressão e infarto do miocárdio
• Risco de suicídio e cuidado
de enfermagem
Aleitamento
Importância do aleitamento na visão
das mães
Infecção
Autocuidado domiciliar em HIV/SIDA
Hospital
Tipo de liderança dos enfermeiros
em hospital estadual
Assistência de enfermagem
• Ao paciente submetido à
intervenção coronariana
• Ao paciente submetido
ao desmame ventilatório
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Enfermagem
BRASIL
Revista científica dos profissionais de enfermagem
Ano 2 nº 5 -setembro/outubro de 2003
Pediatria
• A enfermagem interagindo com pais em
situação de morte perinatal
• A adaptação da criança à hospitalização
Clínica
• Prevenção da úlcera de pressão
Cardiorespiratória
• Fístulas broncopleurais e assistência
de enfermagem
Educação
• O jogo dramático na enfermagem
como pedagogia libertadora
Assistência de enfermagem
• Reabilitação da pessoa com
deficiência adquirida
• Considerações sobre morte súbita
no contexto do cuidado
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Enfermagem
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Revista científica dos profissionais de enfermagem
Ano 2 nº 6 -novembro/dezembro de 2003
Epidemiologia
• Hereditariedade como fator de risco
para hipertensão
Assistência de enfermagem
• Escaras: no cotidiano das
pessoas acamadas
• Exame físico da pele do idoso
• Diagnósticos e intervenções de
enfermagem em unidade psiquiátrica
Psicologia
Absenteísmo na enfermagem
Clínica
Uso do ácido graxo essencial linoleico
no tratamento de úlcera diabética
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Enfermagem
Brasil
Enfermagem
Brasil
Novembro / Dezembro 2002;1(1)
Índice
Volume 1 número 1 - Novembro / Dezembro de 2002
EDITORIAL
3
Há vagas, Gilberto Linhares Teixeira
ARTIGOS ORIGINAIS
34
Perfil social e epidemiologico de gerontos internados em geriatrias na cidade
de Porto Alegre, RS, Maria Elena da Silva Nery, Arlete Spencer Vanzin ...................................................................
O modelo de crenças e valores na orientação dos clientes portadores
de doenças infecciosas e parasitárias, Maria Augusta Nascimento Lopes,
Luciana de Oliveira Almeida, René de Oliveira Almeida, Rita Batista Santos .............................................................
Prevalência da sintomalogia pré-menstrual em mulheres
de uma empresa de Porto Alegre, Gisele Cristina Tertuliano ...................................................................................
O marketing televisivo e a enfermagem -Uma luta desigual na orientação sobre o HIV
e a aleitamento materno cruzado, Maria Aparecida de Luca Nascimento,
Maria Filomena Pereira V. Almeida, Marcio Martins da Costa, Raquel Nunes da Silva ............................................
Avaliação de enfermagem no atendimento domiciliar de portadores de HIV/SIDA,
Daniel Ferrari, Guilherme Souza, Sudivan Vieira, Rita Batista Santos ..........................................................................
Resgate do uso de plantas medicinais em Antonio Prado – RS,
Bianca-Lísi Gradaschi da Costa ............................................................................................................................................
Marcos da trajetória da profissionalização da enfermagem brasileira (1890-1905),
Almerinda Moreira, Fernando Porto, Taka Oguisso.........................................................................................................
Estudo etnobotânico do município de Caxias do Sul, Rio Grande do Sul,
Maria da Graça Piva ................................................................................................................................................................
Condições de trabalho de enfermeiros em um hospital público,
Carlos Bezerra de Lima, Cizone Maria Carneiro Acioly ..................................................................................................
NORMAS DE PUBLICAÇÃO
54
CALENDÁRIO DE EVENTOS
44
Enfermagem
Brasil
Novembro / Dezembro 2002;1(1)
Expediente
EDITOR CIENTÍFICO
Gilberto Linhares Teixeira
CONSELHO CIENTÍFICO
Prof. Dr. Carlos Bezerra de Lima (UFPB – Paraíba)
Profa. Dra. Margarete Rego (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Maria Aparecida de Luca Nascimento (UniRio – Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Maria da Graça Piva (ULBRA – Rio Grande do Sul)
Profa. Dra. Maria Helena da Silva Nery (UFRGS – Rio Grande do Sul)
Profa. Dra. Nebia Maria Almeida de Figueiredo (UniRio – Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Odette Oliveira (UNIFESP – São Paulo)
a
a
Prof . Dr . Rita Batista Santos (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro)
Prof. Dr. Sérgio Ribeiro dos Santos (UFPB – Paraíba)
GRUPO DE ASSESSORES
Prof Ms. Andréia Saccol Lourenço (Escola Técnica de Enfermagem São Francisco – Rio Grande do Sul)
Profa Ms. Dóris Maria Volquind (Clínica de Florais de RAFF – Rio Grande do Sul)
Profa Ms. Dulce Dirclair Huf (UFMS – Mato Grosso do Sul)
a
Prof Ms. Gisele Cristina Tertuliano (Secretária Municipal de Saúde de Cachoerinha – Rio Grande do Sul)
Profa Ms. Hortência Maria de Santana (COREN – Sergipe)
a
Prof Ms. Louize Maria Holtz Santos de Oliveira (COFEN – Sergipe)
Profa Ms. Sonia Maria Ponciano dos Santos (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro)
Profa. Ms. Almerinda Moreira (Escola de Enfermagem Alfredo Pinto – UniRio – Rio de Janeiro)
a
Revista Enfermagem Brasil
Rio de Janeiro
Rua Conde de Lages, 27
20241-080 Rio de Janeiro RJ
Tel: (21) 2221-4164
Fax: (21) 2517-2749
[email protected]
São Paulo
Avenida São João, 56, sala 7
12940-000 Atibaia SP
Assinatura anual
(6 números/ano): R$ 90,00
Tel: (21) 2221-4164 RJ
(11) 3361-5595 SP
Editor executivo
Dr. Jean-Louis Peytavin
Editoração e Arte
José Luiz Cabral
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Tel/Fax: (21) 2221-4164
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Cel: (21) 9366-7088
Copy & Revisão
Ricardo Augusto da Silva Ferreira
Publicidade e marketing
René Caldeira Delpy Jr.
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(21) 2221-4164
Gerente Comercial
Stevenson Gusmão Machado
Cel: (21) 9662-9411
Administração
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Representante Assinaturas - SP
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Enfermagem
Brasil
Novembro / Dezembro 2002;1(1)
EDITORIAL
Há vagas
A crise gera desemprego, recessão, desencontro
braços cruzados pelas mãos construtivas; de substituir
de idéias, radicalismos, sacrifícios.
a obstinada decisão e protestar contra o presente pela
No entanto, é essa mesma crise que gera uma
responsabilidade a favor do futuro; de substituir a mera
oportunidade que, em tempos de bonança, nem
e fácil acusação de defeitos pela constatação de nossas
lembramos que existe.
reais e indiscutíveis potencialidades.
Uma oportunidade ilimitada,
São estas VAGAS que existem.
voltada a todos sem distinção de sexo,
Para todos os brasileiros. VAGAS para
cor, credo, nível cultural, posição
um grande trabalho, sediado em nossa
hierárquica ou profissão.
cabeça, manifestado por nossa voz e
Uma oportunidade que tanto é
por nossas mãos.
dada ao governo, como aos
Um trabalho que exige equilíbrio
empresários, aos sindicatos, aos
e bom senso.
políticos e a todas as pessoas deste
Sem a amargura do derrotismo,
País.
nem a alienação do otimismo vazio.
E é justamente neste momento
Mas que se ampara, basicamente, na
mais difícil da Nação, em que o
capacidade de pensar positivamente.
desemprego é uma realidade, em que
Na capacidade de deixar de lado
Gilberto Linhares Teixeira
a recessão é uma ameaça, que as
as pequenas questões, se comparadas
Editor científico da Enfermagem Brasil
VAGAS estão abertas.
com a grande questão nacional.
Presidente do Conselho Federal de Enfermagem
Há VAGAS para aqueles que
Deixar de lado o radicalismo,
estejam dispostos a resgatar os
que gera o impasse e a perda de um
maiores e mais importantes valores do homem: a
tempo precioso para o País.
humildade, a caridade, o altruísmo, o senso de
Deixar de lado a vingança pessoal, que não faz o
comunidade, o cuidado com a família e o respeito à
menor sentido, porque nada constrói. E ainda ajuda a
condição humana.
destruir o que nos resta.
Há VAGAS, sim, senhora. Há VAGAS para
Há VAGAS, sim, para quem esteja disposto a
quem esteja disposto ao sacrifício, ao trabalho, cuja
ceder um pouco de si para todos: seja na compensação
maior recompensa não seja medida em valores taxados
do seu trabalho, seja no lucro do seu negócio, seja no
e passageiros.
dogma da sua cor partidária.
Mas pela constatação, todos os dias, de que
Para quem esteja disposto a ceder um pouco do
somos capazes de sair do desvio onde nos
seu presente para as próximas gerações. Para os
encontramos e retomar o nosso caminho: o caminho
empresários que não queiram deixar como herança uma
do desenvolvimento, do progresso e do crescimento
fábrica cercada de miséria, para os empregados que não
comum a todos os brasileiros.
queiram deixar como herança o desemprego de seus
E para preencher estas VAGAS, não
filhos, para os políticos que não queiram deixar como
dependemos de alguém que nos avalie, não teremos
herança um governo forte à custa de um povo fraco.
chefes, nem patrões, nem empregados. Teremos
Há VAGAS para quem seja capaz de pensar seria
apenas a voz de nossa consciência, medindo nossa
e determinadamente no amanhã. Que seja capaz de
capacidade de mudar as coisas: de substituir a inútil
tomar este momento, não como um momento de se
lamuria pela determinação de fazer; de substituir os
apegar ao poder, à custa do sacrifício da Democracia.
!
Enfermagem
Brasil
Novembro / Dezembro 2002;1(1)
Há VAGAS para quem esteja disposto à ação, a
formar um mutirão, uma grande corrente construtiva.
Uma corrente de união e consenso.
Somente assim, teremos condições de retomar
a consciência de grande Nação que somos. A mesma
Nação que atraiu milhares de imigrantes, que
encontram aqui a paz e a oportunidade que buscavam.
A mesma Nação da qual nos orgulhamos em
muitas oportunidades. A mesma Nação que nos
emocionou com muitas conquistas no campo das
ciências, das artes, dos esportes, da política.
E que, de repente, parece que estamos
esquecendo.
Por isso tudo, há VAGAS para quem esteja
disposto a resistir à idéia de desistir do Brasil.
E que esteja disposto, também, a abandonar o
transe, a hipnose da crise, gerada pelo bombardeio
pessimista a que estamos submetidos todos os dias.
E que esteja disposto, ainda, a fazer parte com
fé e confiança, determinação, paciência, segurança e
consciência absoluta de que assim, estaremos todos
os dias, encontrando soluções para nossos problemas.
E mais do que isso: estaremos enfrentando
aqueles que pensam que somos capazes de esmorecer
e deixar nosso País à própria sorte.
Ocupem suas VAGAS, como nós estamos
fazendo.
Com isso, estaremos ocupando, também, o
Brasil.
Com gente disposta a fazê-lo cumprir o seu
grande destino.
Profissionais de Enfermagem! Há VAGAS para
a Enfermagem no contexto brasileiro, é nosso dever
ocupá-las. E é através desta consciência que o COFEN
procura ocupar seu espaço, a partir de ações como o
lançamento da Revista Enfermagem Brasil.
Recomendações aos autores
Enfermagem Brasil é uma revista científica nacional dirigida à classe dos profissionais de enfermagem. Ela
aceita todos os artigos e trabalhos realizados por especialistas da área, que serão avaliados por membros do
Conselho Científico, para eventuais correções antes de sua publicação. Enfermagem Brasil publica basicamente
artigos originais e artigos de revisões, bem como resumos de trabalhos apresentados em congressos, resumos
de artigos de revistas internacionais, e notícias da profissão, no que se refere ao desenvolvimento de pesquisas.
Enfermagem Brasil aceita também monografias de graduação, sendo elas enviadas com a autorização do
orientador. Após avaliação, as monografias serão adaptadas por publicação em artigos e também editadas in
extenso sob a forma de CD-ROM ou no site Internet da revista.
Recomendamos o envio do texto completo do trabalho, respeitando as normas de publicação, que podem
ser encontradas nas últimas páginas desta revista ou em nosso site: www.atlanticaeditora.com.br. Em caso de
dúvida, a editora é sempre acessível por telefone ou e-mail (ver página do expediente).
Agradecemos o COFEN pelo apoio no lançamento da revista e todos os autores que enviaram artigos
para esta primeira edição.
Os editores
"
Enfermagem
Brasil
Novembro / Dezembro 2002;1(1)
Artigo original
Prevalência da sintomalogia pré-menstrual em
mulheres de uma empresa de Porto Alegre, RS
Prevalence of premenstrual symptoms in women
in a company at Porto Alegre, RS
Prevalencia de la sintomatología pre-menstrual en mujeres de
una empresa de Porto Alegre, RS
Gisele Cristina Tertuliano
Professora de enfermagem, especialista em saúde comunitária
Resumo
Devido ao grande índice de sintomas que acometem as mulheres do período pré-menstrual, este estudo objetiva demonstrar
as conseqüências no trabalho e a forma de amenizar sintomas como tensão, irritabilidade, depressão, fadiga, vertigens,
cefaléia e outros. Busca-se enumerar os sintomas físicos e emocionais, e identificar as conseqüências pessoais, sociais e
econômicas para as mulheres com a sintomologia pré-menstrual, com conseqüente proposta terapêutica.
Palavras-chave: Síndrome pré-menstrual, tensão pré-menstrual, síndrome da tensão pré-menstrual, saúde da mulher.
Abstract
Any symptons affect the women period premenstrual.This work has the results in the work and the way of the decrease the
symptons how tension, irritabily, depression, fatigne, vertigo, pain of head and others. To get enumerate the physicals and
emotionals symptons and identity the personals, socials and economicals results to the women with the sintomatology
premestrual with consequent proposal actuality treatement.
Key-words: Premenstrual syndrome, premenstrual tension, premenstrual tension syndrome, women’s health.
Resumen
Debido al gran índice de síntomas que acometen las mujeres en el período pre-menstrual, este estudio tiene como objeto
demonstrar las consecuencias en el trabajo y la forma de amenizar síntomas como tensión, irritabilidad, depresión, fatiga,
vértigo, cefalea y otros. Lo que se busca es enumerar los síntomas físicos y emocionales, e identificar las consecuencias
personales, sociales y económicas para la mujeres con la sintomatología pre-menstrual, con consecuente propuesta terapéutica.
Palabras-clave: Síndrome pre-menstrual, tensión pre-menstrual, síndrome de la tensión pre-menstrual, salud de la mujer.
Artigo recebido em 15 de agosto de 2002; aprovado em 30 de agosto de 2002.
Endereço para correspondência: Rua Abram Goldsztein, 250/402, torre 6, Jardim Itália – 91450-155
Porto Alegre – RS, Tel.: (51) 99834212.
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Enfermagem
Brasil
Novembro / Dezembro 2002;1(1)
Introdução
A enfermagem tem um particular interesse em
relação aos problemas e a manutenção da saúde da mulher.
É crescente o processo da procura por parte do grupo
feminino pelos serviços de saúde da mulher, capacitados
a aliviar seus sintomas e esclarecer suas dúvidas.
Síndrome da tensão pré-menstrual (STPM), é
definida por Coutinho [1] como:
“Alterações no corpo e na mente ocorrem nos
dias que precedem a menstruação, que anunciam, com
alguma antecedência, a chegada da hemorragia
menstrual. Apesar dessas alterações não trazerem
desconforto à maioria das mulheres e serem para
outras pouco perceptíveis, em 30 a 40% da população
feminina o fenômeno adquire um caráter perturbador,
provocando intenso mal-estar. Neste caso, o conjunto
de alterações e sintomas recebe a denominação de
síndrome pré-menstrual”.
Nesta visão, cabe aos enfermeiros o cuidado
preventivo às mulheres, principalmente em relação às
suas necessidades peculiares de saúde. Estes devem
incentivar a clientela feminina na determinação de seus
próprios objetivos e comportamentos, apoiando-a nos
momentos que necessitar, incluindo os aspectos de
saúde física e mental.
Metodologia
O trabalho faz uma análise fenomenológica,
apresentando aspectos quantitativos e qualitativos
sobre o tema, baseado em Gil [2].
As mulheres presentes neste trabalho apresentam
idade entre 19 e 49 anos, perfazendo um total de 26
funcionárias.
A amostra correspondeu a 100% (26) de
mulheres em idade fértil, 97% (25) apresentam
sintomatologia pré-menstrual.
O local da pesquisa foi as Tintas Kresil Ltda.,
Av. Tenente Ary Tarragô, 2065, Jardim Planalto, Porto
Alegre/RS.
Foi feito levantamento bibliográfico com o
objetivo de selecionar os conteúdos teóricos sobre a
síndrome da tensão pré-menstrual e suas causas,
conseqüências, terapêutica e o papel do enfermeiro
na saúde da mulher, com embasamento de artigos,
livros e acesso à Internet.
A coleta de dados foi realizada no período de
julho a outubro de 1999.
Como recurso utilizado cita-se instrumento
aplicado por embasamento em levantamento
$
bibliográfico com apresentação ilustrativa de uma
personagem que vivencia problemas pré- menstruais,
agregando-se 5 perguntas fechadas com opção para 2
perguntas abertas. Realizada oficina da aprendizagem
sobre as questões da sintomatologia pré-menstrual,
sendo elaborado manual pelas funcionárias, com a
supervisão da pesquisadora.
Resultados e discussão
O resultado da aplicação do instrumento desta
pesquisa foi aplicado em forma de entrevista.
Concluiu-se que 97% (25) apresentam sintomas prémenstruais, conforme tabela 1.
Tabela 1 - Sintomas
sintomas
Sim
Não
Total
no
%
25
1
26
97
3
100
O quadro 1 relata os sintomas mais freqüentes
associados às dores generalizadas.
Quadro 1 – Localização das dores
localização
nº
Na barriga
Na cabeça
Nas costas
Nas pernas
Na barriga da perna
Nos seios
Na barriga do lado direito
total
15
11
8
5
2
1
1
43
As dores mencionadas por Wade [3], tem
características de sintomas físicos, como cefaléia, dor
pélvica, dor e sensibilidade das mamas.
Quadro 2
localização
nº
Nauseas
Tontura
Ventre inchado
Mal-estar
Cansaço
Calorões
Constipação
Frio
Edema
Aumento da Fr nas equações
Dores diminuem com o passar dos dias
total
5
3
1
1
1
1
1
1
1
8
11
34
Enfermagem
Brasil
Novembro / Dezembro 2002;1(1)
Segundo a tabela de Abraham, modificada por
Diegoli, Fonseca e Diegoli [4], cita-se como outros
sintomas físicos as dores generalizadas, inchaço no
abdome, cefaléia, tontura,cólica, enjôo e outros.
As alterações psicológicas, como irritabilidade,
depressão e nervosismo, são caracterizadas no
quadro 3.
Quadro 3 – Gostaria de contar outros sintomas?
alterações psicológicas na época da menstruação
nº
Irritabilidade
Depressão
Angustia
Nervosismo
Mau-humor
total
5
2
1
1
1
10
Conclusão
inicia pela consciência que a mulher tem de si, de seu
corpo, de seu papel social, de sua história.
O profissional enfermeiro deve estimular a
mulher a desfrutar de sua sexualidade, de forma
saudável e prazerosa, tendo este profissional o
conhecimento da fisiologia e do psique feminino,
interagindo com sua vivência sócio-cultural,
identificando a simbologia usada pela mulher para
expressar suas dores e desconfortos.
Referências
1.
2.
3.
4.
O exercício da cidadania inicia pelo rompimento
de conceitos valorativos embutidos numa sociedade
conservadora e patriarcal. A identificação feminina
5.
Coutinho EM. Menstruação, a sangria inútil:uma
análise da contribuição da menstruação para as dores
e os sofrimentos da mulher. São Paulo:Gente;1996.
Gil AC. Como elaborar projetos de pesquisa. 3 ed. São
Paulo:Atlas;1991.
Wade C. Síndrome pré-menstrual. São
Paulo:Ground;1989.
Diegoli MSC; Fonseca AM; Diegoli CA. Vencendo a
tensão pré-menstrual. São Paulo:Pioneira;1998.
Carvalho GM. Enfermagem em ginecologia. São
Paulo:EPU;1996.
%
Enfermagem
Brasil
Novembro / Dezembro 2002;1(1)
Artigo original
O modelo de crenças e valores na orientação
dos clientes portadores de doenças
infecciosas e parasitárias
Beliefs and value in orientation of patients with infectious and
parasitic diseases
El modelo de crencia y valores en la orientación de los clientes
portadores de enfermedades infecciosas y parasitarias
Maria Augusta Nascimento Lopes*, Luciana de Oliveira Almeida*,
René de Oliveira Almeida*, Rita Batista Santos**
*Alunas do 6º período do Curso de Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, **Professora Assistente do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica da Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, doutora em Enfermagem pelo Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo Trabalho apresentado ao Programa Curricular Interdepartamental VIII de Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade
Federal do Rio de Janeiro
Resumo
Trata-se de um estudo exploratório, descritivo e qualitativo a respeito do conhecimento dos clientes portadores de doenças
infecciosas e parasitárias (DIP), em relação à sua doença durante a hospitalização, baseado no modelo de crenças e valores na
saúde. Foram entrevistados 7 clientes hospitalizados, sendo 5 do sexo masculino e 2 do sexo feminino, nos meses de maio e
junho de 2001. Os dados mostram que os clientes não recebem orientação acerca de sua doença, nem por parte dos acadêmicos,
nem por parte da equipe de saúde do setor, ou recebem de maneira incipiente. Sugere-se que a educação para a saúde desses
clientes seja reforçada no sentido de ajudá-los na adaptação a sua doença, prevenção de suas complicações, resolução de
problemas e diminuição de re-internações, ensinando-os a viverem a vida de forma mais saudável, estimulando a adquirir o
potencial máximo de saúde possível.
Palavras-chave: Educação em saúde, doenças infecciosas e parasitárias, ensino, cuidado de enfermagem.
Abstract
One is about a exploratory, descriptive and qualitative study regarding the knowledge of the carrying customers of infectious
and parasitic illnesses in relation to its illness during the hospitalization, based on the model of beliefs and values in the
health. Seven (7) hospitalized customers had been interviewed, being 5 of masculine sex and 2 of the feminino sex, on the
months of May and June of 2001. The data show that the customers do not receive prompt concerning its illness, nor on the
part from the academics, nor on the part from the team of health of the sector, or they receive from incipient way. It is
suggested that the education for the health of these customers is strengthened in the direction to help them in the adaptation
its illness, prevention of its complications, resolution of problems and reduction of re-internments, teaching them to live the
life of more healthful form, stimulating to acquire the maximum potential of possible health..
Key-words: Health Education, infectious and parasitic illnesses, education, nursing care
Artigo recebido em 15 de agosto de 2002; aprovado em 30 de agosto de 2002.
Endereço para correspondência: Rita Batista Santos, Escola de Enfermagem Anna Nery, Rua Afonso Cavalcanti,
275 - Cidade Nova - Rio de Janeiro - RJ - 20211-110 - Tel.: (21) 2293-8098
&
Enfermagem
Brasil
Novembro / Dezembro 2002;1(1)
Resumen
Es un estudio exploratorio, descriptivo y cualitativo a respecto del conocimiento de los clientes portadores de enfermedades
infecciosas e parasitarias , en relación a la enfermedad durante la hospitalización, basado en el modelo de creencias y valores
en la salud. Fueron entrevistados 7 clientes hospitalizados, siendo 5 del sexo masculino y 2 del sexo femenino, en los meses
de mayo y junio de 2001. Los datos muestran que los clientes no reciben orientación acerca de su enfermedad, ni por parte
de los académicos, ni por parte del equipo de salud del sector, ó reciben de manera incipiente. Como sugestión se propone,
que la educación para la salud de eses clientes sea reforzada, en el sentido de ayudalos en la adaptación de su enfermedad
, prevención de sus complicaciones, resolución de problemas y diminución de re-internaciones, enseñandolos a vivir la vida
de forma más saludable, estimulando a adquirir el potencial máximo de salud posible.
Palabras-clave: Educación en la salud, enfermedades infecciosas y parasitarias, enseñanza, cuidado de enfermería.
Introdução
O estágio supervisionado está inserido no
currículo de graduação em enfermagem de uma
universidade federal, em diversas especialidades da
profissão. A cada especialidade, os alunos conhecem
uma clientela diferente, aprendem a lidar com sua
necessidade de assistência: os procedimentos, técnicas
e cuidados de enfermagem, que lhes são particulares.
De acordo com o artigo 30 do Código de Ética
dos profissionais de enfermagem, é dever do
enfermeiro colaborar com a equipe de saúde no
esclarecimento do cliente e família sobre o seu estado
de saúde e tratamento, possíveis benefícios, riscos e
conseqüências que possam ocorrer.
Observamos que havia um déficit de
conhecimento por parte dos clientes do setor de
doenças infecciosas e parasitárias sobre sua saúde e
hospitalização, além da escassez de literatura sobre
este tema, motivando-nos a realização deste estudo.
As doenças são percebidas sob diversos aspectos
e podem despertar sentimentos de vários tipos e
intensidades, tais como preocupação, temor
inesperado, vergonha, culpa, aversão e outros. Isso
faz refletir sobre a atitude de muitas pessoas frente às
doenças conhecidas como as sexualmente
transmissíveis, principalmente no caso de AIDS, que
foi estigmatizada inicialmente como “doença de
homossexuais masculinos”. Em determinados grupos
essas doenças são consideradas vergonhosas,
preocupantes e em outros grupos não suscitam
nenhum sentimento vergonhoso, aversivo.
O comportamento que determina as ações
relacionadas com a saúde dependerá do grau de ameaça
percebido pelo indivíduo, que se traduz pela sua validade
subjetiva.
Uma das observações que pudemos vivenciar
durante nossa estada pelo setor de DIP, é que os
clientes mais desinformados eram pessoas de baixo
nível sócio-econômico e baixo grau de escolaridade,
e que este público que apresenta tais características,
têm relação direta no contexto onde são valorizados
as crenças e costumes religiosos, que são repassados
de gerações anteriores.
Tendo isto como parâmetro, o problema do
estudo refere-se à interferência da informação sobre a
doença, no processo de recuperação e aprendizagem
sobre a saúde do cliente hospitalizado no setor de DIP.
O estudo tem como objetivos identificar o
conhecimento dos clientes hospitalizados, sobre sua
saúde e hospitalização à luz do modelo de crenças e
valores na saúde; contribuir para o conhecimento dos
acadêmicos, futuros profissionais de enfermagem, sobre
a orientação para a saúde daquele cliente no setor de
DIP; discutir a importância dessa atividade para a
recuperação do cliente hospitalizado.
Metodologia
A pesquisa foi do tipo descritiva com abordagem
qualitativa, já que envolve a obtenção de dados sobre
o conhecimento do cliente hospitalizado no setor de
DIP, sobre sua saúde e hospitalização, obtidos no
'
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Brasil
Novembro / Dezembro 2002;1(1)
contato direto dos acadêmicos com essa situação. O
estudo enfatiza mais o processo de conhecimento do
cliente sobre sua saúde e hospitalização, do que a
aprendizagem baseada nos princípios científicos dos
conteúdos e informações para a sua saúde, se
preocupando em retratar a perspectiva dos clientes.
O enfoque qualitativo ofereceu ampla liberdade
teórico-metodológica para sua realização. O campo
ou cenário escolhido foi o setor de DIP, que abrange
todo o recorte teórico relativo ao conhecimento dos
clientes sobre sua saúde e hospitalização,
correspondente ao objeto de investigação.
O setor de Doenças Infecto-parasitárias 5D, é
integrante do Serviço de Internação Clínica da Divisão
de Enfermagem do Hospital Universitário Clementino
Fraga Filho.
Possui capacidade para 13 leitos, sendo que um
deles pertence ao quarto de isolamento. Esta
capacidade está diminuída no momento, em virtude
de reformas na planta física desde novembro de 2000.
Foram escolhidos os clientes hospitalizados no setor
de internação da DIP de um Hospital Universitário. Esses
clientes foram selecionados enquanto integrantes do objeto
de estudo. No campo, eles fazem parte de uma relação de
intersubjetividade, de interação social com os acadêmicos,
resultando num novo produto, que confronta tanto a
realidade concreta quanto às hipóteses e teorias da
construção do seu conhecimento sobre sua doença.
A coleta de dados se realizou entre os meses de maio
e julho de 2001. Utilizou-se como instrumento para coleta
de dados, um roteiro de entrevista semi-estruturada com
questões abertas sobre o conhecimento do cliente acerca
de sua doença, de como contribuir para sua recuperação e
qual a sua opinião sobre a importância do meio e das
pessoas nessa recuperação. A entrevista semi-estruturada
permitiu ao cliente discorrer sobre o tema proposto, sem
respostas ou condições prefixadas pelos acadêmicos. Desta
forma, a entrevista como fonte de informação ofereceu
dados secundários e primários referentes a idéias, crenças,
maneira de pensar e sentir, comportamentos e outros. Por
isso escolhemos esta técnica para realizar a coleta de dados.
Partimos de questionamentos a respeito do conhecimento
dos clientes sobre sua internação, apoiados na idéia de que
conhecendo a importância da educação em saúde, como
uma ação básica de saúde que visa desenvolver a
consciência dos problemas e ações necessárias para a
melhoria das condições de vida, o cliente colabora durante
os procedimentos, oferecendo duplo campo interrogativo
que originará novas hipóteses, à medida que emergirem as
respostas sobre a sua saúde e hospitalização.
As respostas das entrevistas foram gravadas e foi
garantido o anonimato e o sigilo das respostas, mediante
um termo de consentimento livre e esclarecido, conforme
prevê a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde
(1996). Desta forma, nos referimos aos clientes utilizando
as iniciais dos seus nomes.
A organização, análise e interpretação dos dados teve
como base três aspectos: as respostas e idéias dos clientes;
a revisão crítica da literatura; e as experiências pessoais dos
acadêmicos sobre a educação em saúde para clientes
hospitalizados, baseados nos modelos e crenças e valores
na saúde discutidos em Lescura e Mamede [2].
Nesta fase, ao invés de analisar a simples freqüência
de aparição de elementos no texto, estivemos
preocupados com as relações que os vários elementos
mantêm entre si, dentro do texto. Desta forma, foi
possível realizar uma análise das preocupações latentes
tanto individuais como coletivas, utilizando-se a
abordagem teórica baseada na interpretação
psicossomática de Dhalke [1].
As respostas fornecidas pelos clientes foram
agrupadas, atendendo às regras básicas preconizadas como
princípio de classificação de categorias por Minayo [4].
Ou seja, foi elaborado um conjunto de categorias exaustivo
e com respostas exclusivas. O princípio de classificação
referiu-se a maneira de como as categorias, quando
agrupadas, continham uma categoria residual, caso alguma
resposta não se enquadrasse em outras categorias. O
conjunto das categorias é exaustivo, pois incluiu todas as
respostas, que foram organizadas de forma que não foi
possível existir uma resposta em mais de uma categoria.
A apresentação dos resultados foi feita através da
elaboração de um relatório de pesquisa, requisito de
avaliação da atividade curricular denominada Diagnóstico
Simplificado de Saúde (DSS), a ser apresentado em eventos
científicos do Núcleo de Pesquisa, ao qual pertence o
Programa curricular onde estamos inseridos, além da
divulgação sob forma de trabalho científico em eventos
científicos locais, regionais, nacionais, etc.
Revisão crítica de literatura
A educação em saúde é uma ação básica de saúde
importante, quando estiver baseada na reflexão crítica do
grupo. O princípio dessa educação é o desenvolvimento
da consciência crítica das causas, dos problemas e das ações
necessárias para a melhoria das condições de saúde. Neste
processo de educação, haverá confronto e procura de um
entendimento entre os conhecimentos técnicos dos
profissionais de saúde com os da população (cultura
popular). Os profissionais não devem impor os seus
conhecimentos e desconsiderar a realidade em que vive a
população a ser trabalhada; se isto ocorrer, as medidas
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Novembro / Dezembro 2002;1(1)
propostas poderão não ser adotadas, devido à
incompatibilidade com a realidade. Por isso, “deve-se
promover a transformação de uma prática educativa
tradicional, clássica onde o objeto de estudo é estático e
imutável, num processo dinâmico onde o objeto a ser
estudado pode sofrer mudanças, procurando-se adequar
a prática de educação a realidade objetiva, na busca do
acompanhamento do seu movimento”[6].
No momento da admissão do cliente, ele encontrase fora de seu ambiente social e familiar, onde terá que se
adaptar a uma nova rotina. Isto pode lhe causar medo e
ansiedade frente a essa nova realidade. Uma vez identificado
essa condição no cliente, é papel do profissional de saúde
tentar minimizar esses sintomas, através do conhecimento
das causas para intervir especificamente nesta situação,
orientando o cliente desde de sua admissão até a alta
hospitalar.
Dessa forma, entendemos que a enfermeira,
enquanto educadora, tem um papel social relevante na
orientação do cliente nos níveis de prevenção, promoção
e reabilitação de saúde, bem como da adaptação aos efeitos
residuais da doença, utilizando como ferramenta principal
o ensino integrado, produzindo modificações a níveis
individuais ou em grupos. Nesse mesmo contexto a
enfermeira deverá ter ume visão “biopsicossocial” do
cliente. Para Mendes-Gonçalves e Schraiber [3], têm origem
nessa teoria “a noção de assistência integral, como as ações
articuladas de promoção, prevenção, recuperação e
reabilitação de todo biopsicossocial, bem como a noção
de níveis de internação, como instâncias complementares
e intercomunicantes de um mesmo sistema hierarquizado
de atenção”. A enfermeira deverá desenvolver atividades
de verificação, implantação, controle e fiscalização,
considerando o processo de enfermagem, para que os
objetivos da educação em saúde sejam alcançados.
A promoção da saúde, como um ato preventivo, é
associada a palavras como orientar, explicar, educar, ajudar,
esclarecer, informar, conscientizar e criar, todas remetendo
a um significado eminentemente educativo, como se o
conceito de prevenção fosse construído basicamente pelo
sentido de educar.
Entendemos, ainda, que no processo de
aprendizagem, principalmente nas doenças crônicas
transmissíveis, se fará em longo prazo, tendo como meta
alcançar o auto-cuidado por parte do sujeito.
Compartilhando de tais preceitos, observamos
também a necessidade de, no momento da educação para
a saúde, valorizar e enfatizar o sujeito como um “ser
humano”, que está inserido numa sociedade, haja vista a
significação social do setor de DIP, pelas características
de seus prognósticos, que levam à baixa de auto-estima e
sensação de inferioridade, havendo, portanto, a
necessidade da enfermeira acompanhar as fases que o
cliente experimenta, a partir da descoberta de sua doença,
a saber: negação, revolta, negociação, depressão até a sua
aceitação ativa.
A oposição entre ação educativa voltada para os
indivíduos e outra para os grupos sociais, pode ser
solucionada caso o objetivo não seja apenas a mudança
do comportamento individual, mas também a mudança
dos processos sociais que interferem na saúde [7].
O comportamento e o desenvolvimento dependem
do estado da pessoa e seu meio. A pessoa e o seu meio
têm que ser considerados como variáveis mutuamente
dependentes. Em outras palavras, para compreender ou
prever o comportamento, a pessoa e seu meio devem ser
considerados como uma constelação de fatores
interdependentes.
Todos os profissionais de saúde devem exercer a
ação educativa a todo o momento e em qualquer lugar: no
consultório, na sala de vacinas, no grupo de gestantes, na
enfermaria, etc. A educação em saúde pode ser feita
informalmente (conforme o aparecimento de
oportunidades) ou de forma planejada e organizada.
Com a necessidade de desenvolver o processo de
educação em saúde, tendo como meta clientes
hospitalizados, valorizamos a informação fidedigna e as
práticas de enfermagem junto a esse cliente, que são as
melhores formas de obter resultados a níveis de
recuperação mais rápida e eficaz; caso o mesmo esteja
conscientizado a respeito de sua doença no âmbito
hospitalar. Nesse sentido, o estudo serviu, ao mesmo
tempo, como um instrumento científico para a
contribuição nessa área de saber de enfermagem e como
instrumento de educação para a saúde.
Essas atividades do processo são baseadas na
interpretação correta e integrada das informações
discutidas, produzindo mudanças tais, que valorizem o
profissional da área de saúde. Assim, o processo de
educação do cliente principia com a prestação da
informação, mas inclui a interpretação e integração dessa
informação, de modo a produzir-lhe mudanças de
atitude e comportamento, que beneficiam a qualidade
da assistência.
Quando a equipe multiprofissional interage de forma
em que todos possam refletir, decidir e trabalhar juntos,
promove-se um processo dinâmico, onde se respeita a
realidade do cliente.
Dentro deste contexto, a enfermeira é a que tem
mais possibilidades de desenvolver este tipo de trabalho,
pois é a que mais extensivamente se relaciona com o cliente
hospitalizado, podendo desenvolver um trabalho de
orientação à saúde, abordando os diversos aspectos de
saúde e doença do cliente.
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Brasil
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Além dessas questões, é de extrema importância que
o cliente colabore no seu aprendizado, de forma que as
metas esperadas sejam atingidas e, para tal, há necessidade
de adequação da orientação a nível sócio-cultural dos
mesmos, para que de fato se processe a comunicação.
Portanto, podemos concluir que a ação educativa
em saúde, por ser um dos componentes das ações básicas
de saúde, deve ser entendida como uma postura, um
compromisso de qualidade no cuidado de enfermagem
ao cliente hospitalizado.
A noção de doença, pessoas, do eu e da posse,
foram destaques no conhecimento dos clientes sobre
sua doença, conforme explicitado nos depoimentos
abaixo:
“Sobre a minha doença? Praticamente nada. ... Parece
que é uma doença rara, dizem que é o terceiro ou quarto caso
no Brasil. E segundo informações dos médicos,... fungos vêm do
pombo, do coelho... é pelo cocô do pombo, né? ... Eu atendi, fiz
tratamento durante seis meses, mas “diabos” não consegui e
agora sou obrigado a operar, vou ter que operar” - A.D., 50
anos, portador de Neurocriptococose, casado,
supervisor de produção, renda aproximada de seis
salários mínimos.
Resultados: Análise e discussão
“Eu sabia muito, mas nunca pensei que eu fosse pegar essa
doença, essa tal de dengue que anda por aí... A minha é a
hemorrágica... mas as placas arriaram.
Mas o que o senhor sabe? Como se pega...
Bom, saber a gente sabe né, mas agente fala com os vizinhos,
mas não adianta são tudo um bando de... É que eu moro em
Parada de Lucas, eu morava aqui em Bonsucesso então aqui é um
ambiente né? Pessoas mais civilizadas. Só que quando eu casei
minha sogra mora lá, aí apareceu uma oportunidade e eu comprei
uma casa lá e tal, tanto que é grande, mas acontece que a vizinhança
não sabe cuidar de nada, não é adepto a limpeza, é adepto à
sujeira, então o que acontece é isso. Eu tava no posto e tava lá um
monte de vizinho com dengue. Começou com a vizinha do lado,
pegou na páscoa...e eu peguei essa porcaria também. Todo mundo
sabe o que é, mas ninguém quer cair dentro da coisa, prefere uma
sujeira ali. Ante ontem pixaram o muro da minha casa, e eu gosto
das coisas bem limpas, aí eu saí quando eu voltei tava o meu muro
pixado. Eles gostam da sujeira, se incomodam com a limpeza, é
triste mais é verdade” - A.S.M., 49 anos, portador de dengue
hemorrágica, casado, comerciante, renda aproximada de
seis salários mínimos.
Foram entrevistados (7) sete clientes hospitalizados
no setor de DIP, entre os meses de maio a junho de 2001.
Cinco entrevistados eram do sexo masculino e dois do
sexo feminino, entre 14 e 50 anos, com diagnósticos de
neurocriptococose, dengue hemorrágica, osteomielite por
Staphylococcus aureus, SIDA, hepatopatia, retinite, malária,
insuficiência mitral e endocardite.
Inicialmente houve o convite para participação de
12 clientes hospitalizados. Dois se recusaram a responder,
uma cliente, por falta de condições clínicas, pois se
encontrava abalada emocionalmente, com fácies deprimida
e fraqueza generalizada, estando acamada, e o outro cliente
por não concordar com sua participação.
Três entrevistas com clientes hospitalizados foram
extraviadas. Apesar de já terem sido resumidas, com a
impressão do entrevistador, resolvemos descartá-las para
garantir o rigor metodológico no estudo.
As tabelas a seguir resumem os achados sobre as
entrevistas. Sua organização foi feita de acordo com a
freqüência acumulada das palavras.
Em resposta ao conhecimento do cliente sobre sua
doença, obtivemos as palavras resumidas na tabela I.
Tabela 1
Palavras do texto
Fi
Doenças, pessoas
11
Eu
11
Minha
7
Sujeira, limpeza, soropositivo, perigosa, febre, conheço.
2
Praticamente nada, rara, informações, médicos, muito,
nunca, dengue hemorrágica, fala, ambiente, peguei,
sei tudo, bactéria, espinha, corrente sangüínea, vértebras
da coluna, sentir dor, eles, tomografia, suspeita, tuberculose
óssea, descobriram, tenho, assintomático, portador,
hepatite B, carga viral, CD4, transfusão de sangue,
transmissível, prevenções, cardiopata, coração, cirurgia,
válvula biológica, vírus, AIDS, tentando, debilita, quatro,
malária, vivax, falcípara, malariae, outra, sintomas,
organismo, vômito, diarréia, fraqueza, diagnosticada rápido,
obito, cérebro, coma, preocupante, pesquisei.
1
“Sei tudo....É uma bactéria que dá em espinha normalmente,
e entrou na corrente sanguínea e foi para em uma das
vértebras da minha coluna. E foi comendo, comendo e
Fi%
aí comecei a sentir muita dor.... eu fui a nove médicos
25.6
diferentes e o último, neurologista foi que me explicou
13.2
que uma vértebra da minha coluna estava com um
8.1
problema, e eu precisava de uma tomografia. Aí fizeram
16
uma tomografia e ficaram com suspeita de tuberculose
óssea, só que foi descartada essa possibilidade e foi
descoberto que era Staphylococcus aureus.”.
B.A, portadora de osteomielite por
Staphylococcus aureus, 14 anos, solteira, estudante,
não sabe informar a renda familiar.
37.1
“O que que eu sei? Ah... é eu tenho a dez anos
e sou soropositivo, por enquanto eu permaneço...é
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...como se diz? Assintomático, agora apareceu também outro
problema por que eu sou portador da hepatite B crônica e hoje eu
tô aqui por causa dessa hepatite B eu acho que ela está começando
a se reproduzir, mas o meu, como é que se diz... a minha carga
viral está baixa, menor que 80, então tá ótima, e o CD4 tá
numa faixa de 200 a 300, entendeu? E o que eu sei da doença
é que, a doença é transmissível através de sexo que é o meu caso,
é.. pico, né, drogas e problema de transplante, transfusão de sangue.
E as prevenções pra se manter, pra não contaminar as pessoas
usando sempre preservativo, camisinha saber quais as pessoas
que você anda, qual o tipo de parceiro, entendeu? Não Ter
múltiplos parceiros, entendeu? E o que eu sei, é já tô cansado de
saber disso aí. E é as coisas que eu tento passar pros outros só
que as pessoas não aceitam. E eu sou bem espontâneo, sou casado,
tenho 3 filho. Fui casado também, mesmo sendo casado, não
tenho vergonha de dizer nada, eu pratico o homossexualismo,
entendeu? Pratiquei, me contaminei, e até hoje ainda... e gosto....tô
com 49 anos e gosto, só que agora com esta doença eu tenho que
andar mais devagar, no sapatinho, nem é por mim, é pelas pessoas
que andam comigo, entendeu? Eu não quero, entendeu? Causar
mal a uma pessoa.” C.M. – portador de AIDS e
hepatopatia, 49 anos, casado, autônomo (modelista),
renda aproximada de seis salários mínimos.
“Sei que eu sou cardiopata, tenho problema no coração...
fiz agora a Segunda cirurgia, troca de válvula biológica”. I.F.
– portadora de insuficiência mitral e aórtica e
endocardite pó Staphylococcus Aureus, solteira, do
lar, renda aproximada de um salário mínimo.
“Eu sei que... eu não sei se vou conseguir explicar... eu
sei que eu sou uma pessoa que tem um vírus, da AIDS,
soropositivo, a meu Deus... até pra dar a entrevista tá ruim...
mas eu tô tentando.’E uma doença que é perigosa, debilita as
pessoas, deixa as pessoas totalmente fora dela mesmo, ela muda
toda hora uma hora tá de um jeito, outra hora de outro... e você
fica igual a ela, o tempo vai passando e a doença vai se
prolongando cada vez mais”. R.A.S. – portador de retinite
por CMV em olho esquerdo, com necrose reticular
por Herpes zooster, casado, autônomo, renda
aproximada de sete salários mínimos.
O que eu sei sobre essa doença? São quatro tipos de
malária existentes os nomes que eu conheço é a vivax, falcípara
que é uma das que me atingiu a malariae e a outra eu não
lembro o nome não. Mas o que eu.. os sintomas que eu conheço
que dá na pessoa é dependendo do organismo, geralmente febre,
febre muito alta, também é...vômito, diarréia, fraqueza no
corpo, e é um tipo de doença que se não for diagnosticada rápido,
se não for tratada rápido pode levar ao óbito em cerca de quatro
a cinco dias. Sempre tem o perigo a pessoa que tem essa doença
de que ela suba pra cabeça e acometa o cérebro.... e se isso
ocorre, leva a pessoa ao coma, né e daí é muito difícil reverter
esse quadro, então eu sei que é uma doença assim...muito
preocupante quando alguém tem é uma doença que precisa tomar
uns cuidados bem, ser bem atento com ela. Eu pesquisei, eu li,
eu tive essa doença e pude saber e conhecer ela no corpo e saber
como é a reação. Amigos, missionários que passaram, conhecem,
tive uma amiga também que fez um curso na Secretaria da
Saúde, ela me passou muita informação também, então foi isso.”.
M.A.R.S. – suspeita de malária, 37 anos, casado,
autônomo, com renda aproximada de oito salários
mínimos.
Essas palavras incluem a possibilidade da doença
afetar o organismo dos clientes, possuindo um
significado particular para o ego de cada cliente.
Quando os clientes, em seu relato, utilizam a
palavra “pessoas”, estão se referindo às faculdades
intelectuais e morais próprias do ser humano, que se
relaciona ao seu eu e, a multiplicidade dos estados
psicológicos, através dos quais, ou nos quais, tomam
consciência de sua existência.
O cliente hospitalizado pode realizar tarefas para a
melhoria de sua recuperação, até porque se sente muito
sozinho e isolado como, por exemplo, aquelas de lazer
para se distrair, conforme demonstra a tabela II.
Tabela 2 - Opinião dos 7 (sete) clientes hospitalizados
sobre como uma pessoa hospitalizada pode realizar
tarefas para melhoria da sua recuperação
Palavras do texto
Fi Fi%
Depende, Hospital.
Condições, pode, doença.
Acho, conversar, sim.
Aqui, sente, sozinho, paciente, ele, força de
vontade, andaria, muito atenciosamente,
importante, grupo de apoio, animei, quero,
aproveitar a vida, médica falou, televisão,
ajudar outros, ler, ouvir, fraco.
4
3
2
9.5
7.1
4.8
1
2.4
A instituição hospitalar é vista pelos clientes como
um ambiente de isolamento social e familiar, conforme
depoimento de A.D.:
“Eu acho inclusive até dentro do hospital próprio mesmo.
Porque tem horas que no hospital aqui, não querendo criticar a
direção, você mesmo se sente sozinho, não tem um rádio, não tem
televisão. Se tem outro paciente aqui do lado a gente até conversamos
do contrário a gente fica isolado, não tem ninguém pra conversar.
Não tem contato com ninguém.”
As tarefas de lazer dependem somente das
condições clínicas em que se encontra, conforme
depoimento de A.S.M:
“Dependendo do que ele tenha né, das condições que ele
estiver aqui. Aí dá. Eu por exemplo, se não é isso aí (aponta
!
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para o equipo com soro) eu tava fazendo outras coisas, isso
atrapalha. Já aquele terceiro lá (aponta para outro paciente) ele
já pode fazer um monte de coisas.”
Tabela 3 - Opinião dos 7 clientes hospitalizados sobre
qual a influência das pessoas que o cercam para sua
recuperação, Rio de Janeiro, 2001.
Palavras do texto
Fi Fi%
Esse “depender” se insere no contexto do que
é permitido dentro dos seus limites, conforme
afirma B.A:
Você considera que uma pessoa hospitalizada
pode realizar tarefas para melhoria da sua recuperação?
“Concordo... (tipo de tarefas para facilitar a sua
recuperação) Primeiro Ter força de vontade, sei lá. Me
alimentar bem, eu não estou podendo andar por causa do colete
só depois que eu colocar o colete eu vou poder andar, mas se não
fosse isso... andaria”.
Muito
6 11.1
Influencia
5 9.2
Eles
4 7.4
Sim
3 5.5
Eu, cuidando, claro, pessoa, malária.
2 3.7
Auto-estima, recuperar, melhor agradáveis,
positivamente, sem dúvida, bastante, abalado,
psicologicamente, carinho, enfermidade,
preocupado, companhia, compreende, sensíveis,
atenção, encorajado, doença, importante.
1 1.8
Essa limitação advém da doença e seu significado
para o cliente, como sendo um processo mórbido
considerado desde sua causa inicial até suas últimas
conseqüências.
A capacidade de ação, ou seja, o poder de realizar
tarefas está relacionado com a noção de condição. Esta
vem no sentido de evocar qualquer aspecto da vida
psíquica do cliente mesmo do seu estado psíquico
global, como afirma C.M:
“Acho, muito importante, porque tem gente aqui que
depois que sabe dessa doença larga tudo, quer se matar, quer se
jogar da janela, um trem e não procura.. é.... tem um grupo de
apoio no hospital pro pessoal que é portador do vírus e eu mesmo
já animei, porque as pessoas me acham muito pra cima e que o
convívio, nem parece que eu tenho a doença, porque você não
tem...é...eu vou fazer o que? Vou me matar? Eu já sei que eu
to condenado, pra que eu vou morrer antes? Eu quero é aproveitar
a vida.”
Nesta última acepção, a condição do cliente
designa um estado geral do que se aproxima
parcialmente daquele que esta expressão se reveste no
domínio da enfermeira.
Todos os 7 clientes possuem a opinião de que o
meio e as pessoas influenciam muito na sua
recuperação, além de outros aspectos conforme
demonstra a tabela III.
O conceito de “muito” refere-se à intensidade.
Dentro do contexto da questão, a freqüência com que
essa palavra aparece mostra a importância do meio e
das pessoas (eles) dentro do ambiente hospitalar, na
sua recuperação, positivamente ou negativamente
como afirmado por A.S.M:
“Bom influenciar, influencia sim. Por exemplo, de sábado
pra domingo eu fui lá no Getúlio então eu tava com aquela
dengue e tal. E a emergência de lá parece um campo de guerra,
tem nego arrebentado, nego morre. Aquilo alí eu não tinha nem
uma maca, não tinha nada a sorte é que eu tinha uma cadeira
"
no carro eu peguei a cadeira e fiquei sentado alí sábado e domingo
tomando soro um frio do caramba, uma imundície, quer dizer,
o ambiente influi, né”.
É necessário ressaltar, que o que influencia não
é o quantitativo numérico de pessoas, mas o
significado, a expressão, a interferência da qualidade
do conteúdo pessoal de cada um, enquanto
participante da sua recuperação, como nos falou B.A,
R.A.S e M.A.R.S:
“.. sei lá, eles (médicos e enfermeiras) me dão auto-estima,
é vontade pra me recuperar, e... tão cuidando de mim bem”
“Bastante (no hospital)... Aqui nem tanto mais lá fora...
muito mais. Lá fora eles são muito leigos lá eles criam as defesas
deles mesmos, mas de um jeito errado, em vez deles ajudarem a
gente. Aqui eles sabem o que a gente tem, sabem lidar com
qualquer tipo de pessoa”.
“Sem dúvida, porque psicologicamente, todas as
enfermidades deixam você bem abalado, bem preocupado, e a
malária, sobretudo, ela atinge muito sistema nervoso. Uma
das coisas que, por exemplo, quando eu tava com a malária,
você não pode ouvir barulho perto de você, se uma pessoa
canta desafinado perto de você dá uma irritação, eu tava na
África, lá e eu pedi pro rapaz pra ele parar de cantar perto
de mim por tava me irritando e eu falei pára por favor que eu
não tô agüentando e barulho e minha filha batia assim, o
pezinho na cadeira e eu falava ó pára filha que papai não tá
agüentando. Então, se você tem uma companhia, pessoas que
cuidam, que compreende, que são sensíveis, entendem a coisa
e cerca você com carinho, atenção, claro, eu vi isso aqui no
hospital, realmente influencia muito por que você se sente
encorajado a lutar mais contra a doença. Realmente é muito
importante isso aí”
A orientação sobre o estado de saúde e a doença
por parte dos profissionais e acadêmicos é
negligenciada, pois esses estão mais preocupados em
saber sobre a doença, do que passar informações sobre
ela, segundo demonstra a tabela IV.
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Tabela 4 – Respostas dos sete clientes hospitalizados sobre
o tipo de orientações que recebe durante internação
Palavras do texto
Fi Fi%
Não
8 15.1
Eles
6 11.3
Eu
4 7.5
Tenho, médico
2 3.8
Condições, fiquei, sem, conversar, situação,
enfermeira, vocês, falam, beber água, andar,
alimentar, falei, disse, fique tranqüila, confio,
usar preservativo, dão preservativo, doutor,
perguntei, exames, perfusão na veia, organismo,
medicamentos, orientações, conheço,
investigar, não vi, vão orientar depois.
1 1.9
Esta tabela nos mostra que “Eles”, ou seja, a
equipe de saúde, não tem orientado adequadamente
os clientes a cerca de sua doença durante a sua
hospitalização, conforme depoimento de A.D:
“No início eu não tinha condições de receber eu fiquei
mais ou menos 30 40 dias sem conversar, sem nada, eu não
conhecia ninguém, depois, com a situação de apego, da minha
mulher com a enfermeira e até vocês. (da equipe do hospital)
O que é necessário eles fazem. (acadêmicos) De todos eles.
Inclusive, ontem aqui teve uma equipe de acadêmicos aqui e
conversaram comigo... Eles procuram mais o lado deles né?
Não explicam muito, procuram mais o porque da doença
ficam pesquisando”.
A orientação é vaga e distante, deixando margem
a dúvidas e lacunas na assistência, que são preenchidas
pela experiência dos próprios clientes em participação
de reuniões educativas grupais no atendimento
ambulatorial, conforme depoimento de C.M:
“Como assim? ... Ah sim... é mais a minha assistente
social e psicóloga que é a Jaqueline lá embaixo. Ela...isso aí a
gente discute muito na reunião de grupo, tem debate, a gente
fala muito. Eu como sou o mais falante e ela gosta que eu
participe em todas as reuniões aí eu as vezes transmito por
que eu já tenho dez anos tem pessoas chegando com dois...então
ela me usa como símbolo...olha ele aqui tem dez anos e olha
como ele está e tudo, você que chegou hoje...mas orienta a
gente.”
O cliente A.S.M afirma que desde a internação
ainda não teve contato com acadêmico de
enfermagem. Outro cliente, R.A.S, aponta ter recebido
orientação sobre o uso de preservativo e que todo
mês o hospital os fornece.
M.R.S ainda não recebeu muitas orientações da
equipe, mas acredita que quando estiver perto de
receber alta hospitalar, receberá. Relata não receber
orientações sobre sua doença, por já saber muito sobre
ela. Acrescenta que não recebeu orientações por parte
dos acadêmicos de enfermagem, apesar de relatar ter
sido muito bem tratado.
B.A, recebeu orientações de que não pode andar,
não pode fazer muito esforço e ter que se alimentar
bem. Não teve a oportunidade de ter contato com
acadêmico de enfermagem.
C.M. recebe orientações principalmente da
psicóloga e assistente social.
I.V recebe orientações para que fique tranqüila,
siga as prescrições, não fique muito tempo deitada e
para esticar o braço por causa da punção venosa.
A orientação dada pelo acadêmico de enfermagem,
foi de seguir as prescrições e não fazer muito esforço.
As palavras contidas nas respostas sobre as
orientações prestadas pelos acadêmicos de
enfermagem, estão resumidas na tabela V:
Tabela 5 – Respostas dos sete clientes hospitalizados sobre
o tipo de orientações dadas pelo acadêmico de
enfermagem
Palavras do texto
Fi
Fi%
Não, eles
7
Acadêmicos
3
Equipe, muito, agradeci
2
Conversaram, doença, professor, demonstrar,
paciente, nervosa, tremendo, segurança,
perguntas, inseguros, outros definidos, legal,
ficar, ajudou, continuar, prescrição, não levantar,
falava, conversar, bacana, ótimo, muita atenção,
preocupada, do meu lado, media pressão.
1
14.6
6.25
4.2
2.1
Eles, ou seja, os acadêmicos, enquanto
participantes de uma instituição pedagógica, isto é,
um organismo fundado com o fim de conversar,
reproduzir e perpetuar um arbitrário cultural, possuem
deveres e responsabilidades ao prestarem assistência
de enfermagem. Uma de suas responsabilidades é
orientar o cliente.
Mais uma vez a palavra “não” surge em grande
freqüência nas respostas, sugerindo que aquela
responsabilidade está sendo cumprida de maneira
incipiente ou simplesmente não está sendo cumprida;
pois não são trabalhadas as emoções, o afeto, o
significado próprio da doença para o cliente, como
demonstra o relato de M.A.R.S.:
“Não, ela... orientação não, esclarecimento, orientação
não...ela deu sim, muita atenção, estava preocupada sempre
aqui do meu lado, ia lá voltava, media a pressão, me perguntava
sempre como eu estava.”
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Anexo I
Questionário aberto
Nome: _____________________________________________ Diagnóstico: ____________________
Idade: _____________________________________________ Estado Civil: ____________________
Profissão ___________________________________________ Renda aproximada: _______________
I – O que o senhor (a) sabe sobre sua doença? ______________________________________________
II – O senhor (a) considera que uma pessoa hospitalizada pode realizar tarefas para melhoria de sua
recuperação? ________________________________________________________________________
III – O senhor (a) acha que o meio e as pessoas que o cercam contribuem para sua recuperação? _______
IV – Que tipo de orientações o senhor (a) tem recebido durante sua internação? ____________________
V – Quando o senhor (a) esteve com um acadêmico, que tipo de orientações ele lhe deu? _____________
Anexo II
Consentimento Livre e esclarecido
Somos alunos do curso de graduação em enfermagem com interesse na área de educação em saúde no
ambiente hospitalar e gostaríamos que participasse de um estudo respondendo a um questionário aberto para
coleta de dados. O estudo chama-se “O papel do acadêmico de enfermagem na orientação dos clientes em
relação à sua doença durante a sua internação”.
Este estudo terá como sujeito os clientes internados no setor de Doenças Infecto-parasitárias (DIP) do
Hospital Universitário Clementino Fraga Filho – HUCFF/UFRJ visando identificar as orientações recebidas
pelos clientes hospitalizados no setor de DIP.
Este documento tem como objetivo prestar conhecimento sobre o estudo e formalizar seu consentimento
em participar como sujeito.
Em aceitando participar, você tem o direito de interromper livremente a sua participação ou retirar o
consentimento quando desejar, sem sofrer qualquer penalização, principalmente em sua assistência hospitalar.
Será garantido o anonimato de sua identidade e as informações coletadas servirão única e exclusivamente para
estudo, sendo os resultados divulgados para a comunidade científica respeitando os preceitos éticos.
A entrevista será realizada de acordo com a sua disponibilidade. A principal vantagem será a possibilidade
de aprimorar o conhecimento e aprendizado sobre as orientações que devem ser passadas ao cliente hospitalizado.
Rio de Janeiro,
de
de 2001
_____________________________________
Aluno Responsável
Eu,
,estou ciente dos pontos abordados acima e sinto-me suficientemente
esclarecido a respeito do estudo proposto. É por minha livre vontade que aceito participar como sujeito e
autorizo a divulgação dos resultados, como dispostos nos termos supracitados.
Rio de Janeiro,
de
2001
____________________________________
Assinatura do Cliente
$
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Conclusão
Os resultados do estudo indicam que os clientes
hospitalizados não recebem orientação sobre a sua
doença, apesar de considerarem importante este tipo
de orientação. A maioria dos clientes hospitalizados,
que fizeram parte da amostra, que têm conhecimento
a cerca de sua doença, ficaram sabendo através de
pesquisa, leitura ou através de algum amigo, que já
passou por esta experiência ou tem conhecimento
sobre ela.
Os acadêmicos de enfermagem deveriam
orientar os clientes hospitalizados, já que estão
adquirindo o conhecimento de que a educação para a
saúde pode ajudar esses cientes a se adaptarem à
doença, prevenir complicações, cooperar com a terapia
prescrita, aprender a resolver os problemas, quando
confrontados com situações novas e prevenir a rehospitalização; tendo a noção de que a meta da
educação para a saúde é ensinar às pessoas a viverem
a vida de forma mais saudável, isto é, lutar para adquirir
o potencial de saúde máximo possível.
O que pudemos observar é que essa orientação
acerca da saúde e doença do cliente hospitalizado não
está sendo realizada, ou está sendo realizada de
maneira ineficaz, tanto pelo acadêmico de
enfermagem quanto pela equipe multiprofissional de
saúde daquele setor de DIP.
Sugerimos que a educação para a saúde desses
clientes seja reforçada no sentido da ajudá-los na
adaptação à sua doença, prevenção de suas
complicações, resolução de problemas e diminuição
de re-internações, ensinando-os a viverem de forma
mais saudável, estimulando a adquirir o potencial
máximo de sua saúde. Além disso, é necessário reforçála e organizá-la sistematicamente no ensino de
graduação em enfermagem.
Referências
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2.
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Stotz EN. Enfoques sobre educação e Saúde notas para
reflexão. Escola Nacional de Saúde Pública.Agosto de
1989.
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Artigo original
Avaliação de enfermagem no atendimento
domiciliar de portadores de HIV/SIDA
Nursing evaluation in AIDS patients home care
Avaliación de enfermería en el atendimiento domiciliario de
portadores de HIV/SIDA
Daniel Ferrari*, Guilherme Souza*, Sudivan Vieira**, Rita Batista Santos***
*Alunos do 6º período do Curso de Graduação em Enfermagem EEAN/UFRJ. Estagiários do PADI/HUCFF/UFRJ, **Aluno do 5º
período do Curso de Graduação em Enfermagem EEAN/UFRJ, Estagiários do PADI/HUCFF/UFRJ, ***Enfermeira, Doutora em
Enfermagem, Professora Adjunto do DEMC/EEAN/UFRJ, Membro do PADI/HUCFF/UFRJ
Resumo
No atendimento domiciliar a portadores de HIV/SIDA, feito a partir de uma avaliação da equipe interdisciplinar, a enfermagem
possui um papel fundamental. Inicia-se com uma coleta de dados psicológicos, clínicos e capacidade para o auto-cuidado dos
portadores inscritos num Programa de Assistência Domiciliar Interdisciplinar (PADI). Os objetivos são: discutir a avaliação
da enfermagem para o atendimento domiciliar aos portadores de HIV/SIDA; identificar aspectos importantes e descrevê-la.
Foi realizado um estudo de três casos clínicos, que explicam a dinâmica de avaliação da enfermagem. A coleta de dados deuse no período de maio a julho de 2002, através da aplicação da ficha de avaliação de enfermagem, composta de entrevista,
observação, exame físico e consulta ao prontuário. Os dados foram organizados através do software EPI-INFO, módulos
EPED e ENTER. A análise dos dados é quantitativa, requerendo uma discussão e análise dos resultados da avaliação, com
interpretação a partir de dados coletados e um levantamento bibliográfico sobre o cuidado de enfermagem ao portador de
HIV/SIDA. A população atual é de 11 pacientes de quatro especialidades: diabetes mellitus (2), AIDS (3), neoplasias (2) e
pacientes geriátricos (4). Os portadores de HIV/AIDS possuem idade entre 35 e 46 anos, sendo dois do sexo masculino e
um do sexo feminino. Apresentam infecções oportunistas tais como: Herpes zooster, neurotoxoplamose, citomegalovirose,
tuberculose pulmonar, com seqüelas neurológicas, que acarretam dificuldade de locomoção, levando ao uso de muletas e
cadeiras de rodas; diabetes mellitus (2); hipertensão arterial (2) e sarcoma de Kaposi (1). A capacidade para o auto-cuidado
denota dependência de total a parcial, em relação aos cuidadores e ao cuidado de enfermagem. Os cuidadores são duas
mulheres, com idade de 40 anos e 83 anos e um homem com 46 anos. A avaliação traz conhecimento acerca da situação de
saúde dos pacientes, evidenciando a importância do cuidado de enfermagem como um modelo para o seu auto-cuidado,
onde os mais comuns são relacionados a hidratação, nutrição, higiene pessoal, do ambiente, adesão ao tratamento,
reconhecimento de sinais e sintomas de descompensação e infecções oportunistas. As ações de enfermagem são importantes
na evolução clínica dos portadores, promovendo melhor qualidade de vida e satisfação pessoal dos envolvidos.
Palavras chave: Cuidado de enfermagem, atendimento domiciliar, HIV/AIDS, auto-cuidado.
Artigo recebido em 15 de agosto, aprovado em 30 de agosto de 2002.
Endereço para correspondência: Daniel Ferrari, Rua Silva Rabelo, 91/1406 do Bl.2 Méier 20735-080
Rio de Janeiro RJ, E-mail: [email protected].
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Abstract
Domiciliary attendance the HIV/SIDA carriers is made from an evaluation of the team to interdisciplinar, in which the nursing
possesss a basic. Done from a collection of data psychological, clinical and capacity for the selcare one of enrolled carriers in the
Program of Domiciliary Assistance Interdisciplinar (PADI). The objectives are: to argue the evaluation of nursing it domiciliary
attendance to the HIV/SIDA carriers; to identify aspects important and to describe it. A study of three clinical cases was carried
through that explain the dynamics of nursing evaluation. The collection of data gave in the period of May the July of 2002,
through the application of the fiche of nursing evaluation, in which an interview is carried through, the comment, the physical
examination and consults to the handbook. The data had been organized through software Epi-info, modulos EPED and
ENTER. The analysis of the data is quantitative, a quarrel and analysis of the results of the evaluation, with interpretation of the
data from data collected and a bibliographical survey on the care of nursing of the HIV/SIDA carrier. The current population
is of 11 patients of four specialties: Diabetes Mellitus (2), AIDS (3), Neoplasias (2) and patients geriatras(4). The HIV/AIDS
carriers possess age between 35 and 46 years, being two of masculine sex and one of the feminine sex. Such present opportunist
infections as: Herpes to zooster, neurotoxoplamose, citomegalovirose, pulmonary tuberculosis, with sequelas neurological, that
they cause difficulty of locomotion, leading to the use of crutches and chairs of wheels; diabetes mellitus (2); arterial hipertensão
(2) and sarcoma of Kaposi (1). The capacity for the autocuidado one denotes total dependence the partial one in relation to the
cuidadores and the care of nursing. All use antiretrovirais, beyond análgésico, psicotrópico, antihypertensive, verbal antidiabetic,
insulina NPH, antihypertensive, antiemetic and gastric protector. The cuidadores are two women, with age of 40 years and 83
years and a man with 46 years. The evaluation brings knowledge concerning the situation of health of those, evidencing the
importance of the care of nursing as a model for its selfcare, where most common hidratation, nutrition are related, personal
hygiene, of the environment, adhesion to the treatment, recognition of signals and opportunist symptoms of descompensation
and infections. The actions of nursing are important in the clinical evolution of the carriers, promoting better quality of life and
personal satisfaction of the involved ones.
Key-words: Nursing care, home care, hiv/aids, self care.
Resumen
En el atendimiento domiciliario a portadores de HIV/SIDA, hecho a partir de una avaliación del equipo interdisciplinar, la
enfermería tiene un papel fundamental. Empieza con una colecta de datos psicológicos, clínicos y capacidad para el autocuidado
de los portadores inscritos en un Programa de Asistencia Domiciliar Interdisciplinar (PADI). Los objetivos son: discutir la
avaliación de la enfermería para el atendimento domiciliario a los portadores de HIV/SIDA; identificar aspectos importantes
y describirla. Fue realizado un estudio de tres casos clínicos, que explican la dinámica de evaluación de la enfermería. Los
datos fueron colectados en el período de mayo a julio de 2002, a través de la aplicación de una ficha de evaluación de
enfermería, compuesta de entrevista, observación, exame físico y consulta al prontuario. Los datos fueron organizados a
través del software EPI-INFO, módulos EPED y ENTER. El análisis de los datos es cuantitativo, requeriendo una discusión
y análisis de los resultados evaluados, con interpretación a partir de datos colectados y un levantamiento bibliográfico sobre
el cuidado de enfermería con el portador de HIV/SIDA. La población actual es de 11 pacientes de cuatro especialidades:
diabetes mellitus (2), SIDA (3), neoplasias (2) y pacientes geriatricos (4). Los portadores de HIV/SIDA tienen entre 35 y 46
años siendo dos del sexo masculino y uno del sexo femenino. Presentan infecciones oportunistas como: Herpes zooster,
neurotoxoplamose, citomegalovirus, tuberculose pulmonar, con secuelas neurológicas, que dificultan la locomoción, llevando
al uso de muletas y sillas de rueda; diabetes mellitus (2); hipertensión arterial (2) y sarcoma de Kaposi (1). La capacidad para
el autocuidado denota dependencia de total a parcial, en relación a los cuidadores y al cuidado de enfermería. Los cuidadores
son dos mujeres, con edad de 40 años y 83 años y un hombre con 46 años. El resultado muestra la situación de la salud de
los pacientes, y pone en evidencia la importancia del cuidado de enfermería como un modelo para su autocuidado, donde los
mas comunes son relacionados a la hidratación, nutrición, higiene personal, del ambiente, adhesión del tratamiento,
reconocimiento de señales y síntomas de descompensación y infecciones oportunistas. La manera como el paciente es
cuidado por el equipo de enfermería, es importante en la evolución clínica de los portadores, proporcionando una mejor
calidad de vida y satisfacción personal de los envueltos.
Palabras-clave: cuidado de enfermería, atendimiento domiciliario, HIV/SIDA, autocuidado
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Introdução
O atendimento domiciliar a portadores de HIV/
SIDA é feito a partir de uma avaliação da equipe
interdisciplinar, composto por professores e
profissionais de saúde de uma universidade federal do
município do Rio de Janeiro, formada por: enfermeiro,
técnico de enfermagem, médico, assistente social,
serviço social, nutricionista, psicólogo, fisioterapeuta.
Além de contar com a participação de acadêmicos de
enfermagem e serviço social. A enfermagem possui
um papel fundamental na avaliação, que é feita a partir
de uma coleta de dados (psicológico, clínico e
capacidade para o auto-cuidado). A partir dessa
avaliação, o paciente é incluído no Programa de
Assistência Domiciliar Interdisciplinar (PADI).
O atendimento é realizado numa parceria entre
a escola de graduação em enfermagem, o Hospital
Universitário, como projeto de extensão, e um
Laboratório Interdisciplinar de Educação para o
Autocuidado em Portadores de Diabetes Mellitus,
AIDS, Neoplasias e Geriatria.
Objetivo
Discutir a avaliação de enfermagem para o
atendimento domiciliar aos portadores de HIV/SIDA;
identificar aspectos importantes na avaliação de
enfermagem no atendimento domiciliar de portadores
de HIV/SIDA; descrever a avaliação de enfermagem
para o atendimento domiciliar.
Metodologia
Foi realizado um estudo de caso clínico com uma
análise detalhada de três casos, que explicam a dinâmica
de avaliação de enfermagem de portadores de SIDA
em atendimento domiciliar, visando o conhecimento
a partir da sua intensa exploração. É uma análise
holística, a mais completa possível, considerando a
avaliação de enfermagem como um todo, com o
objetivo de compreendê-los e sugerir adequações ao
seu auto-cuidado domiciliar.
O cenário do estudo é o PADI e o domicílio dos
portadores. O instrumento de coleta de dados consiste
numa ficha de avaliação de enfermagem, incluindo
dados pessoais, clínicos, sociais, sobre o portador e
seu cuidador.
A coleta de dados aconteceu no período de maio
a julho de 2002, através da aplicação da ficha de
avaliação de enfermagem, na qual é realizada uma
entrevista, a observação, o exame físico no portador
e consulta ao seu prontuário.
A organização dos dados foi executada através
do software EPI-INFO, módulos EPED e ENTER. A
análise dos dados tem uma abordagem quantitativa,
caracterizada como uma discussão e análise dos
resultados da avaliação de enfermagem acerca do
estado de saúde e auto-cuidado dos portadores, com
interpretação dos dados a partir de fontes primárias
(dados coletados) e fontes secundárias, um
levantamento bibliográfico sobre avaliação e cuidado
de enfermagem do portador de HIV/SIDA para o
atendimento domiciliar.
Resultados, análise e discussão
A população atual atendida pelo PADI é de
11 pacientes de quatro especialidades: diabetes
mellitus (2), AIDS (3), neoplasias (2) e pacientes
geriátricos (4). Houve três óbitos, sendo 1 portador
de neoplasia pulmonar metastásica, com 26 anos
do sexo masculino, e 2 pacientes idosas em estágio
terminal, portadoras de adenocarcinoma de ovário
estágio IV (88 anos) e paralisia supra-nuclear
progressiva (74 anos).
Os três portadores de HIV/AIDS possuem
idade entre 35 e 46 anos, sendo dois do sexo
masculino e um do sexo feminino. Dois portadores,
um homem e uma mulher, apresentam diabetes
mellitus e hipertensão arterial, e um apresenta
sarcoma de Kaposi, que são doenças crônicas
associadas ao HIV/AIDS, ocasionando
emagrecimento, lipodistrofia, astenia, distúrbios
nutricionais, alterações psiquiátricas e reações
emocionais em relação à doença e ao auto-cuidado.
A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
(AIDS) é definida como a forma mais grave de uma
seqüência de enfermidades, associadas à infecção
pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). Este
tem sido referido como um vírus para células
linfotróficas humanas tipo III (HTLV-III) e vírus
associado a linfadenopatia (LAV). As manifestações
do HIV variam de leves anormalidades na resposta
imune, sem sinais e sintomas evidentes,
aprofundando para a imunossupressão associada
que provoca lenta degeneração deste sistema,
favorecendo o aparecimento de infecções
oportunistas e cânceres.
Apresentam infecções oportunistas tais como:
herpes zooster, neurotoxoplamose, cito-
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megalovirose, tuberculose pulmonar, com seqüelas
neurológicas, que acar retam dificuldade de
locomoção, levando ao uso de muletas e cadeiras
de rodas. Dois portadores, um homem e uma
mulher, apresentam diabetes mellitus (2),
hipertensão arterial (2) e um apresenta sarcoma de
Kaposi, que são doenças crônicas associadas ao
HIV/AIDS, ocasionando emagrecimento,
lipodistrofia, astenia, distúrbios nutricionais,
alterações psiquiátricas e reações emocionais em
relação à doença e ao auto-cuidado.
Em relação à capacidade para o auto-cuidado,
a avaliação denota tendência a dependência de total
a parcial dos portadores em relação aos seus
cuidadores e ao cuidado de enfermagem domiciliar.
Todos usam antiretrovirais. A portadora usa
analgésico, psicotrópico e antihipertensivo.
O portador de diabetes mellitus usa
antidiabético oral e insulina NPH, antihipertensivo,
antiemético e protetor gástrico.
A maiorias das pessoas infectadas pelo HIV não
apresenta sintomas nem sinais imediatos da doença.
Ocorre a soroconversão quando a pessoa formou
anticorpos suficientes contra HIV para tornar o teste
sorológico positivo. São necessários de 3 a 6 meses
para que ocorra a soroconversão. Este período é
chamado de janela imunológica.
O HIV pertence ao grupo dos retrovírus, o qual
indica que o vírus carreia mais seu material genético
no ácido ribonucléico (RNA) do que no ácido
desoxirribonucléico (DNA). Este infecta as células do
sistema imunológico, seletivamente às moléculas
CD4+, que se incluem em monócitos, macrófagos e
linfócitos T4 auxiliares.
O HIV se liga à membrana celular das células
T4 auxiliares, onde se encontram predominantemente
as moléculas CD4+, e injeta duas tiras idênticas de
RNA, usando uma enzima conhecida como
transcriptase reversa. O HIV reprograma os materiais
genéticos da célula T4 infectada, para marcar a tira de
DNA duplicada. Este DNA é incorporado ao núcleo
da célula T4 infectada, como um pró-vírus e a infecção
é permanentemente estabelecida. Neste processo de
penetração e infecção da célula T4, o HIV destrói as
moléculas CD4.
O ciclo de replicação HIV é restrito a este estágio
até a ativação da célula infectada. A ativação da célula
infectada pode ser alcançada por antígenos, mitógenos,
citocinas selecionadas (fator alfa de necrose do tumor
ou interleucina 1), ou produtos do gen viral de vírus,
como citomegalovirus (CMV), herpes simples e
hepatite. Conseqüentemente, enquanto a célula T4
infectada é ativada, ocorrem a replicação e crescimento
do HIV e a célula T4 é destruída. O HIV recentemente
formado é, então, liberado no plasma sanguíneo e afeta
outras células CD4. Com a invasão progressiva do
HIV, a imunidade humoral (linfócitos B) e celular
(linfócitos T) diminuem e começam a surgir infecções,
que irão caracterizar a doença.
Nos casos dos portadores de HIV/AIDS, a fase
de doença é manifestada, ou seja, o vírus já passou da
fase de replicação para a fase de ativação, sendo que
pelo menos um deles já apresentou sarcoma de
Kaposi.
Quando a função dos linfócitos T4 está
comprometida, microrganismos, que comumente não
causam doença, têm a oportunidade de invadir e causar
sérias patologias. Infecções que se desenvolvem com
resultante comprometimento do sistema imune, são
referidas como infecções oportunistas, que apresentam
herpes zooster, neurotoxoplamose, citomégalovirus
e tuberculose pulmonar, com seqüelas neurológicas.
A infecção de monócitos e macrófagos parece
ser persistente e não resulta em morte celular
significativa, mas estas células servem como
reservatório para o HIV, permitindo ao vírus sair do
sistema imune e ser transportado pelo sistema, para
infectar uma variedade de tecidos corporais. Quando
o sistema imune é estimulado, ocorre a replicação do
HIV e o vírus diminui no plasma sangüíneo, com
subseqüente infecção de outras células CD4+.
Acredita-se que a taxa de produção do HIV
esteja associada com o estado de saúde do indivíduo
infectado. Se este não está lutando contra outra
infecção, a reprodução do HIV procede lentamente.
A reprodução parece acelerar, quando o indivíduo está
combatendo outra infecção ou quando seu sistema
imune é estimulado. Portanto, é necessário ressaltar a
importância do auto-cuidado para a prevenção de
outras patologias, que possam desencadear esta reação.
Através da ficha de avaliação de enfermagem é possível
traçar um plano de cuidados eficaz, capaz de atender
as necessidades humanas básicas, promovendo melhor
qualidade de vida e satisfação pessoal de todos os
envolvidos.
As manifestações clínicas mais comuns nos
portadores de HIV/AIDS, fora as pulmonares, são
as gastrointestinais, orais, no sistema nervoso central
e doenças crônicas degenerativas, como os cânceres,
o diabetes mellitus e a hipertensão arterial.
As manifestações pulmonares podem se
apresentar em tosse persistente, com ou sem produção
de secreção, falta de ar, dor torácica e febre,
decorrentes da pneumonia por Pneumocystis carinii (mais
comum), da pneumonia bacteriana, do Mycobacterium
avium disseminado, do citomégalovirus, do Histoplasma,
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do sarcoma de Kaposi, do Cryptococcus, da Legionella e
outros patógenos.
As manifestações gastrointestinais, por sua vez,
podem ser diarréia, perda de peso, anorexia, cólicas
abdominais, urgência retal (tenesmo), decorrentes de
patógenos entéricos.
As manifestações orais se manifestam com
aparecimento de lesões orais, placas esbranquiçadas
na mucosa da boca e quelite angular da Candida albicans
na boca e esôfago; vesículas ulceradas provocadas pelo
vírus herpes simplex; lesões esbranquiçadas espessas
nas margens laterais da língua decorrente de
leucoplasia pilosa; verrugas orais causadas pelo
papilomavírus humano (HPV) e gengivite associada;
periodontite que progride para necrose da gengiva.
As manifestações no sistema nervoso central
(SNC) dizem respeito a sintomas cognitivos, motores
e comportamentais (complexo demência da AIDS/
encefalopatia do HIV); retardo mental, deficiência de
memória e concentração, perda do equilíbrio, fraqueza
das extremidades inferiores, ataxia, apatia e isolamento
social; toxoplasmose, meningite criptocócica, infecções
pelo herpes vírus, do CMV (que causa cegueira e
retinopatia) e linfoma.
Os cânceres mais comuns são o sarcoma de
Kaposi (tumor agressivo que envolve a pele,
linfonodos, tubo digestivo e pulmões); linfoma nãoHodgkin e linfomas; e o carcinoma de colo uterino.
associadas à infecção por HIV e a contagem de células
T CD4+.
Após a avaliação da equipe multidisciplinar, mais
especificamente do enfermeiro, em relação às
condições de auto-cuidado, é de extrema importância
que o portador de HIV/AIDS se proponha a aderir
às implicações, restritas ou não, do tratamento e da
manutenção da estabilidade e evolução do estado de
saúde, através de cuidados básicos, que visam otimizar
sua qualidade de vida. Os cuidados de enfermagem
surgem a partir da necessidade de aprendizagem do
portador e seu cuidador, sobre seus problemas e
dificuldades para se cuidarem. Os mais comuns são
relacionados a orientações sobre hidratação, nutrição,
higiene pessoal e do ambiente, adesão ao tratamento
medicamentoso e ao reconhecimento de sinais e
sintomas de descompensação e infecções
oportunistas.
Os cuidadores são duas mulheres (irmã e mãe),
com idade de 40 anos e 83 anos e um homem com 46
anos (companheiro). Os cuidadores respondem
favoravelmente ao atendimento domiciliar
interdisciplinar, interagindo bem com o seu familiar e
com a equipe interdisciplinar, favorecendo a
promoção do auto-cuidado.
Dentre as manifestações clínicas descritas, os
portadores de HIV\AIDS atendidos no PADI se
enquadram em algumas delas, tais como:
Ficou evidente que o PADI (Programa de
Assistência Domiciliar Interdisciplinar) permite que
a avaliação de enfermagem vislumbre, no portador
de HIV/AIDS, o auto-cuidado quanto a presença de
situações assintomáticas, relacionadas à doença.
Orienta o portador desta síndrome quanto às
necessidades humanas básicas e, também, como
conciliá-las com sua situação sócio-econômica e
domiciliar.
Sendo assim, torná-se de suma importância a
determinação da capacidade de auto-cuidado,
acompanhadas através do atendimento domiciliar de
enfermagem, enfocando a evolução da doença,
estimulando medidas profiláticas, com o objetivo de
evitar a involução da síndrome e conseqüentemente
a hospitalização
Isto reduz custos para a instituição hospitalar,
tornando a terapêutica mais humanizada, enaltecendo
a arte do cuidar de enfermagem, característica própria
do enfermeiro, que tem como filosofia a visão
holística.
Quanto ao cuidador, o enfermeiro é responsável
por orientá-lo, avaliando sua capacidade de
-Tosse persistente, com ou sem produção de secreção,
falta de ar, dor torácica e febre;
-Diarréia, perda de peso, anorexia, cólicas abdominais,
urgência retal (tenesmo);
-Sintomas cognitivos, motores e comportamentais
(complexo de demência da AIDS/encefalopatia do
HIV);
-Apatia e isolamento social, deficiência de memória e
concentração;
-Infecções pelo herpes vírus;
-Sarcoma de Kaposi.
Variam as manifestações de infecção HIV. O
diagnóstico baseia-se na história clínica, identificação
dos fatores de risco, exame físico, evidência
laboratoriais de disfunção imune, identificação de
anticorpos HIV, sinais e sintomas bem como infecções
e/ou malignidade. A caracterização do quadro baseiase no cruzamento de dados entre condições clínicas
Considerações finais
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envolvimento no tratamento, prestação de cuidados e
sua interação com o portador de HIV/AIDS.
A avaliação da enfermagem no atendimento
domiciliar de portadores de HIV/AIDS é um
instrumento de conhecimento sobre a situação de
saúde dos pacientes, evidenciando a importância do
cuidado de enfermagem como um modelo para o seu
auto-cuidado.
Os cuidados de enfermagem surgem a partir da
necessidade de aprendizagem do portador e seu
cuidador. Os problemas mais comuns, nos casos
estudados, estão relacionados a orientações sobre
hidratação, nutrição, higiene pessoal e do ambiente,
adesão ao tratamento medicamentoso e ao
reconhecimento de sinais e sintomas de
descompensação e infecções oportunistas.
O impacto social do atendimento domiciliar
interdisciplinar, através da educação para o autocuidado em portadores de diabetes mellitus, AIDS,
neoplasias e em pacientes geriatricos, refletirá na
diminuição de custos com o atendimento hospitalar,
além de melhorar a qualidade da assistência hospitalar
e, por conseguinte, da prática dos profissionais
envolvidos, com reflexos na qualidade de formação
profissional e fomento à pesquisa em saúde nas áreas
e cenários universitários envolvidos.
O grupo tem como meta alcançar a integração
entre graduação - pós-graduação - assistência,
formando agentes de mudanças, multiplicadores de
saber e prática, que revertam para o ensino e a prática
assistencial na assistência pós hospitalar.
As ações de enfermagem no atendimento
domiciliar interdisciplinar são importantes na evolução
clínica dos portadores, promovendo melhor qualidade
de vida e satisfação pessoal de todos os envolvidos.
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Universidade Federal do Rio de Janeiro/Sub-Reitoria
de Desenvolvimento e Extensão, 2001:246.
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Novembro / Dezembro 2002;1(1)
Artigo original
Resgate do uso de plantas medicinais em
Antônio Prado, RS
Rescue work of the medical plants use in Antônio Prado - RS
Rescate del plantas medicinales en Antônio Prado - RS
Bianca-Lísi Gradaschi da Costa
Enfermeira – Especialista em Fitoterapia, Departamento de Enfermagem, Prefeitura Municipal de Antonio Prado - RS
Resumo
Este trabalho é um relato da experiência de resgate sobre o conhecimento do uso de plantas medicinais, realizado no município
de Antonio Prado/RS. Iniciado em 1999, que perdura até hoje, o projeto vem sendo realizado em conjunto, entre a Secretaria
Municipal de Saúde e a EMATER. Inicialmente, em comunidades da área rural, com grupos de mulheres, desenvolveram-se
vários encontros, visando a identificação de plantas mais utilizadas pelas famílias, indicações, formas de uso, coleta e
armazenamento. A seguir, foram catalogadas 29 plantas utilizadas pelas comunidades participantes do projeto. Estas mesmas
plantas foram revisadas bibliograficamente e este estudo foi devolvido para as comunidades em encontros subseqüentes.
Paralelamente, trabalhos com outros grupos foram surgindo, como: grupo de diabéticos e hipertensos, Mães do Leite,
escolas, professores, Líderes Comunitários, Agentes Comunitários de Saúde, e implantação do Horto Municipal de Plantas
Medicinais com objetivos didáticos. Esta monografia mostra os resultados deste trabalho e a revisão bibliográfica das 7
plantas mais utilizadas, que são: alecrim, capim-cidró, cavalinha, malva, melissa, mil-em-ramas e sálvia.
Palavras-chave: plantas medicinais, comunidade
Abstract
This work is a report of a recall experience on the knowledge of using medical plants done in Antônio Prado/RS. It was
started in 1999, done until today, has been happening along with Health Town Secretary and EMATER. First, in country
village areas, with groups of women, many meeting were held, aiming the identification of the most used plants , its indications,
ways of use, collecting and conservation. Then, 29 plants were catalogued , these ones used by the communities envolved on
the project. The same plants were book-reviewed and this work was returned to the communities in the following meetings.
Along with this, works with other groups were rising such as: diabetes and hypertension groups, Milk Mothers, schools,
Artigo recebido em 15 de agosto, aprovado em 30 de agosto de 2002.
Endereço para correspondência: Prefeitura Municipal de Antônio Prado, Praça Garibaldi, 27 - Centro Antônio Prado - RS.
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teachers, Community Leaders, Health Care Agents, and the establishment of a Town Yard of Medical Plants with teaching
aims. All this way brought us to the register of medical plants knowledge which were forgotten by most of people, due to the
main fact of this knowledge was transmitted only orally generation to generation with no kind of register, and also by the no
valorization that the use of “teas” suffered in the process of modernization. So, the main purpose of this project is to search
the best life quality and guarantee the security and efficacious of the use of medical plants. This essay shows the results of
this work and the book review of seven most used plants. They are: alecrim, capim-limão, cavalinha, malva, melissa, mil-emramas and sálvia. The rescue work is still in development in the town, searching to help other groups and communities which
showed interest in medical plants.
Key-words: medicinal plants, community
Resumen
Es un relato de la experiencia de rescate sobre el conocimiento del uso de plantas medicinales realizado en el municipio de
Antonio Prado/RS. Desde su inicio, en 1999, hasta hoy, este trabajo viene siendo realizado en conjunto, entre la Secretaria
Municipal de Salud y EMATER.
Primero comenzó en comunidades de la área rural, con grupos de mujeres, y se desenvolvieron vários encuentros, con la
finalidad de identificar las plantas mas utilizadas por las familias, indicaciones, formas de uso, colecta y almacenamiento.
A continuación, fueron catalogadas 29 plantas utilizadas por las comunidades participantes del proyecto. Estas mismas
plantas fueron revisadas bibliograficamente y este estudio lo devolvieron para las comunidades en otros encuentros.
Paralelamente, trabajos con otros grupos fueron surgiendo , como: grupo de diabéticos y hipertensos, Madres de Leche,
Profesores, Líderes de la comunidad, Agentes de la Salud de la comunidad, e implantación del Huerto Municipal de Plantas
Medicinales con objetivos didáticos.
Esta monografía muetra los resultados de este trabajo y la revisión bibliográfica de las 7 plantas mas utilizadas, que son:
alecrim (Rosmarinus officinalis), capim-cidró(Andropogn achoenanthus), cavalinha (equisetum fluviatile), malva (malva),
melissa(melissa officinalis), mil-em-ramas ( achillea millefollia) y salvia (salvia officinales).
Palabras-clave: plantas medicinales, comunidad
Introdução
Esta monografia mostra um estudo realizado
sobre o resgate do uso de plantas medicinais, nas
comunidades rurais, do Município de Antônio Prado.
O município de Antônio Prado está localizado
na região serrana do Rio Grande do Sul. Tem uma
extensão territorial de 343 km2, está a 170 km da capital
e sua altitude é, em média, 780m acima do nível do
mar. Segundos dados do IBGE a população é de
12.918 habitantes. Destes, 8.416 estão na área urbana
e 4.501 na área rural.
A Secretaria Municipal de Saúde em conjunto
com a EMATER, representados respectivamente pela
enfermeira Bianca Costa e a extencionista de Bem
Estar-Social Clara Pigozzo, iniciaram, em novembro
de 1999 reuniões buscando: a) identificação das plantas
medicinais mais utilizadas pelas famílias; b) a forma
de uso; c) indicações e, d) coleta, secagem e
armazenamento. As plantas que aparecem com maior
freqüência foram pesquisadas e posteriormente este
estudo foi devolvido para as comunidades.
Vimos no trabalho que com o passar dos anos
estas plantas foram perdendo seus nomes e indicações
originais, devido a variações culturais e regionais. Deste
modo, ocorrem usos incorretos com prejuízo a saúde
das pessoas, tendo em vista a não solução dos
problemas desejados e interferindo na credibilidade
das plantas medicinais como instrumento de saúde.
Também justifica este trabalho o fato de que,
segundo a Organização Mundial da Saúde, 80% da
população brasileira utiliza plantas medicinais, muitas
vezes sem conhecer a atuação dos princípios ativos
sobre o organismo humano. Todavia, sabemos que as
plantas medicinais, quando utilizadas corretamente,
têm ação mais natural, sem apresentar tantos efeitos
colaterais, trazendo maior qualidade de vida, com um
custo mais baixo, o que se torna relevante pela
realidade econômica da maioria da população
brasileira.
Baseado nesta estatística e nas características do
município, realizou-se um trabalho de resgate do uso
das plantas medicinais, inicialmente na área rural e
posteriormente na urbana.
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Uma outra justificativa, é que este trabalho reúna
informações científicas disponíveis sobre plantas
validadas como medicinais, através da comprovação
de sua eficácia e segurança terapêutica, de acordo com
a assertiva de que plantas medicinais são só
medicamento quando usadas corretamente.
Objetivo geral
Este projeto visa formar uma rede para o
fortalecimento da implantação do Programa Municipal
de Plantas Medicinais integrando conhecimentos,
resgatando a cultura popular, bem como repassando
informações concretas e seguras à população.
Objetivos específicos
- Promover e incentivar o resgate do conhecimento
popular sobre plantas medicinais e aromáticas;
- Incentivar escolas, comunidade em geral na
organização de hortas, na produção e uso de plantas
medicinais;
- Promover reuniões, seminários, palestras, oficinas,
demonstrações técnicas sobre o uso de plantas
medicinais e aromáticas;
- Oferecer a população uma alternativa de diagnóstico,
tratamento de baixo custo e eficácia comprovada.
Metodologia
- Levantamento das principais plantas da região e seu
uso;
- Levantamento bibliográfico das plantas e de seus
princípios ativos;
- Organização de herbários com exicatas de ervas
medicinais e aromáticas;
- Reunião de motivação para todos envolvidos com o
projeto;
- Cursos de capacitação em produção, colheita,
secagem, armazenamento e beneficiamento de plantas
medicinais e aromáticas;
- Curso de capacitação para diagnóstico e tratamento;
- Visitas de intercâmbio para aprimoramento do
conhecimento dos envolvidos com o projeto.
O trabalho que relataremos, traz à tona a relação
histórica dos imigrantes italianos com o meio
ambiente, e de forma específica com o uso das plantas
medicinais. Através desse, unimos as informações
científicas disponíveis sobre as plantas validadas como
$
medicinais, formando, a partir disso, uma rede de
informações e troca de experiências com os mais
variados segmentos do município. A pesquisa e toda
a experiência foram construídas em sua essência
através dos relatos nas comunidades rurais, sobre o
uso popular das plantas medicinais, condimentares e
aromáticas, que foi passado pelos antepassados de
forma oral, sem registros literários. Inúmeras
metodologias foram usadas, as quais vêem
desempenhando papel fundamental na construção do
conhecimento. Acima de tudo, o foco do trabalho
leva o indivíduo a questionar e observar todo o
processo político, cultural, social e econômico em que
estamos inseridos, para analisar o porque das atuais
relações homem e meio ambiente.
O trabalho, desenvolvido em conjunto com a
EMATER de Antonio Prado, consiste em reuniões
agendadas previamente com as comunidades. Na
elaboração do projeto foram estipuladas três reuniões
por comunidade participante.
No primeiro encontro, as mulheres convidadas
eram orientadas para levarem as plantas verdes que
mais utilizavam em sua casa. Durante a reunião, no
primeiro momento, realiza-se uma sensibilização
rememorando a história do uso de plantas medicinais,
trazendo do contexto global até o local. Ressalta-se a
importância do uso correto das plantas medicinais para
um melhor efeito terapêutico. Na seqüência, as plantas
passaram a ser identificadas pelas mulheres da seguinte
forma: pega-se uma planta, que era identificada pelo
seu nome popular e fixada em painel de papel pardo
com o uso de tarjetas, e assim com todas as plantas
que ali estavam. Em seguida, foram repassadas
informações de como aproveitar melhor as plantas,
através do preparo adequado dos chás. Como
finalização era lançada a proposta de um novo
encontro.
No segundo encontro, as plantas de uso mais
comuns no município, revisadas bibliograficamente,
foram devolvidas para as comunidades, fazendo a
conexão do uso popular com o uso científico,
reforçando sua identificação através de fotos,
transparências e plantas secas; enfatizando as
características de odor, aparência e coloração.
Discutimos também a importância das plantas
recicladoras e alelopáticas, quando as diversas
experiências das famílias nesta área são colocadas e
há uma interação com a equipe sobre o tema
No terceiro encontro, estas mesmas mulheres
recebem orientações para o cultivo, coleta, secagem,
armazenamento e formas de preparo dos chás, com
o objetivo de se obter um melhor resultado terapêutico
destas plantas. Também são preparadas algumas
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receitas populares de xarope para a
tosse, sabão para pediculose, vinhos e
vinagres aromáticos.
Outras atividades
Paralelamente,
foram
acontecendo, através de outros
segmentos do município, uma procura
junto à equipe para o desenvolvimento
de trabalhos semelhantes e novas
sugestões de atividades, tais como:
capacitação de professores, Agentes
Comunitários de Saúde, grupos de
diabéticos e hipertensos , escolas, grupo de “Mães de
Leite” , capacitação de líderes comunitários , e também
a instalação do horto municipal de plantas medicinais,
condimentares e aromáticas com objetivos didáticos .
Os grupos participantes foram sugerindo
outras pautas para a continuidade do trabalho, como
por exemplo, a necessidade de novos encontros em
cada comunidade para a elaboração de outras receitas
caseiras, organização de hortos comunitários, bem
como, o início da discussão do uso de plantas,
medicinais, condimentares e aromáticas para os
animais na propriedade rural.
Resultados
O município tem um total de 32 comunidades
na área rural. Destas, 16 participaram do projeto na
primeira fase (gráfico 1). Foram identificadas 29
plantas utilizadas na região. Estas plantas,
posteriormente, foram revisadas bibliograficamente
e suas indicações científicas comparadas com o uso
popular. Este resultado foi devolvido para as
comunidades no segundo encontro.
As 29 plantas mais usadas pelas comunidades
foram o foco principal para todas as atividades geradas
durante o processo, visto que através e a partir delas,
formamos e implantamos a rede de informações,
valorizando, assim, toda a cultura local, com o aval
das famílias ( Gráfico 2).
O trabalho mostra essencialmente resultados
qualitativos, pois as pessoas passaram a olhar e
perceber seu conhecimento e interação com o meio
ambiente de maneira diferente. Muitos aspectos da
realidade diária das famílias, que antes não eram
percebidos, passaram a ser observados, ao mesmo
tempo que outros aspectos já conhecidos por eles
adquiriram novo significado.
Salienta-se que o grande ápice do trabalho é o
fato da certeza da construção de um novo mundo de
possibilidades pelas famílias envolvidas, na busca do
conhecimento sobre plantas medicinais, através de um
olhar orientado, coletivo, diferente do olhar cotidiano
individual.
Dentro dessa perspectiva confirma-se com a
experiência, a hipótese inicial de que aquilo que foi
realizado trouxe a possibilidade de discutir e transmitir
as comunidades que a realidade local não é única, mas
múltipla.
A realidade do projeto constituiuse em um exercício muito rico para a
equipe e as comunidades.
Ao longo do processo percebeu-se
que a própria perspectiva das atividades
que aconteceriam no passo seguinte,
foram se modificando, se ampliando, se
complexificando e desdobrando-se em
novas possibilidades na área de plantas
medicinais.
Maior resultado dos trabalhos não
é a solução dos questionamentos, e nem
conclusões fechadas, mas sim uma
%
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mudança
de
perspectiva com
relação a eles,
possibilitando aos
envolvidos
no
trabalho a ampliação
de seu campo de
visão, mostrando que
as comunidades e o
ser humano possuem
uma
bagagem
riquíssima
de
conhecimentos,
embora ela não esteja
explícita.
Todos
foram convidados a
pensar sobre a
questão e, assim,
aprofundar
seus
conhecimentos.
Horto didático municipal
Outro fator a
considerar é a
importância da interação das famílias na troca de
mudas, na identificação, no resgate de plantas que
estavam se perdendo, revelando a importância de
trabalhar com a percepção e os conhecimentos das
comunidades. A utilização das plantas com efeitos
terapêuticos passou a ser vista como algo importante,
a partir da proposta de mudança na forma, preparação
e uso do chá caseiro, através das informações
repassadas pelos responsáveis do trabalho. Com isso,
a proposta de uma mudança no cotidiano familiar,
quando se fizesse necessário, para posteriormente
serem relatadas as mudanças acontecidas nas reuniões
e/ou em atividades individuais.
Como resultados específicos destaca-se:
- A mudança na forma de uso e preparo de
chás, observando a importância disso na obtenção de
maior número de princípios ativos, melhorando o
efeito terapêutico das plantas;
- A integração das escolas, professores e outros
na divulgação e transmissão dos conhecimentos,
dentro da sistemática proposta no trabalho.
- O entendimento, que os participantes têm
hoje, da importância de valorizar as plantas medicinais
que fazem parte do ecossistema local, e que pela
influência do solo, clima, relevo entre outros, nos
oferecem plantas que estão adaptadas à região e com
um grande leque terapêutico, sendo desnecessário
buscar em outras regiões plantas similares;
- A repercussão do trabalho, através da busca
&
de informações pelas comunidades que ainda não
foram envolvidas de forma efetiva nas atividades;
- “ Toda a caminhada nos levou ao registro
das plantas mais usadas no município que foram
repassadas de geração em geração de forma oral .”
Conclusões
O uso de plantas medicinais no tratamento de
doenças é tão antigo quanto a história da humanidade.
Este trabalho trouxe à tona muitos
conhecimentos populares que estavam esquecidos. E
este registro é um dos mais importantes resultados
obtidos.
Os grupos que participaram deste projeto
obtiveram conteúdo para melhor aproveitamento das
plantas medicinais e para garantir seu uso seguro.
Recuperou, com certeza, conhecimentos que estavam
esquecidos, possibilitando melhoria nas condições de
saúde da população, pelo uso correto das plantas
medicinais, até porque a população tem demonstrado
descontentamento com o modelo de assistência
médica do município.
O trabalho continua se desenvolvendo no
município, buscando contemplar outros grupos e
comunidades que demonstram interesse em plantas
medicinais.
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Artigo original
Perfil social e epidemiologico de gerontos
internados em geriatrias na cidade de Porto
Alegre, RS
Study of epidemiological and social profiles of older people
living in geriatric houses in Porto Alegre City, RS
Perfil social y epidémico de gerontos internados en geriatrías
en la ciudad de Porto Alegre, RS
Maria Elena da Silva Nery*, Arlete Spencer Vanzin**
*Livre-Docente da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Professora da FADEP; **Livre-Docente da escola
de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), na área de Enfermagem de Saúde Publica e professora visitante da
FADEP - Faculdade de Pato Branco
Resumo
Este estudo visa conhecer os perfis social e epidemiológico de gerontos residentes em casas geriátricas de pequeno porte,
situadas na cidade de Porto Alegre, relacionados com alguns indicadores sociais, lazer e saúde. As informações obtidas foram
analisadas numa abordagem quantitativa e algumas inferências qualitativas, e evidenciando que os gerontos pertencem a um
grupo de risco, exigindo atenção especial de enfermagem.
Palavras chave: Geronto, problemas de saúde, indicadores sociais, perfil social.
Abstract
In this study we investigate the social and epidemiological profiles of the older people who are living in small geriatrics
houses, in the porto Alegre city, and its relationship with some social indicators, leisure and health. The obtained information
was analized in a quantitative and some qualitative inference approaching, evidenced that geronts people belongs to a hazard
group, that meeds special nursing care.
Key-words: Geronto, health problem, social indicators, social profile.
Resumen
Este estudio tiene como objeto conocer el perfil social y epidémico de gerontos residentes en casas geriátricas de pequeño
porte, ubicadas en la ciudad de Porto Alegre, relacionados con algunos indicadores sociales, diversión y salud. Las informaciones
conseguidas fueron analisadas a través de un abordaje cuantitativo y algunas conclusiones cualitativas, y ponen en evidencia,
que los gerontos pertenecen a un grupo de riesgo, que exigen atención especial de enfermería.
Palabras-clave: Geronto, problemas de salud, indicadores sociales, perfil social.
Artigo recebido em 15 de agosto, aprovado em 30 de agosto de 2002.
Endereço para correspondência: Maria Elena da Silva Nery, Escola de Enfermagem da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul - Rua São Manoel, 963 B - Bom Fim - 90620-110 tel: (51) 3316-5226.
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Introdução
A reflexão sobre a pratica de enfermagem
reorienta o processo de ensino – aprendizagem na
assistência aos gerontos, dentro de uma abordagem
social que implica num processo participativo, em
busca da melhoria da qualidade de vida.
Os gerontos constituem um grupo de risco,
dentro da ótica de Saúde Pública, pois estão mais
sujeitos às doenças e acidentes do que a população
em geral.
O geronto, dentro de nossa realidade social,
configura um problema de saúde pública por tratarse de uma faixa etária de risco, que apresenta
enfermidades, tais como: cardiopatias, hipertensão
arterial, câncer, diabetes, osteoporose, artrites, mal de
Alzheimer, doença de Parkinson, demências. Logo,
preenche os quatro critérios de um problema de saúde
publica, pela:
MAGNITUDE: Os problemas apresentados
podem ser medidos epidemiologicamente, através dos
indicadores incidência e prevalência;
TRANSCENDÊNCIA: A resolutividade dos
problemas de saúde referidos, demandam alto custo
social para a família e sociedade, especialmente quando
ocorrem complicações como acidente vascular
encefálico, infarto do miocárdio, insuficiência renal e
outros de risco à vida;
VULNERABILIDADE: Corresponde ao
quanto o geronto pode ser orientado monitorado,
desde que aplicados conhecimentos e tecnologia
simplificada, aumentando a relação beneficio/custo e
a prevenção de complicações;
PRIORIDADE INSTITUCIONAL: O geronto
pode apresentar problemas de saúde de alto risco à
vida, exigindo prioridade institucional. No entanto,
ainda é necessário maior sensibilização das instituições
de saúde no atendimento ao geronto, especialmente
quando seu caso depende de internação.
A busca de longevidade máxima por todas as
sociedades modernas conduz ao aumento da média
de vida do homem, com agravamento dos problemas
sociais do idoso e de seus familiares, em nosso país,
embora sua sobrevivência seja assegurada em
dispositivos constitucionais. Para termos idéia, a média
de vida, estimada em 1900, não ultrapassava os 40
anos; em 1970, alcançava os 60 anos; em 1990, atingiu
os 70 anos de idade, segundo o IBGE (1990). Outro
agravante é que, com o avançar da idade, aparecem os
problemas de saúde, especialmente das doenças
degenerativas, com comprometimentos físicos e
mentais, gerando alto custo social e desgaste familiar.
A Sociedade Brasileira de Psiquiatria Clínica
informa que 7% da população de 75 a 84 anos de
idade e 25% acima de 84 anos, são portadores de mal
de Alzheimer ou outra demência grave.
Waldow [12] em seu estudo sobre o perfil
biológico e psicossocial de idosos refere que: “Tanto
os idosos asilados quanto não asilados, apresentam
problemas próprios do processo físico de
envelhecimento, problemas visuais, reumáticos e de
funcionamento intestinal. Em relação à área psicosocial, observa-se maior incidência de problemas, tais
como solidão e isolamento, em idosos asilados,
enquanto que em idosos não asilados a preocupação
maior se deu com destino de bens materiais e o futuro
dos filhos. Os dois grupos de idosos manifestaram
necessidade de maior contato humano”.
Hillan [6] realizou estudos sobre o geronto
demente residente em casas geriátricas e hospitais, por
longos períodos de internação, concluindo que
nenhuma categoria profissional tem todas as respostas,
quando interagindo com idosos dementes, e que
cuidados essenciais para seu bem-estar: conforto,
higiene, segurança, alimentação e conversa, tem
melhor resultado com os familiares, amigos e
voluntários no atendimento de suas necessidades
básicas, do que com profissionais de saúde.
Nas Américas, a tendência é aumentar o número
de gerontos com 65 anos ou mais, que já representam
em torno de 15% da população geral [10]. No Brasil,
o índice de envelhecimento é 74 anos (número de
pessoas com 60 anos ou mais por cada 100 jovens
menores de 15 anos). Tratá-se de uma população
brasileira, que é uma população de jovens que
envelhecerá, merecendo especialmente atenção da
família, da comunidade e do governo que, em
conjunto, devem buscar soluções para os problemas
desse grupo de risco.
Os meios de comunicação social mostram o
despertar a consciência das pessoas da terceira idade
que, através de reuniões, movimentos, associados e
conselhos, procuram sensibilizar a sociedade para a
observação do artigo 230 da Constituição da República
Federativa do Brasil [2], que confirma: “A família, a
sociedade e o Estado têm o dever de amparar as
pessoas idosas, assegurando sua participação na
comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar
e garantindo-lhes o direito à vida...”
O artigo 261, item II da Constituição do Estado
do Rio Grande do Sul [3] acrescenta: “... estimular
entidades particulares e criar centros de convivência
para idosos e casas-lares, evitando o isolamento e a
marginalização social do idoso”.
!
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Novembro / Dezembro 2002;1(1)
Além destes, outros direitos constitucionais
fornecem subsídios para a definição de uma política
de atenção aos gerontos. No entanto, é necessário
conhecer mais sobre eles em nossa sociedade,
especialmente os internados em geriatria, segundo os
objetivos formulados, a seguir:
• Conhecer alguns indicadores sociais e
epidemiológicos que contribuam para estabelecer o
perfil do geronto residente em casas geriátricas;
• Identificar as necessidades de lazer e o grau
de interesse dos gerontos pelas atividades desta
natureza;
• Identificar os problemas de saúde, a fim de
planejar o tratamento e as ações de saúde e educativas.
Metodologia
O presente estudo foi realizado com 70 gerontos
residentes em três casas geriátricas, situadas na cidade
de Porto Alegre, sorteadas entre dez de pequeno porte,
ou seja, com capacidade de 20 a 25 residentes de ambos
os sexos.
O instrumento de coleta de dados constitui-se
de um formulário com três partes:
Parte I – dados de identificação e alguns
indicadores sociais, tais como: sexo, estado civil,
procedência, profissão, realização e previdência.
Parte II – dados relacionados ao interesse pelo
lazer.
Parte III – identificação dos problemas de saúde.
O formulário foi preenchido in loco pelas autoras
mediante uma entrevista, com auxilio de uma
enfermeira assistente e de familiares, uma vez que os
gerontos apresentavam dificuldades de responder
todas as perguntas, em virtude de limitações físicas e
mentais. A coleta de dados foi realizada em 14 dias
úteis, seguida de processamento manual.
Resultados
O alcance dos objetivos formulados para
delinear o perfil social e epidemiológico, é apresentado
nos aspectos mais relevantes dos dados coletados e
processados na pesquisa.
Indicadores sociais
• Razão homem/mulher: observa-se maior
concentração de mulheres, residentes nas casas
geriátricas em estudo, à razão de um homem para
!
sete mulheres, no grupo etário de 75 a 89 anos de
idade. As mulheres do grupo etário de 80 a 89 anos
de idade representam 57,38% do total. Elas
preferem residir com pessoas do mesmo sexo,
contestam a presença de homens e argumentam que
gostariam de ficar à vontade, circulando pelas
dependências da casa. Nas regiões mais
desenvolvidas a razão é de sete homens para dez
mulheres, segundo a Organização das Nações
Unidas [8].
• Aspecto participação: cuidados com sua
pessoa e com outros idosos, 46%, atividades
domésticas, 24% e os demais participam quando
encorajados. As normas das casas estudadas são
flexíveis e permitem sua participação nas atividades
domésticas.
Lazer
• A maioria dos gerontos prefere televisão,
24%; conversa, 17%; atividades domésticas, 17%;
passear, jogar e dançar, 16%; pintar e tomar chimarrão,
8%; jardinagem 8%, e os demais outras atividades.
Muitos referiram que gostariam de assistir televisão,
mas têm problemas de visão. A maioria permanece
no jardim de inverno ou no pátio, expostos ao sol,
por algum tempo, no horário da manhã. Após o
almoço, a maioria dorme. À tarde têm um lanche e
assistem TV, caminham pela casa, área de lazer e até a
praça. À noite, a maioria vai para a cama cedo, outros
assistem novelas até as 22 horas. Muitos usam
sedativos para dormir. Aqueles que têm problemas
de redução da visão e/ou audição, procuram isolar-se
dos demais, especialmente das atividades grupais.
Para Menezez [7]: “A recreação surge como
um meio de propiciar ao geronto um lazer
prazeroso e criativo, que lhe possibilita realizar
projetos e desenvolver aptidões para as quais nunca
teve tempo ou condições. As atividades recreativas,
podem torná-lo novamente útil à si mesmo, à sua
família e à comunidade, valorizando-a e,
conseqüentemente, aumentado-lhe a auto-estima.”
Alguns gerontos ao serem admitidos em casas
geriátricas, sentem-se rejeitados e espoliados pelos
familiares, entrando em autismo depressão, muitas
vezes, expressando seus sentimentos: “Eu quero
morrer” ou “Não preciso mais viver” ou, ainda,
“... meus filhos venderam tudo que era meu e me
puseram aqui”. No entanto, a maioria entra com
atitude positiva e integra-se logo aos demais.
Aqueles insatisfeitos, gradativamente vão aceitando
a idéia de permanecer ali e passam a participar das
atividades de lazer e recreação.
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• Estado civil: dos 70 gerontos estudados, 62%
são viúvos, 25% solteiros e 2% separados. Esses
resultados não estão de acordo com o Censo
Demográfico (1990), que mostra um maior percentual
de idosos entre os casados, seguidos dos solteiros e os
viúvos em terceiro lugar. No entanto, a amostra é
pequena para esta comparação. O crescimento da
população traz várias conseqüências, sendo uma delas
a diferença da taxa de mortalidade entre homens e
mulheres, mais acentuada entre os homens, deixando
grande número de viúvas, de acordo com Camargo [4].
• Procedência: a maioria deles é natural do
interior do Estado, 80%. Eles vieram residir na capital
para assistir seus filhos nos estudos, e aqui
permaneceram.
• Profissão: atividades no lar, 67%; professor,
16%; funcionário público, 4%; costureira, 4% e outras,
9%. Trata-se de uma geração nascida na primeira
década do século passado, situando-se a maioria nos
afazeres domésticos, e um número significativo com
a profissão de professor.
Cribier [5] estudou a relação vida e trabalho,
nos aspectos mobilidade social e velhice, apontando
as dificuldades surgidas ao passar da carreira
profissional para a inativa, situação que gera problemas
sociais para o idoso e sua família. Assim, estão sendo
desenvolvidos programas de preparo para a
aposentadoria em algumas empresas e instituições
governamentais.
• Religião: a maioria dos gerontos são católicos
com 70%. A espírita vem em segundo lugar com 13%
e a evangélica com 11%.
• Previdência: são segurados, 80% junto ao
Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) e
Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande
do Sul (IPERGS), sujeitos a uma assistência precária
à sua saúde. Os 20% restantes são segurados do
Bradesco, Golden Cross, Hospitaú e Montepios, que
propiciam assistência satisfatória a sua clientela,
segundo informações de gerontos e seus familiares.
A maioria deles é aposentada e refere que foi
ativo na sua comunidade, trabalhou para a construção
de sua família e estudos de seus filhos e netos, e não
dispunha de tempo para o lazer.
Algumas na velhice, moravam só (67%), com os
filhos (13%), com irmão (9%), com os netos (3%) e
com outras pessoas (8%). A maioria desfez-se de suas
casas ou apartamentos e foram encorajados a morar
em casas geriátricas, embora com dificuldades
financeiras, devido ao valor da pensão ou
aposentadoria.
Para Camargo [4], a aposentadoria representa
uma perda de “status” social, que cria subitamente
um indivíduo socialmente envelhecido. Pois, o “status”
é a posição que o indivíduo ocupa dentro de um
modelo social, e a função são os vários aspectos que
ele desempenha dentro de seu “status”.
O envelhecimento e a aposentadoria geram
novos papéis e mudanças de padrões familiares, de
amizades e sociais, exigindo habilidade do idoso, nesse
processo de adaptação, especialmente para os que
residem em casas geriátricas.
Problemas de saúde
Verifica-se maior concentração dos problemas
de saúde em relação às doenças degenerativas, tais
como: cardiovasculares, 31%; reumatismo, 12%;
câncer, 2%; atingindo 45% do total.
Os problemas cardiovasculares trazem aos
gerontos alguma incapacidade física ou mental,
requerendo tratamento complexo de alto custo social
e assistência de enfermagem especializada. O
acidente vascular encefálico (AVE) aumenta com a
idade e é mais elevado no homem do que na mulher.
Estudos da Organização Mundial de Saúde mostram
que o tratamento da hipertensão arterial reduz o AVE
[9]. As enfermidades cardiovasculares aparecem
como fatores de ricos, que merecem atenção em
relação à mudança no estilo de vida, em tais aspectos:
tabaco, álcool, alimentação, exercício, estresse e
outros, especialmente no grupo etário de 60 a 79
anos de idade.
A surdez atinge 9% dos gerontos em estudo e a
diminuição da visão também 9%. São problemas que
limitam as relações sociais entre os idosos,
conduzindo-os aos isolamentos psicológicos e,
conseqüentemente, piorando a qualidade de vida.
A visão é o sentido mais comprometido no idoso.
A presbiopia ocorre com mais freqüência na idade
avançada, além do processo de envelhecimento do
cristalino. A catarata representa 40% da cegueira em
idosos, mas pode ser corrigida com cirurgia. Esta
enfermidade não causa cegueira, mas prejudica as
atividades recreativas entre outras. Devido à redução
da visão, o ambiente deve ser preparado para evitar
quedas.
A audição reduzida afeta uma necessidade
fundamental do idoso no processo de comunicação,
dificultando sua convivência com os demais e corre
risco elevado em algumas situações como o tráfico
automotor. Para corrigir a audição é indicado o uso
de aparelhos audiófonos, que visam manter a
comunicação social e reduzir o risco de depressão e
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de paranóia causada por esta privação sensorial. A
OMS aconselha a detecção da surdez e sua correção,
visando melhorar a qualidade de vida.
As doenças mentais aparecem, em segundo
lugar, como as mais freqüentes, atingindo 24% dos
idosos em estudo (as demências mais comuns são a
senil, as enfermidades de Parkinson e de Alzheimer, a
psicose de Korsakov, conseqüência do uso de álcool,
e a psicose paranóica).
A maioria das doenças mentais não reflete uma
diminuição na capacidade mental, mas
comportamentos já existentes ou hábitos e atividades
vivenciados em família, considerados normais em
épocas passadas. Algumas funções psicológicas podem
deteriorar-se com a idade, de processar informações
que diminuem a partir do meio da vida adulta. No
entanto, estes problemas podem ser atenuados com o
auxílio de recursos que melhoram a memória e
mediante adaptações psicológicas, com o aumento da
concentração mental.
A seguir, aparece o reumatismo (6%),
configurando um problema de saúde que gera dor e
incapacitação física, limitando a participação do idoso
nas atividades de grupo e nos exercícios, reduzindo a
auto-estima.
A promoção da saúde na prevenção de
enfermidades é fator importante para retardar a
incapacidade na terceira idade. É necessário fomentar
a formação de profissionais para atuar na área de
geriatria e gerontologia, numa abordagem
multiprofissional em busca da longevidade com
qualidade de vida, segundo Vanzin e Nery [13].
Muitos dos problemas de saúde justificam o uso
de medicamentos, mas a prescrição de muitos
medicamentos podem intoxicar o idoso, pois suas
funções orgânicas estão reduzidas em 30%,
dificultando a eliminação das drogas.
Os idosos em estudo, ao serem admitidos, 76%
deles recebiam até cinco medicamentos, 16% de seis
a dez, e 8% superior a isto. Após supervisão da saúde
de cada idoso pelas enfermeiras e médicos geriatrias,
além de enfermeiros dessas casas, foi ajustada a
terapêutica as suas necessidades. Assim, o número de
medicamentos foi reduzido a menos da metade,
embora muitos familiares não estivessem de acordo
com as modificações nas prescrições. Num aspecto
cultural que enfatiza o uso de medicamentos, além
dos efeitos colaterais, muitas vezes eles são
desnecessários.
Os recursos humanos de enfermagem são
escassos nas casas estudadas. Logo, a educação
continuada e permanente deve ser fomentada e
articulada entre essas instituições que prestam cuidados
!"
aos idosos e universidades, visando humanizar e
qualificar a assistência prestada pelos enfermeiros e
suas equipes.
A promoção da saúde e a prevenção das
enfermidades são fatores importantes, que retardam
ou reduzem as limitações físicas e psico-sociais,
gerando melhor qualidade de vida ao idoso.
Conclusões
O presente estudo mostra que os fatores que
contribuem para a institucionalização do idoso em
nossa cultura são: a solidão, dificuldade em conseguir
emprego, medo de assalto, incapacidade física e/ou
mental para o auto-cuidado, situação financeira e que
os filhos ou parentes não possuem espaço físico e
condições para cuidar do idoso. Além de outro aspecto
da dependência física ou mental, que implica em
cuidados especializados diários com fraturas,
demências, doença de Parkinson e mal de Alzheimer,
que necessitam de suporte emocional e segurança para
protegê-lo de acidentes domésticos.
A maioria dos gerontos refere que as atividades
propiciadas pelas geriatrias atendem suas necessidades
de lazer tais como: assistir televisão, participar de
grupos de conversa, atividades domésticas, passear,
dançar entre outras.
Quanto ao perfil epidemiológico, verifica-se que
as doenças degenerativas atingem 45% dos idosos
(cardiovasculares, reumatismo e câncer). A diminuição
da audição e da visão 49% e os demais problemas em
6% dos idosos estudados. Além dos problemas de
saúde referidos, 24% dos idosos entrevistados são
portadores de doenças mentais, tais como Parkinson,
mal de Alzheimer e demência senil.
O crescente número de pessoas idosas que
esperam contar com a atenção de saúde e pensão por
idade não deve ser considerado uma ameaça ou uma
crise. É mais uma oportunidade de desenvolver
políticas que possam assegurar a todos os membros
da sociedade, jovens e velhos, padrões de vida com
qualidade e longevidade.
Face ao perfil do idoso apresentado, o
profissional enfermeiro tem o mapeamento da suas
necessidades identificadas para planejar as ações que
conduzem ao seu bem estar, em nível familiar e de
casas geriátricas. Assim, formulam-se questões no
aspecto biológico, social, cultural e saúde, cujas
respostas deverão nortear a atenção de enfermagem:
• Quando inicia o processo de envelhecimento?
• Como respeitar os valores, crenças e hábitos
dentro da sua cultura?
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• Como detectar precocemente os problemas
de saúde, visando tratá-los e promover melhor
qualidade de vida?
• Como estimular a participação nas atividades
das casas geriátricas?
• Como comprometer a sociedade na criação
de condições para o bem–estar do idoso?
• Como reforçar as prerrogativas do
enfermeiro para melhor assistir ao geronto?
• Como manter a cidadania do geronto em
harmonia com dispositivos constitucionais?
• Como valorizar o geronto como um
comunicador da história oral?
• Como afastar os pensamentos com relação
ao idoso em nossa sociedade, especialmente no
aspecto profissional?
• Como estimular os familiares e comunidade
para suas responsabilidades em relação aos gerontos?
• Como aproveitar a “Força Trabalho”
acadêmica na atuação à saúde do idoso?
Referências
1.
2.
3.
4.
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Artigo original
O marketing televisivo e a enfermagem Uma luta desigual na orientação sobre o HIV
e o aleitamento materno cruzado
Television marketing and nursing - An inequal fight about HIV
and crossing breastfeeding
El marketing televisivo e la enfermería - Una lucha desigual en
la orientacíon sobre el HIV e la lactancia materna cruzada
Maria Aparecida de Luca Nascimento*, Maria Filomena Pereira V. Almeida**, Marcio Martins da Costa***,
Raquel Nunes da Silva***
*Professor Adjunto do Departamento de Enfermagem Materno Infantil (DEMI) da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP) da
Universidade do Rio de Janeiro (UNIRIO), Chefe de Divisão do Departamento de Pós-Graduação da Pró-Reitoria de Pós Graduação Pesquisa
e Extensão da UNIRIO, Coordenadora do Núcleo de Pesquisa em Estudos sobre a Mulher e a Criança do DEMI, Doutora em Enfermagem,
**Professor Adjunto do DEMI da EEAP da UNIRIO, Mestre em Enfermagem, ***Acadêmicos de Enfermagem da EEAP, Bolsistas de
Iniciação Científica – UNIRIO
Resumo
Estudo descritivo que se baseia em reportagens publicadas em um jornal de grande circulação nacional, que foram originadas
de uma carta envida por enfermeiras à sua redação, cujo teor referia-se às mensagens veiculadas na novela “Por Amor”, com
relação ao aleitamento materno cruzado, que nela era enfocado como uma prática normal, desconsiderando a possibilidade
da veiculação do vírus HIV, através do leite humano. Tendo como principal objetivo apresentar as citadas reportagens, os
autores analisam os referidos textos à luz de referenciais da comunicação como Morley e Matterlat [7], e demonstram que,
apesar de todas os documentos oficiais vigentes, elaborados no sentido de impedir tal prática, o marketing televisivo é tão
forte, que não só, tornou infrutífera a intenção das enfermeiras em alertar o autor da novela para que a prática do aleitamento
materno cruzado não fosse tratada de forma comum, como também, decorridos 4 anos, possibilitou a reprise da mesma
novela. Conclui-se que, se as informações veiculadas anteriormente não tiverem sido alteradas na referida novela, será hora
de, mais uma vez, nos expor nessa luta desigual, onde, de um lado estão as orientações de enfermagem, impedindo e/ou
direcionando criteriosamente o aleitamento materno cruzado, e no outro lado, um melodrama embalado por sons e imagens
que, sendo bem dirigido, confunde a tênue fronteira entre o real e a ficção, interferindo negativamente nessas orientações.
Palavras-chave: enfermagem, aleitamento cruzado, marketing.
Artigo recebido em 15 de agosto de 2002; aprovado em 30 de agosto de 2002.
Endereço para correspondência: Maria Aparecida de Luca Nascimento, Av.Marechal Rondon 300, bloco 2,
apto.310 - São Francisco Xavier - 20950-000 - Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 2574-9149,
E-mail: [email protected].
!$
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Abstract
This descriptive study is based on reports publicized 4 years ago, whose origin arose from a letter forwarded by a group of
nurses to this newspaper. This letter referred to the context being divulged by the soup opera entitled “By Love”, wherein the
crossing breastfeeeding had been shown as a normal procedure, without regarding the human milk as mean HIV infecction.
Substantiated on the comunication theorethical framework described by Morley and Mattelart [7], the authors demonstrated
that in spite of official documents having cancelled out forgoing , the television marketing was so resourceful reporting that
on a period of 4 years ago, the nurses’s letter didn’t avoid the crossing breastfeeding to shown on television, as well as it
allowed the replay of the same soup opera nowadays. The authors realized that if the previous information hadn’t been
altered, it would be necessary exposing ourselves one more time, by evidencing how inequal this struggle is where, one hand,
the nursing couseling, avoiding or showing the best wat of performing the crossing breasfeeding, whenever it has to be. On
the other hand, the television marketing through the soup opera has been manipulating people’s mind, concerning the real
and the unreal, by meddling in a wrong way to this sort of counseling.
Key-words: nursing, crossing breastfeeding, marketing.
Resumen
Estúdio descriptivo que tiene como base reportajes publicadas em um periódico de amplia circulación nacional que tiveron
origen em una carta enviada por enfermeras a la redacción y que hacia referencia a las mensajes vehiculadas en la novela “Por
Amor” con relación a la lactancia materna cruzada, que se mostraba como algo normal, sin considerar la posibilidad de
contaminación con el virus HIV atravez de la leche humana. Con el objetivo de presentar las citadas reportajes, los autores
analisaron los textos a la luz de referencias de la comunicación como Morley e Matterlat y demonstraron que apesar de todos
los documentos oficiales vigentes elaborados para impedir esa práctica, el marketing televisivo es tan forte, que no solamente
tornó infructífera la intención de las enfermeras en alertar el autor de la novela sobre esa práctica equivocada, como también,
después de 4 anõs fué posibilitado el que esa novela fuera presentada de nuevo. Se concluye que si las informaciones vehiculadas
anteriormente no fueron alteradas en la referida novela, será hora, de mas una vez exponermos en esa lucha desigual, donde,
de un lado están las orientaciones de enfermería, impediendo y/o direccionando criteriosamente la lactancia materna cruzada
y en el otro lado, un melodrama de sonidos e imágenes que, estando bien dirigidos confunde la tenue frontera entre la
realidad y la ficción, interfiriendo negativamente en esas orientaciones.
Palabras-claves: Enfermería, lactancia materna, marketing.
Introdução
Este estudo surgiu motivado pelo interesse de
enfocar um tema que há quatro anos atrás originou o
trabalho intitulado “Por Amor...mas sem cuidado”,
de autoria de professoras do Departamento de
Enfer magem Materno Infantil da Escola de
Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade do Rio
de Janeiro [6].
No citado estudo, as autoras desenvolveram uma
pesquisa de campo com a intenção de demonstrar que
a população que servira de base para o estudo, ainda
não trazia interiorizado o perigo da transmissão do
HIV através do leite humano. Essa preocupação era
pautada na veiculação de cenas da novela “Por Amor”,
que preconizava o aleitamento materno cruzado,
apesar da proibição de tal prática através de
documentos expedidos por órgãos governamentais, e
acima de tudo, pela crença de que a imagem televisiva
era uma forte concorrente com as orientações de
enfermagem.
Desse modo, a mencionada pesquisa abordou
256 pessoas, das quais, somente 6 incluíram o leite
materno como um dos meios através dos quais poderia
haver a contaminação com o HIV.
Considerando que a população supramencionada, em sua grande maioria (79%), era composta por
pessoas que possuíam o 2º e o 3º graus, fato que leva
as pessoas a terem maior facilidade de se comunicar e
influenciar quando opinam, observou-se que as
mensagens enviadas através da televisão estavam
sendo plantadas em solo fértil, uma vez que o índice
de sua audiência era muito alto, ademais quando o
drama passou a ser desenvolvido, tendo como base o
aleitamento materno, fator que gera um grande apelo
social.
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Sendo assim, o drama televisivo não só envolvia
uma criança sendo amamentada por duas mulheres,
como também, sugeria que ela passasse a ser
amamentada por uma ama de leite, figura que foi
proscrita da sociedade com o advento da AIDS.
Desse modo, passamos a narrar através das
reportagens da época supramencionada, todo o
esforço desempenhado em vão por um grupo de
enfermeiras, fato que, tendo em vista a reprise da citada
novela no dias atuais (no programa denominado “vale
a pena ver de novo”), nos mobilizou a escrever o
presente estudo, acreditando que maiores providências
devam ser tomadas, considerando os índices, cada vez
maiores, de contaminações com o HIV.
Objetivos
Apresentar as reportagens veiculadas em um
jornal de grande circulação nacional, relacionadas à
carta enviada por enfermeiras ao autor da novela “Por
Amor”, tendo em vista a possibilidade de contaminação com o HIV através do leite humano.
Demonstrar a força
do marketing televisivo, à
luz de referenciais teóricos
da comunicação.
A iniciativa se dá...
Tudo começou no ano
de 1998, quando a novela em
referência foi ao ar pela
primeira vez, e uma das
autoras deste estudo teve a
iniciativa de enviar uma carta,
sob registro, ao autor da
novela, que tinha como
propósito, além de nos
colocar à disposição, como
profissionais de saúde,
também sugerir que o lapso
fosse reparado, tendo em
Figura 1
vista que o importante seria
remediar a situação, evitando,
com isto, que a idéia do aleitamento materno cruzado
continuasse a ser disseminada. Eis a carta:
Rio de Janeiro, 2 de janeiro de 1998
Prezado Sr. Manoel Carlos
Nós, docentes do Departamento de
Enfermagem Materno-Infantil da Escola de
Enfermagem Alfredo Pinto, da Universidade do Rio
de Janeiro (UNI-RIO), alertamos para o fato da novela,
!&
de sua autoria, estar transmitindo situações altamente
comprometedoras à saúde pública, quando veicula,
com a maior naturalidade, a possibilidade do
aleitamento materno cruzado.
Esta preocupação se prende ao fato de
considerarmos a grande responsabilidade que têm os
canais de comunicação com a formação de opinião,
ademais, se considerarmos a penetração da TV Globo
em seu horário nobre.
Mais especificamente, gostaríamos de acentuar
que a problemática, se passando em uma família de
excelente nível sócio econômico, o que por si só já induz
à credibilidade da população, deixa antever, a princípio,
a possibilidade da própria mãe amamentar o seu filho,
embora se passe por sua avó. Até aí, a simples suposição
do aleitamento cruzado, adotado como medida normal,
já estaria representando um grande risco na
comunicação. Porém, nos capítulos que foram ao ar a
partir do dia 19 de dezembro, o texto passou a viabilizar
a contratação de uma ama-de-leite.
Sem considerarmos que na referida novela a
enfermeira, mais uma vez, foi tratada de forma
tendenciosa, ao ser
confundida com a babá,
em que pese o valor deste
profissional, gostaríamos
de enfatizar que o fato de
sermos enfermeiras e,
além disto, docentes de
uma Universidade cujo
Hospital Escola é centro
de referência para o
tratamento da Aids, nos
induz a dizer, em nome do
nosso compromisso,
social e profissional, que o
aleitamento materno
cruzado há muito foi
proibido, salvo quando é
utilizado aquele oriundo
de banco de leite humano,
que passa por um
tratamento especial,
porquanto possibilita a contaminação com o vírus da
Aids, conforme documentos do Ministério da Saúde
abaixo mencionados:
Normas básicas para o alojamento conjunto/
1993/Ministério da Saúde – pág. 13 – inciso VII –
Normas Gerais – item 7 – letra f – Atribuições da
Equipe de Saúde – “Proibir que as mães amamentem
outros recém nascidos que não os seus (amamentação
cruzada)” [3];
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Manual da assistência ao recém nascido –
Ministério da Saúde/1994 – Pág. 22 – “A
transmissão com o HIV pode ocorrer na vida intrauterina, durante o parto e pós-natalmente através
do aleitamento materno ou por outros veículos.
Aceita-se que o risco de transmissão da mãe para a
criança ocorra entre 20 a 30% das gestantes
afetadas. A transmissão pelo HIV através do
aleitamento materno foi referido em 1985.” [2];
Boletim epidemiológico/AIDS – Ano IX –
nº 5- dez a fev de 96/97 – De 1980 a 1997 foram
notificados 2500 casos de contaminação por vias
transplacentária, transparto e amamentação [4].
Portaria da Secretaria Nacional de Assistência
à Saúde nº 97 DE 28/8/95 – Publicado no
D.O.U.166 de 29/8/95 – Seção 1 – Pág.13265-6item C -”Tendo em vista a complexidade dos
aspectos médicos, psicológicos, éticos, sociais e
jurídicos de que se reveste a síndrome da
imunodeficiência adquirida [5], recomenda-se que:
“O aleitamento materno cruzado não deve
ser realizado, incluindo aquele comumente
praticado nos sistemas de alojamento conjunto e
pelas tradicionais amas de leite.
Ainda a mesma portaria, em seu item 3 diz
que:
“Os bancos de leite humano somente
utilizarão leite ou colostro, após adequada
pasteurização com aquecimento a 62,5ºC por 30
minutos. Esta prática constitui à luz dos
conhecimentos atuais, tratamento técnico capaz de
inativar 100% de todas as partículas de HIV,
passíveis de serem encontradas no leite humano.
Portaria do Ministério da Saúde Nº322 DE
26/5/88
Parágrafo Único: “A pasteurização é uma
prática obrigatória em todos os bancos de leite
humano”.
Por oportuno, além de sugerirmos que haja
uma assessoria abalizada com relação às profissões,
toda vez que um exercício profissional for enfocado
por esta emissora, sugerimos também que, de
alguma forma, este lapso seja corrigido ainda com
a novela no ar, possibilitando que as orientações,
que são dadas durante as consultas de enfermagem,
e que são fundamentadas científica e oficialmente,
não caiam em descrédito, porque, fatalmente, a
Rede Globo tem muito mais crédito, como
formadora de opinião que é, do que um
profissional, que possa ser, embora muito
erradamente, confundido com uma babá.
Para qualquer esclarecimento, colocamo-nos
à disposição.
Figura 2
!'
Enfermagem
Brasil
Novembro/Dezembro 2002;1(1)
figura 3
Profª Drª Maria Aparecida de Luca Nascimento
e demais Professoras do Departamento de
Enfer magem Materno-Infantil da Escola de
Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade do Rio
de Janeiro.
Os meios de comunicação confundem...
Após uma semana do envio da carta, não houve,
por parte do autor da novela, qualquer comunicação.
Deste modo, enviamos a mesma carta ao Jornal do
Brasil que a publicou em 11 de janeiro de 1998, na
revista Super TV, um encarte dentro do JB de domingo
(fig.1).
Dois dias após esta publicação, o mesmo jornal
publica em ¼ de página, uma matéria sob o título
jocoso “Querem entornar o leito do Marcelinho”,
onde o autor da matéria ouve dois médicos e o autor
da novela, e também menciona a carta que havíamos
"
enviado, sem explicitar que a referida matéria havia
sido originada dela, pois até então nada havia sido
publicado a respeito, e a amamentação cruzada era
mostrada todas as noites, sem que houvesse qualquer
tipo de interferência.
Nesta matéria, a comunicação foi truncada, a
partir da publicação do discurso, tanto de um dos
médicos abordados, quando ele disse que o que pode
acontecer, através da amamentação cruzada, é apenas
a contaminação com o vírus da Aids, quanto do
próprio autor da novela, dizendo que ela tratava de
exceções, depois, dele mesmo, na mesma reportagem,
reconhecer que as pessoas se mobilizam mais com os
fatos apresentados na novela do que com aqueles da
vida real, que são transmitidos no telejornal.
Considerando que essas situações são
interpretativas, apresentamos a citada matéria (fig.2),
através do recorte de jornal, tornado documento de
domínio público, tendo em vista a isenção de
Enfermagem
Brasil
Novembro/Dezembro 2002;1(1)
tendenciosidade, de que deve ser
revestido o presente estudo.
Ainda na mesma semana, dia 17/
1, uma crônica é publicada, ainda no
mesmo jornal, sob o título “Por falar em
aleitamento materno” (fig.3), onde o
cronista dizia que achava confusa toda
aquela polêmica, sugerindo que a decisão
sobre a amamentação cruzada ser
realizada ou não, deveria ser levada ao
“Você decide”, e que o mais lúcido da
história toda era mesmo o autor da
novela.
Os canais de comunicação se
fecham...
Diante do exposto, enviamos não
só uma carta ao JB respondendo à
matéria publicada em 13/1, intitulada
“Querem entornar o leite de
Marcelinho”, como também um e-mail
(fig.4) para o cronista do mesmo jornal.
As duas tentativas de comunicação
foram ignoradas, não sendo publicadas
ou respondidas.
Depois de uma semana, e três
publicações em um jornal de grande
tiragem nacional, a única forma de apoio
que tivemos, foi uma carta enviada ao
Editor do JB, pelo médico Carlos
Alberto Moraes de Sá, Coordenador do
núcleo de pesquisa em AIDS, da
Universidade do Rio de Janeiro (fig.5),
que também não foi publicada ou
respondida.
E a mensagem fica no ar... Após a publicação das matérias em
referência, algumas pessoas do nosso
relacionamento, vieram nos questionar,
após a leitura delas, dizendo que
ignoravam o fato de que o leite humano
poderia transmitir o vírus da AIDS, o
que nos mostrou que a nossa
figura 4
preocupação não era infundada.
Concomitantemente, na novela que
ainda ia ao ar, na época em horário nobre, o
personagem que era amamentado de forma cruzada
até então, foi repentinamente desmamado, e a novela
terminou sem que nenhuma retratação fosse feita a
respeito, deixando no ar a desinformação.
Considerando que, segundo a avaliação do
IBOPE do mês de abril de 98, a novela em foco,
conseguia 40 pontos de audiência, fato que, por
projeção do mesmo órgão, quer dizer o alcance de 60
milhões de pessoas, em média, podemos observar que
o marketing televisivo é um risco, no que se refere à
informação de que trata o presente estudo, pois
segundo o próprio jornal, (edição de 20 de junho de
1998) que truncou as informações e deu títulos jocosos
"
Enfermagem
Brasil
Novembro/Dezembro 2002;1(1)
às reportagens, os casos de AIDS à época, dobraram
em 3 meses (edição de 29 de junho de 1998 – fig.6).
no contexto natural de recepção da televisão, que é o
universo doméstico. Por outro lado, Mattelart
corrobora e amplia tal
pensamento, explicitando
em
seus
estudos,
especificamente
a
comunicação através das
novelas
televisivas.
Segundo ele, “a novela
constrói seu modo de
abordagem, com base nas
expectativas
das
espectadoras, respondendo
às responsabilidades,
tensões e rotinas cotidianas,
ligadas ao contexto das
suas vidas familiares, às
c o m p e t ê n c i a s
tradicionalmente
associadas a seu estatuto no
casal e no lar”.
Conclusão
Figura 5
Referencial teórico
Considerando que a temática abordada relacionase ao marketing televisivo, encontramos em Morley e
em Mattelart [7], o respaldo teórico para o presente
estudo. Em Morley, quando em seus estudos, diz que
as interações familiares dão-se em torno da telinha,
"
Tendo em vista o teor
das reportagens apresentadas, assim como o
fato da novela que serviu de
base para o presente estudo
estar sendo reprisada, e,
portanto, sendo levada ao
lar de muitos expectadores
nos dias de hoje, podemos
observar que toda a
preocupação em tentar
impedir
que
tal
comunicação se fizesse de
modo comprometedor foi
em vão. Porém, apesar de
ter sido em vão, no que diz
respeito a providências, o
fato de ter gerado três
publicações num jornal de
grande tiragem nacional,
num espaço de uma
semana, demonstra que, pelo menos, esse esforço não
foi ignorado.
Resta-nos agora, mais uma vez, através deste
estudo, tentar propagar a importância das orientações
com relação à proibição do aleitamento materno
cruzado, conforme preconizado oficialmente. Por
oportuno, vale ressaltar que até mesmo as propagandas
Enfermagem
Brasil
Novembro/Dezembro 2002;1(1)
Figura 6
a respeito da doação de leite humano, tão comuns na
televisão, não enfatizam que esse produto ao ser doado,
passará por um tratamento antes de ser utilizado,
perdendo-se com isso, uma grande oportunidade para
orientar a sociedade.
Sendo assim, concluímos que se as informações
veiculadas anteriormente não tiverem sido alteradas
na referida novela, será hora de, mais uma vez, nos
expor nessa luta desigual, onde, de um lado estão as
orientações de enfer magem, impedindo e/ou
direcionando criteriosamente o aleitamento materno
cruzado, e no outro lado, um melodrama embalado
por sons e imagens, que sendo bem dirigidos,
confundem a tênue fronteira entre o real e a ficção,
interferindo negativamente nessas orientações.
Referências 1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
Brasil. Ministério da Saúde. Aleitamento x mulheres
infectadas pelo HIV: recomendações. Brasília, DF,
1995.
Brasil. Manual de Assistência ao recém- nascido.
Brasília, DF, 1994.
Brasil. Normas Básicas para o alojamento conjunto.
Brasília, DF, 1993.
Boletim Epidemiológico/Aids. Brasília, DF, 1994.
Diário oficial da união de 28/08/ 95. Portaria da
Secretaria Nacional da Assistência à Saúde n. 97,
Brasília, DF, 1995
Nascimento MA de L, Almeida MFP, Honório RB,
Cardoso TCSF. Por Amor”...mas sem cuidado
(Reflexões sobre o descompromisso com o aleitamento
materno cruzado) In: 50º Congresso Brasileiro de
Enfermagem, 1998, Salvador. Resumos. Bahia.
Associação Brasileira de Enfermagem – ABEn; p.16
Mattelart A, Mattelart M Histórias das teorias da
comunicação, São Paulo: Loyola, 2001.
"!
Enfermagem Brasil
Novembro / Dezembro 2002;1(1)
Artigo original
Marcos da trajetória da profissionalização da
enfermagem brasileira (1890-1905)
Landmarks on the Brazilian nursing professionalization
Hitos temporales de la trayectoria de la profesionalidad de la
enfermería brasileña
Almerinda Moreira*, Fernando Porto**, Taka Oguisso***
Mestre em Enfermagem, Professora da EEAP da UNIRIO do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica, membro do LAPHE e
Doutoranda em Enfermagem da USP, **Mestre em Enfermagem, Professor da EEAP da UNIRIO do Depto de Enfermagem Materno-Infantil
e membro do LAPHE, ***Prof. Titular do Departamento de Orientação Profissional, da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo.
Membro do LAPHE
*
Resumo
Este trabalho é uma análise histórica que tem como objetivo apresentar alguns marcos temporais da trajetória da profissionalização
da enfermagem brasileira (1890-1905) no contexto sócio-político. O estudo tem como cenário o Hospício Nacional de Alienados,
estando a ele anexada a Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras, e percorre os marcos no eixo central da trajetória,
através das presidências republicanas no país como acontecimentos que se cruzam com o início da profissionalização da enfermagem.
É baseado em documentos do acervo do Laboratório de Pesquisa de História de Enfermagem (LAPHE) da Escola de Enfermagem
Alfredo Pinto (EEAP), da Biblioteca Nacional, do Arquivo Nacional e em literatura pertinente ao objetivo. Como resultado
apresenta alguns marcos temporais que identificam diversos acontecimentos, entre eles o fato de que a cada vez que a Direção do
HNA era mudada, inaugurações da EPEE aconteciam. Outro evento ocorrido em 1905, tendo Antonio Fernandes Figueira,
como diretor da EPEE, e ao mesmo tempo, responsável pelo Pavilhão Bourneville, destinado ao tratamento de crianças com
problemas mentais, mostra que nem todas as coisas ocorrem ao sabor do acaso.
Palavras-chave: História da enfermagem, profissionalização da enfermagem.
Abstract
Landmarks of the trajectory in the Brazilian Nursing Professionalization - Historical analysis with objective to present some lanmarks
on the Brazilian nursing professionalization (1890-1905) in the socio-political context. The study has as its scenario the National Insane
Hospital (NIH), to which there was the Professional School for Nurses (PSN) and goes through several landmarks as a central axis of
the trajectory that includes republican presidencies within the country as parallel occurrences crossing out with the nursing
professionalization. It is based on documents belonged to the Laboratory of Nursing History Research of the School of Nursing
Alfredo Pinto, to the National Library, the National Archive and relevant literature to the objective of the study. As an outcome, some
landmarks are presented which identify several events, among them the fact that each time direction of the NIH was changed, the PSN
was reopened. Another event happened in 1905, when Antonio Fernandes Figueira, as Director of the PSN, became also responsible
for the Bourneville Pavilion, for treatment of children with mental disorders, showed that not everything happens by chance.
Key-words: Nursing history, nursing professionalization.
Artigo recebido em 15 de agosto, aprovado em 30 de agosto de 2002.
Endereço para correspondência: Almerinda Moreira, Rua Marangá, 769, bloco B/308, Praça Seca, 21321060 Rio de Janeiro RJ, Tel: 3350 6622, E-mail: [email protected].
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Enfermagem Brasil
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Resumen
Análisis histórico que tiene como objetivo presentar algunos hitos temporales de la trayectoria de la profesionalidad de la
Enfermería Brasileña (1890-1905) en el contexto sociopolítico. El estudio tiene como escenario el Hospicio Nacional de Alienado
(HNA), estando a éste anexada la Escuela Profesional de Enfermeros y Enfermeras, y recorre los hitos en el eje central de la
trayectoria a traves de las presidencias republicanas en el país como hechos que se encuentran con el comienzo de la profesionalidad
de la enfermería. Se basa en documentos del acervo del Laboratorio de Pesquisa de História de Enfermagem (LAPHE) de la Escuela de
Enfermería Alfredo Pinto (EEAP), Biblioteca Nacional, del Archivo nacional y en la literatura pertinente al objetivo del estudio.
Como resultado presenta algunos hitos temporales que identifican diversos hechos, entre ellos el hecho de que cada vez que
cambiaba la dirección del HNA, inauguraciones de la EPEE ocurrían. Otro suceso ocurrido en 1905, cuando Antônio Fernández
Figueira estaba como director de la EPEE, y a la vez, era responsable por el Pabellón Bourneville, destinado al tratamiento de
niños que tienen problemas mentales, nos muestra que no todo ocurre alsabor del acaso.
Palabras-clave: Historia de la enfermería, profesionalidad de la enfermería.
Introdução
O presente estudo está inserido no grupo de
pesquisa denominado Laboratório de Pesquisa em
Historia da Enfermagem (LAPHE), na linha da
Profissionalização da Enfermagem Brasileira, da
Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP), da
Universidade do Rio de Janeiro (UNIRIO), e tem
como objetivo apresentar alguns dos marcos
temporais da trajetória da Profissionalização da
Enfermagem Brasileira (1890-1905) no contexto
sócio-político.
A construção do estudo se justifica, não apenas
por oferecer subsídios para pesquisa sobre o início
da profissionalização da enfermagem no Brasil através
da trajetória da EEAP, antiga Escola Profissional de
Enfermeiros e Enfermeiras (EPEE) anexada ao
Hospício Nacional de Alienado (HNA), mas também
como contribuição para a elucidação de
acontecimentos, ainda pouco explorados e discutidos,
sobre a história da Enfermagem no Brasil.
Certamente, a grande dificuldade em encontrar
registros da época que remetem o interessado para o
final do século XIX e inicio do século XX, seja a razão
da escassa literatura existente. Portanto, este é um
estudo histórico sócio-político baseado na pesquisa
documental do acervo do LAPHE da EEAP, da
Biblioteca Nacional, do Arquivo Nacional, todos
localizados no Rio de Janeiro, além da bibliografia
mais recente de historiadores e estudiosos da matéria.
O estudo descreve vários eventos sócio-políticos
que marcaram o início da profissionalização da
enfermagem no Brasil, que teve como cenário o
Hospício Nacional de Alienados, localizado, à época,
na Praia da Saudade, hoje conhecido como bairro da
Urca, na Praia Vermelha, na cidade do Rio de Janeiro,
onde a Enfermagem nasceu na Escola anexa a essa
instituição, com o nome de Escola Profissional de
Enfermeiros e Enfermeiras.
Os marcos temporais sócio-políticos foram o
eixo central na trajetória através das presidências
republicanas (1890-1905) no país, como
acontecimentos que se cruzaram com o início da
profissionalização da enfermagem, apontando que o
contexto, à época, não ocorreu ao acaso.
Início da profissionalização da enfermagem na
Velha República
Os primórdios da profissionalização da
enfermagem brasileira coincidem com a construção
da República em 1889, quando Marechal Deodoro
da Fonseca assumiu o Governo provisório da
Republica, marcando o final da monarquia no Brasil.
Nessa época o Presidente da República cria os
ministérios e nomeia seus respectivos ministros.
Foram eles: Ministro da Justiça - Campos Sales;
Ministro da Interior - Aristides Lobo, substituído
por Cesário Alvim; Ministro da Fazenda - Rui
Barbosa; Ministro da Guerra – Tenente-Coronel
Benjamin Constant Botelho de Magalhães,
substituído pelo Marechal Floriano Peixoto; Ministro
da Marinha - Chefe da Esquadra Eduardo
Wandenkolk; Ministro das Relações Exteriores Quintino Bocaiúva; e, para Ministro da Agricultura,
Comércio e Obras Públicas - Demetrio Ribeiro,
substituído por Francisco Glicério [1]
As substituições dos nomes de ministros, acima
citados, indicam a instabilidade relacionada com a
própria construção do Estado Republicano, pois
"#
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Novembro / Dezembro 2002;1(1)
havia oposições de grupos ligados à monarquia e
conflitos nos segmentos que apoiavam e conduziam
a proclamação e consolidação da República [1]
Em meio aos conflitos e à necessidade de
construção do Estado Republicano, vários marcos
temporais ocorreram nos diversos segmentos da
sociedade. Dentre eles podem ser destacados: a
desanexação do Hospital da Santa Casa de
Misericórdia do Hospício de Pedro II, que passa a
denominar-se Hospício Nacional de Alienados
(HNA) [2].
Com a desanexação, ocorreu uma crise
gigantesca de pessoal para cuidar dos alienados, pois
as Irmãs de Caridade, que até então cuidavam dos
doentes, abandonaram o serviço no HNA.
Para resolver a situação da crise foi solicitada a
contratação de enfermeiras francesas, não ligadas a
congregações religiosas, na tentativa de solucionar a
lacuna deixada pelas Irmãs de Caridade [3]. Em
pesquisa no noticiário publicado em 1890, sobre o
fato, foi encontrado no Jornal do Comercio, na
secção Gazetilha, o conteúdo noticioso sobre a
contratação dessas enfermeiras, que abaixo é
transcrito na íntegra:
“Assistência médico-legal - pelo Ministro do Interior,
remeterão-se ao director dos alienados os contratados celebrados
pelo Cônsul geral do Brazil em Pariz, com cinco enfermeiras
para o serviço da secção de mulheres no Hospício Nacional
de Alienados, bem assim cópia do oficio que o mesmo Cônsul
dirigido à respectiva legação e que por esta foi transmitida ao
Ministério do Interior. (...)” [4].
Ainda com o fito de suprir a necessidade de
cuidar dos alienados, Marechal Deodoro da Fonseca,
através do Decreto 791/1890, cria a Escola
Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras, na
verdade a primeira escola de enfermagem no Brasil,
para preparar pessoas qualificadas para cuidar de
doentes. Na época, era Diretor do HNA, o Médico
João Carlos Teixeira Brandão [3].
Desta for ma, teve início o processo de
profissionalização da enfermagem brasileira, na
escola supramencionada. Segundo entende Collière
[13] “profissão é aquela composta por um grupo
de pessoas que obtiveram um título e um estatuto,
através de uma formação com vistas a exercer uma
determinada atividade”. Tais critérios podem ser
identificados no Decreto 791/1890 que, em seu
conteúdo descreve com detalhes, como deveria ser
desenvolvido o curso e o título que deveria ser
conferido ao seu concluinte.
Entre a data de criação da escola, em 1890 e
"$
1892, vários fatos políticos e sociais ocorreram,
dentre eles o fim do período provisório do governo
de Marechal Deodoro da Fonseca, que passou a ser
Presidente da República dos Estados Unidos do
Brasil. Mas teve que renunciar pouco tempo depois
por motivos de doença, assumindo o seu VicePresidente, Marechal Floriano Peixoto, que governou
até 1894 [2].
Ainda em 1892, através do Decreto 896/1892,
foram consolidadas as disposições em vigor
relativas aos diferentes Serviços da Assistência
Médico-Legal de Alienados e, mais especificamente,
o artigo 25 que ratificava teoricamente a
operacionalização da Escola Profissional de
Enfermeiros e Enfermeiras, com redação próxima
à do Decreto de sua criação [3].
Em um relatório, apresentado ao VicePresidente da Republica dos Estados Unidos do
Brasil, por Dr. Fernando Lobo Leite Pereira,
Ministro de Estado de Negócios do Interior, datado
de abril de 1892, foi encontrado o registro, abaixo
transcrito, sobre a presença das enfermeiras vindas
da França no anexo “D” desse Relatório, intitulado
Relatório da Assistência Médico-Legal de Alienados,
Relatório da Secção de Mulheres do HNA (pg. 21):
“As enfermeiras francesas e suas auxiliares
prestam-se da melhor vontade e com todo o carinho
ao serviço dos enfermos, tanto que tenho a maior
satisfação em comunicar-vos que depois que o serviço
está organizado convenientemente ainda não tive
occasião de reprehende-las.” [5]
Em 1893, o contrato que envolvia a permanência
das enfermeiras francesas expira. Porém, somente em
1895, através de um documento encaminhado ao
governo brasileiro pela França, é solicitada a
regularização delas, cujo compromisso com a
Assistência Médico-Legal de Alienados, já havia
expirado [14]. Assim, cumpre destacar que não há
condições para afirmar precisamente qual a data da
chegada dessas enfermeiras, bem como o período que
elas deveriam ter permanecido, apesar da busca
meticulosa desenvolvida até o momento.
O ano de 1894 é marcado pela posse do Presidente
Prudente de Moraes e consolida-se a República e seus
Presidentes, caracterizado pelo recuo dos jacobinos1 e o
domínio dos civis, pela hegemonia da oligarquia cafeeira
e pela política dos grandes estados, tendo seu mandato
na presidência perdurado até 1898 [1].
Durante esse período, o HNA sob a direção do
médico Márcio Nery, que substituiu Teixeira Brandão,
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re-inaugurou a Escola Profissional de Enfermeiros e
Enfermeiras. Nessa ocasião, foi enfatizada a
importância da Escola para a população e para a classe
médica, salientando ainda que as aulas de anatomia
descritiva, fisiologia e noções de propedêutica já haviam
iniciado [3].
Em 1898, Manuel Ferraz de Campos Sales
assumiu a Presidência da República até 1902. Seu
período foi dedicado à economia e à crise da
cafeicultura, de maneira favorável às oligarquias rurais
e contrárias à industrialização [1]. Cabe destacar que
nesse período ocorreu a reorganização da Assistência
a Alienados, com base no Decreto 3.244/1899 [2].
Portanto, de 1890 a 1902, conforme Moreira [3]
relata, os primeiros anos da Escola criada no governo
do Marechal Deodoro da Fonseca, foram realmente
difíceis no sentido da concretização dos propósitos de
sua criação. Certamente esse fenômeno foi conseqüência
de problemas de ordem econômica e política
decorrente, à época, da transição que o país atravessava.
Engel [6] relata que, no começo de 1902,
ocorreram acusações de desvio de verbas que
recaíram sobre o almoxarife do HNA, Oscar
Adolpho da Costa, sendo o estopim para uma série
de denúncias sobre a precariedade das condições de
funcionamento da instituição. A imprensa publicou
no final de janeiro de 1902, denúncia sobre o convívio
indiscriminado de crianças e adultos. Como resposta
às acusações, o Diretor do HNA, Pedro Dias
Carneiro, argumentou que dentro do espaço
institucional não havia um pavilhão separado,
especificamente, para as crianças.
Nesse mesmo ano ocorreu a substituição do Dr.
Pedro Dias Carneiro pelo Dr. Antônio Dias Barros e, em
dezembro, o Ministro da Justiça, Dr. J.J. Seabra, nomeou
uma comissão para proceder o inquérito sobre as
condições da assistência aos alienados na instituição [6].
Em 27 de dezembro de 1902, o Ministro da
Justiça, Dr. J.J. Seabra, encaminhou àquela comissão
um relatório sobre as péssimas condições em que o
HNA se encontrava, destacando que 21 crianças, do
sexo masculino, encontravam-se nas piores condições,
quase que completamente abandonadas. O Ministro
recomendava medidas que viabilizassem a execução
de obras de benfeitoria para melhor acomodar aquelas
crianças, bem como ordenava ao Diretor da instituição,
Dr. Antônio Dias Barros, que fossem fornecidas roupas
aos alienados enfermos [6].
Ao final do mandato da Presidência de Manuel
Ferraz de Campos Sales, este escolheu como sucessor
Francisco de Paula Rodrigues Alves, que permaneceu
no cargo de 1902 a 1906. Nesse quadriênio
1
investimentos foram feitos para o melhoramento das
áreas urbanas, na construção de portos, do Teatro
Municipal, da Biblioteca Nacional, do Instituto de
Manguinhos, e outras, como a remodelação e
saneamento da cidade do Rio de Janeiro, então capital
da República, e implementou a luta contra as epidemias
comandadas por Osvaldo Cruz [1].
No início de 1902, na Presidência de Rodrigues
Alves alguns fatos marcantes ocorreram para EPEE.
O médico, Alberto das Chagas Leite, do Hospital
Nacional de Alienados, relatou ser urgente a necessidade
da execução do regulamento, no que se referia à escola
de enfermagem, num período em que a instituição
hospitalar se encontrava sob inquérito, devido as más
condições de tratamento aos alienados [3].
Em fevereiro de 1903, após o inquérito que o
HNA havia sofrido, Engel [6] refere que uma das
dependências já estava sendo adaptada para acolher as
crianças do sexo masculino. Sobre o relato do médico,
Alberto das Chagas Leite, acerca da necessidade de
uma escola de enfermagem no HNA, foi encontrada
uma notícia, na Revista Brazil-Médico, datada de 02
de abril de 1903, sobre a sua exoneração do cargo
de médico, bem como a do Diretor do HNA, o
médico Antônio Dias de Barros, assumindo a direção
da instituição os médicos Juliano Moreira e Júlio
Afrânio Peixoto [7].
Na mesma página da revista em apreço,
juntamente com as nomeações, as figuras dos dois
médicos são enaltecidas, como os novos diretores
do HNA, apresentando-os à sociedade, de forma
intelectualizada [8].
No mandato presidencial de Francisco de Paula
Rodrigues Alves, o médico Afrânio Peixoto, Diretor
Interino do Hospício Nacional de Alienados (19041905), apresentou um relatório ao Sr. J.J. Seabra,
Ministro da Justiça e dos Negócios Interiores [15].
Nesse relatório era mencionado que a EPEE, porém,
com o nome de Escola Profissional de Enfermeiros,
(com omissão da palavra Enfermeiras, como
constava na redação do seu Decreto de origem)
estavam abertas as inscrições de candidatos para a
referida escola e que deveriam ser feitas na secretaria
da mesma, localizada no HNA, com data para
inauguração e começo das aulas em 16 de fevereiro
de 1905, com previsão para a duração do curso, de
dois anos, para receber o diploma de Enfermeiro
pela Escola do HNA. No final do texto referia que
essa iniciativa era o registro da primeira Escola
Profissional de Enfermeiros no país.
Interessante salientar que esse Relatório, ainda
no conteúdo de seu texto, designava o corpo
Os jacobinos defendiam a manutenção de Floriano ou de outro militar no poder, pois tinham profundas
desconfiança das lideranças civis [1]
"%
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administrativo e docente para o funcionamento da
Escola de Enfermagem, e, dentre os nomes citados
no documento surgia o nome do primeiro Diretor
da Escola, o médico Antônio Fernandes Figueira.
Em noticia publicada no Jornal do Comércio,
de 17 de fevereiro de 1905, a inauguração da EPEE
foi divulgada à sociedade, com apresentação dos
nomes de autoridades presentes, bem como o
discurso do Diretor da Escola, Dr. Antônio
Fernandes Figueiras, e sobre o quantitativo numérico
de discentes matriculados para o curso de 16
homens e 7 mulheres, o que de certa for ma
justificaria o registro da denominação dada à Escola
no mencionado Relatório [9].
O Diretor da EPEE, Dr. Antonio Fernandes
Figueira, conforme apresentado no mesmo Relatório
era também responsável pelo pavilhão denominado,
Dr. Bourneville, destinado a menores com problemas
mentais. Esse Diretor ansiava contratar uma enfermeira
perita para o Pavilhão Dr. Bourneville, demonstrado
com a informação de que o Cônsul do Brasil, em
Paris, já teria recebido instruções para o contrato e
importe de passagem para a sua realização. Entretanto,
não se descobriu ainda o registro da efetiva vinda
dessa enfermeira francesa para o HNA prestar
assistência no referido pavilhão.
Lobo [10] relata, em seu estudo sobre o Pavilhão
Bourneville, que este recebeu tal denominação em
1904, em homenagem ao médico francês, devido ao
método de educação e tratamento preconizado pelo
médico Bourneville e adotado por Antônio Fernandes
Figueira, pediatra e diretor dessa seção de crianças,
por mais de quinze anos.
Em fevereiro do mesmo ano (1905) a EPEE
foi novamente re-inaugurada. Lobo [10] refere esse
fato mencionado sua divulgação publicada na Revista
Kosmos, com um artigo de Olavo Bilac, após uma
visita ao HNA e, em especial, na seção de crianças,
registrando os avanços na melhoria encontrada com
base em idas anteriores ao inquérito que o HNA teria
sofrido.
Engel [6], referindo-se à inauguração das novas
instalações do HNA, em princípios de 1905, descreve
o Pavilhão Bourneville e dois outros destinados aos
epilépticos, em que o Diretor do HNA, destacava o
relato do número de casos de epilepsia que estava
crescendo, segundo o Dr. Juliano Moreira. Tal fato
foi cientificamente comprovado pela freqüência com
que eles eram observados nas clinicas, nas oficinas,
nas fileiras do Exército, a bordo de navios, nas prisões,
nos manicômios e nas ruas da capital.
"&
Aprofundando um pouco mais o estudo
sobre o interesse de Dr. Antônio Fernandes Figueira,
Diretor da EPEE, re-inaugurada em 1905, e
responsável pelo Pavilhão Bourneville, além de haver
solicitado a vinda de uma enfermeira perita francesa
para prestar assistência às crianças, nos conduz a
questões nunca antes levantadas e que estudos
anteriores não dissecaram. Teria esse médico tentado
dirigir a instituição de ensino de enfermagem, de
modo a preparar, além de enfermeiros, também
profissionais destinados a cuidar de crianças no
pavilhão sob sua responsabilidade?
Pesquisas efetuadas até o momento não
oferecem, ainda, respostas para este e outros
questionamentos, que ficarão para futuros trabalhos,
cujos estudiosos poderão descobrir outras fontes e
documentos e levantar novos dados que venham a
esclarecer os muitos elos e preencher as lacunas da
História da Profissionalização da Enfermagem no
Brasil.
Documento, segundo Otlet, apud Dias Filho
[11], é o livro, a revista, o jornal e toda a parte
documental que precede ou sucede a emissão
radiofônica e, a documentação é constituída por uma
série de operações distribuídas, hoje, entre as pessoas
e organismos diferentes, pois esta acompanha o
documento desde o instante em que ele surge da pena
do autor até o momento em que impressiona o
cérebro do leitor.
É possível que ao desvendar melhor as raízes
históricas e a verdadeira trajetória da Escola
Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras, que
sobrevive com o nome de Escola de Enfermagem
Alfredo Pinto, possa ser encontrada a origem da
profissionalização da Enfermagem no Brasil. Essa
Escola que, ainda funciona ao lado do antigo HNA,
já encontra reconhecimento e respeito da comunidade
cientifica pelo que realiza e produz, mas ela pode ter
uma dimensão profissional muito maior por ter dado
início à profissionalização da enfermagem no Brasil.
Por isso é necessário investigar com profundidade,
perscrutar minuciosamente cada documento, resgatar
e analisar dados que possam esclarecer situações e
fatos para demonstrar o legítimo papel
desempenhado pela EPEE de iniciador da
profissionalização da enfermagem no Brasil. Ainda
que entidades criadas posteriormente tenham ganho
maior notoriedade, os estudiosos da matéria precisam
agir com justiça e justeza histórica, buscando-se a
verdade, reconhecendo fatos e dando a cada evento
o peso que tiveram na ordem cronológica dos
acontecimentos.
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Novembro / Dezembro 2002;1(1)
Considerações finais
Referências
A apresentação e descrição de alguns marcos
temporais relacionam diversos acontecimentos. É
curioso salientar que, a cada vez que a Direção do
HNA era mudada, inaugurações da EPEE
aconteciam. Foi o que ocorreu em 1905, quando Dr.
Antonio Fernandes Figueira assumiu o cargo de
Diretor da EPEE. Ele era, também, médico
responsável pelo Pavilhão Bourneville destinado ao
tratamento de crianças com problemas mentais.
Fazendo-se um paralelo entre o que ocorria no
HNA e na administração pública, extremamente
legalista, no Brasil, no início do século XX, pode-se
tomar como referência os estudos realizados por
Keinert [12]. Esse autor refere-se aos paradigmas da
administração pública no período de 1900-1992. No
recorte proposto por esse estudo, foram identificados,
nos primórdios da administração pública no país,
muitas regras jurídicas, normas e regulamentos, com
descrições pormenorizadas para o seu cumprimento.
Keinert justifica esse excessivo detalhamento ao fato
de o Brasil ter sido colonizado pelos portugueses,
que tiveram durante séculos a influência do Direito
Romano, extremamente formal e ritualizado, como
base de sua legislação. Essa influência explicaria o
enfoque legalista que o Brasil havia sofrido, gerando as
repetidas inaugurações formais como ritual público a
ser cumprido por quem assumia a direção do HNA,
especialmente no período de 1890 a 1905. Com tantas
inaugurações em tão pouco período, é mais fácil
compreender o motivo das dificuldades encontradas
pela EPEE para se estabilizar. Com tanta influência
legalista, não foi por acaso que a primeira escola superior
no Brasil tenha sido criada no campo do direito.
1.
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7.
8.
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Santos AM et al. História do Brasil de terra ignota
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Alienados - Foram Exonerados. Ano XVII.
Número 14. 02/02/1903 p140.
Jor nal do Comércio. Hospital Nacional de
Alienados. Secção Gazetilha. Ano 48. Número
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Lobo LF. Bourneville – Primeiro Pavilhão de
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e Educação. RJ. O Instituto. Ano 06. N. 18-19 (edição
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Revista do Serviço Público. RJ. Março. 1946. p 2830.
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Pavilhão – Escola Bourneville (5a Secção –Crianças). In:
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Artigo original
Estudo etnobotânico do município de
Caxias do Sul, RS
Ethnobotanic study performed in Caxias do Sul, RS
Estudio etnobotánico del municipio de Caxias do Sul, RS
Maria da Graça Piva
Doutora em Enfermagem, Professora de Enfermagem da Universidade Luterana do Brasil, diretora da Escola Profissional São Francisco de Assis,
Conselheira do COFEN, Presidente do SOBRATEN
Resumo
Através desse trabalho realizou-se um estudo etnobotânico, destacando-se as plantas medicinais identificadas na região de Caxias
do Sul – RS, Brasil. Essa comunidade apresenta colonização de origem italiana com uma cultura muito rica em espécies e
variedades de plantas, a maioria exótica. Como resultado elaborou-se um catálogo etnoflorístico das espécies identificadas, assim
como associou-se ao estudo das plantas, a cultura e os mitos do povo da região, sempre relacionando as referidas plantas com as
atividades humanas. Essa pesquisa vem colaborar com estudos mundiais na área de etnobotânica, estimulados pela OMS,
colaborando diretamente com investigações nacionais e internacionais, que valorizam e buscam o resgate de terapias naturais,
para tratar a saúde.
Palavras-chave: Etnobotânica, plantas medicinais, imigração, comunidade.
Abstract
In this work, we did an ethnobotanic study, in which we laid stress upon medicinal plants identified in the region of Caxias do
Sul — RS, Brazil. This community was colonized by people of Italian origin and has a very rich culture with different species and
varieties of plants, most of them exotic. As a result, we prepared an ethnographic catalogue of the species that were identified
and we associated the study of the plants with the culture and the myths of the people who live in that region, always
establishing a relationship between the mentioned plants and the human activities. This research is a contribution to the studies
done all over the world in the area of ethnobotany, encouraged by the World Health Organization, cooperating in a direct manner
with the national and international researches which value and search to restore the use of Natural Therapies in the health
treatment.
Key-words: ethnobotany, medicinal plants, immigration, community
Artigo recebido em 30 de agosto; aprovado em 15 de setembro de 2002
Endereço para correspondência: Escola de Enfermagem São Francisco de Assis,
Rua Moreira César, 2067, 95034-000 Caxias do Sul RS, E-mail: [email protected]
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Resumen
Através de este trabajo se realizó un estudio etnobotánico, en el cual se destacan las plantas medicinales identificadas en la región
de Caxias do Sul – RS, Brasil. Esta comunidad presenta colonización de origen italiana con una cultura muy rica en especies y
variedad de plantas, la mayoría exótica. Como resultado se confeccionó un catálogo etnofloral de las especies identificadas, así
como se asociaron al estudio de las plantas la cultura y los mitos de los habitantes de la región, siempre relacionando las plantas
con las actividades humanas. Esta pesquisa viene cooperar con estudios mundiales en la área de etnobotánica, estimulados por
la Organización Mudial de la Salud, colaborando directamente con investigaciones nacionales e internacionales que valoran y
buscan el rescate de Terapias Naturales, para tratar de la salud.
Palabras-clave: etnobotánica, plantas medicinales, emigración, comunidade.
Introdução
Objetivos
Segundo referem os historiadores, desde a mais
remota antiguidade, foi a humanidade buscar nos
recursos inesgotáveis do reino vegetal, os elementos
de combate às variadas enfermidades que têm
perseguido o gênero humano desde os primeiros dias
do mundo.
O homem primitivo chegou até esse
conhecimento, sobre as virtudes curativas das plantas,
por instinto e seus conhecimentos foram transmitidos
através de gerações até os homens de hoje.
Na atualidade, uma nova consciência ecológica,
que busca o equilíbrio do homem com o meio
ambiente, nos leva a uma reintegração cada vez maior
das plantas em nosso convívio, tanto que alguns países
já estão dedicando esforços consideráveis na
reconquista de sua tradição terapêutica.
A Organização Mundial da Saúde (OMS)
reconhece o valor dos estudos etnobotânicos, que
incluem também as plantas medicinais e a sua
utilização pela chamada medicina tradicional, isto é,
práticas baseadas em crendices existentes há centenas
de anos, mesmo antes da medicina científica da era
moderna e que, como o nome indica, fazem parte
da tradição de cada país.
Este trabalho, resumido neste artigo, pelas suas
características, vem demonstrar o interesse na
participação do processo de inventariar
botanicamente as plantas mais utilizadas por uma
comunidade, colaborando no processo global de
valorização e estudo das farmacopéias tradicionais.
Ele é o reflexo de um projeto onde foram
atingidos os seguintes objetivos:
1 - Conhecer, através de estudo etnobotânico, a
flora de uma dada comunidade, no caso Caxias do
Sul, município do estado do Rio Grande do Sul,
Brasil, identificando-a botanicamente, incluindo a
manutenção das características peculiares, como nome
popular e em dialeto italiano, formas de utilização e
indicações mais freqüentes relacionadas pelos
pesquisados, buscando uma identificação de seus
valores, através do estudo de sua história de vida e
da divulgação de seus aspectos culturais, incluindo
o respeito às suas tradições;
2 - Perpetuar e divulgar esse conhecimento
através da confecção de eccicatas, que permitam a
visualização adequada das espécies vegetais
coletadas, facilitando o intercâmbio de
conhecimentos na própria comunidade pesquisada
e fora dela, com o intuito de participar de estudos
posteriores sobre inventários de revisão nacional
em etnobotânica;
3 - Colaborar indiretamente com pesquisas
nacionais e internacionais que valorizem e busquem
o resgate de terapêuticas mais naturais de tratar
saúde, reinterando a posição da Organização
Mundial da Saúde que visa o desenvolvimento da
saúde pública, através da valorização das tradições
milenares e o emprego mais freqüente da
Fitoterapia.
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Resultados
A seguir apresentamos um breve resumo de
aspectos relevantes sobre etnobotânica que serviram
como base da pesquisa que originou este artigo:
Segundo Schultes & Von Reis, etnobotânica é o
estudo da avaliação e manipulação, incluindo conceitos
relevantes das sociedades primitivas. Obviamente,
desta definição tão vasta, concluímos que
Etnobotânica seria altamente interdisciplinar,
emergindo de aspectos da botânica, antropologia,
arqueologia, fitoquímica, farmacologia, medicina,
história, religião, geografia, e numerosas outras
tangencialmente pertinentes as ciências e as artes.
O estudo e pesquisa da etnobotânica têm
superado mudanças e sido significativamente
ampliados neste século, desde que o termo foi usado
pela primeira vez em 1895. Seu constante crescimento
resultou na proliferação, necessária, de termos para
descrever variadas subdivisões especializadas do
estudo:
etnobiologia,
etnofarmacologia,
arqueoetnobotânica (também chamada de
paleoetnobotânica) etnoecologia, etnomedicina,
etnomicologia, socioetnobotânica e ainda outros.
Organizações de conservação, nacionais e
internacionais, devotam, cada vez mais, atenção a
conservação Etnobotânica a fim de salvar algum
conhecimento remanescente em posse das sociedades
aborígenes, em várias partes do mundo. O crescente
interesse na indústria farmacêutica é mundial. Nos
Estados Unidos, uma organização foi estabelecida
exclusivamente para o estudo das plantas usadas pelas
sociedades primitivas.
Ainda consultando Maldonado-Kverdell,
concluímos que a etnobiologia é uma descrição de
fatos particulares referentes a organismos e suas
utilizações, embora tenha um critério distinto da
biologia, uma vez que participa na formulação de
conclusões e na aplicação prática das mesmas.
Historicamente nasceram separados e a etnobotanica
atraiu mais a atenção de todos, em especial dos
antropólogos, pela sua estreita relação com a
agricultura. As plantas e os animais de distintas regiões
da terra são muito úteis ao homem, na função básica
de alimento ou como matéria prima de diversas
culturas; quer na sua forma original ou não. Podem
ainda ser consideradas importante em mitos e
tradições, portanto são objeto de profundo interesse
da antropologia, mas para que o estudo tenha valor
etnobotânico deve ser feito em função do grupo
humano, que o utiliza situando-o no complexo cultural
que está inserido.
#
Como resultado importante apresentamos a
tabela I, embora o estudo completo contenha muitas
outras informações.
Tabela I - Proporção das espécies de acordo
com a família, relacionadas com o número
total de plantas coletadas em Caxias do Sul/
RS - 1997
família
Acanthaceae
Adiantaceae
Agavaceae
Alismataceae
nome científico
nº
%
Acanthus mollis L.
1
0,5
Adiantum capillus-veneris L.
1
0,5
Agave americana (L.) Martius
1
0,5
Echinodorus grandiflorus
(C. e S.) Mich.
1
0,5
Anacardiaceae
Lithraea brasiliensis (L.) March.
3
1,5
Mangifera indica L.
Schinus molle L.
Annonaceae
Rollinia silvatica L.
1
0,5
Apiaceae
Eryngium pandanifolium
Cham. et Schlecht.
3
1,5
Foeniculum vulgare Mill.
Petroselinum sativum Miller.
Apocinaceae
Nerium oleander L.
1
0,5
Araliaceae
Hedera helix L.
1
0,5
Araucariaceae
Araucaria angustifolia (Bert.)
O. Ktze.
1
0,5
Aristolochiaceae Aristolochia triangularis Cham.
1
0,5
Asteraceae
Achillea millefolium L.
37 18,5
Achyrocline satureoides (Lam.) D.C.
Ageratum conyzoides L.
Anthemis nobilis L.
Arctium lappa L.
Artemisia absinthium L.
Artemisia camphorata Vill.
Artemisia verlottorum Lamotte
Baccharis articulata (Lam.) Pers.
Baccharis ochracea Spreng (B. Vellutiria D.C.)
Baccharis trimera (Less.) D.C.
Bidens pilosa L.
Blainvillea biaristata D.C.
Calendula officinalis L.
Chaptalia nutans Hemsl.
Chicorium endivia L. Var. Sativum
Cnicus benedictus L.
Chrysanthemum myconis L.
Chrysanthemum parthenium (L.) Bernh.
Cynara scolymus L.
Galinsoga parviflora Cav.
Helianthus annuus L.
Lactuca sativa L.
Matricaria chamomilla L.
Mikania laevigata Schutz-Bip
Mikania micrantha H.B.K.
Pluchea sagittalis (Lam.) Cabr.
Senecio brasiliensis (Spreng) Less.
Solidago chilensis (L.) Meyen.
Sonchus oleraceus L.
Stenachaenium campestre Baker
Tagetes minuta L.
Tanacetum vulgare L.
Taraxacum officinale Weber
Trichocline macrocephala Less.
Vernonia polyanthes Less.
Vernonia nudiflora Less.
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Bignoniaceae
Pyrostegia venusta
(Ker-Gawl) Miers.
1
0,5
Boraginaceae
Cordia verbenacea D.C.
2
1
Symphytum officinale L.
Brassicaceae
Armoracia lapathifolia L.
7
3,5
Brassica oleracea L. Var. acephala
Brassica oleraceae L. Var. italica
Capsella bursa-pastoris (Medic) Moench.
Coronopus didymus (L.) Smith
Lepidium ruderale L.
Roripa nasturtium - aquaticum (L.) Hayek
Cactaceae
Cereus triangulares Vell.
2
1
Opuntia ficus indica L.
Caprifoliaceae
Lonicera caprifolium L.
2
1
Sambucus australis Cham. e Schlecht
Caricaceae
Carica papaya L.
1
0,5
Celastraceae
Maytenus ilicifolia Mart.
1
0,5
Chenopodiaceae Chenopodium ambrosioides L.
1
0,5
Combretaceae
Terminalia catappa L.
1
0,5
Commelinaceae Tradescantia fluminensis Vell.
1
0,5
Convolvulaceae Ipomea batatas L.
1
0,5
Crassulaceae
Kalanchoe pinnata Pers.
3
1,5
Sedum dendroideum Moc. e Sesse
Sedum praealtum D.C.
Cucurbitaceae
Cayaponia martiana (Cogn.) Cogn. 5
2,5
Cucurbita maxima L.
Luffa operculata Cogn.
Momordica charantia L.
Sechium edule L.
Dioscoreaceae
Dioscorea bulbifera L.
1
0,5
Dryopteridaceae Dryopteris filix-mas (L.) Schott
1
0,5
Equisetaceae
Equisetum arvense L.
2
1
Equisetum brasiliensis Spreng
Euphorbiaceae
Manihot esculenta Crantz
2
1
Phyllantus niuri L.
Fabaceae
Bauhinia candicans Benth.
7
3,5
Cassia corymbosa Lam.
Castanea sativa Mill.
Erythrina crista-galli Benth
Inga marginata (Willd.)
Parapiptadenia rigida (Benth.) Brenam
Spartium junceum L.
Flacourtiaceae
Casearia sylvestris Swartz
1
0,5
Geraniaceae
Pelargonium graveolens L’Hérit. 1
0,5
Hydrangeaceae Hydrangea macrophylla D.C.
1
0,5
Hypericaceae
Hypericum connatum Lam.
1
0,5
Lamiaceae
Coleus barbatus (Andr.) Benth.
22 11
Lavandula officinalis Chaix
Marrubium vulgare L.
Melissa officinalis L.
Mentha arvensis L.
Mentha citrata L.
Mentha crispa L.
Mentha piperita L.
Mentha suaveolens L.
Mentha spicata L.
Ocimum basilicum L.
Ocimum crispum L.
Ocimum gratissimum L.
Ocimum purpureum L.
Ocimum selloi Benth
Origanum manjorana L.
Origanum vulgare L.
Rosmarinus officinalis L.
Salvia coccinea L.
Salvia officinalis L.
Stachys byzantina C. Koch
Thymus vulgaris L.
Cinamomum camphora
Ness et Ebern.
3
Laurus nobilis L.
Persea gratissima Gaertn
Liliaceae
Aloe arborescens Mill.
3
Smilax brasiliensis Spreng
Smilax ornata Hook F.
Loranthaceae
Struthanthus flexicaulis Mart.
1
Lycopodiaceae
Lycopodium clavatum L.
1
Lythraceae
Cuphea balsamona Cham.
2
Heimia salicifolia Linck
Malvaceae
Malva parviflora L.
2
Sida rhombifolia L.
Melastomataceae Clidemia hirta (L.) D.Don.
2
Tibouchina semidecandra F.
Moraceae
Ficus carica L.
2
Morus nigra L.
Myrtaceae
Blepharocalix tweediei (Berg.)
Mattos Var. longipes
7
Campomanesia xanthocarpa Berg.
Eucalyptus citriodora Hook
Eucalyptus maculata Hook
Eugenia uniflora L.
Psidium guayava L.
Syzygium cuminii (L.) Skeels
Oleaceae
Olea europaea L.
1
Oxalidaceae
Averrhoa carambola L.
1
Papaveraceae
Chelidonium majus L.
1
Passifloraceae
Passiflora alata Dryander
3
Passiflora edulis Sims.
Passiflora foetida L.
Phytolaccaceae Petiveria alliacea L.
1
Piperaceae
Piper umbellatum L.
1
Plantaginaceae Plantago australis L.
2
Plantago lanceolata L.
Poaceae
Coix lacrima-jobi L.
4
Cymbopogon citratus (Stapf.) D.C.
Saccharum officinarum L.
Zea mays L.
Polygonaceae
Polygonum hydropiperoides Michaux 2
Rumex obtusifolius L.
Punicaceae
Punica granatum L.
1
Rosaceae
Eriobotrya japonica (Thumb.) Lindl. 5
Fragaria vesca L.
Rosa gallica L.
Rubus brasiliensis M.
Rubus rosaefolius Smith
Rubiaceae
Borreria verticillata (L.) G.F.W. Meyer 2
Cephaelis brasiliensis St. Hill
Rutaceae
Citrus aurantifolia (Christm.) Swingle 5
Citrus limonum Risso (L) Burn
Citrus sinensis (L.) Osbeck
Ruta chalepensis L.
Ruta graveolens L.
Santalaceae
Jodina rhombifolia Hook et Arn. 1
Scrophulariaceae Verbascum thapsus L.
1
Solanaceae
Physalis viscosa L.
3
Solanum melongena L.
Solanum paniculatum L.
Tiliaceae
Luehea divaricata Mart. et Zucc. 1
Trapaeolaceae
Trapaeolum majus L.
1
Urticaceae
Urera baccifera Gaud.
2
Urtica dióica L.
Verbenaceae
Aloysia gratissima (Gill. et Hook)
Troncoso
6
Aloysia triphylla (L’Herit) Britton
Lauraceae
1,5
1,5
0,5
0,5
1
1
1
1
3,5
0,5
0,5
0,5
1,5
0,5
0,5
1
2
1
0,5
2,5
1
2,5
0,5
0,5
1,5
0,5
0,5
1
3
#!
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Novembro / Dezembro 2002;1(1)
Violaceae
Vitaceae
Zingiberaceae
total
Lippia alba N.E.Br.
Stachytarpheta cayennensis (L.C. Rich) Vahl
Verbena littoralis H.B.X.
Verbena officinalis L.
Viola odorata L.
1
0,5
Vitis vinifera L.
1
0,5
Alpinia speciosa (Wendl) K. Schum. 2
1
Zingiber officinalis Roscoe
190 100
Fonte: Estudo etnobotânico do município de Caxias do Sul – RS
Analisando essa tabela, constata-se que foram
identificadas 190 espécies botânicas diferentes. Para
cada uma delas se realizou um estudo botânico,
acrescentando itens como: nome popular, habitat,
freqüência, floração, uso medicinais locais,
propriedades, receitas populares, partes úteis, além
de extensiva revisão bibliográfica em relação a sua
utilização.
Completando a apresentação dos dados,
apresentamos o modelo utilizado como base para
identificação das 190 plantas identificadas (quadro I).
Conclusão
Segundo Schultes e Von Reis, em todas as
culturas, e provavelmente desde muito cedo, existiram
homens e mulheres especialmente instruídos sobre as
propriedades das plantas. Estes indivíduos muitas
vezes alcançaram elevadas posições. Até hoje, em
muitas sociedades incultas e superficialmente cultas,
o “curandeiro” mantém ainda uma alta posição em
várias etapas da vida. Estes, diagnosticam e tratam
doenças, determinam a causa da morte, asseguram
boa colheita através de rituais, explicam fenômenos
naturais e climáticos, controlam métodos de caça e
pesca, são os repositores da história e mitologia das
tribos, e normalmente, são os especialistas que
manipulam e controlam as drogas alucinógenas, que
são tidas como sagradas.
Conscientes desta realidade, a elaboração deste
trabalho foi possível detectar, através da identificação
e uso de suas plantas, o desenvolvimento de uma
comunidade regional. Sua divulgação tem como
objetivo auxiliar a recuperação e manutenção da
cultura da população visada, contribuindo, assim, para
que a etnobotânica assuma o status que lhe é devido.
E porque explorar este status hoje? Porque é chegada
a hora de avaliar esta disciplina e sua posição nas
ciências e na conservação ambientalista,
particularmente sob o ponto de vista do bem estar
das gerações futuras.
#"
Quadro I
IDENTIFICAÇÃO
NOME CIENTÍFICO: Echinodorus grandiflorus
(C. e S.) Mich.
FAMÍLIA: Alismataceae
NOME POPULAR: Chapéu-de-couro
NOME ITALIANO: Também chamada de: Erva-do-pântano
Local: Caxias do Sul
Data da coleta: III - 1995
LEB: 61776
Generalidades: Planta nativa, aparece em vários
lugares do Brasil.
Descrição morfológica breve: Erva aquática ou
brejosa, que pode atingir até 1,5 m de altura. Folhas
verdes, com disposição em roseta. Possuem pecíolos
longos e bainhas largas, com lâminas coriáceas. As
inflorescências comumente ultrapassam as folhas, em
forma de panícula. Possui flores brancas e
hermafroditas.
Habitat: Gosta de terrenos encharcados. Encontra-se
em lugares muito úmidos, canais de drenagem,
margem de lagoas e baixadas pantanosas.
Freqüência: Moderada
Floração: Verão
Usos medicinais locais: O chapéu-de-couro é muito
indicado para quem sofre de gota e reumatismo; limpa
o sangue e cura qualquer mancha na pele. Diz-se
que é recomendado para tratamento de doenças
dermatológicas, artríticos e é desintoxicante.
Propriedades enumeradas: Antigotosa, antireumática, depurativa.
Receitas populares:
- Para afecções da pele. Preparar uma infusão com
uma xícara (chá) de folhas picadas em um litro de
água fervente e deixar de 10 a 15 minutos em repouso.
Coar e fazer compressas ou lavar a região afetada.
- Antiartrítico (combate inflamações e dores nas
articulações ou juntas). Adicionar uma xícara (chá)
de folhas picadas em um litro de água fervente. Deixar
de 10 a 15 minutos. Coar e tomar uma xícara do chá
duas a três vezes ao dia.
Partes úteis, na medicina popular: Folhas.
Revisão bibliográfica:
Outros usos: Segundo Sanguinetti, Cirilo, Silva &
Franco et al. essa planta cura sífilis (doenças venéreas),
afecções de bexiga e rins. Pedras nos rins são
eliminadas com o uso do chá devido ao tanino em
sua estrutura. Os componentes de suas folhas agem
como bons inibidores enzimáticos e atuam como
antienvenenantes, adstringentes e veinotrópicos,
aumentam as resistências das veias e pequenos vasos.
O iodo contido em sua estrutura é responsável pelo
perfeito funcionamento da glândula tireóide,
produtora de hormônios como T3 e T4, que regulam
o metabolismo de todo o organismo, queimando o
excesso de gordura e promovendo crescimento
adequado, atuando também na síntese da proteína.
O seu uso evita a formação de bócio, devido à
presença do iodo, em sua composição.
Enfermagem Brasil
Novembro / Dezembro 2002;1(1)
Dos resultados obtidos se podem tirar as
seguintes conclusões.
1 – Foram coletadas 190 espécies que atualmente
são de uso popular na colônia de imigrantes italianos.
2 – Estas famílias se agrupam em 67 famílias; entre
elas destacam-se com maior indicações: 58 famílias (86%),
Asteraceae 37, Brassicaceae 7, Cucurbitaceae 5, Fabaceae
7, Lamiaceae 22, Myrtaceae 7, Rosaceae 5, Rutaceae 5,
Verbenaceae 6 e 89 espécies (46%).
3 – As aplicações medicinais das plantas são
efetuadas para uso humano, administrando-se 333 em
uso interno e 214 em externo. Entre as 190 espécies
coletadas apenas 4% têm uso mágico ou supersticioso.
4 – Com relação às partes da planta utilizadas
pelos imigrantes italianos para fins medicinais ou
mágicos, temos as folhas com 38% de aproveitamento,
as flores com 20%, as raízes com 9,8%, os frutos e
grãos com 9,2% e a casca com 4,1%, seguindo-se outras
quinze partes com índice menor de emprego.
5 – Em uso interno as formas preponderantes
são a infusão e a decocção, sendo que para uso externo
as formas já são mais diversificadas, prevalecendo
também a infusão e a decocção.
6 – Quanto ao modo de utilização, as compressas
e macerações são as mais importantes, seguidas por
banhos, sucos, xaropes, aplicações diretas em que são
aproveitadas folhas, bagaços, pós, etc.
7 – As aplicações específicas das plantas de
acordo com os sistemas em que atuam estão assim
distribuídas :
- Digestivo 19% (112);
- Neuromuscular 13% (78);
- Metabólico 12% (68);
- Respiratório 11% (57);
- Dermatológico 10% (56);
- Circulatório 9% (53).
Seguindo-se outros, com menor expressão
numérica, como renal, reprodutor, imunológico,
nervoso, etc.
8 – Das 190 espécies coletadas, a “Passiflora
foetida L.” e a “Vernonia nudiflora L.” foram
referidas como medicinais e mágicas, pela primeira
vez neste livro.
9 – Com relação à origem das espécies usadas
pela população do município de Caxias do Sul, 53%
são exóticas e 47% nativas.
Este trabalho, além de valorizar os costumes
locais, auxiliou o esclarecimento da necessidade da
preservação da flora local:
- A população pesquisada demonstrou que,
apesar dos 120 anos que a afastam da pátria-mãe, seus
ancestrais, os descendentes, mantêm a maioria das
tradições como símbolo da cultura, que criou raízes na
terra que os acolheu, incluindo, por exemplo, em sua
alimentação um uso de plantas como orégano, sálvia,
e muitas outras. Observou-se, portanto, a manutenção
através dos anos de processos culturais intrínsecos a
certas populações, provando que hábitos e costumes
de uma determinada raça podem e são mantidos,
apesar da distância física. Ficou comprovada a influência
direta que a flora de uma região tem sobre os hábitos
das comunidades, e como o uso da mesma pode
caracterizar sua situação econômica de saúde, enfim,
até mesmo o grau de seu desenvolvimento.
- Na região, existe uma interrelação entre as
culturas italiana e nativa, uma vez que aparece, no
decorrer deste trabalho, a utilização de plantas originárias
da região e de outras, comprovando que se deve
perpetuar o que é bom para cada civilização e que a
troca de experiências com o respeito a suas melhores
tradições é fundamental para o crescimento de uma
comunidade. Neste processo de resgatar a história da
comunidade, identificou-se a interrelação de momentos
históricos, que fizeram com que sobrevivessem os
aspectos mais importantes de cada cultura, isto é, a
manutenção da cultura nativa com o acréscimo de
fenômenos imigratórios, através de seleção natural.
- As terapias naturais estão ressurgindo,
estabelecendo um paralelo significativo entre o avanço
da tecnologia, sem o desprezo das ditas culturas
populares, uma vez que nelas estão a base da história
e do progresso das civilizações.
- Somente através de estudos etnobotânicos
podemos divulgar cientificamente dados significativos
de populações em estudo, entendendo os diversos
comportamentos de diferentes grupos étnicos.
- O incentivo as comunidades em geral, para
que utilizem seus recursos naturais, é de grande
urgência. É necessário conscientizá-las de que estas
medidas, além de serem de fácil acesso e menor custo,
com garantias de resolutividade, mantêm tradições
que imortalizam a vida de um povo.
- O investimento de maiores recurso na área
de pesquisa etnobotânica é de suma importância, fato
este que preocupa os estudiosos da localidade
pesquisada, o que foi demosntrado pelo interesse em
desenvolver trabalhos a fins pela Universidade da região.
- Foi muito gratificante investigar, estudar,
elaborar, “vivenciar” este trabalho, esperamos
sinceramente que ele ajude a preparação de mais
etnobotânicos, o que é uma necessidade de toda a
humanidade, tendo em vista o rápido
desaparecimento do precioso acervo cultural das
então chamadas sociedades primitivas, sobre o imenso
tesouro que é a natureza.
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Enfermagem Brasil
Novembro / Dezembro 2002;1(1)
Artigo original
Condições de trabalho de enfermeiros em
um hospital público
Working conditions of nurses in a public hospital
Condiciones de trabajo de enfermeros en un hospital público
Carlos Bezerra de Lima*, Cizone Maria Carneiro Acioly**
Doutor em Enfermagem, professor do Curso de Enfermagem/UFPB, **Mestre em enfermagem. Trabalho abstraído da Dissertação aprovada no
Curso de Mestrado em Enfermagem de Saúde Pública CCS/UFPB
*
Resumo
Estudo realizado com a finalidade de analisar o processo de trabalho de um grupo de enfermeiros da rede hospitalar pública, em
sua prática assistencial, na perspectiva de conhecer as reais condições em que este trabalho se realizava. A pesquisa foi desenvolvida
sob uma abordagem qualitativa, utilizando-se a análise de conteúdo para tratamento dos dados, tomando o tema como unidade
de registro. O material analisado constou de nove depoimentos dos sujeitos participantes do estudo, de onde emergiram cinco
categorias. A partir do aprofundamento destas categorias, ocorreu o desvelar do fenômeno investigado, possibilitando a
estruturação do conhecimento dele apreendido, que se coloca como subsídio para a reflexão sobre o pensar e o fazer dos
enfermeiros.
Palavras-chave: Enfermagem, condições de trabalho, ambiente hospitalar, recursos humanos.
Abstract
The present study was accomplished with the aim to analyse the process of work by a group of nurses in the public hospial in
their assistancial practise, in the perspective to know the real conditions in which this work is fullfiled. The research was developed
in a qualitative approach, using the content analysis to data treatment, having the theme as unit of entry. The material that was
analysed consisted of nine depositions given by the participant subjects of the study, from where five cathegories emerged.
Starting from the deepening of these cathegories, the disclosed of the investigated phenomenon occured and made possible the
framing of the knowledge from it apprehended, which is placed as a subsidy to reflection about nurses’ thinking and doing.
Key-words: Nursing, work conditions, nosocomial environment, human recurses.
Artigo recebido em 30 de agosto; aprovado em 15 de setembro de 2002.
Endereço para correspondência: Carlos Bezerra de Lima, Rua Adolpho Soares Filho, 34/301-A Bancários
58052-170 João Pessoa – Paraíba, E-mail: [email protected].
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Enfermagem Brasil
Novembro / Dezembro 2002;1(1)
Resumen
Estudio realizado con la finalidad de analizar el proceso de trabajo de un grupo de enfermeros de los hospitales públicos, en su
práctica asistencial, con la posibilidad de conocer las verdaderas condiciones en que este trabajo se realizaba. La pesquisa fue
desarrollada con un abordaje cualitativo, utilizando el análisis de contenido para tratamiento de los datos, y el tema como unidad
de registro. El material que fue analizado tuvo la declaración de nueve participantes del estudio, de donde surgieron cinco
categorias. A partir de la profundización de estas categorias, se descubrió el fenómeno investigado, posibilitando la estructuración
del conocimento que fue a través de este estudio apreendido, y se pone como subsidio para la reflexión sobre el pensar y el hacer
de los enfermeros.
Palabras-chave: Enfermería, condiciones de trabajo, ambiente hospitalar, recursos humanos.
Introdução
A motivação para o desenvolvimento deste
estudo surgiu a partir de nossa aproximação com a
prática assistencial dos profissionais de enfermagem.
Nela, chamou-nos atenção a questão das condições
de trabalho dos enfermeiros. Passamos a ler acerca
desta temática, associando-a a alguns pontos
observados durante a realização de estágios em
diferentes hospitais. Após algumas reflexões e
encontros de trabalho, decidimos realizar a
monografia exigida pelo Mestrado em enfermagem
com tal abordagem, considerando-a sob o aspecto
da cidadania.
Esta decisão se deu também com base na leitura
que fazemos da realidade objetiva do trabalho do
enfermeiro, que se realiza em meio aos desencontros
entre a necessidade de adequadas condições de
trabalho, para que o mesmo possa prestar uma
assistência de boa qualidade a sua clientela e os
interesses institucionais.
Para orientar o processo de desenvolvimento
do estudo foram determinados os seguintes objetivos:
Detectar possíveis problemas relacionados com as
condições da prática assistencial dos enfermeiros em
uma instituição da rede hospitalar pública; e analisar
as opiniões desses enfermeiros sobre as condições
objetivas de seu ambiente de trabalho.
Material e métodos
A pesquisa teve como cenário uma instituição
hospitalar pública estadual, localizada na cidade de
João Pessoa - PB, que atende pessoas com aids,
tuberculose e hanseníase, em nível ambulatorial e de
internação.
#&
Os sujeitos participantes da pesquisa foram 9
enfermeiros do quadro de pessoal daquela instituição,
precisamente aqueles que concordaram em participar
do estudo, permitiram a gravação das entrevistas e
estiveram no exercício de suas atividades por ocasião
da coleta de dados. A eles foram atribuídos
pseudônimos para identificar seus depoimentos, como
forma de garantir o anonimato, o sigilo e facilitar o
entendimento do leitor.
Como instrumentos de coleta foram utilizados
um roteiro de entrevista semi-estruturada e um roteiro
de observação de campo, com vistas à conquista dos
objetivos propostos para a pesquisa. Sua aplicação se
deu após a validação dos instrumentos, nos períodos
diurno e noturno, procurando-se captar as mais
diversas peculiaridades envolvidas no contexto do
trabalho dos referidos enfermeiros.
A investigação deu-se mediante uma abordagem
qualitativa, utilizando-se a técnica de análise de
conteúdo, que consiste na desmontagem de um
discurso e produção de um novo discurso, através
da identificação de traços de significação [9].
O material para análise correspondeu ao corpus
do estudo, constituído das 9 entrevistas, que foram
transcritas e digitadas na íntegra, com uma coluna vazia
à direita, para colocação de códigos que
vislumbrassem possíveis segmentos para análise.
Após a constituição do corpus, passamos a etapa
de codificação, desagregando a mensagem em
elementos constitutivos, chamados de unidades de
registro. Dentre tais unidades, optamos pelo tema,
tendo em vista ser o mesmo amplamente utilizado
no estudo de opiniões e atitudes, como é o caso deste
estudo.
À medida que inventariava e classificava as
unidades de registro, estabelecemos subcategorias, ou
categorias com generalidade mais fraca. Visando à
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construção do sistema de categorias desta investigação,
procedemos ao seu agrupamento, a partir da presença
de elementos característicos comuns e divergentes.
“Tem sempre gente com policial acompanhando e a gente tem
um receio pessoal. Eu mesma tenho porque eu não gosto de polícia;
quando eu vejo polícia, eu já fico receosa, mas nunca aconteceu nada
de grave com a gente” Bruna.
Resultados
O corpo de material analisado neste estudo
compõe-se de cinco categorias: Ambiente hospitalar,
respostas individuais às condições de trabalho,
recursos humanos, recursos materiais e instrumentos
de biossegurança.
No Brasil são freqüentes as matérias em jornais,
revistas, rádio e televisão, mostrando e denunciando o
envolvimento de policiais em seqüestros, extorsão de
dinheiro, tráfico de drogas e maus tratos à população.
Diante de tais fatos, ao invés de garantir a segurança da
população, o policial provoca desconfiança, insegurança
e incredibilidade.
Ambiente hospitalar
Discriminação
O conjunto dos elementos componentes da
estrutura de um nosocômio constitui um dos
determinantes da condição de trabalho dos
enfermeiros. Esta condição contribui para determinar
o nível da assistência ali prestada, e da saúde física e
mental de seus profissionais. A partir desta categoria
foram analisadas as seguintes subcategorias:
A discriminação aparece como um dos resquícios
do passado, ainda presente na atualidade, através da
hegemonia médica. O médico era o detentor do saber,
cabendo-lhe um tratamento diferenciado dos demais
profissionais da saúde. Os tempos mudaram, porém,
esse tratamento ainda tende a permanecer, conforme
relata a entrevistada:
“Eu não entendo porque ainda existe isso hoje: médico come
melhor do que a gente; o médico lancha pêra, uva, maçã, enquanto
nós comemos pão com café; então está errado. Não é a saúde do
funcionário? Então um copo de leite para todo mundo. (...) há
colegas aqui, como a assistente social que foi reclamar: não, a senhora
não vai comer no prato, vai comer na bandeja, porque o prato é do
médico. Não é isso? Porque discriminar uma assistente social do
médico?” Bianca.
Iluminação
A disponibilidade de um equipamento do tipo
gerador de energia elétrica é reconhecida como
indispensável para garantir a continuidade da
assistência qualificada, a manutenção da saúde e da
vida dos pacientes graves em uma instituição hospitalar.
Apesar do reconhecimento, sua ausência é denunciada
na fala evidenciada a seguir:
“(...), tem algumas falhas que impedem de se ter um bom
trabalho; por exemplo, aqui nós não temos gerador, então quando
falta energia temos que esperar acender velas, acender lampião,
entendeu?” Paula.
Tal equipamento é absolutamente necessário
para qualquer ambiente hospitalar, independente de
seu porte, tendo em vista que ali se lida com vidas
humanas, bem maior de qualquer ser humano. Em
consonância com o objetivo principal de um hospital
e sob a ótica de seus profissionais, esse equipamento
torná-se indispensável à continuidade da assistência
ali prestada e ao bom funcionamento dos serviços,
que vão desde a esterilização dos materiais até a
segurança dos profissionais que ali trabalham.
Com base nessa referência, percebo tal atitude
como uma forma de discriminação social praticada pela
instituição, na qual atribui-se ao médico, status, privilégios
extras, diferenciando-o dos demais profissionais. Tal
comportamento discriminatório só vem desmotivar e
desestimular seus funcionários, tornando-se um
agravante na insatisfação no trabalho, com o conseqüente
comprometimento da qualidade da assistência.
Respostas individuais às condições de trabalho
Nessa categoria são abordadas situações e
circunstâncias entrelaçadas às condições de trabalho dos
enfermeiros, que influenciam de forma direta e decisiva
na postura e conduta individual dos mesmos, em relação
a seu ambiente de trabalho e sua prática profissional.
Segurança
Acomodação
O depoimento a seguir explicita a preocupação
da entrevistada com a segurança no ambiente de
trabalho:
Desde a institucionalização da Enfermagem com
Florence Nightingale, quando o princípio da
subserviência foi ensinado e interiorizado pelas
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estudantes até os dias atuais, esse princípio encontrase ainda entremeado em nossas falas e posturas.
Manifesta-se através da acomodação, do não
questionar, do não falar, do não lutar; enfim, do
conformismo e da alienação. Um retrato desse
resquício é o que se pode observar no discurso a
seguir:
“Eu trabalho dentro do que a gente tem aqui, porque
como o hospital é de rede pública, você sabe que sempre a gente
vai ter deficiência em alguma coisa” Clara.
Trata-se de uma problemática extremamente
importante, porém, complicada e delicada,
particularmente, em um hospital público, que requer
competência e responsabilidade da sua direção e
equipe hospitalar. No entanto, essa situação depende
de vontade política de nossas autoridades, para que
seja oferecida uma assistência qualificada, igualitária e
digna de um cidadão, conforme preceitua a
Constituição Federal e o Sistema Único de Saúde
deste país. Esta garantia exige condições dignas e
adequadas de trabalho para o enfermeiro. Se o hospital
oferecer o mínimo de recursos, expondo a riscos o
funcionário, este se submeterá a tal condição? Por que
um hospital de rede pública não pode ter condições
de trabalho dignas e adequadas para o exercício
profissional dos enfermeiros?
Desgaste
As situações geradoras do desgaste do
profissional são as mais variadas possíveis, porém um
ponto em comum acontece quando o indivíduo
encontra-se em situação limite. Essa situação acontece
quando a pessoa ultrapassa sua capacidade individual
de suportar determinada situação. As conseqüências
desse desgaste e sua recuperação variam de indivíduo
para indivíduo, dependendo do tempo de exposição,
sua intensidade, situação em que se deu o desgaste e
da história de vida dessa pessoa.
“Eu fico mais aqui neste pavilhão (tisiologia). A Diretora
me deixou para cá porque eu lá ficava muito nervosa, (...).
Aqui não, eu me sinto mais a vontade, são pacientes mais normais
que doentes, a não ser aqueles casos acamados, mas eu sou mais
para cá, (...)” Laura.
Há um desgaste emocional nas enfermeiras deste
hospital, que se evidencia, não apenas neste
depoimento, mas também nos relatos extras dos
demais sujeitos. É possível que tal desgaste seja
decorrente do somatório de pontos levantados pelos
$
entrevistados, tais como: tipo de clientela, número
reduzido de profissionais que cuidam da segurança,
ausência de gerador de energia elétrica, necessidade de
recursos humanos e materiais em quantidade e qualidade
suficientes, dentre outros, traduzidos em falhas no
trabalho, como bem foi relatado acima.
Para a solução de questões como essas, é
importante o estabelecimento de uma administração
interativa, participando dos acontecimentos que
permeiam o trabalho de todos os subordinados. Ouvir
as observações, sugestões e críticas dos funcionários é
uma forma de motivação dos mesmos.
Relacionamento interpessoal
Os entrevistados percebem esta problemática em
seu ambiente de trabalho, sob dois aspectos: ora
centrada na união de todos os componentes, ora em
conflitos:
“(...), nós trabalhamos assim: é muita união. (...). Eu me
relaciono super bem aqui com todo mundo, com os colegas, com
direção, com coordenação, com as auxiliares, com todo mundo, eu
não tenho do que reclamar” Sydney.
“Eu acho que a condição de trabalho atualmente aqui tem
interferência de outras coisas que não são equipamentos, é relação
interpessoal mesmo que interfere no dia-a-dia do trabalho do
profissional: enfermeiro, auxiliar, SG, todo mundo. (...). Falta
muito respeito pelo profissional, todos os profissionais, tanto
enfermeiros como auxiliares, como SG, (...)” Clara.
Percebe-se uma contradição nesses depoimentos.
Segundo Clara, há dificuldades de relacionamento entre
chefia de enfermagem e alguns funcionários, enquanto
que Sydney afirma existir união, apesar dos conflitos
entre coordenação e alguns enfermeiros. Esta é uma
forma de isentar-se, de burlar seu posicionamento frente
à discussão ou, quem sabe, não estimular um conflito
maior. O fato aconteceu, não importando as causas
que levaram a isso, mas, sim, o acontecido, e nesse caso,
exige-se um posicionamento definido e imparcial de
todos os membros da equipe, para que não se
evidenciem outros acontecimentos semelhantes.
O relacionamento conflituoso constitui uma fonte
geradora de tensão no emprego, bem como um forte
motivo para demissão, atribuído pelos demissionários,
conforme resultado da pesquisa de Lautert, Ziebell e
Bianchessi [4].
Recursos humanos
Nesta categoria são abordados dois
componentes indispensáveis para os recursos
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humanos em enfermagem no contexto hospitalar,
como sejam: qualificação e disponibilidade.
Qualificação
A qualificação dos componentes da equipe de
enfermagem é fator decisivo para garantir a qualidade
da assistência e a qualidade de vida dos usuários dos
serviços hospitalares. Isto é garantido mediante a
implementação de um programa permanente de
cursos de atualização para os profissionais de
enfermagem nessas instituições. Vejamos a opinião
emitida por um entrevistado:
“Desde que eu estou aqui até agora, só houve um curso;
já houve duas turmas e está havendo a terceira, mas a gente que
trabalha o dia todo e em outro local, não tem condições de
participar. Se aqui eu trabalho à noite e o curso é durante o
dia, então não há disponibilidade para vir fazer esse curso durante
o dia, mas está oferecendo e segundo as colegas o curso está sendo
proveitoso, muito bom” Sydney.
Além desta questão, poderão existir outras
dificuldades enfrentadas pelos enfermeiros para que
possam participar dos cursos de atualização, tais como:
a não liberação por parte da instituição, a dupla jornada
de trabalho, além de problemas de ordem pessoal,
que inviabilizam a participação dos profissionais,
comprometendo seu nível de qualificação.
Disponibilidade de pessoal
Em nossa realidade, freqüentemente o hospital
apresenta déficit quantitativo nos quadros de pessoal
de enfermagem, gerando sobrecarga de atividades,
insatisfação no trabalho e aumento no desgaste físico
e mental. Conseqüentemente, inviabiliza a prestação
de uma assistência eficaz ao doente, dificultando o
seu tratamento, prolongando sua permanência no
hospital. No caso particular dos profissionais de
enfermagem, aumenta a probabilidade de maior
número de casos de funcionários doentes e suas faltas
ao trabalho. Segundo os sujeitos participantes do
estudo:
“(...), há falta de mão-de-obra na enfermagem, por não
ter havido concurso público na rede estadual (...), devido também
à especialidade, pois muitas pessoas quando vêm trabalhar aqui
têm medo das doenças Tb e Aids, mas está diminuindo mais.
Aqui na tisiologia são um enfermeiro e dois auxiliares, e três
auxiliares quando tem uma desinfecção, aí precisa de pessoas
para dar uma cobertura maior” Artur.
Visando à definição de um suporte melhor e
bem fundamentado para analisar os relatos dos
entrevistados sobre essa questão, recorremos ao
cálculo do pessoal de enfermagem e posterior
comparação entre o existente e o estimado. Foi
constatado que o hospital em estudo possui 58 leitos,
sendo 38 destinados a tisiologia e 20 ao tratamento
de doentes de Aids. Dispõe de 19 enfermeiros e 29
auxiliares, cuja jornada de trabalho semanal é de 20 e
30 horas respectivamente.
Considerando que se trata de um hospital de
doenças infecto-contagiosas, onde são prestados
cuidados mínimos, intermediários e semi-intensivos,
detectou-se um déficit de 13 pessoas no cargo de
enfermeiro e 29 no de auxiliar de enfermagem. O
enfermeiro precisa suprir a falta de auxiliares, deixando
as demais funções em segundo plano. Não se pode
deixar de considerar ainda outros fatores de risco
como a carga horária semanal intensa, o medo de
trabalhar nesse ambiente, o preconceito por parte de
seus familiares, dos dirigentes de outras Instituições e
da sociedade em geral. Assim, aumentam as
possibilidades de erros, doenças e comprometimento
da qualidade da assistência.
Recursos materiais
A quantidade e qualidade de recursos materiais
disponíveis em um contexto hospitalar, são fatores
decisivos para a continuidade de uma assistência
qualificada, proteção do paciente e do profissional
que o assiste. O déficit quantitativo ou qualitativo
desses recursos compromete a qualidade da assistência,
e põem em risco tanto os profissionais de
enfermagem como as pessoas por eles assistidas.
Disponibilidade de equipamento de proteção
A quantidade e qualidade dos artigos de
proteção na instituição são fundamentais, tendo em
vista o tipo de patologias ali tratadas e a probabilidade
de contaminação de seus funcionários,
particularmente o pessoal de enfermagem, que presta
cuidados diretos e de forma permanente. Por outro
lado, o uso inadequado de recursos diagnósticos e
terapêuticos, tanto por falta quanto pelo excesso, é
um forte indicador de má qualidade da assistência
[8]. Veja como pensam os entrevistados acerca desta
temática:
“(...), as condições mesmo para trabalho são péssimas
porque você trabalha improvisando, para que você não pare,
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não estacione, dê andamento no serviço, (...). A gente aqui trabalha
sem nenhuma proteção porque uma máscara a gente não tem, não
tem um capote, não tem nada, então isso aí deixa muito a desejar,
(...) isso aí é o ponto chave, porque muitas vezes a gente deixa de
prestar assistência direta porque a qualquer momento a gente
pode se contaminar” Sydney.
Por tratar-se de doenças contagiosas, é
imprescindível que os profissionais dessa instituição
utilizem equipamentos de biossegurança em quantidade
suficiente e qualidade adequada. Trabalhar
improvisando é inadmissível, apesar disso ser uma
constante no cotidiano da Enfermagem, onde o
hospital prioriza redução de custos em função de
maiores lucros. Isso acontece gerando inúmeras
conseqüências nocivas ao paciente, ao profissional e a
população. Dentre elas: insegurança, aumento do
estresse, dificuldades quanto ao tratamento e a
prestação de uma assistência eficaz, comprometendo
a saúde física e mental desses indivíduos e sua qualidade
de vida.
Disponibilidade de outros materiais
A disponibilidade de recursos é fator essencial
para garantir a continuidade do tratamento, a segurança
do doente, dos componentes da equipe de
enfermagem e de outros profissionais. Na falta ou má
qualidade de medicação e inúmeros materiais utilizados
nas intervenções, esterilização, limpeza, lavagem de
roupas, entre outras tantas atividades realizadas no
ambiente hospitalar, colocam em riscos a saúde de todos
os envolvidos nesse contexto. Isto aparece no
depoimento do enfermeiro participante, nos seguintes
termos:
“Já aconteceu a falta da própria sonda, você tem um
cateterismo vesical para fazer e não tem o material, essa deficiência
na rede pública é freqüente. Eu já saí daqui para ir pegar máscara
em outro hospital para o pessoal trabalhar, (...). Falta recipiente
para você colher um exame, medicação mais específica, e sempre o
prejudicado é o paciente, (...)” Sydney.
Esse não é apenas um caso isolado na realidade
de nossos hospitais, nem uma exclusividade de
instituições públicas. Particularmente em uma instituição
hospitalar, onde são tratadas patologias como Aids e
tuberculose, é indispensável que se estabeleça com
rapidez a reposição de materiais em geral e de
medicamentos, para a garantia da eficácia do tratamento
e da assistência prestada, bem como, da segurança e
credibilidade na instituição por parte de profissionais,
usuários de seus serviços e comunidade em geral.
$
Qualidade do material
Em uma instituição hospitalar, a avaliação crítica
dos materiais pelos próprios trabalhadores que os utilizam
é de fundamental importância. A partir de sua prática
cotidiana no trabalho, melhor que ninguém, eles sabem
apontar os materiais mais adequados e eficazes para o
trabalho.
“(...), o material, não é de primeira qualidade que deveria
ser. A instituição vai por uma tal de licitação que procura os
materiais mais baratos para comprar. (...), então às vezes a gente
por mais que diga que o material não presta, mas a gente recebe ele
de volta, por que? Porque o poder de compra não está com quem
utiliza” Clara.
A economia como um determinante exclusivo na
escolha do material, como afirma Clara, é uma atitude
errônea e perigosa. Outras questões, necessariamente,
devem ser levadas em consideração, para garantir a saúde
e a proteção dos funcionários e pacientes. Nada, nem
mesmo a economia do hospital podem comprometer
a saúde e a vida dos pacientes, nem expor os profissionais
que ali trabalham, ao risco de contrair uma patologia até
então incurável, como é o caso da Aids.
Quanto ao papel da Diretoria, é difícil agradar a
todos. O mais lógico seria ouvir os funcionários como
um caminho para primar pela qualidade do serviço. Isso
poderia ser feito de maneira direta, ou não, colhendo
sugestões para que não só o enfermeiro deva ter vez e
voz dentro da empresa, mas também os demais
profissionais.
Instrumentos de biossegurança
Nesta categoria foram abordadas atividades e
ferramentas de trabalho que influenciam diretamente a
qualidade de vida e saúde dos profissionais de saúde.
Jornada de trabalho
A jornada de trabalho do enfermeiro e sua equipe,
no contexto das instituições hospitalares, têm sido
expressa por longas horas de duração, com períodos
curtos e irregulares destinados ao repouso. Em
decorrência dos baixos salários recebidos, essa categoria
profissional, é obrigada a trabalhar em dois ou mais
hospitais diferentes, para garantir o orçamento familiar,
o que é desgastante para a sua saúde física e mental. Isto
é confirmado no depoimento seguinte:
“No meu caso só me serve um trabalho de doze horas. Eu
não posso me afastar seis horas porque eu trabalho noutro
canto que também são doze horas, (...)” Laura.
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A dupla jornada de trabalho do enfermeiro já
se tornou uma constante na realidade desse
profissional, mesmo tendo consciência dos efeitos
nocivos das jornadas prolongadas de trabalho sobre
a saúde do trabalhador. O baixo salário pago ao
pessoal de enfermagem fala mais alto [1].
Salário
Vivenciando a situação de que o salário
percebido não propicia a satisfação das necessidades,
encontramos enfermeiros nas instituições de saúde
descontentes com a baixa remuneração [7]. Sob esta
mesma ótica, discorre o participante:
“(...), o que você ganha não justifica, você se empenhar
tanto. Financeiramente não compensa. (...). Você já pensou o
quanto você investe, você passa quatro anos na universidade,
mais um do curso de especialização, cinco anos e depois você vir
ganhar pouco (...)”. Sydney.
A insatisfação do enfermeiro com o salário que
recebe justifica-se pelo investimento pessoal, risco de
vida e função que desempenha. Essa insatisfação
constitui um forte interveniente na postura e conduta
desse profissional em seu ambiente de trabalho.
Interfere, certamente, na qualidade da assistência
prestada.
Em uma sociedade capitalista, como é o caso
da nossa, a remuneração de um profissional expressa
a valorização e o reconhecimento do seu trabalho,
tanto pela instituição como pela sociedade. O relato
a seguir mostra a importância atribuída ao salário:
“Por causa do risco de vida, que são doenças como a
tuberculose e a AIDS, aí tinha que ter um chamativo, não é
tão grande, mas é como se fosse um prêmio para quem vem
trabalhar aqui com esses tipos de doenças. (...)” Artur.
Considerar o adicional por periculosidade, um
chamativo, ou mesmo um prêmio representa visão
ingênua da realidade. Porém, pode expressar o que
realmente esse enfermeiro pensa, assim como tantos
outros. Na verdade, esse adicional nada mais é do
que um direito estabelecido e garantido por lei para
indivíduos que trabalham em locais que ofereçam risco
de vida. Apesar do risco, pode ser considerada uma
questão de justiça, pois você expondo sua saúde, em
troca receberá um dinheirinho a mais.
Além da questão salarial, outra questão é
abordada pelos enfermeiros que são obrigados a
aceitar determinados acordos com a instituição, como
se pode observar no discurso a seguir:
“Em hospital privado, eles lhe dão um salário bem
reduzido com uma carga horária de um auxiliar ou atendente
de enfermagem. E por necessidade se aceita” Natália.
Essa não é uma questão simples, exige
aprofundamento em sua leitura. Numa sociedade
capitalista, o hospital, além de ser uma instituição
voltada para a saúde da população, é uma empresa
que visa lucros. Portanto, a lógica do seu processo de
trabalho é pagar menos e exigir cada vez mais.
Por outro lado, a situação econômica do
enfermeiro impõe-lhe urgência na busca de uma
forma de sustento, assumindo um trabalho que nem
sempre permite uma escolha voluntária. Sendo apenas
mais uma estratégia para garantir a receita do
trabalhador, não satisfaz sua necessidade de realização,
nem confere a motivação necessária para o
desempenho satisfatório de sua função [4].
Riscos no trabalho
Os riscos a que são expostos os profissionais de
saúde que trabalham com pessoas infectadas pelo HIV,
têm sido avaliados pelas autoridades epidemiológicas
como sendo baixos, porém o que os torna maiores é
a não observância das precauções universais e não
propriamente a virulência do HIV [5]. O mesmo se
pode dizer da tuberculose, pois os profissionais acabam
contaminando-se, justamente pela negligência no uso
do equipamento de proteção. Essa é também a opinião
dos entrevistados:
“Tudo de proteção você tem aqui, agora se você não usa e
se contamina, que Deus a livre, o problema não é do hospital, é
falha humana que não deu, não quis usar o que a gente exige que
use”. Laura.
Se o profissional dispõe de recursos de barreira
e não usa, comete um ato de negligência inadmissível.
Tendo em vista a crescente prevalência do HIV, não
seguir as precauções recomendadas para o exercício
de suas atividades profissionais, só tende a elevar o
risco de comprometimento de sua saúde, expondose a contaminação com sangue e fluidos corporais [5].
Por outro lado, o não fornecimento dos
equipamentos de proteção pela instituição, como relata
o entrevistado abaixo, é um ato de omissão e
negligência, ao qual não somos obrigados a nos sujeitar:
“(...), o risco maior é porque nós não temos o EPI, então
se você não trabalha com a proteção de uso individual, você vai se
expor para a doença (...) porque está sem nenhuma proteção”.
Sydney.
$!
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Esse é um fato do conhecimento de quase todos
que trabalham no hospital, porém não tratado com
seriedade pelos enfermeiros e profissionais de saúde.
Principalmente, a diretoria de instituições de saúde e
os governantes demonstram que ainda não se
aperceberam da gravidade do fato.
Os acidentes causados por perfuração de
agulhas são uma constante na prática dos profissionais
de saúde. O problema se agrava no âmbito dos
profissionais que trabalham com pacientes portadores
de tuberculose e Aids, como é o caso dos sujeitos
deste estudo, como bem discorrem os entrevistados:
“Houve algumas pessoas que já se furaram, mas até
agora não apareceram com a doença, não apresentaram nenhum
sintoma, (...)”. Sydney.
Embora a magnitude desse risco, após
inoculação parenteral acidental, seja menor que 1%
(0,1 a 0,7%) e, se faça necessário a realização de estudos
prospectivos por um período prolongado para que
se possa definir a verdadeira magnitude do risco [5],
já se encontra registro de casos de soroconversão,
como mostra o resultado do estudo cumulativo
realizado por Sande e Volberding (1988). Esses
estudos relatam a soroconversão de sete casos de
enfermeiros infectados por HIV, dentre outros
profissionais de saúde, através de picadas de agulha
no período de 1984-1987, nos Estados Unidos,
Martinica, França e Inglaterra.
O discurso abaixo informa que houve um
acidente com um funcionário da limpeza no hospital,
no entanto, não existe prova de que sua contaminação
com o vírus tenha-se dado naquela ocasião ou,
exclusivamente, devido àquele acidente. Além disso,
outros dados importantes precisam ser levantados,
como por exemplo, a história de vida do funcionário.
“Foi através de material contaminado, se eu não me
engano, a pessoa se furou com agulha, pessoal de limpeza, e hoje
está em casa, está afastado do serviço. Desenvolveu, sim, está
com o vírus e está bem avançado”. Sydney.
No relato abaixo é abordado outro fato
relacionado com a tuberculose:
“Aqui, que eu saiba tem uma colega que tem uma mancha
no pulmão, ela diz que nunca sentiu nada, mas agora teve um
processo respiratório, foi feito uma tomografia ou foi ultra-som
e deu essa área de necrose pulmonar e que ela acha que foi daqui
mesmo, (...)” Clara.
Atribuir o contágio ao ambiente de trabalho,
ser verdadeiro, uma vez que é insalubre e o
$"
desempenho da função da enfermeira exige um
contato prolongado com os pacientes, que, por si só,
não constitui o determinante do contágio, mas um
forte agravante e predisponente, aumentando sua
probabilidade. Conforme Gelbbcke [3], “as
condições de trabalho têm peso importante na
determinação do processo saúde-doença”, além de
questões como: alimentação, conduta durante a
assistência e estilo de vida, dentre outras.
Desprezo do material utilizado
O desprezo do material utilizado é uma atividade
de extrema importância em qualquer instituição
hospitalar, onde se deve considerar todo material
como contaminado e todo paciente como um
transmissor em potencial. Veja como pensa o
entrevistado abaixo:
“Às vezes pode acontecer, porque você sabe como é o pessoal
de nível médio, é um pessoal menos qualificado, de menos
conhecimentos, então eles acham que se jogar uma agulha ali
não vai interferir em nada, e você sabe que ali está o pontochave de contaminação” Sydney.
Quanto à referência de Sydney ao pessoal de nível
médio, o fato não decorre da falta de conhecimentos
e esclarecimentos dos auxiliares de enfermagem. Eles
são capacitados, sabem dos riscos e das conseqüências
do destino errôneo de materiais pérfuro-cortantes
contaminados. Trará-se de um ato de negligência de
qualquer profissional, que porventura venha fazer uso
incorreto dessa técnica. Hábitos e vícios adquiridos na
prática assistencial devem dar lugar à aplicação de
conhecimentos científicos, técnicas precisas e eficazes.
Considerações finais
A pesquisa revelou que, na prática dos sujeitos
participantes deste estudo, há falhas administrativas,
quanto a quantitativos e qualitativas de material e
equipamentos de trabalho. As atividades são
desenvolvidas em meio a inúmeras limitações que
comprometem o propósito do hospital e dos
profissionais que ali atuam, particularmente, dos
enfermeiros, que é prestar assistência qualificada a seus
usuários. Percebe-se, também, um bom nível de
consciência acerca da necessidade do uso de
equipamentos de proteção, porém constatando-se
alusões a atos de negligência ou omissão, em
detrimento da gravidade dos mesmos para a saúde
dos profissionais e pessoas por eles assistidas.
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Percebe-se naqueles enfermeiros um certo
conflito, expresso através de insatisfação e falta de
motivação no trabalho e para com a profissão. No
entanto, os depoimentos apreendidos a partir das
entrevistas revelam também um profissional capaz
de provocar em seu derredor,uma expectativa de
melhoria nas condições de trabalho de sua equipe,
bem como na qualidade de vida de sua clientela.
Referências
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
Alexandre NMC, Angerami ELS. Estilo de vida e
trabalho do pessoal de enfermagem e a ocorrência de
cervicodorsolombalgias. Revista Latino-Americana
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Gaduño MdeLA, Marquez MS. El estrés en el perfil de
desgaste de las trabajadoras. Caderno de Saúde Pública
1995;11(1):65-71.
Gelbcke FL. Processo saúde-doença: à procura da
essência. Texto e Contexto em Enfermagem 1992;1(2):419.
Lautert LR, Ziebell M, Bianchessi DLC. Análise
retrospectiva dos motivos dos demissionários da área
da enfermagem de um hospital geral. Revista Brasileira
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Marin HF, Paiva MS, Barros SMO. Aids e enfermagem
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Sande MA, Volberding RA. The medical management
of Aids. Philadelphia: W.B. Saunders Company, 1988,
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Santos SR. Motivação no trabalho do enfermeiro: fatores
de satisfação e insatisfação. João Pessoa, 1992. 165p.
Dissertação (Mestrado). UFPB-CCS.
Souza RR. Qualidade em Serviço de Saúde. In:
Congresso Brasileiro de Enfermagem, 45, 1994, Recife.
Anais: ABEn Nacional/PE, Ed. Universitária da UFPE,
1994;1:43-52.
Vala J. A análise de conteúdo. In: Silva, Augusto Santos,
Pinto, José Madureira (orgs). Metodologia das ciências
sociais. Porto: Edições Afrontamento, 1986. Cap.4.
p.101-128.
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A revista Enfermagem Brasil é uma publicação com
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A revista Enfermagem Brasil assume o “estilo Vancouver”
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na versão atualizada de outubro de 2001.
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções
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1. Editorial
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Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4
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6. Correspondência
Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
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Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato
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Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências
bibliográficas.
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão
o de rigor metodológico científico, novidade, originalidade,
concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto.
3. Revisão
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relacionadas à Enfermagem, ao encargo do Comitê Científico,
$$
4. Comunicação breve
Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com
maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações,
resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar
comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de
argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor.
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Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e
figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser
editados em Power Point, Excel, etc
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências
bibliográficas.
5. Resumos
Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos
inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê
Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas.
PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
1. Normas gerais
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em
processador de texto (Word, Wordperfect, etc), em página de
formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman
(English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto,
tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc.
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para
cada tabela junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com
as especificações anteriores.
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas,
e com qualidade ótima (qualidade gráfica – 300 dpi). Fotos e
desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo,
introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão
e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do
resumo para o inglês e o espanhol e também das palavras-chave
(key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de
disquete, zip-drive, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados
por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia
impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o
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nome do artigo, data e autor, incluir informação dos arquivos,
tais como o processador de texto utilizado e outros programas e
sistemas.
2. Página de apresentação
A primeira página do artigo apresentará as seguintes
informações:
- Título em português, inglês e espanhol.
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular
e títulos acadêmicos.
- Local de trabalho dos autores.
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o
respectivo endereço, telefone e E-mail.
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques,
para paginação.
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe,
aparelhos, etc.
3. Autoria
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter
participado do trabalho o suficiente para assumir a
responsabilidade pública do seu conteúdo.
O crédito como autor se baseará unicamente nas
contribuições essenciais que são: a) a concepção e
desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação
do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu
conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que
será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as
condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção
de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação
como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também
não é suficiente.
4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words)
Na segunda página deverá conter um resumo (com no
máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras
para os estruturados), seguido da versão em inglês.
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes
informações:
- Objetivos do estudo.
- Procedimentos básicos empregados (amostragem,
metodologia, análise).
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e
estatísticos).
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior
novidade.
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavraschave (ou unitermos) para facilitar a indexação do artigo. Para
tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista de cabeçalhos
de matérias médicas (Medical Subject Headings – MeSH do Index
Medicus ou, no caso de termos recentes que não figurem no MeSH,
os termos atuais).
5. Agradecimentos
Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio
financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de
laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo,
antes as referências, em uma secção especial.
6. Referências
As referências bibliográficas devem seguir o estilo
Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências
bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre
parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto,
seguindo as seguintes normas:
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras
iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor
do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro (em
grifo - itálico), ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto
e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto.
Exemplo:
1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH,
editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management.
2nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78.
Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es),
letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto.
Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação
seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois
pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou
itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o
Index Medicus, na publicação “List of Journals Indexed in Index
Medicus”.
Exemplo:
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S et al. Expression
and localization of urokinase-type plasminogen activator receptor
in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20.
Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
Jean-Louis Peytavin
Atlantica Editora
Rua Conde Lages, 27 - Glória
20241-080 Rio de Janeiro RJ
Tel: (21) 2221 4164
E-mail: [email protected]
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Setembro/Outubro 2002;1(1)
Calendário de eventos
2002
outubro
18 de outubro
Tratamento da Escabiose Com Florais-Sobraten
Auditório do COREN/RS - Porto Alegre
Tel: (51) 33339644
[email protected]
15 a 17 de outubro de 2002
Hospital Business 2002
Riocentro-RJ
Informações: (21) 2533-1094 / 2544-2695
promoces.com.br
22 e 23 de novembro de 2002
I Simpósio Internacional Sobre Síndrome do Intestino Curto
PUCRS -Porto Alegre
Fone/Fax: 51 3395 4852 - [email protected]
23 a 25 de outubro de 2002
5ª Feira Inter. de Segurança, Saúde e Higiene do Trabalho
Centro de Eventos da PUC/RS - Porto Alegre - RS
Informações: (51) 594-6300
www.prevensul.com.br
28 a 31 de outubro
II Encontro Internacional de Pesquisa em Enfermagem
Águas de Lindóia - São Paulo
Tel: 11-3066-7548
www.ee.usp.br/encontro
28 a 30 de outubro de 2002
5º SIBRAD - Simpósio Brasileiro de Assistência Domiciliar
Centro de Convenções Frei Caneca - São Paulo
Informações: Home Doctor, Tel: (11) 3897.2300
28 a 31 de outubro de 2002
IIo Encontro Internacional de Pesquisa em Enfermagem:
Trajetória espaço-temporal da pesquisa
Hotel Vacance-Águas de Lindóia-SP
Tel: (11) 3066-7548
www.ee.usp.br/encontro
novembro
9 a 14 de novembro de 2002
54º Congresso Brasileiro de Enfermagem
Fortaleza - CE
(85) 272-1572
www.arxweb.com.br
[email protected]
20 a 22 de novembro de 2002
IIIo Forúm Mineiro de Enfermagem
Uberlândia - MG
Tel: (34)3218-2387
$&
27 a 30 de novembro de 2002
XX Congresso Brasileiro de Reprodução Humana
Centro de Convenções - Porto Seguro - Bahia
Informações: Tel: (61) 365-4622 Fax: (61) 365-4590
E-mail: [email protected]
28 a 30 de novembro de 2002
Io Simpósio Paulista de Enfermagem Dermatológica
Santos - SP
Informações: (11) 3726- 4420
[email protected]
2003
janeiro
12 e 13 de janeiro de 2003
III Fórum de Educação Física dos Países do Mercosul
Foz do Iguaçu PR - Hotel Bella Italia / Salão Montecatini
Informações: [email protected]
www.fiepbrasil.org/forummercosul
fevereiro
23 a 28 de fevereiro de 2003
27 Congresso Internacional de Saúde no Trabalho - ICOH
2003
Foz do Iguaçu - Paraná
Informações: (41) 353-6719 / www.icoh2003.com.br
abril
26 a 30 de abril de 2003
IV Congresso Brasileiro de Farmácia Homeopática
Joao Pessoa - PB
www.farmaceuticoshomeopatas.com.br
junho
10 a 13 de junho de 2003
Hospitalar 2003
10º Feira Internacional de Produtos, Equipamentos,
Serviços e Tecnologia para Hospitais, Laboratórios, Clínicas
e Consultórios
Expo Center Norte -São Paulo/SP
Informações: (11) 3897-6199
www.hospitalar.com
1º Congresso Nordestino de Conselhos de Enfermagem
data a confirmar
Informações: Tel: (83) 221-8758
E-mail: [email protected]
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Enfermagem
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Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
Índice
Volume 2 número 1 - Janeiro / Fevereiro de 2003
EDITORIAL
O início de um periódico científico, Maria da Graça Piva .................................................................. 3
ARTIGOS ORIGINAIS
A equipe de enfermagem e os acidentes com material pérfuro-cortante,
Margarida Maria da Silva Xavier, Rita Batista Santos ............................................................................ 5
Intervenções do enfermeiro nas úlceras de pressão não infectadas em pacientes hospitalizados,
Aspásia Basile Gesteira Souza, Fabiana da Silva, Fernanda di Venere, Flúvia Mara Casam,
Lílian de Olinda Giannoccaro, Patrícia Corrêa Lacerda ........................................................................ 17
Atuações do enfermeiro intensivista na monitorização hemodinâmica através do
cateter de Swan-Ganz, Aline Fontinelle Ferraz, Carlos Eduardo Peres Sampaio .................................. 24
Aplicando a semiologia em quem aprende a cuidar – os efeitos da imobilização em postura
funcional, Maria Aparecida de Luca Nascimento, Joice Cristina Pereira Antunes,
Raquel de Souza Dantas, Marcio Martins da Costa ............................................................................. 30
A visita domiciliar no serviço de vigilância epidemiológica como método de trabalho na
melhoria da atenção à saúde da criança em um município da grande Porto Alegre – RS,
Gisele Cristina Tertuliano ................................................................................................................. 35
Estagiários x UTI: sentimentos em relação ao inesperado,
Andréia Saccol Lourenço, Regina G. Santini Costenaro ........................................................................ 41
REVISÃO
Protocolo de tratamento imediato de paciente com lesões de queimaduras, Ana Paula Cunha,
Ana Paula Alves Lorenzo, Daniele Giorgio de Aguiar, Lílian Prates Behring ......................................... 46
ATUALIZAÇÃO
O paciente e seus direitos: conhecimento das leis que os asseguram, Avanilde Paes Miranda ....... 53
Desenvolvimento do Programa Saúde da Família no Brasil, Bianca Lísi Gradaschi da Costa .......... 65
RESUMOS DE TRABALHOS E CONGRESSOS ............................................................. 68
NORMAS DE PUBLICAÇÃO .......................................................................................... 72
CALENDÁRIO DE EVENTOS .......................................................................................... 74
EnfermagemBrasil
Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
EDITOR CIENTÍFICO - PRESIDENTE DO CONSELHO CIENTÍFICO (2003-2004)
Pro fa. Dra. Maria da Graça Piva (ULBRA -RS)
EDITORIALISTA
Gilberto Linhares Teixeira
CONSELHO CIENTÍFICO
Prof. Dr. Carlos Bezerra de Lima (UFPB – Paraíba)
Pro fa. Dra. Clarice Heiko Muramatsu (USP – São Paulo)
a
a
Pro f . Dr . Margarete Rego (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro)
Pro fa. Dra. Maria Aparecida de Luca Nascimento (UniRio – Rio de Janeiro)
Pro fa. Dra. Maria Helena da Silva Nery (UFRGS – Rio Grande do Sul)
Pro fa. Dra. Nebia Maria Almeida de Figueiredo (UniRio – Rio de Janeiro)
Pro fa. Dra. Rita Batista Santos (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro)
Pro fa. Dra. Rita de Cássia Tapié Martins (USP – São Paulo)
Prof. Dr. Sérgio Ribeiro dos Santos (UFPB – Paraíba)
Pro fa. Dra. Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler (FAMERP – São José do Rio Preto – São Paulo)
GRUPO DE ASSESSORES
Pro fa Ms. Andréia Saccol Lourenço (Escola Técnica de Enfermagem São Francisco – Rio Grande do Sul)
Pro fa Ms. Dóris Maria Volquind (Clínica de Florais de RAFF – Rio Grande do Sul)
Pro fa Ms. Dulce Dirclair Huf (UFMS – Mato Grosso do Sul)
a
Pro f Ms. Gisele Cristina Tertuliano (Secretária Municipal de Saúde de Cachoerinha – Rio Grande do Sul)
Pro fa Ms. Hortência Maria de Santana (COREN – Sergipe)
a
Pro f Ms. Louize Maria Holtz Santos de Oliveira (COFEN – Sergipe)
Pro fa Ms. Sonia Maria Ponciano dos Santos (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro)
Pro fa. Ms. Almerinda Moreira (Escola de Enfermagem Alfredo Pinto – UniRio – Rio de Janeiro)
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Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
EDITORIAL
O início de um
periódico científico
Maria da Graça Piva
Editorcientífico
Chegamos em 2003 com nossa nova
revista de Enfermagem. Devemos agradecer
a todos os nossos novos leitores, porque que
já em sua edição de estréia, Enfermagem Brasil
atingiu a marca de 1.200 assinaturas.
Conhecemos muito bem como começa
uma publicação de sucesso para o meio
científico. Os artigos, inicialmente, demoram
a chegar ao nosso comitê científico, porém
com o reconhecimento da qualidade e
seriedade da publicação, mais e mais trabalhos
científicos são enviados para a revista. Apenas
como paralelo, podemos citar uma outra
publicação da Atlantica Editora, a revista
Fisioterapia Brasil, que está em seu quarto ano:
hoje, o tempo médio para publicação de um
artigo nessa revista é de 4 a 6 edições (8 meses
a um ano).
Enfermagem Brasil caminha na mesma
direção. Recebemos artigos de diversas
instituições de pesquisa de todo o país, podemos
já efetuar uma seleção criteriosa e agendá-los
para as edições futuras.
A colaboração de quem produz ciência é
o meio para se atingir este objetivo. A qualidade
do periódico é medida pelos artigos publicados,
e estes por sua metodologia e abrangência
relativa a nossa realidade, que em produção
científica não deixa nada a dever a qualquer
outro país.
Quanto a esta primeira edição de 2003,
trazemos oito trabalhos originais e de revisão,
de diversas instituições brasileiras,
demonstrando o interesse que a enfermagem
tem no crescimento e valorização de sua
profissão.
Nosso objetivo é de construir, nos
próximos meses e anos, uma revista nacional
de referência, aberta à todas as especialidades
da enfermagem do no país. Por isso, o respeito
e o conhecimento das regras de publicação é
uma primeira etapa indispensável. As normas
de publicação, publicadas no final da revista, e
também disponíveis no site da editora, estão
consoantes às exigidas pelos órgãos responsáveis
pela indexação, o que, se seguido à risca, facilitará
em muito a apreciação e aceitação do artigo pelo
Comitê Científico da revista.
!
EnfermagemBrasil
Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
Artigo original
A equipe de enfermagem e os acidentes com
material pérfuro-cortante
Nursing team and accidents with cutting material
El equipo de enfermería y los accidentes con material
perforador-cortante
Margarida Maria da Silva Xavier*, Rita Batista Santos**
*Aluna do 8º período do Curso de Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ, **Enfermeira, Doutora em
Enfermagem, Professora Adjunto do DEMC/EEAN/UFRJ
Monografia apresentada à Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos
necessáriosàobtençãodaGraduaçãoemEnfermagem
Resumo
Os acidentes de trabalho com material pérfuro-cortante ocorridos entre os profissionais da equipe de enfermagem de um
Hospital Universitário, no período de 1997 a 2001, foram levantados em relação aos tipos e fatores que influenciaram sua
ocorrência. Ressaltou-se a importância do uso de equipamentos de proteção individual, a fim de prevenir aqueles acidentes.
Os dados foram coletados através de registros de notificação de acidentes, envolvendo a equipe de enfermagem na Coordenação
de Controle de Infecção Hospitalar daquele Hospital Universitário. Os resultados mostraram que a equipe de enfermagem
sofre grande número de acidentes com material pérfuro-cortante, e que sua prevalência está entre auxiliares e técnicos. A
maioria dos acidentes (86%) ocorreu devido a perfuração com agulha. As circunstâncias que favoreceram esta ocorrência
foram: o descuido durante atividade exercida e o reencapamento de agulhas. Apesar da indicação de imunização contra
hepatite B para profissionais de saúde, isto não ocorre, havendo prevalência de não vacinação entre enfermeiros. Destacaram
a implementação de ações educativas e treinamentos, a fim de reduzir os números de acidentes. Concluiu-se que há uma
maior probabilidade da equipe de enfermagem sofrer acidentes, devido ao uso insipiente das normas padrões de precauções
para evitá-los, exigindo, assim, intervenções imediatas para corrigir estas falhas.
Palavras-chave: Equipe de enfermagem, acidentes de trabalho.
Artigo recebido em 7 de setembro de 2002; aceito a 15 de outubro de 2002.
Endereço para correspondência: Margarida Maria da Silva Xavier, Rua
Walter Lemos Azevedo, 334, Jardim Ulisses, 26010-835 Nova Iguaçu RJ,
Email: [email protected]
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EnfermagemBrasil
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Abstract
The occurrences of work accidents with cutting material in nursing team of a University Hospital between the period of the
years of 1997 the 2001 had been analyzed in relation to types and influence factors. Importance of individual protection
equipment in order to prevent those accidents was standed out. The data had been collected through notification registers of
accidents involving the nursing team in the Infection Control Coordination of this University Hospital. The results had
shown that the nursing team suffers a lot of accidents with cutting material and larger prevalence between assistant and
technician nurses. The majority of the accidents (86%) occurred due perforation with needle and the circumstances that had
favored this occurrence were the incautiousness during profissional activity and the recover of needles. Despite of the
indication of immunization against hepatitis B for health professionals, vaccination is not usual between nurses. The study
detached the implementation of educative and training actions in order to reduce the numbers of accidents. It was also
concluded that a larger probability for the nursing team to suffer accidents is the consequence of the ignorance of the
standard norms of prevention.
Key-words: Nursing team, ocupational accidents.
Resumen
Los accidentes de trabajo con material perforador-cortante ocurridos entre los profesionales del equipo de enfermería de un
Hospital Universitario, en el período de 1997 a 2001, fueron levantados en relación a los tipos y factores que influenciaron su
ocurrencia. Fue resaltada la importancia del uso de equipamentos de protección individual, con el fin de prevenir aquellos
accidentes. Los datos fueron colectados a través de registros de notificación de accidentes, envolviendo el equipo de enfermería
en la Coordenación de Control de Infección Hospitalaria de aquel Hospital Universitario. Los resultados muestran que el
equipo de enfermería sufre grande número de accidentes con material perforador -cortante, y que su prevalencia está entre
los auxiliares y técnicos. La mayoría de los accidentes (86%), ocurrió debido a la perforación con aguja. Las circunstancias
que favorecen esta ocurrencia fueron: el descuido durante la actividad exercida y el envoltorio de agujas. A pesar de la
indicación de inmunización contra hepatite B para profesionales de la salud, esto no ocurre, lo que prevalece es la no
vacunación entre los enfermeros. Destacaron la implementación de acciones educativas y entrenamientos, con el fin de
reducir el número de accidentes. Concluyeron que existe una mayor probabilidad del equipo de enfermería sufrir accidentes,
debido al desconocimiento de las normas y padrones de precaución para evitarlos, exigiendo, así, intervenciones inmediatas
para corregir estas fallas.
Palabras-clave: Equipo de enfermería, accidentes de trabajo.
Introdução
Acidente é todo acontecimento não programado
diferente ao andamento normal do trabalho, do qual
poderá resultar dano físico e/ou econômico à equipe
de enfermagem.
Todo acidente tem uma causa ou causas
associadas. Dentre as causas possíveis relacionadas à
sua ocorrência entre os membros da equipe de
enfermagem, podemos citar: instrução não adequada,
supervisão incorreta e/ou inapta, não observância de
normas, práticas de trabalho inadequadas, manutenção
incorreta, mau uso de equipamento de proteção, entre
outros.
$
No ambiente hospitalar existe sempre o risco
biológico, infeccioso e parasitário, mas que os acidentes
e contaminações poderão ser evitados, desde que
sejam seguidas as normas de precaução e isolamento.
Sabe-se que as principais normas de
biossegurança em ambientes hospitalares
(enfermarias), são as precauções universais, atualmente
designadas de precauções básicas. São medidas de
prevenção que devem ser utilizadas na assistência a
todos os pacientes, na manipulação de sangue,
secreções, excreções, contato com mucosas e pele não
íntegra. Isso independe do diagnóstico definido ou
presumido de doença infecciosa.
Um dos itens mais importantes nas precauções
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universais são as medidas de controle de inoculações
com objetos pérfuro-cortantes contaminados com
sangue, secreções e/ou fluidos corpóreos. Tais artigos
são classificados como críticos, por apresentarem alto
risco de transmissão de infecção, pois entram em
contato com fluidos estéreis ou sistema vascular,
configurando-se numa grande ameaça ao profissional
de enfermagem, caso não sejam manipulados
cuidadosamente e desprezados com segurança, já que
as luvas não protegem eficazmente de acidentes com
inoculações.
Os equipamentos de proteção individual são de
uso estritamente pessoais, utilizados para prevenir ou
minimizar acidentes. Os equipamentos de proteção
individual são: luvas, máscaras, gorros, óculos de
proteção, capotes e botas. Sua utilização é
regulamentada pela portaria 3214 – NR6, do Ministério
do Trabalho de 08/06/78, que prevê a distribuição
destes equipamentos, competindo à equipe de
enfermagem usá-los e conservá-los.
Trajetória do estudo
O presente estudo iniciou-se a partir da
preocupação com o risco de acidente com material
pérfuro-cortante, enquanto acadêmica de
enfermagem, prestando cuidados integrais aos
pacientes portadores de HIV/AIDS, durante estágio
supervisionado. O interesse em desenvolver a pesquisa
aumentou, quando foi presenciado um acidente num
membro da equipe de enfermagem, que suscitou
algumas questões.
Justificativa
A ansiedade vivenciada pelos acadêmicos
durante o desenvolvimento de atividades
supervisionadas no setor de Doenças InfectoParasitárias (DIP), particularmente no cuidado dos
pacientes portadores de HIV/AIDS, alertou para o
receio em relação aos procedimentos a serem
realizados com aqueles pacientes que envolvessem
risco de acidente biológico.
Este sentimento aumentou durante estágio de
vivência profissional, onde ocorreu um acidente de
trabalho com uma auxiliar de enfermagem, que
arrumava o leito da unidade de um paciente portador
de SIDA, no qual foi esquecida, inadvertidamente, uma
agulha contaminada durante manobras de
ressuscitação cárdio-pulmonar.
A rotina em caso de acidentes biológicos com
material pérfuro-cortante foi seguida, sendo a
funcionária encaminhada para a Coordenação de
Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), para a
realização de quimioprofilaxia com antiretrovirais.
A partir deste episódio, despertei a atenção para
a problemática do uso de precauções universais pelos
membros da equipe de enfermagem, bem como o de
ocorrência dos acidentes com material pérfurocortante, classificados como acidentes do tipo
biológico.
Tais motivos trouxeram-me o interesse em fazer
um estudo que enfocasse os acidentes ocorridos com
material perfuro-cortante entre os profissionais de
enfermagem, que lidam com paciente HIV/AIDS,
uma vez que é importante compreender suas condutas
perante estes pacientes.
Questões norteadoras
O presente estudo apresenta as seguintes
questões norteadoras: 1) Como ocorrem os acidentes
de trabalho com material pérfuro-cortante?; 2) Quais
os fatores que influenciam a ocorrência dos acidentes
com material pérfuro-cortante?; 3) Os profissionais
fazem uso correto das precauções universais?
Objeto de estudo
O objeto deste estudo são os acidentes de
trabalho com material pérfuro-cortante, ocorridos
entre os profissionais da equipe de enfermagem de
um hospital universitário no período de janeiro a
agosto de 2001.
Problemática
A problemática deste estudo está relacionada à
ocorrência de acidentes de trabalho entre os
profissionais de enfermagem de uma unidade
hospitalar, registrados na Comissão de Controle de
Infecção Hospitalar.
A partir dos episódios de acidentes com material
pérfuro-cortante, nos preocupamos em saber sobre
quais circunstâncias ocorrem tais acidentes, e o que o
profissional de enfermagem deve atentar para diminuir
ou evitar este risco.
Objetivos
• Identificar os tipos de acidentes com material
pérfuro-cortante, que ocorrem com os profissionais
de enfermagem, evidenciando como ocorreram e em
que circunstâncias;
• Analisar estes acidentes de trabalho;
%
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• Ressaltar a importância do uso de EPIs para
prevenção de acidentes com material pérfuro-cortante.
Contribuições do estudo
O estudo contribuiu para a informação dos
futuros e atuais profissionais da área de enfermagem,
sendo uma fonte de conhecimento e estímulo à
reflexão sobre a importância do uso adequado de
precaução padrão, a fim de evitar acidentes.
Também oferece material estatístico sobre a
ocorrência de acidentes com material biológico,
auxiliando os profissionais na adoção da conduta
correta para evitar acidentes, assim como o que fazer
caso eles ocorram.
Além disso, fornece dados e conceitos
importantes para o desenvolvimento de pesquisas
nesta linha investigatória.
Revisão crítica da literatura
Para garantir um local seguro ao trabalho da
equipe de enfermagem, são implementadas medidas
que favoreçam a biossegurança.
Segundo Costa [6], biossegurança compreende
um conjunto de medidas técnicas administrativas,
educacionais, médicas e psicológicas, empregadas para
prevenir acidentes em ambientes biotecnológicos.
As medidas estão divididas em: 1) Técnicas: que
consistem em programas de prevenção de acidentes,
programas de garantia de qualidade e controle de
qualidade de insumos; 2) Administrativas: que
compreendem a estrutura organizacional, organização
e métodos e sistemas de documentação e informação;
3) Educacionais: que se baseia em treinamento
individual e coletivo, programas de educação básica e
programas de motivação; e 4) Médicas: incluem
exames periódicos e avaliação do desenvolvimento.
A norma regulamentadora 7 (NR7) estabelece que
todos os empregadores e instituições que empregam,
têm a obrigatoriedade da elaboração e implementação
do programa de controle médico de saúde ocupacional
(PCMSO), que tem como objetivo a promoção e
preservação da saúde de seus trabalhadores. O
PCMSO deverá ter caráter de prevenção, através do
rastreamento e diagnóstico precoce, dos problemas
que relacionam a saúde com o trabalho.
Os acidentes de trabalho com sangue e outros
fluidos devem ser tratados como casos de emergência,
isto porque a profilaxia para intervenção da infecção
pelo HIV e hepatite B, deve ser iniciada imediatamente
após o acidente.
&
As medidas profiláticas pós-exposição não
devem ser consideradas totalmente eficazes. É
importante dar ênfase às ações educativas
permanentes, para que os profissionais de saúde
adquiram o hábito de usar as precauções universais,
assim como se conscientizem da necessidade de utilizálas de forma correta. E, assim, tornar esta medida
eficaz, em ambiente ocupacional, para a redução do
risco de infecção pelo HIV ou hepatite.
As precauções universais são as medidas de
prevenção que devem ser utilizadas na assistência a
todos os pacientes (o quadro 1 mostra as indicações
para o uso dos EPIs), quando há manipulação de
sangue, secreções e excreções, além de contato com
mucosas e pele não íntegra. Estas medidas devem ser
tomadas independente do diagnóstico definido ou
suspeita de doença infecciosa.
Entre estas medidas está a utilização de
Equipamentos de Proteção Individual (EPI), que visam
reduzir a exposição do profissional ao sangue ou fluidos
corpóreos, além dos cuidados recomendados para a
utilização e descarte de materiais pérfuro-cortantes,
contaminados por material orgânico.
Os equipamentos de proteção individual são:
luvas, máscaras, gorros, óculos de proteção, capotes
e botas.
• As luvas são utilizadas sempre que houver a
possibilidade de contato com sangue, secreções e
excreções, com mucosas ou com áreas de pele não
íntegra (ferimentos, escaras, e feridas cirúrgicas e
outros).
• Máscaras, gorros e óculos de proteção serão
utilizados em procedimentos em que exista a
possibilidade de respingo de sangue e outros fluidos
corpóreos, nas mucosas da boca, nariz e olhos do
profissional.
•Capotes são utilizados durante os
procedimentos com possibilidade de contato com
material biológico, inclusive em superfícies
contaminadas.
• As botas são utilizadas para proteção dos pés
em locais úmidos ou com quantidade significativa de
material infectante (centros cirúrgicos, áreas de
necropsia e outros).
Durante a realização de procedimentos que
envolvam a utilização de material pérfuro-cortante
recomenda-se:
• Máxima atenção durante a realização dos
procedimentos;
• Jamais utilizar o dedo como anteparo durante
a realização de procedimentos que envolvam materiais
pérfuro-cortantes;
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Quadro 1 - Indicações para o uso de equipamentos de proteção individual (EPI) nas precauções básicas de biossegurança.
Procedimento
Lavar as mãos
Luvas
Capote
Máscara e óculos
de proteção
Exame de paciente sem contato com sangue,
fluidos corporais, mucosas ou pele não-íntegra;
X
-
-
-
Exame de paciente, incluindo contato com sangue,
fluidos corporais, mucosas ou pele não-íntegra;
X
X
(*)
-
Coleta de exames de sangue, urina e fezes;
X
X
-
-
Realização de curativos
X
X
(*)
(**)
Aplicações parenterais de medicações
X
X
-
(**)
Punção ou dissecção venosa profunda
X
X
X
X
Aspiração de vias aéreas e entubação traqueal
X
X
X
X
Endoscopia, broncoscopias
X
X
X
X
Procedimentos dentários
X
X
X
X
Procedimentos com possibilidade
de respingos de sangue e secreções
X
X
X
X
(*) A utilização de capotes está indicada durante os procedimentos em que haja possibilidade de contato com material biológico,
como na realização de curativos de grande porte, em que haja maior risco de exposição ao profissional, como grandes feridas
cirúrgicas, queimaduras graves e escara de decúbito.
(**) O uso de óculos de proteção está recomendado somente durante os procedimentos em que haja possibilidade de respingo ou
para aplicação de medicamentos quimioterápicos.
Fonte: Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Coordenação Nacional de DST e AIDS. Manual de condutas em
exposição ocupacional a material biológico.
• As agulhas não devem ser reencapadas,
entortadas, quebradas ou retiradas da seringa com as
mãos. Não utilizar agulhas para fixar papéis;
• Todo material pérfuro-cortante, mesmo que
estéril, deve ser desprezado em recipientes resistentes
à perfuração e com tampa;
• Os recipientes específicos para descarte de
material não devem ser preenchidos acima do limite
de 2/3 de sua capacidade total e devem ser colocados
sempre próximos do local onde é realizado o
procedimento.
Em caso de exposição a material biológico,
recomenda-se cuidados locais na área exposta,
imunização contra tétano e medidas de
quimioprofilaxia e acompanhamento sorológico para
HIV e hepatite.
Em caso de exposição percutânea recomendase a lavagem exaustiva com água e sabão na área
exposta. Após a exposição em mucosa, recomendase lavagem exaustiva com água ou solução fisiológica.
São contra-indicados procedimentos que aumentem
a área exposta e o uso de soluções irritantes como
éter, hipoclorito ou glutaraldeído.
Com relação às medidas de quimioprofilaxia (ver
no quadro 2 os medicamentos utilizados), a indicação
do uso de antiretrovirais dependerá de uma avaliação
criteriosa do risco de transmissão do HIV, o que
dependerá do volume de sangue e da quantidade de
vírus presente no acidente. Os acidentes de maior
gravidade são aqueles em que há grande volume de
sangue envolvido, entre eles podem ser citados: lesões
profundas provocadas por material pérfuro-cortante,
presença visível no dispositivo invasivo, acidentes com
agulhas previamente utilizadas em veia de pacientefonte e os acidentes envolvendo paciente-fonte com
Aids, em estágios avançados da doença ou com
infecção aguda pelo HIV.
Quando há indicação de quimioprofilaxia para
HIV, trabalhos de acompanhamento de soro
conversão, mostram que deverá ser iniciada dentro
de 1 a 2 horas após o acidente, e terá duração de 4
semanas. Quando a sorologia do paciente fonte é
desconhecida, decide-se pela probabilidade da
transmissão, que está relacionada à gravidade do
acidente e a possibilidade de infecção pelo HIV.
É recomendada a realização de testes rápidos para
detecção de anticorpos anti HIV. Estes testes produzem
resultados em 30 minutos, quando não há liberação
ágil (dentro de 24-48 horas) de resultados de testes anti
HIV ELISA, com a finalidade de evitar o início ou a
manutenção desnecessária da quimioprofilaxia.
'
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Quadro 2 - Medicamentos utilizados na quimioprofilaxia após exposição ocupacional.
Medicamento
Efeitos adversos
Interações
zidovudina (AZT)Cápsula
100mgDose: 300mg 2x/diaou
200mg 3x/dia
Anemia, neutropenia, leucopenia,
plaquetopenia, náuseas, vômitos,
astenia, mal estar geral, cefaléia,
miopatia, insônia, pigmentação
ungueal e de mucosas, alteração
das provas hepáticas, hepatite.
Ganciclovir, anfotericina B, flucitocina,
SMX-TMP, dapsona, pirimetamina,
citostáticos, sulfadiasina (maior risco de
toxidade hematológica). Monitorar
anemia e neutropenia.Probenecida,
fluconazol, paracetamol (aumento nos
níveis séricos do AZT). Monitorar
toxidade do AZT.Estavudina e ribavirina
(potencial para redução da atividade
anti-retroviral). Evitar uso concomitante.
lamivudina (3TC) comprimidos
de 150mgDose: 150mg 2x/dia
Pancreatite, diarréia, dor
abdominal, anemia, neutropenia.
Sulfametoxazol + trimetoprima
(aumenta biodisponibilidade de 3TC).
Não há necessidade de ajuste de
dose.Estavudina (potencial
antagonismo).Evitar uso concomitante.
indinavir (IDV)Cápsula
400mgDose: 800mg 8/8h, com
estômago vazio ou com
alimentos com baixo teor de
gordura (ingerir diariamente 1,5
litros ou mais de líquidos para
evitar o aparecimento de
nefrolitíase)
Nefrolitíase, hematúria, cefaléia,
insônia, náusea, vômitos, astenia,
fadiga, distúrbios do paladar, pele
e boca secas, dor abdominal,
trombocitopenia,
hiperbilirrubinemia indireta
assintomática, aumento de
triglicerídeos, hipercolesterolemia,
hiperglicemia e diabetes.
O indinavir não deve ser coadministrado com: rifampicina,
astemizol, terfenadina, cisaprida,
ergotamina e diidroergotamina,
midazolam ou triazolam.Rifabutina
(diminui níveis séricos de indinavir e o
indinaviraumenta os níveis séricos de
rifabutina).Cetoconazol e itraconazol
(aumenta níveis séricos de indinavir).
Considerar a redução da dose do
indinavir para 600mg 8/8h.Didanosina
(diminui absorção de IDV). Administrar
com intervalomínimo de l hora.
Delavirdina (aumenta níveis séricos de
IDV). Considerar a redução da dose de
indinavirpara 600mg 8/8h. Nevirapina
(diminui níveis séricos de IDV). Não há
necessidade de ajuste de doses.
nelfinavir (NFV)Comprimido
250mg Dose: 750mg 3x/dia,
com alimento
Diarréia (efeito mais freqüente),
exantema, flatulência, náusea, dor
muscular, fraqueza, aumento de
triglicerídeos, hipercolesterolemia,
hiperglicemia e diabetes.
O nelfinavir não deve ser coadministrado com: rifampicina,
fenobarbital, fenitoína, carbamazepina,
ergotamina, diidroergotamina,
astemizol, terfenadina, cisaprida,
midazolam ou triazolam.Rifabutina
(diminui níveis séricos de nelfinavir e o
nelfinavir aumenta níveis séricos de
rifabutina).Bloqueadores de
cálcio(possibilidade de aumento dos
níveis séricos dos
bloqueadores).Monitorar toxicidade.
Saquinavir (aumenta níveis séricos de
SQV). Não há necessidade de ajuste de
doses.Nevirapina (diminui níveis séricos
de NFV). Não há necessidade de ajuste
de doses.Atenção Etilinestradiol e
noretindrona (diminui níveis séricos dos
hormônios). Usar método contraceptivo
alternativo ou adicional.
Fonte: Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde.Coordenação Nacional de DST e AIDS. Manual de condutas em
exposição ocupacional a material biológico.
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Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
Os resultados de testes rápidos não são
definitivos para diagnóstico da infecção do pacientefonte, que somente deverá receber o resultado final
de sua sorologia após a realização de testes anti HIV
por metodologia ELISA [3].
A quimioprofilaxia para HIV deve seguir uma
avaliação criteriosa do risco de transmissão do vírus,
em função do tipo de acidente ocorrido e a toxicidade
dessas medicações (quadro 2).
A gravidade do acidente com pérfuro-cortante e
o risco de infecção são dependentes do volume de
sangue e da quantidade de vírus presente. Os mais
graves são aqueles que envolvem maior volume de
sangue e com carga viral mais alta.
A medida principal de prevenção para hepatite
B é a vacinação, que deve ser indicada para todos
profissionais de saúde. É uma vacina de grande eficácia,
não apresentando toxicidade e com raros efeitos
colaterais. Segundo o Ministério da Saúde, o intervalo
entre as doses independe da gravidade do acidente,
devendo ser de zero, 1 e 6 meses.
A instituição de saúde que oferece um programa
periódico de vacinação, deve resguardar-se legalmente
dos eventuais casos de não aderência à imunização,
solicitando a assinatura de termo de responsabilidade
pelo funcionário em questão.
Após os programas de vacinações contra
hepatite B, a equipe de saúde deve ser intensivamente
educada, treinada e cobrada quanto às recomendações
de precauções universais, eliminando, assim, a falsa
sensação de segurança ocasionada pela vacina.
São estabelecidas também, normas para
profissionais de saúde que se acidentem em seu
percurso profissional dentro da unidade. Estas são
preconizadas pela própria Comissão de Controle de
Infecção Hospitalar (CCIH) da instituição, que se
baseia em normas protocolizadas pela OMS.
Tais medidas são:
1. Fazer assepsia com água e sabão sobre a lesão*;
2. Procurar imediatamente a CCIH ou Serviço
de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH), o setor
de medicina do trabalho e/ou setor de pronto
atendimento; comunicar a exposição acidental ao setor
de pessoal em até 24 horas para preenchimento do
Comunicado de Acidentes de Trabalho (CAT).
Em caso de exposição à material biológico,
recomenda-se cuidados locais na área exposta,
imunização contra tétano e medidas de quimioprofilaxia
e acompanhamento sorológico para HIV e hepatite.
Para saber a existência da necessidade de se
iniciar a quimioprofilaxia, é necessário solicitar o teste
anti HIV do paciente-fonte, esclarecendo-o quanto
ao teste e resultados.
Metodologia
Este é um estudo de caráter descritivo e
exploratório, que procurou levantar aspectos
quantitativos com interesse de identificar a ocorrência
de acidentes com material biológico dentro da equipe
de enfermagem de um hospital universitário. Assim
como analisar os fatores que interferem para a
ocorrência dos acidentes, a partir de uma revisão de
literatura sobre o tema.
De acordo com a regulamentação para pesquisas
em seres humanos, estabelecida pelo Ministério da
Saúde através da Portaria 196/96, depois de elaborado
o Projeto de Monografia, foi encaminhado à Comissão
de Controle de Infecção Hospitalar, que emitiu parecer
favorável e indicou a realização do estudo.
A coleta de dados foi realizada através de
registros de notificação de acidentes com material
pérfuro-cortante, envolvendo profissionais de
enfermagem, pertencente a Coordenação de Controle
de Infecção Hospitalar (CCIH) de um hospital
universitário, entre os anos de 1997 a 2001 no
município do Rio de Janeiro.
Os dados quantitativos referem-se aos itens
encontrados nos registros da CCIH, a partir do
software PSBIO, com dados/cadastro dos
profissionais de saúde em exposição a sangue ou
fluidos corporais, e a patógenos de transmissão
sangüínea. Estes dados possuem informações do
profissional de saúde, tais como: dados pessoais,
dados profissionais, imunizações, resultado de testes
sorológicos, estado imunológico para doenças
imunopreviníveis, alergias, condições pré-existentes.
Informações a respeito da exposição com: data e
horário da exposição e da notificação, local de
ocorrência do acidente, tipo de exposição, informações
sobre o paciente-fonte, acompanhamento do
profissional de saúde, dados a serem preenchidos em
relação ao tipo de exposição (percutânea, mucosa,
cutânea e mordedura). Além de testes sorológicos do
profissional de saúde, profilaxia anti-retroviral após
exposição e um formulário de acompanhamento após
* Em exposição percutânea ou cutânea recomenda-se lavagem com água e sabão; em exposição de
mucosas recomenda-se lavagem exaustiva com água ou solução fisiológica.
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exposição a sangue e fluidos corporais.
Estes dados foram discutidos com respaldados nos
achados de pesquisas ou da literatura sobre os acidentes
com material pérfuro-cortante entre os membros da
equipe de enfermagem e suas conseqüências.
A análise e organização dos dados foi realizada
em percentual simples e elaboração de gráficos com
ilustração da magnitude dos acidentes com material
pérfuro-cortante entre os membros da equipe de
enfermagem, em relação ao universo de acidentes
ocorridos no hospital universitário, evidenciando um
maior número de acidentes na equipe de enfermagem
(52%), principalmente entre técnicos e auxiliares (ver
gráfico 2).
Os dados foram analisados, procurando
evidenciar as relações existentes entre os acidentes com
material biológico nos membros da equipe de
enfermagem e a conduta deles diante do procedimento
padrão; e interpretados procurando vincular o
conhecimento teórico aos dados obtidos, a fim de
expor seus significados.
A apresentação dos resultados consistiu num
relatório de pesquisa, para cumprir com um requisito
de avaliação, uma monografia de conclusão do curso
de graduação em enfermagem.
A análise constitui a parte principal desta
pesquisa, fase em que os dados obtidos
proporcionaram respostas, evidenciando as relações
existentes entre os acidentes com material pérfurocortante nos membros da equipe de enfermagem e
outros membros da equipe de saúde, além de fatores
envolvidos naqueles acidentes com a equipe.
Este é o momento de reunir a teoria com os
dados proporcionados pelos registros de notificações
de acidentes ocupacionais pertencentes à Coordenação
de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH/HUCFF/
UFRJ) que envolvem os sujeitos da pesquisa. Esta
discussão teórica não é apenas a soma de citações dos
autores, mas um diálogo com suas principais idéias.
O trabalho de enfermagem é realizado por uma
equipe formada por enfermeiros (profissionais que
têm formação superior), técnicos de enfermagem
(com formação técnica após completar o segundo
grau) e auxiliares de enfermagem (com curso
específico após completar o primeiro grau).
Sendo que o trabalho de enfermagem dividi-se
em: cuidados e procedimentos assistenciais, realizado
por toda a equipe, mas na maioria das vezes realizados
por técnicos e auxiliares e o da administração da
assistência de enfermagem, exclusivo aos enfermeiros.
706 foi o total de acidentes com material pérfurocortante no período que compreende os anos de 1997
a 2001, dos quais 30% ocorreram com a enfermagem
nível médio e 5% com enfermeiros, conforme
demonstra o gráfico 1.
As exposições ocupacionais prevalecem entre os
profissionais do nível médio, por serem responsáveis
pelo cuidado direto do paciente/cliente em toda sua
integridade.
Estatisticamente a enfermagem é uma das
principais categorias profissionais com vulnerabilidade
aumentada à exposição ocupacional, devido ser o
maior grupo em serviço de saúde, ter mais contato
direto na assistência aos pacientes e pela quantidade
Gráfico 1 - Acidentes notificados segundo categoria
profissional, nos anos de 1997 a 2001.
Gráfico 2 - Profissionais de saúde envolvidos em exposição
ocupacional de janeiro à agosto de 2001.
Fonte: Comissão de Controle de Infecção Hospitalar/
HUCFF/UFRJ.
Fonte: Comissão de Controle de Infecção Hospitalar/
HUCFF/UFRJ.
Resultados: análise e discussão
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Gráfico 4 - Proporção de acidentes por reencapamento de agulhas
de serviços que estes profissionais realizam.
no período dos anos de 1997 a 2001.
Do total das exposições ocupacionais
ocorridas no período de janeiro a agosto de
2001; 41% aconteceram com auxiliares e
técnicos de enfermagem e 11% com estagiários
de enfermagem, somando um total de 52%
(gráfico 2).
O enfermeiro, enquanto administrador
da equipe de enfermagem e detentor de
conhecimento científico, deve implementar
ações educativas com a finalidade de
demonstrar os altos números de acidentes que
envolvem as ações deste profissional, além de
desenvolver treinamentos, enfatizando sempre
a importância e a necessidade do uso correto
de precauções universais. E a partir destas
Fonte: Comissão de Controle de Infecção Hospitalar/HUCFF/UFRJ.
ações, tentar eliminar e/ou reduzir os altos
Procedimentos como a retirada de sangue ou
índices de ocorrência dos acidentes.
punção venosa periférica, são considerados como
O ambiente hospitalar freqüentemente expõe o
de alto risco para exposição ocupacional. Esta
pessoal da saúde aos agentes nocivos à saúde, o risco
situação pode ocorrer devido à movimentação do
biológico é facilmente encontrado entre os
paciente durante o procedimento, no momento em
trabalhadores de enfermagem, por força da natureza
que as agulhas são descartadas nos coletores ou em
do seu trabalho. Conforme demonstra o gráfico 3, a
caso de colocação inadvertida de agulhas
maioria dos acidentes ocorreram devido a perfuração
desprotegidas, em locais como a cama (motivo que
com agulha (86%).
justifica a realização deste estudo), o colchão ou no
chão. Muita das vezes a exposição ocorre após a
Gráfico 3 - Tipos de acidentes ocorridos com profissionais
de saúde no período de janeiro à agosto de 2001
realização do procedimento. Neste caso, o intervalo
de tempo entre a retirada da agulha da veia do
paciente até seu descarte em coletor é proporcional
ao risco de exposição.
No período dos anos de 1997 a 2001, entre os
acidentes ocorridos devido reencapamento de
agulhas com os profissionais da área de saúde, 5,43%
foram com enfermeiros; 40,22% com a enfermagem
de nível médio, 54,35% com as demais categorias.
No ano de 1997 não foram notificados acidentes
com enfermagem nível médio e enfermeiros. Em
1998 não foram notificados acidentes com
enfermeiros e outras categorias, conforme registro
no gráfico 4. Sem terem sido notificados, não
Fonte: Comissão de Controle de Infecção Hospitalar/
significa que não ocorreram acidentes.
HUCFF/UFRJ.
Estudos mostram que o reencapamento de
agulhas é uma prática incorreta, mas que é feita por
causa do medo de acidentes em função da agulha
Durante a realização de procedimentos que
exposta, devido a muitas tarefas a serem realizadas e
envolvam a utilização de material pérfuro-cortante, é
a idéia errada de que esta atitude irá proteger o
importante ressaltar aos profissionais de saúde, que
profissional e a coletividade.
eles devem estar atentos às seguintes recomendações
Afim de minimizar este tipo de ocorrência, os
do Ministério da Saúde: máxima atenção durante a
profissionais devem estar atentos ao que é
realização dos procedimentos; jamais utilizar o dedo
preconizado pelo Ministério da Saúde, em caso de
como anteparo durante a realização de procedimentos
manipulação de material pérfuro-cortante: as agulhas
que envolvam materiais pérfuro-cortantes; não utilizar
não devem ser reencapadas, entortadas, quebradas
agulhas para fixar papéis.
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ou retiradas da seringa com as mãos e que todo
material pérfuro-cortante, mesmo que estéril, deve
ser desprezado em recipientes resistentes à
perfuração e com tampa; os recipientes específicos
para descarte de material não devem ser preenchidos
acima do limite de 2/3 de sua capacidade total e
devem ser colocados sempre próximos do local onde
é realizado o procedimento.
Das exposições ocupacionais, 73% ocorrem
devido o descuido durante atividade exercida e 20%
devido o reencapamento de agulhas, como observado
no gráfico 5. Com a identificação destes fatores
responsáveis pela ocorrência de situações que
possibilitam maior risco de exposição, é possível a
implementação de medidas de prevenção.
Sendo assim, é importante dar ênfase às ações
educativas permanentes, a fim de corrigir estas
ocorrências, para que os profissionais de saúde, em
especial os sujeitos do estudo, adquiram o hábito de
usar as precauções universais. Assim como,
conscientizem-se da necessidade de utilizá-las de
forma correta e, desta maneira, transformá-las em
medidas eficazes para a redução do risco.
Segundo o Ministério da Saúde, as precauções
universais devem ser utilizadas na assistência a todos
os pacientes quando há manipulação de sangue,
secreções, excreções e contato com mucosas e pele
não íntegra. Estas medidas devem ser tomadas
independentes de diagnóstico definido ou suspeita
de doença infecciosa.
Gráfico 5 - Circunstâncias que determinam a ocorrência
de acidentes com profissionais de saúde ocorridas no
período de janeiro a agosto de 2001.
Fonte: Comissão de Controle de Infecção Hospitalar/
HUCFF/UFRJ.
Entre estas medidas estão a utilização de
Equipamentos de Proteção Individual (EPI) que visam
reduzir a exposição do profissional a sangue ou fluidos
corpóreos, e os cuidados recomendados para a
utilização e descarte de materiais pérfuro-cortante
contaminados por material orgânico (cuidados citados
anteriormente durante análise do gráfico 3). Desta
"
forma os profissionais de enfermagem devem ser
orientados para a importância do uso dos
equipamentos de proteção individual.
Para estimular o uso de luvas, é importante alertar
que elas devem ser utilizadas sempre que houver a
possibilidade de contato com sangue, secreções e
excreções, com mucosas ou com áreas de pele não
íntegra (ferimentos, escaras, e feridas cirúrgicas e
outros).
O profissional de saúde deve ter sempre em
mente que existe a possibilidade de contaminação
através de respingo de sangue e outros fluidos
corpóreos, nas mucosas da boca, nariz e olhos dos
pacientes, sendo necessário a utilização de máscaras,
gorros e óculos de proteção.
Quando existir a possibilidade de contato com
material biológico, os capotes devem ser utilizados,
inclusive em caso de superfícies contaminadas. Em
locais úmidos ou com quantidade significativa de
material infectante (centros cirúrgicos, áreas de
necropsia e outros), os profissionais de saúde devem
fazer uso de botas, a fim de proteger os pés. Todas
estas recomendações poderão ser feitas utilizando
recursos audiovisuais e jogos educativos (gincanas),
com a finalidade de facilitar a apreensão e motivar
seu uso correto.
O uso das medidas de prevenção devem ser
seguidos, a fim de minimizar os riscos de acidentes
que existem dentro do ambiente hospitalar. Mas em
caso de ocorrência dos mesmos, envolvendo sangue
e outros fluidos, devido a grande variedade de
doenças que podem ser transmitidas, o tratamento
deve ser de emergência, isto porque a profilaxia para
intervenção da infecção pelo HIV e hepatite B deve
ser iniciada imediatamente após o acidente para sua
melhor eficácia.
Dentre as exposições ocupacionais ocorridas
com profissionais da área de saúde, a maioria é
resultado de manipulação inadequada de agulhas e
instrumentos cortantes. Um dos grandes problemas
das picadas de agulhas, é o fato de serem
negligenciadas, e por este motivo não serem
socorridas ou registradas como acidente de trabalho.
É interessante informar a esses profissionais,
que se ocorrer exposição a material biológico
recomenda-se cuidados locais com a área afetada,
imunização para tétano e medidas de
quimioprofilaxia e acompanhamento sorológico para
HIV e hepatite (quadro 2). A hepatite B pode ser
prevenida de forma simples por meio de vacinação
e é indicada a todos os profissionais da área de saúde.
Apesar de todas as recomendações aos
profissionais de saúde, observa-se, com os resultados
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Gráfico 6 - Proporção de não-vacinados contra hepatite B, segundo
categoria profissional.
Fonte: Comissão de Controle de Infecção Hospitalar/HUCFF/UFRJ.
do gráfico 6, que elas não são seguidas. Segundo o
gráfico, existe uma prevalência de enfermeiros não
vacinados contra hepatite B em relação à enfermagem
de nível médio. Este problema pode ser solucionado
através da implantação de campanha de vacinação, além
do desenvolvimento de ações educativas a respeito do
risco de contaminação e dos benefícios da imunização.
Estudos mostram que a AIDS e infecção pelo
HIV, são consideradas as maiores preocupações no
que se refere ao risco infeccioso no hospital. Os casos
de contaminação comprovados, mostram que a equipe
de enfermagem representa metade dos casos, seguida
pelos profissionais de laboratório. Estes acidentes
ocorrem principalmente devido a picada de agulhas,
após coleta de sangue ou perfusões do doente.
É importante enfatizar aos profissionais de saúde,
que para a prevenção contra contaminação pelo HIV,
recomenda-se, em caso de exposição percutânea,
lavagem exaustiva com água e sabão na área exposta.
Após a exposição em mucosa, recomenda-se lavagem
exaustiva com água ou solução fisiológica. São contraindicados procedimentos que aumentem a área exposta
e o uso de soluções irritantes como éter, hipoclorito
ou glutaraldeído.
O profissional de saúde deve ser orientado para
em caso de ocorrência do acidente procurar
imediatamente o Serviço de Controle de Infecção
Hospitalar (SCIH), o setor de medicina do trabalho
e/ou setor de pronto atendimento; comunicar a
exposição acidental ao setor de pessoal em até 24 horas,
para preenchimento do Comunicado de Acidente de
Trabalho (CAT).
Os antiretrovirais apenas serão indicados após uma
avaliação criteriosa do risco de transmissão do HIV, o
que dependerá do volume de sangue e da quantidade
de vírus presente no acidente.
Considerações finais
Tendo como objeto os acidentes com
material pérfuro-cortante dentro da equipe de
enfermagem, foi possível observar durante análise
dos dados deste estudo que estes profissionais
registram grande número de acidentes com
material pérfuro-cortante. É importante ressaltar
que há prevalência dos acidentes entre auxiliares e
técnicos de enfermagem.
Esta suscetibilidade deve-se ao fato destes
profissionais terem mais contato direto na
assistência aos pacientes, e serem também
responsáveis pela maioria dos procedimentos que
envolvem material pérfuro-cortante nos serviços
de saúde.
A partir dos dados obtidos, foi possível, durante
a análise e discussão, perceber que a grande parte dos
acidentes (86%), ocorreu devido perfuração com
agulha, sendo que as circunstâncias que determinam a
maioria das ocorrências se dá por meio de descuido
durante atividade exercida e reencapamento de agulhas.
Isto demonstra que os profissionais de enfermagem
não fazem uso correto das normas de precaução padrão
para evitar acidentes, fazendo-se necessária uma
intervenção imediata para corrigir estas falhas.
O estudo mostra ainda, que apesar de haver a
indicação de vacinação contra hepatite B para todos
os profissionais de saúde como forma de prevenção,
isto não ocorre, havendo uma prevalência entre
enfermeiros não vacinados.
Devido à variedade de doenças infecciosas que
podem ser transmitidas através do sangue, estes
acidentes podem ter sérias complicações a partir do
ferimento inicial. Como existe uma maior
probabilidade da equipe de enfermagem sofrer
exposição ocupacional, observa-se o quanto é
importante implementar ações educativas para esta
categoria profissional, com a finalidade de
demonstrar os altos números de acidentes que
envolvem suas ações, a fim de mostrar que o risco
de ocorrer acidentes é real e que eles podem ser
prevenidos, desde que as normas de segurança sejam
seguidas. Portanto, é imprescindível que sejam
desenvolvidos treinamentos para os enfermeiros,
sempre enfatizando a importância e a necessidade
do uso das precauções universais para minimizar os
riscos destes acidentes.
A partir destes resultados, a enfermeira,
enquanto administradora e detentora de
conhecimento científico, poderá desenvolver estas
ações, devendo fazer a supervisão da conduta de sua
equipe, durante a realização de procedimentos e, desta
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forma, ser capaz de avaliá-la de forma correta; para a
partir destas ações tornar possível eliminar e/ou
reduzir os altos índices de ocorrência dos acidentes
dentro da equipe.
Com os resultados obtidos a partir deste estudo,
sugerimos que seja realizada uma pesquisa, com a
finalidade de acompanhar as ações desenvolvidas pela
enfermeira, com a intenção de diminuir o número de
acidentes. E, assim, validar se as recomendações feitas
neste estudo são pertinentes.
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EnfermagemBrasil
Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
Artigo original
Intervenções do enfermeiro nas úlceras de
pressão não infectadas em pacientes
hospitalizados
Nurses interventions in the treatment of pressure ulcers not
infected, in hospitalized patients
Intervenciones de los enfermeros en el tratamiento de las
úlceras de presión no infectadas en pacientes internados
Aspásia Basile Gesteira Souza*, Fabiana da Silva**, Fernanda di Venere**, Flúvia Mara Casam**, Lílian de
Olinda Giannoccaro**, Patrícia Corrêa Lacerda**
*MestreemEnfermagem,ProfessoradasdisciplinasdeSemiologiaeSemiotécnicadaUniversidadeCidadedeSãoPaulo(UNICID)eSaúdeda
Criança, Faculdade Santa Marcelina (FASM), **Graduandas do 2º ano de Enfermagem, UNICID (Universidade Cidade de São Paulo)
Resumo
Este estudo utilizou a pesquisa de abordagem quantitativa, descritiva e exploratória para conhecer as intervenções dos
enfermeiros no tratamento das úlceras de pressão não infectadas, em pacientes hospitalizados. Os dados foram coletados
através de formulário, com 31 enfermeiros participantes. Os principais resultados mostraram, que a maioria dos entrevistados
utiliza a mudança de decúbito como intervenção geral e, como medida curativa, a irrigação da lesão com soro fisiológico
0,9% . Algumas condutas foram classificadas como em desacordo com a literatura.
Palavras-chave: Úlcera de decúbito, cuidados de enfermagem.
)>IJH=?J
This study used the research of quantitative, descriptive and exploratory approach to know the nurses’ interventions in the
treatment of pressure ulcers, in hospitalized patients. The data had been collected trough a form with 31 participant nurses.
The main results had shown that the interviewed majority use the change of decubitus, as a general intervention and already
as a measurements’ curative the irrigation of the injury with physiological serum 0,9%. Some conducts had been classified as
in disagreement with the literature.
Key-words: Decubitus ulcer, ulcer of decubitus, nursing care.
Artigo recebido em 9 de dezembro de 2002; aceito em 15 de janeiro de 2003.
Endereço para correspondência: Aspásia Basile Gesteira Souza, Rua Cesáreo
Galeno, 448 bloco alfa 6o andar Tatuapé São Paulo SP, Tel: (11) 6190-1341,
E-mail: [email protected]
%
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Resumen
Este estudio utilizó la pesquisa de abordage cuantitativa, descritiva y explorativa para conocer las intervenciones de los
enfermeros en el tratamiento de las úlceras de presión en pacientes internados. Los datos fueron colectados atraves de
formulários com 31 enfermeros participantes. Los principales resultados han mostrado que la mayoria de los entrevistados
utilizan el cámbio de decubito, como intervención general e como medida curativa la irrigación de la lesión con suero
fisiológico 0,9%. Algunas conductas fueron clasificadas como en desacuerdo con la literatura.
Palabras-chave: Úlcera por decubito, cuidad de enfermería.
Introdução
A pele é o tecido que envolve todo o corpo e o
defende contra a entrada de germes ou substâncias
prejudiciais para o organismo, sendo, assim,
indispensável à vida. É constituída por três camadas:
epiderme, derme (cório) e hipoderme (tecido celular
subcutâneo) [1,2].
Entre as importantes funções deste tecido,
destacam [3]: revestimento, regulação da temperatura
corporal, contato com o meio ambiente, isolamento
do corpo, reserva alimentar, secreção de gordura,
recebimento de sensações nervosas, colaboração na
produção de vitamina D. Refletindo, de maneira
acentuada, muitas das modificações sofridas pelo
organismo, além de atuar como proteção contra a ação
de radiações ultravioleta através da melanina, servindo,
também, como meio para a administração percutânea
de medicamentos, por sua capacidade de absorção [4].
Entre as características avaliadas no exame físico
tegumentar, destacam-se a inspeção e palpação,
buscando dados, como ressaltam Porto, Potter e Perry
[4,5] sobre: coloração, destacando-se presença de
palidez, hiperemia e cianose; continuidade ou
integridade; umidade, atentando-se para ressecamento
ou sudorese; textura; espessura; temperatura;
elasticidade; mobilidade; turgor, traduzindo o seu grau
de hidratação; sensibilidade; lesões elementares
presentes como nos processos inflamatórios,
degenerativos, circulatórios, neoplásicos, etc.
Dentre as inúmeras alterações que podem
acometer à pele, destacamos a úlcera de pressão, por
ser um evento relativamente freqüente na prática do
cuidado de enfermagem, e sua prevenção baseada em
avaliações e intervenções apropriadas, apoiadas no
diagnóstico de enfermagem.
Úlcera de pressão, ferida ou úlcera de decúbito,
escara ou ferida de confinamento ao leito, são termos
&
usados para descrever uma integridade da pele
diminuída ou solução de continuidade [5]. Os
primeiros sinais aparecem, em geral, nas regiões de
proeminências ósseas com um pequeno eritema, que
se não detectado precocemente, evolui para formação
de vesículas que necrosam [6].
Caso a área não seja protegida, tendem a aumentar
de tamanho, principalmente se não for diminuída a
pressão pela mudança de posição. Se não devidamente
tratada, a úlcera de pressão pode evoluir para uma
infecção local ou até para uma infecção óssea.
As úlceras de pressão são graduadas em estágios
I, II, III e IV para classificar o grau de danos
observados nos tecidos [6,7].
Estágio I - é um eritema da pele intacta, que pode
ser macio ou firme e não embranquece após a remoção
da pressão. Em indivíduos com a pele mais escura, a
descoloração da pele, o calor, o edema ou o
endurecimento, também podem ser indicadores de
danos. Pode ser dolorosa e sua borda pode ser irregular;
Estágio II - é uma perda parcial da pele
envolvendo a epiderme, derme ou ambas. A úlcera é
superficial e apresenta-se como um abrasão, bolha ou
uma cratera rasa;
Estágio III - é uma perda da pele na sua
espessura total, envolvendo danos ou uma necrose
do tecido subcutâneo, que pode se aprofundar, não
chegando até a fáscia muscular;
Estágio IV - é uma perda da pele na sua total
espessura com uma extensa destruição ou necrose dos
músculos, ossos ou estruturas de suporte, como
tendões ou cápsulas das juntas.
As úlceras de pressão são um problema
constante nos locais de cuidado agudo e de
recuperação [5], aumentando o tempo de permanência
no hospital e o custo geral do cuidado de saúde.
Diversos fatores contribuem para o seu
desenvolvimento, tais como: diminuição no
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recebimento sensorial, especialmente da dor; diminuição
da função motora; alteração no nível de consciência;
uso de gesso, tração ou equipamentos ortopédicos;
umidade; desnutrição; anemia; infecção; febre;
circulação periférica diminuída; obesidade e idade.
Estas úlceras ocorrem como resultado da relação
tempo-pressão [5]: quanto maior a pressão e a sua
duração, maior a incidência na formação da úlcera.
Como métodos para a prevenção de úlcera de
pressão, alguns cuidados podem ser adotados:
manutenção da pele limpa evitando água quente e o
uso de sabão neutro; manutenção da pele hidratada;
evitar massagens nas regiões de proeminências ósseas
em presença de hiperemia, manchas roxas ou bolhas;
complementação alimentar para suprir os déficits
nutricionais; evitar o atrito corporal; proteção de
proeminências ósseas com equipamentos apropriados;
almofada de ar, água ou gel; uso de colchão de ar ou
colchão d’água; exame freqüente da pele [5,8].
Diversos tratamentos vêm sendo propostos nas
últimas décadas. Ressaltamos, contudo, as seguintes
condutas: uso de agentes de limpeza, incluindo, soro
fisiológico, indicado para todas as feridas; peróxido
de hidrogênio, que promove a remoção de resíduos e
bactérias da ferida; iodo povidina, eficaz contra
bactérias, fungos e vírus; hipoclorito de sódio, controla
o odor e auxilia a remoção dos tecidos necrosados;
ácido acético, empregado em feridas infectadas com
pseudomonas (todos os agentes devem ser utilizados
de forma adequada e segura, pois promovem áreas
que destroem macrófagos e fibroblastos);
desbridamento, podendo ser cirúrgico, químico ou
mecânico; medicamentos tópicos, antimicrobianos,
anti-sépticos e antibióticos, que podem ser usados em
forma de creme, ungüento, solução ou spray; e
absorventes de exsudação, gazes umidificadas, gomas
copolímeras, dextranúmeros, que agem absorvendo
o excesso de exsudação, obliterando espaços mortos,
mantendo úmida a superfície da ferida facilitando a
cicatrização, pois esses espaços prejudicam o processo,
predispondo a formação de abscessos [6].
Entre as intervenções específicas de
enfermagem, destacam-se: avaliação geral da pele e
da saúde do paciente, estado mental, grau de
mobilidade e atividade, nível de percepção sensorial,
estado nutricional e fatores agravantes, estados de
predisposição à doença, medicação, peso, alergias,
idade, restrições alimentares, etc, [5,6,8].
Acreditamos que a úlcera de pressão, além de
danos físicos e psicológicos, ao paciente e família,
aumentam os custos hospitalares e riscos de infecção,
prolongando consideravelmente o tempo de
hospitalização [5].
Percebemos a freqüência deste evento e o risco
a que os pacientes estão expostos, em apresentar
úlceras de pressão de diversos graus .
Acreditando ser este um fenômeno previsível e
tratável pelo enfermeiro, surgiu o interesse em querer
aprofundar-nos nesta questão, tão presente em nossa
prática cuidativa profissional.
Desta maneira, voltamos nossa atenção para as
condutas do profissional para cuidar/tratar destas
feridas, já presentes em níveis intermediários (graus
II e III), onde as ações, uma vez não mais somente
preventivas, poderiam resultar em fracasso ou sucesso
no tratamento das lesões.
Objetivo
Este estudo teve como objetivo: identificar as
condutas dos enfermeiros no tratamento de úlceras
de pressão intermediárias (graus II e III), em clientes
hospitalizados.
Metodologia
Este estudo utilizou o método quantitativo,
descritivo e exploratório, considerado o mais adequado
para alcançarmos nosso objetivo. De acordo com a
pesquisa descritiva, examina, registra, analisa e
correlaciona os fatos ou fenômenos sem manipulálos [9].
Local do estudo: A pesquisa realizou-se em um
hospital da rede privada, de caráter filantrópico e um
da rede pública, no município de São Paulo. A escolha
do local deu-se pela facilidade de acesso e por
oferecerem tratamento a pacientes crônicos
debilitados, onde o evento poderia ocorrer. Foi enviada
carta solicitando a autorização para realização da
pesquisa à diretoria das instituições.
População e amostra: Amostra é uma parte da
população, selecionada segundo critérios que garantam
sua representatividade [9,10,11]. Neste estudo, a
amostra foi constituída por 31 enfermeiros, que
estavam presentes no dia da coleta e que quiseram
participar do trabalho. O projeto foi enviado para a
Comissão de Ética e Pesquisa da Universidade Cidade
de São Paulo e das instituições participantes, recebendo
a aprovação.
Instrumento para coleta de dados: Para a coleta de
dados, foi elaborado um formulário com uma questão
aberta (apêndice A), entregues pelas autoras aos
participantes do estudo, assim como o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (apêndice B),
'
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conforme resolução CONEP 196/96 [12], sendo sua
devolução agendada para o mesmo dia.
Coleta de dados: Não estabelecemos outros critérios
para a inclusão da amostra. Os dados foram coletados
entre setembro e novembro de 2002; foram
distribuídos 54 formulários, sendo respondidos e
devolvidos 31.
Após levantamento e análise dos dados obtidos,
eles foram apresentados em tabelas, com números
absolutos e relativos.
Análise e discussão
Após análise dos dados coletados, obtivemos os
resultados que apresentamos a seguir:
Tabela I - Distribuição das respostas dos enfermeiros sobre
suas condutas gerais em úlceras de pressão graus II e III
não infectadas. São Paulo, 2002.
N= 95
Procedimentos citados
Freqüência (%)
Mudar decúbito de 2/2h,
se for paciente acamado
Usar coxins macios sob
proeminências ósseas
Avaliação e suporte nutricional
Anotar aspecto da lesão
Verificar tamanho e forma da lesão
Manter colchões especiais
Avaliar exames laboratoriais
e patologias de base
Estimular ingesta hídrica caso
não haja restrição
Manter a área afastada de pressão
Orientar paciente quanto ao procedimento
Observar condições de hidratação
Mudar decúbito de h/h em paciente sentado
Controlar temperatura
Oferecer apoio psicológico
Evitar atrito com o lençol
Mudar decúbito de 4/4h
Evitar umidade no paciente
Observar presença de sangramento
e espaço morto
Acompanhar diariamente
Verificar o uso de medicação vasoativa
Condições de moradia/higiene e idade
Hidratar e proteger calcâneos
Realizar mudança de decúbito
S/N em ângulo de 30º
Total
*Feito aproximação das casas decimais. NA.
16
16,8
10
09
09
06
06
10,5
9,4
9,4
6,3
6,3
05
5,2
04
03
03
03
03
03
02
02
02
02
4,2
3,1
3,1
3,1
3,1
3,1
2,1
2,1
2,1
2,1
02
01
01
01
01
2,1
1,0
1,0
1,0
1,0
01
95
1,0
100
A tabela I apresenta as intervenções gerais dos
enfermeiros entrevistados ao lidarem com úlcera
não infectados. Notamos que a maioria (16,8%),
prescreveria mudança de decúbito a cada 2 horas e
2,1% a cada 4 horas, aos pacientes acamados como
forma de tratar a ferida.
Alguns autores [5,7,8] recomendam não
estabelecer intervalos de rotina na mudança de
decúbito, devendo-se individualizar a prescrição de
acordo com as atividades do paciente, rotina,
condições gerais, etc, apesar de outros autores
ressaltarem a necessidade de determinar horários
por escrito, como forma de evitar esquecimentos.
Outras medidas, como manter lençol esticado,
utilização de colchão especial, uso de coxins,
indicados por enfermeiros neste estudo, são
recomendados por Potter, Perry, Campadelli e
Gaidzinski [5,8], que também alertam para a não
manutenção do decúbito elevado acima de 30º
permanentemente, evitando aumento de pressão
nas nádegas, dado não lembrado por nenhum
entrevistado. Os autores ressaltam, ainda, a
importância de aliviar pressão nessa região em
pacientes sentados, com intervalos de
aproximadamante 15 minutos, confrontando-se
com a prescrição de alterar decúbito de hora em
hora, relatada por 3,1% dos enfermeiros.
Ao pesquisarem as condutas para prevenção
e tratamento de úlcera de pressão entre graduandos
de enfermagem, obtiveram resultados parecidos
com este estudo, no que diz respeito à mudança de
decúbito, manutenção de lençol esticado e uso de
colchão especial [13].
Dos enfermeiros pesquisados, 9,4% citaram
a avaliação e suporte nutricional como medidas
gerais de enfermagem, consoantes com as
recomendações de Lopez, Bergastrom et al [3,7].
Apresentamos, na tabela II, as respostas dos
enfermeiros entrevistados em relação às
intervenções utilizadas no curativo de úlceras de
pressão, não infectadas.
Observamos que a maioria dos entrevistados
(17,4%), prescreveria a aplicação de papaína de 1 a 3%,
dado confirmado por Campadelli e Gaidzinski [8].
Ressaltamos a irrigação da lesão com soro
fisiológico a 0,9%, citado por 11% dos enfermeiros,
devido a grande disponibilidade desse material em
todas as unidades [3,6]. Estes autores ressaltam que
a ferida deve ser limpa de dentro para fora, dado
não lembrado por nenhum dos entrevistados.
Entre os entrevistados, 6,4% complementam
que a irrigação deve ser em jato, com média pressão,
como ressaltam Bergastrom et al [7], pois irrigações
com pressão diminuída podem não limpar a ferida
adequadamente e o uso de pressões exageradas
podem causar trauma tecidual.
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A aplicação de cobertura úmida, citada por
2,7% dos sujeitos, é destacada como conduta para
manter a nutrição do tecido e evitar meio propício
ao crescimento de bactérias patogênicas [7,8]. Além
disso, esses autores ressaltam a necessidade de manter
as bordas da lesão secas, para prevenir a maceração
da pele que circunda a ferida, ítem lembrado somente
por 2,7% dos entrevistados.
Tabela II - Distribuição das respostas dos enfermeiros sobre
suas intervenções utilizadas no curativo das úlceras de
pressão graus II e III, não infectados. São Paulo, 2002.
N= 109
Procedimento
Freqüência (%)
Aplicar papaína 1-3%
Proteger as bordas com
óleo mineral (TCM)
Irrigar a lesão com SF 0,9%
Irrigar a lesão com SF morno
Irrigar a lesão com SF em jato
Realizar curativo oclusivo
Irrigar com albumina ao redor da lesão
Secar borda da lesão após SF
Realizar curativos diários com fibrase
Observar sinais flogísticos
Verificar queixas álgicas
Utilizar oclusão úmida
Ocluir com hidrocolóide
Desbridar tecido desvitalizado
Realizar curativo de acordo com
o aspecto da lesão
Lavar com água e sabão
Realizar curativo
Trocar curativo com espuma a
cada 72hs
Ocluir com alginato de cálcio
Ocluir com carvão ativado
Trocar curativo a cada 72hs
Trocar curativo se necessário
Secar com oxigênio
Colocar impermeável plástico
ao redor da lesão
Utilizar cobertura cicatrizante
sem antibiótico
Não realizar fricção do tecido
Massagem com óleo
em proeminências ósseas
Total
19
17,4
18
11
09
07
05
04
03
03
03
03
03
02
02
16,5
10,0
8,2
6,4
4,6
3,6
2,7
2,7
2,7
2,7
2,7
1,8
1,8
02
02
02
1,8
1,8
1,8
01
01
01
01
01
01
0,9
0,9
0,9
0,9
0,9
0,9
01
0,9
01
01
0,9
0,9
01
109
0,9
100
A tabela III mostra a distribuição das respostas em
desacordo com a literatura ou com questão utilizada no
estudo.
Dentre estas, destacamos a realização da massagem
de conforto, sem indicar critérios para sua execução, citada
por 15% dos entrevistados, confrontando-se com a
opinião de alguns pesquisadores, ao afirmarem que a
massagem não deve ser realizada na presença de
hiperemia, manchas roxas ou bolhas, pois estes sinais
Tabela III - Distribuição das condutas em desacordo com
a literatura ou questão utilizada no estudo. São Paulo,
2002.
N= 20
Relato
Freqüência (%)
Higienização íntima
Massagem de conforto
Elevar membro afetado
Observar edema e hiperemia em MMII
Orientar repouso no leito
Medicação conforme prescrição médica
Manter acesso venoso
Somente reavaliar conduta
da comissão de curativo
Sair do leito no mínimo duas vezes ao dia
Utilizar bota de una
Manter repouso relativo, em caso de MMII
Manter o curativo seco e enfaixado
Hidratação da mucosa da pele
Manter calcâneos flutuantes
Realizar curativo oclusivo em região sacra
Total
04
03
01
01
01
01
01
20
15
5
5
5
5
5
01
01
01
01
01
01
01
01
20
5
5
5
5
5
5
5
5
100
indicam a formação da úlcera de pressão, onde esta ação
poderia causar maiores danos [5,7,8].
Segundo Campadelli e Gaidzinski [8], com a
massagem consegue-se uma melhor nutrição dos tecidos
e uma oxigenação mais aprimorada, porém isto favorece
a profilaxia das escaras e não o tratamento, objeto deste
estudo.
A orientação do repouso no leito, citada por 5%
de participantes é contra-indicada, já que recomenda-se
estimulação para atividade física, de acordo com a
capacidade do paciente e movimentação passiva ou com
auxílio para os indivíduos com mobilidade prejudicada
[7]. Sendo assim, o repouso no leito é considerado um
fator de risco e não um tratamento para as úlceras de
decúbito.
Elevar membro afetado (5%), somente reavaliar
conduta da comissão de curativo (5%) e higienização
íntima (20%), foram outras intervenções pouco
pertinentes, para a questão estabelecida.
Conclusão
Após análise e discussão dos resultados, esse
estudo possibilitou-nos as seguintes conclusões:
As condutas de enfermagem apresentadas pelos
entrevistados, em sua maioria, dizem respeito a mudança
de decúbito em vários intervalos (a cada 1, 2 e 4 horas)
e medidas gerais, como manutenção de lençol esticado
e proteção de proeminências ósseas com uso de
colchões especiais (ar e caixa de ovo), além de coxins
(almofada), reconhecidos por diversos autores, como
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sendo intervenções fundamentais para o cuidado da
úlcera de pressão.
Quanto ao tratamento/curativo específico da
lesão, os resultados apontaram para o uso de soro
fisiológico 0,9% na limpeza da úlcera, não tendo
padronização das respostas quanto a temperatura e
pressão utilizadas, como recomendado na literatura.
Encontramos, também, algumas intervenções
contra indicadas por diversos autores consultados,
como a utilização de massagem de conforto em
proeminências ósseas, elevação do decúbito em ângulo
de 30º e mobilização do paciente sentado a cada hora.
Assim, notamos grande diversificação nos
cuidados descritos pelos enfermeiros, levando-nos a
crer, que não há padronização de medidas no
tratamento de úlcera de pressão pela população
estudada, o que influenciaria nos resultados obtidos
naquele evento, já que, conforme o conhecimento do
profissional, a ferida seria cuidada de maneira diferente.
Obtivemos, ainda, respostas que estavam em
desacordo com a questão norteadora deste estudo
(elevação de membro afetado, hidratação do calcâneo,
higiene íntima, orientar repouso no leito, etc.),
sugerindo a crença de que a úlcera de pressão possa
ocorrer em regiões específicas. Ainda que não tenha
sido objetivo deste estudo, os resultados sugerem
desconhecimento dos entrevistados quanto a
classificação das úlceras em graus, já que a maioria
das respostas não as distinguiam quanto condutas ou
citavam algumas intervenções para feridas com outras
características (graus I e IV).
O objetivo desta pesquisa foi alcançado, ao
conhecermos as principais intervenções do enfermeiro
no tratamento de úlceras por decúbito.
Referências
1.
2.
3.
4.
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úlceras de pressão: práticas de graduandos de
enfermagem. Rev Paul Enf 2002;21(2):133-39.
EnfermagemBrasil
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Apêndice A
UNICID
Trabalho de Iniciação Científica
Disciplina de Semiologia e Semiotécnica
Instrumento para coleta de dados
Responda a seguinte questão, utilizando o verso se necessário. Obrigada.
Quais as intervenções de enfermagem que você prescreve para cuidar/tratar de úlcera de pressão
intermediárias, grau II e III, não infectados?
Apêndice B
UNICID
Disciplina de Semiologia e Semiotécnica
Termo de consentimento livre e esclarecido
Eu ___________________________________ declaro que fui suficientemente esclarecido sobre o estudo
que objetiva identificar as condutas do enfermeiro no tratamento de úlcera de pressão graus II e III, não
infectados. Estou ciente que os dados serão utilizados e divulgados e que posso retirar este consentimento
a qualquer momento sendo minha participação voluntária, com garantia de anonimato. Qualquer dúvida
ou esclarecimento poderá ser obtido com as autoras da pesquisa, à Rua Cesáreo Galeno, 148 - Tatuapé,
fone 6190-1200 bloco alfa, curso de Enfermagem.
São Paulo, _____ de _____________ de 2002.
de acordo:
____________________________________
!
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Artigo original
Atuações do enfermeiro intensivista na
monitorização hemodinâmica através do
cateter de Swan-Ganz
Actuations of the critical care nurse in the haemodinamic
monitorization through the Swan-Ganz catheter
Actuaciones del enfermero intensivista en el monitoreo
hemodinámico a través de catéter de Swan-Ganz
Aline Fontinelle Ferraz*, Carlos Eduardo Peres Sampaio**
*Residente de Enfermagem do Hospital Universitário Pedro Ernesto, **Enfermeiro-Graduado na EEAN/UFRJ, Professor Adjunto do
Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgico (DEMC) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ)
Resumo
A monitorização hemodinâmica, através do uso do cateter de Swan-Ganz, é um recurso extremamente valioso no atendimento
do cliente criticamente doente. Este estudo, desenvolvido durante a atuação como residente de enfermagem em um hospital
universitário do Estado do Rio de Janeiro, tem como objetivo: identificar o papel do enfermeiro intensivista na atuação da
monitorização hemodinâmica, através do cateter de Swan-Ganz; determinar o conhecimento do enfermeiro intensivista
sobre a função do cateter de Swan-Ganz e analisar o papel do enfermeiro intensivista na monitorização hemodinâmica por
cateter de Swan-Ganz. Optamos pela pesquisa qualitativa para dar maior viabilidade e consistência ao estudo. O instrumento
utilizado foi a entrevista semi-estruturada, realizada com 10 enfermeiros da unidade de terapia intensiva de um hospital
universitário do Estado do Rio de Janeiro. Os dados foram analisados com base na fundamentação teórica, sendo elaboradas
4 categorias: 1) Papel do enfermeiro intensivista na monitorização hemodinâmica por cateter de Swan Ganz; 2) Conhecimento
funcional do cateter de Swan-Ganz; 3) Cuidados de enfermagem com o cateter de Swan-Ganz; e 4) Verificação dos parâmetros
hemodinâmicos pelo cateter de Swan-Ganz. Os resultados monstraram que os cuidados de enfermagem aos clientes com
cateter de Swan-Ganz são determinados individualmente e não com padrões estabelecidos. Além disso, os enfermeiros não
realizam a medição e avaliação dos parâmetros hemodinâmicos. É extremamente importante o preparo técnico e o
conhecimento científico, no processo da monitorização hemodinâmica por cateter de Swan-Ganz, para uma melhora da
qualidade da assistência de enfermagem para o cliente crítico.
Palavras-chave: Terapia intensiva, cuidados de enfermagem, cateter Swan-Ganz.
Artigo recebido em 11 de dezembro de 2002; aceito em 15 de janeiro de 2003.
Endereço para correspondência: Carlos Eduardo Peres Sampaio, Rua Fagundes
Varela, 530/901, Ingá 24210-520 Niterói RJ, Tel: 2721-2619/9366-3494,
E-mail: [email protected]
"
EnfermagemBrasil
Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
Abstract
The haemodinamic monitorization through the Swan-Ganz catheter is a valuable source in the assistance of the critically ill
customer. This study has been developed during actuation how resident of nursing in the University Hospital of the State of
Rio de Janeiro. The considered objectives had been to identify the functions of the critical care nurse in the actuation of the
haemodinamic monitorization through of the Swan-Ganz catheter; to determine the known of the critical care nurse about
Swan-Ganz catheter and to analize the function of the critical care nurse in the haemodinamic monitorization about SwanGanz catheter. We opt to qualitative research to give the greater viability and consistency to the study. The used instrument
was the interview half-structuralized carried through with 10 nurses of the unit of intensive therapy of a University Hospital
of the State of Rio de Janeiro. The data had been analyzed on the basis of the theoretical recital, being elaborated 4 categories:
1) The function of the critical care nurse in the haemodinamic monitorization by Swan-Ganz catheter; 2) The known of the
functions of Swan-Ganz catheter; 3) Nursing care with the Swan-Ganz catheter and 4) The measurements of the parameters
haemodinamics by Swan-Ganz catheter. The results shown that the nursing cares the customers with Swan-Ganz catheter
are individually determinate e don’t with establish standards. Moreover, the nurses don’t realize the measurement and valuation
of the haemodinamic parameters. It’s excessive important the technical prepare and the scientific known, during the
haemodinamic monitorization by Swan-Ganz catheter, to a better quality in the nursing care to the critical customer.
Key-words: Intensive therapy, nursing care, Swan-Ganz catheter.
Resumen
El monitoreo hemodinámico, a través del uso de catéter de Swan-Ganz, es un recurso muy valioso en el atendimiento al cliente
criticamente enfermo. Este estudio, desarrollado durante la actuación como residente de enfermería en un hospital universitario
del Estado de Rio de Janeiro, tiene como objetivo: identificar el papel del enfermero intensivista en la actuación del monitoreo
hemodinámico, a través del catéter de Swan-Ganz; determinar el conocimiento del enfermero intensivista sobre la función del
catéter de Swan-Ganz y analizar el papel del enfermero intensivista en el monitoreo hemodinámico por catéter de Swan-Ganz.
Optamos por la pesquisa cualitativa para dar mayor viabilidad y consistencia al estudio. El instrumento utilizado fue la entrevista
semi-estruturada, realizada con 10 enfermeros de la unidad de terapia intensiva de un hospital universitario del Estado de Rio de
Janeiro. Los datos fueron analizados con base en el fundamento teórico, siendo elaboradas 4 categorías: 1) Papel del enfermero
intensivista en el monitoreo hemodinámico por catéter de Swan Ganz; 2) Conocimiento funcional del catéter de Swan-Ganz; 3)
Cuidados de enfermería con el catéter de Swan-Ganz, y 4) Verificación de los parámetros hemodinámicos por el catéter de
Swan-Ganz. Los resultados muestran que los cuidados de enfermería a los clientes con catéter de Swan-Ganz son determinados
individualmente y no con padrones establecidos. Además, los enfermeros no realizan la medición y evaluación de parámetros
hemodinámicos. Es muy importante el preparo técnico y el conocimiento científico, en el proceso del monitoreo hemodinámico
por catéter de Swan-Ganz, para mejorar la calidad de asistencia de enfermería para el cliente crítico.
Palabras-clave: Terapia intensiva, cuidados de enfermería, catéter Swan-Ganz.
Introdução
Este estudo originou-se mediante a atuação como
residente de enfermagem em unidade de terapia intensiva
de um hospital universitário no Estado do Rio de Janeiro,
através do contato com enfermeiros que prestavam
cuidados de enfermagem à cliente com cateter de SwanGanz. Percebemos, pelo contato direto, que muitos
demonstravam dificuldades quanto a assistência de
enfermagem ao cliente sob uso do cateter de Swan-Ganz.
Além disso, constatamos a grande restrição na produção
científica direcionada ao tema em questão.
A partir da década de 70, Swan e Ganz
viabilizaram o cateterismo sem o uso de fluoroscopia,
utilizando para a progressão e localização do cateter
apenas a morfologia das curvas pressóricas [1]. Os
dados relativos à pressão fornecem uma idéia do
estado hemodinâmico e da função do ventrículo
esquerdo, o que é fundamental para o cliente
criticamente enfermo. Assim, a monitorização
hemodinâmica é, atualmente, um procedimento muito
empregado na unidade de terapia intensiva. A
assistência de enfermagem deve ser direcionada não
apenas a avaliação hemodinâmica, estimando as curvas
#
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Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
de pressão da artéria pulmonar e prestando assistência
na retirada do cateter do cliente, como também para
realizar o curativo no local de inserção do cateter,
observar as complicações, além de dar apoio
emocional aos clientes e seus familiares [2,3]. Durante
a passagem do cateter de Swan-Ganz ou por seu uso
podem ocorrer complicações como: pneumotórax,
punção arterial, embolia gasosa, arritmias atriais e
ventriculares, freqüentemente durante a passagem do
cateter, ruptura da artéria pulmonar, septicemias,
tromboflebites, endocardite séptica, entre outros [4].
Os enfermeiros indicados para prestar assistência
a estes clientes, devem ser altamente capacitados e
bem treinados, com conhecimento científico mais
aprofundado, para facilitar a aplicação dos
procedimentos, sem complicações significativas e num
intervalo de tempo relativamente curto. É de suma
importância o preparo técnico e o conhecimento
científico, no processo de monitorização
hemodinâmica por cateter de Swan-Ganz, para uma
melhora da qualidade da assistência de enfermagem
para o cliente crítico.
Objetivos
Identificar o papel do enfermeiro intensivista na
atuação da monitorização hemodinâmica por cateter de
Swan-Ganz; determinar o conhecimento do enfermeiro
intensivista sobre a função do cateter de Swan-Ganz;
analisar o papel do enfermeiro intensivista na
monitorização hemodinâmica por cateter de Swan-Ganz.
Metodologia
A pesquisa é definida como qualitativa, pois visa
descrever e analisar os fatores que interferem na
assistência prestada pelo enfermeiro ao cliente sob
monitorização hemodinâmica. A pesquisa qualitativa
é caracterizada pela obtenção de dados descritivos no
contato direto entre o pesquisador e a situação
estudada, valorizando mais o processo que o produto;
preocupando-se em retratar as perspectivas dos
participantes [5].
Os sujeitos desta pesquisa foram 10 enfermeiros
de uma unidade de terapia intensiva de um hospital
universitário do Estado do Rio de Janeiro, que atuam
freqüentemente com a monitorização hemodinâmica
por cateter de Swan-Ganz. Eles foram selecionados
enquanto integrantes do objeto de estudo.
A coleta de dados ocorreu entre os meses de
junho e setembro de 2002. Para atingirmos os
$
objetivos desta pesquisa, utilizamos como instrumento
a entrevista semi-estruturada, verificando o
conhecimento dos profissionais sobre os cuidados de
enfermagem aos clientes que apresentam
monitorização hemodinâmica na unidade de terapia
intensiva. A entrevista semi-estruturada permitiu ao
enfermeiro discorrer sobre o tema proposto sem
condições prefixadas. Em linhas gerais, as entrevistas
semi-estruturadas são definidas como aquelas que “se
desenrolam a partir de um esquema básico, porém
não aplicado rigidamente, permitindo que o
entrevistador faça as necessárias adaptações”.
As entrevistas foram gravadas em fita K7 e foi
garantido o anonimato e o sigilo das respostas,
mediante um termo de consentimento livre e
esclarecido, conforme prevê a resolução 196/96 do
Conselho Nacional de Saúde [6]. Desta forma, foi
atribuído pseudônimos para preservar a integridade
dos enfermeiros. O instrumento utilizado na pesquisa
foi um questionário com 6 perguntas semiestruturadas.
Os dados foram analisados com base na
fundamentação teórica, de modo a garantir uma reflexão
mais profunda sobre os resultados obtidos, sendo feito
recortes temáticos dos depoimentos, com posterior
classificação e categorização, sendo analisados e
discutidos à luz da fundamentação teórica [7].
Após este tratamento, os dados foram
organizados em 4 categorias, à saber: 1) Papel do
enfermeiro intensivista na monitorização
hemodinâmica por cateter de Swan-Ganz; 2)
Conhecimento funcional do cateter de Swan-Ganz;
3) Cuidados de enfermagem com o cateter de SwanGanz; e 4) Verificação dos parâmetros hemodinâmicos
pelo cateter de Swan-Ganz.
Resultados: análise e discussão
Neste capítulo, apresentamos os resultados
conforme tratamento especificados na metodologia.
Foram entrevistados 10 enfermeiros da unidade de
terapia intensiva de um hospital universitário do Rio
de Janeiro. Os enfermeiros entrevistados apresentam
em média 10 anos de formados e entre 3 e 5 anos de
experiência em unidade de terapia intensiva.
Papel do enfermeiro intensivista na monitorização
hemodinâmica por cateter de Swan-Ganz
Houve concordância entre os entrevistados, no
que se refere ao papel do enfermeiro intensivista na
monitorização hemodinâmica por cateter de Swan
EnfermagemBrasil
Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
Ganz. Consideraram ponto importante, o conhecimento
das curvas e valores pressóricos, para a avaliação da
posição do cateter.
Foi destacado pela enfermeira A, a observação
do posicionamento adequado do cateter e a avaliação
dos parâmetros hemodinâmicos.
Para efeito de ilustração temos as seguintes
transcrições:
“...Oenfermeirodeveriasaberosignificadodecadacurva
edosvaloresqueaparecemnateladomonitor,mas,geralmente,
não é isso que acontece...” (Enf B);
“...Observarascurvasdepressõesparasaberseocateter
está bem posicionado...” (Enf C);
“...Observarposicionamentoadequadodocateter,avaliar
parâmetrostermodinâmicos,manteradequadoosistemade
monitorização...” (Enf A).
É de responsabilidade do enfermeiro a
manutenção do sistema de monitorização para
reproduzir, de modo fidedigno, as pressões do paciente
para o transdutor. Faz-se necessário a checagem de todo
o sistema a cada troca de turno ou a cada checagem da
pressão, a manutenção das curvas de pressão de forma
legível para a leitura e interpretação. Além da avaliação
dos parâmetros hemodinâmicos obtidos [8].
Os enfermeiros relatam a importância da
manutenção e, também, a avaliação dos parâmetros
apresentados no monitor do cateter de Swan-Ganz e
suas curvas pressóricas apresentadas no monitor.
Entretanto, o papel da enfermagem é complexa perante
a monitorização hemodinâmica invasiva através do
cateter de Swan-Ganz, pois o enfermeiro deve ser capaz
não somente de conhecer os materiais necessário para
a monitorização hemodinâmica, mas de interpretar os
dados obtidos, bem como alertar para possíveis
complicações: infecção, trombose, embolia aérea e
deslocamento do acesso. As medidas dos diversos
parâmetros devem ser feitas com exatidão, sendo
considerado o estado clínico do cliente, pois o uso
adequado dessas determinações contribui para a escolha
do tratamento adequado, a monitorização terapêutica e
a antecipação do prognóstico. O conhecimento desses
parâmetros hemodinâmicos são importantes para a
redução da morbidade e mortalidade de clientes críticos
em unidade de terapia intensiva [9].
Conhecimento funcional do cateter de Swan-Ganz
Em geral, os depoentes fizeram menção à
aspectos semelhantes, referente a função do cateter
de Swan-Ganz. Aspectos como mensuração do débito
cardíaco, pressão venosa central, pressão da artéria
pulmonar, ou seja, destacaram aspectos importantes
do cateter de Swan-Ganz no controle hemodinâmico
do cliente crítico. Podemos observar nos trechos
abaixo relacionados:
“...Monitorizaçãohemodinâmica:mensuraçãododébito
cardíaco,pressãovenosacentral,pressãodaartériapulmonare
pressão de capilar pulmonar...” (Enf A);
“...É um método de mensuração da performace
ventricular,colocadoatravésdeacessoprofundo,fornecendo,
assim, a pressão capilar pulmonar. Fornece ainda o débito
cardíaco.Épossívelcalcularoíndicecardíacoearesistência
vascular sistêmica, entre outros valores...” (Enf B);
“...Medir parâmetros hemodinâmicos...” (Enf C).
O cateter de Swan-Ganz tradicional possui
quatro lúmens que são alojados em lugares diferentes
no interior da câmara cardíaca, possibilitando a
determinação de alterações hemodinâmicas, através
da medida de pressões nas cavidades direitas, artéria
pulmonar, capilar pulmonar e débito cardíaco pela
termodiluição [10, 11].
É importante que o enfermeiro intensivista seja
conhecedor da administração, manutenção e correção
de problemas dos equipamentos para a monitorização
hemodinâmica, ou seja, que tenha o conhecimento
integrado do aparelho, para que desta forma, possa
prestar assistência de enfermagem mais qualificada. Isto
reflete que os profissionais de enfermagem, que atuam
diretamente com clientes críticos em unidade de terapia
intensiva, necessitam de capacitação e educação
continuada, para que possam obter o máximo proveito
desta tecnologia sofisticada em benefício do cliente.
Cuidados de enfermagem com o cateter de
Swan-Ganz
Os entrevistados, em geral, fizeram menção à
aspectos semelhantes, referente aos cuidados de
enfermagem com o cateter de Swan-Ganz, como:
cuidados com o curativo no sítio de punção, troca da
solução heparinizada e avaliação da posição adequada
do cateter. Foram destacados com relevância nos
trechos abaixo relacionados:
“...Realizarcurativoemsítiodepunção,trocarsolução
heparinizada,avaliarparâmetroshemodinâmicos,manter
posicionamentoadequadodocateter,promovermanutenção
adequada do circuito...” (Enf A);
%
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“...Observar no monitor se o cateter está encunhado,
orientaraequipequantoamobilizaçãodopacienteduranteo
banho no leito e a mudança de decúbito, para que ele não
desencunhe,observarsenocircuitohápresençadesangue...”
(Enf B);
“...Realizarcurativodosítiodepunção,trocarasolução
heparinizadaacada24horas,manterocateterencunhado...”
(Enf C).
São cuidados da enfermagem, a troca da solução
heparinizada a cada 24 horas, troca do sistema de
monitorização a cada 72 horas, examinar diariamente
o local da inserção, observando sinais de infecção,
edema e sangramento [12].
Os resultados mostram o interesse dos enfermeiro
pelos cuidados de enfermagem aos clientes com o
cateter de Swan-Ganz. Os entrevistados apresentaram
conhecimento sobre alguns cuidados de enfermagem.
Entretanto, o apoio emocional, as complicações
desenvolvidas durante o uso e implantação do cateter,
avaliação dos pulsos periféricos e determinação das
pressões pulmonares não foram mencionadas. Estes
resultados apontam que os cuidados de enfermagem
não demonstram uma padronização, pois encontramos
diferenças durante os cuidados prestados. Além disso,
é muito importante observar o desenvolvimento das
complicações durante o uso do cateter de Swan-Ganz,
devido sua alta incidência, principalmente de infecções,
septicemias e tromboflebites.
Verificação dos parâmetros hemodinâmicos pelo
cateter de Swan-Ganz
Os depoimentos descritos a seguir, evidenciam
concordância entre os entrevistados, no que se refere a
mensuração das medidas dos parâmetros hemodinâmicos
pelo cateter de Swan-Ganz, ressaltando que todos os
entrevistados foram unânimes em relatar que não
realizam a verificação dos parâmetros hemodinâmicos,
conforme observados nos trechos a seguir:
“...Não, porque nos serviços onde trabalho é sempre os
médicosquerealizamessatarefa...Quasesempreoplantãoestá
pesado...” (Enf A);
“...Não,porqueondetrabalhonãodátempodemedir,
porcausadeoutrastarefasquesóaenfermeirapodefazer.E
com isso, acaba só o médico realizando as medidas dos
parâmetros...É importante avaliar mas é dificil...” (Enf B).
Apesar dos entrevistados relatarem o
conhecimento dos parâmetros hemodinâmicos
&
monitorizados, bem como a importância funcional de
alguns cuidados de enfermagem durante a
monitorização invasiva com o cateter de Swan-Ganz,
eles não realizam a mensuração dos parâmetros
hemodinâmicos. As principais dificuldades apontadas
estão sempre ligadas ao excesso de atribuições
administrativas. Os resultados mostram que os
enfermeiros não estão verificando as pressões sistólica,
diastólica, pressão da artéria pulmonar, pressão venosa
central, pressão média do capilar pulmonar e débito
cardíaco. Estes cuidados são imprescindíveis para a
avaliação da própria enfermagem, pois é este
profissional que presta cuidados diretos, durante 24
horas por dia, ao cliente crítico. A avaliação da
enfermagem favorece não só a detecção das alterações
hemodinâmicas de forma mais rápida, como também
o próprio cuidado profissional mais qualificado [13].
Considerações finais
Os cuidados de enfermagem aos clientes com
cateter de Swan-Ganz são determinados
individualmente e não com padrões estabelecidos.
A literatura não define exatamente as funções do
enfermeiro, do cuidado de enfermagem ao cliente
que apresenta monitorização hemodinâmica. Foi
partindo destas necessidades, que realizou-se este
estudo. O uso da monitorização hemodinâmica pelo
cateter de Swan-Ganz, no decorrer de 30 anos,
mostrou-se de grande importância para a realização
da avaliação na conduta terapêutica, diagnóstico e
prognóstico no caso de um paciente crítico. O
desenvolvimento do uso do cateter de Swan-Ganz
hoje em dia, proporciona uma melhor avaliação dos
parâmetros hemodinâmicos, como: débito cardíaco,
variáveis oximétricas, pressão venosa central, pressão
da artéria pulmonar, entre outros; melhorando a
assistência da equipe de saúde da unidade de terapia
intensiva, tendo como resultado um bom prognóstico
do cliente e dos cuidados intensivos.
Devido à todos esses aspectos do uso do cateter
de Swan-Ganz, o papel do enfermeiro intensivista é
extremamente importante durante a monitorização
hemodinâmica, pois é ele que presta cuidados diretos,
24 horas por dia, para o cliente crítico. Entretanto,
observamos que as competências dos enfermeiros no
cuidado ao cliente sob monitorização hemodinâmica
com cateter de Swan-Ganz, não estão totalmente
delimitadas. O enfermeiro tem como papel relacionar
os achados clínicos do cliente com os parâmetros
hemodinâmicos, porém muitas vezes não corresponde
com a realidade. As principais dificuldades apontadas
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pela enfermagem está relacionada a sobrecarga com
tarefas administrativas. Contudo, o enfermeiro deve
mudar esta realidade, contribuindo, assim, para um
tratamento terapêutico mais correto e o cuidado de
enfermagem mais qualificado.
Referências
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2.
3.
4.
Pinheiro C. Monitorização hemodinâmica à beira do
leito. Rev HCPA & Fac Med Univ Fed Rio Gd do Sul
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p.119-122.
'
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Artigo original
Aplicando a semiologia em quem aprende
a cuidar – os efeitos da imobilização
em postura funcional
Applying semiology to the one who learns to provide care the effects of immobilization in functional posture
Aplicando la semiología a quien aprende a cuidar los efectos de inmobilización en postura funcional
Maria Aparecida de Luca Nascimento*, Joice Cristina Pereira Antunes**, Raquel de Souza Dantas**,
Marcio Martins da Costa***
*Professor Adjunto do Departamento de Enfermagem Materno Infantil (DEMI) da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP) da
Universidade do Rio de Janeiro (UNIRIO), Doutora em Enfermagem, **Enfermeira recém egressa da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto –
EEAP, da Universidade do Rio de Janeiro – UNIRIO, ***Relator e Acadêmico de Enfermagem do 6º período da EEAP da UNIRIO –
bolsista IC/UNIRIO
Resumo
Estudo quase experimental, que se utiliza da abordagem quanti-qualitativa, para atingir o objetivo de descrever os sinais
observados e sintomas relatados, por um grupo de alunos submetidos à imobilização do membro superior em sua postura
funcional, através de uma tala similar àquela utilizada pela enfermagem para a manutenção do acesso venoso, durante a
infusão por esta via. A metodologia utilizada foi a instalação do citado artefato num dos antebraços de dez acadêmicos de
enfermagem do 6° período da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade do Rio de Janeiro. Após um período de
seis horas de imobilização do membro superior em postura funcional, ao retirar-se a tala imobilizadora, os componentes da
população-alvo responderam à uma entrevista semi-estruturada. Os resultados apresentados com relação aos sinais observados
de maior incidência foram: sudorese e dores articulares à manipulação do membro que havia sido imobilizado. Com relação
aos sintomas, foram relatados: dormência, coceira, irritação, incapacidade e angústia. Concluiu-se que a imobilização do
membro superior em postura funcional, apesar de ser preconizada pela psicomotricidade como a ideal, ainda assim causa
sensações desagradáveis, o que pode estar relacionado com a atuação das tiras de esparadrapo e com o tempo de imobilização.
Palavras-chave: Cuidados de enfermagem, postura, imobilização.
Artigo recebido em 15 de dezembro de 2002; aceito em 15 de janeiro de 2003.
Endereço para correspondência: Marcio Martins da Costa, Travessa
Expedicionário José Carlos, 11, Fonseca 24120-230 Niterói RJ.
!
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Abstract
This is a quasi-experimental study that uses the quantitative-qualitative approach to reach the objective of describing the
signs that are observed and the symptoms that are reported by a group of students submitted to the immobilization of the
upper limb in its functional posture through a splint that is similar to the one used by nursing to maintain intravenous line
during infusion through the veins. The methodology that was used was the act of putting the above mentioned artifact on
one of the forearms of ten nursing students who are in the sixth semester of Alfredo Pinto School of Nursing of Rio de
Janeiro University. After a period of six hours of immobilization of the upper limb in functional posture, when the immobilizing
splint was taken out, the members of the target population answered a semi-structured interview. The results that were
presented concerning the signs that were observed more frequently were: sweating and joint pains when the limb that had
been immobilized was moved. As far as the symptoms are concerned, numbness, itching, irritation, disability and anguish
were reported. One concluded that, although the imobilization of the upper limb in functional posture is recommended by
psychomotricity as the ideal one, it causes disagreable sensations, which can be related to the functioning of the adhesive
tapes and the period of immobilization.
Key words: Nursing care, posture, immobilization.
Resumen
Estudio casi experimental, que se utiliza de abordaje cuanti-cualitativo para conseguir el objetivo de describir las señales
observadas y síntomas relatados, por un grupo de alumnos sometidos a la inmobilización del miembro superior en su
postura funcional, a través de una tablilla parecida con aquella utilizada por la enfermería para la manutención del acceso
venoso, durante la infusión por esta vía. La metodología utilizada fue la instalación del mencionado artefacto en uno de los
antebrazos de diez académicos de enfermería del 6o. período de la Escuela de Enfermería Alfredo Pinto de la Universidad de
Rio de Janeiro. Después de un período de seis horas de inmobilización del membro superior en postura funcional, cuando se
retiró la tabilla inmobilizadora, los integrantes de la población-objeto respondieron a una entrevista semi-estruturada. Los
resultados observados de mayor incidencia fueron: transpiración y dolores articulares con la manipulación del miembro que
había sido inmobilizado. Con relación a los síntomas, fueron relatados: entumecimiento, picazón, irritación, incapacidad y
angustia. Concluyese que la mobilización del miembro superior en postura funcional, a pesar de ser preconizada por la
psicomotricidad como la ideal, aún así causa sensaciones desagradables, lo que puede estar relacionado con la actuación de
vendas y con el tiempo de inmobilización.
Palabras-clave: Cuidado de enfermería, postura, inmovilización.
Introdução
O presente estudo surgiu a partir de duas
perspectivas de uma de suas autoras. Uma delas
relacionada à sua prática assistencial pediátrica e a outra
à sua prática docente.
Da prática assistencial pediátrica, surgiu a
descrição da “Síndrome da criança com o membro
superior imobilizado para infusão venosa”, composta
dos sinais de ansiedade, dor, medo e tristeza [1].
O estudo supracitado deu origem, tanto a um
projeto de pesquisa intitulado “O custo benefício da
tala imobilizadora”, quanto à proposição do tema “A
imobilização para infusão venosa” para ser
desenvolvido, sob a forma de seminário, durante a
disciplina Abordagens Metodológicas da Pesquisa em
Enfermagem II, sob a responsabilidade da referida
autora, que é oferecida ao 7º período do curso de
graduação em enfermagem da Escola de
Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade do Rio
de Janeiro, cujo currículo é pautado na
problematização.
Tendo em vista a possibilidade de estreitar os
elos entre os diversos níveis da graduação,
possibilitado pela pesquisa, este estudo possibilitou,
não só a discussão do tema em sala de aula de forma
ampla durante a disciplina supracitada, como
também a inserção de alunos dos outros períodos
da graduação durante a dinâmica adotada para a
consecução do seu único objetivo.
!
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Objetivo
Descrever os sinais observados e sintomas
relatados por um grupo de alunos de enfermagem
submetidos à imobilização, através de uma tala
imobilizadora de um antebraço em postura funcional
A semiologia da imobilização e a psicomotricidade
Tendo em vista que o presente estudo referese à atuação da enfermagem, mais especificamente
à técnica da imobilização e seus efeitos, cumpre citar
Eugênio [2], quando ao referir à semiologia, citoua como sendo a tradução de uma linguagem
humana, verbalizada ou percebida através de gestos,
imagens, expressões faciais e corporais e de
percepção sensorial.
Deste modo, considerando que todos os
aspectos supracitados, relacionam-se a partir da
psicomotricidade, que, segundo Mello [3], é a ciência
que estuda o homem não só, através do seu corpo
em movimento e em relação ao seu mundo interno
e externo, como também as suas possibilidades de
perceber, atuar e agir com o outro, com os objetos
e consigo mesmo. Faz-se necessário frisar, que
apesar de implementarmos a imobilização, devemos
respeitar, efetivamente, a mobilidade do corpo em
seu mundo interno e externo, entendendo o mundo
interno como sendo os seus sentimentos e as
respostas fisiológicas aos estímulos provocados por
uma ação externa.
Ainda com relação aos aspectos supracitados,
Wallon apud Coste [4] nos esclarece que as relações
que podem existir entre a emoção e as
circunstâncias exteriores são do tipo condicionado,
isto é, estando ligadas a certas estimulações
exteriores.
Sendo assim, a relevância deste estudo reside
na possibilidade de enfocar a imobilização do
membro superior em postura funcional, como
sendo o ponto de partida para a observação de seus
efeitos, pois segundo Kapandi [5], a imobilização
da mão diferente da sua posição de função, traria
graves conseqüências funcionais.
Metodologia
Estudo que se utiliza da abordagem quantiqualitativa. Segundo Polit e Hungler [6]: “Os dados
quantitativosequalitativossãocomplementares,representando
palavras e números, as duas linguagens fundamentais de
!
comunicaçãohumana.”
Diante disso, podemos dizer que a junção destas
duas formas de comunicação, o número e a palavra,
privilegia melhor a compreensão do tema a ser
estudado, facilitando desta forma, a interpretação na
íntegra dos dados obtidos .
Tendo em vista que a característica deste estudo
é a de uma pesquisa quase experimental, observamos
o que Polit e Hungler [6] citam a respeito desta
modalidade: “ A pesquisa que utiliza o projeto quaseexperimentalparece-semuitocomumexperimento.Talcomo
nos experimentos, os quase experimentos envolvem a
manipulaçãodeumavariávelindependente,istoé,ainstituição
deumtratamento”.
Desta forma, a metodologia utilizada privilegia
a variável independente, como sendo àquela relativa
à postura funcional e a instituição do tratamento, a
utilização da tala imobilizadora para tal finalidade.
A população-alvo deste estudo foi constituída
por 9 acadêmicos do 6° período da Escola de
Enfermagem Alfredo Pinto, da UNIRIO, que foram
submetidos à imobilização por tala num dos
membros superiores em postura funcional.
É importante ressaltar que a população em
apreço foi escolhida aleatoriamente, sendo que um
único critério para a escolha foi o fato de
apresentarem compatibilidade de horários, como
facilitador para a realização do quase experimento,
além de estarem cursando a disciplina de Abordagem
Metodológica da Pesquisa em Enfermagem I,
ministrado pela professora - orientadora deste
estudo.
Para a obtenção dos resultados deste estudo, a
dinâmica de instalação da tala imobilizadora foi
realizada no antebraço dos acadêmicos de
enfermagem, componentes da população-alvo, da
seguinte forma:
Abordagem inicial 2 dias antes, com o intuito
não somente de apresentar o objetivo da realização
deste estudo, como também o aprazamento da data
e hora do início da dinâmica com a tala imobilizadora.
É válido ressaltar que, em cumprimento aos aspectos
legais, foi confeccionado um pedido de
consentimento informado, baseado na Resolução
196/96 para a participação dos acadêmicos
supracitados nesta dinâmica.
No dia previsto, 30 de março de 2001, às 8:00
h, na Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, foi
instalada a tala imobilizadora, que obedeceu aos
mesmos critérios de fabricação e de instalação
observados na prática assistencial Com relação ao
critério de fabricação, elas foram confeccionadas de
forma similar àquela utilizada pela enfermagem, feita
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de papelão 25 X 9 cm, revestida por algodão e atadura
conforme descrição de Nascimento et al [7]. Com relação
à instalação, foram utilizadas tiras de esparadrapo com
as mesmas dimensões daquelas utilizadas normalmente
na prática assistencial (duas medindo 3 cm de largura e
uma 1,2 cm). As duas primeiras foram fixadas na porção
medial do antebraço, a outra, no punho, e a tira mais
fina “paralelamente” à articulação proximal dos
quirodáctilos.
Em seguida, o artefato foi instalado em um dos
antebraços, eleito pelo próprio componente da
população-alvo, mantendo-o em postura funcional.
Após um período de 6 h de imobilização, tempo
em que, conforme o previsto, a população-alvo
desenvolveria todas as suas atividades rotineiras, tanto
acadêmicas quanto pessoais, a tala imobilizadora foi
retirada pelas pesquisadoras e os componentes do
estudo responderam ao instrumento semiestruturado composto de itens abertos e fechados
(anexo 2), para a obtenção da coleta de dados, que
no entender de Polit e Hungler [10]: “ ... oferece ao
pesquisadorumacertaflexibilidadenacoletadeinformações
sobre os sujeitos da pesquisa, permitindo aos sujeitos contar
suas histórias de forma narrativa”.
Desta forma, faz-se mister enfatizar que através
deste instrumento, os sujeitos puderam expressar seus
anseios e desejos quanto à imobilização em membro
superior, o que contribuiu para posterior
compreensão e análise dos dados.
Vale ressaltar que o tempo de imobilização foi
superior a 5 horas, intervalo adotado como sendo
aquele onde haveria acréscimo de sinais ao
comportamento, de acordo com estudo piloto
realizado anteriormente por Nascimento [7].
Resultados
Após a aplicação do instrumento (anexo),
obedecendo-se à metodologia supra referenciada,
obteve-se os seguintes resultados:
Quadro demonstrativo dos sinais observados prevalecentes
num grupo de 9 acadêmicos de enfermagem submetido à
imobilização em postura funcional
Sinais observados
Sudorese
9
Dores articulares
9
Quadro demonstrativo dos sintomas relatados pelo mesmo
grupo supracitado
Sintomas relatados
dormência “coceira” irritação incapacidade angústia
2
1
1
4
1
Com relação aos aspectos qualitativos,
descrevemos alguns trechos dos depoimentos mais
relevantes dos componentes da população–alvo,
identificados através de pseudônimos:
“... sinto-me com o braço pesado” (Talismã);
“...tive incapacidade de fazer atividades ... fiquei
irritada por ficar com os movimentos restritos”
(Água); “...me senti presa e até esqueci que podia
mexer os dedos...” (Ar).
Análise e interpretação dos resultados
Ao analisarmos os resultados obtidos, podemos
perceber que a imobilização em postura funcional,
apesar de ser aquela preconizada pela fisiologia
humana [5], ainda assim produz seus efeitos, que
puderam ser visualizados através dos sinais de
sudorese e dores articulares à manipulação, e
referenciados através dos sintomas de dormência,
coceira, irritação, incapacidade e angústia.
Deste modo, vale ressaltar que os efeitos da
imobilização em apreço, poderiam estar relacionados
à aplicação das tiras de esparadrapo sobre as
articulações e o antebraço, propriamente dito, assim
como ao tempo de imobilização.
A inferência acima citada encontra respaldo na
3ª Lei de Newton [8], que ao enunciá-la como sendo
a Lei da ação e reação de forças, nos permite observar
que a cada tira de esparadrapo aplicada sobre as
articulações e o sistema músculo-esquelético,
corresponderia a uma reação de mesmo módulo em
sentido contrário, alterando o tono muscular do
antebraço.
Segundo Coste [9], o tono é um fenômeno
muito complexo, além de ser a trama de todos os
movimentos sem desaparecer na inação. Tal
fenômeno interfere em todos os níveis da
personalidade psicomotora e participa de todas as
funções motrizes, sendo, sobretudo, o veículo das
emoções.
Ainda, sob o ponto de vista da
psicomotricidade, Coste [9], ao descrever o reflexo
miotático como sendo o próprio mecanismo do
tono, pontifica que quanto maior for o alongamento
do músculo, maior será a tensão, que poderá ser
superior àquela que a elasticidade do músculo
permitiria supor.
Esse mecanismo caracteriza a definição de um
reflexo que seria provocado por um estímulo e a este
ajustado, estereotipado e previsível. Dessa forma, o
reflexo miotático cessa com o estiramento, mas
permanece localizado no músculo solicitado.
!!
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Conclusão
equipe de enfermagem estaria assistindo a uma
pequena parcela da imensa dimensão do cuidar.
A imobilização do membro superior para infusão
venosa, por ser coadjuvante à técnica de punção venosa,
normalmente fica em segundo plano nas observações
da equipe de enfermagem. No entanto, ela é responsável
por uma série de sensações, que vêm sendo alvo de
estudos que enfocam a imobilização em hiperextensão
do membro superior [7].
No entanto, este estudo demonstrou que a
imobilização em postura funcional, a partir de seus
efeitos, também deve ser alvo de observação, apesar de
ser aquela preconizada como a ideal pelos teóricos da
fisiologia articular.
Conclui-se que os efeitos da imobilização em
postura funcional, podendo estar relacionados à atuação
das tiras de esparadrapo sobre as articulações, assim
como ao tempo de imobilização imposta pela
metodologia do estudo, corrobora a necessidade da
adoção de medidas alternativas profiláticas paliativas,
proposta por Nascimento [10], para o atendimento às
crianças, mas que prospectivamente neste estudo,
podem ser remetidas aos adultos, como; a inserção no
plano de cuidados diários de enfermagem, após prévia
avaliação, da retirada da tala dos membros superiores, a
intervalos freqüentes, a fim de promover as ativações
circulatória e articular dos pacientes a ela submetidos.
Deste modo, ao adotar as medidas que
possibilitem a diminuição e/ou eliminação dos efeitos
adversos da imobilização em postura funcional, a
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superior imobilizado para infusão venosa: uma
contribuição da semiologia para o cuidado de enfermagem
[Tese]. Rio de Janeiro: Escola de Enfermagem Anna Nery,
Universidade Federal do Rio de Janeiro;1996.
Anexo
Instrumento de coleta de dados
Sexo _______
Idade _______
Assinale abaixo os sentimentos que você experimentou durante a dinâmica realizada, da tala imobilizadora
em seu membro superior.
Sentimentos experimentados durante a imobilização
funcional
Irritação
Dor
Ansiedade, angústia
Tristeza
Outros
()
()
()
()
____________
Relate a sua experiência com relação à imobilização do membro superior em postura funcional.
Sinais observados:
!"
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Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
Artigo original
A visita domiciliar no serviço de vigilância
epidemiológica como método de trabalho na
melhoria da atenção à saúde da criança em
um município da grande Porto Alegre – RS
The home visit in the epidemiologic inspection service
as a method of work to improve the attention given
to the children’s health in a town belonging to the
big area around Porto Alegre – RS
La visita domiciliar en el servicio de vigilancia epidemiológica,
como método de trabajo para mejorar la atención
en la salud de los niños en uno de los municipios
de la Grande Porto Alegre – RS
Gisele Cristina Tertuliano
Enfermeira,LicenciadaemEnfermagem,Sanitarista,EspecialistaemEnfermagemDomiciliar,SecretariaMunicipaldeSaúdedeCachoeirinhaRS
Resumo
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, quantitativa e retrospectiva, que tem por finalidade analisar a visita domiciliar no setor
de Epidemiologia num município da Grande Porto Alegre, na atenção à saúde da criança. A visita domiciliar (VD), é um
instrumento que possibilita melhorar a assistência à saúde da criança.
Objetivos: Analisar os benefícios da manutenção do instrumento utilizado na VD, para assistência à criança.
Metodologia: Estudo retrospectivo, enfoque qualitativo/quantitativo, realizado com crianças moradoras de Cachoeirinha, após
analise das declarações de nascidos vivos, sendo escolhidos 30 casos envolvendo desinformação no cuidado à criança,
caracterizando a VD.
Resultados: Constatou-se que 100% das mães visitadas realizam os cuidados preventivos aos menores de um ano.
Considerações finais: O instrumento propicia acompanhamento e controle da saúde da criança e serve como método de atenção
à saúde, interação social, cultural e educativa.
Palavras-chave: Crianças, cuidados domiciliares de saúde, epidemiologia.
Artigo recebido em 5 de janeiro de 2003; aprovado em 25 de janeiro de 2003.
Endereço para correspondência: Rua Abram Goldsztein, 250/402, Torre 6,
Jardim Itália 91450-155 Porto Alegre RS, Tel: (51) 9983 421.
!#
EnfermagemBrasil
Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
Abstract
This is a qualitative, quantitative and retrospective research that aims to analyze the home visit in the Epidemiology field in
a town belonging to the big area around Porto Alegre, in the assistance to the children’s health. The home visit (HV) is an
instrument that enables us to improve the assistance to the children’s health.
Objectives: To analyze the benefits of maintaining the instrument used in the HV to provide care to the children.
Methodology: This is a retrospective study, with a qualitative/quantitative approach, carried out with children who live in
Cachoeirinha, after analyzing the statements of those who were born alive. Thirty cases were chosen which involved lack of
information in the children care, which characterized the HV.
Results: One found out that 100% of the mothers who were visited provide preventive care to the children who are not one
year old yet.
Final comments: The instrument provides follow-up and control of the children’s health and functions as a method of health
care, as well as of social, cultural and educative interaction.
Key words: Children’s home nursing, epidemiology.
Resumen
Tratase de una pesquisa cualitativa, cuantitativa y retrospectiva, que tiene por finalidad analizar la visita domiciliar en el sector
de Epidemiología en uno de los municipios de la Grande Porto Alegre, en la atención a la salud de los niños. La visita
domiciliar(VD), es un instrumento que posibilita mejorar la atención a la salud de los niños.
Objetivos: Analizar los beneficios de manutención del instrumento usado en la VD (visita domiciliar), para la atención a los
niños.
Metodología: Estudio retrospectivo, enfoque cualitativo/cuantitativo, desarrollado con niños residentes de Cachoerinha, después
de analizar las declaraciones de nacidos vivos, siendo escogidos 30 casos envolviendo desinformación en cuidado con los
niños, caracterizando la VD (visita domiciliar).
Resultados: Se constató que 100% de las madres que fueron visitadas, ejecutan los cuidados preventivos en los menores de un
año.
Consideraciones finales: El instrumento propicia acompañamiento y control de la salud de los niños y sirve como método de
atención a la salud, interacción social, cultural y educativa.
Palabras-clave: Niños, cuidados domiciliares de salud, epidemiología.
Introdução
A enfermagem, dentre as diferentes áreas de
atuação e a diversificação de atividades, tem um
particular interesse em relação a assistência à saúde da
criança, particularmente a criança recém-nascida, que
será abordada neste trabalho, com idade menor a um
ano. Desta forma, a preocupação de melhorar a
atenção à saúde nesta faixa etária, possibilita interação
entre os segmentos de atenção à saúde da criança de
forma integral.
Como enfermeira sanitarista, integrante da
equipe de vigilância em saúde do município de
Cachoeirinha, atuando no contexto da vigilância
epidemiológica como responsável pela imunização,
rastreamento neonatal, sistema de nascidos vivos
!$
(programas pertinentes ao tema deste trabalho), entre
outras atividades, julgamos de extrema importância o
aprofundamento da visita domiciliar como prática da
vigilância epidemiológica.
O profissional de saúde necessita de constante
reavaliação do seu método científico de trabalho, com
vistas ao aprimoramento de sua prática no dia-a-dia.
A atenção integral à saúde da criança, requer maior
vigilância e cuidados em saúde, porque muitas vezes
ela está inserida num contexto familiar fragilizado,
desprovido de recursos econômicos com dificuldades
sociais emergentes.
Embasadas nesta conduta, o cuidado à saúde da
criança transcende a participação dos serviços de
saúde. Ele é fortalecido pela sensibilização de todos
os atores sociais que prestam atenção à criança: equipe
multiprofissional, mãe, familiares, paciente e
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Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
responsáveis, aguçando em todos a participação num
processo de busca da melhoria da qualidade de vida
dos menores de um ano.
Desta forma, a visita domiciliar é instrumento
de proximidade, de criação de vínculos com a
comunidade, sendo um instrumento positivo da
construção de bases sólidas para o processo de
aprendizado, tão importante ao crescimento e
desenvolvimento dos seres humanos.
Nesta ótica não se atende apenas a criança, mas
a puérperia e toda família, cabendo aos profissionais
de saúde a abordagem correta no domicílio e o
encaminhamento das situações pertinentes.
Sabe-se das dificuldades que norteiam o
atendimento público aos seus usuários, porém não se
exclui a responsabilidade de trabalharmos no processo
de mudança do comportamento dos profissionais e
dos usuários do sistema de saúde.
Outro fator fundamental, é enfrentarmos dia-adia a desinformação, a ignorância, as crenças e valores
que mistificam a assistência à criança, elucidando,
compreendendo e esclarecendo fatores vinculados e
arraigados ao senso comum.
Portanto, tem-se como tema desta pesquisa, a
visita domiciliar ao recém-nascido como investigação
epidemiológica, com o objetivo de melhorar a atenção
a sua saúde por meio da Vigilância em Saúde.
Objetivos
planejamento anual das ações de vigilância em saúde
nesta faixa etária.
Metodologia
Tipo
Pesquisa retrospectiva com enfoque qualitativo
e quantitativo.
Local da pesquisa
Domicílio dos usuários do Sistema Único de
Saúde - SUS, localizados nas Vilas Nair, Vista Alegre,
Nova Cachoeirinha e Granja do município de
Cachoeirinha, Rio Grande do Sul.
Universo
As crianças de zero a um ano, moradoras do
município de Cachoeirinha no período de setembro
de 2001 a fevereiro de 2002, perfazendo um total de
789 declarações de nascidos vivos analisados, sendo
que 105 foram enquadrados em situações
predisponentes para visita domiciliar.
Os critérios considerados na definição da
amostra foram: puérperas adolescentes, multíparas,
pré-natal ignorado, número de consultas de pré-natal
inferior a 4, baixo-peso e mal formação congênita do
recém-nascido.
Geral
Amostra
Analisar os benefícios da manutenção de um
instrumento padronizado para uso na visita domiciliar
pelo profissional enfermeiro, para a melhoria da
atenção à saúde da criança de zero a um ano no serviço
de vigilância epidemiológica da Secretaria Municipal
de Saúde de Cachoeirinha.
Correspondem às 30 (28,5%) crianças residentes
nas microáreas, onde funciona o PACS, e demais áreas
que atenderam aos critérios mecanizados, para a
amostra visitadas pelo serviço de vigilância
epidemiológica e agentes comunitários de saúde.
Específicos
Identificar se as informações levantadas pelo
instrumento, na visita domiciliar, são pertinentes
nesta faixa etária, relacionadas à vigilância
epidemiológica.
Analisar os benefícios e a validade da manutenção
de um instrumento padronizado na realização da visita
domiciliar, para qualificar a atenção à saúde da criança
de zero a um ano no serviço de vigilância
epidemiológica.
Criar um banco de informações para subsidiar o
Procedimentos
Realizou-se um levantamento bibliográfico, onde
foram selecionados os conteúdos teóricos sobre o tema
da pesquisa: visita domiciliar no serviço de vigilância
epidemiológica, como método de trabalho na melhoria
da atenção à saúde da criança de zero a um ano, seus
conceitos, vantagens, limitações, avaliações, assim como
o papel da equipe de vigilância epidemiológica, mais
especificamente a equipe de enfermagem.
Para o seu desenvolvimento, buscamos o
embasamento através de livros, artigos atuais incluindo
acesso à internet.
!%
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Com este material foi possível desenvolver o
tema definitivo, estruturando o marco teórico do
estudo aqui apresentado.
O local da pesquisa foi o domicílio dos usuários
do Sistema Único de Saúde do município de
Cachoeirinha, mediante consentimento deless e
preenchimento do boletim de atendimento do próprio
SUS.
A coleta de dados ocorreu no período de
setembro de 2001 a fevereiro de 2002, na busca ativa
nas declarações de nascidos vivos enquadradas nas
situações predisponentes para a visita domiciliar.
Foram visitadas 30 crianças, sendo aplicado, na ocasião,
o instrumento que avalia as informações que as mães
têm em relação à saúde da criança nesta faixa etária,
além de fatores relevantes ao planejamento familiar e
DSTs. Estas visitas foram realizadas pelas auxiliares
de enfermagem Aura, Nóris e a enfermeira Gisele.
O horário para a visita domiciliar, sistematizou-se
pelas características da clientela assistida (fatores culturais,
sociais e econômicos), sendo realizadas das 9h às 12h e
das 14h30min às 17h de segunda à sexta-feira.
Muitas vezes retornou-se aos domicílios, por não
encontrar os envolvidos no processo de investigação.
Instrumentos do estudo
Os instrumentos utilizados para o desenvolvimento
de todas as etapas da pesquisa foram:
Anexo A
O organograma descreve as áreas de atuação da
vigilância em saúde.
Anexo B
Registrado protocolo das funções da vigilância
epidemiológica, cobradas pela Secretaria Estadual de
Saúde e pelo Ministério da Saúde.
Anexo C
Documento oficial (modelo) que declara o
nascimento dos recém-nascidos, de onde buscou-se
os primeiros dados para definir a população-amostra.
Anexo D
Ficha criada para retirar e organizar os dados de
cunho investigatório na declaração de nascidos vivos,
para encaminhamento das visitas.
Anexo E
Instrumento de coleta de dados, composto de
identificação e perguntas abertas, para avaliação de sua
eficácia e eficiência para o serviço de vigilância
epidemiológica.
Apêndice1
Ficha de atendimento ambulatorial, que
autoriza a realização da visita domiciliar e a coleta
de dados, assinada pelo responsável do paciente com
!&
o seu consentimento pela ficha de atendimento
ambulatorial.
Resultados
Neste capítulo trataremos de apresentar o
resultado da aplicação do instrumento desta pesquisa
(anexo E), já aplicado sob forma de entrevista.
Iniciaremos a descrição detalhada deste
processo, expondo as questões e suas respectivas
interpretações. Inicialmente, pelo anexo D,
constatamos que as mães dos 30 recém-nascidos têm
idade entre 15 a 38 anos.
Os resultados obtidos pela entrevista da visita
domiciliar junto à mãe, em relação aos cuidados e
Vigilância em Saúde do RN prestados pelas mães
foram:
a) Quanto à realização do teste do pezinho no
RN (recém-nascido) na Unidade Básica de Saúde até
o trigésimo dia do nascimento, observou-se que as
mães cumpriram o cuidado no prazo hábil.
Do total das mães entrevistadas, 100% (30)
haviam levado seus filhos na Unidade Sanitária para
o rastreamento neonatal no momento da visita
domiciliar.
Os testes realizados neste município são
encaminhados à Faculdade de Farmácia da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sendo
coletado amostra de sangue em papel filtro do
membro inferior do recém-nascido, que detecta a
fenilcetonúria, o hipotireoidismo e a anemia talciforme
nas seguintes unidades de saúde: PAM, Getúlio Vargas,
Décio Martins Costa, USPA 24hs, Nova Cachoeirinha,
Osvaldo Cruz, CAIC da Granja.
Prevenir a deficiência mental é questão de alta
relevância social e isso faz com que a realização de
um teste simples como o Teste do Pezinho, seja um
importante instrumento de diagnóstico e prevenção
de doenças genéticas e metabólicas, caso seja realizado
antes do primeiro mês de vida do bebê.
b) Quanto ao método de nutrição do RN adotado
pela mãe no primeiro trimestre de vida, constatamos
que 27 delas optaram pela modalidade correta.
Das puérperas entrevistas, todas foram
orientadas no pré-natal sobre a importância do
aleitamento materno, sendo de mães portadoras do
HIV os casos de nutrição fora do contexto da
amamentação. Alguns autores relatam o colostro e
o leite materno como um dos modos de transmissão
do HIV. Gestantes soropositivas são orientadas sobre
as medidas que podem amenizar a transmissão
vertical (mãe para concepto).
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c) Quanto ao controle da IRA no RN e
orientações sobre a ocorrência destas infecções.
Todas as mulheres (30) foram orientadas sobre
a ocorrência de possíveis infecções respiratórias agudas
na infância, os sinais de alerta e as providências a serem
empregadas nesses casos. As doenças respiratórias são
uma das principais causas da mortalidade infantil.
d) Controle das diarréias no RN, observou-se
que todas as mães possuíam conhecimento sobre o
assunto. Todas as entrevistadas (30) foram orientadas
a respeito da possível ocorrência de episódios
diarréicos na infância, fatores inerentes a elas e as
condutas a serem empregadas. As doenças diarréicas,
são uma das principais causas de mortalidade infantil.
e) Controle mensal da saúde da criança na
consulta médica e de enfermagem.
O acompanhamento mensal ao pediatra, faz-se
necessário nos primeiros anos de vida como objetivo
de acompanhar o crescimento e desenvolvimento da
criança, através das medidas de puericultura. Das 30
mulheres entrevistadas, 29 visitam o pediatra de 30
em 30 dias, sendo que uma retorna às consultas de 20
em 20 dias por orientação médica. Nesta ocasião é
feito o controle do peso, da altura, das vacinas, do
perímetro cefálico, das vias respiratórias, controle das
infecções e doenças.
O Estatuto da Criança e do Adolescente, no
artigo 7, declara que “a criança tem direito à proteção
a vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas
sociais públicas que permitam o nascimento e o
desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições
dignas de existência.”
f) Quanto ao método contraceptivo utilizado,
constatou-se que a maioria das pacientes fazem uso
de contraceptivo oral (53,33%), caracterizando a
ocorrência de casos de sífilis e HIV+ entre as
puérperas. Foram indagadas sobre o uso correto de
ambas as técnicas de contracepção.
Segundo as Normas Técnicas e Operacionais em
Saúde da Mulher, a camisinha é um método de barreira
de alta eficácia com índice de falha oscilando entre 2
e 15%. A principal vantagem está relacionada com a
prevenção das DST. Deve-se recomendar que sejam
usadas sempre, desde o início do relacionamento, antes
do coito, independentemente do uso de outro método
hormonal.
Do total das puérperas, 26 delas (86,66%)
realizaram pré-natal sendo que, 3 (11,53%) realizaram
de 1 a 3 consultas de pré-natal.
Das 3 puérperas que não realizaram pré-natal
(10,00%) duas delas (6,66%) eram portadoras de
DST/AIDS; um caso de sífilis e outro de HIV,
descobertos no parto.
Das puérperas que realizaram pré-natal (26,66%),
constataram durante a gravidez a importância do
acompanhamento pré-natal. Verbalizaram
intercorrências da gravidez, que foram amenizadas
mediante o pré-natal, exemplo bolsa rota, préeclâmpsia, sífilis, HIV+.
O acompanhamento pré-natal, melhora a
qualidade de vida e de saúde da população. A
contribuição da assistência pré-natal na prevenção da
morbimortalidade materna e perinatal é reconhecida,
e considerada um importante fator para o pleno
desenvolvimento de uma criança.
A faixa etária das entrevistadas não constava no
instrumento de entrevista, mas é relevante em
situações onde a puérpera é muito jovem e não
planejava a gravidez. Considera-se também o nível de
instrução como fator relevante no planejamento
familiar e saúde da mulher.
As puérperas com doença infecciosa em curso
foram encaminhadas para o serviço de referência para
prosseguimento do tratamento.
Considerações finais
Os benefícios da manutenção de um instrumento
padronizado para a melhoria da atenção à saúde da
criança, empregada ao serviço de vigilância
epidemiológica, tendo como método a visita
domiciliar, detecta a identificação de informações
pertinentes a esta faixa etária.
Através deste instrumento, aplicado no
domicílio, orientamos e educamos 100% das mães
entrevistadas em relação aos cuidados a criança em
relação ao aleitamento materno, visita periódicas à
consulta pediátrica e de enfermagem, orientações
sobre infecção respiratória aguda, diarréias agudas,
entre outras, além da importância à proteção específica
relacionada às imunizações. Levantamos possíveis
alternativas de soluções em relação às necessidades
de saúde, como cuidados com a nutrição do recémnascido em caso de mãe HIV, alternativas de
contracepção, fornecendo subsídios educativos para
a puérpera e a família.
É importante ressaltar a importância da
comunicação entre a equipe da vigilância
epidemiológica e a família, criando-se um círculo de
troca de informações, enfatizando o armazenamento
e acompanhamento dos casos pertinentes.
Busca-se desta forma, a mudança de
comportamento das famílias visitadas.
Numa sociedade onde predomina-se, muitas
vezes, o comportamento paternalista, faz-se necessário
!'
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um processo de ensino-aprendizado contínuo, calcada
constantemente com medidas educativas, que
determinem e propiciem a mudança de
comportamento, principalmente para as puérperas.
Na história natural da doença, sendo neste caso
avaliado o período de prê-patogênese, é importante
as ações da equipe de vigilância epidemiológica e os
demais profissionais voltados a assistência, através de
práticas de prevenção primária.
Desta forma, avalia-se as orientações prestadas
no pré-natal, puerpério e ao longo do primeiro ano
de vida da criança, analisando a resposta verbal e
comportamental dos indivíduos beneficiados pela
assistência.
Profissionais voltados com a assistência à saúde
do indivíduo, comprometidas com as questões do
cuidado e educação em saúde, permanecerão sempre
vinculados às metodologias que visem qualificar e
instrumentalizar a atenção à saúde do indivíduo.
A divulgação desses dados é de extrema
importância para a comprovação científica do trabalho
realizado, além da instrumentalização e documentação
das atividades realizadas como meio de medidas de
planejamento.
Desta forma, todo o esforço e comprometimento
visam, neste momento, melhorar a atenção à saúde da
criança, de acordo com os princípios do Programa de
Atenção Integral à Saúde da Criança (PAISC), que
objetiva: desenvolver ações que favoreçam o crescimento,
o desenvolvimento e a qualidade de vida da criança, a
diminuição da mortalidade infantil, proporcionar
atendimento rotineiro, periódico e contínuo, acompanhar
o processo de crescimento e desenvolvimento das
crianças, incentivo e apoio ao aleitamento materno,
orientação à alimentação, imunizações, a identificação
precoce dos processos patológicos, além de promover
vigilância de situações de risco específicos, como
desnutrição, infecções, diarréia.
Portanto, a visita domiciliar é de suma
importância para a assistência ao indivíduo e sua
família. Ela é um veículo de interação social e cultural,
da qual o profissional da enfermagem e os demais
convivem cotidianamente. A prevenção primária, o
controle de doenças no enfoque epidemiológico, são
"
ações concretas que identificam, agem e resultam no
perfil desejado, esperado e necessário para a atenção
à saúde da criança e adolescente.
Bibliografia
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EnfermagemBrasil
Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
Artigo original
Estagiários x UTI:
sentimentos em relação ao inesperado
Trainees x Intensive Care Unit:
feelings concerning what happens unexpectedly
Pasantes x UTI:
sentimientos en relación a lo inesperado
Andréia Saccol Lourenço*, Regina G. Santini Costenaro**
*Enfermeiraespecialistaemcuidadosintensivos,EscoladeEnfermagemSãoFranciscodeAssis,CaxiasdoSulRS,**Doutoraemenfermagem,
FaculdadeFranciscana,SantaMariaRS
Resumo
Este trabalho foi realizado com intuito de inserir uma nova visão sobre estagiários de UTI e seus sentimentos. Sempre que
visualizamos o corpo de alguém, conseguimos observar os sentimentos vivenciados durante este período. Vem daí a importância
do ser educador, que através de uma observação é capaz de interpretar os fatos e satisfazer as necessidades dos alunos e
acadêmicos. O auxílio na solução dos problemas e o comprometimento em harmonizar estes corpos são de grande importância,
pois ajudando uns aos outros, compartilhando experiências, criaremos oportunidades para a interação da equipe
multiprofissional.
Palavras-chave: Enfermagem, cuidados de terapia intensiva.
Abstract
This work was carried out aiming at giving a new perception of the Intensive Care Units (ICU) trainees and their feelings.
Whenever we visualize someone’s body, we are able to observe the feelings that are experienced during this period. Hence the
importance of being an educator, who, through observation, is capable of interpreting the facts and meeting the pupils’ and
the students’ needs. The help to solve problems and the commitment to harmonize these bodies are very important, for,
helping each other and sharing experiences, we will create opportunities of interaction of the multiprofessional team.
Key-words: Nursing, Intensive Care Units.
Artigo recebido em 13 de janeiro de 2003; aceito em 25 de janeiro de 2003.
Endereço para correspondência: Profa. Andréia Saccol Lourenço, Escola
de Enfermagem São Francisco de Assis, Rua Moreira César, 2067,
95034-000 Caxias do Sul RS, Tel: (54) 214 5714/9113 9458,
E-mail: [email protected]
"
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Resumen
Este trabajo fue realizado con la intención de inserir una nueva visión sobre pasantes de UTI y sus sentimientos. Siempre que
visualizamos el cuerpo de alguien, conseguimos observar los sentimientos vivenciados durante este período. Viene de esta
observación la importancia de ser educador, que a través de ella es capaz de interpretar los hechos y satisfacer las necesidades
de los alumnos y académicos. El auxílio en la solución de los problemas y el compromiso en armonizar estos cuerpos son de
gran importancia, pues ayudando unos a los otros, compartiendo experiencias, crearemos oportunidades para la interacción
del equipo multiprofesional.
Palavras-clave: Enfermería, cuidados de terapia intensiva..
Introdução
Este trabalho tem por finalidade relatar alguns
fatos descritos, durante o estágio dos alunos de auxiliar
de enfermagem, de técnico de enfermagem e
acadêmicos do curso de enfermagem, demonstrando
os sentimentos despertados neste período.
A temática está relacionada diretamente a
ansiedade, sentimento descrito no dicionário Duncan
[1], como de “medo, apreensão, tensão e receio
associados a um temor real ou imaginário sobre a
própria segurança”.
O objetivo maior deste processo foi de minimizar
os desconfortos pré-estágios, bem como demonstrar
aos estagiários métodos de vencer as barreiras,
identificando previamente os problemas e sanandoos com técnicas pertinentes.
Relação dos conhecimentos adquiridos e a teoria
trabalhada
A proposta inicial deste trabalho, foi refletir sobre
os sentimentos despertados pelos alunos durante os
dias que antecederam o estágio em unidade de terapia
intensiva.
A forma de pesquisa utilizada, que mostrou ser
a mais adequada, foi à qualitativa, através do método
fenomenológico. Assim sendo, é importante fazer
algumas considerações sobre esta e este método. Ao
se falar de uma pesquisa qualitativa, a fonte direta dos
dados é o ambiente natural, portanto o investigador é
o instrumento principal.
A pesquisa utilizou-se da entrevista que para
Morgan & Moreno [2], “é dirigida por uma das pessoas,
com o objetivo de obter informações sobre a outra”.
No caso do investigador qualitativo, a entrevista surge
"
com um formato próprio, para buscar o real na
vivência das pessoas, na tentativa de mostrar as coisas
como realmente aconteceram.
O termo fenomenologia significa o estudo dos
fenômenos, isto é, que se mostra a nossa consciência.
Neste trabalho tivemos um jeito próprio de abordar
o fenômeno e na fenomenologia de interrogar aquilo
que se apresenta a nossa experiência. A fenomenologia
busca o significado das experiências para o ser humano
e vice-versa, para através da compreensão, conhecer
o outro em suas possibilidades.
Para compreender o fenômeno é necessário
escutar, estar atento, mas sem respostas rápidas. Vendo
o outro pelos seus gestos, seu olhar, suas palavras e
seus comportamentos, renunciando o princípio da
razão para poder compreender as significações. O
método fenomenológico não busca resultados, mas
procura descobertas. Não fragmenta o conhecimento
considerando todas as variáveis de uma experiência,
mas sim vendo a situação do ser humano no mundo
e como ocorre essa integração. Ao utilizar esta
metodologia, pode-se resgatar os sentimentos destes
alunos, que tiveram toda a liberdade de expor seus
pensamentos.
A aplicação desse estudo foi realizada durante o
ano de 1999. O tempo das entrevistas variou entre
30mn e 1h15mn.
As questões abordadas durante as entrevistas
foram:
- estando prestes a realizar o estágio em UTI, o
que você sente neste momento;
- descreva estes sentimentos.
Foram entrevistados 26 alunos do curso técnico
de enfermagem, 9 alunos do curso de auxiliar de
enfermagem e 5 acadêmicos do curso de enfermagem,
com idade entre 18 e 51 anos, de ambos os sexos, que
EnfermagemBrasil
Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
realizavam estágio no Hospital Pompéia. A omissão
dos nomes deve-se a preservação da identidade dos
sujeitos, compromisso firmado por ocasião das
entrevistas.
Durante o estudo, optou-se pela entrevista semiestruturada e informal, favorecendo, desta forma, uma
melhor interação com os entrevistados, permitindo
abordagens pessoais.
São necessários alguns registros para alcançarmos
os objetivos da entrevista, que deve ser realizada
somente quando tivermos um ambiente favorável.
Rogers & King [3] destacam 3 características
importantes para desenvolver as entrevistas, que são:
- calor e responsabilidade, onde o entrevistador
demonstra seu interesse pela pessoa que será
entrevistada;
- permissão de expressão de sentimento é
quando o entrevistado fala o que está sentindo e o
entrevistador não interfere;
- ausência de qualquer tipo de coerção. Aqui o
entrevistador não coloca a sua vontade.
Após ter realizado as entrevistas e de tê-las
analisado, observou-se que a maioria dos alunos referiu
a palavra ansiedade ao responder as questões. Para
Kaplan & Sadock [4], “a ansiedade é um sinal ou
indicador, para o ego da necessidade de erigir defesas
psicológicas”. Desta forma, evidenciamos que os
alunos gostariam de transpor certos momentos,
mesmo não sabendo se eles trariam respostas positivas
ou negativas.
Outra palavra bastante presente foi motivação,
que para Duncan [1] é o impulso, incentivo,
necessidade, atitude e expectativa que resulta em ação,
que converge a todos os tópicos trabalhados com os
alunos, discriminando as ações realizadas e os objetivos
a serem vencidos.
Quando NT, ao ser entrevistada, baixou a cabeça
e chorou em silencio, lembrei-me das palavras de
Crema, citado por Fraga [5], “o corpo é um
inconsciente visível. Quem vê corpo, quem vê cara,
vê coração sim, vê a alma também”.
Observou-se neste caso, que o papel do educador
era o de suprir a insegurança e o medo deste aluno,
que por ter passado por experiências anteriores, não
estava preparado para tal confronto.
De certo modo, devemos tentar nos colocar atrás
das ações de nossos alunos, para conseguirmos, através
de seus anseios, resgatar aquilo que nos quer ser dito.
Merleau-Ponty [6] já dizia, “não tenho corpo, mas eu
sou meu corpo”. Deveríamos então proporcionar ao
nosso corpo, oportunidade de demonstrar os
sentimentos que ele nos quer transmitir, pois, na
maioria das vezes, suas ações e expressões não
condizem com que é falado, porque as palavras
distorcem o que as pessoas realmente sentem em seu
coração. Deveríamos, de certa forma, falar calados.
Por outro lado, PS e LV preferiram não
identificar este momento, como predispostos de
situações onde fossem geradas expectativas ou
qualquer outro tipo de sentimento negativo. Fraga [5]
descreve que “diferentemente dos técnicos e auxiliares,
os enfermeiros não desenvolvem muitos mecanismos
de defesa” e muitos, desta forma, buscam negação
dos fatos.
Sempre foi mais viável negar, proteger, do que
falar. Então, se quisermos realmente perceber as
dificuldades dos alunos, devemos estar abertos para
um simples ouvir, para romper barreiras, que muitas
vezes fazem deles, sujeitos sem identidade.
Quando estão tristes, raramente precisam
exteriorizar através da fala o que estão sentindo, pois
o olhar, a lágrima, fala por eles. Desta forma, devemos
observar aquilo que indiretamente nos é transmitido
como ansiedade e desânimo, mas às vezes o que nos
falta é saber observar. Kaplan & Sadock [7] assim se
expressam: “a observação tem o propósito de tornar
acessível o que, de outra maneira, poderia não ser visto
ou, sendo visto, não ser notado, que muitas vezes não
depende de instrumentos especiais, mas sim de
especiais circunstâncias”.
Mas acima de tudo, antes de qualquer
circunstância, seria bom ouvir respostas para simples
perguntas. É “bom” questionar e assim compreender,
pois através da compreensão teremos respostas para
questões que nos farão repensar os nossos próprios
problemas e isto, muitas vezes, não é de nosso interesse.
Muitas vezes, para nos proteger, preferimos
ignorar nossos sentimentos. São as conhecidas
“máscaras”, citadas por Maffesoli [8] que, se em alguns
casos nos possibilitam enfrentar as duras dificuldades
encontradas em nosso cotidiano, em outros nos
impede de aprendermos a enfrentar e educar certos
sentimentos, que ainda não são bem conhecidos por
nós mesmos, dificultando o nosso auto conhecimento.
A impressão da equipe em relação aos médicos
não foi muito positiva. ED comentou: “parece que
estão em invólucros de vidro, são impenetráveis”.
Calland, citado por Merleau-Ponty [6], diz que “o
médico é mais freqüentemente um observador do que
um participante no sofrimento humano”.
MH mostra insatisfação e insegurança em realizar
procedimentos com pacientes em fase final de SIDA.
Terminou sua entrevista dizendo: “Sei que é em mim
que os profissionais se espelharão no futuro, mas
garanto que se eu pudesse escolher, não trabalharia
com eles, e se eu me ferir?”.
"!
EnfermagemBrasil
Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
Soares [9] descreveu: “Sabe-se que o perigo de
contaminação existe logo ali, esperando a menor
distração para se apresentar. Mesmo assim não
devemos viver em pânico”.
Como é possível observar, nós, destacados por
muitos pacientes como os “anjos de branco” e que
por vezes passamos aquela visão quase “angelical”,
também somos feitos de carne, ossos e sentimentos,
que devem ser levados em conta.
Sharon [10] relata ainda que: “é com o enfermeiro
que o paciente falará mais facilmente a respeito de
suas preocupações e necessidades, tanto físicas, como
emocionais ou espirituais”. É para isso que devemos
estar qualificados para ouvi-los, vencendo nossas
próprias barreiras.
Após o levantamento das dificuldades e com o
apoio de uma psicóloga, identificamos que os alunos
necessitavam do confronto dos conteúdos passados
na teoria e a visualização dos mesmos na prática.
Além disso, proporcionamos visitas nos campos
de estágio e palestras, onde questões como autocuidado, observação, relacionamento interpessoal e
morte, foram trabalhados com a finalidade de eliminar
tabus. Dizia Barros [11], “o saber definitivo não existe;
existem conquistas já estabelecidas”.
Cada dia de estágio era observado com grande
expectativa, pois queríamos estabelecer se todo
trabalho realizado traria ou não suporte para os alunos
transporem todas situações apresentadas no contexto
do estágio.
Rezende [12] diz que devemos “capacitar para o
uso da máscara e do escudo da ciência e da técnica,
transformando o aluno no ser competente dentro da
ordem profissional”, criando oportunidades e
condições de auto sustentação.
Após alguns dias iniciou-se o retorno através dos
comentários de alguns alunos. “Se eu soubesse que
seria tão fácil, não teria me estressado. Pelo contrário,
estaria bastante calma, perdi quatro quilos” (AE).
Merleau Ponty apud Polak [13] diz que não temos um
corpo, mas que somos um corpo capaz de se
comunicar com o outro e com o mundo, de estar com
eles e não apenas ao lado deles. AE, devido à
dificuldade de vencer a ansiedade, não se alimentava
chegando até a um quadro anêmico.
Podemos somente concordar, que cada vez mais
devemos proporcionar que os alunos descrevam suas
dificuldades e que também estejamos dispostos a ouvilos e ajudá-los, pois somente desta forma haverá um
crescimento para ambos.
Calland, citado por Merleau-Ponty [8], referiu:
“Trata-se do corpo de outro ou de meu próprio corpo.
Não tenho outro meio de conhecer o corpo humano
""
se não vivendo-o”. Quer dizer, retornar por minha
conta o drama que atravessa e me confundir com ele.
À medida em que desenvolvemos nossa
sensibilidade, compreendemos a validade e a
importância como forma de humanização. JT ao
transcrever a sua relação com os familiares, disse o
seguinte: “Tenho medo de dizer mais do que eu devo,
de expor fatos que não seriam da minha abrangência,
dessa forma prefiro deixar que os outros falem e
conversem com os entes”.
Segundo o DSM-III-R [14], “agorafobia é o
medo de estar em lugares ou situações dos quais seja
difícil ou embaraçante sair”. Não podemos ser
coniventes com estes fatos. Devemos criar formas das
pessoas transporem estes obstáculos.
Estamos construindo uma nova maneira de
sentirmos e fazermos enfermagem. Um fazer mais
reflexivo, critico e empático, pois nenhuma técnica
pode suprir o que o “coração” sente. Desenvolver
este caminho mais sensível não significa abrir mão
do conhecimento técnico, mas sim valorizar outras
formas de conhecimento tão importantes quanto
essa, pois o valor de um profissional não depende
somente de sua competência, mas de sua postura
enquanto ser humano.
Conclusão
Ao realizar este trabalho, foi possível assimilar a
importância de pequenos gestos ao cuidarmos de
nossos clientes, sejam eles pacientes de um hospital
ou alunos dentro de uma instituição de ensino, pois
tanto um como outro, entregam seus corpos e mentes
a nossa disposição, proporcionando a nós,
profissionais de enfermagem, a compreensão de suas
necessidades básicas e a avaliação dos resultados dos
esforços a eles destinados, pois nem sempre estaremos
na posição de cuidadores. Gostaríamos de quando
clientes, termos a certeza que estamos em boas mãos.
Referências
1. Duncan HA. Dicionário Andrei para enfermeiros e
outros profissionais da saúde. São Paulo:
Copyright;1987.
2. Morgan AJ, Moreno JW. La práctica de enfermaría di
salud mental. Colômbia: OPAS-OMS; 1979.
3. Rogers C, King M. Psicoterapia e relações humanas.
2a ed. Belo Horizonte: Interlivros; 1975.
4. Kaplan H, Sadok B. Compêndio de psiquiatria. Porto
Alegre: Artes Médicas; 1992.
5. Fraga Oliveira MN. A prática de enfermagem
EnfermagemBrasil
Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
psiquiátrica subordinação e resistência. São Paulo:
Cortez; 1993.
6. Merleau-Ponty M. 1971. Fenomenologia da percepção.
São Paulo: Livraria Freitas Bastos; 1971.
7. Kaplan H, Sadok B et al. Luto e pesar. In: Medicina
Psiquiátrica de Emergência. Porto Alegre: Artes
Médicas; 1995.
8. Maffesoli M. A conquista do presente. Rio de Janeiro:
Rocco; 1984.
9. Soares ME 1999. Vivências e relatos de profissionais,
familiares e pacientes. Porto Alegre: WS Editor; 1999.
10. Sharon F. Spiritual care. The Nurse’s Role. Downers
Grave Illinois: Copyright; 1978.
11. Barros CASM. Consultoria Psiquiátrica em uma equipe
de nefrologia. In: Alcoolismo obesidade consultoria
psiquiátrica. Porto Alegre: Movimento; 1997
12. Rezende ALM. O fio das moiras – O afrontamento
do destino no quotidiano da saúde. Florianópolis:
UFSC; 1995.
13. Polak YS. A corporeidade como resgate do humano
na enfermagem. Florianópolis: Gráfica universitária –
UFPEL; 1997.
14. DSM-III-R. Manual de diagnostico e estatística de
distúrbios mentais. São Paulo: Manole; 1989.
"#
EnfermagemBrasil
Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
Revisão
Protocolo de tratamento imediato de paciente
com lesões de queimaduras
Imediate treatment protocol for patient with burns
Protocolo de tratamiento inmediato de pacientes
con lesiones de quemaduras
Ana Paula Cunha*, Ana Paula Alves Lorenzo**, Daniele Giorgio de Aguiar***, Lílian Prates Behring****
*Enfermeira, Especialista em Administração Hospitalar, especializanda em Enfermagem de Alta Complexidade, Enfermeira Assistencialna
UTI Adulto do Hospital e Maternidade São Camilo em São Paulo, **Enfermeira, especializanda em Enfermagem de Alta Complexidade,
atuando como Enfermeira no Programa de Saúde da Família no Rio de Janeiro, ***Enfermeira, especializanda em Enfermagem de Alta
Complexidade, atuando como Enfermeira Supervisora na UTI no Hospital São Lucas no Rio de Janeiro, ****Enfermeira, especialista em
EnfermagememTerapiaIntensiva,especialistaemMBASaúde,mestrandaemEnfermagem,professoranocursodeEspecializaçãoemEnfermagem
deAltaComplexidade
Resumo
Queimaduras são causadas por transferência de energia de uma fonte de calor direta sobre o corpo. Cuidados imediatos e sistematizados
nos pacientes são necessários para manter os dados vitais. As autoras elaboraram este protocolo com o objetivo de: conhecer as
causas da queimadura; classificar queimaduras; enfocar cuidados iniciais ao paciente com lesão de queimadura e elaborar rotinas de
enfermagem que viabilizem uma assistência rápida. Faz-se necessário uma assistência de enfermagem sistematizada, com estratégias
para salvar a vida e manter as funções pulmonar, cardiovascular e renal. O enfermeiro que trabalha em centro de queimados deve
possuir conhecimentos específicos e suficientes para lidar com o paciente, as possíveis complicações, bem como com seus familiares.
Palavras-chave: Queimadura, assistência de enfermagem.
Abstract
Burnings are caused by energy transferency. Imediate and systematized care are necessary to support patients life. This
protocol was organized with objectives: offering knowledge about the causes of burns, to point out initial nursing care and
elaborate a routine procedures. A systematized nursing care with strategies to save life and mantain pulmonary and cardiac
functions are too important. The nurses who work in Burn Care Center must possess particular and ample experience to deal
with patients that suffer with burn injuries and possible complications.
Key-words: Burns, nursing care.
Artigo recebido em 24 de outubro de 2002; aceito em 15 de dezembro de 2002.
Endereço para correspondência: Ana Paula Cunha, Av. Diógenes Ribeiro de Lima,
3320 Alto da Lapa 05083-010 São Paulo SP, Tel: (11) 3836-5887 / 9795-3910,
E-mail: [email protected]
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EnfermagemBrasil
Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
Resumen
Quemaduras son causadas por transferencia de energia de una fuente de calor directa sobre el cuerpo. Cuidados inmediatos
y sistematizados en los pacientes son necesarios para mantener los datos vitales. Las autoras elaboraron este protocolo con
el objetivo de: conocer las causas de la quemadura; clasificar quemaduras; enfocar cuidados iniciales al paciente con lesión de
quemadura y elaborar rutinas de enfermería que viabilicen una asistencia rápida. Hacese necesario una asistencia de enfermería
sistematizada, con estrategias para salvar la vida y mantener las funciones pulmonares, cardiovascular y renal. El enfermero
que trabaja en el centro de quemados debe tener conocimientos específicos y suficientes para tratar con el paciente, las
posibles complicaciones, así como con sus familiares.
Palabras-clave: Quemadura, asistencia de enfermería.
Introdução
A pele é o maior órgão do corpo humano.
Protetor e impermeável à água, participa como
regulador-térmico corporal, o que a torna um órgão
vital indispensável para a sobrevivência.
As queimaduras são causadas por uma transferência
de energia de uma fonte de calor direta sobre o corpo. O
calor pode ser transferido através de uma condução ou
de radiação eletromagnética. A destruição do tecido
resulta da coagulação, da desnaturação da proteína ou da
ionização dos conteúdos celulares. A pele e as vias aéreas
superiores são os sítios de desnutrição tecidual.
As queimaduras podem ser catalogadas como:
Térmicas: causadas pela condução de calor
através de líquidos, sólidos, gases quentes e do calor
de chamas;
Elétricas: produzidas pelo contato com
eletricidade de alta ou baixa voltagem;
Químicas: provocadas pelo contato de
substâncias corrosivas, líquidas ou sólidas com a pele;
Radioativas: resulta da exposição à luz solar ou a
fontes nucleares.
As lesões causadas pelas queimaduras nos tecidos
da pele, provocadas por contato térmico, químico ou
elétrico, resultam em perda de proteínas, edema na região
afetada e perda intensa de líquidos do interior dos vasos
no local afetado, em decorrência do aumento da sua
permeabilidade. Os efeitos como choque, infecção ou
lesões do aparelho respiratório, que decorrem de uma
queimadura, são a maior ameaça a vida do paciente.
Mais da metade das queimaduras que levam à
admissão hospitalar poderia ser evitada. As crianças e os
idosos estão particularmente em risco de queimaduras.
A maioria das lesões de queimadura ocorre em casa, sendo
a cozinha, os aquecedores e o uso de aparelhos elétricos
os mais envolvidos. Os setores industriais também
respondem por um grande número de queimaduras.
A gravidade da queimadura e o risco são
avaliados sempre em função da quantidade de tecido
afetado. Esta quantidade é representada pela
porcentagem da área de superfície corporal (SC) e
pela profundidade da queimadura. Segundo esses
critérios, a classificação é a seguinte:
• Queimadura leve: quando a área afetada é
menor de 15% da SC;
• Queimadura moderada: quando a área afetada
está entre 15 a 49%;
• Queimadura extensa: quando a área afetada
situa-se entre 50 a 69%;
• Queimadura maciça: quando a área afetada
ultrapassa a 70%.
As queimaduras são classificadas de acordo com
a profundidade da destruição dos tecidos:
a) 1° grau: não ocorre destruição da derme;
acontecem edema discreto, hiperemia, eritema e dor
(sensível ao tato), pele úmida (lesão de epiderme
superficial).
b) 2° grau: destrói a epiderme e parte da derme;
caracterizada pela presença de bolhas e exsudação,
sensível ao tato, a base da lesão torna-se branca ao ser
tocada (lesão de epiderme e derme superficiais).
c) 3° grau: a derme foi completamente destruída;
a superfície da pele é dura e seca, de cor amarelada e
depois ressecada, com vasos dérmicos vistos por
transparência; as áreas afetadas apresentam-se
anestesiadas (lesão de epiderme e derme profundas).
d) 4° grau: são indolores; destrói toda a pele e
as estruturas subjacentes, como músculos,
aponeuroses, ossos, etc (lesão de espessura profunda).
A extensão da lesão em queimaduras é estimada
pela Regra dos Nove, onde a cabeça e cada membro
superior representam 9% da superfície corporal (SC),
cada membro inferior 18% da SC e tronco 36% da SC.
Os cuidados imediatos visam manter os dados
vitais do paciente. Estes incluem a manutenção das
vias aéreas para ventilação e oxigenação, interrupção
"%
EnfermagemBrasil
Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
do processo responsável pela queimadura, reposição
da perda de volume líquido e plasmático. Deve-se
procurar reconhecer e atuar quaisquer outros traumas
maiores, além do diagnóstico das alterações
metabólicas e proteção contra contaminação
bacteriana e surgimento de infecção no paciente.
Mediante ao exposto, nós, enfermeiras inscritas no
Curso de Especialização em Enfermagem de Alta
Complexidade da Universidade Gama Filho, identificamos
a necessidade de uma assistência de enfermagem
sistematizada e eficaz junto ao paciente queimado.
Deste modo, este protocolo tem como objetivo:
• Enfocar cuidados iniciais ao paciente com lesão
de queimadura;
• Elaborar rotinas de enfermagem que viabilizem
uma assistência rápida, evitando lesões secundárias;
• Classificar queimaduras;
• Conhecer as causas da queimadura.
Segue-se o protocolo:
"&
OBJETIVOS DA
ASSISTÊNCIA
PROCEDIMENTOS
DE ENFERMAGEM
PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS
OBS.:
1
Monitorização do
padrão respiratório
1.1) Manter as vias aéreas
desimpedias pelo
posicionamento adequado
da mandíbula.
A cabeça deve ser mantida
em posição neutra, utilizandose manobras manuais de
abertura das vias aéreas sem
hiperextensão cervical, pois
assegura a permeabilidade
das vias aéreas.
1.1) O posicionamento
apropriado diminui o
trabalho da respiração e
promove ótima expansão
torácica.
1.2) Observar a presença
de corpo estranho, vômito
ou sangue na cavidade
oral e removê-las através
de aspiração com técnica
asséptica.
1.2) A retirada de substâncias
estranhas favorecem a
permeabilidade das vias
aéreas.
1.3) Fornecer oxigênio
umidificado sob máscara,
caso a saturação esteja
abaixo de 90% ou em
processo clínico de cianose
(acrocianose).
1.3) Assegura umidade e
oxigênio adequados aos
tecidos lesados.
1.3) A provisão de
oxigênio umidificado
pode decrescer ainda
mais o estresse
metabólico e assegurar
uma adequada
oxigenação tecidual.
1.4) Monitorizar gases
sangüíneos arteriais.
1.4) A PCO2 aumentada e a
PO2 diminuída podem indicar
necessidade de ventilação
mecânica.
1.5) Estimular o paciente a
virar, fazer respirações
profundas, tossir e aspirar
quando necessário.
1.4) A dosagem dos
gases sangüíneos
arteriais pode estar
alterada com o decorrer
do tempo e a progressão
da lesão por inalação.
1.5) Tais medidas reduzem o
risco de atelectasia e
promove a remoção do
acúmulo de secreções
1.6) Posicionar
adequadamente o paciente
no leito.
1.6) Tal medida diminui o
trabalho da respiração e
promove ótima expansão
torácica.
1.7) Prover e prever
material suficiente para
uma traqueostomia, caso
seja necessário realizar o
procedimento.
1.7) Reunindo material
precocemente agiliza a
realização do procedimento
1.7) Nos pacientes
queimados as medidas
invasivas devem ser
evitadas, pois podem ser
vias de infecção.
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Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
OBJETIVOS DA
ASSISTÊNCIA
PROCEDIMENTOS
DE ENFERMAGEM
PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS
1
Monitorização do
padrão respiratório
1.8) Caso esteja acoplado
a prótese respiratória,
testar as respostas do
paciente pela determinação
dos gases sangüíneos.
1.8) A disfunção/obstrução
pulmonar pode ocorrer
rápida e gradualmente.
2
Manutenção
do balanço
hidroeletrolítico
2.1) Puncionar acesso
venoso periférico de grosso
calibre através de cateter
curto, preferencialmente na
área não lesada e
promover reposição
hídrica.
2.1) Para manter o estado
fluido e eletrolítico e a
adequada perfusão dos
órgãos vitais, são necessários
líquidos suficientes, nas
velocidades apropriadas
conforme prescrito.
2.1)Eventualmente pode
ser necessário violar a área
lesada para puncionar
acesso venoso.
2.2) Examinar
cuidadosamente as
extremidades (pulsos
periféricos),
particularmente se as
queimaduras forem
circunferências.
2.2) Para detectar
comprometimento da
circulação resultante do
aumento do edema.
2.2) Para reduzir o edema
pode ser indicada a
elevação dos membros
inferiores.
2.4) Iniciar e manter
balanço hídrico meticuloso.
2.4) Monitorar o paciente
quanto a choque
hipovolêmico ou sobrecarga
hídrica.
2.4) Registrando e
avaliando os fluidos
intravenosos
administrados, ingestão
oral e débito urinário,
além da pesagem diária
2.5) Verificar e registrar
sinais vitais (T/P/R/PA/PVC),
a excreção urinária e os
sinais de hipovolemia ou
de sobrecarga líquida.
2.5) A hipovolemia é o maior
risco após a queimadura; à
medida em que ocorre a
mobilização dos fluidos,
existe um crescente risco de
sobrecarga líquida e de
insuficiência cardíaca
congestiva.
2.6) Monitorizar o estado
mental e sensório.
2.6) Fornece informação
sobre adequação da
perfusão e oxigenação
cerebrais.
2.7) Solicitar exames
laboratoriais e observar
quanto à deficiência ou
excesso sérico dos
eletrólitos. Anotar os
resultados dos exames e
relatar ao médico.
2.7) No período pósqueimadura são possíveis
rápidos desvios do estado
fluido e eletrolítico, que
devem ser prontamente
corrigidos.
3.1) Observar o estado
mental, a freqüência
respiratória e os ruídos
intestinais.
3.1) Indicativas de
contaminação
bacteriana e infecção.
3
Monitorização das
infecções
OBS.:
2.7) Como eletrólitos
temos: sódio, potássio,
cálcio, fósforo e
bicarbonato.
"'
EnfermagemBrasil
Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
#
OBJETIVOS DA
ASSISTÊNCIA
PROCEDIMENTOS
DE ENFERMAGEM
PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS
OBS.:
3
Monitorização das
infecções
3.2) Remover roupas,
adornos e lentes de
contato.
3.2) Para realização de um
exame físico eficaz.
3.2) Visualização da
área lesada e facilita o
retorno venoso.
3.3) Usar assepsia em todas
as fases do tratamento:
A) lavar cuidadosamente as
mãos com agentes
germicidas antes e depois
dos cuidados;
B) portar gorro e avental;
C) quando as lesões estão
expostas ou durante os
procedimentos estéreis,
cobrir os cabelos e usar
máscara;
D) durante os curativos,
usar luvas estéreis;
E) nos cuidados com as
lesões e procedimentos
invasivos, usar técnica
asséptica,
F) trocar as veias e equipos
de soro a cada 72 horas
3.3) Tais medidas minimizam o
risco de contaminação cruzada
e propagação de infecção
bacteriana.
3.4) Promover imunização.
3.4) Devido a pele ser uma
barreira mecânica, ao ser
rompida torna-se um meio de
contaminação, uma delas pelo
Clostridium tetani, causando o
tétano.
3.5) Avaliar quanto ao
aumento do pulso,
diminuição da PA,
alterações da excreção
urinária, presença de rubor
facial e febre.
3.5) Constituem sinais tardios
de septicemia.
3.6) Realizar troca diária de
curativos com técnica
asséptica adequada,
utilizando soro fisiológico a
0,9% + clohrorexidina.
3.6) Observa-se as lesões
quanto à presença de edema,
hiperemia, drenagem
purulenta, que são indicativos
de contaminação bacteriana e
infecção.
3.7) Realizar assepsia com
técnica asséptica.
3.7) Evita contaminação do trato
respiratório, o que aumentaria as
exigências metabólicas.
3.8) Administrar antibióticos
e agentes antibacterianos
tópicos conforme prescritos.
3.8) Como medida terapêutica o
profilática é necessária uma
concentração adequada do
agente.
3.9) Proporcionar nutrição
adequada.
3.9) A nutrição adequada é
essencial para a resposta
imunológica.
3.4) Em caso de pacientes
devidamente imunizados,
fica a critério médico a
imunização ativa ou
passiva.
3.6) Promover analgesia
antes de realizar curativo,
pois proporciona maior
conforto ao paciente.
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Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
OBJETIVOS DA
ASSISTÊNCIA
PROCEDIMENTOS
DE ENFERMAGEM
PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS
3
Monitorização das
infecções
3.10) Auxiliar e/ou
promover a higiene
pessoal adequada.
3.10) Reduz o estresse
metabólico.
4
Manutenção da
temperatura corporal
4.1) Realizar curativos o mais
rápido o possível, sem
interferir na técnica.
4.1) Minimiza a perda de calor,
através da lesão queimada.
4.2) Manter lesões protegidas
por curativos.
4.2) Impede a perda de calor
através da lesão da
queimadura.
4.2) A pele participa como
regulador-térmico
corporal.
4.3) Verificar e registrar sinais
vitais de 4/4 horas.
4.3) Permite freqüente
avaliação da temperatura
corporal
4.3) A verificação retal,
apesar de mais
desconfortável, é a mais
fidedigna. A temperatura
elevada (acima de 38°C) é
um sinal de infecção. Já a
temperatura abaixo de
36°C deve ser
imediatamente informada
ao médico.
4.4) Em caso de febre,
administrar antitérmicos
conforme prescrito ou utilizar
colchas hipotérmicas.
4.4) Tal procedimento reduz o
estresse metabólico.
4.4) Caso a temperatura
não abaixe, colocar
compressas com álcool em
regiões axilar e inguinal,
mantendo sempre uma
axila livre para a
verificação da
temperatura.
4.5) Ajustar a temperatura
ambiente de acordo com as
necessidades do paciente.
4.5) Proporcionar um ambiente
quente pelo uso de
aquecedores, cobertores,
manta aquecida ou foco, o que
minimizaria a perda de calor
por evaporação.
4.5) Mantém a
temperatura corporal na
faixa de 36.1°C e
assegura que a
temperatura do quarto
não esteja nem muito
quente nem muito fria.
5.1) Passar sonda
nasogástrica (SNG) e
mantê-la em sifonagem até
o retorno da peristalse.
5.1) A queimadura produz íleo
paralítico, que resulta em
distensão gástrica e
abdominal.
5.1) A SGN em sifonagem
promove drenagem das
secreções e evita o vômito.
5.2) Realizar ausculta
abdominal de 4/4 horas
5.2) A ausência de ruídos
intestinais e decréscimo da
peristalse podem indicar íleo
paralítico, obstrução intestinal
ou sepse.
5.3) Testar resíduo gástrico.
5.3) Antes de administrar
dieta pela SNG testar o
resíduo gástrico. Grande
quantidade indica absorção
insuficiente.
5
Monitorização
do suporte
nutricional
OBS.:
5.3) Baixo pH indica
necessidade de
bloqueadores da histamina
ou antiácidos.
#
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Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
OBJETIVOS DA
ASSISTÊNCIA
PROCEDIMENTOS
DE ENFERMAGEM
PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS
5
Monitorização
do suporte
nutricional
5.4) Administrar antiácidos e
bloqueadores de histamina
conforme prescrito
5.4) Reduz o risco de ulceração
gástrica
5.5) Mensurar a
circunferência abdominal de
4/4 horas.
5.5) Tal medica auxilia na
verificação da distensão
abdominal
5.6) Administrar a dieta oral
lentamente, observando a
tolerância do paciente.
5.6) Não ocorrendo vômito
nem distensão, os fluidos
devem ser aumentados de
modo gradual.
6.1) Avaliar o paciente
quanto à dor e diferenciar da
hipóxia.
6.1) A avaliação da dor
proporciona a obtenção de
medidas para avaliar a mesma.
6.1) Utilizar a escala de
dor para avaliar sua
intensidade.
6.2) Administrar analgésicos
conforme prescrito.
6.2) A administração
endovenosa pode ser mais
eficaz, devido à alteração da
absorção e da circulação,
resultantes da queimadura.
6.2) Caso seja
administrado analgésicos
narcóticos, faz-se
importante monitorizar a
resposta respiratória.
6.3) Introduzir técnicas de
relaxamento e distrações.
6.3) O relaxamento e a
distração complementam a
analgesia e reduzem a
ansiedade.
6.4) Proporcionar apoio
emocional.
6.4) O apoio emocional é
essencial para reduzir o
extremo receio e a ansiedade
derivados do trauma da
queimadura, dos tratamentos e
resultados.
6.5) Fornecer informações
honestas sobre o estado,
procedimentos a serem
realizados (terapêutica).
6.5) Promove confiança
necessária para o bem estar
emocional do paciente e a
aceitação dos tratamentos
dolorosos.
6
Controle da dor
e ansiedade
Conclusão
O tratamento imediato de queimadura visa a
reposição de fluidos e correção de problemas agudos.
Faz-se necessário uma assistência de enfermagem
sistematizada, com estratégias para salvar a vida e
manter as funções pulmonar, cardiovascular e renal.
O enfermeiro que trabalha em centro de
queimados, deve possuir conhecimentos específicos
e suficientes para lidar com o paciente, as possíveis
complicações, bem como com seus familiares.
Acreditamos que este protocolo possa despertar
o interesse de profissionais de enfermagem para esta
#
OBS.:
área, além de poder oferecer subsídios para uma
melhor assistência profissional.
Referências
1.
2.
3.
4.
Brunner LS, Suddarth DS. Tratado de Enfermagem
Médico-Cirúrgica. 7°ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan; 1993.
Figueiredo NM. Emergência - Condutas Médicas e
Transporte. Rio de Janeiro: Revinter; 1996.
Isselbacher KJ. Harrison - Medicina Interna. 13°ed.
México: Mac Graw-Hill; 1996.
Ratton de Amorim JL. Medicina Intensiva. 2°ed. Rio
de Janeiro: Atheneu; 1997.
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Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
Atualização
O paciente e seus direitos: conhecimento das
leis que os asseguram
The patient and his or her rights: the knowledge
of the laws that assure them
El paciente y sus derechos: conocimiento
de las leyes que los protegen
Avanilde Paes Miranda
Enfermeira,Pós-graduadaemVigilânciaSanitáriaeepidemiologia,HospitalportuguêsdeRecife,PSFdeBarradeGuabiraba,Pernambuco,
Trabalhoapresentadoao5ºCongressoBrasileirodosConselhosdeEnfermagem,RecifePE
Resumo
O presente estudo originou-se pela hipótese da falta de respeito aos direitos do paciente/cliente/consumidor no âmbito
hospitalar, ocasionada, dentre outros fatores, pelo desconhecimento dos profissionais quanto a esses direitos. O estudo tem
como objetivo conhecer os principais direitos assegurados pela legislação ao cliente. A este trabalho não houve aplicação
prática, em razão da autora vivenciar a realidade hospitalar e não conhecer todos os direitos concedidos ao consumidor.
Palavras-chave: Paciente, direitos, legislação.
Abstract
This study arose from the hypothesis of the lack of respect to the patient/client/consumer’s rights in the hospital setting,
caused by, among other factors, the fact that the professionals who work there do not know these rights. This study aims at
knowing the main rights assured by the legislation to the client. In this work, there was no practical use, due to the fact that
its author experiences the hospital reality and does not know all the rights granted to the consumer.
Key-words: Patient, rights, legislation.
Recebido em 10 de janeiro de 2003; aceito em 25 de janeiro de 2003.
Endereço para correspondência: Avanilde Paes Miranda, Av. Parnamirim, 327/
301, Parnamirim 52060-000 Recife-PE, Tel: (81) 9959-5836/3269-3975,
E-mail: [email protected]
#!
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Resumen
El presente estudio se originó por la hipótesis de falta de respecto a los derechos del paciente/cliente/consumidor en el
ámbito hospitalar, ocasionada, entre otros factores, por el desconocimiento de profesionales cuanto a eses derechos. El
estudio tiene como objetivo conover los principales derechos asegurados por la legislación al cliente. Este trabajo no tuvo
aplicación prática, en razón de la autora vivenciar la realidad hospitalar y no conocer todos los derechos concedidos al
consumidor.
Palabras-clave: Paciente, derechos, legislación.
Introdução
O cidadão brasileiro, quando procura o sistema
de saúde, deixa de ser tratado como ser humano. É
considerado apenas como coisa – um osso quebrado,
uma diarréia, um coração que não funciona. Não tem
nome nem sobrenome, não é atendido de forma digna
e tratam-no sem o menor respeito.
Os direitos do paciente colocam em discussão a
complexa relação entre médicos e pacientes. A
aparência da ciência muitas vezes oculta, no
vocabulário quase mágico de sufixos e prefixos gregos
e latinos, a ausência de consciência sobre os reais
problemas com que se lida. A discussão dos direitos
do paciente é fundamental na atualidade, pois não se
resume à elaboração de uma linguagem abstrata de
direitos dificilmente exercidos, mas discute a prática
cotidiana e a forma como nascem novos direitos, em
uma relação entre cidadãos.
Essa nova relação, dá ao seu paciente direitos
sacramentados no nosso novo Código de Ética Médica,
em vigor desde 1988. Ele assegura aos pacientes o direito
a um prontuário, ficha ou registro médico e o acesso a
todas as informações que digam respeito à saúde, que
devem ser redigidas em linguagem compreensível, além
de receita com letra legível. Tem o direito a cópia do
material médico, inclusive exames laboratoriais,
radiografias, notas de enfermagem, laudos diversos,
avaliações psicológicas e psiquiátricas, entre outras.
Também estão confirmados no código de defesa
do consumidor, os direitos, explicados no artigo 72,
que o prestador de serviços, tal como médico ou
profissional de saúde, não pode “impedir ou dificultar
o acesso do cliente as informações que contem em
cadastro, banco de dados, fichas ou registros. Pena:
detenção de seis meses a um ano ou multa”. Com
isso, o paciente/cliente/consumidor/cidadão pode
recorrer também ao PROCON de sua cidade.
#"
Todos os pacientes/clientes/consumidores têm
o direito a ouvir opiniões de outros profissionais,
como também solicitar uma conferência na presença
de si. Têm o direito de recusar certos tratamento,
medicamentos, intervenções cirúrgicas ou internações.
Também têm o direito a uma morte digna, escolhendo
como e onde quer morrer, se em casa ou no hospital.
Têm o direito de visitar filho ou cônjuge quando
puder e não têm que obedecer os horários arbitrário
dos hospitais. Como também, o direito de permanecer
com acompanhante durante exames de hospitalização.
O problema
Os direitos do paciente/cliente/consumidor,
frente ao ambiente hospitalar, são confirmados no
Código de Defesa do Consumidor. Pela observação
da autora, os direitos dos pacientes não são
dignamente respeitados. Talvez seja pela falta de
esclarecimento dos profissionais de saúde, que não
conhecem os direitos do paciente/cliente/
consumidor ou por falta de uma política adequada
ou, ainda, por falta de capacitação profissional.
Justificativa do estudo
Com a progressão dos tempos aos direitos do
cliente/paciente/consumidor, caminhamos para
proporcionar melhor atenção e conforto aos clientes,
respeitando cada vez mais seus direitos. O médico
que respeita os direitos do paciente, pode fazer da
relação médico e paciente, uma relação social entre
dois seres sociais, ambos com seus direitos ocupando
uma posição determinada no universo político.
Atualmente, o paciente tem seus direitos
sacramentados em nosso Código de Ética Médica,
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Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
que entrou em vigor em 1988, assegurando-lhe o
direito de manuseio ao prontuário e todas as
informações que diz respeito a sua saúde.
Baseado no exposto, justifica-se a realização do
presente estudo, em razão da autora reconhecer a
importância dos direitos do paciente/cliente/
consumidor e por ignorar a preservação de todos os
direitos, deixando o cliente desinformado.
Além do profissional de saúde, que não
conhece os direitos do paciente, seja na função de
profissional ou até mesmo de cliente. Seja de uma
forma ou de outra, a desinformação é causa muito
importante e deve ser mostrada a todos,
identificando os direitos.
Objetivos
Objetivo geral
Conhecer os principais direitos do paciente/
cliente/consumidor, como também mostrar a
importância da comunicação, para um bom
relacionamento entre profissionais e pacientes.
Objetivos específicos
• Obter informações aos direitos do paciente
hospitalizado;
• Identificar os direitos e deveres do médico;
• Conhecer a declaração dos direitos da criança;
•Mostrar os direitos do paciente, frente a
declaração universal dos direitos humanos.
Direitos do cliente/paciente/consumidor
Declaração Universal os Direitos Humanos
(ONU-1948)
Artigo XXV – Todo homem tem direito a um
padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família
saúde e bem estar.
Constituição da República Federativa do Brasil
(05/10/1988)
Secção II – Da saúde
Artigo 196 – A saúde é direito e dever do
Estado, garantindo mediante políticas sociais e
econômicas, que visem à redução do risco de doença
e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário
às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação.
Direitos do paciente
• O paciente tem direito a atendimento humano,
atencioso e respeitoso, por parte de todos os
profissionais de saúde. Tem direito a um local digno e
adequado para ser atendimento;
• O paciente tem direito a ser identificado pelo
nome e sobrenome. Não deve ser chamado pelo nome
da doença ou agravo à saúde, ou ainda de forma
genérica ou quaisquer outras formas impróprias,
desrespeitosas ou preconceituosas;
• O paciente tem direito a receber do funcionário
adequado, presente no local, auxílio imediato e
oportuno à melhoria de seu conforto e bem estar;
• O paciente tem direito a identificar o profissional
por crachá preenchido com o nome completo, função
e cargo;
• O paciente tem direito a consultas marcadas,
antecipadamente, de forma que o tempo de espera
não ultrapasse 30 minutos;
• O paciente tem direito a exigir que todo o
material seja rigorosamente esterilizado ou descartável,
e manipulado segundo normas de higiene e
preservação;
• O paciente tem direito a receber explicações
claras sobre o exame a que vai ser submetido e para
qual finalidade irá ser coletado o material para exame
de laboratório;
• O paciente tem direito a informações claras,
simples e compreensivas, adaptadas à sua condição
cultural, sobre as ações diagnósticas e terapêuticas,
o que pode decorrer delas, a duração do tratamento,
a localização de sua patologia, se há necessidade de
anestesia, qual o instrumental a ser utilizado e quais
regiões do corpo serão afetas pelos procedimentos;
• O paciente tem direito a ser esclarecido se o
tratamento ou o dignóstico é experimental ou faz parte
de pesquisa, se os benefícios a serem obtidos são
proporcionais aos riscos e se existe probabilidade de
alterações das condições de dor, sofrimento e
desenvolvimento da sua patologia;
• O paciente tem direito de consentir ou recusarse a ser submetido à experimentação ou pesquisa. No
caso de impossibilidade de expressar sua vontade, o
consentimento deve ser dado por escrito por seus
familiares ou responsáveis;
• O paciente tem direito a consentir ou recusar
procedimentos, diagnósticos ou terapêuticas a serem
nele realizados. Deve consentir de forma livre,
voluntária, esclarecida com adequada informação.
Quando ocorrerem alterações significantes no estado
de saúde inicial ou da causa pela qual o consentimento
##
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Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
foi dado, este deverá ser renovado;
•O paciente tem direito a revogar o
consentimento anterior a qualquer instante, por
decisão livre, consciente e esclarecida, sem que lhe
sejam imputadas sanções morais ou legais;
• O paciente tem direito de ter o seu prontuário
médico elaborado de forma legível e consultá-lo a
qualquer momento. Este prontuário deve conter o
conjunto de documentos padronizados do histórico
do paciente, princípio e evolução da doença, raciocínio
clínico, exames, conduta terapêutica e demais relatórios
e anotações clínicas;
• O paciente tem direito a ter seu diagnóstico e
tratamento por escrito, identificado com o nome do
profissional de saúde e seu registro no respectivo
Conselho Profissional, de forma clara e legível;
• O paciente tem direito a receber medicamentos
básicos e também medicamentos e equipamentos de
alto custo, que mantenham a vida e a saúde;
•O paciente tem direito de receber os
medicamentos acompanhados de bula impressa de
forma compreensível e clara, com data de fabricação
e prazo de validade;
• O paciente tem direito a receber as receitas com
o nome genérico do medicamento (Lei do Genérico)
e não em código, datilografadas, em letra de forma ou
com caligrafia perfeitamente legível, e com assinatura
e carimbo contendo número do registro do conselho
profissional;
•O paciente tem direito de conhecer a
procedência e verificar, antes de receber sangue ou
hemoderivados para transfusões, se o mesmo contém
carimbo nas bolsas de sangue, atestando as sorologias
efetuadas e sua validade;
•O paciente tem direito, no caso de estar
inconsciente, de ter anotado em seu prontuário,
mediacções, hemoderivados com dados sobre a
origem, tipo e prazo de validade;
• O paciente tem direito a saber, com segurança
e antecipadamente, através de testes ou exames, que
não é diabético, portador de algum tipo de anemia ou
alérgico a determinados medicamentos (anestégicos,
penicilinas, sulfa, soro antitatânico etc.), antes de lhe
serem administrados;
• O paciente tem direito a sua integridade física
nos estabelecimentos de saúde, públicos ou privados;
• O paciente tem direito a ter acesso às contas
detalhadas referentes às despesas de seu tratamento,
exames, medicações, internações e outros procedimentos
médicos (Portaria Ministério da Saúde nº 1286, de 26/
10/1993 – Art. 8º e nº 74, de 04/05/1994);
•O paciente tem direito a não sofrer
discriminação dos serviços de saúde por ser portador
#$
de qualquer tipo de patologia, principalmente no caso
de ser portador de HIV/AIDS ou doença infectocontagiosas.O paciente tem direito a ser resguardado
de seus segredos, através de manutenção do sigilo
profissional, desde que não acarretem riscos a terceiros
ou à saúde pública. Os segredos do paciente
correspondem a tudo que, mesmo desconhecido pelo
próprio cliente, possa o profissional de saúde ter
acesso, através das informações obtidas no históricos
do paciente, exame físico, exames laboratoriais e
radiológicas;
•O paciente tem direito a manter sua privacidade
para satisfazer suas necessidades fisiológicas, inclusive
alimentação adequada e higiênicas, quer quando
atendido no leito, no ambiente onde está internado
ou aguardando atendimento;
•O paciente tem direito a acompanhante se
desejar, tanto nas consultas como nas internações. As
visitas de parentes e amigos devem ser disciplinadas
em horários compatíveis, desde que não
comprometam as atividades médico/sanitárias. Em
caso de parto, a parturiente poderá solicitar a presença
do cônjuge;
•O paciente tem direito a exigir que a
maternidade, além dos profissionais comumente
necessários, mantenha a presença de uma
neonatologista por ocasião do parto;
•O paciente tem direito a exigir que a
maternidade realize o “teste do pezinho” para detectar
a fenilcetonúria nos recém-nascidos;
•O paciente tem direito à indenização pecuniária
no caso de qualquer complicação em suas condições
de saúde motivadas por imprudência, negligência ou
imperícia dos profissionais de saúde;
•O paciente tem direito à assistência adequada,
mesmo em períodos festivos, feriados ou durante
greve dos profissionais;
•O paciente tem direito de receber ou recusar
assistência moral, psicológica, social e religiosa;
•O paciente tem direito a uma morte digna e
serena, podendo optar ele próprio (desde que lúcido)
, a família ou responsável, por local ou
acompanhamento, e ainda se quer ou não o uso de
tratamento dolorosos e extraordinários para prolongar
a vida;
•O paciente tem direito à dignidade e respeito,
mesmo após a morte. Os familiares ou responsáveis
devem ser avisados imediatamente após o óbito;
•O paciente tem o direito de não ter nenhum
órgão retirado de seu corpo sem sua prévia
aprovação;
•O paciente tem direito a órgão jurídico de
direito especifico da saúde, sem ônus e de fácil acesso.
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Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
Direitos do paciente hospitalizado
Todo paciente tem direito:
• De receber um atendimento atencioso e
respeitoso;
• A dignidade pessoal (inclusive não ser
obrigado a ficar despido mais tempo do que o
necessário e tem o direito de exigir a presença de outra
pessoa do mesmo sexo quando examinado);
• Ao sigilo ou segredo médico;
• De conhecer a identidade dos profissionais em
seu tratamento;
• À informação clara, em linguagem acessível,
sobre dignóstico, tratamento e prognóstico;
• De comunicar-se com pessoas fora do hospital
e de ter, quando necessário, um tradutor;
• De recusar tratamento e de ser informado
sobre as conseqüências médicas dessa opção;
• De ser informado de projetos de pesquisas
referentes ao tratamento e de se recusar a participar
deles;
• De receber uma explicação completa à sua
conduta hospitalar;
• De reclamar ( e a reclamação não deverá ter
influência na qualidade do tratamento);
• De recusar a realização de exames
desnecessário (por exemplo: raio X, laboratoriais etc.,
executados recentemente);
• De ter acesso a uma segunda e/ou terceira
avaliação;
• De escolher o médico e/ou o especialista
dentro do ambiente hospitalar;
• De questionar a medicação prescrita;
• De ter acesso à ficha médica.
Direitos da criança e do adolescente hospitalizado
Ministério da Justiça (Conselho Nacional dos
Direitos da Criança e do Adolescente)
Resolução número 41, de outubro de 1995
O Conselho Nacional dos Direitos da Criança e
do Adolescente, reunido em sua XXVII Assembléia
Ordinária e considerando o dispositivo do Artigo 3º
da Lei número 8242, de 12 de outubro de 1991,
resolve:
Aprovar em sua íntegra o texto oriundo da
Sociedade Brasileira P – SBP, relativo aos Direitos da
Criança e do Adolescente Hospitalizados, cujo teor
anexa-se ao presente ato.
1. Direito à proteção, à vida e à saúde com absoluta
prioridade e sem qualquer forma de discriminação;
2. Direito a ser hospitalizado quando for
necessário ao seu tratamento, sem distinção de classe,
condições econômicas, raça ou crença religiosa;
3. Direito de não ser ou permanecer
hospitalizado desnecessariamente por qualquer razão
alheia ao melhor tratamento da sua enfermidade;
4. Direito a ser acompanhado por sua mãe, pai
ou responsável durante todo o período de sua
hospitalização, bem como receber visitas;
5. Direito de não ser separado de sua mãe ao
nascer;
6. Direito de receber aleitamento materno sem
restrições;
7. Direito de não sentir dor, quando existam
meios para evitá-la;
8. Direito de ter conhecimento adequado de sua
enfermidade, dos cuidados terapêuticos e diagnóstico
a serem utilizados, do prognóstico, respeitando sua
fase conguitiva, além de receber amparo psicológico
quando se fizer necessário;
9. Direito de desfrutar de alguma forma de
recreação, programas de educação para a saúde e
acompanhamento do currículo escolar na
permanência hospitalar;
10.Direito a que seus pais ou responsáveis
participem ativamente do seu diagnóstico, tratamento
e prognóstico, recebendo informações sobre os
procedimentos a que se será submetido;
11.Direito a receber apoio espiritual/religioso,
conforme a prática de sua família;
12.Direito de não ser objeto de ensaio clínico,
provas diagnósticas e terapêuticas, sem o
consentimento de seus pais ou responsáveis e o seu
próprio, quando tiver discernimento para tal;
13.Direito a receber todos os recursos
terapêuticos disponíveis para a sua cura, reabilitação
e/ou prevenção secundária ou terciária;
14.Direito à proteção contra qualquer forma de
discriminação, negligência ou maus tratos;
15.Direito ao respeito a sua dignidade física,
psíquica e moral;
16.Direito à preservação de sua imagem,
identidade, autonomia de valores, dos espaços e
objetos pessoais;
17.Direito a não ser utilizado pelos meios de
comunicação de massa sem a expressa vontade de seus
pais ou responsáveis ou a sua própria vontade,
resguardando-se a ética;
18.Direito à confidência dos seus dados clínicos,
bem como o direito de tomar conhecimento dos
mesmos, arquivados na instituição pelo prazo
estipulado em lei;
19.Direito a ter seus direitos constitucionais e
os contidos no Estatuto da Criança e do Adolescente
#%
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Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
integralmente respeitando pelos hospitais;
20.Direito a ter uma morte digna, junto a seus
familiares, quando esgotados todos os recursos
terapêuticos disponíveis.
Declaração dos direitos da criança
Proclama pela Assembléia das Nações Unidas
em 20/11/1959
Princípio1º
A criança gozará de todos os direitos enunciados
nesta Declaração. Todas as crianças, sem qualquer
exceção, serão credores destes direitos, sem distinção
ou discriminação por motivo de raça, cor, sexo, língua,
religião, opinião política ou de outra natureza, origem
racional ou social, riqueza, nascimento ou qualquer
outra condição, quer sua ou de sua família.
Princípio2º
A criança gozará de proteção especial e ser-lheão proporcionadas oportunidades e facilidade, por lei
e por outros meios, a fim de lhe facultar o
desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e
social de forma sadia e normal e em condições de
liberdade e dignidade. Na promulgação de leis visando
a este objetivo levar-se-ão em conta, sobretudo os
interesses superiores da criança.
Princípio3º
Desde o nascimento, toda criança terá direito a
um nome e uma nacionalidade.
Princípio4º
A criança gozará dos benefícios da providência
social. Terá direito a crescer e criar-se com saúde, e
para isto, tanto a criança como a mãe, será
proporcionada proteção especial, inclusive adequados
cuidados pré e pós-natal. A criança terá direito à
alimentação, habitação, recreação e assistência médica
adequada.
Princípio5º
A criança incapacitada física ou mental, ou que
sofre algum impedimento social, serão proporcionados
tratamento, educação e cuidados especiais exigidos pela
sua condição peculiar.
Princípio6º
Para o desenvolvimento completo e harmonioso
de sua personalidade, a criança precisa de amor e de
compreensão. Criar-se-á, sempre que possível, sob os
cuidados e a responsabilidade dos pais, e sempre num
ambiente de afeto e de segurança moral e material;
salvo circunstâncias excepcionais, a criança menor de
idade não será apartada da mãe. À sociedade e às
autoridades caberá a obrigação de propiciar cuidados
especiais às crianças sem família e àquelas que carecem
de meios adequados de subsistência. É desejável a
#&
prestação de ajuda oficial ou de outra natureza à
manutenção dos filhos de famílias numerosas.
Princípio7º
A criança terá direito de receber educação, que
será gratuita e obrigatória pelo menos no grau
primário. Ser-lhe-á propiciada uma educação capaz
de promover a sua cultura geral e capacitá-la a, em
condições de iguais oportunidades, desenvolver as suas
aptidões, sua capacidade de emitir juízo e seu senso
de responsabilidade moral e social, e a tornar-se um
membro útil da sociedade. Os superiores interesses
da criança serão a diretriz a nortear os responsáveis
pela sua educação e orientação; esta responsabilidade
cabe, em primeiro lugar, aos pais. A criança terá
oportunidade para brincar e divertir-se, visando aos
propósitos mesmos de sua educação; a sociedade e as
autoridades públicas empenhar-se-ão em promover
o gozo deste direito.
Princípio8º
A criança figurará, em qualquer circunstância,
entre os primeiros a receber proteção e socorro.
Princípio9º
A criança deve ser protegida contra qualquer
forma de negligência, crueldade e exploração. Não
será jamais objeto de tráfico, sob qualquer forma. Não
será permitido à criança empregar-se antes de uma
idade mínima conveniente; de nenhuma forma será
levada a, ou ser-lhe-á permitido, empenhar-se em
qualquer ocupação ou emprego que lhe prejudique a
saúde ou a educação, ou que interfira em
desenvolvimento físico, mental ou moral.
Princípio10º
A criança gozará de proteção contra atos que
possam suscitar discriminação racial, religiosa ou de
qualquer outra natureza. Criar-se-á um ambiente de
compreensão, de tolerância, de amizade entre os
povos, e de fraternidade universal e em plena
consciência de que seu esforço e aptidão devem ser
postos a serviços de seus semelhantes.
Declaração dos direitos do deficiente mental
Aprovada pela Assembléia Geral das Nações
Unidas de 20/12/1971
1. A pessoa mentalmente retardada deve gozar,
até o mais alto grau de viabilidade, dos mesmos
direitos que os demais seres humanos;
2. A pessoa mentalmente retardada tem direito
à atenção médica e ao tratamento físico que requeira
seu caso, assim como à educação, à capacitação, à
reabilitação e à orientação que lhe permitam
desenvolver ao máximo sua capacidade e suas aptidões;
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3. A pessoa mentalmente retardada tem direito
à segurança e a um nível de vida decente. Tem direito,
na medida de suas possibilidades, a desempenhar um
trabalho produtivo ou alguma ocupação útil;
4. Se for possível, a pessoa mentalmente
retardada deve residir com sua família ou em lugar
que substitua o seu próprio lar e participar das diversas
formas de vida comunitária. O lar em que viva deve
receber assistência. No caso de ser necessário internála em estabelecimento especializado, este deve
oferecer-lhe condições tão próximas quanto possível
a uma vida normal;
5. A pessoa mentalmente retardada tem direito
a um tutor qualificado, quando isto for necessário para
protegê-la em seu bem-estar e interesses;
6. A pessoa mentalmente retardada tem direito
a proteção quanto à exploração, aos abusos e ao
tratamento degradante. Se processada por algum
crime, terá direito a um procedimento jurídico legal
com inteiro reconhecimento, dado ao seu grau de
responsabilidade mental;
7. Sempre que uma pessoa mentalmente
retardada for incapaz, em virtude da gravidade de
sua deficiência, de exercer todos os seus direitos
de maneira significativa, ou se tornar necessário
restringir ou negar todos ou alguns desses direitos,
o procedimento usado para esta restrição ou
negação de direitos precisa conter salvaguardas
legais contra todas as formas de obras de abuso.
Este procedimento precisa ser baseado na avaliação
de capacidade social da pessoa mentalmente
retardada, por peritos qualificados e deverá ser
periodicamente sujeito à revisão, com direito à
autoridade superior.
Código de ética médica
Preâmbulo
I - O presente contém as normas éticas que
devem ser seguidas pelos médicos no exercício da
profissão, independentemente da função ou cargo que
ocupem;
II – As organizações de prestação de serviços
estão sujeitas às normas deste Código;
III – Para o exercício da medicina, impõe-se a
inscrição no Conselho Regional do respectivo Estado,
Território ou Distrito Federal;
IV – A fim de garantir o acatamento e cabal
execução deste Código, cabe ao médico comunicar
ao Conselho Regional de Medicina, com discrição e
fundamento, fatos de que tenha conhecimento e que
caracterizem possível infrigência do presente Código
e das Normas que regulam o exercício da medicina;
V – A fiscalização do cumprimento das normas
estabelecidas neste Código é atribuição dos Conselhos
de Medicina, das Comissões de Ética, das autoridades
da área de saúde e dos médicos em geral.
Capítulo I
Princípiosfundamentais
Art. 1º - A medicina é uma profissão a serviço
da saúde do ser humano e da coletividade e deve ser
exercida sem discriminação de qualquer natureza;
Art. 2º - O alvo de toda a atenção do médico é a
saúde do ser humano, em benefício da qual deverá
agir com o máximo de zelo e o melhor de sua
capacidade profissional;
Art. 3º - A fim de que possa exercer a medicina
como honra e dignidade, o médico deve ter boas
condições de trabalho e ser remunerado de forma
justa;
Art. 4º - Ao médico cabe zelar e trabalhar pelo
desempenho ético da medicina e pelo prestígio e bom
conceito da profissão;
Art. 5º - O médico deve aprimorar
continuamente seus conhecimentos e usar o melhor
do progresso científico em benefício do paciente;
Art. 6º - O médico deve guardar absoluto
respeito pela vida humana, atuando sempre em
benefício do paciente. Jamais utilizará seus
conhecimentos para gerar sofrimento físico ou moral,
para o extermínio do ser humano ou para permitir e
acobertar tentativa contra a sua dignidade e
integridade;
Art. 7º - O médico deve exercer a profissão com
ampla autonomia, não sendo obrigado a prestar
serviços profissionais a quem ele não deseje, salvo na
ausência de outro médico, em casos de urgência ou
quando sua negativa possa trazer danos irreversíveis
ao paciente;
Art. 8º - O médico não pode, em qualquer
circunstância ou sob qualquer pretexto, renunciar à
sua liberdade profissional, devendo evitar que
quaisquer restrições ou imposições possam prejudicar
a eficácia e correção de seu trabalho;
Art. 9º - A medicina não pode, em qualquer
circunstância ou de qualquer forma, ser exercida como
comércio;
Art. 10 – O trabalho do médico não pode ser
explorado por terceiros com objetivos de lucro,
finalidade política ou religiosa;
Art. 11 – O médico deve manter sigilo quanto
às informações confidenciais de que tiver
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conhecimento no desempenho de suas funções. O
mesmo se aplica ao trabalho em empresas, exceto nos
casos em que seu silêncio prejudique ou ponha em
risco a saúde do trabalhador ou da comunidade;
Art. 12 – O médico deve buscar a melhor
adequação do trabalho ao ser humano e a eliminação
ou controle dos riscos inerentes ao trabalho;
Art. 13 – O médico deve denunciar às
autoridades competentes quaisquer formas de poluição
ou deterioração do meio ambiente prejudicais a vida;
Art. 14 – O médico deve empenhar-se para
melhorar as condições de saúde e os padrões dos
serviços médicos e assumir sua parcela de
responsabilidade em relação à saúde pública, à
educação sanitária e à legislação referente à saúde;
Art. 15 – Deve o médico ser solidário com os
movimentos de defesa da dignidade profissionais, seja
por remuneração condigna, seja por condições de
trabalho compatíveis com o exercício éticoprofissional da medicina e seu aprimoramento técnico;
Art. 16 – Nenhuma disposição estatutária ou
regimental de hospital ou instituição pública ou privada
poderá limitar a escolha, por parte do médico, dos
meios a serem postos em prática para o
estabelecimento do diagnóstico e para a execução do
tratamento, salvo quando em benefício do paciente;
Art. 17 – O médico investido em função de
direção tem o dever de assegurar as condições
mínimas para o desempenho ético-profissional da
medicina;
Art. 18 – As relações do médico com os demais
profissionais em exercício na área de saúde devem
basear-se no respeito mútuo, na liberdade e
independência profissional de cada um, buscando
sempre o interesse e o bem-estar do paciente;
Art. 19 – O médico deve ter, para com seus
colegas, respeito, consideração e solidariedade, sem,
todavia, eximir-se de denunciar atos que contrariem
os postulados éticos à Comissão de Ética da instituição
em que exerce seu trabalho profissional e, se necessário,
ao Conselho Regional de Medicina.
Capítulo II
Direitosdomédico
É direito do médico:
Art. 20 – Exercer a medicina sem ser
discriminado por questões de religião, raça, sexo, cor,
idade, opção sexual, nacionalidade, condição social,
opinião política ou de qualquer outra natureza;
Art. 21 – Indicar o procedimento adequado ao
paciente, observadas as práticas reconhecidamente
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aceitas e respeitando as normas legais vigentes no País;
Art. 22 – Apontar falhas nos regulamentos e
normas das instituições em que trabalhe, quando as
julgar indignas do exercício da profissão ou prejudiciais
ao paciente, devendo dirigir-se, nesses casos, aos
órgãos competentes e, obrigatoriamente, à Comissão
de Ética e ao Conselho Regional de Medicina de sua
jurisdição;
Art. 23 – Recusar-se e exercer sua profissão em
instituição pública ou privada onde as condições de
trabalho não sejam dignas ou possam prejudicar o
paciente;
Art. 24 – Suspender suas atividades, individuais
ou coletivas, quando a instituição pública ou privada
para a qual trabalhe não oferecer condições mínimas
para o exercício profissional ou não o remunerar
condignamente, ressalvadas as situações de urgência
e emergência, devendo comunicar imediatamente sua
decisão ao Conselho Regional de Medicina;
Art. 25 – Internar e assistir seus pacientes em
hospitais privados com ou sem caráter filantrópico,
ainda que não faça parte do seu corpo clínico,
respeitadas as normas técnicas da instituição;
Art. 26 – Requerer desagravo público ao Conselho
Regional de Medicina quando atingido no exercício de
sua profissão;
Art. 27 – Dedicar ao paciente, quando trabalhar
com relação de emprego, o tempo que sua experiência
e capacidade profissional recomendarem para o
desempenho de sua atividade, evitando que o acúmulo
de encargos ou de consultas prejudique o paciente;
Art. 28 – Recusar a realização de atos médicos
que, embora permitidos por lei, sejam contrários aos
ditames de sua consciência.
Capítulo III
Responsabilidadeprofissional
É vedado ao médico:
Art. 29 – Praticar atos profissionais danosos ao
paciente, que possam ser caracterizados como
imperícia, imprudência ou negligência;
Art. 30 – Delegar a outros profissionais atos ou
atribuições da profissão médica;
Art. 31 – Deixar de assumir responsabilidade
sobre procedimento médico que indicou ou do qual
participou, mesmo quando vários médicos tenham
assistido o paciente;
Art. 32 – Isentar-se de responsabilidade de
qualquer ato profissional que tenha praticado ou
indicado, ainda que este tenha sido solicitado ou
consentido pelo paciente ou seu responsável legal;
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Art. 33 – Assumir responsabilidade por ato
médico que não praticou ou do qual não participou
efetivamente;
Art. 34 – Atribuir seus insucessos a terceiros e a
circunstâncias ocasionais, exceto nos casos em que
isso possa ser devidamente comprovado;
Art. 35 – Deixar de atender em setores de
urgência e emergência, quando for de sua obrigação
fazê-lo, colocando em risco a vida de pacientes, mesmo
respaldado por decisão majoritária da categoria;
Art. 36 – Afastar-se de suas atividades
profissionais, mesmo temporariamente, sem deixar
outro médico encarregado do atendimento de seus
pacientes em estado grave;
Art. 37 – Deixar de comparecer no plantão em
horário preestabelecido ou abandoná-lo sem a presença
de substituto, salvo por motivo de força maior;
Art. 38 – Ser cúmplice com os que exercem
ilegalmente a medicina, ou com profissionais ou
instituições médicas que pratiquem atos ilícitos;
Art. 39 – Receitar ou atestar de forma secreta
ou ilegível, assim como assinar em branco folhas de
receituários, laudos, atestados ou quaisquer outros
documentos médicos;
Art. 40 – Deixar de esclarecer o trabalhador
sobre as condições de trabalho que ponham em risco
sua saúde, devendo comunicar o fato aos responsáveis,
às autoridades e ao Conselho Regional de Medicina;
Art. 41 – Deixar de esclarecer o paciente sobre
as determinantes sociais, ambientais ou profissionais
de sua doença;
Art. 42 – Praticar ou indicar atos médicos
desnecessários ou proibidos pela legislação do país;
Art. 43 – Descumprir a legislação específica nos
casos de transplante de órgãos ou tecidos, esterilização,
fecundação artificial e abortamento;
Art. 44 – Deixar de colaborar com as autoridades
sanitárias ou infringir a legislação pertinente;
Art. 45 – Deixar de cumprir, sem justificativa, as
normas emanadas dos Conselhos Federal e Regionais
de Medicina e de atender às suas requisições
administrativas, intimações ou notificações, no prazo
determinado.
Art. 47 – Discriminar o ser humano de qualquer
forma ou sob qualquer pretexto;
Art. 48 – Exercer sua autoridade de maneira a
limitar o direito do paciente de decidir livremente sobre
a sua pessoa ou o seu bem-estar;
Art. 49 – Participar da prática de tortura ou outras
formas de procedimento degradantes, desumanas ou
cruéis, ser conivente com tais práticas ou não as
denunciar quando delas tiver conhecimento;
Art. 50 – Fornecer meios, instrumentos,
substâncias ou conhecimentos que facilitem a prática
de tortura ou outras formas de procedimentos
degradantes, desumanas ou cruéis, em relação à pessoa;
Art. 51 – Alimentar compulsoriamente qualquer
pessoa em greve de fome que for considerada capaz,
física e mentalmente, de fazer juízo perfeito das
possíveis conseqüências de sua atitude.
Em tais casos, deve o médico fazê-la ciente das
prováveis complicações do jejum prolongado e, na
hipótese de perigo de vida iminente, tratá-la;
Art. 52 – Usar qualquer processo que possa
alterar a personalidade ou a consciência da pessoa,
com a finalidade de diminuir sua resistência física ou
mental em investigação policial ou de qualquer outra
natureza;
Art. 53 – Desrespeitar o interesse e a integridade
do paciente ao exercer a profissão em qualquer
instituição na qual o mesmo esteja recolhido
independentemente da própria vontade.
Parágrafo Único: Ocorrendo quaisquer atos
lesivos à personalidade e à saúde física ou psíquica
dos pacientes a ele confinados, o médico está obrigado
a denunciar o fato à autoridade competente e ao
Conselho Regional de Medicina;
Art. 54 – Fornecer meio, instrumento, substância,
conhecimentos ou participação, de qualquer maneira,
para execução de pena de morte;
Art. 55 – Usar da profissão para corromper os
costumes, cometer ou favorecer crime.
Capítulo IV
É vedado ao médico:
Art. 56 – Desrespeitar o direito do paciente de
decidir livremente sobre a execução de práticas
diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de iminente
perigo de vida;
Art. 57 – Deixar de utilizar todos os meios
disponíveis de dignóstico e tratamento a seu alcance
em favor do paciente;
Art. 58 – Deixar de atender paciente que procure
Direitoshumanos
É vedado ao médico:
Art. 46 – Efetuar qualquer procedimento médico
sem o esclarecimento e o consentimento prévios do
paciente ou de seu responsável legal, salvo em iminente
perigo de vida;
Capítulo V
Relaçãocompacientesefamiliares
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seus cuidados profissionais em caso de urgência, quando
não haja outro médico ou serviço médico em condições
de fazê-lo;
Art. 59 – Deixar de informar ao paciente o
diagnóstico, o prognóstico, os riscos e objetivos do
tratamento, salvo quando a comunicação direta ao
mesmo possa provocar-lhe dano, devendo, nesse caso,
a comunicação ser feita ao seu responsável legal;
Art. 60 – Exagerar a gravidade do diagnóstico ou
prognóstico, complicar a terapêutica ou exceder-se no
número de visitas e consultas;
Art. 61 – Abandonar paciente sob seus cuidados;
§ 1º - Ocorrendo fatos que, a seu critério,
prejudiquem o bom relacionamento com o paciente
ou o pleno desempenho profissional, o médico tem o
direito de renunciar ao atendimento, desde que
comunique previamente ao paciente ou seu responsável
legal, assegurando-se da continuidade dos cuidados e
fornecendo todas as informações necessárias ao médico
que o suceder;
§ 2º - Salvo por justa causa, comunicada ao
paciente ou a seus familiares, o médico não pode
abandonar o paciente por ser este portador de moléstia
crônica ou incurável, mas deve continuar a assisti-lo
ainda que apenas para mitigar o sofrimento físico ou
psíquico;
Art. 62 – Prescrever tratamento ou outros
procedimentos sem exame direto do paciente, salvo em
casos de urgência e impossibilidade comprovada de
realizá-lo, devendo, nesse caso, fazê-lo imediatamente
cessado o impedimento;
Art. 63 – Desrespeitar o pudor de qualquer pessoa
sob seus cuidados profissionais;
Art. 64 – Opor-se à realização de conferência
médica solicitada pelo paciente ou seu responsável legal;
Art. 65 – Aproveitar-se de situações decorrentes
da relação médico/paciente para obter vantagem física,
emocional, financeira ou política;
Art. 66 – Utilizar, em qualquer caso, meios
destinados a abreviar a morte do paciente, ainda que a
pedido deste ou de seu responsável legal;
Art. 67 – Desrespeitar o direito do paciente de
decidir livremente sobre o método contraceptivo ou
conceptivo, devendo o médico sempre esclarecer sobre
a indicação, a segurança, a reversibilidade e o risco de
cada método;
Art. 68 – Praticar fecundação artificial sem que os
participantes estejam de inteiro acordo e devidamente
esclarecidos sobre o procedimento;
Art. 69 – Deixar de elaborar prontuário médico
para cada paciente;
Art. 70 – Negar ao paciente acesso a seu
prontuário médico, ficha clínica ou similar, bem como
$
deixar de dar explicações necessárias à sua compreensão,
salvo quando ocasionar riscos para o paciente ou para
terceiros;
Art. 71 – Deixar de fornecer laudo médico ao
paciente, quando do encaminhamento ou transferência
para fins de continuidade do tratamento, ou na alta, se
solicitado.
Capítulo VI
Doaçãoetransplantedeórgãosetecidos
É vedado ao médico:
Art. 72 – Participar do processo de diagnóstico
da morte ou da decisão de suspensão dos meios
artificiais de prolongamento da vida de um possível
doador, quando pertencente à equipe de transplante.
Art. 73 – Deixar, em caso de transplante, de
explicar ao doador ou seu responsável legal, e ao
receptor, ou seu responsável legal, em termos
compreensíveis, os riscos de exames, cirurgias e outros
procedimentos;
Art. 74 – Retirar órgão de doador vivo, quando
interdito ou incapaz, mesmo com autorização de seu
responsável legal;
Art. 75 – Participar direta ou indiretamente da
comercialização de órgãos ou tecidos humanos.
Capítulo VII
Relaçõesentremédicos
É vedado ao médico:
Art. 76 – Servir-se de sua posição hierárquica
para impedir, por motivo econômico, político,
ideológico ou qualquer outro, que outro médico utilize
as instalações e demais recursos da instituição sob sua
direção, particularmente quando se trate da única
existente na localidade;
Art. 77 – Assumir emprego, cargo ou função,
sucedendo a médico demitido ou afastado em
represália a atitude de defesa de movimentos legítimos
da categoria ou da aplicação deste Código;
Art. 78 – Posicionar-se contrariamente a
movimentos legítimos da categoria médica, com a
finalidade de obter vantagens;
Art. 79 – Acobertar erro ou conduta antiética
de médico;
Art. 80 – Praticar concorrência desleal com
outro médico;
Art. 81 – Alterar prescrição ou tratamento de
paciente, determinado por outro médico, mesmo
quando investido em função de chefia ou de auditoria,
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salvo em situações de indiscutível conveniência para
o paciente, devendo comunicar imediatamente o fato
ao médico responsável;
Art. 82 – Deixar de encaminhar de volta ao
médico assistente o paciente que lhe foi enviado para
procedimento especializado, devendo, na ocasião,
fornecer-lhe as devidas informações sobre o ocorrido
no período em que se responsabilizou pelo paciente;
Art. 83 – Deixar de fornecer a outro médico
informações sobre o quadro clínico do paciente, desde
que autorizado por este ou seu responsável legal;
Art. 84 – Deixar de informar ao substituto o
quadro clínico dos pacientes sob sua responsabilidade,
ao ser substituído no final do turno de trabalho;
Art. 85 – Utilizar-se de sua posição hierárquica
para impedir que seus subordinados atuem dentro dos
princípios éticos.
Capítulo VIII
Remuneraçãoprofissional
É vedado ao médico:
Art. 86 – Receber remuneração pela prestação
de serviços profissionais a preços vis ou extorsivos,
inclusive através de convênios;
Art. 87 – Remunerar ou receber comissão ou
vantagens por paciente encaminhado ou recebido, ou
por serviços não efetivamente prestados;
Art. 88 – Permitir a inclusão de nomes de
profissionais que não participaram do ato médico, para
efeito de cobrança de honorários;
Art. 89 – Deixar de se conduzir com moderação
na fixação de seus honorários, devendo considerar as
limitações econômicas do paciente, as circunstâncias
do atendimento e a prática local;
Art. 90 – Deixar de ajustar previamente com o
paciente o custo provável dos procedimentos
propostos, quando solicitado;
Art. 91 – Firmar qualquer contrato de assistência
médica que subordine os honorários ao resultado do
tratamento ou à cura do paciente;
Art. 92 – Explorar o trabalho médico como
proprietário, sócio ou dirigente de empresas ou
instituições prestadores de serviços médicos, bem
como auferir lucro sobre o trabalho de outro médico,
isoladamente ou em equipe;
Art. 93 – Agenciar, aliciar ou desviar, por
qualquer meio, para clínica particular ou instituições
de qualquer natureza, paciente que tenha atendido em
virtude de sua função em instituições públicas;
Art. 94 – Utilizar-se de instituições públicas para
execução de procedimentos médicos em pacientes de
sua clínica privada, como forma de obter vantagens
pessoais;
Art. 95 – Cobrar honorários de paciente assistido
em instituição que se destina à prestação de serviços
públicos; ou receber remuneração de paciente como
complemento de salário ou de honorários;
Art. 96 – Reduzir, quando em função de direção
ou chefia, a remuneração devida ao médico, utilizandose de descontos a título de taxa de administração ou
quaisquer outros artifícios;
Art. 97 – Reter, a qualquer pretexto, remuneração
de médicos e outros profissionais;
Art. 98 – Exercer a profissão com interação ou
dependência de farmácia, laboratório farmacêutico,
ótica ou qualquer organização destinada à fabricação,
manipulação ou comercialização de produtos de
prescrição médica de qualquer natureza, exceto
quando se tratar de exercício da Medicina do Trabalho;
Art. 99 – Exercer simultaneamente a Medicina e
a Farmácia, bem como obter vantagens pela
comercialização de medicamentos, órteses ou próteses,
cuja compra decorra da influência direta em virtude
da sua atividade profissional;
Art. 100 – Deixar de apresentar, separadamente,
seus honorários quando no atendimento ao paciente
participaram outros profissionais;
Art. 101 – Oferecer seus serviços profissionais
como prêmio em concurso de qualquer natureza.
Capítulo IX
Segredomédico
É vedado ao médico:
Art. 102 – Revelar fato de que tenha conhecimento
em virtude do exercício de sua profissão, salvo por justa
causa, dever legal ou autorização expressa do paciente;
Parágrafo Único: Permanece essa proibição,
a) Mesmo que o fato seja de conhecimento
público ou que o paciente tenha falecido;
b) Quando do depoimento como testemunha.
Nesta hipótese, o médico comparecerá perante a
autoridade e declarará seu impedimento;
Art. 103 – Revelar segredo profissional referente
ao paciente menor de idade, inclusive a seus pais ou
responsáveis legais, desde que o menor tenha capacidade
de avaliar seu problema e de conduzir-se por seus
próprios meios para solucioná-lo, salvo quando a não
revelação possa acarretar danos ao paciente;
Art. 104 – Fazer referência a casos clínicos
identificáveis, exibir pacientes ou seus retratos em
anúncios profissionais ou na divulgação de assuntos
médicos em programas de rádio, televisão ou cinema,
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e em artigos, entrevistas ou reportagens em jornais,
revistas ou outras publicações legais;
Art. 105 – Revelar informações obtidas quando
do exame médico de trabalhadores, inclusive por
exigência dos dirigentes de empresa ou instituições,
salvo se o silêncio puser em risco a saúde dos
empregados ou da comunidade;
Art. 106 – Prestar a empresas seguradoras
qualquer informação sobre as circunstâncias da morte
de paciente seu, além daquelas contidas no próprio
atestado de óbito, salvo por expressa autorização do
responsável legal ou sucessor;
Art. 107 – Deixar de orientar seus auxiliares e de
zelar pelo segredo profissional a que estão obrigados
por lei;
Art. 108 – Facilitar manuseio e conhecimento
dos prontuários, papeletas e demais folhas de
observações médicas sujeitas ao segredo profissional,
por pessoas não obrigadas ao mesmo compromisso;
Art. 109 – Deixar de guardar o segredo
profissional na cobrança de honorários por meio
judicial ou extrajudicial.
Considerações finais
Diante do exposto considera-se que:
- Os direitos do paciente/cliente/consumidor
não são respeitados pela maioria dos profissionais
$"
pela falta de conhecimento dos mesmos;
- Há falta de informação ao paciente sobre seus
direitos no âmbito hospitalar;
- A obrigatoriedade ao cumprimento dos direitos
da criança, proclamados pelas Nações Unidas, faz-se
necessária em todo contexto de saúde, principalmente
no âmbito hospitalar.
Bibliografia
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2.
Bioética, Revista do Conselho Federal de Medicina.
Código de Ética Médica. Legislação dos Conselhos
de Medicina. Resolução: CFM 1246, 08/01/1988.
3. Código de Proteção e de Defesa do Consumidor. Lei
8078/90.
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cidadania na saúde. Rio de Janeiro: DP&A; 1988.
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de sobrevivência. 6ª edição. Rio de Janeiro: Record;
1991.
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saúde. 7ª ed. Rio de Janeiro: Editora Record;1998.
7. Gauderer EC. O Adolescente, a declaração dos direitos
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(Rio de J);1990.
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consumidor. Rio de Janeiro: Record; 1991.
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Brasilia-DF.
10. Siqueira L. Comentários ao estatuto da criança e do
adolescente. Rio de Janeiro: Forense; 1991.
EnfermagemBrasil
Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
Atualização
Desenvolvimento do Programa Saúde
da Família no Brasil
Bianca Ligi Gradaschi da Costa
Enfermeiraespecialistaemfitoterapia,EscoladeEnfermagemSãoFranciscodeAssis,CaxiasdoSulRS,PrefeituraMunicipaldeAntonioPradoRS
Programa Saúde da Família (PSF), também dito
estratégia, foi criado em sua atual concepção, na década
de 90, inspirado em experiências de outros países, cuja
a saúde pública alcançou níveis interessantes de
qualidade, com investimento na promoção da saúde,
como Cuba, Inglaterra e Canadá, sendo precedido pela
criação do PAS - Programa Agentes de Saúde (Ceará
1987) e PACS - Programa Agentes Comunitários de
Saúde (Brasil 1991).
No Brasil, adquiriu suas próprias características
pela nossa realidade, sabidamente difícil. O PSF existe
em praticamente todo o país. Foi instituído
oficialmente pelo Ministério da Saúde em 1994.
A Unidade de Saúde da Família trabalha com
território de abrangência definido e é responsável pelo
cadastramento e o acompanhamento da população
vinculada (adscrita) a esta área. Recomenda-se que uma
equipe seja responsável por, no máximo, 4.500 pessoas.
Cada equipe do PSF é composta, no mínimo,
por um médico, um enfermeiro, um auxiliar de
enfermagem e de quatro a seis agentes comunitários
de saúde (ACS). Outros profissionais - a exemplo de
dentistas, assistentes sociais e psicólogos - poderão
ser incorporados às equipes ou formar equipes de
apoio, de acordo com as necessidades e possibilidades
locais. A Unidade de Saúde da Família pode atuar com
uma ou mais equipes, dependendo da concentração
de famílias no território sob sua responsabilidade
Objetivos, papel social e do enfermeiro
Entre outros objetivos, é a promoção da saúde
e prevenção de doenças são as ações prioritárias. E
não há outro modo de viabilizar tais metas, se não o
de planejar, prever e preparar o município, os
profissionais e as comunidades para a empreitada,
que em alguns casos têm obtido excelentes resultados
e alcançado saídas criativas, comprometidas e
transformadoras, em termos práticos, reduzindo a
mortalidade infantil, alterando positivamente outros
indicadores, viabilizando acesso a um serviço mais
humanizado e contribuíndo em decisões políticas
influentes à melhoria da qualidade de vida das
comunidades, acreditando e investindo efetivamente
em parcerias.
O Programa de Saúde da Família (PSF)
apresenta-se como estratégia de reorganização da
atenção à saúde, que se caracteriza por um modelo
centrado no usuário, demandando das equipes a
incorporação de discussões sobre a necessidade de
humanizar a assistência médico-sanitária em nosso
país. Humanizar significa reconhecer as pessoas que
buscam nos serviços de saúde a resolução de suas
necessidades de saúde como sujeitos de direitos; é
observar cada pessoa e cada família, em sua
singularidade, em suas necessidades específicas, com
sua história particular, com seus valores, crenças e
Endereço para correspondência: Rua Waldemar Mansueto Graviotti, 350/2
Centro 95250-000 Antonio Prado RS, Tel: (54) 293-1310,
E-mail: [email protected]
$#
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desejos, ampliando as possibilidades para que possam
exercer sua autonomia. Qualquer pessoa, independente
de sua idade, tendo condições intelectuais e
psicológicas para apreciar a natureza e as
conseqüências de um ato ou proposta de assistência à
sua saúde, deve ter oportunidade de tomar decisões
sobre questões relacionadas à sua saúde, ou seja, poder
agir como pessoa autônoma.
Na prática da assistência à saúde, é comum a
utilização da autoridade profissional para favorecer ou
perpetuar a dependência dos usuários em lugar de
promover sua autonomia. Entretanto, compreendese que é exatamente a relação de confiança existente
entre os profissionais de saúde e os usuários, que
determina a obrigatoriedade de respeitar a autonomia
destes, incluindo o dever de conversar e expor-lhes a
informação de maneira compreensível. Essa relação
de confiança no Programa de Saúde da Família é
reforçada pelo vínculo e responsabilidade que
decorrem da adscrição das famílias de determinada
região a uma equipe específica.
Assim, para trabalhar na perspectiva de família,
é necessário acreditar que a doença é uma experiência
que envolve toda a família. Esse pressuposto permite
que os enfermeiros pensem e envolvam todos os seus
membros na sua assistência.
O processo de cuidar da família pode ser
entendido como uma metodologia de ação, baseada
COBERTURA DE EQUIPES SAÚDE DA FAMÍLIA
Fevereiro/2002
Nº de Municípios
População
UF
Total
Com ESF
%
TOTAL(1)
Acompanhada (2)
%
Nº ESF (3)
AC
AM
AP
PA
RO
RR
TO
NORTE
AL
BA
CE
MA
PB
PE
PI
RN
SE
NORDESTE
DF
GO
MS
MT
C. OESTE
ES
MG
RJ
SP
SUDESTE
PR
RS
SC
SUL
TOTAL
22
62
16
143
52
15
139
449
102
417
184
217
223
185
222
167
75
1.792
1
246
77
139
463
78
853
92
645
1.668
399
497
293
1.189
5.561
17
43
2
74
43
9
100
288
97
141
182
104
199
170
210
144
67
1.314
1
214
57
115
387
60
615
77
364
1116
290
175
235
700
3.805
77,27%
69,35%
12,50%
51,75%
82,69%
60,00%
71,94%
64,14%
95,10%
33,81%
98,91%
47,93%
89,24%
91,89%
94,59%
86,23%
89,33%
73,33%
100,00%
86,99%
74,03%
82,73%
83,59%
76,92%
72,10%
83,70%
56,43%
66,91%
72,68%
35,21%
80,20%
58,87%
68,42%
574.355
2.900.240
498.735
6.341.736
1.407.886
337.237
1.184.895
13.245.084
2.856.629
13.214.114
7.547.620
5.730.467
3.468.594
8.008.207
2.873.010
2.815.244
1.817.301
48.331.186
2.097.447
5.116.462
2.111.036
2.560.584
11.885.529
3.155.016
18.127.096
14.558.545
37.630.106
73.470.763
9.694.709
10.309.819
5.448.736
25.453.264
172.385.826
244.950
990.150
89.700
1.017.750
376.050
224.250
648.600
3.591.450
1.776.750
2.256.300
3.984.750
1.424.850
2.311.500
3.698.400
2.063.100
1.445.550
1.176.450
20.137.650
193.200
2.559.900
541.650
1.003.950
4.298.700
1.010.850
6.127.200
2.646.150
4.443.600
14.227.800
3.301.650
1.076.400
2.387.400
6.765.450
49.021.050
42,65%
34,14%
17,99%
16,05%
26,71%
66,50%
54,74%
27,12%
62,20%
17,07%
52,79%
24,86%
66,64%
46,18%
71,81%
51,35%
64,74%
41,67%
9,21%
50,03%
25,66%
39,21%
36,17%
32,04%
33,80%
18,18%
11,81%
19,37%
34,06%
10,44%
43,82%
26,58%
28,44%
71
287
26
295
109
65
188
1.041
515
654
1.155
413
670
1.072
598
419
341
5.837
56
742
157
291
1.246
293
1.776
767
1.288
4.124
957
312
692
1.961
14.209
1) População Estimada IBGE - 2000
2) Estimativa- base de cálculo 3450 pessoas por ESF
3) Equipes de Saúde da Família
Fonte: SIAB - Sistema de Informação da Atenção Básica
$$
EnfermagemBrasil
Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
num referencial teórico, isto é, o enfermeiro tem de
ser competente em acessar e intervir com as famílias,
num relacionamento cooperativo - profissional/
família, tendo como base uma fundamentação teórica.
Para tanto, deve aliar os conhecimentos científico e
tecnológico, às habilidades de observação,
comunicação e intuição.
O cuidado na saúde da família tem como objetivo
a promoção da saúde através da mudança. A proposta
é ajudar a família a criar novas formas de interação
para lidar com a doença, dando novos significados
para a experiência de doença. Deve-se conhecer, por
exemplo, o que a família pensa sobre o que causou a
doença e as possibilidades de cura, a fim de ajudar a
família a modificar crenças, que dificultam a
implementação de estratégias para lidar com o cuidado
da pessoa que está doente.
Exemplos de atividades do enfermeiro
- Visita domiciliar;
- Consulta de enfermagem;
- Educação para a saúde;
- Estabelecer um vinculo de confiança e respeito;
- Promover mudanças;
- Identificar necessidades relativas à saúde;
- Recomendar e priorizar;
- Encaminhar;
- Reconhecer o nível de entendimento da
comunidade;
- Utilizar um vocabulário apropriado;
- Estabelecer acordos com os usuários;
- Realizar oficinas educativas, palestras;
- Registrar informações;
- Motivar a participação e auto-estima;
- Supervisionar o trabalho do ACS e do Auxiliar
de Enfermagem;
- Realizar consultas na unidade de saúde.
Dados atuais
O Programa Saúde da Família já está funcionando
em 4.266 municípios brasileiros. Dando atenção especial
aos idosos, crianças, mulheres e gestantes.
Os resultados alcançados são significativos:
- Redução dos índices de mortalidade infantil;
- Diminuição do número de mortes por doenças
de cura simples e conhecida;
- Diminuição das filas nos hospitais das redes
pública e conveniada com o SUS.
Objetivos
Cada equipe do PSF atende entre 600 e 1.000
famílias - 3.475 pessoas em média. Hoje são 10.788
equipes atuando no país, atendendo 36 milhões de
brasileiros.
A meta do Ministério da Saúde é ampliar para
20 mil o número de equipes do Saúde da Família,
atendendo 69 milhões de pessoas até 2002.
$%
EnfermagemBrasil
Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
Resumos de Trabalhos
Trabalhos apresentados no 5º Congresso Brasileiro dos Conselhos de
Enfermagem, Recife, PE - 07 a 11 de outubro de 2002
Tatianne Comin Muller*,
Mery Lillian Eickoff**,
Narciso Soares***,
Magliane Balbe***
*Especialista em Saúde Coletiva pela
UNIFRAN, Mestre em Bioquímica
Toxicológica pela UFSM, professora
dadisciplinadeEnfermagem
Cirúrgica, EnfermagemCirúrgica,
**Especialista em Saúde Coletiva,
professoradadisciplinade
EnfermagemPsiquiátrica, membro
do GEPESE, ***Acadêmicos do 6º
semestredocursodeEnfermagemda
UniversidadeRegionalIntegradado
Alto Uruguai e das Missões, URI
campusSantoÂngelo,bolsistasdo
PROBIC/CNPQ. Trabalho
desenvolvidonoGrupodeEstudosem
EnfermagememSaúdeeEducação
(GEPESE/URI)
Endereçoparacorrespondência:
Tatiane Muller, Rua Samuel Morse,
53/403, 98803-180 Santo Ângelo
RS, Tel: (55) 331-8043, E-mail:
[email protected]
$&
A educação através do lúdico como estratégia do cuidado
Este estudo está sendo realizado como um projeto de extensão, junto ao
Centro de Apoio ao Diabético no município de Santo Ângelo, como uma das
estratégias de auxílio as orientações aos clientes portadores de diabetes.
Acreditamos que muitas das ações em saúde realizadas pela enfermagem são
oriundas da reflexão, sobre ser educador e cuidador; da contemporaneidade e da
necessidade de reconhecer o “ser” cuidado como sujeito independente, resgatando
sua autonomia, levando o indivíduo a lidar com os problemas de saúde através de
construções e circulação de conhecimentos oriundos de saberes distintos.
Tivemos por objetivos estruturar formas alternativas de abordagem do sujeito
diabético, que respeitassem-no em seu dia-a-dia, assegurando integração nas relações
do grupo, resgatando as coisas do cotidiano, levando-os a refletir, buscando a
conscientização sobre a necessidade de se apropriar de conhecimento, visando o
resgate do seu auto-cuidado. A amostra compõem-se de 15 indivíduos diabéticos
de ambos os sexos na faixa etária de 50 a 75 anos, com o diagnóstico de déficit de
auto-cuidado. O estudo é de caráter quanti-qualitativo, desenvolvido através de
oficinas semanais. Dentre os temas gerados no grupo, destacamos: alimentação, na
forma de preparação dos alimentos de interesse do grupo; cuidados com os pés,
realizado através da limpeza básica, do corte correto das unhas, da avaliação da
circulação vascular periférica, entre outros temas emergidos. Os depoimentos estão
sendo colhidos através da transcrição e filmagem. As oficinas são coordenadas de
forma multidisciplinar, sem a presença de um líder e sim com facilitadores,
respeitando a transculturalidade dos indivíduos, buscando estimular a capacidade
reflexiva e cognitiva dos sujeitos envolvidos, em que os conhecimentos são
partilhando. A estruturação de vivências e relações de trocas proporcionadas pela
metodologia escolhidas, resgataram a visão holística e uma melhor compreensão
da estruturação do cuidado pelos diabéticos, formando vínculos, proporcionando
importantes instrumentos como a identificação de fatores que limitam a aderência
deles ao cuidado. Um destes fatores identificados é a ausência da formação de
vínculo entre o cliente e o profissional da equipe de saúde, ou então, a não valorização
das experiências dos clientes por parte do profissional. As orientações estão sendo
trocadas através de práticas alternativas, criativas e inovadoras para a abordagem de
uma enfermidade crônica, demandando novos aprendizados e mudanças nas
concepções de educação para a saúde. As etapas de levantamento dos temas
geradores, a codificação e descodificação estão sendo trabalhadas e devolvidas aos
participantes para sua avaliação. E posteriormente são analisadas. Os dados obtidos
através do compartilhamento das vivências, estão nos levando a reflexões, sobre a
valorização de nossas pluralidades e da troca de conhecimentos.
EnfermagemBrasil
Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
Priscilla Augusta da Rocha
Alves*, Wanessa Cristina
Tomaz dos Santos Barros**,
Ana Luiza Donida Ferreira*,
Sanzia Lúcia Paulino de
Sousa***
*Alunado8ºperíododoCursode
GraduaçãoemEnfermageme
Obstetrícia,UniversidadeFederaldo
Rio Grande do Norte, Natal, RN,
**Aluna do 7º período do Curso de
GraduaçãoemEnfermageme
Obstetrícia,UniversidadeFederaldo
Rio Grande do Norte, ***Professora
daDisciplinaEnfermagemem
SaúdeColetivadoDepartamentode
EnfermagemdaUniversidade
FederaldoRioGrandedoNorte
Endereçoparacorrespondência:
WanessaCristinaTomazdosSantos
Barros, Rua Araxá, nº 4998, Cj.
Pirangi. 59084–070 Natal RN,
Tel: (84) 217-2066, E-mail:
[email protected]
Ilda Machado de Lima
Koaski*, Lourdes Emilia
R.Novakoski**, Luciana de
Lima Koaski***, Márcia Maria
Rodrigues de Castro****
*EnfermeiradePrograma deSaúde
de Família, **Enfermeira Profa. Dra.
UniversidadeFederaldoParaná,
***TecnicaemEnfermagem,
****Professora da 1ª a 4ª série e
ConselheiraTutelar,Trabalho
realizadopeloNúcleodeExtensão
ePesquisaemSaúde,Ambientee
DesenvolvimentodeServiços,
DepartamentodeEnfermagem
UFPR, setor Ciências da Saúde,
orientador: Lourdes Emilia
R.Novakoski
Endereçoparacorrespondência:Ilda
Machado, Rua da Lua 300 casa
14, 81910-390 Curitiba PR,
E-mail: [email protected]
Conhecer para cuidar: perfil da clientela inscrita num
programa de assistência e controle ao diabético em Natal
Diabetes mellitus, doença crônica, incurável, que atinge todas as classes
sócio-econômicas; seu controle implica numa terapia que envolve
coordenação de medicamentos, dieta e exercícios, numa rotina diária de
trabalho. Objetivando uma assistência de qualidade aos diabéticos da
Unidade Básica de Pirangi (Natal-RN), buscou-se conhecer as necessidades
manifestas e subjetivas de cada inscrito, para elaboração de estratégias de
prevenção, tratamento, diminuição das complicações e mortalidade. A
metodologia usada foi exploratória descritiva, com amostra não
probabilística constituída de 65 inscritos no programa. A coleta de dados
ocorreu através do histórico de enfermagem preenchido na primeira
consulta. Os resultados evidenciam que a maioria da população estudada é
do sexo feminino, na faixa etária entre 50 e 70 anos, aposentados, não
terminaram o ensino fundamental, classificados como diabéticos tipo 2 e
possuem história de diabetes na família. Concluímos que o conhecimento
das pessoas que cuidamos é importante para que as ações alcancem seus
objetivos.
O olhar da enfermagem e a questão da violência na
infância e na adolescência: conselho tutelar
O trabalho tinha com objetivo de sensibilizar profissionais da educação
e saúde, comunidades, organizações não-governamentais acerca da
problemática da violência contra crianças e adolescentes. Trata-se de um estudo
exploratório descritivo, com aporte do método qualitativo, desenvolvido no
Conselho Tutelar de um município da região metropolitana de Curitiba/
Paraná. A coleta de dados foi realizada em duas etapas. Na primeira, estudo
do Conselho Tutelar, localização física, inserção no município, infra-estrutura,
dinâmica funcional e percepções da comunidade. Na segunda, foram analisadas
as fichas de atendimento do Conselho Tutelar, no período de janeiro 1996 a
junho de 2001, totalizando 10.000 unidades. As informações foram
transportadas em planilhas, analisadas com suporte do Programa Epi-Info
6.04. Os resultados deste estudo, em decorrência de suas limitações, não
pretende chegar a generalizações aplicáveis a outras realidades, mas levantar
aspectos importantes que possam suscitar a reflexão e o debate sobre a
violência contra a criança e adolescente, assim como do papel do Conselho
Tutelar, dos profissionais da saúde e educação, da família e comunidade. O
processamento das informações e análise dos dados permitiram os seguintes
resultados: caracterização dos tipos de violência, local de ocorrência, perfil
dos agressores, o surgimento de novas modalidades de violência contra
adolescentes, recidivas, condutas/encaminhamentos efetuados pelos conselheiros.
Com base no estudo dessa realidade, foram promovidos o Io Seminário sobre a
Violência na Infância e na Adolescência e a Va Conferência Municipal dos
$'
EnfermagemBrasil
Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
Direitos da Criança e Adolescente e de Assistência Social, que contaram
com a participação de vários segmentos institucionais do Município e da
sociedade civil organizada.
Elione Ferrari Marquart Souza
EnfermeiraLicenciadaatuacomo
fiscaljuntoaoConselhoRegional
deEnfermagemdeSãoPaulo
Endereçoparacorrespondência:
Eliane Ferrari M. Souza, Rua Major
Avelino Vieira de Andrade Palma,
185, 14096-240 Ribeirão Preto SP,
Tel: (16) 629-4343, Fax: (16) 6350539
Maria Andrade e Silva*, Erica
Lima Ramos**, Alex Ximenes
de Moraes***, Angelisa
Ribeiro Leite dos Santos****
*Professora assistente II
doDepartamentodeEnfermagem
em Saúde Pública EEAP/
UNIRIO, **Graduanda do curso
de Enfermagem da EEAP/
UNIRIO, ***Graduando
de Enfermagem da EEAP/
UNIRIO, Bolsista institucional
da UNIRIO, ****Graduanda do
curso de Enfermagem da EEAP/
UNIRIO, Colaboradora do Projeto
deExtensãoBrincandoemSaúde
Endereçoparacorrespondência:
Erica Lima Ramos, Rua
Cambaúba, 439/303 Ilha do
Governador, 21940-000 Rio de
Janeiro RJ, E-mail:
[email protected]
%
A consulta de enfermagem na atenção básica à saúde:
aspectos éticos e legais
Com a municipalização da assistência à saúde, onde cada município
oferece no mínimo a atenção básica, e com a implantação dos Programas de
Saúde da Família, é grande o número de enfermeiros atuando em Saúde
Pública. Pude observar em minha atividade profissional no estado de São
Paulo, que o enfermeiro se ocupa das questões administrativas das unidades
de saúde e não há um diferencial no seu atendimento em relação aos demais
membros da equipe de enfermagem, na assistência ao cliente. Os registros
em prontuários são escassos e não há planejamento e sistematização da
assistência. O objetivo deste estudo é uma revisão bibliográfica e documental
sobre o tema em questão, abordando os aspectos éticos e legais, destacando
a importância da atuação na prevenção e promoção da saúde, além da
implantação da consulta de Enfermagem no trabalho do enfermeiro, como
integrante da equipe multiprofissional no Sistema Único de Saúde.
Brincando em saúde: temáticas típicas dos escolares
sobre sexualidade
O projeto “Brincando em Saúde” surgiu a partir de atividades
desenvolvidas numa Unidade Básica de Saúde de um município do Rio de
Janeiro. Tem por objetivo construir uma assistência de enfermagem para o
atendimento à criança, enquanto sujeito, não mais um objeto da ação
profissional, possibilitando, assim, a consciência crítica e emancipadora nas
questões de saúde. Desta construção surgiu uma parceria com uma escola
municipal no Estado do Rio de Janeiro. Após vários encontros, percebeuse a necessidade de se trabalhar questões sobre sexualidade do escolar.
Utilizamos a colocação de urnas nas séries, buscando conhecer as temáticas
típicas dos escolares sobre sexualidade. Após a identificação deste temas,
houve a construção de estratégias, onde os assuntos foram organizados.
Com as ações desenvolvidas, reforçamos a nossa certeza da necessidade de
um trabalho interdisciplinar entre educadores e enfermeiros, almejando,
junto aos escolares, a possibilidade de construção de uma consciência crítica
e emancipadora nas questões de saúde.
EnfermagemBrasil
Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
Maria da Conceição
Ferreira*, Marilene Gomes
Silvestre**, Mônica
Becker***, Virgínia Maria
Coelho Holanda****
Estudo qualitativo sobre a inadequada exposição do lixo
e suas conseqüências para uma comunidade da cidade
de Olinda-PE
*PsicólogaInstrutoradoServiço
NacionaldeAprendizagem
Comercial, Vitória de Santo Antão
–Pernambuco,**Enfermeira
InstrutoradoServiçoNacionalde
Aprendizagem Comercial – Vitória
deSantoAntão–Pernambuco,
***EnfermeiradeOrganizaçãonão
governamentalalemã,prestando
serviçosnoBrasil,paraoPrograma
deSaúdedaFamíliadeOlinda–
Pernambuco, ****Enfermeira do
InstitutoMaterno-Infantilde
Pernambuco–Recife–Pernambuco
Endereçoparacorrespondência:
Virgínia Maria CoelhoHolanda,
Av. Saldanha Marinho, 577 –
IPSEP – 51190-660 Recife PE,
Tel: (81)9182-1454, E-mail:
[email protected]
Idéia central do trabalho: Apresentar histórico do lixo, seu impacto nas grandes
cidades e opções de solução para o lixo urbano, ressaltando o agravamento do
problema, pela cultura consumista vigente, falta de seriedade dos órgãos
responsáveis e da passividade dos cidadãos em conviver com o lixo.
Objeto do estudo: Relatar a importância dos catadores, como recicladores do
lixo urbano.
Objetivos: Identificar o conhecimento das esposas de catadores de lixo de
Olinda, acerca da geração e do destino do lixo doméstico, além das conseqüências
da exposição ao lixo em sua qualidade de vida
Metodologia: Estudo descritivo, observacional, qualitativo, através de visitas
à comunidade e entrevistas estruturadas a 20 esposas de catadores de lixo.
Resultados: Identificaram que 21,4% conceituaram-no corretamente como
resíduos domésticos; 7,1% como itens reaproveitáveis e 64,2% como doença,
atribuída à freqüência com que vivenciavam patologias preveníveis. Embora
55,0% reconhecessem a competência da prefeitura na coleta, 70,0%
desconheciam o destino ou jogam-no nas cercanias das residências.
Conclusão: Concluíram que a conscientização e o comprometimento com
a conservação da limpeza do bairro eram deficientes. Sugeriram trabalho, em
parceria com a prefeitura, membros da comunidade, profissionais de saúde e
de educação, para gerar condições para manutenção dessa limpeza, promovendo
melhor qualidade de vida da comunidade.
Flora Marta Giglio Bueno*,
Marcos de Souza Queiroz**
A construção da autonomia profissional: o trabalho do
enfermeiro no contexto hospitalar
*E
nfermeira,MestreemEnfermagem,
responsávelpeloServiçode
EnfermagemdoAmbulatóriode
OtorrinolaringologiadoHospitaldas
Clínicas da UNICAMP,
**Antropólogo, Doutor em
SociologiadaSaúde,pesquisadordo
COCEN/UNICAMP
Endereçoparacorrespondência:Flora
Marta Giglio Bueno, Rua
DesembargadorAntãodeMorães,
195, 13083-310 Campinas SP,
E-mail: [email protected]
Esta investigação identifica fatores que interferem na qualidade da prática de
enfermagem. Faz, também, algumas considerações sobre o cuidado à saúde, o
desenvolvimento histórico da enfermagem e dos cuidados em enfermagem, o
processo de trabalho que se desenvolve, sua organização e, a partir daí, salienta a
importância de uma reflexão crítica dos enfermeiros, enquanto sujeitos que devem
atuar redimensionando continuamente a sua prática. O estudo foi desenvolvido
em um hospital universitário, utilizando-se uma abordagem quantitativa e qualitativa.
É proposto um repensar na maneira de desenvolver o trabalho do profissional
enfermeiro de modo a estimular seu compromisso com a produção de saúde, ao
mesmo tempo em que se procura garantir maior nível de satisfação no exercício da
profissão e procura-se demonstrar a necessidade de atitudes mais expressivas,
posturas mais ativas e reflexivas, saberes mais específicos para que então se torne
efetivamente um profissional essencial e com maior visibilidade social.
%
EnfermagemBrasil
Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
Carmen Lúcia Lupi Monteiro
Garcia*, Luci Mobílio
Gomes Pinto**
*ProfessoradaFaculdadede
Enfermagem Luiza de Marillac –
FELM, Coordenadora Técnica do
CursodeSaúdePública.SãoCamilo
– Rio de Janeiro, **Coordenadora
PedagógicadaFaculdadede
Enfermagem Luiza de Marillac FELM, São Camilo – Rio de Janeiro
Endereçoparacorrespondência:Carmen
Lupi Monteiro Garcia, Rua Belfort
Roxo, 351/1003, 22020-010 Rio de
Janeiro RJ, Tel: (21) 2244 2946,
E-mail:[email protected]
Rodolfo Matias de Melo*,
Bianca Scharenberg**,
Gustavo Alexandre Santos da
Cruz Pereira**, Kaneji
Shiratori***
*AcadêmicodeEnfermagemdo5º
Período da Graduação da EEAP/
UNIRIO. Relator.Bolsista IC/
UNIRIO, **Acadêmico de
Enfermagemdo5ºPeríododa
Graduação da EEAP/UNIRIO,
***Profª Assistente do Departamento
deEnfermagemFundamentalda
EEAP/UNIRIO, Doutora em
Enfermagem,OrientadoradaPesquisa
Endereçoparacorrespondência:Rodolfo
MatiasdeMelo,RuaRaimundo
Correia,60/706Copacabana22040040 Rio de Janeiro RJ,
E-mail:[email protected]
%
O papel social do COFEN na qualificação profissional:
pós-graduação lato sensu, uma experiência que deu certo
A estrutura social do Brasil vem passando por várias transformações e o
setor saúde, integrante desta estrutura é elemento chave para que melhores
condições de vida se estabeleçam. A Enfermagem, como profissão da área da
saúde, deve buscar sua participação neste processo, porém nossos profissionais,
ao terminarem sua graduação, se inserem no mercado de trabalho e a maioria
estabelece a rotina do fazer Enfermagem no dia-a-dia, sem contudo voltar a
estudar, aprimorar conhecimentos, quer por falta de oportunidade, tempo ou
condição financeira. Nosso estudo, descritivo, quali/quantitativo, apresenta a
opinião dos profissionais que aderiram a iniciativa do Conselho Federal de
Enfermagem que firmou convênio com a São Camilo - Rio, para oferecer
Cursos de Pós-graduação Lato Sensu. Os respondentes exaltam a iniciativa;
afirmam a relevância da proposta para o desenvolvimento profissional; atestam
maior aproximação da categoria com o Conselho; esperam que haja continuidade
da proposta e solicitam iniciativa para a implementação do Strito Sensu.
(Re)descobrindo assistência de enfermagem na cinesia de
um cliente com acidente vascular cerebral
Esta pesquisa é originária do cotidiano acadêmico vivenciado na
Universidade do Rio de Janeiro, vinculado no Núcleo de Pesquisa e
Experimentação em Enfermagem – NUPEF. Objetivo: Avaliar a assistência de
enfermagem implementada a partir da decodificação dos sinais corporais, à
luz da literatura sobre a comunicação não verbal e da teoria de Horta. Metodologia:
Abordagem qualitativa com a utilização de observação participante e diário de
campo. Para análise e discussão dos dados, foi adotados o referencial de Knapp
para a análise da comunicação não verbal e Horta para análise da assistência de
enfermagem.
Resultado: Evidenciou-se que é possível estabelecer uma comunicação
efetiva de enfermagem a partir do instrumental sugerido por Knapp, bem como
implementar o cuidado de enfermagem, aliando aquele à teoria proposta por
Horta. Neste sentido, é importante sinalizar que a partir da necessidade de
comunicação evidenciada no cliente com acidente vascular cerebral isquêmico,
foi possível diagnosticar e atender outras necessidades delas decorrentes.
Conclusão: bservamos que é possível atender aos clientes que não verbalizam
mediante uma assistência contínua e planejada para que se resgate as condições
dignas, de fato e de direito da clientela cuidada pela enfermagem.
EnfermagemBrasil
Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
Maria da Conceição Ferreira*,
Marilene Gomes Silvestre**,
Mônica Becker***, Virgínia
Maria Coelho Holanda****
Estudo qualitativo sobre a inadequada exposição do lixo e
suas conseqüências para uma comunidade da cidade de
Olinda-PE
*PsicólogaInstrutoradoServiço
NacionaldeAprendizagem
Comercial, Vitória de Santo Antão –
Pernambuco,**EnfermeiraInstrutora
doServiçoNacionaldeAprendizagem
Comercial – Vitória de Santo Antão
– Pernambuco, ***Enfermeira de
Organizaçãonãogovernamental
alemã,prestandoserviçosnoBrasil,
paraoProgramadeSaúdedaFamília
deOlinda–Pernambuco,
****Enfermeira do Instituto
Materno-InfantildePernambuco–
Recife–Pernambuco Endereçopara
correspondência:VirgíniaMaria
CoelhoHolanda,Av.Saldanha
Marinho, 577 – IPSEP – 51190660 Recife PE, Tel: (81)9182-1454,
E-mail: [email protected]
Idéia central do trabalho: Apresentar histórico do lixo, seu impacto nas grandes
cidades e opções de solução para o lixo urbano, ressaltando o agravamento do
problema, pela cultura consumista vigente, falta de seriedade dos órgãos
responsáveis e da passividade dos cidadãos em conviver com o lixo.
Objeto do estudo: Relatar a importância dos catadores, como recicladores
do lixo urbano.
Objetivos: Identificar o conhecimento de esposas de catadores de lixo de
Olinda, acerca da geração e do destino do lixo doméstico e as conseqüências
da exposição ao lixo em sua qualidade de vida
Metodologia: Estudo descritivo, observacional, qualitativo através de visitas
à comunidade e entrevistas estruturadas a 20 esposas de catadores de lixo.
Resultados: Identificaram que 21,4% conceituaram-no corretamente como
resíduos domésticos; 7,1% como itens reaproveitáveis e 64,2% como doença,
atribuída à freqüência com que vivenciavam patologias preveníveis. Embora
55,0% reconhecessem a competência da Prefeitura na coleta, 70,0%
desconheciam o destino ou jogam-no nas cercanias das residências.
Conclusão: Concluíram que a conscientização e o comprometimento com
a conservação da limpeza do bairro eram deficientes. Sugeriram trabalho, com
a parceria da Prefeitura, membros da comunidade, profissionais de saúde e de
educação, para gerar condições para manutenção dessa limpeza, promovendo
melhor qualidade de vida da comunidade.
2003: novo curso de enfermagem inaugurado no Rio de Janeiro pela Universidade
Veiga de Almeida e a Cruz Vermelha
A Universidade Veiga de Almeida (Rio de Janeiro), em um convênio com a Cruz Vermelha Brasileira (CVB),
está oferecendo agora um curso de graduação em enfermagem. Este novo curso oferecerá 180 vagas em 3 turmas
de 60 alunos (manhã, tarde e noite). Segundo a coordenação da Veiga de Almeida, esta graduação apresenta um
projeto pedagógico moderno e inovador, com laboratórios técnicos bem equipados, residência em hospitais da
rede pública e privada (último ano) e corpo docente formado por mestres e doutores. As aulas serão no prédio da
CVB, na Praça da Cruz Vermelha, no centro de Rio de Janeiro.
O curso se propõe a formar profissionais completos, ou seja, que atuem como enfermeiros, mas que também
tenham aptidão gerencial e de planejamento, com uma visão humanística, crítica e bases de cidadania. A
individualização no cuidado ao paciente é valorizada pelos segmentos que abordarão a enfermagem maternoinfantil, adulta e do idoso.
Mais informações sobre o curso são disponíveis no site da Universidade Veiga de Almeida (www.uva.br) ou
pelo central de atendimento, no número (21) 2574-8888. Notícias sobre a história da Cruz Vermelha podem ser
obtidas no endereço eletrônico http://www.oca.org.br/cruzvermelha/ACruzVermelha.htm.
%!
EnfermagemBrasil
Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
Normas de publicação Enfermagem Brasil
A revista Enfermagem Brasil é uma publicação com
periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação
de artigos científicos das áreas relacionadas à Enfermagem.
Os artigos publicados em Enfermagem Brasil poderão também
ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim
como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que
surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores
já aceitem estas condições.
A revista Enfermagem Brasil assume o “estilo Vancouver”
(Uniformrequirementsformanuscriptssubmittedtobiomedicaljournals,
N Engl J Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado pelo Comitê
Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as
especificações que são resumidas a seguir. Ver o texto completo
em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International
Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org,
na versão atualizada de outubro de 2001.
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções
da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/
e-mail) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não
implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor.
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou
retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos
textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo
científico, limitando-se unicamente ao estilo literário.
1. Editorial
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou
por um de seus membros.
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4
em corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman)
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez
referências.
2. Artigos originais
São trabalhos resultantes de pesquisa científica
apresentando dados originais de descobertas com relaçaõ a
aspectos experimentais ou observacionbais de característica
médica, bioquímica e social, e inclui análise descritiva e/ou
inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional
que traz os seguintes itens: Introdução, Métodos, Resultados,
Discussão e Conclusão.
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas,
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobre-escrito, etc.
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato
Excel/Word.
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas
(formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em PowerPoint, Excel, etc.
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências
bibliográficas.
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos
serão o de rigor metodológico científico, novidade, interesse
profissional, concisão da exposição, assim como a qualidade
literária do texto.
%"
3. Revisão
São trabalhos que versem sobre alguma das áreas
relacionadas à Enfermagem, que têm por objeto resumir, analisar,
avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em
revistas científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se
o mesmo dos artigos originais.
4. Atualização ou divulgação
São trabalhos que relatam informações geralmente atuais
sobre tema de interesse dos profissionais de Enfermagem (novas
técnicas, legislação, por exemplo) e que têm características
distintas de um artigo de revisão.
5. Relato de caso
São artigos de representan dados descritivos de um ou
mais casos explorando um método ou problema através de
exemplo. Apresenta as características do indivíduo estudado,
com indicação de sexo, idade e pode ser realizado em humano
ou animal.
6. Comunicação breve
Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com
maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações,
resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar
comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de
argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor.
Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas,
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobre-escrito, etc.
Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e
figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser
editados em Power Point, Excel, etc
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências
bibliográficas.
5. Resumos
Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos
inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê
Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas.
6. Correspondência
Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
necessariamente haja relação com artigos publicados, porém
relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados
a artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do
artigo ou trabalho antes de se publicar a carta.
Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as
especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou
figuras.
PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
1. Normas gerais
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em
processador de texto (Word, Wordperfect, etc), em página de
formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman
(English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto,
EnfermagemBrasil
Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc.
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para
cada tabela junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com
as especificações anteriores.
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas,
e com qualidade ótima (qualidade gráfica – 300 dpi). Fotos e
desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo,
introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e
bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo
para o inglês e o espanhol e também das palavras-chave (key-words).
O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, zipdrive, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em
mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e
identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do
artigo, data e autor, incluir informação dos arquivos, tais como o
processador de texto utilizado e outros programas e sistemas.
2. Página de apresentação
A primeira página do artigo apresentará as seguintes
informações:
- Título em português, inglês e espanhol.
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular
e títulos acadêmicos.
- Local de trabalho dos autores.
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o
respectivo endereço, telefone e E-mail.
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques,
para paginação.
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe,
aparelhos, etc.
3. Autoria
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter
participado do trabalho o suficiente para assumir a
responsabilidade pública do seu conteúdo.
O crédito como autor se baseará unicamente nas
contribuições essenciais que são: a) a concepção e
desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação
do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu
conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que
será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as
condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção
de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação
como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também
não é suficiente.
4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words)
Na segunda página deverá conter um resumo (com no
máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras
para os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol.
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes
informações:
- Objetivos do estudo.
- Procedimentos básicos empregados (amostragem,
metodologia, análise).
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e
estatísticos).
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior
novidade.
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavraschave (ou unitermos) para facilitar a indexação do artigo. Para
tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS
(Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde,
que se encontra no endereço internet seguinte: http://decs.bvs.br.
Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes.
5. Agradecimentos
Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio
financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de
laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo,
antes as referências, em uma secção especial.
6. Referências
As referências bibliográficas devem seguir o estilo
Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências
bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre
parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto,
seguindo as seguintes normas:
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras
iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In:
autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro
(em grifo - itálico), ponto, local da edição, dois pontos, editora,
ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e
final, ponto.
Exemplo:
1. Phillips SJ. Hypertension and Stroke. In: Laragh JH,
editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management.
2nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78.
Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es),
letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto.
Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação
seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois
pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas
ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo
com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in
Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível
no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem
ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6,
colocar a abreviação latina et al.
Exemplo:
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and
localization of urokinase-type plasminogen activator receptor in
human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20.
Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
Jean-Louis Peytavin
Atlantica Editora
Rua da Lapa, 180/1103 - Lapa
20021-180 Rio de Janeiro RJ
Tel: (21) 2221 4164
E-mail: [email protected]
%#
EnfermagemBrasil
Janeiro / Fevereiro 2003;2(1)
Calendário de eventos
2003
fevereiro
20 e 21 de fevereiro de 2003
Instrumentos de medidas assistenciais e gerenciais em UTI:
TISS e suas diferentes versões
Informações: (11) 3066-7531 ou 7577
[email protected]
23 a 28 de fevereiro de 2003
27 Congresso Internacional de Saúde no Trabalho ICOH 2003
Foz do Iguaçu - Paraná
Informações: (41) 353-6719
www.icoh2003.com.br
23 a 26 de fevereiro de 2003
Vo Congresso Ítalo Brasileiro de Urologia e Io Congresso
Pan-Urológico da Bahia
Tema: O desafio da equipe em saúde e segurança no trabalho
Centro de Convenções da Bahia – Salvador BA
Informações: Tel: (71) 205-8780
http://www.panurologico.com.br
abril
26 a 30 de abril de 2003
IV Congresso Brasileiro de Farmácia Homeopática
João Pessoa - PB
www.farmaceuticoshomeopatas.com.br
27 a 30 de abril de 2003
12º SENPE - 12º Seminário Nacional de Pesquisa
em Enfermagem
EXPOSENPE 2003 - Feira de Produtos e Serviços da
área de Enfermagem e Saúde
Porto Seguro BA
Associação Brasileira de Enfermagem – ABEn
Informações: (61) 226-0653
Congregabahia (73) 288-6722 e 288-6705
www.abennacional.org.br maio
24 a 27 de maio de 2003
Vo Congresso Nacional da Rede Unida,
Io Fórum Nacional de Redes em Saúde e IIo Mostra
Paranaense de Produção em Saúde da Família
Informações: (43) 324.2340
e-mail [email protected]
http://www.redeunida.org.br
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junho
10 a 13 de junho de 2003
Hospitalar 2003
10º Feira Internacional de Produtos, Equipamentos,
Serviços e Tecnologia para Hospitais, Laboratórios, Clínicas
e Consultórios
Expo Center Norte -São Paulo SP
Informações: (11) 3897-6199
www.hospitalar.com
julho
13 a 18 de julho de 2003
Educação, ciência e tecnologia para a inclusão social
55º Reunião Anual da SBPC - Sociedade para o Progresso
da Ciência
Universidade Federal de Pernambuco – Recife PE
E-mail: [email protected]
29 de julho a 2 de agosto de 2003
VIIo Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva
Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde
Coletiva – ABRASCO
Campus da Universidade de Brasília (UnB), Brasília DF
Informações: [email protected]
setembro
1º Congresso Nordestino de Conselhos de Enfermagem
Informações: Tel: (83) 221-8758
E-mail: [email protected]
8 a 12 de setembro de 2003
6o CBCENF – Congresso Brasileiro dos Conselhos de
Enfermagem
Florianópolis – SC
Informações: www.cbcenf.com.br
novembro
10 a 15 de novembro de 2003
55º CBEn - Congresso Brasileiro de Enfermagem
11º CPEn – Congreso Panamericano de enfermería
Informações: ABEn Rio de Janeiro
Av. Presidente Vargas 590/418, 20071-000 Rio de Janeiro RJ
Tel: (21) 2263 5471/2516 9496
E-mail: [email protected]
EnfermagemBrasil
Enfermagem
Brasil
Março / Abril 2003;2(2)
Índice
Volume 2 número 2 - Março / Abril de 2003
E DITORIAL
Enfermagem: razão e sensibilidade, Maria da Graça Piva ........................................................................... 79
A RTIGOS ORIGINAIS
O quarto privativo no setor de doenças infecciosas e parasitárias e a equipe de enfermagem,
Flavia Bernardes R. dos Santos, Noemi dos Santos, Vanessa Andrade M. Pinto,
Rita Batista Santos ........................................................................................................................................................ 80
Cuidados de enfermagem na assistência ventilatória mecânica em terapia intensiva,
Carlos Eduardo Peres Sampaio, Bárbara Fernandes, Fernanda Freire, Márcia Dourado ............................ 89
Avaliação do desenvolvimento em um grupo de crianças assistidas em creche,
utilizando o teste de triagem de Denver II, Aspásia Basile Gesteira Souza,
Célia Nascimento Siqueira .......................................................................................................................................... 96
Perfil das pessoas com diabetes mellitus tipo 2 cadastradas no programa
de assistência ao diabético de Passos - MG, Vilma Elenice Contatto Rossi,
Ana Emilia Pace ........................................................................................................................................................ 104
REVISÕES
A origem dos serviços de assistência pré-hospitalar, Ana Paula Cunha,
Maria Soledade Simeão dos Santos ...................................................................................................................... 110
Manual de cuidados do cateter de Hickman, Ana Paula Cunha, Rita de Cássia Elias,
Maria Paula S. Soares ................................................................................................................................................ 116
Processo saúde-doença no envelhecimento, Elza Maria Pacheco Dias ................................................ 121
ESTUDO DE CASO
Identificação dos diagnósticos de enfermagem de um paciente politraumatizado
internado em uma Unidade de Terapia Intensiva, Geraldo Magela Salomé,
Roberto S. Camargo, Cleide Aparecida Guerra ................................................................................................ 126
RESUMOS DE TRABALHOS E CONGRESSOS .................................................. 132
NORMAS DE PUBLICAÇÃO................................................................................... 1 3 3
CALENDÁRIO DE EVENTOS .................................................................................. 1 3 5
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EnfermagemBrasil
Março / Abril 2003;2(2)
EDITOR CIENTÍFICO - PRESIDENTE DO CONSELHO CIENTÍFICO (2003-2004)
Profa. Dra. Maria da Graça Piva (ULBRA -RS)
EDITORIALISTA
Gilberto Linhares Teixeira
CONSELHO CIENTÍFICO
Prof. Dr. Carlos Bezerra de Lima (UFPB – Paraíba)
Profa. Dra. Clarice Heiko Muramatsu (USP – São Paulo)
a
a
Prof . Dr . Margarete Rego (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Maria Helena da Silva Nery (UFRGS – Rio Grande do Sul)
Profa. Dra. Rita Batista Santos (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Rita de Cássia Tapié Martins (USP – São Paulo)
Prof. Dr. Sérgio Ribeiro dos Santos (UFPB – Paraíba)
Profa. Dra. Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler (FAMERP – São José do Rio Preto – São Paulo)
GRUPO DE ASSESSORES
Profa Ms. Andréia Saccol Lourenço (Escola Técnica de Enfermagem São Francisco – Rio Grande do Sul)
Profa Ms. Dóris Maria Volquind (Clínica de Florais de RAFF – Rio Grande do Sul)
Profa Ms. Dulce Dirclair Huf (UFMS – Mato Grosso do Sul)
a
Prof Ms. Gisele Cristina Tertuliano (Secretária Municipal de Saúde de Cachoerinha – Rio Grande do Sul)
Profa Ms. Hortência Maria de Santana (COREN – Sergipe)
a
Prof Ms. Louize Maria Holtz Santos de Oliveira (COFEN – Sergipe)
Profa Ms. Sonia Maria Ponciano dos Santos (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro)
Profa. Ms. Almerinda Moreira (Escola de Enfermagem Alfredo Pinto – UniRio – Rio de Janeiro)
Rio de Janeiro
Rua da Lapa, 180/1103
20021-180 - Rio de Janeiro - RJ
Tel/Fax: (21) 2221-4164 / 2517-2749
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São Paulo
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01037-010 - São Paulo - SP
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Assinaturas 6 números ao ano
1ano: R$ 108,00
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(11) 3362-2097
Atlântica Editora edita as revistas Diabetes Clínica, Fisioterapia Brasil e Nutrição Brasil.
Ilustração da capa: Ilustração da capa: Anônimo, Anjo Poder, séc. XVII, óleo sobre tela, (163,5 x 114,2 cm), Igreja de Calamarca, La Paz
I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes.
© ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada
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prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias
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padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do
valor do produto ou das asserções de seu fabricante.
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EnfermagemBrasil
Março / Abril 2003;2(2)
EDITORIAL
Enfermagem:
razão e sensibilidade
Maria da Graça Piva
Editor científico
O que é Enfermagem? Uma ciência? Uma
profissão? Ou é simplesmente a manifestação de
algumas pessoas sensíveis a dor do outro, ou a
forma que essas pessoas encontraram para ajudar
seus semelhantes?
Enfermagem é, na verdade, a junção de
todas essas coisas. É ciência, é profissão, é
sensibilidade. E é ainda muito mais: é dedicação
no cuidar, no estudar, no pesquisar, no
especializar-se. É a busca constante de
atualização de conhecimentos, é a criatividade
de solucionar problemas e de colocar-se no lugar
de seus clientes.
A percepção que a sociedade tem da
Enfermagem hoje é, no mínimo peculiar. As
pessoas não a identificam antes de precisar dela.
Até então a palavra lhes remete a algumas figuras
de branco circulando pelos corredores de
hospitais e clínicas. Não fazem idéia que aquelas
figuras até graciosas, que circulam com leveza,
carregam a responsabilidade da vida de seus
clientes com os infindáveis serviços oferecidos a
eles: a consulta de enfer magem, os
procedimentos práticos de rotina como higiene,
curativos, percepção de sinais e sintomas,
medicação e todos os demais atos que
completam os atendimentos das diferentes áreas
da saúde.
A Enfermagem coordena e concatena
todos os serviços administrados por médicos,
fisioterapeutas, nutricionistas, enfim, todos
os procedimentos da área da saúde,
proporcionando ao cliente um atendimento de
qualidade com resolutividade.
O Enfermeiro, ciente de sua sensibilidade
em compreender a dor de seus semelhantes,
busca cada vez mais o preparo através do
conhecimento científico, o que o habilita a
interagir com as demais profissões conferindo
atendimento de qualidade a sua clientela.
E, o propósito da Enfermagem Brasil vem
suprir a necessidade de um veículo que fale a
linguagem do profissional, divulgando as ações
da enfermagem, tornando-a cada vez mais
próxima da população, como uma profissão que
une razão e sensibilidade.
%'
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EnfermagemBrasil
Março / Abril 2003;2(2)
Artigo original
O quarto privativo no setor de doenças
infecciosas e parasitárias e a equipe
de enfermagem
La habitación privada en el sector de enfermedades
infecciosas y parasitarias y el grupo de enfermería
The private room in infectious-parasitic
department and nursing team
Flavia Bernardes R. dos Santos*, Noemi dos Santos*, Vanessa Andrade M. Pinto*, Rita Batista Santos**
**Alunas do 6º período do Curso de Graduação em Enfermagem da EEAN/UFRJ, ** Professora Assistente do DEMC/EEAN/UFRJ,
Doutora em Enfermagem pelo Departamento em Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo/EPM
Resumo
Trata-se de um estudo exploratório, descritivo e qualitativo, a respeito das dificuldades apresentadas pelas profissionais da equipe
de enfermagem, durante a assistência ao paciente portador de doenças infecciosas e parasitárias (DIP), na ausência do quarto
privativo no setor de DIP, assim como suas possíveis causas nos procedimentos e relacionamento interpessoal. Fizeram parte da
amostra nove profissionais da equipe de enfermagem do setor DIP de um hospital universitário do Município do Rio de
Janeiro, sendo todas do sexo feminino. Os resultados destacaram a dificuldade da assistência, devido à falta de material e
sobrecarga de serviço, uma vez que para realizar a técnica correta é necessário utilizar as precauções padrões, evitando assim a
contaminação por agentes infecciosos. Outro ponto importante relaciona-se com a improvisação do quarto privativo, o que é
considerada pelas profissionais, incômodo para os pacientes, já que esses têm que ser deslocados para outras enfermarias.
Palavras-chave: Equipe de enfermagem, isolamento, precauções universais, doenças infecto-parasitárias.
Artigo recebido em 15 de agosto de 2002; aceito em 15 de março de 2003
Endereço para correspondência: Rita Batista Santos, Escola de Enfermagem Anna Nery,
Rua Afonso Cavalcanti, 275 Cidade Nova 20211-110 Rio de Janeiro RJ,
Tel: (21)2293-8098, E-mail: [email protected]
&
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EnfermagemBrasil
Março / Abril 2003;2(2)
Abstract
This work is an exploratory study, descriptive and qualitative, concerning the difficulties referred by the nursing staff during the
assistance to the patient with infectious-parasitic diseases (IPD), in absence of a private room in the IPD department. It claims
to identify these difficulties as well as possible causes related to technical procedures and staff relationship. Our sample was nine
professional nurses of the IPD department from a university hospital in the city of Rio de Janeiro, in which all of our subjects
were females. According to the results, the difficulty to assistance was due to lack of material and overloaded service, concerning
that to execute a correct procedure, it is necessary to follow the standart precautions due to personal security, avoiding the
infection of these professionals. Another important point related to improvising private rooms, is that this situation leads to
the moment of patients to other wards, which turns into a problem to the nursing staff.
Key-words: Nursing team, isolation, infectious parasitic disease.
Resumen
Se trata de un estudio exploratorio, descriptivo y cualitativo, al respecto de las dificultades presentadas por los profesionales del
grupo de enfermería, durante la asistencia al paciente portador de enfermedades infecciosas y parasitarias (EIP), en la ausencia de
habitación privada en el sector de EIP, así como sus posibles causas en los procedimientos y relación interpersonal. Hicieron parte
de la muestra nueve profesionales del grupo de enfermería del sector EIP de un hospital universitario del Municipio de Rio de
Janeiro, siendo todas del sexo femenino. Los resultados destacaron la dificultad de la asistencia, debido a la ausencia de material
y sobrecarga del servicio, una vez que para realizar la técnica correcta es necesario utilizar las precauciones estándar, evitando así la
contaminación por agentes infecciosos. Otro punto importante se relaciona con la improvisación de la habitación privada, lo que
es considerado por los profesionales, incómodo para los pacientes, ya que ellos tienen que ser trasladados para otras enfermerías.
Palabras-clave: Grupo de enfermería, aislamiento, enfermedades infecto-parasitarias.
Introdução
Trajetória do estudo
Durante o Estágio Supervisionado do
Programa Curricular Interdepartamental VIII da
Escola de Enfermagem Anna Nery, de um setor de
Doenças Infecto-Parasitárias (DIP) de um Hospital
Universitário, nos deparamos com uma situação de
improviso, pois o setor anterior da DIP encontravase em obras para reforma total do setor.
Em todos os hospitais, existem técnicas baseadas
nos princípios de desinfecção e precaução para
prevenir o perigo de contaminação, que obedecem à
determinação do Ministério da Saúde [1], através da
portaria 930, de 27 de agosto de 1992.
O tipo de precaução é determinado a partir do
momento que se conhece os germes causadores das
doenças transmissíveis. De acordo com o agente infeccioso
e a fonte de infecção, estes tipos são divididos em Precaução
respiratória, Precaução por contato, Precaução reversa.
A Precaução Respiratória é observada no caso de
doenças que se transmitem diretamente ou indiretamente,
através das secreções das vias aéreas superiores, como:
tuberculose pulmonar, parotidite, doenças eruptivas,
difterias, influenza, coqueluche, sífilis secundária, meningite
purulenta, pneumonias, estafilococcias e estreptococias. A
Precaução por Contato representa o conjunto de cuidados
da equipe de saúde para evitar a disseminação de germes
existentes em ferimentos ou secreções do paciente, como
por exemplo, o Staphylococcus aureus em infecções com
secreção. Na precaução reversa os germes são mantidos
do lado de fora da área definida e o paciente é protegido
dos patógenos em seu ambiente. Essa prática é usada
para os pacientes particularmente susceptíveis ou pouco
resistentes às infecções, como por exemplo, as pessoas
com grandes queimaduras ou leucemia.
Para estabelecer-se precauções do tipo
respiratória e da reversa, é necessário a existência de
um quarto privativo também chamado de unidade
isolada, na DIP ou em qualquer setor do hospital.
Além do quarto privativo é necessário ter um
banheiro anexo e uma anti-sala para os procedimentos
de enfermagem.
No quarto privativo é importante encontrar
proximidade de pia para a equipe de trabalho; pisos e
paredes laváveis; facilidade de observação pela
enfermagem, possibilidade de esterilização de pratos,
copos e talheres; coleta e incineração perfeita do lixo;
coleta e envio adequado da roupa até a lavanderia [2].
Todo o equipamento não essencial deve ser
retirado do quarto. Toda a roupagem de proteção
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da equipe de saúde (tais como capotes, máscaras e
óculos) deve permanecer junto à porta, fora da
unidade, sendo manuseados com técnica adequada a
fim de evitar a contaminação do profissional. Todo
o material a ser utilizado na unidade isolada, como
termômetro, etc, é de uso individual e permanece na
unidade até a desinfecção terminal.
O método ideal de precaução é de quarto e
banheiro privativos, porém às vezes a equipe tem que
improvisar pequena unidade do paciente, dentro da
enfermaria. Ela consiste na área diretamente ao redor
do paciente e é separada do resto da enfermaria através
de biombos, cortinas ou parede divisória, sendo o seu
interior considerado área contaminada. O restante da
enfermaria e as demais dependências usadas para
outros pacientes são conservados limpos, com exceção
da parte interna da pia da sala de curativos, onde são
lavados objetos que foram contaminados com o
paciente, tais como cubas, seringas, etc.
Sem tais medidas a unidade de DIP, além de
favorecer riscos, causa desconforto ao próprio paciente.
Desse modo, podemos observar a importância do
quarto privativo separado com equipamento individual,
a fim de evitar-se o contágio e subseqüente disseminação
das doenças infecto-contagiosas.
Justificativa
Ao pesquisarmos este tema, estamos
procurando levar ao conhecimento de todos os
envolvidos nos cuidados de enfermagem, a
importância do quarto privativo para o paciente que
necessita de alguns tipos de precauções hospitalares,
tais como o isolamento de contato, reverso e
respiratório; já que está propenso a adquirir outras
infecções e, além disso, pode tornar-se fonte de
infecções cruzadas para os outros pacientes com quem
dividem a mesma enfermaria.
Procuramos também direcionar a pesquisa à
equipe de Enfermagem, pois é ela que permanece mais
tempo junto ao paciente, e por isso aumentam as
possibilidades de infecção cruzada ao realizar o cuidado,
sem que haja os recursos materiais e os locais necessários
para a realização dessa técnica corretamente, ou seja,
não ter os recursos físicos necessários pode causar sérios
riscos para todos dentro do setor de DIP.
Questões norteadoras
• Qual a importância do quarto privativo para a
pacientela e para a enfermagem;
• Como a falta do quarto privativo influencia
na assistência da enfermagem;
• Quais as conseqüências da falta do quarto
privativo para o paciente e para a equipe de enfermagem.
Objeto de estudo
Nosso objeto de estudo é o conhecimento da
equipe de enfermagem (Enfermeira, Técnica e
Auxiliar) e dos pacientes do setor de DIP de uma
Universidade Federal sobre o uso de quarto privativo,
incluindo suas opiniões sobre a ausência desse para o
paciente e para si própria.
Problema
Com o setor de DIP em obras, o funcionamento em um novo setor reduziu o número
de enfermarias, retirando-se o quarto privativo, o
que não é preconizado pelo Ministério da Saúde
[2]. Quando existe a necessidade do mesmo, é
fechada uma enfermaria para um só paciente, porém
essa enfermaria não tem a ante-sala para os cuidados
de assepsia de mãos e objetos, logo não atende aos
padrões de biossegurança da pacientela e da equipe
multidisciplinar, surgindo, então, nosso problema.
Objetivos
• Discutir a importância do quarto privativo
para o paciente e para a enfermagem,
• Citar e analisar as conseqüências da falta do
quarto privativo na assistência de enfermagem,
• Identificar as conseqüências da falta de quarto
privativo no setor da DIP, segundo a perspectiva da
equipe de enfermagem.
Contribuições do estudo
Esperamos que os resultados obtidos sejam
considerados durante a organização de um setor de
DIP para que este possa funcionar dentro dos padrões
das Normas de Biossegurança, não levando risco para
a pacientela nem para a equipe multidisciplinar.
Também queremos alertar para a importância das
técnicas assépticas corretas para o cuidado do paciente
que se encontra em precaução seja por contato,
respiratória por gotícula ou aerossol.
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Revisão crítica da literatura
Conceituação de quarto privativo
Preconiza-se que o quarto tenha no máximo dois
leitos. Esses leitos devem ficar a uma distância mínima
um do outro de um metro, e afastados da parede
pela cabeceira por, pelo menos, cinqüenta centímetros.
Dentro do quarto deve existir uma mesa para
apoiar estetoscópio e termômetro, por exemplo, que
devem ser exclusivos deste paciente. Deve haver
janelas, lixeira, banheiro e porta, que deve ficar fechada.
Anterior ao quarto deve haver uma ante-sala que
separa o quarto do corredor do setor. Nela deve
existir uma mesa, pia e um suporte para capote, além
de lixeira. Ao sair desta ante-sala, há outra porta, que
leva ao corredor, que também deve ser mantida
fechada.
Sabemos que todos os profissionais de saúde
devem ter conhecimento das normas de
biossegurança, que, é um conjunto de medidas
técnicas, administrativas, educacionais, médicas e
psicológicas, empregadas para prevenir acidentes em
ambientes biotecnológicos.
Isso se dá a partir de um conhecimento prévio a
respeito da transmissão e das precauções relacionadas
às doenças, através de programas de prevenção de
acidentes, programas de garantia da qualidade,
treinamento individual e coletivo, programas de
educação básica, ou seja, medidas técnicas e
educacionais que devem ser tomadas para adequar a
prevenção e utilização de equipamentos de proteção à
forma de transmissão das doenças. Com isto estaremos
evitando que os profissionais sofram contaminação
desnecessária de doenças que devem ser tratadas com
os devidos cuidados, como as transmitidas pelo ar.
Técnicas e medidas de isolamento
para o uso do quarto privativo
O quarto privativo objetiva proteger o paciente,
bem como a equipe de saúde envolvida de demais
possíveis contatos, familiares ou não.
Um tipo de proteção preconizada atualmente
pelo Ministério da Saúde [3] é o uso do quarto
privativo para situações que requerem precaução
respiratória, ou seja, todos os pacientes com doenças
transmitidas por gotas ou gotículas que vêm pelo ar
devem ser enviados para um quarto particular, devese usar máscara de proteção para os profissionais e
visitas de acordo com o tipo de doença, lavagem das
mãos, desprezo de artigos contaminados com
secreções ou embalá-los adequadamente.
Além da prevenção dessas doenças há também
as medidas de prevenção para outras doenças de
transmissão por contato, por exemplo, com uso de
luvas, capote, entre outros, além das precauções
universais, como não reencapar agulhas, lavagem das
mãos e etc.
Podem acontecer as condições inseguras que são
aquelas que decorrem diretamente das condições do
local de trabalho ou do ambiente de trabalho como
a falta do quarto privativo, piso não apropriado ou
mesmo ventilação incorreta.
Os exemplos de doenças que devem ser tratadas
em quartos privativos são a Meningite Meningocócica,
Tuberculose (até a 2ª semana de tratamento), entre
outras.Os clientes só poderão utilizar o mesmo
ambiente, quando as doenças forem iguais e/ou estiver
provado que não estão mais transmitindo a doença.
Os equipamentos de proteção individual (EPI)
também devem ser utilizados dentro dos quartos
privativos e eles são de uso estritamente pessoal,
utilizado para prevenir e/ou minimizar acidentes. É
regulamentado pela Portaria 3214-NR-6 do Ministério
do Trabalho de 08/06/1978, que prevê a distribuição
gratuita desses equipamentos, competindo aos
trabalhadores usá-los e conservá-los [4].
Proteção da equipe de Saúde
no quarto privativo
Os funcionários, assim como as visitas, deverão
estar cientes da doença que o cliente tem para que
possam se prevenir. Isso inclui o direito da equipe de
saúde de encontrar os devidos recursos materiais para
a assistência a esse cliente, assim como aos outros
clientes do setor de poderem estar protegidos dessas
doenças de transmissão aérea, havendo, portanto, a
necessidade dos quartos privativos.
Além disso, é direito do cliente com este tipo
de doença, ser cuidado dentro das normas e padrões
de biossegurança.
Os familiares e clientes devem ser orientados
quanto aos meios de proteção, no sentido de
compreenderem sua importância, de maneira que
nenhum se sinta hostilizado ou humilhado.
É possível que os profissionais em contato com
esse cliente venham a se contaminar com suas doenças,
porém, se existem luvas, máscaras, capotes e quartos
privativos é porque sua necessidade e importância já
foram comprovadas, logo, um setor que cuida desse
tipo de doença deve ser o primeiro a preconizar um
ambiente próprio e com todos os recursos para tratar
os clientes, sem que haja a menor possibilidade de
contaminação dos profissionais conseqüente a um
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cuidado realizado fora dos padrões internacionais de
biossegurança.
Infecção cruzada sem o quarto privativo
A presença de um cliente que está
imunodeprimido devido a sua doença, junto a outro
que além de estar imunodeprimido tem uma doença,
por exemplo, transmitida pelo ar, é desaconselhável,
já que é foco de infecções cruzadas, ou seja, é ruim
para os dois lados.
Outro problema é que, se esta enfermaria/
quarto é compartilhado com outros clientes, não
haverá a possibilidade de fechar portas, logo, o ar
que circula no quarto é levado diretamente para o
corredor do setor, assim, qualquer um e
principalmente os profissionais de saúde que estiverem
na entrada do quarto poderão ser contaminados, já
que ninguém circula pelo hospital com seus EPIs.
Metodologia
A pesquisa é do tipo exploratória, descritiva e
qualitativa, priorizando-se o conhecimento dos
sujeitos, em detrimento ao critério numérico para
garantir sua representatividade.
Universo do estudo
O estudo foi realizado no setor de DIP de um
Hospital Universitário de grande porte localizado na
Área Programática 3.1, pertencendo a vigésima região
administrativa, no município do Rio de Janeiro. Oferece
atendimento de nível terciário e está dividido nos
serviços de internação clínica, cirurgia e ambulatorial.
Conta com uma equipe multiprofissional, distribuída
entre médicos, enfermeiras, técnicas e auxiliares e
atendentes de enfermagem, nutricionistas, farmacêuticos
fisioterapeutas, assistentes sociais, psicólogos e
odontólogos.
Os profissionais da equipe de enfermagem, que
são em número de 664, encontram-se distribuídos
nos setores de clínica cirúrgica, clínica médica, centro
cirúrgico, cardiologia, centro de tratamento intensivo,
doenças infecto-parasitárias DIP, hemoterapia e
ortopedia.
Nos setor de DIP, a equipe de enfermagem é
composta de 7 enfermeiras (uma chefe de setor e
seis líderes), cinco técnicas de enfermagem (4 do sexo
feminino e um do sexo masculino), doze auxiliares
de enfermagem (11 do sexo feminino e um do sexo
masculino) e quatro atendentes de enfermagem (3 do
sexo feminino e um do sexo masculino). Dentre estes,
nove profissionais foram entrevistados, sendo seis
auxiliares de enfermagem, duas enfermeiras e uma técnica
de enfermagem, todas do sexo feminino, com idades
entre 26 e 43 anos. Houve a prevalência de idade entre
26 a 30 anos e a média encontrada foi de 37,8 anos.
Sujeitos da pesquisa
Os sujeitos da pesquisa foram os membros da
equipe de enfermagem que compreendem:
enfermeiras, técnicas e auxiliares de enfermagem, que
trabalhavam no referido setor.
A escolha dos sujeitos deu-se devido aos riscos
que esses profissionais vivenciam na ausência do quarto
privativo. O cuidado de enfermagem é prejudicado,
impedindo a equipe de enfermagem de utilizar
adequadamente tais medidas de precaução universal.
A enfermeira, como membro da equipe de saúde,
deve conhecer os princípios gerais que regem o
cuidado a portadores de doenças transmissíveis,
utilizando adequadamente as técnicas de precaução,
a fim de evitar riscos de contaminação.
A escolha do cenário está intimamente
relacionada à presença dos sujeitos, visto que o quarto
privativo é utilizado pela equipe de enfermagem, que
utiliza a ante-sala para manipular os materiais
utilizados no cuidado ao paciente, dispor o
equipamento de proteção individual (capotes,
máscaras, luvas), fazer assepsia das mãos, entre outras
precauções, além de ser a melhor e mais segura
maneira de evitar o contágio e subseqüente
disseminação das doenças infecto-contagiosas, é
oferecer uma unidade separada, com equipamento
individual.
Técnica de coleta de dados
O instrumento para coleta de dados foi
elaborado a partir da percepção dos problemas
vivenciados pela equipe de enfermagem com a
ausência do quarto privativo. Foi utilizado um roteiro
de entrevista semi-estruturada, composto por
perguntas abertas, elaboradas a fim de levantar o
conhecimento das profissionais sobre as questões que
evidenciam os riscos a que estão expostas e a
importância que lhes dão. As entrevistas foram
respondidas por nove profissionais da equipe de
enfermagem do setor DIP, o que demonstrou certa
resistência dos demais profissionais da equipe em
responder ao questionário, limitando assim, os
resultados da pesquisa. Destacou-se o fato de que
todos os instrumentos de pesquisa serem respondidos
por profissionais do sexo feminino.
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Técnica de entrevista
Foram atribuídos nomes fictícios às entrevistadas
sendo mantido o sigilo e o anonimato das respostas,
segundo orientações da Portaria nº 196, do Ministério
da Saúde (1996), para pesquisa com seres humanos.
A coleta de dados foi realizada entre os meses
de maio a junho de 2001. Para tanto foi solicitada a
autorização à Chefia de Enfermagem da instituição,
bem como aos integrantes da equipe de enfermagem
que participaram do estudo.
Os dados obtidos através da entrevista foram
organizados e classificados por categorias mais
específicas e mais completas do que aquelas
estabelecidas a partir da revisão crítica da literatura
sobre o uso do quarto privativo, bem como de
critérios para trabalhar com categorias, segundo Gil
[5] e Richardson [6].
Discussão, análise e interpretação
dos resultados
Após a coleta de dados, a fase seguinte da pesquisa
foi a de análise e interpretação. Estes dois processos,
apesar de conceitualmente distintos, aparecem sempre
estreitamente relacionados. A análise tem como objetivo
organizar e sumariar os dados de forma tal que
possibilitem o fornecimento de respostas ao problema
proposto para investigação. Já a interpretação tem
como objetivo a procura do sentido mais amplo das
respostas, o que é feita mediante sua ligação a outros
conhecimentos anteriormente obtidos [6]. A análise teve
como objetivo organizar e sumarizar os dados de tal
forma que possibilitou o fornecimento de respostas
sobre a opinião das profissionais quanto aos riscos a
que estão expostas em relação à ausência do quarto
privativo no setor de DIP. Já a interpretação teve como
objetivo a procura do sentido mais amplo das respostas,
fazendo-se ligações à revisão crítica da literatura sobre
o tema [6].
No processo de interpretação evitou-se uma
extrapolação exagerada da informação reunida, para
evitar uma inexatidão que a prejudicasse. Visamos
então, ainda que de formas diversas e até
contraditórias, a ultrapassar o nível do senso comum
e do subjetivismo na interpretação e alcançar uma
vigilância crítica frente à respostas das profissionais
às entrevistas, aos textos científicos sobre o tema.
Na busca de atingir os reais significados no material
qualitativo, foram observadas várias técnicas como a
Análise Temática, a qual nos importa no momento.
A análise temática que comportou um feixe de
relações apresentadas através de uma palavra, uma frase,
um resumo das respostas das profissionais. A noção de
Tema está ligada a uma afirmação a respeito da ausência
do quarto privativo no setor de DIP em relação aos riscos
à sua saúde e a pacientes internados [7].
Fazer uma análise temática consiste em descobrir
os núcleos de sentido que compõe uma comunicação.
Ou seja, tradicionalmente, a análise temática
encaminha-se para a presença de determinados temas
que denotam os valores de referência e os modelos
de comportamento presentes no discurso dessas
sobre o uso do quarto privativo.
A análise temática se dividiu em três etapas:
1º- Pré-análise: Que consistiu na escolha do
tema, na retomada das opiniões das profissionais, dos
objetivos iniciais da pesquisa e na elaboração dos
indicadores que orientaram a interpretação final.
Foi decomposta em:
- Leitura Flutuante do conjunto das
comunicações, em que tomamos contato exaustivo
com o material coletado nas entrevistas.
- Constituição do Corpus: organização do
material de tal forma que pudesse responder a algumas
normas de validade, exaustividade, representatividade,
homogeneidade (que obedeceu a critérios de escolha
de temas, técnicas, interlocutores) e pertinência ao
objeto, problema da pesquisa.
- Formulação de Hipóteses e Objetivos,
baseados na necessidade de estabelecer hipóteses
iniciais, pois a realidade ainda não era evidente.
Nessa fase determinou-se a unidade de registro
(palavra-chave ou frase), de contexto (a delimitação do
contexto de compreensão), a forma de categorização e
os conceitos teóricos mais gerais que orientaram a análise.
2º- Exploração do material: Consistiu na
operação de codificação, ou seja, realizou-se a
transformação dos dados brutos visando a alcançar
um núcleo de compreensão do texto, classificação e
agregação dos dados.
3º- Tratamento dos resultados obtidos e
interpretação: Os resultados brutos foram submetidos
a operações estatísticas (percentagem simples) que
permitiram a interpretação das informações obtidas.
Resultados: análise e discussão
Os dados obtidos nessa pesquisa, resultantes da
opinião de nove profissionais da equipe de
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enfermagem, forneceram subsídios importantes para
análise das dificuldades mais comuns enfrentadas na
ausência de quartos privativos no setor de DIP.
Quanto a formação educacional nove profissionais
da equipe de enfermagem entrevistadas, prevaleceu a
categoria de auxiliar de enfermagem 66,6%, seguida da
enfermeira, e por último da técnica de enfermagem.
As questões relativas ao conceito de quarto privativo, a
interferência na assistência de enfermagem ao cliente diante à ausência
do quarto privativo, as questões sobre a utilização das
precauções universais e, finalmente, a opinião sobre a
improvisação do quarto privativo surgiram como categorias.
A análise dos dados referentes ao conceito de quarto
privativo evidenciou que as nove profissionais possuem
a noção do que é o quarto privativo e da sua
necessidade quando o paciente precisa de uma unidade
de isolamento. As profissionais complementam a sua
definição com a presença do profissional de saúde
na possibilidade de transmissão de doenças ou
patologias através do cuidado de enfermagem.
A Tabela I resume as palavras encontradas, entre
as nove profissionais da equipe de enfermagem.
Esses dados são cumulativos, pois apresentam
respostas semelhantes, em uma mesma pergunta.
Tabela I – Distribuição das respostas das nove
profissionais da equipe de enfermagem, referente ao
entendimento do significado de quarto privativo, Rio
de Janeiro, 2001.
PALAVRAS
Fi
Paciente, quarto
12
Isolado
3
Cliente, patologia
4
Ambiente, profissional de saúde,
transmissão de doença
4
Fi%
52,18
13,04
17,38
TOTAL
100,0
23
17,4
Para essas profissionais, na organização de um
quarto privativo deve existir: banheiro, ante-sala,
iluminação, janelas, mesa de cabeceira ou mobiliário,
grades, ventilação, conforto e bem estar, portas,
ventilador, geladeira, lavatório, cabideiro, cama,
máscara, luva e capote (Tabela II).
Quanto às opiniões sobre a interferência na assistência
de enfermagem na ausência do quarto privativo, estas ficaram
divididas quanto à importância ou não do quarto
privativo no setor, na assistência aos pacientes. Algumas
profissionais entendem que em uma enfermaria é
possível prestar assistência à pacientes portadores de
certas patologias transmissíveis, enquanto outros
preferem o quarto privativo para o tratamento destes
pacientes que podem ter, por exemplo, tétano ou BK,
como demonstra a tabela III.
Tabela II – Distribuição das respostas das nove
profissionais da equipe de enfermagem, sobre a
organização (estrutura física) de um quarto privativo,
Rio de Janeiro, 2001.
PALAVRAS
Fi
FI%
Banheiro
8
11,76
Iluminação, Janela, Anti-Sala
9
26,46
Ventilação, Portas, Grades,
Mobiliário, Capote,
Mesa de Cabeceira
6
33,48
Ventilador, Geladeira,
Conforto, Bem-Estar,
Lavatório, Cabideiro,
Cama, Máscara, Luva
9
50,22
Tabela III – Distribuição das respostas das nove
profissionais da equipe de enfermagem, sobre a
possibilidade de interferência na assistência ao cliente
na ausência do quarto privativo, Rio de Janeiro, 2001.
PALAVRAS
Fi
Fi%
Sim, Não, Enfermaria
Quarto Privativo, Paciente
BK, Tétano
Setor, Assistência, Sintomas
TOTAL
12
6
4
3
25
48
24
16
12
100
No que diz respeito à utilização das técnicas de
isolamento na assistência de enfermagem ao cliente que necessita
de precauções universais, para todos as profissionais
da equipe de enfermagem é fundamental assistir ao
paciente portador de doenças infecto-parasitárias
utilizando-as corretamente por motivo de segurança
pessoal evitando desse modo a contaminação por
agentes infecciosos. Entretanto, a falta de material e a
sobrecarga de serviço interferem nessa utilização. As
respostas estão resumidas na Tabela IV.
Tabela IV – Distribuição das respostas das nove
profissionais da equipe de enfermagem, sobre a
colocação em prática das técnicas corretas de
enfermagem, Rio de Janeiro, 2001.
PALAVRAS
Técnica
Paciente
Material, assistir, contaminar,
precaução, segurança pessoal,
agentes infecciosos, fundamental,
sobrecarga de serviço
TOTAL
86
Fi%
45
10
9
14
45
100,0
A improvisação do quarto privativo, leva a redução
do número de leitos e os a transferência de pacientes
para outras enfermarias, o que lhes é incômodo. No
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isolamento para MRSA, o uso de capote e luvas, a
separação dos objetos individuais e a orientação dos
familiares são medidas usadas e orientadas somente
na assistência aos pacientes em isolamento, quando
existem outros na mesma enfermaria, como
demonstra a Tabela V.
Tabela V – Distribuição das respostas das nove
profissionais da equipe de enfermagem, sobre a
improvisação de um quarto privativo, Rio de Janeiro, 2001.
PALAVRAS
Enfermaria, Paciente
Leitos, Isolamento
Fechar
Desocupados, familiares,
atrapalha, capote, luvas,
incômodo, objetos individuais,
assistência
TOTAL
Fi
12
8
2
Fi%
38,5
25,8
6,45
9
31
28,98
100,0
se preocupam em utilizar as técnicas corretas e as
precauções necessárias. Entretanto colocam como
fator limitante a grande demanda de serviço o que
implica na falta de tempo além de escassez de material,
o que interfere no bom andamento da assistência.
Quanto às causas das dificuldades mencionadas,
em relação à improvisação do quarto privativo,
verificou-se que o fato de fechar uma enfermaria para
este fim, limita o número de leitos e causa incômodo
aos clientes, já que são removidos para outras
enfermarias.
Baseados nesses dados, a conseqüência da falta
de quartos privativos no setor de Doenças InfectoParasitárias interfere negativamente na assistência de
enfermagem tanto para as profissionais da equipe com
para a clientela atendida.
Referências
Diante destas considerações, acredita-se que há
necessidade de se analisar profundamente os conceitos
de quarto privativo de modo a atender as necessidades
das profissionais de enfermagem na assistência aos
clientes portadores de doenças infecto-parasitárias.
1.
2.
3.
Conclusão
4.
Os resultados do presente estudo indicam que
as profissionais da equipe de enfermagem têm a
noção de como deve ser um quarto privativo e
reconhecem sua importância no cuidado ao cliente
portador de doença infecto-parasitária, e também
5.
6.
7.
Brasil. Ministério da Saúde, Diário Oficial da República
do Brasil, p. 12 a 79, seção I, Portaria nº 930, Brasília,
1992.
Brasil. Ministério da Saúde, Secretaria Nacional de Ações
Básicas de Saúde. Construções e Instalações de Serviços
de Saúde. Manual de Orientações, Brasília, 1978.
Brasil. Ministério da Saúde. Brasília. Boletim Epidemiológico, v.9, p.12, 1995b.
Gil AC. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo:
Atlas; 1999.
Mynaio MCS. O Desafio do conhecimento. Pesquisa
qualitativa em Saúde. São Paulo: Afiliado; 1994.
Richardson RJ. Pesquisa Social: Métodos e Técnicas. São
Paulo: Atlas; 1999.
Segurança e Medicina do trabalho. Manuais de Legislacão
Atlas. São Paulo: Atlas;1994. p.68-75. ¡
Anexo 01
Instrumento de pesquisa
Identificação:
1- O que você entende por quarto privativo?
2- Como você espera que seja a organização (estrutura física) de um quarto privativo?
3- Você acha que a ausência do quarto privativo pode interferir na assistência ao cliente? Por quê?
4- Você sabe utilizar as técnicas corretas para assistência a um cliente que necessita de precaução seja por
gotículas, respiratória ou aérea?
( ) SIM
( ) NÃO
5- Você as coloca em prática?Por quê?
6- Dê a sua opinião sobre a improvisação de um quarto privativo.
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Anexo 02
Consentimento Livre e Esclarecido
Somos um grupo de estudantes com interesse na área de Doenças Infecto-Parasitárias (DIP) e
gostaríamos que participasse de uma pesquisa científica preenchendo o instrumento de coleta que acompanha
este documento de consentimento. A pesquisa chama-se “As conseqüências da falta de quarto privativo
para a equipe de enfermagem”. Este documento objetiva prestar esclarecimentos sobre o estudo e formalizar
seu consentimento em participar como sujeito.
O estudo terá como sujeitos a equipe de enfermagem (enfermeiro, técnico e auxiliar de enfermagem)
do setor 5 D da DIP do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho/UFRJ. Visa identificar como a
falta de quartos privativos pode influenciar na assistência de enfermagem prestada ao cliente e para os
próprios profissionais de enfermagem.
Aceitando participar, você tem o direito de interromper livremente a sua participação ou retirar o
consentimento quando quiser, sem sofrer qualquer penalidade. Será garantido o anonimato de sua identidade
e as informações coletadas servirão única e exclusivamente para o seu estudo, sendo os resultados divulgados
para a comunidade científica respeitando os preceitos éticos.
A coleta dos dados dar-se-á durante os intervalos das atividades dos profissionais, de acordo com a
disponibilidade dos sujeitos. O instrumento de coleta será preenchido em aproximadamente 15 minutos. A
principal vantagem será a possibilidade de aprimorar o conhecimento e o aprendizado sobre a existência
de quartos privativos num setor de DIP, conforme os preceitos do Manuel do Ministério da Saúde.
Termo de consentimento livre e esclarecido
Eu, ________________________________, estou ciente dos pontos abordados acima e sintome suficientemente esclarecido (a) a respeito da pesquisa proposta. É por minha livre vontade que aceito
participar como sujeito e autorizo a divulgação dos resultados, como disposto nos termos supracitados.
Rio de Janeiro, __ de ________ de 2001.
_________________________
Profissional de Enfermagem
___________________________
Pesquisador
&&
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Artigo original
Cuidados de enfermagem na assistência
ventilatória mecânica em terapia intensiva
Nursing care in mechanical ventilatory
assistance in intensive therapy
Cuidados de enfermería en la asistencia ventilatoria
mecánica en terapia intensiva
Carlos Eduardo Peres Sampaio*, Bárbara Fernandes**, Fernanda Freire**, Márcia Dourado**
*Enfermeiro, Graduado na EEAN/UFRJ, Professor Adjunto do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgico (DEMC) da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (UERJ),**Enfermeiras especialistas em terapia intensiva pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ)
Resumo
O presente trabalho trata de uma pesquisa sobre as intervenções de enfermagem em um cliente submetido à assistência
ventilatória mecânica em unidade de terapia intensiva. Os objetivos propostos foram identificar as intervenções desenvolvidas
pelo enfermeiro na unidade de terapia intensiva, caracterizar de que forma as intervenções de enfermagem participam na assistência
ventilatória e discutir a eficácia da intervenção na assistência de enfermagem como fator resultante na recuperação do cliente sob
ventilação mecânica. Optamos por uma abordagem qualitativa para dar maior viabilidade e consistência ao estudo. O instrumento
utilizado foi a entrevista semi-estruturada realizada com 07 enfermeiros da unidade de terapia intensiva de um Hospital da rede
pública do Município do Rio de Janeiro. Os dados foram analisados com base na fundamentação teórica, sendo elaboradas 3
categorias e 4 subcategorias: primeira categoria - Intervenções desenvolvidas na Unidade de Terapia Intensiva, em clientes
submetidos à assistência ventilatória mecânica; segunda categoria - Contribuição das intervenções de enfermagem na assistência
ventilatória; terceira categoria - A enfermagem e a recuperação do cliente sob ventilação mecânica. A partir do aprofundamento
destas categorias concluímos que os enfermeiros avaliam alguns pontos: saturação de oxigênio, conforto e tranqüilidade do
cliente, estabilização dos sinais vitais, diminuição no tempo de internação e diminuição no nível de infecções. Entretanto, em sua
maioria, os enfermeiros não realizam a assistência integrada do cliente crítico sob ventilação mecânica.
Palavras-chave: Ventilação mecânica, terapia intensiva, cuidado de enfermagem.
Artigo recebido em 6 de novembro 2002; aceito em 15 de fevereiro de 2003.
Endereço para correspondência: Carlos Eduardo Peres Sampaio,
Rua Fagundes Varela, 530/901 Ingá 24210-520 - Niterói RJ,
Tel:(21)2721-2619/9366-3494, E-mail: [email protected]
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Abstract
The aim of this work was to study the nursing interventions in a patient submitted to ventilatory mechanical assistance, in
Intensive Care Unit. The objectives were to identify the interventions developed by the nurse in the Intensive Care Unit, to
characterize how the nursing interventions participate in the ventilatory assistance and discuss the effectiveness of the nursing
assistance in the recuperation of the patient under mechanical ventilation. We choosed a qualitative approach to give greater
viability and consistency to the study. The used instrument was the interview half-structuralized with 07 nurses of the Intensive
Care Unit of a Hospital of the public network of the City of Rio de Janeiro. The data had been analyzed on the basis of the
theoretical concepts, being elaborated 3 categories and 4 subcategories: First category - Interventions developed in the Intensive
Care Unit, patients submitted to ventilatory mechanical assistance; second category - Contribution of nursing interventions in
the ventilatory assistance; and third category - The nursing care and the recuperation of the patient under mechanical ventilation.
We concluded that the nurses can assess some points: oxygen saturation, comfort and tranquilization of the patient, stabilization
of the vital signs, reduction of the hospitalization time and level of infection. However, generally the nurses do not realize the
integrated assistance of the patient under ventilation assistance.
Key-words: Mechanical ventilation, intensive care, nursing care.
Resumen
El presente trabajo trata de una pesquisa sobre las intervenciones de enfermería en un cliente sometido a la asistencia ventilatoria
mecánica en Unidad de Terapia Intensiva. Los objetivos propuestos fueron identificar las intervenciones desarrolladas por el
enfermero en la unidad de terapia intensiva, caracterizar de que manera las intervenciones de enfermería participan en la asistencia
ventilatoria y discutir la eficacia de la intervención en la asistencia de enfermería como factor resultante en la recuperación del cliente
bajo ventilación mecánica. Optamos por un abordaje cualitativo para dar mayor viabilidad y consistencia al estudio. El instrumento
utilizado fue la entrevista semi-estructurada realizada con 07 enfermeros de la unidad de terapia intensiva de un Hospital de la red
pública del Município de Rio de Janeiro. Los datos fueron analizados con base en el fundamento teórico, siendo elaboradas 3
categorías y 4 subcategorías: primera categoría - Intervenciones desarrolladas en la Unidad de Terapia Intensiva, en clientes
sometidos a la asistencia ventilatoria mecánica; segunda categoría – Contribución de las intervenciones de enfermería en la
asistencia ventilatoria; tercera categoría – La enfermería y la recuperación del paciente bajo ventilación mecánica. A partir de la
profundización de estas categorías concluimos que los enfermeros evalúan algunos puntos: saturación de oxigeno, conforto y
tranquilidad del cliente, estabilización de los signos vitales, disminución en el tiempo de internación y disminución en el nivel de
infecciones. Entretanto, en su mayoría, no realizan la asistencia integrada del cliente crítico bajo ventilación mecánica.
Palabras-clave: Ventilación mecánica, terapia intensiva, cuidado de enfermería.
Introdução
Este estudo desenvolvido foi apresentado no
curso de Especialização em Terapia Intensiva da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ),
sobre a assistência de enfermagem ao cliente que
recebe suporte ventilatório. Mediante nossa atuação
como enfermeiros em terapia intensiva, observamos
a necessidade de avaliar e intervir nas ocorrências
ventilatórias para melhorar a qualidade da assistência
aos clientes críticos. Em nossa vivência profissional
nos deparamos com dificuldades nas ações de
enfermagem relacionadas muitas vezes, com a falta
de conhecimento dos parâmetros ventilatórios e
cuidados básicos que poderiam minimizar as
dificuldades ventilatórias proporcionando melhor
qualidade da assistência e conforto ao cliente.
O suporte ventilatório mecânico está entre as
modalidades de suporte utilizadas na terapia
intensiva, sendo medida essencial para ressuscitação
cárdio-pulmonar, exigindo do profissional
enfermeiro uma vigilância constante que muitas
vezes torna-se secundária pela falta de
conhecimento específico.
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Durante o período em que o cliente necessitar
de suporte ventilatório, deve ser assistido pelo
enfermeiro de maneira qualificada para que ao término
dessa fase, ele tenha condições fisiológicas respiratórias
para voltar a sua vida de maneira menos traumática
possível. O cliente com dificuldade ventilatória requer
do profissional enfermeiro, além de vigilância
constante, intervenções precisas e rápidas, que são
adquiridas, a partir de treinamento constante e
desenvolvimento dessas atividades à beira do leito.
Diante dessas dificuldades observamos o quanto
é importante a ação do enfermeiro para interpretar a
necessidade do cliente através de um exame físico
completo, atuando assim de maneira eficaz nas
diversas emergências ventilatórias.
Objetivo
Identificar as intervenções realizadas pelo
Enfermeiro na assistência ventilatória mecânica ao
cliente crítico; caracterizar de que forma as
intervenções realizadas pelo enfermeiro participam
na assistência ventilatória mecânica; discutir a eficácia
da intervenção de enfermagem como fator resultante
na recuperação do cliente crítico, sob ventilação
mecânica.
Metodologia
A pesquisa foi do tipo descritiva com
abordagem qualitativa, por melhor adequar-se à análise
do objeto e aos objetivos, e “por registrar, descrever,
analisar e interpretar a natureza atual”. O uso da
abordagem qualitativa, portanto, nos ajudou a
explorar os dados subjetivos, já que envolve a
obtenção de dados sobre o conhecimento dos
enfermeiros no setor de terapia intensiva e sobre as
intervenções realizadas na assistência ventilatória
mecânica ao cliente crítico.
A pesquisa qualitativa é caracterizada pela
obtenção de dados descritivos no contato direto entre
o pesquisador e a situação estudada, valorizando mais
o processo que o produto; preocupando-se em
retratar as perspectivas dos participantes Lüdke e
André [1].
O campo ou cenário escolhido foi na unidade
de terapia intensiva de um hospital do Município do
Rio de Janeiro. A eleição do campo e dos sujeitos
bem como dos procedimentos de coleta de dados
atenderam às determinações da resolução no 196, de
10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de
Saúde [2], que estabelece diretrizes e normas
regulamentares de pesquisa envolvendo seres humanos.
Foram escolhidos os Enfermeiros que atuam
na assistência do referido hospital na unidade de
terapia intensiva. Eles foram selecionados enquanto
integrantes do objeto de estudo.
A coleta de dados ocorreu nos meses de
outubro e novembro de 2001. Para atingirmos os
objetivos desta pesquisa, utilizamos como instrumento
a entrevista semi-estruturada com questões abertas
verificando o conhecimento dos enfermeiros a cerca
de como proceder para melhorar as condições
ventilatórias e a assistência de enfermagem dos clientes
internados na unidade de terapia intensiva. A entrevista
semi-estruturada permitiu ao enfermeiro discorrer
sobre o tema proposto sem condições prefixadas.
Por isso, escolhemos esta técnica para realizarmos a
coleta de dados. Partimos de questionamentos a
respeito dos procedimentos realizados pelos
enfermeiros durante a assistência de enfermagem ao
cliente que necessita de suporte ventilatório mecânico.
Na entrevista semi-estruturada, o investigador
estará presente e o informante tem todas as
oportunidades possíveis de responder aos
questionamentos básicos com liberdade e
espontaneidade, o que, obviamente enriquece a
investigação Triviños [3].
As respostas das entrevistas foram gravadas e
foi garantido o anonimato e o sigilo das respostas,
mediante um termo de consentimento livre e
esclarecido, conforme prevê a resolução 196/96 do
Conselho Nacional de Saúde (1996). Desta forma,
foi atribuído pseudônimos para preservar a
integridade dos enfermeiros.
As respostas fornecidas pelos enfermeiros
foram agrupadas, atendendo às regras básicas
preconizadas como princípio de classificação de
categorias por Minayo [4]. É em síntese, o ato de
recortar, classificar e ordenar idéias ou fatos segundo
as semelhanças. Representam classes ou rubricas que
reúnem, sob um título genérico, um grupo de
elementos (unidades de registro), cujo agrupamento
é feito tomando por base caracteres comuns desses
elementos. As categorias de análise emergiram da
leitura dos depoimentos, dos objetivos
preestabelecidos, da base teórica adotada.
Resultados e discussão
Neste capítulo, apresentamos os resultados
conforme tratamento especificados na metodologia.
Foram entrevistados 7 enfermeiros da unidade de
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terapia intensiva da rede pública do Rio de Janeiro.
Os enfermeiros entrevistados apresentam em média
15 anos de formados e 7 anos de experiência em
unidade de terapia intensiva. O corpo de material neste
estudo compõe-se de três categorias e a partir destas
4 subcategorias.
1ª Categoria- Intervenções desenvolvidas na
Unidade de Terapia Intensiva, em clientes
submetidos à assistência ventilatória
O conjunto de intervenções realizadas ao cliente
submetido à assistência ventilatória mecânica contribui
para a recuperação do cliente e uma assistência de
enfermagem planejada A partir desta categoria foram
analisadas as seguintes subcategorias:
1.1 - Intervenções de enfermagem desenvolvidas
com o cliente durante o suporte ventilatório
mecânico
Os dados apresentados foram obtidos a
partir das falas dos enfermeiros que trabalham com
clientes submetidos à ventilação mecânica. Houve
concordância entre as entrevistas quando se refere
a procedimentos voltados para o cuidado
ventilatório do cliente, citando a importância da
sua presença na realização de procedimentos
específicos, entre eles: a aspiração das vias aéreas
inferiores (VAI) e a troca do filtro bacteriológico
foram as técnicas mais citadas.
Foi destacado pela enfermeira Maria,
intervenções como aspiração de vias aéreas inferiores
(VAI), fixação de tubo orotraqueal (T.O.T.) e troca
do filtro bacteriológico. Isto pode ser observado nos
trechos a seguir:
“...fazemos vários procedimentos alguns são invasivos, nós
devemos realizar a instalação do ventilador no paciente, aspiração
do T.O.T. e VAI, troca do filtro...” (Enf. José)
“Aspirar o paciente sempre que necessário, controle da
saturação, gasometria, observar se a umidificação está
satisfatória...” (Enf. Daniele)
De acordo com Cintra [5], é muito importante
a aspiração de secreções como cuidado relacionado
à manutenção da via aérea artificial prevenindo
atelectasias e infecções. A umidificação e o
aquecimento dos gases inalados em ventilação
mecânica são indispensáveis para prevenir a
hipertermia, aumento da viscosidade das secreções e
atelectasias.
Quanto à obstrução de vias aéreas por aumento
de secreções, Hudak [6] afir ma que ocorre a
estimulação a tosse, gerando pressão aumentada, na
qual se apoiará a pressão pre-estabelecida do
ventilador, diminuindo o volume corrente.
De forma geral, os depoimentos apresentam a
preocupação que estes profissionais depositam a
questão da assistência de enfermagem ao cliente sob
suporte ventilatório mecânico. Assim como ressaltado
pelos pesquisadores, os enfermeiros atribuem
significativa melhora do quadro respiratório, quando
são realizados os cuidados descritos acima. Os
procedimentos realizados,proporcionam conforto e
rápida recuperação do cliente, além de facilitar o
desmame e retirada da prótese ventilatória.
1.2 Intervenções de enfermagem na retirada da
prótese ventilatória
É referido pelos depoentes a importância dos
cuidados de enfermagem durante a retirada do tubo
orotraqueal (T.O.T.). Além disso, alguns de maneira
mais objetiva consideram fundamental acoplar o
paciente na macronebulização, considerando que este
procedimento oferece conforto e melhora do padrão
respiratório.
Isto pode ser observado nos trechos a seguir:
“ ... um ponto importante na parte ventilatória é a
saturação de oxigênio e a FiO2 , após retirada do T.O.T.,
acoplar o paciente na macronebulização e observar a melhora
do paciente...” (Enf. Ricardo)
“ ...as intervenções na parte ventilatória são muitas...os
cuidados na retirada do T.O.T. favorece o melhor desmame e a
estabilização respiratória ao paciente...” (Enf. Fabiana)
Segundo Cintra [5] a extubação é a retirada
do tubo orotraqueal das vias aéreas superiores do
cliente, após estabilidade respiratória e retorno às
condições respiratórias satisfatórias. Alguns
procedimentos devem ser realizados, entre eles:
coleta de dados do volume corrente, freqüência
respiratória, saturação de oxigênio e freqüência
cardíaca antes do início do procedimento, ausculta
pulmonar, higiene brônquica e então retirada do
tubo orotarqueal e nova higiene após extubação,
agora de via oral e nasal.
Os enfermeiros entrevistados mencionam a
importância da realização de intervenção de
enfermagem na retirada da prótese ventilatória.
Obser vamos que as intervenções citadas são
importantes face à realização da extubação e está de
acordo com Cintra [5]. Entretanto, os enfermeiros
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não mencionaram a importância dos parâmetros de
monitorização do cliente sob ventilação mecânica, bem
como o exame físico respiratório do cliente crítico,
ponto crucial de acordo com Kimura [7], para a
avaliação do cliente. O exame físico fornece
informações muito importantes para a realização do
diagnóstico de enfermagem e consequentemente o
plano de cuidado. Na verdade, o enfermeiro deve
estar atento a frequência respiratória, a instabilidade
respiratória e cardíaca, ou seja, uma avaliação integral
envolvendo todos os sistemas, além de manter o
paciente em fowler 45º a 60º, pois facilita o
funcionamento do seu diafragma. Apesar de vários
autores já terem descrito as intervenções de
enfermagem ao cliente extubado, a prática nos mostra
que o enfermeiro deve realizar melhor o
acompanhamento do cliente após a retirada do tubo
orotraqueal.
2 ª Categoria- Contribuição das intervenções
de Enfermagem na assistência ventilatória.
Nessa categoria são abordadas situações e
circunstâncias que influenciam de forma direta e
decisiva o quadro do cliente. Em geral, os depoentes
fizeram menção a aspectos semelhantes, referentes a
contribuição das intervenções de enfermagem na
assistência ventilatória. Aspectos como a tranqüilidade
e o conforto do cliente, melhora da saturação de
oxigênio e normalização dos sinais vitais foram
destacados com relevância nos trechos abaixo
relacionados.
“...O fundamental é o apoio psicológico fazendo com que o
cliente possa suportar a ventilação mecânica tanto em
tranqüilidade como conforto e confiança na equipe de
enfermagem...outro ponto importante é a saturação de oxigênio...”
(Enf. Ricardo)
“...O paciente fica mais tranqüilo, pela remoção das
secreções, pela melhora do processo ventilatório, pela melhora
da oximetria capilar e dos sinais vitais...” (Enf. Maria)
Quanto ao apoio emocional, Hudak [6] afirma
que o cliente em ventilação mecânica está sujeito a
uma carga de estresse considerável. A equipe de
enfermagem empenha-se em estabelecer uma relação
de confiança com o cliente e sua família. Conhecer o
cliente é essencial para reduzir sua ansiedade, sendo
necessário métodos alternativos de comunicação.
Observamos que ficar junto ao cliente durante
períodos de ansiedade e frustração, transmitir
segurança e interesse pelo seu bem estar, usar
estratégias para mantê-lo calmo e mostrar os
progressos realizados são meios utilizados pelas
enfermeiras, particularmente no desmame do
cliente.
3ª Categoria - A enfermagem e a recuperação do
cliente sob ventilação mecânica
O tempo de internação foi identificado como
um fator dependente dos cuidados de enfermagem,
assim como as infecções hospitalares. A partir desta
categoria foram analisadas as seguintes subcategorias:
3.1 Redução no tempo de internação
Alguns depoentes, relatam que as intervenções
de enfermagem estariam relacionadas com a questão
da redução do tempo de internação do cliente. Foi
destacado pela enfermeira Fabiana que as intervenções
de enfermagem diminuem o tempo de internação.
Podemos observar nos trechos a seguir:
“...primeiro lugar, a gente percebe que estes cuidados levam
a recuperação mais rápida do paciente, porque ele fica menos
dependente do respirador, com melhor funcionamento
respiratório...isso é muito bom para a recuperação do paciente.”
(Enf. Ricardo)
“...As intervenções de enfermagem favorecem a redução
do tempo e estada do paciente, na diminuição dos riscos de
broncoaspiração e no conforto do paciente...” (Enf. José).
Bajay [8] comenta que a melhor maneira de
tentar-se entender as necessidades básicas do cliente
é colocar-se no lugar dele, imaginando cada qual, o
que precisaria para o seu melhor conforto físico e
emocional. O cliente em ventilação mecânica deve,
desde o início de seu treinamento, ser informado de
que estará temporariamente ligado ao respirador, mas
tão logo suas condições clínicas voltem a estar estáveis
ou satisfatórias passará a assumir suas funções vitais
normais, como respiração, fala e alimentação.
A atuação da enfer magem na ventilação
mecânica é intensa, extensa e complexa, no que diz
respeito às relações entre os diferentes membros da
equipe que assiste ao cliente.
3.2 Redução do nível de infecção
Em geral, os depoentes comentaram sobre a
importância das intervenções na diminuição dos níveis
de infecções respiratórias, principalmente pneumonia.
Aspectos como aspiração de vias aéreas inferiores
com técnica estéril, utilização do filtro bacteriológico
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e cuidados com as traquéias para reduzir as infecções
respiratórias foram mencionadas. Foram destacados
com relevância nos trechos abaixo relacionados.
“...as intervenções contribuem muito evitando infecção
respiratória, pois a quantidade de secreções diminuem...quando
trocamos o filtro é uma forma de evitar infecção retendo bactérias
e proporcionando ventilação de acordo com o programado...”
(Enf. Fabiana)
“A gente percebe que as intervenções são importantes pela
diminuição das pneumonias, e o paciente fica melhor, o conforto
aumenta...” (Enf. Daniele)
De acordo com Brunner [9] clientes entubados
têm alto risco de infecção respiratória. A colonização
da orofaringe é um precursor importante da
pneumonia. O emprego de técnicas corretas no
manuseio dos equipamentos de ventilação mecânica
é fator de prevenção, pois a contaminação bacteriana
destes pode predispor ao desenvolvimento de
pneumonia [10].
Os depoentes relatam a importância das
intervenções de enfermagem na redução do nível de
infecção, da mesma forma ressaltado pelos
pesquisadores. Sabemos que inúmeros avanços
tecnológicos de suporte de vida aos clientes admitidos
em unidades de terapia intensiva trouxeram inúmeros
benefícios, mas também aumentaram os riscos
associados a tais intervenções incluindo as infecções
hospitalares, apesar dos relatos mostrarem
conhecimento dos enfermeiros quanto às
intervenções. É fundamental a conscientização da
equipe de enfermagem para prevenção das infecções
hospitalares em unidade de terapia intensiva devido
os altos índices de infecções. Desta forma, estaremos
contribuindo para redução dos riscos de complicação
a um mínimo aceitável.
Considerações finais
A realização deste estudo nos favoreceu ampliar
nossos conhecimentos sobre a assistência de
enfermagem ao cliente submetido a ventilação
mecânica e perceber a grandiosidade da assistência
de enfermagem no contexto do atendimento recebido
pelo cliente hospitalizado. Os resultados indicam que
os enfermeiros conhecem algumas intervenções
utilizadas durante a assistência ao cliente sob ventilação
mecânica, como: a aspiração das vias aéreas inferiores
(VAI) e a troca do filtro bacteriológico. Estas foram
as técnicas mais citadas. Aspectos como a tranqüilidade
e o conforto do cliente, melhora da saturação de
oxigênio, normalização dos sinais vitais, foram
destacados. Entretanto, não demonstraram uma visão
global do cliente crítico.
Alguns dos depoentes, relatam que as
intervenções de enfermagem estariam relacionadas
com a questão da redução do tempo de internação
do cliente, pois diminuem os níveis de infecções
respiratórias, entre elas pneumonia. Cuidados como
aspiração de vias aéreas inferiores com técnica estéril,
utilização do filtro bacteriológico e cuidados com as
traquéias foram mencionados para redução das
infecções respiratórias.
Em geral, os depoentes fizeram menção a
aspectos semelhantes, referentes à contribuição das
intervenções de enfermagem na assistência
ventilatória. Por sua vez, as condutas de enfermagem
na monitorização da sedação e analgesia não foram
abordados, bem como os cuidados com o suporte
nutricional, cuidados com a pele e mucosas e a
importância da avaliação neurológica.
Estes resultados mostraram que os enfermeiros
em sua maioria não utilizam os parâmetros de
monitorização respiratória do cliente sob ventilação
mecânica, como o exame físico respiratório muito
importante na avaliação do cliente crítico [7]. Estes
dados são relevantes, pois o enfermeiro permanece
grande tempo monitorizando e avaliando o cliente e
não realiza uma avaliação integrada. Na verdade, o
enfermeiro não deve ficar restrito a algumas técnicas,
mas realizar a avaliação sistematizada e integrada, dos
parâmetros hemodinâmicos: frequência respiratória, a
instabilidade respiratória, cardiovascular, elaborar e
executar um plano de cuidados, incluindo todos os
aspectos da assistência de enfermagem, e estabelecer
uma relação de confiança com o cliente e sua família,
pois desta maneira estaremos prestando uma assistência
de enfermagem mais qualificada. Em unidade de
terapia intensiva, como em outras áreas de atuação,
enfermagem é antes de tudo interação humana.
Referências
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2.
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4.
Lüdke M, André MED. Pesquisa em educação:
Abordagem qualitativa. São Paulo:EPU;1986. p.99-101.
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humanos.
Triviños ANS. Introdução à pesquisa em ciências sociais.
São Paulo:Atlas;1987. p.175-176.
Minayo MCS. Pesquisa Social: teoria, método e
criatividade. Petrópolis: Vozes; 1999.
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6.
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Cintra EA, Nishide VM, Nunes WA. Assistência de
Enfermagem ao Paciente Crítico. São Paulo: Atheneu;
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Hudak CM, Gallo BM. Cuidados Intensivos de
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Kimura M, Miyadahira AMK, Cruz DALM, Takahashi
EIU, Padilha KG, Souza RMC. O exame físico e o
enfermeiro de UTI. Revista Escola Enfermagem da USP
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Artigo original
Avaliação do desenvolvimento de um grupo
de crianças assistidas em creche, utilizando
o teste de triagem de Denver II
Evaluation of the development of children group, in day-nursery,
through the selective test of Denver, versionII
-valuación del desarrollo de niños, asistidos en guardería,
utilizando el test de Denver II
Aspásia Basile Gesteira Souza*, Célia Nascimento Siqueira**
*Enfermeira, Mestre em Enfermagem pediátrica, Professora da disciplina de Saúde da criança da Faculdade Santa Marcelina, **Graduanda do 8º
período da Faculdade Santa Marcelina
Resumo
Este estudo utilizou o método quantitativo descritivo para avaliar o desenvolvimento de 34 crianças, entre 12 e 47 meses,
assistidas em uma creche privada, filantrópica, no município de São Paulo através do Teste de Triagem do desenvolvimento de
Denver, versão II. Os resultados apontam para alterações nas áreas de linguagem e motora fina nas diversas faixas etárias,
sugerindo a necessidade de avaliações mais freqüentes. As autoras enviaram uma proposta diretamente para a instituição
contendo atividades para estimular o desenvolvimento das crianças.
Palavras-chave: Enfermagem pediátrica, desenvolvimento, saúde da criança, consulta de enfermagem.
Abstract
This study was based on the descriptive quantitative method in order to evaluate the development in children, from 12 to 47
months. Children involved in this study was observed within a philanthropic and private day-nursery in São Paulo town,
through the selective test of development of Denver, version II. The results point out alterations regarding fine motor and
language areas, within diferent ages. The results suggest the necessity of more frequent evaluations. The authors forwarded to
the institution a direct proposal containing activities to stimulate children’s development.
Key-words: Pediatric nursing, development, children’s health, nursing consultation.
Artigo recebido em 31 de janeiro de 2003; aceito em 15 de março de 2003
Endereço para correspondência Aspásia Basile Gesteira Souza
Rua Cesáreo Galeno, 448 bloco alfa 6o andar Tatuapé São Paulo SP,
Tel: (11)6190-1341, E-mail: [email protected], [email protected]
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Resumen
Este estudio utilizó el método de cuantidad descriptivo para evaluar el desarrollo de 34 niños entre 12 y 47 meses asistidos en una
guardería privada, filantrópica, en el municipio de São Paulo, utilizando el Test de desarrollo de Denver, versión II. Los resultados
apuntan para alteraciones en las áreas de lenguaje y motoras finas en los diversos grupos de edad , sugiriendo la necesidad de evaluación
más frecuentes. Las autoras enviaron a la institución una propuesta con actividades para estimular el desarrollo de los niños.
Palabras-clave: Enfermería pediátrica, desarrollo, salud del niño, consulta de enfermería.
Introdução
A vida do ser humano é marcada por mudanças
psico-biológicas, que tem seu início na concepção e
continuam no decorrer da existência.
Estas mudanças são evidenciadas pelos
fenômenos do crescimento e, em especial, pelo
desenvolvimento. Na infância, existem necessidades
inerentes a estes fenômenos e que precisam ser
atendidas para se garantir um adulto sadio, ajustado,
produtivo e independente.
Desenvolvimento é a característica primordial
da criança que cresce, que se modifica e se afirma
como indivíduo [1].
Crescimento e desenvolvimento constituem o
resultado final da interação de fatores que podem ser
divididos em intrínsecos e extrínsecos. Os primeiros
são representados basicamente pela herança biológica
e pelo sistema neuro-endócrino, enquanto os
extrínsecos são representados pela ingestão de dieta
adequada, educação, estimulação e o meio ambiente
favorável. Desenvolvimento é diferente de
crescimento. Já crescimento pode ser mensurado e,
num determinado momento desacelera-se e é
interrompido, desenvolver-se diz respeito ao ganho
de novas aptidões, habilidades físicas e sobretudo
mentais; são novos aprendizados e novas formas de
compreender, e isto pode perpetuar-se até que a
própria vida se finde.
Os estudos de Gesell et al. [2] identificam os
padrões de comportamento e o desenvolvimento
comportamental. Entende-se por comportamento
todas as reações reflexas, voluntárias, espontâneas ou
aprendidas. O comportamento se desenvolve e assume
padrões que podem ser comparados entre valores
etários equivalentes. Estes autores associaram o
desenvolvimento a cinco campos do comportamento:
adaptativo, motor grosseiro, motor delicado, de
linguagem e pessoal-social, utilizados como
indicadores por outros estudiosos.
A importância do acompanhamento do
crescimento e desenvolvimento da criança visa a
promoção e manutenção de sua saúde, bem como a
intervenção sobre fatores capazes de comprometêla [3]. Este acompanhamento deve ser realizado
periódica e continuamente.
Os primeiros anos desta trajetória são os de
maior vulnerabilidade tanto do ponto de vista
biológico, como psicossocial e por isso a estimulação
é tida como determinante de um crescimento e
desenvolvimento pleno.
As crianças sujeitas a potenciais atrasos no
desenvolvimento podem ser identificas já ao
nascimento, por meio do conhecimento de seu peso
e da situação sócio-econômica da família,
correlacionando desenvolvimento com crescimento.
Muitos problemas evidentes aos seis ou oito anos
poderiam ser evitados ou minimizados, pela detecção
precoce de distúrbios do desenvolvimento e
intervenção individualizada [4], resultando em melhor
qualidade de vida para a criança, sua família e para a
comunidade e atentam para o fato de que, apesar de
programas sistematizados de acompanhamento de
bebês de risco ainda serem pouco freqüentes no nosso
país, avaliações sistemáticas em idades-chave são a
base do reconhecimento de desvios do
desenvolvimento.
Dados sistematizados também são necessários
para examinarmos a validade de testes utilizados no
acompanhamento do desenvolvimento infantil, de
forma a contarmos com instrumentos eficientes para
a detecção de atrasos ou desvios no desenvolvimento
da criança brasileira.
Algumas avaliações poderiam orientar estas
ações, pois identificariam os casos suspeitos para
melhor acompanhamento.
'%
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Entre os testes de avaliação do desenvolvimento
destaca-se o Teste de triagem do desenvolvimento
de Denver (TTDD), descrito por Frankemburg et al.
[5] na cidade de Denver, EUA, consistindo na
avaliação, segundo idade (em meses), do
comportamento nas áreas motora grossa, linguagem,
motora fina-adaptativa e pessoal-social, .
Este importante instrumento foi revisado e
ampliado para 125 itens, passando a denominar-se
TTDD II [6]. Segundo [7], o TTDD não é um teste
de avaliação do coeficiente de inteligência e de
desenvolvimento isolado. É um instrumento de
avaliação da condição atual do desenvolvimento
maturacional da criança. Desta maneira também não
deve ser utilizado como um instrumento diagnóstico.
Trata-se de um teste padronizado, que pode ser
utilizado como referência à observação do
desenvolvimento de crianças entre 0 a 6 anos de idade.
Os dados obtidos através da sua aplicação são
utilizados para deter minar se a criança está
progredindo como esperado para sua idade
cronológica e maturidade.
O autor ressalta ainda que o TTDD não se
caracteriza como um instrumento específico de uma
área ou profissão, ou seja, não é de uso exclusivo de
um determinado profissional, pode ser utilizado nos
mais variados tipos de serviços de atendimento à
criança como: unidades básicas de saúde,
ambulatórios, consultórios, clínicas, unidades
pediátricas em hospitais, creches, pré-escolas e serviços
especializados em distúrbios do desenvolvimento
infantil permitindo a cada profissional uma leitura dos
dados obtidos, de acordo com a sua formação
específica.
O Teste de Denver também pode sugerir a
necessidade de um exame mais pormenorizado, com
conseqüente encaminhamento a profissionais
especializados como neuropediatra, psicólogo,
fonoaudiólogo, fisioterapeuta, psicomotricista,
psicopedagogo e outros.
O acompanhamento do desenvolvimento
abrange orientações que visam promovê-lo, mantêlo e recuperá-lo.
Entendemos que a enfermeira seja um dos
profissionais da saúde em condições de desenvolver
as ações de acompanhamento do desenvolvimento
uma vez que tem conhecimentos acerca deste
processo, bem como das necessidades da criança e
formas de atendê-las [8].
A educadora em saúde compartilha, com a
criança e família, informações e conhecimentos quanto
à avaliação das demandas de enfermagem da criança,
reforçando as condutas adequadas empregadas pelos
familiares para atendê-la, pondo em discussão aquelas
que julga inadequadas, propondo alternativas a serem
analisadas em conjunto com os familiares e cuidadores.
Percebemos, assim, espaço para a atuação
profissional do enfermeiro na avaliação e triagem de
criança, nos mais diversos contextos (creche, escola,
posto de saúde, consultório, ambulatórios, hospital),
favorecendo a detecção e encaminhamento de casos
que necessitem acompanhamento e avaliações mais
freqüentes.
Assim, vislumbrando a possibilidade de
aprimorar e aprofundar conhecimentos focados no
desenvolvimento infantil suscitou-nos o interesse em
realizar este estudo.
Objetivos
Este trabalho tem como objetivos:
• Conhecer o perfil de desenvolvimento em
infantes atendidos em uma creche, utilizando o Teste
de triagem de Denver II.
• Investigar se existem defasagens no
desenvolvimento entre as crianças participantes
deste estudo.
Método
Para a realização deste estudo escolhemos o
método quantitativo. Segundo Leopardi [9]e Polit
et al. [l0], este método é utilizado quando se tem
um instrumento de medida utilizável e válido e
deseja-se assegurar a objetividade dos achados, a
questão proposta indica a preocupação com
quantificação, necessita-se comparar eventos ou for
desejável replicar o estudo.
Esta pesquisa tem caráter exploratório e descritivo,
caracterizado pela necessidade de se explorar uma
situação não conhecida da qual se tem necessidade de
maiores informações. Portanto, o estudo descritivo
pretende reportar-se com exatidão aos fatos ou
fenômenos de determinada realidade [9].
Local do estudo: O estudo foi realizado em
uma creche privada, de caráter filantrópico, mantida
por um grupo de empresas, situada no município de
São Paulo.
Características estudadas: Idade dos infantes,
delimitada entre 12 e 47 meses, presença ou ausência
de alteração no desenvolvimento diagnosticada
previamente.
'&
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População e amostra: Como esclarecemPolit
et al. [10], população é todo conjunto de indivíduos
que possuem características em comum, sendo
amostra um conjunto ou parcela da população.
A população foi composta por crianças
matriculadas na instituição, sendo a amostra obtida
entre as crianças que estavam na faixa etária entre um
e três anos e onze meses (infantes ou toddler), sem
alterações no desenvolvimento diagnosticadas, cujos
pais ou responsáveis legais autorizaram a aplicação
do teste nos mesmos.
Determinamos esta faixa etária por ser esta a
de interesse para a pesquisa já que percebe-se, neste
período, verdadeira “explosão” no ganho de novas
e importantes habilidades, um real desabrochar para
o mundo, tornando assim sua avaliação de
importância capital.
De um total de 46 infantes, não obtivemos
autorização dos pais para aplicação do teste em uma
criança, dez destas estavam ausentes nos dois dias em
que os dados foram coletados e uma foi excluída
(apesar de ter sido submetida ao teste) por ter
diagnóstico médico de atraso no desenvolvimento e
hidrocefalia. A amostra desta pesquisa foi constituída
de 34 crianças.
Como objetivo ampliado deste estudo, foi
exposto às coordenadoras, auxiliar de enfermagem
da instituição e algumas funcionárias/educadoras
noções sobre o teste de Denver e principais
características do desenvolvimento entre 1 e 3 anos.
Tratamento dos dados: Os laudos emitidos
após cada teste foram analisados, agrupando-os
segundo resultados convergentes e divergentes,
apresentados em gráficos e tabelas, em números
relativos e absolutos, como se segue.
Resultados e discussão
Apresentaremos os resultados obtidos a seguir,
após tabulação e análise dos dados coletados.
Gráfico 1 -Distribuição das crianças entre 12 e 47
meses, avaliadas pelo Teste de Denver II, segundo
tipo de comportamento demonstrado; creche
filantrópica no município de São Paulo, 2002.
Comportamento típico para a idade, segundo TTDD II
a obediência, na maioria das vezes,
o estado de alerta, atenção e interesse constantes,
timidez e temor leves ou ausentes.
Instrumento de coleta de dados: Utilizamos
cópia do TTDD II de Frankenburg et al. [6] e
formulário onde foram identificados nome, idade,
antecedente de déficit no desenvolvimento
diagnosticado, data e laudo após aplicação do teste,
bem como o material utilizado no mesmo, como
indicam Whaley [6] e Brêtas et al. [7].
Coleta de dados: Realizou-se durante o mês de
outubro de 2002, pelas autoras após encaminhamento
e aprovação do projeto pela Comitê de Ética e Pesquisa
da Faculdade Santa Marcelina e autorização da
instituição onde os dados foram coletados.
Primeiramente enviamos aos responsáveis pela
criança Termo de Consentimento informado aos
sujeitos a fim de obtermos a anuência dos mesmos
para aplicação do teste, assim como texto explicativo
sobre o projeto de pesquisa, determinando prazo de
até uma semana para envio da resposta.
Após a autorização, foi agendado junto à
coordenação da creche, local, data e períodos
necessários para os encontros, sempre na presença
de um educador ou coordenador da instituição. Os
pais ou responsáveis estavam cientes dos horários,
podendo assistir ao teste. Devido à rotina dos pais,
nenhum teste foi aplicado com sua presença.
Como podemos observar no gráfico 1 a maioria
dos infantes, 64 %, apresentou comportamento típico
para a idade; 36% das crianças apresentaram
comportamento atípico para a idade representados,
principalmente por timidez extrema, mesmo em
presença de funcionária da creche.
A avaliação destas facetas do comportamento,
sugeridas no TTDD II amplia as observações do
avaliador quanto as reações da criança durante a
aplicação, servindo também de parâmetro para
futuros testes.
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Tabela I - Distribuição dos resultados da avaliação do desenvolvimento obtidos em crianças entre 12 e 23 meses,
assistidas em creche, utilizando o Teste de Denver II . São Paulo, 2002.
Áreas do desenvolvimento testadas
Avaliação
Pessoal-social
motor fino
linguagem
motor grosseiro
N
%
N
%
N
%
N
%
Com alteração
0
0
0
0
4
57
0
0
Sem alteração
7
100
7
100
3
43
7
100
Total
7
100
7
100
7
100
7
100
N=7
A tabela I apresenta os achados obtidos após
aplicação do teste em 7 crianças entre 12 a 23 meses.
Ao observarmos os resultados, notamos que as áreas
pessoal-social, motor fino e motor grosseiro não
tiveram nenhuma alteração, tendo na linguagem
achados significativamente alterados (57%).
A linguagem avaliada no teste de Denver, nesta
faixa etária, refere-se ao número de palavras que a
criança é capaz de emitir, como papai, mamãe, dá,
não, nome de amigos, partes do corpo e de figuras
familiares [2,6], que podem ser observadas também
por relato das educadoras, já que algumas crianças
não atendem em todas as situações em que são
solicitadas. Mesmo com este recurso, percebemos
déficit nesta área, especialmente no que se refere citar
partes do corpo, falar espontaneamente, balbuciar
sons nas crianças menores, etc.
É preciso considerar, também, o estímulo que a
criança recebe para utilização destas estruturas. Alguns
adultos reforçam as palavras ditas erradamente com um
estilo infantil, o que significa dizer que “ensinam errado”,
não dando chance à criança de perceber o correto.
Segundo Sakae et al.[12], algumas crianças
apresentam um atraso no aparecimento da fala,
ultrapassando a idade de 18 meses sem pronunciar
uma só palavra. Este comportamento pode expressar
a falta de estímulo verbal oferecido à criança ou até
mesmo ser um primeiro sinal de sua dificuldade de
contato com o mundo. Assim, como propõe o
TTDD, o acompanhamento faz-se necessário para
avaliar progressos ou defasagens que podem surgir
dentro de algum período.
A análise dos dados obtidos após aplicação do
teste em treze crianças entre 24 a 35 meses, assistidas
na instituição, estão apresentados na Tabela II, em
que podemos notar que as áreas do desenvolvimento
pessoal social e motor grosseiro foram as que
apresentaram menor alteração com porcentagem
semelhantes (15%), tendo na linguagem a maior
freqüência de achados alterados (46%) seguida pela
motor fino (23%).
Espera-se que o infante tenha a fala meio
compreensível, combine palavras simples, nomeie e
aponte figuras, conheça uma cor e duas ações, faça
torre com seis cubos, inicie linha vertical [6] . Interessante
observarmos que as possíveis alterações presentes
possam ser apontadas pelos adultos que convivam
com a criança já que, nesta idade, as habilidades em
se expressar pela palavra e atitudes mais complexas,
façam-se notar até mesmo por leigos.
Nota-se, em algumas situações, a falta de
necessidade da criança em nomear objetos, ações e
pessoas, pois são compreendidas por todos que
convivem com ela somente ao apontá-los. Esta
percepção vem ao encontro das observações de Silva
[11] que destaca a importância do adulto em não
“falar pela criança”, sugerindo apenas reforçá-las,
favorecendo a expressão da própria criança. Os
achados evidenciam estas alterações, principalmente
direcionadas à fala, como um todo.
Tabela II - Distribuição dos resultados obtidos com aplicação do Teste de Denver II em crianças entre 24 a 35
meses, assistidas em creche. São Paulo, 2002.
Áreas do desenvolvimento testadas
Avaliação
Pessoal-social
motor fino
linguagem
motor grosseiro
N
%
N
%
N
%
N
%
Com alteração
2
15
3
23
6
46
2
15
Sem alteração
11
85
10
77
7
54
11
85
Total
13
100
13
100
13
100
13
100
N=13
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100
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Tabela III -Distribuição dos resultados obtidos com aplicação do teste de Denver II em crianças entre 36 e 47
meses, assistidas em creche. São Paulo, 2002.
Áreas do desenvolvimento testadas
Avaliação
Pessoal-social
motor fino
linguagem
motor grosseiro
N
%
N
%
N
%
N
%
Com alteração
1
12,5
2
25
4
50
2
25
Sem alteração
7
87,5
6
75
4
50
6
75
Total
8
100,0
8
100
8
100
8
100
N=8
A tabela III apresenta os achados obtidos após
aplicação do teste em oito crianças entre 36 e 47 meses
(4 anos incompletos), assistidas na instituição.
Ao observarmos os resultados, notamos que a
área do desenvolvimento pessoal-social foi a que
apresentou menor alteração (12,5%), tendo na
linguagem a maior freqüência de achados alterados
(50%), permanecendo as áreas motoras, fina e
grosseira, com porcentagem semelhantes (25%).
Na zona pessoal-social espera-se que a criança
entre 36-47 meses seja capaz de vestir-se e escovar os
dentes com supervisão e auxílio, retirar e calçar sapatos
e camiseta, comer sozinho, desabotoar roupa, entre
outros [2,6], tarefas executadas pela imensa maioria
das crianças deste estudo. A maior independência
destes infantes nestas atividades talvez se deva ao fato
de serem ensinadas/treinadas, tanto em seus lares
como na creche, a executá-las desde cedo ganhando,
assim, maior habilidade nesta área.
A linguagem nesta faixa etária, como esclarecem
Gesell [2] e Whaley et al.[6], é usada como instrumento
de pensamento, com utilização de frases, além de
palavras isoladas, para se expressar; tendem também
a formular perguntas, reconhecem cores e figuras
familiares, contam objetos de um a três, conhecem
adjetivos e funções e têm a fala compreensível.
Na amostra avaliada as crianças com algum
grau de alteração, apresentaram dificuldade em
nomear cores, contar, usar preposições (sobre, em
baixo) além de fala não totalmente compreensível,
num total de 50%.
Neste caso os diversos fatores que envolvem a
fala como estimulação precoce, atenção exclusiva,
aspectos psicológicos, separação do convívio familiar,
tempo dos pais para ouvir a criança, entre outros,
poderiam ser os determinantes para justificar os
achados observados. O comportamento característico
nas áreas motoras fina e grosseira como mover polegar
com segurança, fazer torre de 8 cubos, desenhar
esquema corporal, copiar círculo e cruz rudimentares,
equilibrar-se em um pé, saltar à distância e em um pé,
jogar bola para o alto [2], estavam presentes em 75%
dos participantes, não apresentando nenhum déficit
nestas áreas, sendo as principais alterações encontradas
(25% das crianças) referentes ao equilíbrio em um pé
sem apoio e desenho de partes do corpo.
Na aplicação do teste tivemos algumas
dificuldades como ressaltadas na tabela IV.
Do total de 34 crianças que fizeram parte da
amostra, seis infantes recusaram-se, a participar das
atividades propostas pelo teste, mesmo com tentativas
de realizá-lo com amigos, irmãos, funcionária já
familiarizada com a criança, em outro momento, etc.
Outros comportamentos como agressividade
(uso de palavrões, desobediência), temor e timidez
extrema observados, foram relatados como habituais
da criança, pela educadora/auxiliar de enfermagem
da instituição.
Sugeriu-se repetição do teste em ocasião
oportuna a fim de acompanharmos a evolução destes
comportamentos.
Tabela IV -Distribuição das dificuldades encontradas para aplicabilidade do TTDD II em crianças entre 12 e 47
meses. São Paulo, 2002.
Faixa etária
recusa
temor
distração
agressividade
N
N
N
N
12 – 23
1
24 – 35
2
1
36 – 47
3
1
Total
6
2
timidez
N
3
1
1
4
1
3
1
10
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Conclusões
Os resultados obtidos nesta pesquisa,
possibilitou-nos algumas conclusões.
Pudemos perceber, como mostram os dados,
que a maioria das crianças não apresentaram alteração
significativa no desenvolvimento.
Quase a totalidade das crianças que mostraram
alguma defasagem, apresentaram-na em apenas em
uma área testada.
Todavia, os infantes apresentaram alterações, em
alguma área do desenvolvimento, em todas as faixas
etária, especialmente na linguagem, que apresentou
defasagens em praticamente metade das crianças.
Nas áreas Pessoal-social, Motor fino e grosseiro,
os sinais foram por nós considerados como suaves
e moderados, o que consideramos um resultado
muito animador.
Assim, notamos que o teste de Denver II
mostrou mudança em pelo menos uma área do
desenvolvimento avaliada, na maioria das crianças.
Ao mesmo tempo, diante do que foi estudado,
considera-se a hipótese de que tais sinais estejam mais
associados a problemas ambientais/ estimulação do
que a distúrbios.
Um outro fator a ser considerado é que
utilizamos, neste estudo, um teste de “Triagem do
desenvolvimento” que não tem especificidade para
avaliar nuances qualitativas do desenvolvimento
mental.
Como medidas cuidativas e preventivas,
propomos como intervenções de enfermagem:
• Dar ciência à coordenação da creche e dos pais
dos casos que merecem repetição e acompanhamento
de novo teste.
12-24 meses
Linguagem
• Propor a coordenação/pedagoga e educadora/professoras elaboração conjunta de plano de
estimulação privilegiando as áreas de linguagem e
motor fino, destacando os itens solicitados no teste
que apresentaram maior número de erros (cores,
partes do corpo, desenhos, combinar palavras, etc).
• Repetir o teste em ocasião oportuna, com
autorização dos pais.
• Sugerir aplicação do teste na admissão da
criança na creche e em cada fase marcante do
desenvolvimento, quando é feita a mudança de sala
para faixa etária maior.
Os resultados obtidos neste estudo possibilitounos alcançar os objetivos propostos, especialmente ao
comprovarmos a aplicabilidade do teste em creche e
as possibilidades de intervenção do enfermeiro.
Com esta pesquisa pudemos observar a valia
deste teste para acompanhar o desenvolvimento
infantil e sentimos que o enfermeiro pode desenvolver
este trabalho em diversos contextos de atuação,
contemplando a prevenção e detecção dos casos
suspeitos.
Considerações e recomendações finais
Acreditando que possamos, de alguma forma,
contribuir com a prevenção e acompanhamento das
crianças que fizeram parte deste estudo e tendo
levantado, após avaliação dos laudos, que a maior
defasagem deu-se na área da linguagem e motora
fina, propomos, baseado nos textos de [2,6,11,12],
as seguintes intervenções de estimulação para os
infantes, segundo sua faixa etária:
Motor fino
• Usar espelhos em sala para criança visualizar sua
imagem e sua linguagem, especialmente falada;
• Estimular identificação de partes do corpo, usando
bonecos, figuras e a própria criança;
• Pronunciar palavras de uso corriqueiro,
vagarosamente de frente para a criança;
• Treinar palavras com os fonemas p,b,t,d,k, que são
os adquiridos nesta faixa etária;
• Falar e solicitar repetição de palavras com várias
sílabas, gradativamente (evitar monossílabos) e frases
com 2-3 palavras;
• Incorporar necessidade do adulto de “não falar pela
criança”.
• Estimular subir e descer escadas, engatinhando, com
supervisão;
• Oferecer brinquedos de encaixe, com diversos
tamanhos;
• Estimular desenhos com lápis de cera grosso.
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24-47 meses
Linguagem
Motor fino
• Ensinar canções curtas;
• Estimular andar sobre linha e pedalar;
• Pronunciar palavras mais elaboradas,
• Promover brincadeiras em recipientes com água para
vagarosamente, de frente para a criança;
treinar equilíbrio;
• Utilizar recurso do espelho;
• Usar recortes, colagem e desenho de linhas;
• Treinar plurais, com uso de figuras e bonecos.
• Oferecer revistas para folhear.
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!
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Artigo original
Perfil das pessoas com diabetes mellitus
tipo 2 cadastradas no programa
de assistência ao diabético de Passos - MG
Outline of people with diabetes mellitus type 2 registered
in the program of assistance to diabetic people in Passos - MG
Perfil de las personas con diabetes mellitus tipo 2 registradas
en el programa de asistencia al diabético de Passos - MG
Vilma Elenice Contatto Rossi*, Ana Emilia Pace**
*Enfermeira, Mestre em Enfermagem Fundamental, doutoranda do Programa Interunidades de Doutoramento em Enfermagem, EERP-USP,
Docente da FAENPA, **Enfermeira. Professora Doutora junto ao Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da Escola de
Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo.
Resumo
Estudo descritivo com pessoas portadores de diabetes mellitus tipo 2, cadastradas no Programa de Assistência ao Diabético de
Passos - MG, com objetivo de conhecer as características sócio-demográficas, presença de complicações crônicas e controle
metabólico, para subsidiar o planejamento do atendimento de enfermagem a essas pessoas. A população constituiu-se de 409
indivíduos, sendo 73,1% do sexo feminino, 71,8% na faixa etária de 50 a 69 anos. 40,3% encontravam-se em sobrepeso. A
complicação crônica citada por 33,6% dos indivíduos foi diminuição da acuidade visual. 31,8% apontaram alterações recentes nos
pés e 49,4% encontravam-se com bom controle metabólico. Pelos resultados encontrados, evidenciou-se a necessidade do
trabalho de equipe multiprofissional para atendimento completo e acompanhamento dos diabéticos cadastrados no programa.
Palavras-chave: Diabetes mellitus, assistência de enfermagem.
Artigo recebido em 05 de abril de 2003, aceito em 25 de abril de 2003.
Endereço para correspondência: Universidade do Estado de Minas Gerais, Av. Com.
Francisco Avelino Maia, 2100 Centro 37900-001 Passos MG, E-mail: [email protected]
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Abstract
Descriptive study with people with diabetes mellitus type 2 registered in the Program of Assistance to diabetic people in Passos
- MG, with the objective to know the social demographic characteristics, presence of chronic complications and metabolic control,
to subsidize the planning of nursing for these people. The population consists of 409 people, 73,1% female, 71,8% in age
group from 50 to 69 years old. 40,3% had overweight. The chronic complication mentioned to 33,6% of people was reduction
of visual insight, 31,8% referred recent modification on feet and 49,4% had a good metabolic control.
Key-words: Diabetes mellitus, nursing care.
Resumen
Estudio descriptivo con personas portadoras de diabetes mellitus tipo 2 registradas en el Programa de Asistencia al Diabético de
Passos - MG, con objetivo de conocer las características socio-demográficas, presencia de complicaciones crónicas y control
metabólico, para subsidiar el plan de asistencia de enfermería a esas personas. La población se constituye de 409 individuos,
siendo 73,1% del sexo femenino, 71,8% en el grupo de edad de 50 a 69 años. 40,3% se encontraban con sobrepeso. La
complicación crónica citada por 33,6% de los individuos fue la disminución de la acuidad visual. 31,8% apuntaron alteraciones
recientes en los pies y 49,4% se encontraban con buen control metabólico.
Palabras-clave: Diabetes mellitus, asistencia de enfermería.
Introdução
O diabetes mellitus é uma síndrome de etiologia
múltipla decorrente da falta de insulina e/ou
incapacidade da insulina de exercer adequadamente
seus efeitos. Caracteriza-se pela presença de
hiperglicemia crônica com distúrbio do metabolismo
dos carboidratos, lipídeos e proteínas [1], sendo o
tipo 2 a forma mais prevalente e decorre de uma
resistência à ação da insulina em nível tecidual e/ou
de uma diminuição na produção da mesma.
É usualmente diagnosticado após os quarenta anos
de idade, o início é insidioso, a duração é longa, 80 a
90% dos indivíduos são obesos, raramente ocorre
cetoacidose. Este tipo de diabetes freqüentemente não
é diagnosticado por anos, porque o aumento da
concentração de glicose não é bastante elevado para exibir
os sintomas clássicos do diabetes descompensado [2].
Como o diabetes tipo 2 possui um período
assintomático, muitas vezes o diagnóstico só é
realizado após a pessoa apresentar uma complicação
crônica e irreversível da doença [3], daí a importância
de realizar-se um diagnóstico precoce, antes do
aparecimento de tais complicações.
O diabetes vem sendo reconhecido mundialmente
como um problema de saúde pública. São considerados
significativos os indicadores de morbimortalidade
relacionados à doença, como também os custos
envolvidos no seu controle e no tratamento de suas
complicações. Atualmente, estima-se que existam no
Brasil mais de 5 milhões de diabéticos, dos quais metade
desconhece o diagnóstico [1].
A adesão ao tratamento é mais eficaz quando se
respeitam os hábitos e as condições sócio-econômicas
do paciente. Várias medidas podem ser adotadas,
entretanto, não há um método ou estratégia que possa
ser recomendada para todas as pessoas [4].
A falta de sucesso de alguns programas de
orientação à pessoa com diabetes, talvez seja devido
ao fato das ações serem voltadas para a percepção
dos profissionais sobre as necessidades dos pacientes,
não levando em consideração as reais necessidades da
pessoa com diabetes e os componentes afetivos [5].
Frente ao elevado custo econômico e social que
o diabetes representa para a pessoa, família e sociedade,
o presente estudo foi realizado com objetivo de
conhecer as características sócio-demográficas, presença
de complicações crônicas e controle metabólico das
pessoas com diabetes tipo 2 atendidas no Programa
de Assistência ao Diabético de Passos - MG, com a
finalidade de subsidiar o planejamento do atendimento
de enfermagem a estas pessoas.
#
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Material e método
dos objetivos do estudo, esclarecimentos quanto à
livre participação e garantia de sigilo e anonimato.
Delineamento, população e local do estudo
Estudo de natureza descritiva, atendendo aos prérequisitos de um estudo de casos, realizado no período
de 15 de março a 31 de julho de 1998 na cidade de
Passos – MG, entre os indivíduos com diagnóstico de
diabetes mellitus tipo 2 cadastrados no Programa de
Assistência ao Diabético da referida cidade.
Para definir a população estudada, foram
utilizados alguns critérios de inclusão, como ter
diagnóstico de diabetes tipo 2, ter comparecido a pelo
menos uma consulta no ano de 1997 e concordar em
participar do estudo. Deste modo, a população ficou
constituída por 409 pessoas.
As pessoas selecionadas foram visitadas em suas
residências, com a finalidade de esclarecê-las quanto
aos objetivos do estudo, obter o consentimento de
sua participação e agendar entrevista.
Instrumento de coleta de dados
O instrumento foi elaborado considerando as
variáveis de interesse para o desenvolvimento do
estudo, contendo 16 questões, sendo 05 referentes à
caracterização sócio-demográfica, 10 referentes ao
diabetes em si e 01 questão referente ao controle
glicêmico, o qual foi verificado por meio da
hemoglobina glicosilada utilizando a técnica de Travelli
modificada [6], sendo considerado bom controle os
valores até 7%, mau controle acima de 10% e controle
regular os valores dentro desta faixa.
Procedimentos utilizados
para a coleta de dados
Para a coleta de dados foram treinados cinco
acadêmicos do sétimo período do Curso de
Graduação da Faculdade de Enfermagem de Passos.
Primeiramente foi realizada uma validação de
aparência e conteúdo do instrumento por três pessoas
que atuam na área. A seguir foi realizado um préteste com quinze pessoas não pertencentes à população
estudada, para verificar sua compreensão.
Considerações éticas
O projeto de pesquisa foi encaminhado ao
Secretário Municipal de Saúde para ser apreciado e
obter consentimento para a realização do estudo.
Aos indivíduos selecionados foi apresentado um
termo de consentimento, juntamente com o relato
Resultados
Dos 409 indivíduos que compuseram a
população do estudo, 299 (73,1%) foram do sexo
feminino e 110 (26,9%) do sexo masculino, na faixa
etária entre 50 e 69 anos (61,6%).
Observou-se em relação à escolaridade que 61,4%
dos indivíduos possuíam o ensino fundamental
incompleto, 76,3% com renda familiar entre zero e cinco
salários mínimos, 63,6% viviam com companheiro(a).
Em relação ao tempo referido de diagnóstico
do distúrbio, 165 indivíduos (40,3%) encontravamse no primeiro período do mesmo, ou seja, entre
zero e cinco anos; 244 (59,7%) indivíduos relataram
antecedentes familiares com diabetes mellitus.
A partir do peso e altura fornecidos pelos indivíduos,
calculou-se o Índice de Massa Corporal (IMC), obtido
pela fórmula Peso (kg) / Altura2 (em metros), classificando
em “normal” (IMC < 25), “sobrepeso” (IMC entre 25 e
29,9) e “obeso” (IMC > 30) [7], conforme Tabela I.
Tabela I - Número e porcentagem de indivíduos
portadores de diabetes mellitus tipo 2
segundo IMC, Passos - MG, 1998.
IMC
Número
%
Dentro do limite
133
32,5
Sobrepeso
164
40,1
Obeso
112
27,4
Total
409
100,0
Quanto ao tipo de tratamento seguido, 156
indivíduos (38,2%) utilizavam antidiabético oral, 153
(37,4%) insulina, 50 indivíduos (12,2%) insulina e
Tabela II - Número e porcentagem de indivíduos
portadores de diabetes mellitus tipo 2 segundo
complicações crônicas referidas, Passos - MG, 1998.
Complicação referida
Diminuição da acuidade visual
Dimin. acuid. visual +
prob. extrem. inf.
Hipertensão arterial
Problemas extremidades
inferiores
Problema renal
Dimin. acuid. visual +
hipert. arterial
Outras
Total
$
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Número
77
%
33,6
46
29
20,1
12,7
29
18
12,7
7,8
16
14
229
7,0
6,1
100,0
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antidiabético oral e 50 (12,2%) faziam controle
somente com dieta e/ou atividades físicas.
Em referência à presença de complicações
crônicas devido ao diabetes, 229 indivíduos (56%)
responderam afirmativamente. Tais complicações
estão apresentadas na Tabela II.
Várias investigações têm demonstrado que o
controle da glicemia melhora os resultados a curto e
longo prazo das pessoas com diabetes, reduzindo a
incidência de complicações miocrovasculares no diabetes
tipo 2, como retinopatia e nefropatia [8]. O melhor
indicador do controle glicêmico é a concentração da
hemoglobina glicosilada (HbA1c). Entre os indivíduos
que realizaram o exame da hemoglobina glicosilada, 202
(49,4%) apresentaram bom controle metabólico,
enquanto 191 (46,7%) apresentaram controle regular ou
mau controle. (Tabela III).
Tabela III - Número e porcentagem de indivíduos
portadores de diabetes mellitus tipo 2 segundo
hemoglobina glicosilada, Passos - MG, 1998.
Resultado
Número
%
Bom controle
202
49,4
Controle regular
130
31,8
Mau controle
61
14,9
Não compareceram
16
3,9
Total
409
100,0
Os resultados deste estudo apontaram para uma
demanda em que predominaram os indivíduos do
sexo feminino, podendo refletir um viés de demanda,
pois estudos epidemiológicos [3, 9] demonstraram a
mesma magnitude entre homens e mulheres.
Quanto à idade da população estudada,
destacou-se a faixa etária entre 50 a 69 anos, que
apresentou uma freqüência de 61,8%. O rastreamento
e o diagnóstico precoce do diabetes tipo 2 deve ser
feito a cada três anos, para todos os indivíduos acima
de 45 anos e em idade mais precoce, se estiverem
presentes fatores de risco, que incluem história familiar,
obesidade, sedentarismo, hipertensão arterial,
dislipidemia, síndrome do ovário policístico [4].
A maior parte dos indivíduos do estudo vive
com companheiro, o que pode facilitar o cuidado
do distúrbio pois, de acordo com a literatura, o apoio
familiar representa um fator importante no cuidado
da pessoa portadora de doença crônica [10], o qual
poderá ser incluído no seu cuidado, facilitando o
alcance de uma melhor qualidade de vida.
A escolaridade representa uma variável importante
no controle do diabetes, pois a educação formal sendo
baixa, pode interferir no comportamento cognitivo
para a aceitação da doença e aderência ao tratamento.
A educação é fundamental para todos os pacientes,
em todas as fases do tratamento, independente do
grau de instrução, devendo também ser extensiva aos
familiares [11].
Por outro lado, também é necessário que o
profissional utilize uma linguagem compreensível para
o paciente e traga informações com base na sua realidade,
de forma concreta, facilitando o processo educativo tão
almejado no cuidado da pessoa com diabetes.
A maior parte da população estudada recebe
renda familiar abaixo de cinco salários mínimos, o
que pode comprometer o tratamento, pois o baixo
nível sócio-econômico pode dificultar o tratamento
dietético adequado e o uso regular da medicação
prescrita [12].
Um fator de risco importante para o
desenvolvimento do diabetes tipo 2 é a obesidade,
representando um fator negativo para as pessoas
portadoras desta doença, devido principalmente ao
surgimento de complicações cardiovasculares
relacionadas ao grau de obesidade.
Conforme demonstrado na Tabela I, 67,5% dos
indivíduos deste estudo encontravam-se obesos ou
em sobrepeso. Recomenda-se que seja dada atenção
especial aos indivíduos com diabetes tipo 2 em relação
ao controle do peso, considerando que a dieta, dirigida
à redução do peso corporal e à melhora dos níveis
glicêmicos e lipídicos, tem um efeito significativo
sobre a morbidade e mortalidade nesse grupo[13].
As complicações crônicas surgem no decorrer
da vida da pessoa com diabetes, sendo que seu
desenvolvimento está estreitamente relacionado ao
controle metabólico. No diabetes tipo 2, pode
acontecer o diagnóstico após o surgimento de uma
complicação crônica e irreversível da doença.
No presente estudo, 56% dos indivíduos
referiram ter desenvolvido algum tipo de
complicação relacionada ao diabetes, sendo que as
referidas com maior freqüência foram a diminuição
da acuidade visual, problemas nas extremidades
inferiores, hipertensão arterial, problema renal, sendo
comuns as associações entre problemas nas
extremidades inferiores e diminuição da acuidade
visual, e desta com hipertensão arterial.
A retinopatia diabética é considerada uma das
complicações mais graves do diabetes, podendo ser
considerada a causa mais freqüente de cegueira
adquirida em adultos de 20 a 40 anos[1,9]. Pode ser
prevenida com a detecção precoce, juntamente com
o controle do diabetes.
Outra complicação considerada devastadora é
o chamado “pé diabético”, causa muito comum de
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internações prolongadas, com elevados custos
pessoais e sociais, sendo freqüentes as amputações
[14]. A neuropatia diabética pode resultar em dor,
perda das sensações e fraqueza muscular. O fator
mais importante é a perda da sensibilidade à dor e à
temperatura.
A hipertensão arterial contribui para o
desenvolvimento e progresso das complicações
crônicas no diabetes mellitus. No diabetes tipo 2,
geralmente faz parte de uma síndrome, que inclui
intolerância à glicose, resistência à insulina, obesidade,
dislipidemia e cardiopatia [4]. Seu controle é essencial,
pois pode reduzir a progressão da nefropatia
diabética, da doença cerebrovascular, cardiovascular
e retinopatia [15].
Em relação à nefropatia diabética, estudos
mostram que a mesma é a causa mais comum de
novos casos de insuficiência renal crônica (IRC). No
diabetes tipo 2, cerca de 20% dos indivíduos com
nefropatia diabética pode evoluir para IRC. Nestes
pacientes, o rastreamento da nefropatia diabética deve
ser feito por ocasião do diagnóstico da doença e
repetido a intervalos de um ano [15].
Atualmente, a determinação da hemoglobina
glicosilada é o parâmetro mais importante para avaliar
o controle metabólico a longo prazo de pacientes
diabéticos, podendo-se julgar se o tratamento e a
atuação do paciente estão sendo adequados ou
necessitam-se de correções.
Na população estudada, foi observado que
49,4% dos indivíduos que realizaram o exame da
hemoglobina glicosilada apresentaram bom controle.
Porém, é preocupante que 46,7% desses indivíduos,
por apresentarem controle regular ou mau controle
metabólico, estejam mais sujeitos ao aparecimento e/
ou agravamento de complicações crônicas.
A educação contínua do paciente é parte essencial
do tratamento e obrigatória, pois muitas vezes as
pessoas esquecem-se ou podem ter sido orientadas
numa ocasião em que não encontravam-se receptivas
às informações, ou mesmo pela mudança na
terapêutica inicialmente adotada. Para algumas pessoas,
a transição de comprimidos para insulina pode ser
temporariamente intransponível e o paciente
certamente pode enfrentar dificuldades que devem
ser superadas.
Deve ser dado maior ênfase ao que o paciente
pode fazer, do que ao que ele deve fazer. Objetivos
realistas de curto prazo, ao invés de imposições rígidas,
são mais eficientes para encorajar a adaptação do
paciente às necessidades de seu tratamento. A família
deve ser inserida e incentivada a participar do
programa educativo.
A abordagem educativa deve permear todo o
percurso do distúrbio, considerando as fases da vida,
dificuldades financeiras, resistência na adesão ao
tratamento, bem como aceitação da situação presente.
O enfermeiro é o elemento que pode facilitar esta
abordagem, integrar o paciente junto à equipe
multiprofissional, o que representa um passo
imprescindível na adesão ao tratamento.
Conclusões
Os resultados do presente estudo permitem que
alguns pontos sejam destacados, apresentando-se, a
seguir, algumas propostas:
a) A baixa escolaridade da população reforça a
necessidade dos profissionais buscarem estratégias
educacionais que possam atingir a clientela atendida,
através de técnicas e linguagem adequadas;
b) Em decorrência da renda familiar referida, é
necessário que se criem alternativas para que os indivíduos
tenham condições de seguir a dieta adequada,
incentivando o consumo de alimentos substitutos, por
meio da atuação de nutricionista e outros profissionais;
c) A complicação decorrente do diabetes
referida com maior freqüência foi a diminuição da
acuidade visual; portanto, uma avaliação anual com
oftalmologista deveria ser realizada de rotina com os
participantes do programa, em particular com os que
apresentam mau controle metabólico ou outras
complicações microvasculares;
d) Estratégias motivadoras precisam ser
encontradas para estimular a participação dos
indivíduos em grupos de orientação em diabetes,
juntamente com os familiares. Uma alternativa seria
que o programa fosse desenvolvido em várias
Unidades de Saúde da periferia, o que poderia facilitar
o acesso dos indivíduos;
e) É importante a formação e capacitação de
equipe multiprofissional trabalhando com educação
continuada nas Unidades Básicas de Passos para o
atendimento das pessoas com diabetes, incluindo seus
familiares, o que poderia incentivar uma maior adesão
ao tratamento.
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classificação do diabetes mellitus e Tratamento do
diabetes mellitus tipo 2. São Paulo; 2000.
&
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'
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Revisão
A origem dos serviços
de assistência pré-hospitalar
The origin of emergency medical services
El origen de los servicios de asistencia pre-hospitalaria
Ana Paula Cunha*, Maria Soledade Simeão dos Santos**
*Graduada em Enfermagem e Obstetrícia pela Escola de Enfermagem Anna Nery - Universidade Federal do Rio de Janeiro com habilitação em Enfermagem MédicoCirúrgica, Especialista em Administração Hospitalar, Especializanda em Enfermagem de Alta Complexidade, Enfermeira Assistencial na UTI Adulto do
Hospital e Maternidade São Camilo em São Paulo,*Enfermeira, Mestre em Enfermagem pela Escola de Enfermagem Anna Nery - Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Professora do Departamento de Metodologia da Enfermagem pela Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Resumo
O trauma tornou-se uma epidemia que atinge indivíduos entre 5 e 40 anos. Faz-se importante um atendimento de emergência
inicial adequado, transporte rápido e eficaz para o hospital. A Assistência Pré-Hospitalar (APH), sistema de alta eficiência e
agilidade extra-hospitalar, com recursos humanos e materiais capazes e suficientes, é extremamente importante na obtenção de
resultados positivos e um bom processo de reabilitação no ambiente hospitalar. Antes da década de 60, a APH consistia em
primeiros socorros e transporte para o hospital. No Brasil, a APH iniciou-se em 1986 com o Grupo de Socorro e Emergência do
Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro. O objeto deste estudo foi a organização dos serviços de Assistência PréHospitalar. Ao elaborar esta monografia, tracei como objetivos: conhecer os modelos atuais da Assistência Pré-Hospitalar e
analisar as tendências da inserção da Enfermagem na área de Emergência Pré-hospitalar.
Palavras-chave: Emergência pré-hospitalar, primeiros socorros.
Abstract
The trauma became an epidemic that reaches individuals between 5 and 40 years. An initial adequate assistance is important, and fast and
effective transportation for hospital. The Emergency medical services, high efficiency system and extra-hospita agility, with eficient
human resources and equipments, is extremely important to get positive results and a good rehabilitation process in hospital environment.
Before the decade of 60, Emergency medical services consisted in first aid and transportation for hospital. In Brazil, Emergency medical
services was initialized in 1986 with the Help and Emergency Group of the Fire Department of Estado of Rio de Janeiro. The aim of
this study was the organization of the Emergency medical services. Our objetives were to know the current models of the Emergency
medical services and to analyze the tendencies of the insertion of nurses in this area of Emergency medical services.
Key-words: Emergency medical services, first aid.
Recebido em 2 de dezembro de 2002; aceito em 15 de fevereiro de 2003.
Endereço para correspondência: Ana Paula Cunha, Av. Diógenes Ribeiro de Lima, 3320, Alto da Lapa,
05083-010 São Paulo - SP, Tel: (11): 3836-5887/9795-3910, E-mail: [email protected]
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Resumen
El trauma se tornó una epidemia que afecta individuos entre 5 y 40 años. Se hace importante una asistencia de emergencia inicial
adecuada, transporte rápido y eficaz para el hospital. La Asistencia Pre-Hospitalaria (APH), sistema de alta eficiencia y agilidad
extra-hospitalario, con recursos humanos y materiales capaces y suficientes, es extremamente importante en la obtención de
resultados positivos y un buen proceso de rehabilitación en el ambiente hospitalario. Antes de la década de 60, la APH consistía
en primeros auxilios y transporte para el hospital. En Brasil, la APH se inició en 1986 con un Grupo de Auxilio y Emergencia del
Cuerpo de Bomberos del Estado de Rio de Janeiro. El objeto de este estudio fue la organización de los servicios de Asistencia
Pre-Hospitalaria. Al elaborar esta monografía, proyecté como objetivos: conocer los modelos actuales de la Asistencia PreHospitalaria y analizar las tendencias de la inserción de la Enfermería. Enfermeros tienen conocimiento, experiencia y autonomía,
factores específicos para el desarrollo de APH y espero que este trabajo despierte el interés de otros profesionales para el área de
la Emergencia Pre-Hospitalaria.
Palabras-clave: Servicios medicos de urgencia, primeros auxilios.
Introdução
Com a modernidade dos dias atuais, o avanço
da tecnologia trouxe muitos problemas como o
aumento do stress e da violência. O trauma tornouse uma epidemia que atinge indivíduos na faixa de 5 a
40 anos e aumentou em aproximadamente 30% a
mortalidade nesta última década.
A tecnologia presente nos anos 90 também
chegou em hospitais públicos e privados, onde
equipamentos mais avançados dão um maior suporte
no atendimento de vítimas de traumas por causas
externas [1]. Faz-se importante um atendimento de
emergência inicial adequado e um transporte rápido
e eficaz para a obtenção de resultados positivos e um
bom processo de reabilitação no ambiente hospitalar,
o que reduziria as taxas de morbi-mortalidade.
Deste modo, podemos observar a importância
da Assistência Pré-Hospitalar (APH), um sistema de
alta eficiência e agilidade no ambiente extra-hospitalar,
com recursos humanos e materiais capazes e
suficientes.
Por recursos humanos e materiais ideais
considero uma equipe de saúde com conhecimento
técnico-científico, veículos sofisticados, aeronaves
modernas, equipamentos de última geração, uma base
de operação com uma boa infra-estrutura, drogas
eficientes, etc.
No Brasil, a APH iniciou-se em 1986 com o
Grupo de Socorro e Emergência (GSE) do Corpo
de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro (CBERJ).
Aos poucos uma nova mentalidade vem sendo
reformulada no que tange à formação específica dos
recursos humanos/equipe de saúde.
Na França, os emergencistas são médicos e
enfermeiros. Já nos Estados Unidos, optou-se por
paramédicos e técnicos em emergências médicas.
Acredito que no Brasil a APH poderia intensificar
a inserção de enfermeiros, por seus conhecimentos
técnicos e por sua capacidade de julgamento próprios.
Este trabalho tem como objeto de estudo a
origem dos serviços de APH. Temos como objetivos:
1. Abordar a origem da Emergência Pré Hospitalar no exterior e no Brasil;
2. Contribuir para a inserção e desenvolvimento
da enfermagem na Assistência Pré-Hospitalar e
3. Despertar o interesse de outros enfermeiros
para esta área.
As origens dos sistemas de assistência
pré–hospitalar
A Emergência Pré-Hospitalar (EPH) tem como
objetivo prestar exame e tratamento da vítima, realizar
um transporte rápido, seguro e moderno em situações
de emergência e/ou urgência, de locais com poucos
recursos tecnológicos para centros com uma boa
infra-estrutura, através de veículos terrestres e aéreos.
É importante ressaltar que a EPH está inserida
na Medicina de Desastre, uma atividade
multidisciplinar que se ocupa da prevenção, com vistas
a obter recuperação e reabilitação de problemas de
saúde decorrentes de traumas por causas externas.
Antes da década de 60, a APH consistia nos
primeiros socorros e transporte para o hospital. Na
chegada do indivíduo ao ambiente hospitalar, ele era
avaliado por um médico e o tratamento era iniciado.
Ainda nesta época, os serviços de EPH nos
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Estados Unidos não eram coordenados, isto é, não
contavam com a participação de profissionais
qualificados e nem tampouco com veículos
adequados para o transporte da vítima.
Cleary et al. [2] afirmam que o Dr Frank
Pantridge de Belfast (Irlanda) foi o primeiro a
reconhecer que a vítima de acidentes cardíacos súbitos
teria uma melhor sobrevida se uma equipe médica
eficaz, com recursos materiais adequados, chegasse
rapidamente à cena do trauma. O sistema que ele
desenvolveu de enviar uma equipe de resgate com
profissionais de saúde treinados e equipamentos
modernos para a rua representa o começo da era
moderna da APH.
Drummond [3] e Hargreaves [4] dizem que na
França o Serviço de Assistência Médica de Urgência
(SAMU) recebe as chamadas para atendimento de
emergências clínicas e cirúrgicas. É feita uma triagem
através do médico regulador* e a equipe é enviada ao
local composta pelo binômio médico-enfermeiro e
o motorista socorrista.
Com a experiência de combate na Coréia e no
Vietnã, foram criados serviços de APH em algumas
cidades americanas, utilizando-se pessoas treinadas.
Nos Estados Unidos, o médico não se desloca em
ambulâncias, exceto em desastres de massa. Através
do número 911 é despachado socorro de suporte
básico de vida, polícia, bombeiros e ambulância, ou,
se necessário, suporte avançado de vida - os técnicos
de emergência médica.
Também, nos Estados Unidos, existe um
sistema de APH chamado Flight Nurses ou Enfermeiras
Voadoras, que se iniciou na década de 40 em que as
enfermeiras militares atuavam no transporte de
militares durante os conflitos, tais como a II Guerra
Mundial. Na década de 60, as FN começaram a atuar
nas equipes de EPH civis.
Já no Brasil, a APH originou-se em Julho de
1986 com o Grupo de Socorro e Emergência do
Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro
(GSE / CBERJ) composta por um médico treinado
em APH, um socorrista bombeiro, com formação
de técnico de enfermagem e o motorista, com
formação em resgate e primeiros socorros.
Hargreaves [4] cita que no final da década de 80
e início de 90 surgiram os serviços de APH em São
Paulo e Curitiba com modelos semelhantes. Enquanto
o Rio de Janeiro seguiu a experiência francesa, os demais
estados procuraram seguir os moldes americanos.
Segundo Figueiredo et al. [5] o primeiro
transporte aeromédico ocorreu na Guerra FrancoPrussiana (1870) quando os feridos foram evacuados
de Parais através de balões de ar quente.
Durante a I Guerra Mundial (1914-18), aviões
foram utilizados para remover os feridos e na II
Guerra Mundial (1939-45), os profissionais de saúde
se encontravam nos aviões para prestar atendimento
aos militares feridos. Isto deve-se ao fato de que na
II Guerra havia uma maior abundância e
complexidade das armas utilizadas, tornando-se
necessário um tratamento precoce e eficaz.
Com a experiência adquirida na Guerra do
Vietnã, em 1972, teve início o primeiro programa
civil de helicópteros, criado para complementar os
sistemas médicos de transporte civil.
No Brasil, novamente o CBERJ foi o
pioneiro em socorro extra-hospitalar aeromédico
(1988) utilizando helicópteros. Hoje em dia, as
instituições privadas que prestam APH utilizam
helicópteros e jatos.
O emprego de helicópteros em missões
aeromédicas é indicado para socorro pré-hospitalar
no atendimento de pacientes graves, com risco de
vida ou seqüelas graves, cujos riscos possam ser
reduzidos com atendimento e transporte rápidos,
com distâncias entre 800 e 3.000 km, caso o transporte
terrestre não esteja disponível ou haja obstáculos no
trânsito. Já as aeronaves de asa fixa (jatos) são
indicadas no transporte de EPH em distâncias além
de 3.000 km [6]. Para exemplificar as vantagens e
desvantagens dos transportes aéreos, podemos
observar o Quadro 1.
Recursos humanos e a formação há equipe de
assistência pré-hospitalar
Progressivamente pode-se perceber o aumento
do número de atendimento de APH em nosso país.
Inicialmente restrito a corporações militares, hoje
presente nas empresas privadas de saúde.
Antigamente não havia especialidade em EPH
e também em Medicina e Enfermagem de Bordo.
Não é correto e nem válido tentar criar um
paramédico apenas treinando o auxiliar de
enfermagem em resgate. Nos Estados Unidos, os
técnicos de emergência médica fazem um curso
extenso, de até 2 anos em uma Universidade, e a cada
2 anos há uma prova para a renovação do certificado.
Paramédicos ou Emergency Medical TechnicianParamedic (EMT-P) são os provedores de suporte
avançado de vida Advanced Life Support Providers, que
têm um treinamento teórico prático que varia de 600
a 1.000 horas. Possuem aptidão para desfibrilar,
entubação traqueal, venopunção, uso de
medicamentos endovenosos baseando-se na
interpretação dos sinais clínicos da vítima,
* Médico regulador é o médico intensivista que pelo rádio oferece instruções aos socorristas e encontram-se na base de operações.
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112
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Março / Abril 2003;2(2)
Quadro 1- Aspectos positivos e negativos dos meios de transporte utilizados na EPH.
Transporte
Aspectos positivos
Aspectos negativos
Ambulância
1.
2.
3.
4.
5.
6.
distância até 100 km
disponibilidade imediata
fácil mudança de rota
pode parar a qualquer momento
espaço físico suficiente
baixo custo
1. limitação por tráfego
2. necessário considerar forças de
aceleração e desaceleração em relação
ao quadro do paciente
Helicóptero
1.
2.
3.
4.
5.
indicação até 250 km
rápido tempo de trânsito
atinge regiões de difícil acesso
pousa em estradas, ruas e outros locais
heliporto em muitos hospitais
1. nível de vibração e ruídos altos
(90 a 110) db podem interferir com
a monitorização do paciente
2. dificuldade na decolagem
em temperaturas mais quentes
3. espaço físico limitado, dificultando
o atendimento das emergências
4. cinetoses do paciente e equipe
5. custo consideravelmente maior
que a ambulância
6. limitações quanto às condições
climáticas
Jato
1. distâncias maiores que 250 km
2. rapidez
3. permite maior número de membros
da equipe
4. espaço físico suficiente
5. maior estabilidade de vôo
6. estabelece acima do clima extremo, salvo
neve e neblina
1. necessidade de pista para pouso
e decolagem
2. custo operacional alto
3. risco maior de hipóxia (altitude),
do paciente e da equipe devido à queda
de PO2
4. limitado quanto às condições climáticas
5. necessário considerar forças
de aceleração e desaceleração
em relação ao quadro do paciente
* Quadro elaborado pela autora.
eletrocardiograma e histórico da doença. Já os
técnicos de emergências médicas são classificados em:
a) Emergency Medical Technician Ambulance (EMT – A),
profissionais treinados para prover cuidados básicos
de emergência na cena do trauma e durante o
transporte até o hospital de referência. Sua principal
função é guiar a ambulância com rapidez e segurança,
porém seu treinamento engloba aproximadamente
80 a 100 horas de leituras didáticas, experiência prática
e observação. O currículo oferece ressuscitação
cardiopulmonar básica, extricação e controle de
hemorragia; b) Emergency Medical Technician Basic (EMT
– B) podem realizar extricação e técnicas de resgate,
avaliação da vítima, estabelecimento das vias aéreas
pérveas, controle de hemorragias, imobilização de
membros fraturados, puncionar veias periféricas,
verificar sinais vitais e administrar medicamentos; c)
Emergency Medical Technician Defibrillation (EMT – D),
além das funções realizadas pelo EMT – B, também
podem desfibrilar o paciente durante a ressuscitação
cardiopulmonar. EMT – B e EMT – D têm um
treinamento teórico que varia de 80 a 120 horas e mais
10 horas práticas no setor de emergência hospitalar.
Em 1994, o departamento de Pediatria da
Universidade da Carolina do Norte (EUA) fez um
estudo para avaliar o treinamento dos técnicos de
emergência médica em pediatria. Através dos
resultados, foi observado que todos os serviços de
EPH no estado referido apenas 10% ofereciam um
pouco mais de 10 horas de treinamento básico em
emergência pediátrica e 18% ofereciam 5 horas de
educação continuada num período de 5 anos.
Estes dados não são suficientes para avaliar os
sistemas de EPH nos EUA, mas demonstram que os
técnicos de emergência médica não têm um
treinamento completo para atuar com autonomia,
principalmente em situações caóticas.
No Rio de Janeiro, o artigo primeiro da lei número
2.222* afirma que as ambulâncias que prestam serviços
de assistência pré–hospitalar devem ser devidamente
equipadas e compostas por um médico e um enfermeiro
com prática em atendimento em emergência.
*Lei de 23 de Janeiro de 1994, promulgada pela Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, que dispõe sobre
a composição das ambulâncias que fazem atendimento de emergência.
!
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Quadro 2 - Características necessárias para a seleção do pessoal no serviço aeromédico e terrestre.
Critérios gerais para a seleção
de tripulantes
Qualificação profissional
da equipe de saúde
Aperfeiçoamento técnico/
educação continuada
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
1. preencher as qualificações
gerais
2. mínimo de 2 anos de
trabalho em ambulância
terrestre (para transporte
aéreo)
3. pré-requisitos exigidos pelo
Departamento de Aviação
Civil (DAC), tais como
desligar motores, operar os
rádios, aplicar freio rotor,
ejetar portas, cursos de
sobrevivência na selva e no
mar (para transporte aéreo)
1. cursos como ATLS, ACLS,
PHATLS
2. reuniões periódicas da equipe
operacional em sessões
clínicas para reavaliar as
operações efetuadas
3. critérios como aptidão física,
psicológica devem ser
avaliados periodicamente
8.
9.
10.
11.
12.
13.
14.
15.
16.
capacidade cardiovascular
boas condições físicas
peso e alturas proporcionais
aparelho locomotor normal
capacidade de levantar 35 a 45 kg
capacidade aeróbica
ausência de trauma lombossacro
ou trauma / cirurgia da coluna
vertebral
acuidade visual 20/20 ou
corrigida para 20/20 com lentes
acuidade auditiva 15/15 ouvida ou
perda inferior a 10 db
testes de função pulmonar dentro
do padrão de normalidade
(fumantes pesados são
desqualificados).
resistência a cinetoses
estabilidade psicoemocional
boa dicção e facilidade
de expressão via rádio
ou telefone celular
história clínica negativa
para epilepsia
motivação profissional
histórico negativo para alcoolismo
ou uso de drogas
* Quadro elaborado pela autora
Os profissionais que atuam na APH devem ser
experientes e ter características específicas e necessárias
para um atendimento rápido e eficaz durante situações
caóticas e estressantes.
A equipe aeromédica requer uma maior
capacitação técnica à dos transportes terrestres
devido a maior gravidade dos pacientes atendidos.
A altitude diminui a pressão atmosférica
progressivamente, bem como a pressão de oxigênio
e a temperatura. Então as mudanças ambientais
presentes durante o transporte aeromédico
provocam condições fisiológicas adversas no
paciente e na própria equipe. O Quadro 2 descreve
as características necessárias para a seleção do pessoal
no serviço aeromédico e terrestre.
Cabe a mim, neste momento, explicar sobre os
cursos acima mencionados. ATLS, ou Advanced Trauma
Life Support é um treinamento para o atendimento do
traumatizado, criado pelo Committee on Trauma do
American College of Surgeons. ACLS, Advanced Cardiac
Life Support, que prepara o profissional para
problemas cardíacos, é ministrado pelo American
Heart Association. O PHTLS (Prehospital Trauma Life
Support), desenvolvido pelo National Association of
Emergency Medical Technicians, forma o indivíduo para
uma eficaz abordagem pré-hospitalar do paciente.
Há ainda o PALS – Pediatric Advanced Life Support –
que trata das emergências pediátricas e foi
desenvolvido pela American Heart Association. Todos
esses cursos podem ser feitos pelos profissionais
que atuam em EPH, sendo que só recebem
certificado os que possuírem nível superior. Apenas
o PHLS é feito exclusivamente para paramédicos,
que podem ter ou não nível superior.
É importante lembrar que durante os plantões,
a equipe deve permanecer numa base de operações
tranqüila e confortável para proporcionar uma
redução de stress e cansaço.
O Quadro 3 mostra os equipamentos utilizados
na EPH e presentes nos transportes.
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Quadro 3 - Os equipamentos utilizados na EPH e presentes nos transportes.
manutenção de vida e adminsitração medicamentosa
imobilização e transporte
monitorização
1. oxigênio
1. colares cervicais
1. oxímetro de pulso
2. assistência ventilatória básica
2. talas de fixação
2. capnógrafo
3. intubação
3. talas de tração
3. cardioscópio
4. ventiladores mecânicos
4. guincho
4. tensão não invasiva
5. bombas infusoras
5. maca de içamento
6. infusores de pressão
6. ked
7. prancha longa
* Quadro elaborado pela autora
Considerações finais
A Emergência Pré-Hospitalar tornou-se de
grande valia para o indivíduo portador de alguma
patologia e/ou vítima de trauma por causas externas.
Proporciona à pessoa um tratamento rápido e eficaz
na cena do trauma e durante o transporte adequado
até o ambiente hospitalar, aumentando a sobrevida.
Os objetivos inicialmente traçados foram
alcançados, uma vez que consegui conhecer a origem
da Assistência Pré-Hospitalar, bem como os recursos
humanos e material.
Acreditamos que a Enfer magem possua
oportu-nidades para lançar-se nos serviços de APH.
Nós possuímos embasamento teórico e autonomia
para tal. Devemos estar atentos para as novas práticas
da enfermagem e para as mudanças que estão
ocorrendo.
Está assegurado por lei, desde 1994, a presença
do profissional Enfermeiro nos transportes terrestres
de emergência, porém é notável que, na realidade,
esses transportes contam com a participação do
profissional médico, juntamente com auxiliares/
técnicos de enfermagem.
Enfermeiros têm conhecimento, experiência e
autonomia, fatores específicos para o desenvolvimento
da APH. A prática da enfermagem na EPH envolve
julgamento próprio, pensamento analítico, processo
decisório e identificação de prioridade. A Enfermeira
deve ter percepção para reconhecer a sintomatologia
e saber quais os procedimentos a serem realizados.
Enfim, a Enfermeira Pré-hospitalar tem conhecimentos
que a prepara para elaborar histórico, diagnóstico, plano,
implementação e avaliação dos cuidados ao paciente e
seus familiares.
Nós, profissionais de enfermagem, devemos estar
cientes da nossa importância na EPH e da necessidade
de adquirir novos conhecimentos e informações.
Referências
1.
2.
3.
4.
5.
6.
Carter G. The Evolution of Air Transport Systems: A
Pictorial Review. The Journal of Emergency Medicine
1988;6:449-504.
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Management. Maryland: Aspen Publication; 1987.
Drummond JP. Trauma e Anestesiologia. Rio de Janeiro:
Medsi;1992.
Hargreaves LHH. Sociedade Brasileira de Medicina de
Desastre e EPH: da Importância da Participação. Revista
Brasileira de Desastres 1995;2(1):40-1.
Figueiredo JR. Emergência – Condutas Médicas e
Transporte. Rio de Janeiro;1996.
Lee G. Flight Nursing - Principles and Practice. Missouri:
Mosby Year Book; 1994. ¡
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Revisão
Manual de cuidados do cateter
de Hickman
Procedure manual for the Hickman catheter care
Manual de cuidados del catéter de Hickman
Ana Paula Cunha*, Rita de Cássia Elias**, Maria Paula S. Soares***
*Enfermeira formada pela Escola de Enfermagem Anna Nery – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Especialista em Administração
Hospitalar, atuando como Enfermeira Assistencial na UTI Adulto do Hospital e Maternidade São Camilo em São Paulo, **Enfermeira formada
pela Escola de Enfermagem Alfredo Pinto – Universidade do Rio de Janeiro, Especialista em Enfermagem em Terapia Intensiva, atuando como
Enfermeira Supervisora do Hospital Evangélico de Cachoeiro de Itapemirim no Espírito Santo, ***Enfermeira formada pela Universidade Gama
Filho, Especialista em Prevenção e Controle de Infecção Hospitalar, atuando como Enfermeira Supervisora do Hospital Evangélico de Cachoeiro
de Itapemirim no Espírito Santo - Trabalho apresentado Nº 5° CBCENF em Recife PE – setembro de 2002.
Resumo
O cateter de Hickman é um dispositivo para acesso vascular, introduzido em uma veia calibrosa do sistema vascular onde a sua
ponta avança pela veia cava superior. Freqüentemente utilizado em terapia de longa duração, com acesso venoso precário, pela
administração contínua de drogas vesicantes, alto pH ou soluções hipertônicas. Faz-se extremamente importante o cuidado de
manutenção do sistema, enfatizando principalmente o treinamento da equipe de Enfermagem para que o sistema tenha um
bom funcionamento e evitando, assim, complicações. A idéia de elaborar uma rotina de cuidado deu-se enquanto Enfermeira
Assistencial em uma instituição privada no estado do Rio de Janeiro, ao cuidar de um paciente portador de Leucemia Mielóide
Aguda e que estava utilizando um cateter venoso central do tipo semi-implantado.
Palavras-chave: Cateter venoso central, enfermagem oncológica.
Abstract
Hickman’s Catheter is a device for vascular access, introduced into a large vein of the vascular system where its tip progress in the vena cava
superior. It is frequently used in long duration therapy, with precarious veined access, for continuous administration of vesicant drugs, high
pH or hypertonic solutions. The maintenance care of the system is extremely important, emphasizing mostly the training of the nursing
team to preserve a good operation system and avoiding complications. The idea of a care routine was elaborated in a private institution of
Rio de Janeiro State, during care of a patient with Acute Myeloid Leukemia who was using a central semi-implanted vein catheter
Key-words: Central venous catheter, oncologic nursing care.
Recebido em 2 de dezembro de 2002; aceito em 15 de fevereiro de 2003.
Endereço para correspondência: Ana Paula Cunha, Av. Diógenes Ribeiro de Lima, 3320, Alto da Lapa,
05083-010 São Paulo SP, Tel: (11): 3836-5887/9795-3910, E-mail: [email protected]
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Resumen
El catéter de Hickman es un dispositivo para acceso vascular, introducido en una vena de gran calibre del sistema vascular donde
su punta avanza por la vena cava superior. El catéter de Hickman es frecuentemente utilizado en terapia de larga duración, con
acceso venoso precario, para administración continua de drogas vesicantes, alto pH o soluciones hipertónicas. Se hace extremamente
importante el cuidado de manutención del sistema, enfatizando principalmente el entrenamiento del grupo de Enfermería para
que el sistema tenga un buen funcionamiento, evitando así complicaciones. La idea de elaborar una rutina de cuidado surgió
mientras una Enfermera Asistencial en una institución privada en el estado de Rio de Janeiro, cuidaba de un paciente portador de
Leucemia Mieloide Aguda y que estaba utilizando un catéter venoso central del tipo semi-implantado.
Palabras-clave: catéter venoso central, enfermería oncológica.
Fig.1- Cateter único lúmen (figura extraída do guia
“Nursing Procedure Manual Bard Access Systems).
Introdução
O cateter de Hickman
Pacientes internados por um longo período,
submetidos a uma terapia intravenosa prolongada,
portadores de doenças crônicas sofrem danos ou
destruição da rede venosa periférica devido a freqüente
coleta sangüínea, inúmeras e dolorosas punções
periféricas causam no doente esclerose venosa e
trombose provocadas por agentes quimioterápicos,
extravasamento de citostáticos, flebites, impossibilidade ou demora no comprometimento do
esquema terapêutico, entre outros.
Para amenizar estes problemas, existe um
dispositivo de longa permanência do tipo semiimplantável: o cateter de Hickman. Esse cateter é
indicado a pacientes que requerem um tratamento
endovenoso por tempo prolongado, principalmente
aos candidatos a Transplante de Medula Óssea,
portadores de tumores que requeiram um tratamento
prolongado de quimioterapia e aqueles que necessitam
de nutrição parenteral prolongada (NPP)
cronicamente [1,2].
Heimbach & Tom [3] citam que em 1973,
Broviac et al introduziram o uso do cateter de silicone
com um segmento extravascular que se exterioriza
pela pele, utilizado para promover acesso venoso para
quimioterapia, nutrição parenteral prolongada, coleta
sangüínea, monitorização da pressão venosa central
(PVC), transfusão de hemoderivados. Devido a um
único lúmen, não se torna viável a realização de
múltiplos procedimentos (Fig. 1).
Segundo Cole & Scribne [4], um cateter de duplo
lúmen começou a ser utilizado em 1979. O cateter de
Hickman, feito de silicone flexível, com 90 cm de
comprimento, sendo 55 cm dentro do sistema
intravascular, com diâmetro interno de 1,6 mm e 1,0
%
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mm, em cada lúmen respectivamente. A ponta do cateter
fica localizada no átrio direito. Há dois anéis de dacron,
que têm o tamanho de um grão de arroz, situados
próximo à entrada da veia e o outro próximo à saída
do cateter, tendo este último a finalidade de fixação do
cateter e proteção contra microorganismos (Fig. 2).
Fig. 2 - Cateter duplo e triplo lúmen (figura extraída do
guia “Nursing Procedure Manual Bard Access Systems).
ao átrio direito, para quando se utiliza a veia cava
superior, de forma que os batimentos cardíacos e a
alta pressão venosa ajudem a manter a ponta do cateter
livre de aderências, com menor chance de trombose.
As principais complicações que podem ocorrer
devido ao manuseio do cateter são:
• Obstrução do sistema;
• Rompimento (fratura) do cateter;
• Infecção do sítio externo;
• Embolia;
• Dificuldades na coleta de sangue pelo cateter.
Fig. 3 - A inserção do cateter no sistema venoso central
(figura extraída do guia “Nursing Procedure Manual
Bard Access Systems).
As características fundamentais do cateter de
Hickman são o trecho subcutâneo, a presença de
“cuff ” de segurança e o material com que é
produzido, o silicone de grau médico. A partir dessas
três características devemos padronizar os cuidados.
A implantação do cateter no sistema venoso
central é realizada através de um ato cirúrgico,
utilizando-se as veias jugular externa ou interna, cefálica,
axilar, subclávia e safena, sob anestesia local, geral ou
sedação. O cateter é posicionado com sua ponta
próxima ao átrio direito (Fig. 3). Após a sua
implantação, este é heparinizado e está pronto para o
uso imediato. O cateter deve sempre ser posicionado
por radioscopia ou radiografia de tórax, ainda no
ato cirúrgico, de preferência com sua ponta próxima
Para a prevenção dessas complicações é necessário
que a equipe de Enfermagem que utilizará o sistema receba
um treinamento contínuo, efetivo e eficaz. Cuidados
adequados no manuseio dos cateteres são fundamentais
para garantir vida útil mais longa e livre de complicações.
Este manual elaborado enquanto enfermeiras
assistentes tem como objetivos:
• Favorecer uma assistência de Enfermagem
eficiente e eficaz;
• Sistematizar a conduta e os cuidados de
Enfermagem na manipulação dos cateteres;
• Padronizar a assistência no que se refere aos
cuidados com cateteres semi-implantados;
• Conscientizar a equipe de Enfermagem quanto
à importância do cateter venoso central;
• Orientar a equipe de Enfermagem quanto à
importância da manipulação correta do cateter para
maior eficácia e durabilidade;
• Manter o cateter livre de possíveis infecções;
• Proporcionar informação sobre o cateter de
Hickman, sua característica, forma de inserção, seu
uso e cuidados.
Segue o manual:
&
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Regras básicas
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
Sempre utilizar técnica asséptica ao manipular o sistema;
Lavar as mãos antes e após realizar qualquer procedimento;
Usar somente material estéril;
Evitar molhar o sítio de inserção do cateter até total cicatrização. Utilizar preferencialmente curativos adesivos
transparentes impermeáveis;
Manter os ports (lumens) clampeados quando não utilizados;
Não abrir o cateter sem que já esteja conectada uma seringa com soro fisiológico a 0,9%, evitando assim a
entrada de ar no sistema e conseqüentemente embolia gasosa, em casos de pressão negativa;
Lavar o cateter após cada uso com pelo menos 50 ml de soro fisiológico a 0,9%;
Uso de máscara e luvas estéreis;
Fechar o clamp do cateter antes de desconectar ou trocar equipos;
Medir diariamente o comprimento do cateter do ponto de inserção à extremidade distal externa.
Curativos
Material necessário
Procedimento
A. Povidine tópico (caso alérgico
a iodo, utilizar clorhexidine)
B. Álcool a 70%
C. Esparadrapo hipoalérgico
D. Gaze estéril
E. Luva estéril
F. Máscara descartável
a) Lavar as mãos vigorosamente;
b) Retirar o curativo antigo cuidadosamente;
c) Inspecionar o local para os seguintes sinais
de infecção: rubor, tumor, dor, calor e/ou
drenagem de qualquer secreção;
d) Abrir o pacote de gaze;
e) Calçar as luvas;
f) Iniciar limpando o local de dentro para fora
em movimentos circulares. Não volte ao
mesmo local após o início da limpeza: se
necessário, use nova gaze embebida em
povidine. Repita este processo pelo menos
duas vezes. Use uma terceira gaze para
limpar o tubo do cateter ao longo do
comprimento. O excesso de povidine pode
ser retirado da pele com uma gaze estéril.
Coleta de sangue
Material necessário
Procedimento
Observações
A.
B.
C.
D.
E.
F.
G.
H.
I.
a) Lavar as mãos vigorosamente
por 30 segundos;
b) Separar todo o material a ser utilizado
c) Realizar assepsia da capa de injeção
com álcool a 70%;
d) Introduzir a seringa pela capa
de injeção;
e) Desclampear o cateter
f) Aspirar a solução heparinizada existente
no cateter, desprezando-a;
g) Aspirar o volume de sangue necessário
para o exame laboratorial;
h) Lavar o cateter com soro fisiológico
a 0,9% ou água destilada;
i) Introduzir a solução heparinizada,
clampear o cateter antes do final
da solução existente na seringa;
j) Limpar a superfície do cateter retirando
os resíduos de sangue com gaze
embebida em álcool, limpar a superfície
por 30 segundos.
1) Caso apresente
dificuldade para obter
amostra sangüínea, peça
ao paciente para tossir e/
ou respirar profundamente
para aumentar a pressão
torácica; dê um flush com
solução salina;
a reposição do paciente
no leito também pode
ajudar.
Álcool a 70%
Gaze estéril
Máscara descartável
Campo estéril
Seringas de 10 ml (4 unidades)
Tubos de exames
Agulhas 40X12
Heparina
Água destilada ou soro
fisiológico a 0,9%
J. Luvas estéreis
'
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Troca da capa de injeção
Material necessário
Procedimento
Observações
A.
B.
C.
D.
a) Lavar as mãos vigorosamente
por 30 segundos;
b) Calçar as luvas;
c) Clampear o cateter;
d) Limpar a junção onde a capa
e o tudo se unem; limpe por 30
segundos;
e) Abrir a nova capa;
f) Retirar a capa antiga;
g) Colocar a capa na abertura do cateter.
1) A sua troca deve ser feita
quando a tampa for removida
por qualquer motivo,
danificada, quebrada,
ou após hemotransfusão;
2) A troca da capa de injeção
deve ser semanalmente.
Uma capa de injeção
Álcool a 70%
Gaze estéril
Luva estéril
Registro
Observações
1) Registre todos os procedimentos de Enfermagem;
2) Sinais e sintomas de complicações e intervenção de Enfermagem;
3) Anotar tipo e infusão, volume, gotejamento/ velocidade da infusão;
4) Descrever aspecto do curativo;
5) Descrever aspecto da incisão cirúrgica;
6) Descrever realização do flush de heparina;
7) Registrar o que foi utilizado na realização de novo curativo.
Conclusão
Referências
Toda a atuação de enfermagem para que se
torne precisa e eficaz, deverá ser feita por um
profissional que se identifique com o que faz, pois
atuar em oncologia requer destreza e paciência.
A manipulação dos cateteres semi-implantáveis
requer conhecimentos suficientes para que seja um
resultado satisfatório e sem complicações para os
pacientes que estão sob os nossos cuidados.
1.
2.
3.
4.
Albuquerque MP, Theophilo FJ. Cateter valvulado semiimplantável para tratamento quimioterápico de longa
duração. Nova opção para utilização em quimioterapia
venosa e arterial.” Revista Brasileira Cancerologia
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Bonassa EMA. Enfermagem em quimioterapia. Rio de
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Heimbach DM, Tom DI. Technique for placement of a
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Cole JJ, Scribne BH. A Silicone rubber atrial catheter for
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& Obstetrics 1973. ¡
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120
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Enfermagem Brasil
Março / Abril 2003;2(2)
Revisão
Processo saúde-doença no envelhecimento
Health-disease process in aging
Proceso salud-enfermedad en el hacerce viejo
Elza Maria Pacheco Dias
Assistente Social, Especialista em Saúde do Trabalhador e Gerontologia Social, Coordenadora da Política de Saúde do Idoso - Secretaria Municipal de
Saúde de Porto Alegre/RS, Professora de Políticas de Saúde do Curso de Pós - Graduação em Saúde Púbica da Faculdade Integrada São Camilo, RS
Resumo
O presente estudo trata de uma pesquisa bibliográfica dos aspectos gerais sobre a inserção do idoso na sociedade, com enfoque
nas características epidemiológicas, demográficas, culturais e de vulnerabilidade social, além de estudos de morbidade e mortalidade
realizados pela autora no Sistema Único de Saúde de Porto Alegre
Palavras-chave: Idoso, serviços de saúde.
Abstract
This is a bibliographic research about general aspects of elderly people within our society. It focus on epidemiological, demographic,
cultural and social vulnerability characteristics, besides studies of morbidity and mortality performed by the author in Health
system of Porto Alegre.
Key-words: Elderly, health services.
Resumen
El presente estudio trata de una pesquisa bibliográfica de los aspectos generales sobre la inserción de los ancianos en la sociedad,
con enfoque en las características epidemiológicas, demográficas, culturales y vulnerabilidad social. Se incluyen además, estudios
de la morbidad y mortalidad realizados por la autora en el Sistema Único de Salud de Porto Alegre.
Palabras-clave: Ancianos, servicios de salud.
Artigo recebido em 1 de março de 2003; aceito em 20 de março de 2003.
Endereço para correspondência: Rua Euclides da Cunha, 120/27 Partenon 90620-210
Porto Alegre RS. Tel: (51) 3339 7283/9827 0564, E-mail: [email protected]
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Introdução
Tabela I - Dados populacionais
População
geral
População
idosa
%
Neste novo milênio o envelhecimento da
população vem constituindo uma nova agenda não
só para o sistema público, mas também para a
sociedade em função das mudanças do perfil
demográfico da população em vários países.
Ano
1996
Brasil
RS
POA
157.071.163
9.634.688
1.285527
12.810.101
949.451
144.631
8,15
9,85
11,25
No Brasil, esta agenda foi contemplada pela
Constituição Federal de 1988 que no art. 230 refere
“a família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as
pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade,
defendendo sua dignidade e bem-estar e garantido-lhes o direito
à vida.” Regulamentada pela Lei 8842/94 que criou a
Política Nacional do Idoso e pela Portaria 1395/99
do Ministério da Saúde que determina as diretrizes
operacionais para implantação da Política de Saúde
do Idoso nos municípios[1,2].
A evolução histórica do perfil demográfico
brasileiro evidencia o crescimento gradual da
população idosa decorrente dos avanços nas Ciências
Humanas e na melhoria das condições de vida da
área urbana, conforme Terra [3]; em 1900, os idosos
representavam 3,2% da população geral; em 1960
eram 4,7% e 9% em 2000; levando o Brasil a ocupar
o sexto lugar no mundo, com uma estimativa para o
ano de 2025 de 32 milhões (15%) de pessoas com
idade superior a 60 anos (OMS).
Estudos realizados pelo IBGE-2000, demonstram que Porto Alegre destaca-se como uma das
capitais do Brasil com a maior proporção de idosos
representando 11,8% da população. É válido
mencionar que somente em 56 comunidades de baixa
renda, onde foi implantado o Programa de Saúde da
Família, existem aproximadamente 10.000 idosos,
correspondendo a 7% da população total de idosos.[4]
Historicamente a forma como se comportam
as faixas etárias da população no Brasil vêm alterando
a representação da pirâmide populacional. Até 1960,
todos os grupos etários apresentavam crescimento
sob o mesmo parâmetro de igualdade, a partir desta
década (60), o grupo dos idosos passou a liderar este
crescimento.
Nos países desenvolvidos, esta transição ocorreu
lentamente com um intervalo de tempo aproximado
de cem anos. É válido mencionar que o
envelhecimento no Brasil é um fenômeno
predominantemente urbano chegando a 82% da
população; isto ocorre em função do movimento
migratório provocado pela industrialização que
propicia maior acesso aos serviços de saúde e
saneamento.
Fonte: IBGE - 1996.
Ano
2000
População
geral
População
idosa
Brasil
169.799.170
14.536.029
8,56%
RS
10.187.798
1.065.484
10,45%
POA
1.360.590
160.541
11,08%
Fonte: [4].
A expectativa de vida ao nascer, dos brasileiros
vem crescendo substancialmente. Em 1900 era de 40
anos, em 1990 aumentou para 70 anos. A cidade de
Porto Alegre vem acompanhando este crescimento,
uma vez que a expectativa de vida da população no
período de 1995 a 1997 atingiu 71,4 anos, considerada
elevada para os padrões brasileiros. No entanto a
diferença para expectativa de vida feminina e
masculina é de 10 anos, atingindo 76,2 anos as mulheres
e 66,2 os homens[5].
Breve diagnóstico da realidade do idoso
da cidade de Porto Alegre
Para realizarmos o diagnóstico das necessidades
desta população consideramos as múltiplas variáveis,
abrangendo questões sócio-econômicas, políticas,
culturais, epidemiológicas e individuais.
Em 1996, foi realizada uma pesquisa em Porto
Alegre pelo Conselho Estadual do Idoso a qual
constatou que 19% da população idosa nunca tinha
freqüentado a escola e 30% tinha apenas o primário
incompleto[5].
A mesma pesquisa demonstrou ainda que 10%
da população idosa não possuía nenhum tipo de
renda e 30% ganhava menos de um salário mínimo.
Referiram como a principal despesa pessoal, a
alimentação e medicamentos.
No ano 2000, estudo realizado pela Pontifícia
Universidade Católica em uma comunidade de baixa
renda de Porto Alegre, demonstrou que 39% dos
idosos nunca tinham freqüentado a escola e que 16%
tinham apenas um ano de estudo[6].
Neste mesmo ano o IBGE divulgou que 6,2%
dos idosos de Porto Alegre viviam em situação de
pobreza e que 62,4% a única renda do núcleo familiar
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eram seus vencimentos. Em relação aos idosos que
vivem só e que são responsáveis pela sua manutenção,
entre as principais capitais brasileiras (Rio de Janeiro,
Curitiba, São Paulo, Florianópolis) Porto Alegre lidera
com 27,01%.
Além da transição demográfica mencionada
anteriormente, existe ainda transição epidemiológica que
tem alterado o perfil de morbimortalidade da população.
As doenças infecto-contagiosas em 1950, apresentavam
40% das mortes registradas no País, enquanto que as
doenças cardiovasculares, neste mesmo período, foram
responsáveis por 12% dos óbitos. Atualmente a situação
é inversa, são as doenças cardiovasculares que
representam mais de 40% dos óbitos.
A transição demográfica no Brasil exige, cada
vez mais, novas estratégias visando responder a
demanda de morbidades que exige tratamento de alto
custo, com um perfil de idosos dependentes, de baixa
renda, além da necessidade constante de ampliação e
manutenção dos serviços de saúde.
Em 2001, internaram-se nos hospitais do
Sistema SUS de Porto Alegre 39.090 idosos
representando 24,35% da população desta faixa etária
(Tabela II). No entanto, devemos considerar que
nestes hospitais também internam idosos oriundos
de outros municípios. Em contraponto a este alto
número de internações, estudos realizados no ano
2000, na Secretaria Municipal de Saúde-SMS de Porto
Alegre, sobre o impacto da vacinação em idosos,
demonstrou uma redução significativa nas internações
decorrentes de problemas respiratórios[7].
Tabela II -Internações no Sistema SUS de Porto
Alegre, de paciente s com idade superior a 60 anos
Ano
Número de internações
%
1997*
33.155
22,9
1998*
31.407
21,7
1999
34.582
23,9
2000
39.698
24,7
2001
39.090
24,5
Fonte: [5]
Entre os anos de 97-98*, observamos que houve
uma redução no número das internações, apesar de
não haver um estudo mais aprofundado sobre o
assunto. Associamos o fato à implantação de
programas tais como: de Vacinação, Prevenção de
Doenças Respiratórias e principalmente em função
de que neste período houve um grande crescimento
dos Grupos de Convivências na maioria dos
municípios do Estado do Rio Grande do Sul.
Dentre as doenças predominantes aparece a
demência que consiste nas alterações do raciocínio,
como a perda da capacidade de abstração e a repetição
contínua de idéias, primeiro a pessoa começa repetindo
uma frase, com o tempo o idoso pode repetir apenas
uma palavra tornando-se incapaz de formar uma frase
inteira. Ainda existe o Mal de Alzheimer que é a doença
que mais tem desafiado a medicina nos últimos anos,
pois trata-se de uma doença neurológica degenerativa,
lenta, progressiva, que apresenta uma crescente
dificuldade para memorizar, decidir e agir, locomoverse, comunicar-se, alimentar-se.
Ainda é valido mencionar que, 10% da
população com mais de 65 anos, possui algum tipo
de demência e 60% destes, possui Mal de Alzheimer.
A doença de Mal de Parkison é uma patologia
degenerativa do sistema nervoso central, doença
limitante que provoca grandes estigmas principalmente
devido aos tremores crescentes que provocam no
paciente, dificultando a aceitação da família e amigos.
A depressão é uma doença que ocorre em todas
as faixas etárias. Percebemos que está freqüentemente
associada às vivências próprias do idoso, como a
baixa da auto-estima provocada pelas mudanças
físicas, como rugas, gordura, cabelos brancos,
musculatura hipotensa, falta de dentes, solidão
advinda de separações ou viuvez, tristeza, desânimo,
perturbações do sono, desinteresse pela vida, perda
de apetite, somatização, dores físicas irritabilidade,
dificuldade de concentração, isso tudo pode vir
acompanhado do risco de suicídio [8,9].
As questões sociais, como falta de moradia,
renda, perda da capacidade funcional, em geral
contribuem para o desmoronamento da autoimagem, da altivez, autonomia, independência. O
“não ser mais capaz de” provoca um profundo vazio
e uma necessidade de reorganização dos referênciais,
que nem sempre acontecem, provocando no
indivíduo uma fragilidade psíquica muito grande.
Os acidentes por quedas, também são um
evento muito freqüente em idosos. Assim como as
conseqüências podem ser leves ou graves, são
inevitáveis, causando múltiplos problemas, desde a
incapacidade de locomoção, como a perda da autoestima, o isolamento social, além do risco de adquirir
pneumonias e trombose em função da falta de
movimento físico. Estudos realizados no Hospital de
Pronto Socorro de Porto Alegre indicam que, do geral
dos acidentes por quedas, a maior prevalência é em
pacientes com idade superior a 60 anos.
Os fatores que determinam as quedas são
diversos, porém, assim como estas podem ser
causadas em função do simples desequilíbrio, também
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podem ser decorrentes de múltiplas patologias, sendo
que devemos considerar que em grande parte, as
quedas estão associadas à inadequação de ambientes
domésticos e públicos. Enquanto que nas outras faixas
etárias são mais freqüentes pela exposição ao trânsito,
no trabalho, na escola, outros.
“Com a idade diminui a habilidade do olho em responder
à escuridão, ao sentar em um quarto escuro ou sair à noite; isto
pode ser contornado com a iluminação adequada do ambiente. A
catarata, doença relativamente freqüente, leva à intolerância `a
claridade intensa e a um declínio na percepção de profundidade,
espessura e altura. A perda progressiva da audição pode levar a
quedas pela inabilidade em detectar sons atrás de si isto pode ser
aliviado com o uso de próteses auditivas. Entre as doenças que
podem facilitar as quedas, podemos citar a desidratação,
hemorragia, osteoartrose, anemia e deformidades nos pés [3].”
O estudo realizado pelo CEI-1996, Porto Alegre,
citado anteriormente, demonstrou que 89% das
mulheres e 82% dos homens de Porto Alegre possui
algum tipo de agravo à sua saúde. Quanto às doenças
predominantes aparecem as alterações visuais 80%,
doenças reumáticas 60%, hipertensão arterial 60%,
alteração na marcha e equilíbrio 50%, doenças
cardíacas 40%, incontinência urinária 30%, alterações
auditivas 30%, quedas 30%, bronquite 30%, sintomas
depressivos 30%, diabetes 15%, colesterol 25%,
fraturas 15%, derrame cerebral 11% e câncer 8%.
No que se refere à institucionalização de idosos,
é válido mencionar que as internações em asilos ou
casa similares atualmente vêm sendo questionadas,
inclusive nos países desenvolvidos, onde estes serviços
são prestados com qualidade. Ao contrário dos países
subdesenvolvidos em que o atendimento, além de
ser precário, os programas de atenção social são aquém
da demanda. Na área de saúde, a estratégia para
reduzir os indicadores de agravos é criar uma estrutura
para o atendimento domiciliar, uma vez que esta visa
a reduzir a demanda da institucionalização.
Em 2002, foi realizada uma pesquisa sobre o
perfil epidemiológico dos idosos, institucionalizados
em Porto Alegre.
“Verificou- se que as doenças degenerativas atingem 45%
dos idoso (cardiovasculares, reumatismo, câncer). A diminuição
da audição e da visão em 49% e os demais problemas em 6% dos
idosos estudados. Além dos problemas de saúde referidos, 24%
dos entrevistados são portadores de doenças mentais, tais como o
Mal de Parkinson, Mal de Alzheimer e demência senil [10].”
A pesquisa acima citada é uma leitura da capital
gaúcha, porém sabe-se que esta é uma realidade
enfrentada em muitos países do mundo. No entanto,
o poder público parece pouco preocupado com o
elevado índice de vulnerabilidade social.
Com os avanços da saúde pública aparecem
novos conceitos mais adequados para instrumentalizar
e operacionalizar a atenção à saúde dos idosos. Ações
preventivas assistenciais e de reabilitação buscam a
melhoria da capacidade funcional ou, no mínimo, a
sua manutenção e, sempre que possível, a recuperação,
quando esta estiver comprometida.
As implicações do processo de envelhecimento,
em grande parte, estão associadas a manutenção da
capacidade funcional que consiste em manter as habilidade
físicas e mentais necessárias para uma vida independente
e autônoma [2]. Para garantir a independência, por maior
tempo possível, significa a preservação e a valorização
da autonomia e da autodeterminação. No entanto
devemos considerar que tanto as doenças físicas quanto
as mentais poderão levar o indivíduo a perder sua
capacidade funcional por conseqüência a dependência .
Geralmente as doenças crônicas ocorrem em
função da fragilidade orgânica, tendo na própria idade
um grande fator de risco. Envelhecer sem nenhuma
doença crônica é uma exceção. No entanto, a presença
de uma doença crônica não significa que o idoso não
possa gerir sua própria vida e encaminhar o seu diaa-dia de forma totalmente independente.
Estudos populacionais revelam que cerca de
40% dos indivíduos com 60 anos ou mais, precisam
de algum tipo de ajuda para realizar pelo menos uma
tarefa do tipo: fazer compras, cuidar das finanças,
preparar refeições e limpar a casa. Uma parcela menor,
mas significativa, em torno de 10%, requer auxilio
para, realizar tarefas básicas como tomar banho, vestirse, ir ao banheiro, sentar-se e levantar-se. É imprescindível
que, na prestação de cuidados aos idosos, as famílias
estejam devidamente orientadas, em relação à atividade
de vida diária. Tanto a dependência física, quanto a mental,
constituem fatores de risco significativo para a
morbimortalidade [2].
Uma grande parte dos idosos possui condições
para administrar sua vida, sem depender de ajuda de
quem quer que seja. Segundo os mais modernos
gerontólogos, este grupo possui autodeterminação
sem a necessidade de recorrer à ajuda ou à supervisão,
para o desenvolvimento de suas atividades.
Processo de envelhecimento
O Brasil ainda não deu o salto necessário no
que se refere às condições de vida em que se
encontram as pessoas idosas. Trata-se de uma
realidade cientificamente pouco explorada.
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Estudiosos afirmam que a partir do próximo
milênio a população brasileira vai ser predominantemente
idosa. As autoridades governamentais estão começando
a se preocupar com o problema, não em função da
questão humana, mas sim em prol dos interesses
econômicos, à medida que futuramente o desenvolvimento da sociedade vai depender também da força
de trabalho deste grupo etário.
Ao analisarmos, do ponto de vista do conjunto
das demais políticas públicas, historicamente não houve
preocupação social sobre a produção de conhecimento
científico voltado para processo de envelhecimento, pois,
o fato do Brasil possuir uma população predominantemente jovem contribuiu significativamente para o
atraso dos estudos sobre o envelhecimento.
No Brasil, os estudos iniciaram-se a partir de
1930, porém só avançaram após 1970, com objetivos
voltados para descobrir uma forma de permanecer
jovem. Mas, como os resultando das pesquisas não
abriram expectativa para o rejuvenescimento, os
estudos foram direcionados para a longevidade,
buscando prolongar a expectativa de vida com
qualidade. Velhice define-se “como um processo dinâmico
e progressivo onde as modificações tanto morfológicas como
funcionais, bioquímicas e psicológicas determinam a perda
progressiva da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio
ambiente ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidência
de processos patológicos[3].”
Geralmente a idade cronológica aparece associada
ao afastamento do indivíduo das funções produtivas,
isto é um tanto contraditório, pois esta relação não
corresponde à realidade, à medida que o processo de
envelhecimento varia consideravelmente entre os
indivíduos e suas peculiaridades. Os estudos referem
que em grande parte o processo de mutação biológica
é que determina o estado de velhice, ou seja, o desgaste
físico que os anos produzem nos indivíduos. Em
coerência com este pensamento Salgado [10], cita duas
etapas distintas do desenvolvimento humano: a do
acréscimo e a do decréscimo. Para este autor, o processo
do envelhecimento é demarcado a partir do nascimento,
ou seja na fase do decréscimo. Durante o período em
que o indivíduo encontra-se no útero materno, a do
acréscimo adquire nutrientes para sua formação e
fortificação; ao nascer passa a desenvolver um processo
de mutação biológica de desgaste orgânico em função
do simples contato com o meio ambiente.
Conclusão
Consideramos que uma parcela da população
idosa possui acesso aos serviços de saúde, educação,
habitação, alimentação, lazer e socialização etc, mas
por outro lado existe outro grupo em situação de
vulnerabilidade social em função das múltiplas
dificuldades que enfrentam.
Os idosos em situação de vulnerabilidade
social requerem um olhar diferenciado para a
situação de agravo social, sendo muito difícil
entender como a sociedade acomoda, uma grande
parcela da população idosa vivendo em condições
subumanas. A fragilidade geralmente é resultado da
classe social que a pertence. A adoção de hábitos
saudáveis ao logo da vida, influencia na qualidade
de vida das pessoas em idade avançada . É válido
mencionar que o desenvolvimento social, político e
econômico de uma sociedade está diretamente
relacionado com as condições de vida da população.
Visando melhorar a situação de vulnerabilidade
social do idoso em nossa sociedade, faz-se necessário
a união de esforços no sentido de mobilizar a
sociedade, entidades públicas e privadas na busca
planejada instrumentalizada e eficiente para a mudança
do processo de mentalidade sobre o envelhecimento,
bem como promover um trabalho interdisciplinar
visando a democratização das ações voltadas para
os idosos, com um olhar integral sobre o aspecto
físico, mental e social. A linha de ação básica é
promover o acesso aos serviços de atenção social aos
idosos, como também contribuir significativamente
para a socialização e a manutenção da sua autonomia,
assegurando desta forma a qualidade de vida da
população idosa
Referências
1.
2.
Brasil. Constituição Federativa do Brasil - 1998.
Brasil. Portaria 1395 - Política Nacional de Saúde do
idoso - MS.1999.
3. Terra NL. Envelhecimento com qualidade de vida Programa Geron
4. Brasil. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística - IBGE - Porto Alegre 2000.
5. Relatórios de Indicadores Sociais – PMPA/2000
6. PUCRS – Porto Alegre: Edipuc; 2001.
7. Relatório do Comitê de Estudos para a Promoção á
Saúde do Idoso - SMS /2001)
8. Zimermann G. Velhice - Aspectos Biopsicossociais.
Porto Alegre: Artes Médicas Sul;2000.
9. Leger JM. Psicopatologia do Envelhecimento.
Petrópolis:Vozes;1994.
10. Nery MES, Vazin AS. Perfil social e epidemiológico de
gerontos internados em geriatrias na cidade de Porto
Alegre RS. Enfermagem Brasil 2002;1(1)5-10.
11. Salgado M. Velhice uma questão social. São Paulo:
SESC;1972. ¡
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Estudo de caso
Identificação dos diagnósticos de
enfermagem de um paciente
politraumatizado internado em uma
Unidade de Terapia Intensiva
Identification of nursing diagnostics of an poly-traumatized
patient interned in Intensive Care Unit
La identificación de los diagnósticos de enfermería
de un paciente politraumatizado internado en una Unidad
de Terapia Intensiva
Geraldo Magela Salomé*, Roberto S. Camargo**, Cleide Aparecida Guerra***
*Especialista em Unidade Terapia Intensiva e Mestrando em Enfermagem pela Universidade do Grande ABC (Uni ABC), **Professor Livre
Docente do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da USP, ***Mestranda em Enfermagem pela Universidade do Grande ABC.
Resumo
O presente trabalho tem por objetivo relatar o estudo de caso de um paciente vítima de acidente de trem internado em uma Unidade Terapia
Intensiva de um hospital estadual localizado na cidade de Itapevi, onde permaneceu internado no período de 10/07/2002 a 25/ 07/2002.
Para o alcance dos objetivos estabelecidos, desenvolvemos uma pesquisa descritiva do tipo estudo de caso e quantitativa. Durante a
internação na UTI, o paciente foi submetido à escala de coma de Glasgow, durante o exame físico, para testar o nível de consciência para poder
realizar a entrevista ou não. O instrumento de coleta de dados constou do exame físico, mas não foi possível realizar a entrevista, pois o
paciente estava inconsciente. As informações referentes à coleta de dados foram registradas na folha de Sistematização da Assistência de
Enfermagem utilizada na UTI. Foi realizado o levantando os Diagnósticos de Enfermagem, segundo Taxonomia l da NANDA (North
American Diagnosis Association),em que foram encontrado 6 diagnósticos de enfermagem e 21 características definidoras. Através do
trabalho, podemos concluir que aplicar o Processo de Enfermagem e Taxonomia NANDA em pacientes politraumatizado é tão viável
como em qualquer outro tipo de paciente, desde que se disponha de tempo, conhecimento técnico e cientifico, de recurso profissional, de
material e acima de tudo vontade da equipe envolvida em desenvolver o diagnóstico de enfermagem.
Palavras-chave: Lesões craniocerebrais, diagnóstico de enfermagem.
Artigo recebido em 15 de janeiro de 2003; aceito em 15 de março de 2003.
Endereço para correspondência: Geraldo Magela Salomé,
Av. Francisco de Paula Quintaninha Ribeiro, 280/134, bl.01,
Jabaquara 04330-020 São Paulo SP, E-mail: [email protected]
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Abstract
The aim of this work was the study case of a patient victim of train accident interned in a Intensive Care Unit of a state hospital
located in the city of Itapevi (São Paulo), raising the nursing diagnosis according to Taxonomy l of NANDA (North American
Diagnosis Association), where had been found 6 nursing diagnosis e 21 defining parameters. Through this work we can
conclude that the use of nursing process and taxonomy NANDA in poly-traumatized patients is so viable as in any another type
of patient since we have time, technic and scientific knowledge, professional and material resource, and, above of all, team
involved in developing the nursing diagnosis.
Key-words: Brain injuries, nursing diagnosis.
Resumen
El objetivo del presente trabajo ha sido relatar el estudio de caso de un paciente víctima de accidente de tren internado en una
Unidad de Terapia Intensiva de un hospital estatal ubicado en la ciudad de Itapevi (São Paulo), donde permaneció internado en
el período de 10/07/2002 al 25/07/2002. Para alcanzar los objetivos establecidos, desarrollamos una pesquisa descriptiva del
tipo de estudio de caso y cuantitativa. Durante la internación en la UTI, el paciente fue sometido a la escala de coma de Glasgow,
durante el examen físico, para determinar el nivel de conciencia para poder realizar o no la entrevista. El instrumento de colecta de
datos constó de examen físico, pero no fue posible realizar la entrevista, pues el paciente estaba inconsciente. Las informaciones
referentes a la colecta de datos fueron registradas en la hoja de Sistematización de Asistencia de Enfermería utilizada en la UTI.
Fue realizado un levantamiento de los Diagnósticos de Enfermería, según Taxonomía l de NANDA (North American Diagnosis
Association), en el cual fueron encontrados 6 diagnósticos de enfermería y 21 características definidoras. A través del trabajo,
podemos concluir que aplicar el Proceso de Enfermería y Taxonomía NANDA en pacientes politraumatizados, es tan viable
como en cualquier otro tipo de paciente, desde que se disponga de tiempo, conocimiento técnico y científico, de recurso profesional,
de material y, además de todo, voluntad del equipo comprometido en desarrollar el diagnóstico de enfermería.
Palabras-clave: Traumatismos cerebrales, diagnóstico de enfermería.
Introdução
O homem sempre esteve sujeito a realização de
diferentes atividades com implicação de risco físico.
Em sua maior parte, estes perigos traduzem suas
possibilidades de sofrer traumatismo [1].
Por outro lado, até o aparecimento da moderna
cirurgia e da utilização dos raios X, as conseqüências dos
traumatismos supunham, em quase todos os casos, a
invalidez dos membros afetados, de fato, não se podia,
muitas vezes, diferenciar entre a fratura ou uma luxação,
aplicando-se o mesmo tratamento em ambas patologias.
Os acidentes de trânsito de veículos a motor
são uma causa comum de morbidade e invalidez,
sendo apontado como a causa mais freqüente de morte
em indivíduos entre 15 a 40 anos de idade, em quase
todos os serviços de emergência dos grandes hospitais,
representando entre 15 a 25% das internações. Constitui
um grave problema de saúde pública. Isto se deve,
principalmente, a maior utilização de veículos
motorizados e ao aumento da industrialização [2].
A vítima que sofre um trauma deve ser considerada
sempre um paciente de alto risco pelo desconhecimento
imediato das lesões ocorridas e pela facilidade, podendo
por breve período de tempo ter suas funções vitais
deterioradas. O trauma pode resultar em enormes custos
tanto para a pessoa, como para a sociedade.
Principalmente nos casos em que ocorrem lesões com
seqüelas irreversíveis, há que se ressaltar a possível alteração
na qualidade de vida, dada a deficiência, limitações ou
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desvantagens que dificultam a realização das atividades
da vida diária. Em vista disso, é imprescindível que
os profissionais da área de saúde unam os esforços
necessários ao atendimento destes clientes, para assistilos de modo efetivo e eficaz, em tempo hábil, de
modo a prevenir e reduzir as complicações e com
isso o paciente poderá assumir o seu papel na
sociedade e no seu lar.
A estatística demonstra que o paciente com
trauma faz parte do dia-a-dia dos grandes hospitais,
que possuem pronto atendimento, nas grandes cidades.
Nos Estados Unidos, um cliente morre de
Traumatismo Crânio-Encefálico (TCE) a cada 12
minutos e mais de 75% dos TCE’s sérios são
atribuídas às altas velocidades dos veículos nos
acidentes com automotores, que causam traumatismo
transacionais severos que resultam em lacerações do
tecido cerebral [3].
Para Santos et al. [4], no Brasil o trauma crânio
encefálico é uma das maiores causas de invalidez em
indivíduos menores de 50 anos. O dano resulta de
fratura do crânio ou de aceleração ou desaceleração
rápida do cérebro, que lesa o tecido no local do
impacto, ou na região oposta e difusamente ao longo
dos lobos frontal e temporal.
No Brasil, no ano de 1994 as causas externas
ocuparam o terceiro lugar na mortalidade geral sendo
superado apenas pelas doenças do aparelho
circulatório e por sinais de afecções mal definidas. Os
acidentes de trânsito foram responsáveis neste mesmo
ano por 26.627 mortes, estando os nossos índices
entre os mais elevados do mundo.
Justificada a importância do assunto,
percebemos a necessidade de que sejam elaboradas
diretrizes para os enfermeiros que atuam em UTI,
para que possam ajudar a avaliar, do ponto de vista
da enfermagem as condições das vitimas de traumas
e a iniciar as intervenções necessárias de forma
rápida, eficiente, objetiva. Acredito que a
sistematização da assistência pode contribuir para a
melhora da qualidade da assistência de enfermagem
ao paciente de vítima de trauma.
Sabemos que o processo de enfermagem é um
instrumento metodológico que tem assegurado a
aplicabilidade na prática profissional dos referenciais
teóricos próprios de enfermagem, os quais guiam
decisões específicas sobre o que questionar e
diagnosticar, como intervir e o que avaliar.
No Brasil, a expressão diagnóstico de
enfermagem foi introduzida por Wanda Horta,
na década de 60, e constitui-se em uma das etapas
do processo de enfermagem proposto por esta
autora [2].
Atualmente, este tema tem sido objeto de
discussão em vários eventos, visando melhorar
compreensão e aplicação da Taxonomia I dos
diagnósticos de enfermagem propostos pela Nanda
(North American Nursing Diagnosis Association) [6].
Confor me Jesus [7], o diagnóstico de
enfermagem tem sua evolução histórica marcada
por mudanças em toda a forma de pensar e agir
do enfermeiro e, atualmente, está caracterizada por
ser um guia ao planejamento, implementação e
avaliação da assistência de enfermagem. Um dos
principais aspectos que tem contribuído para a sua
aplicação é o fato de ter se originado, no bojo da
prática de enfer magem e na necessidade de
sistematizar a assistência prestada ao cliente, família,
ou comunidade.
Segundo Gordon [8], diagnósticos são códigos
que se referem a um conjunto de sinais e sintomas
que ocorrem como uma entidade clínica. O
diagnóstico de enfermagem “descreve problemas de saúde
nos quais a responsabilidade para as decisões terapêuticas poderá
ser assumida por um enfermeiro. Em geral esses problemas
envolvem distúrbios potenciais ou atuais nos processos de vida,
padrões, funções ou desenvolvimento, incluindo aqueles que ocorrem
secundariamente a doença.”
Para Carpenito [9], o termo diagnóstico de
enfermagem tem sido utilizado em três principais
contextos: como a segunda etapa do processo de
enfermagem, como rótulos para uma lista de
diagnóstico e como parte de uma afirmação sobre
a resposta do indivíduo ao problema de saúde.
A definição de diagnóstico de enfermagem
pela Nanda “deve ser um julgamento clínico das respostas
do individuo, família ou comunidade aos processos vitais
ou aos problemas de saúde atuais ou potenciais, os quais
fornecem a base para a seleção das intervenções de
enfermagem, para atingir os resultados pelos quais o
enfermeiro é responsável [6].”
O diagnóstico de enfermagem é simplesmente,
um ponto de apoio para a determinação de
resultados e das intervenções do enfermeiro para
atingí-lo, como também um ponto de apoio que
deriva do levanta-mento e análise dos dados clínicos
do cliente. Portanto, o diagnóstico só tem significado
no contexto do processo de enfermagem como um
elo entre o levantamento de dados e a determinação
de objetivos e intervenções [10].
Já este diagnóstico de enfermagem propicia um
mecanismo útil para estruturar o conhecimento de
enfermagem e para definir um único papel para os
profissionais.
Nesse estudo, utilizamos a Taxonomia e a
definição de Nanda, para diagnóstico de enfermagem.
&
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Este trabalho baseia-se nos princípios científicos
que norteiam a Sistematização da Assistência de
Enfermagem, na tentativa de dar autonomia e
independência a enfermagem que tem como objetivo:
identificar os diagnósticos de enfer magem e
respectivas características definidoras mais freqüentes
no paciente portador de politrauma, internado em
uma UTI de acordo com Nanda.
Metodologia
Para o alcance dos objetivos estabelecidos,
desenvolvemos uma pesquisa descritiva do tipo
estudo de caso e quantitativa.
O estudo descreve um paciente politraumatizado, vítima de atropelamento por trem, internado
na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Sanatório
de Itapevi, localizado na cidade de Itapevi.
Permaneceu internado no período de 10\07\2002 a
25\07\2002.
Durante a internação na UTI, o paciente foi
submetido à escala de coma de Glasgow durante o
exame físico, para testar o nível de consciência para
poder realizar a entrevista ou não.
O instrumento de coleta de dados constou do
exame físico, entretanto não foi possível realizar a
entrevista, pois o paciente estava inconsciente.
As informações referentes à coleta de dados
foram registradas na folha de Sistematização da
Assistência de Enfermagem utilizada na UTI.
Estudo de caso do paciente vítima
de politrauma
Ao dar entrada na UTI encontrava-se
inconsciente com escala de Braden de 06 e
Glasgow de 03, agitado, palidez cutânea, sonda
nasogástrica aberta com grande quantidade de
secreção biliosa, entubado em ventilação mecânica
por Inter 5 em modo ventilatório de pressão
controlada. Pressão de suporte de 39, freqüência
cardíaca de 120 bat\mim, Fio2 de 50%, PEEP de
6, Po 2 e Pco 2 de 0, com saturação de 93%,
freqüência respiratória de 20, pressão arterial de
60x33mmhg, verificada em MSE com o cliente
em decúbito dorsal, temperatura axilar de 36º,
suturas em região temporal, do sub cilio direito,
da face lado direito, hematoma em joelho direito,
hematoma em flanco direito, diurese por sonda
vesical de demora, curativo ocluso em MMII,
porém em MID tinha dreno de Penrose com
presença em grande quantidade de secreção
sanguinolenta.
Foi realizada reposição volêmica com soro
Ringer Lactado 1500ml, dopamina 5 ampola com
soro fisiológico de 200ml infundindo 20ml\horas.
Com 6 horas de internado na UTI, havendo
melhora do estado do paciente, então foi realizado
o seguinte exame: tomografia e RX de crânio e
MMIISS onde se detectou fratura em região
temporal do crânio. Hemograma, creatinina, uréia,
Hb e Ht, potássio, sódio, com resultados normais,
porém a gasometria com resultado de acidose
metabólica, administrado 80 ml de bicarbonato de
sódio a 8,4% por veia periférica em MSD com
calibre 16.
Número do registro hospitalar: 45501
Resultados
G. A. R, 40 anos, masculino, casado, branco,
desempregado, deu entrada no setor de emergência
no dia 10 de julho de 2002, procedente da via pública.
Vítima de atropelamento por trem com amputação
traumática de membros inferiores e traumatismo
craniano.
Ao dar entrada no Pronto atendimento, o
paciente foi encaminhado para o centro cirúrgico
onde foi realizada limpeza cirúrgica, amputação do
coto 1/3 médio distal da perna direita, 1/3 medial
da coxa do membro inferior esquerda, realizada
suturas dos ferimentos da face lado direito e sub
cílio direito, e hematoma em joelho direito, o
mesmo apresentou Parada Cardio-respiratório
sendo realizada manobras cardio-respiratório com
sucesso.
O resultado apresentado levou-nos a identificar
e a nomear o diagnóstico de enfermagem, indicando
a seriedade dos problemas enfrentados pelo paciente
com politrauma, vítima de acidente de trem.
Foram encontrados os seguintes diagnósticos de
enfermagem para o paciente com politrauma:
1 – Troca de gases prejudicada
O conceito diagnóstico troca de gases é definido
pela Nanda[6], como “excesso ou déficit na oxigenação ou
eliminação de dióxido de carbono na membrana capilar.”
Foram encontradas 04 características
definidoras.
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Quadro 1 – Características definidoras encontradas
para a identificação do diagnóstico de enfermagem troca de gases prejudicada.
Características definidoras
- Taquicardia
- Agitação
- Gases sanguíneos arteriais anormais
- PH anormal
2 - Incapacidade para manter
ventilação espontânea
É a incapacidade para manter a respiração
espontânea.
“É o estado em que o individuo é incapaz de manter a
respiração adequada para sustentação da vida” [11, 12].
No quadro 2 são apresentados três características
definidoras.
Quadro 2 – Características definidoras encontradas
para a identificação do diagnóstico de enfermagem –
incapacidade para manter ventilação espontânea.
Características definidoras
- PO2 diminuída
- Saturação diminuída
- Freqüência cardíaca aumentada
3 - Risco para sspiração
É o estado no qual o individuo apresenta o
risco de entrada de secreções gastrointestinais,
secreções orofaríngeas, sólidas ou líquidas na via
traqueobrônquica [13].
Quadro 3 - Características definidoras encontradas
para a identificação do diagnóstico de enfermagem –
risco para aspiração
Características definidoras
- Escala de Glasgow número 03
- Uso de sonda nasogástrica
- Trauma facial
4 – Risco para infecção
“Estado no qual o individuo está com risco de ser invadido
por agente oportunista ou patogênico de fontes externas, endógenas
ou exógenas” [9].
Muitos pacientes que sobrevivem a traumatismos
graves podem, no entanto, vir a falecer em função de
septicemia, a segunda causa de morte em paciente póstrauma [3].
Quadro 4 - Características definidoras encontradas
para a identificação do diagnóstico de enfermagem –
risco para infecção.
Características definidoras
-
Laceração de tecidos em região frontal e MMIIs
Uso de sonda nasogástrica
Uso de sonda vesical de demora
Trauma facial
Punção venosa em membro superior esquerdo
Entubação
05 - Integridade da pele prejudicada
Segundo Sparks et al. [14], estado no qual o
individuo apresenta perda da integridade da pele.
Quadro 5 - Características definidoras encontradas
para a identificação do diagnóstico de enfermagem –
integridade da pele prejudicada.
Características definidoras
- Ruptura da superfície cutânea
- Destruição das camadas da pele
- Hematoma
06 - Integridade tissular prejudicada
Paciente apresenta lesão das mucosas ou córneas,
da pele ou dos tecidos subcutâneos.
As lesões provocadas durante o atropelamento
foram as mais variadas. Encontramos lesões do tipo lacerações, cortes profundos, fraturas abertas e hematomas.
Quadro 6 - Características definidoras encontrados
para a identificação do diagnóstico de enfermagem –
integridade tissular prejudicadas.
Características Definidoras
-
Hematoma facial
Ferimento na região ocular direita (sutura)
Edema em MMMIs
Fratura de crânio
Laceração de tecidos em região dos MMIIs
Discussão
Os enfermeiros devem utilizar um método
cientifico de trabalho. O diagnóstico de enfermagem
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proporciona o desenvolvimento da enfermagem
como arte e ciência, conferindo cientificidade a um
modelo que tem raízes no funcionalismo.
Quando optamos pela utilização do Processo de
Enfermagem e da Taxonomia de Nanda conseguimos
verificar como torna-se eficiente a assistência de
enfermagem, pois estes mostram-se verdadeiros
indicadores de objetivos e condutas a serem
estabelecidos e são facilitadores do cuidado a ser
prestado a cada um dos pacientes [15].
Segundo Rocha [16], o atendimento sistematizado tem como objetivo evitar um alto índice
de óbito e seqüelas graves. É por isso que cada vez
mais as equipes estão preparando protocolos de
atendimento e trabalhos em equipe multidisciplinar.
Frente à realidade que estamos vivenciando no
Brasil, é fundamental que desenvolvam serviços de
atendimentos eficazes em analisar a cena do acidente
observando os mecanismos que produziram o trauma.
Desta forma é possível detectar precocemente as lesões
e o tratamento das vitimas.
Segundo Oliveira et al. [17] um atendimento préhospitalar e hospitalar correto e a tempo reduz o
número de óbitos em 20 a 50%, além de diminuir
expressivamente as seqüelas temporárias ou definitivas.
É importante que os enfermeiros realizem o
diagnóstico de enfermagem nos pacientes vítimas
de trauma pois, através deste poderemos elaborar a
intervenção e a prescrição de enfermagem. Este
procedimento deve ser realizado com base cientifica
e é responsabilidade do enfermeiro.
Através deste procedimento estaremos fortalecendo e desenvolvendo os nossos conhecimentos
e prestando um assistência de enfermagem com
qualidade e acima de tudo humanizada.
Portanto aplicar o Processo de Enfermagem e
Taxonomia Nanda em pacientes politraumatizado é
tão viável, como em qualquer outro tipo de paciente,
desde que se disponha de tempo, conhecimento
técnico e cientifico, recurso profissional, material e
acima de tudo vontade da equipe envolvida em
desenvolver o diagnóstico de enfermagem.
Referências
1.
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Resumos de Trabalhos
*Ana Paula de Assis Sales
da Silva, *Maria Angélica
Marcheti Barbosa,
**Danilo Bertoloto dos Anjos,
**Jannayna Hammoud
Brandão, **Liliane Bastos
Magalhães de Almeida
*Docentes do Curso de Enfermagem
da Universidade para o Desenvolvimento
do Estado e da Região do Pantanal,
**Acadêmicos do Curso
de Enfermagem da Universidade
para o Desenvolvimento do Estado
e da Região do Pantanal
Endereço para correspondência:
Ana Paula de Assis Sales da Silva,
Rua Luís Ceciliano Vilares, 402
Monte Líbano 79004-280 Campo
Grande MS, Tel: (67) 384-1887,
E-mail: [email protected]
Ações educativas em saúde: relato de experiência dos
acadêmicos de enfermagem da universidade para o
desenvolvimento do estado e da região do pantanal
Introdução: Relato de experiência de atividade desenvolvida dentro de um
projeto de extensão universitária da Universidade para o Desenvolvimento do
Estado e da Região do Pantanal por meio do Curso de Enfermagem em convênio
com a Cooperativa dos Agentes Recicladores Vida Nova no Município de
Campo Grande, Mato Grosso do Sul.
Objetivos: Contribuir para o desenvolvimento de ações educativas em
saúde; instrumentalizar o aluno nas práticas pedagógicas oportunizando o
planejamento, execução, ação e avaliação das mesmas, construindo uma visão
crítica reflexiva; conhecer e contribuir com a Cooperativa dos Recicladores
suprindo a demanda solicitada de ações educativas em saúde.
Material e métodos: O estudo é de natureza exploratória e descritiva,
desenvolvido em duas fases distintas no segundo semestre de 2002. Na
primeira fase foi realizado um encontro entre os 30 cooperados que estavam
ativos na época do projeto, 30 acadêmicos do 2o e 3o semestres do curso
enfermagem, dois acadêmicos do 4o semestre do curso de fisioterapia e a
professora responsável pelo projeto de extensão. O primeiro momento teve
a intenção de determinar as ações educativas que seriam realizadas.
Determinados os temas e calendário de atividades, os acadêmicos tiveram a
liberdade em optar pela metodologia a ser colocada em ação. Em uma segunda
fase, foram realizadas as ações educativas em encontros semanais durante
oito segundas-feiras entre outubro e dezembro. Os temas abordados foram:
diagnóstico precoce de câncer de mama e colo uterino; imunização infantil,
desnutrição e doenças respiratórias; doenças do trabalho: lesão por esforço
repetitivo e doença osteomuscular relacionada ao trabalho; reaproveitamento
de alimentos; diagnóstico precoce de câncer de próstata; direitos reprodutivos;
qualidade de vida e saúde mental.
Resultados e discussão: Ao final do semestre letivo, realizou-se avaliação sobre
o nível de satisfação dos cooperados com a proposta desenvolvida pelos
acadêmicos e satisfação do acadêmico com a realização da atividade. Os
resultados mostraram que o acadêmico ao ser instigado a realizar ações
educativas em saúde, tendo a liberdade de desvelar-se, sente-se estimulado a
refletir e ser sujeito do seu aprendizado, podendo assim, despertar uma
consciência crítica reflexiva contribuindo para o conhecimento da profissão
por meio de um compromisso social e político com a comunidade. Percebemos
que as ações entre cooperados e acadêmicos revelou-se em um compartilhar
de conhecimentos.
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Normas de publicação Enfermagem Brasil
A revista Enfermagem Brasil é uma publicação com
periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação
de artigos científicos das áreas relacionadas à Enfermagem.
Os artigos publicados em Enfermagem Brasil poderão também
ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim
como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que
surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores
já aceitem estas condições.
A revista Enfermagem Brasil assume o “estilo Vancouver”
(Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals,
N Engl J Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado pelo Comitê
Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as
especificações que são resumidas a seguir. Ver o texto completo
em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International
Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org,
na versão atualizada de outubro de 2001.
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções
da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/
e-mail) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não
implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor.
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou
retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos
textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo
científico, limitando-se unicamente ao estilo literário.
1. Editorial
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou
por um de seus membros.
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4
em corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman)
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez
referências.
2. Artigos originais
São trabalhos resultantes de pesquisa científica
apresentando dados originais de descobertas com relaçaõ a
aspectos experimentais ou observacionbais de característica
médica, bioquímica e social, e inclui análise descritiva e/ou
inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional
que traz os seguintes itens: Introdução, Métodos, Resultados,
Discussão e Conclusão.
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas,
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobre-escrito, etc.
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato
Excel/Word.
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas
(formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em PowerPoint, Excel, etc.
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências
bibliográficas.
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos
serão o de rigor metodológico científico, novidade, interesse
profissional, concisão da exposição, assim como a qualidade
literária do texto.
3. Revisão
São trabalhos que versem sobre alguma das áreas
relacionadas à Enfermagem, que têm por objeto resumir, analisar,
avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em
revistas científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se
o mesmo dos artigos originais.
4. Atualização ou divulgação
São trabalhos que relatam informações geralmente atuais
sobre tema de interesse dos profissionais de Enfermagem (novas
técnicas, legislação, por exemplo) e que têm características
distintas de um artigo de revisão.
5. Relato de caso
São artigos de representan dados descritivos de um ou
mais casos explorando um método ou problema através de
exemplo. Apresenta as características do indivíduo estudado,
com indicação de sexo, idade e pode ser realizado em humano
ou animal.
6. Comunicação breve
Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com
maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações,
resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar
comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de
argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor.
Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas,
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobre-escrito, etc.
Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e
figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser
editados em Power Point, Excel, etc
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências
bibliográficas.
5. Resumos
Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos
inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê
Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas.
6. Correspondência
Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
necessariamente haja relação com artigos publicados, porém
relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados
a artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do
artigo ou trabalho antes de se publicar a carta.
Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as
especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou
figuras.
PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
1. Normas gerais
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em
processador de texto (Word, Wordperfect, etc), em página de
formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman
(English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto,
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tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc.
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para
cada tabela junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com
as especificações anteriores.
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas,
e com qualidade ótima (qualidade gráfica – 300 dpi). Fotos e
desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo,
introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e
bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo
para o inglês e o espanhol e também das palavras-chave (key-words).
O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, zipdrive, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em
mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e
identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do
artigo, data e autor, incluir informação dos arquivos, tais como o
processador de texto utilizado e outros programas e sistemas.
2. Página de apresentação
A primeira página do artigo apresentará as seguintes
informações:
- Título em português, inglês e espanhol.
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular
e títulos acadêmicos.
- Local de trabalho dos autores.
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o
respectivo endereço, telefone e E-mail.
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques,
para paginação.
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe,
aparelhos, etc.
3. Autoria
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter
participado do trabalho o suficiente para assumir a
responsabilidade pública do seu conteúdo.
O crédito como autor se baseará unicamente nas
contribuições essenciais que são: a) a concepção e
desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação
do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu
conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que
será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as
condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção
de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação
como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também
não é suficiente.
4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words)
Na segunda página deverá conter um resumo (com no
máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras
para os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol.
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes
informações:
- Objetivos do estudo.
- Procedimentos básicos empregados (amostragem,
metodologia, análise).
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e
estatísticos).
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior
novidade.
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavraschave (ou unitermos) para facilitar a indexação do artigo. Para
tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS
(Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde,
que se encontra no endereço internet seguinte: http://decs.bvs.br.
Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes.
5. Agradecimentos
Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio
financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de
laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo,
antes as referências, em uma secção especial.
6. Referências
As referências bibliográficas devem seguir o estilo
Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências
bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre
parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto,
seguindo as seguintes normas:
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras
iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In:
autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro
(em grifo - itálico), ponto, local da edição, dois pontos, editora,
ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e
final, ponto.
Exemplo:
1. Phillips SJ. Hypertension and Stroke. In: Laragh JH,
editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management.
2nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78.
Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es),
letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto.
Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação
seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois
pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas
ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo
com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in
Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível
no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem
ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6,
colocar a abreviação latina et al.
Exemplo:
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and
localization of urokinase-type plasminogen activator receptor in
human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20.
Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
Jean-Louis Peytavin
Atlantica Editora
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Março / Abril 2003;2(2)
Calendário de eventos
2003
maio
14 a 17 de maio de 2003
XII Encontro de Provedores,
Diretores e Administradores
Hospitalares de Santas Casas
e Entidades Filantrópicas do Estado de São Paulo
XII Mostra de Materiais, Equipamentos
e Serviços Hospitalares
VI Encontro de Saúde Mental
Mendes Convention Center – Santos SP
Informações: www.fesehf.org.br/eventos
Tel: (11)3242-8111
24 a 27 de maio de 2003
Vo Congresso Nacional da Rede Unida,
Io Fórum Nacional de Redes em Saúde e IIo Mostra
Paranaense de Produção em Saúde da Família
Informações: (43) 324.2340
e-mail [email protected]
http://www.redeunida.org.br
25 a 27 de julho de 2003
8o Congresso brasileiro multiprofissional e multidisclinar
em diabetes
UNIP, Av Marques de São Vicente, 3001 São Paulo
Informações: ANAD
www.anad.org.br
Tel: (11) 5549 6704/6559
29 de julho a 2 de agosto de 2003
VIIo Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva
Associação Brasileira de Pós-Graduação
em Saúde Coletiva – ABRASCO
Campus da Universidade de Brasília (UnB), Brasília DF
Informações: [email protected]
7 a 9 de agosto de 2003
XII Congresso da Sociedade Brasileira de Hipertensão
Piramîde Palace Hotel, Natal RN
Tel: (84) 234 6175
E-mail: [email protected]
setembro
junho
10 a 13 de junho de 2003
Hospitalar 2003
10º Feira Internacional de Produtos, Equipamentos,
Serviços e Tecnologia para Hospitais, Laboratórios,
Clínicas e Consultórios
Expo Center Norte -São Paulo SP
Informações: (11) 3897-6199
www.hospitalar.com
julho
1º Congresso Nordestino de Conselhos de Enfermagem
Informações: Tel: (83) 221-8758
E-mail: [email protected]
8 a 12 de setembro de 2003
6o CBCENF – Congresso Brasileiro
dos Conselhos de Enfermagem
Florianópolis – SC
Informações: www.cbcenf.com.br
novembro
13 a 18 de julho de 2003
Educação, ciência e tecnologia
para a inclusão social
55º Reunião Anual da SBPC Sociedade para o Progresso da Ciência
Universidade Federal de Pernambuco
Recife PE
E-mail: [email protected]
10 a 15 de novembro de 2003
55º CBEn - Congresso Brasileiro de Enfermagem
11º CPEn – Congreso Panamericano de enfermería
Informações: ABEn Rio de Janeiro
Av. Presidente Vargas 590/418, 20071-000
Rio de Janeiro RJ
Tel: (21) 2263 5471/2516 9496
E-mail: [email protected]
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EnfermagemBrasil
Enfermagem
Brasil
Março / Abril 2003;2(2)
Índice
Volume 2 número 3 - Maio / Junho de 2003
E DITORIAL
A arte de saber comunicar-se, Maria da Graça Piva .................................................................................... 137
A RTIGOS ORIGINAIS
Infecção hospitalar: conhecimento dos acadêmicos de enfermagem, Viviane Guimarães Gomes,
Roberta Marques de Aguiar, Monique de Almeida Hingel, Rita Batista Santos .......................................... 141
O uso do floral rescue remedy em um grupo de estudantes sob estresse,
Aspásia Basile Gesteira Souza, Agnesa Confuorto, Anna Elisa T. Oliveira, Suzane Oliveira .................. 150
As expectativas do acompanhante em unidade pediátrica sobre o papel do enfermeiro,
Aspásia Basile Gesteira Souza, Heloísa R Dias, Luciana Rezende, Michele Mota ...................................... 155
Comunicando com o corpo do cuidado a partir das emoções:
acadêmicos de enfermagem testam sua prática, Ronilson Gonçalves Rocha,
Priscila de Castro Handem, Nébia Maria Almeida de Figueiredo ................................................................. 161
Preparo do corpo pela equipe de enfermagem (reflexões a partir de objetos pessoais
que identificam um ser humano), Maria Aparecida de Luca Nascimento, Adriana Santos Mello,
Rogê de Oliveira Candido, Sabrina Santos da Silva .......................................................................................... 167
Sentimentos dos pacientes enfartados durante o período de internação em uma UTI,
Geraldo Magela Salomé, Cleide Aparecida Guerra .......................................................................................... 171
REVISÃO
Alterações oculares na hanseníase, Thaís Evangelista Fernandes Brito .................................................. 177
AT UA L I Z A Ç Ã O
Fitoterapia na comunidade: realidade ou ficção? Maria da Graça Piva .............................................. 182
PUBLICAÇÕES .......................................................................................................... 187
NORMAS DE PUBLICAÇÃO................................................................................... 188
CALENDÁRIO DE EVENTOS .................................................................................. 191
Os assinantes receberão com a edição de julho/agosto o cd-rom da coleção completa
da revista Diabetes Clínica (anos 1997-2002)
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Março / Abril 2003;2(2)
EDITOR CIENTÍFICO - PRESIDENTE DO CONSELHO CIENTÍFICO (2003-2004)
Profa. Dra. Maria da Graça Piva (ULBRA -RS)
EDITORIALISTA
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CONSELHO CIENTÍFICO
Prof. Dr. Carlos Bezerra de Lima (UFPB – Paraíba)
Profa. Dra. Clarice Heiko Muramatsu (USP – São Paulo)
a
a
Prof . Dr . Margarete Rego (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Maria Helena da Silva Nery (UFRGS – Rio Grande do Sul)
Profa. Dra. Rita Batista Santos (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Rita de Cássia Tapié Martins (USP – São Paulo)
Prof. Dr. Sérgio Ribeiro dos Santos (UFPB – Paraíba)
Profa. Dra. Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler (FAMERP – São José do Rio Preto – São Paulo)
GRUPO DE ASSESSORES
Profa Ms. Andréia Saccol Lourenço (Escola Técnica de Enfermagem São Francisco – Rio Grande do Sul)
Profa Ms. Dóris Maria Volquind (Clínica de Florais de RAFF – Rio Grande do Sul)
Profa Ms. Dulce Dirclair Huf (UFMS – Mato Grosso do Sul)
a
Prof Ms. Gisele Cristina Tertuliano (Secretária Municipal de Saúde de Cachoerinha – Rio Grande do Sul)
Profa Ms. Hortência Maria de Santana (COREN – Sergipe)
a
Prof Ms. Louize Maria Holtz Santos de Oliveira (COFEN – Sergipe)
Profa Ms. Sonia Maria Ponciano dos Santos (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro)
Profa. Ms. Almerinda Moreira (Escola de Enfermagem Alfredo Pinto – UniRio – Rio de Janeiro)
Rio de Janeiro
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Ilustração da capa: Ilustração da capa: Anônimo, Baraquiel, séc. XVII, óleo sobre tela, (164 x 115 cm), Igreja de Calamarca, La Paz
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EDITORIAL
A arte de saber comunicar-se
Maria da Graça Piva
Editor científico
O homem é essencialmente um ser social,
um ser-com-os-outros.
A sua necessidade de comunicar-se surgiu
com a formação dos primeiros grupos sociais
quando o homem já “discursava”, registrando seus
pensamentos nas paredes das cavernas.
Na vida com os outros, o ser humano
constrói seu mundo de experiências, de vivências,
de conhecimentos. Ele se comunica e isto ele o
faz através de determinados códigos.
Segundo especialistas, dois terços da
comunicação cotidiana entre os homens
ocorrem sem que eles recorram às palavras; o
terço restante utiliza a linguagem verbal, ou seja,
a forma de comunicação que se manifesta
através delas.
Vivendo numa dinâmica de dar e receber,
o homem usa a palavra, fruto de uma atividade
mental superior e criadora, como a ponte que o
liga ao outro, constituindo a mesma uma das
características humanas especiais.
A linguagem é, portanto, um instrumento
de comunicação cuja utilidade encontra-se na
maior ou menor capacidade de proporcionar um
entendimento, uma compreensão.
Esta última só resultará plena quando, os
que dialogam, souberem visualizar o horizonte
da existência, da cultura, do conhecimento e
terem sensibilidade de escutar a linguagem mútua.
A linguagem escrita tem a capacidade de
superar o tempo e o espaço, porém, na atualidade,
a língua falada vem, pouco a pouco, ocupando
um lugar de maior prestígio.
Escrever, para muitos, é lutar inutilmente
contra as palavras que parecem nunca atingir
plenamente os objetivos pretendidos, por isso a
língua escrita supõe uma preparação prévia que
a torne mais organizada e precisa, embora menos
espontânea.
Escrever bem não é somente fazê-lo de
forma gramaticalmente correta, ou de forma
culta e elaborada.
Escrever bem é fazê-lo de forma adequada
à situação em que o ato de comunicação vai-se
realizar, seguindo uma estratégia conveniente.
E como se consegue escrever bem?
Dizem que só se aprende a escrever bem
escrevendo. E ler muito – e de forma proveitosa
– com certeza enriquece indiretamente a
experiência humana e amplia a capacidade
vocabular.
Julien Green escreveu um dia que “o
pensamento voa e as palavras andam a pé”.
Deve ser por isso que dentro da rotina da
enfermagem temos um exemplo que expressa
esta afirmativa: “os enfermeiros observam
muito e escrevem pouco”.
Se os profissionais de enfermagem,
durante o exercício de suas funções, dessem-se
conta da importância da comunicação clara e
precisa, colocar-se-iam a salvo de situações
constrangedoras. Quantos têm sofrido processos
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éticos por falta de registro de determinadas
ocorrências que, presentes no seu pensamento,
não foram traduzidas em palavras escritas nas
evoluções! Como esta dádiva maravilhosa que o
homem recebeu de Deus, que é a de poder
comunicar-se, tem sido desperdiçada!...
A rotina, a técnica, a sobrecarga de
atribuições, a falta de tempo e outras tantas
constatações da vida profissional do enfermeiro
fazem com que ele pense: já faço tanto, por que
ainda me dizem que devo escrever mais?
E a resposta é uma só: fomos feitos para
“crescer”; a singularidade de cada um de nós
orienta as escolhas que fazemos: parar ou
aperfeiçoar?
Se é tão importante saber comunicar-se
bem, por que não aperfeiçoar nossa maneira de
escrever, por que não transformar esta linguagem
técnico-teórica de que somos privilegiados
possuidores, em palavras que, escritas, traduzam
correta e detalhadamente ocorrências das quais
poderão depender a preservação de uma vida
que a nós foi confiada profissionalmente.
Escrever e, principalmente, escrever bem
exige a formação de hábitos de aprendizagem
capazes de produzir estratégias de comunicação
adequadas às circunstâncias destes hábitos. Como
já dissemos, é o hábito da leitura que ajuda a
pensar, a estruturar o raciocínio, a entender o
universo em que se vive.
No campo específico da escrita, a leitura
contribui para aumentar o vocabulário e fixar a
forma das palavras.
Segundo Richard Steele, “a leitura é para a
mente o que o exercício é para o corpo”.
Se dela advém o aumento de nosso
vocabulário, vamos procurar usá-la como um
instrumento que nos torne cada vez mais dignos
de nossa condição de homens. Para tanto existe
a revista Enfermagem Brasil. Usem e abusem desse
espaço. Registrem suas descobertas e dividam
com todos o “teu saber”.
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EnfermagemBrasil
Maio / Junho 2003;2(3)
Artigo original
Infecção hospitalar: conhecimento
dos acadêmicos de enfermagem
Hospital Infection: nursing students knowledge
Infección hospitalaria: conocimiento de los académicos
de graduación en enfermería
Viviane Guimarães Gomes*, Roberta Marques de Aguiar*, Monique de Almeida Hingel*, Rita Batista Santos**
*Aluna do 6o período do Curso de Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Enfermeira, Professora Adjunto do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade
Federal do Rio de Janeiro
Resumo
Trata-se de um estudo exploratório acerca do conhecimento dos alunos do 6º período do curso de graduação em enfermagem
sobre medidas de prevenção e controle das infecções hospitalares, relacionando-os com as técnicas e práticas necessárias para sua
prevenção e controle. Os objetivos foram: identificar os conhecimentos dos alunos sobre infecção hospitalar, discutir as medidas
de prevenção, controle e transmissão de infecção hospitalar e relacionar o conteúdo teórico daqueles alunos com a sua aplicação na
assistência nos cenários de prática do estágio supervisionado. A coleta de dados ocorreu de maio a junho de 2001. O instrumento
para coleta de dados foi um questionário com perguntas abertas e fechadas, que as próprias estudantes preencheram, compreendendo
um conjunto de questões, logicamente relacionadas com a transmissão, prevenção e controle das infecções hospitalares. Onze
(11) acadêmicas responderam ao questionário, apontando as mãos como o principal veículo de propagação das infecções hospitalares
e o uso de antibióticos como principal tratamento para bactérias multirresistentes, apesar de terem encontrado dificuldades em
responder algumas questões como o que se entende por precaução padrão e uso adequado do alcoolgel.
Palavras-chave: Infecção hospitalar, educação em enfermagem.
Artigo recebido em 15 de dezembro de 2002; aceito em 15 de maio de 2003.
Endereço para correspondência: Viviane Guimarães Gomes, Alojamento Universitário,
303B, Cidade Universitária, Ilha do Fundão 21949-900 Rio de Janeiro RJ,
E-mail: [email protected]
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Abstract
This is an exploratory study concerning nursing students knowledge about prevention and control of hospital infections and
relation between this knowledge and techniques or practices for prevention and control of this kind of infection. The objectives
were to identify the knowledge of nursing students about hospital infection, argue measures of prevention, control and
transmission of this kind of infection and link the theorical knowledge with assistential work during supervised training
period. The data collection occurred on 2001 May to June. The data collection instrument was a questionnaire with opened and
closed questions, performed by students, including a questions set logically related to transmission, prevention and control of
hospital infections. 11 students answered to the questionnaire, pointing hands as main propagation vehicle of hospital infections
and antibiotics use as main treatment of resistant bacteria, in spite of difficulties to answer questions about standard precautions
and adequate use of alcoolgel.
Key-words: Hospital infection, education nursing.
Resumen
Es un estudio exploratorio referente al conocimiento de los alumnos del 6to. período del curso de graduación en enfermería, sobre
las técnicas y prácticas necesarias para la prevención y control de las infecciones hospitalarias, de forma más detallada y estructurada.
Los objetivos fueron: identificar los conocimientos sobre la infección hospitalaria, discutir las medidas de prevención, control y
transmisión de este tipo de infección y relacionar el contenido teórico de los alumnos del 6to período de graduación en enfermería
con su aplicación en la practica del aprendizaje supervisado. La colecta de datos ocurrió de mayo a junio de 2001. El instrumento
para la colecta de datos era un cuestionario con preguntas abiertas y cerradas, que el propio estudiante realizó, comprendiendo un
conjunto de cuestiones lógicamente relacionadas con la transmisión, la prevención y el control de las infecciones hospitalarias. Once
(11) académicas respondieron al cuestionario, apuntaron para las manos como el principal vehículo de propagación de las infecciones
hospitalarias y el uso de los antibióticos como principal tratamiento para las bacterias multiresistentes, a pesar de haber encontrado
dificultad en responder algunas cuestiones como lo que se entiende por precaución padrón y uso adecuado del gel de alcohol.
Palabras-clave: Infección hospitalaria, educación en enfermería.
Introdução
Nos cenários de prática de estágio supervisionado
nos deparamos com um surto infeccioso causado por
bactérias gram negativas multirresistentes na Unidade
Pediátrica de Internação (UPI) de um Instituto de
Puericultura e Pediatria de uma universidade pública.
No Setor de Doenças Infecto-Parasitárias de um
hospital da mesma universidade verificamos a
contradição entre a onipotência do discurso sobre as
medidas de prevenção e controle da infecção hospitalar
e a inoperância da prática e técnica desenvolvidas para
tal entre os alunos do 6º período de graduação em
enfermagem, principalmente em relação a como agir
dentro e fora do ambiente hospitalar frente a situações
que requerem a utilização dessas medidas.
Martins [1], define as infecções hospitalares (IH)
ou infecções nosocomiais como infecções adquiridas
no hospital que não são manifestas ou estão fora do
período de incubação no ato da admissão, a menos
que estejam relacionados à internação prévia no
mesmo hospital. Já Zanon [2], considera-as um
conjunto de patologias mal classificadas com pouca
coisa em comum, exceto a condição de incidirem
em pacientes hospitalizados. A enfermeira Florence
Nightingale, em 1856, padronizou os procedimentos
de cuidado de enfermagem, dando ênfase às questões
de higiene e limpeza no hospital Joseph Lister e em
1876 e 1882 publicou dois trabalhos sobre antissepsia
e assepsia e introduziu conceitos de cirurgia asséptica,
provocando uma substancial redução nas IH.
Segundo Veronesi [3], é necessário ampliar os
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programas de orientação para prevenção e controle
das infecções hospitalares, quando se trabalha com
profissionais de saúde que se consideram carentes de
conceitos básicos. Acrescenta que são fundamentais
programas de educação continuada. Um outro
caminho apontado pelo autor é a incorporação da
disciplina de epidemiologia hospitalar nos currículos
dos cursos de formação de profissionais de saúde.
Define epidemiologia hospitalar como uma disciplina
que estuda a freqüência, distribuição, fatores de risco e
agentes etiológicos das infecções hospitalares, além do
desenvolvimento de qualidade nas instituições de saúde.
O problema, ou seja, a nossa inquietação é saber
qual o conhecimento das alunas do 6º período de
graduação em enfermagem sobre infecção hospitalar
e como correlacionam os conhecimentos teóricos, com
a sua aplicação na prática da assistência de enfermagem
naqueles cenários de estágio supervisionado.
Por conseguinte, nosso objeto de estudo é o
conhecimento das acadêmicas sobre infecção
hospitalar, visto que essas estão em contato inicial com
situações que requerem o conhecimento e a
observação de medidas de controle e prevenção das
infecções hospitalares.
Para captar as questões necessárias à investigação
do objeto e problema do estudo, elaboramos os
seguintes objetivos: identificar os conhecimentos das
acadêmicas do 6o período do curso de graduação
em enfermagem sobre infecção hospitalar; discutir
as medidas de prevenção e controle da infecção
hospitalar, assim como os meios de transmissão;
relacionar o conteúdo teórico das informações sobre
infecção hospitalar, com a aplicação na sua prevenção
e controle naqueles cenários de prática.
A finalidade do estudo é discutir a necessidade
de integração do conteúdo de epidemiologia
hospitalar no curso de graduação em enfermagem,
reforçando a necessidade e preocupação das
acadêmicas quanto a sua aplicação na assistência de
enfermagem hospitalar. Essa idéia é discutida por
Veronesi [3] que a estende aos outros cursos
envolvidos na assistência à saúde nesse âmbito tais
como medicina, fisioterapia, administração hospitalar,
entre outros.
Metodologia
Os cenários de estudo foram os setores de DIP/
HUCFF e UPI/IPPMG, supondo que os alunos de
graduação em enfermagem têm um conhecimento
prévio sobre prevenção e controle de infecções
hospitalares para exercerem suas atividades práticas.
O universo do estudo consistiu nos 66 alunos do
6o período do curso de graduação em enfermagem
de uma Universidade Federal e a amostra deste estudo
foram os alunos que estavam passando por aqueles
setores, no momento da coleta de dados.
A coleta de dados ocorreu de maio a junho de
2001. Para a elaboração do instrumento foram
reunidos documentos que fazem parte da
fundamentação teórica desse estudo, a saber: Portaria
930 do Ministério da Saúde [4], que trata das normas
para prevenção e controle das infecções hospitalares; a
Resolução no 196/96 do Conselho Nacional de Saúde
[4], que trata dos critérios para pesquisa em seres humanos;
e o currículo mínimo de um curso de graduação em
enfermagem desses alunos, além do levantamento
bibliográfico sobre infecções hospitalares.
O instrumento para coleta de dados (Anexo I)
foi um questionário com perguntas abertas e fechadas,
que o próprio aluno preencheu, compreendendo um
conjunto de questões, logicamente relacionadas com
a transmissão, prevenção e controle das infecções
hospitalares e que permitem alcançar os objetivos
desse estudo com melhor exatidão.
Estabelecemos o conjunto de categorias e
optamos pelos princípios definidos por Selltiz apud
Minayo [5], em que o conjunto de categorias deve
ser estabelecido a partir de um princípio de
classificação, devendo ser exaustivo (permitindo
inclusão de qualquer resposta numa das categorias
do conjunto) e que uma resposta não pode ser
incluída em mais de duas categorias, ou seja, são
mutuamente exclusivas. O critério utilizado para
avaliação dos acadêmicos será uma escala de cores,
que corresponderá ao amarelo, laranja e vermelho
conforme as respostas dadas em relação a cada
categoria estabelecida para infecção hospitalar. A
representação do amarelo será dada para as
respostas erradas, o laranja foi utilizado para as
respostas incompletas e o ver melho para as
respostas corretas.
A escolha das cores ocorreu através da variação
de tonalidade que elas possuem. O amarelo, por
possuir uma tonalidade menos intensa representa,
neste estudo, pouco conhecimento; o vermelho com
uma tonalidade mais vibrante e intensa representa um
grande conhecimento do aluno a respeito do assunto
proposto e o laranja, por ser uma cor intermediária
entre o vermelho e o amarelo representará um nível
médio de conhecimento.
As perguntas abertas e fechadas foram
comparadas para análise dos resultados. As perguntas
abertas corresponderam ao conhecimento teórico do
acadêmico e as perguntas fechadas à prática no estágio
supervisionado, por este motivo as perguntas abertas
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e fechadas foram comparadas a fim de alcançar o
terceiro objetivo desse estudo.
Os resultados foram organizados em tabelas, em
que as palavras citadas nas frases das alunas foram
classificadas e analisadas em relação ao seu significado
no contexto das técnicas e procedimentos para controle
e prevenção da infecção hospitalar. Para discuti-los
foram observados os conceitos de infecção hospitalar
e seu ensino no currículo de graduação em enfermagem.
Os resultados do estudo foram apresentados
como requisito de avaliação do Programa Curricular
Interdepartamental em que as alunas estavam inseridas
e sob a forma de pôster na Jornada de Iniciação
Científica da Universidade.
Resultados
Análise e discussão
Foram entrevistadas 11 acadêmicas de
enfermagem com idade entre 21 e 22 anos
As experiências extracurriculares das acadêmicas
distribuíram-se entre estágio acadêmico bolsista em
Hospital Militar e em Hospital Municipal, auxiliar de
enfermagem e extensão universitária. Das acadêmicas
entrevistadas 7 não possuem nenhum tipo de atividade
extracurricular.
As mãos foram o principal veículo de
propagação das infecções hospitalares (tabela I),
segundo a opinião das 11 acadêmicas de enfermagem.
Estudos de microorganismos cultivados a partir
das mãos de profissionais de saúde provam que a
lavagem das mãos é o procedimento mais importante
na prevenção de infecções hospitalares. Este
procedimento simples pode reduzir em muito a
disseminação de patógenos de um paciente a outro.
A remoção mecânica de microorganismos
esfregando-se toda a superfície das mãos ensaboadas,
por pelo menos 10 segundos, e enxaguando-as sob
água corrente e limpa antes e após o contato com
cada paciente geralmente é suficiente. A interrupção
do ciclo de infecção é efetuada principalmente na
etapa de transmissão, porque os fatores do hospedeiro
e dos agentes são mais difíceis de serem controlados
e portanto se faz necessário que os profissionais da
saúde conscientizem-se da importância e dos
benefícios da lavagem das mãos.
No plano corporal o uso das mãos significa
apanhar, agarrar, possuir habilidades manuais e ter
capacidade de expressão: Então o uso das mãos
como principal veículo de propagação de infecções
hospitalares também evidencia uma atitude de
interesse diante da vida de todos envolvidos. A mão
pode atuar de modo inumano, demoníaco, desleal e
suspeito, tornando esse cuidado simples como uma
fonte de desconfiança na prática das precauções
padrão. É importante reconhecer que o domínio do
conhecimento das mãos como principal veículo de
propagação das infecções hospitalares vislumbra a
intenção de manter a vida, a saúde e o bem estar,
uma atitude de compromisso, de aprendizado que
conduz a recuperação satisfatória dos clientes
hospitalizados sob seus cuidados, como descrito no
depoimento abaixo:
“A propagação das infecções hospitalares se dá
através de mãos contaminadas dos profissionais de
saúde, principalmente dos acompanhantes ou
qualquer pessoa que manipule o paciente. Pode se
dar também através de objetos contaminados, e de
técnicas que deveriam ser realizadas assepticamente e
não são”.
A administração de antibióticos (tabela II) foi o
principal tratamento escolhido para bactérias
multirresistentes na opinião das 11 acadêmicas de
enfermagem.
Em todas as áreas da saúde, a prevenção deveria
ser priorizada em vez de simplesmente tratar os
pacientes portadores de infecções causadas por
bactérias multirresistentes. Para isso fazem-se
necessários alguns cuidados como: evitar o uso
indiscriminado de antibióticos, utilizar dosagens
Tabela I – Distribuição das respostas das 11 acadêmicas segundo as formas de propagação das infecções hospitalares,
Rio de Janeiro, 2001.
Formas de propagação das infecções hospitalares
Respostas
Mãos
10
Direto
5
Acadêmico, objetos*
4
Pessoa, profissional-cliente, indireto, paciente-cliente*
3
Assepsia, ustensílios, acompanhantes, equipamentos*
2
Paciente, orientação, higiene, materiais, precauções, ar, gotículas e contato
1
*cada uma
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EnfermagemBrasil
Maio / Junho 2003;2(3)
Tabela II – Distribuição das respostas das 11 acadêmicas a respeito do tratamento utilizado para bactérias
multirresistentes, Rio de Janeiro, 2001.
Tratamento para bactérias multirresistentes
Respostas
Administrar antibiótico
5
Amplo espectro
3
Não responderam, cipro, bactéria*
2
Identificar bactéria, horários certos, dias certos, tempo certo, tratamento,
última geração, não sei, imipinem, descolonização, paciente, EPI*
*cada uma
suficientemente altas de antibiótico apropriado para
debelar rapidamente a infecção, usar antibióticos de
eficiência comprovada, entre outros. Para prevenir
casos de propagação de infecções hospitalares,
geralmente em conseqüência do uso inadequado de
antibióticos, esses também são poderosas armas
contra tal problema, se bem utilizados.
De acordo com as respostas das 11 acadêmicas
(tabela III), o uso de luvas é o principal meio de
precaução padrão, porém sabemos que a lavagem
das mãos é prioritária em relação ao uso de luvas.
O uso de luvas não substitui a lavagem das mãos,
porque as luvas podem ter pequenos orifícios
inaparentes, podem rasgar-se durante o uso e, além
disso, as mãos podem tornar-se contaminadas
durantes a retirada das mesmas.
De acordo com Potter [6] as precauções padrão
são aquelas que se aplicam a sangue, fluídos corporais,
excreções, pele não intacta e membranas mucosas.
As mãos são lavadas entre os contatos diretos e/ou
indiretos da enfermeira com o paciente ou outros, e
após a luva ser retirada.
No plano corporal, o cuidado no contato com
sangue e fluídos corporais, significa medo ou pouca
disposição para o seu cumprimento. Afloram
sentimentos de medo fundamental, uma perda da
força vital, um esforço ou sobrecarga inconsciente e
permanente, em que ocorre uma busca contínua de
purificação do corpo a partir do contato com os
poros da pele e com a perda pelo fluxo sanguíneo.
As luvas evitam a transmissão de patógenos pelo
contato direto e indireto e os enfermeiros devem
1
utilizar luvas quando em risco de exposição ao material
infectado.
O uso de luvas na liturgia católica e o de luvas
brancas na maçônica simbolizam a pureza. A luva
evita o contato direto e imprudente com a matéria
impura. Pele significa simbolicamente uma fronteira
(externa), fixação de limite, intermediar contato e
ternura, respiração (de pele). Serve como escudo de
proteção, para constituir camada isolante, o que para
a alma vem a se configurar como prisão: “sentir na
própria pele” e “estar na pele de”; contato:
intermediar o calor e o dar-se humanos, toque;
percepção: tato, comunicar; expressão: espelho do
mundo interior da alma, “ficar vermelho de
vergonha”, como indicador de reações e evoluções
psíquicas; “por a pele em risco” (por assumir
determinada posição), “ser/estar sensível”.
Para abordar a importância do uso correto de
luvas entre as acadêmicas sugere-se alertá-las para o
próprio medo do contato com sangue e fluídos
corporais e da consciência do incômodo que esse
cuidado inclui, ou seja, o contato com sangue, mucosas
e fluidos corporais como veículo de doença.
O sangue simboliza todos os valores solidários
com o fogo, o calor e a vida que tenham relação com
o sol. O sangue é universalmente considerado o
veículo da vida, o princípio da geração. Corresponde
ainda ao calor vital e corporal, em oposição à luz,
que corresponde ao sopro e ao espírito.
A mucosa tem significado simbólico de capa
protetora, fronteira interna, segundo limiar para o
interior: barreira entre o exterior interno e para o
Tabela III – Distribuição das respostas das 11 acadêmicas conforme seus conhecimentos sobre precaução padrão,
Rio de Janeiro, 2001.
Precaução padrão
Luva
Sangue, todos os pacientes*
Respostas
5
4
Fluidos corporais
Descartex, mucosas, doença, proteger, precauções universais*
Cuidados básicos, álcool 70%, cliente colonizado, equipamentos únicos, prevenção,
3
2
controle, infecção, lavagem das mãos, pele não intacta, não reencapar agulhas.*
*cada uma
1
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Tabela IV – Distribuição das respostas das 11 acadêmicas de enfermagem a respeito de seus conhecimentos
sobre precauções por contato, Rio de Janeiro, 2001.
Precauções por contato
Respostas
Capote
9
Luvas
8
Paciente, precauções*
6
Contato
5
Profissional
3
Isolamento, acadêmico, prevenir contaminação, doente, contato direto
2
Cliente colonizado, utensílios, EPI, pessoas, não entendi, microorganismo, assistência,
medidas de controle, pele, instrumentos, contato indireto, lavagem das mãos
1
* cada uma
mundo efetivamente interno; membrana de recepção;
o muco como símbolo de abundância. A doença é
considerada um processo mórbido, que se acompanha
de um certo número de manifestações constantes ou
não, tendo uma etiologia, uma patogenia, uma
patologia e uma terapêutica mais ou menos definida
e que pode evoluir rapidamente ou lentamente e
prolongada.
No plano corporal, o organismo inteiro pode
ser afetado por uma infecção [7].
Proteger o paciente da infecção e da doença
significa ajudá-lo, auxiliá-lo, preservá-lo do mal,
defendê-lo, socorrê-lo, ter no seu cuidado o interesse
de favorecê-lo e beneficiá-lo na sua saúde.
A maioria das acadêmicas respondeu que o
capote é o principal meio de proteção do paciente
nas precauções por contato (tabela IV).
De acordo com Potter [6], a razão básica para o
encapotamento é prevenir que as roupas sejam sujas
durante o contato com o paciente, protegendo assim a
equipe de saúde e os visitantes do contato com material
infectado, com o sangue ou fluído corporal.
Os capotes são usados para prevenir à
contaminação das roupas e para proteger a pele do
pessoal de saúde contra sangue e líquidos corpóreos,
devendo ser usados durante os cuidados com os
pacientes infectados com microorganismos
epidemiologicamente importantes; para reduzir
também a transmissão dos patógenos para outros
pacientes ou superfícies. Quando os capotes são
usados para este propósito devem ser removidos
logo após o uso e as mãos devem ser lavadas.
Contudo não temos dados disponíveis relacionados
à eficácia do uso do capote para este propósito
As luvas foram o segundo item mais relatado
entre as precauções padrão. São usadas nos hospitais
para fornecer uma barreira protetora, prevenir a
contaminação grosseira das mãos com sangue e
fluídos corporais, reduzir a possibilidade de
transmissão de microorganismos das mãos do
pessoal de saúde para os pacientes durante a
realização de procedimentos invasivos ou outros
cuidados que envolvam a manipulação de mucosas
ou pele não íntegra e também devem ser usadas
para reduzir a possibilidade de transmissão de
microorganismos de um paciente para outro, através
do profissional de saúde. Nestas situações deve-se
trocar as luvas entre o contato com os pacientes e
Tabela V – Distribuição das respostas das 11 acadêmicas de enfermagem a respeito de seus conhecimentos sobre
precauções com o ar, Rio de Janeiro, 2001.
Precauções com o ar
Respostas
Paciente
7
Máscara bico de pato, Precauções
6
Quarto de isolamento
5
Microorganismo transmitido pelo ar
4
Máscara
3
*
Evitar contaminação, Movimentação do paciente utilizando máscara cirúrgica,
2
Máscara cirúrgica, Partículas leves que ficam suspensas no ar*
Profissional, EPI, Filtrar o ar, Evitar infecção, Não entendi, Patologia, Assistência,
Gotículas suspensas no ar são inaladas, Contato*
1
*cada uma
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Tabela VI – Distribuição das respostas das 11 acadêmicas de enfermagem a respeito de seus conhecimentos
sobre precauções com gotículas, Rio de Janeiro, 2001.
Precauções com gotículas
Respostas
Máscara cirúrgica
8
Paciente em isolamento respiratório
6
Precaução
4
Gotículas expelidas pela tosse, fala e aspiração, Contato
3
Contato próximo ao cliente, Assistência
2
Profissional, Fômites dos doentes, Contato direto, Contaminação,
na movimentação utilizar máscara cirúrgica, Máscara N95, Não entendi,
Patologia, Microorganismo, Gotículas inaladas
*cada uma
lavar as mãos antes e após o uso das mesmas. O uso
de luvas implica a lavagem das mãos antes e depois
de seu uso (ver tabela III).
Então, a maiorias das acadêmicas deram uma
resposta incompleta acerca desse tipo de prevenção,
já que o correto seria a lavagem das mãos, o uso de
luvas e o uso de capotes para lidar com os pacientes
que requerem esse tipo de prevenção.
A máscara bico de pato e o termo paciente foram
os principais elementos que as acadêmicas de enfermagem
relacionaram a precaução por ar (tabela V).
As máscaras devem ser utilizadas quando um
jato de sangue ou um fluido corporal em direção à
face pode ser previsto. Além disso, a máscara protege
o enfermeiro da inalação de microorganismos
provenientes do trato respiratório do cliente e evita a
transmissão de patógenos do trato respiratório para
o enfermeiro para o cliente. A máscara bico de pato
protege contra núcleos de perdigotos de pequenas
partículas que permanecem suspensos no ar e
percorrem longas distâncias. As máscaras podem
evitar a transmissão da infecção pelo contato direto
com membranas mucosas.
O termo paciente é definido como pessoas
designadas, conformada, que espera serenamente um
1
resultado. Pessoa que padece doente ou que está sob
cuidado médico.
O elemento ar é simbolicamente associado ao
vento. Representa o mundo sutil intermediário entre
o céu e a terra, o mundo da expansão que, é insuflado
pelo sopro necessário a subsistência dos seres. O
elemento ar é um símbolo sensível da vida invisível,
um móbil universal e um purificador.
Na tabela VI, a máscara cirúrgica foi o principal
elemento citado no que se refere precaução por gotículas.
Máscara cirúrgica é definida como peça
retangular de pano ou de outro material destinado a
cobrir boca e nariz de médicos e pessoal de
enfermagem nas salas de operação, salas de tratamento
intensivo, berçário e etc. A máscara cirúrgica
geralmente é usada pelo pessoal de saúde para se
proteger contra a disseminação de gotículas infectantes
que são transmitidas pelo contato íntimo ou uma curta
distância (menor que 1 metro) do paciente infectado
que está tossindo ou espirrando.
Sobre o alcoolgel (tabela VII) cabe salientar que
este se caracteriza por ser o álcool que existe em
combinação com os ácidos orgânicos sob a forma
de gorduras. É um líquido límpido, incolor, espesso,
de gosto adocicado. Dissolve muitas substâncias, tem
Tabela VII – Distribuição das respostas das 11 acadêmicas de enfermagem a respeito de seus conhecimentos
sobre a utilização do alcoogel, Rio de Janeiro, 2001.
Utilização do alcoolgel
Reajustes
Pode ser usado antes da verificação dos sinais vitais nas mãos do examinador
11
Pode ser usado para higienizar as mãos antes da troca de fraldas
9
Pode ser um método alternativo para higienizar as mãos, por exemplo,
na sala de vacinações de um posto de saúde
8
Pode ser utilizado para higienizar as mãos antes de punção venosa em veia periférica
3
Pode ser usado para higienizar as mãos antes de punção venosa em veia profunda,
pode substituir a degermação das mãos*
1
Foi desenvolvido para ser prático, podendo ser utilizado na antissepsia do local a ser puncionado
1
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a qualidade de absorver água, e diminui a congestão
das zonas que entra em contato.
Conclusão
O estudo apontou os principais meios de
transmissão, prevenção, controle da infecção hospitalar
(assunto que ainda não estava claro para as alunas), além
de fornecer em sua revisão de literatura informações a
respeito da infecção hospitalar, esclarecendo o saber
de enfermagem sobre o assunto.
As acadêmicas, que responderam ao questionário,
possuem um bom conhecimento teórico quando
apontaram as mãos como o principal veículo de
propagação das infecções hospitalares e o uso de
antibióticos como principal tratamento para bactérias
multirresistentes, apesar de terem encontrado dificuldades
em responder a algumas questões como o que se entende
por precaução padrão e uso adequado do alcoolgel.
O estudo foi importante, porque a partir de seu
resultado final, pode-se fazer um auto-questionamento
acerca da construção do saber da enfermagem sobre
infecção hospitalar, contribuindo para a qualidade da
assistência prestada.
Referências
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
Martins MA. Manual de infecções hospitalares.
prevenção e controle. Rio de Janeiro: Medsi; 1993.
Zanon U, Neves J. Infecções hospitalares: prevenção,
diagnóstico e tratamento. Rio de Janeiro: Medsi; 1987.
Veronesi R. Tratado de infectologia. São Paulo: Atheneu;
1997.
Brasil - Ministério da Saúde. Portaria 930 e Resolução
196. Brasília: Centro de Documentação do MS/
DOU; 1992.
Minayo MSS. O desafio do conhecimento: pesquisa
qualitativa em saúde. São Paulo/ Rio de Janeiro:
Abrasco; 1992.
Potter PAP, Perry AG. Fundamentos de Enfermagem:
conceitos, processos e prática. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan; 1999.
Dahlke R. A doença como símbolo: pequena
enciclopédia de psicossomática. São Paulo;1993. ¡
"&
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148
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Anexo I
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Centro de Ciências da Saúde
Escola de Enfermagem Anna Nery
Programa Curricular Interdepartamental VIII
“Cuidados de Enfermagem a Clientes Hospitalizados II”
Instrumento de coleta de dados
Questionário
Nome:
Idade:
Sexo:
Possui experiência profissional extracurricular? Qual?
Comente as forma de propagação das Infecções Hospitalares (IHs)e como um acadêmico pode
facilitá-la.
Comente o tratamento para bactérias multirresistentes.
O que você entende por precauções padrão?
Discuta sobre precauções por contato:
Discuta sobre precauções por ar:
Discuta sobre precauções por gotículas:
Assinale quais as alternativas são corretas na utilização do álcool 70% glicerinado (álcoolgel):
( ) Pode ser usado antes da verificação dos sinais vitais nas mãos do examinador.
( ) Pode ser usado para higienizar as mãos antes da troca de fraldas.
( ) Pode substituir a degermação das mãos.
( ) Pode ser usado para higienizar as mãos antes de punção venosa em veia periférica.
( ) Pode ser usado para higienizar as mãos antes de punção venosa em veia profunda.
( )Pode ser um método alternativo para higienizar as mãos, por exemplo, na sala de vacinações
de um posto de saúde.
( ) Foi desenvolvido para ser prático, podendo ser utilizado na antissepsia do local a ser puncionado.
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Artigo original
O uso do floral rescue remedy em um grupo
de estudantes sob estresse
Use of floral rescue remedy in a group of students on stress
El uso del floral rescue remedy em un grupo
de estudiantes bajo estrés
Aspásia Basile Gesteira Souza*, Agnesa Confuorto**, Anna Elisa T. Oliveira**, Suzane Oliveira**
*Mestre em Enfermagem, Professora das Disciplinas de Semiologia e Semiotécnica da Universidade Cidade de São Paulo (UNICID) e Saúde da
Criança, Faculdade Santa Marcelina (FASM), **Graduandas da Faculdade de Enfermagem, UNICID.
Resumo
Este estudo teve como objetivo verificar a eficácia do Floral de Bach Rescue Remedy, em graduandos de Enfermagem que
estavam em situação de estresse antes da realização de uma avaliação. Optou-se por uma pesquisa quantitativa, exploratória, com
22 estudantes participantes, que responderam a um formulário com quatro questões antes e após a administração do floral. A
maioria (64%) da população estudada relatou alterações em seu estado emocional, como: calma, tranqüilidade, leveza, sonolência
e preguiça. Porém parte da amostra (36%) não referiu percepção de mudança em seu comportamento.
Palavras-chave: Enfermagem, terapias naturais, terapias alternativas.
Abstract
This aim of this study was to verify the efficiency of Bach Floral Rescue Remedy in students of Nursing who were living a
situation of stress before the period of school evaluations. An exploratory quantitative research was carried out with 22 students
who answered a questionary with four questions before and after the floral (prescription) administration. The majority, 64% of
the population investigated, reported alterations in their emotional state, such as placidness, tranquility, lightness, drowsiness
and laziness. However, part of the sample, 36%, did not express the perception of change in their behavior.
Key-words: Nursing, natural therapy, alternative therapy.
Artigo recebido em 21 de dezembro de 2002; aceito em 15 de maio de 2003
Endereço para correspondência: Aspásia Basile Gesteira Souza, Rua Cesáreo Galeno,
448-6º andar, bloco alfa Tatuapé 03071-000 São Paulo SP,
Tel: (11) 61901341, E-mail: [email protected]
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Resumen
Este estudio tuvo como objetivo verificar la eficacia del Floral de Bach Rescue Remedy, en alumnos graduados de Enfermería que
estaban en situación de estres antes de la realización de una evaluación. Se optó por una investigación cuantitativa, exploratoria,
con 22 alumnos participantes, que respondieron a un formulario con cuatro preguntas antes y después de la administración del
floral. La mayoría (64%) de la población estudiada relató alteraciones en su estado emocional, como: calma, tranquilidad,
luminosidad, somnolencia y pereza. Sin embargo, parte de la muestra (36%) no detectó señal de cambio en su comportamiento.
Palabras-chave: Enfermería, terapias naturales, terapias alternativas, cuidado de enfermería.
Introdução
Nas últimas décadas, as terapias ditas
“alternativas” vêm ganhando espaço no processo pela
busca da cura, em que se evidencia o olhar holístico
sobre o homem, percebendo-o como um conjunto
de corpo, alma e psique.
Recentemente a medicina tradicional reconheceu
práticas como a homeopatia e acupuntura. O uso de
agentes fitoterápicos vem sendo visto como de
grande utilidade no tratamento de doença e sintomas,
especialmente nas populações nas quais o acesso a
fármacos torna-se restrito.
A história das essências florais teve início com
Dr. Edward Bach, na Inglaterra. Em 1917, já formado
em medicina, descobriu que estava com câncer; nessa
época uniu-se à homeopatia, encantado pelos trabalhos
de Hahnemann, que afirmava: “O paciente é o fator
mais importante na cura de si mesmo” [1].
Com o passar do tempo, o Dr. Bach começou a
discordar do processo homeopático, no qual o agente
agressor passa a ser o curador, acreditando que seria
necessário buscar na natureza um antídoto positivo para
reverter o padrão negativo, originado do estado
psicológico e não do estado físico do indivíduo,
acreditando ser este um estágio à frente da homeopatia.
De acordo com Brennan [2], há um campo de
energia em torno das pessoas, e é este campo que fornece
uma estrutura da matriz energética sobre a qual crescem
as células, o que se torna importante para a compreensão
dos processos de saúde e doença, pois como o corpo
físico surge a partir do campo energético, qualquer
desequilíbrio ou distorção neste campo de energia
poderia provocar doenças no corpo físico que ele rege.
Da mesma forma, a cura das distorções no campo
energético produziria cura no corpo físico [2].
Para Bach [3], as essências florais mostram o
caminho a tomar para trabalhar os elementos internos,
ajudando a superar os padrões psicológicos habituais
e as formas de pensamento negativas que cristalizamos
em nosso interior. A terapia floral tem uma compreensão
clara e abrangente do homem e do significado da
doença, pois o ser humano possui diferentes “corpos”,
entre os quais o físico, denso e perceptível e outros mais
sutis, dos quais emanam pensamentos e emoções, onde
atuariam as essências de Bach [4] .
Em 1928, Bach começou a desenvolver seu
novo trabalho surgindo, assim, suas três primeiras
essências florais: Mimulus, Impatiens e Clematis,
através de sua pesquisa pelos campos e depois
testando em si próprio os efeitos das mesmas
experimentando, então, os padrões emocionais para
os quais elas teriam indicação, para depois administrar
em seus pacientes [5].
Em 1930, deixou a Inglaterra e foi para o País
de Gales, onde viveu no campo, em meio à natureza,
procurando novas essências que pudessem atuar sobre
outros estados da psique. Foi dessa maneira que ele
descreveu suas doze primeiras essências, que atuavam
em estados emocionais diferentes [6].
Ainda na década de 30, desenvolveu um trabalho
utilizando a flor em preparos energéticos e o seu uso
sob a forma de essência, que são preparados a partir de
uma infusão solar de flores silvestres em uma vasilha
com água, que é posteriormente diluída, potencializada
e conservada em conhaque. Como não tem nenhum
componente ativo em sua formulação, a essência não
provocaria reação direta sobre a bioquímica do corpo.
Entretanto, por causa da energia vital proveniente das
flores, que vibram em freqüências mais sutis, quando o
ser humano entra em contato com a essência floral, os
padrões vibratórios seriam então absorvidos pelo corpo
físico, reequilibrando-o onde houve desarmonia [7].
Bach elaborou sete essências auxiliares e, em
1935, descreveu mais dezenove, complementando,
então, as trinta e oito essências conhecidas até hoje.
Bach faleceu, em 1936, dormindo depois de
realizar o que desejara: encontrar um sistema de
cura simples, fácil de ser compreendido e que
atuava no interior e no estado mental do indivíduo
[8], classificando suas 38 essências em sete grupos
de atuação:
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Para o medo: Rock Rose, Mimulus, Cherry Plum,
Aspen e Red Chestnut.
Para a incerteza Cerato, Scleranthus, Gentian,
Gorse, Hornbeam e Wild Oat.
Para a falta de interesse pelas circunstâncias atuais:
Clematis, Honeysuckle, Wild Rose, Olive, White
Chestnut, Mustard e Chestnut Bud.
Para a solidão: Water Violet, Impatiens e Heather.
Para as pessoas demasiadas e suscetíveis a influências e
idéias: Agrimony, Centaury, Walnut e Holly.
Para o desânimo ou para o desespero: Larch, Pine,
Elm, Sweet Chesnut, Star of Bethlehem, Willow, Oak
e Crab Apple.
Para a preocupação excessiva com o bem-estar dos outros:
Chicory, Vervain, Vine, Beech e Rock Water (sendo
esta última a única essência que não é de flor, mas água).
Uma vez estabelecidos o diagnóstico da doença
e do paciente (identificação dos medicamentos florais
correspondentes), começa a etapa da prescrição.
Quanto mais profundamente se conhecer o caso,
menor será o número de medicamentos utilizados [9].
Os sintomas a serem considerados para a
prescrição floral são os conscientes para o paciente e
os manifestados por ele. É então uma tarefa de
pesquisa muito delicada que o profissional deverá
exercer diante de cada paciente.
A dose de floral que Bach aconselhava é de 4 gotas,
mesmo que haja profissionais que prescrevam maior
número, sendo a freqüência mais comum de 4 vezes ao
dia. Após desaparecidos todos os sintomas, convêm
continuar o tratamento durante mais 30 ou 60 dias [3,5].
A compreensão dessa linguagem vibracional só
não foi ainda melhor esquadrinhada pela ciência
moderna, porque temos baseado a validação dessa
experiência partindo de conceitos de saúde, cura e
doença, que precisam ser revistos através de novas
referências e novos padrões.
Cada gota de essência floral contém a
configuração completa do arquétipo da planta e cada
planta representa diferentes níveis de consciência
expressos na terra. As essências florais não têm
significado bioquímico e não apresentam contraindicações. A ação dos florais, por sua natureza
vibracional, dá-se como um catalisador do processo
de cura, e não na supressão ou controle dos sintomas.
Eles tratam a pessoa e não a doença, aliando a essência
floral à situação específica do indivíduo, ativando
nossa imensa e inata capacidade de cura.
Para o preparo das essências florais é utilizada
a flor da planta, pois é na floração que as quantidades
máximas da natureza juntam-se à forma e substância
da planta.
Dentre os vários florais, escolhemos o Rescue
Remedy, devido a sua ação e resultados imediatos,
trazendo benefícios em momentos de grande estresse
e angústia, focos de nossa atenção.
Segundo Bach, o Rescue Remedy é um composto
floral desenvolvido para situações de emergência e para
os primeiros socorros. É utilizado quando se está sob
forte tensão física, psíquica ou emocional. Deve ser
tomado após um acidente, antes de ir ao dentista, fazer
uma prova, após a perda de um ente querido, etc. Os
componentes do floral Rescue Remedy são:
• Star of Bethlehem: trauma e entorpecimento
• Rock Rose:terror e pânico
• Impatiens: irritabilidade e tensão
• Cherry Plum: medo de perder o controle
• Clematis: tendência a desmaiar, que precedem
a inconsciência
A terapia com Rescue Remedy não deve tornarse uma forma rotineira de medicação, não servindo
de compensação a um estilo de vida que ameace
destruir a personalidade através da falta de bom
senso ou medidas incapazes de superar as
dificuldades. Usa-se externamente, em compressas,
emplastros, queimaduras, picadas, inchaços ou
pancadas, etc.
O uso de Rescue Remedy não substitui a busca
de socorro médico de urgência ou medidas para
controle do estresse, mas pode ser utilizado como
terapia complementar naquelas situações [10].
Percebemos a importância do tratamento do
indivíduo e não da doença, buscando novos caminhos
para uma prática cuidativa realmente holística.
Assim, vemos na terapia com Florais de Bach,
uma possibilidade para este cuidar, integrando diversas
terapias, “alternativas” ou não, que visem, sobretudo,
ações efetivas e abrangentes que contemplem as diversas
faces do processo saúde/doença.
Objetivo
Este estudo foi elaborado com o seguinte objetivo:
• Verificar a eficácia do floral Rescue Remedy
em um grupo de alunos sob estresse físico e emocional.
Material e Método
Tipo de estudo
Este estudo utilizou o método quantitativo, para
atingir seus objetivos. Este recurso metodológico é
apropriado para este tipo de pesquisa pela necessidade
de mensurar os dados, quantificando-se. É
exploratório por reportar-se ao fenômeno estudado
de maneira fiel, sem manipulação [11,12].
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Local de estudo
Esta pesquisa foi realizada em uma instituição
de ensino superior, privada, situada no município de
São Paulo.
Gráfico 1 - Demonstrativo do número de estudantes
que referiram estar em situação de estresse. São
Paulo, 2001.
População e amostra
Participaram deste estudo 22 graduandos do 2º
ano de Enfermagem. A escolha dos participantes
ocorreu aleatoriamente após exposição do objetivo
do estudo, em que os interessados manifestaram
interesse em participar. Foi estabelecido como critérios
para participação no estudo: considerar-se em situação
de desconforto emocional, estresse ou tensão e
concordância em participar da pesquisa.
Coleta de dados
O procedimento de coleta deu-se após
encaminhamento do resumo do projeto de pesquisa
para avaliação e autorização da direção da instituição,
em dia pré-agendado, em que os alunos estariam
realizando avaliação formal de uma das disciplinas,
no mês de setembro de 2001. Para a anuência dos
participantes elaborou-se o Termo de Consentimento
informado acompanhado de um texto com
esclarecimentos sobre a terapia floral utilizando o
Rescue Remedy e garantia do anonimato. Uma das
autoras fez curso de iniciação em terapia com florais
de Bach, terapeuta floral, com formação em
psicologia, sendo consultada para certificação de dose
e procedimentos técnicos.
Para coleta de dados desta investigação
optamos por formulário, com 4 perguntas abertas,
sendo que as questões 1 e 2 deveriam ser respondidas
antes da administração do floral Rescue Remedy
com caracterização do estado emocional/psíquico
percebido pelos entrevistados e as questões 3 e 4
em até 1 hora após, contendo informações sobre
percepção de mudanças no comportamento.
Tratamento dos dados
Os dados analisados foram apresentados sob
forma de gráficos e tabelas, com números relativos
e absolutos.
Resultados
Após coleta e análise dos dados obtivemos
os seguintes resultados que serão apresentados a
seguir.
Como podemos observar no gráfico 1 do total
de participantes da pesquisa, 22 graduandos (100%)
referiram estar em situação de estresse ou tensão
emocional, condição para participar do estudo com
o Rescue Remedy.
Para Battison [13] e Baccaro [14], estresse é um
termo usado para descrever os sintomas produzidos
pelo organismo, em resposta à tensão crescente. Um
certo nível de estresse é normal para enfrentar
desafios. O estresse contínuo, entretanto, apresenta
como sintomas: cefaléia, fadiga, má concentração,
irritabilidade, agressividade, palpitações, indigestão,
problemas de pele, ansiedade, entre outros.
A população reconhece estar em situação de
estresse, por perceberem alguns destes sinais que os
leva à tensão ou ao desconforto emocional.
Gráfico 2 - Freqüência das respostas quanto à
percepção de efeito após administração do floral
Rescue Remedy. São Paulo, 2001.
Para Bach [3] o Rescue Remedy é o floral que
pode ter efeito verificado quase que imediatamente.
Como demonstrado no gráfico 2, 14 indivíduos (64%)
referem alteração em sua percepção quanto ao estresse
após terem recebido Rescue Remedy. Porém, 8
indivíduos (36%) referem não ter reconhecido nenhum
efeito após administração daquele floral.
Tabela I - Demonstrativo das alterações percebidas
pelos estudantes após administração de Rescue
Remedy. São Paulo, 2001.
N= 24
Sensações observadas
Calma e tranqüilidade
Leveza e sonolência
Preguiça e “cabeça pesada”
Epigastralgia
Total
N
12
7
4
1
24
%
50
9
17
4
100
#!
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Devido à característica da questão, obtivemos
mais de uma resposta totalizando 24 sensações
enumeradas na tabela I. Como o Rescue Remedy
é uma composição de 5 florais, o efeito desejado
desta terapia seria calma e tranqüilidade.
Observamos nos relatos dos participantes deste
estudo, a sensação de calma e tranqüilidade que
aparecem em 12 citações, provenientes da ação do
Rescue Remedy, particularmente dos florais Rock
Rose e Impatiens [15].
Atribuímos também 7 citações de sensações de
leveza e sonolência, devido ao componente Rock Rose.
Obtivemos 4 citações de preguiça e “cabeça
pesada” atribuída, provavelmente, ao efeito do
Rock Rose [16]. Outro efeito percebido por um
dos participantes, foi epigastralgia. Porém este não
está relacionado ao floral, pois, os Florais de Bach
não causam nenhum efeito colateral, podendo ser
tomado em “grandes quantidades”, conforme a
necessidade do indivíduo.
Acreditamos também que o uso destas terapias ganhe
credibilidade por atender aos anseios de uma
população que almeja novas formas de ser cuidado.
Desta maneira, vimos neste estudo
oportunidade para trilharmos um caminho diferente
compartilhando experiências com o paciente para
alcançar o bem-estar e saúde com ações criativas,
menos diretivas e mais humanizadas.
Conclusão
6.
A análise dos dados possibilitou-nos concluir
que 64% dos indivíduos perceberam alteração nas
emoções ou comportamento após a administração
do Rescue Remedy, passando da sensação de estresse
e angústia para calma, tranqüilidade, leveza, sonolência
e preguiça. Todavia 36%da população não
observaram alterações em seu estado emocional.
Acreditamos que o tema possa ser melhor
explorado aumentando-se a amostra e elaborando
novo instrumento para ampliar a avaliação do estresse
de forma mais objetiva.
Das terapias alternativas às tradicionais, como
os Florais de Bach, utilizados como recurso e meio
para o cuidar de Enfer magem, poderiam
contemplar holisticamente o cliente que, em
situação de crise aguda, necessita de algo a mais,
além da terapêutica convencional.
Os cursos de for mação nesta área vêm
ganhando espaço entre os profissionais de
Enfermagem por abrirem novas perspectivas no
atendimento às demandas de saúde da população.
Referências
1.
2.
3.
4.
5.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
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16.
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Edward Bach: sua filosofia, pesquisa, remédios, vida e
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Brennan BA. Luz emergente – a jornada da cura pessoal.
São Paulo: Pensamento; 1993.
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1990.
Kaminski P, Katz R. Repertório das essências florais.
São Paulo: Triom; 1994.
Howard J. Os remédios florais do Dr. Edward Bach
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Gimenes OMPV. Essências Florais: Uma Linguagem
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Saudável. São Paulo: Gente; 1999.
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uma visão mitológica e prática. São Paulo: Roca; 1997.
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ed. São Paulo: Pensamento; 1997.
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Bach – aspectos positivos e negativos. 6ª ed. São Paulo:
Pensamento; 1992.
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Enfermagem. 3ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 1995.
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Paulo: Makron Books; 1996.
Battison T. Vença o estresse. São Paulo: Manole; 1998.
Baccaro A. Vencendo o estresse: como detectá-lo e
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Kripper V. Terapia floral Bach – aplicada à psicologia. 5ª
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Bibliografia consultada
Chancellor PM. Manual ilustrado dos remédios florais do
Dr. Bach. São Paulo: Pensamento; 1991. ¡
#"
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154
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Artigo original
As expectativas do acompanhante
em unidade pediátrica sobre o papel
do enfermeiro
Expectative of companion in pediatric
unit about nurse part
Las expectativas del acompañante en unidad
pediátrica a respecto del papel del enfermero
Aspásia Basile Gesteira Souza*, Heloísa R Dias**,
Luciana Rezende**, Michele Mota**
*Mestre em Enfermagem pediátrica. Professora adjunta das disciplinas de Semiologia e Semiotécnica da Universidade Cidade de São Paulo
(UNICID) e Saúde da Criança e do adolescente, Faculdade Santa Marcelina-SP, **Graduandas do 2º ano de Enfermagem, UNICID
Resumo
Esta pesquisa utilizou o método quantitativo, descritivo, para entrevistar, através de questionário, 35 acompanhantes em unidades
pediátricas de dois hospitais, sobre suas expectativas quanto ao papel do enfermeiro. Os principais resultados apontam para a
não identificação do enfermeiro pelos familiares e, ao mesmo tempo, para a expectativa de receberem atenção, amor e carinho
deste profissional.
Palavras-chave: Enfermagem pediátrica, família, relações profissional-familiares, acompanhante.
Abstract
This search was based on a descriptive quantitative analysis of 35 interviews companions in two hospitals pediatric unit about
the work nursing expectation. The main results point out that parents do not identify the nurses and at the same time, they
expect to receive attention, love and affection from this professional.
Key-words: Pediatric nursing, family, family-professional relationship, companion.
Artigo recebido em 31 de janeiro de 2003; aceito em 15 de maio de 2003.
Endereço para correspondência: Aspásia Basile Gesteira Souza, Rua Cesáreo Galeno,
448, 6º andar, bloco alfa Tatuapé 03071-000 São Paulo SP, Tel: (11)6190-1200,
E-mail: [email protected]
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Resumen
Esta investigación utilizó el método cuantitativo, descriptivo, para entrevistar, a través de cuestionario, a 35 acompañantes en
unidades pediátricas de 2 hospitales, sobre las expectativas en cuanto al papel del enfermero. Los principales resultados
señalan la no-identificación del enfermero por los familiares y, al mismo tiempo, la expectativa de recibir atención, amor y
cariño de este profesional.
Palabras-clave: Enfermería pediátrica, familia, relaciones enfermería-familiar, acompañante.
Introdução
Por muito tempo estar internado significava estar
sozinho. Poder estar acompanhado durante a internação
era um evento raro e dependia, basicamente, de
autorização do enfermeiro responsável [1].
Em um mundo tão particular, como do hospital,
seria necessário preservar o vínculo familiar para dar
suporte aos aspectos envolvidos nesta experiência, que
neste contexto poderia sofrer interferências.
Estar acompanhado, portanto, seria um direito
do cliente numa assistência humanizada que privilegia
o cliente e não as instituições.
Pensando nestas questões, algumas leis tentaram
garantir esses direitos, contemplando, à princípio,
crianças, adolescentes [2,3] .
Spitz [4], ressalta a importância do vínculo materno
infantil durante momentos de crise, pois verificou,
especialmente, nas crianças entre 1 e 3 anos (infantes),
que o trauma da separação levava a manifestações de
ordem psicológica como agressividade e depressão.
No transcorrer do crescimento e desenvolvimento
infantil a hospitalização pode estar presente em diversas
situações: doenças infecto-contagiosas, traumatismos
entre outros.
Autores destacam que a criança acompanhada
pelo responsável tem maior aceitação dos
procedimentos, diminuindo também o período de
hospitalização [4]. A criança precisa da família como
seu próprio referencial. Segundo Boehs [5] a família
tem diversas funções, entre elas destacamos a proteção
à saúde de seus membros. Sendo assim além dos
aspectos psicossociais que a proximidade entre famíliacriança suscita, temos nesta integração um dever ético
e legal a ser respeitado.
Pensando na especificidade do ser, enquanto
criança e adolescente e procurando atender suas
necessidades biopsíquicas espirituais, o Estatuto da
Criança e Adolescente [7], em seu artigo 7 destaca o
direito do menor em ter um familiar responsável
acompanhando sua internação por todo período.
Sendo assim, a figura da família tornou-se
freqüente nas unidades pediátricas e o contato entre
equipe de enfermagem e família, uma constante.
O enfermeiro poderia desempenhar, através
deste contato, o papel singular do cuidado à família
no contexto hospitalar.
Cuidar significaria estar próximo e atender as
demandas reais ou potenciais da família. Sabemos que
esta relação, entretanto, perpassa por algumas dificuldades
nos aspectos que envolvem o relacionamento
enfermeira-familiar como o distanciamento entre ambos,
disputa de poder pelo cuidado/autoridade, “supervisão”
dos cuidados prestados pela equipe, lidar com medos e
ansiedades, entre outros [6,7].
Acreditamos, porém, que ações facilitadoras
possam promover melhor integração entre equipefamília. Entre estas ações, destacamos o conhecimento
das expectativas do familiar acompanhante sobre o
enfermeiro, clarificando para o profissional o que se
espera dele, no que o familiar precisa de auxílio,
dando-nos assim indícios e caminhos para
corresponder àquelas expectativas.
Entre tantos procedimentos e cuidados no contexto
hospitalar, voltamos nosso olhar para esta questão, já que
vislumbramos a importância dessa interação.
Percebemos que o atendimento à família não é
foco no curso de graduação, especialmente porque
as instituições onde os alunos praticam o ensino em
campo clínico, excetuando-se a unidade de pediatria,
raramente dão oportunidade para a presença contínua
da família, diminuindo assim as possibilidades do
futuro enfermeiro vivenciar esta relação, de grande
importância para nosso cotidiano profissional.
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Assim, suscitou-nos o interesse em aprofundarnos no tema, na tentativa de conhecermos meios
para o enfrentamento positivo desta situação no
contexto hospitalar.
Objetivo
Esta pesquisa tem como objetivo:
• Identificar se o acompanhante reconhece o
profissional enfermeiro da unidade pediátrica
• Conhecer as expectativas do acompanhante
sobre o papel desenvolvido pelo enfermeiro em
clínica pediátrica.
Método
Este estudo utilizou o método quantitativo, para
atingir os objetivos.
Este recurso metodológico, segundo Leopardi
[8] é apropriado nos trabalhos em que se faz necessário
objetividade nos achados, intenção de medir, mensurar,
classificar os dados coletados ou mesmo quantificálos, tornando-se assim de caráter descritivo analítico,
por explorar aquele evento reportando-se a eles de
maneira fidedigna, analisando e correlacionando fatos
e variáveis sem manipulá-los [9,l0].
Local de estudo: Para a coleta de dados foram
escolhidas duas instituições hospitalares, uma pública
e outra privada (filantrópica) localizadas no município
de São Paulo e caracterizadas por acolher o familiar
acompanhante nas unidades de Pediatria em
conformidade com o Estatuto da Criança e
Adolescente [7].
Foi encaminhado à direção da instituição projeto
do estudo e documento solicitando a autorização para
as entrevistas bem como, conforme resolução 196/
96 [11], elaborado Termo de Consentimento livre e
esclarecido aos sujeitos.
População e amostra: Como critérios de inclusão
estabelecemos a condição de estar na condição de
acompanhante há mais de um dia e permanecer
com o menor em período integral ou maior de
seis horas, possibilitando assim contato com a
figura do enfermeiro, além de sua anuência através
do Termo de consentimento, perfazendo assim a
amostra de pesquisa.
Coleta de dados: Foi realizada após aprovação dos
Comitês de Ética e Pesquisa da Universidade ao qual
as autoras encontram-se vinculadas e das instituições
participantes, utilizando-se questionário, com duas
questões abertas levantando dados sobre como
identificam o profissional e quais as expectativas em
relação ao enfer meiro, além de dados para
caracterização da população. O instrumento foi
aplicado pelas autoras, individualmente, em um único
dia em um dos hospitais e em dois dias no segundo,
após autorização do enfermeiro da unidade. A
abordagem do acompanhante foi feita em cada leito,
em que se questionava o tempo de internação conjunta
seguida da apresentação do pesquisador, exposição
sobre os objetivos do trabalho, deixando-se claro que
não se tratava de avaliação de desempenho da equipe
ou enfermeiro e solicitação de autorização para
participação através do Termo de consentimento,
garantindo-lhes anonimato. Foram entrevistados trinta
e cinco acompanhantes, de um total de quarenta e
quatro. Dos nove familiares que não fizeram parte
desta amostra, sete eram recém-admitidos ou
revezaram-se, recentemente, como acompanhantes e
dois saiam de alta hospitalar no momento.
Resultados e discussão
Após análise dos dados coletados obtivemos
os seguintes resultados que apresentamos a seguir:
Gráfico 1 - Distribuição da freqüência do período,
em dias, em que o familiar acompanhava a internação
da criança, nas unidades pediátricas das instituições
pesquisadas. São Paulo, 2002.
O gráfico 1 apresenta o número de dias em
que o acompanhante vivencia a internação da
criança. Como observamos, a maioria da amostra
estudada, 80% (28) estavam acompanhando a
criança há mais de três dias, período este que
consideramos suficiente para conhecer os
enfermeiros da unidade.
O acompanhante, ao conhecer o enfermeiro
responsável por cada plantão, ganharia maior
confiança nos cuidados a serem desenvolvidos com
a criança, por saber a quem se reportar em suas
dúvidas podendo, assim, promover uma integração
mais rápida com a equipe de enfermagem e uma
internação com menor chance de conflitos.
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Gráfico 2 - Distribuição do período, em horas, em
que o entrevistado permanecia com a criança, nas
unidades pediátricas pesquisadas. São Paulo, 2002.
Observamos no gráfico 2, que 83% (29) dos
entrevistados permanecem por 24 horas como
familiar acompanhante, dando oportunidade de
estabelecer um elo com o enfermeiro, de algum
período/turno.
Mesmo permanecendo por menos tempo, 6 a
12 horas, a inter-relação entre enfermeiro e família
seria, de certo modo, mantida continuamente pelo
revezamento entre os plantões.
Tabela I - Distribuição da freqüência de internações
anteriores onde o familiar entrevistado permaneceu
como acompanhante. São Paulo, 2002.
N=35
Freqüência
%
18
51
12
34
03
09
01
03
01
03
35
100
Internações anteriores
Nenhuma
1–2
3–4
5–6
+ de 6
TOTAL
A tabela I apresenta o número de internações anteriores
dos entrevistados como acompanhante. A pesquisa
mostrou que 51% (18) dos respondentes nunca haviam
experimentado esta situação anteriormente.
Acreditamos que a presença do enfermeiro próximo
à família poderia transmitir a segurança necessária aos
que vivenciam este evento pela primeira vez.
Experimentar internações anteriores, por outro
lado, facilitaria a identificação do enfermeiro pelo
acompanhante e servir de “parâmetro” para
comparações e expectativas.
O gráfico 3 mostra-nos um número grande de
entrevistados, 60% (20) que relatam não conhecer o
enfermeiro responsável da unidade onde permanece
internado acompanhando seu familiar, sendo também
elevado o número da população deste estudo que relatou
ter dúvidas quanto reconhecer o enfermeiro, 13% (5).
Entre os 15 (27%) acompanhantes que
afirmaram conhecer o profissional de Enfermagem,
conforme demonstrado na tabela II, não obtivemos
Gráfico 3 - Distribuição das respostas quanto a
identificação do enfermeiro pelo acompanhante, nas
unidades pediátricas pesquisadas. São Paulo, 2002.
Tabela II - Distribuição das respostas quanto à forma
de identificação do enfermeiro pelo acompanhante,
nas instituições pesquisadas. São Paulo, 2002.
N=15
Fator de identificação
Freqüência
%
Não sabe quem é
o enfermeiro,
não sabe o nome
4
27
Uso de roupa/
colete azul-marinho
6
40
Atividades praticadas
2
13
Pessoa que se encontra
no posto de enfermagem 1
Características físicas
2
13
TOTAL
15
100*
* As casas decimais foram aproximadas. N.A.
nenhuma resposta citando nominalmente o enfermeiro,
sendo quatro respostas (27%) referindo não
recordarem o seu nome e citações como a pessoa “que
usa blusa/colete azul marinho”. O uso de uniforme
diferenciado prevaleceu em 40% das respostas.
Os demais relatos 60% (9) mencionavam as
atividades de medicar, verificar temperatura, colocar
soro, entre outras, como caracterizadoras de quem
acreditavam ser o enfermeiro da unidade, ficando clara
a confusão do acompanhante entre quem é o enfermeiro
e quem é o auxiliar ou técnico de Enfermagem, já que
nas instituições onde realizamos a pesquisa, estes cuidados
eram exercidos por aqueles profissionais.
Os enfermeiros foram freqüentemente
confundidos com outros elementos da equipe de
enfermagem nesta pesquisa, o que para Stacciarini
[12] descaracteriza-o como profissional.
É importante e necessária a apresentação formal
do enfermeiro ao familiar/acompanhante para que
não haja dúvidas quem seja e quais as atividades por
ele desenvolvidas.
Esta apresentação deveria ser pessoal, nominal
e no primeiro dia da internação, criando assim uma
“rotina” na qual se incluiria conhecer o acompanhante
das crianças e fazer-se reconhecer por este.
É difícil pensar em comunicação e relaciona-
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7
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Tabela III - Distribuição da freqüência das respostas quanto às
expectativas do acompanhante sobre o papel do enfermeiro. São
Paulo,2002.
N=75
equipe de enfermagem, confundindoo, na maioria das vezes, com os auxiliares
de enfermagem.
Por usarem roupas diferenciadas dos
Expectativas mencionadas
Freqüência
%
outros membros da equipe, acabam sendo
Atenção para seu filho
16
21,3
“reconhecidos” como o enfermeiro-chefe
Tratar bem a criança
12
16
Tenha amor e carinho com a criança
09
12
da unidade, por alguns acompanhantes.
Atenção quanto à medicação
09
12
A apresentação pessoal, indiviPaciência
06
8
dualizada e a presença do enfermeiro
Competência profissional
05
6,7
constantemente perto da criança e sua
Esclarecimento sobre a doença
05
6,7
família poderiam contribuir para que esta
Amor à profissão
04
5,3
o perceba como elemento único da equipe.
Atender às necessidades do paciente
03
4
Acreditamos que além de ser
Respeito à criança
03
4
reconhecido pelo nome, o profissional
Fornecer informação na ausência do médico
02
2,6
deve ser apontado por sua competência,
Atender prontamente o chamado
01
1,4
planejamento de ações e atividades e não
TOTAL
75
100
somente pela cor do colete, como
muitas vezes é identificado.
mento terapêutico em situações em que uma das
Nos deparamos, assim, com o questionamento:
partes desconhece ou tem dúvidas de quem é outra
como o acompanhante pode ter expectativas do
como destaca Whaley et al. [13].
profissional que não conhece/identifica?
A tabela III apresenta as respostas sobre às
Notadamente a resposta mais significativa
expectativas dos familiares quanto ao papel do
apresentada pelos acompanhantes foi a expectativa de
enfermeiro, objeto deste estudo. Gostaríamos de
atenção, carinho e o tratar bem sua criança, mostrando,
esclarecer que algumas respostas foram baseadas,
mais uma vez, o caráter humanitário que emana da
obviamente, no que acreditam ser o profissional
profissão e identificado pela população que, entretanto,
enfermeiro, como mostrado nos gráficos e tabelas
não destaca outras competências necessárias para o
anteriores. Assim, algumas atitudes referidas dizem
desempenho profissional como planejar, liderar, decidir.
respeito ao cuidado e trato com o filho/criança.
A partir desta pesquisa gostaríamos de despertar
Pela característica da pergunta obtivemos mais
no enfermeiro a importância de observar a família, não
de uma resposta de cada entrevistado.
somente pela doença de sua criança, mas também se
Observamos em 21,3% (16) dos relatos a
importando com o olhar lançado sobre nós, por aqueles
“cobrança” para o profissional quanto à atenção a
clientes, captando as mensagens silenciosas sobre suas
ser dispensada a seu filho. A família sente-se
expectativas em relação ao nosso desempenho e a
duplamente atingida quando seu filho é internado e
importância de não sermos mais os desconhecidos que
sofre com os procedimentos realizados. Por isso, citam
agem, tocam, decidem sem sequer ser identificados.
o tratar bem a criança (16%,12), cuidar com amor e
carinho (12%,9) como focos de suas expectativas,
Referências
seguidos pela atenção quanto à medicação (12%, 9).
Pensamos que esses aspectos possam servir
como alerta, no sentido de que precisamos melhorar
1. Shiotsu CH, Takahashi RT. O acompanhante na unidade
hospitalar: significados e percepções. Esc Enf USP
a percepção profissional junto aos acompanhantes
2000;34(1):99-107.
que, em alguns estudos como[7], também
2. Brasil - Ministério da Justiça. Estatuto da criança e do
“reclamam” por atenção às suas necessidades, nem
adolescente. Brasília; 1990.
sempre satisfeitas, especialmente quanto ao tempo
3. Brasil - Ministério da Saúde. Política Nacional do Idoso.
relatado como insuficiente para o cuidado da criança
2aed. Ministério da Previdência e Assistência Social. DF.
e demora em responder aos chamados.
Lei 8842. Diário Oficial. 4 Janeiro de 1998.
4.
Conclusão
5.
Após a realização desta pesquisa concluímos que
aquela população não identifica o enfermeiro, não
conseguindo distingui-lo de outros membros da
6.
Schimitz EM. A problemática da hospitalização infantil.
In Schimitz EM. Enfermagem em pediatria e
puericultura. São Paulo: Atheneu; 2000. p181-196
Boehs AE. Construindo um marco conceitual e um
processo de enfermagem. In Elsen I. (Org) Marcos para
a prática de enfermagem com família. Florianópolis:
UFSC; 1994.
Costenaro RGS, Daros A, Arruda EN. O cuidado na
#'
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159
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perspectiva do acompanhante de crianças e
adolescentes hospitalizados. Rev Enferm Esc Anna
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7. Pai MM, Soares MAL. Percepção da função de cuidador
por um grupo de enfermeiras e cuidadores. Esc Enf
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8. Leopardi MT. Metodologia da pesquisa na saúde. Santa
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9. Cervo AL, Bervian PA. Metodologia científica. 4a ed. São
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11. Brasil - Ministério da Saúde. Conselho Nacional de
Saúde. Resolução 196/96. Brasília. Diário Oficial. 10 de
outubro de 1996.
12. Stacciarini JM et al. Quem é o enfermeiro?. Revista
eletrônica de Enfermagem - Universidade Federal de
Goíás [periódico online] 1999;1(1) Disponível em: URL:
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essenciais a intervenção efetiva. 5aed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan; 1999. p.11-14. ¡
$
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160
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Artigo original
Comunicando com o corpo do cuidado
a partir das emoções: acadêmicos
de enfermagem testam sua prática
Communication with the patient body through emotions:
nursing students test their practice
La comunicación con el cuerpo cuidado apartir
de las emociones: los estudiantes de enfermaría
colocan en prueba su práctica
Ronilson Gonçalves Rocha*, Priscila de Castro Handem**, Nébia Maria Almeida de Figueiredo***
*Acadêmico de Enfermagem do 7º período da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto – Bolsista AT/CNPq - Universidade
do Rio de Janeiro, **Acadêmica de Enfermagem do 8º período da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto - Bolsista IC/CNPq Universidade do Rio de Janeiro, ***Professora Titular do Departamento de Enfermagem Fundamental da Escola de Enfermagem
Alfredo Pinto da Universidade do Rio de Janeiro, Doutora em Enfermagem pela UFRJ
Resumo
Pesquisa quase-experimental, na concepção de Polit & Hungler, vivida ao construir um boneco para apresentação e discussão, por
acadêmicos de graduação em enfermagem da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, quando desenvolviam a disciplina “Paradigmas
do Saber em Enfermagem II”. Objetivos: Explorar as emoções sentidas na confecção do boneco a partir dos sentidos paladar e
tato; Investigar se a construção de um boneco como corpo do cuidado leva os acadêmicos a refletirem sobre a melhor forma de
cuidar do corpo humano. Apresenta abordagem qualitativa e confeccionamos um instrumento para entrevista direcionada aos
acadêmicos que participaram da construção deste boneco, surgindo duas categorias, nomeadas: a contenção das emoções do
corpo do estudante ao criar um boneco como corpo do cuidado; a expressão das emoções do corpo do estudante ao criar um
boneco como corpo do cuidado. Concluímos assim que a imaginação construiu a tentativa do boneco-gente em que existe uma
racionalidade que é mediadora do sensível e do inteligível.
Palavras-chave: Comunicação, emoções.
Artigo recebido em 15 de maio de 2003; aceito em 10 de junho de 2003.
Endereço para correspondência: Ronilson Gonçalves Rocha,
Rua Gustavo Sampaio, 98/202 Leme 22010-010 Rio de Janeiro RJ,
E-mail: [email protected]
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Abstract
This work is an almost experimental study, based upon Polit & Hungler‘s standpoint, consisting of making a small-scale figure
of a human body (dummy), by a group of undergraduate nursing students from Alfredo Pinto Nursing School, when they
were attending the course of “Nursing II Knowledge Paradigm”. Objectives: To analyze the emotions felt during the creation of
the dummy using the senses of taste and touch; to investigate if the construction of a dummy as a patient body, will lead the
students to think about the choice of the best way for taking care of the human body. The qualitative approach was presented
and participating students on the creation of the dummy were called in for an interview. Two categories were established form
the interview namely: The contention of the emotion of the student’s body when he created the dummy to be used as a patient
body; The expression of the emotion of the student’s body when he created a dummy as a patient body. We realized that trough
this during, exits a rationality acting as a mediator between sensible and intelligible.
Key-words: Nursing, communication, care, emotions.
Resumen
Esta investigación casi experimental, en la concepción de Polit & Hungler, surgió al construir un muñeco para la presentación y
discusión hecha por alumnos de graduación en enfermería de la Escuela de Enfermería Alfredo Pinto, Universidad de Rio de
Janeiro, cuando cursaban la asignatura “Paradigmas del Saber en Enfermería II”. Objetivos: Explorar las emociones surgidas al
construir un muñeco a partir de los sentidos paladar y tacto; investigar si la construcción de un muñeco y hacer de él un cuerpo a
ser cuidado, lleva a los alumnos a reflexionar sobre la mejor forma de cuidar el cuerpo humano. Se utilizó el abordaje cualitativo
y fue elaborado un instrumento para entrevista dirigida a los estudiantes que participaron en la construcción del muñeco, de lo
cual surgieron las siguientes categorías: La contención de las emociones del estudiante al crear un muñeco que representa un
cuerpo a ser cuidado; la expresión de las emociones del estudiante al crear un muñeco como “un cuerpo a ser cuidado”. Se
concluye que la imaginación construyó la tentativa del “muñeco-gente” donde existe una racionalidad que es mediadora entre lo
sensible y lo inteligible.
Palabras-clave: Comunicación, emociones.
Introdução
O interesse por este estudo surgiu no decorrer
da disciplina Paradigmas do Saber em Enfermagem
II, que é oferecida durante o 5o período do curso de
graduação em Enfermagem na Escola de
Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade do Rio
de Janeiro (UNIRIO). Nesta disciplina nos foi
proposta a confecção de um boneco que representasse
o corpo do cuidado, enfocando, dentre os cinco
sentidos humanos, o paladar e o tato.
O processo de criação deste boneco despertounos para a importância e complexidade dos sentidos,
fato que não identificamos em nossas atividades diárias
por nos apropriarmos dessas sensações de forma tão
natural. Essa nova percepção a respeito do tato e
paladar, torna evidente a necessidade de reconhecer
não só as diversas sensações relacionadas a estes, tais
como sabor, prazer, culpa, dor, mas também suas
inter-relações com a visão, audição e o olfato.
Guyton e Hall [1] afirmam que:
“A gustação é, sobretudo, uma função dos
corpúsculos gustativos da boca, mas é experiência
comum que o sentido do olfato contribui fortemente
para a percepção do gosto. Além disso, a textura da
comida, tal como é detectada pelos sentidos táteis da
boca, e a presença de substâncias como a pimenta na
comida, que estimula terminações de dor, condiciona
muito a experiência gustativa.”
A partir daí, selecionamos a questão do estudo: as
emoções de criar um boneco como corpo do cuidado.
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Diante da necessidade de representar o tato no
boneco, optamos por fixar no seu corpo diferentes
tipos de materiais tais como: plásticos porosos, tecidos
finos, grossos e ásperos. Sendo assim, ressaltamos que
o toque da enfermeira pode ser feito de diversas
formas e provocar sensações diferentes, porém,
sempre visando a melhora da saúde de seu cliente,
podendo oferecer atenção, tranqüilidade, alívio,
amparo e carinho.
Caldas e Figueiredo [2] destacam a importância
da utilização de todos os sentidos objetivos e
subjetivos durante a prestação do cuidado pela
enfermeira, salientam ainda as diversas maneiras de
tocar: “É tocar com a mão, tocar com o corpo, tocar
com o cheiro, tocar com o olhar, tocar com a voz,
tocar com a sensibilidade, tocar com amor, tocar com
estética, tocar com ética.”
Para configurar o paladar em nosso boneco
utilizamos três faces que caracterizam expressões
distintas. As duas primeiras são referentes aos sabores
que os diferentes alimentos nos proporcionam, em
que uma traz a satisfação e a outra o desagrado, e a
última traz a importância da higiene bucal para
apreciarmos esses sabores.
Derivando de Ackerman [3], o gosto que
sentimos e a composição de nossa saliva são
individuais, assim, não existem duas pessoas que sintam
o mesmo gosto. Nos diz ainda que o alimento deve
ser gostoso e recompensar-nos, estimulando-nos a
comer para viver. Vale destacar que a opção pelo
paladar e o tato, foi devido a distribuição da turma
em 4 (quatro) grupos para construir 4 (quatro)
bonecos sob diferentes olhares acerca dos cinco
sentidos. Nós ficamos com estes dois, até porque o
objetivo da disciplina é nos ensinar a olhar o todo a
partir do paradigma cartesiano.
Desta forma, estabelecemos como objeto do
estudo a construção de um boneco para apresentação
e discussão sobre o corpo do cuidado.
Objetivos do estudo
• Explorar quais as emoções sentidas na confecção
do boneco a partir dos sentidos paladar e tato.
• Investigar se a construção de um boneco como
corpo de cuidado leva os acadêmicos a refletir sobre
qual é a melhor forma de cuidar do corpo humano.
Justificativa
Através da construção deste boneco verificamos
a amplitude de aspectos que o cuidar do corpo
envolve. Manipular o corpo do cliente ou apenas
abordá-lo verbalmente requer a compreensão não
só de seu estado físico ou das emoções sentidas por
ele, mas também dos significados das ações da
enfermagem para este cliente. A partir destas
premissas, passamos a reconhecer a melhor forma
de oferecer conforto a este corpo.
Os sentidos paladar e tato permitem que o
corpo perceba o mundo ao seu redor, decifrando
seus significados. Quando tocamos através do paladar
e identificamos sabores e sensações, ou através da
pele que recobre todo o corpo, possuindo grande
importância para o tato, estamos conhecendo nossos
limites, sentindo a vida.
A partir dos sentidos, a enfermagem pode ler as
expressões dos clientes, como respostas aos seus
cuidados, fato essencial para a comunicação enfermeirocliente, auxiliando na aplicação do cuidado a este corpo.
Bittes Jr e Matheus [4] ressaltam que a comunicação
não-verbal faz-se importante para a compreensão do
que se quer dizer, já que esta pode ampliar o entendimento
sobre o que foi verbalizado. Afirmam que a
comunicação não-verbal pode: “...contradizer, enfatizar,
substituir, oferecer indícios sobre emoções ou mesmo
controlar ou regular um relacionamento”
Abordagem teórico – metodológica
A abordagem metodológica utilizada para este
estudo foi a qualitativa, devido a impossibilidade de
mensurar emoções vivenciadas por um determinado
grupo. Haja vista, que estamos estudando as
transformações da emoção como prática e como ciência,
para isso, torna-se inviável quantificar tais fenômenos.
De acordo com Minayo [5]:
“A pesquisa qualitativa se preocupa, nas ciências
sociais com nível de realidade que não pode ser
quantificado, ou seja, ela trabalha com o universo dos
significados, motivos, aspirações, crenças, valores e
atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo
das reações, dos processos e dos fenômenos que não
podem ser realizados à operacionalização das variáveis”
Considerando que a característica do estudo é
de uma pesquisa quase-experimental, buscamos em
Polit e Hungler [6] apoio sobre a característica desta
modalidade: “A pesquisa que utiliza o projeto quaseexperimental parece-se muito com um experimento.
Tal como nos experimentos, os quase-experimentos
envolvem a manipulação de uma variável independente,
isto é, a instituição de um tratamento”.
Sendo assim, a metodologia utilizada privilegia
a variável independente como aquela relativa às
emoções sentidas, tendo como método a construção
de um boneco como corpo do cuidado.
Participaram desta pesquisa dez acadêmicos de
enfermagem com faixa etária que varia de 20 a 25
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anos, que haviam cursado o 5o período da graduação
de enfermagem na Escola de Enfermagem Alfredo
Pinto da Universidade do Rio de Janeiro, onde na
disciplina de “Paradigmas do Saber em Enfermagem
II” construíram um boneco como corpo do cuidado,
voltado para os sentidos paladar e tato. Sendo
solicitada a autorização para a utilização de suas falas
e garantido por nós o anonimato.
Elaboramos um instrumento contendo
perguntas abertas que utilizamos como roteiro para
gravar as falas dos acadêmicos. Gravamos as
entrevistas em fitas cassete que posteriormente foram
transcritas para a organização das categorias
emergentes das falas.
Resultados
Após leitura das falas dos estudantes
participantes do estudo, destacamos expressões que
se aproximavam e deste trabalho de organização das
informações surgiram categorias de análise que
chamamos de:
1) A contenção das emoções do corpo do
estudante ao criar um boneco como corpo do cuidado.
2) A expressão das emoções do corpo do
estudante ao criar um boneco como corpo do cuidado.
Discussão
A primeira categoria: A contenção das emoções do
corpo do estudante ao criar um boneco como corpo do cuidado.
Esta categoria concentra informações sobre as
emoções sentidas, guardadas ou não-ditas de dois
participantes do estudo, assim registradas:
Entrevista 1: “...não senti nada...”(2) , “...ééé...”(3)
“...eu não sabia o que ia encontrar...”(3), “...não sabia
nem como...fazer com que o boneco expressasse o
paladar e o tato...” , “...não consegui...muito obstáculo,
não sei nem como falar direito...”
Entrevista 7: “...eu não vi nada demais que pudesse
fazer eu pensar em algum tipo de cuidado...”, “...não
vem nada à mente...que eu me lembre de...de boneco,
essas coisas...”
São falas que falam do sentir, mesmo que
aparentemente o sentir não seja “nada” e este modo
pode ser também um silêncio sobre a experiência que
viveram, porque ela não fazia parte do comum, do que
estão acostumados. A uma prática de ensino que estimula
o raciocínio (racional) e esquece das ressonâncias
(subjetividades) que estão na vida e no viver.
Isto tem feito com que os estudantes distanciemse da atividade de sonhar, criar porque isto não é
ciência, não lhes dá status e por isso negam, mesmo
quando foram capazes de criar um boneco e se
sensibilizarem com sua criação, emocionaram-se a
ponto de cuidar do boneco como se fosse gente.
Apesar de construírem um boneco onde foram
explorados os sentidos humanos, de perceberem a
essencialidade deste em suas vidas, não conseguiram
apropriar-se de sua sensibilidade o que os impulsionou
a restringir, no imaginário, seus sentimentos.
Mas a emoção é parte do sensível e está em
todos os nossos sentidos, quando me emociono ao
ver algo que me agrada ou o que me constrange e
me faz sofrer; me emociono quando ouço uma
música, a voz de alguém querida; me emociono
quando sinto o cheiro de alguém, de algum perfume
que me lembra momentos; me emociono quando
alguém me toca. No entanto não estamos
acostumados a assumir isto. Ninguém tem associado
ao sensível o conhecimento sensitivo e que segundo
Johas [7], este só pode ser útil à inteligência para que
criem conceitos intelectivos e a essência do ser sensível
é o objeto formal próprio da inteligência humana.
A própria linguagem utilizada pelos alunos dá
som ao que aparentemente parece-nos silêncio sobre
a experiência vivida por eles. E o corpo que silencia
por que não se deixa invadir pela expressão que criar
provoca em nossos corpos contidos e calados pela
disciplina, pelo poder do racional sobre o emocional
que nos é incutido na universidade. Quanto a isso Le
Breton [8] diz que: “ se a linguagem e silêncio se
misturam na expressão da palavra, podemos dizer
também que todo enunciado nasce do silêncio interior
do indivíduo em permanente diálogo consigo
mesmo”. Para ele, o silêncio questiona os limites de
qualquer palavra e por que não o compreendemos
acabamos nos esbarrando com ele.
Mesmo assim, podemos ousar dizer que as
informações desta categoria não são vazias, por que
nos permite ouvir suas ressonâncias nas reticências,
nos: “...eu não sabia o que ia encontrar ...”, “...não
consegui...”, “muito obstáculo..., nem sei como falar
direito...”, “eu não vi nada demais...”, nelas circulam
sentidos, emoções, elos de “algo” que eles não
conseguem falar. Nelas existem encadeamentos de
dificuldades que eles não conseguem ultrapassar
quando tentam falar sobre a experiência.
Não dizer nada pode ser uma escolha, uma
opção, às vezes inconsciente, uma defesa, não assumir
algo que lhe fez bem por que pode enfraquecer-se e
assim parece um corpo sem sentido “aparente”, nesta
experiência de criar o corpo do cuidado – o boneco
a partir do sentido paladar e do tato. Enfim, nos
parece que os sujeitos desta categoria, apesar da ação
de criar o boneco, a experiência lhes foi mais crucial
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que prazerosa, mesmo sabendo que o organismo tem
uma estrutura neural – sensível – motora, mas neste
momento eles se apresentam mais limitados do que
livres pela possibilidade de criar. São corpos do devir
- das possibilidades e como diz Bezerra Jr [9]: “é o
corpo da emergência onde os alunos dependem de
aquisição, por parte dos organismos humanos, de uma
habilidade especial: a de configurar a sua experiência
no mundo por meio de significações”.
Assim é possível assumir, agora, que são corpos
ainda “sem sentido”, mas que podem estar em processo
de reconstrução ou de transformação de uma
experiência concreta para uma experiência subjetiva.
A segunda categoria: A expressão das emoções do
corpo do estudante ao criar um boneco como corpo do cuidado.
As informações desta categoria contêm as
informações de quatro estudantes e assim foram
registradas:
Entrevista 2: “...construir um boneco eee...”(3) ,
“...disciplina diferente, inovadora...foi um
lazer...brincar, desenvolver junto com os colegas” ,
“...usar a criatividade, sair da rotina, da grade das
disciplinas, momento de descontração...”, “...jogo de
criatividade...”
Entrevista 3: “...senti impacto porque era
completamente diferente de tudo que já tinha visto
na escola...”, “...uma viagem construir um
boneco(2)...usar a criatividade...”, “...fizemos o possível
ééé...”(9), “...o tato foi testado nos vários tecidos
diferentes...tocar a boneca, o tecido podia ter bolhas
no corpo, estar ressecada ou estar macia...quando a
gente toca alguém a gente observa e a gente relata...”
Entrevista 6: “...achei muito interessante...foi uma
dinâmica diferente...” , “...a gente nunca teve a
possibilidade de fazer...nunca pensou nisso de
direcionar o nosso ensino em outros coisas que o
próprio paciente pode mostrar para a gente tanto no
tato e no paladar...” , “...a construção do boneco me
deu outra, outra visão de como a gente pode ver
esse paciente...”
Entrevista 9: “...a gente se divertia muito...descobri
coisas novas...as coisas iam se transformando bem perto
do que a gente imaginava...” , “....ficamos muito satisfeitos
com o resultado...” , “...foi divertido construir...chegava
super a vontade, descontraído...uma terapia...”
A linguagem utilizada por eles é a de um
corpo descontraído, de um corpo sensível, de
corpos que fizeram da experiência vivida uma
brincadeira, “...sair da rotina...”, “...descontrair...”,
“....inovação...”, “...diversão...”, “...de satisfação...”.
Nos parece que este é o corpo que pensa que criar
pode ser o caminho para aprender a cuidar a partir
de experiências mais sensíveis.
A identificação, o envolvimento dos acadêmicos,
no decorrer da atividade de criação do boneco, ocorreu
tão intensamente que possibilitou a descoberta de novos
métodos de aprendizagem, a compreensão de que
através das expressões seus clientes emitem mensagens,
a percepção de que os sentidos direcionam o indivíduo
a comportamentos diferentes.
O que identificamos é que a experiência vivida
demonstra que os alunos reconhecem a importância
desta abordagem pedagógica e que ela deu a eles um
outro sentido de aprender, seriamente sobre o
cuidado, através da brincadeira. Também é possível
identificar nas falas que eles tiveram um “impacto
afetivo” como afirma Platino [10], e, continuo dizendo
que este impacto produz mudanças de atitude que
pode ser pensada como afirmação de hegemonia de
Eros (vida) sobre a pulsão de morte, encarnada na
anorexia desvitalizante”. Diríamos a anorexia de
estratégias no ensino que permanece rijo, sem graça,
sem prazer. Os alunos reafirmam que a disciplina
Paradigma II, é um paradigma emergente, pois,
estamos incluindo (docentes) e nós (discentes) outros
saberes e outras práticas para pensar o cuidado de
enfermagem. Criar não é parte do conteúdo teóricoprático da enfermagem. A criação que se fala nas
salas de aula trata de habilidades e destrezas ao
preparar os materiais do cuidado.
Ao trabalhar a criação do boneco os alunos
disseram: “...juntos”, “...o impacto”, “...o uso da
criatividade”, “...tiveram possibilidades nunca
pensadas”, “...ser um agente da imaginação”. O que
indica que ao viverem a experiência desenvolveram
um espírito novo como diz Bachelard [12] é préentendida de diversas formas de pensar, conhecer
que depende de experiência sensorial dos estudantes
“os falantes”, que também dão sentido as suas
experiências ao criar o boneco, que são carregadas
de expressões de emoção, entendido por Costa [13]
que este sentido emoção está “causalmente conectado”
a processos confiáveis de discriminação pré-verbal de
sentimentos ou “sensações cruas”, mas tudo, também,
envolve uma questão de linguagem que merece muita
teorização, que este texto não suporta enquanto número
de páginas exigidas para que o trabalho seja aceito para
apresentação em eventos científicos.
Brincar, construindo o corpo do cuidado é fazer
com que os alunos sonhem com um cliente que não
conhecem, não sabem onde ele está e se o encontrarão
do modo como o moldaram, criaram, representaram.
Para Bachelard [11] sonhar e ver concordam pouco:
quem sonha muito livremente perde o olhar, quem
desenha sucessivamente bem o que vê perde os
sonhos da profundidade. Ao contemplar o boneco
como sua obra de criação e ao fazê-lo eles brincavam,
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saíam do tédio cotidiano e do cansaço do estágio,
eles “devem” ter entrado em devaneios, pois os
devaneios são características dos jovens. Como
pergunta Bachelard [11] “ o espaço do sonho é o
espaço de repouso?”. Mas repensa e diz que “o sonho
é fragmento de espaço onírico, feito de marés que
não condizem a lugares e tempos.”
Sonharam os estudantes? Perguntamos. Talvez sim,
talvez não, sonhar pode estar ligado ao sono e nesta
brincadeira eles se mantiveram acordados, no claro,
durante o dia ou permaneceram numa zona intermediária
entre o dia e a noite, mesmo que simbolicamente?
O que sentimos é que as falas/mensagens dos
alunos indicam desdobramentos de seus pensamentos
sobre suas experiências de criar e automaticamente
pode ser o desdobramento de seu próprio ser, “a
nostalgia de ser dois”, disse Bachelard [11].
O que identificamos como indicadores de que
a experiência mexeu com seus corpos é de que eles
se descobriram emoção - fonte oculta em seus “eus”
e puderam verificar que nada é separado. A
experiência deve ter feito seus corpos se efervescerem
de curiosidades, de possibilidades ou de indiferenças
o que importa é que essa efervescência é entendida
por Bachelard [12] como “alegria indicadora de
ludicidade, de um momento privilegiado de
recomeço por meio do jogo criador”.
Referências
1.
2.
Conclusão
Pudemos identificar o quanto pode ser difícil
expressar as emoções sentidas, negando-as.
Observamos ainda, a importância da expressão dessas
emoções e como a criatividade e o brincar
enriqueceram o aprendizado.
Deste modo, consideramos que a construção
do boneco como corpo do cuidado, além de salientar
a necessidade de conhecer os sentidos paladar e tato
e de exercitar, desenvolvem a criatividade, despertou
inúmeras emoções, que alguns acadêmicos
conseguiram expressar, porém, outros não, sendo que
reconhecê-las torna-se essencial na prática assistencial
do enfermeiro.
Do ponto de vista da aprendizagem, a
experiência produziu nos alunos uma forma de
construir conhecimento a partir de atividades de
expressão do sensível que existia dentro deles e
entendido como “morador”, “diferente”. Isto significa
que o estímulo à criação e à imaginação é uma
pedagogia sensível de ensinar a jovens a cuidar dos
outro e assim fomos obrigados a “mergulhar nas
profundezas abissais da arte”, Bachelard [12].
Foi a imaginação que construiu a tentativa do
boneco-gente onde existe uma racionalidade que
é mediadora do sensível e do inteligível.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
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Artigo original
Preparo do corpo pela equipe
de enfermagem (reflexões a partir
de objetos pessoais que identificam
um ser humano)
Preparation of a lifeless body (reflections about
personal objects that identify a human being)
La preparación del cadaver por el equipo
de enfermería (reflexiones apartir
de lãs pertenencias que identifican um ser humano)
Maria Aparecida de Luca Nascimento*, Adriana Santos Mello**,
Rogê de Oliveira Candido**, Sabrina Santos da Silva**
*Professor Adjunto do Departamento de Enfermagem Materno Infantil (DEMI) da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP)
da Universidade do Rio de Janeiro (UNIRIO) – Doutora em Enfermagem, **Enfermeiros recém egressos da EEAP
da UNIRIO – Alunos da especialização nos moldes de residência da UNIRIO
Resumo
Reflexão teórico-filosófica realizada a partir de dinâmica apresentada por um grupo de acadêmicos da Escola de Enfermagem
Alfredo Pinto, da Universidade do Rio de Janeiro (UNIRIO), em um hospital geral situado na mesma cidade. Tendo como
objetivo fornecer subsídios para que a equipe de enfermagem reflita sobre o procedimento técnico do “preparo do corpo”, os
autores tecem comentários sobre a inadequação do termo “pacote” utilizado para caracterizá-lo e apresentam o resultado da
dinâmica em referência, através de um quadro onde foram afixados objetos retirados de um invólucro que simulava um corpo
sem vida preparado, com a intenção de mostrar toda a subjetividade que envolve o procedimento técnico do “preparo do
corpo”. O referencial teórico utilizado foi o da comunicação, de Materlat. Ao final deste estudo, é apresentada uma mensagem
à equipe de enfermagem.
Palavras-chave: Enfermagem, procedimento técnico, reflexão.
Artigo recebido em 15 de maio de 2003; aceito em 10 de junho de 2003
Endereço para correspondência: Maria Aparecida de Luca Nascimento,
Avenida Marechal Rondon 300, bloco 2 , apto 310 São Francisco Xavier
20950-000 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 25749149, E-mail: [email protected]
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Abstract
It’s about a philosophical theoretical reflection substantiated on the dynamics and put forward by Alfredo Pinto Nursing
School’s students of Rio de Janeiro (UNIRIO) highly carried out in a general hospital located in Rio de Janeiro. The aim of this
work was to supply ideas in order to make the nursing staff review the technical procedures, concerning a lifeless body’s
preparation. In the meantime, the authors comment on the inadequate term “package” intended for portraying a lifeless body
and submit as a dynamic outcome, a board wherein several objects were settled on, have been removed from an involucre
dressing up a fake lifeless body, in the sense of demonstrating the whole subjectivity which underlies the technical planning
known as “the body preparation”. The theoretical framework applied in this study, referred to Materlat´s communication
studies. At the end of this work, a message is being highlighted to the nursing staff.
Key-words: Nursing, technical procedures, reflections.
Resumen
Reflexión teórico-filosófica realizada a partir de una dinámica preparada por un grupo de alumnos de enfermería de la facultad de
Enfermería Alfredo Pinto de la Universidad de Rio de Janeiro (UNIRIO) en un hospital general ubicado en la misma ciudad.
Tiene como objetivo inducir la reflexión del equipo de enfermería acerca del procedimiento técnico denominado “preparación del
cadáver”. Los autores comentan sobre lo inadecuado del término “paquete”, utilizado para denominarlo y presentan el resultado
de la dinámica en referencia, a través de un cuadro donde fueron fijados objetos retirados de lo que simulaba ser un cuerpo sin
vida, con la intención de mostrar toda la subjetividad que envuelve el referido procedimiento técnico de la “preparación del
cadáver”. El referencial teórico tuvo como base la comunicación de Materlat. Los autores concluyen el estudio con un mensaje
dirigido al equipo de enfermería.
Palabras-clave: Enfermería, procedimiento técnico, reflexión.
Introdução
Este estudo surgiu de uma proposta
pedagógica que é desenvolvida durante a disciplina
Abordagens Metodológicas da Pesquisa em
Enfermagem I e II, que são oferecidas ao 6º e 7º
períodos respectivamente, no Curso de Graduação
da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP)
da Universidade do Rio de Janeiro (UNIRIO).
A proposta pedagógica supra-referenciada,
descrita por Nascimento et al [1], consiste em solicitar
ao acadêmico de enfermagem que escolha, a partir de
um tema de sua preferência, um estudo da autoria de
um professor da EEAP para que, em grupos de três,
apresentem-no sob a forma de seminário em sala de
aula, a produção de um artigo, sobre o mesmo tema.
Sendo assim, os acadêmicos e autores do presente
estudo, elegeram o artigo intitulado – O “pacote” e a
enfermagem (Análise crítica de uma cena de morte), Cruz
et al. [2], para o desenvolvimento da citada proposta.
Durante a apresentação do seminário, o grupo em
apreço utilizou uma estratégia para induzir a reflexão
dos presentes. Porém, o impacto da apresentação foi
de tal modo positivo, que ela foi reproduzida, a pedido,
em um hospital geral de grande porte, sendo apresentada
a um grupo de profissionais da equipe de enfermagem.
Objetivo
Fornecer subsídios para que a equipe de
enfermagem reflita acerca do procedimento técnico
do “preparo do corpo”, a partir de uma dinâmica
apresentada em um hospital geral.
Descrevendo a dinâmica sobre o “preparo do corpo”
Tendo em vista que o presente artigo baseia-se
no resultado da dinâmica que havia sido desenvolvida
em sala de aula e que, posteriormente, foi desenvolvida
em um hospital geral, passamos a descrevê-la.
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A princípio, o grupo posicionou-se em volta de
uma mesa para a apresentação sob a forma de
seminário, todos vestidos de preto, dando à
apresentação um tom lúgubre.
Porém, estrategicamente, foi deixado em um
canto da sala, à vista da platéia, um embrulho, similar
a um corpo, envolto pelo mesmo invólucro utilizado
para o transporte de cadáver nos hospitais.
Durante todo o tempo da apresentação, o
citado embrulho permaneceu sem ser mencionado.
Os componentes do grupo circulavam em volta da
mesa, revezando-se em suas falas, porém, sem a ele
fazerem alusão.
Após a apresentação do seminário, todos os
componentes do grupo levantaram-se e se
encaminharam ao embrulho que permanecia no canto
da sala. Chegando lá, abriram o zíper e começaram a
retirar o seu conteúdo, composto de pequenos vasos de
flores, que no mesmo instante eram oferecidos à platéia.
Após a entrega das flores, o grupo solicitou que
cada pessoa da platéia fosse até ao embrulho aberto
e retirasse de lá, objetos pessoais que permaneciam
em seu interior.
Na medida em que os objetos foram entregues
aos acadêmicos, estes passaram a compor uma
exposição em um quadro de cortiça idealizado para
esse fim.
O primeiro objeto a ser retirado foi uma
bandeira do Brasil, a seguir, uma foto de casamento,
um casaquinho de bebê, a xérox de uma carteira
profissional, um chaveiro, um maço de cigarros, e
assim sucessivamente.
Ao final, os componentes do grupo vestiram
um jaleco branco, como se para atenuar o preto da
roupa que vestiam e começaram a tecer comentários
acerca do quadro construído a partir do conteúdo
do embrulho.
Referencial teórico
Tendo em vista que o embrulho foi utilizado
como uma forma de comunicação, remetendo a
platéia à idéia de que ali havia um corpo sem vida,
através da sua forma e estrutura, valemo-nos de
Materlat [3], para nos apoiar nesse estudo, quando
diz que a noção de comunicação recobre uma
multiplicidade de sentidos. Segundo ele, a
comunicação é uma figura emblemática da sociedade
do Terceiro Milênio.
Todavia, já nos anos 40, as ciências cognitivas
formavam-se nos Estados Unidos, tendo no centro
da hipótese cognitivista, a noção de representação.
Segundo Materlat [3], “a representação induz uma maneira
de compreender o funcionamento do cérebro como dispositivo de
tratamento da informação, que reage de maneira seletiva ao
meio, à informação proveniente do mundo exterior”.
Desse modo, a informação gerada nos
profissionais que assistiam à dinâmica, a partir de um
embrulho, comunicou ao cérebro deles que ali havia
um corpo sem vida.
Aspectos reflexivos da aplicação da dinâmica e
do quadro construído a partir dela
A aplicação da dinâmica de que trata o presente
estudo, permitindo observar que dentro do invólucro
não havia um corpo, e sim objetos que poderiam
identificar um ser humano, possibilitaram que houvesse
por parte da platéia uma mobilização centrada na
surpresa, o que pode estar diretamente relacionado ao
que diz Ghezzi, apud Almeida e Leite [4]; “...ao analisar
o currículo de enfermagem em relação ao morrer,
constatou-se que a abordagem do “morrer” limitavase tão somente a um “preparo do corpo”,
conseqüentemente, gerando uma assistência de
enfermagem centrada em aspectos predominantemente técnicos.”
Outro aspecto a ser considerado com relação ao
procedimento técnico, diz respeito ao modo pelo qual
a equipe de saúde refere-se ao corpo sem vida ao tratálo pelo termo “pacote”. Diante disso, os
apresentadores da dinâmica enfatizaram a inadequação
do seu uso para esse fim, haja vista que ele se refere a
“pequeno fardo ou maço, embrulho” [5].
A partir do quadro construído com os objetos
descritos anteriormente, quais sejam, entre outros; uma
bandeira do Brasil, uma foto de casamento, um
casaquinho de bebê, a xérox de uma carteira
profissional, um chaveiro, um maço de cigarros, e assim
sucessivamente, foi possível levar à platéia a imaginar
alguns sentimentos que compõem subjetivamente um
ser humano, muitas vezes bem próximo de nós. Sendo
eles, a sua nacionalidade, incluindo aí a sua cidadania, a
família que ele teve, e conseqüentemente os elos que os
unem, a criança que ele foi e/ou o filho pequeno que
ele tinha, o seu posicionamento social através do seu
trabalho, o seu empenho em adquirir uma casa, e a sua
vontade de parar de fumar.
Todas as subjetividades acima descritas foram
fornecidas como subsídio à reflexão do grupo de
profissionais de enfermagem, no sentido de mostrar
como são comuns os sentimentos que fazem parte
das pessoas que amamos e que depois de mortos não
gostaríamos de os ver desconsiderados através de um
tratamento frio, como se ele fosse um “pacote”.
Ao considerarmos a dimensão ética que permeia
o procedimento técnico do preparo do corpo, e
também a dinâmica descrita neste estudo, utilizada
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para alcançar o objetivo proposto, apoiamo-nos em
Germano quando diz:
“... não é possível estruturar o ensino de ética sem
a compreensão da realidade social e sem o exercício
da crítica sistemática às questões mais gerais da saúde e
da sociedade que repercutem no dia a dia da profissão
e na assistência que dispensamos aos doentes” [6].
Considerações finais
Ao término da dinâmica, o grupo leu a seguinte
mensagem, utilizada como mais um subsidio para
reflexão, escrita especialmente para o evento, por Rogê
de Oliveira Candido, um dos autores deste estudo.
“Aos que me cuidaram; NADA. Não sou mais
nada! Que estranho, e pensar que um dia aprendi a
falar, andar, brincar, adolescer e apaixonar-me
loucamente tantas vezes. Tive uma família, construí
outra a partir de mim. Tive profissão, é verdade!
Contribui para o meu país, que orgulho!
Fui amigo, solidário, torci por um time, chorei,
sorri, fui também algumas vezes injusto, falso, era o
jogo da vida. Foi bom, muito bom!
Porém, há algum tempo, a doença foi
deteriorando meu corpo, destruindo o meu “status”
e a minha dignidade. Neste momento fui medicado,
fiz exames, fui cuidado, recebi carinho e atenção de
todos. Contudo, apesar de todo o esforço, restoume apenas o “status” negativo, o de um homem, que
por não poder retornar à normalidade funcional,
encontra-se literalmente dependente.
Que cuidados terei daqui por diante? Não sei,
tenho medo! Espero no mínimo, respeito. Curioso,
não consigo ver aqui nenhum daqueles que um dia
ajudei a justificar-se como profissionais de saúde,
onde estão? Não conheço mais suas ações!!!
Ah! Mas que bobagem cara, você já morreu,
como disse Sartre, “nadifiquei-me”. Mas tenho certeza
que estou protegido pelos códigos deontológicos ou
por leis do exercício profissional que asseguram
dignidade nos cuidados com a vida e com a morte.
Mas que falatório, que tantos risos, porque se
negam a preparar-me? Ah! Pobres mortais se
tivessem a dimensão que esse processo natural nos
mostra a absoluta igualdade entre os homens,
nivelando-nos a um mesmo destino (independente
de credo, raça, sexo, classe social). Projetem-se em
mim pessoal, um dia vocês estarão aqui, no meu
lugar, todos vocês!!!!”
Referências
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Artigo original
Sentimentos dos pacientes enfartados
durante o período de internação em uma UTI
Feelings of infarcted patients during the period
of internment in a ICU
Sentimientos de los pacientes infartados durante
el período de internación en una UTI
Geraldo Magela Salomé*, Cleide Aparecida Guerra**
*Especialista em UTI, pela Faculdade São Camilo, Mestrando em enfermagem pela Universidade do Grande ABC, Enfermeiro Assistencial do Hospital
Sanatórios, **Mestrando em enfermagem pela Universidade do Grande ABC, Enfermeira da Educação Continuada do Hospital Emilio Ribas.
Resumo
Este trabalho teve como objetivo identificar e caracterizar os sentimentos dos pacientes enfartados, relacionado a sua internação
em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O estudo foi realizado na UTI de um Hospital Estadual, da cidade de São Paulo.
A população deste estudo foi constituída pelos pacientes que atenderam aos seguintes critérios: ambos os sexos, todos maiores
de 18 anos, conscientes, alfabetizados ou não, estar internado na UTI do hospital onde foi realizado o estudo, estar no 3° dia com
diagnóstico de Infarto Agudo do Miocárdio. Os dados nos possibilitaram compreender que é importante, que os profissionais
da área de saúde durante quaisquer procedimentos evitem deixar o paciente exposto durante o banho, necessidades fisiológicas,
alimentação e outros procedimentos, e orientá-lo quando ao procedimento que será realizado.
Palavras-chave: Infarto agudo do miocárdio, sentimentos.
Abstract
The aim of the present study has been to identify and to characterize the feelings of infarcted patients, related internment in ICU
(Intensive Care Unit). The study was carried out in the ICUof a State Hospital, São Paulo. The population of this study was
constituted by patients with following criteria: both sex, all above 18 years, conscientious, literate or not, interned in the ICU of
the hospital where the study was carried out, to be in the third day with diagnosis of Acute Infarct of Myocardium. The data
make possible to understand that it is important, that the professionals of the health area during any procedures must prevent
to leave the patient displayed during bath, physiological necessities, feeding and other procedures.
Key-words: Acute infarct of the myocardium, feelings.
Artigo recebido em 15 de maio de 2003; aceito em 10 de junho de 2003.
Endereço para correspondência: Geraldo Magela Salomé, Av. Francisco
de Paula Quintaninha Ribeiro, 280/134, bol. 01, Jabaquara
04330-020 São Paulo SP, E-mail: [email protected]
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Resumen
Este trabajo tuvo como objetivo identificar y caracterizar los sentimientos de los pacientes infartados, relacionado a su internación en
una UTI. El estudio fue realizado en la Unidad de Terapia Intensiva de un hospital estatal, de la ciudad de São Paulo. La población
de este estudio estuvo constituida por pacientes que atendieron a los siguientes criterios: ambos sexos, todos mayores de 18 años,
conscientes, alfabetizados o no, estar internados en la Unidad de Terapia Intensiva del hospital donde el estudio fue realizado, estar
en el 3er día con diagnostico de Infarto agudo de miocardio. Los datos nos posibilitaron entender, que es importante que los
profesionales del área de la salud, durante cualquier procedimiento, eviten dejar el paciente expuesto durante el baño, necesidades
fisiológicas, alimentación y otros procedimientos. Orientar a respecto del procedimiento que será realizado.
Palabras-clave: Infarto agudo de miocardio, sentimentos.
Introdução
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é uma
área de grande dinamismo, que pode propiciar maior
vigilância e controle dos pacientes e, pela centralização
dos recursos materiais e humanos, permite um
atendimento pronto e eficaz, com base numa filosofia
de trabalho definida, em que a atuação da equipe
multiprofissional deve estar voltada para um objetivo
comum, a recuperação do doente gravemente
enfermo [1].
O Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) passou
a ser clinicamente reconhecido no início do século
XX e permanece até os dias atuais como uma das
maiores causas de morte no mundo ocidental. Os
maiores progressos no tratamento do IAM foram
o advento das unidades coronarianas e mais tarde
os chamados métodos de reperfusão do
miocárdio, entre eles a terapêutica trombolítica.
Graças a esses avanços conseguiu-se reduzir a
mortalidade intra-hospitalar do IAM de 20% a 30%
para 8% a 10% [2].
Um dos aspectos mais importantes da
assistência ao paciente com IAM é a avaliação feita
pela enfermagem. O enfermeiro leva informações
sobre o estado atual do paciente, e sofre também
a parte emocional, psicológica, relacionada
ao ambiente e tratamento recebido pelos profissionais de saúde, tratamento que está recebendo.
Estas observações contribuem para identificar
complicações precoces.
Com todo o aparato tecnológico existente para
salvar vida dos pacientes com IAM, é necessário
profissional capacitado para estabelecer diagnósticos
precisos quanto à necessidade do cuidar, apoiado no
conhecimento científico e na observação das
manifestações de sinais e sintomas decorrentes da
doença, olhar o paciente não só como uma máquina,
mas também como um ser humano que tem
sentimento que necessita de carinho, apoio,
encorajamento para poder vencer o momento de
tanta dor e medo de morrer. É neste momento que
devemos ser humanos e dar apoio psicológico e de
orientações sobre a sua doença e tratá-lo com respeito
em fim, como ser humano.
Segundo Sawada et al [3], o homem, como um
ser social, organizado dentro de proximidade física
relaciona-se com outros em um ambiente físico, o
que afeta significativamente a interação social e a
comunicação interpessoal.
O homem sai de seu lar onde possui domínio
do espaço, está acostumado a ser dono de sua vida,
não receber ordem (horário para tomar banho, para
comer, fazer necessidades fisiológicas e outros), ao
ser admitido em uma UTI, em que muitas vezes
necessita dividir o espaço territorial com pessoas
estranhas, tendo sua privacidade diminuída, sem
controle do próprio corpo, ficando nas mãos de
profissionais da saúde, pois a doença o afasta da
sociedade e dos familiares. O pior é que são pessoas
estranhas que estão prestando assistência a
enfermagem, às vezes não o chama pelo nome,
fazendo o paciente sentir-se uma máquina.
Diante desses fatos, questiona-se quais são os
sentimentos destes pacientes enfartados, perante a sua
internação em uma UTI.
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Objetivo
1. Identificar e caracterizar os sentimentos dos
pacientes enfartados, relacionados a sua internação
em uma UTI.
• Relacionado ao barulho dos equipamentos
hospitalares ligados à noite e durante o dia;
• Durante a higienização no leito pela
enfermagem;
• Durante a realização das necessidades
fisiológica do paciente ao lado de outros pacientes.
Metodologia
Análise dos dados
Tipo de pesquisa
Os dados serão apresentados em números
absolutos e dispostos em gráficos para interpretações
das informações de cada variável analisada.
Esta pesquisa é caracterizada como descritiva,
exploratório, de campo transversal, com abordagem
quantitativa.
Local de estudo
O estudo foi realizado na UTI de um Hospital
Estadual Geral da cidade de São Paulo. A UTI é
constituída de 8 leitos e atendem pacientes adultos,
tanto clínicos quanto cirúrgicos. Durante o mês em
que foi realizada a pesquisa a taxa de ocupação foi
de 100%.
População
A população deste estudo foi constituída pelos
pacientes que atenderam aos seguintes critérios:
• Ambos os sexos;
• Todos maiores de 18 anos;
• Conscientes;
• Alfabetizados ou não;
• Estar internado na UTI do hospital onde foi
realizado o estudo;
Todos os sujeitos aceitaram participar das
entrevistas, que foram realizadas no período de 02
de setembro á 02 de novembro, totalizando 16
participantes na pesquisa.
Os resultados
Os dados serão apresentados de acordo com
os objetivos propostos para este estudo.
Resultado
No gráfico 1 observamos que 68% dos
entrevis-tados eram do sexo masculino e 32% do
sexo feminino.
Segundo Fernanda [4], em seu trabalho relata
que as mulheres estão sendo afetadas por doenças
coronarianas na mesma proporção que os homens.
Até a alguns anos acreditava-se que o Infarto era mal
unicamente do sexo masculino, mas as estatísticas
provam que o sexo feminino vem morrendo cada
vez mais do que os homens de IAM. A mortalidade
hospitalar, em conseqüência do IAM em mulheres é
2,5 maior que a dos homens.
Gráfico 1 - Distribuição da freqüência dos pacientes
enfartados internados em uma UTI, segundo sexo. São
Paulo, 2001.
Coleta de dados
Elegeu-se a entrevista como técnica de coleta
de dados. Foi elaborado for mulário com 09
perguntas, não gravada, divididas somente em uma
parte e fechada a fim de saber o que o paciente
sentia na seguinte situação durante a sua internação.
As perguntas estão relacionadas abaixo:
• Quando foi comunicado que tinha sofrido um
infarto;
• Quando a enfermagem foi passar o paciente
da maca para o leito da UTI;
• Quando o profissional da área de saúde acendia
a luz enquanto o paciente dormia;
O gráfico 2 mostra que 50% dos sujeitos que
participaram da pesquisa estavam com a faixa etária
entre 30 a 50 anos.
A idade de risco para o IAM também está
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relataram que neste momento eles sentiram
a sua saúde entregue em mãos desconhecidas, em uma situação estranha (medo,
ansiedade, tristeza), sem infor mação
concreta sobre o que estava acontecendo e
o que será feito com ele.
A internação em uma UTI
promove, quase invariavelmente, um
desequilíbrio emocional no paciente. As
respostas de ansiedade, medo e
depressão nos pacientes são facilmente
observadas e estão entre os principais
diagnósticos psicológicos. A ansiedade
é uma resposta normal do ser humano
ao desconhecido, podendo-se manifestar com
baixando, 5% dos enfartados têm idade entre 30 a
estado ansioso, circunstancial e transitório,
40 anos. Negros e brancos são atingidos na mesma
caracterizada por sentimentos desagradáveis de
proporção, mas estudos comprovam que os
tensão e apreensão [5].
estados do Sul e Sudeste têm maior incidência da
É importante que o paciente familiarize-se com
doença [4].
as
rotinas
da unidade, conheça a equipe e seja
No gráfico 3, podemos observar que 80%
orientado quanto a sua situação e procedimentos,
dos entrevistados tiveram seus sentimentos
para que a ansiedade, medo e depressão comecem
alterados durante o momento que receberam sa
a ceder.
noticia do seu diagnóstico. O sujeitos da pesquisa
Inaba et al. [6], em seu estudo, concluem que
para bem cuidar é necessário “o bem comunicar”,
Gráfico 3 - Classificação do que sente o paciente
ou seja que a comunicação seja vista em toda sua
enfartado internado em uma UTI, ao ser informado do
amplitude e possibilidades, já que é a ponte que torna
seu diagnóstico. São Paulo, 2001.
comuns nossos objetivos.
No gráfico 4 podemos observar que somente
19% dos sujeitos que participaram da pesquisa não
tiveram seus sentimentos alterados durante a
passagem da maca para a cama da UTI. As
alterações de sentimento foram devido ao
desconhecimento, falta de comunicação e
orientação, levando em consideração que eles
estavam chegando em um ambiente e conhecendo
pessoas estranhas. Ferreira [7] lembra que
comunicar significa “tornar comum”, comunicar
idéias, pensamentos estabelecer relações.
O sucesso de uma boa
comunicação está em realizá-la
Gráfico 4 - Classificação do sentimento do paciente infartado,durante a
bem feita, com carinho e amor.
passagem da maca para o leito da UTI. São Paulo, 2001.
No gráfico 5, podemos
obser var que 50% sentem
indiferença ao barulho, 31 sentem
irritabilidade, 13% sentem nervosismo e 6 % ansiedade com o
barulho constante dos equipamentos ligados para monitoramento dos sinais vitais. Não
conseguiram dormir direito, pois
conversas em voz alta e barulhos
incomodaram, deixando-os às
vezes com alteração de sentimento.
Gráfico 2 - Distribuição da freqüência dos pacientes enfartados
internados em uma UTI, segundo a idade. São Paulo, 2001.
%"
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Gráfico 5 - Distribuição de freqüência dos pacientes enfartados internação
em uma UTI quanto ao sentimento causado pelo barulho dos equipamentos
hospitalares ligados. São Paulo, 2001.
Gráfico 6 - Distribuição da frequência dos pacientes enfartados internados
em uma UTI, quanto ao que sentem quando são tocados sem permissão.
São Paulo, 2001.
Gráfico 7 - Distribuição da frequência dos pacientes enfartados internados
em uma UTI, quanto ao que eles sentem quando acendem a luz durante o
seu sono. São Paulo, 2001.
Gráfico 8 - xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Porém este barulho faz com que a
equipe fique alerta, os pacientes
sentem-se cuidados.
No gráfico 6, observamos que
44% dos pacientes sentem indiferença quando o profissional da
saúde toca-lhe sem permissão, 6%
sentem irritabilidade e 25%
sentem constrangimento e 25%
nervosismo. Eles justificaram que
neste momento é como tirassem a
suas identidades, como se fossem
animais irracionais.
Fernandes [8] relata em seu
estudo que tocar a pessoa pode
constituir uma experiência desagradável, particularmente quando
não são considerados os aspectos
biopsicossociais ou humanitários
envolvidos na internação entre o ser
que toca e o que é tocado, pois
quando tocamos em alguém,
realizamos esse ato para passar algo
e para sentir algo.
Por isso que é importante antes
de tocarmos, pedirmos licença e
comunicarmos o que irá ser
realizado.
Podemos observar no gráfico
7 que 32% dos pacientes ficam
indiferentes quando acedem a luz
durante o sono do paciente, 18%
ficam nervosos e 50% sentem
irritabilidade, pois atrapalharam o
sono deles.
Observamos no gráfico 8 que
13% sentem indiferença quando é
higienizado por outra pessoa, 74%
sentem constrangimento e 13%
sentem irritabilidade.
Segundo Vorttherns [9], as
regiões mais confortáveis para serem
tocadas são as mãos, os braços,
os ombros, enquanto as demais
são consideradas inapropriadas.
Demonstra preocupação com o
controle do seu corpo, o que constitui
um valor cultural e portanto um
direito individual.
Quanto ao realizarem as
necessidades fisiológicas no lado de
outros pacientes, 44% ficam
envergonhados, 12% indiferentes e
44% constrangidos.
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Conclusão
Referências
Através desde trabalho, posso concluir que 68%
dos entrevistados eram do sexo masculino e 32% do
sexo feminino. 50% dos sujeitos que participaram da
pesquisa estavam com a faixa etária entre 30 a 50 anos,
25%, 50 a 60 anos e 25%, 60 a 80 anos. 44% dos
entrevistadas tiveram medo de morrer no momento
que receberam a noticia do seu diagnóstico. 19% dos
sujeitos que participaram da pesquisa não tiveram seus
sentimentos alterados durante a passagem da maca
para a cama da UTI. 32% dos pacientes ficaram
indiferentes quando acendem a luz durante o sono
do paciente, 18% ficam nervosos e 50 sentem
irritabilidade. 13% sentem indiferença quanto é
higienizado por outra pessoa, 74% sentem
constrangimento e 13% sentem irritabilidade. Ao
realizarem as necessidades fisiológicas ao lado de
outros pacientes, 44% ficam envergonhados, 12%
indiferentes e 44% constrangidos.
Com o resultado concluí ser importante que os
profissionais da área de saúde durante quaisquer
procedimentos evitem deixar o paciente exposto
durante o banho, necessidades fisiológicas, alimentação
e outros procedimentos. Oriente quanto aos
procedimentos que serão realizados. Enfim com este
trabalho podemos fazer intervenções para modificar
a situação, conforme a humanização da assistência.
1.
2.
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4.
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7.
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%$
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Revisão
Alterações oculares na hanseníase
Ocular alterations in the leprosy
Alteraciones oculares en la lepra
Thaís Evangelista Fernandes Brito*
*Bacharel em Enfermagem pela Universidade Estadual Vale do Acaraú, Enfermeira assistencial da Unidade
de Emergência do Hospital das Forças Armadas, Brasília DF
Resumo
As alterações oculares na hanseníase representam uma parcela considerável de casos evitáveis de cegueira. Assim, faz-se
imprescindível que o profissional de enfermagem possua conhecimentos e habilidades que lhe permitam identificar precocemente
estas alterações e instituir a assistência adequada. O presente estudo objetivou investigar a literatura existente sobre as alterações
oculares na hanseníase, bem como, descrever estas alterações e suas implicações para a enfermagem.
Palavras-chave: hanseníase, alterações oculares.
Abstract
The ocular alterations in leprosy get represent a considerable parcel of cases prevented of blindness. Thus, it becomes essential
that the nursing professional knowledge and abilities that allow to identify these alterations precociously and to institute
adequate assistance. The aim of this study was to investigate existing literature on the ocular alterations in leprosy, as well as, to
describe these alterations and its implications for nursing.
Key-words: leprosy, ocular alterations.
Artigo recebido em 7 de abril de 2003; aceito em 15 de maio de 2003.
Endereço para correspondência: QRSW 01 LT 01/202 Ed. Silco I,
Sudoeste 70675-100 Brasília DF, E-mail: [email protected]
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Resumen
Las alteraciones oculares en la lepra representan un porcentaje considerable de los casos evitables de ceguera. Así, se hace
imprescindible que el profesional de enfermería tenga capacidad y conocimientos que permitan identificar precozmente estas
alteraciones y suministrar la ayuda adecuada. El objetivo del presente estudio ha sido investigar la literatura existente sobre las
alteraciones oculares en la lepra, así como, describir estas alteraciones y sus implicaciones para el oficio de enfermera.
Palabras-clave: lepra, alteraciones oculares.
Introdução
É consensual entre os autores [1,2,3,4] a elevada
prevalência de comprometimentos oculares em
pacientes portadores de hanseníase. O cientista
norueguês Armanuer Hansen, descobridor do
Mycobacterium leprae, já referia em 1873 que “não há
doença que tão freqüentemente dá origem a lesões
oculares como a lepra” [5].
Contudo dados epidemiológicos sobre o
envolvimento ocular na hanseníase são variáveis, em
virtude dos diferentes métodos de avaliação e da falta
de padronização das pesquisas existentes. Além destas
divergências operacionais, a incidência dos
comprometimentos oculares é influenciada por vários
fatores, especialmente a forma clínica e o tempo de
evolução da doença.
Um dos raros estudos sobre o tema que utilizou
protocolo e formulário padronizados [6] envolveu
33 países onde a hanseníase é endêmica, incluindo o
Brasil. O estudo estimou que 20 a 50% dos pacientes
portadores de hanseníase apresentam alguma alteração
ocular, sendo que 10% já desenvolveram cegueira
decorrente da enfermidade. Nestes países, a hanseníase
é apontada como uma das principais causas de
cegueira na população.
Alterações oculares na hanseníase
O envolvimento ocular na hanseníase é
conhecido desde 1873, época do descobrimento do
M. leprae, e foi muito documentado em todo o
mundo até a década de 40, quando se destacaram,
no Brasil, os trabalhos de Barros [7] e Vale [8]. Nas
décadas seguintes, somente são encontrados escassos
relatos sobre o tema em compêndios especializados.
No início da década de 80, porém, as alterações
oculares causadas pela hanseníase voltaram a despertar
o interesse científico em vários países do mundo,
inclusive do Brasil, que teve o Instituto Lauro de
Souza Lima, em São Paulo, como principal expoente
no estudo e na assistência aos comprometimentos
oculares na hanseníase. Muitos dos trabalhos
publicados no Brasil, neste período, foram
desenvolvidos no referido instituto, incluindo-se os
de Cristofolini [9-12] e Vieth et al. [1].
Desde então, pesquisas vêm sendo realizadas em
todo o território nacional. Ressaltamos a escassez de
literatura de enfermagem direcionada ao tema; os
estudos existentes praticamente limitam-se a
publicações da década de 80, predominantemente
de autoria de Cristofolini [9-12], e, mais recentemente,
de Capelo [13-15]. Cintra et al. [16] ressaltam que os
enfermeiros têm subestimado seu potencial de
atuação na área de saúde ocular, deixando importantes
lacunas na assistência prestada ao paciente.
Devemos lembrar que a enfermagem
caracteriza-se pela humanização do atendimento ao
paciente e que, sob a ótica holística, em que o ser
humano é visto como um todo complexo e
indivisível, a avaliação dos comprometimentos
oculares e de suas potenciais conseqüências para o
indivíduo e sua família não podem ser negligenciadas
durante a assistência de enfermagem.
Os comprometimentos oculares na hanseníase
podem ocorrer devido a diversos mecanismos, quais
sejam: lesão causada pela infiltração do bacilo nos
olhos e anexos, ocasionando processos inflamatórios,
traumáticos e/ou irritativos [17], lesão dos troncos
nervosos, motores ou sensoriais, em especial, dos V
e VII pares cranianos – trigêmeo e facial, responsáveis
pela sensibilidade da córnea e mobilidade dos
músculos da mímica facial [2]; estados reacionais, que,
por agressão direta ou indireta, podem desencadear
inflamação dos anexos e bulbo oculares [3,18]; e utilização
de clofazimina no tratamento quimioterápico da
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hanseníase, que pode produzir alterações pigmentares
na mácula, córnea e mucosa conjuntival [19,20].
As lesões oculares hansênicas destacam-se por
sua evolução insidiosa, com pouca ou nenhuma
sintomatologia; conseqüentemente, seu diagnóstico é
tardio, quando geralmente já estão instalados quadros
graves, que levarão à diminuição progressiva da
acuidade visual ou mesmo à cegueira.
Embora a hanseníase possa comprometer quase
todas as estruturas oculares, sua predileção é pelo
segmento anterior do globo ocular, sendo raro o
envolvimento do segmento posterior, uma vez que
o microrganismo desenvolve-se melhor em baixas
temperaturas. Estudos realizados por Oréfice &
Campos [21], Talhari & Neves [22] e Vaughan &
Asbury [23] evidenciaram que a temperatura do
segmento anterior do olho é 3ºC mais fria que a
corpórea, justificando, assim, o tropismo do M. leprae
por esta estrutura.
As principais alterações causadas pela hanseníase
envolvendo estruturas oculares (cílios e supercílios,
pálpebras, aparelho lacrimal, esclera, córnea e úvea) e
suas implicações para a enfermagem são descritas a seguir.
Cílios e supercílios
A região superciliar é freqüentemente
acometida por hansenomas, infiltrados difusos,
placas reacionais e manchas. Por sua vez, a infiltração
palpebral provoca atrofia dos tecidos que apóiam
os folículos pilosos dos cílios causando a madarose,
queda dos referidos pêlos, a qual se constitui numa
alteração bastante freqüente, principalmente em
pacientes com a forma virchowiana [6].
O profissional de enfermagem deve considerar
que a madarose, além do significado estético para o
paciente, implica na perda de uma proteção natural
do olho, uma vez que os cílios atuam filtrando a poeira
e detritos em suspensão no ar, evitando que entrem
em contato com a superfície ocular, e os supercílios
desviam do olho o suor que porventura escoe da
fronte [24]. Como é de caráter permanente, o
tratamento é feito cirurgicamente através de enxertos
pediculados ou livres de couro cabeludo.
A triquíase é caracterizada pela má implantação
dos cílios, que ficam voltados para o interior do globo
ocular, causando atrito e provocando ardor, sensação
de corpo estranho, hiperemia conjuntival e
lacrimejamento. Ocorre, principalmente, devido à
presença de nódulos, cicatrizes ou lesões nas bordas
palpebrais ou, posteriormente à madarose ciliar, quando,
então, os cílios crescem em direções alteradas [1]. Uma
vez detectada a triquíase, o profissional de enfermagem
deve realizar a retirada manual dos cílios mal implantados
com o auxílio de uma pinça, lubrificar artificialmente os
olhos e adotar, como rotina, a avaliação do rebordo
palpebral. Em alguns casos, há a necessidade de
encaminhar ao oftalmologista para intervenção cirúrgica.
Pálpebras
As principais alterações palpebrais causadas pela
hanseníase são o lagoftalmo, o ectrópio e o entrópio. O
lagoftalmo pode ser classificado em inicial ou avançado.
O lagoftalmo inicial caracteriza-se pela diminuição da
força muscular no fechamento das pálpebras, podendo
ser avaliado pela presença de uma fenda palpebral de 1
a 2 mm ao fechar suavemente os olhos ou pelo teste de
força muscular. O ressecamento da córnea pode ocorrer
no lagoftalmo inicial, principalmente durante o sono,
quando o paciente permanece várias horas com o olho
ligeiramente aberto, provocando, ao levantar-se, sensação
de corpo estranho, ardor, lacrimejamento e hiperemia
conjuntival [17].
No lagoftalmo avançado ocorre a paralisia do
músculo orbicular, o paciente é impossibilitado de
realizar todos os movimentos necessários para a
lubrificação da córnea, como o piscar e o fechar
completamente os olhos (fenda superior a 2 mm),
podendo ocasionar o olho seco e posteriormente,
cegueira irreversível.
Woods [24] lembra que “quando houver
lagoftalmo estará presente o fenômeno de Bell – ao
tentar fechar os olhos o globo ocular roda para cima,
numa tentativa de colocar a córnea embaixo da
pálpebra”. O enfermeiro deve sempre atentar se o
fenômeno de Bell é completo ou incompleto – o
globo gira para cima e a seguir desce, ficando a córnea
exposta, pois nesta situação o paciente correrá risco
aumentado de perder a visão, principalmente, se
apresentar a sensibilidade corneana reduzida.
A enfermagem tem papel fundamental na
prevenção do lagoftalmo, mediante a orientação do
paciente para as seguintes práticas: lubrificação artificial
dos olhos utilizando-se colírios, pomadas oftálmicas ou
soro fisiológico; exercícios diários de fechamento das
pálpebras visando reforçar a musculatura orbicular
(pede-se ao paciente para fechar os olhos suavemente,
depois com força por 10 segundos, posteriormente,
relaxar a musculatura, abrir as pálpebras, olhar para cima
sem movimentar a cabeça, relaxar e repetir o exercício
várias vezes ao dia); proteção diurna dos olhos utilizando
óculos escuros com hastes laterais largas para reduzir a
intensidade de exposição à luz solar; proteção noturna
com oclusão dos olhos por meio de lenço limpo ou
óculos de espuma e avaliação ocular periódica [25, 26].
O entrópio e o ectrópio são posições patológicas
da pálpebra que favorecem o ressecamento da córnea.
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O entrópio é inversão da margem palpebral superior
ou inferior, provocando lacrimejamento, hiperemia
conjuntival e lesões na córnea e conjuntiva, seu
tratamento é cirúrgico [27].
O ectrópio é a eversão e desabamento da borda
palpebral superior ou inferior podendo ocorrer
somente no canto temporal ou nasal, provocando,
neste caso, a epífora, ou seja, a eversão do ponto
lacrimal. No ectrópio avançado ou completo ocorre
a eversão total da pálpebra. Como não existem meios
de prevenir o surgimento do ectrópio ou entrópio, a
enfermagem deve voltar-se para a detecção precoce
e para o tratamento paliativo, através da lubrificação
artificial e proteção ocular diurna e noturna. Para o
tratamento curativo, o paciente deve ser encaminhado
ao oftalmologista para realizar a blefaroplastia.
Aparelho lacrimal
Os pacientes portadores das formas
multibacilares da hanseníase podem apresentar
redução na produção lacrimal, principalmente os que
fazem uso de clofazimina [24]. Quando esta alteração
ocorre nos indivíduos que mantém a sensibilidade
corneana preservada, os mesmos costumam referir
sensação de ardor ocular. A enfermagem, por sua
vez, deverá orientar a lubrificação artificial dos olhos
com colírios ou soro fisiológico, atentando para a
técnica correta de instilação ocular.
Os pacientes com alterações da mucosa nasal ou
com paralisia do músculo orbicular tendem a desenvolver
a dacriocistite, em virtude da retenção das lágrimas no
saco lacrimal que favorecem a infecção por
pneumococos ou pseudomonas [24]. Os sintomas são
edema do saco lacrimal, hiperemia conjuntival e refluxo
purulento pelo ponto lacrimal. Como prevenção, o
enfermeiro deve orientar a higiene nasal com soro
fisiológico; para o tratamento, orientar a higienização
nasal e ocular e encaminhar ao oftalmologista [17].
Esclera
A inflamação da esclera ocular ou esclerite
caracteriza-se por hiperemia conjuntival localizada e dor
a movimentação dos olhos; sua evolução pode levar a
alterações funcionais e, raramente, à perda anatômica
dos olhos. Na hanseníase a afecção pode manifestar-se
sob a forma de episclerite, esclerite anterior, nodular,
difusa, uni ou bilateral, geralmente recidivante, que
acomete pacientes em tratamento ou em alta
medicamentosa [3]. A conduta de enfermagem na
esclerite é realizar higiene ocular com soro fisiológico
gelado, instilar colírios antibióticos com corticóides, sob
orientação médica, e encaminhar ao oftalmologista [17].
Córnea
O ressecamento da córnea (olho seco), muito
comum em pacientes com hanseníase, pode ser
causado pelo lagoftalmo, triquíase, ectrópio ou pela
baixa produção lacrimal. Os sintomas do olho seco
são ardor, dor, prurido, lacrimejamento, sensação de
corpo estranho, embaçamento da visão, dificuldade
na movimentação das pálpebras e produção de muco
espesso [1]. Os olhos secos são propensos a infecções
como conjuntivites, blefarites e ceratites, e a evolução
do quadro pode levar ao desenvolvimento de uma
ceratoconjuntivite seca, envolvendo a córnea e a
conjuntiva de forma crônica. A prevenção e o
tratamento são os mesmos do lagoftalmo.
A ceratite de exposição pode-se desenvolver
sempre que a córnea for inadequadamente umedecida
e protegida pelas pálpebras [27]. A fixação das
pálpebras com esparadrapo ou a colocação de um
leve tampão sobre o olho lubrificado, naqueles que
apresentam diminuição sensorial, são procedimentos
de enfermagem que ajudam a proteger a córnea.
Mesmo assim, paciente deve ser encaminhado ao
oftalmologista para um tratamento eficaz.
Com freqüência, os pacientes hansenianos são
acometidos de úlceras corneanas causadas, em geral,
por infecções, ressecamento ou traumatismos. Estas
lesões podem evoluir para cegueira e devem ser
consideradas como urgência oftalmológica, devendo
o profissional de enfermagem aplicar pomada
oftálmica no olho atingido, fazer curativo oclusivo com
gaze limpa, tendo o cuidado de fixar a pálpebra para
impedir a sua abertura sob o curativo e encaminhar ao
oftalmologista, o mais breve possível [17].
A córnea também funciona como meio
dióptrico e possui vital importância para a acuidade
visual; assim, pequenas alterações na córnea causadas
por acidentes ou enfermidades podem provocar
grandes comprometimentos na acuidade visual [28].
Estes aspectos devem ser atentados pela enfermagem
durante o exame ocular, devendo-se dar atenção
especial principalmente na busca de sinais de irritação,
corpos estranhos e inflamações não percebidas pelo
próprio paciente.
Úvea
Uma das principais causas de cegueira na
hanseníase é a uveíte [19], uma inflamação do trato
uveal, que pode afetar a íris, o corpo ciliar e a coróide.
Os pacientes com esta enfermidade queixam-se de dor,
visão embaçada, fotofobia, hiperemia conjuntival e miose.
O desconforto e a dor são causados, principalmente, por
espasmos dos músculos do corpo ciliar [28].
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A assistência de enfermagem deve ser o
encaminhamento urgente ao oftalmologista, a
orientação do paciente para a proteção ocular com o
uso de óculos escuros e o acompanhamento com
avaliação ocular periódica.
Considerações finais
Considerando que a visão é responsável por
cerca de 80% das informações perceptivas do ser
humano [29], sua perda parcial ou total, temporária
ou permanente, implica em prejuízo da qualidade de
vida do indivíduo, decorrente de distúrbios físicos,
psicológicos, sociais e econômicos. Para a sociedade,
representa encargo oneroso e perda da força de
trabalho. Na hanseníase, estes defeitos se exacerbam,
uma vez que os comprometimentos oculares,
freqüentemente, vêm associados à insensibilidade de
mãos e pés, tornando os portadores mais vulneráveis
a traumas, ferimentos e mutilações.
Esperamos que o presente estudo impulsione o
desenvolvimento de futuras pesquisas nesta área de
conhecimento, a fim de enriquecer as informações
disponíveis sobre o tema e, sobretudo, contribuir para
a melhoria da qualidade de vida das pessoas afetadas
pela doença.
Referências
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Atualização
Fitoterapia na comunidade:
realidade ou ficção?
Phytotherapy in the community: reality or fiction?
realidad o ficción?
?
Fitoterapia en la comunidad:
Maria da Graça Piva
*Doutora em Enfermagem, Professora de Enfermagem da Universidade Luterana do Brasil, Diretora da Escola de Profissionais São Francisco de
Assis, Presidente do COREN - RS.
Resumo
O trabalho aqui descrito apresenta dados sobre a utilização da Fitoterapia, terapêutica natural que utiliza plantas medicinais como
instrumento de ação. Trata especificamente sobre a participação de uma enfermeira e professora da ULBRA, nos estágios na área
de saúde comunitária do curso de Enfermagem, assim como dos critérios mínimos para que tal tratamento se desenvolva com
sucesso numa dada população. Ainda é importante ressaltar que o mesmo compreende um guia prático para a implantação de
um programa fitoterápico ao nível de saúde pública.
Palavras-chave: Fitoterapia, participação comunitária.
Abstract
This text presents data about the use of phytotherapy, a natural therapeutic that uses medicinal plants as the instrument of
action. It treats mainly about the participation of a nurse and professor of the Lutherian Brazilian University (ULBRA) in the
training of community and also about the rules for success in development of this treatment in population. It is also a practical
guide for the establishment of the phytoterapic program in a public health level.
Key-words: Phytotherapy, consumer participation..
Artigo recebido em 15 de maio de 2003; aceito em 10 de junho de 2003.
Endereço para correspondência: Maria da Graça Piva,
Escola de Enfermagem São Francisco de Assis, Rua Moreira Cesar, 2067 - 95034-000
Caxias do Sul - RS, E-mail: [email protected]
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Resumen
El trabajo aquí descripto, presenta datos sobre la utilización de la FISIOTERAPIA, terapéutica natural que utiliza plantas
medicinales como instrumento de acción. Trata específicamente sobre la participación de una enfermera y profesora de la Universidad
de Brasil (ULBRA), en las prácticas en el área de salud comunitaria del curso de enfermería, así como de los criterios mínimos para
que tal tratamiento se desarrolle con éxito en una población dada. Aún es importante resaltar que el mismo comprende una guía
práctica para la implementación de un programa fitoterapeutico al nivel de salud publica.
Palabras-clave: Fitoterapia, participación comunitaria.
Introdução
Como enfermeira e professora universitária,
portanto educadora, doutoranda em Biologia de
Sistemas e Meio Ambiente pela Universidade de Leon
(Espanha), participante dos problemas que atingem a
nossa comunidade nos aspectos relativos a educação
e saúde, questiono a minha efetiva participação nos
processos sociais.
Ao tentar descrever as atividades que desempenho
até hoje, utilizando a fitoterapia como medida alternativa
no tratamento e prevenção dos aspectos de saúde, doume conta de quanto é real a influência do enfermeiro
sanitarista, como educador e quão importante é a
realização de estágios supervisionados tanto para os
acadêmicos como para o próprio supervisor que com
ele trabalha diretamente, dentro do contexto
universitário onde atuo como professora de saúde
coletiva. Considero, portanto indispensável descrever
essas atividades, para que o próprio leitor julgue, e mais
ainda, desperte no sentido de que, um a um, pouco a
pouco, ao fazermos a nossa parte é possível obter-se
resultados inimagináveis.
“Nos locais onde a medicina tradicional é bem
assimilada pelas comunidades, faz bastante sentido
adotar as práticas tradicionais seguras e úteis, e
incorporá-las ao planejamento e implementação nos
sistemas formais de saúde. Contudo isto significa
elevar a medicina tradicional às bases científicas. Os
países devem fazer um exame crítico da ‘matéria
médica’ e das práticas locais, identificar corretamente
as plantas e outras substâncias naturais utilizadas,
decidir quais remédios e práticas são úteis e suprir
aqueles que evidentemente são eficazes ou perigosos.
Isto significa muito trabalho, mas vale a pena. É fato
inegável que no mundo atual os medicamentos à
base de plantas medicinais têm um papel vital nos
cuidados da saúde para grande parte da população
mundial, especialmente nos países em desenvolvimento;
em muitos casos esse medicamentos suprem a lacuna
entre a disponibilidade e a demanda de medicamentos
modernos” (OMS 1989).
À visão do texto acima associa os objetivos
iniciais que me levaram a trabalhar com plantas
medicinais: como atuante da área de saúde junto
às comunidades carentes, deparei-me com o
problema de carência de recursos econômicos, bem
como a falta de acesso aos serviços de saúde e, ainda
hoje, vejo-me frente a uma realidade incontestável:
a baixa resolutividade no atendimento à saúde
da população.
Desenvolvimento
Um estudo sistemático com as plantas
medicinais vem sendo desenvolvido, por mim, desde
1987, incluindo, como já foi exposto, um trabalho
comunitário. Neste período detectei como etapas
importantes, para o sucesso das ações de saúde
quando da utilização de fitoterapia, na prevenção de
doenças e na promoção da saúde pública, as quais
cito nos parágrafos abaixo:
• Estudo das plantas de maior incidência de
utilização pela população de minha comunidade,
incluindo aquelas existentes nos jardins das casas,
apartamentos ou comumente usadas como
temperos;
• Identificação visual das plantas citadas acima;
• Definição das indicações mais freqüentes das
plantas em relação às patologias, isto é, as mais
indicadas para problemas no aparelho respiratório,
circulatório, digestivo, entre outros;
&!
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• Determinação das formas de utilização mais
comuns das plantas medicinais, incluindo a relação
da eficácia com a manipulação ou preparo das
mesmas. Observamos que as pessoas costumam
utilizar misturas de plantas antagônicas ou
homônimas, que podem potencializar ou anular o
efeito de uma planta medicinal. Também verificamos
que uma mesma planta, se utilizada erroneamente (a
folha em vez da casca, a infusão em vez da
maceração ou uma dosagem inconveniente para a
idade e para o problema que se quer combater)
poderá perder totalmente a sua eficácia. Dentro deste
aspecto, salientamos ainda que a população também
utiliza as plantas medicinais mais comumente sob
for ma de infusão, maceração e decocção,
desconhecendo que as mesmas têm muitas outras
formas de preparo, como por exemplo: banhos,
tinturas, inalações, compressas, cataplasmas e até
mesmo no chimarrão.
Dentro desse trabalho devemos, ainda, levar em
conta o estado de conservação das espécies medicinais
antes de serem utilizadas, a respeito do tempo de
validade da mesma, assim como o local de procedência,
enfim, todos os fatores que independentes ou
associados podem interferir direta ou indiretamente
na eficácia do medicamento in natura.
Nesta etapa da pesquisa completa-se a
identificação visual das plantas, determinadas pelos
grupos em estudo, incluindo o estudo morfológico e
uma exaustiva revisão bibliográfica das mesmas.
Também se deve buscar esclarecer os diferentes
nomes populares ou indicações que encontra-se para
uma mesma planta medicinal, impedindo que as
pessoas sejam ludibriadas ao adquirir e utilizar os
diferentes fitoterápicos.
Questionamentos principais
Para que essas etapas possam se concretizar com
maior rapidez e eficácia devem preceder as tarefas
acima o seguinte questionamento:
Como avaliar ou realizar um estudo
etnobotânico da comunidade onde vivo ou trabalho?
Sugiro seguir as indicações a seguir:
• Identificar os profissionais que gostem do tema,
para juntos trabalharem o assunto, organizando ou
participando de cursos a fim ou estruturando grupos
de estudo (auto-didatas) com bibliografia atual;
• Organizar, no local de trabalho, “salas de
espera”: reunião informal de clientes que, enquanto
aguardam atendimento de saúde, possam falar
sobre o assunto em questão, aproveitando para
identificar os “herboristas” ou “curandeiros” da região,
captando-os para que atuem junto aos profissionais
de saúde com seu conhecimento popular; reconhecer
e divulgar o tema entre os presentes, que servirão de
multiplicadores, mesmo que nem todos fiquem
membros efetivos do grupo que se pretende formar;
realizar entrevistas individuais, preferencialmente nas
casas dos conhecedores do assunto, determinando o
perfil dos mesmos e buscando o resgate do
conhecimento popular. São importantes as visitas
domiciliares: elas favorecem o intercâmbio entre os
profissionais e a comunidade, identificando as espécies
botânicas medicinais utilizadas pela mesma, coletando
eccicatas (amostras) e mudas, aproveitando para
divulgar o trabalho a ser desenvolvido no local de
origem do entrevistador:
• Para a realização de entrevistas domiciliares
sugiro modelo de questionário do anexo I;
• Organizar bibliografia para consulta na própria
unidade de trabalho, com auxílio dos clientes;
• Incentivar formação de grupos que trabalhem;
Plantio de mudas das referidas plantas,
organizando o “horto medicinal local”;
• Confecção da “farmácia caseira”, em que o
cliente aprende a limpar, separar, guardar e identificar
corretamente as plantas coletadas, deixando parte delas
na unidade de saúde, para que outros tenham acesso
ao tratamento. Neste item incluem-se o preparo e
manuseio de fórmulas caseiras simples como:
pomadas, xaropes, tinturas, etc;
• Organizar o “Manual da Comunidade, sobre
as plantas medicinais” por eles utilizadas, registrando
assim todo o trabalho desenvolvido;
• Oferecer a consulta de enfermagem, por
patologia, com ficha de identificação e acompanhamento, para posterior controle de casos; em
relação à eficácia do tratamento;
• Proporcionar a troca de experiência com
outros grupos de objetivos idênticos, como
instituições de saúde, escolas, fundações, etc;
• Filmar e fotografar as pessoas e os trabalhos
desenvolvidos, completando assim o registro de todo
o trabalho desenvolvido;
• Divulgar o trabalho entre “colegas” (equipe
multiprofissional) para reconhecimento do mesmo e
valorização através de encaminhamentos;
• Estimular a divulgação externa, para auxiliar
no desenvolvimento de pesquisas na área.
Conclusão
No decorrer do trabalho, ao utilizar o tratamento
fitoterápico, surpreendi-me com a eficácia obtida, além
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de que, esse tipo de terapia estimula a cura através do
auto-cuidado, o qual fazia parte também de minhas
prioridades.
Atualmente, buscando a conclusão da tese de
Doutorado, na qual estou realizando um aprofundamento
científico do tema, através de um estudo Etnobotânico
das Plantas Medicinais mais utilizadas pela comunidade
italiana da região da serra gaúcha, objetivo a recuperação
do patrimônio cultural e viso à melhoria da qualidade
de vida da população em geral.
Através desta investigação também pretendo
obter uma diferenciação entre as plantas aclimatizadas,
isto é, trazidas por colonizadores, daquelas nativas do
estado, uma vez que pouco se escreve sobre o uso
medicinal de nossa flora. Com o desenvolvimento e
ampliação de meus conhecimentos etnobotânicos
(plantas utilizadas por determinadas populações),
poderei colaborar de forma mais efetiva no
reconhecimento da fitoterapia como terapêutica
natural de tratar a saúde da população, e, assim atingir
o objetivo inicial descrito neste trabalho:
• Proporcionar as comunidades um maior
conhecimento sobre saúde, desenvolvendo o auto
cuidado, dando o devido valor ao conhecimento
popular, através da identificação de fitoterápicos
tradicionalmente utilizados pelo nosso povo no
tratamento de algumas doenças. Com isso obtendo
a diminuição dos custos em relação à terapêutica
tradicional, na busca de harmonia com a tradição
popular, estabelecendo a relação entre o que é
crença e o que é eficaz. Assim tornaremos os
serviços de saúde pública mais factíveis e eficazes,
diminuindo a distância imposta pelo saber dos
profissionais de saúde, até então o único com
reconhecimento científico, mais amplo e próximo
da nossa realidade social.
• Divulgar o conhecimento popular de forma
organizada, se possível, com constatação científica
laboratorial, registrando-o de forma que o mesmo se
perpetue, independente da existência ou não de pessoas
que detenham o conhecimento atual, evitando uma
perda considerável de informações, muitas delas
eficazes a ponto de prevenir e curar enfermidades.
E em suma, obter a integração dos conhecimentos
científicos e populares, atingindo a finalidade última,
que é a praticidade da ciência em função da melhoria
das condições da vida do homem.
Referências
1.
2.
3.
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metodológicos para pesquisa, garrafada, objeto de
pesquisa, componentes medicinais de origem vegetal,
animal e mineral. São Paulo: Almed; 1985.
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Bosquet M. Ecologia y revolución. 1 aed. Buenos Aires:
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Traduzido por Luiz Roberto de Oliveira et al. São
Paulo: Universidade Estadual Paulista / Fundação
para o desenvolvimento da UNESP/HUCITEC;
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estúdio, cultivo y processado. Madrid: Mundi-Prensa;
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condimentares e aromáticas: descrição e cultivo. Guaíba:
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Ervas e Temperos: 180 plantas medicinais e aromáticas.
São Paulo: Guia Rural; 1991.
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Parramón; 1984.
Last J. What is Clinical Epidemiology? J Public Health
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Silva I, Franco SL et al. Noções sobre o organismo
humano e utilização de plantas medicinais. Cascavel:
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Simões CMO, Mentz LA, Schenkel EP et al. Plantas
da medicina popular no Rio Grande do Sul. Porto
Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do
Sul; 1996.
Zurlo C, Brandão M. As ervas comestíveis: descrição,
ilustrações e receitas. Rio de Janeiro: Globo; 1989. ¡
&#
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185
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EnfermagemBrasil
Maio / Junho 2003;2(3)
Anexo I
Questionário Modelo
Ficha de avaliação do uso de plantas medicinais em uma comunidade:
1.Você usa chá como remédio?
( ) Sim
( ) Não
2.Quais as plantas medicinais que mais utiliza na sua vida diária e para que servem?
Nome
Indicação
a)
a)
b)
b)
c)
c)
d)
d)
e)
e)
f)
f)
g)
g)
h)
h)
2.1Outras:
3. Quem o ensinou a usar as plantas?
4. Costuma ter algumas espécies plantadas no seu jardim?
( ) Sim
( ) Não
Cite algumas:
5. Como se prepara um chá?
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EnfermagemBrasil
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Publicações
Práticas de Enfermagem é uma nova coleção com 6 volumes publicados, voltada para a formação
profissional e a educação continuada de profissionais técnicos e de nível superior, da renomada
Profª. Drª. Nébia Maria Almeida de Figueiredo (Diretora do Departamento de Pós-Graduação da
Universidade do Rio de Janeiro - UNIRIO), com a colaboração de Doutores e Mestres profissionais
de enfermagem e de ciências da saúde (Edição Difusão Paulista de Enfermagem – www.dufusaoonline.com.br) – Cada volume 300 a 400 páginas (aprox.)
Administração de Medicamentos
vem atender a todos os que
necessitam aprender as noções
básicas do assunto de maneira
aprofundada ou mesmo aqueles
que necessitam reciclar os
conhecimentos fundamentais de
enfermagem, posicionando o
profissional de enfermagem
dentro do contexto correto de
suas responsabilidades diante da
sociedade e dos demais
Ensinando A Cuidar de
Clientes em Situações Clínicas
e Cirúrgicas ajudará a preencher
os conhecimentos e a atualizar a
demanda existente na área de
enfermagem. Aborda cuidados
específicos em relação a clientes
de enfermagem, utilizando a
semiologia própria desta função
para situar seus profissionais
nos mais diversos cenários de
cuidados clínicos e cirúrgicos.
Ensinando a Cuidar da
Mulher, do Homem e do
Recém-nascido ensina as
técnicas de cuidados nas diversas
situações que envolvem a mulher
e o recém-nascido. Aborda a
enfermagem Obstetrícia e Ginecológica, descrevendo a mulher
em seu ciclo reprodutivo, como
retrato de um ser biomédico que
necessita de cuidados especiais.
Por fim, esta obra ainda apresenta
o contraponto a esse universo do
cuidado materno-infantil, que é o
cuidar do corpo do homem.
Fundamentos, Conceitos,
Situações e Exercícios ajudará a
responder a demanda do moderno sistema social globalizado. Os
autores vão muito além do ensino
e da técnica pura e simplesmente,
fazem com que o leitor descubra
sua infinita potencialidade realizadora, anexando a enfermagem aos
processos sociais, enfatizando a
importância da interdisciplinaridade no mercado de trabalho e
assim, indicando o caminho certo
para o exercício desta profissão
com desenvoltura e competência.
Ensinando a Cuidar de Crianças
trata do cuidado voltado à criança
em duas fases: durante o processo
patológico e gozando da boa
saúde. Destina-se a todos os
profissionais de enfermagem que
buscam constante atualização,
pois cuidar de criança requer
carinho, atenção e muito
conhecimento.
Ensinado a Cuidar em Saúde
Pública aborda fundamentos e
bases práticas para cuidar de
clientes nas mais diversas situações,
bem como instrumentos e
modelos usados para gerenciar o
ensino e o cuidado. Abordando
de maneira didática e fácil de
entender, assuntos fundamentais
para a prática de enfermagem.
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EnfermagemBrasil
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Normas de publicação Enfermagem Brasil
A revista Enfermagem Brasil é uma publicação com
periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e
divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à
Enfermagem.
Os artigos publicados em Enfermagem Brasil poderão
também ser publicados na versão eletrônica da revista
(Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CDROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela
publicação na revista os autores já aceitem estas condições.
A revista Enfermagem Brasil assume o “estilo
Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted to
biomedical journals, N Engl J Med. 1997; 336(4): 309-315)
preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de
Revistas Médicas, com as especificações que são detalhadas a
seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos
Uniformes no site do International Committee of Medical
Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada
de outubro de 2001.
Os autores que desejarem colaborar em alguma das
seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo
eletrônico/e-mail) para nossa redação, sendo que fica
entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que
será notificado ao autor.
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas
ou retorno de acordo com a circunstância, realizar
modificações nos textos recebidos; neste último caso não se
alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao
estilo literário.
1. Editorial
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico,
ou por um de seus membros.
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato
A4 em corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times
(Times Roman) com todas as formatações de texto, tais
como negrito, itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve
conter mais que dez referências.
2. Artigos originais
São trabalhos resultantes de pesquisa científica
apresentando dados originais de descobertas com relação
a aspectos experimentais ou observacionais, e inclui análise
descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua
estrutura é a convencional que traz os seguintes itens:
Introdução, Material e métodos, Resultados, Discussão
e Conclusão.
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12
páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman)
tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como
negrito, itálico, sobre-escrito, etc.
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no
formato Excel/Word.
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas
(formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em
Power-Point, Excel, etc.
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências
bibliográficas.
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos
serão o de rigor metodológico científico, novidade,
originalidade, concisão da exposição, assim como a
qualidade literária do texto.
3. Revisão
Serão os trabalhos que versem sobre alguma das
áreas relacionadas à Enfermagem, que têm por objeto
resumir, analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de
investigação já publicados em revistas científicas. Quanto
aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos
originais.
4. Atualização ou divulgação
São trabalhos que relatam informações geralmente
atuais sobre tema de interesse dos profissionais de
Enfermagem (novas técnicas, legislação, etc) e que têm
características distintas de um artigo de revisão.
5. Relato de caso
São artigo de dados descritivos de um ou mais casos
explorando um método ou problema através de exemplo.
Apresenta as características do indivíduo estudado, com
indicação de sexo, idade e pode ser realizado em humano
ou animal.
6. Comunicação breve
Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos,
com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem
observações, resultados iniciais de estudos em curso, e
inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na
revista, com condições de argumentação mais extensa que
na seção de cartas do leitor.
Texto: Recomendamos que não seja superior a três
páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman)
tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como
negrito, itálico, sobre-escrito, etc.
Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel
e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam
ser editados em Power Point, Excel, etc.
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15
referências bibliográficas.
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5. Resumos
Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e
artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo
do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de
outros idiomas.
6. Correspondência
Esta seção publicará correspondência recebida, sem
que necessariamente haja relação com artigos publicados,
porém relacionados à linha editorial da revista.
Caso estejam relacionados a artigos anteriormente
publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho
antes de se publicar a carta.
Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as
especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas
ou figuras.
PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
1. Normas gerais
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em
processador de texto (Word), em página de formato A4,
formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman
(English Times) tamanho 12, com todas as formatações de
texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc.
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas
para cada tabela junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo
com as especificações anteriores.
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais
coloridas, e com resolução de qualidade gráfica (300 dpi).
Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos
.tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo,
introdução, material e métodos, resultados, discussão,
conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável
pela tradução do resumo para o inglês e também das
palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em
arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para
os artigos enviados por correio em mídia magnética
(disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar
com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo,
data e autor.
2. Página de apresentação
A primeira página do artigo apresentará as seguintes
informações:
- Título em português, inglês e espanhol.
- Nome completo dos autores, com a qualificação
curricular e títulos acadêmicos.
- Local de trabalho dos autores.
- Autor que se responsabiliza pela correspondência,
com o respectivo endereço, telefone e E-mail.
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40
toques, para paginação.
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe,
aparelhos, etc.
3. Autoria
Todas as pessoas consignadas como autores devem
ter participado do trabalho o suficiente para assumir a
responsabilidade pública do seu conteúdo.
O crédito como autor se baseará unicamente nas
contribuições essenciais que são: a) a concepção e
desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a
redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante
de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão
que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente
as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na
obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a
participação como autor. A supervisão geral do grupo de
pesquisa também não é suficiente.
Os Editores podem solicitar justificativa para a
inclusão de autores durante o processo de revisão do
manuscrito, especialmente se o total de autores exceder seis.
4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words)
Na segunda página deverá conter um resumo (com
no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e
200 palavras para os estruturados), seguido da versão em
inglês e espanhol.
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes
informações:
- Objetivos do estudo.
- Procedimentos básicos empregados (amostragem,
metodologia, análise).
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e
estatísticos).
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior
novidade.
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavraschave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão
utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores
em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que
se encontra no endereço Internet seguinte: http://
decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os
descritores existentes.
5. Agradecimentos
Os agradecimentos de pessoas, colaboradores,
auxílio financeiro e material, incluindo auxílio
governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem
ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em
uma secção especial.
6. Referências
As referências bibliográficas devem seguir o estilo
Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências
bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos
entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem
no texto, seguindo as seguintes normas:
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor,
letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto,
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Maio / Junho 2003;2(3)
In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título
do livro (em grifo - itálico), ponto, local da edição, dois
pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto,
páginas inicial e final, ponto.
com a lista das revistas nacionais, disponível no site da
Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser
citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6,
colocar a abreviação latina et al.
Exemplo:
1. Phillips SJ. Hypertension and Stroke. In: Laragh JH,
editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management.
2nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78.
Exemplo:
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression
and localization of urokinase-type plasminogen activator
receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20.
Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s)
autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem
espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista
ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do
volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final,
ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das
revistas são abreviados de acordo com o Index Medicus,
na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus ou
Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
Jean-Louis Peytavin
Atlantica Editora
Rua da Lapa, 180/1103 - Lapa
20021-180 Rio de Janeiro RJ
Tel: (21) 2221 4164
E-mail: [email protected]
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EnfermagemBrasil
Maio / Junho 2003;2(3)
Calendário de eventos
2003
julho
13 a 18 de julho de 2003
Educação, ciência e tecnologia
para a inclusão social
55º Reunião Anual da SBPC Sociedade para o Progresso da Ciência
Universidade Federal de Pernambuco - Recife PE
E-mail: [email protected]
25 a 27 de julho de 2003
8o Congresso brasileiro multiprofissional e multidisclinar
em diabetes
UNIP, Av Marques de São Vicente, 3001 São Paulo
Informações: ANAD
www.anad.org.br
Tel: (11) 5549 6704/6559
29 de julho a 2 de agosto de 2003
VIIo Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva
Associação Brasileira de Pós-Graduação
em Saúde Coletiva – ABRASCO
Campus da Universidade de Brasília (UnB), Brasília DF
Informações: [email protected]
agosto
2 a 5 de agosto de 2003
6º Congresso Brasileiro de Enfermagem Centro Cirúrgico,
Recuperação Anestésica e Centro de Material e Esterilização
Centro de Convenções Rebouças-SP
Informações: SOBECC
Tel: (11) 3341-4044
www.sobecc.org.br
5 a 7 de agosto de 2003
Simpósio Internacional: Inovação e Difusão
do Conhecimento em Enfermagem
Centro de Convenções Rebouças-SP
Informações:
Tel: (16) 602.3386 com Carla Arantes
E-mail: [email protected]
Tel: (16) 602-3444 com Valéria
E-mail: [email protected]
http://www.eerp.usp.br
7 a 9 de agosto de 2003
XII Congresso da Sociedade Brasileira de Hipertensão
Piramîde Palace Hotel, Natal RN
Tel: (84) 234 6175
E-mail:[email protected]
14 a 16 de agosto
V Congresso Sudeste de Terapia Intensiva e IX Congresso
de Terapia Intensiva do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Convenções do Hotel Glória-Rio de Janeiro-RJ
Informações e inscrições:
(21) 2512-9930 / 2249-1119
www.informed-eventos.com.br
setembro
1º Congresso Nordestino de Conselhos de Enfermagem
Informações: Tel: (83) 221-8758
E-mail: [email protected]
8 a 12 de setembro de 2003
6o CBCENF – Congresso Brasileiro
dos Conselhos de Enfermagem
Florianópolis – SC
Informações: www.cbcenf.com.br
novembro
10 a 15 de novembro de 2003
55º CBEn - Congresso Brasileiro de Enfermagem
11º CPEn – Congreso Panamericano de enfermería
Informações: ABEn Rio de Janeiro
Av. Pres. Vargas 590/418, 20071-000 Rio de Janeiro RJ
Tel: (21) 2263 5471/2516 9496
E-mail: [email protected]
26 a 30 de novembro de 2003
XIVº Congresso Brasileiro de Diabetes
Centro de Convenções - Goiânia GO
Informações: Evento All – Av. República do Líbano, 1914/
sala 17
Setor Oeste 74115-070 Goiânia GO
Email: [email protected]
XIX Curso de Extensão na Área de Enfermagem
Clínica e Cirúrgica
18 de agosto a 23 de dezembro de 2003
Inscrições: Inícia dia 01 de julho até 31 de julho de
2003 de 08:00 às 15:00 horas.
Clientela: Técnicos e Auxiliares de Enfermagem com
Registro no COREN
Idade Mínima: 18 anos
Taxa de inscrição: R$30,00
Documentos necessários:Original e cópia do
certificado ou declaração de conclusão do curso de
Aux. ou Téc. de Enfermagem e registro do COREN.
Seleção: Prova Escrita (Classificatória) no dia 06 de
agosto de 2003 (Eliminatória)
Funcionários do HU isentos de taxa de inscrição.
Informações e Inscrições: Hospital Universitário
Clementino Fraga Filho - Serviço de Treinamento
e Desenvolvimento
Profº Rodolpho Paulo Rocco s/nº- Ilha do Fundão - sala
1 D42 - 1º andar
Tel/Fax: (21) 590-6745 ou 2562-2228
Horário 8h s 15h.
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EnfermagemBrasil
Julho / Agosto 2003;2(4)
Enfermagem
Brasil
Índice
Volume 2 número 4 - Julho / Agosto de 2003
E DITORIAL
Valorização e reconhecimento da Enfermagem, Maria da Graça Piva ................................................ 195
A RTIGOS ORIGINAIS
Autocuidado domiciliar em HIV/SIDA e o cuidado de enfermagem,
Daniela de Oliveira Matias, Elaine Lopes da Silva, Elaine Sant’ Ana Alves , Rita Batista Santos .................. 197
Depressão em pacientes hospitalizados com infarto do miocárdio,
Simone Maria Muniz da Silva Bezerra, Carlos Alberto Domingues Nascimento,
Suely Angelo Matias, Fabíola Vera de Oliveira Lins ........................................................................................ 206
A importância do aleitamento materno na visão das mães, Mislene Maldonado dos Santos,
Maria Rita Vieira Rodrigues .................................................................................................................................. 212
Risco de suicídio: um cuidado de enfermagem, Rosane Beatriz Lucena Saccaro ............................. 219
Níveis de estresse da equipe de enfermagem do serviço de Pronto-Socorro
do Hospital Heliópolis em 2003, Maria Luisa Nishiwaki, Lourdes Margareth Leite Pizzoli,
José Ronaldo Soares da Silva ................................................................................................................................ 233
Uma avaliação diagnóstica do tipo de liderança dos enfermeiros de um Hospital Estadual,
Geraldo Magela Salomé, Roberto S. Camargo, Cleide Aparecida Guerra................................................. 240
REVISÕES
Assistência de enfermagem ao paciente submetido à intervenção coronariana percutânea,
Séfora Magaly da Cunha Diniz Hamada, Thais Evangelista Fernandes Brito ............................................ 246
Assistência de enfermagem ao paciente submetido ao desmame ventilatório: revisão
da literatura, Caroline Davanso Dutra, Mariana Alvina dos Santos, Pedro Marco Karan Barbosa ...... 251
NORMAS DE PUBLICAÇÃO. ............................................................................................................. 257
PUBLICAÇÃO . .............................................................................................................................................. 259
CALENDÁRIO DE EVENTOS.............................................................................................................. 260
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EnfermagemBrasil
Julho / Agosto 2003;2(4)
EDITOR CIENTÍFICO - PRESIDENTE DO CONSELHO CIENTÍFICO (2003-2004)
Profa. Dra. Maria da Graça Piva (ULBRA -RS)
EDITORIALISTA
Gilberto Linhares Teixeira
CONSELHO CIENTÍFICO
Prof. Dr. Carlos Bezerra de Lima (UFPB – Paraíba)
Profa. Dra. Clarice Heiko Muramatsu (USP – São Paulo)
a
a
Prof . Dr . Margarete Rego (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Maria Helena da Silva Nery (UFRGS – Rio Grande do Sul)
Profa. Dra. Rita Batista Santos (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Rita de Cássia Tapié Martins (USP – São Paulo)
Prof. Dr. Sérgio Ribeiro dos Santos (UFPB – Paraíba)
Profa. Dra. Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler (FAMERP – São José do Rio Preto – São Paulo)
GRUPO DE ASSESSORES
Profa Ms. Andréia Saccol Lourenço (Escola Técnica de Enfermagem São Francisco – Rio Grande do Sul)
Profa Ms. Dóris Maria Volquind (Clínica de Florais de RAFF – Rio Grande do Sul)
Profa Ms. Dulce Dirclair Huf (UFMS – Mato Grosso do Sul)
a
Prof Ms. Gisele Cristina Tertuliano (Secretária Municipal de Saúde de Cachoerinha – Rio Grande do Sul)
Profa Ms. Hortência Maria de Santana (COREN – Sergipe)
a
Prof Ms. Louize Maria Holtz Santos de Oliveira (COFEN – Sergipe)
Profa Ms. Sonia Maria Ponciano dos Santos (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro)
Profa. Ms. Almerinda Moreira (Escola de Enfermagem Alfredo Pinto – UniRio – Rio de Janeiro)
Rio de Janeiro
Rua da Lapa, 180/1103
20021-180 - Rio de Janeiro - RJ
Tel/Fax: (21) 2221-4164 / 2517-2749
e-mail: [email protected]
www.atlanticaeditora.com.br
São Paulo
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01037-010 - São Paulo - SP
Tel: (11) 3362-2097
Assinaturas 6 números ao ano
1ano: R$ 108,00
Rio de Janeiro: (21) 2221-4164
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(11) 3361-5595
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Editor assistente
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Editoração e arte
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Gerente comercial
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(Todo o material a ser publicado deve
ser enviado para o seguinte endereço)
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São Paulo
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Ilustração da capa: Anjo com espiga, Anônimo, séc. XVII, óleo sobre tela, (161,3 x 109,2 cm), Igreja de Calamarca, La Paz.
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EDITORIAL
Valorização e reconhecimento
da Enfermagem
VI Congresso Brasileiro dos Conselhos
de Enfermagem – Florianópolis 2003
Maria da Graça Piva
Editor científico
De 8 a 12 de setembro, mais uma vez,
enfermeiros de todo Brasil, do Mercosul,
estudantes de Enfermagem, estarão reunidos em
Congresso que terá como sede a cidade de
Florianópolis, em Santa Catarina.
Todo Congresso tem como objetivo
possibilitar melhoramentos para a classe, tanto
no sentido de formação como de informação.
O que este, que agora se realiza, também
trará como retorno aos participantes?
A resposta desta pergunta está contida na
própria participação de cada congressista no
evento.
Em primeiro lugar, cada um deve
conscientizar-se que o Congresso é uma
organização política e que urge que a
Enfermagem se organize “politicamente”,
levando em consideração que ela é contumaz em
não envolver-se em processo de seleção para
representação de sua própria classe.
Razão desta omissão talvez seja o papel assumido
historicamente pelo enfermeiro de ser “o bom
samaritano”, o doador que não espera retorno,
sem voz para chamar contra o erro e sem espaço
para ocupar.
Infelizmente, o que se tem notado em
congressos ou quaisquer outros eventos em que
reúnam a equipe de enfermagem é que eles
formam “bandos” conforme seus interesses e
preferências pessoais, fecham-se, não se
incorporam em grupos com um objetivo a
debater, com um traçado de metas a alcançar.
É necessário que o enfermeiro se valorize
mais, muito mais.
Do Congresso Internacional de
Enfermagem realizado em Genebra trouxemos
esta visão:
“Nossos esforços recíprocos asseguram
que a profissão de Enfermagem é altamente
valorizada em toda parte e adequadamente
utilizada, reconhecida, recompensada e
representada em todo o sistema de atenção da
saúde. Nossa mais alta recompensa é o
conhecimento certo de que nosso trabalho está
modelando um futuro de pessoas sadias em um
mundo saudável”.
Se é este reconhecimento que o enfermeiro
espera o Congresso de setembro de 2003 é o
momento em que todos os profissionais
presentes nele devem assumir-se como
responsáveis por uma modificação urgente na
visão construída até agora e que está muito em
desacordo com aquela apresentada em Genebra.
Exemplo disto é que nela se diz que a
profissão de Enfermagem é altamente valorizada
em todas as partes do mundo, enquanto aqui,
quando as organizações de saúde pensam em
reduzir gastos os primeiros cortes previstos são
nos recursos destinados à Enfermagem.
O que se pode fazer?
O profissional da Enfermagem precisa
estruturar-se, ser autêntico em suas reivindicações,
reclamar, fundamentar suas propostas, assumir
o que disser, não em “grupinhos”, mas no grande
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grupo porque o Congresso não é para ser
individual, mas para ser o instrumento do
pensamento da classe.
Além disto, o Congresso deve ser uma
oportunidade para que todos seus participantes
se atualizem, realizem intercâmbio de suas
vivências, tomem conhecimento de resoluções
para muitos desconhecidas e por isso, não postas
em prática.
A enfermagem precisa conscientizar-se que
sua missão é conduzir a nossa sociedade a uma
saúde melhor. Sua atuação faz parte de uma
estratégia correta para enfrentar a desigualdade, a
violência e a injustiça que marcam fortemente o
Brasil. Ele não pode deixar-se ficar como
assistente deste processo que degrada a sociedade,
nem passivamente tornar-se parte dele. Precisa
agir para que mudanças venham a acontecer. E a
primeira delas é quanto ao seu modo de ser. No
momento em que ela conscientizar-se da grandeza
e, ao mesmo tempo, da responsabilidade que a
missão da enfermagem lhe traz, sua participação
neste Congresso de Florianópolis terá uma razão
de ser e ele sentirá que não é um ser isolado. Será
sim um elo numa grande cadeia que, se atuar
organizada e politicamente, colocará a
Enfermagem, no lugar que por sua importância,
lhe deveria ter sido sempre assegurado.
A Revista Enfermagem Brasil é um dos
espaços políticos para reivindicar científica e
politicamente as grandes lutas que a categoria deve
abraçar.
Lute, mas lute sim, pelo que vale a pena.
Não seja levado por impulsos momentâneos, nem
busque promover pessoas. Nós merecemos
muito mais!
Use sua consciência política. Não deixem
que a usem por você!
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Artigo original
Autocuidado domiciliar em HIV/SIDA e o
cuidado de enfermagem
Home assistance in HIV/AIDS and nursing care
Asistencia domiciliar en HIV/SIDA y cuidado de enfermería
Daniela de Oliveira Matias*, Elaine Lopes da Silva*, Elaine Sant’ Ana Alves*, Rita Batista Santos**
Acadêmicas em Enfermagem da EEAN/UFRJ, **Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Profa Adjunto do Departamento de Enfermagem
Médico-Cirúrgica da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro
*
Resumo
Trata-se de um estudo de caso qualitativo sobre o autocuidado dos pacientes com hiv/sida em assistência domiciliar. Os
objetivos traçados foram descrever o desenvolvimento do autocuidado, a partir do cuidado de enfermagem e verificar as
modalidades de autocuidado. A coleta de dados deu-se no mês de dezembro de 2002, mediante a observação dos prontuários
dos pacientes do PADI – Programa de Atendimento Domiciliar Interdisciplinar, com quatro sujeitos, sendo dois homens e
duas mulheres, com idades entre 22 e 77 anos. A organização dos dados e a revisão crítica sobre o tema subsidiaram a
elaboração de categorias: autocuidado, renda, grau de escolaridade, estado civil, importância do autocuidado em relação à
adesão ao tratamento, relação dos hábitos de vida e estado emocional com o autocuidado, características dos cuidadores,
locomoção ao hospital e condições de moradia. As categorias foram interpretadas pela técnica de análise temática, conformando
a importância do atendimento e sua importância no contexto social.
Palavras-chave: atendimento domiciliar, HIV/AIDS, autocuidado.
Artigo recebido em 9 de junho de 2003; aceito em 1 de agosto de 2003.
Endereço para correspondência: Profa Dra Rita batista Santos,
Escola de Enfermagem Anna Nery, Rua Afonso Cavalcanti, 275 Cidade Nova
20211-110 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 2293-8098, E-mail: [email protected]
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Abstract
This work is a qualitative case study concerning the HIV/SIDA patients self-care in domiciliary assistance. The main objectives
is to describe the development of the self-care, from the nursing care and to verify the self-care modalities. The collection of
data took place in December 2002, by means of the comment of patients records of four citizens of PADI (Program of
Domiciliar Interdisciplinar Assistance), two men and two women were evaluated, age range between 22 and 77 years. The
data organization and critical revision of the subject help to elaborate following categories: self-care, income, school degree,
maritus state, self-care importance in relation to adherence to treatment, report of life habits and emotional state, characteristics
of the assistants, locomotion to the hospital and conditions of housing. The categories had been interpreted by the thematic
analysis technique, conforming the importance of attendance and its importance in the social context.
Key-words: domiciliary assistance, HIV/AIDS, self-care.
Resumen
Se trata de un estudio cualitativo, al respecto del autocuidado de los pacientes con HIV/SIDA durante la asistencia domiciliar.
Los objetivos fueron describir el desarrollo del autocuidado, a partir del cuidado de enfermería y verificar las modalidades de
autocuidado. La colecta de datos se dio en el mes de diciembre, mediante la observación de los registros de los pacientes del
PADI (Programa de Asistencia Domiciliar Interdisciplinar), con cuatro sujetos, siendo dos hombres y dos mujeres, edad entre
22 y 77 años. La organización de los datos y la revisión crítica sobre el tema ayudaron la elaboración de categorías: autocuidado,
renta, grado de escolaridad, estado civil, importancia del autocuidado en relación a la adhesión al tratamiento, relato de los
hábitos de vida y estado emocional con el autocuidado, características de los cuidadores, locomoción al hospital y condiciones de
vivienda. Las categorías fueron interpretadas por la técnica de análisis temática, confirmando la importancia de asistencia y su
importancia en el contexto social.
Palabras-clave: asistencia domiciliar, HIV/SIDA, autocuidado.
Introdução
O sistema de saúde brasileiro está passando por
uma séria crise econômica, que afeta diretamente a
qualidade da assistência prestada à população e a oferta
de leitos. Dentro desse cenário surge a proposta da
Assistência Terapêutica, como forma de repensar o
modelo de assistência oficial, ao propor cuidar do
doente em casa. O PADI busca a humanização e
individualização do atendimento, tendo como
pressuposto uma visão integral do homem.
A Assistência Domiciliar Terapêutica é
compreendida como a possibilidade de atender no
domicilio, idosos, pessoas portadoras de doenças
crônicas degenerativas transmissíveis e não
transmissíveis (DCT e DCNT [1]), com internações
prolongadas ou reinternações, que demandam atenção
constante.
Este atendimento proporciona um espaço de
interdisciplinaridade, intervindo nos aspectos físicos,
psicológicos, econômicos e sociais.
Considerando que alguns pacientes mantidos em
tratamento sob regime de internação, tem condição
de continuá-lo em domicílio, sem risco para sua
recuperação, e em consonância com a filosofia
institucional do Hospital Universitário, qual seja, de
prestar assistência à saúde direcionada ao atendimento
das necessidades dos indivíduos em um contexto de
eficiência e eficácia, a implantação do Programa de
Assistência Domiciliar Interdisciplinar (PADI) no
Hospital foi aprovada através de Portaria Interna N°
27 de 19/08/99 com a criação de uma equipe
interdisciplinar composta por Assistentes Sociais (2),
Médicos (2), Enfermeiras (2), Psicólogos (1),
Nutricionista (1) e Técnicos de Enfermagem (2).
Tem como idéia central a humanização do
atendimento, mas também visa a otimização dos leitos
e conseqüentemente redução dos custos hospitalares.
Por conseguinte, o objetivo geral do PADI é
desenvolver assistência aos pacientes no seu ambiente
familiar, baseada em uma visão holística do homem,
com enfoque para um trabalho interdisciplinar.
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Os critérios de escolha para inserção no PADI
são: ser portador de doença crônica - degenerativa
ou doença maligna em fase terminal; apresentar
incapacidade funcional provisória ou permanente; ter
cuidador.
Atualmente o PADI está em fase final de plano
piloto, está sendo feito o fechamento de quantos pacientes
foram atendidos até agora. Foram levantados dados de
10 óbitos (2 em oncologia, 1 com SIDA e 7 em geriatria).
O número atual de paciente atendidos é 10, sendo 1
atendido pela oncologia, 5 com SIDA, 2 em geriatria e 2
fora do critério (os pacientes fora do critério são aqueles
que não pertencem a área programática, porém possuem
critérios clínicos e/ou administrativos). Um paciente
recebeu alta. O critério para que os pacientes recebam
alta é que ele próprio ou sua família consigam realizar o
autocuidado. A idéia do programa é dar alta e acompanhálo de 20 em 20 dias.
O paciente que recebe alta continua com
acompanhamento médico do profissional responsável
pelo seu atendimento no H.U., para que seja assegurada
sua internação em caso de descompensação aguda.
Estão sendo realizadas reuniões para definir
propostas a serem levadas à direção do hospital para
que o programa seja efetivamente implantado. O maior
problema enfrentado pelo PADI é no que diz respeito
aos recursos humanos, pois os profissionais que
participam do programa não dedicam todo o seu
tempo de trabalho a este. Somente a coordenadora
trabalha em tempo integral.
Objeto de estudo
O interesse pelo autocuidado dos pacientes
atendidos pelo Programa de Assistência Domiciliar
foi despertado quando passamos alguns dias nos
setores do H.U. No Setor de Doenças Infecciosas
Parasitárias (DIP), verificamos uma alta prevalência
de pacientes acometidos por infecções oportunistas
decorrentes da SIDA, ocupando uma grande
quantidade de leitos, (15 de 24 leitos).
Durante a internação hospitalar o cuidado é
prestado pela equipe de enfermagem, servindo assim
como modelo para o autocuidado domiciliar. Para
tanto é necessário que o paciente/cuidador tenha
conhecimento e condições para sua realização.
A partir deste contexto, tivemos a curiosidade
de esclarecer como realizam o autocuidado no
domicilio. Através dos prontuários tivemos a
oportunidade de conhecer como funciona e a
necessidade e realização de autocuidado no domicílio,
além de identificarmos como se dá o uso das
informações sobre o autocuidado efetivamente.
O problema
Desta forma a nossa preocupação é o
conhecimento e aplicabilidade do autocuidado pelos
pacientes atendidos no Programa de Assistência
Domiciliar Interdisciplinar (PADI) do H.U.
Objetivos
Ao final deste estudo desejamos:
• Descrever o autocuidado domiciliar como uma
forma de cuidado de enfermagem.
• Verificar as modalidades de autocuidado
domiciliar.
• Identificar tendências de cuidado de
enfermagem para promoção do autocuidado
domiciliar.
Material e método
Trata-se de um estudo de caso para avaliar em
profundidade o autocuidado dos portadores de HIV/
SIDA atendidos pelo PADI que permitiu alcançarmos
a multiplicidade do atendimento domiciliar,
requerendo de nós um nível elevado para sua
compreensão, assim como esclarecimento dos
aspectos de autocuidado.
Este estudo foi dividido em quatro fases: na
primeira delimitamos o estudo; na segunda,
coletamos os dados; na terceira foi feita a análise
dos dados e, por fim, elaboramos o relatório de
pesquisa.
Além dos pacientes portadores de SIDA/HIV
são atendidos também pacientes com câncer, diabetes
mellitus e geriátricos. Dentre estes pacientes
escolhemos os portadores de SIDA, pois estivemos
em contato com pacientes com esta enfermidade
durante o estágio supervisionado de enfermagem VIII
e nos foi aguçada esta temática. São quatro: dois
homens e duas mulheres, que recebem atendimento
domiciliar pela equipe interdisciplinar.
Para coleta de dados foi utilizado um formulário
(Instrumento de Coleta de Dados do paciente), onde
garantimos o anonimato, dando a eles nomes fictícios
(Vermelho e Amarelo para os homens e Rosa e Violeta
para as mulheres). Coletamos dos prontuários os dados
pessoais, história pregressa, condições de moradia e
sócio-econômicas. Utilizamos também os dados dos
cuidadores (Instrumento de Coleta de Dados do
cuidador).
A partir das informações obtidas passamos à
análise temática dos dados.
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Revisão crítica da literatura
Programa de assistência domiciliar interdisciplinar (PADI)
O sistema de saúde brasileiro está passando por
uma séria crise econômica, que afeta diretamente a
qualidade da assistência prestada à população e a oferta
de leitos. Dentro desse cenário surge a proposta da
Assistência Terapêutica, como forma de repensar o
modelo de assistência oficial, ao propor cuidar do
doente em casa, um trabalho que busca a humanização
e individualidade do atendimento, tendo como
pressuposto uma visão integral do homem.
A Assistência Domiciliar Terapêutica é
compreendida como a possibilidade de atender no
domicilio, idosos, pessoas portadoras de doenças
crônicas degenerativas, com internações prolongadas
ou reinternações, que demandam atenção constante.
È enfocado também como um espaço de
interdisciplinaridade, coadunando para uma visão
holística do homem, que exige o trânsito por aspectos
físicos, psicológicos e econômicos e sociais para
promoção do atendimento domiciliar.
Síndrome da imunodeficiência adquirida
A Síndrome da imunodeficiência Adquirida foi
reconhecida em meados de 1981, nos EUA, a partir
da identificação de um número elevado de pacientes
adultos do sexo masculino, homossexuais e moradores
de São Francisco ou Nova York. No Brasil, a AIDS
foi identificada pela primeira vez em 1982, quando o
diagnóstico foi feito em sete pacientes homo ou
bissexual.
Um
caso
foi
reconhecido
retrospectivamente, no estado de São Paulo, como
tendo ocorrido em 1980.
A Aids é causada pelo HIV (vírus da
imunodeficiência humana), um vírus de RNA da família
Retroviridae (retrovírus). A atividade enzimática é exercida
pela transcriptase reversa, e o período de incubação é
de 6 a 24 meses. O HIV ataca linfócitos, mais
especificamente os linfócitos T, células responsáveis em
parte pela defesa imunológica do organismo.
A transcriptase reversa, presente no núcleo de
HIV, responde pela conversão do RNA viral em DNA
de dupla hélice, deslocando-se de citoplasma para o
núcleo da célula parasitada (linfócitos T). Em seguida,
incorpora-se e multiplica-se com o DNA celular,
levando à morte ou inativação da célula.
O ciclo vital do HIV na célula humana inicia-se
com a ligação de glicoproteínas virais (gp 120) ao
receptor específico da superfície celular (principalmente
CD4). Em seguida ocorre a fusão do envelope do vírus
com a membrana da célula hospedeira. A partir desta
fusão dá-se a liberação do “core” do vírus para o
citoplasma da célula hospedeira. Desta forma tornase possível a transcrição do RNA viral em DNA
complementar, dependente da enzima transcriptase
reversa. Acontece o transporte do DNA
complementar para o núcleo da célula, onde pode
haver integração no genoma celular (provírus),
dependente da enzima integrase, ou permanecer em
forma circular isoladamente. O provírus é reativo e
produz RNA mensageiro viral indo então para o
citoplasma da célula, onde as proteínas virais são
produzidas e quebradas em subunidades por meio das
enzimas proteases. As proteínas virais produzidas
regulam a síntese de novos genomas virais e formam
a estrutura externa de outros vírus que serão liberados
pela célula hospedeira. Finalmente o vírus recémformado é liberado para o meio circundante da célula
hospedeira, podendo per manecer no fluido
extracelular ou infectar novas células.
A transmissão, prevenção e controle são
descritos a partir do isolamento do HIV no sangue,
plasma, soro, sêmen, secreções vaginais e cervicais,
saliva, lágrimas, liquor e leite materno. Sua transmissão
ocorre principalmente por via sexual, contato
homosexual, bissexual e/ou heterossexual; por sangue
ou derivados; por transmissão vertical da mãe ao filho
durante a gestação, parto e amamentação; por
mecanismo não definido acidente de trabalho.
A medida mais eficaz contra aids é a prevenção.
Há necessidade de ressaltar que atualmente não há
grupos de risco, e sim comportamento de risco.
Os profissionais de saúde devem lembrar-se que
nenhum paciente traz consigo o registro de sua
soropositividade e que, portanto, é fundamental para
prevenir e controlar a transmissão ocupacional adotar
as medidas de precauções básicas.
Os principais achados do quadro clínico são:
sensível perda de peso sem motivo, fadiga, tosse seca,
diarréia prolongada e linfadenomegalia. Os demais
sinais e sintomas de Aids estarão correlacionados às
infecções oportunistas e/ou neoplasias.
A classificação clínica atualmente em uso para
adultos comporta nove categorias, dependendo da
presença de infecções e da dosagem dos linfócitos da
categoria Cd4+ na Aids.
A avaliação diagnóstica inclui a titulação de
anticorpos contra o HIV que aparecem principalmente
no soro ou no plasma de indivíduos infectados, em
média, 3 a 12 semanas após a infecção. Os testes para
detecção da infecção pelo HIV podem ser divididos
basicamente em quatro grupos: testes de detecção de
anticorpos, testes de antígenos, técnicas de cultura viral
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e teste de amplificação do genoma do vírus. As técnicas
rotineiramente utilizadas para o diagnóstico da
infecção pelo HIV são baseadas na detecção de
anticorpos contra o vírus. As outras três técnicas
detectam diretamente o vírus ou suas partículas e são
utilizadas em situações específicas, tais como:
esclarecimento de exames sorológicos indiretamente
ou duvidosos, acompanhamento laboratorial de
pacientes, mensuração da carga viral para controle de
tratamento etc.
O tratamento específico é feito pela combinação
de inibidores da transcriptase reversa nucleosídicos por
via oral (AZT, DDI, DDC, 3TC) com os inibidores
de proteases por via oral (indinavir, saquinavir, norvir,
D4T) ou inibidores da transcripitase reversa nãonucleosídicos (nevirapina). O tratamento sintomático
está relacionado às doenças secundárias, podendo
utilizar por via oral ou parenteral antifúngicos,
antibióticos, antivirais quimioterápicos.
Em suma, a Síndrome de Imunodeficiência
Adquirida (AIDS) é a profunda depressão da
imunidade mediada por células, em que
microrganismos causadores de infecção se encontram
no meio ambiente, causando doenças graves nesses
hospedeiros que não possuem resistência.
Autocuidado
Os quadros relacionados as DCNT e DCT
atendidos não têm cura ou imunização, sendo a solução
definitiva, a responsabilidade de cada um por sua
própria saúde. O portador de um problema crônico
não perdeu sua saúde, mas deverá desenvolver o
potencial para adquirir novas habilidades para se
controlar adequadamente, reduzindo o risco de
complicações e continuar a desempenhar os papéis e
etapas do seu ciclo de vida.
Este quadro leva a um grau de dependência
sendo necessária a intervenção de um familiar ou um
profissional qualificado.
O autocuidado está diretamente relacionado com
a capacidade do indivíduo em suprir suas necessidades,
proporcionando melhoria para sua saúde.
O autocuidado pode ser negligenciado por falta
de condições, sendo necessário assistência direta de
enfermagem.
Neste contexto faz-se importante determinar o
grau de dependência deste paciente, para determinar
sua capacidade da realização do autocuidado. Horta
[2] diz que “(...) o grau de dependência pode ser total
ou parcial. Na dependência total está explícita a
extensão, e a natureza compreende tudo que a
enfermagem faz pelo ser humano, quando este não
tem condições de fazer por si, seja qual for à causa”.
Fica evidente que tanto o grau de dependência
total como o parcial necessita de atendimento
domiciliar. Dentro da visita domiciliar o mais
importante é que o mesmo não estará sempre junto
ao paciente/cuidador, como estaria no atendimento
hospitalar.
É necessário que a equipe responsável pelo
atendimento domiciliar esclareça conceitos e dúvidas
sobre a doença e o autocuidado com os portadores/
cuidadores com informações claras e simples, de
forma segura.
O autocuidado é visto como uma construção
mais social do que biológica, porque recebe mais
interferências de fatores ligados à convivência dos
sujeitos com o seu trabalho e seu meio ambiente social,
que tanto modificam como podem ser transformados
em benefício das ações de autocuidado desses sujeitos.
Através da representação social do familiar/portador
da enfermidade poderá captar representações sobre
o modo de como surgiu a doença, de onde ela vem,
ajudando a entender como se relacionam com o
autocuidado, ou seja, que cuidados tomam, quando
tomam, porque motivo, por que não tomam
determinados cuidados e o que é finalmente o
autocuidado para o familiar/portador.
O autocuidado é uma parte importante da vida
de uma pessoa, está relacionado ao fato desta existir,
a preservação do seu corpo e do ser vivente que
suporta a existência individual. Realmente é algo social
que vai influenciar no corpo e higidez do indivíduo. A
enfermagem mostra-se importante neste contexto
uma vez que em seu atendimento ao sujeito, deve ver
o indivíduo de forma holística, ou seja como um todo,
já que a função da enfermeira é ao mesmo tempo
assistencial, científica e social.
A equipe do projeto de saúde do Canadá lista
cinco recursos básicos de modelo de promoção da
saúde centrada no sujeito que enfrenta um problema
e deseja melhorar ou manter sua saúde: o próprio
sujeito, outras pessoas, o profissional de saúde, a
informação e o meio ambiente. Daí analisa o
autocuidado como a ação associada ao uso do sujeito
como recurso, cuidando da sua própria saúde e agindo
de for ma autônoma. Baseia-se na teoria de
enfermagem do déficit de autocuidado, desenvolvida
por Dorothea Orem, entre os anos de 1958 e 1965,
que formou uma base para a pesquisa, formação
curricular e organização dos departamentos de
enfermagem em hospitais e serviços de saúde
comunitários no Canadá. Entretanto, reconhece que
um número de modificações nos determinantes da
saúde deve ser considerado quando se planejam
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estratégias para influenciar o estado de saúde da
população, identificando três grandes desafios: a redução
das iniqüidades, a melhoria da prevenção, e estímulo da
capacidade dos sujeitos em lidar com condições crônicas
e outros problemas de saúde. Esta equipe apresenta um
modelo denominado pirâmide de autocuidado em que
o autocuidado está localizado no ápice, representando
sua preeminência como primeiro recurso do sujeito em
face dos problemas de saúde. A família e o cuidado
prestado por voluntários localizam-se num ângulo e no
outros ângulo, os profissionais e as instituições/serviços
de saúde.
O gráfico 1 ilustra a pirâmide de autocuidado [3]:
Autocuidado
Família/Cuidado
de voluntários
Profissional/Serviços
de saúde
Neste contexto, a enfermeira é uma coparticipante do autocuidado dos sujeitos. O indivíduo
possui habilidades para aprender e desenvolver seu
autocuidado. Essas possibilidades são motivadas pelo
seu ambiente interno e externo. A enfermeira tem
papel importante na estimulação desses aspectos de
autocuidado, para esclarecimento e atendimento.
Essa co-participação deve ser de forma a mostrar
como deve ser realizado o autocuidado partindo da
assistência de enfermagem, ou seja, utilizando o
cuidado de enfermagem como modelo. A enfermagem
deve promover e manter a qualidade de vida e saúde
desses sujeitos.
Resultados e discussão
Os dados foram coletados a partir dos
prontuários do PADI e foram divididos em categorias.
Foram analisados os dados de quatro participantes do
PADI portadores de SIDA, sendo dois do sexo
masculino e dois do sexo feminino.
Autocuidado
A partir dos dados observamos que a SIDA,
debilita bastante a pessoa interferindo na sua
capacidade para o autocuidado. O grau de dependência
vai desde independente ou totalmente dependente.
Uma das participantes é totalmente dependente do seu
cuidador. E os outros são dependentes em pelo menos
um dos tópicos seguintes: para comer e beber; tomar
banho; vestir-se e arrumar-se; uso do sanitário;
mobilidade no leito; transferência; deambulação; subir
escadas; fazer compras; cozinhar; realizar manutenção
do lar ou mobilidade física.
Além de ser independente ou totalmente
dependente para as atividades de vida diária (Escala
de Atividade Diária - AVD ou Escala de Katz
Modificada), eles são também classificados como:
necessita de equipe auxiliar; auxílio de outros ou auxílio
de uma pessoa da equipe.
O grau de dependência do paciente em relação
aos cuidados de enfermagem pode ser total ou parcial.
Na dependência total está implícito tudo aquilo que a
enfermagem ou o cuidador faz pelo ser humano quando
este não tem condições de fazer por si, seja qual for a
causa. Em havendo dependência parcial, a assistência
de enfermagem e de outro cuidador pode situar-se em
termos de ajuda, orientação, supervisão e
encaminhamento, havendo uma ordenação seqüencial
e inter relacionada desta assistência.
A renda dos pacientes
De acordo com os dados, dois pacientes são
aposentados e dois não tem renda própria, vivem da
renda do companheiro ou marido. Ainda, os
aposentados o são, pela idade e tempo de serviço ou
são aposentados por invalidez. Alguns dos
entrevistados pela evolução da doença, já não podem
se locomover ou realizar outras tarefas sem auxílio.
A renda mensal de aproximadamente 2 salários
mínimos é insuficiente para sustentar suas
necessidades diárias, assim como as demandas para o
tratamento. Por isso muitas vezes precisam de ajuda
da comunidade e dos profissionais do próprio hospital.
Com isso podemos observar a importância do PADI,
na promoção da saúde traduzindo a amplitude social
que interfere nestas dificuldades.
De acordo com Kawamoto [4], os componentes
do ciclo dinâmico da saúde são alimentação, habitação,
saneamento, educação e emprego. A baixa produção
do nosso país leva a salários suficientes apenas para
subsistência, gerando nutrição deficiente, educação
insuficiente e habitação inadequada. Esses fatores
facilitam a instalação de doenças.
A enfermeira deve saber lidar com a situação e a
particularidade de cada indivíduo, tentando adequar
suas orientações com a realidade de cada um. Além
disto, deve estar atento às manifestações de ansiedade
deste indivíduo pela preocupação com as condições
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de sua família e se este paciente tem condições de se
manter e continuar o tratamento no domicílio, uma
vez que ele tem a particularidade de ficar limitado após
o tratamento, muitas vezes perdendo o emprego.
Grau de escolaridade
O grau de escolaridade se faz importante neste
caso para saber se estas pessoas têm condições de
aprender as informações passadas pelos profissionais
sobre o autocuidado.
Se esta pessoa não puder assimilar estes novos
conhecimentos até mesmo pelas suas limitações
orgânicas, far-se-á necessário inserir a família e o
cuidador neste contexto.
Os pacientes analisados possuem no máximo o
primeiro grau completo, sendo que o de menor
escolaridade possui a segunda série primária.
Estes dados são relevantes para a enfermeira, pois
sua função é ser agente disseminadora de orientações
pertinentes à promoção, prevenção e reabilitação da
saúde de seus pacientes, bem como na melhoria da
qualidade de vida desses. E, para o êxito nestes
propósitos é importante que eles compreendam o
conteúdo das orientações transmitidas, para assimilálas e praticá-las. Visando atingir estas metas, a enfermeira
deve utilizar linguagem adequada e corrente ao nível
de escolaridade e cultura do paciente ao expor suas
orientações ou educação para a saúde, transmitindo as
informações com clareza e objetividade.
Estado civil
O estado civil nos permite identificar a relação
de parentesco dos pacientes com SIDA do PADI. Esta
temática faz-se importante nos dias de hoje, pois cada
vez mais mudam os padrões de relacionamento
conjugal na sociedade. A maioria dos pacientes era
solteiro, mas possuíam companheiros, os quais muitas
vezes são os responsáveis pelos seus cuidados.
Observamos também que não há nenhuma política
para o acompanhamento destes parceiros, algumas
vezes porque o próprio se recusa a realizar o exame.
Importância do autocuidado em relação á adesão
ao tratamento medicamentoso
Os pacientes portadores Aids necessitam tomar
medicamentos diariamente. A utilização de
medicamentos em qualquer patologia visa acabar ou
controlar a proliferação de microrganismos. A
Síndrome da Imunodeficiência Adquirida é causada por
um vírus, que infecta as células de defesa e ainda não
tem cura. Os medicamentos utilizados proporcionam
apenas o controle da proliferação das partículas virais.
Os indivíduos com AIDS fazem uso de fármacos
que inibem o ciclo vital do vírus. Sendo que uns
interferem na transcrição do RNA viral em DNA
complementar, dependente de enzimas transcriptase
reversa e outros nas proteínas virais que são produzidas
e quebradas em subunidades por meio de enzimas
proteases durante toda sua existência.
Os fármacos anti-retrovirais são de suma
importância para a vida do portador do vírus da
imunodeficiência adquirida, pois mantém a carga viral
em um nível tolerável.
Mesmo sendo importante a utilização de
fármacos específicos para o HIV, vemos em um caso,
que a administração da medicação se faz de modo
irregular. Apesar dos medicamentos contra o vírus da
Aids serem distribuídos pelo Ministério da Saúde,
alguns pacientes reclamaram da falta do medicamento,
já que por terem uma condição sócio-econômica
desfavorável não podem comprá-los.
Vale lembrar, que a interrupção da utilização do
fármaco, causando resistência dificulta, desta forma
o controle da proliferação do vírus.
Os hábitos de vida como autocuidado
Foi possível detectar que os hábitos de vida estão
diretamente relacionados com o estado de saúde.
Assim podemos afirma que a saúde é a resultante de
influência dos fatores sócio-econômico-culturais:
alimentação, habitação, educação, renda, meio
ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer,
liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços
de saúde [4].
Sobretudo porque os pacientes do PADI têm
condições socioeconômicas precárias, moram em
áreas de difícil acesso, em comunidades carentes com
situação de violência freqüente.
Podemos citar outros fatores que interferem
diretamente na recuperação e assistência do indivíduo
com AIDS: sua nutrição, condições de saneamento
básico, capacidade de locomoção, condições de higiene
pessoal e do ambiente, dentre outros.
O atendimento no PADI é um método de
trabalho em enfermagem que tem como objetivo
principal levar ao paciente/cuidador no seu domicílio,
assistência e orientação sobre saúde melhorando de
forma significativa a sua qualidade de vida.
Estado emocional
Vários pacientes se sentiam tristes e sozinhos e
alguns deles acham que o cuidador deveria preencher
esta lacuna. No relato da paciente Violeta, sua principal
!
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preocupação é com a atenção da cuidadora, pois à
tarde ela normalmente fica só.
De acordo com Ministério da Saúde as mulheres
com AIDS também se sentem inseguras e
administram, com sofrimento, o resultado do exame,
a perda do parceiro, os filhos, a casa, o trabalho e a
vida. Tudo parece adquirir um significado diferente.
O impacto inicial é vivido concomitantemente com a
demanda de respostas. A temática da solidão é muito
freqüente na vida das pessoas de um modo geral, e
mais intensamente aparece no cotidiano de pessoas
com AIDS, seja pelo preconceito que leva à exclusão,
pela morte de pessoas próximas ou por um sentimento
de estar vivendo uma experiência profundamente
significativa, difícil de compartilhar.
Então se faz necessário também um
acompanhamento psicológico destas pessoas, para que
elas não entrem em depressão e possam viver com
qualidade e dignidade.
Através do cuidado de enfermagem hospitalar e
da promoção do autocuidado domiciliar a enfermeira
poderá identificar os papéis de autocuidado afetados
pelos aspectos emocionais e psicológicos e encaminhálos, ou ser preparada pelo psicólogo, que faz parte da
equipe de forma efetiva, avançando no cuidado ou
metodologia da assistência de enfermagem ao
paciente/cuidador.
Características dos cuidadores
O principal cuidador é quase sempre o
companheiro ou companheira, o que mostra que
mesmo diante de uma doença que é transmitida por
via sexual, estas pessoas não foram abandonadas por
seus companheiros e oferecem toda a ajuda necessária.
Além disso, são pessoas com baixo nível de
escolaridade e que na maioria das vezes trabalham
para sustentar a casa. Mostram-se também bastante
preocupados em cuidar da pessoa que está doente
e do lar.
Locomoção para o hospital
O modo como este paciente chega ao hospital é
importante, pois muitos deixam de realizar o
tratamento por dificuldade de chegar ao hospital, seja
por dificuldade de locomoção ou por falta de dinheiro
para o transporte.
A locomoção destes pacientes até o hospital é
dificultada pelo comprometimento neurológico que
alguns já têm e que irá interferir na deambulação. Em
se tratando de uma comunidade carente estes pacientes
não possuem veículos próprios, o que irá dificultar
ainda mais a sua ida até o hospital, trazendo maior
gasto com o transporte; além de terem que ir com
acompanhantes. O paciente vermelho recebe ajuda
da igreja para se locomover até o hospital. Daí a
dificuldade de locomoção ser um critério clínico
importante para eleição e inserção do paciente no
PADI.
Condições de moradia destes pacientes
São moradias com água, luz e saneamento básico.
Este dado é de fundamental importância, já que é alta
a taxa de doenças provocadas pela falta de saneamento
básico [4].
Apesar de não serem de muitos cômodos, as
moradias são suficientes para as pessoas que ali
habitam. Estas impressões são registradas pelos
profissionais do PADI que atendem nas residências.
O número de cômodos relacionado à quantidade de
moradores nos dá uma noção de como vive este
paciente, ou seja, se a casa dele tem espaço para
locomoção ou um repouso confortável. Isto porque
uma casa com poucos cômodos e muitas pessoas ou
uma casa muito pequena, pode dificultar o tratamento,
assim como diminuir a qualidade de vida deste
paciente. Ele estará mais propenso a contrair infecções
oportunistas e complicações agudas.
A enfermeira tendo estes dados pode orientar o
cuidador no domicílio deste paciente e mesmo intervir
no sentido de melhorar a qualidade de vida de todos
que ali vivem.
A moradia destes pacientes quase sempre é em
áreas de baixa renda, o que traz um obstáculo ao
PADI, pois os atendimentos domiciliares às vezes são
feitos em lugares de difícil acesso, além de oferecer
risco a vida dos profissionais. Mas a assistência a estes
pacientes deve ser priorizada, já que contam com este
tipo de ajuda.
Considerações finais
A AIDS está posta como grande enfrentamento
da humanidade, em se falando de doença e de
problema social. Ela é definida como a forma mais
grave de um contínuo de doenças associadas à infecção
pelo vírus da imunodeficiência humana.
Evidenciamos que os pacientes têm um alto grau
de dependência, devido ao acometimento pela doença,
necessitando tanto do atendimento da equipe de saúde
quanto de cuidadores. Esses pacientes mostram-se
muito deprimidos. E este foi um dos fatores que
dificultaram a realização do autocuidado.
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O paciente/cuidador tem inúmeras inquietações,
diferentes sentimentos, dificuldades e limitações
quanto aos cuidados com o ser, em casa ou no hospital,
que requerem ajuda e orientação da enfermagem para
possível enfrentamento e um estar melhor.
Por isso o processo de cuidado de enfermagem
deve ser colaborativo, cooperativo e evolutivo, na
medida em que os sujeitos dominam for mas
alternativas de autocuidado, mais capazes de modificar
seu perfil de saúde. É um processo compartilhado,
livre e aberto, assim como é a sua avaliação. Portanto
prevê a participação voluntária e consentida em todo
o processo, acompanhamento e verificando sua
mudança. Assim, estarão preparados cognitiva e
emocionalmente para descobrir as causas e
conseqüências dos fenômenos que afetam sua
existência [5].
Isso nos permitiu vislumbrar a importância do
atendimento domiciliar interdisciplinar e sua
importância no contexto social. Por isso possibilita
uma vida com melhor qualidade para os portadores
de doenças crônicas.
O programa teria um desenvolvimento melhor
se os profissionais trabalhassem nele em tempo
integral. Outro problema importante é a
disponibilidade do transporte para o atendimento.
Recentemente houve a doação de uma Kombi, que
necessitava de reparos. Além disso, existe a violência
urbana que também interfere no seu andamento.
Referências
1.
2.
3.
4.
5.
Lessa I. Doenças crônicas não transmissíveis. In: Lessa
I. O adulto brasileiro e as doenças da modernidade.
São Paulo: Hucitec/Abrasco; 1998. p.29-42.
Horta WA. Processo de enfermagem. São Paulo: EPU;
1979. 99 p.
Health promotion and programs branch. Supporting
self-care: the contribution of nurses and physicians.
Minister of public works and government services
Canada; 1977; 126 p.
Kawamoto EE, Santos MCH, Mattos TM.
Enfermagem comunitária. São Paulo: EPU; 1995.
Santos RB. Autocuidado, trabalho e diabetes mellitus:
uma abordagem de enfermagem. [Tese]. São Paulo:
Coordenação de Pós-Graduação em Enfermagem da
UNIFESP/EPM; 2001. 283 p. K
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Artigo original
Depressão em pacientes hospitalizados
com infarto do miocárdio
Depression in hospitalized patients with myocardial infarction
Depresión en pacientes hospitalizados con infarto de miocardio
Simone Maria Muniz da Silva Bezerra*, Carlos Alberto Domingues Nascimento**,
Suely Angelo Matias***, Fabíola Vera de Oliveira Lins***
*Bacharel em Enfermagem e Obstetrícia pela Universidade de Brasília, Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica, *Professor Assistente da
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Professor Auxiliar IV da Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças, Universidade
de Pernambuco (FENSG/UPE) Mestre e Doutoranda em Ciências/USP, **Professor Assistente da Faculdade de Enfermagem Nossa
Senhora das Graças/ Universidade de Pernambuco (FENSG/UPE) Doutor em Lingüística/UFPE, ***Acadêmicas de enfermagem da
FENSG/UPE
Resumo
Trata-se de pesquisa quantitativa, descritiva e exploratória para caracterizar os aspectos demográficos e clínicos dos pacientes
com Infarto do Miocárdio (IM) e avaliar se o IM está associado a um quadro depressivo. Os dados foram coletados através
de dois questionários: um referente à identificação e fatores de riscos para cardiopatias, e o Inventário de BECK para
depressão Os cálculos estatísticos foram feitos através do SPSS 10.0 e análise da variância (ANOVA) significância de 5% (p
= 0,05) Os principais resultados mostraram que a maioria dos entrevistados possuía idade entre 61 a 70 anos, correspondente
a 51,42%, eram católicos 87,28%, raça branca 88,57%, casados 68,57% e apenas 11,42% possuía escolaridade. A probabilidade
de depressão associada ao (IM) a partir da escala de BECK, apresentou uma freqüência: mínima ou inexistente 50,42%,
depressão leve 40,00%, moderada 9,58%. Concluímos que o tratamento da depressão associada a uma cardiopatia é importante,
porque o transtorno afetivo compromete a qualidade de vida. A intervenção reduz a utilização desnecessária dos cuidados de
saúde, diminui a mortalidade e prolonga a sobrevida do paciente.
Palavras-chave: depressão, doença cardíaca coronariana, infarto do miocárdio.
Artigo recebido em 22 de julho de 2003; aceito em 1 de agosto de 2003.
Endereço para correspondência: Simone Maria Muniz da Silva Bezerra,
Rua Teles Júnior 155/301 Rosarinho 52040-050 Recife PE, Tel: (81) 34267670,
E-mail: [email protected]
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Abstract
A quantitative, descriptive and exploratory study was conducted in order to obtain some demographic and clinical aspects of
hospitalized patients with myocardial infarction (MI) to evaluate their association with depressive set. The data collection
instrument was two questionnaires: one related to identification and cardiopathy risk and the BECK Inventory for depression.
For statistic treatment was used SPSS 10.0 and the analyses through ANOVA, 5% (P = 0.05). The main results had shown
that most of the patients studied were aged between 61 to 70, corresponding to 51.42%; 87.28% were catholic, 88.57% white
skin, 68.57% had married status and just 11.42% had formal education. The probability of depression associated to (MI)
through BECK scale showed no risk 50.42%, low risk 40.00% and medium risk 9.58%. In conclusion, the support treatment
to depression is important to patients with (MI) considering that this circumstances would disturb the quality of these
patients life. The intervention reduces the unnecessary use of health care, reduction of mortality and offers a longer life to
the patients.
Key-words: cardiology, nursing assistance.
Resumen
Se trata de una pesquisa cuantitativa, descriptiva y exploratoria para caracterizar los aspectos demográficos y clínicos de los
pacientes con infarto de miocardio (IM), y evaluar si el (IM) está asociado a un estado depresivo. Los datos fueron colectados
a través de dos cuestionarios: uno referente a la identificación y factores de riesgo para cardiopatías y el otro sobre el
Inventario de depresión de Beck. Para los cálculos estadísticos utilizamos el programa SPSS 10.0 y el análisis de la varianza
(ANOVA), valor de significancia de 5% (p = 0,05). Los principales resultados demostraron que la mayoría de los pacientes
estudiados tenían edad entre 61 y 70 años, correspondiente al 51,42%, eran católicos 87,28%, raza blanca 88,57%, casados
68,57%, y apenas 11,42% con enseñanza básica. La probabilidad de depresión asociada al (IM) a partir de la escala de Beck,
presentó la siguiente frecuencia: mínima o inexistente 50,42%, depresión leve 40,00%, y moderada 9,58%. Concluimos que
el tratamiento de la depresión asociada a una cardiopatía es importante, porque el trastorno afectivo compromete la calidad
de vida de los pacientes. La intervención reduce la utilización desnecesaria de los cuidados de la salud, disminuyendo la
mortalidad y prolongando la sobrevida del paciente.
Palabras-clave: depresión, enfermedad cardíaca coronaria, infarto de miocardio.
Introdução
A doença coronariana, produtora do infarto do
miocárdio (IM), é uma das principais causas de
mortalidade no Brasil e no mundo [1], e sua incidência
nos países ocidentais está aumentando nos últimos anos
[2]. Diversos estudos existentes na literatura apontam
para uma correlação entre Infarto do Miocárdio (IM)
e depressão [1,3,4,5,6]. Sendo a depressão um fator de
morbidade e mortalidade comum em pacientes com
doença cardíaca coronariana, especialmente após
infarto do miocárdio, e estando associada a um fator
de risco quatro vezes maior de mortalidade em 6 meses
nesses pacientes [1]. Estudos epidemiológicos
mostraram que 10 a 20% dos pacientes com doenças
clínicas apresentam sintomas depressivos significativos,
sendo que cerca de 5% deles apresenta quadros mais
graves e que receberiam o diagnóstico de depressão
em maior grau [7]. Além disso, outros estudos [8]
demonstraram que a depressão é considerada um fator
de risco isolado para as doenças cardiovasculares, pois
quanto mais grave a depressão, maior a probabilidade
de ocorrência de distúrbios cardiovasculares [9], o
tratamento da depressão associada a uma cardiopatia
é importante não só porque o transtorno afetivo pode
comprometer a qualidade de vida, mais também
porque a intervenção pode reduzir a utilização
desnecessária dos cuidados de saúde, diminuir a
mortalidade e prolongar a sobrevida do paciente [7].
Ballone et al. [10] consideram a participação de fatores
constitucionais e ambientais um dos elementos mais
importantes para o desenvolvimento da doença e que
a depressão é um fator de risco independente,
elevando mais de 2 vezes o risco relativo de doenças
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das artérias coronárias (DAC) e do infarto do
miocárdio (IM) [8]. A depressão contribui para
aumentar esses riscos, aumentando da aderência e
agregação plaquetária [11,12], liberação excessiva ou
prolongada de catecolaminas e corticosteróides
devido ao estresse ou ansiedade exagerada, que pode
precipitar arritmias ventriculares e/ou morte súbita
[12], as quais afetam o funcionamento cardiovascular
[13]. O estado emocional que mais se associa à
isquemia miocárdica, arritmias e o aparecimento de
extra-sístoles que aparecem no período pós-infarto
do miocárdio em pacientes depressivos seria
conseqüência do efeito disrítmico da depressão [4].
Carney [3] reafirma esses dados, analisando pacientes
com doença coronariana confir mada angiograficamente e com eletrocardiografia dinâmica,
onde constata uma diminuição da variabilidade da
freqüência cardíaca significativamente mais freqüente
entre os pacientes depressivos do que os não
depressivos. Diversos estudos reforçam que a
depressão aumentaria a incidência das arritmias
ventriculares, pelo predomínio do sistema nervoso
simpático descarregado através da conexão entre
córtex pré -frontal, e a amígdala e Markovitz [12]
sugere ainda que a depressão possa afetar a
coagulação e a trombogênese. Frasure-Smith [14],
constatou que o substrato biológico, que envolve as
emoções e esses tipos de lesões, no caso da doença
coronáriana, repeteria no SNC/SNA alterações e na
função serotoninérgica plaquetária, que ocorrem em
pacientes depressivos e são causas atreladas a doenças
cardiovasculares [15]. Investigações experimentais em
animais e os estudos epidemiológicos e clínicos em
humanos apontam para diferentes situações
estressantes, agudas ou crônicas, podem precipitar
isquemia cardíaca, arritmias e infarto do miocárdio
e/ou morte súbita.
Os que pacientes pós-infartados apresentaram
sintomas de depressão e ansiedade durante o
tratamento [16]. Segundo a Federação Mundial de
Cardiologia, a depressão é considerada um fator de
risco isolado para as doenças cardiovasculares, pois
quanto mais grave a depressão maior a probabilidade
de ocorrência de distúrbios cardiovasculares. Assim,
pesquisas são necessárias para avaliar se o paciente
pós-infarto, com estado emocional alterado poderia
desenvolver um quadro de depressão no qual
favoreceria predispor a um novo infarto, além do que
se verifica que os pacientes após o (IM), passam a
viver de maneira indiferente e que a ausência de
assistência qualificada, visando as necessidades dos
pacientes, constituem fatores relevantes para o
desequilíbrio biopsicossocioespiritual [16].
Objetivo
• Caracterizar os aspectos demográficos e
clínicos dos pacientes com infarto do miocárdio (IM)
• Avaliar se o (IM) está associado a um estado
depressivo
Método
Para o nosso estudo selecionamos 35 pacientes,
(15 mulheres e 20 homens, idade média de 65 anos);
internados no Pavilhão Professor Antonio Figueira –
Hospital Universitário Osvaldo Cruz./HUOC; com
diagnóstico de infarto agudo do miocárdio (IAM).
Com intuito de termos todos os grupos com
idades comparáveis, todos os entrevistados deveriam
possuir idade superior a 30 anos.
Os questionários foram aplicados por estudantes
do curso de enfer magem da Faculdade de
Enfermagem Nossa Senhora das Graças –
Universidade de Pernambuco – UPE, após assinatura
do consentimento livre e esclarecido, obedecendo a
Resolução nº196/96 sobre pesquisas envolvendo seres
humanos [10] informado pelos pacientes, que
responderam a dois questionários.
• Questionário geral com dados referentes à
idade, sexo, estado civil, naturalidade, nacionalidade,
profissão, escolaridade, procedência, religião, fatores
de riscos cardiovasculares e antecedentes familiares
associados a coronariopatias.
• O questionário de Beck para avaliação da
depressão [17], mostrou a existência da depressão,
sendo a pontuação menor que 10 correspondente a
ausência de depressão ou depressão mínima;
pontuação entre 10 e 18 equivalente a depressão
leve; de 19 a 29 relacionada à depressão moderada;
e os valores entre 30 e 63 indicativos de depressão
grave [18].
Foram excluídos os pacientes terminais e os
que apresentavam distúrbios psiquiátricos
diagnosticados e eram incapazes de compreender
as perguntas existentes nos questionários.
Para análise estatística utilizamos o programa
SPSS 9.0. O estudo entre as variáveis discretas e
contínuas foi realizado através da análise de variância
(Anova), e o estudo entre as variáveis discretas entre
si foi realizado através de teste de Fisher. Para os
cálculos estatísticos entre as características clínicas,
demográficas e de depressão utilizamos valor de
significância de 5% (p=0,05).
&
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Resultados
Análise e discussão
Tabela I - Características demográficas dos pacientes estudados. Recife, 2003.
No presente estudo
levantamos a hipótese de que o
paciente pós-infarto com
estado emocional alterado
poderia desenvolver um quadro
de depressão o qual poderia
predispor a um novo infarto. Ë
importante ressaltar que os
grupos foram homogêneos, no
que se refere às características
demográficas e clínicas.
A co-morbidade com a
depressão, em pacientes com
doenças crônicas (hipertensão,
diabetes, coronariopatias), tem
efeito adverso que afeta o nível
de funcionamento, a qualidade
de vida, e dificulta o controle
das doenças. Trata-se de uma
doença com importantes
repercussões sociais e individuais por afetar não
somente o convívio social,
impossibilitando uma rotina de
vida satisfatória, mas também
pelo risco inerente de morbidade, cronicidade e aumento
da mortalidade, em decorrência
de suicídios ou de complicações
principalmente por doenças
cardiovasculares.
Há evidências de que a
depressão exerça seus efeitos por
meio de mecanismos comportamentais (estilos de vida não
saudáveis, fumo e ausência de
exercícios) ou por efeito
fisiopatológico direto. Na
depressão ocorrem hipercortisolemia, aumento da reatividade
plaquetária, redução da variabilidade da freqüência cardíaca e
prejuízo do controle vagal.
Essas alterações explicariam, então um potencial
arritmogênico e efeitos próaterogênicos da depressão,
podendo elucidar o aumento de
mortalidade por causas cardiovasculares descrito em pacientes
com doença afetiva.
Total (n=35)
Idade média
31 – 40 anos
41 – 50 anos
51 – 60 anos
61 – 70 anos
Masculino (n=20)
Feminino (n= 15)
01
01
05
13
1
3
7
4
(5,00%)
(5,00%)
(25,00%)
(65,00%)
(6,66%)
(20,00%)
(46,66%)
(26,66%)
Estado civil
Casado
Não - casado
15 (75,00%)
05 (25,00%)
11 (73,33%)
04 (26,66%)
Religião
Católica
Não-católica
17 (85,00%)
03 (15,00%)
15 (100,00%)
06 (30,00%)
05 (33,33%)
10 (50,00%)
11 (73,33%)
Escolaridade
Inferior ou igual ensino
fundamental completo
Superior a ensino
fundamental
Analfabetos
04 (20,00%)
Raça
Branca
Não-branca
17 (85,00%)
03 (15,00%)
14 (93,33%)
01 ( 6,66%)
Tabela II - Pontuação do questionário de BECK.
Beck
Sem depressão
Depressão leve
Depressão moderada
Depressão grave
Total (n = 35)
18 (51,42%)
14 (40,00%)
03 (8,57%)
00 (0,00%)
Masculino (n = 20)
12 (34,28%)
07 (20,00%)
01 (2,85%)
00 (0,00%)
Feminino (n = 15)
06 (17,14%)
07 (20,00%)
02 (5,71%)
00 (0,00%)
Tabela III – Fatores de risco associado às características clínicas dos pacientes
com infarto do miocárdio (IM). Recife, 2003.
características
Total (n= 35)
Masculino (n=20)
Estresse
Sim
24 (68,57%)
15 (75,00%)
Não
11 (31,42%)
05 (25,00%)
Diabetes mellitus
Sim
17 (48,57%)
07 (35,00%)
Não
18 (51,42%)
13 (65,00%)
Obesidade
Sim
19 (54,28%)
06 (30,00%)
Não
16 (45,71%)
14 (70,00%)
Tabagismo
Sim
22 (62,85%)
13 (65,00%)
Não
13 (37,14%)
07 (35,00%)
Hipertensão
Sim
27 (77,14%)
13 (65,00%)
Não
08 (22,85%)
07 (35,00%)
Dislipidemias
Sim
31 (88,57%)
17 (75,00%)
Não
04 (11,42%)
03 (15,00%)
* os pacientes apresentaram mais de uma resposta
Feminino (n= 15)
09 (60,00%)
06 (40,00%)
10 (66,66%)
05 (33,33%)
13 (86,66%)
02 (13,33%)
09 (60,00%)
06 (40,00%)
14 (93,33%)
01 (6,66%)
14 (93,33%)
01 (6,66%)
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Estudos têm demonstrado ligações importantes
entre doenças cardiovasculares e desordem afetiva,
incluindo:
• Pacientes com depressão têm maior risco de
morte súbita cardiovascular
• Pacientes com depressão exibem maior
prevalência de doença cardíaca isquêmica, com
mortalidade muito maior comparado ao grupo
controle sem depressão
Pacientes pós-infartados e depressivos têm
mortalidade maior comparados aos pós-infartados
sem depressão.
Características demográficas e clínicas
dos pacientes estudados
Tabela 1. A média de idade dos pacientes
estudados foi de 61 a 70 anos, correspondente a
48,57% da amostra estudada. A grande maioria dos
pacientes era católica e de raça branca (91,42% e
88,57%, respectivamente). 74,28% eram casados, e
apenas 11,42% da população estudada eram
analfabetos. Procuramos pesquisar a existência de
correlação significativa entre os grupos estudados,
observamos, então, que a pontuação do questionário
de depressão de Beck foi significativa (p=0,04)
Encontramos correlações estatísticas entre as
pontuações dos questionários de Beck e idade, estado
civil, religião, escolaridade.
Tabela 2. Ao comparar faixa etária (60 a 70) com
o grau de depressão, observa-se que com o avanço da
idade o ser humano pode desenvolver o sentimento
de que se inicia a última etapa da vida, desencadeando
uma condição depressiva com a percepção do
envelhecimento. É fundamental considerar a
importância desses achados visto que a depressão
atinge 15% dos idosos, com até 2% de casos graves.
Há um problema de dimensão significativa quando se
observa que o número de pessoas nesta faixa etária
(60 a 70 anos) cresce rapidamente no Brasil.
Tabela 3. Demonstra a associação entre fatores
de risco e características clínicas dos pacientes em
estudo demonstrando a relação quantitativa entre os
fatores de risco tradicionais que tem a capacidade de
induzir a doença cardiovascular aterosclerótica.
Com relação aos níveis de depressão durante o
período de internação observaram-se, curiosamente,
alterações de humor e reações depressivas
significativas do grau de depressão leve para moderada.
Na literatura, porém as opiniões não diferem a esse
respeito[14,13,5] encontraram altos níveis de
depressão nos pacientes internados com diagnóstico
(IM). São comuns pacientes com doença coronariana
sentirem depressão [14]. A prevalência combinada de
depressão maior ou menor nos pacientes pósinfartados é estimada em 45%. Depressão maior
isoladamente afeta de 15% a 22% desses pacientes,
mesmo quem não tenha história de (IM). Já com
doença coronariana comprovada, a associação com a
depressão maior afeta ao redor de 18% dos
pacientes[14,5]. Em nosso estudo, mesmo analisando
a tendência a níveis de pontuação mais altos,
indicativos de depressão, observamos a prevalência
do grau de depressão leve nos pacientes internados
com diagnóstico de (IM) em 40,00% acreditamos ser
essa uma tendência significativa.Um fato interessante
foi a significativa correlação entre religião católica em
comparação com o que foi encontrado para pacientes
não católicos. Na literatura encontramos estudos que
apontam para uma correlação positiva entre o bem
estar espiritual e qualidade de vida em portadores de
cardiopatias [19]. Talvez essas pessoas possam
encontrar na religião maior segurança pessoal e
estabeleçam um melhor vínculo entre suas relações
interpessoais frente ao diagnóstico e seu tratamento.Os
fatores de risco (estresse, obesidade, hipertensão,
diabetes) associados às características clinicas
corroboram com a literatura no que se refere as suas
complicações, demonstrando o comprometimento da
função cardíaca, precipitando eventos isquêmicos
variáveis na intensidade e na evolução temporal
favorecendo o aumento da mortalidade cardiovascular.
Observa-se na mulher, maior prevalência devido às
alterações metabólicas favoráveis das lipoproteínas da
pré-menopausa, apesar da doença arterial resultar de
mecanismos multifatoriais.
O presente trabalho tem limitações, por ter
estudado um pequeno número de pacientes, o que
poderia contribuir para que não se evidenciassem
correlações maiores entre a depressão e o infarto do
miocárdio. Adicionalmente por termos apenas
estudado pacientes nos primeiros 30 dias de
internamento, não podemos excluir que tenham
ocorrido efeitos significativos, porém mais tardios
sobre o humor destes pacientes.
Conclusão
Concluímos que, apesar do pequeno número de
pacientes estudados, o início da internação parece
induzir um nível significativo de depressão nos
pacientes internados pós-infartados. Assim, pesquisas
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adicionais são necessárias para descobrir a correlação
entre a depressão e o IM, o grau de risco que a
depressão acrescenta, além de outros fatores de risco no
desenvolvimento das coronaropatias. Adicionalmente, o
tratamento da depressão associada a uma cardiopatia é
importante não só porque o transtorno afetivo pode
comprometer a qualidade de vida, mais também porque
a intervenção pode reduzir a utilização desnecessária dos
cuidados de saúde, diminuir a mortalidade e prolongar a
sobrevida do paciente.
9.
10.
11.
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Artigo original
A importância do aleitamento materno
na visão das mães
The breastfeeding importance in mother’s view
La importancia del amamantamiento materno
en la visión de las madres
Mislene Maldonado dos Santos*, Maria Rita Vieira Rodrigues**
*Acadêmica em Enfermagem da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP),**Enfermeira, Mestre em Ciências da Saúde em
Educação na Saúde da Criança, Chefe do Departamento de Enfermagem Especializado no Curso de Graduação em Enfermagem da Famerp,
Chefe da Disciplina de Enfermagem Pediátrica, Supervisora do Aprimoramento e Aperfeiçoamento em Enfermagem Pediátrica, Docente responsável
pela Disciplina: Saúde da Criança e do Adolescente na Especialização do PSF pelo Ministério da Saúde
Resumo
Objetivou-se com este estudo verificar o conhecimento das mães em relação ao aleitamento materno, por quanto tempo a
criança foi amamentada e os motivos da não amamentação. A amostra final ficou constituída de 20 mulheres, todas residentes
em São José do Rio Preto – SP., que foram acompanhadas em 4 visitas domiciliares bimestrais no período de Junho de 2002
à Janeiro de 2003. Nos resultados verificou-se que as mulheres apresentavam um bom conhecimento sobre a importância do
aleitamento materno, contudo a maioria delas iniciaram o desmame precoce, por volta do 2º e 4º mês de vida da criança e,
apenas 6 mulheres amamentaram exclusivamente nos primeiros seis meses. Cabe ao profissional enfermeiro, estimular e
preparar essas mulheres para a lactação.
Palavras-chave: aleitamento materno, desmame, saúde da criança.
Artigo recebido em 20 de julho de 2003; aceito em 1 de agosto de 2003.
Endereço para correspondência: Mislene Maldonado dos Santos,
Rua Paraná, 578, 15140-000 Bálsamo SP, Tel.: (17) 3264-7527, E-mail: [email protected]
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Abstract
The aim of this study is to verify the mother’s knowledge about breastfeeding, how long the child was breast-fed and the
reasons of the weaning. It treats mainly about the participation of 20 women, all resident in São José do Rio Preto SP, that
were assisted during four home visits, bimonthly, from June 2002 to January 2003. As a result we verified that all women had
a good knowledge about the breastfeeding importance, however most of them began an early wean around the second or
fourth month of baby life, only 6 women breast-fed in the first 6 months. The professional nurse has a prime role in stimulate
and prepare these women for the lactation.
Key-words: breastfeeding, weaning, child health.
Resumen
El objetivo de este estudio fue verificar el conocimiento de las madres en relación al amamantamiento materno, por cuanto
tiempo fue dado el leche materno y los motivos del destete. La muestra final fue constituida de 20 mujeres, todas residentes
en São José do Rio Preto – SP, que fueron acompañadas en 4 visitas domiciliares, bimestrales, en el periodo de Junio de 2002
a Enero de 2003. Según los resultados, se verificó que todas las mujeres presentaban un buen conocimiento sobre la importancia
del amamantamiento materno, sin embargo la mayoría de ellas iniciaron el destete precoz alrededor del 2o y 4º mes de vida del
niño y, apenas 6 mujeres amamantaron exclusivamente en los primeros seis meses. De esa manera, el profesional enfermero,
pasa a tener un papel fundamental en la estimulación y preparación de esas mujeres para la lactación.
Palabras-clave: amamantamiento materno, destete, salud del niño.
Introdução
Objetivos
Assiste-se a uma crescente retomada de
consciência sobre a superioridade e importância do
leite humano. Pesquisas de campo em diversos países
descobriram taxas de mortalidade e morbidade mais
elevada entre crianças desmamadas precocemente [1].
O leite humano possui fatores biológicos
imprescindíveis para o crescimento e desenvolvimento
da criança e o ato da amamentação trás muitos
benefícios para a mãe, inclusive menor risco de contrair
câncer de mama.
Lembrando também, que o aleitamento materno
trás vantagens para o Planeta, pois os produtos
utilizados para produção, armazenamento e
distribuição dos leites industrializados, bem como
mamadeiras e bicos, causam poluição e lixos muitas
vezes não recicláveis.
Apesar de existir muitas campanhas de incentivo
ao aleitamento materno, educação no pré-natal,
acompanhamento no alojamento conjunto, verificase ainda que o desmame precoce é muito alto [2].
Com o intuito de verificar se em nosso município
este fator acontece, pretendeu-se realizar o presente
estudo, pois com isto nos fornecerá subsídios para
uma atuação de enfermagem dinâmica, precisa e eficaz.
- Verificar o conhecimento das mães em relação
ao aleitamento materno;
- Verificar por quanto tempo a criança é amamentada ao seio e os motivos da não amamentação.
Material e métodos
Tipo de estudo
Neste estudo foi utilizado o método descritivo,
através do qual verificou-se o conhecimento das mães
em relação ao aleitamento materno, a aceitação do
aleitamento nos primeiros seis meses de vida e os
motivos da não amamentação.
O propósito da pesquisa descritiva é observar,
descrever e explorar aspectos de uma situação, de tal
modo que seja possível desvelar sua natureza e os
processos que se inter-relacionam [3].
Questões éticas
Antecedendo a coleta dos dados tomaram-se as
providências recomendadas para pesquisas
!
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envolvendo seres humanos, segundo Resolução 196/
96 CNS, encaminhando para apreciação e autorização
do Comitê de Ética em Pesquisa da FAMERP.
Foi solicitado o consentimento da população do
estudo após esclarecimento sobre a pesquisa.
Local do estudo
O estudo foi realizado inicialmente em um
Hospital de Grande Porte, em unidade de internação
e ambulatório, que se encontra na cidade de São José
do Rio Preto/SP, localizada no noroeste paulista. É
um hospital geral, com grande demanda de assistência
filantrópica que atende às diferentes especialidades na
área da saúde, e tem por finalidades a prestação de
assistência, ensino e pesquisa. Após a concordância
com a pesquisa, foi realizada uma entrevista e,
posteriormente, visitas domiciliares bimestrais.
População
A população deste estudo se constituiu de mães,
cujo parto foi realizado no Hospital de Base, e de
gestantes que estavam em acompanhamento no prénatal no ambulatório, durante o mês de maio de 2002,
com residência em São José do Rio Preto.
Amostra
A amostra ficou constituída, inicialmente, de 22
mães, sendo que uma pediu para ser retirada do estudo,
o que foi respeitado; a outra mudou de cidade não
sendo mais possíveis as visitas domiciliares. Com isto
houve o acompanhamento com 20 mães, todas
residentes em São José do Rio Preto.
Período de coleta de dados
O levantamento de dados foi realizado no
período de Junho de 2002 à Janeiro de 2003.
Procedimento de coleta de dados
O instrumento utilizado foi um questionário
semi-estruturado, com o intuito de verificar o
conhecimento das mães em relação ao aleitamento
materno; as possíveis dificuldades que estas poderiam
apresentar no pré-natal e durante a lactação, e que de
alguma forma as impediriam de amamentar; os
motivos pela não aceitação do aleitamento materno
e/ou desmame precoce.
As entrevistas foram realizadas pela própria
pesquisadora, sendo que no mês de maio foi feita no
hospital com as mulheres que já tinham sido submetidas
ao parto e no ambulatório com as mulheres que estavam
em acompanhamento no pré-natal. De junho de 2002
a janeiro de 2003 foram feitas visitas domiciliares
bimestrais. Estas entrevistas foram feitas de forma
individual sendo transcritas suas palavras.
Apresentação e análise dos resultados
Os dados obtidos foram agrupados e
relacionados segundo os objetivos deste estudo,
analisando assim a visão das mães quanto a prática e a
importância do aleitamento materno para a saúde do
seu filho. As respostas foram apresentadas sobre a
forma de tabelas ou descritiva para aquelas que não
se adequaram a tal forma de apresentação.
Resultados e discussão
Dados relativos à caracterização da amostra
A população estudada constitui-se de 20 mães
cuja caracterização social foi feita segundo faixa etária,
ocupação, estado civil, escolaridade e número de filhos.
Verificou-se que onze (55%) mães não
trabalham, tendo como recurso financeiro a
remuneração do marido, pais ou companheiro; doze
(60%) estão na faixa etária de 14 a 22 anos, sendo
uma população jovem. Oito (40%) mães são solteiras,
sete (35%) são amasiadas e cinco (25%) são casadas.
Todas têm grau de instrução escolar facilitando o
entendimento de orientações e para dez (50%) mães
é o primeiro filho.
Verifica-se que uma das vantagens importantes
do aleitamento materno é o custo, pois uma criança
alimentada nos seis primeiros meses de vida, com leite
artificial consome cerca de 13% do salário mínimo. A
amamentação é uma fonte de economia para a família,
especialmente nos países em desenvolvimento, onde
grande parte da população pertence aos níveis sócioeconômicos mais baixos [2].
Um outro fator que impede o aleitamento é a
falta de suporte para a mulher no período pós-natal.
Conhecimento das mães sobre
o aleitamento materno
A verificação do conhecimento foi feita sobre
três questionamentos, o quê sabe sobre o aleitamento
materno; se o leite materno tem todos os componentes
necessários para o crescimento e desenvolvimento
saudável da criança, e se o leite humano é fraco.
"
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Tabela I - Conhecimento das mães sobre o aleitamento materno. São José do Rio Preto, 2003.
O saber sobre o aleitamento
Freqüência A criança tem um
desenvolvimento
saudável
N
3
3
3
3
2
1
1
1
1
1
1
%
15
15
15
15
10
5
5
5
5
5
5
x
x
x
x
x
Previne
doenças
x
x
Essencial nos
primeiros seis
meses de vida
Aumenta
Principal fonte
o vínculo
de alimento nos
mãe-filho primeiros seis meses
de vida
x
x
x
x
x
x
É econômico
x
x
x
x
x
Pela Tabela I verifica-se que 13 (65%) mães
relatam a importância do aleitamento materno na
prevenção de doenças, 50% relataram ser essencial
até o sexto mês de vida, 9 (45%) referem a importância
para o desenvolvimento saudável e apenas 2 ( 10%)
relatam a importância para o vínculo mãe-filho.
Sabe-se que o leite materno é fundamental para a
saúde das crianças nos seis primeiros meses de vida,
por ser um alimento completo, fornecendo inclusive
água, com fatores de proteção contra infecções comuns
da infância, isento de contaminação e perfeitamente
adaptado ao metabolismo da criança [2].
O aleitamento materno tem papel relevante na
prevenção das doenças infecciosas, além de constituir
um fator de importância nutricional, bioquímica e
imunológica para o crescimento e desenvolvimento
das crianças no seu primeiro ano de vida [4].
É a única fonte de nutrientes para os seis
primeiros meses de vida, uma vez que a alimentação
do seio evita a introdução precoce, no trato
gastrintestinal, de antígenos, fornecendo anticorpos
que protegem o sistema imunológico da criança [5].
Durante a amamentação aprofunda-se o vínculo
entre a mãe e o bebê, e estudos mostram que o leite
natural dado até o primeiro ano de vida reduz a morte
por diarréia em até quatorze vezes; diminui os casos
de pneumonia em até quatro vezes, e o risco de
hospitalização acaba sendo cinco vezes menor do que
em bebês que não recebem leite materno.
Inúmeras pesquisas mostram que todos os bebês
precisam de afago, e que aqueles que não tiveram
contato físico tem maior risco de adoecer e até morrer.
Na amamentação, o contato físico é maior e
proporciona à mãe e ao bebê um momento de
proximidade diária. Essa ligação emocional muito
x
x
x
x
forte e precoce pode facilitar o desenvolvimento da
criança e seu relacionamento com as outras pessoas.
Durante a amamentação tanto a mãe quanto a
criança são beneficiadas e há uma possível proteção
contra a síndrome da morte súbita, o diabete melito
insulino-dependente, a doença de Crohn, a colite
ulcerativa, o linfoma, as doenças alérgicas, o câncer
de mama e de ovário na mulher que amamenta, além
de otimizar o desenvolvimento neurológico da criança
e promover o vínculo afetivo entre mãe e filho [6].
Quanto ao questionamento referente se o leite
materno tem todos os componentes necessários para
o crescimento e desenvolvimento saudável da criança,
todas relataram que sim e na justificativa de suas
respostas a maioria relatara:
“porque o leite materno é 100% natural ao
contrário do leite industrializado que contém produtos
químicos”.
“porque todos dizem que é completo, ou seja,
tem tudo que a criança precisa para se desenvolver”.
“porque é completo tem tudo que a criança
precisa, é por isso que existe tanta propaganda
incentivando o aleitamento”.
“porque segundo pesquisas, o leite materno
protege 90% das crianças amamentadas, e igualmente
são mais nutridas, saudáveis e protegidas contra vírus”.
“...porque possui proteínas e todos os
componentes necessários para o crescimento e
desenvolvimento saudável da criança”.
“não dá diarréia, infecção e evita ressecamento”.
“tem tudo que a criança precisa, não
necessitando dar chá, leite ou outro complemento”.
Sabe-se que as características bioquímicas e
imunológicas de especificidade próprias do leite
#
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humano lhe conferem uma composição ideal e
incomparável a qualquer outro tipo de leite:
bacteriologicamente é seguro e imunologicamente
apresenta fatores de proteção e de defesa contra
infecções, especialmente as gastrintestinais. Do ponto
de vista nutricional, o leite humano é capaz de suprir
todas as necessidades alimentares da criança durante
os seis primeiros meses de vida, por ser considerado
como uma solução altamente complexa, com cerca
de 160 substâncias conhecidas, constituídas
basicamente por proteínas, células, sais minerais e
carboidratos, que contém gordura em suspensão [1].
O leite materno contém endorfina, substância
química que ajuda a suprimir a dor, portanto, deve-se
amamentar o bebê após a vacinação, pois além de
ajudá-lo a superar a dor, o leite materno também
reforça a eficiência da vacina. Contém também todos
os nutrientes (água, proteína, lactose, ferro, sais, cálcio
e fósforo), de que a criança precisa nos primeiros seis
meses de vida na quantidade suficiente, e uma enzima
especial (lipase) que digere gorduras, sendo facilmente
digerido e absorvido, fazendo com que a criança queira
uma nova mamada num intervalo menor do que aquela
que está tomando mamadeira.
Quanto à questão do leite fraco, todas referiram
já ter conhecimento e, a atitude tomada neste
caso, seria:
• Continuaria com o leite materno (65%)
• Acrescentaria a mamadeira (35%)
Verificou-se que 65% das mães relataram que
em caso de leite fraco só deve ser dado o leite
materno, apesar disso 9 mães relataram existir leite
fraco. Uma mãe disse não existir, mas disse que a
mamadeira deve ser dada a partir do terceiro mês de
vida. Outra referiu não existir porque o médico disse,
mas não tem certeza.
Todas a mães foram informadas de que não
existe leite fraco, mesmo que sua aparência seja mais
rala se comparado com o leite de vaca. Nos primeiros
dias pós-parto, as mamas secretam o colostro, um leite
amarelado, rico em anticorpos, que protege a criança
contra a maior parte das bactérias e vírus, sendo
suficiente nos primeiros dias de vida de uma criança
normal. Em uma ou duas semanas, o leite aumenta
em quantidade e muda seu aspecto e composição,
fornecendo todos os nutrientes necessários para um
crescimento e desenvolvimento saudável.
O leite do começo surge no início da mamada,
com aparência acinzentada e aguda. É rico em
proteínas, lactose, vitaminas, minerais e água. Já o leite
que surge no final da mamada parece mais branco do
que o leite do começo porque contém mais gordura.
A gordura torna o leite do fim mais rico em energia,
correspondendo a metade da energia presente no leite
materno. A criança precisa tanto do leite do começo
quanto do fim, para crescer e se desenvolver, cabendo
a mãe deixá-la parar espontaneamente de mamar. A
interrupção da mamada pode fazer com que ela receba
pequena quantidade do leite do fim e,
conseqüentemente, menos gordura. Na época das
amas de leite, essas mulheres eram obrigadas a
alimentar primeiro os filhos dos patrões, e seus filhos
recebiam apenas o leite do fim. Conseqüentemente
recebiam toda a gordura, e muitas vezes eram
castigadas porque seus filhos cresciam mais que os
filhos dos patrões.
Dados sobre o acompanhamento à domicílio
Tabela II - Tipo de alimentação de acordo com a
idade em meses. São José do Rio Preto, 2003.
Tipo de
alimentação
Idade em meses
2 meses
4 meses
N %
N %
Leite materno
13 65
8
40
Leite materno 5 25
e complemento
2
10
Outro leite
1
5
Leite materno
e fruta
1
5
Leite materno,
fruta, papa
salgada e água
1
5
Leite materno
e suco
1
5
Leite materno,
complemento,
suco e fruta
2
10
2
10
Leite materno,
complemento,
suco, papa salgada
e fruta
216
5
25
2
10
4
20
Outro leite, papa
salgada, suco e
água
2
10
7
35
Outro leite, fruta,
Suco e água
2
10
2
10
A Tabela II mostra que com 2 meses de vida
65% das crianças estavam sendo alimentadas somente
com o leite materno, o que foi mudando a partir do
$
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6 meses
N %
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4º mês onde foram sendo introduzidos outros tipos
de alimento, 25% estavam com leite materno mais
complemento e 10% com outro tipo de leite, verificouse também que apenas 30% continuaram com o leite
materno exclusivo até o sexto mês.
Motivos para outro tipo de leite no 2º mês de vida
Uma mãe relatou que tinha pouco leite e que
este estava fraco, pois a criança chorava muito a cada
mamada; a outra referiu ter apresentado fissuras na
mama e sentia muita dor ao amamentar.
Motivos para o leite materno mais o complemento
no 2º mês de vida
Todas relataram que o leite materno estava sendo
insuficiente. Uma mãe, além disso, disse ter recebido
orientação de sua mãe. Outras duas mães disseram estar
iniciando o desmame, pois teriam que voltar ao trabalho.
Motivos para o leite materno e outros tipos de
alimento no 4º mês de vida
Duas mães referiram que o leite materno estava
sendo insuficiente. Uma Mãe relatou que outro
alimento era bom para o desenvolvimento da criança
e quem orientou foi sua mãe. Outra referiu que foi
orientação médica pois logo retornaria ao serviço.
Outra mãe relatou que retornou ao trabalho. E uma
outra disse que era por causa das vitaminas que ajudam
no crescimento.
Motivos para outro tipo de leite e alimentos no 4º
mês de vida
Por terem iniciado o desmame no 2º mês de vida
e pelo leite materno ser insuficiente.
A amamentação é uma escolha individual que se
desenvolve dentro de um contexto sociocultural,
portanto influenciada pela sociedade e pelas condições
de vida da mulher [7].
A prevalência do aleitamento materno é baixa,
de curta duração e, o aleitamento materno exclusivo
até o sexto mês de vida é raro [2].
Há vários aspectos envolvidos com o ato de
amamentar [8], dentre eles:
- Mãe: condições psíquicas (experiências anteriores
e significados e valores do aleitamento materno);
- Meio: envolve as representações sociais sobre
o aleitamento materno;
- Condições biológicas: dor, enfermidades;
- Apoio social: família, trabalho, berçários,
creches, etc.
Conceitua-se desmame a introdução de qualquer
outro tipo de alimento além do leite materno. O
desmame não é um momento e, sim, um processo
que vai desde a introdução de um novo alimento até a
suspensão completa do aleitamento materno [9].
Os dados sobre introdução de novos alimentos
indicam que desde muito cedo já são oferecidos sucos,
leites engrossados com farinhas e, gradualmente, sopas
e caldo de feijão. Isso ocorre principalmente em função
de uma percepção por parte das mães e familiares de
que, embora o leite materno seja o alimento ideal para
o bebê, nem sempre a mãe possui quantidade suficiente
(“pouco leite”, “leite que secou”), ou qualidade
adequada (“leite fraco”, “leite ralo”).
Um estudo sobre realizado em Nova Zelândia
com 1000 crianças e por um período de 18 anos
provou que as crianças amamentadas ao seio eram
mais inteligentes e tinham mais sucesso na escola e
universidade [10].
Há relato também de que o desenvolvimento
psicomotor e social dos bebês amamentados é
claramente melhor e resulta, na idade de um ano, em
vantagens significantes [11].
Conclusão
Este trabalho levou-nos as seguintes conclusões:
- Todas as mães têm um bom conhecimento
sobre a importância do aleitamento materno no
crescimento e desenvolvimento da criança;
- A maioria inicia o desmame precoce, sendo
os principais motivos a hipogalactia e a volta ao
trabalho;
- Apenas 30% amamentaram exclusivamente
nos primeiros seis meses;
- Apenas duas mães relataram que o
aleitamento materno favorece o vínculo afetivo mãefilho;
- As mães possuem uma instrução escolar boa,
que favorece o entendimento das orientações dadas;
- Na prática elas não estavam conscientizadas
quanto ao seu papel de mãe – fonte principal de
alimento e amor para o seu filho.
A meta de estender os benefícios do aleitamento
materno para toda a sociedade, depende de muitos
fatores, em geral nas áreas social, econômica,
educacional, cultural, política, e também, do trabalho
de todo o pessoal da área de saúde, atuando na união
de esforços em estímulo e suporte eficazes.
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Todos os profissionais da área de saúde
envolvidos com o binômio mãe-filho (pediatras,
obstetras, enfermeiros e outros), devem ser bem
informados e realmente convencidos da importância
e da técnica do aleitamento materno, para então
exercerem com competência seu vital papel de
educadores para a saúde, acompanhando de perto mãe
e filho, com tantos retornos forem necessários,
partilhando com a mãe suas dificuldades, diminuindo
suas dúvidas, passando informações, orientações claras
e serenas e, conseqüentemente, contribuindo para uma
amamentação segura e eficaz.
Diante disso, cabe ao profissional de saúde uma
atuação mais dinâmica e conscientizadora junto a essas
mulheres, enfocando a prática do aleitamento materno
durante a gestação, pós-parto, consultas de
puericultura e até visita domiciliar.
O profissional de enfermagem, em especial, tem
um papel fundamental na conscientização e
preparação dessas mulheres para a lactação, devendo
incentivar, promover e restabelecer a superioridade e
importância do aleitamento materno, pois, como
vimos, este é o melhor alimento para uma criança
crescer e se desenvolver saudavelmente.
Este trabalho sugere que deve ser dada uma
cobertura maior nestas orientações, não só para a
gestante como também à família, comunidade e
pessoas que convivem com estas gestantes, pois se
verifica que estas recebem apoio no pré-natal e no
alojamento conjunto, mas não em casa.
Referências
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puericultura. São Paulo: Atheneu; 1995.
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enfermagem. 3a ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 1995.
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criança: ações básicas. Brasília: Ministério da Saúde;
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use of human milk. Pediatrics 1997;100(6):1035-1039.
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comunicação na promoção do aleitamento materno.
Rev latinoam enfermagem 2002;10(2):234-8.
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Ministério da Saúde. Nursing 2000;3(31).
10. Harwood and Fergusson. Breast feeding and later
cognitive and academic outcomes: Pediatrics
1998;1001(1).
11. Baumgartner C. Psycomotor and social development
of breastfeed and bottle babies during their first year
of life. Acta Pediatrica Hungarica 1984. K
&
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Artigo original
Risco de suicídio: um cuidado de enfermagem
Suicide risk: nursing care
Riesgo de suicidio: un cuidado de enfermería
Rosane Beatriz Lucena Saccaro*
*Acadêmica em Enfermagem da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP),**Enfermeira, Mestre em Ciências da Saúde em
Educação na Saúde da Criança, Chefe do Departamento de Enfermagem Especializado no Curso de Graduação em Enfermagem da Famerp,
Chefe da Disciplina de Enfermagem Pediátrica, Supervisora do Aprimoramento e Aperfeiçoamento em Enfermagem Pediátrica, Docente responsável
pela Disciplina: Saúde da Criança e do Adolescente na Especialização do PSF pelo Ministério da Saúde
Resumo
Trabalhando com indivíduos portadores de distúrbios psiquiátricos, verificou-se a necessidade de se utilizar algum método
que auxiliasse no cuidado ao paciente com risco de suicídio. O ato do suicídio é um fenômeno complicado, multidimensional,
associado de forma esmagadora a doenças psiquiátricas concomitantes. A vítima potencial de suicídio pode ser identificada
precocemente, pois a maioria destes pacientes informa a outra pessoa sobre as suas intenções suicidas. Risco é a probabilidade
de um indivíduo apresentar um problema ou dano de saúde. Pode ser uma medida estatística de probabilidade de uma
ocorrência futura geralmente indesejável. A complexidade dos fatos que leva uma pessoa a dar fim à própria vida dificulta
bastante a predição do ato, mas o bom preparo e a sensibilidade do profissional que atende um suicida em potencial, podem
ajudá-lo a identificar os indícios sutis da intenção. Como reflexo desta situação foi elaborado um instrumento que busca
identificar os pacientes com risco, através da consulta de enfermagem, de um questionário para avaliação do risco e na
elaboração de um plano terapêutico de cuidados. Este não é um trabalho acabado, mas o início de novas reflexões na
tentativa de que outros profissionais passem, a partir desta experiência, a refletir e até mesmo sistematizar novos métodos
para cuidar destas pessoas que gritam por socorro.
Palavras-chave: suicídio, distúrbios psicológicos.
Artigo recebido em 30 de junho de 2003; aceito em 1 de agosto de 2003.
Endereço para correspondência: Rosane Beatriz Lucena Saccaro,
Rua Ângelo Corso, 905 Ana Rech 95060-050 Caxias do Sul RS,
Tel: (54) 283-1373, E-mail: [email protected]
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Abstract
Working with individuals of psychiatric diseases, it was verified necessity of using some method that assisted in the care to
the patient with suicide risk. The act of the suicide is a complicated, multidimensional phenomenon, associated with concomitant
psychiatric diseases. The potential victim of suicide can precociously be identified, because the majority of these patients
informs to another person about its suicidal intentions. Risk is the probability of an individual of presenting a problem or
damage of health. It can be a statistic measure of probability of future occurrence, generally, undesirable . The complexity
of the facts that takes a person to put an end to his/her own life makes difficult the prediction of the act, but the good
preparation and the sensitivity of the professional that takes care of a potencial suicidal , can help to identify the subtle
indications of the intention. As reflected of this situation an instrument was elaborated that try to identify the patients with
risk, through the consultation of nursing, a questionnaire for evaluation of the risk and in the elaboration of a therapeutical
plan for assistance. This is not a concluding work, but the beginning of new reflections for other professionals to start
reflecting and also systemize new methods to take care of these people who ask for help.
Key-words: suicide, psychiatric diseases.
Resumen
Trabajando con individuos portadores de disturbios psicológicos, se verificó la necesidad de se utilizar algún método que
auxiliase en el cuidado al paciente con riesgo de suicidio. El acto de suicidio es un fenómeno complicado, multidimensional,
asociado a enfermedades siquiátricas concomitantes. La víctima potencial de suicidio puede ser identificada precozmente,
pues la mayoría de estos pacientes informa a otra persona sobre sus intenciones suicidas. Riesgo es la probabilidad de un
individuo presentar un problema o daño a la salud. Puede ser una medida estadística de probabilidad de una ocurrencia
futura, generalmente, indeseable. La complejidad de hechos que lleva una persona a poner un fin a la propia vida dificulta
bastante a la predicción del acto, pero el buen preparo y la sensibilidad del profesional que cuida de un suicida en potencial,
pueden ayudarlo a identificar los indicios sutiles de la intención. Como reflejo de esta situación fue elaborado un instrumento
que busca identificar los pacientes con riesgo, a través de un parecer de la enfermería, de un cuestionario para evaluación de
riesgo y en la elaboración de un plan terapéutico de cuidados. Este no es un trabajo terminado, pero el inicio de nuevas
reflexiones en la tentativa de que otros profesionales pasen, a partir de esta experiencia, a reflexionar y hasta mismo sistematizar
nuevos métodos para cuidar de estas personas que piden ayuda.
Palabras-clave: suicido, disturbios psicológicos.
Introdução
Este estudo foi idealizado para ajudar a atuação
dos enfermeiros e da equipe de enfermagem na
utilização de um instrumento que busca detectar e
avaliar o grau de risco de suicídio para pacientes
internados na Clínica Psiquiátrica Professor Paulo
Guedes de Caxias do Sul.
Quando falamos de risco de suicídio, lembramos
das palavras: desesperança, doença, dor, luto,
sofrimento e morte. O impacto que causa a todos
mostra a complexidade dos aspectos que devem ser
vistos e analisados, como: sociológicos, econômicos,
filosóficos, religiosos, éticos, morais, jurídicos.
Devemos analisar também o impacto na relação
profissional e na relação do próprio “Eu”, como um
“Ser”, com sentimentos e emoções. Esta análise de
conceitos de si mesmo é indispensável para que o
enfermeiro possa, através de suas intervenções, obter
respostas empáticas na ajuda ao paciente.
O enfermeiro, como um agente terapêutico, utilizase do processo de enfermagem para proporcionar ao
paciente e seus familiares um cuidado pessoal e a sua
independência. Este profissional e a sua equipe são os
responsáveis diretos pelo cuidado preventivo focalizado
na redução ou eliminações dos efeitos da doença.
O cuidado inclui a triagem que é realizada pela
consulta de enfermagem e pelo questionário de risco,
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as intervenções em crises, a prevenção de suicídios e
os cuidados na manutenção das necessidades humanas
básicas através do plano terapêutico.
Consulta de enfermagem
A falta e a escassez de conteúdos bibliográficos
que enfatizem o cuidado de enfermagem específico
para esta situação é um dado relevante, o que dificulta
a ação terapêutica.
Segundo Stevenson [1] o ato do suicídio é um
fenômeno complicado, multidimensional, associado
de forma esmagadora a doenças psiquiátricas
concomitantes. A vítima potencial de suicídio pode
ser identificada precocemente, por isso o profissional
que o assiste tem que estar atento aos sinais que esta
pessoa em sofrimento demonstra. A maioria destes
pacientes informam a outra pessoa sobre as suas
intenções suicidas.
Berkow [2], em análises de estudos sobre o
assunto, refere que 80% dos pacientes que
completaram o suicídio comunicaram a outros a sua
intenção de cometer o ato.
“A complexidade dos fatos que levam uma
pessoa a dar fim à própria vida dificulta muito a
predição do ato, mas o bom preparo e a sensibilidade
do profissional que atende um suicida em potencial,
podem ajudá-lo a identificar os indícios sutis da
intenção” [3].
“Risco é a probabilidade de um indivíduo
apresentar um problema ou um dano de saúde. Pode
ser uma medida estatística de probabilidade de uma
ocorrência futura geralmente indesejável” [4].
Como reflexo dessa situação, a procura pelo
aperfeiçoamento do cuidado de enfermagem tem
buscado a identificação dos pacientes com risco de
suicídio, através da consulta de enfermagem e tem
como objetivo adquirir informações específicas
necessárias para o diagnóstico e o planejamento dos
cuidados de enfermagem e facilitar a relação
enfermeiro-paciente.
Todas estas atividades são desenvolvidas na
Clínica Professor Paulo Guedes que é uma entidade
especializada no atendimento psiquiátrico e mantida
pelo Sistema Único de Saúde.
O primeiro contato do enfermeiro com o
paciente acontece no setor de admissão com a consulta
de enfermagem.
O paciente e o acompanhante são recebidos pelo
enfermeiro em uma sala localizada na área da portaria
central, anexa à sala de consulta médica e recepção,
disposta com escrivaninha e cadeira para uso do
enfermeiro, e que contém formulários, maca para
exame, carro de medicação de urgência e outros
recursos destinados a procedimentos necessários,
como termômetros, aparelho de pressão para
verificação dos sinais vitais, cadeiras para acomodação
do paciente e acompanhante, balança antropométrica
para verificação de peso e altura, lavatório para as mãos.
A estrutura da consulta de enfermagem (anexo
I), difere dos tipos de entrevista executada por outros
membros da equipe de saúde, uma vez que ela tem
seu foco na identificação das reações e sintomas do
paciente que podem ser tratados com as intervenções
da enfermeira e da equipe de enfermagem. A ela são
incorporados outros dados, como revisão do
prontuário anterior, quando se tratar de pacientes com
mais de uma internação, encaminhamentos, exames
médicos, laboratoriais e radiológicos anteriormente
realizados, medicações em uso, bem como dados da
consulta médica atual.
Como parte de sua estrutura, procede-se o
levantamento de um breve histórico, com dados de
identificação colhidos diretamente do paciente, dados
clínicos que possam interessar ao enfermeiro e equipe
de enfermagem e análise do prontuário anterior. Estes
dados inicialmente coletados irão ajudar a determinar
o estado de saúde atual do cliente.
Numa segunda etapa da entrevista, o enfermeiro
utiliza-se da observação sistemática, que envolve o uso
dos sentidos (visão, olfato, audição e tato), para
aquisição de outras informações sobre o paciente e
pessoas próximas, com o objetivo de verificar como
ele está interagindo com o ambiente. Os parâmetros
averiguados iniciam com a observação do aspecto geral
e do comportamento apresentado pelo cliente durante
a consulta, em que se avaliam a aparência e condições
de higiene, quadro nutricional, queixa principal
(motivo ou problema que levou o cliente ao hospital).
Feita a coleta dos dados sobre o paciente, além
do interrogatório sobre antecedentes pessoais e
familiares, o enfermeiro segue o processo de avaliação
inicial com exame físico, que é realizado no sentido
céfalo-caudal.
O estado mental do cliente é avaliado seguindo
uma ordem de questões estruturadas, que
compreendem motricidade, fala, conteúdo da fala,
alterações do humor, memória, orientação,
sensopercepção e delírios.
A consulta deve continuar até que chegue o
momento de pesquisar idéias e planos suicidas. Devese introduzir o assunto desesperança, receios e medos,
estimulando o paciente a falar sobre ele, e se for
positivo continuar abordando a questão naturalmente.
Oportunizando o cliente de falar se está pensando ou
se já pensou em morte, em morrer ou em tirar a própria
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vida. Como já foi citado, a quase totalidade das pessoas
comunicam a esta intenção através de sua fala.
Se durante esta busca estiverem presente sinais
que levem a concluir que esta pessoa poderá de alguma
forma atentar contra a sua vida, será então, incluído à
consulta, um questionário que avaliará o potencial para
o suicídio.
Questionário de risco
É um formulário padronizado (anexo II) que será
utilizado durante a consulta de enfermagem para
avaliar especificamente o grau de risco, sempre
partindo da premissa de que o cliente de maior risco
é aquele que já atentou ou que esboçou um plano que
pareça praticável.
Segundo estudos realizados por Kaplan e Sadock
[5] cerca de 40 a 70% dos suicidas apresentam transtorno
de humor e 40% dos pacientes deprimidos que
cometem suicídio fizeram uma tentativa anterior. O risco
de um paciente realizar uma segunda tentativa é mais
alto dentro de três meses após a primeira tentativa.
A abordagem é feita de uma maneira lenta e
deliberada. O enfermeiro, atento a todas as
comunicações dos pensamentos e as expressões do
comportamento do cliente, busca identificar os sinais
de aviso que podem ir desde expressões de desvalia
ao desejo de morrer, “não vale a pena continuar
vivendo assim”, “estou cansado do mundo”, “sei que
vou morrer logo”, ou uma sugestão de intenção
autodestrutiva até uma ameaça expressa ou uma
afirmação deliberada.
Segundo Giordano [6] o grito de socorro não é
um fim em si mesmo, mas um meio, por isso não
acontece uma única vez e, sim, muitas vezes, de
diferentes formas.
Juntamente com questionário de risco, o
enfermeiro utiliza para auxiliá-lo na busca de pistas
uma tabela com a relação dos fatores de risco.
“Fator de Risco: é considerado como qualquer
característica ou evento verificável referente a uma
pessoa e ao ambiente circundante que podem afetar
de modo adverso ou até específico as reações da
personalidade da pessoa. O fator é um elo numa cadeia
de associação que conduzem a um evento mórbido
ou indicador desses eventos” [4].
Esta tabela (anexo III), classifica os fatores de
risco em demográficos (idade, sexo, situação conjugal,
empregos, relações interpessoais, estrutura familiar),
saúde - física e mental; atividade suicida (ideação e
tentativa de suicídio) e recursos pessoais e sociais.
A entrevista executada pelo enfermeiro, na
internação, tem um tempo aproximado de vinte
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minutos. A classificação e organização dos dados são
os passos finais na fase de determinação do
diagnóstico de enfermagem.
Realizada a consulta de enfermagem, a
enfermeira analisa e interpreta os dados coletados para
identificar o diagnóstico.
Diagnóstico de enfermagem: constitui a base
para a seleção das intervenções de enfermagem, para
que se chegue aos resultados pelos quais o enfermeiro
é responsável [7].
O risco de suicídio é uma condição que varia de
grau de severidade, em que os principais sinais e
sintomas apresentados são tentativa anterior ou
suicídio fantasiado, ansiedade, depressão, cansaço,
disponibilidade de meios para o suicídio, preocupação
com o efeito de suicídio sobre os familiares, ideação
suicida verbalizada, preparação de um testamento,
resignação após depressão agitada, crise vital próxima
com o luto ou cirurgia iminente, história familiar de
suicídio, pessimismo ou falta global de esperanças.
(tabela com sinais e sintomas, anexo IV).
Hipóteses de diagnóstico
- Ajuste individual ineficaz;
- Alterações da nutrição: menor (maior) do que
as necessidades corporais;
- Déficit do autocuidado: higiene, aparência
pessoal, alimentação;
- Distúrbio do padrão do sono;
- Isolamento social;
- Distúrbio da comunicação verbal;
- Risco de violência: autodirigida;
- Luto disfuncional;
- Impotência;
- Alterações dos processos do pensamento.
Realizada a consulta de enfermagem e
estabelecido o diagnóstico inicial, o enfermeiro planeja
a assistência de enfermagem para o risco de suicídio
através do plano terapêutico de cuidados (anexo V).
Plano terapêutico de cuidados
O plano terapêutico de cuidados é um roteiro
de cuidados padronizados. De acordo com Mayes,
descrito por Wanda Horta [8], “um plano padronizado
de cuidados é um protocolo de cuidados específicos
que é adequado a clientes que apresentam os
problemas usuais e esperados, associados a um
determinado processo diagnóstico ou enfermidade”.
O plano terapêutico de cuidados é introduzido
no prontuário do paciente na baixa ou diante de
qualquer evento que coloque o paciente em situação
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de risco. Tem como objetivos desenvolver estratégias
criadas para reforçar reações saudáveis do paciente e
para prevenir, ou minimizar aquelas reações não
saudáveis.
Estas intervenções do enfermeiro e da equipe
de enfermagem têm como base os cuidados
prioritários que visam proteger o cliente de tendências
autodestrutivas, encorajá-lo a discutir sobre os seus
sentimentos e problemas e a realização das suas
necessidades humanas básicas, fundamentadas na
teoria comportamental de Maslow e Simon e
aperfeiçoadas por Kalish, que as ordenou em
necessidades fisiológicas, de sobrevivência e
necessidades de estimulação, na qual Wanda Horta [8]
baseia a sua teoria e o processo de enfermagem.
Além de todos os cuidados é também incluído o
nome deste cliente na lista de pacientes com Risco de
Suicídio, que se encontra no posto de enfermagem da
unidade a que ele pertence (anexo V).
Conclusão
Este trabalho é o fruto da atividade diária do
enfermeiro junto ao sofrimento do desesperançado,
na crença de que algum alívio poderá ser encontrado
num trabalho onde o respeito à dignidade humana é
preservado.
Ele narra as lutas, conquistas e percalços, mas
também mostra o quanto há avanço nessa conquista
de implantação de atividades que abarquem o respeito
à condição humana.
Na utilização do processo de enfermagem, o
enfermeiro procura identificar, através da percepção
e da dinâmica das ações sistematizadas na intervenção
direta, a redução ou eliminação dos efeitos da doença.
A consulta de enfermagem, sendo o primeiro
contato com o paciente, permite além da aquisição de
informações e do exame físico, a facilitação na relação
enfermeiro-paciente, criando uma oportunidade para
o diálogo de suma importância para o sucesso da
relação terapêutica.
O questionário de risco, utilizado para
aprofundar os dados e as situações, que colocam o
paciente como um potencial suicida, tem ajudado
em muito o aprimoramento do cuidado. Através de
um plano de assistência direcionado para a
prevenção, a enfermagem desenvolve estratégias e
reforça as reações saudáveis do paciente, diminuindo
as situações de risco. Como refere à poesia (em
anexo), escrita por um doente mental, fala sobre
sentimentos, fala da morte como alguém que enfim
está só, “finalmente livre, livre das dores, temores,
rancores, enfim só”. Como profissional, o enfermeiro
deve sempre buscar novas alternativas que
aprimorem o cuidado e façam com que as
intervenções decorrentes ajudem de uma forma
eficiente estas pessoas que sofrem.
O presente trabalho está sujeito a mudanças e
reflexões contínuas pela própria dinâmica dos
fenômenos que o assunto envolve.
Não é um trabalho acabado, mas o início de
novas reflexões na tentativa de que outros profissionais
passem, a partir destas experiências, a refletir e até
mesmo sistematizar novos métodos para cuidar destas
pessoas que gritam por socorro.
Referências
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
Stevenson IAN. La história clínica. Barcelona. Toray;
1974.
Berkow R. El manual Merck de diagnóstico y
terapeutica. Merck; 1978.
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Kaplan SG. Compêndio de psiquiatria. 6 ed. Porto
Alegre: Artes Médicas; 1993.
Sonenreich C, Ken CF, Giordano E. Debates sobre o
conceito de doenças afetivas. São Paulo: Manole; 1991.
Iyer PW. Processo e diagnóstico em enfermagem. Porto
Alegre: Artes Médicas; 1993.
Horta AW. Processo de enfermagem. São Paulo:
EDUSP; 1979. K
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Anexos
Anexo I – Consulta de enfermagem
Clínica Professor Paulo Guedes
I – Identificação ___________________________________________________________________
Idade ___________ Est. civil_______________ No filhos___________ Natural_________________
Cor (B) _____________________ (N) _________________________(Outros)__________________
Ocupação atual
Grau de escolaridade
Encaminhamento por _______________________________________________________________
Data______________ Hora _______________
II – Avaliação clínica
1 – Sinais vitais
P.A.
Altura
P.
R.
T.
BC.
Peso
2 – Condições em que veio ao hospital
( ) Sozinho ( ) Acompanhado ( ) Com quem? ————————————————————
( ) Contido fisicamente ( ) Contido mecanicamente ( ) Sedado
Qual medicação ——————————————————————————————————
3 – Atendimento
( ) Primeira vez ( ) Outras ( ) Quantas ______________________________________________
( ) Já fez tratamento psiquiátrico? Data última internação ___________________________________
( ) Atualmente faz acompanhamento? Onde? ____________________________________________
( ) Faz uso de medicação? Qual? ______________________________________________________
( ) Já fez tratamento clínico? Onde? ____________________________________________________
( ) Faz uso de medicação? Qual? ______________________________________________________
4 – Exame físico
a. (Cabeça /couro cabeludo /cavidade bucal) _____________________________________________
_________________________________________________________________________________
b. Membros superiores ______________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
c. Membros nferiores________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
d. Abdômen ______________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
5 – Alimentação ___________________________________________________________________
6 – Eliminação
a) Intestinal _______________________________________________________________________
b) Urinário _______________________________________________________________________
c) Menstruação ( ) Ciclo regular ( ) Irregular ( ) Menopausa
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Outras alterações _________________________________________________________________
Faz uso de hormônios _____________________________________________________________
Número filhos ___________ Tipo partos ______________________________________________
7 – Higiene corporal.
a) Condições da roupa. ( ) Suja, ( ) Limpa,
b) Higiene corporal. ( ) Limpo, ( ) Sujo
( ) Integra,
( ) Rasgada.
8 – Sono / repouso.
Tem adormecido com facilidade
( ) Sim
( ) Não
Dorme toda à noite
( ) Sim
( ) Não
Tem sono leve
( ) Sim
( ) Não
Tem pesadelos.
( ) Sim
( ) Não
Tem insônia
( ) Sim
( ) Não
Tem medo do escuro
( ) Sim
( ) Não
Acorda cedo
( ) Sim
( ) Não
Usa medicação para dormir
( ) Sim
( ) Não
Qual. ___________________________________________________________________________
9 – Alergias.
( ) Medicamentos.Qual? ____________________________________________________________
( ) Alimentos.Qual? _______________________________________________________________
( ) Outros. ______________________________________________________________________
10 – Drogas.
( ) Fumo
( ) Álcool
Quantidade diária: ____________________________________________________
Quanto tempo iniciou? _________________________________________________
Quantidade diária? ____________________________________________________
Para alcoolistas. N. de internações? ____________________
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