Enfermagem BRASIL Revista científica dos profissionais de enfermagem Ano 1 nº 1 - novembro/dezembro de 2002 Sintomalogia pré-menstrual Enfermagem Brasileira Sua profissionalização de (1890-1905) Uso de plantas medicinais O resgate de sua utilização Marketing televisivo e a enfermagem Uma luta desigual na orientação sobre o HIV e o aleitamento materno cruzado Modelo de crenças e valores na orientação dos clientes portadores de doenças infecciosas e parasitárias Atendimento domiciliar de portadores de HIV/SIDA www.atlanticaeditora.com.br ISSN 1678 - 2410 Enfermagem BRASIL Revista científica dos profissionais de enfermagem Ano 2 nº 1 - janeiro/fevereiro de 2003 Terapia Intensiva • Monitorização através do Ccateter de Swan-Ganz • Tratamento imediato das lesões Dde queimaduras Epidemiologia • Visita domiciliar e atenção à Ssaúde da criança • Desenvolvimento do Programa Saúde da Família Legislação Os direitos do paciente Psicologia UTI: sentimentos em relação ao inesperado Cuidados Tratamento das úlceras de pressão não infectadas www.atlanticaeditora.com.br ISSN 1678 - 2410 Enfermagem BRASIL Revista científica dos profissionais de enfermagem Ano 2 nº 2 - março/abril de 2003 Epidemiologia • Saúde e doença no envelhecimento • Perfil dos portadores de diabetes em um programa municipal Terapia Intensiva • Assistência ventilatória mecânica • Manual de cuidados do cateter de Hickman Pediatria Avaliação do desenvolvimento pelo teste de Denver História Origem dos serviços de assistência pré-hospitalar a tlântica e d i t o r a www.atlanticaeditora.com.br ISSN 1678 - 2410 Enfermagem BRASIL Revista científica dos profissionais de enfermagem Ano 2 nº 3 - maio/junho de 2003 Educação • Preparo do corpo pela equipe de enfermagem • Emoções e comunicação com o corpo do cuidado • Infecção hospitalar: conhecimentos dos acadêmicos de enfermagem Terapia Intensiva Sentimentos dos pacientes com infarto do miocárdio em UTI Pediatria Papel do enfermeiro e expectativas do acompanhante da criança Fitoterapia Fitoterapia na comunidade: realidade ou ficção? Doenças Infecciosas Alterações oculares na hanseníase a tlântica e d i t o r a www.atlanticaeditora.com.br ISSN 1678 - 2410 Enfermagem BRASIL Revista científica dos profissionais de enfermagem Ano 2 nº 4 - julho/agosto de 2003 Psicologia • Depressão e infarto do miocárdio • Risco de suicídio e cuidado de enfermagem Aleitamento Importância do aleitamento na visão das mães Infecção Autocuidado domiciliar em HIV/SIDA Hospital Tipo de liderança dos enfermeiros em hospital estadual Assistência de enfermagem • Ao paciente submetido à intervenção coronariana • Ao paciente submetido ao desmame ventilatório a tlântica e d i t o r a www.atlanticaeditora.com.br ISSN 1678 - 2410 Enfermagem BRASIL Revista científica dos profissionais de enfermagem Ano 2 nº 5 -setembro/outubro de 2003 Pediatria • A enfermagem interagindo com pais em situação de morte perinatal • A adaptação da criança à hospitalização Clínica • Prevenção da úlcera de pressão Cardiorespiratória • Fístulas broncopleurais e assistência de enfermagem Educação • O jogo dramático na enfermagem como pedagogia libertadora Assistência de enfermagem • Reabilitação da pessoa com deficiência adquirida • Considerações sobre morte súbita no contexto do cuidado a tlântica e d i t o r a www.atlanticaeditora.com.br ISSN 1678 - 2410 Enfermagem BRASIL Revista científica dos profissionais de enfermagem Ano 2 nº 6 -novembro/dezembro de 2003 Epidemiologia • Hereditariedade como fator de risco para hipertensão Assistência de enfermagem • Escaras: no cotidiano das pessoas acamadas • Exame físico da pele do idoso • Diagnósticos e intervenções de enfermagem em unidade psiquiátrica Psicologia Absenteísmo na enfermagem Clínica Uso do ácido graxo essencial linoleico no tratamento de úlcera diabética a tlântica e d i t o r a www.atlanticaeditora.com.br Enfermagem Brasil Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) Índice Volume 1 número 1 - Novembro / Dezembro de 2002 EDITORIAL 3 Há vagas, Gilberto Linhares Teixeira ARTIGOS ORIGINAIS 34 Perfil social e epidemiologico de gerontos internados em geriatrias na cidade de Porto Alegre, RS, Maria Elena da Silva Nery, Arlete Spencer Vanzin ................................................................... O modelo de crenças e valores na orientação dos clientes portadores de doenças infecciosas e parasitárias, Maria Augusta Nascimento Lopes, Luciana de Oliveira Almeida, René de Oliveira Almeida, Rita Batista Santos ............................................................. Prevalência da sintomalogia pré-menstrual em mulheres de uma empresa de Porto Alegre, Gisele Cristina Tertuliano ................................................................................... O marketing televisivo e a enfermagem -Uma luta desigual na orientação sobre o HIV e a aleitamento materno cruzado, Maria Aparecida de Luca Nascimento, Maria Filomena Pereira V. Almeida, Marcio Martins da Costa, Raquel Nunes da Silva ............................................ Avaliação de enfermagem no atendimento domiciliar de portadores de HIV/SIDA, Daniel Ferrari, Guilherme Souza, Sudivan Vieira, Rita Batista Santos .......................................................................... Resgate do uso de plantas medicinais em Antonio Prado RS, Bianca-Lísi Gradaschi da Costa ............................................................................................................................................ Marcos da trajetória da profissionalização da enfermagem brasileira (1890-1905), Almerinda Moreira, Fernando Porto, Taka Oguisso......................................................................................................... Estudo etnobotânico do município de Caxias do Sul, Rio Grande do Sul, Maria da Graça Piva ................................................................................................................................................................ Condições de trabalho de enfermeiros em um hospital público, Carlos Bezerra de Lima, Cizone Maria Carneiro Acioly .................................................................................................. NORMAS DE PUBLICAÇÃO 54 CALENDÁRIO DE EVENTOS 44 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) Expediente EDITOR CIENTÍFICO Gilberto Linhares Teixeira CONSELHO CIENTÍFICO Prof. Dr. Carlos Bezerra de Lima (UFPB Paraíba) Profa. Dra. Margarete Rego (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) Profa. Dra. Maria Aparecida de Luca Nascimento (UniRio Rio de Janeiro) Profa. Dra. Maria da Graça Piva (ULBRA Rio Grande do Sul) Profa. Dra. Maria Helena da Silva Nery (UFRGS Rio Grande do Sul) Profa. Dra. Nebia Maria Almeida de Figueiredo (UniRio Rio de Janeiro) Profa. Dra. Odette Oliveira (UNIFESP São Paulo) a a Prof . Dr . Rita Batista Santos (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) Prof. Dr. Sérgio Ribeiro dos Santos (UFPB Paraíba) GRUPO DE ASSESSORES Prof Ms. Andréia Saccol Lourenço (Escola Técnica de Enfermagem São Francisco Rio Grande do Sul) Profa Ms. Dóris Maria Volquind (Clínica de Florais de RAFF Rio Grande do Sul) Profa Ms. Dulce Dirclair Huf (UFMS Mato Grosso do Sul) a Prof Ms. Gisele Cristina Tertuliano (Secretária Municipal de Saúde de Cachoerinha Rio Grande do Sul) Profa Ms. Hortência Maria de Santana (COREN Sergipe) a Prof Ms. Louize Maria Holtz Santos de Oliveira (COFEN Sergipe) Profa Ms. Sonia Maria Ponciano dos Santos (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) Profa. Ms. Almerinda Moreira (Escola de Enfermagem Alfredo Pinto UniRio Rio de Janeiro) a Revista Enfermagem Brasil Rio de Janeiro Rua Conde de Lages, 27 20241-080 Rio de Janeiro RJ Tel: (21) 2221-4164 Fax: (21) 2517-2749 [email protected] São Paulo Avenida São João, 56, sala 7 12940-000 Atibaia SP Assinatura anual (6 números/ano): R$ 90,00 Tel: (21) 2221-4164 RJ (11) 3361-5595 SP Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin Editoração e Arte José Luiz Cabral [email protected] Tel/Fax: (21) 2221-4164 [email protected] Cel: (21) 9366-7088 Copy & Revisão Ricardo Augusto da Silva Ferreira Publicidade e marketing René Caldeira Delpy Jr. [email protected] [email protected] (21) 2221-4164 Gerente Comercial Stevenson Gusmão Machado Cel: (21) 9662-9411 Administração Bárbara de Assis Jorge [email protected] Representante Assinaturas - SP A.Shalon - (11) 3361-5595 www.atlanticaeditora.com.br [email protected] Atlântica Editora edita as revistas Diabetes Clínica, Fisioterapia Brasil e Nutrição Brasil. I.P. 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Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) EDITORIAL Há vagas A crise gera desemprego, recessão, desencontro braços cruzados pelas mãos construtivas; de substituir de idéias, radicalismos, sacrifícios. a obstinada decisão e protestar contra o presente pela No entanto, é essa mesma crise que gera uma responsabilidade a favor do futuro; de substituir a mera oportunidade que, em tempos de bonança, nem e fácil acusação de defeitos pela constatação de nossas lembramos que existe. reais e indiscutíveis potencialidades. Uma oportunidade ilimitada, São estas VAGAS que existem. voltada a todos sem distinção de sexo, Para todos os brasileiros. VAGAS para cor, credo, nível cultural, posição um grande trabalho, sediado em nossa hierárquica ou profissão. cabeça, manifestado por nossa voz e Uma oportunidade que tanto é por nossas mãos. dada ao governo, como aos Um trabalho que exige equilíbrio empresários, aos sindicatos, aos e bom senso. políticos e a todas as pessoas deste Sem a amargura do derrotismo, País. nem a alienação do otimismo vazio. E é justamente neste momento Mas que se ampara, basicamente, na mais difícil da Nação, em que o capacidade de pensar positivamente. desemprego é uma realidade, em que Na capacidade de deixar de lado Gilberto Linhares Teixeira a recessão é uma ameaça, que as as pequenas questões, se comparadas Editor científico da Enfermagem Brasil VAGAS estão abertas. com a grande questão nacional. Presidente do Conselho Federal de Enfermagem Há VAGAS para aqueles que Deixar de lado o radicalismo, estejam dispostos a resgatar os que gera o impasse e a perda de um maiores e mais importantes valores do homem: a tempo precioso para o País. humildade, a caridade, o altruísmo, o senso de Deixar de lado a vingança pessoal, que não faz o comunidade, o cuidado com a família e o respeito à menor sentido, porque nada constrói. E ainda ajuda a condição humana. destruir o que nos resta. Há VAGAS, sim, senhora. Há VAGAS para Há VAGAS, sim, para quem esteja disposto a quem esteja disposto ao sacrifício, ao trabalho, cuja ceder um pouco de si para todos: seja na compensação maior recompensa não seja medida em valores taxados do seu trabalho, seja no lucro do seu negócio, seja no e passageiros. dogma da sua cor partidária. Mas pela constatação, todos os dias, de que Para quem esteja disposto a ceder um pouco do somos capazes de sair do desvio onde nos seu presente para as próximas gerações. Para os encontramos e retomar o nosso caminho: o caminho empresários que não queiram deixar como herança uma do desenvolvimento, do progresso e do crescimento fábrica cercada de miséria, para os empregados que não comum a todos os brasileiros. queiram deixar como herança o desemprego de seus E para preencher estas VAGAS, não filhos, para os políticos que não queiram deixar como dependemos de alguém que nos avalie, não teremos herança um governo forte à custa de um povo fraco. chefes, nem patrões, nem empregados. Teremos Há VAGAS para quem seja capaz de pensar seria apenas a voz de nossa consciência, medindo nossa e determinadamente no amanhã. Que seja capaz de capacidade de mudar as coisas: de substituir a inútil tomar este momento, não como um momento de se lamuria pela determinação de fazer; de substituir os apegar ao poder, à custa do sacrifício da Democracia. ! Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) Há VAGAS para quem esteja disposto à ação, a formar um mutirão, uma grande corrente construtiva. Uma corrente de união e consenso. Somente assim, teremos condições de retomar a consciência de grande Nação que somos. A mesma Nação que atraiu milhares de imigrantes, que encontram aqui a paz e a oportunidade que buscavam. A mesma Nação da qual nos orgulhamos em muitas oportunidades. A mesma Nação que nos emocionou com muitas conquistas no campo das ciências, das artes, dos esportes, da política. E que, de repente, parece que estamos esquecendo. Por isso tudo, há VAGAS para quem esteja disposto a resistir à idéia de desistir do Brasil. E que esteja disposto, também, a abandonar o transe, a hipnose da crise, gerada pelo bombardeio pessimista a que estamos submetidos todos os dias. E que esteja disposto, ainda, a fazer parte com fé e confiança, determinação, paciência, segurança e consciência absoluta de que assim, estaremos todos os dias, encontrando soluções para nossos problemas. E mais do que isso: estaremos enfrentando aqueles que pensam que somos capazes de esmorecer e deixar nosso País à própria sorte. Ocupem suas VAGAS, como nós estamos fazendo. Com isso, estaremos ocupando, também, o Brasil. Com gente disposta a fazê-lo cumprir o seu grande destino. Profissionais de Enfermagem! Há VAGAS para a Enfermagem no contexto brasileiro, é nosso dever ocupá-las. E é através desta consciência que o COFEN procura ocupar seu espaço, a partir de ações como o lançamento da Revista Enfermagem Brasil. Recomendações aos autores Enfermagem Brasil é uma revista científica nacional dirigida à classe dos profissionais de enfermagem. Ela aceita todos os artigos e trabalhos realizados por especialistas da área, que serão avaliados por membros do Conselho Científico, para eventuais correções antes de sua publicação. Enfermagem Brasil publica basicamente artigos originais e artigos de revisões, bem como resumos de trabalhos apresentados em congressos, resumos de artigos de revistas internacionais, e notícias da profissão, no que se refere ao desenvolvimento de pesquisas. Enfermagem Brasil aceita também monografias de graduação, sendo elas enviadas com a autorização do orientador. Após avaliação, as monografias serão adaptadas por publicação em artigos e também editadas in extenso sob a forma de CD-ROM ou no site Internet da revista. Recomendamos o envio do texto completo do trabalho, respeitando as normas de publicação, que podem ser encontradas nas últimas páginas desta revista ou em nosso site: www.atlanticaeditora.com.br. Em caso de dúvida, a editora é sempre acessível por telefone ou e-mail (ver página do expediente). Agradecemos o COFEN pelo apoio no lançamento da revista e todos os autores que enviaram artigos para esta primeira edição. Os editores " Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) Artigo original Prevalência da sintomalogia pré-menstrual em mulheres de uma empresa de Porto Alegre, RS Prevalence of premenstrual symptoms in women in a company at Porto Alegre, RS Prevalencia de la sintomatología pre-menstrual en mujeres de una empresa de Porto Alegre, RS Gisele Cristina Tertuliano Professora de enfermagem, especialista em saúde comunitária Resumo Devido ao grande índice de sintomas que acometem as mulheres do período pré-menstrual, este estudo objetiva demonstrar as conseqüências no trabalho e a forma de amenizar sintomas como tensão, irritabilidade, depressão, fadiga, vertigens, cefaléia e outros. Busca-se enumerar os sintomas físicos e emocionais, e identificar as conseqüências pessoais, sociais e econômicas para as mulheres com a sintomologia pré-menstrual, com conseqüente proposta terapêutica. Palavras-chave: Síndrome pré-menstrual, tensão pré-menstrual, síndrome da tensão pré-menstrual, saúde da mulher. Abstract Any symptons affect the women period premenstrual.This work has the results in the work and the way of the decrease the symptons how tension, irritabily, depression, fatigne, vertigo, pain of head and others. To get enumerate the physicals and emotionals symptons and identity the personals, socials and economicals results to the women with the sintomatology premestrual with consequent proposal actuality treatement. Key-words: Premenstrual syndrome, premenstrual tension, premenstrual tension syndrome, womens health. Resumen Debido al gran índice de síntomas que acometen las mujeres en el período pre-menstrual, este estudio tiene como objeto demonstrar las consecuencias en el trabajo y la forma de amenizar síntomas como tensión, irritabilidad, depresión, fatiga, vértigo, cefalea y otros. Lo que se busca es enumerar los síntomas físicos y emocionales, e identificar las consecuencias personales, sociales y económicas para la mujeres con la sintomatología pre-menstrual, con consecuente propuesta terapéutica. Palabras-clave: Síndrome pre-menstrual, tensión pre-menstrual, síndrome de la tensión pre-menstrual, salud de la mujer. Artigo recebido em 15 de agosto de 2002; aprovado em 30 de agosto de 2002. Endereço para correspondência: Rua Abram Goldsztein, 250/402, torre 6, Jardim Itália 91450-155 Porto Alegre RS, Tel.: (51) 99834212. # Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) Introdução A enfermagem tem um particular interesse em relação aos problemas e a manutenção da saúde da mulher. É crescente o processo da procura por parte do grupo feminino pelos serviços de saúde da mulher, capacitados a aliviar seus sintomas e esclarecer suas dúvidas. Síndrome da tensão pré-menstrual (STPM), é definida por Coutinho [1] como: Alterações no corpo e na mente ocorrem nos dias que precedem a menstruação, que anunciam, com alguma antecedência, a chegada da hemorragia menstrual. Apesar dessas alterações não trazerem desconforto à maioria das mulheres e serem para outras pouco perceptíveis, em 30 a 40% da população feminina o fenômeno adquire um caráter perturbador, provocando intenso mal-estar. Neste caso, o conjunto de alterações e sintomas recebe a denominação de síndrome pré-menstrual. Nesta visão, cabe aos enfermeiros o cuidado preventivo às mulheres, principalmente em relação às suas necessidades peculiares de saúde. Estes devem incentivar a clientela feminina na determinação de seus próprios objetivos e comportamentos, apoiando-a nos momentos que necessitar, incluindo os aspectos de saúde física e mental. Metodologia O trabalho faz uma análise fenomenológica, apresentando aspectos quantitativos e qualitativos sobre o tema, baseado em Gil [2]. As mulheres presentes neste trabalho apresentam idade entre 19 e 49 anos, perfazendo um total de 26 funcionárias. A amostra correspondeu a 100% (26) de mulheres em idade fértil, 97% (25) apresentam sintomatologia pré-menstrual. O local da pesquisa foi as Tintas Kresil Ltda., Av. Tenente Ary Tarragô, 2065, Jardim Planalto, Porto Alegre/RS. Foi feito levantamento bibliográfico com o objetivo de selecionar os conteúdos teóricos sobre a síndrome da tensão pré-menstrual e suas causas, conseqüências, terapêutica e o papel do enfermeiro na saúde da mulher, com embasamento de artigos, livros e acesso à Internet. A coleta de dados foi realizada no período de julho a outubro de 1999. Como recurso utilizado cita-se instrumento aplicado por embasamento em levantamento $ bibliográfico com apresentação ilustrativa de uma personagem que vivencia problemas pré- menstruais, agregando-se 5 perguntas fechadas com opção para 2 perguntas abertas. Realizada oficina da aprendizagem sobre as questões da sintomatologia pré-menstrual, sendo elaborado manual pelas funcionárias, com a supervisão da pesquisadora. Resultados e discussão O resultado da aplicação do instrumento desta pesquisa foi aplicado em forma de entrevista. Concluiu-se que 97% (25) apresentam sintomas prémenstruais, conforme tabela 1. Tabela 1 - Sintomas sintomas Sim Não Total no % 25 1 26 97 3 100 O quadro 1 relata os sintomas mais freqüentes associados às dores generalizadas. Quadro 1 Localização das dores localização nº Na barriga Na cabeça Nas costas Nas pernas Na barriga da perna Nos seios Na barriga do lado direito total 15 11 8 5 2 1 1 43 As dores mencionadas por Wade [3], tem características de sintomas físicos, como cefaléia, dor pélvica, dor e sensibilidade das mamas. Quadro 2 localização nº Nauseas Tontura Ventre inchado Mal-estar Cansaço Calorões Constipação Frio Edema Aumento da Fr nas equações Dores diminuem com o passar dos dias total 5 3 1 1 1 1 1 1 1 8 11 34 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) Segundo a tabela de Abraham, modificada por Diegoli, Fonseca e Diegoli [4], cita-se como outros sintomas físicos as dores generalizadas, inchaço no abdome, cefaléia, tontura,cólica, enjôo e outros. As alterações psicológicas, como irritabilidade, depressão e nervosismo, são caracterizadas no quadro 3. Quadro 3 Gostaria de contar outros sintomas? alterações psicológicas na época da menstruação nº Irritabilidade Depressão Angustia Nervosismo Mau-humor total 5 2 1 1 1 10 Conclusão inicia pela consciência que a mulher tem de si, de seu corpo, de seu papel social, de sua história. O profissional enfermeiro deve estimular a mulher a desfrutar de sua sexualidade, de forma saudável e prazerosa, tendo este profissional o conhecimento da fisiologia e do psique feminino, interagindo com sua vivência sócio-cultural, identificando a simbologia usada pela mulher para expressar suas dores e desconfortos. Referências 1. 2. 3. 4. O exercício da cidadania inicia pelo rompimento de conceitos valorativos embutidos numa sociedade conservadora e patriarcal. A identificação feminina 5. Coutinho EM. Menstruação, a sangria inútil:uma análise da contribuição da menstruação para as dores e os sofrimentos da mulher. São Paulo:Gente;1996. Gil AC. Como elaborar projetos de pesquisa. 3 ed. São Paulo:Atlas;1991. Wade C. Síndrome pré-menstrual. São Paulo:Ground;1989. Diegoli MSC; Fonseca AM; Diegoli CA. Vencendo a tensão pré-menstrual. São Paulo:Pioneira;1998. Carvalho GM. Enfermagem em ginecologia. São Paulo:EPU;1996. % Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) Artigo original O modelo de crenças e valores na orientação dos clientes portadores de doenças infecciosas e parasitárias Beliefs and value in orientation of patients with infectious and parasitic diseases El modelo de crencia y valores en la orientación de los clientes portadores de enfermedades infecciosas y parasitarias Maria Augusta Nascimento Lopes*, Luciana de Oliveira Almeida*, René de Oliveira Almeida*, Rita Batista Santos** *Alunas do 6º período do Curso de Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro, **Professora Assistente do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica da Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro, doutora em Enfermagem pelo Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo Trabalho apresentado ao Programa Curricular Interdepartamental VIII de Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro Resumo Trata-se de um estudo exploratório, descritivo e qualitativo a respeito do conhecimento dos clientes portadores de doenças infecciosas e parasitárias (DIP), em relação à sua doença durante a hospitalização, baseado no modelo de crenças e valores na saúde. Foram entrevistados 7 clientes hospitalizados, sendo 5 do sexo masculino e 2 do sexo feminino, nos meses de maio e junho de 2001. Os dados mostram que os clientes não recebem orientação acerca de sua doença, nem por parte dos acadêmicos, nem por parte da equipe de saúde do setor, ou recebem de maneira incipiente. Sugere-se que a educação para a saúde desses clientes seja reforçada no sentido de ajudá-los na adaptação a sua doença, prevenção de suas complicações, resolução de problemas e diminuição de re-internações, ensinando-os a viverem a vida de forma mais saudável, estimulando a adquirir o potencial máximo de saúde possível. Palavras-chave: Educação em saúde, doenças infecciosas e parasitárias, ensino, cuidado de enfermagem. Abstract One is about a exploratory, descriptive and qualitative study regarding the knowledge of the carrying customers of infectious and parasitic illnesses in relation to its illness during the hospitalization, based on the model of beliefs and values in the health. Seven (7) hospitalized customers had been interviewed, being 5 of masculine sex and 2 of the feminino sex, on the months of May and June of 2001. The data show that the customers do not receive prompt concerning its illness, nor on the part from the academics, nor on the part from the team of health of the sector, or they receive from incipient way. It is suggested that the education for the health of these customers is strengthened in the direction to help them in the adaptation its illness, prevention of its complications, resolution of problems and reduction of re-internments, teaching them to live the life of more healthful form, stimulating to acquire the maximum potential of possible health.. Key-words: Health Education, infectious and parasitic illnesses, education, nursing care Artigo recebido em 15 de agosto de 2002; aprovado em 30 de agosto de 2002. Endereço para correspondência: Rita Batista Santos, Escola de Enfermagem Anna Nery, Rua Afonso Cavalcanti, 275 - Cidade Nova - Rio de Janeiro - RJ - 20211-110 - Tel.: (21) 2293-8098 & Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) Resumen Es un estudio exploratorio, descriptivo y cualitativo a respecto del conocimiento de los clientes portadores de enfermedades infecciosas e parasitarias , en relación a la enfermedad durante la hospitalización, basado en el modelo de creencias y valores en la salud. Fueron entrevistados 7 clientes hospitalizados, siendo 5 del sexo masculino y 2 del sexo femenino, en los meses de mayo y junio de 2001. Los datos muestran que los clientes no reciben orientación acerca de su enfermedad, ni por parte de los académicos, ni por parte del equipo de salud del sector, ó reciben de manera incipiente. Como sugestión se propone, que la educación para la salud de eses clientes sea reforzada, en el sentido de ayudalos en la adaptación de su enfermedad , prevención de sus complicaciones, resolución de problemas y diminución de re-internaciones, enseñandolos a vivir la vida de forma más saludable, estimulando a adquirir el potencial máximo de salud posible. Palabras-clave: Educación en la salud, enfermedades infecciosas y parasitarias, enseñanza, cuidado de enfermería. Introdução O estágio supervisionado está inserido no currículo de graduação em enfermagem de uma universidade federal, em diversas especialidades da profissão. A cada especialidade, os alunos conhecem uma clientela diferente, aprendem a lidar com sua necessidade de assistência: os procedimentos, técnicas e cuidados de enfermagem, que lhes são particulares. De acordo com o artigo 30 do Código de Ética dos profissionais de enfermagem, é dever do enfermeiro colaborar com a equipe de saúde no esclarecimento do cliente e família sobre o seu estado de saúde e tratamento, possíveis benefícios, riscos e conseqüências que possam ocorrer. Observamos que havia um déficit de conhecimento por parte dos clientes do setor de doenças infecciosas e parasitárias sobre sua saúde e hospitalização, além da escassez de literatura sobre este tema, motivando-nos a realização deste estudo. As doenças são percebidas sob diversos aspectos e podem despertar sentimentos de vários tipos e intensidades, tais como preocupação, temor inesperado, vergonha, culpa, aversão e outros. Isso faz refletir sobre a atitude de muitas pessoas frente às doenças conhecidas como as sexualmente transmissíveis, principalmente no caso de AIDS, que foi estigmatizada inicialmente como doença de homossexuais masculinos. Em determinados grupos essas doenças são consideradas vergonhosas, preocupantes e em outros grupos não suscitam nenhum sentimento vergonhoso, aversivo. O comportamento que determina as ações relacionadas com a saúde dependerá do grau de ameaça percebido pelo indivíduo, que se traduz pela sua validade subjetiva. Uma das observações que pudemos vivenciar durante nossa estada pelo setor de DIP, é que os clientes mais desinformados eram pessoas de baixo nível sócio-econômico e baixo grau de escolaridade, e que este público que apresenta tais características, têm relação direta no contexto onde são valorizados as crenças e costumes religiosos, que são repassados de gerações anteriores. Tendo isto como parâmetro, o problema do estudo refere-se à interferência da informação sobre a doença, no processo de recuperação e aprendizagem sobre a saúde do cliente hospitalizado no setor de DIP. O estudo tem como objetivos identificar o conhecimento dos clientes hospitalizados, sobre sua saúde e hospitalização à luz do modelo de crenças e valores na saúde; contribuir para o conhecimento dos acadêmicos, futuros profissionais de enfermagem, sobre a orientação para a saúde daquele cliente no setor de DIP; discutir a importância dessa atividade para a recuperação do cliente hospitalizado. Metodologia A pesquisa foi do tipo descritiva com abordagem qualitativa, já que envolve a obtenção de dados sobre o conhecimento do cliente hospitalizado no setor de DIP, sobre sua saúde e hospitalização, obtidos no ' Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) contato direto dos acadêmicos com essa situação. O estudo enfatiza mais o processo de conhecimento do cliente sobre sua saúde e hospitalização, do que a aprendizagem baseada nos princípios científicos dos conteúdos e informações para a sua saúde, se preocupando em retratar a perspectiva dos clientes. O enfoque qualitativo ofereceu ampla liberdade teórico-metodológica para sua realização. O campo ou cenário escolhido foi o setor de DIP, que abrange todo o recorte teórico relativo ao conhecimento dos clientes sobre sua saúde e hospitalização, correspondente ao objeto de investigação. O setor de Doenças Infecto-parasitárias 5D, é integrante do Serviço de Internação Clínica da Divisão de Enfermagem do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho. Possui capacidade para 13 leitos, sendo que um deles pertence ao quarto de isolamento. Esta capacidade está diminuída no momento, em virtude de reformas na planta física desde novembro de 2000. Foram escolhidos os clientes hospitalizados no setor de internação da DIP de um Hospital Universitário. Esses clientes foram selecionados enquanto integrantes do objeto de estudo. No campo, eles fazem parte de uma relação de intersubjetividade, de interação social com os acadêmicos, resultando num novo produto, que confronta tanto a realidade concreta quanto às hipóteses e teorias da construção do seu conhecimento sobre sua doença. A coleta de dados se realizou entre os meses de maio e julho de 2001. Utilizou-se como instrumento para coleta de dados, um roteiro de entrevista semi-estruturada com questões abertas sobre o conhecimento do cliente acerca de sua doença, de como contribuir para sua recuperação e qual a sua opinião sobre a importância do meio e das pessoas nessa recuperação. A entrevista semi-estruturada permitiu ao cliente discorrer sobre o tema proposto, sem respostas ou condições prefixadas pelos acadêmicos. Desta forma, a entrevista como fonte de informação ofereceu dados secundários e primários referentes a idéias, crenças, maneira de pensar e sentir, comportamentos e outros. Por isso escolhemos esta técnica para realizar a coleta de dados. Partimos de questionamentos a respeito do conhecimento dos clientes sobre sua internação, apoiados na idéia de que conhecendo a importância da educação em saúde, como uma ação básica de saúde que visa desenvolver a consciência dos problemas e ações necessárias para a melhoria das condições de vida, o cliente colabora durante os procedimentos, oferecendo duplo campo interrogativo que originará novas hipóteses, à medida que emergirem as respostas sobre a sua saúde e hospitalização. As respostas das entrevistas foram gravadas e foi garantido o anonimato e o sigilo das respostas, mediante um termo de consentimento livre e esclarecido, conforme prevê a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (1996). Desta forma, nos referimos aos clientes utilizando as iniciais dos seus nomes. A organização, análise e interpretação dos dados teve como base três aspectos: as respostas e idéias dos clientes; a revisão crítica da literatura; e as experiências pessoais dos acadêmicos sobre a educação em saúde para clientes hospitalizados, baseados nos modelos e crenças e valores na saúde discutidos em Lescura e Mamede [2]. Nesta fase, ao invés de analisar a simples freqüência de aparição de elementos no texto, estivemos preocupados com as relações que os vários elementos mantêm entre si, dentro do texto. Desta forma, foi possível realizar uma análise das preocupações latentes tanto individuais como coletivas, utilizando-se a abordagem teórica baseada na interpretação psicossomática de Dhalke [1]. As respostas fornecidas pelos clientes foram agrupadas, atendendo às regras básicas preconizadas como princípio de classificação de categorias por Minayo [4]. Ou seja, foi elaborado um conjunto de categorias exaustivo e com respostas exclusivas. O princípio de classificação referiu-se a maneira de como as categorias, quando agrupadas, continham uma categoria residual, caso alguma resposta não se enquadrasse em outras categorias. O conjunto das categorias é exaustivo, pois incluiu todas as respostas, que foram organizadas de forma que não foi possível existir uma resposta em mais de uma categoria. A apresentação dos resultados foi feita através da elaboração de um relatório de pesquisa, requisito de avaliação da atividade curricular denominada Diagnóstico Simplificado de Saúde (DSS), a ser apresentado em eventos científicos do Núcleo de Pesquisa, ao qual pertence o Programa curricular onde estamos inseridos, além da divulgação sob forma de trabalho científico em eventos científicos locais, regionais, nacionais, etc. Revisão crítica de literatura A educação em saúde é uma ação básica de saúde importante, quando estiver baseada na reflexão crítica do grupo. O princípio dessa educação é o desenvolvimento da consciência crítica das causas, dos problemas e das ações necessárias para a melhoria das condições de saúde. Neste processo de educação, haverá confronto e procura de um entendimento entre os conhecimentos técnicos dos profissionais de saúde com os da população (cultura popular). Os profissionais não devem impor os seus conhecimentos e desconsiderar a realidade em que vive a população a ser trabalhada; se isto ocorrer, as medidas Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) propostas poderão não ser adotadas, devido à incompatibilidade com a realidade. Por isso, deve-se promover a transformação de uma prática educativa tradicional, clássica onde o objeto de estudo é estático e imutável, num processo dinâmico onde o objeto a ser estudado pode sofrer mudanças, procurando-se adequar a prática de educação a realidade objetiva, na busca do acompanhamento do seu movimento[6]. No momento da admissão do cliente, ele encontrase fora de seu ambiente social e familiar, onde terá que se adaptar a uma nova rotina. Isto pode lhe causar medo e ansiedade frente a essa nova realidade. Uma vez identificado essa condição no cliente, é papel do profissional de saúde tentar minimizar esses sintomas, através do conhecimento das causas para intervir especificamente nesta situação, orientando o cliente desde de sua admissão até a alta hospitalar. Dessa forma, entendemos que a enfermeira, enquanto educadora, tem um papel social relevante na orientação do cliente nos níveis de prevenção, promoção e reabilitação de saúde, bem como da adaptação aos efeitos residuais da doença, utilizando como ferramenta principal o ensino integrado, produzindo modificações a níveis individuais ou em grupos. Nesse mesmo contexto a enfermeira deverá ter ume visão biopsicossocial do cliente. Para Mendes-Gonçalves e Schraiber [3], têm origem nessa teoria a noção de assistência integral, como as ações articuladas de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação de todo biopsicossocial, bem como a noção de níveis de internação, como instâncias complementares e intercomunicantes de um mesmo sistema hierarquizado de atenção. A enfermeira deverá desenvolver atividades de verificação, implantação, controle e fiscalização, considerando o processo de enfermagem, para que os objetivos da educação em saúde sejam alcançados. A promoção da saúde, como um ato preventivo, é associada a palavras como orientar, explicar, educar, ajudar, esclarecer, informar, conscientizar e criar, todas remetendo a um significado eminentemente educativo, como se o conceito de prevenção fosse construído basicamente pelo sentido de educar. Entendemos, ainda, que no processo de aprendizagem, principalmente nas doenças crônicas transmissíveis, se fará em longo prazo, tendo como meta alcançar o auto-cuidado por parte do sujeito. Compartilhando de tais preceitos, observamos também a necessidade de, no momento da educação para a saúde, valorizar e enfatizar o sujeito como um ser humano, que está inserido numa sociedade, haja vista a significação social do setor de DIP, pelas características de seus prognósticos, que levam à baixa de auto-estima e sensação de inferioridade, havendo, portanto, a necessidade da enfermeira acompanhar as fases que o cliente experimenta, a partir da descoberta de sua doença, a saber: negação, revolta, negociação, depressão até a sua aceitação ativa. A oposição entre ação educativa voltada para os indivíduos e outra para os grupos sociais, pode ser solucionada caso o objetivo não seja apenas a mudança do comportamento individual, mas também a mudança dos processos sociais que interferem na saúde [7]. O comportamento e o desenvolvimento dependem do estado da pessoa e seu meio. A pessoa e o seu meio têm que ser considerados como variáveis mutuamente dependentes. Em outras palavras, para compreender ou prever o comportamento, a pessoa e seu meio devem ser considerados como uma constelação de fatores interdependentes. Todos os profissionais de saúde devem exercer a ação educativa a todo o momento e em qualquer lugar: no consultório, na sala de vacinas, no grupo de gestantes, na enfermaria, etc. A educação em saúde pode ser feita informalmente (conforme o aparecimento de oportunidades) ou de forma planejada e organizada. Com a necessidade de desenvolver o processo de educação em saúde, tendo como meta clientes hospitalizados, valorizamos a informação fidedigna e as práticas de enfermagem junto a esse cliente, que são as melhores formas de obter resultados a níveis de recuperação mais rápida e eficaz; caso o mesmo esteja conscientizado a respeito de sua doença no âmbito hospitalar. Nesse sentido, o estudo serviu, ao mesmo tempo, como um instrumento científico para a contribuição nessa área de saber de enfermagem e como instrumento de educação para a saúde. Essas atividades do processo são baseadas na interpretação correta e integrada das informações discutidas, produzindo mudanças tais, que valorizem o profissional da área de saúde. Assim, o processo de educação do cliente principia com a prestação da informação, mas inclui a interpretação e integração dessa informação, de modo a produzir-lhe mudanças de atitude e comportamento, que beneficiam a qualidade da assistência. Quando a equipe multiprofissional interage de forma em que todos possam refletir, decidir e trabalhar juntos, promove-se um processo dinâmico, onde se respeita a realidade do cliente. Dentro deste contexto, a enfermeira é a que tem mais possibilidades de desenvolver este tipo de trabalho, pois é a que mais extensivamente se relaciona com o cliente hospitalizado, podendo desenvolver um trabalho de orientação à saúde, abordando os diversos aspectos de saúde e doença do cliente. Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) Além dessas questões, é de extrema importância que o cliente colabore no seu aprendizado, de forma que as metas esperadas sejam atingidas e, para tal, há necessidade de adequação da orientação a nível sócio-cultural dos mesmos, para que de fato se processe a comunicação. Portanto, podemos concluir que a ação educativa em saúde, por ser um dos componentes das ações básicas de saúde, deve ser entendida como uma postura, um compromisso de qualidade no cuidado de enfermagem ao cliente hospitalizado. A noção de doença, pessoas, do eu e da posse, foram destaques no conhecimento dos clientes sobre sua doença, conforme explicitado nos depoimentos abaixo: Sobre a minha doença? Praticamente nada. ... Parece que é uma doença rara, dizem que é o terceiro ou quarto caso no Brasil. E segundo informações dos médicos,... fungos vêm do pombo, do coelho... é pelo cocô do pombo, né? ... Eu atendi, fiz tratamento durante seis meses, mas diabos não consegui e agora sou obrigado a operar, vou ter que operar - A.D., 50 anos, portador de Neurocriptococose, casado, supervisor de produção, renda aproximada de seis salários mínimos. Resultados: Análise e discussão Eu sabia muito, mas nunca pensei que eu fosse pegar essa doença, essa tal de dengue que anda por aí... A minha é a hemorrágica... mas as placas arriaram. Mas o que o senhor sabe? Como se pega... Bom, saber a gente sabe né, mas agente fala com os vizinhos, mas não adianta são tudo um bando de... É que eu moro em Parada de Lucas, eu morava aqui em Bonsucesso então aqui é um ambiente né? Pessoas mais civilizadas. Só que quando eu casei minha sogra mora lá, aí apareceu uma oportunidade e eu comprei uma casa lá e tal, tanto que é grande, mas acontece que a vizinhança não sabe cuidar de nada, não é adepto a limpeza, é adepto à sujeira, então o que acontece é isso. Eu tava no posto e tava lá um monte de vizinho com dengue. Começou com a vizinha do lado, pegou na páscoa...e eu peguei essa porcaria também. Todo mundo sabe o que é, mas ninguém quer cair dentro da coisa, prefere uma sujeira ali. Ante ontem pixaram o muro da minha casa, e eu gosto das coisas bem limpas, aí eu saí quando eu voltei tava o meu muro pixado. Eles gostam da sujeira, se incomodam com a limpeza, é triste mais é verdade - A.S.M., 49 anos, portador de dengue hemorrágica, casado, comerciante, renda aproximada de seis salários mínimos. Foram entrevistados (7) sete clientes hospitalizados no setor de DIP, entre os meses de maio a junho de 2001. Cinco entrevistados eram do sexo masculino e dois do sexo feminino, entre 14 e 50 anos, com diagnósticos de neurocriptococose, dengue hemorrágica, osteomielite por Staphylococcus aureus, SIDA, hepatopatia, retinite, malária, insuficiência mitral e endocardite. Inicialmente houve o convite para participação de 12 clientes hospitalizados. Dois se recusaram a responder, uma cliente, por falta de condições clínicas, pois se encontrava abalada emocionalmente, com fácies deprimida e fraqueza generalizada, estando acamada, e o outro cliente por não concordar com sua participação. Três entrevistas com clientes hospitalizados foram extraviadas. Apesar de já terem sido resumidas, com a impressão do entrevistador, resolvemos descartá-las para garantir o rigor metodológico no estudo. As tabelas a seguir resumem os achados sobre as entrevistas. Sua organização foi feita de acordo com a freqüência acumulada das palavras. Em resposta ao conhecimento do cliente sobre sua doença, obtivemos as palavras resumidas na tabela I. Tabela 1 Palavras do texto Fi Doenças, pessoas 11 Eu 11 Minha 7 Sujeira, limpeza, soropositivo, perigosa, febre, conheço. 2 Praticamente nada, rara, informações, médicos, muito, nunca, dengue hemorrágica, fala, ambiente, peguei, sei tudo, bactéria, espinha, corrente sangüínea, vértebras da coluna, sentir dor, eles, tomografia, suspeita, tuberculose óssea, descobriram, tenho, assintomático, portador, hepatite B, carga viral, CD4, transfusão de sangue, transmissível, prevenções, cardiopata, coração, cirurgia, válvula biológica, vírus, AIDS, tentando, debilita, quatro, malária, vivax, falcípara, malariae, outra, sintomas, organismo, vômito, diarréia, fraqueza, diagnosticada rápido, obito, cérebro, coma, preocupante, pesquisei. 1 Sei tudo....É uma bactéria que dá em espinha normalmente, e entrou na corrente sanguínea e foi para em uma das vértebras da minha coluna. E foi comendo, comendo e Fi% aí comecei a sentir muita dor.... eu fui a nove médicos 25.6 diferentes e o último, neurologista foi que me explicou 13.2 que uma vértebra da minha coluna estava com um 8.1 problema, e eu precisava de uma tomografia. Aí fizeram 16 uma tomografia e ficaram com suspeita de tuberculose óssea, só que foi descartada essa possibilidade e foi descoberto que era Staphylococcus aureus.. B.A, portadora de osteomielite por Staphylococcus aureus, 14 anos, solteira, estudante, não sabe informar a renda familiar. 37.1 O que que eu sei? Ah... é eu tenho a dez anos e sou soropositivo, por enquanto eu permaneço...é Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) ...como se diz? Assintomático, agora apareceu também outro problema por que eu sou portador da hepatite B crônica e hoje eu tô aqui por causa dessa hepatite B eu acho que ela está começando a se reproduzir, mas o meu, como é que se diz... a minha carga viral está baixa, menor que 80, então tá ótima, e o CD4 tá numa faixa de 200 a 300, entendeu? E o que eu sei da doença é que, a doença é transmissível através de sexo que é o meu caso, é.. pico, né, drogas e problema de transplante, transfusão de sangue. E as prevenções pra se manter, pra não contaminar as pessoas usando sempre preservativo, camisinha saber quais as pessoas que você anda, qual o tipo de parceiro, entendeu? Não Ter múltiplos parceiros, entendeu? E o que eu sei, é já tô cansado de saber disso aí. E é as coisas que eu tento passar pros outros só que as pessoas não aceitam. E eu sou bem espontâneo, sou casado, tenho 3 filho. Fui casado também, mesmo sendo casado, não tenho vergonha de dizer nada, eu pratico o homossexualismo, entendeu? Pratiquei, me contaminei, e até hoje ainda... e gosto....tô com 49 anos e gosto, só que agora com esta doença eu tenho que andar mais devagar, no sapatinho, nem é por mim, é pelas pessoas que andam comigo, entendeu? Eu não quero, entendeu? Causar mal a uma pessoa. C.M. portador de AIDS e hepatopatia, 49 anos, casado, autônomo (modelista), renda aproximada de seis salários mínimos. Sei que eu sou cardiopata, tenho problema no coração... fiz agora a Segunda cirurgia, troca de válvula biológica. I.F. portadora de insuficiência mitral e aórtica e endocardite pó Staphylococcus Aureus, solteira, do lar, renda aproximada de um salário mínimo. Eu sei que... eu não sei se vou conseguir explicar... eu sei que eu sou uma pessoa que tem um vírus, da AIDS, soropositivo, a meu Deus... até pra dar a entrevista tá ruim... mas eu tô tentando.E uma doença que é perigosa, debilita as pessoas, deixa as pessoas totalmente fora dela mesmo, ela muda toda hora uma hora tá de um jeito, outra hora de outro... e você fica igual a ela, o tempo vai passando e a doença vai se prolongando cada vez mais. R.A.S. portador de retinite por CMV em olho esquerdo, com necrose reticular por Herpes zooster, casado, autônomo, renda aproximada de sete salários mínimos. O que eu sei sobre essa doença? São quatro tipos de malária existentes os nomes que eu conheço é a vivax, falcípara que é uma das que me atingiu a malariae e a outra eu não lembro o nome não. Mas o que eu.. os sintomas que eu conheço que dá na pessoa é dependendo do organismo, geralmente febre, febre muito alta, também é...vômito, diarréia, fraqueza no corpo, e é um tipo de doença que se não for diagnosticada rápido, se não for tratada rápido pode levar ao óbito em cerca de quatro a cinco dias. Sempre tem o perigo a pessoa que tem essa doença de que ela suba pra cabeça e acometa o cérebro.... e se isso ocorre, leva a pessoa ao coma, né e daí é muito difícil reverter esse quadro, então eu sei que é uma doença assim...muito preocupante quando alguém tem é uma doença que precisa tomar uns cuidados bem, ser bem atento com ela. Eu pesquisei, eu li, eu tive essa doença e pude saber e conhecer ela no corpo e saber como é a reação. Amigos, missionários que passaram, conhecem, tive uma amiga também que fez um curso na Secretaria da Saúde, ela me passou muita informação também, então foi isso.. M.A.R.S. suspeita de malária, 37 anos, casado, autônomo, com renda aproximada de oito salários mínimos. Essas palavras incluem a possibilidade da doença afetar o organismo dos clientes, possuindo um significado particular para o ego de cada cliente. Quando os clientes, em seu relato, utilizam a palavra pessoas, estão se referindo às faculdades intelectuais e morais próprias do ser humano, que se relaciona ao seu eu e, a multiplicidade dos estados psicológicos, através dos quais, ou nos quais, tomam consciência de sua existência. O cliente hospitalizado pode realizar tarefas para a melhoria de sua recuperação, até porque se sente muito sozinho e isolado como, por exemplo, aquelas de lazer para se distrair, conforme demonstra a tabela II. Tabela 2 - Opinião dos 7 (sete) clientes hospitalizados sobre como uma pessoa hospitalizada pode realizar tarefas para melhoria da sua recuperação Palavras do texto Fi Fi% Depende, Hospital. Condições, pode, doença. Acho, conversar, sim. Aqui, sente, sozinho, paciente, ele, força de vontade, andaria, muito atenciosamente, importante, grupo de apoio, animei, quero, aproveitar a vida, médica falou, televisão, ajudar outros, ler, ouvir, fraco. 4 3 2 9.5 7.1 4.8 1 2.4 A instituição hospitalar é vista pelos clientes como um ambiente de isolamento social e familiar, conforme depoimento de A.D.: Eu acho inclusive até dentro do hospital próprio mesmo. Porque tem horas que no hospital aqui, não querendo criticar a direção, você mesmo se sente sozinho, não tem um rádio, não tem televisão. Se tem outro paciente aqui do lado a gente até conversamos do contrário a gente fica isolado, não tem ninguém pra conversar. Não tem contato com ninguém. As tarefas de lazer dependem somente das condições clínicas em que se encontra, conforme depoimento de A.S.M: Dependendo do que ele tenha né, das condições que ele estiver aqui. Aí dá. Eu por exemplo, se não é isso aí (aponta ! Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) para o equipo com soro) eu tava fazendo outras coisas, isso atrapalha. Já aquele terceiro lá (aponta para outro paciente) ele já pode fazer um monte de coisas. Tabela 3 - Opinião dos 7 clientes hospitalizados sobre qual a influência das pessoas que o cercam para sua recuperação, Rio de Janeiro, 2001. Palavras do texto Fi Fi% Esse depender se insere no contexto do que é permitido dentro dos seus limites, conforme afirma B.A: Você considera que uma pessoa hospitalizada pode realizar tarefas para melhoria da sua recuperação? Concordo... (tipo de tarefas para facilitar a sua recuperação) Primeiro Ter força de vontade, sei lá. Me alimentar bem, eu não estou podendo andar por causa do colete só depois que eu colocar o colete eu vou poder andar, mas se não fosse isso... andaria. Muito 6 11.1 Influencia 5 9.2 Eles 4 7.4 Sim 3 5.5 Eu, cuidando, claro, pessoa, malária. 2 3.7 Auto-estima, recuperar, melhor agradáveis, positivamente, sem dúvida, bastante, abalado, psicologicamente, carinho, enfermidade, preocupado, companhia, compreende, sensíveis, atenção, encorajado, doença, importante. 1 1.8 Essa limitação advém da doença e seu significado para o cliente, como sendo um processo mórbido considerado desde sua causa inicial até suas últimas conseqüências. A capacidade de ação, ou seja, o poder de realizar tarefas está relacionado com a noção de condição. Esta vem no sentido de evocar qualquer aspecto da vida psíquica do cliente mesmo do seu estado psíquico global, como afirma C.M: Acho, muito importante, porque tem gente aqui que depois que sabe dessa doença larga tudo, quer se matar, quer se jogar da janela, um trem e não procura.. é.... tem um grupo de apoio no hospital pro pessoal que é portador do vírus e eu mesmo já animei, porque as pessoas me acham muito pra cima e que o convívio, nem parece que eu tenho a doença, porque você não tem...é...eu vou fazer o que? Vou me matar? Eu já sei que eu to condenado, pra que eu vou morrer antes? Eu quero é aproveitar a vida. Nesta última acepção, a condição do cliente designa um estado geral do que se aproxima parcialmente daquele que esta expressão se reveste no domínio da enfermeira. Todos os 7 clientes possuem a opinião de que o meio e as pessoas influenciam muito na sua recuperação, além de outros aspectos conforme demonstra a tabela III. O conceito de muito refere-se à intensidade. Dentro do contexto da questão, a freqüência com que essa palavra aparece mostra a importância do meio e das pessoas (eles) dentro do ambiente hospitalar, na sua recuperação, positivamente ou negativamente como afirmado por A.S.M: Bom influenciar, influencia sim. Por exemplo, de sábado pra domingo eu fui lá no Getúlio então eu tava com aquela dengue e tal. E a emergência de lá parece um campo de guerra, tem nego arrebentado, nego morre. Aquilo alí eu não tinha nem uma maca, não tinha nada a sorte é que eu tinha uma cadeira " no carro eu peguei a cadeira e fiquei sentado alí sábado e domingo tomando soro um frio do caramba, uma imundície, quer dizer, o ambiente influi, né. É necessário ressaltar, que o que influencia não é o quantitativo numérico de pessoas, mas o significado, a expressão, a interferência da qualidade do conteúdo pessoal de cada um, enquanto participante da sua recuperação, como nos falou B.A, R.A.S e M.A.R.S: .. sei lá, eles (médicos e enfermeiras) me dão auto-estima, é vontade pra me recuperar, e... tão cuidando de mim bem Bastante (no hospital)... Aqui nem tanto mais lá fora... muito mais. Lá fora eles são muito leigos lá eles criam as defesas deles mesmos, mas de um jeito errado, em vez deles ajudarem a gente. Aqui eles sabem o que a gente tem, sabem lidar com qualquer tipo de pessoa. Sem dúvida, porque psicologicamente, todas as enfermidades deixam você bem abalado, bem preocupado, e a malária, sobretudo, ela atinge muito sistema nervoso. Uma das coisas que, por exemplo, quando eu tava com a malária, você não pode ouvir barulho perto de você, se uma pessoa canta desafinado perto de você dá uma irritação, eu tava na África, lá e eu pedi pro rapaz pra ele parar de cantar perto de mim por tava me irritando e eu falei pára por favor que eu não tô agüentando e barulho e minha filha batia assim, o pezinho na cadeira e eu falava ó pára filha que papai não tá agüentando. Então, se você tem uma companhia, pessoas que cuidam, que compreende, que são sensíveis, entendem a coisa e cerca você com carinho, atenção, claro, eu vi isso aqui no hospital, realmente influencia muito por que você se sente encorajado a lutar mais contra a doença. Realmente é muito importante isso aí A orientação sobre o estado de saúde e a doença por parte dos profissionais e acadêmicos é negligenciada, pois esses estão mais preocupados em saber sobre a doença, do que passar informações sobre ela, segundo demonstra a tabela IV. Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) Tabela 4 Respostas dos sete clientes hospitalizados sobre o tipo de orientações que recebe durante internação Palavras do texto Fi Fi% Não 8 15.1 Eles 6 11.3 Eu 4 7.5 Tenho, médico 2 3.8 Condições, fiquei, sem, conversar, situação, enfermeira, vocês, falam, beber água, andar, alimentar, falei, disse, fique tranqüila, confio, usar preservativo, dão preservativo, doutor, perguntei, exames, perfusão na veia, organismo, medicamentos, orientações, conheço, investigar, não vi, vão orientar depois. 1 1.9 Esta tabela nos mostra que Eles, ou seja, a equipe de saúde, não tem orientado adequadamente os clientes a cerca de sua doença durante a sua hospitalização, conforme depoimento de A.D: No início eu não tinha condições de receber eu fiquei mais ou menos 30 40 dias sem conversar, sem nada, eu não conhecia ninguém, depois, com a situação de apego, da minha mulher com a enfermeira e até vocês. (da equipe do hospital) O que é necessário eles fazem. (acadêmicos) De todos eles. Inclusive, ontem aqui teve uma equipe de acadêmicos aqui e conversaram comigo... Eles procuram mais o lado deles né? Não explicam muito, procuram mais o porque da doença ficam pesquisando. A orientação é vaga e distante, deixando margem a dúvidas e lacunas na assistência, que são preenchidas pela experiência dos próprios clientes em participação de reuniões educativas grupais no atendimento ambulatorial, conforme depoimento de C.M: Como assim? ... Ah sim... é mais a minha assistente social e psicóloga que é a Jaqueline lá embaixo. Ela...isso aí a gente discute muito na reunião de grupo, tem debate, a gente fala muito. Eu como sou o mais falante e ela gosta que eu participe em todas as reuniões aí eu as vezes transmito por que eu já tenho dez anos tem pessoas chegando com dois...então ela me usa como símbolo...olha ele aqui tem dez anos e olha como ele está e tudo, você que chegou hoje...mas orienta a gente. O cliente A.S.M afirma que desde a internação ainda não teve contato com acadêmico de enfermagem. Outro cliente, R.A.S, aponta ter recebido orientação sobre o uso de preservativo e que todo mês o hospital os fornece. M.R.S ainda não recebeu muitas orientações da equipe, mas acredita que quando estiver perto de receber alta hospitalar, receberá. Relata não receber orientações sobre sua doença, por já saber muito sobre ela. Acrescenta que não recebeu orientações por parte dos acadêmicos de enfermagem, apesar de relatar ter sido muito bem tratado. B.A, recebeu orientações de que não pode andar, não pode fazer muito esforço e ter que se alimentar bem. Não teve a oportunidade de ter contato com acadêmico de enfermagem. C.M. recebe orientações principalmente da psicóloga e assistente social. I.V recebe orientações para que fique tranqüila, siga as prescrições, não fique muito tempo deitada e para esticar o braço por causa da punção venosa. A orientação dada pelo acadêmico de enfermagem, foi de seguir as prescrições e não fazer muito esforço. As palavras contidas nas respostas sobre as orientações prestadas pelos acadêmicos de enfermagem, estão resumidas na tabela V: Tabela 5 Respostas dos sete clientes hospitalizados sobre o tipo de orientações dadas pelo acadêmico de enfermagem Palavras do texto Fi Fi% Não, eles 7 Acadêmicos 3 Equipe, muito, agradeci 2 Conversaram, doença, professor, demonstrar, paciente, nervosa, tremendo, segurança, perguntas, inseguros, outros definidos, legal, ficar, ajudou, continuar, prescrição, não levantar, falava, conversar, bacana, ótimo, muita atenção, preocupada, do meu lado, media pressão. 1 14.6 6.25 4.2 2.1 Eles, ou seja, os acadêmicos, enquanto participantes de uma instituição pedagógica, isto é, um organismo fundado com o fim de conversar, reproduzir e perpetuar um arbitrário cultural, possuem deveres e responsabilidades ao prestarem assistência de enfermagem. Uma de suas responsabilidades é orientar o cliente. Mais uma vez a palavra não surge em grande freqüência nas respostas, sugerindo que aquela responsabilidade está sendo cumprida de maneira incipiente ou simplesmente não está sendo cumprida; pois não são trabalhadas as emoções, o afeto, o significado próprio da doença para o cliente, como demonstra o relato de M.A.R.S.: Não, ela... orientação não, esclarecimento, orientação não...ela deu sim, muita atenção, estava preocupada sempre aqui do meu lado, ia lá voltava, media a pressão, me perguntava sempre como eu estava. # Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) Anexo I Questionário aberto Nome: _____________________________________________ Diagnóstico: ____________________ Idade: _____________________________________________ Estado Civil: ____________________ Profissão ___________________________________________ Renda aproximada: _______________ I O que o senhor (a) sabe sobre sua doença? ______________________________________________ II O senhor (a) considera que uma pessoa hospitalizada pode realizar tarefas para melhoria de sua recuperação? ________________________________________________________________________ III O senhor (a) acha que o meio e as pessoas que o cercam contribuem para sua recuperação? _______ IV Que tipo de orientações o senhor (a) tem recebido durante sua internação? ____________________ V Quando o senhor (a) esteve com um acadêmico, que tipo de orientações ele lhe deu? _____________ Anexo II Consentimento Livre e esclarecido Somos alunos do curso de graduação em enfermagem com interesse na área de educação em saúde no ambiente hospitalar e gostaríamos que participasse de um estudo respondendo a um questionário aberto para coleta de dados. O estudo chama-se O papel do acadêmico de enfermagem na orientação dos clientes em relação à sua doença durante a sua internação. Este estudo terá como sujeito os clientes internados no setor de Doenças Infecto-parasitárias (DIP) do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho HUCFF/UFRJ visando identificar as orientações recebidas pelos clientes hospitalizados no setor de DIP. Este documento tem como objetivo prestar conhecimento sobre o estudo e formalizar seu consentimento em participar como sujeito. Em aceitando participar, você tem o direito de interromper livremente a sua participação ou retirar o consentimento quando desejar, sem sofrer qualquer penalização, principalmente em sua assistência hospitalar. Será garantido o anonimato de sua identidade e as informações coletadas servirão única e exclusivamente para estudo, sendo os resultados divulgados para a comunidade científica respeitando os preceitos éticos. A entrevista será realizada de acordo com a sua disponibilidade. A principal vantagem será a possibilidade de aprimorar o conhecimento e aprendizado sobre as orientações que devem ser passadas ao cliente hospitalizado. Rio de Janeiro, de de 2001 _____________________________________ Aluno Responsável Eu, ,estou ciente dos pontos abordados acima e sinto-me suficientemente esclarecido a respeito do estudo proposto. É por minha livre vontade que aceito participar como sujeito e autorizo a divulgação dos resultados, como dispostos nos termos supracitados. Rio de Janeiro, de 2001 ____________________________________ Assinatura do Cliente $ Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) Conclusão Os resultados do estudo indicam que os clientes hospitalizados não recebem orientação sobre a sua doença, apesar de considerarem importante este tipo de orientação. A maioria dos clientes hospitalizados, que fizeram parte da amostra, que têm conhecimento a cerca de sua doença, ficaram sabendo através de pesquisa, leitura ou através de algum amigo, que já passou por esta experiência ou tem conhecimento sobre ela. Os acadêmicos de enfermagem deveriam orientar os clientes hospitalizados, já que estão adquirindo o conhecimento de que a educação para a saúde pode ajudar esses cientes a se adaptarem à doença, prevenir complicações, cooperar com a terapia prescrita, aprender a resolver os problemas, quando confrontados com situações novas e prevenir a rehospitalização; tendo a noção de que a meta da educação para a saúde é ensinar às pessoas a viverem a vida de forma mais saudável, isto é, lutar para adquirir o potencial de saúde máximo possível. O que pudemos observar é que essa orientação acerca da saúde e doença do cliente hospitalizado não está sendo realizada, ou está sendo realizada de maneira ineficaz, tanto pelo acadêmico de enfermagem quanto pela equipe multiprofissional de saúde daquele setor de DIP. Sugerimos que a educação para a saúde desses clientes seja reforçada no sentido da ajudá-los na adaptação à sua doença, prevenção de suas complicações, resolução de problemas e diminuição de re-internações, ensinando-os a viverem de forma mais saudável, estimulando a adquirir o potencial máximo de sua saúde. Além disso, é necessário reforçála e organizá-la sistematicamente no ensino de graduação em enfermagem. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Dahlke R. A doença como símbolo. São Paulo: Cultrix, 1996. Lescura Y; Mamede M V. Educação em Saúde: Abordagem para o enfermeiro. São Paulo: Sarvier., 1990. Mendes-Gonçalves RB; Scharaiber L. Necessidades de saúde e atenção primária. São Paulo: Hucitec. 1996. Minayo MCS. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes. 1999. Minayo MCS. O Desafio do Conhecimento: Pesquisa qualitativa em saúde. Ed. HUCITEC. Rio de Janeiro, RJ, 1994. Santos RB. Educação em Saúde para pessoas diabéticas: O caso do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia Luiz Capriglione. Dissertação de Mestrado. 1991. Stotz EN. Enfoques sobre educação e Saúde notas para reflexão. Escola Nacional de Saúde Pública.Agosto de 1989. % Enfermagem Brasil Novembro/Dezembro 2002;1(1) Artigo original Avaliação de enfermagem no atendimento domiciliar de portadores de HIV/SIDA Nursing evaluation in AIDS patients home care Avaliación de enfermería en el atendimiento domiciliario de portadores de HIV/SIDA Daniel Ferrari*, Guilherme Souza*, Sudivan Vieira**, Rita Batista Santos*** *Alunos do 6º período do Curso de Graduação em Enfermagem EEAN/UFRJ. Estagiários do PADI/HUCFF/UFRJ, **Aluno do 5º período do Curso de Graduação em Enfermagem EEAN/UFRJ, Estagiários do PADI/HUCFF/UFRJ, ***Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Professora Adjunto do DEMC/EEAN/UFRJ, Membro do PADI/HUCFF/UFRJ Resumo No atendimento domiciliar a portadores de HIV/SIDA, feito a partir de uma avaliação da equipe interdisciplinar, a enfermagem possui um papel fundamental. Inicia-se com uma coleta de dados psicológicos, clínicos e capacidade para o auto-cuidado dos portadores inscritos num Programa de Assistência Domiciliar Interdisciplinar (PADI). Os objetivos são: discutir a avaliação da enfermagem para o atendimento domiciliar aos portadores de HIV/SIDA; identificar aspectos importantes e descrevê-la. Foi realizado um estudo de três casos clínicos, que explicam a dinâmica de avaliação da enfermagem. A coleta de dados deuse no período de maio a julho de 2002, através da aplicação da ficha de avaliação de enfermagem, composta de entrevista, observação, exame físico e consulta ao prontuário. Os dados foram organizados através do software EPI-INFO, módulos EPED e ENTER. A análise dos dados é quantitativa, requerendo uma discussão e análise dos resultados da avaliação, com interpretação a partir de dados coletados e um levantamento bibliográfico sobre o cuidado de enfermagem ao portador de HIV/SIDA. A população atual é de 11 pacientes de quatro especialidades: diabetes mellitus (2), AIDS (3), neoplasias (2) e pacientes geriátricos (4). Os portadores de HIV/AIDS possuem idade entre 35 e 46 anos, sendo dois do sexo masculino e um do sexo feminino. Apresentam infecções oportunistas tais como: Herpes zooster, neurotoxoplamose, citomegalovirose, tuberculose pulmonar, com seqüelas neurológicas, que acarretam dificuldade de locomoção, levando ao uso de muletas e cadeiras de rodas; diabetes mellitus (2); hipertensão arterial (2) e sarcoma de Kaposi (1). A capacidade para o auto-cuidado denota dependência de total a parcial, em relação aos cuidadores e ao cuidado de enfermagem. Os cuidadores são duas mulheres, com idade de 40 anos e 83 anos e um homem com 46 anos. A avaliação traz conhecimento acerca da situação de saúde dos pacientes, evidenciando a importância do cuidado de enfermagem como um modelo para o seu auto-cuidado, onde os mais comuns são relacionados a hidratação, nutrição, higiene pessoal, do ambiente, adesão ao tratamento, reconhecimento de sinais e sintomas de descompensação e infecções oportunistas. As ações de enfermagem são importantes na evolução clínica dos portadores, promovendo melhor qualidade de vida e satisfação pessoal dos envolvidos. Palavras chave: Cuidado de enfermagem, atendimento domiciliar, HIV/AIDS, auto-cuidado. Artigo recebido em 15 de agosto, aprovado em 30 de agosto de 2002. Endereço para correspondência: Daniel Ferrari, Rua Silva Rabelo, 91/1406 do Bl.2 Méier 20735-080 Rio de Janeiro RJ, E-mail: [email protected]. & Enfermagem Brasil Novembro/Dezembro 2002;1(1) Abstract Domiciliary attendance the HIV/SIDA carriers is made from an evaluation of the team to interdisciplinar, in which the nursing possesss a basic. Done from a collection of data psychological, clinical and capacity for the selcare one of enrolled carriers in the Program of Domiciliary Assistance Interdisciplinar (PADI). The objectives are: to argue the evaluation of nursing it domiciliary attendance to the HIV/SIDA carriers; to identify aspects important and to describe it. A study of three clinical cases was carried through that explain the dynamics of nursing evaluation. The collection of data gave in the period of May the July of 2002, through the application of the fiche of nursing evaluation, in which an interview is carried through, the comment, the physical examination and consults to the handbook. The data had been organized through software Epi-info, modulos EPED and ENTER. The analysis of the data is quantitative, a quarrel and analysis of the results of the evaluation, with interpretation of the data from data collected and a bibliographical survey on the care of nursing of the HIV/SIDA carrier. The current population is of 11 patients of four specialties: Diabetes Mellitus (2), AIDS (3), Neoplasias (2) and patients geriatras(4). The HIV/AIDS carriers possess age between 35 and 46 years, being two of masculine sex and one of the feminine sex. Such present opportunist infections as: Herpes to zooster, neurotoxoplamose, citomegalovirose, pulmonary tuberculosis, with sequelas neurological, that they cause difficulty of locomotion, leading to the use of crutches and chairs of wheels; diabetes mellitus (2); arterial hipertensão (2) and sarcoma of Kaposi (1). The capacity for the autocuidado one denotes total dependence the partial one in relation to the cuidadores and the care of nursing. All use antiretrovirais, beyond análgésico, psicotrópico, antihypertensive, verbal antidiabetic, insulina NPH, antihypertensive, antiemetic and gastric protector. The cuidadores are two women, with age of 40 years and 83 years and a man with 46 years. The evaluation brings knowledge concerning the situation of health of those, evidencing the importance of the care of nursing as a model for its selfcare, where most common hidratation, nutrition are related, personal hygiene, of the environment, adhesion to the treatment, recognition of signals and opportunist symptoms of descompensation and infections. The actions of nursing are important in the clinical evolution of the carriers, promoting better quality of life and personal satisfaction of the involved ones. Key-words: Nursing care, home care, hiv/aids, self care. Resumen En el atendimiento domiciliario a portadores de HIV/SIDA, hecho a partir de una avaliación del equipo interdisciplinar, la enfermería tiene un papel fundamental. Empieza con una colecta de datos psicológicos, clínicos y capacidad para el autocuidado de los portadores inscritos en un Programa de Asistencia Domiciliar Interdisciplinar (PADI). Los objetivos son: discutir la avaliación de la enfermería para el atendimento domiciliario a los portadores de HIV/SIDA; identificar aspectos importantes y describirla. Fue realizado un estudio de tres casos clínicos, que explican la dinámica de evaluación de la enfermería. Los datos fueron colectados en el período de mayo a julio de 2002, a través de la aplicación de una ficha de evaluación de enfermería, compuesta de entrevista, observación, exame físico y consulta al prontuario. Los datos fueron organizados a través del software EPI-INFO, módulos EPED y ENTER. El análisis de los datos es cuantitativo, requeriendo una discusión y análisis de los resultados evaluados, con interpretación a partir de datos colectados y un levantamiento bibliográfico sobre el cuidado de enfermería con el portador de HIV/SIDA. La población actual es de 11 pacientes de cuatro especialidades: diabetes mellitus (2), SIDA (3), neoplasias (2) y pacientes geriatricos (4). Los portadores de HIV/SIDA tienen entre 35 y 46 años siendo dos del sexo masculino y uno del sexo femenino. Presentan infecciones oportunistas como: Herpes zooster, neurotoxoplamose, citomegalovirus, tuberculose pulmonar, con secuelas neurológicas, que dificultan la locomoción, llevando al uso de muletas y sillas de rueda; diabetes mellitus (2); hipertensión arterial (2) y sarcoma de Kaposi (1). La capacidad para el autocuidado denota dependencia de total a parcial, en relación a los cuidadores y al cuidado de enfermería. Los cuidadores son dos mujeres, con edad de 40 años y 83 años y un hombre con 46 años. El resultado muestra la situación de la salud de los pacientes, y pone en evidencia la importancia del cuidado de enfermería como un modelo para su autocuidado, donde los mas comunes son relacionados a la hidratación, nutrición, higiene personal, del ambiente, adhesión del tratamiento, reconocimiento de señales y síntomas de descompensación y infecciones oportunistas. La manera como el paciente es cuidado por el equipo de enfermería, es importante en la evolución clínica de los portadores, proporcionando una mejor calidad de vida y satisfacción personal de los envueltos. Palabras-clave: cuidado de enfermería, atendimiento domiciliario, HIV/SIDA, autocuidado ' Enfermagem Brasil Novembro/Dezembro 2002;1(1) Introdução O atendimento domiciliar a portadores de HIV/ SIDA é feito a partir de uma avaliação da equipe interdisciplinar, composto por professores e profissionais de saúde de uma universidade federal do município do Rio de Janeiro, formada por: enfermeiro, técnico de enfermagem, médico, assistente social, serviço social, nutricionista, psicólogo, fisioterapeuta. Além de contar com a participação de acadêmicos de enfermagem e serviço social. A enfermagem possui um papel fundamental na avaliação, que é feita a partir de uma coleta de dados (psicológico, clínico e capacidade para o auto-cuidado). A partir dessa avaliação, o paciente é incluído no Programa de Assistência Domiciliar Interdisciplinar (PADI). O atendimento é realizado numa parceria entre a escola de graduação em enfermagem, o Hospital Universitário, como projeto de extensão, e um Laboratório Interdisciplinar de Educação para o Autocuidado em Portadores de Diabetes Mellitus, AIDS, Neoplasias e Geriatria. Objetivo Discutir a avaliação de enfermagem para o atendimento domiciliar aos portadores de HIV/SIDA; identificar aspectos importantes na avaliação de enfermagem no atendimento domiciliar de portadores de HIV/SIDA; descrever a avaliação de enfermagem para o atendimento domiciliar. Metodologia Foi realizado um estudo de caso clínico com uma análise detalhada de três casos, que explicam a dinâmica de avaliação de enfermagem de portadores de SIDA em atendimento domiciliar, visando o conhecimento a partir da sua intensa exploração. É uma análise holística, a mais completa possível, considerando a avaliação de enfermagem como um todo, com o objetivo de compreendê-los e sugerir adequações ao seu auto-cuidado domiciliar. O cenário do estudo é o PADI e o domicílio dos portadores. O instrumento de coleta de dados consiste numa ficha de avaliação de enfermagem, incluindo dados pessoais, clínicos, sociais, sobre o portador e seu cuidador. A coleta de dados aconteceu no período de maio a julho de 2002, através da aplicação da ficha de avaliação de enfermagem, na qual é realizada uma entrevista, a observação, o exame físico no portador e consulta ao seu prontuário. A organização dos dados foi executada através do software EPI-INFO, módulos EPED e ENTER. A análise dos dados tem uma abordagem quantitativa, caracterizada como uma discussão e análise dos resultados da avaliação de enfermagem acerca do estado de saúde e auto-cuidado dos portadores, com interpretação dos dados a partir de fontes primárias (dados coletados) e fontes secundárias, um levantamento bibliográfico sobre avaliação e cuidado de enfermagem do portador de HIV/SIDA para o atendimento domiciliar. Resultados, análise e discussão A população atual atendida pelo PADI é de 11 pacientes de quatro especialidades: diabetes mellitus (2), AIDS (3), neoplasias (2) e pacientes geriátricos (4). Houve três óbitos, sendo 1 portador de neoplasia pulmonar metastásica, com 26 anos do sexo masculino, e 2 pacientes idosas em estágio terminal, portadoras de adenocarcinoma de ovário estágio IV (88 anos) e paralisia supra-nuclear progressiva (74 anos). Os três portadores de HIV/AIDS possuem idade entre 35 e 46 anos, sendo dois do sexo masculino e um do sexo feminino. Dois portadores, um homem e uma mulher, apresentam diabetes mellitus e hipertensão arterial, e um apresenta sarcoma de Kaposi, que são doenças crônicas associadas ao HIV/AIDS, ocasionando emagrecimento, lipodistrofia, astenia, distúrbios nutricionais, alterações psiquiátricas e reações emocionais em relação à doença e ao auto-cuidado. A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) é definida como a forma mais grave de uma seqüência de enfermidades, associadas à infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). Este tem sido referido como um vírus para células linfotróficas humanas tipo III (HTLV-III) e vírus associado a linfadenopatia (LAV). As manifestações do HIV variam de leves anormalidades na resposta imune, sem sinais e sintomas evidentes, aprofundando para a imunossupressão associada que provoca lenta degeneração deste sistema, favorecendo o aparecimento de infecções oportunistas e cânceres. Apresentam infecções oportunistas tais como: herpes zooster, neurotoxoplamose, cito- Enfermagem Brasil Novembro/Dezembro 2002;1(1) megalovirose, tuberculose pulmonar, com seqüelas neurológicas, que acar retam dificuldade de locomoção, levando ao uso de muletas e cadeiras de rodas. Dois portadores, um homem e uma mulher, apresentam diabetes mellitus (2), hipertensão arterial (2) e um apresenta sarcoma de Kaposi, que são doenças crônicas associadas ao HIV/AIDS, ocasionando emagrecimento, lipodistrofia, astenia, distúrbios nutricionais, alterações psiquiátricas e reações emocionais em relação à doença e ao auto-cuidado. Em relação à capacidade para o auto-cuidado, a avaliação denota tendência a dependência de total a parcial dos portadores em relação aos seus cuidadores e ao cuidado de enfermagem domiciliar. Todos usam antiretrovirais. A portadora usa analgésico, psicotrópico e antihipertensivo. O portador de diabetes mellitus usa antidiabético oral e insulina NPH, antihipertensivo, antiemético e protetor gástrico. A maiorias das pessoas infectadas pelo HIV não apresenta sintomas nem sinais imediatos da doença. Ocorre a soroconversão quando a pessoa formou anticorpos suficientes contra HIV para tornar o teste sorológico positivo. São necessários de 3 a 6 meses para que ocorra a soroconversão. Este período é chamado de janela imunológica. O HIV pertence ao grupo dos retrovírus, o qual indica que o vírus carreia mais seu material genético no ácido ribonucléico (RNA) do que no ácido desoxirribonucléico (DNA). Este infecta as células do sistema imunológico, seletivamente às moléculas CD4+, que se incluem em monócitos, macrófagos e linfócitos T4 auxiliares. O HIV se liga à membrana celular das células T4 auxiliares, onde se encontram predominantemente as moléculas CD4+, e injeta duas tiras idênticas de RNA, usando uma enzima conhecida como transcriptase reversa. O HIV reprograma os materiais genéticos da célula T4 infectada, para marcar a tira de DNA duplicada. Este DNA é incorporado ao núcleo da célula T4 infectada, como um pró-vírus e a infecção é permanentemente estabelecida. Neste processo de penetração e infecção da célula T4, o HIV destrói as moléculas CD4. O ciclo de replicação HIV é restrito a este estágio até a ativação da célula infectada. A ativação da célula infectada pode ser alcançada por antígenos, mitógenos, citocinas selecionadas (fator alfa de necrose do tumor ou interleucina 1), ou produtos do gen viral de vírus, como citomegalovirus (CMV), herpes simples e hepatite. Conseqüentemente, enquanto a célula T4 infectada é ativada, ocorrem a replicação e crescimento do HIV e a célula T4 é destruída. O HIV recentemente formado é, então, liberado no plasma sanguíneo e afeta outras células CD4. Com a invasão progressiva do HIV, a imunidade humoral (linfócitos B) e celular (linfócitos T) diminuem e começam a surgir infecções, que irão caracterizar a doença. Nos casos dos portadores de HIV/AIDS, a fase de doença é manifestada, ou seja, o vírus já passou da fase de replicação para a fase de ativação, sendo que pelo menos um deles já apresentou sarcoma de Kaposi. Quando a função dos linfócitos T4 está comprometida, microrganismos, que comumente não causam doença, têm a oportunidade de invadir e causar sérias patologias. Infecções que se desenvolvem com resultante comprometimento do sistema imune, são referidas como infecções oportunistas, que apresentam herpes zooster, neurotoxoplamose, citomégalovirus e tuberculose pulmonar, com seqüelas neurológicas. A infecção de monócitos e macrófagos parece ser persistente e não resulta em morte celular significativa, mas estas células servem como reservatório para o HIV, permitindo ao vírus sair do sistema imune e ser transportado pelo sistema, para infectar uma variedade de tecidos corporais. Quando o sistema imune é estimulado, ocorre a replicação do HIV e o vírus diminui no plasma sangüíneo, com subseqüente infecção de outras células CD4+. Acredita-se que a taxa de produção do HIV esteja associada com o estado de saúde do indivíduo infectado. Se este não está lutando contra outra infecção, a reprodução do HIV procede lentamente. A reprodução parece acelerar, quando o indivíduo está combatendo outra infecção ou quando seu sistema imune é estimulado. Portanto, é necessário ressaltar a importância do auto-cuidado para a prevenção de outras patologias, que possam desencadear esta reação. Através da ficha de avaliação de enfermagem é possível traçar um plano de cuidados eficaz, capaz de atender as necessidades humanas básicas, promovendo melhor qualidade de vida e satisfação pessoal de todos os envolvidos. As manifestações clínicas mais comuns nos portadores de HIV/AIDS, fora as pulmonares, são as gastrointestinais, orais, no sistema nervoso central e doenças crônicas degenerativas, como os cânceres, o diabetes mellitus e a hipertensão arterial. As manifestações pulmonares podem se apresentar em tosse persistente, com ou sem produção de secreção, falta de ar, dor torácica e febre, decorrentes da pneumonia por Pneumocystis carinii (mais comum), da pneumonia bacteriana, do Mycobacterium avium disseminado, do citomégalovirus, do Histoplasma, Enfermagem Brasil Novembro/Dezembro 2002;1(1) do sarcoma de Kaposi, do Cryptococcus, da Legionella e outros patógenos. As manifestações gastrointestinais, por sua vez, podem ser diarréia, perda de peso, anorexia, cólicas abdominais, urgência retal (tenesmo), decorrentes de patógenos entéricos. As manifestações orais se manifestam com aparecimento de lesões orais, placas esbranquiçadas na mucosa da boca e quelite angular da Candida albicans na boca e esôfago; vesículas ulceradas provocadas pelo vírus herpes simplex; lesões esbranquiçadas espessas nas margens laterais da língua decorrente de leucoplasia pilosa; verrugas orais causadas pelo papilomavírus humano (HPV) e gengivite associada; periodontite que progride para necrose da gengiva. As manifestações no sistema nervoso central (SNC) dizem respeito a sintomas cognitivos, motores e comportamentais (complexo demência da AIDS/ encefalopatia do HIV); retardo mental, deficiência de memória e concentração, perda do equilíbrio, fraqueza das extremidades inferiores, ataxia, apatia e isolamento social; toxoplasmose, meningite criptocócica, infecções pelo herpes vírus, do CMV (que causa cegueira e retinopatia) e linfoma. Os cânceres mais comuns são o sarcoma de Kaposi (tumor agressivo que envolve a pele, linfonodos, tubo digestivo e pulmões); linfoma nãoHodgkin e linfomas; e o carcinoma de colo uterino. associadas à infecção por HIV e a contagem de células T CD4+. Após a avaliação da equipe multidisciplinar, mais especificamente do enfermeiro, em relação às condições de auto-cuidado, é de extrema importância que o portador de HIV/AIDS se proponha a aderir às implicações, restritas ou não, do tratamento e da manutenção da estabilidade e evolução do estado de saúde, através de cuidados básicos, que visam otimizar sua qualidade de vida. Os cuidados de enfermagem surgem a partir da necessidade de aprendizagem do portador e seu cuidador, sobre seus problemas e dificuldades para se cuidarem. Os mais comuns são relacionados a orientações sobre hidratação, nutrição, higiene pessoal e do ambiente, adesão ao tratamento medicamentoso e ao reconhecimento de sinais e sintomas de descompensação e infecções oportunistas. Os cuidadores são duas mulheres (irmã e mãe), com idade de 40 anos e 83 anos e um homem com 46 anos (companheiro). Os cuidadores respondem favoravelmente ao atendimento domiciliar interdisciplinar, interagindo bem com o seu familiar e com a equipe interdisciplinar, favorecendo a promoção do auto-cuidado. Dentre as manifestações clínicas descritas, os portadores de HIV\AIDS atendidos no PADI se enquadram em algumas delas, tais como: Ficou evidente que o PADI (Programa de Assistência Domiciliar Interdisciplinar) permite que a avaliação de enfermagem vislumbre, no portador de HIV/AIDS, o auto-cuidado quanto a presença de situações assintomáticas, relacionadas à doença. Orienta o portador desta síndrome quanto às necessidades humanas básicas e, também, como conciliá-las com sua situação sócio-econômica e domiciliar. Sendo assim, torná-se de suma importância a determinação da capacidade de auto-cuidado, acompanhadas através do atendimento domiciliar de enfermagem, enfocando a evolução da doença, estimulando medidas profiláticas, com o objetivo de evitar a involução da síndrome e conseqüentemente a hospitalização Isto reduz custos para a instituição hospitalar, tornando a terapêutica mais humanizada, enaltecendo a arte do cuidar de enfermagem, característica própria do enfermeiro, que tem como filosofia a visão holística. Quanto ao cuidador, o enfermeiro é responsável por orientá-lo, avaliando sua capacidade de -Tosse persistente, com ou sem produção de secreção, falta de ar, dor torácica e febre; -Diarréia, perda de peso, anorexia, cólicas abdominais, urgência retal (tenesmo); -Sintomas cognitivos, motores e comportamentais (complexo de demência da AIDS/encefalopatia do HIV); -Apatia e isolamento social, deficiência de memória e concentração; -Infecções pelo herpes vírus; -Sarcoma de Kaposi. Variam as manifestações de infecção HIV. O diagnóstico baseia-se na história clínica, identificação dos fatores de risco, exame físico, evidência laboratoriais de disfunção imune, identificação de anticorpos HIV, sinais e sintomas bem como infecções e/ou malignidade. A caracterização do quadro baseiase no cruzamento de dados entre condições clínicas Considerações finais Enfermagem Brasil Novembro/Dezembro 2002;1(1) envolvimento no tratamento, prestação de cuidados e sua interação com o portador de HIV/AIDS. A avaliação da enfermagem no atendimento domiciliar de portadores de HIV/AIDS é um instrumento de conhecimento sobre a situação de saúde dos pacientes, evidenciando a importância do cuidado de enfermagem como um modelo para o seu auto-cuidado. Os cuidados de enfermagem surgem a partir da necessidade de aprendizagem do portador e seu cuidador. Os problemas mais comuns, nos casos estudados, estão relacionados a orientações sobre hidratação, nutrição, higiene pessoal e do ambiente, adesão ao tratamento medicamentoso e ao reconhecimento de sinais e sintomas de descompensação e infecções oportunistas. O impacto social do atendimento domiciliar interdisciplinar, através da educação para o autocuidado em portadores de diabetes mellitus, AIDS, neoplasias e em pacientes geriatricos, refletirá na diminuição de custos com o atendimento hospitalar, além de melhorar a qualidade da assistência hospitalar e, por conseguinte, da prática dos profissionais envolvidos, com reflexos na qualidade de formação profissional e fomento à pesquisa em saúde nas áreas e cenários universitários envolvidos. O grupo tem como meta alcançar a integração entre graduação - pós-graduação - assistência, formando agentes de mudanças, multiplicadores de saber e prática, que revertam para o ensino e a prática assistencial na assistência pós hospitalar. As ações de enfermagem no atendimento domiciliar interdisciplinar são importantes na evolução clínica dos portadores, promovendo melhor qualidade de vida e satisfação pessoal de todos os envolvidos. Bibliografia 1. 2. 3. 4. 5. 6. Brunner L. Tratado de Enfermagem Médico-Cirúrgica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. Camus L. Autocuidado de la salud en personas con problemas cronicos de salud. EPAS; 1999:94-108. Marins HMO et al. Programa de atendimento domiciliar interdisciplinar. In: Congresso de Extensão da UFRJ.2. 2001, Rio de Janeiro. Anais. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro/Sub-Reitoria de Desenvolvimento e Extensão; 2001:249. Nettina SM. Prática de Enfermagem. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan; 1998:700-702. RUIZ JÁ. Metodologia Científica: guia para eficiência nos estudos. São Paulo, Atlas S.A, 1996:51. Santos RB. Laboratório interdisciplinar de educação para o autocuidado em diabetes mellitus, AIDS, neoplasias e em geriatria. In: Congresso de Extensão da UFRJ. 2. 2001, Rio de Janeiro. Anais. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro/Sub-Reitoria de Desenvolvimento e Extensão, 2001:246. ! Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) Artigo original Resgate do uso de plantas medicinais em Antônio Prado, RS Rescue work of the medical plants use in Antônio Prado - RS Rescate del plantas medicinales en Antônio Prado - RS Bianca-Lísi Gradaschi da Costa Enfermeira Especialista em Fitoterapia, Departamento de Enfermagem, Prefeitura Municipal de Antonio Prado - RS Resumo Este trabalho é um relato da experiência de resgate sobre o conhecimento do uso de plantas medicinais, realizado no município de Antonio Prado/RS. Iniciado em 1999, que perdura até hoje, o projeto vem sendo realizado em conjunto, entre a Secretaria Municipal de Saúde e a EMATER. Inicialmente, em comunidades da área rural, com grupos de mulheres, desenvolveram-se vários encontros, visando a identificação de plantas mais utilizadas pelas famílias, indicações, formas de uso, coleta e armazenamento. A seguir, foram catalogadas 29 plantas utilizadas pelas comunidades participantes do projeto. Estas mesmas plantas foram revisadas bibliograficamente e este estudo foi devolvido para as comunidades em encontros subseqüentes. Paralelamente, trabalhos com outros grupos foram surgindo, como: grupo de diabéticos e hipertensos, Mães do Leite, escolas, professores, Líderes Comunitários, Agentes Comunitários de Saúde, e implantação do Horto Municipal de Plantas Medicinais com objetivos didáticos. Esta monografia mostra os resultados deste trabalho e a revisão bibliográfica das 7 plantas mais utilizadas, que são: alecrim, capim-cidró, cavalinha, malva, melissa, mil-em-ramas e sálvia. Palavras-chave: plantas medicinais, comunidade Abstract This work is a report of a recall experience on the knowledge of using medical plants done in Antônio Prado/RS. It was started in 1999, done until today, has been happening along with Health Town Secretary and EMATER. First, in country village areas, with groups of women, many meeting were held, aiming the identification of the most used plants , its indications, ways of use, collecting and conservation. Then, 29 plants were catalogued , these ones used by the communities envolved on the project. The same plants were book-reviewed and this work was returned to the communities in the following meetings. Along with this, works with other groups were rising such as: diabetes and hypertension groups, Milk Mothers, schools, Artigo recebido em 15 de agosto, aprovado em 30 de agosto de 2002. Endereço para correspondência: Prefeitura Municipal de Antônio Prado, Praça Garibaldi, 27 - Centro Antônio Prado - RS. " Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) teachers, Community Leaders, Health Care Agents, and the establishment of a Town Yard of Medical Plants with teaching aims. All this way brought us to the register of medical plants knowledge which were forgotten by most of people, due to the main fact of this knowledge was transmitted only orally generation to generation with no kind of register, and also by the no valorization that the use of teas suffered in the process of modernization. So, the main purpose of this project is to search the best life quality and guarantee the security and efficacious of the use of medical plants. This essay shows the results of this work and the book review of seven most used plants. They are: alecrim, capim-limão, cavalinha, malva, melissa, mil-emramas and sálvia. The rescue work is still in development in the town, searching to help other groups and communities which showed interest in medical plants. Key-words: medicinal plants, community Resumen Es un relato de la experiencia de rescate sobre el conocimiento del uso de plantas medicinales realizado en el municipio de Antonio Prado/RS. Desde su inicio, en 1999, hasta hoy, este trabajo viene siendo realizado en conjunto, entre la Secretaria Municipal de Salud y EMATER. Primero comenzó en comunidades de la área rural, con grupos de mujeres, y se desenvolvieron vários encuentros, con la finalidad de identificar las plantas mas utilizadas por las familias, indicaciones, formas de uso, colecta y almacenamiento. A continuación, fueron catalogadas 29 plantas utilizadas por las comunidades participantes del proyecto. Estas mismas plantas fueron revisadas bibliograficamente y este estudio lo devolvieron para las comunidades en otros encuentros. Paralelamente, trabajos con otros grupos fueron surgiendo , como: grupo de diabéticos y hipertensos, Madres de Leche, Profesores, Líderes de la comunidad, Agentes de la Salud de la comunidad, e implantación del Huerto Municipal de Plantas Medicinales con objetivos didáticos. Esta monografía muetra los resultados de este trabajo y la revisión bibliográfica de las 7 plantas mas utilizadas, que son: alecrim (Rosmarinus officinalis), capim-cidró(Andropogn achoenanthus), cavalinha (equisetum fluviatile), malva (malva), melissa(melissa officinalis), mil-em-ramas ( achillea millefollia) y salvia (salvia officinales). Palabras-clave: plantas medicinales, comunidad Introdução Esta monografia mostra um estudo realizado sobre o resgate do uso de plantas medicinais, nas comunidades rurais, do Município de Antônio Prado. O município de Antônio Prado está localizado na região serrana do Rio Grande do Sul. Tem uma extensão territorial de 343 km2, está a 170 km da capital e sua altitude é, em média, 780m acima do nível do mar. Segundos dados do IBGE a população é de 12.918 habitantes. Destes, 8.416 estão na área urbana e 4.501 na área rural. A Secretaria Municipal de Saúde em conjunto com a EMATER, representados respectivamente pela enfermeira Bianca Costa e a extencionista de Bem Estar-Social Clara Pigozzo, iniciaram, em novembro de 1999 reuniões buscando: a) identificação das plantas medicinais mais utilizadas pelas famílias; b) a forma de uso; c) indicações e, d) coleta, secagem e armazenamento. As plantas que aparecem com maior freqüência foram pesquisadas e posteriormente este estudo foi devolvido para as comunidades. Vimos no trabalho que com o passar dos anos estas plantas foram perdendo seus nomes e indicações originais, devido a variações culturais e regionais. Deste modo, ocorrem usos incorretos com prejuízo a saúde das pessoas, tendo em vista a não solução dos problemas desejados e interferindo na credibilidade das plantas medicinais como instrumento de saúde. Também justifica este trabalho o fato de que, segundo a Organização Mundial da Saúde, 80% da população brasileira utiliza plantas medicinais, muitas vezes sem conhecer a atuação dos princípios ativos sobre o organismo humano. Todavia, sabemos que as plantas medicinais, quando utilizadas corretamente, têm ação mais natural, sem apresentar tantos efeitos colaterais, trazendo maior qualidade de vida, com um custo mais baixo, o que se torna relevante pela realidade econômica da maioria da população brasileira. Baseado nesta estatística e nas características do município, realizou-se um trabalho de resgate do uso das plantas medicinais, inicialmente na área rural e posteriormente na urbana. # Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) Uma outra justificativa, é que este trabalho reúna informações científicas disponíveis sobre plantas validadas como medicinais, através da comprovação de sua eficácia e segurança terapêutica, de acordo com a assertiva de que plantas medicinais são só medicamento quando usadas corretamente. Objetivo geral Este projeto visa formar uma rede para o fortalecimento da implantação do Programa Municipal de Plantas Medicinais integrando conhecimentos, resgatando a cultura popular, bem como repassando informações concretas e seguras à população. Objetivos específicos - Promover e incentivar o resgate do conhecimento popular sobre plantas medicinais e aromáticas; - Incentivar escolas, comunidade em geral na organização de hortas, na produção e uso de plantas medicinais; - Promover reuniões, seminários, palestras, oficinas, demonstrações técnicas sobre o uso de plantas medicinais e aromáticas; - Oferecer a população uma alternativa de diagnóstico, tratamento de baixo custo e eficácia comprovada. Metodologia - Levantamento das principais plantas da região e seu uso; - Levantamento bibliográfico das plantas e de seus princípios ativos; - Organização de herbários com exicatas de ervas medicinais e aromáticas; - Reunião de motivação para todos envolvidos com o projeto; - Cursos de capacitação em produção, colheita, secagem, armazenamento e beneficiamento de plantas medicinais e aromáticas; - Curso de capacitação para diagnóstico e tratamento; - Visitas de intercâmbio para aprimoramento do conhecimento dos envolvidos com o projeto. O trabalho que relataremos, traz à tona a relação histórica dos imigrantes italianos com o meio ambiente, e de forma específica com o uso das plantas medicinais. Através desse, unimos as informações científicas disponíveis sobre as plantas validadas como $ medicinais, formando, a partir disso, uma rede de informações e troca de experiências com os mais variados segmentos do município. A pesquisa e toda a experiência foram construídas em sua essência através dos relatos nas comunidades rurais, sobre o uso popular das plantas medicinais, condimentares e aromáticas, que foi passado pelos antepassados de forma oral, sem registros literários. Inúmeras metodologias foram usadas, as quais vêem desempenhando papel fundamental na construção do conhecimento. Acima de tudo, o foco do trabalho leva o indivíduo a questionar e observar todo o processo político, cultural, social e econômico em que estamos inseridos, para analisar o porque das atuais relações homem e meio ambiente. O trabalho, desenvolvido em conjunto com a EMATER de Antonio Prado, consiste em reuniões agendadas previamente com as comunidades. Na elaboração do projeto foram estipuladas três reuniões por comunidade participante. No primeiro encontro, as mulheres convidadas eram orientadas para levarem as plantas verdes que mais utilizavam em sua casa. Durante a reunião, no primeiro momento, realiza-se uma sensibilização rememorando a história do uso de plantas medicinais, trazendo do contexto global até o local. Ressalta-se a importância do uso correto das plantas medicinais para um melhor efeito terapêutico. Na seqüência, as plantas passaram a ser identificadas pelas mulheres da seguinte forma: pega-se uma planta, que era identificada pelo seu nome popular e fixada em painel de papel pardo com o uso de tarjetas, e assim com todas as plantas que ali estavam. Em seguida, foram repassadas informações de como aproveitar melhor as plantas, através do preparo adequado dos chás. Como finalização era lançada a proposta de um novo encontro. No segundo encontro, as plantas de uso mais comuns no município, revisadas bibliograficamente, foram devolvidas para as comunidades, fazendo a conexão do uso popular com o uso científico, reforçando sua identificação através de fotos, transparências e plantas secas; enfatizando as características de odor, aparência e coloração. Discutimos também a importância das plantas recicladoras e alelopáticas, quando as diversas experiências das famílias nesta área são colocadas e há uma interação com a equipe sobre o tema No terceiro encontro, estas mesmas mulheres recebem orientações para o cultivo, coleta, secagem, armazenamento e formas de preparo dos chás, com o objetivo de se obter um melhor resultado terapêutico destas plantas. Também são preparadas algumas Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) receitas populares de xarope para a tosse, sabão para pediculose, vinhos e vinagres aromáticos. Outras atividades Paralelamente, foram acontecendo, através de outros segmentos do município, uma procura junto à equipe para o desenvolvimento de trabalhos semelhantes e novas sugestões de atividades, tais como: capacitação de professores, Agentes Comunitários de Saúde, grupos de diabéticos e hipertensos , escolas, grupo de Mães de Leite , capacitação de líderes comunitários , e também a instalação do horto municipal de plantas medicinais, condimentares e aromáticas com objetivos didáticos . Os grupos participantes foram sugerindo outras pautas para a continuidade do trabalho, como por exemplo, a necessidade de novos encontros em cada comunidade para a elaboração de outras receitas caseiras, organização de hortos comunitários, bem como, o início da discussão do uso de plantas, medicinais, condimentares e aromáticas para os animais na propriedade rural. Resultados O município tem um total de 32 comunidades na área rural. Destas, 16 participaram do projeto na primeira fase (gráfico 1). Foram identificadas 29 plantas utilizadas na região. Estas plantas, posteriormente, foram revisadas bibliograficamente e suas indicações científicas comparadas com o uso popular. Este resultado foi devolvido para as comunidades no segundo encontro. As 29 plantas mais usadas pelas comunidades foram o foco principal para todas as atividades geradas durante o processo, visto que através e a partir delas, formamos e implantamos a rede de informações, valorizando, assim, toda a cultura local, com o aval das famílias ( Gráfico 2). O trabalho mostra essencialmente resultados qualitativos, pois as pessoas passaram a olhar e perceber seu conhecimento e interação com o meio ambiente de maneira diferente. Muitos aspectos da realidade diária das famílias, que antes não eram percebidos, passaram a ser observados, ao mesmo tempo que outros aspectos já conhecidos por eles adquiriram novo significado. Salienta-se que o grande ápice do trabalho é o fato da certeza da construção de um novo mundo de possibilidades pelas famílias envolvidas, na busca do conhecimento sobre plantas medicinais, através de um olhar orientado, coletivo, diferente do olhar cotidiano individual. Dentro dessa perspectiva confirma-se com a experiência, a hipótese inicial de que aquilo que foi realizado trouxe a possibilidade de discutir e transmitir as comunidades que a realidade local não é única, mas múltipla. A realidade do projeto constituiuse em um exercício muito rico para a equipe e as comunidades. Ao longo do processo percebeu-se que a própria perspectiva das atividades que aconteceriam no passo seguinte, foram se modificando, se ampliando, se complexificando e desdobrando-se em novas possibilidades na área de plantas medicinais. Maior resultado dos trabalhos não é a solução dos questionamentos, e nem conclusões fechadas, mas sim uma % Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) mudança de perspectiva com relação a eles, possibilitando aos envolvidos no trabalho a ampliação de seu campo de visão, mostrando que as comunidades e o ser humano possuem uma bagagem riquíssima de conhecimentos, embora ela não esteja explícita. Todos foram convidados a pensar sobre a questão e, assim, aprofundar seus conhecimentos. Horto didático municipal Outro fator a considerar é a importância da interação das famílias na troca de mudas, na identificação, no resgate de plantas que estavam se perdendo, revelando a importância de trabalhar com a percepção e os conhecimentos das comunidades. A utilização das plantas com efeitos terapêuticos passou a ser vista como algo importante, a partir da proposta de mudança na forma, preparação e uso do chá caseiro, através das informações repassadas pelos responsáveis do trabalho. Com isso, a proposta de uma mudança no cotidiano familiar, quando se fizesse necessário, para posteriormente serem relatadas as mudanças acontecidas nas reuniões e/ou em atividades individuais. Como resultados específicos destaca-se: - A mudança na forma de uso e preparo de chás, observando a importância disso na obtenção de maior número de princípios ativos, melhorando o efeito terapêutico das plantas; - A integração das escolas, professores e outros na divulgação e transmissão dos conhecimentos, dentro da sistemática proposta no trabalho. - O entendimento, que os participantes têm hoje, da importância de valorizar as plantas medicinais que fazem parte do ecossistema local, e que pela influência do solo, clima, relevo entre outros, nos oferecem plantas que estão adaptadas à região e com um grande leque terapêutico, sendo desnecessário buscar em outras regiões plantas similares; - A repercussão do trabalho, através da busca & de informações pelas comunidades que ainda não foram envolvidas de forma efetiva nas atividades; - Toda a caminhada nos levou ao registro das plantas mais usadas no município que foram repassadas de geração em geração de forma oral . Conclusões O uso de plantas medicinais no tratamento de doenças é tão antigo quanto a história da humanidade. Este trabalho trouxe à tona muitos conhecimentos populares que estavam esquecidos. E este registro é um dos mais importantes resultados obtidos. Os grupos que participaram deste projeto obtiveram conteúdo para melhor aproveitamento das plantas medicinais e para garantir seu uso seguro. Recuperou, com certeza, conhecimentos que estavam esquecidos, possibilitando melhoria nas condições de saúde da população, pelo uso correto das plantas medicinais, até porque a população tem demonstrado descontentamento com o modelo de assistência médica do município. O trabalho continua se desenvolvendo no município, buscando contemplar outros grupos e comunidades que demonstram interesse em plantas medicinais. Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) Bibliografia 1. Balmé F. Plantas Medicinais. São Paulo, ed. Hemus, 1986:398. 2. Bastos JK. Ecologia Química; Ecologia e Bioquímica. 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' Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) Artigo original Perfil social e epidemiologico de gerontos internados em geriatrias na cidade de Porto Alegre, RS Study of epidemiological and social profiles of older people living in geriatric houses in Porto Alegre City, RS Perfil social y epidémico de gerontos internados en geriatrías en la ciudad de Porto Alegre, RS Maria Elena da Silva Nery*, Arlete Spencer Vanzin** *Livre-Docente da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Professora da FADEP; **Livre-Docente da escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), na área de Enfermagem de Saúde Publica e professora visitante da FADEP - Faculdade de Pato Branco Resumo Este estudo visa conhecer os perfis social e epidemiológico de gerontos residentes em casas geriátricas de pequeno porte, situadas na cidade de Porto Alegre, relacionados com alguns indicadores sociais, lazer e saúde. As informações obtidas foram analisadas numa abordagem quantitativa e algumas inferências qualitativas, e evidenciando que os gerontos pertencem a um grupo de risco, exigindo atenção especial de enfermagem. Palavras chave: Geronto, problemas de saúde, indicadores sociais, perfil social. Abstract In this study we investigate the social and epidemiological profiles of the older people who are living in small geriatrics houses, in the porto Alegre city, and its relationship with some social indicators, leisure and health. The obtained information was analized in a quantitative and some qualitative inference approaching, evidenced that geronts people belongs to a hazard group, that meeds special nursing care. Key-words: Geronto, health problem, social indicators, social profile. Resumen Este estudio tiene como objeto conocer el perfil social y epidémico de gerontos residentes en casas geriátricas de pequeño porte, ubicadas en la ciudad de Porto Alegre, relacionados con algunos indicadores sociales, diversión y salud. Las informaciones conseguidas fueron analisadas a través de un abordaje cuantitativo y algunas conclusiones cualitativas, y ponen en evidencia, que los gerontos pertenecen a un grupo de riesgo, que exigen atención especial de enfermería. Palabras-clave: Geronto, problemas de salud, indicadores sociales, perfil social. Artigo recebido em 15 de agosto, aprovado em 30 de agosto de 2002. Endereço para correspondência: Maria Elena da Silva Nery, Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Rua São Manoel, 963 B - Bom Fim - 90620-110 tel: (51) 3316-5226. ! Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) Introdução A reflexão sobre a pratica de enfermagem reorienta o processo de ensino aprendizagem na assistência aos gerontos, dentro de uma abordagem social que implica num processo participativo, em busca da melhoria da qualidade de vida. Os gerontos constituem um grupo de risco, dentro da ótica de Saúde Pública, pois estão mais sujeitos às doenças e acidentes do que a população em geral. O geronto, dentro de nossa realidade social, configura um problema de saúde pública por tratarse de uma faixa etária de risco, que apresenta enfermidades, tais como: cardiopatias, hipertensão arterial, câncer, diabetes, osteoporose, artrites, mal de Alzheimer, doença de Parkinson, demências. Logo, preenche os quatro critérios de um problema de saúde publica, pela: MAGNITUDE: Os problemas apresentados podem ser medidos epidemiologicamente, através dos indicadores incidência e prevalência; TRANSCENDÊNCIA: A resolutividade dos problemas de saúde referidos, demandam alto custo social para a família e sociedade, especialmente quando ocorrem complicações como acidente vascular encefálico, infarto do miocárdio, insuficiência renal e outros de risco à vida; VULNERABILIDADE: Corresponde ao quanto o geronto pode ser orientado monitorado, desde que aplicados conhecimentos e tecnologia simplificada, aumentando a relação beneficio/custo e a prevenção de complicações; PRIORIDADE INSTITUCIONAL: O geronto pode apresentar problemas de saúde de alto risco à vida, exigindo prioridade institucional. No entanto, ainda é necessário maior sensibilização das instituições de saúde no atendimento ao geronto, especialmente quando seu caso depende de internação. A busca de longevidade máxima por todas as sociedades modernas conduz ao aumento da média de vida do homem, com agravamento dos problemas sociais do idoso e de seus familiares, em nosso país, embora sua sobrevivência seja assegurada em dispositivos constitucionais. Para termos idéia, a média de vida, estimada em 1900, não ultrapassava os 40 anos; em 1970, alcançava os 60 anos; em 1990, atingiu os 70 anos de idade, segundo o IBGE (1990). Outro agravante é que, com o avançar da idade, aparecem os problemas de saúde, especialmente das doenças degenerativas, com comprometimentos físicos e mentais, gerando alto custo social e desgaste familiar. A Sociedade Brasileira de Psiquiatria Clínica informa que 7% da população de 75 a 84 anos de idade e 25% acima de 84 anos, são portadores de mal de Alzheimer ou outra demência grave. Waldow [12] em seu estudo sobre o perfil biológico e psicossocial de idosos refere que: Tanto os idosos asilados quanto não asilados, apresentam problemas próprios do processo físico de envelhecimento, problemas visuais, reumáticos e de funcionamento intestinal. Em relação à área psicosocial, observa-se maior incidência de problemas, tais como solidão e isolamento, em idosos asilados, enquanto que em idosos não asilados a preocupação maior se deu com destino de bens materiais e o futuro dos filhos. Os dois grupos de idosos manifestaram necessidade de maior contato humano. Hillan [6] realizou estudos sobre o geronto demente residente em casas geriátricas e hospitais, por longos períodos de internação, concluindo que nenhuma categoria profissional tem todas as respostas, quando interagindo com idosos dementes, e que cuidados essenciais para seu bem-estar: conforto, higiene, segurança, alimentação e conversa, tem melhor resultado com os familiares, amigos e voluntários no atendimento de suas necessidades básicas, do que com profissionais de saúde. Nas Américas, a tendência é aumentar o número de gerontos com 65 anos ou mais, que já representam em torno de 15% da população geral [10]. No Brasil, o índice de envelhecimento é 74 anos (número de pessoas com 60 anos ou mais por cada 100 jovens menores de 15 anos). Tratá-se de uma população brasileira, que é uma população de jovens que envelhecerá, merecendo especialmente atenção da família, da comunidade e do governo que, em conjunto, devem buscar soluções para os problemas desse grupo de risco. Os meios de comunicação social mostram o despertar a consciência das pessoas da terceira idade que, através de reuniões, movimentos, associados e conselhos, procuram sensibilizar a sociedade para a observação do artigo 230 da Constituição da República Federativa do Brasil [2], que confirma: A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida... O artigo 261, item II da Constituição do Estado do Rio Grande do Sul [3] acrescenta: ... estimular entidades particulares e criar centros de convivência para idosos e casas-lares, evitando o isolamento e a marginalização social do idoso. ! Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) Além destes, outros direitos constitucionais fornecem subsídios para a definição de uma política de atenção aos gerontos. No entanto, é necessário conhecer mais sobre eles em nossa sociedade, especialmente os internados em geriatria, segundo os objetivos formulados, a seguir: Conhecer alguns indicadores sociais e epidemiológicos que contribuam para estabelecer o perfil do geronto residente em casas geriátricas; Identificar as necessidades de lazer e o grau de interesse dos gerontos pelas atividades desta natureza; Identificar os problemas de saúde, a fim de planejar o tratamento e as ações de saúde e educativas. Metodologia O presente estudo foi realizado com 70 gerontos residentes em três casas geriátricas, situadas na cidade de Porto Alegre, sorteadas entre dez de pequeno porte, ou seja, com capacidade de 20 a 25 residentes de ambos os sexos. O instrumento de coleta de dados constitui-se de um formulário com três partes: Parte I dados de identificação e alguns indicadores sociais, tais como: sexo, estado civil, procedência, profissão, realização e previdência. Parte II dados relacionados ao interesse pelo lazer. Parte III identificação dos problemas de saúde. O formulário foi preenchido in loco pelas autoras mediante uma entrevista, com auxilio de uma enfermeira assistente e de familiares, uma vez que os gerontos apresentavam dificuldades de responder todas as perguntas, em virtude de limitações físicas e mentais. A coleta de dados foi realizada em 14 dias úteis, seguida de processamento manual. Resultados O alcance dos objetivos formulados para delinear o perfil social e epidemiológico, é apresentado nos aspectos mais relevantes dos dados coletados e processados na pesquisa. Indicadores sociais Razão homem/mulher: observa-se maior concentração de mulheres, residentes nas casas geriátricas em estudo, à razão de um homem para ! sete mulheres, no grupo etário de 75 a 89 anos de idade. As mulheres do grupo etário de 80 a 89 anos de idade representam 57,38% do total. Elas preferem residir com pessoas do mesmo sexo, contestam a presença de homens e argumentam que gostariam de ficar à vontade, circulando pelas dependências da casa. Nas regiões mais desenvolvidas a razão é de sete homens para dez mulheres, segundo a Organização das Nações Unidas [8]. Aspecto participação: cuidados com sua pessoa e com outros idosos, 46%, atividades domésticas, 24% e os demais participam quando encorajados. As normas das casas estudadas são flexíveis e permitem sua participação nas atividades domésticas. Lazer A maioria dos gerontos prefere televisão, 24%; conversa, 17%; atividades domésticas, 17%; passear, jogar e dançar, 16%; pintar e tomar chimarrão, 8%; jardinagem 8%, e os demais outras atividades. Muitos referiram que gostariam de assistir televisão, mas têm problemas de visão. A maioria permanece no jardim de inverno ou no pátio, expostos ao sol, por algum tempo, no horário da manhã. Após o almoço, a maioria dorme. À tarde têm um lanche e assistem TV, caminham pela casa, área de lazer e até a praça. À noite, a maioria vai para a cama cedo, outros assistem novelas até as 22 horas. Muitos usam sedativos para dormir. Aqueles que têm problemas de redução da visão e/ou audição, procuram isolar-se dos demais, especialmente das atividades grupais. Para Menezez [7]: A recreação surge como um meio de propiciar ao geronto um lazer prazeroso e criativo, que lhe possibilita realizar projetos e desenvolver aptidões para as quais nunca teve tempo ou condições. As atividades recreativas, podem torná-lo novamente útil à si mesmo, à sua família e à comunidade, valorizando-a e, conseqüentemente, aumentado-lhe a auto-estima. Alguns gerontos ao serem admitidos em casas geriátricas, sentem-se rejeitados e espoliados pelos familiares, entrando em autismo depressão, muitas vezes, expressando seus sentimentos: Eu quero morrer ou Não preciso mais viver ou, ainda, ... meus filhos venderam tudo que era meu e me puseram aqui. No entanto, a maioria entra com atitude positiva e integra-se logo aos demais. Aqueles insatisfeitos, gradativamente vão aceitando a idéia de permanecer ali e passam a participar das atividades de lazer e recreação. Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) Estado civil: dos 70 gerontos estudados, 62% são viúvos, 25% solteiros e 2% separados. Esses resultados não estão de acordo com o Censo Demográfico (1990), que mostra um maior percentual de idosos entre os casados, seguidos dos solteiros e os viúvos em terceiro lugar. No entanto, a amostra é pequena para esta comparação. O crescimento da população traz várias conseqüências, sendo uma delas a diferença da taxa de mortalidade entre homens e mulheres, mais acentuada entre os homens, deixando grande número de viúvas, de acordo com Camargo [4]. Procedência: a maioria deles é natural do interior do Estado, 80%. Eles vieram residir na capital para assistir seus filhos nos estudos, e aqui permaneceram. Profissão: atividades no lar, 67%; professor, 16%; funcionário público, 4%; costureira, 4% e outras, 9%. Trata-se de uma geração nascida na primeira década do século passado, situando-se a maioria nos afazeres domésticos, e um número significativo com a profissão de professor. Cribier [5] estudou a relação vida e trabalho, nos aspectos mobilidade social e velhice, apontando as dificuldades surgidas ao passar da carreira profissional para a inativa, situação que gera problemas sociais para o idoso e sua família. Assim, estão sendo desenvolvidos programas de preparo para a aposentadoria em algumas empresas e instituições governamentais. Religião: a maioria dos gerontos são católicos com 70%. A espírita vem em segundo lugar com 13% e a evangélica com 11%. Previdência: são segurados, 80% junto ao Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) e Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul (IPERGS), sujeitos a uma assistência precária à sua saúde. Os 20% restantes são segurados do Bradesco, Golden Cross, Hospitaú e Montepios, que propiciam assistência satisfatória a sua clientela, segundo informações de gerontos e seus familiares. A maioria deles é aposentada e refere que foi ativo na sua comunidade, trabalhou para a construção de sua família e estudos de seus filhos e netos, e não dispunha de tempo para o lazer. Algumas na velhice, moravam só (67%), com os filhos (13%), com irmão (9%), com os netos (3%) e com outras pessoas (8%). A maioria desfez-se de suas casas ou apartamentos e foram encorajados a morar em casas geriátricas, embora com dificuldades financeiras, devido ao valor da pensão ou aposentadoria. Para Camargo [4], a aposentadoria representa uma perda de status social, que cria subitamente um indivíduo socialmente envelhecido. Pois, o status é a posição que o indivíduo ocupa dentro de um modelo social, e a função são os vários aspectos que ele desempenha dentro de seu status. O envelhecimento e a aposentadoria geram novos papéis e mudanças de padrões familiares, de amizades e sociais, exigindo habilidade do idoso, nesse processo de adaptação, especialmente para os que residem em casas geriátricas. Problemas de saúde Verifica-se maior concentração dos problemas de saúde em relação às doenças degenerativas, tais como: cardiovasculares, 31%; reumatismo, 12%; câncer, 2%; atingindo 45% do total. Os problemas cardiovasculares trazem aos gerontos alguma incapacidade física ou mental, requerendo tratamento complexo de alto custo social e assistência de enfermagem especializada. O acidente vascular encefálico (AVE) aumenta com a idade e é mais elevado no homem do que na mulher. Estudos da Organização Mundial de Saúde mostram que o tratamento da hipertensão arterial reduz o AVE [9]. As enfermidades cardiovasculares aparecem como fatores de ricos, que merecem atenção em relação à mudança no estilo de vida, em tais aspectos: tabaco, álcool, alimentação, exercício, estresse e outros, especialmente no grupo etário de 60 a 79 anos de idade. A surdez atinge 9% dos gerontos em estudo e a diminuição da visão também 9%. São problemas que limitam as relações sociais entre os idosos, conduzindo-os aos isolamentos psicológicos e, conseqüentemente, piorando a qualidade de vida. A visão é o sentido mais comprometido no idoso. A presbiopia ocorre com mais freqüência na idade avançada, além do processo de envelhecimento do cristalino. A catarata representa 40% da cegueira em idosos, mas pode ser corrigida com cirurgia. Esta enfermidade não causa cegueira, mas prejudica as atividades recreativas entre outras. Devido à redução da visão, o ambiente deve ser preparado para evitar quedas. A audição reduzida afeta uma necessidade fundamental do idoso no processo de comunicação, dificultando sua convivência com os demais e corre risco elevado em algumas situações como o tráfico automotor. Para corrigir a audição é indicado o uso de aparelhos audiófonos, que visam manter a comunicação social e reduzir o risco de depressão e !! Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) de paranóia causada por esta privação sensorial. A OMS aconselha a detecção da surdez e sua correção, visando melhorar a qualidade de vida. As doenças mentais aparecem, em segundo lugar, como as mais freqüentes, atingindo 24% dos idosos em estudo (as demências mais comuns são a senil, as enfermidades de Parkinson e de Alzheimer, a psicose de Korsakov, conseqüência do uso de álcool, e a psicose paranóica). A maioria das doenças mentais não reflete uma diminuição na capacidade mental, mas comportamentos já existentes ou hábitos e atividades vivenciados em família, considerados normais em épocas passadas. Algumas funções psicológicas podem deteriorar-se com a idade, de processar informações que diminuem a partir do meio da vida adulta. No entanto, estes problemas podem ser atenuados com o auxílio de recursos que melhoram a memória e mediante adaptações psicológicas, com o aumento da concentração mental. A seguir, aparece o reumatismo (6%), configurando um problema de saúde que gera dor e incapacitação física, limitando a participação do idoso nas atividades de grupo e nos exercícios, reduzindo a auto-estima. A promoção da saúde na prevenção de enfermidades é fator importante para retardar a incapacidade na terceira idade. É necessário fomentar a formação de profissionais para atuar na área de geriatria e gerontologia, numa abordagem multiprofissional em busca da longevidade com qualidade de vida, segundo Vanzin e Nery [13]. Muitos dos problemas de saúde justificam o uso de medicamentos, mas a prescrição de muitos medicamentos podem intoxicar o idoso, pois suas funções orgânicas estão reduzidas em 30%, dificultando a eliminação das drogas. Os idosos em estudo, ao serem admitidos, 76% deles recebiam até cinco medicamentos, 16% de seis a dez, e 8% superior a isto. Após supervisão da saúde de cada idoso pelas enfermeiras e médicos geriatrias, além de enfermeiros dessas casas, foi ajustada a terapêutica as suas necessidades. Assim, o número de medicamentos foi reduzido a menos da metade, embora muitos familiares não estivessem de acordo com as modificações nas prescrições. Num aspecto cultural que enfatiza o uso de medicamentos, além dos efeitos colaterais, muitas vezes eles são desnecessários. Os recursos humanos de enfermagem são escassos nas casas estudadas. Logo, a educação continuada e permanente deve ser fomentada e articulada entre essas instituições que prestam cuidados !" aos idosos e universidades, visando humanizar e qualificar a assistência prestada pelos enfermeiros e suas equipes. A promoção da saúde e a prevenção das enfermidades são fatores importantes, que retardam ou reduzem as limitações físicas e psico-sociais, gerando melhor qualidade de vida ao idoso. Conclusões O presente estudo mostra que os fatores que contribuem para a institucionalização do idoso em nossa cultura são: a solidão, dificuldade em conseguir emprego, medo de assalto, incapacidade física e/ou mental para o auto-cuidado, situação financeira e que os filhos ou parentes não possuem espaço físico e condições para cuidar do idoso. Além de outro aspecto da dependência física ou mental, que implica em cuidados especializados diários com fraturas, demências, doença de Parkinson e mal de Alzheimer, que necessitam de suporte emocional e segurança para protegê-lo de acidentes domésticos. A maioria dos gerontos refere que as atividades propiciadas pelas geriatrias atendem suas necessidades de lazer tais como: assistir televisão, participar de grupos de conversa, atividades domésticas, passear, dançar entre outras. Quanto ao perfil epidemiológico, verifica-se que as doenças degenerativas atingem 45% dos idosos (cardiovasculares, reumatismo e câncer). A diminuição da audição e da visão 49% e os demais problemas em 6% dos idosos estudados. Além dos problemas de saúde referidos, 24% dos idosos entrevistados são portadores de doenças mentais, tais como Parkinson, mal de Alzheimer e demência senil. O crescente número de pessoas idosas que esperam contar com a atenção de saúde e pensão por idade não deve ser considerado uma ameaça ou uma crise. É mais uma oportunidade de desenvolver políticas que possam assegurar a todos os membros da sociedade, jovens e velhos, padrões de vida com qualidade e longevidade. Face ao perfil do idoso apresentado, o profissional enfermeiro tem o mapeamento da suas necessidades identificadas para planejar as ações que conduzem ao seu bem estar, em nível familiar e de casas geriátricas. Assim, formulam-se questões no aspecto biológico, social, cultural e saúde, cujas respostas deverão nortear a atenção de enfermagem: Quando inicia o processo de envelhecimento? Como respeitar os valores, crenças e hábitos dentro da sua cultura? Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) Como detectar precocemente os problemas de saúde, visando tratá-los e promover melhor qualidade de vida? Como estimular a participação nas atividades das casas geriátricas? Como comprometer a sociedade na criação de condições para o bemestar do idoso? Como reforçar as prerrogativas do enfermeiro para melhor assistir ao geronto? Como manter a cidadania do geronto em harmonia com dispositivos constitucionais? Como valorizar o geronto como um comunicador da história oral? Como afastar os pensamentos com relação ao idoso em nossa sociedade, especialmente no aspecto profissional? Como estimular os familiares e comunidade para suas responsabilidades em relação aos gerontos? Como aproveitar a Força Trabalho acadêmica na atuação à saúde do idoso? Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. Brasil. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE Rio de Janeiro 1998. Brasil. Constituição da República Federativa do Brasil. Ed. Fisco e contribuinte. S. Paulo, 1988. Brasil. Constituição do Estado do Rio grande do Sul. CORAG, Porto Alegre. 1989. Camargo SF. Gerontologia: uma visão psicossocial da velhice. Hospital Adm. E Saúde. 1992;16(2). Cribier F. Itinerários profissionales y desgaste humano em el trabajo na generación di assalariados parisianos. Paris. In: Le mouvement social. 1993(124). Hillan EM.. Nursing dementing elderly people: ethical issues. Journal of advanced Nursing. Glasgow, 1993. Menezes G. A cerâmica e o desenho como opções de lazer para a terceira idade. Porto Alegre, 1983 (Monografia: para obtenção do titulo de Especialista em lazer e recreação, na UFRGS). Organização das Nações Unidas. Curso de Gerontologia Social. Porto Alegre, 1986. Organização Mundial de Saude. La salud de las personas de edad. Serie de informes técnicos 799. Ginebra, 1989. Organização Panamericana da Saúde/Organização Mundial da Saúde. Envelhecimento. Mistos na berlinda: programa envelhecimento em saúde. Washington. Instituto Nacional de e Envelhecimento, 1999. Sociedade Brasileira de Psiquiatria. Saúde Mental/ Doença Mental: Doença de Alzheimer. DHHS. n. (ADM) 92 1696, São Paulo, 1993. Waldow VRA. 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Almeida**, Marcio Martins da Costa***, Raquel Nunes da Silva*** *Professor Adjunto do Departamento de Enfermagem Materno Infantil (DEMI) da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP) da Universidade do Rio de Janeiro (UNIRIO), Chefe de Divisão do Departamento de Pós-Graduação da Pró-Reitoria de Pós Graduação Pesquisa e Extensão da UNIRIO, Coordenadora do Núcleo de Pesquisa em Estudos sobre a Mulher e a Criança do DEMI, Doutora em Enfermagem, **Professor Adjunto do DEMI da EEAP da UNIRIO, Mestre em Enfermagem, ***Acadêmicos de Enfermagem da EEAP, Bolsistas de Iniciação Científica UNIRIO Resumo Estudo descritivo que se baseia em reportagens publicadas em um jornal de grande circulação nacional, que foram originadas de uma carta envida por enfermeiras à sua redação, cujo teor referia-se às mensagens veiculadas na novela Por Amor, com relação ao aleitamento materno cruzado, que nela era enfocado como uma prática normal, desconsiderando a possibilidade da veiculação do vírus HIV, através do leite humano. Tendo como principal objetivo apresentar as citadas reportagens, os autores analisam os referidos textos à luz de referenciais da comunicação como Morley e Matterlat [7], e demonstram que, apesar de todas os documentos oficiais vigentes, elaborados no sentido de impedir tal prática, o marketing televisivo é tão forte, que não só, tornou infrutífera a intenção das enfermeiras em alertar o autor da novela para que a prática do aleitamento materno cruzado não fosse tratada de forma comum, como também, decorridos 4 anos, possibilitou a reprise da mesma novela. Conclui-se que, se as informações veiculadas anteriormente não tiverem sido alteradas na referida novela, será hora de, mais uma vez, nos expor nessa luta desigual, onde, de um lado estão as orientações de enfermagem, impedindo e/ou direcionando criteriosamente o aleitamento materno cruzado, e no outro lado, um melodrama embalado por sons e imagens que, sendo bem dirigido, confunde a tênue fronteira entre o real e a ficção, interferindo negativamente nessas orientações. Palavras-chave: enfermagem, aleitamento cruzado, marketing. Artigo recebido em 15 de agosto de 2002; aprovado em 30 de agosto de 2002. Endereço para correspondência: Maria Aparecida de Luca Nascimento, Av.Marechal Rondon 300, bloco 2, apto.310 - São Francisco Xavier - 20950-000 - Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 2574-9149, E-mail: [email protected]. !$ Enfermagem Brasil Novembro/Dezembro 2002;1(1) Abstract This descriptive study is based on reports publicized 4 years ago, whose origin arose from a letter forwarded by a group of nurses to this newspaper. This letter referred to the context being divulged by the soup opera entitled By Love, wherein the crossing breastfeeeding had been shown as a normal procedure, without regarding the human milk as mean HIV infecction. Substantiated on the comunication theorethical framework described by Morley and Mattelart [7], the authors demonstrated that in spite of official documents having cancelled out forgoing , the television marketing was so resourceful reporting that on a period of 4 years ago, the nursess letter didnt avoid the crossing breastfeeding to shown on television, as well as it allowed the replay of the same soup opera nowadays. The authors realized that if the previous information hadnt been altered, it would be necessary exposing ourselves one more time, by evidencing how inequal this struggle is where, one hand, the nursing couseling, avoiding or showing the best wat of performing the crossing breasfeeding, whenever it has to be. On the other hand, the television marketing through the soup opera has been manipulating peoples mind, concerning the real and the unreal, by meddling in a wrong way to this sort of counseling. Key-words: nursing, crossing breastfeeding, marketing. Resumen Estúdio descriptivo que tiene como base reportajes publicadas em um periódico de amplia circulación nacional que tiveron origen em una carta enviada por enfermeras a la redacción y que hacia referencia a las mensajes vehiculadas en la novela Por Amor con relación a la lactancia materna cruzada, que se mostraba como algo normal, sin considerar la posibilidad de contaminación con el virus HIV atravez de la leche humana. Con el objetivo de presentar las citadas reportajes, los autores analisaron los textos a la luz de referencias de la comunicación como Morley e Matterlat y demonstraron que apesar de todos los documentos oficiales vigentes elaborados para impedir esa práctica, el marketing televisivo es tan forte, que no solamente tornó infructífera la intención de las enfermeras en alertar el autor de la novela sobre esa práctica equivocada, como también, después de 4 anõs fué posibilitado el que esa novela fuera presentada de nuevo. Se concluye que si las informaciones vehiculadas anteriormente no fueron alteradas en la referida novela, será hora, de mas una vez exponermos en esa lucha desigual, donde, de un lado están las orientaciones de enfermería, impediendo y/o direccionando criteriosamente la lactancia materna cruzada y en el otro lado, un melodrama de sonidos e imágenes que, estando bien dirigidos confunde la tenue frontera entre la realidad y la ficción, interfiriendo negativamente en esas orientaciones. Palabras-claves: Enfermería, lactancia materna, marketing. Introdução Este estudo surgiu motivado pelo interesse de enfocar um tema que há quatro anos atrás originou o trabalho intitulado Por Amor...mas sem cuidado, de autoria de professoras do Departamento de Enfer magem Materno Infantil da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade do Rio de Janeiro [6]. No citado estudo, as autoras desenvolveram uma pesquisa de campo com a intenção de demonstrar que a população que servira de base para o estudo, ainda não trazia interiorizado o perigo da transmissão do HIV através do leite humano. Essa preocupação era pautada na veiculação de cenas da novela Por Amor, que preconizava o aleitamento materno cruzado, apesar da proibição de tal prática através de documentos expedidos por órgãos governamentais, e acima de tudo, pela crença de que a imagem televisiva era uma forte concorrente com as orientações de enfermagem. Desse modo, a mencionada pesquisa abordou 256 pessoas, das quais, somente 6 incluíram o leite materno como um dos meios através dos quais poderia haver a contaminação com o HIV. Considerando que a população supramencionada, em sua grande maioria (79%), era composta por pessoas que possuíam o 2º e o 3º graus, fato que leva as pessoas a terem maior facilidade de se comunicar e influenciar quando opinam, observou-se que as mensagens enviadas através da televisão estavam sendo plantadas em solo fértil, uma vez que o índice de sua audiência era muito alto, ademais quando o drama passou a ser desenvolvido, tendo como base o aleitamento materno, fator que gera um grande apelo social. !% Enfermagem Brasil Novembro/Dezembro 2002;1(1) Sendo assim, o drama televisivo não só envolvia uma criança sendo amamentada por duas mulheres, como também, sugeria que ela passasse a ser amamentada por uma ama de leite, figura que foi proscrita da sociedade com o advento da AIDS. Desse modo, passamos a narrar através das reportagens da época supramencionada, todo o esforço desempenhado em vão por um grupo de enfermeiras, fato que, tendo em vista a reprise da citada novela no dias atuais (no programa denominado vale a pena ver de novo), nos mobilizou a escrever o presente estudo, acreditando que maiores providências devam ser tomadas, considerando os índices, cada vez maiores, de contaminações com o HIV. Objetivos Apresentar as reportagens veiculadas em um jornal de grande circulação nacional, relacionadas à carta enviada por enfermeiras ao autor da novela Por Amor, tendo em vista a possibilidade de contaminação com o HIV através do leite humano. Demonstrar a força do marketing televisivo, à luz de referenciais teóricos da comunicação. A iniciativa se dá... Tudo começou no ano de 1998, quando a novela em referência foi ao ar pela primeira vez, e uma das autoras deste estudo teve a iniciativa de enviar uma carta, sob registro, ao autor da novela, que tinha como propósito, além de nos colocar à disposição, como profissionais de saúde, também sugerir que o lapso fosse reparado, tendo em Figura 1 vista que o importante seria remediar a situação, evitando, com isto, que a idéia do aleitamento materno cruzado continuasse a ser disseminada. Eis a carta: Rio de Janeiro, 2 de janeiro de 1998 Prezado Sr. Manoel Carlos Nós, docentes do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, da Universidade do Rio de Janeiro (UNI-RIO), alertamos para o fato da novela, !& de sua autoria, estar transmitindo situações altamente comprometedoras à saúde pública, quando veicula, com a maior naturalidade, a possibilidade do aleitamento materno cruzado. Esta preocupação se prende ao fato de considerarmos a grande responsabilidade que têm os canais de comunicação com a formação de opinião, ademais, se considerarmos a penetração da TV Globo em seu horário nobre. Mais especificamente, gostaríamos de acentuar que a problemática, se passando em uma família de excelente nível sócio econômico, o que por si só já induz à credibilidade da população, deixa antever, a princípio, a possibilidade da própria mãe amamentar o seu filho, embora se passe por sua avó. Até aí, a simples suposição do aleitamento cruzado, adotado como medida normal, já estaria representando um grande risco na comunicação. Porém, nos capítulos que foram ao ar a partir do dia 19 de dezembro, o texto passou a viabilizar a contratação de uma ama-de-leite. Sem considerarmos que na referida novela a enfermeira, mais uma vez, foi tratada de forma tendenciosa, ao ser confundida com a babá, em que pese o valor deste profissional, gostaríamos de enfatizar que o fato de sermos enfermeiras e, além disto, docentes de uma Universidade cujo Hospital Escola é centro de referência para o tratamento da Aids, nos induz a dizer, em nome do nosso compromisso, social e profissional, que o aleitamento materno cruzado há muito foi proibido, salvo quando é utilizado aquele oriundo de banco de leite humano, que passa por um tratamento especial, porquanto possibilita a contaminação com o vírus da Aids, conforme documentos do Ministério da Saúde abaixo mencionados: Normas básicas para o alojamento conjunto/ 1993/Ministério da Saúde pág. 13 inciso VII Normas Gerais item 7 letra f Atribuições da Equipe de Saúde Proibir que as mães amamentem outros recém nascidos que não os seus (amamentação cruzada) [3]; Enfermagem Brasil Novembro/Dezembro 2002;1(1) Manual da assistência ao recém nascido Ministério da Saúde/1994 Pág. 22 A transmissão com o HIV pode ocorrer na vida intrauterina, durante o parto e pós-natalmente através do aleitamento materno ou por outros veículos. Aceita-se que o risco de transmissão da mãe para a criança ocorra entre 20 a 30% das gestantes afetadas. A transmissão pelo HIV através do aleitamento materno foi referido em 1985. [2]; Boletim epidemiológico/AIDS Ano IX nº 5- dez a fev de 96/97 De 1980 a 1997 foram notificados 2500 casos de contaminação por vias transplacentária, transparto e amamentação [4]. Portaria da Secretaria Nacional de Assistência à Saúde nº 97 DE 28/8/95 Publicado no D.O.U.166 de 29/8/95 Seção 1 Pág.13265-6item C -Tendo em vista a complexidade dos aspectos médicos, psicológicos, éticos, sociais e jurídicos de que se reveste a síndrome da imunodeficiência adquirida [5], recomenda-se que: O aleitamento materno cruzado não deve ser realizado, incluindo aquele comumente praticado nos sistemas de alojamento conjunto e pelas tradicionais amas de leite. Ainda a mesma portaria, em seu item 3 diz que: Os bancos de leite humano somente utilizarão leite ou colostro, após adequada pasteurização com aquecimento a 62,5ºC por 30 minutos. Esta prática constitui à luz dos conhecimentos atuais, tratamento técnico capaz de inativar 100% de todas as partículas de HIV, passíveis de serem encontradas no leite humano. Portaria do Ministério da Saúde Nº322 DE 26/5/88 Parágrafo Único: A pasteurização é uma prática obrigatória em todos os bancos de leite humano. Por oportuno, além de sugerirmos que haja uma assessoria abalizada com relação às profissões, toda vez que um exercício profissional for enfocado por esta emissora, sugerimos também que, de alguma forma, este lapso seja corrigido ainda com a novela no ar, possibilitando que as orientações, que são dadas durante as consultas de enfermagem, e que são fundamentadas científica e oficialmente, não caiam em descrédito, porque, fatalmente, a Rede Globo tem muito mais crédito, como formadora de opinião que é, do que um profissional, que possa ser, embora muito erradamente, confundido com uma babá. Para qualquer esclarecimento, colocamo-nos à disposição. Figura 2 !' Enfermagem Brasil Novembro/Dezembro 2002;1(1) figura 3 Profª Drª Maria Aparecida de Luca Nascimento e demais Professoras do Departamento de Enfer magem Materno-Infantil da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade do Rio de Janeiro. Os meios de comunicação confundem... Após uma semana do envio da carta, não houve, por parte do autor da novela, qualquer comunicação. Deste modo, enviamos a mesma carta ao Jornal do Brasil que a publicou em 11 de janeiro de 1998, na revista Super TV, um encarte dentro do JB de domingo (fig.1). Dois dias após esta publicação, o mesmo jornal publica em ¼ de página, uma matéria sob o título jocoso Querem entornar o leito do Marcelinho, onde o autor da matéria ouve dois médicos e o autor da novela, e também menciona a carta que havíamos " enviado, sem explicitar que a referida matéria havia sido originada dela, pois até então nada havia sido publicado a respeito, e a amamentação cruzada era mostrada todas as noites, sem que houvesse qualquer tipo de interferência. Nesta matéria, a comunicação foi truncada, a partir da publicação do discurso, tanto de um dos médicos abordados, quando ele disse que o que pode acontecer, através da amamentação cruzada, é apenas a contaminação com o vírus da Aids, quanto do próprio autor da novela, dizendo que ela tratava de exceções, depois, dele mesmo, na mesma reportagem, reconhecer que as pessoas se mobilizam mais com os fatos apresentados na novela do que com aqueles da vida real, que são transmitidos no telejornal. Considerando que essas situações são interpretativas, apresentamos a citada matéria (fig.2), através do recorte de jornal, tornado documento de domínio público, tendo em vista a isenção de Enfermagem Brasil Novembro/Dezembro 2002;1(1) tendenciosidade, de que deve ser revestido o presente estudo. Ainda na mesma semana, dia 17/ 1, uma crônica é publicada, ainda no mesmo jornal, sob o título Por falar em aleitamento materno (fig.3), onde o cronista dizia que achava confusa toda aquela polêmica, sugerindo que a decisão sobre a amamentação cruzada ser realizada ou não, deveria ser levada ao Você decide, e que o mais lúcido da história toda era mesmo o autor da novela. Os canais de comunicação se fecham... Diante do exposto, enviamos não só uma carta ao JB respondendo à matéria publicada em 13/1, intitulada Querem entornar o leite de Marcelinho, como também um e-mail (fig.4) para o cronista do mesmo jornal. As duas tentativas de comunicação foram ignoradas, não sendo publicadas ou respondidas. Depois de uma semana, e três publicações em um jornal de grande tiragem nacional, a única forma de apoio que tivemos, foi uma carta enviada ao Editor do JB, pelo médico Carlos Alberto Moraes de Sá, Coordenador do núcleo de pesquisa em AIDS, da Universidade do Rio de Janeiro (fig.5), que também não foi publicada ou respondida. E a mensagem fica no ar... Após a publicação das matérias em referência, algumas pessoas do nosso relacionamento, vieram nos questionar, após a leitura delas, dizendo que ignoravam o fato de que o leite humano poderia transmitir o vírus da AIDS, o que nos mostrou que a nossa figura 4 preocupação não era infundada. Concomitantemente, na novela que ainda ia ao ar, na época em horário nobre, o personagem que era amamentado de forma cruzada até então, foi repentinamente desmamado, e a novela terminou sem que nenhuma retratação fosse feita a respeito, deixando no ar a desinformação. Considerando que, segundo a avaliação do IBOPE do mês de abril de 98, a novela em foco, conseguia 40 pontos de audiência, fato que, por projeção do mesmo órgão, quer dizer o alcance de 60 milhões de pessoas, em média, podemos observar que o marketing televisivo é um risco, no que se refere à informação de que trata o presente estudo, pois segundo o próprio jornal, (edição de 20 de junho de 1998) que truncou as informações e deu títulos jocosos " Enfermagem Brasil Novembro/Dezembro 2002;1(1) às reportagens, os casos de AIDS à época, dobraram em 3 meses (edição de 29 de junho de 1998 fig.6). no contexto natural de recepção da televisão, que é o universo doméstico. Por outro lado, Mattelart corrobora e amplia tal pensamento, explicitando em seus estudos, especificamente a comunicação através das novelas televisivas. Segundo ele, a novela constrói seu modo de abordagem, com base nas expectativas das espectadoras, respondendo às responsabilidades, tensões e rotinas cotidianas, ligadas ao contexto das suas vidas familiares, às c o m p e t ê n c i a s tradicionalmente associadas a seu estatuto no casal e no lar. Conclusão Figura 5 Referencial teórico Considerando que a temática abordada relacionase ao marketing televisivo, encontramos em Morley e em Mattelart [7], o respaldo teórico para o presente estudo. Em Morley, quando em seus estudos, diz que as interações familiares dão-se em torno da telinha, " Tendo em vista o teor das reportagens apresentadas, assim como o fato da novela que serviu de base para o presente estudo estar sendo reprisada, e, portanto, sendo levada ao lar de muitos expectadores nos dias de hoje, podemos observar que toda a preocupação em tentar impedir que tal comunicação se fizesse de modo comprometedor foi em vão. Porém, apesar de ter sido em vão, no que diz respeito a providências, o fato de ter gerado três publicações num jornal de grande tiragem nacional, num espaço de uma semana, demonstra que, pelo menos, esse esforço não foi ignorado. Resta-nos agora, mais uma vez, através deste estudo, tentar propagar a importância das orientações com relação à proibição do aleitamento materno cruzado, conforme preconizado oficialmente. Por oportuno, vale ressaltar que até mesmo as propagandas Enfermagem Brasil Novembro/Dezembro 2002;1(1) Figura 6 a respeito da doação de leite humano, tão comuns na televisão, não enfatizam que esse produto ao ser doado, passará por um tratamento antes de ser utilizado, perdendo-se com isso, uma grande oportunidade para orientar a sociedade. Sendo assim, concluímos que se as informações veiculadas anteriormente não tiverem sido alteradas na referida novela, será hora de, mais uma vez, nos expor nessa luta desigual, onde, de um lado estão as orientações de enfer magem, impedindo e/ou direcionando criteriosamente o aleitamento materno cruzado, e no outro lado, um melodrama embalado por sons e imagens, que sendo bem dirigidos, confundem a tênue fronteira entre o real e a ficção, interferindo negativamente nessas orientações. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Brasil. Ministério da Saúde. Aleitamento x mulheres infectadas pelo HIV: recomendações. Brasília, DF, 1995. Brasil. Manual de Assistência ao recém- nascido. Brasília, DF, 1994. Brasil. Normas Básicas para o alojamento conjunto. Brasília, DF, 1993. Boletim Epidemiológico/Aids. Brasília, DF, 1994. Diário oficial da união de 28/08/ 95. Portaria da Secretaria Nacional da Assistência à Saúde n. 97, Brasília, DF, 1995 Nascimento MA de L, Almeida MFP, Honório RB, Cardoso TCSF. Por Amor...mas sem cuidado (Reflexões sobre o descompromisso com o aleitamento materno cruzado) In: 50º Congresso Brasileiro de Enfermagem, 1998, Salvador. Resumos. Bahia. Associação Brasileira de Enfermagem ABEn; p.16 Mattelart A, Mattelart M Histórias das teorias da comunicação, São Paulo: Loyola, 2001. "! Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) Artigo original Marcos da trajetória da profissionalização da enfermagem brasileira (1890-1905) Landmarks on the Brazilian nursing professionalization Hitos temporales de la trayectoria de la profesionalidad de la enfermería brasileña Almerinda Moreira*, Fernando Porto**, Taka Oguisso*** Mestre em Enfermagem, Professora da EEAP da UNIRIO do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica, membro do LAPHE e Doutoranda em Enfermagem da USP, **Mestre em Enfermagem, Professor da EEAP da UNIRIO do Depto de Enfermagem Materno-Infantil e membro do LAPHE, ***Prof. Titular do Departamento de Orientação Profissional, da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. Membro do LAPHE * Resumo Este trabalho é uma análise histórica que tem como objetivo apresentar alguns marcos temporais da trajetória da profissionalização da enfermagem brasileira (1890-1905) no contexto sócio-político. O estudo tem como cenário o Hospício Nacional de Alienados, estando a ele anexada a Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras, e percorre os marcos no eixo central da trajetória, através das presidências republicanas no país como acontecimentos que se cruzam com o início da profissionalização da enfermagem. É baseado em documentos do acervo do Laboratório de Pesquisa de História de Enfermagem (LAPHE) da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP), da Biblioteca Nacional, do Arquivo Nacional e em literatura pertinente ao objetivo. Como resultado apresenta alguns marcos temporais que identificam diversos acontecimentos, entre eles o fato de que a cada vez que a Direção do HNA era mudada, inaugurações da EPEE aconteciam. Outro evento ocorrido em 1905, tendo Antonio Fernandes Figueira, como diretor da EPEE, e ao mesmo tempo, responsável pelo Pavilhão Bourneville, destinado ao tratamento de crianças com problemas mentais, mostra que nem todas as coisas ocorrem ao sabor do acaso. Palavras-chave: História da enfermagem, profissionalização da enfermagem. Abstract Landmarks of the trajectory in the Brazilian Nursing Professionalization - Historical analysis with objective to present some lanmarks on the Brazilian nursing professionalization (1890-1905) in the socio-political context. The study has as its scenario the National Insane Hospital (NIH), to which there was the Professional School for Nurses (PSN) and goes through several landmarks as a central axis of the trajectory that includes republican presidencies within the country as parallel occurrences crossing out with the nursing professionalization. It is based on documents belonged to the Laboratory of Nursing History Research of the School of Nursing Alfredo Pinto, to the National Library, the National Archive and relevant literature to the objective of the study. As an outcome, some landmarks are presented which identify several events, among them the fact that each time direction of the NIH was changed, the PSN was reopened. Another event happened in 1905, when Antonio Fernandes Figueira, as Director of the PSN, became also responsible for the Bourneville Pavilion, for treatment of children with mental disorders, showed that not everything happens by chance. Key-words: Nursing history, nursing professionalization. Artigo recebido em 15 de agosto, aprovado em 30 de agosto de 2002. Endereço para correspondência: Almerinda Moreira, Rua Marangá, 769, bloco B/308, Praça Seca, 21321060 Rio de Janeiro RJ, Tel: 3350 6622, E-mail: [email protected]. "" Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) Resumen Análisis histórico que tiene como objetivo presentar algunos hitos temporales de la trayectoria de la profesionalidad de la Enfermería Brasileña (1890-1905) en el contexto sociopolítico. El estudio tiene como escenario el Hospicio Nacional de Alienado (HNA), estando a éste anexada la Escuela Profesional de Enfermeros y Enfermeras, y recorre los hitos en el eje central de la trayectoria a traves de las presidencias republicanas en el país como hechos que se encuentran con el comienzo de la profesionalidad de la enfermería. Se basa en documentos del acervo del Laboratorio de Pesquisa de História de Enfermagem (LAPHE) de la Escuela de Enfermería Alfredo Pinto (EEAP), Biblioteca Nacional, del Archivo nacional y en la literatura pertinente al objetivo del estudio. Como resultado presenta algunos hitos temporales que identifican diversos hechos, entre ellos el hecho de que cada vez que cambiaba la dirección del HNA, inauguraciones de la EPEE ocurrían. Otro suceso ocurrido en 1905, cuando Antônio Fernández Figueira estaba como director de la EPEE, y a la vez, era responsable por el Pabellón Bourneville, destinado al tratamiento de niños que tienen problemas mentales, nos muestra que no todo ocurre alsabor del acaso. Palabras-clave: Historia de la enfermería, profesionalidad de la enfermería. Introdução O presente estudo está inserido no grupo de pesquisa denominado Laboratório de Pesquisa em Historia da Enfermagem (LAPHE), na linha da Profissionalização da Enfermagem Brasileira, da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP), da Universidade do Rio de Janeiro (UNIRIO), e tem como objetivo apresentar alguns dos marcos temporais da trajetória da Profissionalização da Enfermagem Brasileira (1890-1905) no contexto sócio-político. A construção do estudo se justifica, não apenas por oferecer subsídios para pesquisa sobre o início da profissionalização da enfermagem no Brasil através da trajetória da EEAP, antiga Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras (EPEE) anexada ao Hospício Nacional de Alienado (HNA), mas também como contribuição para a elucidação de acontecimentos, ainda pouco explorados e discutidos, sobre a história da Enfermagem no Brasil. Certamente, a grande dificuldade em encontrar registros da época que remetem o interessado para o final do século XIX e inicio do século XX, seja a razão da escassa literatura existente. Portanto, este é um estudo histórico sócio-político baseado na pesquisa documental do acervo do LAPHE da EEAP, da Biblioteca Nacional, do Arquivo Nacional, todos localizados no Rio de Janeiro, além da bibliografia mais recente de historiadores e estudiosos da matéria. O estudo descreve vários eventos sócio-políticos que marcaram o início da profissionalização da enfermagem no Brasil, que teve como cenário o Hospício Nacional de Alienados, localizado, à época, na Praia da Saudade, hoje conhecido como bairro da Urca, na Praia Vermelha, na cidade do Rio de Janeiro, onde a Enfermagem nasceu na Escola anexa a essa instituição, com o nome de Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras. Os marcos temporais sócio-políticos foram o eixo central na trajetória através das presidências republicanas (1890-1905) no país, como acontecimentos que se cruzaram com o início da profissionalização da enfermagem, apontando que o contexto, à época, não ocorreu ao acaso. Início da profissionalização da enfermagem na Velha República Os primórdios da profissionalização da enfermagem brasileira coincidem com a construção da República em 1889, quando Marechal Deodoro da Fonseca assumiu o Governo provisório da Republica, marcando o final da monarquia no Brasil. Nessa época o Presidente da República cria os ministérios e nomeia seus respectivos ministros. Foram eles: Ministro da Justiça - Campos Sales; Ministro da Interior - Aristides Lobo, substituído por Cesário Alvim; Ministro da Fazenda - Rui Barbosa; Ministro da Guerra Tenente-Coronel Benjamin Constant Botelho de Magalhães, substituído pelo Marechal Floriano Peixoto; Ministro da Marinha - Chefe da Esquadra Eduardo Wandenkolk; Ministro das Relações Exteriores Quintino Bocaiúva; e, para Ministro da Agricultura, Comércio e Obras Públicas - Demetrio Ribeiro, substituído por Francisco Glicério [1] As substituições dos nomes de ministros, acima citados, indicam a instabilidade relacionada com a própria construção do Estado Republicano, pois "# Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) havia oposições de grupos ligados à monarquia e conflitos nos segmentos que apoiavam e conduziam a proclamação e consolidação da República [1] Em meio aos conflitos e à necessidade de construção do Estado Republicano, vários marcos temporais ocorreram nos diversos segmentos da sociedade. Dentre eles podem ser destacados: a desanexação do Hospital da Santa Casa de Misericórdia do Hospício de Pedro II, que passa a denominar-se Hospício Nacional de Alienados (HNA) [2]. Com a desanexação, ocorreu uma crise gigantesca de pessoal para cuidar dos alienados, pois as Irmãs de Caridade, que até então cuidavam dos doentes, abandonaram o serviço no HNA. Para resolver a situação da crise foi solicitada a contratação de enfermeiras francesas, não ligadas a congregações religiosas, na tentativa de solucionar a lacuna deixada pelas Irmãs de Caridade [3]. Em pesquisa no noticiário publicado em 1890, sobre o fato, foi encontrado no Jornal do Comercio, na secção Gazetilha, o conteúdo noticioso sobre a contratação dessas enfermeiras, que abaixo é transcrito na íntegra: Assistência médico-legal - pelo Ministro do Interior, remeterão-se ao director dos alienados os contratados celebrados pelo Cônsul geral do Brazil em Pariz, com cinco enfermeiras para o serviço da secção de mulheres no Hospício Nacional de Alienados, bem assim cópia do oficio que o mesmo Cônsul dirigido à respectiva legação e que por esta foi transmitida ao Ministério do Interior. (...) [4]. Ainda com o fito de suprir a necessidade de cuidar dos alienados, Marechal Deodoro da Fonseca, através do Decreto 791/1890, cria a Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras, na verdade a primeira escola de enfermagem no Brasil, para preparar pessoas qualificadas para cuidar de doentes. Na época, era Diretor do HNA, o Médico João Carlos Teixeira Brandão [3]. Desta for ma, teve início o processo de profissionalização da enfermagem brasileira, na escola supramencionada. Segundo entende Collière [13] profissão é aquela composta por um grupo de pessoas que obtiveram um título e um estatuto, através de uma formação com vistas a exercer uma determinada atividade. Tais critérios podem ser identificados no Decreto 791/1890 que, em seu conteúdo descreve com detalhes, como deveria ser desenvolvido o curso e o título que deveria ser conferido ao seu concluinte. Entre a data de criação da escola, em 1890 e "$ 1892, vários fatos políticos e sociais ocorreram, dentre eles o fim do período provisório do governo de Marechal Deodoro da Fonseca, que passou a ser Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil. Mas teve que renunciar pouco tempo depois por motivos de doença, assumindo o seu VicePresidente, Marechal Floriano Peixoto, que governou até 1894 [2]. Ainda em 1892, através do Decreto 896/1892, foram consolidadas as disposições em vigor relativas aos diferentes Serviços da Assistência Médico-Legal de Alienados e, mais especificamente, o artigo 25 que ratificava teoricamente a operacionalização da Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras, com redação próxima à do Decreto de sua criação [3]. Em um relatório, apresentado ao VicePresidente da Republica dos Estados Unidos do Brasil, por Dr. Fernando Lobo Leite Pereira, Ministro de Estado de Negócios do Interior, datado de abril de 1892, foi encontrado o registro, abaixo transcrito, sobre a presença das enfermeiras vindas da França no anexo D desse Relatório, intitulado Relatório da Assistência Médico-Legal de Alienados, Relatório da Secção de Mulheres do HNA (pg. 21): As enfermeiras francesas e suas auxiliares prestam-se da melhor vontade e com todo o carinho ao serviço dos enfermos, tanto que tenho a maior satisfação em comunicar-vos que depois que o serviço está organizado convenientemente ainda não tive occasião de reprehende-las. [5] Em 1893, o contrato que envolvia a permanência das enfermeiras francesas expira. Porém, somente em 1895, através de um documento encaminhado ao governo brasileiro pela França, é solicitada a regularização delas, cujo compromisso com a Assistência Médico-Legal de Alienados, já havia expirado [14]. Assim, cumpre destacar que não há condições para afirmar precisamente qual a data da chegada dessas enfermeiras, bem como o período que elas deveriam ter permanecido, apesar da busca meticulosa desenvolvida até o momento. O ano de 1894 é marcado pela posse do Presidente Prudente de Moraes e consolida-se a República e seus Presidentes, caracterizado pelo recuo dos jacobinos1 e o domínio dos civis, pela hegemonia da oligarquia cafeeira e pela política dos grandes estados, tendo seu mandato na presidência perdurado até 1898 [1]. Durante esse período, o HNA sob a direção do médico Márcio Nery, que substituiu Teixeira Brandão, Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) re-inaugurou a Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras. Nessa ocasião, foi enfatizada a importância da Escola para a população e para a classe médica, salientando ainda que as aulas de anatomia descritiva, fisiologia e noções de propedêutica já haviam iniciado [3]. Em 1898, Manuel Ferraz de Campos Sales assumiu a Presidência da República até 1902. Seu período foi dedicado à economia e à crise da cafeicultura, de maneira favorável às oligarquias rurais e contrárias à industrialização [1]. Cabe destacar que nesse período ocorreu a reorganização da Assistência a Alienados, com base no Decreto 3.244/1899 [2]. Portanto, de 1890 a 1902, conforme Moreira [3] relata, os primeiros anos da Escola criada no governo do Marechal Deodoro da Fonseca, foram realmente difíceis no sentido da concretização dos propósitos de sua criação. Certamente esse fenômeno foi conseqüência de problemas de ordem econômica e política decorrente, à época, da transição que o país atravessava. Engel [6] relata que, no começo de 1902, ocorreram acusações de desvio de verbas que recaíram sobre o almoxarife do HNA, Oscar Adolpho da Costa, sendo o estopim para uma série de denúncias sobre a precariedade das condições de funcionamento da instituição. A imprensa publicou no final de janeiro de 1902, denúncia sobre o convívio indiscriminado de crianças e adultos. Como resposta às acusações, o Diretor do HNA, Pedro Dias Carneiro, argumentou que dentro do espaço institucional não havia um pavilhão separado, especificamente, para as crianças. Nesse mesmo ano ocorreu a substituição do Dr. Pedro Dias Carneiro pelo Dr. Antônio Dias Barros e, em dezembro, o Ministro da Justiça, Dr. J.J. Seabra, nomeou uma comissão para proceder o inquérito sobre as condições da assistência aos alienados na instituição [6]. Em 27 de dezembro de 1902, o Ministro da Justiça, Dr. J.J. Seabra, encaminhou àquela comissão um relatório sobre as péssimas condições em que o HNA se encontrava, destacando que 21 crianças, do sexo masculino, encontravam-se nas piores condições, quase que completamente abandonadas. O Ministro recomendava medidas que viabilizassem a execução de obras de benfeitoria para melhor acomodar aquelas crianças, bem como ordenava ao Diretor da instituição, Dr. Antônio Dias Barros, que fossem fornecidas roupas aos alienados enfermos [6]. Ao final do mandato da Presidência de Manuel Ferraz de Campos Sales, este escolheu como sucessor Francisco de Paula Rodrigues Alves, que permaneceu no cargo de 1902 a 1906. Nesse quadriênio 1 investimentos foram feitos para o melhoramento das áreas urbanas, na construção de portos, do Teatro Municipal, da Biblioteca Nacional, do Instituto de Manguinhos, e outras, como a remodelação e saneamento da cidade do Rio de Janeiro, então capital da República, e implementou a luta contra as epidemias comandadas por Osvaldo Cruz [1]. No início de 1902, na Presidência de Rodrigues Alves alguns fatos marcantes ocorreram para EPEE. O médico, Alberto das Chagas Leite, do Hospital Nacional de Alienados, relatou ser urgente a necessidade da execução do regulamento, no que se referia à escola de enfermagem, num período em que a instituição hospitalar se encontrava sob inquérito, devido as más condições de tratamento aos alienados [3]. Em fevereiro de 1903, após o inquérito que o HNA havia sofrido, Engel [6] refere que uma das dependências já estava sendo adaptada para acolher as crianças do sexo masculino. Sobre o relato do médico, Alberto das Chagas Leite, acerca da necessidade de uma escola de enfermagem no HNA, foi encontrada uma notícia, na Revista Brazil-Médico, datada de 02 de abril de 1903, sobre a sua exoneração do cargo de médico, bem como a do Diretor do HNA, o médico Antônio Dias de Barros, assumindo a direção da instituição os médicos Juliano Moreira e Júlio Afrânio Peixoto [7]. Na mesma página da revista em apreço, juntamente com as nomeações, as figuras dos dois médicos são enaltecidas, como os novos diretores do HNA, apresentando-os à sociedade, de forma intelectualizada [8]. No mandato presidencial de Francisco de Paula Rodrigues Alves, o médico Afrânio Peixoto, Diretor Interino do Hospício Nacional de Alienados (19041905), apresentou um relatório ao Sr. J.J. Seabra, Ministro da Justiça e dos Negócios Interiores [15]. Nesse relatório era mencionado que a EPEE, porém, com o nome de Escola Profissional de Enfermeiros, (com omissão da palavra Enfermeiras, como constava na redação do seu Decreto de origem) estavam abertas as inscrições de candidatos para a referida escola e que deveriam ser feitas na secretaria da mesma, localizada no HNA, com data para inauguração e começo das aulas em 16 de fevereiro de 1905, com previsão para a duração do curso, de dois anos, para receber o diploma de Enfermeiro pela Escola do HNA. No final do texto referia que essa iniciativa era o registro da primeira Escola Profissional de Enfermeiros no país. Interessante salientar que esse Relatório, ainda no conteúdo de seu texto, designava o corpo Os jacobinos defendiam a manutenção de Floriano ou de outro militar no poder, pois tinham profundas desconfiança das lideranças civis [1] "% Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) administrativo e docente para o funcionamento da Escola de Enfermagem, e, dentre os nomes citados no documento surgia o nome do primeiro Diretor da Escola, o médico Antônio Fernandes Figueira. Em noticia publicada no Jornal do Comércio, de 17 de fevereiro de 1905, a inauguração da EPEE foi divulgada à sociedade, com apresentação dos nomes de autoridades presentes, bem como o discurso do Diretor da Escola, Dr. Antônio Fernandes Figueiras, e sobre o quantitativo numérico de discentes matriculados para o curso de 16 homens e 7 mulheres, o que de certa for ma justificaria o registro da denominação dada à Escola no mencionado Relatório [9]. O Diretor da EPEE, Dr. Antonio Fernandes Figueira, conforme apresentado no mesmo Relatório era também responsável pelo pavilhão denominado, Dr. Bourneville, destinado a menores com problemas mentais. Esse Diretor ansiava contratar uma enfermeira perita para o Pavilhão Dr. Bourneville, demonstrado com a informação de que o Cônsul do Brasil, em Paris, já teria recebido instruções para o contrato e importe de passagem para a sua realização. Entretanto, não se descobriu ainda o registro da efetiva vinda dessa enfermeira francesa para o HNA prestar assistência no referido pavilhão. Lobo [10] relata, em seu estudo sobre o Pavilhão Bourneville, que este recebeu tal denominação em 1904, em homenagem ao médico francês, devido ao método de educação e tratamento preconizado pelo médico Bourneville e adotado por Antônio Fernandes Figueira, pediatra e diretor dessa seção de crianças, por mais de quinze anos. Em fevereiro do mesmo ano (1905) a EPEE foi novamente re-inaugurada. Lobo [10] refere esse fato mencionado sua divulgação publicada na Revista Kosmos, com um artigo de Olavo Bilac, após uma visita ao HNA e, em especial, na seção de crianças, registrando os avanços na melhoria encontrada com base em idas anteriores ao inquérito que o HNA teria sofrido. Engel [6], referindo-se à inauguração das novas instalações do HNA, em princípios de 1905, descreve o Pavilhão Bourneville e dois outros destinados aos epilépticos, em que o Diretor do HNA, destacava o relato do número de casos de epilepsia que estava crescendo, segundo o Dr. Juliano Moreira. Tal fato foi cientificamente comprovado pela freqüência com que eles eram observados nas clinicas, nas oficinas, nas fileiras do Exército, a bordo de navios, nas prisões, nos manicômios e nas ruas da capital. "& Aprofundando um pouco mais o estudo sobre o interesse de Dr. Antônio Fernandes Figueira, Diretor da EPEE, re-inaugurada em 1905, e responsável pelo Pavilhão Bourneville, além de haver solicitado a vinda de uma enfermeira perita francesa para prestar assistência às crianças, nos conduz a questões nunca antes levantadas e que estudos anteriores não dissecaram. Teria esse médico tentado dirigir a instituição de ensino de enfermagem, de modo a preparar, além de enfermeiros, também profissionais destinados a cuidar de crianças no pavilhão sob sua responsabilidade? Pesquisas efetuadas até o momento não oferecem, ainda, respostas para este e outros questionamentos, que ficarão para futuros trabalhos, cujos estudiosos poderão descobrir outras fontes e documentos e levantar novos dados que venham a esclarecer os muitos elos e preencher as lacunas da História da Profissionalização da Enfermagem no Brasil. Documento, segundo Otlet, apud Dias Filho [11], é o livro, a revista, o jornal e toda a parte documental que precede ou sucede a emissão radiofônica e, a documentação é constituída por uma série de operações distribuídas, hoje, entre as pessoas e organismos diferentes, pois esta acompanha o documento desde o instante em que ele surge da pena do autor até o momento em que impressiona o cérebro do leitor. É possível que ao desvendar melhor as raízes históricas e a verdadeira trajetória da Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras, que sobrevive com o nome de Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, possa ser encontrada a origem da profissionalização da Enfermagem no Brasil. Essa Escola que, ainda funciona ao lado do antigo HNA, já encontra reconhecimento e respeito da comunidade cientifica pelo que realiza e produz, mas ela pode ter uma dimensão profissional muito maior por ter dado início à profissionalização da enfermagem no Brasil. Por isso é necessário investigar com profundidade, perscrutar minuciosamente cada documento, resgatar e analisar dados que possam esclarecer situações e fatos para demonstrar o legítimo papel desempenhado pela EPEE de iniciador da profissionalização da enfermagem no Brasil. Ainda que entidades criadas posteriormente tenham ganho maior notoriedade, os estudiosos da matéria precisam agir com justiça e justeza histórica, buscando-se a verdade, reconhecendo fatos e dando a cada evento o peso que tiveram na ordem cronológica dos acontecimentos. Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) Considerações finais Referências A apresentação e descrição de alguns marcos temporais relacionam diversos acontecimentos. É curioso salientar que, a cada vez que a Direção do HNA era mudada, inaugurações da EPEE aconteciam. Foi o que ocorreu em 1905, quando Dr. Antonio Fernandes Figueira assumiu o cargo de Diretor da EPEE. Ele era, também, médico responsável pelo Pavilhão Bourneville destinado ao tratamento de crianças com problemas mentais. Fazendo-se um paralelo entre o que ocorria no HNA e na administração pública, extremamente legalista, no Brasil, no início do século XX, pode-se tomar como referência os estudos realizados por Keinert [12]. Esse autor refere-se aos paradigmas da administração pública no período de 1900-1992. No recorte proposto por esse estudo, foram identificados, nos primórdios da administração pública no país, muitas regras jurídicas, normas e regulamentos, com descrições pormenorizadas para o seu cumprimento. Keinert justifica esse excessivo detalhamento ao fato de o Brasil ter sido colonizado pelos portugueses, que tiveram durante séculos a influência do Direito Romano, extremamente formal e ritualizado, como base de sua legislação. Essa influência explicaria o enfoque legalista que o Brasil havia sofrido, gerando as repetidas inaugurações formais como ritual público a ser cumprido por quem assumia a direção do HNA, especialmente no período de 1890 a 1905. Com tantas inaugurações em tão pouco período, é mais fácil compreender o motivo das dificuldades encontradas pela EPEE para se estabilizar. Com tanta influência legalista, não foi por acaso que a primeira escola superior no Brasil tenha sido criada no campo do direito. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. Santos AM et al. História do Brasil de terra ignota ao Brasil atual. RJ Loh & Multimídia. 2002. 655 p. Centro Cultural da Saúde. Pesquisa-Legislação Por Estabelecimento. In site: www.ccs.saude.gov.br/ leg_estab. Total de páginas: 07. Capturado em 02/ 09/2002. Moreira A. Desmistificando a Origem da Enfermagem Brasileira. In: História da Enfermagem: Versões e Interpretações RJ. Revinter.1995.p. 41-81. Jornal do Comércio. Assistência Médico-Legal. Secção Gazetilha. Ano 68. Número 272. 0/09/1890. p.01. Ministério do Interior. Relatório da Assistência Médico-Legal de Alienados. Relatório da Secção de Mulheres do HNA. In: Anexos ao Relatório apresentado ao Vice-Presidente da Republica dos Estados Unidos do Brasil pelo Dr. Fernando Lobo Leite Pereira, Ministro de Estado dos Negócio Interior. Abril. 1892. RJ. Impressa Nacional. p.21. Engel MG. Os Delírios da Razão: médicos, loucos e hospícios. RJ. Fiocruz. 2001. 352p. Revista Brazil-Médico Sem Título (texto que relata a qualificação profissional dos Médicos Juliano Moreira e Júlio Afrânio Peixoto). Ano XVII. Número 14. 02/02/1903. p.140. Revista Brazil-Médico Hospício Nacional de Alienados - Foram Exonerados. Ano XVII. Número 14. 02/02/1903 p140. Jor nal do Comércio. Hospital Nacional de Alienados. Secção Gazetilha. Ano 48. Número 85.17/02/1905. p 01. Lobo LF. Bourneville Primeiro Pavilhão de Crianças do Hospício Nacional de Alienados: Revista do Instituto de Medicina de Reabilitação: Saúde, sexo e Educação. RJ. O Instituto. Ano 06. N. 18-19 (edição Dupla).1994. p 25-32. Dias Filho FM. Documentos e Documentação. In: Revista do Serviço Público. RJ. Março. 1946. p 2830. Keinert TMM. Os Paradigmas da Administração Pública no Brasil (1900-92). In: Revista de Administração de Empresas 1994;34(3):41-48. Collière MF. Promover a Vida: da prática das mulheres de virtude aos cuidados de enfermagem. Lisboa. Sindicatos dos Enfermeiros Portugueses.1989. 385 p. Moreira A. Escola de Enfermagem Alfredo Pinto 100 anos de Historia. Dissertação de mestrado apresentada na Escola Alfredo Pinto, UNIRIO, 1990. Pavilhão Escola Bourneville (5a Secção Crianças). In: Relatório apresentado ao Sr. Dr. J.J. Seabra Ministro da Justiça e Negócios Interiores, pelo Dr. Afrânio Peixoto, Diretor Interino do HNA. 1904-195. p 27-29. "' Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) Artigo original Estudo etnobotânico do município de Caxias do Sul, RS Ethnobotanic study performed in Caxias do Sul, RS Estudio etnobotánico del municipio de Caxias do Sul, RS Maria da Graça Piva Doutora em Enfermagem, Professora de Enfermagem da Universidade Luterana do Brasil, diretora da Escola Profissional São Francisco de Assis, Conselheira do COFEN, Presidente do SOBRATEN Resumo Através desse trabalho realizou-se um estudo etnobotânico, destacando-se as plantas medicinais identificadas na região de Caxias do Sul RS, Brasil. Essa comunidade apresenta colonização de origem italiana com uma cultura muito rica em espécies e variedades de plantas, a maioria exótica. Como resultado elaborou-se um catálogo etnoflorístico das espécies identificadas, assim como associou-se ao estudo das plantas, a cultura e os mitos do povo da região, sempre relacionando as referidas plantas com as atividades humanas. Essa pesquisa vem colaborar com estudos mundiais na área de etnobotânica, estimulados pela OMS, colaborando diretamente com investigações nacionais e internacionais, que valorizam e buscam o resgate de terapias naturais, para tratar a saúde. Palavras-chave: Etnobotânica, plantas medicinais, imigração, comunidade. Abstract In this work, we did an ethnobotanic study, in which we laid stress upon medicinal plants identified in the region of Caxias do Sul RS, Brazil. This community was colonized by people of Italian origin and has a very rich culture with different species and varieties of plants, most of them exotic. As a result, we prepared an ethnographic catalogue of the species that were identified and we associated the study of the plants with the culture and the myths of the people who live in that region, always establishing a relationship between the mentioned plants and the human activities. This research is a contribution to the studies done all over the world in the area of ethnobotany, encouraged by the World Health Organization, cooperating in a direct manner with the national and international researches which value and search to restore the use of Natural Therapies in the health treatment. Key-words: ethnobotany, medicinal plants, immigration, community Artigo recebido em 30 de agosto; aprovado em 15 de setembro de 2002 Endereço para correspondência: Escola de Enfermagem São Francisco de Assis, Rua Moreira César, 2067, 95034-000 Caxias do Sul RS, E-mail: [email protected] # Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) Resumen Através de este trabajo se realizó un estudio etnobotánico, en el cual se destacan las plantas medicinales identificadas en la región de Caxias do Sul RS, Brasil. Esta comunidad presenta colonización de origen italiana con una cultura muy rica en especies y variedad de plantas, la mayoría exótica. Como resultado se confeccionó un catálogo etnofloral de las especies identificadas, así como se asociaron al estudio de las plantas la cultura y los mitos de los habitantes de la región, siempre relacionando las plantas con las actividades humanas. Esta pesquisa viene cooperar con estudios mundiales en la área de etnobotánica, estimulados por la Organización Mudial de la Salud, colaborando directamente con investigaciones nacionales e internacionales que valoran y buscan el rescate de Terapias Naturales, para tratar de la salud. Palabras-clave: etnobotánica, plantas medicinales, emigración, comunidade. Introdução Objetivos Segundo referem os historiadores, desde a mais remota antiguidade, foi a humanidade buscar nos recursos inesgotáveis do reino vegetal, os elementos de combate às variadas enfermidades que têm perseguido o gênero humano desde os primeiros dias do mundo. O homem primitivo chegou até esse conhecimento, sobre as virtudes curativas das plantas, por instinto e seus conhecimentos foram transmitidos através de gerações até os homens de hoje. Na atualidade, uma nova consciência ecológica, que busca o equilíbrio do homem com o meio ambiente, nos leva a uma reintegração cada vez maior das plantas em nosso convívio, tanto que alguns países já estão dedicando esforços consideráveis na reconquista de sua tradição terapêutica. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece o valor dos estudos etnobotânicos, que incluem também as plantas medicinais e a sua utilização pela chamada medicina tradicional, isto é, práticas baseadas em crendices existentes há centenas de anos, mesmo antes da medicina científica da era moderna e que, como o nome indica, fazem parte da tradição de cada país. Este trabalho, resumido neste artigo, pelas suas características, vem demonstrar o interesse na participação do processo de inventariar botanicamente as plantas mais utilizadas por uma comunidade, colaborando no processo global de valorização e estudo das farmacopéias tradicionais. Ele é o reflexo de um projeto onde foram atingidos os seguintes objetivos: 1 - Conhecer, através de estudo etnobotânico, a flora de uma dada comunidade, no caso Caxias do Sul, município do estado do Rio Grande do Sul, Brasil, identificando-a botanicamente, incluindo a manutenção das características peculiares, como nome popular e em dialeto italiano, formas de utilização e indicações mais freqüentes relacionadas pelos pesquisados, buscando uma identificação de seus valores, através do estudo de sua história de vida e da divulgação de seus aspectos culturais, incluindo o respeito às suas tradições; 2 - Perpetuar e divulgar esse conhecimento através da confecção de eccicatas, que permitam a visualização adequada das espécies vegetais coletadas, facilitando o intercâmbio de conhecimentos na própria comunidade pesquisada e fora dela, com o intuito de participar de estudos posteriores sobre inventários de revisão nacional em etnobotânica; 3 - Colaborar indiretamente com pesquisas nacionais e internacionais que valorizem e busquem o resgate de terapêuticas mais naturais de tratar saúde, reinterando a posição da Organização Mundial da Saúde que visa o desenvolvimento da saúde pública, através da valorização das tradições milenares e o emprego mais freqüente da Fitoterapia. # Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) Resultados A seguir apresentamos um breve resumo de aspectos relevantes sobre etnobotânica que serviram como base da pesquisa que originou este artigo: Segundo Schultes & Von Reis, etnobotânica é o estudo da avaliação e manipulação, incluindo conceitos relevantes das sociedades primitivas. Obviamente, desta definição tão vasta, concluímos que Etnobotânica seria altamente interdisciplinar, emergindo de aspectos da botânica, antropologia, arqueologia, fitoquímica, farmacologia, medicina, história, religião, geografia, e numerosas outras tangencialmente pertinentes as ciências e as artes. O estudo e pesquisa da etnobotânica têm superado mudanças e sido significativamente ampliados neste século, desde que o termo foi usado pela primeira vez em 1895. Seu constante crescimento resultou na proliferação, necessária, de termos para descrever variadas subdivisões especializadas do estudo: etnobiologia, etnofarmacologia, arqueoetnobotânica (também chamada de paleoetnobotânica) etnoecologia, etnomedicina, etnomicologia, socioetnobotânica e ainda outros. Organizações de conservação, nacionais e internacionais, devotam, cada vez mais, atenção a conservação Etnobotânica a fim de salvar algum conhecimento remanescente em posse das sociedades aborígenes, em várias partes do mundo. O crescente interesse na indústria farmacêutica é mundial. Nos Estados Unidos, uma organização foi estabelecida exclusivamente para o estudo das plantas usadas pelas sociedades primitivas. Ainda consultando Maldonado-Kverdell, concluímos que a etnobiologia é uma descrição de fatos particulares referentes a organismos e suas utilizações, embora tenha um critério distinto da biologia, uma vez que participa na formulação de conclusões e na aplicação prática das mesmas. Historicamente nasceram separados e a etnobotanica atraiu mais a atenção de todos, em especial dos antropólogos, pela sua estreita relação com a agricultura. As plantas e os animais de distintas regiões da terra são muito úteis ao homem, na função básica de alimento ou como matéria prima de diversas culturas; quer na sua forma original ou não. Podem ainda ser consideradas importante em mitos e tradições, portanto são objeto de profundo interesse da antropologia, mas para que o estudo tenha valor etnobotânico deve ser feito em função do grupo humano, que o utiliza situando-o no complexo cultural que está inserido. # Como resultado importante apresentamos a tabela I, embora o estudo completo contenha muitas outras informações. Tabela I - Proporção das espécies de acordo com a família, relacionadas com o número total de plantas coletadas em Caxias do Sul/ RS - 1997 família Acanthaceae Adiantaceae Agavaceae Alismataceae nome científico nº % Acanthus mollis L. 1 0,5 Adiantum capillus-veneris L. 1 0,5 Agave americana (L.) Martius 1 0,5 Echinodorus grandiflorus (C. e S.) Mich. 1 0,5 Anacardiaceae Lithraea brasiliensis (L.) March. 3 1,5 Mangifera indica L. Schinus molle L. Annonaceae Rollinia silvatica L. 1 0,5 Apiaceae Eryngium pandanifolium Cham. et Schlecht. 3 1,5 Foeniculum vulgare Mill. Petroselinum sativum Miller. Apocinaceae Nerium oleander L. 1 0,5 Araliaceae Hedera helix L. 1 0,5 Araucariaceae Araucaria angustifolia (Bert.) O. Ktze. 1 0,5 Aristolochiaceae Aristolochia triangularis Cham. 1 0,5 Asteraceae Achillea millefolium L. 37 18,5 Achyrocline satureoides (Lam.) D.C. Ageratum conyzoides L. Anthemis nobilis L. Arctium lappa L. Artemisia absinthium L. Artemisia camphorata Vill. Artemisia verlottorum Lamotte Baccharis articulata (Lam.) Pers. Baccharis ochracea Spreng (B. Vellutiria D.C.) Baccharis trimera (Less.) D.C. Bidens pilosa L. Blainvillea biaristata D.C. Calendula officinalis L. Chaptalia nutans Hemsl. Chicorium endivia L. Var. Sativum Cnicus benedictus L. Chrysanthemum myconis L. Chrysanthemum parthenium (L.) Bernh. Cynara scolymus L. Galinsoga parviflora Cav. Helianthus annuus L. Lactuca sativa L. Matricaria chamomilla L. Mikania laevigata Schutz-Bip Mikania micrantha H.B.K. Pluchea sagittalis (Lam.) Cabr. Senecio brasiliensis (Spreng) Less. Solidago chilensis (L.) Meyen. Sonchus oleraceus L. Stenachaenium campestre Baker Tagetes minuta L. Tanacetum vulgare L. Taraxacum officinale Weber Trichocline macrocephala Less. Vernonia polyanthes Less. Vernonia nudiflora Less. Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) Bignoniaceae Pyrostegia venusta (Ker-Gawl) Miers. 1 0,5 Boraginaceae Cordia verbenacea D.C. 2 1 Symphytum officinale L. Brassicaceae Armoracia lapathifolia L. 7 3,5 Brassica oleracea L. Var. acephala Brassica oleraceae L. Var. italica Capsella bursa-pastoris (Medic) Moench. Coronopus didymus (L.) Smith Lepidium ruderale L. Roripa nasturtium - aquaticum (L.) Hayek Cactaceae Cereus triangulares Vell. 2 1 Opuntia ficus indica L. Caprifoliaceae Lonicera caprifolium L. 2 1 Sambucus australis Cham. e Schlecht Caricaceae Carica papaya L. 1 0,5 Celastraceae Maytenus ilicifolia Mart. 1 0,5 Chenopodiaceae Chenopodium ambrosioides L. 1 0,5 Combretaceae Terminalia catappa L. 1 0,5 Commelinaceae Tradescantia fluminensis Vell. 1 0,5 Convolvulaceae Ipomea batatas L. 1 0,5 Crassulaceae Kalanchoe pinnata Pers. 3 1,5 Sedum dendroideum Moc. e Sesse Sedum praealtum D.C. Cucurbitaceae Cayaponia martiana (Cogn.) Cogn. 5 2,5 Cucurbita maxima L. Luffa operculata Cogn. Momordica charantia L. Sechium edule L. Dioscoreaceae Dioscorea bulbifera L. 1 0,5 Dryopteridaceae Dryopteris filix-mas (L.) Schott 1 0,5 Equisetaceae Equisetum arvense L. 2 1 Equisetum brasiliensis Spreng Euphorbiaceae Manihot esculenta Crantz 2 1 Phyllantus niuri L. Fabaceae Bauhinia candicans Benth. 7 3,5 Cassia corymbosa Lam. Castanea sativa Mill. Erythrina crista-galli Benth Inga marginata (Willd.) Parapiptadenia rigida (Benth.) Brenam Spartium junceum L. Flacourtiaceae Casearia sylvestris Swartz 1 0,5 Geraniaceae Pelargonium graveolens LHérit. 1 0,5 Hydrangeaceae Hydrangea macrophylla D.C. 1 0,5 Hypericaceae Hypericum connatum Lam. 1 0,5 Lamiaceae Coleus barbatus (Andr.) Benth. 22 11 Lavandula officinalis Chaix Marrubium vulgare L. Melissa officinalis L. Mentha arvensis L. Mentha citrata L. Mentha crispa L. Mentha piperita L. Mentha suaveolens L. Mentha spicata L. Ocimum basilicum L. Ocimum crispum L. Ocimum gratissimum L. Ocimum purpureum L. Ocimum selloi Benth Origanum manjorana L. Origanum vulgare L. Rosmarinus officinalis L. Salvia coccinea L. Salvia officinalis L. Stachys byzantina C. Koch Thymus vulgaris L. Cinamomum camphora Ness et Ebern. 3 Laurus nobilis L. Persea gratissima Gaertn Liliaceae Aloe arborescens Mill. 3 Smilax brasiliensis Spreng Smilax ornata Hook F. Loranthaceae Struthanthus flexicaulis Mart. 1 Lycopodiaceae Lycopodium clavatum L. 1 Lythraceae Cuphea balsamona Cham. 2 Heimia salicifolia Linck Malvaceae Malva parviflora L. 2 Sida rhombifolia L. Melastomataceae Clidemia hirta (L.) D.Don. 2 Tibouchina semidecandra F. Moraceae Ficus carica L. 2 Morus nigra L. Myrtaceae Blepharocalix tweediei (Berg.) Mattos Var. longipes 7 Campomanesia xanthocarpa Berg. Eucalyptus citriodora Hook Eucalyptus maculata Hook Eugenia uniflora L. Psidium guayava L. Syzygium cuminii (L.) Skeels Oleaceae Olea europaea L. 1 Oxalidaceae Averrhoa carambola L. 1 Papaveraceae Chelidonium majus L. 1 Passifloraceae Passiflora alata Dryander 3 Passiflora edulis Sims. Passiflora foetida L. Phytolaccaceae Petiveria alliacea L. 1 Piperaceae Piper umbellatum L. 1 Plantaginaceae Plantago australis L. 2 Plantago lanceolata L. Poaceae Coix lacrima-jobi L. 4 Cymbopogon citratus (Stapf.) D.C. Saccharum officinarum L. Zea mays L. Polygonaceae Polygonum hydropiperoides Michaux 2 Rumex obtusifolius L. Punicaceae Punica granatum L. 1 Rosaceae Eriobotrya japonica (Thumb.) Lindl. 5 Fragaria vesca L. Rosa gallica L. Rubus brasiliensis M. Rubus rosaefolius Smith Rubiaceae Borreria verticillata (L.) G.F.W. Meyer 2 Cephaelis brasiliensis St. Hill Rutaceae Citrus aurantifolia (Christm.) Swingle 5 Citrus limonum Risso (L) Burn Citrus sinensis (L.) Osbeck Ruta chalepensis L. Ruta graveolens L. Santalaceae Jodina rhombifolia Hook et Arn. 1 Scrophulariaceae Verbascum thapsus L. 1 Solanaceae Physalis viscosa L. 3 Solanum melongena L. Solanum paniculatum L. Tiliaceae Luehea divaricata Mart. et Zucc. 1 Trapaeolaceae Trapaeolum majus L. 1 Urticaceae Urera baccifera Gaud. 2 Urtica dióica L. Verbenaceae Aloysia gratissima (Gill. et Hook) Troncoso 6 Aloysia triphylla (LHerit) Britton Lauraceae 1,5 1,5 0,5 0,5 1 1 1 1 3,5 0,5 0,5 0,5 1,5 0,5 0,5 1 2 1 0,5 2,5 1 2,5 0,5 0,5 1,5 0,5 0,5 1 3 #! Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) Violaceae Vitaceae Zingiberaceae total Lippia alba N.E.Br. Stachytarpheta cayennensis (L.C. Rich) Vahl Verbena littoralis H.B.X. Verbena officinalis L. Viola odorata L. 1 0,5 Vitis vinifera L. 1 0,5 Alpinia speciosa (Wendl) K. Schum. 2 1 Zingiber officinalis Roscoe 190 100 Fonte: Estudo etnobotânico do município de Caxias do Sul RS Analisando essa tabela, constata-se que foram identificadas 190 espécies botânicas diferentes. Para cada uma delas se realizou um estudo botânico, acrescentando itens como: nome popular, habitat, freqüência, floração, uso medicinais locais, propriedades, receitas populares, partes úteis, além de extensiva revisão bibliográfica em relação a sua utilização. Completando a apresentação dos dados, apresentamos o modelo utilizado como base para identificação das 190 plantas identificadas (quadro I). Conclusão Segundo Schultes e Von Reis, em todas as culturas, e provavelmente desde muito cedo, existiram homens e mulheres especialmente instruídos sobre as propriedades das plantas. Estes indivíduos muitas vezes alcançaram elevadas posições. Até hoje, em muitas sociedades incultas e superficialmente cultas, o curandeiro mantém ainda uma alta posição em várias etapas da vida. Estes, diagnosticam e tratam doenças, determinam a causa da morte, asseguram boa colheita através de rituais, explicam fenômenos naturais e climáticos, controlam métodos de caça e pesca, são os repositores da história e mitologia das tribos, e normalmente, são os especialistas que manipulam e controlam as drogas alucinógenas, que são tidas como sagradas. Conscientes desta realidade, a elaboração deste trabalho foi possível detectar, através da identificação e uso de suas plantas, o desenvolvimento de uma comunidade regional. Sua divulgação tem como objetivo auxiliar a recuperação e manutenção da cultura da população visada, contribuindo, assim, para que a etnobotânica assuma o status que lhe é devido. E porque explorar este status hoje? Porque é chegada a hora de avaliar esta disciplina e sua posição nas ciências e na conservação ambientalista, particularmente sob o ponto de vista do bem estar das gerações futuras. #" Quadro I IDENTIFICAÇÃO NOME CIENTÍFICO: Echinodorus grandiflorus (C. e S.) Mich. FAMÍLIA: Alismataceae NOME POPULAR: Chapéu-de-couro NOME ITALIANO: Também chamada de: Erva-do-pântano Local: Caxias do Sul Data da coleta: III - 1995 LEB: 61776 Generalidades: Planta nativa, aparece em vários lugares do Brasil. Descrição morfológica breve: Erva aquática ou brejosa, que pode atingir até 1,5 m de altura. Folhas verdes, com disposição em roseta. Possuem pecíolos longos e bainhas largas, com lâminas coriáceas. As inflorescências comumente ultrapassam as folhas, em forma de panícula. Possui flores brancas e hermafroditas. Habitat: Gosta de terrenos encharcados. Encontra-se em lugares muito úmidos, canais de drenagem, margem de lagoas e baixadas pantanosas. Freqüência: Moderada Floração: Verão Usos medicinais locais: O chapéu-de-couro é muito indicado para quem sofre de gota e reumatismo; limpa o sangue e cura qualquer mancha na pele. Diz-se que é recomendado para tratamento de doenças dermatológicas, artríticos e é desintoxicante. Propriedades enumeradas: Antigotosa, antireumática, depurativa. Receitas populares: - Para afecções da pele. Preparar uma infusão com uma xícara (chá) de folhas picadas em um litro de água fervente e deixar de 10 a 15 minutos em repouso. Coar e fazer compressas ou lavar a região afetada. - Antiartrítico (combate inflamações e dores nas articulações ou juntas). Adicionar uma xícara (chá) de folhas picadas em um litro de água fervente. Deixar de 10 a 15 minutos. Coar e tomar uma xícara do chá duas a três vezes ao dia. Partes úteis, na medicina popular: Folhas. Revisão bibliográfica: Outros usos: Segundo Sanguinetti, Cirilo, Silva & Franco et al. essa planta cura sífilis (doenças venéreas), afecções de bexiga e rins. Pedras nos rins são eliminadas com o uso do chá devido ao tanino em sua estrutura. Os componentes de suas folhas agem como bons inibidores enzimáticos e atuam como antienvenenantes, adstringentes e veinotrópicos, aumentam as resistências das veias e pequenos vasos. O iodo contido em sua estrutura é responsável pelo perfeito funcionamento da glândula tireóide, produtora de hormônios como T3 e T4, que regulam o metabolismo de todo o organismo, queimando o excesso de gordura e promovendo crescimento adequado, atuando também na síntese da proteína. O seu uso evita a formação de bócio, devido à presença do iodo, em sua composição. Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) Dos resultados obtidos se podem tirar as seguintes conclusões. 1 Foram coletadas 190 espécies que atualmente são de uso popular na colônia de imigrantes italianos. 2 Estas famílias se agrupam em 67 famílias; entre elas destacam-se com maior indicações: 58 famílias (86%), Asteraceae 37, Brassicaceae 7, Cucurbitaceae 5, Fabaceae 7, Lamiaceae 22, Myrtaceae 7, Rosaceae 5, Rutaceae 5, Verbenaceae 6 e 89 espécies (46%). 3 As aplicações medicinais das plantas são efetuadas para uso humano, administrando-se 333 em uso interno e 214 em externo. Entre as 190 espécies coletadas apenas 4% têm uso mágico ou supersticioso. 4 Com relação às partes da planta utilizadas pelos imigrantes italianos para fins medicinais ou mágicos, temos as folhas com 38% de aproveitamento, as flores com 20%, as raízes com 9,8%, os frutos e grãos com 9,2% e a casca com 4,1%, seguindo-se outras quinze partes com índice menor de emprego. 5 Em uso interno as formas preponderantes são a infusão e a decocção, sendo que para uso externo as formas já são mais diversificadas, prevalecendo também a infusão e a decocção. 6 Quanto ao modo de utilização, as compressas e macerações são as mais importantes, seguidas por banhos, sucos, xaropes, aplicações diretas em que são aproveitadas folhas, bagaços, pós, etc. 7 As aplicações específicas das plantas de acordo com os sistemas em que atuam estão assim distribuídas : - Digestivo 19% (112); - Neuromuscular 13% (78); - Metabólico 12% (68); - Respiratório 11% (57); - Dermatológico 10% (56); - Circulatório 9% (53). Seguindo-se outros, com menor expressão numérica, como renal, reprodutor, imunológico, nervoso, etc. 8 Das 190 espécies coletadas, a Passiflora foetida L. e a Vernonia nudiflora L. foram referidas como medicinais e mágicas, pela primeira vez neste livro. 9 Com relação à origem das espécies usadas pela população do município de Caxias do Sul, 53% são exóticas e 47% nativas. Este trabalho, além de valorizar os costumes locais, auxiliou o esclarecimento da necessidade da preservação da flora local: - A população pesquisada demonstrou que, apesar dos 120 anos que a afastam da pátria-mãe, seus ancestrais, os descendentes, mantêm a maioria das tradições como símbolo da cultura, que criou raízes na terra que os acolheu, incluindo, por exemplo, em sua alimentação um uso de plantas como orégano, sálvia, e muitas outras. Observou-se, portanto, a manutenção através dos anos de processos culturais intrínsecos a certas populações, provando que hábitos e costumes de uma determinada raça podem e são mantidos, apesar da distância física. Ficou comprovada a influência direta que a flora de uma região tem sobre os hábitos das comunidades, e como o uso da mesma pode caracterizar sua situação econômica de saúde, enfim, até mesmo o grau de seu desenvolvimento. - Na região, existe uma interrelação entre as culturas italiana e nativa, uma vez que aparece, no decorrer deste trabalho, a utilização de plantas originárias da região e de outras, comprovando que se deve perpetuar o que é bom para cada civilização e que a troca de experiências com o respeito a suas melhores tradições é fundamental para o crescimento de uma comunidade. Neste processo de resgatar a história da comunidade, identificou-se a interrelação de momentos históricos, que fizeram com que sobrevivessem os aspectos mais importantes de cada cultura, isto é, a manutenção da cultura nativa com o acréscimo de fenômenos imigratórios, através de seleção natural. - As terapias naturais estão ressurgindo, estabelecendo um paralelo significativo entre o avanço da tecnologia, sem o desprezo das ditas culturas populares, uma vez que nelas estão a base da história e do progresso das civilizações. - Somente através de estudos etnobotânicos podemos divulgar cientificamente dados significativos de populações em estudo, entendendo os diversos comportamentos de diferentes grupos étnicos. - O incentivo as comunidades em geral, para que utilizem seus recursos naturais, é de grande urgência. É necessário conscientizá-las de que estas medidas, além de serem de fácil acesso e menor custo, com garantias de resolutividade, mantêm tradições que imortalizam a vida de um povo. - O investimento de maiores recurso na área de pesquisa etnobotânica é de suma importância, fato este que preocupa os estudiosos da localidade pesquisada, o que foi demosntrado pelo interesse em desenvolver trabalhos a fins pela Universidade da região. - Foi muito gratificante investigar, estudar, elaborar, vivenciar este trabalho, esperamos sinceramente que ele ajude a preparação de mais etnobotânicos, o que é uma necessidade de toda a humanidade, tendo em vista o rápido desaparecimento do precioso acervo cultural das então chamadas sociedades primitivas, sobre o imenso tesouro que é a natureza. ## Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) Bibliografia 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. #$ Accorci WR, Barros MAA et al. Apontamentos sobre Plantas Tóxicas e Medicinais. ESALQ. 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Trabalho abstraído da Dissertação aprovada no Curso de Mestrado em Enfermagem de Saúde Pública CCS/UFPB * Resumo Estudo realizado com a finalidade de analisar o processo de trabalho de um grupo de enfermeiros da rede hospitalar pública, em sua prática assistencial, na perspectiva de conhecer as reais condições em que este trabalho se realizava. A pesquisa foi desenvolvida sob uma abordagem qualitativa, utilizando-se a análise de conteúdo para tratamento dos dados, tomando o tema como unidade de registro. O material analisado constou de nove depoimentos dos sujeitos participantes do estudo, de onde emergiram cinco categorias. A partir do aprofundamento destas categorias, ocorreu o desvelar do fenômeno investigado, possibilitando a estruturação do conhecimento dele apreendido, que se coloca como subsídio para a reflexão sobre o pensar e o fazer dos enfermeiros. Palavras-chave: Enfermagem, condições de trabalho, ambiente hospitalar, recursos humanos. Abstract The present study was accomplished with the aim to analyse the process of work by a group of nurses in the public hospial in their assistancial practise, in the perspective to know the real conditions in which this work is fullfiled. The research was developed in a qualitative approach, using the content analysis to data treatment, having the theme as unit of entry. The material that was analysed consisted of nine depositions given by the participant subjects of the study, from where five cathegories emerged. Starting from the deepening of these cathegories, the disclosed of the investigated phenomenon occured and made possible the framing of the knowledge from it apprehended, which is placed as a subsidy to reflection about nurses thinking and doing. Key-words: Nursing, work conditions, nosocomial environment, human recurses. Artigo recebido em 30 de agosto; aprovado em 15 de setembro de 2002. Endereço para correspondência: Carlos Bezerra de Lima, Rua Adolpho Soares Filho, 34/301-A Bancários 58052-170 João Pessoa Paraíba, E-mail: [email protected]. #% Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) Resumen Estudio realizado con la finalidad de analizar el proceso de trabajo de un grupo de enfermeros de los hospitales públicos, en su práctica asistencial, con la posibilidad de conocer las verdaderas condiciones en que este trabajo se realizaba. La pesquisa fue desarrollada con un abordaje cualitativo, utilizando el análisis de contenido para tratamiento de los datos, y el tema como unidad de registro. El material que fue analizado tuvo la declaración de nueve participantes del estudio, de donde surgieron cinco categorias. A partir de la profundización de estas categorias, se descubrió el fenómeno investigado, posibilitando la estructuración del conocimento que fue a través de este estudio apreendido, y se pone como subsidio para la reflexión sobre el pensar y el hacer de los enfermeros. Palabras-chave: Enfermería, condiciones de trabajo, ambiente hospitalar, recursos humanos. Introdução A motivação para o desenvolvimento deste estudo surgiu a partir de nossa aproximação com a prática assistencial dos profissionais de enfermagem. Nela, chamou-nos atenção a questão das condições de trabalho dos enfermeiros. Passamos a ler acerca desta temática, associando-a a alguns pontos observados durante a realização de estágios em diferentes hospitais. Após algumas reflexões e encontros de trabalho, decidimos realizar a monografia exigida pelo Mestrado em enfermagem com tal abordagem, considerando-a sob o aspecto da cidadania. Esta decisão se deu também com base na leitura que fazemos da realidade objetiva do trabalho do enfermeiro, que se realiza em meio aos desencontros entre a necessidade de adequadas condições de trabalho, para que o mesmo possa prestar uma assistência de boa qualidade a sua clientela e os interesses institucionais. Para orientar o processo de desenvolvimento do estudo foram determinados os seguintes objetivos: Detectar possíveis problemas relacionados com as condições da prática assistencial dos enfermeiros em uma instituição da rede hospitalar pública; e analisar as opiniões desses enfermeiros sobre as condições objetivas de seu ambiente de trabalho. Material e métodos A pesquisa teve como cenário uma instituição hospitalar pública estadual, localizada na cidade de João Pessoa - PB, que atende pessoas com aids, tuberculose e hanseníase, em nível ambulatorial e de internação. #& Os sujeitos participantes da pesquisa foram 9 enfermeiros do quadro de pessoal daquela instituição, precisamente aqueles que concordaram em participar do estudo, permitiram a gravação das entrevistas e estiveram no exercício de suas atividades por ocasião da coleta de dados. A eles foram atribuídos pseudônimos para identificar seus depoimentos, como forma de garantir o anonimato, o sigilo e facilitar o entendimento do leitor. Como instrumentos de coleta foram utilizados um roteiro de entrevista semi-estruturada e um roteiro de observação de campo, com vistas à conquista dos objetivos propostos para a pesquisa. Sua aplicação se deu após a validação dos instrumentos, nos períodos diurno e noturno, procurando-se captar as mais diversas peculiaridades envolvidas no contexto do trabalho dos referidos enfermeiros. A investigação deu-se mediante uma abordagem qualitativa, utilizando-se a técnica de análise de conteúdo, que consiste na desmontagem de um discurso e produção de um novo discurso, através da identificação de traços de significação [9]. O material para análise correspondeu ao corpus do estudo, constituído das 9 entrevistas, que foram transcritas e digitadas na íntegra, com uma coluna vazia à direita, para colocação de códigos que vislumbrassem possíveis segmentos para análise. Após a constituição do corpus, passamos a etapa de codificação, desagregando a mensagem em elementos constitutivos, chamados de unidades de registro. Dentre tais unidades, optamos pelo tema, tendo em vista ser o mesmo amplamente utilizado no estudo de opiniões e atitudes, como é o caso deste estudo. À medida que inventariava e classificava as unidades de registro, estabelecemos subcategorias, ou categorias com generalidade mais fraca. Visando à Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) construção do sistema de categorias desta investigação, procedemos ao seu agrupamento, a partir da presença de elementos característicos comuns e divergentes. Tem sempre gente com policial acompanhando e a gente tem um receio pessoal. Eu mesma tenho porque eu não gosto de polícia; quando eu vejo polícia, eu já fico receosa, mas nunca aconteceu nada de grave com a gente Bruna. Resultados O corpo de material analisado neste estudo compõe-se de cinco categorias: Ambiente hospitalar, respostas individuais às condições de trabalho, recursos humanos, recursos materiais e instrumentos de biossegurança. No Brasil são freqüentes as matérias em jornais, revistas, rádio e televisão, mostrando e denunciando o envolvimento de policiais em seqüestros, extorsão de dinheiro, tráfico de drogas e maus tratos à população. Diante de tais fatos, ao invés de garantir a segurança da população, o policial provoca desconfiança, insegurança e incredibilidade. Ambiente hospitalar Discriminação O conjunto dos elementos componentes da estrutura de um nosocômio constitui um dos determinantes da condição de trabalho dos enfermeiros. Esta condição contribui para determinar o nível da assistência ali prestada, e da saúde física e mental de seus profissionais. A partir desta categoria foram analisadas as seguintes subcategorias: A discriminação aparece como um dos resquícios do passado, ainda presente na atualidade, através da hegemonia médica. O médico era o detentor do saber, cabendo-lhe um tratamento diferenciado dos demais profissionais da saúde. Os tempos mudaram, porém, esse tratamento ainda tende a permanecer, conforme relata a entrevistada: Eu não entendo porque ainda existe isso hoje: médico come melhor do que a gente; o médico lancha pêra, uva, maçã, enquanto nós comemos pão com café; então está errado. Não é a saúde do funcionário? Então um copo de leite para todo mundo. (...) há colegas aqui, como a assistente social que foi reclamar: não, a senhora não vai comer no prato, vai comer na bandeja, porque o prato é do médico. Não é isso? Porque discriminar uma assistente social do médico? Bianca. Iluminação A disponibilidade de um equipamento do tipo gerador de energia elétrica é reconhecida como indispensável para garantir a continuidade da assistência qualificada, a manutenção da saúde e da vida dos pacientes graves em uma instituição hospitalar. Apesar do reconhecimento, sua ausência é denunciada na fala evidenciada a seguir: (...), tem algumas falhas que impedem de se ter um bom trabalho; por exemplo, aqui nós não temos gerador, então quando falta energia temos que esperar acender velas, acender lampião, entendeu? Paula. Tal equipamento é absolutamente necessário para qualquer ambiente hospitalar, independente de seu porte, tendo em vista que ali se lida com vidas humanas, bem maior de qualquer ser humano. Em consonância com o objetivo principal de um hospital e sob a ótica de seus profissionais, esse equipamento torná-se indispensável à continuidade da assistência ali prestada e ao bom funcionamento dos serviços, que vão desde a esterilização dos materiais até a segurança dos profissionais que ali trabalham. Com base nessa referência, percebo tal atitude como uma forma de discriminação social praticada pela instituição, na qual atribui-se ao médico, status, privilégios extras, diferenciando-o dos demais profissionais. Tal comportamento discriminatório só vem desmotivar e desestimular seus funcionários, tornando-se um agravante na insatisfação no trabalho, com o conseqüente comprometimento da qualidade da assistência. Respostas individuais às condições de trabalho Nessa categoria são abordadas situações e circunstâncias entrelaçadas às condições de trabalho dos enfermeiros, que influenciam de forma direta e decisiva na postura e conduta individual dos mesmos, em relação a seu ambiente de trabalho e sua prática profissional. Segurança Acomodação O depoimento a seguir explicita a preocupação da entrevistada com a segurança no ambiente de trabalho: Desde a institucionalização da Enfermagem com Florence Nightingale, quando o princípio da subserviência foi ensinado e interiorizado pelas #' Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) estudantes até os dias atuais, esse princípio encontrase ainda entremeado em nossas falas e posturas. Manifesta-se através da acomodação, do não questionar, do não falar, do não lutar; enfim, do conformismo e da alienação. Um retrato desse resquício é o que se pode observar no discurso a seguir: Eu trabalho dentro do que a gente tem aqui, porque como o hospital é de rede pública, você sabe que sempre a gente vai ter deficiência em alguma coisa Clara. Trata-se de uma problemática extremamente importante, porém, complicada e delicada, particularmente, em um hospital público, que requer competência e responsabilidade da sua direção e equipe hospitalar. No entanto, essa situação depende de vontade política de nossas autoridades, para que seja oferecida uma assistência qualificada, igualitária e digna de um cidadão, conforme preceitua a Constituição Federal e o Sistema Único de Saúde deste país. Esta garantia exige condições dignas e adequadas de trabalho para o enfermeiro. Se o hospital oferecer o mínimo de recursos, expondo a riscos o funcionário, este se submeterá a tal condição? Por que um hospital de rede pública não pode ter condições de trabalho dignas e adequadas para o exercício profissional dos enfermeiros? Desgaste As situações geradoras do desgaste do profissional são as mais variadas possíveis, porém um ponto em comum acontece quando o indivíduo encontra-se em situação limite. Essa situação acontece quando a pessoa ultrapassa sua capacidade individual de suportar determinada situação. As conseqüências desse desgaste e sua recuperação variam de indivíduo para indivíduo, dependendo do tempo de exposição, sua intensidade, situação em que se deu o desgaste e da história de vida dessa pessoa. Eu fico mais aqui neste pavilhão (tisiologia). A Diretora me deixou para cá porque eu lá ficava muito nervosa, (...). Aqui não, eu me sinto mais a vontade, são pacientes mais normais que doentes, a não ser aqueles casos acamados, mas eu sou mais para cá, (...) Laura. Há um desgaste emocional nas enfermeiras deste hospital, que se evidencia, não apenas neste depoimento, mas também nos relatos extras dos demais sujeitos. É possível que tal desgaste seja decorrente do somatório de pontos levantados pelos $ entrevistados, tais como: tipo de clientela, número reduzido de profissionais que cuidam da segurança, ausência de gerador de energia elétrica, necessidade de recursos humanos e materiais em quantidade e qualidade suficientes, dentre outros, traduzidos em falhas no trabalho, como bem foi relatado acima. Para a solução de questões como essas, é importante o estabelecimento de uma administração interativa, participando dos acontecimentos que permeiam o trabalho de todos os subordinados. Ouvir as observações, sugestões e críticas dos funcionários é uma forma de motivação dos mesmos. Relacionamento interpessoal Os entrevistados percebem esta problemática em seu ambiente de trabalho, sob dois aspectos: ora centrada na união de todos os componentes, ora em conflitos: (...), nós trabalhamos assim: é muita união. (...). Eu me relaciono super bem aqui com todo mundo, com os colegas, com direção, com coordenação, com as auxiliares, com todo mundo, eu não tenho do que reclamar Sydney. Eu acho que a condição de trabalho atualmente aqui tem interferência de outras coisas que não são equipamentos, é relação interpessoal mesmo que interfere no dia-a-dia do trabalho do profissional: enfermeiro, auxiliar, SG, todo mundo. (...). Falta muito respeito pelo profissional, todos os profissionais, tanto enfermeiros como auxiliares, como SG, (...) Clara. Percebe-se uma contradição nesses depoimentos. Segundo Clara, há dificuldades de relacionamento entre chefia de enfermagem e alguns funcionários, enquanto que Sydney afirma existir união, apesar dos conflitos entre coordenação e alguns enfermeiros. Esta é uma forma de isentar-se, de burlar seu posicionamento frente à discussão ou, quem sabe, não estimular um conflito maior. O fato aconteceu, não importando as causas que levaram a isso, mas, sim, o acontecido, e nesse caso, exige-se um posicionamento definido e imparcial de todos os membros da equipe, para que não se evidenciem outros acontecimentos semelhantes. O relacionamento conflituoso constitui uma fonte geradora de tensão no emprego, bem como um forte motivo para demissão, atribuído pelos demissionários, conforme resultado da pesquisa de Lautert, Ziebell e Bianchessi [4]. Recursos humanos Nesta categoria são abordados dois componentes indispensáveis para os recursos Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) humanos em enfermagem no contexto hospitalar, como sejam: qualificação e disponibilidade. Qualificação A qualificação dos componentes da equipe de enfermagem é fator decisivo para garantir a qualidade da assistência e a qualidade de vida dos usuários dos serviços hospitalares. Isto é garantido mediante a implementação de um programa permanente de cursos de atualização para os profissionais de enfermagem nessas instituições. Vejamos a opinião emitida por um entrevistado: Desde que eu estou aqui até agora, só houve um curso; já houve duas turmas e está havendo a terceira, mas a gente que trabalha o dia todo e em outro local, não tem condições de participar. Se aqui eu trabalho à noite e o curso é durante o dia, então não há disponibilidade para vir fazer esse curso durante o dia, mas está oferecendo e segundo as colegas o curso está sendo proveitoso, muito bom Sydney. Além desta questão, poderão existir outras dificuldades enfrentadas pelos enfermeiros para que possam participar dos cursos de atualização, tais como: a não liberação por parte da instituição, a dupla jornada de trabalho, além de problemas de ordem pessoal, que inviabilizam a participação dos profissionais, comprometendo seu nível de qualificação. Disponibilidade de pessoal Em nossa realidade, freqüentemente o hospital apresenta déficit quantitativo nos quadros de pessoal de enfermagem, gerando sobrecarga de atividades, insatisfação no trabalho e aumento no desgaste físico e mental. Conseqüentemente, inviabiliza a prestação de uma assistência eficaz ao doente, dificultando o seu tratamento, prolongando sua permanência no hospital. No caso particular dos profissionais de enfermagem, aumenta a probabilidade de maior número de casos de funcionários doentes e suas faltas ao trabalho. Segundo os sujeitos participantes do estudo: (...), há falta de mão-de-obra na enfermagem, por não ter havido concurso público na rede estadual (...), devido também à especialidade, pois muitas pessoas quando vêm trabalhar aqui têm medo das doenças Tb e Aids, mas está diminuindo mais. Aqui na tisiologia são um enfermeiro e dois auxiliares, e três auxiliares quando tem uma desinfecção, aí precisa de pessoas para dar uma cobertura maior Artur. Visando à definição de um suporte melhor e bem fundamentado para analisar os relatos dos entrevistados sobre essa questão, recorremos ao cálculo do pessoal de enfermagem e posterior comparação entre o existente e o estimado. Foi constatado que o hospital em estudo possui 58 leitos, sendo 38 destinados a tisiologia e 20 ao tratamento de doentes de Aids. Dispõe de 19 enfermeiros e 29 auxiliares, cuja jornada de trabalho semanal é de 20 e 30 horas respectivamente. Considerando que se trata de um hospital de doenças infecto-contagiosas, onde são prestados cuidados mínimos, intermediários e semi-intensivos, detectou-se um déficit de 13 pessoas no cargo de enfermeiro e 29 no de auxiliar de enfermagem. O enfermeiro precisa suprir a falta de auxiliares, deixando as demais funções em segundo plano. Não se pode deixar de considerar ainda outros fatores de risco como a carga horária semanal intensa, o medo de trabalhar nesse ambiente, o preconceito por parte de seus familiares, dos dirigentes de outras Instituições e da sociedade em geral. Assim, aumentam as possibilidades de erros, doenças e comprometimento da qualidade da assistência. Recursos materiais A quantidade e qualidade de recursos materiais disponíveis em um contexto hospitalar, são fatores decisivos para a continuidade de uma assistência qualificada, proteção do paciente e do profissional que o assiste. O déficit quantitativo ou qualitativo desses recursos compromete a qualidade da assistência, e põem em risco tanto os profissionais de enfermagem como as pessoas por eles assistidas. Disponibilidade de equipamento de proteção A quantidade e qualidade dos artigos de proteção na instituição são fundamentais, tendo em vista o tipo de patologias ali tratadas e a probabilidade de contaminação de seus funcionários, particularmente o pessoal de enfermagem, que presta cuidados diretos e de forma permanente. Por outro lado, o uso inadequado de recursos diagnósticos e terapêuticos, tanto por falta quanto pelo excesso, é um forte indicador de má qualidade da assistência [8]. Veja como pensam os entrevistados acerca desta temática: (...), as condições mesmo para trabalho são péssimas porque você trabalha improvisando, para que você não pare, $ Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) não estacione, dê andamento no serviço, (...). A gente aqui trabalha sem nenhuma proteção porque uma máscara a gente não tem, não tem um capote, não tem nada, então isso aí deixa muito a desejar, (...) isso aí é o ponto chave, porque muitas vezes a gente deixa de prestar assistência direta porque a qualquer momento a gente pode se contaminar Sydney. Por tratar-se de doenças contagiosas, é imprescindível que os profissionais dessa instituição utilizem equipamentos de biossegurança em quantidade suficiente e qualidade adequada. Trabalhar improvisando é inadmissível, apesar disso ser uma constante no cotidiano da Enfermagem, onde o hospital prioriza redução de custos em função de maiores lucros. Isso acontece gerando inúmeras conseqüências nocivas ao paciente, ao profissional e a população. Dentre elas: insegurança, aumento do estresse, dificuldades quanto ao tratamento e a prestação de uma assistência eficaz, comprometendo a saúde física e mental desses indivíduos e sua qualidade de vida. Disponibilidade de outros materiais A disponibilidade de recursos é fator essencial para garantir a continuidade do tratamento, a segurança do doente, dos componentes da equipe de enfermagem e de outros profissionais. Na falta ou má qualidade de medicação e inúmeros materiais utilizados nas intervenções, esterilização, limpeza, lavagem de roupas, entre outras tantas atividades realizadas no ambiente hospitalar, colocam em riscos a saúde de todos os envolvidos nesse contexto. Isto aparece no depoimento do enfermeiro participante, nos seguintes termos: Já aconteceu a falta da própria sonda, você tem um cateterismo vesical para fazer e não tem o material, essa deficiência na rede pública é freqüente. Eu já saí daqui para ir pegar máscara em outro hospital para o pessoal trabalhar, (...). Falta recipiente para você colher um exame, medicação mais específica, e sempre o prejudicado é o paciente, (...) Sydney. Esse não é apenas um caso isolado na realidade de nossos hospitais, nem uma exclusividade de instituições públicas. Particularmente em uma instituição hospitalar, onde são tratadas patologias como Aids e tuberculose, é indispensável que se estabeleça com rapidez a reposição de materiais em geral e de medicamentos, para a garantia da eficácia do tratamento e da assistência prestada, bem como, da segurança e credibilidade na instituição por parte de profissionais, usuários de seus serviços e comunidade em geral. $ Qualidade do material Em uma instituição hospitalar, a avaliação crítica dos materiais pelos próprios trabalhadores que os utilizam é de fundamental importância. A partir de sua prática cotidiana no trabalho, melhor que ninguém, eles sabem apontar os materiais mais adequados e eficazes para o trabalho. (...), o material, não é de primeira qualidade que deveria ser. A instituição vai por uma tal de licitação que procura os materiais mais baratos para comprar. (...), então às vezes a gente por mais que diga que o material não presta, mas a gente recebe ele de volta, por que? Porque o poder de compra não está com quem utiliza Clara. A economia como um determinante exclusivo na escolha do material, como afirma Clara, é uma atitude errônea e perigosa. Outras questões, necessariamente, devem ser levadas em consideração, para garantir a saúde e a proteção dos funcionários e pacientes. Nada, nem mesmo a economia do hospital podem comprometer a saúde e a vida dos pacientes, nem expor os profissionais que ali trabalham, ao risco de contrair uma patologia até então incurável, como é o caso da Aids. Quanto ao papel da Diretoria, é difícil agradar a todos. O mais lógico seria ouvir os funcionários como um caminho para primar pela qualidade do serviço. Isso poderia ser feito de maneira direta, ou não, colhendo sugestões para que não só o enfermeiro deva ter vez e voz dentro da empresa, mas também os demais profissionais. Instrumentos de biossegurança Nesta categoria foram abordadas atividades e ferramentas de trabalho que influenciam diretamente a qualidade de vida e saúde dos profissionais de saúde. Jornada de trabalho A jornada de trabalho do enfermeiro e sua equipe, no contexto das instituições hospitalares, têm sido expressa por longas horas de duração, com períodos curtos e irregulares destinados ao repouso. Em decorrência dos baixos salários recebidos, essa categoria profissional, é obrigada a trabalhar em dois ou mais hospitais diferentes, para garantir o orçamento familiar, o que é desgastante para a sua saúde física e mental. Isto é confirmado no depoimento seguinte: No meu caso só me serve um trabalho de doze horas. Eu não posso me afastar seis horas porque eu trabalho noutro canto que também são doze horas, (...) Laura. Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) A dupla jornada de trabalho do enfermeiro já se tornou uma constante na realidade desse profissional, mesmo tendo consciência dos efeitos nocivos das jornadas prolongadas de trabalho sobre a saúde do trabalhador. O baixo salário pago ao pessoal de enfermagem fala mais alto [1]. Salário Vivenciando a situação de que o salário percebido não propicia a satisfação das necessidades, encontramos enfermeiros nas instituições de saúde descontentes com a baixa remuneração [7]. Sob esta mesma ótica, discorre o participante: (...), o que você ganha não justifica, você se empenhar tanto. Financeiramente não compensa. (...). Você já pensou o quanto você investe, você passa quatro anos na universidade, mais um do curso de especialização, cinco anos e depois você vir ganhar pouco (...). Sydney. A insatisfação do enfermeiro com o salário que recebe justifica-se pelo investimento pessoal, risco de vida e função que desempenha. Essa insatisfação constitui um forte interveniente na postura e conduta desse profissional em seu ambiente de trabalho. Interfere, certamente, na qualidade da assistência prestada. Em uma sociedade capitalista, como é o caso da nossa, a remuneração de um profissional expressa a valorização e o reconhecimento do seu trabalho, tanto pela instituição como pela sociedade. O relato a seguir mostra a importância atribuída ao salário: Por causa do risco de vida, que são doenças como a tuberculose e a AIDS, aí tinha que ter um chamativo, não é tão grande, mas é como se fosse um prêmio para quem vem trabalhar aqui com esses tipos de doenças. (...) Artur. Considerar o adicional por periculosidade, um chamativo, ou mesmo um prêmio representa visão ingênua da realidade. Porém, pode expressar o que realmente esse enfermeiro pensa, assim como tantos outros. Na verdade, esse adicional nada mais é do que um direito estabelecido e garantido por lei para indivíduos que trabalham em locais que ofereçam risco de vida. Apesar do risco, pode ser considerada uma questão de justiça, pois você expondo sua saúde, em troca receberá um dinheirinho a mais. Além da questão salarial, outra questão é abordada pelos enfermeiros que são obrigados a aceitar determinados acordos com a instituição, como se pode observar no discurso a seguir: Em hospital privado, eles lhe dão um salário bem reduzido com uma carga horária de um auxiliar ou atendente de enfermagem. E por necessidade se aceita Natália. Essa não é uma questão simples, exige aprofundamento em sua leitura. Numa sociedade capitalista, o hospital, além de ser uma instituição voltada para a saúde da população, é uma empresa que visa lucros. Portanto, a lógica do seu processo de trabalho é pagar menos e exigir cada vez mais. Por outro lado, a situação econômica do enfermeiro impõe-lhe urgência na busca de uma forma de sustento, assumindo um trabalho que nem sempre permite uma escolha voluntária. Sendo apenas mais uma estratégia para garantir a receita do trabalhador, não satisfaz sua necessidade de realização, nem confere a motivação necessária para o desempenho satisfatório de sua função [4]. Riscos no trabalho Os riscos a que são expostos os profissionais de saúde que trabalham com pessoas infectadas pelo HIV, têm sido avaliados pelas autoridades epidemiológicas como sendo baixos, porém o que os torna maiores é a não observância das precauções universais e não propriamente a virulência do HIV [5]. O mesmo se pode dizer da tuberculose, pois os profissionais acabam contaminando-se, justamente pela negligência no uso do equipamento de proteção. Essa é também a opinião dos entrevistados: Tudo de proteção você tem aqui, agora se você não usa e se contamina, que Deus a livre, o problema não é do hospital, é falha humana que não deu, não quis usar o que a gente exige que use. Laura. Se o profissional dispõe de recursos de barreira e não usa, comete um ato de negligência inadmissível. Tendo em vista a crescente prevalência do HIV, não seguir as precauções recomendadas para o exercício de suas atividades profissionais, só tende a elevar o risco de comprometimento de sua saúde, expondose a contaminação com sangue e fluidos corporais [5]. Por outro lado, o não fornecimento dos equipamentos de proteção pela instituição, como relata o entrevistado abaixo, é um ato de omissão e negligência, ao qual não somos obrigados a nos sujeitar: (...), o risco maior é porque nós não temos o EPI, então se você não trabalha com a proteção de uso individual, você vai se expor para a doença (...) porque está sem nenhuma proteção. Sydney. $! Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) Esse é um fato do conhecimento de quase todos que trabalham no hospital, porém não tratado com seriedade pelos enfermeiros e profissionais de saúde. Principalmente, a diretoria de instituições de saúde e os governantes demonstram que ainda não se aperceberam da gravidade do fato. Os acidentes causados por perfuração de agulhas são uma constante na prática dos profissionais de saúde. O problema se agrava no âmbito dos profissionais que trabalham com pacientes portadores de tuberculose e Aids, como é o caso dos sujeitos deste estudo, como bem discorrem os entrevistados: Houve algumas pessoas que já se furaram, mas até agora não apareceram com a doença, não apresentaram nenhum sintoma, (...). Sydney. Embora a magnitude desse risco, após inoculação parenteral acidental, seja menor que 1% (0,1 a 0,7%) e, se faça necessário a realização de estudos prospectivos por um período prolongado para que se possa definir a verdadeira magnitude do risco [5], já se encontra registro de casos de soroconversão, como mostra o resultado do estudo cumulativo realizado por Sande e Volberding (1988). Esses estudos relatam a soroconversão de sete casos de enfermeiros infectados por HIV, dentre outros profissionais de saúde, através de picadas de agulha no período de 1984-1987, nos Estados Unidos, Martinica, França e Inglaterra. O discurso abaixo informa que houve um acidente com um funcionário da limpeza no hospital, no entanto, não existe prova de que sua contaminação com o vírus tenha-se dado naquela ocasião ou, exclusivamente, devido àquele acidente. Além disso, outros dados importantes precisam ser levantados, como por exemplo, a história de vida do funcionário. Foi através de material contaminado, se eu não me engano, a pessoa se furou com agulha, pessoal de limpeza, e hoje está em casa, está afastado do serviço. Desenvolveu, sim, está com o vírus e está bem avançado. Sydney. No relato abaixo é abordado outro fato relacionado com a tuberculose: Aqui, que eu saiba tem uma colega que tem uma mancha no pulmão, ela diz que nunca sentiu nada, mas agora teve um processo respiratório, foi feito uma tomografia ou foi ultra-som e deu essa área de necrose pulmonar e que ela acha que foi daqui mesmo, (...) Clara. Atribuir o contágio ao ambiente de trabalho, ser verdadeiro, uma vez que é insalubre e o $" desempenho da função da enfermeira exige um contato prolongado com os pacientes, que, por si só, não constitui o determinante do contágio, mas um forte agravante e predisponente, aumentando sua probabilidade. Conforme Gelbbcke [3], as condições de trabalho têm peso importante na determinação do processo saúde-doença, além de questões como: alimentação, conduta durante a assistência e estilo de vida, dentre outras. Desprezo do material utilizado O desprezo do material utilizado é uma atividade de extrema importância em qualquer instituição hospitalar, onde se deve considerar todo material como contaminado e todo paciente como um transmissor em potencial. Veja como pensa o entrevistado abaixo: Às vezes pode acontecer, porque você sabe como é o pessoal de nível médio, é um pessoal menos qualificado, de menos conhecimentos, então eles acham que se jogar uma agulha ali não vai interferir em nada, e você sabe que ali está o pontochave de contaminação Sydney. Quanto à referência de Sydney ao pessoal de nível médio, o fato não decorre da falta de conhecimentos e esclarecimentos dos auxiliares de enfermagem. Eles são capacitados, sabem dos riscos e das conseqüências do destino errôneo de materiais pérfuro-cortantes contaminados. Trará-se de um ato de negligência de qualquer profissional, que porventura venha fazer uso incorreto dessa técnica. Hábitos e vícios adquiridos na prática assistencial devem dar lugar à aplicação de conhecimentos científicos, técnicas precisas e eficazes. Considerações finais A pesquisa revelou que, na prática dos sujeitos participantes deste estudo, há falhas administrativas, quanto a quantitativos e qualitativas de material e equipamentos de trabalho. As atividades são desenvolvidas em meio a inúmeras limitações que comprometem o propósito do hospital e dos profissionais que ali atuam, particularmente, dos enfermeiros, que é prestar assistência qualificada a seus usuários. Percebe-se, também, um bom nível de consciência acerca da necessidade do uso de equipamentos de proteção, porém constatando-se alusões a atos de negligência ou omissão, em detrimento da gravidade dos mesmos para a saúde dos profissionais e pessoas por eles assistidas. Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) Percebe-se naqueles enfermeiros um certo conflito, expresso através de insatisfação e falta de motivação no trabalho e para com a profissão. No entanto, os depoimentos apreendidos a partir das entrevistas revelam também um profissional capaz de provocar em seu derredor,uma expectativa de melhoria nas condições de trabalho de sua equipe, bem como na qualidade de vida de sua clientela. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. Alexandre NMC, Angerami ELS. Estilo de vida e trabalho do pessoal de enfermagem e a ocorrência de cervicodorsolombalgias. Revista Latino-Americana 1995;3(1):117-136. Gaduño MdeLA, Marquez MS. El estrés en el perfil de desgaste de las trabajadoras. 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Porto: Edições Afrontamento, 1986. Cap.4. p.101-128. $# Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) Normas de publicação Enfermagem Brasil A revista Enfermagem Brasil é uma publicação com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à Enfermagem. Os artigos publicados em Enfermagem Brasil poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições. A revista Enfermagem Brasil assume o estilo Vancouver (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals, N Engl J Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2001. Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/ e-mail) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. bem como remetida espontaneamente pelo autor, cujo interesse e atualidade interessem a publicação na revista. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais. 1. Editorial Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um de seus membros. Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman) com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências. 6. Correspondência Esta seção publicará correspondência recebida, sem que necessariamente haja relação com artigos publicados, porém relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras. 2. Artigos originais Serão considerados para publicação, aqueles não publicados anteriormente, tampouco remetidos a outras publicações, que versem sobre investigação, clínica, diagnóstico, terapêutica e tratamento dentro das áreas definidas anteriormente. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/Word. Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em PowerPoint, Excel, etc. Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bibliográficas. Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, originalidade, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. 3. Revisão Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à Enfermagem, ao encargo do Comitê Científico, $$ 4. Comunicação breve Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power Point, Excel, etc Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências bibliográficas. 5. Resumos Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas. PREPARAÇÃO DO ORIGINAL 1. Normas gerais 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word, Wordperfect, etc), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma. 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com qualidade ótima (qualidade gráfica 300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e o espanhol e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, zip-drive, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2002;1(1) nome do artigo, data e autor, incluir informação dos arquivos, tais como o processador de texto utilizado e outros programas e sistemas. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português, inglês e espanhol. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e E-mail. - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3. Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words) Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês. O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavraschave (ou unitermos) para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista de cabeçalhos de matérias médicas (Medical Subject Headings MeSH do Index Medicus ou, no caso de termos recentes que não figurem no MeSH, os termos atuais). 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas: Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto. Exemplo: 1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78. Artigos Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus. Exemplo: Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S et al. Expression and localization of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: Jean-Louis Peytavin Atlantica Editora Rua Conde Lages, 27 - Glória 20241-080 Rio de Janeiro RJ Tel: (21) 2221 4164 E-mail: [email protected] $% Enfermagem Brasil Setembro/Outubro 2002;1(1) Calendário de eventos 2002 outubro 18 de outubro Tratamento da Escabiose Com Florais-Sobraten Auditório do COREN/RS - Porto Alegre Tel: (51) 33339644 [email protected] 15 a 17 de outubro de 2002 Hospital Business 2002 Riocentro-RJ Informações: (21) 2533-1094 / 2544-2695 promoces.com.br 22 e 23 de novembro de 2002 I Simpósio Internacional Sobre Síndrome do Intestino Curto PUCRS -Porto Alegre Fone/Fax: 51 3395 4852 - [email protected] 23 a 25 de outubro de 2002 5ª Feira Inter. de Segurança, Saúde e Higiene do Trabalho Centro de Eventos da PUC/RS - Porto Alegre - RS Informações: (51) 594-6300 www.prevensul.com.br 28 a 31 de outubro II Encontro Internacional de Pesquisa em Enfermagem Águas de Lindóia - São Paulo Tel: 11-3066-7548 www.ee.usp.br/encontro 28 a 30 de outubro de 2002 5º SIBRAD - Simpósio Brasileiro de Assistência Domiciliar Centro de Convenções Frei Caneca - São Paulo Informações: Home Doctor, Tel: (11) 3897.2300 28 a 31 de outubro de 2002 IIo Encontro Internacional de Pesquisa em Enfermagem: Trajetória espaço-temporal da pesquisa Hotel Vacance-Águas de Lindóia-SP Tel: (11) 3066-7548 www.ee.usp.br/encontro novembro 9 a 14 de novembro de 2002 54º Congresso Brasileiro de Enfermagem Fortaleza - CE (85) 272-1572 www.arxweb.com.br [email protected] 20 a 22 de novembro de 2002 IIIo Forúm Mineiro de Enfermagem Uberlândia - MG Tel: (34)3218-2387 $& 27 a 30 de novembro de 2002 XX Congresso Brasileiro de Reprodução Humana Centro de Convenções - Porto Seguro - Bahia Informações: Tel: (61) 365-4622 Fax: (61) 365-4590 E-mail: [email protected] 28 a 30 de novembro de 2002 Io Simpósio Paulista de Enfermagem Dermatológica Santos - SP Informações: (11) 3726- 4420 [email protected] 2003 janeiro 12 e 13 de janeiro de 2003 III Fórum de Educação Física dos Países do Mercosul Foz do Iguaçu PR - Hotel Bella Italia / Salão Montecatini Informações: [email protected] www.fiepbrasil.org/forummercosul fevereiro 23 a 28 de fevereiro de 2003 27 Congresso Internacional de Saúde no Trabalho - ICOH 2003 Foz do Iguaçu - Paraná Informações: (41) 353-6719 / www.icoh2003.com.br abril 26 a 30 de abril de 2003 IV Congresso Brasileiro de Farmácia Homeopática Joao Pessoa - PB www.farmaceuticoshomeopatas.com.br junho 10 a 13 de junho de 2003 Hospitalar 2003 10º Feira Internacional de Produtos, Equipamentos, Serviços e Tecnologia para Hospitais, Laboratórios, Clínicas e Consultórios Expo Center Norte -São Paulo/SP Informações: (11) 3897-6199 www.hospitalar.com 1º Congresso Nordestino de Conselhos de Enfermagem data a confirmar Informações: Tel: (83) 221-8758 E-mail: [email protected] EnfermagemBrasil Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Índice Volume 2 número 1 - Janeiro / Fevereiro de 2003 EDITORIAL O início de um periódico científico, Maria da Graça Piva .................................................................. 3 ARTIGOS ORIGINAIS A equipe de enfermagem e os acidentes com material pérfuro-cortante, Margarida Maria da Silva Xavier, Rita Batista Santos ............................................................................ 5 Intervenções do enfermeiro nas úlceras de pressão não infectadas em pacientes hospitalizados, Aspásia Basile Gesteira Souza, Fabiana da Silva, Fernanda di Venere, Flúvia Mara Casam, Lílian de Olinda Giannoccaro, Patrícia Corrêa Lacerda ........................................................................ 17 Atuações do enfermeiro intensivista na monitorização hemodinâmica através do cateter de Swan-Ganz, Aline Fontinelle Ferraz, Carlos Eduardo Peres Sampaio .................................. 24 Aplicando a semiologia em quem aprende a cuidar – os efeitos da imobilização em postura funcional, Maria Aparecida de Luca Nascimento, Joice Cristina Pereira Antunes, Raquel de Souza Dantas, Marcio Martins da Costa ............................................................................. 30 A visita domiciliar no serviço de vigilância epidemiológica como método de trabalho na melhoria da atenção à saúde da criança em um município da grande Porto Alegre – RS, Gisele Cristina Tertuliano ................................................................................................................. 35 Estagiários x UTI: sentimentos em relação ao inesperado, Andréia Saccol Lourenço, Regina G. Santini Costenaro ........................................................................ 41 REVISÃO Protocolo de tratamento imediato de paciente com lesões de queimaduras, Ana Paula Cunha, Ana Paula Alves Lorenzo, Daniele Giorgio de Aguiar, Lílian Prates Behring ......................................... 46 ATUALIZAÇÃO O paciente e seus direitos: conhecimento das leis que os asseguram, Avanilde Paes Miranda ....... 53 Desenvolvimento do Programa Saúde da Família no Brasil, Bianca Lísi Gradaschi da Costa .......... 65 RESUMOS DE TRABALHOS E CONGRESSOS ............................................................. 68 NORMAS DE PUBLICAÇÃO .......................................................................................... 72 CALENDÁRIO DE EVENTOS .......................................................................................... 74 EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) EDITOR CIENTÍFICO - PRESIDENTE DO CONSELHO CIENTÍFICO (2003-2004) Pro fa. Dra. Maria da Graça Piva (ULBRA -RS) EDITORIALISTA Gilberto Linhares Teixeira CONSELHO CIENTÍFICO Prof. Dr. Carlos Bezerra de Lima (UFPB – Paraíba) Pro fa. Dra. Clarice Heiko Muramatsu (USP – São Paulo) a a Pro f . Dr . Margarete Rego (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro) Pro fa. Dra. Maria Aparecida de Luca Nascimento (UniRio – Rio de Janeiro) Pro fa. Dra. Maria Helena da Silva Nery (UFRGS – Rio Grande do Sul) Pro fa. Dra. Nebia Maria Almeida de Figueiredo (UniRio – Rio de Janeiro) Pro fa. Dra. Rita Batista Santos (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro) Pro fa. Dra. Rita de Cássia Tapié Martins (USP – São Paulo) Prof. Dr. Sérgio Ribeiro dos Santos (UFPB – Paraíba) Pro fa. Dra. Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler (FAMERP – São José do Rio Preto – São Paulo) GRUPO DE ASSESSORES Pro fa Ms. Andréia Saccol Lourenço (Escola Técnica de Enfermagem São Francisco – Rio Grande do Sul) Pro fa Ms. Dóris Maria Volquind (Clínica de Florais de RAFF – Rio Grande do Sul) Pro fa Ms. Dulce Dirclair Huf (UFMS – Mato Grosso do Sul) a Pro f Ms. Gisele Cristina Tertuliano (Secretária Municipal de Saúde de Cachoerinha – Rio Grande do Sul) Pro fa Ms. Hortência Maria de Santana (COREN – Sergipe) a Pro f Ms. Louize Maria Holtz Santos de Oliveira (COFEN – Sergipe) Pro fa Ms. Sonia Maria Ponciano dos Santos (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro) Pro fa. Ms. Almerinda Moreira (Escola de Enfermagem Alfredo Pinto – UniRio – Rio de Janeiro) Rio de Janeiro Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 Rio de Janeiro RJ Tel/Fax: (21) 2221-4164 / 2517-2749 [email protected] São Paulo Praça Ramos Azevedo, 206/1910 01037-010 - São Paulo - SP Tel: (11) 3361-5595 Assinatura anual (6 números/ano): R$ 108,00 São Paulo: (11) 3361-5595 Rio: (21) 2221-4164/8802-4216 Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Tel/Fax: (21) 2221-4164 Cel: (21) 8802-4215 Publicidade e marketing René Caldeira Delpy Jr. [email protected] (21) 2221-4164 Administração Bárbara de Assis Jorge [email protected] Editoração e Arte Andréa Vichi [email protected] Copy & Revisão Ricardo Augusto da Silva Ferreira [email protected] Gerente Comercial Stevenson Gusmão Machado Representante Assinaturas - SP A.Shalon - (11) 3361-5595 www.atlanticaeditora.com.br [email protected] Atlântica Editora edita as revistas Diabetes Clínica, Fisioterapia Brasil e Nutrição Brasil. Ilustração da capa: Ilustração da capa: Anônimo, Anjo da guarda, séc. XVII, óleo sobre tela, (164 x 112 cm), Igreja de Calamarca, La Paz I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) EDITORIAL O início de um periódico científico Maria da Graça Piva Editorcientífico Chegamos em 2003 com nossa nova revista de Enfermagem. Devemos agradecer a todos os nossos novos leitores, porque que já em sua edição de estréia, Enfermagem Brasil atingiu a marca de 1.200 assinaturas. Conhecemos muito bem como começa uma publicação de sucesso para o meio científico. Os artigos, inicialmente, demoram a chegar ao nosso comitê científico, porém com o reconhecimento da qualidade e seriedade da publicação, mais e mais trabalhos científicos são enviados para a revista. Apenas como paralelo, podemos citar uma outra publicação da Atlantica Editora, a revista Fisioterapia Brasil, que está em seu quarto ano: hoje, o tempo médio para publicação de um artigo nessa revista é de 4 a 6 edições (8 meses a um ano). Enfermagem Brasil caminha na mesma direção. Recebemos artigos de diversas instituições de pesquisa de todo o país, podemos já efetuar uma seleção criteriosa e agendá-los para as edições futuras. A colaboração de quem produz ciência é o meio para se atingir este objetivo. A qualidade do periódico é medida pelos artigos publicados, e estes por sua metodologia e abrangência relativa a nossa realidade, que em produção científica não deixa nada a dever a qualquer outro país. Quanto a esta primeira edição de 2003, trazemos oito trabalhos originais e de revisão, de diversas instituições brasileiras, demonstrando o interesse que a enfermagem tem no crescimento e valorização de sua profissão. Nosso objetivo é de construir, nos próximos meses e anos, uma revista nacional de referência, aberta à todas as especialidades da enfermagem do no país. Por isso, o respeito e o conhecimento das regras de publicação é uma primeira etapa indispensável. As normas de publicação, publicadas no final da revista, e também disponíveis no site da editora, estão consoantes às exigidas pelos órgãos responsáveis pela indexação, o que, se seguido à risca, facilitará em muito a apreciação e aceitação do artigo pelo Comitê Científico da revista. ! EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Artigo original A equipe de enfermagem e os acidentes com material pérfuro-cortante Nursing team and accidents with cutting material El equipo de enfermería y los accidentes con material perforador-cortante Margarida Maria da Silva Xavier*, Rita Batista Santos** *Aluna do 8º período do Curso de Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ, **Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Professora Adjunto do DEMC/EEAN/UFRJ Monografia apresentada à Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessáriosàobtençãodaGraduaçãoemEnfermagem Resumo Os acidentes de trabalho com material pérfuro-cortante ocorridos entre os profissionais da equipe de enfermagem de um Hospital Universitário, no período de 1997 a 2001, foram levantados em relação aos tipos e fatores que influenciaram sua ocorrência. Ressaltou-se a importância do uso de equipamentos de proteção individual, a fim de prevenir aqueles acidentes. Os dados foram coletados através de registros de notificação de acidentes, envolvendo a equipe de enfermagem na Coordenação de Controle de Infecção Hospitalar daquele Hospital Universitário. Os resultados mostraram que a equipe de enfermagem sofre grande número de acidentes com material pérfuro-cortante, e que sua prevalência está entre auxiliares e técnicos. A maioria dos acidentes (86%) ocorreu devido a perfuração com agulha. As circunstâncias que favoreceram esta ocorrência foram: o descuido durante atividade exercida e o reencapamento de agulhas. Apesar da indicação de imunização contra hepatite B para profissionais de saúde, isto não ocorre, havendo prevalência de não vacinação entre enfermeiros. Destacaram a implementação de ações educativas e treinamentos, a fim de reduzir os números de acidentes. Concluiu-se que há uma maior probabilidade da equipe de enfermagem sofrer acidentes, devido ao uso insipiente das normas padrões de precauções para evitá-los, exigindo, assim, intervenções imediatas para corrigir estas falhas. Palavras-chave: Equipe de enfermagem, acidentes de trabalho. Artigo recebido em 7 de setembro de 2002; aceito a 15 de outubro de 2002. Endereço para correspondência: Margarida Maria da Silva Xavier, Rua Walter Lemos Azevedo, 334, Jardim Ulisses, 26010-835 Nova Iguaçu RJ, Email: [email protected] # EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Abstract The occurrences of work accidents with cutting material in nursing team of a University Hospital between the period of the years of 1997 the 2001 had been analyzed in relation to types and influence factors. Importance of individual protection equipment in order to prevent those accidents was standed out. The data had been collected through notification registers of accidents involving the nursing team in the Infection Control Coordination of this University Hospital. The results had shown that the nursing team suffers a lot of accidents with cutting material and larger prevalence between assistant and technician nurses. The majority of the accidents (86%) occurred due perforation with needle and the circumstances that had favored this occurrence were the incautiousness during profissional activity and the recover of needles. Despite of the indication of immunization against hepatitis B for health professionals, vaccination is not usual between nurses. The study detached the implementation of educative and training actions in order to reduce the numbers of accidents. It was also concluded that a larger probability for the nursing team to suffer accidents is the consequence of the ignorance of the standard norms of prevention. Key-words: Nursing team, ocupational accidents. Resumen Los accidentes de trabajo con material perforador-cortante ocurridos entre los profesionales del equipo de enfermería de un Hospital Universitario, en el período de 1997 a 2001, fueron levantados en relación a los tipos y factores que influenciaron su ocurrencia. Fue resaltada la importancia del uso de equipamentos de protección individual, con el fin de prevenir aquellos accidentes. Los datos fueron colectados a través de registros de notificación de accidentes, envolviendo el equipo de enfermería en la Coordenación de Control de Infección Hospitalaria de aquel Hospital Universitario. Los resultados muestran que el equipo de enfermería sufre grande número de accidentes con material perforador -cortante, y que su prevalencia está entre los auxiliares y técnicos. La mayoría de los accidentes (86%), ocurrió debido a la perforación con aguja. Las circunstancias que favorecen esta ocurrencia fueron: el descuido durante la actividad exercida y el envoltorio de agujas. A pesar de la indicación de inmunización contra hepatite B para profesionales de la salud, esto no ocurre, lo que prevalece es la no vacunación entre los enfermeros. Destacaron la implementación de acciones educativas y entrenamientos, con el fin de reducir el número de accidentes. Concluyeron que existe una mayor probabilidad del equipo de enfermería sufrir accidentes, debido al desconocimiento de las normas y padrones de precaución para evitarlos, exigiendo, así, intervenciones inmediatas para corregir estas fallas. Palabras-clave: Equipo de enfermería, accidentes de trabajo. Introdução Acidente é todo acontecimento não programado diferente ao andamento normal do trabalho, do qual poderá resultar dano físico e/ou econômico à equipe de enfermagem. Todo acidente tem uma causa ou causas associadas. Dentre as causas possíveis relacionadas à sua ocorrência entre os membros da equipe de enfermagem, podemos citar: instrução não adequada, supervisão incorreta e/ou inapta, não observância de normas, práticas de trabalho inadequadas, manutenção incorreta, mau uso de equipamento de proteção, entre outros. $ No ambiente hospitalar existe sempre o risco biológico, infeccioso e parasitário, mas que os acidentes e contaminações poderão ser evitados, desde que sejam seguidas as normas de precaução e isolamento. Sabe-se que as principais normas de biossegurança em ambientes hospitalares (enfermarias), são as precauções universais, atualmente designadas de precauções básicas. São medidas de prevenção que devem ser utilizadas na assistência a todos os pacientes, na manipulação de sangue, secreções, excreções, contato com mucosas e pele não íntegra. Isso independe do diagnóstico definido ou presumido de doença infecciosa. Um dos itens mais importantes nas precauções EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) universais são as medidas de controle de inoculações com objetos pérfuro-cortantes contaminados com sangue, secreções e/ou fluidos corpóreos. Tais artigos são classificados como críticos, por apresentarem alto risco de transmissão de infecção, pois entram em contato com fluidos estéreis ou sistema vascular, configurando-se numa grande ameaça ao profissional de enfermagem, caso não sejam manipulados cuidadosamente e desprezados com segurança, já que as luvas não protegem eficazmente de acidentes com inoculações. Os equipamentos de proteção individual são de uso estritamente pessoais, utilizados para prevenir ou minimizar acidentes. Os equipamentos de proteção individual são: luvas, máscaras, gorros, óculos de proteção, capotes e botas. Sua utilização é regulamentada pela portaria 3214 – NR6, do Ministério do Trabalho de 08/06/78, que prevê a distribuição destes equipamentos, competindo à equipe de enfermagem usá-los e conservá-los. Trajetória do estudo O presente estudo iniciou-se a partir da preocupação com o risco de acidente com material pérfuro-cortante, enquanto acadêmica de enfermagem, prestando cuidados integrais aos pacientes portadores de HIV/AIDS, durante estágio supervisionado. O interesse em desenvolver a pesquisa aumentou, quando foi presenciado um acidente num membro da equipe de enfermagem, que suscitou algumas questões. Justificativa A ansiedade vivenciada pelos acadêmicos durante o desenvolvimento de atividades supervisionadas no setor de Doenças InfectoParasitárias (DIP), particularmente no cuidado dos pacientes portadores de HIV/AIDS, alertou para o receio em relação aos procedimentos a serem realizados com aqueles pacientes que envolvessem risco de acidente biológico. Este sentimento aumentou durante estágio de vivência profissional, onde ocorreu um acidente de trabalho com uma auxiliar de enfermagem, que arrumava o leito da unidade de um paciente portador de SIDA, no qual foi esquecida, inadvertidamente, uma agulha contaminada durante manobras de ressuscitação cárdio-pulmonar. A rotina em caso de acidentes biológicos com material pérfuro-cortante foi seguida, sendo a funcionária encaminhada para a Coordenação de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), para a realização de quimioprofilaxia com antiretrovirais. A partir deste episódio, despertei a atenção para a problemática do uso de precauções universais pelos membros da equipe de enfermagem, bem como o de ocorrência dos acidentes com material pérfurocortante, classificados como acidentes do tipo biológico. Tais motivos trouxeram-me o interesse em fazer um estudo que enfocasse os acidentes ocorridos com material perfuro-cortante entre os profissionais de enfermagem, que lidam com paciente HIV/AIDS, uma vez que é importante compreender suas condutas perante estes pacientes. Questões norteadoras O presente estudo apresenta as seguintes questões norteadoras: 1) Como ocorrem os acidentes de trabalho com material pérfuro-cortante?; 2) Quais os fatores que influenciam a ocorrência dos acidentes com material pérfuro-cortante?; 3) Os profissionais fazem uso correto das precauções universais? Objeto de estudo O objeto deste estudo são os acidentes de trabalho com material pérfuro-cortante, ocorridos entre os profissionais da equipe de enfermagem de um hospital universitário no período de janeiro a agosto de 2001. Problemática A problemática deste estudo está relacionada à ocorrência de acidentes de trabalho entre os profissionais de enfermagem de uma unidade hospitalar, registrados na Comissão de Controle de Infecção Hospitalar. A partir dos episódios de acidentes com material pérfuro-cortante, nos preocupamos em saber sobre quais circunstâncias ocorrem tais acidentes, e o que o profissional de enfermagem deve atentar para diminuir ou evitar este risco. Objetivos • Identificar os tipos de acidentes com material pérfuro-cortante, que ocorrem com os profissionais de enfermagem, evidenciando como ocorreram e em que circunstâncias; • Analisar estes acidentes de trabalho; % EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) • Ressaltar a importância do uso de EPIs para prevenção de acidentes com material pérfuro-cortante. Contribuições do estudo O estudo contribuiu para a informação dos futuros e atuais profissionais da área de enfermagem, sendo uma fonte de conhecimento e estímulo à reflexão sobre a importância do uso adequado de precaução padrão, a fim de evitar acidentes. Também oferece material estatístico sobre a ocorrência de acidentes com material biológico, auxiliando os profissionais na adoção da conduta correta para evitar acidentes, assim como o que fazer caso eles ocorram. Além disso, fornece dados e conceitos importantes para o desenvolvimento de pesquisas nesta linha investigatória. Revisão crítica da literatura Para garantir um local seguro ao trabalho da equipe de enfermagem, são implementadas medidas que favoreçam a biossegurança. Segundo Costa [6], biossegurança compreende um conjunto de medidas técnicas administrativas, educacionais, médicas e psicológicas, empregadas para prevenir acidentes em ambientes biotecnológicos. As medidas estão divididas em: 1) Técnicas: que consistem em programas de prevenção de acidentes, programas de garantia de qualidade e controle de qualidade de insumos; 2) Administrativas: que compreendem a estrutura organizacional, organização e métodos e sistemas de documentação e informação; 3) Educacionais: que se baseia em treinamento individual e coletivo, programas de educação básica e programas de motivação; e 4) Médicas: incluem exames periódicos e avaliação do desenvolvimento. A norma regulamentadora 7 (NR7) estabelece que todos os empregadores e instituições que empregam, têm a obrigatoriedade da elaboração e implementação do programa de controle médico de saúde ocupacional (PCMSO), que tem como objetivo a promoção e preservação da saúde de seus trabalhadores. O PCMSO deverá ter caráter de prevenção, através do rastreamento e diagnóstico precoce, dos problemas que relacionam a saúde com o trabalho. Os acidentes de trabalho com sangue e outros fluidos devem ser tratados como casos de emergência, isto porque a profilaxia para intervenção da infecção pelo HIV e hepatite B, deve ser iniciada imediatamente após o acidente. & As medidas profiláticas pós-exposição não devem ser consideradas totalmente eficazes. É importante dar ênfase às ações educativas permanentes, para que os profissionais de saúde adquiram o hábito de usar as precauções universais, assim como se conscientizem da necessidade de utilizálas de forma correta. E, assim, tornar esta medida eficaz, em ambiente ocupacional, para a redução do risco de infecção pelo HIV ou hepatite. As precauções universais são as medidas de prevenção que devem ser utilizadas na assistência a todos os pacientes (o quadro 1 mostra as indicações para o uso dos EPIs), quando há manipulação de sangue, secreções e excreções, além de contato com mucosas e pele não íntegra. Estas medidas devem ser tomadas independente do diagnóstico definido ou suspeita de doença infecciosa. Entre estas medidas está a utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), que visam reduzir a exposição do profissional ao sangue ou fluidos corpóreos, além dos cuidados recomendados para a utilização e descarte de materiais pérfuro-cortantes, contaminados por material orgânico. Os equipamentos de proteção individual são: luvas, máscaras, gorros, óculos de proteção, capotes e botas. • As luvas são utilizadas sempre que houver a possibilidade de contato com sangue, secreções e excreções, com mucosas ou com áreas de pele não íntegra (ferimentos, escaras, e feridas cirúrgicas e outros). • Máscaras, gorros e óculos de proteção serão utilizados em procedimentos em que exista a possibilidade de respingo de sangue e outros fluidos corpóreos, nas mucosas da boca, nariz e olhos do profissional. •Capotes são utilizados durante os procedimentos com possibilidade de contato com material biológico, inclusive em superfícies contaminadas. • As botas são utilizadas para proteção dos pés em locais úmidos ou com quantidade significativa de material infectante (centros cirúrgicos, áreas de necropsia e outros). Durante a realização de procedimentos que envolvam a utilização de material pérfuro-cortante recomenda-se: • Máxima atenção durante a realização dos procedimentos; • Jamais utilizar o dedo como anteparo durante a realização de procedimentos que envolvam materiais pérfuro-cortantes; EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Quadro 1 - Indicações para o uso de equipamentos de proteção individual (EPI) nas precauções básicas de biossegurança. Procedimento Lavar as mãos Luvas Capote Máscara e óculos de proteção Exame de paciente sem contato com sangue, fluidos corporais, mucosas ou pele não-íntegra; X - - - Exame de paciente, incluindo contato com sangue, fluidos corporais, mucosas ou pele não-íntegra; X X (*) - Coleta de exames de sangue, urina e fezes; X X - - Realização de curativos X X (*) (**) Aplicações parenterais de medicações X X - (**) Punção ou dissecção venosa profunda X X X X Aspiração de vias aéreas e entubação traqueal X X X X Endoscopia, broncoscopias X X X X Procedimentos dentários X X X X Procedimentos com possibilidade de respingos de sangue e secreções X X X X (*) A utilização de capotes está indicada durante os procedimentos em que haja possibilidade de contato com material biológico, como na realização de curativos de grande porte, em que haja maior risco de exposição ao profissional, como grandes feridas cirúrgicas, queimaduras graves e escara de decúbito. (**) O uso de óculos de proteção está recomendado somente durante os procedimentos em que haja possibilidade de respingo ou para aplicação de medicamentos quimioterápicos. Fonte: Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Coordenação Nacional de DST e AIDS. Manual de condutas em exposição ocupacional a material biológico. • As agulhas não devem ser reencapadas, entortadas, quebradas ou retiradas da seringa com as mãos. Não utilizar agulhas para fixar papéis; • Todo material pérfuro-cortante, mesmo que estéril, deve ser desprezado em recipientes resistentes à perfuração e com tampa; • Os recipientes específicos para descarte de material não devem ser preenchidos acima do limite de 2/3 de sua capacidade total e devem ser colocados sempre próximos do local onde é realizado o procedimento. Em caso de exposição a material biológico, recomenda-se cuidados locais na área exposta, imunização contra tétano e medidas de quimioprofilaxia e acompanhamento sorológico para HIV e hepatite. Em caso de exposição percutânea recomendase a lavagem exaustiva com água e sabão na área exposta. Após a exposição em mucosa, recomendase lavagem exaustiva com água ou solução fisiológica. São contra-indicados procedimentos que aumentem a área exposta e o uso de soluções irritantes como éter, hipoclorito ou glutaraldeído. Com relação às medidas de quimioprofilaxia (ver no quadro 2 os medicamentos utilizados), a indicação do uso de antiretrovirais dependerá de uma avaliação criteriosa do risco de transmissão do HIV, o que dependerá do volume de sangue e da quantidade de vírus presente no acidente. Os acidentes de maior gravidade são aqueles em que há grande volume de sangue envolvido, entre eles podem ser citados: lesões profundas provocadas por material pérfuro-cortante, presença visível no dispositivo invasivo, acidentes com agulhas previamente utilizadas em veia de pacientefonte e os acidentes envolvendo paciente-fonte com Aids, em estágios avançados da doença ou com infecção aguda pelo HIV. Quando há indicação de quimioprofilaxia para HIV, trabalhos de acompanhamento de soro conversão, mostram que deverá ser iniciada dentro de 1 a 2 horas após o acidente, e terá duração de 4 semanas. Quando a sorologia do paciente fonte é desconhecida, decide-se pela probabilidade da transmissão, que está relacionada à gravidade do acidente e a possibilidade de infecção pelo HIV. É recomendada a realização de testes rápidos para detecção de anticorpos anti HIV. Estes testes produzem resultados em 30 minutos, quando não há liberação ágil (dentro de 24-48 horas) de resultados de testes anti HIV ELISA, com a finalidade de evitar o início ou a manutenção desnecessária da quimioprofilaxia. ' EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Quadro 2 - Medicamentos utilizados na quimioprofilaxia após exposição ocupacional. Medicamento Efeitos adversos Interações zidovudina (AZT)Cápsula 100mgDose: 300mg 2x/diaou 200mg 3x/dia Anemia, neutropenia, leucopenia, plaquetopenia, náuseas, vômitos, astenia, mal estar geral, cefaléia, miopatia, insônia, pigmentação ungueal e de mucosas, alteração das provas hepáticas, hepatite. Ganciclovir, anfotericina B, flucitocina, SMX-TMP, dapsona, pirimetamina, citostáticos, sulfadiasina (maior risco de toxidade hematológica). Monitorar anemia e neutropenia.Probenecida, fluconazol, paracetamol (aumento nos níveis séricos do AZT). Monitorar toxidade do AZT.Estavudina e ribavirina (potencial para redução da atividade anti-retroviral). Evitar uso concomitante. lamivudina (3TC) comprimidos de 150mgDose: 150mg 2x/dia Pancreatite, diarréia, dor abdominal, anemia, neutropenia. Sulfametoxazol + trimetoprima (aumenta biodisponibilidade de 3TC). Não há necessidade de ajuste de dose.Estavudina (potencial antagonismo).Evitar uso concomitante. indinavir (IDV)Cápsula 400mgDose: 800mg 8/8h, com estômago vazio ou com alimentos com baixo teor de gordura (ingerir diariamente 1,5 litros ou mais de líquidos para evitar o aparecimento de nefrolitíase) Nefrolitíase, hematúria, cefaléia, insônia, náusea, vômitos, astenia, fadiga, distúrbios do paladar, pele e boca secas, dor abdominal, trombocitopenia, hiperbilirrubinemia indireta assintomática, aumento de triglicerídeos, hipercolesterolemia, hiperglicemia e diabetes. O indinavir não deve ser coadministrado com: rifampicina, astemizol, terfenadina, cisaprida, ergotamina e diidroergotamina, midazolam ou triazolam.Rifabutina (diminui níveis séricos de indinavir e o indinaviraumenta os níveis séricos de rifabutina).Cetoconazol e itraconazol (aumenta níveis séricos de indinavir). Considerar a redução da dose do indinavir para 600mg 8/8h.Didanosina (diminui absorção de IDV). Administrar com intervalomínimo de l hora. Delavirdina (aumenta níveis séricos de IDV). Considerar a redução da dose de indinavirpara 600mg 8/8h. Nevirapina (diminui níveis séricos de IDV). Não há necessidade de ajuste de doses. nelfinavir (NFV)Comprimido 250mg Dose: 750mg 3x/dia, com alimento Diarréia (efeito mais freqüente), exantema, flatulência, náusea, dor muscular, fraqueza, aumento de triglicerídeos, hipercolesterolemia, hiperglicemia e diabetes. O nelfinavir não deve ser coadministrado com: rifampicina, fenobarbital, fenitoína, carbamazepina, ergotamina, diidroergotamina, astemizol, terfenadina, cisaprida, midazolam ou triazolam.Rifabutina (diminui níveis séricos de nelfinavir e o nelfinavir aumenta níveis séricos de rifabutina).Bloqueadores de cálcio(possibilidade de aumento dos níveis séricos dos bloqueadores).Monitorar toxicidade. Saquinavir (aumenta níveis séricos de SQV). Não há necessidade de ajuste de doses.Nevirapina (diminui níveis séricos de NFV). Não há necessidade de ajuste de doses.Atenção Etilinestradiol e noretindrona (diminui níveis séricos dos hormônios). Usar método contraceptivo alternativo ou adicional. Fonte: Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde.Coordenação Nacional de DST e AIDS. Manual de condutas em exposição ocupacional a material biológico. EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Os resultados de testes rápidos não são definitivos para diagnóstico da infecção do pacientefonte, que somente deverá receber o resultado final de sua sorologia após a realização de testes anti HIV por metodologia ELISA [3]. A quimioprofilaxia para HIV deve seguir uma avaliação criteriosa do risco de transmissão do vírus, em função do tipo de acidente ocorrido e a toxicidade dessas medicações (quadro 2). A gravidade do acidente com pérfuro-cortante e o risco de infecção são dependentes do volume de sangue e da quantidade de vírus presente. Os mais graves são aqueles que envolvem maior volume de sangue e com carga viral mais alta. A medida principal de prevenção para hepatite B é a vacinação, que deve ser indicada para todos profissionais de saúde. É uma vacina de grande eficácia, não apresentando toxicidade e com raros efeitos colaterais. Segundo o Ministério da Saúde, o intervalo entre as doses independe da gravidade do acidente, devendo ser de zero, 1 e 6 meses. A instituição de saúde que oferece um programa periódico de vacinação, deve resguardar-se legalmente dos eventuais casos de não aderência à imunização, solicitando a assinatura de termo de responsabilidade pelo funcionário em questão. Após os programas de vacinações contra hepatite B, a equipe de saúde deve ser intensivamente educada, treinada e cobrada quanto às recomendações de precauções universais, eliminando, assim, a falsa sensação de segurança ocasionada pela vacina. São estabelecidas também, normas para profissionais de saúde que se acidentem em seu percurso profissional dentro da unidade. Estas são preconizadas pela própria Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) da instituição, que se baseia em normas protocolizadas pela OMS. Tais medidas são: 1. Fazer assepsia com água e sabão sobre a lesão*; 2. Procurar imediatamente a CCIH ou Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH), o setor de medicina do trabalho e/ou setor de pronto atendimento; comunicar a exposição acidental ao setor de pessoal em até 24 horas para preenchimento do Comunicado de Acidentes de Trabalho (CAT). Em caso de exposição à material biológico, recomenda-se cuidados locais na área exposta, imunização contra tétano e medidas de quimioprofilaxia e acompanhamento sorológico para HIV e hepatite. Para saber a existência da necessidade de se iniciar a quimioprofilaxia, é necessário solicitar o teste anti HIV do paciente-fonte, esclarecendo-o quanto ao teste e resultados. Metodologia Este é um estudo de caráter descritivo e exploratório, que procurou levantar aspectos quantitativos com interesse de identificar a ocorrência de acidentes com material biológico dentro da equipe de enfermagem de um hospital universitário. Assim como analisar os fatores que interferem para a ocorrência dos acidentes, a partir de uma revisão de literatura sobre o tema. De acordo com a regulamentação para pesquisas em seres humanos, estabelecida pelo Ministério da Saúde através da Portaria 196/96, depois de elaborado o Projeto de Monografia, foi encaminhado à Comissão de Controle de Infecção Hospitalar, que emitiu parecer favorável e indicou a realização do estudo. A coleta de dados foi realizada através de registros de notificação de acidentes com material pérfuro-cortante, envolvendo profissionais de enfermagem, pertencente a Coordenação de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) de um hospital universitário, entre os anos de 1997 a 2001 no município do Rio de Janeiro. Os dados quantitativos referem-se aos itens encontrados nos registros da CCIH, a partir do software PSBIO, com dados/cadastro dos profissionais de saúde em exposição a sangue ou fluidos corporais, e a patógenos de transmissão sangüínea. Estes dados possuem informações do profissional de saúde, tais como: dados pessoais, dados profissionais, imunizações, resultado de testes sorológicos, estado imunológico para doenças imunopreviníveis, alergias, condições pré-existentes. Informações a respeito da exposição com: data e horário da exposição e da notificação, local de ocorrência do acidente, tipo de exposição, informações sobre o paciente-fonte, acompanhamento do profissional de saúde, dados a serem preenchidos em relação ao tipo de exposição (percutânea, mucosa, cutânea e mordedura). Além de testes sorológicos do profissional de saúde, profilaxia anti-retroviral após exposição e um formulário de acompanhamento após * Em exposição percutânea ou cutânea recomenda-se lavagem com água e sabão; em exposição de mucosas recomenda-se lavagem exaustiva com água ou solução fisiológica. EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) exposição a sangue e fluidos corporais. Estes dados foram discutidos com respaldados nos achados de pesquisas ou da literatura sobre os acidentes com material pérfuro-cortante entre os membros da equipe de enfermagem e suas conseqüências. A análise e organização dos dados foi realizada em percentual simples e elaboração de gráficos com ilustração da magnitude dos acidentes com material pérfuro-cortante entre os membros da equipe de enfermagem, em relação ao universo de acidentes ocorridos no hospital universitário, evidenciando um maior número de acidentes na equipe de enfermagem (52%), principalmente entre técnicos e auxiliares (ver gráfico 2). Os dados foram analisados, procurando evidenciar as relações existentes entre os acidentes com material biológico nos membros da equipe de enfermagem e a conduta deles diante do procedimento padrão; e interpretados procurando vincular o conhecimento teórico aos dados obtidos, a fim de expor seus significados. A apresentação dos resultados consistiu num relatório de pesquisa, para cumprir com um requisito de avaliação, uma monografia de conclusão do curso de graduação em enfermagem. A análise constitui a parte principal desta pesquisa, fase em que os dados obtidos proporcionaram respostas, evidenciando as relações existentes entre os acidentes com material pérfurocortante nos membros da equipe de enfermagem e outros membros da equipe de saúde, além de fatores envolvidos naqueles acidentes com a equipe. Este é o momento de reunir a teoria com os dados proporcionados pelos registros de notificações de acidentes ocupacionais pertencentes à Coordenação de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH/HUCFF/ UFRJ) que envolvem os sujeitos da pesquisa. Esta discussão teórica não é apenas a soma de citações dos autores, mas um diálogo com suas principais idéias. O trabalho de enfermagem é realizado por uma equipe formada por enfermeiros (profissionais que têm formação superior), técnicos de enfermagem (com formação técnica após completar o segundo grau) e auxiliares de enfermagem (com curso específico após completar o primeiro grau). Sendo que o trabalho de enfermagem dividi-se em: cuidados e procedimentos assistenciais, realizado por toda a equipe, mas na maioria das vezes realizados por técnicos e auxiliares e o da administração da assistência de enfermagem, exclusivo aos enfermeiros. 706 foi o total de acidentes com material pérfurocortante no período que compreende os anos de 1997 a 2001, dos quais 30% ocorreram com a enfermagem nível médio e 5% com enfermeiros, conforme demonstra o gráfico 1. As exposições ocupacionais prevalecem entre os profissionais do nível médio, por serem responsáveis pelo cuidado direto do paciente/cliente em toda sua integridade. Estatisticamente a enfermagem é uma das principais categorias profissionais com vulnerabilidade aumentada à exposição ocupacional, devido ser o maior grupo em serviço de saúde, ter mais contato direto na assistência aos pacientes e pela quantidade Gráfico 1 - Acidentes notificados segundo categoria profissional, nos anos de 1997 a 2001. Gráfico 2 - Profissionais de saúde envolvidos em exposição ocupacional de janeiro à agosto de 2001. Fonte: Comissão de Controle de Infecção Hospitalar/ HUCFF/UFRJ. Fonte: Comissão de Controle de Infecção Hospitalar/ HUCFF/UFRJ. Resultados: análise e discussão EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Gráfico 4 - Proporção de acidentes por reencapamento de agulhas de serviços que estes profissionais realizam. no período dos anos de 1997 a 2001. Do total das exposições ocupacionais ocorridas no período de janeiro a agosto de 2001; 41% aconteceram com auxiliares e técnicos de enfermagem e 11% com estagiários de enfermagem, somando um total de 52% (gráfico 2). O enfermeiro, enquanto administrador da equipe de enfermagem e detentor de conhecimento científico, deve implementar ações educativas com a finalidade de demonstrar os altos números de acidentes que envolvem as ações deste profissional, além de desenvolver treinamentos, enfatizando sempre a importância e a necessidade do uso correto de precauções universais. E a partir destas Fonte: Comissão de Controle de Infecção Hospitalar/HUCFF/UFRJ. ações, tentar eliminar e/ou reduzir os altos Procedimentos como a retirada de sangue ou índices de ocorrência dos acidentes. punção venosa periférica, são considerados como O ambiente hospitalar freqüentemente expõe o de alto risco para exposição ocupacional. Esta pessoal da saúde aos agentes nocivos à saúde, o risco situação pode ocorrer devido à movimentação do biológico é facilmente encontrado entre os paciente durante o procedimento, no momento em trabalhadores de enfermagem, por força da natureza que as agulhas são descartadas nos coletores ou em do seu trabalho. Conforme demonstra o gráfico 3, a caso de colocação inadvertida de agulhas maioria dos acidentes ocorreram devido a perfuração desprotegidas, em locais como a cama (motivo que com agulha (86%). justifica a realização deste estudo), o colchão ou no chão. Muita das vezes a exposição ocorre após a Gráfico 3 - Tipos de acidentes ocorridos com profissionais de saúde no período de janeiro à agosto de 2001 realização do procedimento. Neste caso, o intervalo de tempo entre a retirada da agulha da veia do paciente até seu descarte em coletor é proporcional ao risco de exposição. No período dos anos de 1997 a 2001, entre os acidentes ocorridos devido reencapamento de agulhas com os profissionais da área de saúde, 5,43% foram com enfermeiros; 40,22% com a enfermagem de nível médio, 54,35% com as demais categorias. No ano de 1997 não foram notificados acidentes com enfermagem nível médio e enfermeiros. Em 1998 não foram notificados acidentes com enfermeiros e outras categorias, conforme registro no gráfico 4. Sem terem sido notificados, não Fonte: Comissão de Controle de Infecção Hospitalar/ significa que não ocorreram acidentes. HUCFF/UFRJ. Estudos mostram que o reencapamento de agulhas é uma prática incorreta, mas que é feita por causa do medo de acidentes em função da agulha Durante a realização de procedimentos que exposta, devido a muitas tarefas a serem realizadas e envolvam a utilização de material pérfuro-cortante, é a idéia errada de que esta atitude irá proteger o importante ressaltar aos profissionais de saúde, que profissional e a coletividade. eles devem estar atentos às seguintes recomendações Afim de minimizar este tipo de ocorrência, os do Ministério da Saúde: máxima atenção durante a profissionais devem estar atentos ao que é realização dos procedimentos; jamais utilizar o dedo preconizado pelo Ministério da Saúde, em caso de como anteparo durante a realização de procedimentos manipulação de material pérfuro-cortante: as agulhas que envolvam materiais pérfuro-cortantes; não utilizar não devem ser reencapadas, entortadas, quebradas agulhas para fixar papéis. ! EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) ou retiradas da seringa com as mãos e que todo material pérfuro-cortante, mesmo que estéril, deve ser desprezado em recipientes resistentes à perfuração e com tampa; os recipientes específicos para descarte de material não devem ser preenchidos acima do limite de 2/3 de sua capacidade total e devem ser colocados sempre próximos do local onde é realizado o procedimento. Das exposições ocupacionais, 73% ocorrem devido o descuido durante atividade exercida e 20% devido o reencapamento de agulhas, como observado no gráfico 5. Com a identificação destes fatores responsáveis pela ocorrência de situações que possibilitam maior risco de exposição, é possível a implementação de medidas de prevenção. Sendo assim, é importante dar ênfase às ações educativas permanentes, a fim de corrigir estas ocorrências, para que os profissionais de saúde, em especial os sujeitos do estudo, adquiram o hábito de usar as precauções universais. Assim como, conscientizem-se da necessidade de utilizá-las de forma correta e, desta maneira, transformá-las em medidas eficazes para a redução do risco. Segundo o Ministério da Saúde, as precauções universais devem ser utilizadas na assistência a todos os pacientes quando há manipulação de sangue, secreções, excreções e contato com mucosas e pele não íntegra. Estas medidas devem ser tomadas independentes de diagnóstico definido ou suspeita de doença infecciosa. Gráfico 5 - Circunstâncias que determinam a ocorrência de acidentes com profissionais de saúde ocorridas no período de janeiro a agosto de 2001. Fonte: Comissão de Controle de Infecção Hospitalar/ HUCFF/UFRJ. Entre estas medidas estão a utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) que visam reduzir a exposição do profissional a sangue ou fluidos corpóreos, e os cuidados recomendados para a utilização e descarte de materiais pérfuro-cortante contaminados por material orgânico (cuidados citados anteriormente durante análise do gráfico 3). Desta " forma os profissionais de enfermagem devem ser orientados para a importância do uso dos equipamentos de proteção individual. Para estimular o uso de luvas, é importante alertar que elas devem ser utilizadas sempre que houver a possibilidade de contato com sangue, secreções e excreções, com mucosas ou com áreas de pele não íntegra (ferimentos, escaras, e feridas cirúrgicas e outros). O profissional de saúde deve ter sempre em mente que existe a possibilidade de contaminação através de respingo de sangue e outros fluidos corpóreos, nas mucosas da boca, nariz e olhos dos pacientes, sendo necessário a utilização de máscaras, gorros e óculos de proteção. Quando existir a possibilidade de contato com material biológico, os capotes devem ser utilizados, inclusive em caso de superfícies contaminadas. Em locais úmidos ou com quantidade significativa de material infectante (centros cirúrgicos, áreas de necropsia e outros), os profissionais de saúde devem fazer uso de botas, a fim de proteger os pés. Todas estas recomendações poderão ser feitas utilizando recursos audiovisuais e jogos educativos (gincanas), com a finalidade de facilitar a apreensão e motivar seu uso correto. O uso das medidas de prevenção devem ser seguidos, a fim de minimizar os riscos de acidentes que existem dentro do ambiente hospitalar. Mas em caso de ocorrência dos mesmos, envolvendo sangue e outros fluidos, devido a grande variedade de doenças que podem ser transmitidas, o tratamento deve ser de emergência, isto porque a profilaxia para intervenção da infecção pelo HIV e hepatite B deve ser iniciada imediatamente após o acidente para sua melhor eficácia. Dentre as exposições ocupacionais ocorridas com profissionais da área de saúde, a maioria é resultado de manipulação inadequada de agulhas e instrumentos cortantes. Um dos grandes problemas das picadas de agulhas, é o fato de serem negligenciadas, e por este motivo não serem socorridas ou registradas como acidente de trabalho. É interessante informar a esses profissionais, que se ocorrer exposição a material biológico recomenda-se cuidados locais com a área afetada, imunização para tétano e medidas de quimioprofilaxia e acompanhamento sorológico para HIV e hepatite (quadro 2). A hepatite B pode ser prevenida de forma simples por meio de vacinação e é indicada a todos os profissionais da área de saúde. Apesar de todas as recomendações aos profissionais de saúde, observa-se, com os resultados EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Gráfico 6 - Proporção de não-vacinados contra hepatite B, segundo categoria profissional. Fonte: Comissão de Controle de Infecção Hospitalar/HUCFF/UFRJ. do gráfico 6, que elas não são seguidas. Segundo o gráfico, existe uma prevalência de enfermeiros não vacinados contra hepatite B em relação à enfermagem de nível médio. Este problema pode ser solucionado através da implantação de campanha de vacinação, além do desenvolvimento de ações educativas a respeito do risco de contaminação e dos benefícios da imunização. Estudos mostram que a AIDS e infecção pelo HIV, são consideradas as maiores preocupações no que se refere ao risco infeccioso no hospital. Os casos de contaminação comprovados, mostram que a equipe de enfermagem representa metade dos casos, seguida pelos profissionais de laboratório. Estes acidentes ocorrem principalmente devido a picada de agulhas, após coleta de sangue ou perfusões do doente. É importante enfatizar aos profissionais de saúde, que para a prevenção contra contaminação pelo HIV, recomenda-se, em caso de exposição percutânea, lavagem exaustiva com água e sabão na área exposta. Após a exposição em mucosa, recomenda-se lavagem exaustiva com água ou solução fisiológica. São contraindicados procedimentos que aumentem a área exposta e o uso de soluções irritantes como éter, hipoclorito ou glutaraldeído. O profissional de saúde deve ser orientado para em caso de ocorrência do acidente procurar imediatamente o Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH), o setor de medicina do trabalho e/ou setor de pronto atendimento; comunicar a exposição acidental ao setor de pessoal em até 24 horas, para preenchimento do Comunicado de Acidente de Trabalho (CAT). Os antiretrovirais apenas serão indicados após uma avaliação criteriosa do risco de transmissão do HIV, o que dependerá do volume de sangue e da quantidade de vírus presente no acidente. Considerações finais Tendo como objeto os acidentes com material pérfuro-cortante dentro da equipe de enfermagem, foi possível observar durante análise dos dados deste estudo que estes profissionais registram grande número de acidentes com material pérfuro-cortante. É importante ressaltar que há prevalência dos acidentes entre auxiliares e técnicos de enfermagem. Esta suscetibilidade deve-se ao fato destes profissionais terem mais contato direto na assistência aos pacientes, e serem também responsáveis pela maioria dos procedimentos que envolvem material pérfuro-cortante nos serviços de saúde. A partir dos dados obtidos, foi possível, durante a análise e discussão, perceber que a grande parte dos acidentes (86%), ocorreu devido perfuração com agulha, sendo que as circunstâncias que determinam a maioria das ocorrências se dá por meio de descuido durante atividade exercida e reencapamento de agulhas. Isto demonstra que os profissionais de enfermagem não fazem uso correto das normas de precaução padrão para evitar acidentes, fazendo-se necessária uma intervenção imediata para corrigir estas falhas. O estudo mostra ainda, que apesar de haver a indicação de vacinação contra hepatite B para todos os profissionais de saúde como forma de prevenção, isto não ocorre, havendo uma prevalência entre enfermeiros não vacinados. Devido à variedade de doenças infecciosas que podem ser transmitidas através do sangue, estes acidentes podem ter sérias complicações a partir do ferimento inicial. Como existe uma maior probabilidade da equipe de enfermagem sofrer exposição ocupacional, observa-se o quanto é importante implementar ações educativas para esta categoria profissional, com a finalidade de demonstrar os altos números de acidentes que envolvem suas ações, a fim de mostrar que o risco de ocorrer acidentes é real e que eles podem ser prevenidos, desde que as normas de segurança sejam seguidas. Portanto, é imprescindível que sejam desenvolvidos treinamentos para os enfermeiros, sempre enfatizando a importância e a necessidade do uso das precauções universais para minimizar os riscos destes acidentes. A partir destes resultados, a enfermeira, enquanto administradora e detentora de conhecimento científico, poderá desenvolver estas ações, devendo fazer a supervisão da conduta de sua equipe, durante a realização de procedimentos e, desta # EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) forma, ser capaz de avaliá-la de forma correta; para a partir destas ações tornar possível eliminar e/ou reduzir os altos índices de ocorrência dos acidentes dentro da equipe. Com os resultados obtidos a partir deste estudo, sugerimos que seja realizada uma pesquisa, com a finalidade de acompanhar as ações desenvolvidas pela enfermeira, com a intenção de diminuir o número de acidentes. E, assim, validar se as recomendações feitas neste estudo são pertinentes. 7. Bibliografia 13. 8. 9. 10. 11. 12. 14. 1. 2. 3. 4. 5. 6. $ Abreu AMM. Acidentes de trabalho com a equipe de enfermagem no setor de emergência de um hospital municipal do Rio de Janeiro [Tese]. 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EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Artigo original Intervenções do enfermeiro nas úlceras de pressão não infectadas em pacientes hospitalizados Nurses interventions in the treatment of pressure ulcers not infected, in hospitalized patients Intervenciones de los enfermeros en el tratamiento de las úlceras de presión no infectadas en pacientes internados Aspásia Basile Gesteira Souza*, Fabiana da Silva**, Fernanda di Venere**, Flúvia Mara Casam**, Lílian de Olinda Giannoccaro**, Patrícia Corrêa Lacerda** *MestreemEnfermagem,ProfessoradasdisciplinasdeSemiologiaeSemiotécnicadaUniversidadeCidadedeSãoPaulo(UNICID)eSaúdeda Criança, Faculdade Santa Marcelina (FASM), **Graduandas do 2º ano de Enfermagem, UNICID (Universidade Cidade de São Paulo) Resumo Este estudo utilizou a pesquisa de abordagem quantitativa, descritiva e exploratória para conhecer as intervenções dos enfermeiros no tratamento das úlceras de pressão não infectadas, em pacientes hospitalizados. Os dados foram coletados através de formulário, com 31 enfermeiros participantes. Os principais resultados mostraram, que a maioria dos entrevistados utiliza a mudança de decúbito como intervenção geral e, como medida curativa, a irrigação da lesão com soro fisiológico 0,9% . Algumas condutas foram classificadas como em desacordo com a literatura. Palavras-chave: Úlcera de decúbito, cuidados de enfermagem. )>IJH=?J This study used the research of quantitative, descriptive and exploratory approach to know the nurses’ interventions in the treatment of pressure ulcers, in hospitalized patients. The data had been collected trough a form with 31 participant nurses. The main results had shown that the interviewed majority use the change of decubitus, as a general intervention and already as a measurements’ curative the irrigation of the injury with physiological serum 0,9%. Some conducts had been classified as in disagreement with the literature. Key-words: Decubitus ulcer, ulcer of decubitus, nursing care. Artigo recebido em 9 de dezembro de 2002; aceito em 15 de janeiro de 2003. Endereço para correspondência: Aspásia Basile Gesteira Souza, Rua Cesáreo Galeno, 448 bloco alfa 6o andar Tatuapé São Paulo SP, Tel: (11) 6190-1341, E-mail: [email protected] % EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Resumen Este estudio utilizó la pesquisa de abordage cuantitativa, descritiva y explorativa para conocer las intervenciones de los enfermeros en el tratamiento de las úlceras de presión en pacientes internados. Los datos fueron colectados atraves de formulários com 31 enfermeros participantes. Los principales resultados han mostrado que la mayoria de los entrevistados utilizan el cámbio de decubito, como intervención general e como medida curativa la irrigación de la lesión con suero fisiológico 0,9%. Algunas conductas fueron clasificadas como en desacuerdo con la literatura. Palabras-chave: Úlcera por decubito, cuidad de enfermería. Introdução A pele é o tecido que envolve todo o corpo e o defende contra a entrada de germes ou substâncias prejudiciais para o organismo, sendo, assim, indispensável à vida. É constituída por três camadas: epiderme, derme (cório) e hipoderme (tecido celular subcutâneo) [1,2]. Entre as importantes funções deste tecido, destacam [3]: revestimento, regulação da temperatura corporal, contato com o meio ambiente, isolamento do corpo, reserva alimentar, secreção de gordura, recebimento de sensações nervosas, colaboração na produção de vitamina D. Refletindo, de maneira acentuada, muitas das modificações sofridas pelo organismo, além de atuar como proteção contra a ação de radiações ultravioleta através da melanina, servindo, também, como meio para a administração percutânea de medicamentos, por sua capacidade de absorção [4]. Entre as características avaliadas no exame físico tegumentar, destacam-se a inspeção e palpação, buscando dados, como ressaltam Porto, Potter e Perry [4,5] sobre: coloração, destacando-se presença de palidez, hiperemia e cianose; continuidade ou integridade; umidade, atentando-se para ressecamento ou sudorese; textura; espessura; temperatura; elasticidade; mobilidade; turgor, traduzindo o seu grau de hidratação; sensibilidade; lesões elementares presentes como nos processos inflamatórios, degenerativos, circulatórios, neoplásicos, etc. Dentre as inúmeras alterações que podem acometer à pele, destacamos a úlcera de pressão, por ser um evento relativamente freqüente na prática do cuidado de enfermagem, e sua prevenção baseada em avaliações e intervenções apropriadas, apoiadas no diagnóstico de enfermagem. Úlcera de pressão, ferida ou úlcera de decúbito, escara ou ferida de confinamento ao leito, são termos & usados para descrever uma integridade da pele diminuída ou solução de continuidade [5]. Os primeiros sinais aparecem, em geral, nas regiões de proeminências ósseas com um pequeno eritema, que se não detectado precocemente, evolui para formação de vesículas que necrosam [6]. Caso a área não seja protegida, tendem a aumentar de tamanho, principalmente se não for diminuída a pressão pela mudança de posição. Se não devidamente tratada, a úlcera de pressão pode evoluir para uma infecção local ou até para uma infecção óssea. As úlceras de pressão são graduadas em estágios I, II, III e IV para classificar o grau de danos observados nos tecidos [6,7]. Estágio I - é um eritema da pele intacta, que pode ser macio ou firme e não embranquece após a remoção da pressão. Em indivíduos com a pele mais escura, a descoloração da pele, o calor, o edema ou o endurecimento, também podem ser indicadores de danos. Pode ser dolorosa e sua borda pode ser irregular; Estágio II - é uma perda parcial da pele envolvendo a epiderme, derme ou ambas. A úlcera é superficial e apresenta-se como um abrasão, bolha ou uma cratera rasa; Estágio III - é uma perda da pele na sua espessura total, envolvendo danos ou uma necrose do tecido subcutâneo, que pode se aprofundar, não chegando até a fáscia muscular; Estágio IV - é uma perda da pele na sua total espessura com uma extensa destruição ou necrose dos músculos, ossos ou estruturas de suporte, como tendões ou cápsulas das juntas. As úlceras de pressão são um problema constante nos locais de cuidado agudo e de recuperação [5], aumentando o tempo de permanência no hospital e o custo geral do cuidado de saúde. Diversos fatores contribuem para o seu desenvolvimento, tais como: diminuição no EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) recebimento sensorial, especialmente da dor; diminuição da função motora; alteração no nível de consciência; uso de gesso, tração ou equipamentos ortopédicos; umidade; desnutrição; anemia; infecção; febre; circulação periférica diminuída; obesidade e idade. Estas úlceras ocorrem como resultado da relação tempo-pressão [5]: quanto maior a pressão e a sua duração, maior a incidência na formação da úlcera. Como métodos para a prevenção de úlcera de pressão, alguns cuidados podem ser adotados: manutenção da pele limpa evitando água quente e o uso de sabão neutro; manutenção da pele hidratada; evitar massagens nas regiões de proeminências ósseas em presença de hiperemia, manchas roxas ou bolhas; complementação alimentar para suprir os déficits nutricionais; evitar o atrito corporal; proteção de proeminências ósseas com equipamentos apropriados; almofada de ar, água ou gel; uso de colchão de ar ou colchão d’água; exame freqüente da pele [5,8]. Diversos tratamentos vêm sendo propostos nas últimas décadas. Ressaltamos, contudo, as seguintes condutas: uso de agentes de limpeza, incluindo, soro fisiológico, indicado para todas as feridas; peróxido de hidrogênio, que promove a remoção de resíduos e bactérias da ferida; iodo povidina, eficaz contra bactérias, fungos e vírus; hipoclorito de sódio, controla o odor e auxilia a remoção dos tecidos necrosados; ácido acético, empregado em feridas infectadas com pseudomonas (todos os agentes devem ser utilizados de forma adequada e segura, pois promovem áreas que destroem macrófagos e fibroblastos); desbridamento, podendo ser cirúrgico, químico ou mecânico; medicamentos tópicos, antimicrobianos, anti-sépticos e antibióticos, que podem ser usados em forma de creme, ungüento, solução ou spray; e absorventes de exsudação, gazes umidificadas, gomas copolímeras, dextranúmeros, que agem absorvendo o excesso de exsudação, obliterando espaços mortos, mantendo úmida a superfície da ferida facilitando a cicatrização, pois esses espaços prejudicam o processo, predispondo a formação de abscessos [6]. Entre as intervenções específicas de enfermagem, destacam-se: avaliação geral da pele e da saúde do paciente, estado mental, grau de mobilidade e atividade, nível de percepção sensorial, estado nutricional e fatores agravantes, estados de predisposição à doença, medicação, peso, alergias, idade, restrições alimentares, etc, [5,6,8]. Acreditamos que a úlcera de pressão, além de danos físicos e psicológicos, ao paciente e família, aumentam os custos hospitalares e riscos de infecção, prolongando consideravelmente o tempo de hospitalização [5]. Percebemos a freqüência deste evento e o risco a que os pacientes estão expostos, em apresentar úlceras de pressão de diversos graus . Acreditando ser este um fenômeno previsível e tratável pelo enfermeiro, surgiu o interesse em querer aprofundar-nos nesta questão, tão presente em nossa prática cuidativa profissional. Desta maneira, voltamos nossa atenção para as condutas do profissional para cuidar/tratar destas feridas, já presentes em níveis intermediários (graus II e III), onde as ações, uma vez não mais somente preventivas, poderiam resultar em fracasso ou sucesso no tratamento das lesões. Objetivo Este estudo teve como objetivo: identificar as condutas dos enfermeiros no tratamento de úlceras de pressão intermediárias (graus II e III), em clientes hospitalizados. Metodologia Este estudo utilizou o método quantitativo, descritivo e exploratório, considerado o mais adequado para alcançarmos nosso objetivo. De acordo com a pesquisa descritiva, examina, registra, analisa e correlaciona os fatos ou fenômenos sem manipulálos [9]. Local do estudo: A pesquisa realizou-se em um hospital da rede privada, de caráter filantrópico e um da rede pública, no município de São Paulo. A escolha do local deu-se pela facilidade de acesso e por oferecerem tratamento a pacientes crônicos debilitados, onde o evento poderia ocorrer. Foi enviada carta solicitando a autorização para realização da pesquisa à diretoria das instituições. População e amostra: Amostra é uma parte da população, selecionada segundo critérios que garantam sua representatividade [9,10,11]. Neste estudo, a amostra foi constituída por 31 enfermeiros, que estavam presentes no dia da coleta e que quiseram participar do trabalho. O projeto foi enviado para a Comissão de Ética e Pesquisa da Universidade Cidade de São Paulo e das instituições participantes, recebendo a aprovação. Instrumento para coleta de dados: Para a coleta de dados, foi elaborado um formulário com uma questão aberta (apêndice A), entregues pelas autoras aos participantes do estudo, assim como o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (apêndice B), ' EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) conforme resolução CONEP 196/96 [12], sendo sua devolução agendada para o mesmo dia. Coleta de dados: Não estabelecemos outros critérios para a inclusão da amostra. Os dados foram coletados entre setembro e novembro de 2002; foram distribuídos 54 formulários, sendo respondidos e devolvidos 31. Após levantamento e análise dos dados obtidos, eles foram apresentados em tabelas, com números absolutos e relativos. Análise e discussão Após análise dos dados coletados, obtivemos os resultados que apresentamos a seguir: Tabela I - Distribuição das respostas dos enfermeiros sobre suas condutas gerais em úlceras de pressão graus II e III não infectadas. São Paulo, 2002. N= 95 Procedimentos citados Freqüência (%) Mudar decúbito de 2/2h, se for paciente acamado Usar coxins macios sob proeminências ósseas Avaliação e suporte nutricional Anotar aspecto da lesão Verificar tamanho e forma da lesão Manter colchões especiais Avaliar exames laboratoriais e patologias de base Estimular ingesta hídrica caso não haja restrição Manter a área afastada de pressão Orientar paciente quanto ao procedimento Observar condições de hidratação Mudar decúbito de h/h em paciente sentado Controlar temperatura Oferecer apoio psicológico Evitar atrito com o lençol Mudar decúbito de 4/4h Evitar umidade no paciente Observar presença de sangramento e espaço morto Acompanhar diariamente Verificar o uso de medicação vasoativa Condições de moradia/higiene e idade Hidratar e proteger calcâneos Realizar mudança de decúbito S/N em ângulo de 30º Total *Feito aproximação das casas decimais. NA. 16 16,8 10 09 09 06 06 10,5 9,4 9,4 6,3 6,3 05 5,2 04 03 03 03 03 03 02 02 02 02 4,2 3,1 3,1 3,1 3,1 3,1 2,1 2,1 2,1 2,1 02 01 01 01 01 2,1 1,0 1,0 1,0 1,0 01 95 1,0 100 A tabela I apresenta as intervenções gerais dos enfermeiros entrevistados ao lidarem com úlcera não infectados. Notamos que a maioria (16,8%), prescreveria mudança de decúbito a cada 2 horas e 2,1% a cada 4 horas, aos pacientes acamados como forma de tratar a ferida. Alguns autores [5,7,8] recomendam não estabelecer intervalos de rotina na mudança de decúbito, devendo-se individualizar a prescrição de acordo com as atividades do paciente, rotina, condições gerais, etc, apesar de outros autores ressaltarem a necessidade de determinar horários por escrito, como forma de evitar esquecimentos. Outras medidas, como manter lençol esticado, utilização de colchão especial, uso de coxins, indicados por enfermeiros neste estudo, são recomendados por Potter, Perry, Campadelli e Gaidzinski [5,8], que também alertam para a não manutenção do decúbito elevado acima de 30º permanentemente, evitando aumento de pressão nas nádegas, dado não lembrado por nenhum entrevistado. Os autores ressaltam, ainda, a importância de aliviar pressão nessa região em pacientes sentados, com intervalos de aproximadamante 15 minutos, confrontando-se com a prescrição de alterar decúbito de hora em hora, relatada por 3,1% dos enfermeiros. Ao pesquisarem as condutas para prevenção e tratamento de úlcera de pressão entre graduandos de enfermagem, obtiveram resultados parecidos com este estudo, no que diz respeito à mudança de decúbito, manutenção de lençol esticado e uso de colchão especial [13]. Dos enfermeiros pesquisados, 9,4% citaram a avaliação e suporte nutricional como medidas gerais de enfermagem, consoantes com as recomendações de Lopez, Bergastrom et al [3,7]. Apresentamos, na tabela II, as respostas dos enfermeiros entrevistados em relação às intervenções utilizadas no curativo de úlceras de pressão, não infectadas. Observamos que a maioria dos entrevistados (17,4%), prescreveria a aplicação de papaína de 1 a 3%, dado confirmado por Campadelli e Gaidzinski [8]. Ressaltamos a irrigação da lesão com soro fisiológico a 0,9%, citado por 11% dos enfermeiros, devido a grande disponibilidade desse material em todas as unidades [3,6]. Estes autores ressaltam que a ferida deve ser limpa de dentro para fora, dado não lembrado por nenhum dos entrevistados. Entre os entrevistados, 6,4% complementam que a irrigação deve ser em jato, com média pressão, como ressaltam Bergastrom et al [7], pois irrigações com pressão diminuída podem não limpar a ferida adequadamente e o uso de pressões exageradas podem causar trauma tecidual. EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) A aplicação de cobertura úmida, citada por 2,7% dos sujeitos, é destacada como conduta para manter a nutrição do tecido e evitar meio propício ao crescimento de bactérias patogênicas [7,8]. Além disso, esses autores ressaltam a necessidade de manter as bordas da lesão secas, para prevenir a maceração da pele que circunda a ferida, ítem lembrado somente por 2,7% dos entrevistados. Tabela II - Distribuição das respostas dos enfermeiros sobre suas intervenções utilizadas no curativo das úlceras de pressão graus II e III, não infectados. São Paulo, 2002. N= 109 Procedimento Freqüência (%) Aplicar papaína 1-3% Proteger as bordas com óleo mineral (TCM) Irrigar a lesão com SF 0,9% Irrigar a lesão com SF morno Irrigar a lesão com SF em jato Realizar curativo oclusivo Irrigar com albumina ao redor da lesão Secar borda da lesão após SF Realizar curativos diários com fibrase Observar sinais flogísticos Verificar queixas álgicas Utilizar oclusão úmida Ocluir com hidrocolóide Desbridar tecido desvitalizado Realizar curativo de acordo com o aspecto da lesão Lavar com água e sabão Realizar curativo Trocar curativo com espuma a cada 72hs Ocluir com alginato de cálcio Ocluir com carvão ativado Trocar curativo a cada 72hs Trocar curativo se necessário Secar com oxigênio Colocar impermeável plástico ao redor da lesão Utilizar cobertura cicatrizante sem antibiótico Não realizar fricção do tecido Massagem com óleo em proeminências ósseas Total 19 17,4 18 11 09 07 05 04 03 03 03 03 03 02 02 16,5 10,0 8,2 6,4 4,6 3,6 2,7 2,7 2,7 2,7 2,7 1,8 1,8 02 02 02 1,8 1,8 1,8 01 01 01 01 01 01 0,9 0,9 0,9 0,9 0,9 0,9 01 0,9 01 01 0,9 0,9 01 109 0,9 100 A tabela III mostra a distribuição das respostas em desacordo com a literatura ou com questão utilizada no estudo. Dentre estas, destacamos a realização da massagem de conforto, sem indicar critérios para sua execução, citada por 15% dos entrevistados, confrontando-se com a opinião de alguns pesquisadores, ao afirmarem que a massagem não deve ser realizada na presença de hiperemia, manchas roxas ou bolhas, pois estes sinais Tabela III - Distribuição das condutas em desacordo com a literatura ou questão utilizada no estudo. São Paulo, 2002. N= 20 Relato Freqüência (%) Higienização íntima Massagem de conforto Elevar membro afetado Observar edema e hiperemia em MMII Orientar repouso no leito Medicação conforme prescrição médica Manter acesso venoso Somente reavaliar conduta da comissão de curativo Sair do leito no mínimo duas vezes ao dia Utilizar bota de una Manter repouso relativo, em caso de MMII Manter o curativo seco e enfaixado Hidratação da mucosa da pele Manter calcâneos flutuantes Realizar curativo oclusivo em região sacra Total 04 03 01 01 01 01 01 20 15 5 5 5 5 5 01 01 01 01 01 01 01 01 20 5 5 5 5 5 5 5 5 100 indicam a formação da úlcera de pressão, onde esta ação poderia causar maiores danos [5,7,8]. Segundo Campadelli e Gaidzinski [8], com a massagem consegue-se uma melhor nutrição dos tecidos e uma oxigenação mais aprimorada, porém isto favorece a profilaxia das escaras e não o tratamento, objeto deste estudo. A orientação do repouso no leito, citada por 5% de participantes é contra-indicada, já que recomenda-se estimulação para atividade física, de acordo com a capacidade do paciente e movimentação passiva ou com auxílio para os indivíduos com mobilidade prejudicada [7]. Sendo assim, o repouso no leito é considerado um fator de risco e não um tratamento para as úlceras de decúbito. Elevar membro afetado (5%), somente reavaliar conduta da comissão de curativo (5%) e higienização íntima (20%), foram outras intervenções pouco pertinentes, para a questão estabelecida. Conclusão Após análise e discussão dos resultados, esse estudo possibilitou-nos as seguintes conclusões: As condutas de enfermagem apresentadas pelos entrevistados, em sua maioria, dizem respeito a mudança de decúbito em vários intervalos (a cada 1, 2 e 4 horas) e medidas gerais, como manutenção de lençol esticado e proteção de proeminências ósseas com uso de colchões especiais (ar e caixa de ovo), além de coxins (almofada), reconhecidos por diversos autores, como EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) sendo intervenções fundamentais para o cuidado da úlcera de pressão. Quanto ao tratamento/curativo específico da lesão, os resultados apontaram para o uso de soro fisiológico 0,9% na limpeza da úlcera, não tendo padronização das respostas quanto a temperatura e pressão utilizadas, como recomendado na literatura. Encontramos, também, algumas intervenções contra indicadas por diversos autores consultados, como a utilização de massagem de conforto em proeminências ósseas, elevação do decúbito em ângulo de 30º e mobilização do paciente sentado a cada hora. Assim, notamos grande diversificação nos cuidados descritos pelos enfermeiros, levando-nos a crer, que não há padronização de medidas no tratamento de úlcera de pressão pela população estudada, o que influenciaria nos resultados obtidos naquele evento, já que, conforme o conhecimento do profissional, a ferida seria cuidada de maneira diferente. Obtivemos, ainda, respostas que estavam em desacordo com a questão norteadora deste estudo (elevação de membro afetado, hidratação do calcâneo, higiene íntima, orientar repouso no leito, etc.), sugerindo a crença de que a úlcera de pressão possa ocorrer em regiões específicas. Ainda que não tenha sido objetivo deste estudo, os resultados sugerem desconhecimento dos entrevistados quanto a classificação das úlceras em graus, já que a maioria das respostas não as distinguiam quanto condutas ou citavam algumas intervenções para feridas com outras características (graus I e IV). O objetivo desta pesquisa foi alcançado, ao conhecermos as principais intervenções do enfermeiro no tratamento de úlceras por decúbito. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. Dangelo JG, Fattini CA. Anatomia humana sistêmica e segmentar. 2ª ed. São Paulo: Atheneu; 2000. Arnold J, Odan RB, James WD. Dermatologia clínica. 8ª ed. São Paulo: Manole; 1994. Lopez MA, de La Cruz MJR. Hospitalização: Guias práticos de enfermagem. Rio de Janeiro: Graw Hill Interamericana; 1998. Porto CC. Semiologia médica. 3ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1997. Potter PA, Perry AG. Fundamentos de enfermagem. 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1999. Hood GC, Dincher JR. 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Prevenção e tratamento de úlceras de pressão: práticas de graduandos de enfermagem. Rev Paul Enf 2002;21(2):133-39. EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Apêndice A UNICID Trabalho de Iniciação Científica Disciplina de Semiologia e Semiotécnica Instrumento para coleta de dados Responda a seguinte questão, utilizando o verso se necessário. Obrigada. Quais as intervenções de enfermagem que você prescreve para cuidar/tratar de úlcera de pressão intermediárias, grau II e III, não infectados? Apêndice B UNICID Disciplina de Semiologia e Semiotécnica Termo de consentimento livre e esclarecido Eu ___________________________________ declaro que fui suficientemente esclarecido sobre o estudo que objetiva identificar as condutas do enfermeiro no tratamento de úlcera de pressão graus II e III, não infectados. Estou ciente que os dados serão utilizados e divulgados e que posso retirar este consentimento a qualquer momento sendo minha participação voluntária, com garantia de anonimato. Qualquer dúvida ou esclarecimento poderá ser obtido com as autoras da pesquisa, à Rua Cesáreo Galeno, 148 - Tatuapé, fone 6190-1200 bloco alfa, curso de Enfermagem. São Paulo, _____ de _____________ de 2002. de acordo: ____________________________________ ! EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Artigo original Atuações do enfermeiro intensivista na monitorização hemodinâmica através do cateter de Swan-Ganz Actuations of the critical care nurse in the haemodinamic monitorization through the Swan-Ganz catheter Actuaciones del enfermero intensivista en el monitoreo hemodinámico a través de catéter de Swan-Ganz Aline Fontinelle Ferraz*, Carlos Eduardo Peres Sampaio** *Residente de Enfermagem do Hospital Universitário Pedro Ernesto, **Enfermeiro-Graduado na EEAN/UFRJ, Professor Adjunto do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgico (DEMC) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Resumo A monitorização hemodinâmica, através do uso do cateter de Swan-Ganz, é um recurso extremamente valioso no atendimento do cliente criticamente doente. Este estudo, desenvolvido durante a atuação como residente de enfermagem em um hospital universitário do Estado do Rio de Janeiro, tem como objetivo: identificar o papel do enfermeiro intensivista na atuação da monitorização hemodinâmica, através do cateter de Swan-Ganz; determinar o conhecimento do enfermeiro intensivista sobre a função do cateter de Swan-Ganz e analisar o papel do enfermeiro intensivista na monitorização hemodinâmica por cateter de Swan-Ganz. Optamos pela pesquisa qualitativa para dar maior viabilidade e consistência ao estudo. O instrumento utilizado foi a entrevista semi-estruturada, realizada com 10 enfermeiros da unidade de terapia intensiva de um hospital universitário do Estado do Rio de Janeiro. Os dados foram analisados com base na fundamentação teórica, sendo elaboradas 4 categorias: 1) Papel do enfermeiro intensivista na monitorização hemodinâmica por cateter de Swan Ganz; 2) Conhecimento funcional do cateter de Swan-Ganz; 3) Cuidados de enfermagem com o cateter de Swan-Ganz; e 4) Verificação dos parâmetros hemodinâmicos pelo cateter de Swan-Ganz. Os resultados monstraram que os cuidados de enfermagem aos clientes com cateter de Swan-Ganz são determinados individualmente e não com padrões estabelecidos. Além disso, os enfermeiros não realizam a medição e avaliação dos parâmetros hemodinâmicos. É extremamente importante o preparo técnico e o conhecimento científico, no processo da monitorização hemodinâmica por cateter de Swan-Ganz, para uma melhora da qualidade da assistência de enfermagem para o cliente crítico. Palavras-chave: Terapia intensiva, cuidados de enfermagem, cateter Swan-Ganz. Artigo recebido em 11 de dezembro de 2002; aceito em 15 de janeiro de 2003. Endereço para correspondência: Carlos Eduardo Peres Sampaio, Rua Fagundes Varela, 530/901, Ingá 24210-520 Niterói RJ, Tel: 2721-2619/9366-3494, E-mail: [email protected] " EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Abstract The haemodinamic monitorization through the Swan-Ganz catheter is a valuable source in the assistance of the critically ill customer. This study has been developed during actuation how resident of nursing in the University Hospital of the State of Rio de Janeiro. The considered objectives had been to identify the functions of the critical care nurse in the actuation of the haemodinamic monitorization through of the Swan-Ganz catheter; to determine the known of the critical care nurse about Swan-Ganz catheter and to analize the function of the critical care nurse in the haemodinamic monitorization about SwanGanz catheter. We opt to qualitative research to give the greater viability and consistency to the study. The used instrument was the interview half-structuralized carried through with 10 nurses of the unit of intensive therapy of a University Hospital of the State of Rio de Janeiro. The data had been analyzed on the basis of the theoretical recital, being elaborated 4 categories: 1) The function of the critical care nurse in the haemodinamic monitorization by Swan-Ganz catheter; 2) The known of the functions of Swan-Ganz catheter; 3) Nursing care with the Swan-Ganz catheter and 4) The measurements of the parameters haemodinamics by Swan-Ganz catheter. The results shown that the nursing cares the customers with Swan-Ganz catheter are individually determinate e don’t with establish standards. Moreover, the nurses don’t realize the measurement and valuation of the haemodinamic parameters. It’s excessive important the technical prepare and the scientific known, during the haemodinamic monitorization by Swan-Ganz catheter, to a better quality in the nursing care to the critical customer. Key-words: Intensive therapy, nursing care, Swan-Ganz catheter. Resumen El monitoreo hemodinámico, a través del uso de catéter de Swan-Ganz, es un recurso muy valioso en el atendimiento al cliente criticamente enfermo. Este estudio, desarrollado durante la actuación como residente de enfermería en un hospital universitario del Estado de Rio de Janeiro, tiene como objetivo: identificar el papel del enfermero intensivista en la actuación del monitoreo hemodinámico, a través del catéter de Swan-Ganz; determinar el conocimiento del enfermero intensivista sobre la función del catéter de Swan-Ganz y analizar el papel del enfermero intensivista en el monitoreo hemodinámico por catéter de Swan-Ganz. Optamos por la pesquisa cualitativa para dar mayor viabilidad y consistencia al estudio. El instrumento utilizado fue la entrevista semi-estruturada, realizada con 10 enfermeros de la unidad de terapia intensiva de un hospital universitario del Estado de Rio de Janeiro. Los datos fueron analizados con base en el fundamento teórico, siendo elaboradas 4 categorías: 1) Papel del enfermero intensivista en el monitoreo hemodinámico por catéter de Swan Ganz; 2) Conocimiento funcional del catéter de Swan-Ganz; 3) Cuidados de enfermería con el catéter de Swan-Ganz, y 4) Verificación de los parámetros hemodinámicos por el catéter de Swan-Ganz. Los resultados muestran que los cuidados de enfermería a los clientes con catéter de Swan-Ganz son determinados individualmente y no con padrones establecidos. Además, los enfermeros no realizan la medición y evaluación de parámetros hemodinámicos. Es muy importante el preparo técnico y el conocimiento científico, en el proceso del monitoreo hemodinámico por catéter de Swan-Ganz, para mejorar la calidad de asistencia de enfermería para el cliente crítico. Palabras-clave: Terapia intensiva, cuidados de enfermería, catéter Swan-Ganz. Introdução Este estudo originou-se mediante a atuação como residente de enfermagem em unidade de terapia intensiva de um hospital universitário no Estado do Rio de Janeiro, através do contato com enfermeiros que prestavam cuidados de enfermagem à cliente com cateter de SwanGanz. Percebemos, pelo contato direto, que muitos demonstravam dificuldades quanto a assistência de enfermagem ao cliente sob uso do cateter de Swan-Ganz. Além disso, constatamos a grande restrição na produção científica direcionada ao tema em questão. A partir da década de 70, Swan e Ganz viabilizaram o cateterismo sem o uso de fluoroscopia, utilizando para a progressão e localização do cateter apenas a morfologia das curvas pressóricas [1]. Os dados relativos à pressão fornecem uma idéia do estado hemodinâmico e da função do ventrículo esquerdo, o que é fundamental para o cliente criticamente enfermo. Assim, a monitorização hemodinâmica é, atualmente, um procedimento muito empregado na unidade de terapia intensiva. A assistência de enfermagem deve ser direcionada não apenas a avaliação hemodinâmica, estimando as curvas # EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) de pressão da artéria pulmonar e prestando assistência na retirada do cateter do cliente, como também para realizar o curativo no local de inserção do cateter, observar as complicações, além de dar apoio emocional aos clientes e seus familiares [2,3]. Durante a passagem do cateter de Swan-Ganz ou por seu uso podem ocorrer complicações como: pneumotórax, punção arterial, embolia gasosa, arritmias atriais e ventriculares, freqüentemente durante a passagem do cateter, ruptura da artéria pulmonar, septicemias, tromboflebites, endocardite séptica, entre outros [4]. Os enfermeiros indicados para prestar assistência a estes clientes, devem ser altamente capacitados e bem treinados, com conhecimento científico mais aprofundado, para facilitar a aplicação dos procedimentos, sem complicações significativas e num intervalo de tempo relativamente curto. É de suma importância o preparo técnico e o conhecimento científico, no processo de monitorização hemodinâmica por cateter de Swan-Ganz, para uma melhora da qualidade da assistência de enfermagem para o cliente crítico. Objetivos Identificar o papel do enfermeiro intensivista na atuação da monitorização hemodinâmica por cateter de Swan-Ganz; determinar o conhecimento do enfermeiro intensivista sobre a função do cateter de Swan-Ganz; analisar o papel do enfermeiro intensivista na monitorização hemodinâmica por cateter de Swan-Ganz. Metodologia A pesquisa é definida como qualitativa, pois visa descrever e analisar os fatores que interferem na assistência prestada pelo enfermeiro ao cliente sob monitorização hemodinâmica. A pesquisa qualitativa é caracterizada pela obtenção de dados descritivos no contato direto entre o pesquisador e a situação estudada, valorizando mais o processo que o produto; preocupando-se em retratar as perspectivas dos participantes [5]. Os sujeitos desta pesquisa foram 10 enfermeiros de uma unidade de terapia intensiva de um hospital universitário do Estado do Rio de Janeiro, que atuam freqüentemente com a monitorização hemodinâmica por cateter de Swan-Ganz. Eles foram selecionados enquanto integrantes do objeto de estudo. A coleta de dados ocorreu entre os meses de junho e setembro de 2002. Para atingirmos os $ objetivos desta pesquisa, utilizamos como instrumento a entrevista semi-estruturada, verificando o conhecimento dos profissionais sobre os cuidados de enfermagem aos clientes que apresentam monitorização hemodinâmica na unidade de terapia intensiva. A entrevista semi-estruturada permitiu ao enfermeiro discorrer sobre o tema proposto sem condições prefixadas. Em linhas gerais, as entrevistas semi-estruturadas são definidas como aquelas que “se desenrolam a partir de um esquema básico, porém não aplicado rigidamente, permitindo que o entrevistador faça as necessárias adaptações”. As entrevistas foram gravadas em fita K7 e foi garantido o anonimato e o sigilo das respostas, mediante um termo de consentimento livre e esclarecido, conforme prevê a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde [6]. Desta forma, foi atribuído pseudônimos para preservar a integridade dos enfermeiros. O instrumento utilizado na pesquisa foi um questionário com 6 perguntas semiestruturadas. Os dados foram analisados com base na fundamentação teórica, de modo a garantir uma reflexão mais profunda sobre os resultados obtidos, sendo feito recortes temáticos dos depoimentos, com posterior classificação e categorização, sendo analisados e discutidos à luz da fundamentação teórica [7]. Após este tratamento, os dados foram organizados em 4 categorias, à saber: 1) Papel do enfermeiro intensivista na monitorização hemodinâmica por cateter de Swan-Ganz; 2) Conhecimento funcional do cateter de Swan-Ganz; 3) Cuidados de enfermagem com o cateter de SwanGanz; e 4) Verificação dos parâmetros hemodinâmicos pelo cateter de Swan-Ganz. Resultados: análise e discussão Neste capítulo, apresentamos os resultados conforme tratamento especificados na metodologia. Foram entrevistados 10 enfermeiros da unidade de terapia intensiva de um hospital universitário do Rio de Janeiro. Os enfermeiros entrevistados apresentam em média 10 anos de formados e entre 3 e 5 anos de experiência em unidade de terapia intensiva. Papel do enfermeiro intensivista na monitorização hemodinâmica por cateter de Swan-Ganz Houve concordância entre os entrevistados, no que se refere ao papel do enfermeiro intensivista na monitorização hemodinâmica por cateter de Swan EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Ganz. Consideraram ponto importante, o conhecimento das curvas e valores pressóricos, para a avaliação da posição do cateter. Foi destacado pela enfermeira A, a observação do posicionamento adequado do cateter e a avaliação dos parâmetros hemodinâmicos. Para efeito de ilustração temos as seguintes transcrições: “...Oenfermeirodeveriasaberosignificadodecadacurva edosvaloresqueaparecemnateladomonitor,mas,geralmente, não é isso que acontece...” (Enf B); “...Observarascurvasdepressõesparasaberseocateter está bem posicionado...” (Enf C); “...Observarposicionamentoadequadodocateter,avaliar parâmetrostermodinâmicos,manteradequadoosistemade monitorização...” (Enf A). É de responsabilidade do enfermeiro a manutenção do sistema de monitorização para reproduzir, de modo fidedigno, as pressões do paciente para o transdutor. Faz-se necessário a checagem de todo o sistema a cada troca de turno ou a cada checagem da pressão, a manutenção das curvas de pressão de forma legível para a leitura e interpretação. Além da avaliação dos parâmetros hemodinâmicos obtidos [8]. Os enfermeiros relatam a importância da manutenção e, também, a avaliação dos parâmetros apresentados no monitor do cateter de Swan-Ganz e suas curvas pressóricas apresentadas no monitor. Entretanto, o papel da enfermagem é complexa perante a monitorização hemodinâmica invasiva através do cateter de Swan-Ganz, pois o enfermeiro deve ser capaz não somente de conhecer os materiais necessário para a monitorização hemodinâmica, mas de interpretar os dados obtidos, bem como alertar para possíveis complicações: infecção, trombose, embolia aérea e deslocamento do acesso. As medidas dos diversos parâmetros devem ser feitas com exatidão, sendo considerado o estado clínico do cliente, pois o uso adequado dessas determinações contribui para a escolha do tratamento adequado, a monitorização terapêutica e a antecipação do prognóstico. O conhecimento desses parâmetros hemodinâmicos são importantes para a redução da morbidade e mortalidade de clientes críticos em unidade de terapia intensiva [9]. Conhecimento funcional do cateter de Swan-Ganz Em geral, os depoentes fizeram menção à aspectos semelhantes, referente a função do cateter de Swan-Ganz. Aspectos como mensuração do débito cardíaco, pressão venosa central, pressão da artéria pulmonar, ou seja, destacaram aspectos importantes do cateter de Swan-Ganz no controle hemodinâmico do cliente crítico. Podemos observar nos trechos abaixo relacionados: “...Monitorizaçãohemodinâmica:mensuraçãododébito cardíaco,pressãovenosacentral,pressãodaartériapulmonare pressão de capilar pulmonar...” (Enf A); “...É um método de mensuração da performace ventricular,colocadoatravésdeacessoprofundo,fornecendo, assim, a pressão capilar pulmonar. Fornece ainda o débito cardíaco.Épossívelcalcularoíndicecardíacoearesistência vascular sistêmica, entre outros valores...” (Enf B); “...Medir parâmetros hemodinâmicos...” (Enf C). O cateter de Swan-Ganz tradicional possui quatro lúmens que são alojados em lugares diferentes no interior da câmara cardíaca, possibilitando a determinação de alterações hemodinâmicas, através da medida de pressões nas cavidades direitas, artéria pulmonar, capilar pulmonar e débito cardíaco pela termodiluição [10, 11]. É importante que o enfermeiro intensivista seja conhecedor da administração, manutenção e correção de problemas dos equipamentos para a monitorização hemodinâmica, ou seja, que tenha o conhecimento integrado do aparelho, para que desta forma, possa prestar assistência de enfermagem mais qualificada. Isto reflete que os profissionais de enfermagem, que atuam diretamente com clientes críticos em unidade de terapia intensiva, necessitam de capacitação e educação continuada, para que possam obter o máximo proveito desta tecnologia sofisticada em benefício do cliente. Cuidados de enfermagem com o cateter de Swan-Ganz Os entrevistados, em geral, fizeram menção à aspectos semelhantes, referente aos cuidados de enfermagem com o cateter de Swan-Ganz, como: cuidados com o curativo no sítio de punção, troca da solução heparinizada e avaliação da posição adequada do cateter. Foram destacados com relevância nos trechos abaixo relacionados: “...Realizarcurativoemsítiodepunção,trocarsolução heparinizada,avaliarparâmetroshemodinâmicos,manter posicionamentoadequadodocateter,promovermanutenção adequada do circuito...” (Enf A); % EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) “...Observar no monitor se o cateter está encunhado, orientaraequipequantoamobilizaçãodopacienteduranteo banho no leito e a mudança de decúbito, para que ele não desencunhe,observarsenocircuitohápresençadesangue...” (Enf B); “...Realizarcurativodosítiodepunção,trocarasolução heparinizadaacada24horas,manterocateterencunhado...” (Enf C). São cuidados da enfermagem, a troca da solução heparinizada a cada 24 horas, troca do sistema de monitorização a cada 72 horas, examinar diariamente o local da inserção, observando sinais de infecção, edema e sangramento [12]. Os resultados mostram o interesse dos enfermeiro pelos cuidados de enfermagem aos clientes com o cateter de Swan-Ganz. Os entrevistados apresentaram conhecimento sobre alguns cuidados de enfermagem. Entretanto, o apoio emocional, as complicações desenvolvidas durante o uso e implantação do cateter, avaliação dos pulsos periféricos e determinação das pressões pulmonares não foram mencionadas. Estes resultados apontam que os cuidados de enfermagem não demonstram uma padronização, pois encontramos diferenças durante os cuidados prestados. Além disso, é muito importante observar o desenvolvimento das complicações durante o uso do cateter de Swan-Ganz, devido sua alta incidência, principalmente de infecções, septicemias e tromboflebites. Verificação dos parâmetros hemodinâmicos pelo cateter de Swan-Ganz Os depoimentos descritos a seguir, evidenciam concordância entre os entrevistados, no que se refere a mensuração das medidas dos parâmetros hemodinâmicos pelo cateter de Swan-Ganz, ressaltando que todos os entrevistados foram unânimes em relatar que não realizam a verificação dos parâmetros hemodinâmicos, conforme observados nos trechos a seguir: “...Não, porque nos serviços onde trabalho é sempre os médicosquerealizamessatarefa...Quasesempreoplantãoestá pesado...” (Enf A); “...Não,porqueondetrabalhonãodátempodemedir, porcausadeoutrastarefasquesóaenfermeirapodefazer.E com isso, acaba só o médico realizando as medidas dos parâmetros...É importante avaliar mas é dificil...” (Enf B). Apesar dos entrevistados relatarem o conhecimento dos parâmetros hemodinâmicos & monitorizados, bem como a importância funcional de alguns cuidados de enfermagem durante a monitorização invasiva com o cateter de Swan-Ganz, eles não realizam a mensuração dos parâmetros hemodinâmicos. As principais dificuldades apontadas estão sempre ligadas ao excesso de atribuições administrativas. Os resultados mostram que os enfermeiros não estão verificando as pressões sistólica, diastólica, pressão da artéria pulmonar, pressão venosa central, pressão média do capilar pulmonar e débito cardíaco. Estes cuidados são imprescindíveis para a avaliação da própria enfermagem, pois é este profissional que presta cuidados diretos, durante 24 horas por dia, ao cliente crítico. A avaliação da enfermagem favorece não só a detecção das alterações hemodinâmicas de forma mais rápida, como também o próprio cuidado profissional mais qualificado [13]. Considerações finais Os cuidados de enfermagem aos clientes com cateter de Swan-Ganz são determinados individualmente e não com padrões estabelecidos. A literatura não define exatamente as funções do enfermeiro, do cuidado de enfermagem ao cliente que apresenta monitorização hemodinâmica. Foi partindo destas necessidades, que realizou-se este estudo. O uso da monitorização hemodinâmica pelo cateter de Swan-Ganz, no decorrer de 30 anos, mostrou-se de grande importância para a realização da avaliação na conduta terapêutica, diagnóstico e prognóstico no caso de um paciente crítico. O desenvolvimento do uso do cateter de Swan-Ganz hoje em dia, proporciona uma melhor avaliação dos parâmetros hemodinâmicos, como: débito cardíaco, variáveis oximétricas, pressão venosa central, pressão da artéria pulmonar, entre outros; melhorando a assistência da equipe de saúde da unidade de terapia intensiva, tendo como resultado um bom prognóstico do cliente e dos cuidados intensivos. Devido à todos esses aspectos do uso do cateter de Swan-Ganz, o papel do enfermeiro intensivista é extremamente importante durante a monitorização hemodinâmica, pois é ele que presta cuidados diretos, 24 horas por dia, para o cliente crítico. Entretanto, observamos que as competências dos enfermeiros no cuidado ao cliente sob monitorização hemodinâmica com cateter de Swan-Ganz, não estão totalmente delimitadas. O enfermeiro tem como papel relacionar os achados clínicos do cliente com os parâmetros hemodinâmicos, porém muitas vezes não corresponde com a realidade. As principais dificuldades apontadas EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) pela enfermagem está relacionada a sobrecarga com tarefas administrativas. Contudo, o enfermeiro deve mudar esta realidade, contribuindo, assim, para um tratamento terapêutico mais correto e o cuidado de enfermagem mais qualificado. Referências 1. 2. 3. 4. Pinheiro C. Monitorização hemodinâmica à beira do leito. Rev HCPA & Fac Med Univ Fed Rio Gd do Sul 1982;2(1):35-40. Bassi IM, Lazzari C, Zanela T. Noções básicas sobre o uso do cateter de Swan-Ganz. Rev Gaúch Enferm 1990;11(1):52-57. Modena EMSC, Maria VLR. Assistência de enfermagem no uso do cateter de Swan-Ganz: débito cardíaco e pressões de artéria pulmonar. Rev Bras Enfermagem 1978;31:193-201. Hudak CM, Gallo BM. Cuidados intensivos de enfermagem: Uma abordagem holística. 6ºed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1997. p.359-364. 5. Lüdke M, André MED. Pesquisa em educação: Abordagem qualitativa. São Paulo: EPU;1986. p.99-101. 6. Ministério da Saúde/Conselho Nacional de Saúde. Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Resolução no 196 de 10/ 10/1996. 7. Minayo MCS. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis:Vozes; 1999. 8. Silva LD. Assistência ao paciente crítico: Fundamentos para a enfermagem. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2001. p.69-89. 9. Cintra EA, Nishide VM, Nunes WA. Assistência de enfermagem ao paciente Crítico. São Paulo: Atheneu; 2000. p.353-364. 10. Nettina SN. Prática de enfermagem. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1998. p.219- 26. 11. Knobel E. Condutas no paciente grave. São Paulo: Atheneu; 1994. p.755-756. 12. Brunner L. Tratado de enfermagem médicocirúrgica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;1998. p.482-483. Smeltzer LE, Pinneo R, Kitchell JR. Enfermagem na unidade coronariana - bases treinamento - prática. São Paulo: Atheneu; 1997. p.119-122. ' EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Artigo original Aplicando a semiologia em quem aprende a cuidar os efeitos da imobilização em postura funcional Applying semiology to the one who learns to provide care the effects of immobilization in functional posture Aplicando la semiología a quien aprende a cuidar los efectos de inmobilización en postura funcional Maria Aparecida de Luca Nascimento*, Joice Cristina Pereira Antunes**, Raquel de Souza Dantas**, Marcio Martins da Costa*** *Professor Adjunto do Departamento de Enfermagem Materno Infantil (DEMI) da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP) da Universidade do Rio de Janeiro (UNIRIO), Doutora em Enfermagem, **Enfermeira recém egressa da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto – EEAP, da Universidade do Rio de Janeiro – UNIRIO, ***Relator e Acadêmico de Enfermagem do 6º período da EEAP da UNIRIO – bolsista IC/UNIRIO Resumo Estudo quase experimental, que se utiliza da abordagem quanti-qualitativa, para atingir o objetivo de descrever os sinais observados e sintomas relatados, por um grupo de alunos submetidos à imobilização do membro superior em sua postura funcional, através de uma tala similar àquela utilizada pela enfermagem para a manutenção do acesso venoso, durante a infusão por esta via. A metodologia utilizada foi a instalação do citado artefato num dos antebraços de dez acadêmicos de enfermagem do 6° período da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade do Rio de Janeiro. Após um período de seis horas de imobilização do membro superior em postura funcional, ao retirar-se a tala imobilizadora, os componentes da população-alvo responderam à uma entrevista semi-estruturada. Os resultados apresentados com relação aos sinais observados de maior incidência foram: sudorese e dores articulares à manipulação do membro que havia sido imobilizado. Com relação aos sintomas, foram relatados: dormência, coceira, irritação, incapacidade e angústia. Concluiu-se que a imobilização do membro superior em postura funcional, apesar de ser preconizada pela psicomotricidade como a ideal, ainda assim causa sensações desagradáveis, o que pode estar relacionado com a atuação das tiras de esparadrapo e com o tempo de imobilização. Palavras-chave: Cuidados de enfermagem, postura, imobilização. Artigo recebido em 15 de dezembro de 2002; aceito em 15 de janeiro de 2003. Endereço para correspondência: Marcio Martins da Costa, Travessa Expedicionário José Carlos, 11, Fonseca 24120-230 Niterói RJ. ! EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Abstract This is a quasi-experimental study that uses the quantitative-qualitative approach to reach the objective of describing the signs that are observed and the symptoms that are reported by a group of students submitted to the immobilization of the upper limb in its functional posture through a splint that is similar to the one used by nursing to maintain intravenous line during infusion through the veins. The methodology that was used was the act of putting the above mentioned artifact on one of the forearms of ten nursing students who are in the sixth semester of Alfredo Pinto School of Nursing of Rio de Janeiro University. After a period of six hours of immobilization of the upper limb in functional posture, when the immobilizing splint was taken out, the members of the target population answered a semi-structured interview. The results that were presented concerning the signs that were observed more frequently were: sweating and joint pains when the limb that had been immobilized was moved. As far as the symptoms are concerned, numbness, itching, irritation, disability and anguish were reported. One concluded that, although the imobilization of the upper limb in functional posture is recommended by psychomotricity as the ideal one, it causes disagreable sensations, which can be related to the functioning of the adhesive tapes and the period of immobilization. Key words: Nursing care, posture, immobilization. Resumen Estudio casi experimental, que se utiliza de abordaje cuanti-cualitativo para conseguir el objetivo de describir las señales observadas y síntomas relatados, por un grupo de alumnos sometidos a la inmobilización del miembro superior en su postura funcional, a través de una tablilla parecida con aquella utilizada por la enfermería para la manutención del acceso venoso, durante la infusión por esta vía. La metodología utilizada fue la instalación del mencionado artefacto en uno de los antebrazos de diez académicos de enfermería del 6o. período de la Escuela de Enfermería Alfredo Pinto de la Universidad de Rio de Janeiro. Después de un período de seis horas de inmobilización del membro superior en postura funcional, cuando se retiró la tabilla inmobilizadora, los integrantes de la población-objeto respondieron a una entrevista semi-estruturada. Los resultados observados de mayor incidencia fueron: transpiración y dolores articulares con la manipulación del miembro que había sido inmobilizado. Con relación a los síntomas, fueron relatados: entumecimiento, picazón, irritación, incapacidad y angustia. Concluyese que la mobilización del miembro superior en postura funcional, a pesar de ser preconizada por la psicomotricidad como la ideal, aún así causa sensaciones desagradables, lo que puede estar relacionado con la actuación de vendas y con el tiempo de inmobilización. Palabras-clave: Cuidado de enfermería, postura, inmovilización. Introdução O presente estudo surgiu a partir de duas perspectivas de uma de suas autoras. Uma delas relacionada à sua prática assistencial pediátrica e a outra à sua prática docente. Da prática assistencial pediátrica, surgiu a descrição da “Síndrome da criança com o membro superior imobilizado para infusão venosa”, composta dos sinais de ansiedade, dor, medo e tristeza [1]. O estudo supracitado deu origem, tanto a um projeto de pesquisa intitulado “O custo benefício da tala imobilizadora”, quanto à proposição do tema “A imobilização para infusão venosa” para ser desenvolvido, sob a forma de seminário, durante a disciplina Abordagens Metodológicas da Pesquisa em Enfermagem II, sob a responsabilidade da referida autora, que é oferecida ao 7º período do curso de graduação em enfermagem da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade do Rio de Janeiro, cujo currículo é pautado na problematização. Tendo em vista a possibilidade de estreitar os elos entre os diversos níveis da graduação, possibilitado pela pesquisa, este estudo possibilitou, não só a discussão do tema em sala de aula de forma ampla durante a disciplina supracitada, como também a inserção de alunos dos outros períodos da graduação durante a dinâmica adotada para a consecução do seu único objetivo. ! EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Objetivo Descrever os sinais observados e sintomas relatados por um grupo de alunos de enfermagem submetidos à imobilização, através de uma tala imobilizadora de um antebraço em postura funcional A semiologia da imobilização e a psicomotricidade Tendo em vista que o presente estudo referese à atuação da enfermagem, mais especificamente à técnica da imobilização e seus efeitos, cumpre citar Eugênio [2], quando ao referir à semiologia, citoua como sendo a tradução de uma linguagem humana, verbalizada ou percebida através de gestos, imagens, expressões faciais e corporais e de percepção sensorial. Deste modo, considerando que todos os aspectos supracitados, relacionam-se a partir da psicomotricidade, que, segundo Mello [3], é a ciência que estuda o homem não só, através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo, como também as suas possibilidades de perceber, atuar e agir com o outro, com os objetos e consigo mesmo. Faz-se necessário frisar, que apesar de implementarmos a imobilização, devemos respeitar, efetivamente, a mobilidade do corpo em seu mundo interno e externo, entendendo o mundo interno como sendo os seus sentimentos e as respostas fisiológicas aos estímulos provocados por uma ação externa. Ainda com relação aos aspectos supracitados, Wallon apud Coste [4] nos esclarece que as relações que podem existir entre a emoção e as circunstâncias exteriores são do tipo condicionado, isto é, estando ligadas a certas estimulações exteriores. Sendo assim, a relevância deste estudo reside na possibilidade de enfocar a imobilização do membro superior em postura funcional, como sendo o ponto de partida para a observação de seus efeitos, pois segundo Kapandi [5], a imobilização da mão diferente da sua posição de função, traria graves conseqüências funcionais. Metodologia Estudo que se utiliza da abordagem quantiqualitativa. Segundo Polit e Hungler [6]: “Os dados quantitativosequalitativossãocomplementares,representando palavras e números, as duas linguagens fundamentais de ! comunicaçãohumana.” Diante disso, podemos dizer que a junção destas duas formas de comunicação, o número e a palavra, privilegia melhor a compreensão do tema a ser estudado, facilitando desta forma, a interpretação na íntegra dos dados obtidos . Tendo em vista que a característica deste estudo é a de uma pesquisa quase experimental, observamos o que Polit e Hungler [6] citam a respeito desta modalidade: “ A pesquisa que utiliza o projeto quaseexperimentalparece-semuitocomumexperimento.Talcomo nos experimentos, os quase experimentos envolvem a manipulaçãodeumavariávelindependente,istoé,ainstituição deumtratamento”. Desta forma, a metodologia utilizada privilegia a variável independente, como sendo àquela relativa à postura funcional e a instituição do tratamento, a utilização da tala imobilizadora para tal finalidade. A população-alvo deste estudo foi constituída por 9 acadêmicos do 6° período da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, da UNIRIO, que foram submetidos à imobilização por tala num dos membros superiores em postura funcional. É importante ressaltar que a população em apreço foi escolhida aleatoriamente, sendo que um único critério para a escolha foi o fato de apresentarem compatibilidade de horários, como facilitador para a realização do quase experimento, além de estarem cursando a disciplina de Abordagem Metodológica da Pesquisa em Enfermagem I, ministrado pela professora - orientadora deste estudo. Para a obtenção dos resultados deste estudo, a dinâmica de instalação da tala imobilizadora foi realizada no antebraço dos acadêmicos de enfermagem, componentes da população-alvo, da seguinte forma: Abordagem inicial 2 dias antes, com o intuito não somente de apresentar o objetivo da realização deste estudo, como também o aprazamento da data e hora do início da dinâmica com a tala imobilizadora. É válido ressaltar que, em cumprimento aos aspectos legais, foi confeccionado um pedido de consentimento informado, baseado na Resolução 196/96 para a participação dos acadêmicos supracitados nesta dinâmica. No dia previsto, 30 de março de 2001, às 8:00 h, na Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, foi instalada a tala imobilizadora, que obedeceu aos mesmos critérios de fabricação e de instalação observados na prática assistencial Com relação ao critério de fabricação, elas foram confeccionadas de forma similar àquela utilizada pela enfermagem, feita EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) de papelão 25 X 9 cm, revestida por algodão e atadura conforme descrição de Nascimento et al [7]. Com relação à instalação, foram utilizadas tiras de esparadrapo com as mesmas dimensões daquelas utilizadas normalmente na prática assistencial (duas medindo 3 cm de largura e uma 1,2 cm). As duas primeiras foram fixadas na porção medial do antebraço, a outra, no punho, e a tira mais fina “paralelamente” à articulação proximal dos quirodáctilos. Em seguida, o artefato foi instalado em um dos antebraços, eleito pelo próprio componente da população-alvo, mantendo-o em postura funcional. Após um período de 6 h de imobilização, tempo em que, conforme o previsto, a população-alvo desenvolveria todas as suas atividades rotineiras, tanto acadêmicas quanto pessoais, a tala imobilizadora foi retirada pelas pesquisadoras e os componentes do estudo responderam ao instrumento semiestruturado composto de itens abertos e fechados (anexo 2), para a obtenção da coleta de dados, que no entender de Polit e Hungler [10]: “ ... oferece ao pesquisadorumacertaflexibilidadenacoletadeinformações sobre os sujeitos da pesquisa, permitindo aos sujeitos contar suas histórias de forma narrativa”. Desta forma, faz-se mister enfatizar que através deste instrumento, os sujeitos puderam expressar seus anseios e desejos quanto à imobilização em membro superior, o que contribuiu para posterior compreensão e análise dos dados. Vale ressaltar que o tempo de imobilização foi superior a 5 horas, intervalo adotado como sendo aquele onde haveria acréscimo de sinais ao comportamento, de acordo com estudo piloto realizado anteriormente por Nascimento [7]. Resultados Após a aplicação do instrumento (anexo), obedecendo-se à metodologia supra referenciada, obteve-se os seguintes resultados: Quadro demonstrativo dos sinais observados prevalecentes num grupo de 9 acadêmicos de enfermagem submetido à imobilização em postura funcional Sinais observados Sudorese 9 Dores articulares 9 Quadro demonstrativo dos sintomas relatados pelo mesmo grupo supracitado Sintomas relatados dormência coceira irritação incapacidade angústia 2 1 1 4 1 Com relação aos aspectos qualitativos, descrevemos alguns trechos dos depoimentos mais relevantes dos componentes da população–alvo, identificados através de pseudônimos: “... sinto-me com o braço pesado” (Talismã); “...tive incapacidade de fazer atividades ... fiquei irritada por ficar com os movimentos restritos” (Água); “...me senti presa e até esqueci que podia mexer os dedos...” (Ar). Análise e interpretação dos resultados Ao analisarmos os resultados obtidos, podemos perceber que a imobilização em postura funcional, apesar de ser aquela preconizada pela fisiologia humana [5], ainda assim produz seus efeitos, que puderam ser visualizados através dos sinais de sudorese e dores articulares à manipulação, e referenciados através dos sintomas de dormência, coceira, irritação, incapacidade e angústia. Deste modo, vale ressaltar que os efeitos da imobilização em apreço, poderiam estar relacionados à aplicação das tiras de esparadrapo sobre as articulações e o antebraço, propriamente dito, assim como ao tempo de imobilização. A inferência acima citada encontra respaldo na 3ª Lei de Newton [8], que ao enunciá-la como sendo a Lei da ação e reação de forças, nos permite observar que a cada tira de esparadrapo aplicada sobre as articulações e o sistema músculo-esquelético, corresponderia a uma reação de mesmo módulo em sentido contrário, alterando o tono muscular do antebraço. Segundo Coste [9], o tono é um fenômeno muito complexo, além de ser a trama de todos os movimentos sem desaparecer na inação. Tal fenômeno interfere em todos os níveis da personalidade psicomotora e participa de todas as funções motrizes, sendo, sobretudo, o veículo das emoções. Ainda, sob o ponto de vista da psicomotricidade, Coste [9], ao descrever o reflexo miotático como sendo o próprio mecanismo do tono, pontifica que quanto maior for o alongamento do músculo, maior será a tensão, que poderá ser superior àquela que a elasticidade do músculo permitiria supor. Esse mecanismo caracteriza a definição de um reflexo que seria provocado por um estímulo e a este ajustado, estereotipado e previsível. Dessa forma, o reflexo miotático cessa com o estiramento, mas permanece localizado no músculo solicitado. !! EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Conclusão equipe de enfermagem estaria assistindo a uma pequena parcela da imensa dimensão do cuidar. A imobilização do membro superior para infusão venosa, por ser coadjuvante à técnica de punção venosa, normalmente fica em segundo plano nas observações da equipe de enfermagem. No entanto, ela é responsável por uma série de sensações, que vêm sendo alvo de estudos que enfocam a imobilização em hiperextensão do membro superior [7]. No entanto, este estudo demonstrou que a imobilização em postura funcional, a partir de seus efeitos, também deve ser alvo de observação, apesar de ser aquela preconizada como a ideal pelos teóricos da fisiologia articular. Conclui-se que os efeitos da imobilização em postura funcional, podendo estar relacionados à atuação das tiras de esparadrapo sobre as articulações, assim como ao tempo de imobilização imposta pela metodologia do estudo, corrobora a necessidade da adoção de medidas alternativas profiláticas paliativas, proposta por Nascimento [10], para o atendimento às crianças, mas que prospectivamente neste estudo, podem ser remetidas aos adultos, como; a inserção no plano de cuidados diários de enfermagem, após prévia avaliação, da retirada da tala dos membros superiores, a intervalos freqüentes, a fim de promover as ativações circulatória e articular dos pacientes a ela submetidos. Deste modo, ao adotar as medidas que possibilitem a diminuição e/ou eliminação dos efeitos adversos da imobilização em postura funcional, a Referências 1. Nascimento MAL. A Síndrome da criança com o membro superior imobilizado para infusão venosa: uma contribuição da semiologia para o cuidado de enfermagem. Rev Enfermagem UERJ 1999;7(1):09-13. 2. Eugenio SMF. Semiologia para a enfermagem, sinais e signos - o que sabemos e o que fazemos [Mestrado]. Rio de Janeiro: UniRio; 1998. 3. Mello AM. Psicomotricidade, Educação Física e Jogos Infantins. São Paulo: Ibasa; 1998. p.3. 4. Coste JC. A Psicomotricidade. Trad. por Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar; 1977. p.96. 5. Kapandji IA. Fisiologia Articular - Esquemas Comentados da Mecânica Humana, São Paulo: Manole; 1980. p.205. 6. Polit DF, Hungler BP. Fundamentos da Pesquisa em Enfermagem, 3ª edição. Porto Alegre: Artes Médicas; 1995. p.391. 7. Nascimento MAL, Garofalo RE, Santos TS. Descrevendo a tala imobilizadora como veículo de contaminação. Esc Anna Nery Rev Enferm 2000;4(2):243-248. 8. Newton I. Princípios Matemáticos. In: Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural 1974;19. p.471. 9. Coste JC. A Psicomotricidade. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1982. p.24-28. 10. Nascimento MAL. A síndrome da criança com o membro superior imobilizado para infusão venosa: uma contribuição da semiologia para o cuidado de enfermagem [Tese]. Rio de Janeiro: Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro;1996. Anexo Instrumento de coleta de dados Sexo _______ Idade _______ Assinale abaixo os sentimentos que você experimentou durante a dinâmica realizada, da tala imobilizadora em seu membro superior. Sentimentos experimentados durante a imobilização funcional Irritação Dor Ansiedade, angústia Tristeza Outros () () () () ____________ Relate a sua experiência com relação à imobilização do membro superior em postura funcional. Sinais observados: !" EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Artigo original A visita domiciliar no serviço de vigilância epidemiológica como método de trabalho na melhoria da atenção à saúde da criança em um município da grande Porto Alegre RS The home visit in the epidemiologic inspection service as a method of work to improve the attention given to the childrens health in a town belonging to the big area around Porto Alegre RS La visita domiciliar en el servicio de vigilancia epidemiológica, como método de trabajo para mejorar la atención en la salud de los niños en uno de los municipios de la Grande Porto Alegre RS Gisele Cristina Tertuliano Enfermeira,LicenciadaemEnfermagem,Sanitarista,EspecialistaemEnfermagemDomiciliar,SecretariaMunicipaldeSaúdedeCachoeirinhaRS Resumo Trata-se de uma pesquisa qualitativa, quantitativa e retrospectiva, que tem por finalidade analisar a visita domiciliar no setor de Epidemiologia num município da Grande Porto Alegre, na atenção à saúde da criança. A visita domiciliar (VD), é um instrumento que possibilita melhorar a assistência à saúde da criança. Objetivos: Analisar os benefícios da manutenção do instrumento utilizado na VD, para assistência à criança. Metodologia: Estudo retrospectivo, enfoque qualitativo/quantitativo, realizado com crianças moradoras de Cachoeirinha, após analise das declarações de nascidos vivos, sendo escolhidos 30 casos envolvendo desinformação no cuidado à criança, caracterizando a VD. Resultados: Constatou-se que 100% das mães visitadas realizam os cuidados preventivos aos menores de um ano. Considerações finais: O instrumento propicia acompanhamento e controle da saúde da criança e serve como método de atenção à saúde, interação social, cultural e educativa. Palavras-chave: Crianças, cuidados domiciliares de saúde, epidemiologia. Artigo recebido em 5 de janeiro de 2003; aprovado em 25 de janeiro de 2003. Endereço para correspondência: Rua Abram Goldsztein, 250/402, Torre 6, Jardim Itália 91450-155 Porto Alegre RS, Tel: (51) 9983 421. !# EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Abstract This is a qualitative, quantitative and retrospective research that aims to analyze the home visit in the Epidemiology field in a town belonging to the big area around Porto Alegre, in the assistance to the children’s health. The home visit (HV) is an instrument that enables us to improve the assistance to the children’s health. Objectives: To analyze the benefits of maintaining the instrument used in the HV to provide care to the children. Methodology: This is a retrospective study, with a qualitative/quantitative approach, carried out with children who live in Cachoeirinha, after analyzing the statements of those who were born alive. Thirty cases were chosen which involved lack of information in the children care, which characterized the HV. Results: One found out that 100% of the mothers who were visited provide preventive care to the children who are not one year old yet. Final comments: The instrument provides follow-up and control of the children’s health and functions as a method of health care, as well as of social, cultural and educative interaction. Key words: Children’s home nursing, epidemiology. Resumen Tratase de una pesquisa cualitativa, cuantitativa y retrospectiva, que tiene por finalidad analizar la visita domiciliar en el sector de Epidemiología en uno de los municipios de la Grande Porto Alegre, en la atención a la salud de los niños. La visita domiciliar(VD), es un instrumento que posibilita mejorar la atención a la salud de los niños. Objetivos: Analizar los beneficios de manutención del instrumento usado en la VD (visita domiciliar), para la atención a los niños. Metodología: Estudio retrospectivo, enfoque cualitativo/cuantitativo, desarrollado con niños residentes de Cachoerinha, después de analizar las declaraciones de nacidos vivos, siendo escogidos 30 casos envolviendo desinformación en cuidado con los niños, caracterizando la VD (visita domiciliar). Resultados: Se constató que 100% de las madres que fueron visitadas, ejecutan los cuidados preventivos en los menores de un año. Consideraciones finales: El instrumento propicia acompañamiento y control de la salud de los niños y sirve como método de atención a la salud, interacción social, cultural y educativa. Palabras-clave: Niños, cuidados domiciliares de salud, epidemiología. Introdução A enfermagem, dentre as diferentes áreas de atuação e a diversificação de atividades, tem um particular interesse em relação a assistência à saúde da criança, particularmente a criança recém-nascida, que será abordada neste trabalho, com idade menor a um ano. Desta forma, a preocupação de melhorar a atenção à saúde nesta faixa etária, possibilita interação entre os segmentos de atenção à saúde da criança de forma integral. Como enfermeira sanitarista, integrante da equipe de vigilância em saúde do município de Cachoeirinha, atuando no contexto da vigilância epidemiológica como responsável pela imunização, rastreamento neonatal, sistema de nascidos vivos !$ (programas pertinentes ao tema deste trabalho), entre outras atividades, julgamos de extrema importância o aprofundamento da visita domiciliar como prática da vigilância epidemiológica. O profissional de saúde necessita de constante reavaliação do seu método científico de trabalho, com vistas ao aprimoramento de sua prática no dia-a-dia. A atenção integral à saúde da criança, requer maior vigilância e cuidados em saúde, porque muitas vezes ela está inserida num contexto familiar fragilizado, desprovido de recursos econômicos com dificuldades sociais emergentes. Embasadas nesta conduta, o cuidado à saúde da criança transcende a participação dos serviços de saúde. Ele é fortalecido pela sensibilização de todos os atores sociais que prestam atenção à criança: equipe multiprofissional, mãe, familiares, paciente e EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) responsáveis, aguçando em todos a participação num processo de busca da melhoria da qualidade de vida dos menores de um ano. Desta forma, a visita domiciliar é instrumento de proximidade, de criação de vínculos com a comunidade, sendo um instrumento positivo da construção de bases sólidas para o processo de aprendizado, tão importante ao crescimento e desenvolvimento dos seres humanos. Nesta ótica não se atende apenas a criança, mas a puérperia e toda família, cabendo aos profissionais de saúde a abordagem correta no domicílio e o encaminhamento das situações pertinentes. Sabe-se das dificuldades que norteiam o atendimento público aos seus usuários, porém não se exclui a responsabilidade de trabalharmos no processo de mudança do comportamento dos profissionais e dos usuários do sistema de saúde. Outro fator fundamental, é enfrentarmos dia-adia a desinformação, a ignorância, as crenças e valores que mistificam a assistência à criança, elucidando, compreendendo e esclarecendo fatores vinculados e arraigados ao senso comum. Portanto, tem-se como tema desta pesquisa, a visita domiciliar ao recém-nascido como investigação epidemiológica, com o objetivo de melhorar a atenção a sua saúde por meio da Vigilância em Saúde. Objetivos planejamento anual das ações de vigilância em saúde nesta faixa etária. Metodologia Tipo Pesquisa retrospectiva com enfoque qualitativo e quantitativo. Local da pesquisa Domicílio dos usuários do Sistema Único de Saúde - SUS, localizados nas Vilas Nair, Vista Alegre, Nova Cachoeirinha e Granja do município de Cachoeirinha, Rio Grande do Sul. Universo As crianças de zero a um ano, moradoras do município de Cachoeirinha no período de setembro de 2001 a fevereiro de 2002, perfazendo um total de 789 declarações de nascidos vivos analisados, sendo que 105 foram enquadrados em situações predisponentes para visita domiciliar. Os critérios considerados na definição da amostra foram: puérperas adolescentes, multíparas, pré-natal ignorado, número de consultas de pré-natal inferior a 4, baixo-peso e mal formação congênita do recém-nascido. Geral Amostra Analisar os benefícios da manutenção de um instrumento padronizado para uso na visita domiciliar pelo profissional enfermeiro, para a melhoria da atenção à saúde da criança de zero a um ano no serviço de vigilância epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde de Cachoeirinha. Correspondem às 30 (28,5%) crianças residentes nas microáreas, onde funciona o PACS, e demais áreas que atenderam aos critérios mecanizados, para a amostra visitadas pelo serviço de vigilância epidemiológica e agentes comunitários de saúde. Específicos Identificar se as informações levantadas pelo instrumento, na visita domiciliar, são pertinentes nesta faixa etária, relacionadas à vigilância epidemiológica. Analisar os benefícios e a validade da manutenção de um instrumento padronizado na realização da visita domiciliar, para qualificar a atenção à saúde da criança de zero a um ano no serviço de vigilância epidemiológica. Criar um banco de informações para subsidiar o Procedimentos Realizou-se um levantamento bibliográfico, onde foram selecionados os conteúdos teóricos sobre o tema da pesquisa: visita domiciliar no serviço de vigilância epidemiológica, como método de trabalho na melhoria da atenção à saúde da criança de zero a um ano, seus conceitos, vantagens, limitações, avaliações, assim como o papel da equipe de vigilância epidemiológica, mais especificamente a equipe de enfermagem. Para o seu desenvolvimento, buscamos o embasamento através de livros, artigos atuais incluindo acesso à internet. !% EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Com este material foi possível desenvolver o tema definitivo, estruturando o marco teórico do estudo aqui apresentado. O local da pesquisa foi o domicílio dos usuários do Sistema Único de Saúde do município de Cachoeirinha, mediante consentimento deless e preenchimento do boletim de atendimento do próprio SUS. A coleta de dados ocorreu no período de setembro de 2001 a fevereiro de 2002, na busca ativa nas declarações de nascidos vivos enquadradas nas situações predisponentes para a visita domiciliar. Foram visitadas 30 crianças, sendo aplicado, na ocasião, o instrumento que avalia as informações que as mães têm em relação à saúde da criança nesta faixa etária, além de fatores relevantes ao planejamento familiar e DSTs. Estas visitas foram realizadas pelas auxiliares de enfermagem Aura, Nóris e a enfermeira Gisele. O horário para a visita domiciliar, sistematizou-se pelas características da clientela assistida (fatores culturais, sociais e econômicos), sendo realizadas das 9h às 12h e das 14h30min às 17h de segunda à sexta-feira. Muitas vezes retornou-se aos domicílios, por não encontrar os envolvidos no processo de investigação. Instrumentos do estudo Os instrumentos utilizados para o desenvolvimento de todas as etapas da pesquisa foram: Anexo A O organograma descreve as áreas de atuação da vigilância em saúde. Anexo B Registrado protocolo das funções da vigilância epidemiológica, cobradas pela Secretaria Estadual de Saúde e pelo Ministério da Saúde. Anexo C Documento oficial (modelo) que declara o nascimento dos recém-nascidos, de onde buscou-se os primeiros dados para definir a população-amostra. Anexo D Ficha criada para retirar e organizar os dados de cunho investigatório na declaração de nascidos vivos, para encaminhamento das visitas. Anexo E Instrumento de coleta de dados, composto de identificação e perguntas abertas, para avaliação de sua eficácia e eficiência para o serviço de vigilância epidemiológica. Apêndice1 Ficha de atendimento ambulatorial, que autoriza a realização da visita domiciliar e a coleta de dados, assinada pelo responsável do paciente com !& o seu consentimento pela ficha de atendimento ambulatorial. Resultados Neste capítulo trataremos de apresentar o resultado da aplicação do instrumento desta pesquisa (anexo E), já aplicado sob forma de entrevista. Iniciaremos a descrição detalhada deste processo, expondo as questões e suas respectivas interpretações. Inicialmente, pelo anexo D, constatamos que as mães dos 30 recém-nascidos têm idade entre 15 a 38 anos. Os resultados obtidos pela entrevista da visita domiciliar junto à mãe, em relação aos cuidados e Vigilância em Saúde do RN prestados pelas mães foram: a) Quanto à realização do teste do pezinho no RN (recém-nascido) na Unidade Básica de Saúde até o trigésimo dia do nascimento, observou-se que as mães cumpriram o cuidado no prazo hábil. Do total das mães entrevistadas, 100% (30) haviam levado seus filhos na Unidade Sanitária para o rastreamento neonatal no momento da visita domiciliar. Os testes realizados neste município são encaminhados à Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sendo coletado amostra de sangue em papel filtro do membro inferior do recém-nascido, que detecta a fenilcetonúria, o hipotireoidismo e a anemia talciforme nas seguintes unidades de saúde: PAM, Getúlio Vargas, Décio Martins Costa, USPA 24hs, Nova Cachoeirinha, Osvaldo Cruz, CAIC da Granja. Prevenir a deficiência mental é questão de alta relevância social e isso faz com que a realização de um teste simples como o Teste do Pezinho, seja um importante instrumento de diagnóstico e prevenção de doenças genéticas e metabólicas, caso seja realizado antes do primeiro mês de vida do bebê. b) Quanto ao método de nutrição do RN adotado pela mãe no primeiro trimestre de vida, constatamos que 27 delas optaram pela modalidade correta. Das puérperas entrevistas, todas foram orientadas no pré-natal sobre a importância do aleitamento materno, sendo de mães portadoras do HIV os casos de nutrição fora do contexto da amamentação. Alguns autores relatam o colostro e o leite materno como um dos modos de transmissão do HIV. Gestantes soropositivas são orientadas sobre as medidas que podem amenizar a transmissão vertical (mãe para concepto). EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) c) Quanto ao controle da IRA no RN e orientações sobre a ocorrência destas infecções. Todas as mulheres (30) foram orientadas sobre a ocorrência de possíveis infecções respiratórias agudas na infância, os sinais de alerta e as providências a serem empregadas nesses casos. As doenças respiratórias são uma das principais causas da mortalidade infantil. d) Controle das diarréias no RN, observou-se que todas as mães possuíam conhecimento sobre o assunto. Todas as entrevistadas (30) foram orientadas a respeito da possível ocorrência de episódios diarréicos na infância, fatores inerentes a elas e as condutas a serem empregadas. As doenças diarréicas, são uma das principais causas de mortalidade infantil. e) Controle mensal da saúde da criança na consulta médica e de enfermagem. O acompanhamento mensal ao pediatra, faz-se necessário nos primeiros anos de vida como objetivo de acompanhar o crescimento e desenvolvimento da criança, através das medidas de puericultura. Das 30 mulheres entrevistadas, 29 visitam o pediatra de 30 em 30 dias, sendo que uma retorna às consultas de 20 em 20 dias por orientação médica. Nesta ocasião é feito o controle do peso, da altura, das vacinas, do perímetro cefálico, das vias respiratórias, controle das infecções e doenças. O Estatuto da Criança e do Adolescente, no artigo 7, declara que “a criança tem direito à proteção a vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.” f) Quanto ao método contraceptivo utilizado, constatou-se que a maioria das pacientes fazem uso de contraceptivo oral (53,33%), caracterizando a ocorrência de casos de sífilis e HIV+ entre as puérperas. Foram indagadas sobre o uso correto de ambas as técnicas de contracepção. Segundo as Normas Técnicas e Operacionais em Saúde da Mulher, a camisinha é um método de barreira de alta eficácia com índice de falha oscilando entre 2 e 15%. A principal vantagem está relacionada com a prevenção das DST. Deve-se recomendar que sejam usadas sempre, desde o início do relacionamento, antes do coito, independentemente do uso de outro método hormonal. Do total das puérperas, 26 delas (86,66%) realizaram pré-natal sendo que, 3 (11,53%) realizaram de 1 a 3 consultas de pré-natal. Das 3 puérperas que não realizaram pré-natal (10,00%) duas delas (6,66%) eram portadoras de DST/AIDS; um caso de sífilis e outro de HIV, descobertos no parto. Das puérperas que realizaram pré-natal (26,66%), constataram durante a gravidez a importância do acompanhamento pré-natal. Verbalizaram intercorrências da gravidez, que foram amenizadas mediante o pré-natal, exemplo bolsa rota, préeclâmpsia, sífilis, HIV+. O acompanhamento pré-natal, melhora a qualidade de vida e de saúde da população. A contribuição da assistência pré-natal na prevenção da morbimortalidade materna e perinatal é reconhecida, e considerada um importante fator para o pleno desenvolvimento de uma criança. A faixa etária das entrevistadas não constava no instrumento de entrevista, mas é relevante em situações onde a puérpera é muito jovem e não planejava a gravidez. Considera-se também o nível de instrução como fator relevante no planejamento familiar e saúde da mulher. As puérperas com doença infecciosa em curso foram encaminhadas para o serviço de referência para prosseguimento do tratamento. Considerações finais Os benefícios da manutenção de um instrumento padronizado para a melhoria da atenção à saúde da criança, empregada ao serviço de vigilância epidemiológica, tendo como método a visita domiciliar, detecta a identificação de informações pertinentes a esta faixa etária. Através deste instrumento, aplicado no domicílio, orientamos e educamos 100% das mães entrevistadas em relação aos cuidados a criança em relação ao aleitamento materno, visita periódicas à consulta pediátrica e de enfermagem, orientações sobre infecção respiratória aguda, diarréias agudas, entre outras, além da importância à proteção específica relacionada às imunizações. Levantamos possíveis alternativas de soluções em relação às necessidades de saúde, como cuidados com a nutrição do recémnascido em caso de mãe HIV, alternativas de contracepção, fornecendo subsídios educativos para a puérpera e a família. É importante ressaltar a importância da comunicação entre a equipe da vigilância epidemiológica e a família, criando-se um círculo de troca de informações, enfatizando o armazenamento e acompanhamento dos casos pertinentes. Busca-se desta forma, a mudança de comportamento das famílias visitadas. Numa sociedade onde predomina-se, muitas vezes, o comportamento paternalista, faz-se necessário !' EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) um processo de ensino-aprendizado contínuo, calcada constantemente com medidas educativas, que determinem e propiciem a mudança de comportamento, principalmente para as puérperas. Na história natural da doença, sendo neste caso avaliado o período de prê-patogênese, é importante as ações da equipe de vigilância epidemiológica e os demais profissionais voltados a assistência, através de práticas de prevenção primária. Desta forma, avalia-se as orientações prestadas no pré-natal, puerpério e ao longo do primeiro ano de vida da criança, analisando a resposta verbal e comportamental dos indivíduos beneficiados pela assistência. Profissionais voltados com a assistência à saúde do indivíduo, comprometidas com as questões do cuidado e educação em saúde, permanecerão sempre vinculados às metodologias que visem qualificar e instrumentalizar a atenção à saúde do indivíduo. A divulgação desses dados é de extrema importância para a comprovação científica do trabalho realizado, além da instrumentalização e documentação das atividades realizadas como meio de medidas de planejamento. Desta forma, todo o esforço e comprometimento visam, neste momento, melhorar a atenção à saúde da criança, de acordo com os princípios do Programa de Atenção Integral à Saúde da Criança (PAISC), que objetiva: desenvolver ações que favoreçam o crescimento, o desenvolvimento e a qualidade de vida da criança, a diminuição da mortalidade infantil, proporcionar atendimento rotineiro, periódico e contínuo, acompanhar o processo de crescimento e desenvolvimento das crianças, incentivo e apoio ao aleitamento materno, orientação à alimentação, imunizações, a identificação precoce dos processos patológicos, além de promover vigilância de situações de risco específicos, como desnutrição, infecções, diarréia. Portanto, a visita domiciliar é de suma importância para a assistência ao indivíduo e sua família. Ela é um veículo de interação social e cultural, da qual o profissional da enfermagem e os demais convivem cotidianamente. A prevenção primária, o controle de doenças no enfoque epidemiológico, são " ações concretas que identificam, agem e resultam no perfil desejado, esperado e necessário para a atenção à saúde da criança e adolescente. Bibliografia 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. Duncan BB. Mediana ambulatorial – condutas clínicas em atenção primária. 2a ed. Porto Alegre : Artes Médicas; 1996. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei Federal 8.069 de 1990. Filgueiras SL. Coordenação Nacional de DST/AIDS. Aconselhamento em DST/HIV/AIDS. Diretrizes e procedimentos básicos. Ministério da Saúde: Brasília 1998. FUNASA. Curso básico de vigilância epidemiológica. Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica. Unidade 2, 2001. Jacob Filho W. Assistência domiciliária interdisciplinar em uma instituição de ensino. In: Duarte YAO, D’Eboux MJ. Atendimento Domiciliar – um enfoque gerontológico. Rio de Janeiro; 2000. p.539-44. Januário JN, Mourão OG. 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Philippi Santos ML, Malavassi ME, Arone EM. Série Apontamentos. Enfermagem em doenças transmissíveis. São Paulo: Senac; 1994. EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Artigo original Estagiários x UTI: sentimentos em relação ao inesperado Trainees x Intensive Care Unit: feelings concerning what happens unexpectedly Pasantes x UTI: sentimientos en relación a lo inesperado Andréia Saccol Lourenço*, Regina G. Santini Costenaro** *Enfermeiraespecialistaemcuidadosintensivos,EscoladeEnfermagemSãoFranciscodeAssis,CaxiasdoSulRS,**Doutoraemenfermagem, FaculdadeFranciscana,SantaMariaRS Resumo Este trabalho foi realizado com intuito de inserir uma nova visão sobre estagiários de UTI e seus sentimentos. Sempre que visualizamos o corpo de alguém, conseguimos observar os sentimentos vivenciados durante este período. Vem daí a importância do ser educador, que através de uma observação é capaz de interpretar os fatos e satisfazer as necessidades dos alunos e acadêmicos. O auxílio na solução dos problemas e o comprometimento em harmonizar estes corpos são de grande importância, pois ajudando uns aos outros, compartilhando experiências, criaremos oportunidades para a interação da equipe multiprofissional. Palavras-chave: Enfermagem, cuidados de terapia intensiva. Abstract This work was carried out aiming at giving a new perception of the Intensive Care Units (ICU) trainees and their feelings. Whenever we visualize someone’s body, we are able to observe the feelings that are experienced during this period. Hence the importance of being an educator, who, through observation, is capable of interpreting the facts and meeting the pupils’ and the students’ needs. The help to solve problems and the commitment to harmonize these bodies are very important, for, helping each other and sharing experiences, we will create opportunities of interaction of the multiprofessional team. Key-words: Nursing, Intensive Care Units. Artigo recebido em 13 de janeiro de 2003; aceito em 25 de janeiro de 2003. Endereço para correspondência: Profa. Andréia Saccol Lourenço, Escola de Enfermagem São Francisco de Assis, Rua Moreira César, 2067, 95034-000 Caxias do Sul RS, Tel: (54) 214 5714/9113 9458, E-mail: [email protected] " EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Resumen Este trabajo fue realizado con la intención de inserir una nueva visión sobre pasantes de UTI y sus sentimientos. Siempre que visualizamos el cuerpo de alguien, conseguimos observar los sentimientos vivenciados durante este período. Viene de esta observación la importancia de ser educador, que a través de ella es capaz de interpretar los hechos y satisfacer las necesidades de los alumnos y académicos. El auxílio en la solución de los problemas y el compromiso en armonizar estos cuerpos son de gran importancia, pues ayudando unos a los otros, compartiendo experiencias, crearemos oportunidades para la interacción del equipo multiprofesional. Palavras-clave: Enfermería, cuidados de terapia intensiva.. Introdução Este trabalho tem por finalidade relatar alguns fatos descritos, durante o estágio dos alunos de auxiliar de enfermagem, de técnico de enfermagem e acadêmicos do curso de enfermagem, demonstrando os sentimentos despertados neste período. A temática está relacionada diretamente a ansiedade, sentimento descrito no dicionário Duncan [1], como de “medo, apreensão, tensão e receio associados a um temor real ou imaginário sobre a própria segurança”. O objetivo maior deste processo foi de minimizar os desconfortos pré-estágios, bem como demonstrar aos estagiários métodos de vencer as barreiras, identificando previamente os problemas e sanandoos com técnicas pertinentes. Relação dos conhecimentos adquiridos e a teoria trabalhada A proposta inicial deste trabalho, foi refletir sobre os sentimentos despertados pelos alunos durante os dias que antecederam o estágio em unidade de terapia intensiva. A forma de pesquisa utilizada, que mostrou ser a mais adequada, foi à qualitativa, através do método fenomenológico. Assim sendo, é importante fazer algumas considerações sobre esta e este método. Ao se falar de uma pesquisa qualitativa, a fonte direta dos dados é o ambiente natural, portanto o investigador é o instrumento principal. A pesquisa utilizou-se da entrevista que para Morgan & Moreno [2], “é dirigida por uma das pessoas, com o objetivo de obter informações sobre a outra”. No caso do investigador qualitativo, a entrevista surge " com um formato próprio, para buscar o real na vivência das pessoas, na tentativa de mostrar as coisas como realmente aconteceram. O termo fenomenologia significa o estudo dos fenômenos, isto é, que se mostra a nossa consciência. Neste trabalho tivemos um jeito próprio de abordar o fenômeno e na fenomenologia de interrogar aquilo que se apresenta a nossa experiência. A fenomenologia busca o significado das experiências para o ser humano e vice-versa, para através da compreensão, conhecer o outro em suas possibilidades. Para compreender o fenômeno é necessário escutar, estar atento, mas sem respostas rápidas. Vendo o outro pelos seus gestos, seu olhar, suas palavras e seus comportamentos, renunciando o princípio da razão para poder compreender as significações. O método fenomenológico não busca resultados, mas procura descobertas. Não fragmenta o conhecimento considerando todas as variáveis de uma experiência, mas sim vendo a situação do ser humano no mundo e como ocorre essa integração. Ao utilizar esta metodologia, pode-se resgatar os sentimentos destes alunos, que tiveram toda a liberdade de expor seus pensamentos. A aplicação desse estudo foi realizada durante o ano de 1999. O tempo das entrevistas variou entre 30mn e 1h15mn. As questões abordadas durante as entrevistas foram: - estando prestes a realizar o estágio em UTI, o que você sente neste momento; - descreva estes sentimentos. Foram entrevistados 26 alunos do curso técnico de enfermagem, 9 alunos do curso de auxiliar de enfermagem e 5 acadêmicos do curso de enfermagem, com idade entre 18 e 51 anos, de ambos os sexos, que EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) realizavam estágio no Hospital Pompéia. A omissão dos nomes deve-se a preservação da identidade dos sujeitos, compromisso firmado por ocasião das entrevistas. Durante o estudo, optou-se pela entrevista semiestruturada e informal, favorecendo, desta forma, uma melhor interação com os entrevistados, permitindo abordagens pessoais. São necessários alguns registros para alcançarmos os objetivos da entrevista, que deve ser realizada somente quando tivermos um ambiente favorável. Rogers & King [3] destacam 3 características importantes para desenvolver as entrevistas, que são: - calor e responsabilidade, onde o entrevistador demonstra seu interesse pela pessoa que será entrevistada; - permissão de expressão de sentimento é quando o entrevistado fala o que está sentindo e o entrevistador não interfere; - ausência de qualquer tipo de coerção. Aqui o entrevistador não coloca a sua vontade. Após ter realizado as entrevistas e de tê-las analisado, observou-se que a maioria dos alunos referiu a palavra ansiedade ao responder as questões. Para Kaplan & Sadock [4], “a ansiedade é um sinal ou indicador, para o ego da necessidade de erigir defesas psicológicas”. Desta forma, evidenciamos que os alunos gostariam de transpor certos momentos, mesmo não sabendo se eles trariam respostas positivas ou negativas. Outra palavra bastante presente foi motivação, que para Duncan [1] é o impulso, incentivo, necessidade, atitude e expectativa que resulta em ação, que converge a todos os tópicos trabalhados com os alunos, discriminando as ações realizadas e os objetivos a serem vencidos. Quando NT, ao ser entrevistada, baixou a cabeça e chorou em silencio, lembrei-me das palavras de Crema, citado por Fraga [5], “o corpo é um inconsciente visível. Quem vê corpo, quem vê cara, vê coração sim, vê a alma também”. Observou-se neste caso, que o papel do educador era o de suprir a insegurança e o medo deste aluno, que por ter passado por experiências anteriores, não estava preparado para tal confronto. De certo modo, devemos tentar nos colocar atrás das ações de nossos alunos, para conseguirmos, através de seus anseios, resgatar aquilo que nos quer ser dito. Merleau-Ponty [6] já dizia, “não tenho corpo, mas eu sou meu corpo”. Deveríamos então proporcionar ao nosso corpo, oportunidade de demonstrar os sentimentos que ele nos quer transmitir, pois, na maioria das vezes, suas ações e expressões não condizem com que é falado, porque as palavras distorcem o que as pessoas realmente sentem em seu coração. Deveríamos, de certa forma, falar calados. Por outro lado, PS e LV preferiram não identificar este momento, como predispostos de situações onde fossem geradas expectativas ou qualquer outro tipo de sentimento negativo. Fraga [5] descreve que “diferentemente dos técnicos e auxiliares, os enfermeiros não desenvolvem muitos mecanismos de defesa” e muitos, desta forma, buscam negação dos fatos. Sempre foi mais viável negar, proteger, do que falar. Então, se quisermos realmente perceber as dificuldades dos alunos, devemos estar abertos para um simples ouvir, para romper barreiras, que muitas vezes fazem deles, sujeitos sem identidade. Quando estão tristes, raramente precisam exteriorizar através da fala o que estão sentindo, pois o olhar, a lágrima, fala por eles. Desta forma, devemos observar aquilo que indiretamente nos é transmitido como ansiedade e desânimo, mas às vezes o que nos falta é saber observar. Kaplan & Sadock [7] assim se expressam: “a observação tem o propósito de tornar acessível o que, de outra maneira, poderia não ser visto ou, sendo visto, não ser notado, que muitas vezes não depende de instrumentos especiais, mas sim de especiais circunstâncias”. Mas acima de tudo, antes de qualquer circunstância, seria bom ouvir respostas para simples perguntas. É “bom” questionar e assim compreender, pois através da compreensão teremos respostas para questões que nos farão repensar os nossos próprios problemas e isto, muitas vezes, não é de nosso interesse. Muitas vezes, para nos proteger, preferimos ignorar nossos sentimentos. São as conhecidas “máscaras”, citadas por Maffesoli [8] que, se em alguns casos nos possibilitam enfrentar as duras dificuldades encontradas em nosso cotidiano, em outros nos impede de aprendermos a enfrentar e educar certos sentimentos, que ainda não são bem conhecidos por nós mesmos, dificultando o nosso auto conhecimento. A impressão da equipe em relação aos médicos não foi muito positiva. ED comentou: “parece que estão em invólucros de vidro, são impenetráveis”. Calland, citado por Merleau-Ponty [6], diz que “o médico é mais freqüentemente um observador do que um participante no sofrimento humano”. MH mostra insatisfação e insegurança em realizar procedimentos com pacientes em fase final de SIDA. Terminou sua entrevista dizendo: “Sei que é em mim que os profissionais se espelharão no futuro, mas garanto que se eu pudesse escolher, não trabalharia com eles, e se eu me ferir?”. "! EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Soares [9] descreveu: “Sabe-se que o perigo de contaminação existe logo ali, esperando a menor distração para se apresentar. Mesmo assim não devemos viver em pânico”. Como é possível observar, nós, destacados por muitos pacientes como os “anjos de branco” e que por vezes passamos aquela visão quase “angelical”, também somos feitos de carne, ossos e sentimentos, que devem ser levados em conta. Sharon [10] relata ainda que: “é com o enfermeiro que o paciente falará mais facilmente a respeito de suas preocupações e necessidades, tanto físicas, como emocionais ou espirituais”. É para isso que devemos estar qualificados para ouvi-los, vencendo nossas próprias barreiras. Após o levantamento das dificuldades e com o apoio de uma psicóloga, identificamos que os alunos necessitavam do confronto dos conteúdos passados na teoria e a visualização dos mesmos na prática. Além disso, proporcionamos visitas nos campos de estágio e palestras, onde questões como autocuidado, observação, relacionamento interpessoal e morte, foram trabalhados com a finalidade de eliminar tabus. Dizia Barros [11], “o saber definitivo não existe; existem conquistas já estabelecidas”. Cada dia de estágio era observado com grande expectativa, pois queríamos estabelecer se todo trabalho realizado traria ou não suporte para os alunos transporem todas situações apresentadas no contexto do estágio. Rezende [12] diz que devemos “capacitar para o uso da máscara e do escudo da ciência e da técnica, transformando o aluno no ser competente dentro da ordem profissional”, criando oportunidades e condições de auto sustentação. Após alguns dias iniciou-se o retorno através dos comentários de alguns alunos. “Se eu soubesse que seria tão fácil, não teria me estressado. Pelo contrário, estaria bastante calma, perdi quatro quilos” (AE). Merleau Ponty apud Polak [13] diz que não temos um corpo, mas que somos um corpo capaz de se comunicar com o outro e com o mundo, de estar com eles e não apenas ao lado deles. AE, devido à dificuldade de vencer a ansiedade, não se alimentava chegando até a um quadro anêmico. Podemos somente concordar, que cada vez mais devemos proporcionar que os alunos descrevam suas dificuldades e que também estejamos dispostos a ouvilos e ajudá-los, pois somente desta forma haverá um crescimento para ambos. Calland, citado por Merleau-Ponty [8], referiu: “Trata-se do corpo de outro ou de meu próprio corpo. Não tenho outro meio de conhecer o corpo humano "" se não vivendo-o”. Quer dizer, retornar por minha conta o drama que atravessa e me confundir com ele. À medida em que desenvolvemos nossa sensibilidade, compreendemos a validade e a importância como forma de humanização. JT ao transcrever a sua relação com os familiares, disse o seguinte: “Tenho medo de dizer mais do que eu devo, de expor fatos que não seriam da minha abrangência, dessa forma prefiro deixar que os outros falem e conversem com os entes”. Segundo o DSM-III-R [14], “agorafobia é o medo de estar em lugares ou situações dos quais seja difícil ou embaraçante sair”. Não podemos ser coniventes com estes fatos. Devemos criar formas das pessoas transporem estes obstáculos. Estamos construindo uma nova maneira de sentirmos e fazermos enfermagem. Um fazer mais reflexivo, critico e empático, pois nenhuma técnica pode suprir o que o “coração” sente. Desenvolver este caminho mais sensível não significa abrir mão do conhecimento técnico, mas sim valorizar outras formas de conhecimento tão importantes quanto essa, pois o valor de um profissional não depende somente de sua competência, mas de sua postura enquanto ser humano. Conclusão Ao realizar este trabalho, foi possível assimilar a importância de pequenos gestos ao cuidarmos de nossos clientes, sejam eles pacientes de um hospital ou alunos dentro de uma instituição de ensino, pois tanto um como outro, entregam seus corpos e mentes a nossa disposição, proporcionando a nós, profissionais de enfermagem, a compreensão de suas necessidades básicas e a avaliação dos resultados dos esforços a eles destinados, pois nem sempre estaremos na posição de cuidadores. Gostaríamos de quando clientes, termos a certeza que estamos em boas mãos. Referências 1. Duncan HA. Dicionário Andrei para enfermeiros e outros profissionais da saúde. São Paulo: Copyright;1987. 2. Morgan AJ, Moreno JW. La práctica de enfermaría di salud mental. Colômbia: OPAS-OMS; 1979. 3. Rogers C, King M. Psicoterapia e relações humanas. 2a ed. Belo Horizonte: Interlivros; 1975. 4. Kaplan H, Sadok B. Compêndio de psiquiatria. Porto Alegre: Artes Médicas; 1992. 5. Fraga Oliveira MN. A prática de enfermagem EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) psiquiátrica subordinação e resistência. São Paulo: Cortez; 1993. 6. Merleau-Ponty M. 1971. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Livraria Freitas Bastos; 1971. 7. Kaplan H, Sadok B et al. Luto e pesar. In: Medicina Psiquiátrica de Emergência. Porto Alegre: Artes Médicas; 1995. 8. Maffesoli M. A conquista do presente. Rio de Janeiro: Rocco; 1984. 9. Soares ME 1999. Vivências e relatos de profissionais, familiares e pacientes. Porto Alegre: WS Editor; 1999. 10. Sharon F. Spiritual care. The Nurse’s Role. Downers Grave Illinois: Copyright; 1978. 11. Barros CASM. Consultoria Psiquiátrica em uma equipe de nefrologia. In: Alcoolismo obesidade consultoria psiquiátrica. Porto Alegre: Movimento; 1997 12. Rezende ALM. O fio das moiras – O afrontamento do destino no quotidiano da saúde. Florianópolis: UFSC; 1995. 13. Polak YS. A corporeidade como resgate do humano na enfermagem. Florianópolis: Gráfica universitária – UFPEL; 1997. 14. DSM-III-R. Manual de diagnostico e estatística de distúrbios mentais. São Paulo: Manole; 1989. "# EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Revisão Protocolo de tratamento imediato de paciente com lesões de queimaduras Imediate treatment protocol for patient with burns Protocolo de tratamiento inmediato de pacientes con lesiones de quemaduras Ana Paula Cunha*, Ana Paula Alves Lorenzo**, Daniele Giorgio de Aguiar***, Lílian Prates Behring**** *Enfermeira, Especialista em Administração Hospitalar, especializanda em Enfermagem de Alta Complexidade, Enfermeira Assistencialna UTI Adulto do Hospital e Maternidade São Camilo em São Paulo, **Enfermeira, especializanda em Enfermagem de Alta Complexidade, atuando como Enfermeira no Programa de Saúde da Família no Rio de Janeiro, ***Enfermeira, especializanda em Enfermagem de Alta Complexidade, atuando como Enfermeira Supervisora na UTI no Hospital São Lucas no Rio de Janeiro, ****Enfermeira, especialista em EnfermagememTerapiaIntensiva,especialistaemMBASaúde,mestrandaemEnfermagem,professoranocursodeEspecializaçãoemEnfermagem deAltaComplexidade Resumo Queimaduras são causadas por transferência de energia de uma fonte de calor direta sobre o corpo. Cuidados imediatos e sistematizados nos pacientes são necessários para manter os dados vitais. As autoras elaboraram este protocolo com o objetivo de: conhecer as causas da queimadura; classificar queimaduras; enfocar cuidados iniciais ao paciente com lesão de queimadura e elaborar rotinas de enfermagem que viabilizem uma assistência rápida. Faz-se necessário uma assistência de enfermagem sistematizada, com estratégias para salvar a vida e manter as funções pulmonar, cardiovascular e renal. O enfermeiro que trabalha em centro de queimados deve possuir conhecimentos específicos e suficientes para lidar com o paciente, as possíveis complicações, bem como com seus familiares. Palavras-chave: Queimadura, assistência de enfermagem. Abstract Burnings are caused by energy transferency. Imediate and systematized care are necessary to support patients life. This protocol was organized with objectives: offering knowledge about the causes of burns, to point out initial nursing care and elaborate a routine procedures. A systematized nursing care with strategies to save life and mantain pulmonary and cardiac functions are too important. The nurses who work in Burn Care Center must possess particular and ample experience to deal with patients that suffer with burn injuries and possible complications. Key-words: Burns, nursing care. Artigo recebido em 24 de outubro de 2002; aceito em 15 de dezembro de 2002. Endereço para correspondência: Ana Paula Cunha, Av. Diógenes Ribeiro de Lima, 3320 Alto da Lapa 05083-010 São Paulo SP, Tel: (11) 3836-5887 / 9795-3910, E-mail: [email protected] "$ EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Resumen Quemaduras son causadas por transferencia de energia de una fuente de calor directa sobre el cuerpo. Cuidados inmediatos y sistematizados en los pacientes son necesarios para mantener los datos vitales. Las autoras elaboraron este protocolo con el objetivo de: conocer las causas de la quemadura; clasificar quemaduras; enfocar cuidados iniciales al paciente con lesión de quemadura y elaborar rutinas de enfermería que viabilicen una asistencia rápida. Hacese necesario una asistencia de enfermería sistematizada, con estrategias para salvar la vida y mantener las funciones pulmonares, cardiovascular y renal. El enfermero que trabaja en el centro de quemados debe tener conocimientos específicos y suficientes para tratar con el paciente, las posibles complicaciones, así como con sus familiares. Palabras-clave: Quemadura, asistencia de enfermería. Introdução A pele é o maior órgão do corpo humano. Protetor e impermeável à água, participa como regulador-térmico corporal, o que a torna um órgão vital indispensável para a sobrevivência. As queimaduras são causadas por uma transferência de energia de uma fonte de calor direta sobre o corpo. O calor pode ser transferido através de uma condução ou de radiação eletromagnética. A destruição do tecido resulta da coagulação, da desnaturação da proteína ou da ionização dos conteúdos celulares. A pele e as vias aéreas superiores são os sítios de desnutrição tecidual. As queimaduras podem ser catalogadas como: Térmicas: causadas pela condução de calor através de líquidos, sólidos, gases quentes e do calor de chamas; Elétricas: produzidas pelo contato com eletricidade de alta ou baixa voltagem; Químicas: provocadas pelo contato de substâncias corrosivas, líquidas ou sólidas com a pele; Radioativas: resulta da exposição à luz solar ou a fontes nucleares. As lesões causadas pelas queimaduras nos tecidos da pele, provocadas por contato térmico, químico ou elétrico, resultam em perda de proteínas, edema na região afetada e perda intensa de líquidos do interior dos vasos no local afetado, em decorrência do aumento da sua permeabilidade. Os efeitos como choque, infecção ou lesões do aparelho respiratório, que decorrem de uma queimadura, são a maior ameaça a vida do paciente. Mais da metade das queimaduras que levam à admissão hospitalar poderia ser evitada. As crianças e os idosos estão particularmente em risco de queimaduras. A maioria das lesões de queimadura ocorre em casa, sendo a cozinha, os aquecedores e o uso de aparelhos elétricos os mais envolvidos. Os setores industriais também respondem por um grande número de queimaduras. A gravidade da queimadura e o risco são avaliados sempre em função da quantidade de tecido afetado. Esta quantidade é representada pela porcentagem da área de superfície corporal (SC) e pela profundidade da queimadura. Segundo esses critérios, a classificação é a seguinte: • Queimadura leve: quando a área afetada é menor de 15% da SC; • Queimadura moderada: quando a área afetada está entre 15 a 49%; • Queimadura extensa: quando a área afetada situa-se entre 50 a 69%; • Queimadura maciça: quando a área afetada ultrapassa a 70%. As queimaduras são classificadas de acordo com a profundidade da destruição dos tecidos: a) 1° grau: não ocorre destruição da derme; acontecem edema discreto, hiperemia, eritema e dor (sensível ao tato), pele úmida (lesão de epiderme superficial). b) 2° grau: destrói a epiderme e parte da derme; caracterizada pela presença de bolhas e exsudação, sensível ao tato, a base da lesão torna-se branca ao ser tocada (lesão de epiderme e derme superficiais). c) 3° grau: a derme foi completamente destruída; a superfície da pele é dura e seca, de cor amarelada e depois ressecada, com vasos dérmicos vistos por transparência; as áreas afetadas apresentam-se anestesiadas (lesão de epiderme e derme profundas). d) 4° grau: são indolores; destrói toda a pele e as estruturas subjacentes, como músculos, aponeuroses, ossos, etc (lesão de espessura profunda). A extensão da lesão em queimaduras é estimada pela Regra dos Nove, onde a cabeça e cada membro superior representam 9% da superfície corporal (SC), cada membro inferior 18% da SC e tronco 36% da SC. Os cuidados imediatos visam manter os dados vitais do paciente. Estes incluem a manutenção das vias aéreas para ventilação e oxigenação, interrupção "% EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) do processo responsável pela queimadura, reposição da perda de volume líquido e plasmático. Deve-se procurar reconhecer e atuar quaisquer outros traumas maiores, além do diagnóstico das alterações metabólicas e proteção contra contaminação bacteriana e surgimento de infecção no paciente. Mediante ao exposto, nós, enfermeiras inscritas no Curso de Especialização em Enfermagem de Alta Complexidade da Universidade Gama Filho, identificamos a necessidade de uma assistência de enfermagem sistematizada e eficaz junto ao paciente queimado. Deste modo, este protocolo tem como objetivo: • Enfocar cuidados iniciais ao paciente com lesão de queimadura; • Elaborar rotinas de enfermagem que viabilizem uma assistência rápida, evitando lesões secundárias; • Classificar queimaduras; • Conhecer as causas da queimadura. Segue-se o protocolo: "& OBJETIVOS DA ASSISTÊNCIA PROCEDIMENTOS DE ENFERMAGEM PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS OBS.: 1 Monitorização do padrão respiratório 1.1) Manter as vias aéreas desimpedias pelo posicionamento adequado da mandíbula. A cabeça deve ser mantida em posição neutra, utilizandose manobras manuais de abertura das vias aéreas sem hiperextensão cervical, pois assegura a permeabilidade das vias aéreas. 1.1) O posicionamento apropriado diminui o trabalho da respiração e promove ótima expansão torácica. 1.2) Observar a presença de corpo estranho, vômito ou sangue na cavidade oral e removê-las através de aspiração com técnica asséptica. 1.2) A retirada de substâncias estranhas favorecem a permeabilidade das vias aéreas. 1.3) Fornecer oxigênio umidificado sob máscara, caso a saturação esteja abaixo de 90% ou em processo clínico de cianose (acrocianose). 1.3) Assegura umidade e oxigênio adequados aos tecidos lesados. 1.3) A provisão de oxigênio umidificado pode decrescer ainda mais o estresse metabólico e assegurar uma adequada oxigenação tecidual. 1.4) Monitorizar gases sangüíneos arteriais. 1.4) A PCO2 aumentada e a PO2 diminuída podem indicar necessidade de ventilação mecânica. 1.5) Estimular o paciente a virar, fazer respirações profundas, tossir e aspirar quando necessário. 1.4) A dosagem dos gases sangüíneos arteriais pode estar alterada com o decorrer do tempo e a progressão da lesão por inalação. 1.5) Tais medidas reduzem o risco de atelectasia e promove a remoção do acúmulo de secreções 1.6) Posicionar adequadamente o paciente no leito. 1.6) Tal medida diminui o trabalho da respiração e promove ótima expansão torácica. 1.7) Prover e prever material suficiente para uma traqueostomia, caso seja necessário realizar o procedimento. 1.7) Reunindo material precocemente agiliza a realização do procedimento 1.7) Nos pacientes queimados as medidas invasivas devem ser evitadas, pois podem ser vias de infecção. EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) OBJETIVOS DA ASSISTÊNCIA PROCEDIMENTOS DE ENFERMAGEM PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS 1 Monitorização do padrão respiratório 1.8) Caso esteja acoplado a prótese respiratória, testar as respostas do paciente pela determinação dos gases sangüíneos. 1.8) A disfunção/obstrução pulmonar pode ocorrer rápida e gradualmente. 2 Manutenção do balanço hidroeletrolítico 2.1) Puncionar acesso venoso periférico de grosso calibre através de cateter curto, preferencialmente na área não lesada e promover reposição hídrica. 2.1) Para manter o estado fluido e eletrolítico e a adequada perfusão dos órgãos vitais, são necessários líquidos suficientes, nas velocidades apropriadas conforme prescrito. 2.1)Eventualmente pode ser necessário violar a área lesada para puncionar acesso venoso. 2.2) Examinar cuidadosamente as extremidades (pulsos periféricos), particularmente se as queimaduras forem circunferências. 2.2) Para detectar comprometimento da circulação resultante do aumento do edema. 2.2) Para reduzir o edema pode ser indicada a elevação dos membros inferiores. 2.4) Iniciar e manter balanço hídrico meticuloso. 2.4) Monitorar o paciente quanto a choque hipovolêmico ou sobrecarga hídrica. 2.4) Registrando e avaliando os fluidos intravenosos administrados, ingestão oral e débito urinário, além da pesagem diária 2.5) Verificar e registrar sinais vitais (T/P/R/PA/PVC), a excreção urinária e os sinais de hipovolemia ou de sobrecarga líquida. 2.5) A hipovolemia é o maior risco após a queimadura; à medida em que ocorre a mobilização dos fluidos, existe um crescente risco de sobrecarga líquida e de insuficiência cardíaca congestiva. 2.6) Monitorizar o estado mental e sensório. 2.6) Fornece informação sobre adequação da perfusão e oxigenação cerebrais. 2.7) Solicitar exames laboratoriais e observar quanto à deficiência ou excesso sérico dos eletrólitos. Anotar os resultados dos exames e relatar ao médico. 2.7) No período pósqueimadura são possíveis rápidos desvios do estado fluido e eletrolítico, que devem ser prontamente corrigidos. 3.1) Observar o estado mental, a freqüência respiratória e os ruídos intestinais. 3.1) Indicativas de contaminação bacteriana e infecção. 3 Monitorização das infecções OBS.: 2.7) Como eletrólitos temos: sódio, potássio, cálcio, fósforo e bicarbonato. "' EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) # OBJETIVOS DA ASSISTÊNCIA PROCEDIMENTOS DE ENFERMAGEM PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS OBS.: 3 Monitorização das infecções 3.2) Remover roupas, adornos e lentes de contato. 3.2) Para realização de um exame físico eficaz. 3.2) Visualização da área lesada e facilita o retorno venoso. 3.3) Usar assepsia em todas as fases do tratamento: A) lavar cuidadosamente as mãos com agentes germicidas antes e depois dos cuidados; B) portar gorro e avental; C) quando as lesões estão expostas ou durante os procedimentos estéreis, cobrir os cabelos e usar máscara; D) durante os curativos, usar luvas estéreis; E) nos cuidados com as lesões e procedimentos invasivos, usar técnica asséptica, F) trocar as veias e equipos de soro a cada 72 horas 3.3) Tais medidas minimizam o risco de contaminação cruzada e propagação de infecção bacteriana. 3.4) Promover imunização. 3.4) Devido a pele ser uma barreira mecânica, ao ser rompida torna-se um meio de contaminação, uma delas pelo Clostridium tetani, causando o tétano. 3.5) Avaliar quanto ao aumento do pulso, diminuição da PA, alterações da excreção urinária, presença de rubor facial e febre. 3.5) Constituem sinais tardios de septicemia. 3.6) Realizar troca diária de curativos com técnica asséptica adequada, utilizando soro fisiológico a 0,9% + clohrorexidina. 3.6) Observa-se as lesões quanto à presença de edema, hiperemia, drenagem purulenta, que são indicativos de contaminação bacteriana e infecção. 3.7) Realizar assepsia com técnica asséptica. 3.7) Evita contaminação do trato respiratório, o que aumentaria as exigências metabólicas. 3.8) Administrar antibióticos e agentes antibacterianos tópicos conforme prescritos. 3.8) Como medida terapêutica o profilática é necessária uma concentração adequada do agente. 3.9) Proporcionar nutrição adequada. 3.9) A nutrição adequada é essencial para a resposta imunológica. 3.4) Em caso de pacientes devidamente imunizados, fica a critério médico a imunização ativa ou passiva. 3.6) Promover analgesia antes de realizar curativo, pois proporciona maior conforto ao paciente. EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) OBJETIVOS DA ASSISTÊNCIA PROCEDIMENTOS DE ENFERMAGEM PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS 3 Monitorização das infecções 3.10) Auxiliar e/ou promover a higiene pessoal adequada. 3.10) Reduz o estresse metabólico. 4 Manutenção da temperatura corporal 4.1) Realizar curativos o mais rápido o possível, sem interferir na técnica. 4.1) Minimiza a perda de calor, através da lesão queimada. 4.2) Manter lesões protegidas por curativos. 4.2) Impede a perda de calor através da lesão da queimadura. 4.2) A pele participa como regulador-térmico corporal. 4.3) Verificar e registrar sinais vitais de 4/4 horas. 4.3) Permite freqüente avaliação da temperatura corporal 4.3) A verificação retal, apesar de mais desconfortável, é a mais fidedigna. A temperatura elevada (acima de 38°C) é um sinal de infecção. Já a temperatura abaixo de 36°C deve ser imediatamente informada ao médico. 4.4) Em caso de febre, administrar antitérmicos conforme prescrito ou utilizar colchas hipotérmicas. 4.4) Tal procedimento reduz o estresse metabólico. 4.4) Caso a temperatura não abaixe, colocar compressas com álcool em regiões axilar e inguinal, mantendo sempre uma axila livre para a verificação da temperatura. 4.5) Ajustar a temperatura ambiente de acordo com as necessidades do paciente. 4.5) Proporcionar um ambiente quente pelo uso de aquecedores, cobertores, manta aquecida ou foco, o que minimizaria a perda de calor por evaporação. 4.5) Mantém a temperatura corporal na faixa de 36.1°C e assegura que a temperatura do quarto não esteja nem muito quente nem muito fria. 5.1) Passar sonda nasogástrica (SNG) e mantê-la em sifonagem até o retorno da peristalse. 5.1) A queimadura produz íleo paralítico, que resulta em distensão gástrica e abdominal. 5.1) A SGN em sifonagem promove drenagem das secreções e evita o vômito. 5.2) Realizar ausculta abdominal de 4/4 horas 5.2) A ausência de ruídos intestinais e decréscimo da peristalse podem indicar íleo paralítico, obstrução intestinal ou sepse. 5.3) Testar resíduo gástrico. 5.3) Antes de administrar dieta pela SNG testar o resíduo gástrico. Grande quantidade indica absorção insuficiente. 5 Monitorização do suporte nutricional OBS.: 5.3) Baixo pH indica necessidade de bloqueadores da histamina ou antiácidos. # EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) OBJETIVOS DA ASSISTÊNCIA PROCEDIMENTOS DE ENFERMAGEM PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS 5 Monitorização do suporte nutricional 5.4) Administrar antiácidos e bloqueadores de histamina conforme prescrito 5.4) Reduz o risco de ulceração gástrica 5.5) Mensurar a circunferência abdominal de 4/4 horas. 5.5) Tal medica auxilia na verificação da distensão abdominal 5.6) Administrar a dieta oral lentamente, observando a tolerância do paciente. 5.6) Não ocorrendo vômito nem distensão, os fluidos devem ser aumentados de modo gradual. 6.1) Avaliar o paciente quanto à dor e diferenciar da hipóxia. 6.1) A avaliação da dor proporciona a obtenção de medidas para avaliar a mesma. 6.1) Utilizar a escala de dor para avaliar sua intensidade. 6.2) Administrar analgésicos conforme prescrito. 6.2) A administração endovenosa pode ser mais eficaz, devido à alteração da absorção e da circulação, resultantes da queimadura. 6.2) Caso seja administrado analgésicos narcóticos, faz-se importante monitorizar a resposta respiratória. 6.3) Introduzir técnicas de relaxamento e distrações. 6.3) O relaxamento e a distração complementam a analgesia e reduzem a ansiedade. 6.4) Proporcionar apoio emocional. 6.4) O apoio emocional é essencial para reduzir o extremo receio e a ansiedade derivados do trauma da queimadura, dos tratamentos e resultados. 6.5) Fornecer informações honestas sobre o estado, procedimentos a serem realizados (terapêutica). 6.5) Promove confiança necessária para o bem estar emocional do paciente e a aceitação dos tratamentos dolorosos. 6 Controle da dor e ansiedade Conclusão O tratamento imediato de queimadura visa a reposição de fluidos e correção de problemas agudos. Faz-se necessário uma assistência de enfermagem sistematizada, com estratégias para salvar a vida e manter as funções pulmonar, cardiovascular e renal. O enfermeiro que trabalha em centro de queimados, deve possuir conhecimentos específicos e suficientes para lidar com o paciente, as possíveis complicações, bem como com seus familiares. Acreditamos que este protocolo possa despertar o interesse de profissionais de enfermagem para esta # OBS.: área, além de poder oferecer subsídios para uma melhor assistência profissional. Referências 1. 2. 3. 4. Brunner LS, Suddarth DS. Tratado de Enfermagem Médico-Cirúrgica. 7°ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1993. Figueiredo NM. Emergência - Condutas Médicas e Transporte. Rio de Janeiro: Revinter; 1996. Isselbacher KJ. Harrison - Medicina Interna. 13°ed. México: Mac Graw-Hill; 1996. Ratton de Amorim JL. Medicina Intensiva. 2°ed. Rio de Janeiro: Atheneu; 1997. EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Atualização O paciente e seus direitos: conhecimento das leis que os asseguram The patient and his or her rights: the knowledge of the laws that assure them El paciente y sus derechos: conocimiento de las leyes que los protegen Avanilde Paes Miranda Enfermeira,Pós-graduadaemVigilânciaSanitáriaeepidemiologia,HospitalportuguêsdeRecife,PSFdeBarradeGuabiraba,Pernambuco, Trabalhoapresentadoao5ºCongressoBrasileirodosConselhosdeEnfermagem,RecifePE Resumo O presente estudo originou-se pela hipótese da falta de respeito aos direitos do paciente/cliente/consumidor no âmbito hospitalar, ocasionada, dentre outros fatores, pelo desconhecimento dos profissionais quanto a esses direitos. O estudo tem como objetivo conhecer os principais direitos assegurados pela legislação ao cliente. A este trabalho não houve aplicação prática, em razão da autora vivenciar a realidade hospitalar e não conhecer todos os direitos concedidos ao consumidor. Palavras-chave: Paciente, direitos, legislação. Abstract This study arose from the hypothesis of the lack of respect to the patient/client/consumer’s rights in the hospital setting, caused by, among other factors, the fact that the professionals who work there do not know these rights. This study aims at knowing the main rights assured by the legislation to the client. In this work, there was no practical use, due to the fact that its author experiences the hospital reality and does not know all the rights granted to the consumer. Key-words: Patient, rights, legislation. Recebido em 10 de janeiro de 2003; aceito em 25 de janeiro de 2003. Endereço para correspondência: Avanilde Paes Miranda, Av. Parnamirim, 327/ 301, Parnamirim 52060-000 Recife-PE, Tel: (81) 9959-5836/3269-3975, E-mail: [email protected] #! EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Resumen El presente estudio se originó por la hipótesis de falta de respecto a los derechos del paciente/cliente/consumidor en el ámbito hospitalar, ocasionada, entre otros factores, por el desconocimiento de profesionales cuanto a eses derechos. El estudio tiene como objetivo conover los principales derechos asegurados por la legislación al cliente. Este trabajo no tuvo aplicación prática, en razón de la autora vivenciar la realidad hospitalar y no conocer todos los derechos concedidos al consumidor. Palabras-clave: Paciente, derechos, legislación. Introdução O cidadão brasileiro, quando procura o sistema de saúde, deixa de ser tratado como ser humano. É considerado apenas como coisa – um osso quebrado, uma diarréia, um coração que não funciona. Não tem nome nem sobrenome, não é atendido de forma digna e tratam-no sem o menor respeito. Os direitos do paciente colocam em discussão a complexa relação entre médicos e pacientes. A aparência da ciência muitas vezes oculta, no vocabulário quase mágico de sufixos e prefixos gregos e latinos, a ausência de consciência sobre os reais problemas com que se lida. A discussão dos direitos do paciente é fundamental na atualidade, pois não se resume à elaboração de uma linguagem abstrata de direitos dificilmente exercidos, mas discute a prática cotidiana e a forma como nascem novos direitos, em uma relação entre cidadãos. Essa nova relação, dá ao seu paciente direitos sacramentados no nosso novo Código de Ética Médica, em vigor desde 1988. Ele assegura aos pacientes o direito a um prontuário, ficha ou registro médico e o acesso a todas as informações que digam respeito à saúde, que devem ser redigidas em linguagem compreensível, além de receita com letra legível. Tem o direito a cópia do material médico, inclusive exames laboratoriais, radiografias, notas de enfermagem, laudos diversos, avaliações psicológicas e psiquiátricas, entre outras. Também estão confirmados no código de defesa do consumidor, os direitos, explicados no artigo 72, que o prestador de serviços, tal como médico ou profissional de saúde, não pode “impedir ou dificultar o acesso do cliente as informações que contem em cadastro, banco de dados, fichas ou registros. Pena: detenção de seis meses a um ano ou multa”. Com isso, o paciente/cliente/consumidor/cidadão pode recorrer também ao PROCON de sua cidade. #" Todos os pacientes/clientes/consumidores têm o direito a ouvir opiniões de outros profissionais, como também solicitar uma conferência na presença de si. Têm o direito de recusar certos tratamento, medicamentos, intervenções cirúrgicas ou internações. Também têm o direito a uma morte digna, escolhendo como e onde quer morrer, se em casa ou no hospital. Têm o direito de visitar filho ou cônjuge quando puder e não têm que obedecer os horários arbitrário dos hospitais. Como também, o direito de permanecer com acompanhante durante exames de hospitalização. O problema Os direitos do paciente/cliente/consumidor, frente ao ambiente hospitalar, são confirmados no Código de Defesa do Consumidor. Pela observação da autora, os direitos dos pacientes não são dignamente respeitados. Talvez seja pela falta de esclarecimento dos profissionais de saúde, que não conhecem os direitos do paciente/cliente/ consumidor ou por falta de uma política adequada ou, ainda, por falta de capacitação profissional. Justificativa do estudo Com a progressão dos tempos aos direitos do cliente/paciente/consumidor, caminhamos para proporcionar melhor atenção e conforto aos clientes, respeitando cada vez mais seus direitos. O médico que respeita os direitos do paciente, pode fazer da relação médico e paciente, uma relação social entre dois seres sociais, ambos com seus direitos ocupando uma posição determinada no universo político. Atualmente, o paciente tem seus direitos sacramentados em nosso Código de Ética Médica, EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) que entrou em vigor em 1988, assegurando-lhe o direito de manuseio ao prontuário e todas as informações que diz respeito a sua saúde. Baseado no exposto, justifica-se a realização do presente estudo, em razão da autora reconhecer a importância dos direitos do paciente/cliente/ consumidor e por ignorar a preservação de todos os direitos, deixando o cliente desinformado. Além do profissional de saúde, que não conhece os direitos do paciente, seja na função de profissional ou até mesmo de cliente. Seja de uma forma ou de outra, a desinformação é causa muito importante e deve ser mostrada a todos, identificando os direitos. Objetivos Objetivo geral Conhecer os principais direitos do paciente/ cliente/consumidor, como também mostrar a importância da comunicação, para um bom relacionamento entre profissionais e pacientes. Objetivos específicos • Obter informações aos direitos do paciente hospitalizado; • Identificar os direitos e deveres do médico; • Conhecer a declaração dos direitos da criança; •Mostrar os direitos do paciente, frente a declaração universal dos direitos humanos. Direitos do cliente/paciente/consumidor Declaração Universal os Direitos Humanos (ONU-1948) Artigo XXV – Todo homem tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar. Constituição da República Federativa do Brasil (05/10/1988) Secção II – Da saúde Artigo 196 – A saúde é direito e dever do Estado, garantindo mediante políticas sociais e econômicas, que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Direitos do paciente • O paciente tem direito a atendimento humano, atencioso e respeitoso, por parte de todos os profissionais de saúde. Tem direito a um local digno e adequado para ser atendimento; • O paciente tem direito a ser identificado pelo nome e sobrenome. Não deve ser chamado pelo nome da doença ou agravo à saúde, ou ainda de forma genérica ou quaisquer outras formas impróprias, desrespeitosas ou preconceituosas; • O paciente tem direito a receber do funcionário adequado, presente no local, auxílio imediato e oportuno à melhoria de seu conforto e bem estar; • O paciente tem direito a identificar o profissional por crachá preenchido com o nome completo, função e cargo; • O paciente tem direito a consultas marcadas, antecipadamente, de forma que o tempo de espera não ultrapasse 30 minutos; • O paciente tem direito a exigir que todo o material seja rigorosamente esterilizado ou descartável, e manipulado segundo normas de higiene e preservação; • O paciente tem direito a receber explicações claras sobre o exame a que vai ser submetido e para qual finalidade irá ser coletado o material para exame de laboratório; • O paciente tem direito a informações claras, simples e compreensivas, adaptadas à sua condição cultural, sobre as ações diagnósticas e terapêuticas, o que pode decorrer delas, a duração do tratamento, a localização de sua patologia, se há necessidade de anestesia, qual o instrumental a ser utilizado e quais regiões do corpo serão afetas pelos procedimentos; • O paciente tem direito a ser esclarecido se o tratamento ou o dignóstico é experimental ou faz parte de pesquisa, se os benefícios a serem obtidos são proporcionais aos riscos e se existe probabilidade de alterações das condições de dor, sofrimento e desenvolvimento da sua patologia; • O paciente tem direito de consentir ou recusarse a ser submetido à experimentação ou pesquisa. No caso de impossibilidade de expressar sua vontade, o consentimento deve ser dado por escrito por seus familiares ou responsáveis; • O paciente tem direito a consentir ou recusar procedimentos, diagnósticos ou terapêuticas a serem nele realizados. Deve consentir de forma livre, voluntária, esclarecida com adequada informação. Quando ocorrerem alterações significantes no estado de saúde inicial ou da causa pela qual o consentimento ## EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) foi dado, este deverá ser renovado; •O paciente tem direito a revogar o consentimento anterior a qualquer instante, por decisão livre, consciente e esclarecida, sem que lhe sejam imputadas sanções morais ou legais; • O paciente tem direito de ter o seu prontuário médico elaborado de forma legível e consultá-lo a qualquer momento. Este prontuário deve conter o conjunto de documentos padronizados do histórico do paciente, princípio e evolução da doença, raciocínio clínico, exames, conduta terapêutica e demais relatórios e anotações clínicas; • O paciente tem direito a ter seu diagnóstico e tratamento por escrito, identificado com o nome do profissional de saúde e seu registro no respectivo Conselho Profissional, de forma clara e legível; • O paciente tem direito a receber medicamentos básicos e também medicamentos e equipamentos de alto custo, que mantenham a vida e a saúde; •O paciente tem direito de receber os medicamentos acompanhados de bula impressa de forma compreensível e clara, com data de fabricação e prazo de validade; • O paciente tem direito a receber as receitas com o nome genérico do medicamento (Lei do Genérico) e não em código, datilografadas, em letra de forma ou com caligrafia perfeitamente legível, e com assinatura e carimbo contendo número do registro do conselho profissional; •O paciente tem direito de conhecer a procedência e verificar, antes de receber sangue ou hemoderivados para transfusões, se o mesmo contém carimbo nas bolsas de sangue, atestando as sorologias efetuadas e sua validade; •O paciente tem direito, no caso de estar inconsciente, de ter anotado em seu prontuário, mediacções, hemoderivados com dados sobre a origem, tipo e prazo de validade; • O paciente tem direito a saber, com segurança e antecipadamente, através de testes ou exames, que não é diabético, portador de algum tipo de anemia ou alérgico a determinados medicamentos (anestégicos, penicilinas, sulfa, soro antitatânico etc.), antes de lhe serem administrados; • O paciente tem direito a sua integridade física nos estabelecimentos de saúde, públicos ou privados; • O paciente tem direito a ter acesso às contas detalhadas referentes às despesas de seu tratamento, exames, medicações, internações e outros procedimentos médicos (Portaria Ministério da Saúde nº 1286, de 26/ 10/1993 – Art. 8º e nº 74, de 04/05/1994); •O paciente tem direito a não sofrer discriminação dos serviços de saúde por ser portador #$ de qualquer tipo de patologia, principalmente no caso de ser portador de HIV/AIDS ou doença infectocontagiosas.O paciente tem direito a ser resguardado de seus segredos, através de manutenção do sigilo profissional, desde que não acarretem riscos a terceiros ou à saúde pública. Os segredos do paciente correspondem a tudo que, mesmo desconhecido pelo próprio cliente, possa o profissional de saúde ter acesso, através das informações obtidas no históricos do paciente, exame físico, exames laboratoriais e radiológicas; •O paciente tem direito a manter sua privacidade para satisfazer suas necessidades fisiológicas, inclusive alimentação adequada e higiênicas, quer quando atendido no leito, no ambiente onde está internado ou aguardando atendimento; •O paciente tem direito a acompanhante se desejar, tanto nas consultas como nas internações. As visitas de parentes e amigos devem ser disciplinadas em horários compatíveis, desde que não comprometam as atividades médico/sanitárias. Em caso de parto, a parturiente poderá solicitar a presença do cônjuge; •O paciente tem direito a exigir que a maternidade, além dos profissionais comumente necessários, mantenha a presença de uma neonatologista por ocasião do parto; •O paciente tem direito a exigir que a maternidade realize o “teste do pezinho” para detectar a fenilcetonúria nos recém-nascidos; •O paciente tem direito à indenização pecuniária no caso de qualquer complicação em suas condições de saúde motivadas por imprudência, negligência ou imperícia dos profissionais de saúde; •O paciente tem direito à assistência adequada, mesmo em períodos festivos, feriados ou durante greve dos profissionais; •O paciente tem direito de receber ou recusar assistência moral, psicológica, social e religiosa; •O paciente tem direito a uma morte digna e serena, podendo optar ele próprio (desde que lúcido) , a família ou responsável, por local ou acompanhamento, e ainda se quer ou não o uso de tratamento dolorosos e extraordinários para prolongar a vida; •O paciente tem direito à dignidade e respeito, mesmo após a morte. Os familiares ou responsáveis devem ser avisados imediatamente após o óbito; •O paciente tem o direito de não ter nenhum órgão retirado de seu corpo sem sua prévia aprovação; •O paciente tem direito a órgão jurídico de direito especifico da saúde, sem ônus e de fácil acesso. EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Direitos do paciente hospitalizado Todo paciente tem direito: • De receber um atendimento atencioso e respeitoso; • A dignidade pessoal (inclusive não ser obrigado a ficar despido mais tempo do que o necessário e tem o direito de exigir a presença de outra pessoa do mesmo sexo quando examinado); • Ao sigilo ou segredo médico; • De conhecer a identidade dos profissionais em seu tratamento; • À informação clara, em linguagem acessível, sobre dignóstico, tratamento e prognóstico; • De comunicar-se com pessoas fora do hospital e de ter, quando necessário, um tradutor; • De recusar tratamento e de ser informado sobre as conseqüências médicas dessa opção; • De ser informado de projetos de pesquisas referentes ao tratamento e de se recusar a participar deles; • De receber uma explicação completa à sua conduta hospitalar; • De reclamar ( e a reclamação não deverá ter influência na qualidade do tratamento); • De recusar a realização de exames desnecessário (por exemplo: raio X, laboratoriais etc., executados recentemente); • De ter acesso a uma segunda e/ou terceira avaliação; • De escolher o médico e/ou o especialista dentro do ambiente hospitalar; • De questionar a medicação prescrita; • De ter acesso à ficha médica. Direitos da criança e do adolescente hospitalizado Ministério da Justiça (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente) Resolução número 41, de outubro de 1995 O Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, reunido em sua XXVII Assembléia Ordinária e considerando o dispositivo do Artigo 3º da Lei número 8242, de 12 de outubro de 1991, resolve: Aprovar em sua íntegra o texto oriundo da Sociedade Brasileira P – SBP, relativo aos Direitos da Criança e do Adolescente Hospitalizados, cujo teor anexa-se ao presente ato. 1. Direito à proteção, à vida e à saúde com absoluta prioridade e sem qualquer forma de discriminação; 2. Direito a ser hospitalizado quando for necessário ao seu tratamento, sem distinção de classe, condições econômicas, raça ou crença religiosa; 3. Direito de não ser ou permanecer hospitalizado desnecessariamente por qualquer razão alheia ao melhor tratamento da sua enfermidade; 4. Direito a ser acompanhado por sua mãe, pai ou responsável durante todo o período de sua hospitalização, bem como receber visitas; 5. Direito de não ser separado de sua mãe ao nascer; 6. Direito de receber aleitamento materno sem restrições; 7. Direito de não sentir dor, quando existam meios para evitá-la; 8. Direito de ter conhecimento adequado de sua enfermidade, dos cuidados terapêuticos e diagnóstico a serem utilizados, do prognóstico, respeitando sua fase conguitiva, além de receber amparo psicológico quando se fizer necessário; 9. Direito de desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde e acompanhamento do currículo escolar na permanência hospitalar; 10.Direito a que seus pais ou responsáveis participem ativamente do seu diagnóstico, tratamento e prognóstico, recebendo informações sobre os procedimentos a que se será submetido; 11.Direito a receber apoio espiritual/religioso, conforme a prática de sua família; 12.Direito de não ser objeto de ensaio clínico, provas diagnósticas e terapêuticas, sem o consentimento de seus pais ou responsáveis e o seu próprio, quando tiver discernimento para tal; 13.Direito a receber todos os recursos terapêuticos disponíveis para a sua cura, reabilitação e/ou prevenção secundária ou terciária; 14.Direito à proteção contra qualquer forma de discriminação, negligência ou maus tratos; 15.Direito ao respeito a sua dignidade física, psíquica e moral; 16.Direito à preservação de sua imagem, identidade, autonomia de valores, dos espaços e objetos pessoais; 17.Direito a não ser utilizado pelos meios de comunicação de massa sem a expressa vontade de seus pais ou responsáveis ou a sua própria vontade, resguardando-se a ética; 18.Direito à confidência dos seus dados clínicos, bem como o direito de tomar conhecimento dos mesmos, arquivados na instituição pelo prazo estipulado em lei; 19.Direito a ter seus direitos constitucionais e os contidos no Estatuto da Criança e do Adolescente #% EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) integralmente respeitando pelos hospitais; 20.Direito a ter uma morte digna, junto a seus familiares, quando esgotados todos os recursos terapêuticos disponíveis. Declaração dos direitos da criança Proclama pela Assembléia das Nações Unidas em 20/11/1959 Princípio1º A criança gozará de todos os direitos enunciados nesta Declaração. Todas as crianças, sem qualquer exceção, serão credores destes direitos, sem distinção ou discriminação por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem racional ou social, riqueza, nascimento ou qualquer outra condição, quer sua ou de sua família. Princípio2º A criança gozará de proteção especial e ser-lheão proporcionadas oportunidades e facilidade, por lei e por outros meios, a fim de lhe facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social de forma sadia e normal e em condições de liberdade e dignidade. Na promulgação de leis visando a este objetivo levar-se-ão em conta, sobretudo os interesses superiores da criança. Princípio3º Desde o nascimento, toda criança terá direito a um nome e uma nacionalidade. Princípio4º A criança gozará dos benefícios da providência social. Terá direito a crescer e criar-se com saúde, e para isto, tanto a criança como a mãe, será proporcionada proteção especial, inclusive adequados cuidados pré e pós-natal. A criança terá direito à alimentação, habitação, recreação e assistência médica adequada. Princípio5º A criança incapacitada física ou mental, ou que sofre algum impedimento social, serão proporcionados tratamento, educação e cuidados especiais exigidos pela sua condição peculiar. Princípio6º Para o desenvolvimento completo e harmonioso de sua personalidade, a criança precisa de amor e de compreensão. Criar-se-á, sempre que possível, sob os cuidados e a responsabilidade dos pais, e sempre num ambiente de afeto e de segurança moral e material; salvo circunstâncias excepcionais, a criança menor de idade não será apartada da mãe. À sociedade e às autoridades caberá a obrigação de propiciar cuidados especiais às crianças sem família e àquelas que carecem de meios adequados de subsistência. É desejável a #& prestação de ajuda oficial ou de outra natureza à manutenção dos filhos de famílias numerosas. Princípio7º A criança terá direito de receber educação, que será gratuita e obrigatória pelo menos no grau primário. Ser-lhe-á propiciada uma educação capaz de promover a sua cultura geral e capacitá-la a, em condições de iguais oportunidades, desenvolver as suas aptidões, sua capacidade de emitir juízo e seu senso de responsabilidade moral e social, e a tornar-se um membro útil da sociedade. Os superiores interesses da criança serão a diretriz a nortear os responsáveis pela sua educação e orientação; esta responsabilidade cabe, em primeiro lugar, aos pais. A criança terá oportunidade para brincar e divertir-se, visando aos propósitos mesmos de sua educação; a sociedade e as autoridades públicas empenhar-se-ão em promover o gozo deste direito. Princípio8º A criança figurará, em qualquer circunstância, entre os primeiros a receber proteção e socorro. Princípio9º A criança deve ser protegida contra qualquer forma de negligência, crueldade e exploração. Não será jamais objeto de tráfico, sob qualquer forma. Não será permitido à criança empregar-se antes de uma idade mínima conveniente; de nenhuma forma será levada a, ou ser-lhe-á permitido, empenhar-se em qualquer ocupação ou emprego que lhe prejudique a saúde ou a educação, ou que interfira em desenvolvimento físico, mental ou moral. Princípio10º A criança gozará de proteção contra atos que possam suscitar discriminação racial, religiosa ou de qualquer outra natureza. Criar-se-á um ambiente de compreensão, de tolerância, de amizade entre os povos, e de fraternidade universal e em plena consciência de que seu esforço e aptidão devem ser postos a serviços de seus semelhantes. Declaração dos direitos do deficiente mental Aprovada pela Assembléia Geral das Nações Unidas de 20/12/1971 1. A pessoa mentalmente retardada deve gozar, até o mais alto grau de viabilidade, dos mesmos direitos que os demais seres humanos; 2. A pessoa mentalmente retardada tem direito à atenção médica e ao tratamento físico que requeira seu caso, assim como à educação, à capacitação, à reabilitação e à orientação que lhe permitam desenvolver ao máximo sua capacidade e suas aptidões; EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) 3. A pessoa mentalmente retardada tem direito à segurança e a um nível de vida decente. Tem direito, na medida de suas possibilidades, a desempenhar um trabalho produtivo ou alguma ocupação útil; 4. Se for possível, a pessoa mentalmente retardada deve residir com sua família ou em lugar que substitua o seu próprio lar e participar das diversas formas de vida comunitária. O lar em que viva deve receber assistência. No caso de ser necessário internála em estabelecimento especializado, este deve oferecer-lhe condições tão próximas quanto possível a uma vida normal; 5. A pessoa mentalmente retardada tem direito a um tutor qualificado, quando isto for necessário para protegê-la em seu bem-estar e interesses; 6. A pessoa mentalmente retardada tem direito a proteção quanto à exploração, aos abusos e ao tratamento degradante. Se processada por algum crime, terá direito a um procedimento jurídico legal com inteiro reconhecimento, dado ao seu grau de responsabilidade mental; 7. Sempre que uma pessoa mentalmente retardada for incapaz, em virtude da gravidade de sua deficiência, de exercer todos os seus direitos de maneira significativa, ou se tornar necessário restringir ou negar todos ou alguns desses direitos, o procedimento usado para esta restrição ou negação de direitos precisa conter salvaguardas legais contra todas as formas de obras de abuso. Este procedimento precisa ser baseado na avaliação de capacidade social da pessoa mentalmente retardada, por peritos qualificados e deverá ser periodicamente sujeito à revisão, com direito à autoridade superior. Código de ética médica Preâmbulo I - O presente contém as normas éticas que devem ser seguidas pelos médicos no exercício da profissão, independentemente da função ou cargo que ocupem; II – As organizações de prestação de serviços estão sujeitas às normas deste Código; III – Para o exercício da medicina, impõe-se a inscrição no Conselho Regional do respectivo Estado, Território ou Distrito Federal; IV – A fim de garantir o acatamento e cabal execução deste Código, cabe ao médico comunicar ao Conselho Regional de Medicina, com discrição e fundamento, fatos de que tenha conhecimento e que caracterizem possível infrigência do presente Código e das Normas que regulam o exercício da medicina; V – A fiscalização do cumprimento das normas estabelecidas neste Código é atribuição dos Conselhos de Medicina, das Comissões de Ética, das autoridades da área de saúde e dos médicos em geral. Capítulo I Princípiosfundamentais Art. 1º - A medicina é uma profissão a serviço da saúde do ser humano e da coletividade e deve ser exercida sem discriminação de qualquer natureza; Art. 2º - O alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional; Art. 3º - A fim de que possa exercer a medicina como honra e dignidade, o médico deve ter boas condições de trabalho e ser remunerado de forma justa; Art. 4º - Ao médico cabe zelar e trabalhar pelo desempenho ético da medicina e pelo prestígio e bom conceito da profissão; Art. 5º - O médico deve aprimorar continuamente seus conhecimentos e usar o melhor do progresso científico em benefício do paciente; Art. 6º - O médico deve guardar absoluto respeito pela vida humana, atuando sempre em benefício do paciente. Jamais utilizará seus conhecimentos para gerar sofrimento físico ou moral, para o extermínio do ser humano ou para permitir e acobertar tentativa contra a sua dignidade e integridade; Art. 7º - O médico deve exercer a profissão com ampla autonomia, não sendo obrigado a prestar serviços profissionais a quem ele não deseje, salvo na ausência de outro médico, em casos de urgência ou quando sua negativa possa trazer danos irreversíveis ao paciente; Art. 8º - O médico não pode, em qualquer circunstância ou sob qualquer pretexto, renunciar à sua liberdade profissional, devendo evitar que quaisquer restrições ou imposições possam prejudicar a eficácia e correção de seu trabalho; Art. 9º - A medicina não pode, em qualquer circunstância ou de qualquer forma, ser exercida como comércio; Art. 10 – O trabalho do médico não pode ser explorado por terceiros com objetivos de lucro, finalidade política ou religiosa; Art. 11 – O médico deve manter sigilo quanto às informações confidenciais de que tiver #' EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) conhecimento no desempenho de suas funções. O mesmo se aplica ao trabalho em empresas, exceto nos casos em que seu silêncio prejudique ou ponha em risco a saúde do trabalhador ou da comunidade; Art. 12 – O médico deve buscar a melhor adequação do trabalho ao ser humano e a eliminação ou controle dos riscos inerentes ao trabalho; Art. 13 – O médico deve denunciar às autoridades competentes quaisquer formas de poluição ou deterioração do meio ambiente prejudicais a vida; Art. 14 – O médico deve empenhar-se para melhorar as condições de saúde e os padrões dos serviços médicos e assumir sua parcela de responsabilidade em relação à saúde pública, à educação sanitária e à legislação referente à saúde; Art. 15 – Deve o médico ser solidário com os movimentos de defesa da dignidade profissionais, seja por remuneração condigna, seja por condições de trabalho compatíveis com o exercício éticoprofissional da medicina e seu aprimoramento técnico; Art. 16 – Nenhuma disposição estatutária ou regimental de hospital ou instituição pública ou privada poderá limitar a escolha, por parte do médico, dos meios a serem postos em prática para o estabelecimento do diagnóstico e para a execução do tratamento, salvo quando em benefício do paciente; Art. 17 – O médico investido em função de direção tem o dever de assegurar as condições mínimas para o desempenho ético-profissional da medicina; Art. 18 – As relações do médico com os demais profissionais em exercício na área de saúde devem basear-se no respeito mútuo, na liberdade e independência profissional de cada um, buscando sempre o interesse e o bem-estar do paciente; Art. 19 – O médico deve ter, para com seus colegas, respeito, consideração e solidariedade, sem, todavia, eximir-se de denunciar atos que contrariem os postulados éticos à Comissão de Ética da instituição em que exerce seu trabalho profissional e, se necessário, ao Conselho Regional de Medicina. Capítulo II Direitosdomédico É direito do médico: Art. 20 – Exercer a medicina sem ser discriminado por questões de religião, raça, sexo, cor, idade, opção sexual, nacionalidade, condição social, opinião política ou de qualquer outra natureza; Art. 21 – Indicar o procedimento adequado ao paciente, observadas as práticas reconhecidamente $ aceitas e respeitando as normas legais vigentes no País; Art. 22 – Apontar falhas nos regulamentos e normas das instituições em que trabalhe, quando as julgar indignas do exercício da profissão ou prejudiciais ao paciente, devendo dirigir-se, nesses casos, aos órgãos competentes e, obrigatoriamente, à Comissão de Ética e ao Conselho Regional de Medicina de sua jurisdição; Art. 23 – Recusar-se e exercer sua profissão em instituição pública ou privada onde as condições de trabalho não sejam dignas ou possam prejudicar o paciente; Art. 24 – Suspender suas atividades, individuais ou coletivas, quando a instituição pública ou privada para a qual trabalhe não oferecer condições mínimas para o exercício profissional ou não o remunerar condignamente, ressalvadas as situações de urgência e emergência, devendo comunicar imediatamente sua decisão ao Conselho Regional de Medicina; Art. 25 – Internar e assistir seus pacientes em hospitais privados com ou sem caráter filantrópico, ainda que não faça parte do seu corpo clínico, respeitadas as normas técnicas da instituição; Art. 26 – Requerer desagravo público ao Conselho Regional de Medicina quando atingido no exercício de sua profissão; Art. 27 – Dedicar ao paciente, quando trabalhar com relação de emprego, o tempo que sua experiência e capacidade profissional recomendarem para o desempenho de sua atividade, evitando que o acúmulo de encargos ou de consultas prejudique o paciente; Art. 28 – Recusar a realização de atos médicos que, embora permitidos por lei, sejam contrários aos ditames de sua consciência. Capítulo III Responsabilidadeprofissional É vedado ao médico: Art. 29 – Praticar atos profissionais danosos ao paciente, que possam ser caracterizados como imperícia, imprudência ou negligência; Art. 30 – Delegar a outros profissionais atos ou atribuições da profissão médica; Art. 31 – Deixar de assumir responsabilidade sobre procedimento médico que indicou ou do qual participou, mesmo quando vários médicos tenham assistido o paciente; Art. 32 – Isentar-se de responsabilidade de qualquer ato profissional que tenha praticado ou indicado, ainda que este tenha sido solicitado ou consentido pelo paciente ou seu responsável legal; EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Art. 33 – Assumir responsabilidade por ato médico que não praticou ou do qual não participou efetivamente; Art. 34 – Atribuir seus insucessos a terceiros e a circunstâncias ocasionais, exceto nos casos em que isso possa ser devidamente comprovado; Art. 35 – Deixar de atender em setores de urgência e emergência, quando for de sua obrigação fazê-lo, colocando em risco a vida de pacientes, mesmo respaldado por decisão majoritária da categoria; Art. 36 – Afastar-se de suas atividades profissionais, mesmo temporariamente, sem deixar outro médico encarregado do atendimento de seus pacientes em estado grave; Art. 37 – Deixar de comparecer no plantão em horário preestabelecido ou abandoná-lo sem a presença de substituto, salvo por motivo de força maior; Art. 38 – Ser cúmplice com os que exercem ilegalmente a medicina, ou com profissionais ou instituições médicas que pratiquem atos ilícitos; Art. 39 – Receitar ou atestar de forma secreta ou ilegível, assim como assinar em branco folhas de receituários, laudos, atestados ou quaisquer outros documentos médicos; Art. 40 – Deixar de esclarecer o trabalhador sobre as condições de trabalho que ponham em risco sua saúde, devendo comunicar o fato aos responsáveis, às autoridades e ao Conselho Regional de Medicina; Art. 41 – Deixar de esclarecer o paciente sobre as determinantes sociais, ambientais ou profissionais de sua doença; Art. 42 – Praticar ou indicar atos médicos desnecessários ou proibidos pela legislação do país; Art. 43 – Descumprir a legislação específica nos casos de transplante de órgãos ou tecidos, esterilização, fecundação artificial e abortamento; Art. 44 – Deixar de colaborar com as autoridades sanitárias ou infringir a legislação pertinente; Art. 45 – Deixar de cumprir, sem justificativa, as normas emanadas dos Conselhos Federal e Regionais de Medicina e de atender às suas requisições administrativas, intimações ou notificações, no prazo determinado. Art. 47 – Discriminar o ser humano de qualquer forma ou sob qualquer pretexto; Art. 48 – Exercer sua autoridade de maneira a limitar o direito do paciente de decidir livremente sobre a sua pessoa ou o seu bem-estar; Art. 49 – Participar da prática de tortura ou outras formas de procedimento degradantes, desumanas ou cruéis, ser conivente com tais práticas ou não as denunciar quando delas tiver conhecimento; Art. 50 – Fornecer meios, instrumentos, substâncias ou conhecimentos que facilitem a prática de tortura ou outras formas de procedimentos degradantes, desumanas ou cruéis, em relação à pessoa; Art. 51 – Alimentar compulsoriamente qualquer pessoa em greve de fome que for considerada capaz, física e mentalmente, de fazer juízo perfeito das possíveis conseqüências de sua atitude. Em tais casos, deve o médico fazê-la ciente das prováveis complicações do jejum prolongado e, na hipótese de perigo de vida iminente, tratá-la; Art. 52 – Usar qualquer processo que possa alterar a personalidade ou a consciência da pessoa, com a finalidade de diminuir sua resistência física ou mental em investigação policial ou de qualquer outra natureza; Art. 53 – Desrespeitar o interesse e a integridade do paciente ao exercer a profissão em qualquer instituição na qual o mesmo esteja recolhido independentemente da própria vontade. Parágrafo Único: Ocorrendo quaisquer atos lesivos à personalidade e à saúde física ou psíquica dos pacientes a ele confinados, o médico está obrigado a denunciar o fato à autoridade competente e ao Conselho Regional de Medicina; Art. 54 – Fornecer meio, instrumento, substância, conhecimentos ou participação, de qualquer maneira, para execução de pena de morte; Art. 55 – Usar da profissão para corromper os costumes, cometer ou favorecer crime. Capítulo IV É vedado ao médico: Art. 56 – Desrespeitar o direito do paciente de decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de iminente perigo de vida; Art. 57 – Deixar de utilizar todos os meios disponíveis de dignóstico e tratamento a seu alcance em favor do paciente; Art. 58 – Deixar de atender paciente que procure Direitoshumanos É vedado ao médico: Art. 46 – Efetuar qualquer procedimento médico sem o esclarecimento e o consentimento prévios do paciente ou de seu responsável legal, salvo em iminente perigo de vida; Capítulo V Relaçãocompacientesefamiliares $ EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) seus cuidados profissionais em caso de urgência, quando não haja outro médico ou serviço médico em condições de fazê-lo; Art. 59 – Deixar de informar ao paciente o diagnóstico, o prognóstico, os riscos e objetivos do tratamento, salvo quando a comunicação direta ao mesmo possa provocar-lhe dano, devendo, nesse caso, a comunicação ser feita ao seu responsável legal; Art. 60 – Exagerar a gravidade do diagnóstico ou prognóstico, complicar a terapêutica ou exceder-se no número de visitas e consultas; Art. 61 – Abandonar paciente sob seus cuidados; § 1º - Ocorrendo fatos que, a seu critério, prejudiquem o bom relacionamento com o paciente ou o pleno desempenho profissional, o médico tem o direito de renunciar ao atendimento, desde que comunique previamente ao paciente ou seu responsável legal, assegurando-se da continuidade dos cuidados e fornecendo todas as informações necessárias ao médico que o suceder; § 2º - Salvo por justa causa, comunicada ao paciente ou a seus familiares, o médico não pode abandonar o paciente por ser este portador de moléstia crônica ou incurável, mas deve continuar a assisti-lo ainda que apenas para mitigar o sofrimento físico ou psíquico; Art. 62 – Prescrever tratamento ou outros procedimentos sem exame direto do paciente, salvo em casos de urgência e impossibilidade comprovada de realizá-lo, devendo, nesse caso, fazê-lo imediatamente cessado o impedimento; Art. 63 – Desrespeitar o pudor de qualquer pessoa sob seus cuidados profissionais; Art. 64 – Opor-se à realização de conferência médica solicitada pelo paciente ou seu responsável legal; Art. 65 – Aproveitar-se de situações decorrentes da relação médico/paciente para obter vantagem física, emocional, financeira ou política; Art. 66 – Utilizar, em qualquer caso, meios destinados a abreviar a morte do paciente, ainda que a pedido deste ou de seu responsável legal; Art. 67 – Desrespeitar o direito do paciente de decidir livremente sobre o método contraceptivo ou conceptivo, devendo o médico sempre esclarecer sobre a indicação, a segurança, a reversibilidade e o risco de cada método; Art. 68 – Praticar fecundação artificial sem que os participantes estejam de inteiro acordo e devidamente esclarecidos sobre o procedimento; Art. 69 – Deixar de elaborar prontuário médico para cada paciente; Art. 70 – Negar ao paciente acesso a seu prontuário médico, ficha clínica ou similar, bem como $ deixar de dar explicações necessárias à sua compreensão, salvo quando ocasionar riscos para o paciente ou para terceiros; Art. 71 – Deixar de fornecer laudo médico ao paciente, quando do encaminhamento ou transferência para fins de continuidade do tratamento, ou na alta, se solicitado. Capítulo VI Doaçãoetransplantedeórgãosetecidos É vedado ao médico: Art. 72 – Participar do processo de diagnóstico da morte ou da decisão de suspensão dos meios artificiais de prolongamento da vida de um possível doador, quando pertencente à equipe de transplante. Art. 73 – Deixar, em caso de transplante, de explicar ao doador ou seu responsável legal, e ao receptor, ou seu responsável legal, em termos compreensíveis, os riscos de exames, cirurgias e outros procedimentos; Art. 74 – Retirar órgão de doador vivo, quando interdito ou incapaz, mesmo com autorização de seu responsável legal; Art. 75 – Participar direta ou indiretamente da comercialização de órgãos ou tecidos humanos. Capítulo VII Relaçõesentremédicos É vedado ao médico: Art. 76 – Servir-se de sua posição hierárquica para impedir, por motivo econômico, político, ideológico ou qualquer outro, que outro médico utilize as instalações e demais recursos da instituição sob sua direção, particularmente quando se trate da única existente na localidade; Art. 77 – Assumir emprego, cargo ou função, sucedendo a médico demitido ou afastado em represália a atitude de defesa de movimentos legítimos da categoria ou da aplicação deste Código; Art. 78 – Posicionar-se contrariamente a movimentos legítimos da categoria médica, com a finalidade de obter vantagens; Art. 79 – Acobertar erro ou conduta antiética de médico; Art. 80 – Praticar concorrência desleal com outro médico; Art. 81 – Alterar prescrição ou tratamento de paciente, determinado por outro médico, mesmo quando investido em função de chefia ou de auditoria, EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) salvo em situações de indiscutível conveniência para o paciente, devendo comunicar imediatamente o fato ao médico responsável; Art. 82 – Deixar de encaminhar de volta ao médico assistente o paciente que lhe foi enviado para procedimento especializado, devendo, na ocasião, fornecer-lhe as devidas informações sobre o ocorrido no período em que se responsabilizou pelo paciente; Art. 83 – Deixar de fornecer a outro médico informações sobre o quadro clínico do paciente, desde que autorizado por este ou seu responsável legal; Art. 84 – Deixar de informar ao substituto o quadro clínico dos pacientes sob sua responsabilidade, ao ser substituído no final do turno de trabalho; Art. 85 – Utilizar-se de sua posição hierárquica para impedir que seus subordinados atuem dentro dos princípios éticos. Capítulo VIII Remuneraçãoprofissional É vedado ao médico: Art. 86 – Receber remuneração pela prestação de serviços profissionais a preços vis ou extorsivos, inclusive através de convênios; Art. 87 – Remunerar ou receber comissão ou vantagens por paciente encaminhado ou recebido, ou por serviços não efetivamente prestados; Art. 88 – Permitir a inclusão de nomes de profissionais que não participaram do ato médico, para efeito de cobrança de honorários; Art. 89 – Deixar de se conduzir com moderação na fixação de seus honorários, devendo considerar as limitações econômicas do paciente, as circunstâncias do atendimento e a prática local; Art. 90 – Deixar de ajustar previamente com o paciente o custo provável dos procedimentos propostos, quando solicitado; Art. 91 – Firmar qualquer contrato de assistência médica que subordine os honorários ao resultado do tratamento ou à cura do paciente; Art. 92 – Explorar o trabalho médico como proprietário, sócio ou dirigente de empresas ou instituições prestadores de serviços médicos, bem como auferir lucro sobre o trabalho de outro médico, isoladamente ou em equipe; Art. 93 – Agenciar, aliciar ou desviar, por qualquer meio, para clínica particular ou instituições de qualquer natureza, paciente que tenha atendido em virtude de sua função em instituições públicas; Art. 94 – Utilizar-se de instituições públicas para execução de procedimentos médicos em pacientes de sua clínica privada, como forma de obter vantagens pessoais; Art. 95 – Cobrar honorários de paciente assistido em instituição que se destina à prestação de serviços públicos; ou receber remuneração de paciente como complemento de salário ou de honorários; Art. 96 – Reduzir, quando em função de direção ou chefia, a remuneração devida ao médico, utilizandose de descontos a título de taxa de administração ou quaisquer outros artifícios; Art. 97 – Reter, a qualquer pretexto, remuneração de médicos e outros profissionais; Art. 98 – Exercer a profissão com interação ou dependência de farmácia, laboratório farmacêutico, ótica ou qualquer organização destinada à fabricação, manipulação ou comercialização de produtos de prescrição médica de qualquer natureza, exceto quando se tratar de exercício da Medicina do Trabalho; Art. 99 – Exercer simultaneamente a Medicina e a Farmácia, bem como obter vantagens pela comercialização de medicamentos, órteses ou próteses, cuja compra decorra da influência direta em virtude da sua atividade profissional; Art. 100 – Deixar de apresentar, separadamente, seus honorários quando no atendimento ao paciente participaram outros profissionais; Art. 101 – Oferecer seus serviços profissionais como prêmio em concurso de qualquer natureza. Capítulo IX Segredomédico É vedado ao médico: Art. 102 – Revelar fato de que tenha conhecimento em virtude do exercício de sua profissão, salvo por justa causa, dever legal ou autorização expressa do paciente; Parágrafo Único: Permanece essa proibição, a) Mesmo que o fato seja de conhecimento público ou que o paciente tenha falecido; b) Quando do depoimento como testemunha. Nesta hipótese, o médico comparecerá perante a autoridade e declarará seu impedimento; Art. 103 – Revelar segredo profissional referente ao paciente menor de idade, inclusive a seus pais ou responsáveis legais, desde que o menor tenha capacidade de avaliar seu problema e de conduzir-se por seus próprios meios para solucioná-lo, salvo quando a não revelação possa acarretar danos ao paciente; Art. 104 – Fazer referência a casos clínicos identificáveis, exibir pacientes ou seus retratos em anúncios profissionais ou na divulgação de assuntos médicos em programas de rádio, televisão ou cinema, $! EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) e em artigos, entrevistas ou reportagens em jornais, revistas ou outras publicações legais; Art. 105 – Revelar informações obtidas quando do exame médico de trabalhadores, inclusive por exigência dos dirigentes de empresa ou instituições, salvo se o silêncio puser em risco a saúde dos empregados ou da comunidade; Art. 106 – Prestar a empresas seguradoras qualquer informação sobre as circunstâncias da morte de paciente seu, além daquelas contidas no próprio atestado de óbito, salvo por expressa autorização do responsável legal ou sucessor; Art. 107 – Deixar de orientar seus auxiliares e de zelar pelo segredo profissional a que estão obrigados por lei; Art. 108 – Facilitar manuseio e conhecimento dos prontuários, papeletas e demais folhas de observações médicas sujeitas ao segredo profissional, por pessoas não obrigadas ao mesmo compromisso; Art. 109 – Deixar de guardar o segredo profissional na cobrança de honorários por meio judicial ou extrajudicial. Considerações finais Diante do exposto considera-se que: - Os direitos do paciente/cliente/consumidor não são respeitados pela maioria dos profissionais $" pela falta de conhecimento dos mesmos; - Há falta de informação ao paciente sobre seus direitos no âmbito hospitalar; - A obrigatoriedade ao cumprimento dos direitos da criança, proclamados pelas Nações Unidas, faz-se necessária em todo contexto de saúde, principalmente no âmbito hospitalar. Bibliografia 1. 2. Bioética, Revista do Conselho Federal de Medicina. Código de Ética Médica. Legislação dos Conselhos de Medicina. Resolução: CFM 1246, 08/01/1988. 3. Código de Proteção e de Defesa do Consumidor. Lei 8078/90. 4. Gauderer EC. Os direitos do paciente - Guia de cidadania na saúde. Rio de Janeiro: DP&A; 1988. 5. Gauderer EC. Os direitos do paciente - Um manual de sobrevivência. 6ª edição. Rio de Janeiro: Record; 1991. 6. Gauderer EC. Os direitos do paciente - Cidadania na saúde. 7ª ed. Rio de Janeiro: Editora Record;1998. 7. Gauderer EC. O Adolescente, a declaração dos direitos da criança e o novo código de ética médica. Clín Pediatr (Rio de J);1990. 8. Gomes LB. Descomplicando o código de defesa do consumidor. Rio de Janeiro: Record; 1991. 9. Ministério da Saúde. Portaria 74, de 04/05/1994. Brasilia-DF. 10. Siqueira L. Comentários ao estatuto da criança e do adolescente. Rio de Janeiro: Forense; 1991. EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Atualização Desenvolvimento do Programa Saúde da Família no Brasil Bianca Ligi Gradaschi da Costa Enfermeiraespecialistaemfitoterapia,EscoladeEnfermagemSãoFranciscodeAssis,CaxiasdoSulRS,PrefeituraMunicipaldeAntonioPradoRS Programa Saúde da Família (PSF), também dito estratégia, foi criado em sua atual concepção, na década de 90, inspirado em experiências de outros países, cuja a saúde pública alcançou níveis interessantes de qualidade, com investimento na promoção da saúde, como Cuba, Inglaterra e Canadá, sendo precedido pela criação do PAS - Programa Agentes de Saúde (Ceará 1987) e PACS - Programa Agentes Comunitários de Saúde (Brasil 1991). No Brasil, adquiriu suas próprias características pela nossa realidade, sabidamente difícil. O PSF existe em praticamente todo o país. Foi instituído oficialmente pelo Ministério da Saúde em 1994. A Unidade de Saúde da Família trabalha com território de abrangência definido e é responsável pelo cadastramento e o acompanhamento da população vinculada (adscrita) a esta área. Recomenda-se que uma equipe seja responsável por, no máximo, 4.500 pessoas. Cada equipe do PSF é composta, no mínimo, por um médico, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e de quatro a seis agentes comunitários de saúde (ACS). Outros profissionais - a exemplo de dentistas, assistentes sociais e psicólogos - poderão ser incorporados às equipes ou formar equipes de apoio, de acordo com as necessidades e possibilidades locais. A Unidade de Saúde da Família pode atuar com uma ou mais equipes, dependendo da concentração de famílias no território sob sua responsabilidade Objetivos, papel social e do enfermeiro Entre outros objetivos, é a promoção da saúde e prevenção de doenças são as ações prioritárias. E não há outro modo de viabilizar tais metas, se não o de planejar, prever e preparar o município, os profissionais e as comunidades para a empreitada, que em alguns casos têm obtido excelentes resultados e alcançado saídas criativas, comprometidas e transformadoras, em termos práticos, reduzindo a mortalidade infantil, alterando positivamente outros indicadores, viabilizando acesso a um serviço mais humanizado e contribuíndo em decisões políticas influentes à melhoria da qualidade de vida das comunidades, acreditando e investindo efetivamente em parcerias. O Programa de Saúde da Família (PSF) apresenta-se como estratégia de reorganização da atenção à saúde, que se caracteriza por um modelo centrado no usuário, demandando das equipes a incorporação de discussões sobre a necessidade de humanizar a assistência médico-sanitária em nosso país. Humanizar significa reconhecer as pessoas que buscam nos serviços de saúde a resolução de suas necessidades de saúde como sujeitos de direitos; é observar cada pessoa e cada família, em sua singularidade, em suas necessidades específicas, com sua história particular, com seus valores, crenças e Endereço para correspondência: Rua Waldemar Mansueto Graviotti, 350/2 Centro 95250-000 Antonio Prado RS, Tel: (54) 293-1310, E-mail: [email protected] $# EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) desejos, ampliando as possibilidades para que possam exercer sua autonomia. Qualquer pessoa, independente de sua idade, tendo condições intelectuais e psicológicas para apreciar a natureza e as conseqüências de um ato ou proposta de assistência à sua saúde, deve ter oportunidade de tomar decisões sobre questões relacionadas à sua saúde, ou seja, poder agir como pessoa autônoma. Na prática da assistência à saúde, é comum a utilização da autoridade profissional para favorecer ou perpetuar a dependência dos usuários em lugar de promover sua autonomia. Entretanto, compreendese que é exatamente a relação de confiança existente entre os profissionais de saúde e os usuários, que determina a obrigatoriedade de respeitar a autonomia destes, incluindo o dever de conversar e expor-lhes a informação de maneira compreensível. Essa relação de confiança no Programa de Saúde da Família é reforçada pelo vínculo e responsabilidade que decorrem da adscrição das famílias de determinada região a uma equipe específica. Assim, para trabalhar na perspectiva de família, é necessário acreditar que a doença é uma experiência que envolve toda a família. Esse pressuposto permite que os enfermeiros pensem e envolvam todos os seus membros na sua assistência. O processo de cuidar da família pode ser entendido como uma metodologia de ação, baseada COBERTURA DE EQUIPES SAÚDE DA FAMÍLIA Fevereiro/2002 Nº de Municípios População UF Total Com ESF % TOTAL(1) Acompanhada (2) % Nº ESF (3) AC AM AP PA RO RR TO NORTE AL BA CE MA PB PE PI RN SE NORDESTE DF GO MS MT C. OESTE ES MG RJ SP SUDESTE PR RS SC SUL TOTAL 22 62 16 143 52 15 139 449 102 417 184 217 223 185 222 167 75 1.792 1 246 77 139 463 78 853 92 645 1.668 399 497 293 1.189 5.561 17 43 2 74 43 9 100 288 97 141 182 104 199 170 210 144 67 1.314 1 214 57 115 387 60 615 77 364 1116 290 175 235 700 3.805 77,27% 69,35% 12,50% 51,75% 82,69% 60,00% 71,94% 64,14% 95,10% 33,81% 98,91% 47,93% 89,24% 91,89% 94,59% 86,23% 89,33% 73,33% 100,00% 86,99% 74,03% 82,73% 83,59% 76,92% 72,10% 83,70% 56,43% 66,91% 72,68% 35,21% 80,20% 58,87% 68,42% 574.355 2.900.240 498.735 6.341.736 1.407.886 337.237 1.184.895 13.245.084 2.856.629 13.214.114 7.547.620 5.730.467 3.468.594 8.008.207 2.873.010 2.815.244 1.817.301 48.331.186 2.097.447 5.116.462 2.111.036 2.560.584 11.885.529 3.155.016 18.127.096 14.558.545 37.630.106 73.470.763 9.694.709 10.309.819 5.448.736 25.453.264 172.385.826 244.950 990.150 89.700 1.017.750 376.050 224.250 648.600 3.591.450 1.776.750 2.256.300 3.984.750 1.424.850 2.311.500 3.698.400 2.063.100 1.445.550 1.176.450 20.137.650 193.200 2.559.900 541.650 1.003.950 4.298.700 1.010.850 6.127.200 2.646.150 4.443.600 14.227.800 3.301.650 1.076.400 2.387.400 6.765.450 49.021.050 42,65% 34,14% 17,99% 16,05% 26,71% 66,50% 54,74% 27,12% 62,20% 17,07% 52,79% 24,86% 66,64% 46,18% 71,81% 51,35% 64,74% 41,67% 9,21% 50,03% 25,66% 39,21% 36,17% 32,04% 33,80% 18,18% 11,81% 19,37% 34,06% 10,44% 43,82% 26,58% 28,44% 71 287 26 295 109 65 188 1.041 515 654 1.155 413 670 1.072 598 419 341 5.837 56 742 157 291 1.246 293 1.776 767 1.288 4.124 957 312 692 1.961 14.209 1) População Estimada IBGE - 2000 2) Estimativa- base de cálculo 3450 pessoas por ESF 3) Equipes de Saúde da Família Fonte: SIAB - Sistema de Informação da Atenção Básica $$ EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) num referencial teórico, isto é, o enfermeiro tem de ser competente em acessar e intervir com as famílias, num relacionamento cooperativo - profissional/ família, tendo como base uma fundamentação teórica. Para tanto, deve aliar os conhecimentos científico e tecnológico, às habilidades de observação, comunicação e intuição. O cuidado na saúde da família tem como objetivo a promoção da saúde através da mudança. A proposta é ajudar a família a criar novas formas de interação para lidar com a doença, dando novos significados para a experiência de doença. Deve-se conhecer, por exemplo, o que a família pensa sobre o que causou a doença e as possibilidades de cura, a fim de ajudar a família a modificar crenças, que dificultam a implementação de estratégias para lidar com o cuidado da pessoa que está doente. Exemplos de atividades do enfermeiro - Visita domiciliar; - Consulta de enfermagem; - Educação para a saúde; - Estabelecer um vinculo de confiança e respeito; - Promover mudanças; - Identificar necessidades relativas à saúde; - Recomendar e priorizar; - Encaminhar; - Reconhecer o nível de entendimento da comunidade; - Utilizar um vocabulário apropriado; - Estabelecer acordos com os usuários; - Realizar oficinas educativas, palestras; - Registrar informações; - Motivar a participação e auto-estima; - Supervisionar o trabalho do ACS e do Auxiliar de Enfermagem; - Realizar consultas na unidade de saúde. Dados atuais O Programa Saúde da Família já está funcionando em 4.266 municípios brasileiros. Dando atenção especial aos idosos, crianças, mulheres e gestantes. Os resultados alcançados são significativos: - Redução dos índices de mortalidade infantil; - Diminuição do número de mortes por doenças de cura simples e conhecida; - Diminuição das filas nos hospitais das redes pública e conveniada com o SUS. Objetivos Cada equipe do PSF atende entre 600 e 1.000 famílias - 3.475 pessoas em média. Hoje são 10.788 equipes atuando no país, atendendo 36 milhões de brasileiros. A meta do Ministério da Saúde é ampliar para 20 mil o número de equipes do Saúde da Família, atendendo 69 milhões de pessoas até 2002. $% EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Resumos de Trabalhos Trabalhos apresentados no 5º Congresso Brasileiro dos Conselhos de Enfermagem, Recife, PE - 07 a 11 de outubro de 2002 Tatianne Comin Muller*, Mery Lillian Eickoff**, Narciso Soares***, Magliane Balbe*** *Especialista em Saúde Coletiva pela UNIFRAN, Mestre em Bioquímica Toxicológica pela UFSM, professora dadisciplinadeEnfermagem Cirúrgica, EnfermagemCirúrgica, **Especialista em Saúde Coletiva, professoradadisciplinade EnfermagemPsiquiátrica, membro do GEPESE, ***Acadêmicos do 6º semestredocursodeEnfermagemda UniversidadeRegionalIntegradado Alto Uruguai e das Missões, URI campusSantoÂngelo,bolsistasdo PROBIC/CNPQ. Trabalho desenvolvidonoGrupodeEstudosem EnfermagememSaúdeeEducação (GEPESE/URI) Endereçoparacorrespondência: Tatiane Muller, Rua Samuel Morse, 53/403, 98803-180 Santo Ângelo RS, Tel: (55) 331-8043, E-mail: [email protected] $& A educação através do lúdico como estratégia do cuidado Este estudo está sendo realizado como um projeto de extensão, junto ao Centro de Apoio ao Diabético no município de Santo Ângelo, como uma das estratégias de auxílio as orientações aos clientes portadores de diabetes. Acreditamos que muitas das ações em saúde realizadas pela enfermagem são oriundas da reflexão, sobre ser educador e cuidador; da contemporaneidade e da necessidade de reconhecer o “ser” cuidado como sujeito independente, resgatando sua autonomia, levando o indivíduo a lidar com os problemas de saúde através de construções e circulação de conhecimentos oriundos de saberes distintos. Tivemos por objetivos estruturar formas alternativas de abordagem do sujeito diabético, que respeitassem-no em seu dia-a-dia, assegurando integração nas relações do grupo, resgatando as coisas do cotidiano, levando-os a refletir, buscando a conscientização sobre a necessidade de se apropriar de conhecimento, visando o resgate do seu auto-cuidado. A amostra compõem-se de 15 indivíduos diabéticos de ambos os sexos na faixa etária de 50 a 75 anos, com o diagnóstico de déficit de auto-cuidado. O estudo é de caráter quanti-qualitativo, desenvolvido através de oficinas semanais. Dentre os temas gerados no grupo, destacamos: alimentação, na forma de preparação dos alimentos de interesse do grupo; cuidados com os pés, realizado através da limpeza básica, do corte correto das unhas, da avaliação da circulação vascular periférica, entre outros temas emergidos. Os depoimentos estão sendo colhidos através da transcrição e filmagem. As oficinas são coordenadas de forma multidisciplinar, sem a presença de um líder e sim com facilitadores, respeitando a transculturalidade dos indivíduos, buscando estimular a capacidade reflexiva e cognitiva dos sujeitos envolvidos, em que os conhecimentos são partilhando. A estruturação de vivências e relações de trocas proporcionadas pela metodologia escolhidas, resgataram a visão holística e uma melhor compreensão da estruturação do cuidado pelos diabéticos, formando vínculos, proporcionando importantes instrumentos como a identificação de fatores que limitam a aderência deles ao cuidado. Um destes fatores identificados é a ausência da formação de vínculo entre o cliente e o profissional da equipe de saúde, ou então, a não valorização das experiências dos clientes por parte do profissional. As orientações estão sendo trocadas através de práticas alternativas, criativas e inovadoras para a abordagem de uma enfermidade crônica, demandando novos aprendizados e mudanças nas concepções de educação para a saúde. As etapas de levantamento dos temas geradores, a codificação e descodificação estão sendo trabalhadas e devolvidas aos participantes para sua avaliação. E posteriormente são analisadas. Os dados obtidos através do compartilhamento das vivências, estão nos levando a reflexões, sobre a valorização de nossas pluralidades e da troca de conhecimentos. EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Priscilla Augusta da Rocha Alves*, Wanessa Cristina Tomaz dos Santos Barros**, Ana Luiza Donida Ferreira*, Sanzia Lúcia Paulino de Sousa*** *Alunado8ºperíododoCursode GraduaçãoemEnfermageme Obstetrícia,UniversidadeFederaldo Rio Grande do Norte, Natal, RN, **Aluna do 7º período do Curso de GraduaçãoemEnfermageme Obstetrícia,UniversidadeFederaldo Rio Grande do Norte, ***Professora daDisciplinaEnfermagemem SaúdeColetivadoDepartamentode EnfermagemdaUniversidade FederaldoRioGrandedoNorte Endereçoparacorrespondência: WanessaCristinaTomazdosSantos Barros, Rua Araxá, nº 4998, Cj. Pirangi. 59084–070 Natal RN, Tel: (84) 217-2066, E-mail: [email protected] Ilda Machado de Lima Koaski*, Lourdes Emilia R.Novakoski**, Luciana de Lima Koaski***, Márcia Maria Rodrigues de Castro**** *EnfermeiradePrograma deSaúde de Família, **Enfermeira Profa. Dra. UniversidadeFederaldoParaná, ***TecnicaemEnfermagem, ****Professora da 1ª a 4ª série e ConselheiraTutelar,Trabalho realizadopeloNúcleodeExtensão ePesquisaemSaúde,Ambientee DesenvolvimentodeServiços, DepartamentodeEnfermagem UFPR, setor Ciências da Saúde, orientador: Lourdes Emilia R.Novakoski Endereçoparacorrespondência:Ilda Machado, Rua da Lua 300 casa 14, 81910-390 Curitiba PR, E-mail: [email protected] Conhecer para cuidar: perfil da clientela inscrita num programa de assistência e controle ao diabético em Natal Diabetes mellitus, doença crônica, incurável, que atinge todas as classes sócio-econômicas; seu controle implica numa terapia que envolve coordenação de medicamentos, dieta e exercícios, numa rotina diária de trabalho. Objetivando uma assistência de qualidade aos diabéticos da Unidade Básica de Pirangi (Natal-RN), buscou-se conhecer as necessidades manifestas e subjetivas de cada inscrito, para elaboração de estratégias de prevenção, tratamento, diminuição das complicações e mortalidade. A metodologia usada foi exploratória descritiva, com amostra não probabilística constituída de 65 inscritos no programa. A coleta de dados ocorreu através do histórico de enfermagem preenchido na primeira consulta. Os resultados evidenciam que a maioria da população estudada é do sexo feminino, na faixa etária entre 50 e 70 anos, aposentados, não terminaram o ensino fundamental, classificados como diabéticos tipo 2 e possuem história de diabetes na família. Concluímos que o conhecimento das pessoas que cuidamos é importante para que as ações alcancem seus objetivos. O olhar da enfermagem e a questão da violência na infância e na adolescência: conselho tutelar O trabalho tinha com objetivo de sensibilizar profissionais da educação e saúde, comunidades, organizações não-governamentais acerca da problemática da violência contra crianças e adolescentes. Trata-se de um estudo exploratório descritivo, com aporte do método qualitativo, desenvolvido no Conselho Tutelar de um município da região metropolitana de Curitiba/ Paraná. A coleta de dados foi realizada em duas etapas. Na primeira, estudo do Conselho Tutelar, localização física, inserção no município, infra-estrutura, dinâmica funcional e percepções da comunidade. Na segunda, foram analisadas as fichas de atendimento do Conselho Tutelar, no período de janeiro 1996 a junho de 2001, totalizando 10.000 unidades. As informações foram transportadas em planilhas, analisadas com suporte do Programa Epi-Info 6.04. Os resultados deste estudo, em decorrência de suas limitações, não pretende chegar a generalizações aplicáveis a outras realidades, mas levantar aspectos importantes que possam suscitar a reflexão e o debate sobre a violência contra a criança e adolescente, assim como do papel do Conselho Tutelar, dos profissionais da saúde e educação, da família e comunidade. O processamento das informações e análise dos dados permitiram os seguintes resultados: caracterização dos tipos de violência, local de ocorrência, perfil dos agressores, o surgimento de novas modalidades de violência contra adolescentes, recidivas, condutas/encaminhamentos efetuados pelos conselheiros. Com base no estudo dessa realidade, foram promovidos o Io Seminário sobre a Violência na Infância e na Adolescência e a Va Conferência Municipal dos $' EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Direitos da Criança e Adolescente e de Assistência Social, que contaram com a participação de vários segmentos institucionais do Município e da sociedade civil organizada. Elione Ferrari Marquart Souza EnfermeiraLicenciadaatuacomo fiscaljuntoaoConselhoRegional deEnfermagemdeSãoPaulo Endereçoparacorrespondência: Eliane Ferrari M. Souza, Rua Major Avelino Vieira de Andrade Palma, 185, 14096-240 Ribeirão Preto SP, Tel: (16) 629-4343, Fax: (16) 6350539 Maria Andrade e Silva*, Erica Lima Ramos**, Alex Ximenes de Moraes***, Angelisa Ribeiro Leite dos Santos**** *Professora assistente II doDepartamentodeEnfermagem em Saúde Pública EEAP/ UNIRIO, **Graduanda do curso de Enfermagem da EEAP/ UNIRIO, ***Graduando de Enfermagem da EEAP/ UNIRIO, Bolsista institucional da UNIRIO, ****Graduanda do curso de Enfermagem da EEAP/ UNIRIO, Colaboradora do Projeto deExtensãoBrincandoemSaúde Endereçoparacorrespondência: Erica Lima Ramos, Rua Cambaúba, 439/303 Ilha do Governador, 21940-000 Rio de Janeiro RJ, E-mail: [email protected] % A consulta de enfermagem na atenção básica à saúde: aspectos éticos e legais Com a municipalização da assistência à saúde, onde cada município oferece no mínimo a atenção básica, e com a implantação dos Programas de Saúde da Família, é grande o número de enfermeiros atuando em Saúde Pública. Pude observar em minha atividade profissional no estado de São Paulo, que o enfermeiro se ocupa das questões administrativas das unidades de saúde e não há um diferencial no seu atendimento em relação aos demais membros da equipe de enfermagem, na assistência ao cliente. Os registros em prontuários são escassos e não há planejamento e sistematização da assistência. O objetivo deste estudo é uma revisão bibliográfica e documental sobre o tema em questão, abordando os aspectos éticos e legais, destacando a importância da atuação na prevenção e promoção da saúde, além da implantação da consulta de Enfermagem no trabalho do enfermeiro, como integrante da equipe multiprofissional no Sistema Único de Saúde. Brincando em saúde: temáticas típicas dos escolares sobre sexualidade O projeto “Brincando em Saúde” surgiu a partir de atividades desenvolvidas numa Unidade Básica de Saúde de um município do Rio de Janeiro. Tem por objetivo construir uma assistência de enfermagem para o atendimento à criança, enquanto sujeito, não mais um objeto da ação profissional, possibilitando, assim, a consciência crítica e emancipadora nas questões de saúde. Desta construção surgiu uma parceria com uma escola municipal no Estado do Rio de Janeiro. Após vários encontros, percebeuse a necessidade de se trabalhar questões sobre sexualidade do escolar. Utilizamos a colocação de urnas nas séries, buscando conhecer as temáticas típicas dos escolares sobre sexualidade. Após a identificação deste temas, houve a construção de estratégias, onde os assuntos foram organizados. Com as ações desenvolvidas, reforçamos a nossa certeza da necessidade de um trabalho interdisciplinar entre educadores e enfermeiros, almejando, junto aos escolares, a possibilidade de construção de uma consciência crítica e emancipadora nas questões de saúde. EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Maria da Conceição Ferreira*, Marilene Gomes Silvestre**, Mônica Becker***, Virgínia Maria Coelho Holanda**** Estudo qualitativo sobre a inadequada exposição do lixo e suas conseqüências para uma comunidade da cidade de Olinda-PE *PsicólogaInstrutoradoServiço NacionaldeAprendizagem Comercial, Vitória de Santo Antão –Pernambuco,**Enfermeira InstrutoradoServiçoNacionalde Aprendizagem Comercial – Vitória deSantoAntão–Pernambuco, ***EnfermeiradeOrganizaçãonão governamentalalemã,prestando serviçosnoBrasil,paraoPrograma deSaúdedaFamíliadeOlinda– Pernambuco, ****Enfermeira do InstitutoMaterno-Infantilde Pernambuco–Recife–Pernambuco Endereçoparacorrespondência: Virgínia Maria CoelhoHolanda, Av. Saldanha Marinho, 577 – IPSEP – 51190-660 Recife PE, Tel: (81)9182-1454, E-mail: [email protected] Idéia central do trabalho: Apresentar histórico do lixo, seu impacto nas grandes cidades e opções de solução para o lixo urbano, ressaltando o agravamento do problema, pela cultura consumista vigente, falta de seriedade dos órgãos responsáveis e da passividade dos cidadãos em conviver com o lixo. Objeto do estudo: Relatar a importância dos catadores, como recicladores do lixo urbano. Objetivos: Identificar o conhecimento das esposas de catadores de lixo de Olinda, acerca da geração e do destino do lixo doméstico, além das conseqüências da exposição ao lixo em sua qualidade de vida Metodologia: Estudo descritivo, observacional, qualitativo, através de visitas à comunidade e entrevistas estruturadas a 20 esposas de catadores de lixo. Resultados: Identificaram que 21,4% conceituaram-no corretamente como resíduos domésticos; 7,1% como itens reaproveitáveis e 64,2% como doença, atribuída à freqüência com que vivenciavam patologias preveníveis. Embora 55,0% reconhecessem a competência da prefeitura na coleta, 70,0% desconheciam o destino ou jogam-no nas cercanias das residências. Conclusão: Concluíram que a conscientização e o comprometimento com a conservação da limpeza do bairro eram deficientes. Sugeriram trabalho, em parceria com a prefeitura, membros da comunidade, profissionais de saúde e de educação, para gerar condições para manutenção dessa limpeza, promovendo melhor qualidade de vida da comunidade. Flora Marta Giglio Bueno*, Marcos de Souza Queiroz** A construção da autonomia profissional: o trabalho do enfermeiro no contexto hospitalar *E nfermeira,MestreemEnfermagem, responsávelpeloServiçode EnfermagemdoAmbulatóriode OtorrinolaringologiadoHospitaldas Clínicas da UNICAMP, **Antropólogo, Doutor em SociologiadaSaúde,pesquisadordo COCEN/UNICAMP Endereçoparacorrespondência:Flora Marta Giglio Bueno, Rua DesembargadorAntãodeMorães, 195, 13083-310 Campinas SP, E-mail: [email protected] Esta investigação identifica fatores que interferem na qualidade da prática de enfermagem. Faz, também, algumas considerações sobre o cuidado à saúde, o desenvolvimento histórico da enfermagem e dos cuidados em enfermagem, o processo de trabalho que se desenvolve, sua organização e, a partir daí, salienta a importância de uma reflexão crítica dos enfermeiros, enquanto sujeitos que devem atuar redimensionando continuamente a sua prática. O estudo foi desenvolvido em um hospital universitário, utilizando-se uma abordagem quantitativa e qualitativa. É proposto um repensar na maneira de desenvolver o trabalho do profissional enfermeiro de modo a estimular seu compromisso com a produção de saúde, ao mesmo tempo em que se procura garantir maior nível de satisfação no exercício da profissão e procura-se demonstrar a necessidade de atitudes mais expressivas, posturas mais ativas e reflexivas, saberes mais específicos para que então se torne efetivamente um profissional essencial e com maior visibilidade social. % EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Carmen Lúcia Lupi Monteiro Garcia*, Luci Mobílio Gomes Pinto** *ProfessoradaFaculdadede Enfermagem Luiza de Marillac – FELM, Coordenadora Técnica do CursodeSaúdePública.SãoCamilo – Rio de Janeiro, **Coordenadora PedagógicadaFaculdadede Enfermagem Luiza de Marillac FELM, São Camilo – Rio de Janeiro Endereçoparacorrespondência:Carmen Lupi Monteiro Garcia, Rua Belfort Roxo, 351/1003, 22020-010 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 2244 2946, E-mail:[email protected] Rodolfo Matias de Melo*, Bianca Scharenberg**, Gustavo Alexandre Santos da Cruz Pereira**, Kaneji Shiratori*** *AcadêmicodeEnfermagemdo5º Período da Graduação da EEAP/ UNIRIO. Relator.Bolsista IC/ UNIRIO, **Acadêmico de Enfermagemdo5ºPeríododa Graduação da EEAP/UNIRIO, ***Profª Assistente do Departamento deEnfermagemFundamentalda EEAP/UNIRIO, Doutora em Enfermagem,OrientadoradaPesquisa Endereçoparacorrespondência:Rodolfo MatiasdeMelo,RuaRaimundo Correia,60/706Copacabana22040040 Rio de Janeiro RJ, E-mail:[email protected] % O papel social do COFEN na qualificação profissional: pós-graduação lato sensu, uma experiência que deu certo A estrutura social do Brasil vem passando por várias transformações e o setor saúde, integrante desta estrutura é elemento chave para que melhores condições de vida se estabeleçam. A Enfermagem, como profissão da área da saúde, deve buscar sua participação neste processo, porém nossos profissionais, ao terminarem sua graduação, se inserem no mercado de trabalho e a maioria estabelece a rotina do fazer Enfermagem no dia-a-dia, sem contudo voltar a estudar, aprimorar conhecimentos, quer por falta de oportunidade, tempo ou condição financeira. Nosso estudo, descritivo, quali/quantitativo, apresenta a opinião dos profissionais que aderiram a iniciativa do Conselho Federal de Enfermagem que firmou convênio com a São Camilo - Rio, para oferecer Cursos de Pós-graduação Lato Sensu. Os respondentes exaltam a iniciativa; afirmam a relevância da proposta para o desenvolvimento profissional; atestam maior aproximação da categoria com o Conselho; esperam que haja continuidade da proposta e solicitam iniciativa para a implementação do Strito Sensu. (Re)descobrindo assistência de enfermagem na cinesia de um cliente com acidente vascular cerebral Esta pesquisa é originária do cotidiano acadêmico vivenciado na Universidade do Rio de Janeiro, vinculado no Núcleo de Pesquisa e Experimentação em Enfermagem – NUPEF. Objetivo: Avaliar a assistência de enfermagem implementada a partir da decodificação dos sinais corporais, à luz da literatura sobre a comunicação não verbal e da teoria de Horta. Metodologia: Abordagem qualitativa com a utilização de observação participante e diário de campo. Para análise e discussão dos dados, foi adotados o referencial de Knapp para a análise da comunicação não verbal e Horta para análise da assistência de enfermagem. Resultado: Evidenciou-se que é possível estabelecer uma comunicação efetiva de enfermagem a partir do instrumental sugerido por Knapp, bem como implementar o cuidado de enfermagem, aliando aquele à teoria proposta por Horta. Neste sentido, é importante sinalizar que a partir da necessidade de comunicação evidenciada no cliente com acidente vascular cerebral isquêmico, foi possível diagnosticar e atender outras necessidades delas decorrentes. Conclusão: bservamos que é possível atender aos clientes que não verbalizam mediante uma assistência contínua e planejada para que se resgate as condições dignas, de fato e de direito da clientela cuidada pela enfermagem. EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Maria da Conceição Ferreira*, Marilene Gomes Silvestre**, Mônica Becker***, Virgínia Maria Coelho Holanda**** Estudo qualitativo sobre a inadequada exposição do lixo e suas conseqüências para uma comunidade da cidade de Olinda-PE *PsicólogaInstrutoradoServiço NacionaldeAprendizagem Comercial, Vitória de Santo Antão – Pernambuco,**EnfermeiraInstrutora doServiçoNacionaldeAprendizagem Comercial – Vitória de Santo Antão – Pernambuco, ***Enfermeira de Organizaçãonãogovernamental alemã,prestandoserviçosnoBrasil, paraoProgramadeSaúdedaFamília deOlinda–Pernambuco, ****Enfermeira do Instituto Materno-InfantildePernambuco– Recife–Pernambuco Endereçopara correspondência:VirgíniaMaria CoelhoHolanda,Av.Saldanha Marinho, 577 – IPSEP – 51190660 Recife PE, Tel: (81)9182-1454, E-mail: [email protected] Idéia central do trabalho: Apresentar histórico do lixo, seu impacto nas grandes cidades e opções de solução para o lixo urbano, ressaltando o agravamento do problema, pela cultura consumista vigente, falta de seriedade dos órgãos responsáveis e da passividade dos cidadãos em conviver com o lixo. Objeto do estudo: Relatar a importância dos catadores, como recicladores do lixo urbano. Objetivos: Identificar o conhecimento de esposas de catadores de lixo de Olinda, acerca da geração e do destino do lixo doméstico e as conseqüências da exposição ao lixo em sua qualidade de vida Metodologia: Estudo descritivo, observacional, qualitativo através de visitas à comunidade e entrevistas estruturadas a 20 esposas de catadores de lixo. Resultados: Identificaram que 21,4% conceituaram-no corretamente como resíduos domésticos; 7,1% como itens reaproveitáveis e 64,2% como doença, atribuída à freqüência com que vivenciavam patologias preveníveis. Embora 55,0% reconhecessem a competência da Prefeitura na coleta, 70,0% desconheciam o destino ou jogam-no nas cercanias das residências. Conclusão: Concluíram que a conscientização e o comprometimento com a conservação da limpeza do bairro eram deficientes. Sugeriram trabalho, com a parceria da Prefeitura, membros da comunidade, profissionais de saúde e de educação, para gerar condições para manutenção dessa limpeza, promovendo melhor qualidade de vida da comunidade. 2003: novo curso de enfermagem inaugurado no Rio de Janeiro pela Universidade Veiga de Almeida e a Cruz Vermelha A Universidade Veiga de Almeida (Rio de Janeiro), em um convênio com a Cruz Vermelha Brasileira (CVB), está oferecendo agora um curso de graduação em enfermagem. Este novo curso oferecerá 180 vagas em 3 turmas de 60 alunos (manhã, tarde e noite). Segundo a coordenação da Veiga de Almeida, esta graduação apresenta um projeto pedagógico moderno e inovador, com laboratórios técnicos bem equipados, residência em hospitais da rede pública e privada (último ano) e corpo docente formado por mestres e doutores. As aulas serão no prédio da CVB, na Praça da Cruz Vermelha, no centro de Rio de Janeiro. O curso se propõe a formar profissionais completos, ou seja, que atuem como enfermeiros, mas que também tenham aptidão gerencial e de planejamento, com uma visão humanística, crítica e bases de cidadania. A individualização no cuidado ao paciente é valorizada pelos segmentos que abordarão a enfermagem maternoinfantil, adulta e do idoso. Mais informações sobre o curso são disponíveis no site da Universidade Veiga de Almeida (www.uva.br) ou pelo central de atendimento, no número (21) 2574-8888. Notícias sobre a história da Cruz Vermelha podem ser obtidas no endereço eletrônico http://www.oca.org.br/cruzvermelha/ACruzVermelha.htm. %! EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Normas de publicação Enfermagem Brasil A revista Enfermagem Brasil é uma publicação com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à Enfermagem. Os artigos publicados em Enfermagem Brasil poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições. A revista Enfermagem Brasil assume o “estilo Vancouver” (Uniformrequirementsformanuscriptssubmittedtobiomedicaljournals, N Engl J Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são resumidas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2001. Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/ e-mail) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. 1. Editorial Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um de seus membros. Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman) com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências. 2. Artigos originais São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados originais de descobertas com relaçaõ a aspectos experimentais ou observacionbais de característica médica, bioquímica e social, e inclui análise descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes itens: Introdução, Métodos, Resultados, Discussão e Conclusão. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/Word. Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em PowerPoint, Excel, etc. Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bibliográficas. Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, interesse profissional, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. %" 3. Revisão São trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à Enfermagem, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais. 4. Atualização ou divulgação São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre tema de interesse dos profissionais de Enfermagem (novas técnicas, legislação, por exemplo) e que têm características distintas de um artigo de revisão. 5. Relato de caso São artigos de representan dados descritivos de um ou mais casos explorando um método ou problema através de exemplo. Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal. 6. Comunicação breve Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power Point, Excel, etc Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências bibliográficas. 5. Resumos Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas. 6. Correspondência Esta seção publicará correspondência recebida, sem que necessariamente haja relação com artigos publicados, porém relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras. PREPARAÇÃO DO ORIGINAL 1. Normas gerais 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word, Wordperfect, etc), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto, EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma. 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com qualidade ótima (qualidade gráfica – 300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e o espanhol e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, zipdrive, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor, incluir informação dos arquivos, tais como o processador de texto utilizado e outros programas e sistemas. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português, inglês e espanhol. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e E-mail. - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3. Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words) Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol. O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavraschave (ou unitermos) para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes. 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas: Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto. Exemplo: 1. Phillips SJ. Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78. Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al. Exemplo: Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: Jean-Louis Peytavin Atlantica Editora Rua da Lapa, 180/1103 - Lapa 20021-180 Rio de Janeiro RJ Tel: (21) 2221 4164 E-mail: [email protected] %# EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2003;2(1) Calendário de eventos 2003 fevereiro 20 e 21 de fevereiro de 2003 Instrumentos de medidas assistenciais e gerenciais em UTI: TISS e suas diferentes versões Informações: (11) 3066-7531 ou 7577 [email protected] 23 a 28 de fevereiro de 2003 27 Congresso Internacional de Saúde no Trabalho ICOH 2003 Foz do Iguaçu - Paraná Informações: (41) 353-6719 www.icoh2003.com.br 23 a 26 de fevereiro de 2003 Vo Congresso Ítalo Brasileiro de Urologia e Io Congresso Pan-Urológico da Bahia Tema: O desafio da equipe em saúde e segurança no trabalho Centro de Convenções da Bahia Salvador BA Informações: Tel: (71) 205-8780 http://www.panurologico.com.br abril 26 a 30 de abril de 2003 IV Congresso Brasileiro de Farmácia Homeopática João Pessoa - PB www.farmaceuticoshomeopatas.com.br 27 a 30 de abril de 2003 12º SENPE - 12º Seminário Nacional de Pesquisa em Enfermagem EXPOSENPE 2003 - Feira de Produtos e Serviços da área de Enfermagem e Saúde Porto Seguro BA Associação Brasileira de Enfermagem ABEn Informações: (61) 226-0653 Congregabahia (73) 288-6722 e 288-6705 www.abennacional.org.br maio 24 a 27 de maio de 2003 Vo Congresso Nacional da Rede Unida, Io Fórum Nacional de Redes em Saúde e IIo Mostra Paranaense de Produção em Saúde da Família Informações: (43) 324.2340 e-mail [email protected] http://www.redeunida.org.br %$ junho 10 a 13 de junho de 2003 Hospitalar 2003 10º Feira Internacional de Produtos, Equipamentos, Serviços e Tecnologia para Hospitais, Laboratórios, Clínicas e Consultórios Expo Center Norte -São Paulo SP Informações: (11) 3897-6199 www.hospitalar.com julho 13 a 18 de julho de 2003 Educação, ciência e tecnologia para a inclusão social 55º Reunião Anual da SBPC - Sociedade para o Progresso da Ciência Universidade Federal de Pernambuco Recife PE E-mail: [email protected] 29 de julho a 2 de agosto de 2003 VIIo Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva ABRASCO Campus da Universidade de Brasília (UnB), Brasília DF Informações: [email protected] setembro 1º Congresso Nordestino de Conselhos de Enfermagem Informações: Tel: (83) 221-8758 E-mail: [email protected] 8 a 12 de setembro de 2003 6o CBCENF Congresso Brasileiro dos Conselhos de Enfermagem Florianópolis SC Informações: www.cbcenf.com.br novembro 10 a 15 de novembro de 2003 55º CBEn - Congresso Brasileiro de Enfermagem 11º CPEn Congreso Panamericano de enfermería Informações: ABEn Rio de Janeiro Av. Presidente Vargas 590/418, 20071-000 Rio de Janeiro RJ Tel: (21) 2263 5471/2516 9496 E-mail: [email protected] EnfermagemBrasil Enfermagem Brasil Março / Abril 2003;2(2) Índice Volume 2 número 2 - Março / Abril de 2003 E DITORIAL Enfermagem: razão e sensibilidade, Maria da Graça Piva ........................................................................... 79 A RTIGOS ORIGINAIS O quarto privativo no setor de doenças infecciosas e parasitárias e a equipe de enfermagem, Flavia Bernardes R. dos Santos, Noemi dos Santos, Vanessa Andrade M. Pinto, Rita Batista Santos ........................................................................................................................................................ 80 Cuidados de enfermagem na assistência ventilatória mecânica em terapia intensiva, Carlos Eduardo Peres Sampaio, Bárbara Fernandes, Fernanda Freire, Márcia Dourado ............................ 89 Avaliação do desenvolvimento em um grupo de crianças assistidas em creche, utilizando o teste de triagem de Denver II, Aspásia Basile Gesteira Souza, Célia Nascimento Siqueira .......................................................................................................................................... 96 Perfil das pessoas com diabetes mellitus tipo 2 cadastradas no programa de assistência ao diabético de Passos - MG, Vilma Elenice Contatto Rossi, Ana Emilia Pace ........................................................................................................................................................ 104 REVISÕES A origem dos serviços de assistência pré-hospitalar, Ana Paula Cunha, Maria Soledade Simeão dos Santos ...................................................................................................................... 110 Manual de cuidados do cateter de Hickman, Ana Paula Cunha, Rita de Cássia Elias, Maria Paula S. Soares ................................................................................................................................................ 116 Processo saúde-doença no envelhecimento, Elza Maria Pacheco Dias ................................................ 121 ESTUDO DE CASO Identificação dos diagnósticos de enfermagem de um paciente politraumatizado internado em uma Unidade de Terapia Intensiva, Geraldo Magela Salomé, Roberto S. Camargo, Cleide Aparecida Guerra ................................................................................................ 126 RESUMOS DE TRABALHOS E CONGRESSOS .................................................. 132 NORMAS DE PUBLICAÇÃO................................................................................... 1 3 3 CALENDÁRIO DE EVENTOS .................................................................................. 1 3 5 %% sumario+indice.pmd 77 30/04/03, 18:42 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) EDITOR CIENTÍFICO - PRESIDENTE DO CONSELHO CIENTÍFICO (2003-2004) Profa. Dra. Maria da Graça Piva (ULBRA -RS) EDITORIALISTA Gilberto Linhares Teixeira CONSELHO CIENTÍFICO Prof. Dr. Carlos Bezerra de Lima (UFPB Paraíba) Profa. Dra. Clarice Heiko Muramatsu (USP São Paulo) a a Prof . Dr . Margarete Rego (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) Profa. Dra. Maria Helena da Silva Nery (UFRGS Rio Grande do Sul) Profa. Dra. Rita Batista Santos (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) Profa. Dra. Rita de Cássia Tapié Martins (USP São Paulo) Prof. Dr. Sérgio Ribeiro dos Santos (UFPB Paraíba) Profa. Dra. Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler (FAMERP São José do Rio Preto São Paulo) GRUPO DE ASSESSORES Profa Ms. Andréia Saccol Lourenço (Escola Técnica de Enfermagem São Francisco Rio Grande do Sul) Profa Ms. Dóris Maria Volquind (Clínica de Florais de RAFF Rio Grande do Sul) Profa Ms. Dulce Dirclair Huf (UFMS Mato Grosso do Sul) a Prof Ms. Gisele Cristina Tertuliano (Secretária Municipal de Saúde de Cachoerinha Rio Grande do Sul) Profa Ms. Hortência Maria de Santana (COREN Sergipe) a Prof Ms. Louize Maria Holtz Santos de Oliveira (COFEN Sergipe) Profa Ms. Sonia Maria Ponciano dos Santos (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) Profa. Ms. Almerinda Moreira (Escola de Enfermagem Alfredo Pinto UniRio Rio de Janeiro) Rio de Janeiro Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 - Rio de Janeiro - RJ Tel/Fax: (21) 2221-4164 / 2517-2749 e-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br São Paulo Praça Ramos Azevedo, 206/1910 01037-010 - São Paulo - SP Tel: (11) 3362-2097 Assinaturas 6 números ao ano 1ano: R$ 108,00 Rio de Janeiro: (21) 2221-4164 Representante de Assinatura: A.Shalon (11) 3361-5595 Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Publicidade e marketing René Caldeira Delpy Jr. Editoração e arte Andréa Vichi Gerente comercial Stevenson Gusmão [email protected] tel. (21) 9174-5322 Administração Bárbara de Assis Jorge Atendimento ao assinante Ingrid Haig Redação e administração (Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço) Jean-Louis Peytavin Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 - Rio de Janeiro - RJ Tel/Fax: (21) 2221-4164 Cel: (21) 8802-4215 [email protected] Publicidade e marketing Rio de Janeiro: René C. Delpy Jr [email protected] (21) 2221-4164 São Paulo: Cynthia Breviglieri [email protected] (11) 3362-2097 Atlântica Editora edita as revistas Diabetes Clínica, Fisioterapia Brasil e Nutrição Brasil. Ilustração da capa: Ilustração da capa: Anônimo, Anjo Poder, séc. XVII, óleo sobre tela, (163,5 x 114,2 cm), Igreja de Calamarca, La Paz I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. %& sumario+indice.pmd 78 30/04/03, 18:43 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) EDITORIAL Enfermagem: razão e sensibilidade Maria da Graça Piva Editor científico O que é Enfermagem? Uma ciência? Uma profissão? Ou é simplesmente a manifestação de algumas pessoas sensíveis a dor do outro, ou a forma que essas pessoas encontraram para ajudar seus semelhantes? Enfermagem é, na verdade, a junção de todas essas coisas. É ciência, é profissão, é sensibilidade. E é ainda muito mais: é dedicação no cuidar, no estudar, no pesquisar, no especializar-se. É a busca constante de atualização de conhecimentos, é a criatividade de solucionar problemas e de colocar-se no lugar de seus clientes. A percepção que a sociedade tem da Enfermagem hoje é, no mínimo peculiar. As pessoas não a identificam antes de precisar dela. Até então a palavra lhes remete a algumas figuras de branco circulando pelos corredores de hospitais e clínicas. Não fazem idéia que aquelas figuras até graciosas, que circulam com leveza, carregam a responsabilidade da vida de seus clientes com os infindáveis serviços oferecidos a eles: a consulta de enfer magem, os procedimentos práticos de rotina como higiene, curativos, percepção de sinais e sintomas, medicação e todos os demais atos que completam os atendimentos das diferentes áreas da saúde. A Enfermagem coordena e concatena todos os serviços administrados por médicos, fisioterapeutas, nutricionistas, enfim, todos os procedimentos da área da saúde, proporcionando ao cliente um atendimento de qualidade com resolutividade. O Enfermeiro, ciente de sua sensibilidade em compreender a dor de seus semelhantes, busca cada vez mais o preparo através do conhecimento científico, o que o habilita a interagir com as demais profissões conferindo atendimento de qualidade a sua clientela. E, o propósito da Enfermagem Brasil vem suprir a necessidade de um veículo que fale a linguagem do profissional, divulgando as ações da enfermagem, tornando-a cada vez mais próxima da população, como uma profissão que une razão e sensibilidade. %' sumario+indice.pmd 79 30/04/03, 18:43 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) Artigo original O quarto privativo no setor de doenças infecciosas e parasitárias e a equipe de enfermagem La habitación privada en el sector de enfermedades infecciosas y parasitarias y el grupo de enfermería The private room in infectious-parasitic department and nursing team Flavia Bernardes R. dos Santos*, Noemi dos Santos*, Vanessa Andrade M. Pinto*, Rita Batista Santos** **Alunas do 6º período do Curso de Graduação em Enfermagem da EEAN/UFRJ, ** Professora Assistente do DEMC/EEAN/UFRJ, Doutora em Enfermagem pelo Departamento em Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo/EPM Resumo Trata-se de um estudo exploratório, descritivo e qualitativo, a respeito das dificuldades apresentadas pelas profissionais da equipe de enfermagem, durante a assistência ao paciente portador de doenças infecciosas e parasitárias (DIP), na ausência do quarto privativo no setor de DIP, assim como suas possíveis causas nos procedimentos e relacionamento interpessoal. Fizeram parte da amostra nove profissionais da equipe de enfermagem do setor DIP de um hospital universitário do Município do Rio de Janeiro, sendo todas do sexo feminino. Os resultados destacaram a dificuldade da assistência, devido à falta de material e sobrecarga de serviço, uma vez que para realizar a técnica correta é necessário utilizar as precauções padrões, evitando assim a contaminação por agentes infecciosos. Outro ponto importante relaciona-se com a improvisação do quarto privativo, o que é considerada pelas profissionais, incômodo para os pacientes, já que esses têm que ser deslocados para outras enfermarias. Palavras-chave: Equipe de enfermagem, isolamento, precauções universais, doenças infecto-parasitárias. Artigo recebido em 15 de agosto de 2002; aceito em 15 de março de 2003 Endereço para correspondência: Rita Batista Santos, Escola de Enfermagem Anna Nery, Rua Afonso Cavalcanti, 275 Cidade Nova 20211-110 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21)2293-8098, E-mail: [email protected] & artigo 07.pmd 80 30/04/03, 18:43 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) Abstract This work is an exploratory study, descriptive and qualitative, concerning the difficulties referred by the nursing staff during the assistance to the patient with infectious-parasitic diseases (IPD), in absence of a private room in the IPD department. It claims to identify these difficulties as well as possible causes related to technical procedures and staff relationship. Our sample was nine professional nurses of the IPD department from a university hospital in the city of Rio de Janeiro, in which all of our subjects were females. According to the results, the difficulty to assistance was due to lack of material and overloaded service, concerning that to execute a correct procedure, it is necessary to follow the standart precautions due to personal security, avoiding the infection of these professionals. Another important point related to improvising private rooms, is that this situation leads to the moment of patients to other wards, which turns into a problem to the nursing staff. Key-words: Nursing team, isolation, infectious parasitic disease. Resumen Se trata de un estudio exploratorio, descriptivo y cualitativo, al respecto de las dificultades presentadas por los profesionales del grupo de enfermería, durante la asistencia al paciente portador de enfermedades infecciosas y parasitarias (EIP), en la ausencia de habitación privada en el sector de EIP, así como sus posibles causas en los procedimientos y relación interpersonal. Hicieron parte de la muestra nueve profesionales del grupo de enfermería del sector EIP de un hospital universitario del Municipio de Rio de Janeiro, siendo todas del sexo femenino. Los resultados destacaron la dificultad de la asistencia, debido a la ausencia de material y sobrecarga del servicio, una vez que para realizar la técnica correcta es necesario utilizar las precauciones estándar, evitando así la contaminación por agentes infecciosos. Otro punto importante se relaciona con la improvisación de la habitación privada, lo que es considerado por los profesionales, incómodo para los pacientes, ya que ellos tienen que ser trasladados para otras enfermerías. Palabras-clave: Grupo de enfermería, aislamiento, enfermedades infecto-parasitarias. Introdução Trajetória do estudo Durante o Estágio Supervisionado do Programa Curricular Interdepartamental VIII da Escola de Enfermagem Anna Nery, de um setor de Doenças Infecto-Parasitárias (DIP) de um Hospital Universitário, nos deparamos com uma situação de improviso, pois o setor anterior da DIP encontravase em obras para reforma total do setor. Em todos os hospitais, existem técnicas baseadas nos princípios de desinfecção e precaução para prevenir o perigo de contaminação, que obedecem à determinação do Ministério da Saúde [1], através da portaria 930, de 27 de agosto de 1992. O tipo de precaução é determinado a partir do momento que se conhece os germes causadores das doenças transmissíveis. De acordo com o agente infeccioso e a fonte de infecção, estes tipos são divididos em Precaução respiratória, Precaução por contato, Precaução reversa. A Precaução Respiratória é observada no caso de doenças que se transmitem diretamente ou indiretamente, através das secreções das vias aéreas superiores, como: tuberculose pulmonar, parotidite, doenças eruptivas, difterias, influenza, coqueluche, sífilis secundária, meningite purulenta, pneumonias, estafilococcias e estreptococias. A Precaução por Contato representa o conjunto de cuidados da equipe de saúde para evitar a disseminação de germes existentes em ferimentos ou secreções do paciente, como por exemplo, o Staphylococcus aureus em infecções com secreção. Na precaução reversa os germes são mantidos do lado de fora da área definida e o paciente é protegido dos patógenos em seu ambiente. Essa prática é usada para os pacientes particularmente susceptíveis ou pouco resistentes às infecções, como por exemplo, as pessoas com grandes queimaduras ou leucemia. Para estabelecer-se precauções do tipo respiratória e da reversa, é necessário a existência de um quarto privativo também chamado de unidade isolada, na DIP ou em qualquer setor do hospital. Além do quarto privativo é necessário ter um banheiro anexo e uma anti-sala para os procedimentos de enfermagem. No quarto privativo é importante encontrar proximidade de pia para a equipe de trabalho; pisos e paredes laváveis; facilidade de observação pela enfermagem, possibilidade de esterilização de pratos, copos e talheres; coleta e incineração perfeita do lixo; coleta e envio adequado da roupa até a lavanderia [2]. Todo o equipamento não essencial deve ser retirado do quarto. Toda a roupagem de proteção & artigo 07.pmd 81 30/04/03, 18:43 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) da equipe de saúde (tais como capotes, máscaras e óculos) deve permanecer junto à porta, fora da unidade, sendo manuseados com técnica adequada a fim de evitar a contaminação do profissional. Todo o material a ser utilizado na unidade isolada, como termômetro, etc, é de uso individual e permanece na unidade até a desinfecção terminal. O método ideal de precaução é de quarto e banheiro privativos, porém às vezes a equipe tem que improvisar pequena unidade do paciente, dentro da enfermaria. Ela consiste na área diretamente ao redor do paciente e é separada do resto da enfermaria através de biombos, cortinas ou parede divisória, sendo o seu interior considerado área contaminada. O restante da enfermaria e as demais dependências usadas para outros pacientes são conservados limpos, com exceção da parte interna da pia da sala de curativos, onde são lavados objetos que foram contaminados com o paciente, tais como cubas, seringas, etc. Sem tais medidas a unidade de DIP, além de favorecer riscos, causa desconforto ao próprio paciente. Desse modo, podemos observar a importância do quarto privativo separado com equipamento individual, a fim de evitar-se o contágio e subseqüente disseminação das doenças infecto-contagiosas. Justificativa Ao pesquisarmos este tema, estamos procurando levar ao conhecimento de todos os envolvidos nos cuidados de enfermagem, a importância do quarto privativo para o paciente que necessita de alguns tipos de precauções hospitalares, tais como o isolamento de contato, reverso e respiratório; já que está propenso a adquirir outras infecções e, além disso, pode tornar-se fonte de infecções cruzadas para os outros pacientes com quem dividem a mesma enfermaria. Procuramos também direcionar a pesquisa à equipe de Enfermagem, pois é ela que permanece mais tempo junto ao paciente, e por isso aumentam as possibilidades de infecção cruzada ao realizar o cuidado, sem que haja os recursos materiais e os locais necessários para a realização dessa técnica corretamente, ou seja, não ter os recursos físicos necessários pode causar sérios riscos para todos dentro do setor de DIP. Questões norteadoras Qual a importância do quarto privativo para a pacientela e para a enfermagem; Como a falta do quarto privativo influencia na assistência da enfermagem; Quais as conseqüências da falta do quarto privativo para o paciente e para a equipe de enfermagem. Objeto de estudo Nosso objeto de estudo é o conhecimento da equipe de enfermagem (Enfermeira, Técnica e Auxiliar) e dos pacientes do setor de DIP de uma Universidade Federal sobre o uso de quarto privativo, incluindo suas opiniões sobre a ausência desse para o paciente e para si própria. Problema Com o setor de DIP em obras, o funcionamento em um novo setor reduziu o número de enfermarias, retirando-se o quarto privativo, o que não é preconizado pelo Ministério da Saúde [2]. Quando existe a necessidade do mesmo, é fechada uma enfermaria para um só paciente, porém essa enfermaria não tem a ante-sala para os cuidados de assepsia de mãos e objetos, logo não atende aos padrões de biossegurança da pacientela e da equipe multidisciplinar, surgindo, então, nosso problema. Objetivos Discutir a importância do quarto privativo para o paciente e para a enfermagem, Citar e analisar as conseqüências da falta do quarto privativo na assistência de enfermagem, Identificar as conseqüências da falta de quarto privativo no setor da DIP, segundo a perspectiva da equipe de enfermagem. Contribuições do estudo Esperamos que os resultados obtidos sejam considerados durante a organização de um setor de DIP para que este possa funcionar dentro dos padrões das Normas de Biossegurança, não levando risco para a pacientela nem para a equipe multidisciplinar. Também queremos alertar para a importância das técnicas assépticas corretas para o cuidado do paciente que se encontra em precaução seja por contato, respiratória por gotícula ou aerossol. & artigo 07.pmd 82 30/04/03, 18:43 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) Revisão crítica da literatura Conceituação de quarto privativo Preconiza-se que o quarto tenha no máximo dois leitos. Esses leitos devem ficar a uma distância mínima um do outro de um metro, e afastados da parede pela cabeceira por, pelo menos, cinqüenta centímetros. Dentro do quarto deve existir uma mesa para apoiar estetoscópio e termômetro, por exemplo, que devem ser exclusivos deste paciente. Deve haver janelas, lixeira, banheiro e porta, que deve ficar fechada. Anterior ao quarto deve haver uma ante-sala que separa o quarto do corredor do setor. Nela deve existir uma mesa, pia e um suporte para capote, além de lixeira. Ao sair desta ante-sala, há outra porta, que leva ao corredor, que também deve ser mantida fechada. Sabemos que todos os profissionais de saúde devem ter conhecimento das normas de biossegurança, que, é um conjunto de medidas técnicas, administrativas, educacionais, médicas e psicológicas, empregadas para prevenir acidentes em ambientes biotecnológicos. Isso se dá a partir de um conhecimento prévio a respeito da transmissão e das precauções relacionadas às doenças, através de programas de prevenção de acidentes, programas de garantia da qualidade, treinamento individual e coletivo, programas de educação básica, ou seja, medidas técnicas e educacionais que devem ser tomadas para adequar a prevenção e utilização de equipamentos de proteção à forma de transmissão das doenças. Com isto estaremos evitando que os profissionais sofram contaminação desnecessária de doenças que devem ser tratadas com os devidos cuidados, como as transmitidas pelo ar. Técnicas e medidas de isolamento para o uso do quarto privativo O quarto privativo objetiva proteger o paciente, bem como a equipe de saúde envolvida de demais possíveis contatos, familiares ou não. Um tipo de proteção preconizada atualmente pelo Ministério da Saúde [3] é o uso do quarto privativo para situações que requerem precaução respiratória, ou seja, todos os pacientes com doenças transmitidas por gotas ou gotículas que vêm pelo ar devem ser enviados para um quarto particular, devese usar máscara de proteção para os profissionais e visitas de acordo com o tipo de doença, lavagem das mãos, desprezo de artigos contaminados com secreções ou embalá-los adequadamente. Além da prevenção dessas doenças há também as medidas de prevenção para outras doenças de transmissão por contato, por exemplo, com uso de luvas, capote, entre outros, além das precauções universais, como não reencapar agulhas, lavagem das mãos e etc. Podem acontecer as condições inseguras que são aquelas que decorrem diretamente das condições do local de trabalho ou do ambiente de trabalho como a falta do quarto privativo, piso não apropriado ou mesmo ventilação incorreta. Os exemplos de doenças que devem ser tratadas em quartos privativos são a Meningite Meningocócica, Tuberculose (até a 2ª semana de tratamento), entre outras.Os clientes só poderão utilizar o mesmo ambiente, quando as doenças forem iguais e/ou estiver provado que não estão mais transmitindo a doença. Os equipamentos de proteção individual (EPI) também devem ser utilizados dentro dos quartos privativos e eles são de uso estritamente pessoal, utilizado para prevenir e/ou minimizar acidentes. É regulamentado pela Portaria 3214-NR-6 do Ministério do Trabalho de 08/06/1978, que prevê a distribuição gratuita desses equipamentos, competindo aos trabalhadores usá-los e conservá-los [4]. Proteção da equipe de Saúde no quarto privativo Os funcionários, assim como as visitas, deverão estar cientes da doença que o cliente tem para que possam se prevenir. Isso inclui o direito da equipe de saúde de encontrar os devidos recursos materiais para a assistência a esse cliente, assim como aos outros clientes do setor de poderem estar protegidos dessas doenças de transmissão aérea, havendo, portanto, a necessidade dos quartos privativos. Além disso, é direito do cliente com este tipo de doença, ser cuidado dentro das normas e padrões de biossegurança. Os familiares e clientes devem ser orientados quanto aos meios de proteção, no sentido de compreenderem sua importância, de maneira que nenhum se sinta hostilizado ou humilhado. É possível que os profissionais em contato com esse cliente venham a se contaminar com suas doenças, porém, se existem luvas, máscaras, capotes e quartos privativos é porque sua necessidade e importância já foram comprovadas, logo, um setor que cuida desse tipo de doença deve ser o primeiro a preconizar um ambiente próprio e com todos os recursos para tratar os clientes, sem que haja a menor possibilidade de contaminação dos profissionais conseqüente a um &! artigo 07.pmd 83 30/04/03, 18:43 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) cuidado realizado fora dos padrões internacionais de biossegurança. Infecção cruzada sem o quarto privativo A presença de um cliente que está imunodeprimido devido a sua doença, junto a outro que além de estar imunodeprimido tem uma doença, por exemplo, transmitida pelo ar, é desaconselhável, já que é foco de infecções cruzadas, ou seja, é ruim para os dois lados. Outro problema é que, se esta enfermaria/ quarto é compartilhado com outros clientes, não haverá a possibilidade de fechar portas, logo, o ar que circula no quarto é levado diretamente para o corredor do setor, assim, qualquer um e principalmente os profissionais de saúde que estiverem na entrada do quarto poderão ser contaminados, já que ninguém circula pelo hospital com seus EPIs. Metodologia A pesquisa é do tipo exploratória, descritiva e qualitativa, priorizando-se o conhecimento dos sujeitos, em detrimento ao critério numérico para garantir sua representatividade. Universo do estudo O estudo foi realizado no setor de DIP de um Hospital Universitário de grande porte localizado na Área Programática 3.1, pertencendo a vigésima região administrativa, no município do Rio de Janeiro. Oferece atendimento de nível terciário e está dividido nos serviços de internação clínica, cirurgia e ambulatorial. Conta com uma equipe multiprofissional, distribuída entre médicos, enfermeiras, técnicas e auxiliares e atendentes de enfermagem, nutricionistas, farmacêuticos fisioterapeutas, assistentes sociais, psicólogos e odontólogos. Os profissionais da equipe de enfermagem, que são em número de 664, encontram-se distribuídos nos setores de clínica cirúrgica, clínica médica, centro cirúrgico, cardiologia, centro de tratamento intensivo, doenças infecto-parasitárias DIP, hemoterapia e ortopedia. Nos setor de DIP, a equipe de enfermagem é composta de 7 enfermeiras (uma chefe de setor e seis líderes), cinco técnicas de enfermagem (4 do sexo feminino e um do sexo masculino), doze auxiliares de enfermagem (11 do sexo feminino e um do sexo masculino) e quatro atendentes de enfermagem (3 do sexo feminino e um do sexo masculino). Dentre estes, nove profissionais foram entrevistados, sendo seis auxiliares de enfermagem, duas enfermeiras e uma técnica de enfermagem, todas do sexo feminino, com idades entre 26 e 43 anos. Houve a prevalência de idade entre 26 a 30 anos e a média encontrada foi de 37,8 anos. Sujeitos da pesquisa Os sujeitos da pesquisa foram os membros da equipe de enfermagem que compreendem: enfermeiras, técnicas e auxiliares de enfermagem, que trabalhavam no referido setor. A escolha dos sujeitos deu-se devido aos riscos que esses profissionais vivenciam na ausência do quarto privativo. O cuidado de enfermagem é prejudicado, impedindo a equipe de enfermagem de utilizar adequadamente tais medidas de precaução universal. A enfermeira, como membro da equipe de saúde, deve conhecer os princípios gerais que regem o cuidado a portadores de doenças transmissíveis, utilizando adequadamente as técnicas de precaução, a fim de evitar riscos de contaminação. A escolha do cenário está intimamente relacionada à presença dos sujeitos, visto que o quarto privativo é utilizado pela equipe de enfermagem, que utiliza a ante-sala para manipular os materiais utilizados no cuidado ao paciente, dispor o equipamento de proteção individual (capotes, máscaras, luvas), fazer assepsia das mãos, entre outras precauções, além de ser a melhor e mais segura maneira de evitar o contágio e subseqüente disseminação das doenças infecto-contagiosas, é oferecer uma unidade separada, com equipamento individual. Técnica de coleta de dados O instrumento para coleta de dados foi elaborado a partir da percepção dos problemas vivenciados pela equipe de enfermagem com a ausência do quarto privativo. Foi utilizado um roteiro de entrevista semi-estruturada, composto por perguntas abertas, elaboradas a fim de levantar o conhecimento das profissionais sobre as questões que evidenciam os riscos a que estão expostas e a importância que lhes dão. As entrevistas foram respondidas por nove profissionais da equipe de enfermagem do setor DIP, o que demonstrou certa resistência dos demais profissionais da equipe em responder ao questionário, limitando assim, os resultados da pesquisa. Destacou-se o fato de que todos os instrumentos de pesquisa serem respondidos por profissionais do sexo feminino. &" artigo 07.pmd 84 30/04/03, 18:43 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) Técnica de entrevista Foram atribuídos nomes fictícios às entrevistadas sendo mantido o sigilo e o anonimato das respostas, segundo orientações da Portaria nº 196, do Ministério da Saúde (1996), para pesquisa com seres humanos. A coleta de dados foi realizada entre os meses de maio a junho de 2001. Para tanto foi solicitada a autorização à Chefia de Enfermagem da instituição, bem como aos integrantes da equipe de enfermagem que participaram do estudo. Os dados obtidos através da entrevista foram organizados e classificados por categorias mais específicas e mais completas do que aquelas estabelecidas a partir da revisão crítica da literatura sobre o uso do quarto privativo, bem como de critérios para trabalhar com categorias, segundo Gil [5] e Richardson [6]. Discussão, análise e interpretação dos resultados Após a coleta de dados, a fase seguinte da pesquisa foi a de análise e interpretação. Estes dois processos, apesar de conceitualmente distintos, aparecem sempre estreitamente relacionados. A análise tem como objetivo organizar e sumariar os dados de forma tal que possibilitem o fornecimento de respostas ao problema proposto para investigação. Já a interpretação tem como objetivo a procura do sentido mais amplo das respostas, o que é feita mediante sua ligação a outros conhecimentos anteriormente obtidos [6]. A análise teve como objetivo organizar e sumarizar os dados de tal forma que possibilitou o fornecimento de respostas sobre a opinião das profissionais quanto aos riscos a que estão expostas em relação à ausência do quarto privativo no setor de DIP. Já a interpretação teve como objetivo a procura do sentido mais amplo das respostas, fazendo-se ligações à revisão crítica da literatura sobre o tema [6]. No processo de interpretação evitou-se uma extrapolação exagerada da informação reunida, para evitar uma inexatidão que a prejudicasse. Visamos então, ainda que de formas diversas e até contraditórias, a ultrapassar o nível do senso comum e do subjetivismo na interpretação e alcançar uma vigilância crítica frente à respostas das profissionais às entrevistas, aos textos científicos sobre o tema. Na busca de atingir os reais significados no material qualitativo, foram observadas várias técnicas como a Análise Temática, a qual nos importa no momento. A análise temática que comportou um feixe de relações apresentadas através de uma palavra, uma frase, um resumo das respostas das profissionais. A noção de Tema está ligada a uma afirmação a respeito da ausência do quarto privativo no setor de DIP em relação aos riscos à sua saúde e a pacientes internados [7]. Fazer uma análise temática consiste em descobrir os núcleos de sentido que compõe uma comunicação. Ou seja, tradicionalmente, a análise temática encaminha-se para a presença de determinados temas que denotam os valores de referência e os modelos de comportamento presentes no discurso dessas sobre o uso do quarto privativo. A análise temática se dividiu em três etapas: 1º- Pré-análise: Que consistiu na escolha do tema, na retomada das opiniões das profissionais, dos objetivos iniciais da pesquisa e na elaboração dos indicadores que orientaram a interpretação final. Foi decomposta em: - Leitura Flutuante do conjunto das comunicações, em que tomamos contato exaustivo com o material coletado nas entrevistas. - Constituição do Corpus: organização do material de tal forma que pudesse responder a algumas normas de validade, exaustividade, representatividade, homogeneidade (que obedeceu a critérios de escolha de temas, técnicas, interlocutores) e pertinência ao objeto, problema da pesquisa. - Formulação de Hipóteses e Objetivos, baseados na necessidade de estabelecer hipóteses iniciais, pois a realidade ainda não era evidente. Nessa fase determinou-se a unidade de registro (palavra-chave ou frase), de contexto (a delimitação do contexto de compreensão), a forma de categorização e os conceitos teóricos mais gerais que orientaram a análise. 2º- Exploração do material: Consistiu na operação de codificação, ou seja, realizou-se a transformação dos dados brutos visando a alcançar um núcleo de compreensão do texto, classificação e agregação dos dados. 3º- Tratamento dos resultados obtidos e interpretação: Os resultados brutos foram submetidos a operações estatísticas (percentagem simples) que permitiram a interpretação das informações obtidas. Resultados: análise e discussão Os dados obtidos nessa pesquisa, resultantes da opinião de nove profissionais da equipe de &# artigo 07.pmd 85 30/04/03, 18:43 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) enfermagem, forneceram subsídios importantes para análise das dificuldades mais comuns enfrentadas na ausência de quartos privativos no setor de DIP. Quanto a formação educacional nove profissionais da equipe de enfermagem entrevistadas, prevaleceu a categoria de auxiliar de enfermagem 66,6%, seguida da enfermeira, e por último da técnica de enfermagem. As questões relativas ao conceito de quarto privativo, a interferência na assistência de enfermagem ao cliente diante à ausência do quarto privativo, as questões sobre a utilização das precauções universais e, finalmente, a opinião sobre a improvisação do quarto privativo surgiram como categorias. A análise dos dados referentes ao conceito de quarto privativo evidenciou que as nove profissionais possuem a noção do que é o quarto privativo e da sua necessidade quando o paciente precisa de uma unidade de isolamento. As profissionais complementam a sua definição com a presença do profissional de saúde na possibilidade de transmissão de doenças ou patologias através do cuidado de enfermagem. A Tabela I resume as palavras encontradas, entre as nove profissionais da equipe de enfermagem. Esses dados são cumulativos, pois apresentam respostas semelhantes, em uma mesma pergunta. Tabela I Distribuição das respostas das nove profissionais da equipe de enfermagem, referente ao entendimento do significado de quarto privativo, Rio de Janeiro, 2001. PALAVRAS Fi Paciente, quarto 12 Isolado 3 Cliente, patologia 4 Ambiente, profissional de saúde, transmissão de doença 4 Fi% 52,18 13,04 17,38 TOTAL 100,0 23 17,4 Para essas profissionais, na organização de um quarto privativo deve existir: banheiro, ante-sala, iluminação, janelas, mesa de cabeceira ou mobiliário, grades, ventilação, conforto e bem estar, portas, ventilador, geladeira, lavatório, cabideiro, cama, máscara, luva e capote (Tabela II). Quanto às opiniões sobre a interferência na assistência de enfermagem na ausência do quarto privativo, estas ficaram divididas quanto à importância ou não do quarto privativo no setor, na assistência aos pacientes. Algumas profissionais entendem que em uma enfermaria é possível prestar assistência à pacientes portadores de certas patologias transmissíveis, enquanto outros preferem o quarto privativo para o tratamento destes pacientes que podem ter, por exemplo, tétano ou BK, como demonstra a tabela III. Tabela II Distribuição das respostas das nove profissionais da equipe de enfermagem, sobre a organização (estrutura física) de um quarto privativo, Rio de Janeiro, 2001. PALAVRAS Fi FI% Banheiro 8 11,76 Iluminação, Janela, Anti-Sala 9 26,46 Ventilação, Portas, Grades, Mobiliário, Capote, Mesa de Cabeceira 6 33,48 Ventilador, Geladeira, Conforto, Bem-Estar, Lavatório, Cabideiro, Cama, Máscara, Luva 9 50,22 Tabela III Distribuição das respostas das nove profissionais da equipe de enfermagem, sobre a possibilidade de interferência na assistência ao cliente na ausência do quarto privativo, Rio de Janeiro, 2001. PALAVRAS Fi Fi% Sim, Não, Enfermaria Quarto Privativo, Paciente BK, Tétano Setor, Assistência, Sintomas TOTAL 12 6 4 3 25 48 24 16 12 100 No que diz respeito à utilização das técnicas de isolamento na assistência de enfermagem ao cliente que necessita de precauções universais, para todos as profissionais da equipe de enfermagem é fundamental assistir ao paciente portador de doenças infecto-parasitárias utilizando-as corretamente por motivo de segurança pessoal evitando desse modo a contaminação por agentes infecciosos. Entretanto, a falta de material e a sobrecarga de serviço interferem nessa utilização. As respostas estão resumidas na Tabela IV. Tabela IV Distribuição das respostas das nove profissionais da equipe de enfermagem, sobre a colocação em prática das técnicas corretas de enfermagem, Rio de Janeiro, 2001. PALAVRAS Técnica Paciente Material, assistir, contaminar, precaução, segurança pessoal, agentes infecciosos, fundamental, sobrecarga de serviço TOTAL 86 Fi% 45 10 9 14 45 100,0 A improvisação do quarto privativo, leva a redução do número de leitos e os a transferência de pacientes para outras enfermarias, o que lhes é incômodo. No &$ artigo 07.pmd Fi 3 2 30/04/03, 18:43 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) isolamento para MRSA, o uso de capote e luvas, a separação dos objetos individuais e a orientação dos familiares são medidas usadas e orientadas somente na assistência aos pacientes em isolamento, quando existem outros na mesma enfermaria, como demonstra a Tabela V. Tabela V Distribuição das respostas das nove profissionais da equipe de enfermagem, sobre a improvisação de um quarto privativo, Rio de Janeiro, 2001. PALAVRAS Enfermaria, Paciente Leitos, Isolamento Fechar Desocupados, familiares, atrapalha, capote, luvas, incômodo, objetos individuais, assistência TOTAL Fi 12 8 2 Fi% 38,5 25,8 6,45 9 31 28,98 100,0 se preocupam em utilizar as técnicas corretas e as precauções necessárias. Entretanto colocam como fator limitante a grande demanda de serviço o que implica na falta de tempo além de escassez de material, o que interfere no bom andamento da assistência. Quanto às causas das dificuldades mencionadas, em relação à improvisação do quarto privativo, verificou-se que o fato de fechar uma enfermaria para este fim, limita o número de leitos e causa incômodo aos clientes, já que são removidos para outras enfermarias. Baseados nesses dados, a conseqüência da falta de quartos privativos no setor de Doenças InfectoParasitárias interfere negativamente na assistência de enfermagem tanto para as profissionais da equipe com para a clientela atendida. Referências Diante destas considerações, acredita-se que há necessidade de se analisar profundamente os conceitos de quarto privativo de modo a atender as necessidades das profissionais de enfermagem na assistência aos clientes portadores de doenças infecto-parasitárias. 1. 2. 3. Conclusão 4. Os resultados do presente estudo indicam que as profissionais da equipe de enfermagem têm a noção de como deve ser um quarto privativo e reconhecem sua importância no cuidado ao cliente portador de doença infecto-parasitária, e também 5. 6. 7. Brasil. Ministério da Saúde, Diário Oficial da República do Brasil, p. 12 a 79, seção I, Portaria nº 930, Brasília, 1992. Brasil. Ministério da Saúde, Secretaria Nacional de Ações Básicas de Saúde. Construções e Instalações de Serviços de Saúde. Manual de Orientações, Brasília, 1978. Brasil. Ministério da Saúde. Brasília. Boletim Epidemiológico, v.9, p.12, 1995b. Gil AC. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo: Atlas; 1999. Mynaio MCS. O Desafio do conhecimento. Pesquisa qualitativa em Saúde. São Paulo: Afiliado; 1994. Richardson RJ. Pesquisa Social: Métodos e Técnicas. São Paulo: Atlas; 1999. Segurança e Medicina do trabalho. Manuais de Legislacão Atlas. São Paulo: Atlas;1994. p.68-75. ¡ Anexo 01 Instrumento de pesquisa Identificação: 1- O que você entende por quarto privativo? 2- Como você espera que seja a organização (estrutura física) de um quarto privativo? 3- Você acha que a ausência do quarto privativo pode interferir na assistência ao cliente? Por quê? 4- Você sabe utilizar as técnicas corretas para assistência a um cliente que necessita de precaução seja por gotículas, respiratória ou aérea? ( ) SIM ( ) NÃO 5- Você as coloca em prática?Por quê? 6- Dê a sua opinião sobre a improvisação de um quarto privativo. &% artigo 07.pmd 87 30/04/03, 18:43 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) Anexo 02 Consentimento Livre e Esclarecido Somos um grupo de estudantes com interesse na área de Doenças Infecto-Parasitárias (DIP) e gostaríamos que participasse de uma pesquisa científica preenchendo o instrumento de coleta que acompanha este documento de consentimento. A pesquisa chama-se As conseqüências da falta de quarto privativo para a equipe de enfermagem. Este documento objetiva prestar esclarecimentos sobre o estudo e formalizar seu consentimento em participar como sujeito. O estudo terá como sujeitos a equipe de enfermagem (enfermeiro, técnico e auxiliar de enfermagem) do setor 5 D da DIP do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho/UFRJ. Visa identificar como a falta de quartos privativos pode influenciar na assistência de enfermagem prestada ao cliente e para os próprios profissionais de enfermagem. Aceitando participar, você tem o direito de interromper livremente a sua participação ou retirar o consentimento quando quiser, sem sofrer qualquer penalidade. Será garantido o anonimato de sua identidade e as informações coletadas servirão única e exclusivamente para o seu estudo, sendo os resultados divulgados para a comunidade científica respeitando os preceitos éticos. A coleta dos dados dar-se-á durante os intervalos das atividades dos profissionais, de acordo com a disponibilidade dos sujeitos. O instrumento de coleta será preenchido em aproximadamente 15 minutos. A principal vantagem será a possibilidade de aprimorar o conhecimento e o aprendizado sobre a existência de quartos privativos num setor de DIP, conforme os preceitos do Manuel do Ministério da Saúde. Termo de consentimento livre e esclarecido Eu, ________________________________, estou ciente dos pontos abordados acima e sintome suficientemente esclarecido (a) a respeito da pesquisa proposta. É por minha livre vontade que aceito participar como sujeito e autorizo a divulgação dos resultados, como disposto nos termos supracitados. Rio de Janeiro, __ de ________ de 2001. _________________________ Profissional de Enfermagem ___________________________ Pesquisador && artigo 07.pmd 88 30/04/03, 18:43 Enfermagem Brasil Março / Abril 2003;2(2) Artigo original Cuidados de enfermagem na assistência ventilatória mecânica em terapia intensiva Nursing care in mechanical ventilatory assistance in intensive therapy Cuidados de enfermería en la asistencia ventilatoria mecánica en terapia intensiva Carlos Eduardo Peres Sampaio*, Bárbara Fernandes**, Fernanda Freire**, Márcia Dourado** *Enfermeiro, Graduado na EEAN/UFRJ, Professor Adjunto do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgico (DEMC) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ),**Enfermeiras especialistas em terapia intensiva pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Resumo O presente trabalho trata de uma pesquisa sobre as intervenções de enfermagem em um cliente submetido à assistência ventilatória mecânica em unidade de terapia intensiva. Os objetivos propostos foram identificar as intervenções desenvolvidas pelo enfermeiro na unidade de terapia intensiva, caracterizar de que forma as intervenções de enfermagem participam na assistência ventilatória e discutir a eficácia da intervenção na assistência de enfermagem como fator resultante na recuperação do cliente sob ventilação mecânica. Optamos por uma abordagem qualitativa para dar maior viabilidade e consistência ao estudo. O instrumento utilizado foi a entrevista semi-estruturada realizada com 07 enfermeiros da unidade de terapia intensiva de um Hospital da rede pública do Município do Rio de Janeiro. Os dados foram analisados com base na fundamentação teórica, sendo elaboradas 3 categorias e 4 subcategorias: primeira categoria - Intervenções desenvolvidas na Unidade de Terapia Intensiva, em clientes submetidos à assistência ventilatória mecânica; segunda categoria - Contribuição das intervenções de enfermagem na assistência ventilatória; terceira categoria - A enfermagem e a recuperação do cliente sob ventilação mecânica. A partir do aprofundamento destas categorias concluímos que os enfermeiros avaliam alguns pontos: saturação de oxigênio, conforto e tranqüilidade do cliente, estabilização dos sinais vitais, diminuição no tempo de internação e diminuição no nível de infecções. Entretanto, em sua maioria, os enfermeiros não realizam a assistência integrada do cliente crítico sob ventilação mecânica. Palavras-chave: Ventilação mecânica, terapia intensiva, cuidado de enfermagem. Artigo recebido em 6 de novembro 2002; aceito em 15 de fevereiro de 2003. Endereço para correspondência: Carlos Eduardo Peres Sampaio, Rua Fagundes Varela, 530/901 Ingá 24210-520 - Niterói RJ, Tel:(21)2721-2619/9366-3494, E-mail: [email protected] &' artigo 01.pmd 89 30/04/03, 18:43 Enfermagem Brasil Março / Abril 2003;2(2) Abstract The aim of this work was to study the nursing interventions in a patient submitted to ventilatory mechanical assistance, in Intensive Care Unit. The objectives were to identify the interventions developed by the nurse in the Intensive Care Unit, to characterize how the nursing interventions participate in the ventilatory assistance and discuss the effectiveness of the nursing assistance in the recuperation of the patient under mechanical ventilation. We choosed a qualitative approach to give greater viability and consistency to the study. The used instrument was the interview half-structuralized with 07 nurses of the Intensive Care Unit of a Hospital of the public network of the City of Rio de Janeiro. The data had been analyzed on the basis of the theoretical concepts, being elaborated 3 categories and 4 subcategories: First category - Interventions developed in the Intensive Care Unit, patients submitted to ventilatory mechanical assistance; second category - Contribution of nursing interventions in the ventilatory assistance; and third category - The nursing care and the recuperation of the patient under mechanical ventilation. We concluded that the nurses can assess some points: oxygen saturation, comfort and tranquilization of the patient, stabilization of the vital signs, reduction of the hospitalization time and level of infection. However, generally the nurses do not realize the integrated assistance of the patient under ventilation assistance. Key-words: Mechanical ventilation, intensive care, nursing care. Resumen El presente trabajo trata de una pesquisa sobre las intervenciones de enfermería en un cliente sometido a la asistencia ventilatoria mecánica en Unidad de Terapia Intensiva. Los objetivos propuestos fueron identificar las intervenciones desarrolladas por el enfermero en la unidad de terapia intensiva, caracterizar de que manera las intervenciones de enfermería participan en la asistencia ventilatoria y discutir la eficacia de la intervención en la asistencia de enfermería como factor resultante en la recuperación del cliente bajo ventilación mecánica. Optamos por un abordaje cualitativo para dar mayor viabilidad y consistencia al estudio. El instrumento utilizado fue la entrevista semi-estructurada realizada con 07 enfermeros de la unidad de terapia intensiva de un Hospital de la red pública del Município de Rio de Janeiro. Los datos fueron analizados con base en el fundamento teórico, siendo elaboradas 3 categorías y 4 subcategorías: primera categoría - Intervenciones desarrolladas en la Unidad de Terapia Intensiva, en clientes sometidos a la asistencia ventilatoria mecánica; segunda categoría Contribución de las intervenciones de enfermería en la asistencia ventilatoria; tercera categoría La enfermería y la recuperación del paciente bajo ventilación mecánica. A partir de la profundización de estas categorías concluimos que los enfermeros evalúan algunos puntos: saturación de oxigeno, conforto y tranquilidad del cliente, estabilización de los signos vitales, disminución en el tiempo de internación y disminución en el nivel de infecciones. Entretanto, en su mayoría, no realizan la asistencia integrada del cliente crítico bajo ventilación mecánica. Palabras-clave: Ventilación mecánica, terapia intensiva, cuidado de enfermería. Introdução Este estudo desenvolvido foi apresentado no curso de Especialização em Terapia Intensiva da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), sobre a assistência de enfermagem ao cliente que recebe suporte ventilatório. Mediante nossa atuação como enfermeiros em terapia intensiva, observamos a necessidade de avaliar e intervir nas ocorrências ventilatórias para melhorar a qualidade da assistência aos clientes críticos. Em nossa vivência profissional nos deparamos com dificuldades nas ações de enfermagem relacionadas muitas vezes, com a falta de conhecimento dos parâmetros ventilatórios e cuidados básicos que poderiam minimizar as dificuldades ventilatórias proporcionando melhor qualidade da assistência e conforto ao cliente. O suporte ventilatório mecânico está entre as modalidades de suporte utilizadas na terapia intensiva, sendo medida essencial para ressuscitação cárdio-pulmonar, exigindo do profissional enfermeiro uma vigilância constante que muitas vezes torna-se secundária pela falta de conhecimento específico. ' artigo 01.pmd 90 30/04/03, 18:43 Enfermagem Brasil Março / Abril 2003;2(2) Durante o período em que o cliente necessitar de suporte ventilatório, deve ser assistido pelo enfermeiro de maneira qualificada para que ao término dessa fase, ele tenha condições fisiológicas respiratórias para voltar a sua vida de maneira menos traumática possível. O cliente com dificuldade ventilatória requer do profissional enfermeiro, além de vigilância constante, intervenções precisas e rápidas, que são adquiridas, a partir de treinamento constante e desenvolvimento dessas atividades à beira do leito. Diante dessas dificuldades observamos o quanto é importante a ação do enfermeiro para interpretar a necessidade do cliente através de um exame físico completo, atuando assim de maneira eficaz nas diversas emergências ventilatórias. Objetivo Identificar as intervenções realizadas pelo Enfermeiro na assistência ventilatória mecânica ao cliente crítico; caracterizar de que forma as intervenções realizadas pelo enfermeiro participam na assistência ventilatória mecânica; discutir a eficácia da intervenção de enfermagem como fator resultante na recuperação do cliente crítico, sob ventilação mecânica. Metodologia A pesquisa foi do tipo descritiva com abordagem qualitativa, por melhor adequar-se à análise do objeto e aos objetivos, e por registrar, descrever, analisar e interpretar a natureza atual. O uso da abordagem qualitativa, portanto, nos ajudou a explorar os dados subjetivos, já que envolve a obtenção de dados sobre o conhecimento dos enfermeiros no setor de terapia intensiva e sobre as intervenções realizadas na assistência ventilatória mecânica ao cliente crítico. A pesquisa qualitativa é caracterizada pela obtenção de dados descritivos no contato direto entre o pesquisador e a situação estudada, valorizando mais o processo que o produto; preocupando-se em retratar as perspectivas dos participantes Lüdke e André [1]. O campo ou cenário escolhido foi na unidade de terapia intensiva de um hospital do Município do Rio de Janeiro. A eleição do campo e dos sujeitos bem como dos procedimentos de coleta de dados atenderam às determinações da resolução no 196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde [2], que estabelece diretrizes e normas regulamentares de pesquisa envolvendo seres humanos. Foram escolhidos os Enfermeiros que atuam na assistência do referido hospital na unidade de terapia intensiva. Eles foram selecionados enquanto integrantes do objeto de estudo. A coleta de dados ocorreu nos meses de outubro e novembro de 2001. Para atingirmos os objetivos desta pesquisa, utilizamos como instrumento a entrevista semi-estruturada com questões abertas verificando o conhecimento dos enfermeiros a cerca de como proceder para melhorar as condições ventilatórias e a assistência de enfermagem dos clientes internados na unidade de terapia intensiva. A entrevista semi-estruturada permitiu ao enfermeiro discorrer sobre o tema proposto sem condições prefixadas. Por isso, escolhemos esta técnica para realizarmos a coleta de dados. Partimos de questionamentos a respeito dos procedimentos realizados pelos enfermeiros durante a assistência de enfermagem ao cliente que necessita de suporte ventilatório mecânico. Na entrevista semi-estruturada, o investigador estará presente e o informante tem todas as oportunidades possíveis de responder aos questionamentos básicos com liberdade e espontaneidade, o que, obviamente enriquece a investigação Triviños [3]. As respostas das entrevistas foram gravadas e foi garantido o anonimato e o sigilo das respostas, mediante um termo de consentimento livre e esclarecido, conforme prevê a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (1996). Desta forma, foi atribuído pseudônimos para preservar a integridade dos enfermeiros. As respostas fornecidas pelos enfermeiros foram agrupadas, atendendo às regras básicas preconizadas como princípio de classificação de categorias por Minayo [4]. É em síntese, o ato de recortar, classificar e ordenar idéias ou fatos segundo as semelhanças. Representam classes ou rubricas que reúnem, sob um título genérico, um grupo de elementos (unidades de registro), cujo agrupamento é feito tomando por base caracteres comuns desses elementos. As categorias de análise emergiram da leitura dos depoimentos, dos objetivos preestabelecidos, da base teórica adotada. Resultados e discussão Neste capítulo, apresentamos os resultados conforme tratamento especificados na metodologia. Foram entrevistados 7 enfermeiros da unidade de ' artigo 01.pmd 91 30/04/03, 18:43 Enfermagem Brasil Março / Abril 2003;2(2) terapia intensiva da rede pública do Rio de Janeiro. Os enfermeiros entrevistados apresentam em média 15 anos de formados e 7 anos de experiência em unidade de terapia intensiva. O corpo de material neste estudo compõe-se de três categorias e a partir destas 4 subcategorias. 1ª Categoria- Intervenções desenvolvidas na Unidade de Terapia Intensiva, em clientes submetidos à assistência ventilatória O conjunto de intervenções realizadas ao cliente submetido à assistência ventilatória mecânica contribui para a recuperação do cliente e uma assistência de enfermagem planejada A partir desta categoria foram analisadas as seguintes subcategorias: 1.1 - Intervenções de enfermagem desenvolvidas com o cliente durante o suporte ventilatório mecânico Os dados apresentados foram obtidos a partir das falas dos enfermeiros que trabalham com clientes submetidos à ventilação mecânica. Houve concordância entre as entrevistas quando se refere a procedimentos voltados para o cuidado ventilatório do cliente, citando a importância da sua presença na realização de procedimentos específicos, entre eles: a aspiração das vias aéreas inferiores (VAI) e a troca do filtro bacteriológico foram as técnicas mais citadas. Foi destacado pela enfermeira Maria, intervenções como aspiração de vias aéreas inferiores (VAI), fixação de tubo orotraqueal (T.O.T.) e troca do filtro bacteriológico. Isto pode ser observado nos trechos a seguir: ...fazemos vários procedimentos alguns são invasivos, nós devemos realizar a instalação do ventilador no paciente, aspiração do T.O.T. e VAI, troca do filtro... (Enf. José) Aspirar o paciente sempre que necessário, controle da saturação, gasometria, observar se a umidificação está satisfatória... (Enf. Daniele) De acordo com Cintra [5], é muito importante a aspiração de secreções como cuidado relacionado à manutenção da via aérea artificial prevenindo atelectasias e infecções. A umidificação e o aquecimento dos gases inalados em ventilação mecânica são indispensáveis para prevenir a hipertermia, aumento da viscosidade das secreções e atelectasias. Quanto à obstrução de vias aéreas por aumento de secreções, Hudak [6] afir ma que ocorre a estimulação a tosse, gerando pressão aumentada, na qual se apoiará a pressão pre-estabelecida do ventilador, diminuindo o volume corrente. De forma geral, os depoimentos apresentam a preocupação que estes profissionais depositam a questão da assistência de enfermagem ao cliente sob suporte ventilatório mecânico. Assim como ressaltado pelos pesquisadores, os enfermeiros atribuem significativa melhora do quadro respiratório, quando são realizados os cuidados descritos acima. Os procedimentos realizados,proporcionam conforto e rápida recuperação do cliente, além de facilitar o desmame e retirada da prótese ventilatória. 1.2 Intervenções de enfermagem na retirada da prótese ventilatória É referido pelos depoentes a importância dos cuidados de enfermagem durante a retirada do tubo orotraqueal (T.O.T.). Além disso, alguns de maneira mais objetiva consideram fundamental acoplar o paciente na macronebulização, considerando que este procedimento oferece conforto e melhora do padrão respiratório. Isto pode ser observado nos trechos a seguir: ... um ponto importante na parte ventilatória é a saturação de oxigênio e a FiO2 , após retirada do T.O.T., acoplar o paciente na macronebulização e observar a melhora do paciente... (Enf. Ricardo) ...as intervenções na parte ventilatória são muitas...os cuidados na retirada do T.O.T. favorece o melhor desmame e a estabilização respiratória ao paciente... (Enf. Fabiana) Segundo Cintra [5] a extubação é a retirada do tubo orotraqueal das vias aéreas superiores do cliente, após estabilidade respiratória e retorno às condições respiratórias satisfatórias. Alguns procedimentos devem ser realizados, entre eles: coleta de dados do volume corrente, freqüência respiratória, saturação de oxigênio e freqüência cardíaca antes do início do procedimento, ausculta pulmonar, higiene brônquica e então retirada do tubo orotarqueal e nova higiene após extubação, agora de via oral e nasal. Os enfermeiros entrevistados mencionam a importância da realização de intervenção de enfermagem na retirada da prótese ventilatória. Obser vamos que as intervenções citadas são importantes face à realização da extubação e está de acordo com Cintra [5]. Entretanto, os enfermeiros ' artigo 01.pmd 92 30/04/03, 18:43 Enfermagem Brasil Março / Abril 2003;2(2) não mencionaram a importância dos parâmetros de monitorização do cliente sob ventilação mecânica, bem como o exame físico respiratório do cliente crítico, ponto crucial de acordo com Kimura [7], para a avaliação do cliente. O exame físico fornece informações muito importantes para a realização do diagnóstico de enfermagem e consequentemente o plano de cuidado. Na verdade, o enfermeiro deve estar atento a frequência respiratória, a instabilidade respiratória e cardíaca, ou seja, uma avaliação integral envolvendo todos os sistemas, além de manter o paciente em fowler 45º a 60º, pois facilita o funcionamento do seu diafragma. Apesar de vários autores já terem descrito as intervenções de enfermagem ao cliente extubado, a prática nos mostra que o enfermeiro deve realizar melhor o acompanhamento do cliente após a retirada do tubo orotraqueal. 2 ª Categoria- Contribuição das intervenções de Enfermagem na assistência ventilatória. Nessa categoria são abordadas situações e circunstâncias que influenciam de forma direta e decisiva o quadro do cliente. Em geral, os depoentes fizeram menção a aspectos semelhantes, referentes a contribuição das intervenções de enfermagem na assistência ventilatória. Aspectos como a tranqüilidade e o conforto do cliente, melhora da saturação de oxigênio e normalização dos sinais vitais foram destacados com relevância nos trechos abaixo relacionados. ...O fundamental é o apoio psicológico fazendo com que o cliente possa suportar a ventilação mecânica tanto em tranqüilidade como conforto e confiança na equipe de enfermagem...outro ponto importante é a saturação de oxigênio... (Enf. Ricardo) ...O paciente fica mais tranqüilo, pela remoção das secreções, pela melhora do processo ventilatório, pela melhora da oximetria capilar e dos sinais vitais... (Enf. Maria) Quanto ao apoio emocional, Hudak [6] afirma que o cliente em ventilação mecânica está sujeito a uma carga de estresse considerável. A equipe de enfermagem empenha-se em estabelecer uma relação de confiança com o cliente e sua família. Conhecer o cliente é essencial para reduzir sua ansiedade, sendo necessário métodos alternativos de comunicação. Observamos que ficar junto ao cliente durante períodos de ansiedade e frustração, transmitir segurança e interesse pelo seu bem estar, usar estratégias para mantê-lo calmo e mostrar os progressos realizados são meios utilizados pelas enfermeiras, particularmente no desmame do cliente. 3ª Categoria - A enfermagem e a recuperação do cliente sob ventilação mecânica O tempo de internação foi identificado como um fator dependente dos cuidados de enfermagem, assim como as infecções hospitalares. A partir desta categoria foram analisadas as seguintes subcategorias: 3.1 Redução no tempo de internação Alguns depoentes, relatam que as intervenções de enfermagem estariam relacionadas com a questão da redução do tempo de internação do cliente. Foi destacado pela enfermeira Fabiana que as intervenções de enfermagem diminuem o tempo de internação. Podemos observar nos trechos a seguir: ...primeiro lugar, a gente percebe que estes cuidados levam a recuperação mais rápida do paciente, porque ele fica menos dependente do respirador, com melhor funcionamento respiratório...isso é muito bom para a recuperação do paciente. (Enf. Ricardo) ...As intervenções de enfermagem favorecem a redução do tempo e estada do paciente, na diminuição dos riscos de broncoaspiração e no conforto do paciente... (Enf. José). Bajay [8] comenta que a melhor maneira de tentar-se entender as necessidades básicas do cliente é colocar-se no lugar dele, imaginando cada qual, o que precisaria para o seu melhor conforto físico e emocional. O cliente em ventilação mecânica deve, desde o início de seu treinamento, ser informado de que estará temporariamente ligado ao respirador, mas tão logo suas condições clínicas voltem a estar estáveis ou satisfatórias passará a assumir suas funções vitais normais, como respiração, fala e alimentação. A atuação da enfer magem na ventilação mecânica é intensa, extensa e complexa, no que diz respeito às relações entre os diferentes membros da equipe que assiste ao cliente. 3.2 Redução do nível de infecção Em geral, os depoentes comentaram sobre a importância das intervenções na diminuição dos níveis de infecções respiratórias, principalmente pneumonia. Aspectos como aspiração de vias aéreas inferiores com técnica estéril, utilização do filtro bacteriológico '! artigo 01.pmd 93 30/04/03, 18:43 Enfermagem Brasil Março / Abril 2003;2(2) e cuidados com as traquéias para reduzir as infecções respiratórias foram mencionadas. Foram destacados com relevância nos trechos abaixo relacionados. ...as intervenções contribuem muito evitando infecção respiratória, pois a quantidade de secreções diminuem...quando trocamos o filtro é uma forma de evitar infecção retendo bactérias e proporcionando ventilação de acordo com o programado... (Enf. Fabiana) A gente percebe que as intervenções são importantes pela diminuição das pneumonias, e o paciente fica melhor, o conforto aumenta... (Enf. Daniele) De acordo com Brunner [9] clientes entubados têm alto risco de infecção respiratória. A colonização da orofaringe é um precursor importante da pneumonia. O emprego de técnicas corretas no manuseio dos equipamentos de ventilação mecânica é fator de prevenção, pois a contaminação bacteriana destes pode predispor ao desenvolvimento de pneumonia [10]. Os depoentes relatam a importância das intervenções de enfermagem na redução do nível de infecção, da mesma forma ressaltado pelos pesquisadores. Sabemos que inúmeros avanços tecnológicos de suporte de vida aos clientes admitidos em unidades de terapia intensiva trouxeram inúmeros benefícios, mas também aumentaram os riscos associados a tais intervenções incluindo as infecções hospitalares, apesar dos relatos mostrarem conhecimento dos enfermeiros quanto às intervenções. É fundamental a conscientização da equipe de enfermagem para prevenção das infecções hospitalares em unidade de terapia intensiva devido os altos índices de infecções. Desta forma, estaremos contribuindo para redução dos riscos de complicação a um mínimo aceitável. Considerações finais A realização deste estudo nos favoreceu ampliar nossos conhecimentos sobre a assistência de enfermagem ao cliente submetido a ventilação mecânica e perceber a grandiosidade da assistência de enfermagem no contexto do atendimento recebido pelo cliente hospitalizado. Os resultados indicam que os enfermeiros conhecem algumas intervenções utilizadas durante a assistência ao cliente sob ventilação mecânica, como: a aspiração das vias aéreas inferiores (VAI) e a troca do filtro bacteriológico. Estas foram as técnicas mais citadas. Aspectos como a tranqüilidade e o conforto do cliente, melhora da saturação de oxigênio, normalização dos sinais vitais, foram destacados. Entretanto, não demonstraram uma visão global do cliente crítico. Alguns dos depoentes, relatam que as intervenções de enfermagem estariam relacionadas com a questão da redução do tempo de internação do cliente, pois diminuem os níveis de infecções respiratórias, entre elas pneumonia. Cuidados como aspiração de vias aéreas inferiores com técnica estéril, utilização do filtro bacteriológico e cuidados com as traquéias foram mencionados para redução das infecções respiratórias. Em geral, os depoentes fizeram menção a aspectos semelhantes, referentes à contribuição das intervenções de enfermagem na assistência ventilatória. Por sua vez, as condutas de enfermagem na monitorização da sedação e analgesia não foram abordados, bem como os cuidados com o suporte nutricional, cuidados com a pele e mucosas e a importância da avaliação neurológica. Estes resultados mostraram que os enfermeiros em sua maioria não utilizam os parâmetros de monitorização respiratória do cliente sob ventilação mecânica, como o exame físico respiratório muito importante na avaliação do cliente crítico [7]. Estes dados são relevantes, pois o enfermeiro permanece grande tempo monitorizando e avaliando o cliente e não realiza uma avaliação integrada. Na verdade, o enfermeiro não deve ficar restrito a algumas técnicas, mas realizar a avaliação sistematizada e integrada, dos parâmetros hemodinâmicos: frequência respiratória, a instabilidade respiratória, cardiovascular, elaborar e executar um plano de cuidados, incluindo todos os aspectos da assistência de enfermagem, e estabelecer uma relação de confiança com o cliente e sua família, pois desta maneira estaremos prestando uma assistência de enfermagem mais qualificada. Em unidade de terapia intensiva, como em outras áreas de atuação, enfermagem é antes de tudo interação humana. Referências 1. 2. 3. 4. Lüdke M, André MED. Pesquisa em educação: Abordagem qualitativa. São Paulo:EPU;1986. p.99-101. Ministério da Saúde - Conselho Nacional de Saúde. Resolução no 196 de 10/10/1996 - Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Triviños ANS. Introdução à pesquisa em ciências sociais. São Paulo:Atlas;1987. p.175-176. Minayo MCS. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes; 1999. '" artigo 01.pmd 94 30/04/03, 18:43 Enfermagem Brasil Março / Abril 2003;2(2) 5. 6. 7. Cintra EA, Nishide VM, Nunes WA. Assistência de Enfermagem ao Paciente Crítico. São Paulo: Atheneu; 2000. p.351 364. Hudak CM, Gallo BM. Cuidados Intensivos de Enfermagem: Uma Abordagem Holística. 6ºed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1997. Kimura M, Miyadahira AMK, Cruz DALM, Takahashi EIU, Padilha KG, Souza RMC. O exame físico e o enfermeiro de UTI. Revista Escola Enfermagem da USP 1994;28(2): 156-70. 8. Bajay HM, Furcolin MIR, Rogante MM. Assistência Ventilatória Mecânica. São Paulo: EPU;1991.p.75-94. 9. Brunner L. Tratado de Enfermagem Médico-Cirúrgica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1998. p.482-483. 10. Knobel E. Condutas no Paciente grave. São Paulo: Atheneu; 1994. p.755-756. ¡ '# artigo 01.pmd 95 30/04/03, 18:43 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) Artigo original Avaliação do desenvolvimento de um grupo de crianças assistidas em creche, utilizando o teste de triagem de Denver II Evaluation of the development of children group, in day-nursery, through the selective test of Denver, versionII -valuación del desarrollo de niños, asistidos en guardería, utilizando el test de Denver II Aspásia Basile Gesteira Souza*, Célia Nascimento Siqueira** *Enfermeira, Mestre em Enfermagem pediátrica, Professora da disciplina de Saúde da criança da Faculdade Santa Marcelina, **Graduanda do 8º período da Faculdade Santa Marcelina Resumo Este estudo utilizou o método quantitativo descritivo para avaliar o desenvolvimento de 34 crianças, entre 12 e 47 meses, assistidas em uma creche privada, filantrópica, no município de São Paulo através do Teste de Triagem do desenvolvimento de Denver, versão II. Os resultados apontam para alterações nas áreas de linguagem e motora fina nas diversas faixas etárias, sugerindo a necessidade de avaliações mais freqüentes. As autoras enviaram uma proposta diretamente para a instituição contendo atividades para estimular o desenvolvimento das crianças. Palavras-chave: Enfermagem pediátrica, desenvolvimento, saúde da criança, consulta de enfermagem. Abstract This study was based on the descriptive quantitative method in order to evaluate the development in children, from 12 to 47 months. Children involved in this study was observed within a philanthropic and private day-nursery in São Paulo town, through the selective test of development of Denver, version II. The results point out alterations regarding fine motor and language areas, within diferent ages. The results suggest the necessity of more frequent evaluations. The authors forwarded to the institution a direct proposal containing activities to stimulate childrens development. Key-words: Pediatric nursing, development, childrens health, nursing consultation. Artigo recebido em 31 de janeiro de 2003; aceito em 15 de março de 2003 Endereço para correspondência Aspásia Basile Gesteira Souza Rua Cesáreo Galeno, 448 bloco alfa 6o andar Tatuapé São Paulo SP, Tel: (11)6190-1341, E-mail: [email protected], [email protected] '$ artigo 06.pmd 96 30/04/03, 18:43 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) Resumen Este estudio utilizó el método de cuantidad descriptivo para evaluar el desarrollo de 34 niños entre 12 y 47 meses asistidos en una guardería privada, filantrópica, en el municipio de São Paulo, utilizando el Test de desarrollo de Denver, versión II. Los resultados apuntan para alteraciones en las áreas de lenguaje y motoras finas en los diversos grupos de edad , sugiriendo la necesidad de evaluación más frecuentes. Las autoras enviaron a la institución una propuesta con actividades para estimular el desarrollo de los niños. Palabras-clave: Enfermería pediátrica, desarrollo, salud del niño, consulta de enfermería. Introdução A vida do ser humano é marcada por mudanças psico-biológicas, que tem seu início na concepção e continuam no decorrer da existência. Estas mudanças são evidenciadas pelos fenômenos do crescimento e, em especial, pelo desenvolvimento. Na infância, existem necessidades inerentes a estes fenômenos e que precisam ser atendidas para se garantir um adulto sadio, ajustado, produtivo e independente. Desenvolvimento é a característica primordial da criança que cresce, que se modifica e se afirma como indivíduo [1]. Crescimento e desenvolvimento constituem o resultado final da interação de fatores que podem ser divididos em intrínsecos e extrínsecos. Os primeiros são representados basicamente pela herança biológica e pelo sistema neuro-endócrino, enquanto os extrínsecos são representados pela ingestão de dieta adequada, educação, estimulação e o meio ambiente favorável. Desenvolvimento é diferente de crescimento. Já crescimento pode ser mensurado e, num determinado momento desacelera-se e é interrompido, desenvolver-se diz respeito ao ganho de novas aptidões, habilidades físicas e sobretudo mentais; são novos aprendizados e novas formas de compreender, e isto pode perpetuar-se até que a própria vida se finde. Os estudos de Gesell et al. [2] identificam os padrões de comportamento e o desenvolvimento comportamental. Entende-se por comportamento todas as reações reflexas, voluntárias, espontâneas ou aprendidas. O comportamento se desenvolve e assume padrões que podem ser comparados entre valores etários equivalentes. Estes autores associaram o desenvolvimento a cinco campos do comportamento: adaptativo, motor grosseiro, motor delicado, de linguagem e pessoal-social, utilizados como indicadores por outros estudiosos. A importância do acompanhamento do crescimento e desenvolvimento da criança visa a promoção e manutenção de sua saúde, bem como a intervenção sobre fatores capazes de comprometêla [3]. Este acompanhamento deve ser realizado periódica e continuamente. Os primeiros anos desta trajetória são os de maior vulnerabilidade tanto do ponto de vista biológico, como psicossocial e por isso a estimulação é tida como determinante de um crescimento e desenvolvimento pleno. As crianças sujeitas a potenciais atrasos no desenvolvimento podem ser identificas já ao nascimento, por meio do conhecimento de seu peso e da situação sócio-econômica da família, correlacionando desenvolvimento com crescimento. Muitos problemas evidentes aos seis ou oito anos poderiam ser evitados ou minimizados, pela detecção precoce de distúrbios do desenvolvimento e intervenção individualizada [4], resultando em melhor qualidade de vida para a criança, sua família e para a comunidade e atentam para o fato de que, apesar de programas sistematizados de acompanhamento de bebês de risco ainda serem pouco freqüentes no nosso país, avaliações sistemáticas em idades-chave são a base do reconhecimento de desvios do desenvolvimento. Dados sistematizados também são necessários para examinarmos a validade de testes utilizados no acompanhamento do desenvolvimento infantil, de forma a contarmos com instrumentos eficientes para a detecção de atrasos ou desvios no desenvolvimento da criança brasileira. Algumas avaliações poderiam orientar estas ações, pois identificariam os casos suspeitos para melhor acompanhamento. '% artigo 06.pmd 97 30/04/03, 18:43 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) Entre os testes de avaliação do desenvolvimento destaca-se o Teste de triagem do desenvolvimento de Denver (TTDD), descrito por Frankemburg et al. [5] na cidade de Denver, EUA, consistindo na avaliação, segundo idade (em meses), do comportamento nas áreas motora grossa, linguagem, motora fina-adaptativa e pessoal-social, . Este importante instrumento foi revisado e ampliado para 125 itens, passando a denominar-se TTDD II [6]. Segundo [7], o TTDD não é um teste de avaliação do coeficiente de inteligência e de desenvolvimento isolado. É um instrumento de avaliação da condição atual do desenvolvimento maturacional da criança. Desta maneira também não deve ser utilizado como um instrumento diagnóstico. Trata-se de um teste padronizado, que pode ser utilizado como referência à observação do desenvolvimento de crianças entre 0 a 6 anos de idade. Os dados obtidos através da sua aplicação são utilizados para deter minar se a criança está progredindo como esperado para sua idade cronológica e maturidade. O autor ressalta ainda que o TTDD não se caracteriza como um instrumento específico de uma área ou profissão, ou seja, não é de uso exclusivo de um determinado profissional, pode ser utilizado nos mais variados tipos de serviços de atendimento à criança como: unidades básicas de saúde, ambulatórios, consultórios, clínicas, unidades pediátricas em hospitais, creches, pré-escolas e serviços especializados em distúrbios do desenvolvimento infantil permitindo a cada profissional uma leitura dos dados obtidos, de acordo com a sua formação específica. O Teste de Denver também pode sugerir a necessidade de um exame mais pormenorizado, com conseqüente encaminhamento a profissionais especializados como neuropediatra, psicólogo, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, psicomotricista, psicopedagogo e outros. O acompanhamento do desenvolvimento abrange orientações que visam promovê-lo, mantêlo e recuperá-lo. Entendemos que a enfermeira seja um dos profissionais da saúde em condições de desenvolver as ações de acompanhamento do desenvolvimento uma vez que tem conhecimentos acerca deste processo, bem como das necessidades da criança e formas de atendê-las [8]. A educadora em saúde compartilha, com a criança e família, informações e conhecimentos quanto à avaliação das demandas de enfermagem da criança, reforçando as condutas adequadas empregadas pelos familiares para atendê-la, pondo em discussão aquelas que julga inadequadas, propondo alternativas a serem analisadas em conjunto com os familiares e cuidadores. Percebemos, assim, espaço para a atuação profissional do enfermeiro na avaliação e triagem de criança, nos mais diversos contextos (creche, escola, posto de saúde, consultório, ambulatórios, hospital), favorecendo a detecção e encaminhamento de casos que necessitem acompanhamento e avaliações mais freqüentes. Assim, vislumbrando a possibilidade de aprimorar e aprofundar conhecimentos focados no desenvolvimento infantil suscitou-nos o interesse em realizar este estudo. Objetivos Este trabalho tem como objetivos: Conhecer o perfil de desenvolvimento em infantes atendidos em uma creche, utilizando o Teste de triagem de Denver II. Investigar se existem defasagens no desenvolvimento entre as crianças participantes deste estudo. Método Para a realização deste estudo escolhemos o método quantitativo. Segundo Leopardi [9]e Polit et al. [l0], este método é utilizado quando se tem um instrumento de medida utilizável e válido e deseja-se assegurar a objetividade dos achados, a questão proposta indica a preocupação com quantificação, necessita-se comparar eventos ou for desejável replicar o estudo. Esta pesquisa tem caráter exploratório e descritivo, caracterizado pela necessidade de se explorar uma situação não conhecida da qual se tem necessidade de maiores informações. Portanto, o estudo descritivo pretende reportar-se com exatidão aos fatos ou fenômenos de determinada realidade [9]. Local do estudo: O estudo foi realizado em uma creche privada, de caráter filantrópico, mantida por um grupo de empresas, situada no município de São Paulo. Características estudadas: Idade dos infantes, delimitada entre 12 e 47 meses, presença ou ausência de alteração no desenvolvimento diagnosticada previamente. '& artigo 06.pmd 98 30/04/03, 18:43 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) População e amostra: Como esclarecemPolit et al. [10], população é todo conjunto de indivíduos que possuem características em comum, sendo amostra um conjunto ou parcela da população. A população foi composta por crianças matriculadas na instituição, sendo a amostra obtida entre as crianças que estavam na faixa etária entre um e três anos e onze meses (infantes ou toddler), sem alterações no desenvolvimento diagnosticadas, cujos pais ou responsáveis legais autorizaram a aplicação do teste nos mesmos. Determinamos esta faixa etária por ser esta a de interesse para a pesquisa já que percebe-se, neste período, verdadeira explosão no ganho de novas e importantes habilidades, um real desabrochar para o mundo, tornando assim sua avaliação de importância capital. De um total de 46 infantes, não obtivemos autorização dos pais para aplicação do teste em uma criança, dez destas estavam ausentes nos dois dias em que os dados foram coletados e uma foi excluída (apesar de ter sido submetida ao teste) por ter diagnóstico médico de atraso no desenvolvimento e hidrocefalia. A amostra desta pesquisa foi constituída de 34 crianças. Como objetivo ampliado deste estudo, foi exposto às coordenadoras, auxiliar de enfermagem da instituição e algumas funcionárias/educadoras noções sobre o teste de Denver e principais características do desenvolvimento entre 1 e 3 anos. Tratamento dos dados: Os laudos emitidos após cada teste foram analisados, agrupando-os segundo resultados convergentes e divergentes, apresentados em gráficos e tabelas, em números relativos e absolutos, como se segue. Resultados e discussão Apresentaremos os resultados obtidos a seguir, após tabulação e análise dos dados coletados. Gráfico 1 -Distribuição das crianças entre 12 e 47 meses, avaliadas pelo Teste de Denver II, segundo tipo de comportamento demonstrado; creche filantrópica no município de São Paulo, 2002. Comportamento típico para a idade, segundo TTDD II a obediência, na maioria das vezes, o estado de alerta, atenção e interesse constantes, timidez e temor leves ou ausentes. Instrumento de coleta de dados: Utilizamos cópia do TTDD II de Frankenburg et al. [6] e formulário onde foram identificados nome, idade, antecedente de déficit no desenvolvimento diagnosticado, data e laudo após aplicação do teste, bem como o material utilizado no mesmo, como indicam Whaley [6] e Brêtas et al. [7]. Coleta de dados: Realizou-se durante o mês de outubro de 2002, pelas autoras após encaminhamento e aprovação do projeto pela Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade Santa Marcelina e autorização da instituição onde os dados foram coletados. Primeiramente enviamos aos responsáveis pela criança Termo de Consentimento informado aos sujeitos a fim de obtermos a anuência dos mesmos para aplicação do teste, assim como texto explicativo sobre o projeto de pesquisa, determinando prazo de até uma semana para envio da resposta. Após a autorização, foi agendado junto à coordenação da creche, local, data e períodos necessários para os encontros, sempre na presença de um educador ou coordenador da instituição. Os pais ou responsáveis estavam cientes dos horários, podendo assistir ao teste. Devido à rotina dos pais, nenhum teste foi aplicado com sua presença. Como podemos observar no gráfico 1 a maioria dos infantes, 64 %, apresentou comportamento típico para a idade; 36% das crianças apresentaram comportamento atípico para a idade representados, principalmente por timidez extrema, mesmo em presença de funcionária da creche. A avaliação destas facetas do comportamento, sugeridas no TTDD II amplia as observações do avaliador quanto as reações da criança durante a aplicação, servindo também de parâmetro para futuros testes. '' artigo 06.pmd 99 30/04/03, 18:43 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) Tabela I - Distribuição dos resultados da avaliação do desenvolvimento obtidos em crianças entre 12 e 23 meses, assistidas em creche, utilizando o Teste de Denver II . São Paulo, 2002. Áreas do desenvolvimento testadas Avaliação Pessoal-social motor fino linguagem motor grosseiro N % N % N % N % Com alteração 0 0 0 0 4 57 0 0 Sem alteração 7 100 7 100 3 43 7 100 Total 7 100 7 100 7 100 7 100 N=7 A tabela I apresenta os achados obtidos após aplicação do teste em 7 crianças entre 12 a 23 meses. Ao observarmos os resultados, notamos que as áreas pessoal-social, motor fino e motor grosseiro não tiveram nenhuma alteração, tendo na linguagem achados significativamente alterados (57%). A linguagem avaliada no teste de Denver, nesta faixa etária, refere-se ao número de palavras que a criança é capaz de emitir, como papai, mamãe, dá, não, nome de amigos, partes do corpo e de figuras familiares [2,6], que podem ser observadas também por relato das educadoras, já que algumas crianças não atendem em todas as situações em que são solicitadas. Mesmo com este recurso, percebemos déficit nesta área, especialmente no que se refere citar partes do corpo, falar espontaneamente, balbuciar sons nas crianças menores, etc. É preciso considerar, também, o estímulo que a criança recebe para utilização destas estruturas. Alguns adultos reforçam as palavras ditas erradamente com um estilo infantil, o que significa dizer que ensinam errado, não dando chance à criança de perceber o correto. Segundo Sakae et al.[12], algumas crianças apresentam um atraso no aparecimento da fala, ultrapassando a idade de 18 meses sem pronunciar uma só palavra. Este comportamento pode expressar a falta de estímulo verbal oferecido à criança ou até mesmo ser um primeiro sinal de sua dificuldade de contato com o mundo. Assim, como propõe o TTDD, o acompanhamento faz-se necessário para avaliar progressos ou defasagens que podem surgir dentro de algum período. A análise dos dados obtidos após aplicação do teste em treze crianças entre 24 a 35 meses, assistidas na instituição, estão apresentados na Tabela II, em que podemos notar que as áreas do desenvolvimento pessoal social e motor grosseiro foram as que apresentaram menor alteração com porcentagem semelhantes (15%), tendo na linguagem a maior freqüência de achados alterados (46%) seguida pela motor fino (23%). Espera-se que o infante tenha a fala meio compreensível, combine palavras simples, nomeie e aponte figuras, conheça uma cor e duas ações, faça torre com seis cubos, inicie linha vertical [6] . Interessante observarmos que as possíveis alterações presentes possam ser apontadas pelos adultos que convivam com a criança já que, nesta idade, as habilidades em se expressar pela palavra e atitudes mais complexas, façam-se notar até mesmo por leigos. Nota-se, em algumas situações, a falta de necessidade da criança em nomear objetos, ações e pessoas, pois são compreendidas por todos que convivem com ela somente ao apontá-los. Esta percepção vem ao encontro das observações de Silva [11] que destaca a importância do adulto em não falar pela criança, sugerindo apenas reforçá-las, favorecendo a expressão da própria criança. Os achados evidenciam estas alterações, principalmente direcionadas à fala, como um todo. Tabela II - Distribuição dos resultados obtidos com aplicação do Teste de Denver II em crianças entre 24 a 35 meses, assistidas em creche. São Paulo, 2002. Áreas do desenvolvimento testadas Avaliação Pessoal-social motor fino linguagem motor grosseiro N % N % N % N % Com alteração 2 15 3 23 6 46 2 15 Sem alteração 11 85 10 77 7 54 11 85 Total 13 100 13 100 13 100 13 100 N=13 artigo 06.pmd 100 30/04/03, 18:43 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) Tabela III -Distribuição dos resultados obtidos com aplicação do teste de Denver II em crianças entre 36 e 47 meses, assistidas em creche. São Paulo, 2002. Áreas do desenvolvimento testadas Avaliação Pessoal-social motor fino linguagem motor grosseiro N % N % N % N % Com alteração 1 12,5 2 25 4 50 2 25 Sem alteração 7 87,5 6 75 4 50 6 75 Total 8 100,0 8 100 8 100 8 100 N=8 A tabela III apresenta os achados obtidos após aplicação do teste em oito crianças entre 36 e 47 meses (4 anos incompletos), assistidas na instituição. Ao observarmos os resultados, notamos que a área do desenvolvimento pessoal-social foi a que apresentou menor alteração (12,5%), tendo na linguagem a maior freqüência de achados alterados (50%), permanecendo as áreas motoras, fina e grosseira, com porcentagem semelhantes (25%). Na zona pessoal-social espera-se que a criança entre 36-47 meses seja capaz de vestir-se e escovar os dentes com supervisão e auxílio, retirar e calçar sapatos e camiseta, comer sozinho, desabotoar roupa, entre outros [2,6], tarefas executadas pela imensa maioria das crianças deste estudo. A maior independência destes infantes nestas atividades talvez se deva ao fato de serem ensinadas/treinadas, tanto em seus lares como na creche, a executá-las desde cedo ganhando, assim, maior habilidade nesta área. A linguagem nesta faixa etária, como esclarecem Gesell [2] e Whaley et al.[6], é usada como instrumento de pensamento, com utilização de frases, além de palavras isoladas, para se expressar; tendem também a formular perguntas, reconhecem cores e figuras familiares, contam objetos de um a três, conhecem adjetivos e funções e têm a fala compreensível. Na amostra avaliada as crianças com algum grau de alteração, apresentaram dificuldade em nomear cores, contar, usar preposições (sobre, em baixo) além de fala não totalmente compreensível, num total de 50%. Neste caso os diversos fatores que envolvem a fala como estimulação precoce, atenção exclusiva, aspectos psicológicos, separação do convívio familiar, tempo dos pais para ouvir a criança, entre outros, poderiam ser os determinantes para justificar os achados observados. O comportamento característico nas áreas motoras fina e grosseira como mover polegar com segurança, fazer torre de 8 cubos, desenhar esquema corporal, copiar círculo e cruz rudimentares, equilibrar-se em um pé, saltar à distância e em um pé, jogar bola para o alto [2], estavam presentes em 75% dos participantes, não apresentando nenhum déficit nestas áreas, sendo as principais alterações encontradas (25% das crianças) referentes ao equilíbrio em um pé sem apoio e desenho de partes do corpo. Na aplicação do teste tivemos algumas dificuldades como ressaltadas na tabela IV. Do total de 34 crianças que fizeram parte da amostra, seis infantes recusaram-se, a participar das atividades propostas pelo teste, mesmo com tentativas de realizá-lo com amigos, irmãos, funcionária já familiarizada com a criança, em outro momento, etc. Outros comportamentos como agressividade (uso de palavrões, desobediência), temor e timidez extrema observados, foram relatados como habituais da criança, pela educadora/auxiliar de enfermagem da instituição. Sugeriu-se repetição do teste em ocasião oportuna a fim de acompanharmos a evolução destes comportamentos. Tabela IV -Distribuição das dificuldades encontradas para aplicabilidade do TTDD II em crianças entre 12 e 47 meses. São Paulo, 2002. Faixa etária recusa temor distração agressividade N N N N 12 23 1 24 35 2 1 36 47 3 1 Total 6 2 timidez N 3 1 1 4 1 3 1 10 artigo 06.pmd 101 30/04/03, 18:43 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) Conclusões Os resultados obtidos nesta pesquisa, possibilitou-nos algumas conclusões. Pudemos perceber, como mostram os dados, que a maioria das crianças não apresentaram alteração significativa no desenvolvimento. Quase a totalidade das crianças que mostraram alguma defasagem, apresentaram-na em apenas em uma área testada. Todavia, os infantes apresentaram alterações, em alguma área do desenvolvimento, em todas as faixas etária, especialmente na linguagem, que apresentou defasagens em praticamente metade das crianças. Nas áreas Pessoal-social, Motor fino e grosseiro, os sinais foram por nós considerados como suaves e moderados, o que consideramos um resultado muito animador. Assim, notamos que o teste de Denver II mostrou mudança em pelo menos uma área do desenvolvimento avaliada, na maioria das crianças. Ao mesmo tempo, diante do que foi estudado, considera-se a hipótese de que tais sinais estejam mais associados a problemas ambientais/ estimulação do que a distúrbios. Um outro fator a ser considerado é que utilizamos, neste estudo, um teste de Triagem do desenvolvimento que não tem especificidade para avaliar nuances qualitativas do desenvolvimento mental. Como medidas cuidativas e preventivas, propomos como intervenções de enfermagem: Dar ciência à coordenação da creche e dos pais dos casos que merecem repetição e acompanhamento de novo teste. 12-24 meses Linguagem Propor a coordenação/pedagoga e educadora/professoras elaboração conjunta de plano de estimulação privilegiando as áreas de linguagem e motor fino, destacando os itens solicitados no teste que apresentaram maior número de erros (cores, partes do corpo, desenhos, combinar palavras, etc). Repetir o teste em ocasião oportuna, com autorização dos pais. Sugerir aplicação do teste na admissão da criança na creche e em cada fase marcante do desenvolvimento, quando é feita a mudança de sala para faixa etária maior. Os resultados obtidos neste estudo possibilitounos alcançar os objetivos propostos, especialmente ao comprovarmos a aplicabilidade do teste em creche e as possibilidades de intervenção do enfermeiro. Com esta pesquisa pudemos observar a valia deste teste para acompanhar o desenvolvimento infantil e sentimos que o enfermeiro pode desenvolver este trabalho em diversos contextos de atuação, contemplando a prevenção e detecção dos casos suspeitos. Considerações e recomendações finais Acreditando que possamos, de alguma forma, contribuir com a prevenção e acompanhamento das crianças que fizeram parte deste estudo e tendo levantado, após avaliação dos laudos, que a maior defasagem deu-se na área da linguagem e motora fina, propomos, baseado nos textos de [2,6,11,12], as seguintes intervenções de estimulação para os infantes, segundo sua faixa etária: Motor fino Usar espelhos em sala para criança visualizar sua imagem e sua linguagem, especialmente falada; Estimular identificação de partes do corpo, usando bonecos, figuras e a própria criança; Pronunciar palavras de uso corriqueiro, vagarosamente de frente para a criança; Treinar palavras com os fonemas p,b,t,d,k, que são os adquiridos nesta faixa etária; Falar e solicitar repetição de palavras com várias sílabas, gradativamente (evitar monossílabos) e frases com 2-3 palavras; Incorporar necessidade do adulto de não falar pela criança. Estimular subir e descer escadas, engatinhando, com supervisão; Oferecer brinquedos de encaixe, com diversos tamanhos; Estimular desenhos com lápis de cera grosso. artigo 06.pmd 102 30/04/03, 18:43 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) 24-47 meses Linguagem Motor fino Ensinar canções curtas; Estimular andar sobre linha e pedalar; Pronunciar palavras mais elaboradas, Promover brincadeiras em recipientes com água para vagarosamente, de frente para a criança; treinar equilíbrio; Utilizar recurso do espelho; Usar recortes, colagem e desenho de linhas; Treinar plurais, com uso de figuras e bonecos. Oferecer revistas para folhear. Referências Whaley L, Wong D. Enfermagem pediátrica. 5a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1999. p.117-156. 7. Brêtas JRS et al. A Aplicação do teste de triagem do desenvolvimento de Denver pelo enfermeiro pediatra: Relato de Caso. Acta Paul Enf. 1995; 8 (4): 9-16. 8. Brêtas JRS, Silva CV. Mudança na vida privada familiar: repercussões para maternagem e desenvolvimento da criança. Acta Paul Enf. 1998;11(1):38-45. 9. Leopardi MT. Metodologia da pesquisa na saúde. Santa Maria: Pallotti; 2001. 10. Polit DF, Hungler BP. Fundamentos da pesquisa em Enfermagem. 3a ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 1995. 11. Silva RP. A fala infantil revela saúde. Pediatria Moderna 2000;36(3):133-37. 12. Sakae SVS, Rebello ES. Recreação e estimulação. In: Schimitz EM. A Enfermagem em pediatria e puericultura. São Paulo: Atheneu; 2000:197-20. ¡ 1. 2. 3. 4. 5. 6. Stefane JMJ. A Enfermagem, o crescimento e desenvolvimento infantil. In: Schimitz, EM (org) Enfermagem pediátrica. São Paulo: Atheneu; 2000:1-24. Gesell A, Amatruda C. Diagnóstico do desenvolvimento. 3a ed. São Paulo: Atheneu; 1987. p. 3-15. Veríssimo MG, Sigaud JM (org). Enfermagem pediátrica: o cuidado de enfermagem à criança e ao adolescente. São Paulo: EPU; 1996. p.137-62. Magalhães LC et al. Acompanhamento ambulatorial do desenvolvimento de recém-nascidos de alto risco: Características da população e incidência de seqüelas funcionais. Rev Paul Pediatria. 1998;16(4):191-6. Frankenburg WK. The Denver developmental screening test. J.Pediatria 71:181-91. ! artigo 06.pmd 103 30/04/03, 18:43 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) Artigo original Perfil das pessoas com diabetes mellitus tipo 2 cadastradas no programa de assistência ao diabético de Passos - MG Outline of people with diabetes mellitus type 2 registered in the program of assistance to diabetic people in Passos - MG Perfil de las personas con diabetes mellitus tipo 2 registradas en el programa de asistencia al diabético de Passos - MG Vilma Elenice Contatto Rossi*, Ana Emilia Pace** *Enfermeira, Mestre em Enfermagem Fundamental, doutoranda do Programa Interunidades de Doutoramento em Enfermagem, EERP-USP, Docente da FAENPA, **Enfermeira. Professora Doutora junto ao Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto Universidade de São Paulo. Resumo Estudo descritivo com pessoas portadores de diabetes mellitus tipo 2, cadastradas no Programa de Assistência ao Diabético de Passos - MG, com objetivo de conhecer as características sócio-demográficas, presença de complicações crônicas e controle metabólico, para subsidiar o planejamento do atendimento de enfermagem a essas pessoas. A população constituiu-se de 409 indivíduos, sendo 73,1% do sexo feminino, 71,8% na faixa etária de 50 a 69 anos. 40,3% encontravam-se em sobrepeso. A complicação crônica citada por 33,6% dos indivíduos foi diminuição da acuidade visual. 31,8% apontaram alterações recentes nos pés e 49,4% encontravam-se com bom controle metabólico. Pelos resultados encontrados, evidenciou-se a necessidade do trabalho de equipe multiprofissional para atendimento completo e acompanhamento dos diabéticos cadastrados no programa. Palavras-chave: Diabetes mellitus, assistência de enfermagem. Artigo recebido em 05 de abril de 2003, aceito em 25 de abril de 2003. Endereço para correspondência: Universidade do Estado de Minas Gerais, Av. Com. Francisco Avelino Maia, 2100 Centro 37900-001 Passos MG, E-mail: [email protected] " artigo 08.pmd 104 30/04/03, 18:43 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) Abstract Descriptive study with people with diabetes mellitus type 2 registered in the Program of Assistance to diabetic people in Passos - MG, with the objective to know the social demographic characteristics, presence of chronic complications and metabolic control, to subsidize the planning of nursing for these people. The population consists of 409 people, 73,1% female, 71,8% in age group from 50 to 69 years old. 40,3% had overweight. The chronic complication mentioned to 33,6% of people was reduction of visual insight, 31,8% referred recent modification on feet and 49,4% had a good metabolic control. Key-words: Diabetes mellitus, nursing care. Resumen Estudio descriptivo con personas portadoras de diabetes mellitus tipo 2 registradas en el Programa de Asistencia al Diabético de Passos - MG, con objetivo de conocer las características socio-demográficas, presencia de complicaciones crónicas y control metabólico, para subsidiar el plan de asistencia de enfermería a esas personas. La población se constituye de 409 individuos, siendo 73,1% del sexo femenino, 71,8% en el grupo de edad de 50 a 69 años. 40,3% se encontraban con sobrepeso. La complicación crónica citada por 33,6% de los individuos fue la disminución de la acuidad visual. 31,8% apuntaron alteraciones recientes en los pies y 49,4% se encontraban con buen control metabólico. Palabras-clave: Diabetes mellitus, asistencia de enfermería. Introdução O diabetes mellitus é uma síndrome de etiologia múltipla decorrente da falta de insulina e/ou incapacidade da insulina de exercer adequadamente seus efeitos. Caracteriza-se pela presença de hiperglicemia crônica com distúrbio do metabolismo dos carboidratos, lipídeos e proteínas [1], sendo o tipo 2 a forma mais prevalente e decorre de uma resistência à ação da insulina em nível tecidual e/ou de uma diminuição na produção da mesma. É usualmente diagnosticado após os quarenta anos de idade, o início é insidioso, a duração é longa, 80 a 90% dos indivíduos são obesos, raramente ocorre cetoacidose. Este tipo de diabetes freqüentemente não é diagnosticado por anos, porque o aumento da concentração de glicose não é bastante elevado para exibir os sintomas clássicos do diabetes descompensado [2]. Como o diabetes tipo 2 possui um período assintomático, muitas vezes o diagnóstico só é realizado após a pessoa apresentar uma complicação crônica e irreversível da doença [3], daí a importância de realizar-se um diagnóstico precoce, antes do aparecimento de tais complicações. O diabetes vem sendo reconhecido mundialmente como um problema de saúde pública. São considerados significativos os indicadores de morbimortalidade relacionados à doença, como também os custos envolvidos no seu controle e no tratamento de suas complicações. Atualmente, estima-se que existam no Brasil mais de 5 milhões de diabéticos, dos quais metade desconhece o diagnóstico [1]. A adesão ao tratamento é mais eficaz quando se respeitam os hábitos e as condições sócio-econômicas do paciente. Várias medidas podem ser adotadas, entretanto, não há um método ou estratégia que possa ser recomendada para todas as pessoas [4]. A falta de sucesso de alguns programas de orientação à pessoa com diabetes, talvez seja devido ao fato das ações serem voltadas para a percepção dos profissionais sobre as necessidades dos pacientes, não levando em consideração as reais necessidades da pessoa com diabetes e os componentes afetivos [5]. Frente ao elevado custo econômico e social que o diabetes representa para a pessoa, família e sociedade, o presente estudo foi realizado com objetivo de conhecer as características sócio-demográficas, presença de complicações crônicas e controle metabólico das pessoas com diabetes tipo 2 atendidas no Programa de Assistência ao Diabético de Passos - MG, com a finalidade de subsidiar o planejamento do atendimento de enfermagem a estas pessoas. # artigo 08.pmd 105 30/04/03, 18:43 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) Material e método dos objetivos do estudo, esclarecimentos quanto à livre participação e garantia de sigilo e anonimato. Delineamento, população e local do estudo Estudo de natureza descritiva, atendendo aos prérequisitos de um estudo de casos, realizado no período de 15 de março a 31 de julho de 1998 na cidade de Passos MG, entre os indivíduos com diagnóstico de diabetes mellitus tipo 2 cadastrados no Programa de Assistência ao Diabético da referida cidade. Para definir a população estudada, foram utilizados alguns critérios de inclusão, como ter diagnóstico de diabetes tipo 2, ter comparecido a pelo menos uma consulta no ano de 1997 e concordar em participar do estudo. Deste modo, a população ficou constituída por 409 pessoas. As pessoas selecionadas foram visitadas em suas residências, com a finalidade de esclarecê-las quanto aos objetivos do estudo, obter o consentimento de sua participação e agendar entrevista. Instrumento de coleta de dados O instrumento foi elaborado considerando as variáveis de interesse para o desenvolvimento do estudo, contendo 16 questões, sendo 05 referentes à caracterização sócio-demográfica, 10 referentes ao diabetes em si e 01 questão referente ao controle glicêmico, o qual foi verificado por meio da hemoglobina glicosilada utilizando a técnica de Travelli modificada [6], sendo considerado bom controle os valores até 7%, mau controle acima de 10% e controle regular os valores dentro desta faixa. Procedimentos utilizados para a coleta de dados Para a coleta de dados foram treinados cinco acadêmicos do sétimo período do Curso de Graduação da Faculdade de Enfermagem de Passos. Primeiramente foi realizada uma validação de aparência e conteúdo do instrumento por três pessoas que atuam na área. A seguir foi realizado um préteste com quinze pessoas não pertencentes à população estudada, para verificar sua compreensão. Considerações éticas O projeto de pesquisa foi encaminhado ao Secretário Municipal de Saúde para ser apreciado e obter consentimento para a realização do estudo. Aos indivíduos selecionados foi apresentado um termo de consentimento, juntamente com o relato Resultados Dos 409 indivíduos que compuseram a população do estudo, 299 (73,1%) foram do sexo feminino e 110 (26,9%) do sexo masculino, na faixa etária entre 50 e 69 anos (61,6%). Observou-se em relação à escolaridade que 61,4% dos indivíduos possuíam o ensino fundamental incompleto, 76,3% com renda familiar entre zero e cinco salários mínimos, 63,6% viviam com companheiro(a). Em relação ao tempo referido de diagnóstico do distúrbio, 165 indivíduos (40,3%) encontravamse no primeiro período do mesmo, ou seja, entre zero e cinco anos; 244 (59,7%) indivíduos relataram antecedentes familiares com diabetes mellitus. A partir do peso e altura fornecidos pelos indivíduos, calculou-se o Índice de Massa Corporal (IMC), obtido pela fórmula Peso (kg) / Altura2 (em metros), classificando em normal (IMC < 25), sobrepeso (IMC entre 25 e 29,9) e obeso (IMC > 30) [7], conforme Tabela I. Tabela I - Número e porcentagem de indivíduos portadores de diabetes mellitus tipo 2 segundo IMC, Passos - MG, 1998. IMC Número % Dentro do limite 133 32,5 Sobrepeso 164 40,1 Obeso 112 27,4 Total 409 100,0 Quanto ao tipo de tratamento seguido, 156 indivíduos (38,2%) utilizavam antidiabético oral, 153 (37,4%) insulina, 50 indivíduos (12,2%) insulina e Tabela II - Número e porcentagem de indivíduos portadores de diabetes mellitus tipo 2 segundo complicações crônicas referidas, Passos - MG, 1998. Complicação referida Diminuição da acuidade visual Dimin. acuid. visual + prob. extrem. inf. Hipertensão arterial Problemas extremidades inferiores Problema renal Dimin. acuid. visual + hipert. arterial Outras Total $ artigo 08.pmd 106 30/04/03, 18:43 Número 77 % 33,6 46 29 20,1 12,7 29 18 12,7 7,8 16 14 229 7,0 6,1 100,0 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) antidiabético oral e 50 (12,2%) faziam controle somente com dieta e/ou atividades físicas. Em referência à presença de complicações crônicas devido ao diabetes, 229 indivíduos (56%) responderam afirmativamente. Tais complicações estão apresentadas na Tabela II. Várias investigações têm demonstrado que o controle da glicemia melhora os resultados a curto e longo prazo das pessoas com diabetes, reduzindo a incidência de complicações miocrovasculares no diabetes tipo 2, como retinopatia e nefropatia [8]. O melhor indicador do controle glicêmico é a concentração da hemoglobina glicosilada (HbA1c). Entre os indivíduos que realizaram o exame da hemoglobina glicosilada, 202 (49,4%) apresentaram bom controle metabólico, enquanto 191 (46,7%) apresentaram controle regular ou mau controle. (Tabela III). Tabela III - Número e porcentagem de indivíduos portadores de diabetes mellitus tipo 2 segundo hemoglobina glicosilada, Passos - MG, 1998. Resultado Número % Bom controle 202 49,4 Controle regular 130 31,8 Mau controle 61 14,9 Não compareceram 16 3,9 Total 409 100,0 Os resultados deste estudo apontaram para uma demanda em que predominaram os indivíduos do sexo feminino, podendo refletir um viés de demanda, pois estudos epidemiológicos [3, 9] demonstraram a mesma magnitude entre homens e mulheres. Quanto à idade da população estudada, destacou-se a faixa etária entre 50 a 69 anos, que apresentou uma freqüência de 61,8%. O rastreamento e o diagnóstico precoce do diabetes tipo 2 deve ser feito a cada três anos, para todos os indivíduos acima de 45 anos e em idade mais precoce, se estiverem presentes fatores de risco, que incluem história familiar, obesidade, sedentarismo, hipertensão arterial, dislipidemia, síndrome do ovário policístico [4]. A maior parte dos indivíduos do estudo vive com companheiro, o que pode facilitar o cuidado do distúrbio pois, de acordo com a literatura, o apoio familiar representa um fator importante no cuidado da pessoa portadora de doença crônica [10], o qual poderá ser incluído no seu cuidado, facilitando o alcance de uma melhor qualidade de vida. A escolaridade representa uma variável importante no controle do diabetes, pois a educação formal sendo baixa, pode interferir no comportamento cognitivo para a aceitação da doença e aderência ao tratamento. A educação é fundamental para todos os pacientes, em todas as fases do tratamento, independente do grau de instrução, devendo também ser extensiva aos familiares [11]. Por outro lado, também é necessário que o profissional utilize uma linguagem compreensível para o paciente e traga informações com base na sua realidade, de forma concreta, facilitando o processo educativo tão almejado no cuidado da pessoa com diabetes. A maior parte da população estudada recebe renda familiar abaixo de cinco salários mínimos, o que pode comprometer o tratamento, pois o baixo nível sócio-econômico pode dificultar o tratamento dietético adequado e o uso regular da medicação prescrita [12]. Um fator de risco importante para o desenvolvimento do diabetes tipo 2 é a obesidade, representando um fator negativo para as pessoas portadoras desta doença, devido principalmente ao surgimento de complicações cardiovasculares relacionadas ao grau de obesidade. Conforme demonstrado na Tabela I, 67,5% dos indivíduos deste estudo encontravam-se obesos ou em sobrepeso. Recomenda-se que seja dada atenção especial aos indivíduos com diabetes tipo 2 em relação ao controle do peso, considerando que a dieta, dirigida à redução do peso corporal e à melhora dos níveis glicêmicos e lipídicos, tem um efeito significativo sobre a morbidade e mortalidade nesse grupo[13]. As complicações crônicas surgem no decorrer da vida da pessoa com diabetes, sendo que seu desenvolvimento está estreitamente relacionado ao controle metabólico. No diabetes tipo 2, pode acontecer o diagnóstico após o surgimento de uma complicação crônica e irreversível da doença. No presente estudo, 56% dos indivíduos referiram ter desenvolvido algum tipo de complicação relacionada ao diabetes, sendo que as referidas com maior freqüência foram a diminuição da acuidade visual, problemas nas extremidades inferiores, hipertensão arterial, problema renal, sendo comuns as associações entre problemas nas extremidades inferiores e diminuição da acuidade visual, e desta com hipertensão arterial. A retinopatia diabética é considerada uma das complicações mais graves do diabetes, podendo ser considerada a causa mais freqüente de cegueira adquirida em adultos de 20 a 40 anos[1,9]. Pode ser prevenida com a detecção precoce, juntamente com o controle do diabetes. Outra complicação considerada devastadora é o chamado pé diabético, causa muito comum de % artigo 08.pmd 107 30/04/03, 18:43 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) internações prolongadas, com elevados custos pessoais e sociais, sendo freqüentes as amputações [14]. A neuropatia diabética pode resultar em dor, perda das sensações e fraqueza muscular. O fator mais importante é a perda da sensibilidade à dor e à temperatura. A hipertensão arterial contribui para o desenvolvimento e progresso das complicações crônicas no diabetes mellitus. No diabetes tipo 2, geralmente faz parte de uma síndrome, que inclui intolerância à glicose, resistência à insulina, obesidade, dislipidemia e cardiopatia [4]. Seu controle é essencial, pois pode reduzir a progressão da nefropatia diabética, da doença cerebrovascular, cardiovascular e retinopatia [15]. Em relação à nefropatia diabética, estudos mostram que a mesma é a causa mais comum de novos casos de insuficiência renal crônica (IRC). No diabetes tipo 2, cerca de 20% dos indivíduos com nefropatia diabética pode evoluir para IRC. Nestes pacientes, o rastreamento da nefropatia diabética deve ser feito por ocasião do diagnóstico da doença e repetido a intervalos de um ano [15]. Atualmente, a determinação da hemoglobina glicosilada é o parâmetro mais importante para avaliar o controle metabólico a longo prazo de pacientes diabéticos, podendo-se julgar se o tratamento e a atuação do paciente estão sendo adequados ou necessitam-se de correções. Na população estudada, foi observado que 49,4% dos indivíduos que realizaram o exame da hemoglobina glicosilada apresentaram bom controle. Porém, é preocupante que 46,7% desses indivíduos, por apresentarem controle regular ou mau controle metabólico, estejam mais sujeitos ao aparecimento e/ ou agravamento de complicações crônicas. A educação contínua do paciente é parte essencial do tratamento e obrigatória, pois muitas vezes as pessoas esquecem-se ou podem ter sido orientadas numa ocasião em que não encontravam-se receptivas às informações, ou mesmo pela mudança na terapêutica inicialmente adotada. Para algumas pessoas, a transição de comprimidos para insulina pode ser temporariamente intransponível e o paciente certamente pode enfrentar dificuldades que devem ser superadas. Deve ser dado maior ênfase ao que o paciente pode fazer, do que ao que ele deve fazer. Objetivos realistas de curto prazo, ao invés de imposições rígidas, são mais eficientes para encorajar a adaptação do paciente às necessidades de seu tratamento. A família deve ser inserida e incentivada a participar do programa educativo. A abordagem educativa deve permear todo o percurso do distúrbio, considerando as fases da vida, dificuldades financeiras, resistência na adesão ao tratamento, bem como aceitação da situação presente. O enfermeiro é o elemento que pode facilitar esta abordagem, integrar o paciente junto à equipe multiprofissional, o que representa um passo imprescindível na adesão ao tratamento. Conclusões Os resultados do presente estudo permitem que alguns pontos sejam destacados, apresentando-se, a seguir, algumas propostas: a) A baixa escolaridade da população reforça a necessidade dos profissionais buscarem estratégias educacionais que possam atingir a clientela atendida, através de técnicas e linguagem adequadas; b) Em decorrência da renda familiar referida, é necessário que se criem alternativas para que os indivíduos tenham condições de seguir a dieta adequada, incentivando o consumo de alimentos substitutos, por meio da atuação de nutricionista e outros profissionais; c) A complicação decorrente do diabetes referida com maior freqüência foi a diminuição da acuidade visual; portanto, uma avaliação anual com oftalmologista deveria ser realizada de rotina com os participantes do programa, em particular com os que apresentam mau controle metabólico ou outras complicações microvasculares; d) Estratégias motivadoras precisam ser encontradas para estimular a participação dos indivíduos em grupos de orientação em diabetes, juntamente com os familiares. Uma alternativa seria que o programa fosse desenvolvido em várias Unidades de Saúde da periferia, o que poderia facilitar o acesso dos indivíduos; e) É importante a formação e capacitação de equipe multiprofissional trabalhando com educação continuada nas Unidades Básicas de Passos para o atendimento das pessoas com diabetes, incluindo seus familiares, o que poderia incentivar uma maior adesão ao tratamento. Referências 1. Sociedade Brasileira de Diabetes. Diagnóstico e classificação do diabetes mellitus e Tratamento do diabetes mellitus tipo 2. São Paulo; 2000. & artigo 08.pmd 108 30/04/03, 18:43 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. Davidson MB. Diabetes mellitus. Diagnóstico e tratamento. 4ª ed. Rio de Janeiro: Revinter; 2001. p. 1-13. Malerbi DA, Franco LJ. Multicenter study of the prevalence of diabetes mellitus and impaired glucose tolerance in the urban brazilian populacion aged 30-69 yr. Diabetes Care 1992;15 11):1509-16. 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Porto Alegre: Artes Médicas; 1999. p. 370-6. ¡ ' artigo 08.pmd 109 30/04/03, 18:43 Enfermagem Brasil Março / Abril 2003;2(2) Revisão A origem dos serviços de assistência pré-hospitalar The origin of emergency medical services El origen de los servicios de asistencia pre-hospitalaria Ana Paula Cunha*, Maria Soledade Simeão dos Santos** *Graduada em Enfermagem e Obstetrícia pela Escola de Enfermagem Anna Nery - Universidade Federal do Rio de Janeiro com habilitação em Enfermagem MédicoCirúrgica, Especialista em Administração Hospitalar, Especializanda em Enfermagem de Alta Complexidade, Enfermeira Assistencial na UTI Adulto do Hospital e Maternidade São Camilo em São Paulo,*Enfermeira, Mestre em Enfermagem pela Escola de Enfermagem Anna Nery - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Professora do Departamento de Metodologia da Enfermagem pela Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro Resumo O trauma tornou-se uma epidemia que atinge indivíduos entre 5 e 40 anos. Faz-se importante um atendimento de emergência inicial adequado, transporte rápido e eficaz para o hospital. A Assistência Pré-Hospitalar (APH), sistema de alta eficiência e agilidade extra-hospitalar, com recursos humanos e materiais capazes e suficientes, é extremamente importante na obtenção de resultados positivos e um bom processo de reabilitação no ambiente hospitalar. Antes da década de 60, a APH consistia em primeiros socorros e transporte para o hospital. No Brasil, a APH iniciou-se em 1986 com o Grupo de Socorro e Emergência do Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro. O objeto deste estudo foi a organização dos serviços de Assistência PréHospitalar. Ao elaborar esta monografia, tracei como objetivos: conhecer os modelos atuais da Assistência Pré-Hospitalar e analisar as tendências da inserção da Enfermagem na área de Emergência Pré-hospitalar. Palavras-chave: Emergência pré-hospitalar, primeiros socorros. Abstract The trauma became an epidemic that reaches individuals between 5 and 40 years. An initial adequate assistance is important, and fast and effective transportation for hospital. The Emergency medical services, high efficiency system and extra-hospita agility, with eficient human resources and equipments, is extremely important to get positive results and a good rehabilitation process in hospital environment. Before the decade of 60, Emergency medical services consisted in first aid and transportation for hospital. In Brazil, Emergency medical services was initialized in 1986 with the Help and Emergency Group of the Fire Department of Estado of Rio de Janeiro. The aim of this study was the organization of the Emergency medical services. Our objetives were to know the current models of the Emergency medical services and to analyze the tendencies of the insertion of nurses in this area of Emergency medical services. Key-words: Emergency medical services, first aid. Recebido em 2 de dezembro de 2002; aceito em 15 de fevereiro de 2003. Endereço para correspondência: Ana Paula Cunha, Av. Diógenes Ribeiro de Lima, 3320, Alto da Lapa, 05083-010 São Paulo - SP, Tel: (11): 3836-5887/9795-3910, E-mail: [email protected] artigo 02.pmd 110 30/04/03, 18:43 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) Resumen El trauma se tornó una epidemia que afecta individuos entre 5 y 40 años. Se hace importante una asistencia de emergencia inicial adecuada, transporte rápido y eficaz para el hospital. La Asistencia Pre-Hospitalaria (APH), sistema de alta eficiencia y agilidad extra-hospitalario, con recursos humanos y materiales capaces y suficientes, es extremamente importante en la obtención de resultados positivos y un buen proceso de rehabilitación en el ambiente hospitalario. Antes de la década de 60, la APH consistía en primeros auxilios y transporte para el hospital. En Brasil, la APH se inició en 1986 con un Grupo de Auxilio y Emergencia del Cuerpo de Bomberos del Estado de Rio de Janeiro. El objeto de este estudio fue la organización de los servicios de Asistencia Pre-Hospitalaria. Al elaborar esta monografía, proyecté como objetivos: conocer los modelos actuales de la Asistencia PreHospitalaria y analizar las tendencias de la inserción de la Enfermería. Enfermeros tienen conocimiento, experiencia y autonomía, factores específicos para el desarrollo de APH y espero que este trabajo despierte el interés de otros profesionales para el área de la Emergencia Pre-Hospitalaria. Palabras-clave: Servicios medicos de urgencia, primeros auxilios. Introdução Com a modernidade dos dias atuais, o avanço da tecnologia trouxe muitos problemas como o aumento do stress e da violência. O trauma tornouse uma epidemia que atinge indivíduos na faixa de 5 a 40 anos e aumentou em aproximadamente 30% a mortalidade nesta última década. A tecnologia presente nos anos 90 também chegou em hospitais públicos e privados, onde equipamentos mais avançados dão um maior suporte no atendimento de vítimas de traumas por causas externas [1]. Faz-se importante um atendimento de emergência inicial adequado e um transporte rápido e eficaz para a obtenção de resultados positivos e um bom processo de reabilitação no ambiente hospitalar, o que reduziria as taxas de morbi-mortalidade. Deste modo, podemos observar a importância da Assistência Pré-Hospitalar (APH), um sistema de alta eficiência e agilidade no ambiente extra-hospitalar, com recursos humanos e materiais capazes e suficientes. Por recursos humanos e materiais ideais considero uma equipe de saúde com conhecimento técnico-científico, veículos sofisticados, aeronaves modernas, equipamentos de última geração, uma base de operação com uma boa infra-estrutura, drogas eficientes, etc. No Brasil, a APH iniciou-se em 1986 com o Grupo de Socorro e Emergência (GSE) do Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro (CBERJ). Aos poucos uma nova mentalidade vem sendo reformulada no que tange à formação específica dos recursos humanos/equipe de saúde. Na França, os emergencistas são médicos e enfermeiros. Já nos Estados Unidos, optou-se por paramédicos e técnicos em emergências médicas. Acredito que no Brasil a APH poderia intensificar a inserção de enfermeiros, por seus conhecimentos técnicos e por sua capacidade de julgamento próprios. Este trabalho tem como objeto de estudo a origem dos serviços de APH. Temos como objetivos: 1. Abordar a origem da Emergência Pré Hospitalar no exterior e no Brasil; 2. Contribuir para a inserção e desenvolvimento da enfermagem na Assistência Pré-Hospitalar e 3. Despertar o interesse de outros enfermeiros para esta área. As origens dos sistemas de assistência préhospitalar A Emergência Pré-Hospitalar (EPH) tem como objetivo prestar exame e tratamento da vítima, realizar um transporte rápido, seguro e moderno em situações de emergência e/ou urgência, de locais com poucos recursos tecnológicos para centros com uma boa infra-estrutura, através de veículos terrestres e aéreos. É importante ressaltar que a EPH está inserida na Medicina de Desastre, uma atividade multidisciplinar que se ocupa da prevenção, com vistas a obter recuperação e reabilitação de problemas de saúde decorrentes de traumas por causas externas. Antes da década de 60, a APH consistia nos primeiros socorros e transporte para o hospital. Na chegada do indivíduo ao ambiente hospitalar, ele era avaliado por um médico e o tratamento era iniciado. Ainda nesta época, os serviços de EPH nos artigo 02.pmd 111 30/04/03, 18:43 Enfermagem Brasil Março / Abril 2003;2(2) Estados Unidos não eram coordenados, isto é, não contavam com a participação de profissionais qualificados e nem tampouco com veículos adequados para o transporte da vítima. Cleary et al. [2] afirmam que o Dr Frank Pantridge de Belfast (Irlanda) foi o primeiro a reconhecer que a vítima de acidentes cardíacos súbitos teria uma melhor sobrevida se uma equipe médica eficaz, com recursos materiais adequados, chegasse rapidamente à cena do trauma. O sistema que ele desenvolveu de enviar uma equipe de resgate com profissionais de saúde treinados e equipamentos modernos para a rua representa o começo da era moderna da APH. Drummond [3] e Hargreaves [4] dizem que na França o Serviço de Assistência Médica de Urgência (SAMU) recebe as chamadas para atendimento de emergências clínicas e cirúrgicas. É feita uma triagem através do médico regulador* e a equipe é enviada ao local composta pelo binômio médico-enfermeiro e o motorista socorrista. Com a experiência de combate na Coréia e no Vietnã, foram criados serviços de APH em algumas cidades americanas, utilizando-se pessoas treinadas. Nos Estados Unidos, o médico não se desloca em ambulâncias, exceto em desastres de massa. Através do número 911 é despachado socorro de suporte básico de vida, polícia, bombeiros e ambulância, ou, se necessário, suporte avançado de vida - os técnicos de emergência médica. Também, nos Estados Unidos, existe um sistema de APH chamado Flight Nurses ou Enfermeiras Voadoras, que se iniciou na década de 40 em que as enfermeiras militares atuavam no transporte de militares durante os conflitos, tais como a II Guerra Mundial. Na década de 60, as FN começaram a atuar nas equipes de EPH civis. Já no Brasil, a APH originou-se em Julho de 1986 com o Grupo de Socorro e Emergência do Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro (GSE / CBERJ) composta por um médico treinado em APH, um socorrista bombeiro, com formação de técnico de enfermagem e o motorista, com formação em resgate e primeiros socorros. Hargreaves [4] cita que no final da década de 80 e início de 90 surgiram os serviços de APH em São Paulo e Curitiba com modelos semelhantes. Enquanto o Rio de Janeiro seguiu a experiência francesa, os demais estados procuraram seguir os moldes americanos. Segundo Figueiredo et al. [5] o primeiro transporte aeromédico ocorreu na Guerra FrancoPrussiana (1870) quando os feridos foram evacuados de Parais através de balões de ar quente. Durante a I Guerra Mundial (1914-18), aviões foram utilizados para remover os feridos e na II Guerra Mundial (1939-45), os profissionais de saúde se encontravam nos aviões para prestar atendimento aos militares feridos. Isto deve-se ao fato de que na II Guerra havia uma maior abundância e complexidade das armas utilizadas, tornando-se necessário um tratamento precoce e eficaz. Com a experiência adquirida na Guerra do Vietnã, em 1972, teve início o primeiro programa civil de helicópteros, criado para complementar os sistemas médicos de transporte civil. No Brasil, novamente o CBERJ foi o pioneiro em socorro extra-hospitalar aeromédico (1988) utilizando helicópteros. Hoje em dia, as instituições privadas que prestam APH utilizam helicópteros e jatos. O emprego de helicópteros em missões aeromédicas é indicado para socorro pré-hospitalar no atendimento de pacientes graves, com risco de vida ou seqüelas graves, cujos riscos possam ser reduzidos com atendimento e transporte rápidos, com distâncias entre 800 e 3.000 km, caso o transporte terrestre não esteja disponível ou haja obstáculos no trânsito. Já as aeronaves de asa fixa (jatos) são indicadas no transporte de EPH em distâncias além de 3.000 km [6]. Para exemplificar as vantagens e desvantagens dos transportes aéreos, podemos observar o Quadro 1. Recursos humanos e a formação há equipe de assistência pré-hospitalar Progressivamente pode-se perceber o aumento do número de atendimento de APH em nosso país. Inicialmente restrito a corporações militares, hoje presente nas empresas privadas de saúde. Antigamente não havia especialidade em EPH e também em Medicina e Enfermagem de Bordo. Não é correto e nem válido tentar criar um paramédico apenas treinando o auxiliar de enfermagem em resgate. Nos Estados Unidos, os técnicos de emergência médica fazem um curso extenso, de até 2 anos em uma Universidade, e a cada 2 anos há uma prova para a renovação do certificado. Paramédicos ou Emergency Medical TechnicianParamedic (EMT-P) são os provedores de suporte avançado de vida Advanced Life Support Providers, que têm um treinamento teórico prático que varia de 600 a 1.000 horas. Possuem aptidão para desfibrilar, entubação traqueal, venopunção, uso de medicamentos endovenosos baseando-se na interpretação dos sinais clínicos da vítima, * Médico regulador é o médico intensivista que pelo rádio oferece instruções aos socorristas e encontram-se na base de operações. artigo 02.pmd 112 30/04/03, 18:43 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) Quadro 1- Aspectos positivos e negativos dos meios de transporte utilizados na EPH. Transporte Aspectos positivos Aspectos negativos Ambulância 1. 2. 3. 4. 5. 6. distância até 100 km disponibilidade imediata fácil mudança de rota pode parar a qualquer momento espaço físico suficiente baixo custo 1. limitação por tráfego 2. necessário considerar forças de aceleração e desaceleração em relação ao quadro do paciente Helicóptero 1. 2. 3. 4. 5. indicação até 250 km rápido tempo de trânsito atinge regiões de difícil acesso pousa em estradas, ruas e outros locais heliporto em muitos hospitais 1. nível de vibração e ruídos altos (90 a 110) db podem interferir com a monitorização do paciente 2. dificuldade na decolagem em temperaturas mais quentes 3. espaço físico limitado, dificultando o atendimento das emergências 4. cinetoses do paciente e equipe 5. custo consideravelmente maior que a ambulância 6. limitações quanto às condições climáticas Jato 1. distâncias maiores que 250 km 2. rapidez 3. permite maior número de membros da equipe 4. espaço físico suficiente 5. maior estabilidade de vôo 6. estabelece acima do clima extremo, salvo neve e neblina 1. necessidade de pista para pouso e decolagem 2. custo operacional alto 3. risco maior de hipóxia (altitude), do paciente e da equipe devido à queda de PO2 4. limitado quanto às condições climáticas 5. necessário considerar forças de aceleração e desaceleração em relação ao quadro do paciente * Quadro elaborado pela autora. eletrocardiograma e histórico da doença. Já os técnicos de emergências médicas são classificados em: a) Emergency Medical Technician Ambulance (EMT A), profissionais treinados para prover cuidados básicos de emergência na cena do trauma e durante o transporte até o hospital de referência. Sua principal função é guiar a ambulância com rapidez e segurança, porém seu treinamento engloba aproximadamente 80 a 100 horas de leituras didáticas, experiência prática e observação. O currículo oferece ressuscitação cardiopulmonar básica, extricação e controle de hemorragia; b) Emergency Medical Technician Basic (EMT B) podem realizar extricação e técnicas de resgate, avaliação da vítima, estabelecimento das vias aéreas pérveas, controle de hemorragias, imobilização de membros fraturados, puncionar veias periféricas, verificar sinais vitais e administrar medicamentos; c) Emergency Medical Technician Defibrillation (EMT D), além das funções realizadas pelo EMT B, também podem desfibrilar o paciente durante a ressuscitação cardiopulmonar. EMT B e EMT D têm um treinamento teórico que varia de 80 a 120 horas e mais 10 horas práticas no setor de emergência hospitalar. Em 1994, o departamento de Pediatria da Universidade da Carolina do Norte (EUA) fez um estudo para avaliar o treinamento dos técnicos de emergência médica em pediatria. Através dos resultados, foi observado que todos os serviços de EPH no estado referido apenas 10% ofereciam um pouco mais de 10 horas de treinamento básico em emergência pediátrica e 18% ofereciam 5 horas de educação continuada num período de 5 anos. Estes dados não são suficientes para avaliar os sistemas de EPH nos EUA, mas demonstram que os técnicos de emergência médica não têm um treinamento completo para atuar com autonomia, principalmente em situações caóticas. No Rio de Janeiro, o artigo primeiro da lei número 2.222* afirma que as ambulâncias que prestam serviços de assistência préhospitalar devem ser devidamente equipadas e compostas por um médico e um enfermeiro com prática em atendimento em emergência. *Lei de 23 de Janeiro de 1994, promulgada pela Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, que dispõe sobre a composição das ambulâncias que fazem atendimento de emergência. ! artigo 02.pmd 113 30/04/03, 18:43 Enfermagem Brasil Março / Abril 2003;2(2) Quadro 2 - Características necessárias para a seleção do pessoal no serviço aeromédico e terrestre. Critérios gerais para a seleção de tripulantes Qualificação profissional da equipe de saúde Aperfeiçoamento técnico/ educação continuada 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 1. preencher as qualificações gerais 2. mínimo de 2 anos de trabalho em ambulância terrestre (para transporte aéreo) 3. pré-requisitos exigidos pelo Departamento de Aviação Civil (DAC), tais como desligar motores, operar os rádios, aplicar freio rotor, ejetar portas, cursos de sobrevivência na selva e no mar (para transporte aéreo) 1. cursos como ATLS, ACLS, PHATLS 2. reuniões periódicas da equipe operacional em sessões clínicas para reavaliar as operações efetuadas 3. critérios como aptidão física, psicológica devem ser avaliados periodicamente 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. capacidade cardiovascular boas condições físicas peso e alturas proporcionais aparelho locomotor normal capacidade de levantar 35 a 45 kg capacidade aeróbica ausência de trauma lombossacro ou trauma / cirurgia da coluna vertebral acuidade visual 20/20 ou corrigida para 20/20 com lentes acuidade auditiva 15/15 ouvida ou perda inferior a 10 db testes de função pulmonar dentro do padrão de normalidade (fumantes pesados são desqualificados). resistência a cinetoses estabilidade psicoemocional boa dicção e facilidade de expressão via rádio ou telefone celular história clínica negativa para epilepsia motivação profissional histórico negativo para alcoolismo ou uso de drogas * Quadro elaborado pela autora Os profissionais que atuam na APH devem ser experientes e ter características específicas e necessárias para um atendimento rápido e eficaz durante situações caóticas e estressantes. A equipe aeromédica requer uma maior capacitação técnica à dos transportes terrestres devido a maior gravidade dos pacientes atendidos. A altitude diminui a pressão atmosférica progressivamente, bem como a pressão de oxigênio e a temperatura. Então as mudanças ambientais presentes durante o transporte aeromédico provocam condições fisiológicas adversas no paciente e na própria equipe. O Quadro 2 descreve as características necessárias para a seleção do pessoal no serviço aeromédico e terrestre. Cabe a mim, neste momento, explicar sobre os cursos acima mencionados. ATLS, ou Advanced Trauma Life Support é um treinamento para o atendimento do traumatizado, criado pelo Committee on Trauma do American College of Surgeons. ACLS, Advanced Cardiac Life Support, que prepara o profissional para problemas cardíacos, é ministrado pelo American Heart Association. O PHTLS (Prehospital Trauma Life Support), desenvolvido pelo National Association of Emergency Medical Technicians, forma o indivíduo para uma eficaz abordagem pré-hospitalar do paciente. Há ainda o PALS Pediatric Advanced Life Support que trata das emergências pediátricas e foi desenvolvido pela American Heart Association. Todos esses cursos podem ser feitos pelos profissionais que atuam em EPH, sendo que só recebem certificado os que possuírem nível superior. Apenas o PHLS é feito exclusivamente para paramédicos, que podem ter ou não nível superior. É importante lembrar que durante os plantões, a equipe deve permanecer numa base de operações tranqüila e confortável para proporcionar uma redução de stress e cansaço. O Quadro 3 mostra os equipamentos utilizados na EPH e presentes nos transportes. " artigo 02.pmd 114 30/04/03, 18:43 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) Quadro 3 - Os equipamentos utilizados na EPH e presentes nos transportes. manutenção de vida e adminsitração medicamentosa imobilização e transporte monitorização 1. oxigênio 1. colares cervicais 1. oxímetro de pulso 2. assistência ventilatória básica 2. talas de fixação 2. capnógrafo 3. intubação 3. talas de tração 3. cardioscópio 4. ventiladores mecânicos 4. guincho 4. tensão não invasiva 5. bombas infusoras 5. maca de içamento 6. infusores de pressão 6. ked 7. prancha longa * Quadro elaborado pela autora Considerações finais A Emergência Pré-Hospitalar tornou-se de grande valia para o indivíduo portador de alguma patologia e/ou vítima de trauma por causas externas. Proporciona à pessoa um tratamento rápido e eficaz na cena do trauma e durante o transporte adequado até o ambiente hospitalar, aumentando a sobrevida. Os objetivos inicialmente traçados foram alcançados, uma vez que consegui conhecer a origem da Assistência Pré-Hospitalar, bem como os recursos humanos e material. Acreditamos que a Enfer magem possua oportu-nidades para lançar-se nos serviços de APH. Nós possuímos embasamento teórico e autonomia para tal. Devemos estar atentos para as novas práticas da enfermagem e para as mudanças que estão ocorrendo. Está assegurado por lei, desde 1994, a presença do profissional Enfermeiro nos transportes terrestres de emergência, porém é notável que, na realidade, esses transportes contam com a participação do profissional médico, juntamente com auxiliares/ técnicos de enfermagem. Enfermeiros têm conhecimento, experiência e autonomia, fatores específicos para o desenvolvimento da APH. A prática da enfermagem na EPH envolve julgamento próprio, pensamento analítico, processo decisório e identificação de prioridade. A Enfermeira deve ter percepção para reconhecer a sintomatologia e saber quais os procedimentos a serem realizados. Enfim, a Enfermeira Pré-hospitalar tem conhecimentos que a prepara para elaborar histórico, diagnóstico, plano, implementação e avaliação dos cuidados ao paciente e seus familiares. Nós, profissionais de enfermagem, devemos estar cientes da nossa importância na EPH e da necessidade de adquirir novos conhecimentos e informações. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. Carter G. The Evolution of Air Transport Systems: A Pictorial Review. The Journal of Emergency Medicine 1988;6:449-504. Cleary VL. Pre Hospital Care - Adminsitrative and Clinical Management. Maryland: Aspen Publication; 1987. Drummond JP. Trauma e Anestesiologia. Rio de Janeiro: Medsi;1992. Hargreaves LHH. Sociedade Brasileira de Medicina de Desastre e EPH: da Importância da Participação. Revista Brasileira de Desastres 1995;2(1):40-1. Figueiredo JR. Emergência Condutas Médicas e Transporte. Rio de Janeiro;1996. Lee G. Flight Nursing - Principles and Practice. Missouri: Mosby Year Book; 1994. ¡ # artigo 02.pmd 115 30/04/03, 18:43 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) Revisão Manual de cuidados do cateter de Hickman Procedure manual for the Hickman catheter care Manual de cuidados del catéter de Hickman Ana Paula Cunha*, Rita de Cássia Elias**, Maria Paula S. Soares*** *Enfermeira formada pela Escola de Enfermagem Anna Nery Universidade Federal do Rio de Janeiro, Especialista em Administração Hospitalar, atuando como Enfermeira Assistencial na UTI Adulto do Hospital e Maternidade São Camilo em São Paulo, **Enfermeira formada pela Escola de Enfermagem Alfredo Pinto Universidade do Rio de Janeiro, Especialista em Enfermagem em Terapia Intensiva, atuando como Enfermeira Supervisora do Hospital Evangélico de Cachoeiro de Itapemirim no Espírito Santo, ***Enfermeira formada pela Universidade Gama Filho, Especialista em Prevenção e Controle de Infecção Hospitalar, atuando como Enfermeira Supervisora do Hospital Evangélico de Cachoeiro de Itapemirim no Espírito Santo - Trabalho apresentado Nº 5° CBCENF em Recife PE setembro de 2002. Resumo O cateter de Hickman é um dispositivo para acesso vascular, introduzido em uma veia calibrosa do sistema vascular onde a sua ponta avança pela veia cava superior. Freqüentemente utilizado em terapia de longa duração, com acesso venoso precário, pela administração contínua de drogas vesicantes, alto pH ou soluções hipertônicas. Faz-se extremamente importante o cuidado de manutenção do sistema, enfatizando principalmente o treinamento da equipe de Enfermagem para que o sistema tenha um bom funcionamento e evitando, assim, complicações. A idéia de elaborar uma rotina de cuidado deu-se enquanto Enfermeira Assistencial em uma instituição privada no estado do Rio de Janeiro, ao cuidar de um paciente portador de Leucemia Mielóide Aguda e que estava utilizando um cateter venoso central do tipo semi-implantado. Palavras-chave: Cateter venoso central, enfermagem oncológica. Abstract Hickmans Catheter is a device for vascular access, introduced into a large vein of the vascular system where its tip progress in the vena cava superior. It is frequently used in long duration therapy, with precarious veined access, for continuous administration of vesicant drugs, high pH or hypertonic solutions. The maintenance care of the system is extremely important, emphasizing mostly the training of the nursing team to preserve a good operation system and avoiding complications. The idea of a care routine was elaborated in a private institution of Rio de Janeiro State, during care of a patient with Acute Myeloid Leukemia who was using a central semi-implanted vein catheter Key-words: Central venous catheter, oncologic nursing care. Recebido em 2 de dezembro de 2002; aceito em 15 de fevereiro de 2003. Endereço para correspondência: Ana Paula Cunha, Av. Diógenes Ribeiro de Lima, 3320, Alto da Lapa, 05083-010 São Paulo SP, Tel: (11): 3836-5887/9795-3910, E-mail: [email protected] $ artigo 03.pmd 116 30/04/03, 18:43 Enfermagem Brasil Março / Abril 2003;2(2) Resumen El catéter de Hickman es un dispositivo para acceso vascular, introducido en una vena de gran calibre del sistema vascular donde su punta avanza por la vena cava superior. El catéter de Hickman es frecuentemente utilizado en terapia de larga duración, con acceso venoso precario, para administración continua de drogas vesicantes, alto pH o soluciones hipertónicas. Se hace extremamente importante el cuidado de manutención del sistema, enfatizando principalmente el entrenamiento del grupo de Enfermería para que el sistema tenga un buen funcionamiento, evitando así complicaciones. La idea de elaborar una rutina de cuidado surgió mientras una Enfermera Asistencial en una institución privada en el estado de Rio de Janeiro, cuidaba de un paciente portador de Leucemia Mieloide Aguda y que estaba utilizando un catéter venoso central del tipo semi-implantado. Palabras-clave: catéter venoso central, enfermería oncológica. Fig.1- Cateter único lúmen (figura extraída do guia Nursing Procedure Manual Bard Access Systems). Introdução O cateter de Hickman Pacientes internados por um longo período, submetidos a uma terapia intravenosa prolongada, portadores de doenças crônicas sofrem danos ou destruição da rede venosa periférica devido a freqüente coleta sangüínea, inúmeras e dolorosas punções periféricas causam no doente esclerose venosa e trombose provocadas por agentes quimioterápicos, extravasamento de citostáticos, flebites, impossibilidade ou demora no comprometimento do esquema terapêutico, entre outros. Para amenizar estes problemas, existe um dispositivo de longa permanência do tipo semiimplantável: o cateter de Hickman. Esse cateter é indicado a pacientes que requerem um tratamento endovenoso por tempo prolongado, principalmente aos candidatos a Transplante de Medula Óssea, portadores de tumores que requeiram um tratamento prolongado de quimioterapia e aqueles que necessitam de nutrição parenteral prolongada (NPP) cronicamente [1,2]. Heimbach & Tom [3] citam que em 1973, Broviac et al introduziram o uso do cateter de silicone com um segmento extravascular que se exterioriza pela pele, utilizado para promover acesso venoso para quimioterapia, nutrição parenteral prolongada, coleta sangüínea, monitorização da pressão venosa central (PVC), transfusão de hemoderivados. Devido a um único lúmen, não se torna viável a realização de múltiplos procedimentos (Fig. 1). Segundo Cole & Scribne [4], um cateter de duplo lúmen começou a ser utilizado em 1979. O cateter de Hickman, feito de silicone flexível, com 90 cm de comprimento, sendo 55 cm dentro do sistema intravascular, com diâmetro interno de 1,6 mm e 1,0 % artigo 03.pmd 117 30/04/03, 18:43 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) mm, em cada lúmen respectivamente. A ponta do cateter fica localizada no átrio direito. Há dois anéis de dacron, que têm o tamanho de um grão de arroz, situados próximo à entrada da veia e o outro próximo à saída do cateter, tendo este último a finalidade de fixação do cateter e proteção contra microorganismos (Fig. 2). Fig. 2 - Cateter duplo e triplo lúmen (figura extraída do guia Nursing Procedure Manual Bard Access Systems). ao átrio direito, para quando se utiliza a veia cava superior, de forma que os batimentos cardíacos e a alta pressão venosa ajudem a manter a ponta do cateter livre de aderências, com menor chance de trombose. As principais complicações que podem ocorrer devido ao manuseio do cateter são: Obstrução do sistema; Rompimento (fratura) do cateter; Infecção do sítio externo; Embolia; Dificuldades na coleta de sangue pelo cateter. Fig. 3 - A inserção do cateter no sistema venoso central (figura extraída do guia Nursing Procedure Manual Bard Access Systems). As características fundamentais do cateter de Hickman são o trecho subcutâneo, a presença de cuff de segurança e o material com que é produzido, o silicone de grau médico. A partir dessas três características devemos padronizar os cuidados. A implantação do cateter no sistema venoso central é realizada através de um ato cirúrgico, utilizando-se as veias jugular externa ou interna, cefálica, axilar, subclávia e safena, sob anestesia local, geral ou sedação. O cateter é posicionado com sua ponta próxima ao átrio direito (Fig. 3). Após a sua implantação, este é heparinizado e está pronto para o uso imediato. O cateter deve sempre ser posicionado por radioscopia ou radiografia de tórax, ainda no ato cirúrgico, de preferência com sua ponta próxima Para a prevenção dessas complicações é necessário que a equipe de Enfermagem que utilizará o sistema receba um treinamento contínuo, efetivo e eficaz. Cuidados adequados no manuseio dos cateteres são fundamentais para garantir vida útil mais longa e livre de complicações. Este manual elaborado enquanto enfermeiras assistentes tem como objetivos: Favorecer uma assistência de Enfermagem eficiente e eficaz; Sistematizar a conduta e os cuidados de Enfermagem na manipulação dos cateteres; Padronizar a assistência no que se refere aos cuidados com cateteres semi-implantados; Conscientizar a equipe de Enfermagem quanto à importância do cateter venoso central; Orientar a equipe de Enfermagem quanto à importância da manipulação correta do cateter para maior eficácia e durabilidade; Manter o cateter livre de possíveis infecções; Proporcionar informação sobre o cateter de Hickman, sua característica, forma de inserção, seu uso e cuidados. Segue o manual: & artigo 03.pmd 118 30/04/03, 18:43 Enfermagem Brasil Março / Abril 2003;2(2) Regras básicas Sempre utilizar técnica asséptica ao manipular o sistema; Lavar as mãos antes e após realizar qualquer procedimento; Usar somente material estéril; Evitar molhar o sítio de inserção do cateter até total cicatrização. Utilizar preferencialmente curativos adesivos transparentes impermeáveis; Manter os ports (lumens) clampeados quando não utilizados; Não abrir o cateter sem que já esteja conectada uma seringa com soro fisiológico a 0,9%, evitando assim a entrada de ar no sistema e conseqüentemente embolia gasosa, em casos de pressão negativa; Lavar o cateter após cada uso com pelo menos 50 ml de soro fisiológico a 0,9%; Uso de máscara e luvas estéreis; Fechar o clamp do cateter antes de desconectar ou trocar equipos; Medir diariamente o comprimento do cateter do ponto de inserção à extremidade distal externa. Curativos Material necessário Procedimento A. Povidine tópico (caso alérgico a iodo, utilizar clorhexidine) B. Álcool a 70% C. Esparadrapo hipoalérgico D. Gaze estéril E. Luva estéril F. Máscara descartável a) Lavar as mãos vigorosamente; b) Retirar o curativo antigo cuidadosamente; c) Inspecionar o local para os seguintes sinais de infecção: rubor, tumor, dor, calor e/ou drenagem de qualquer secreção; d) Abrir o pacote de gaze; e) Calçar as luvas; f) Iniciar limpando o local de dentro para fora em movimentos circulares. Não volte ao mesmo local após o início da limpeza: se necessário, use nova gaze embebida em povidine. Repita este processo pelo menos duas vezes. Use uma terceira gaze para limpar o tubo do cateter ao longo do comprimento. O excesso de povidine pode ser retirado da pele com uma gaze estéril. Coleta de sangue Material necessário Procedimento Observações A. B. C. D. E. F. G. H. I. a) Lavar as mãos vigorosamente por 30 segundos; b) Separar todo o material a ser utilizado c) Realizar assepsia da capa de injeção com álcool a 70%; d) Introduzir a seringa pela capa de injeção; e) Desclampear o cateter f) Aspirar a solução heparinizada existente no cateter, desprezando-a; g) Aspirar o volume de sangue necessário para o exame laboratorial; h) Lavar o cateter com soro fisiológico a 0,9% ou água destilada; i) Introduzir a solução heparinizada, clampear o cateter antes do final da solução existente na seringa; j) Limpar a superfície do cateter retirando os resíduos de sangue com gaze embebida em álcool, limpar a superfície por 30 segundos. 1) Caso apresente dificuldade para obter amostra sangüínea, peça ao paciente para tossir e/ ou respirar profundamente para aumentar a pressão torácica; dê um flush com solução salina; a reposição do paciente no leito também pode ajudar. Álcool a 70% Gaze estéril Máscara descartável Campo estéril Seringas de 10 ml (4 unidades) Tubos de exames Agulhas 40X12 Heparina Água destilada ou soro fisiológico a 0,9% J. Luvas estéreis ' artigo 03.pmd 119 30/04/03, 18:43 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) Troca da capa de injeção Material necessário Procedimento Observações A. B. C. D. a) Lavar as mãos vigorosamente por 30 segundos; b) Calçar as luvas; c) Clampear o cateter; d) Limpar a junção onde a capa e o tudo se unem; limpe por 30 segundos; e) Abrir a nova capa; f) Retirar a capa antiga; g) Colocar a capa na abertura do cateter. 1) A sua troca deve ser feita quando a tampa for removida por qualquer motivo, danificada, quebrada, ou após hemotransfusão; 2) A troca da capa de injeção deve ser semanalmente. Uma capa de injeção Álcool a 70% Gaze estéril Luva estéril Registro Observações 1) Registre todos os procedimentos de Enfermagem; 2) Sinais e sintomas de complicações e intervenção de Enfermagem; 3) Anotar tipo e infusão, volume, gotejamento/ velocidade da infusão; 4) Descrever aspecto do curativo; 5) Descrever aspecto da incisão cirúrgica; 6) Descrever realização do flush de heparina; 7) Registrar o que foi utilizado na realização de novo curativo. Conclusão Referências Toda a atuação de enfermagem para que se torne precisa e eficaz, deverá ser feita por um profissional que se identifique com o que faz, pois atuar em oncologia requer destreza e paciência. A manipulação dos cateteres semi-implantáveis requer conhecimentos suficientes para que seja um resultado satisfatório e sem complicações para os pacientes que estão sob os nossos cuidados. 1. 2. 3. 4. Albuquerque MP, Theophilo FJ. Cateter valvulado semiimplantável para tratamento quimioterápico de longa duração. Nova opção para utilização em quimioterapia venosa e arterial. Revista Brasileira Cancerologia 1984;54-56. Bonassa EMA. Enfermagem em quimioterapia. Rio de Janeiro: Atheneu; 1992. Heimbach DM, Tom DI. Technique for placement of a permanent home hyperalimentation catheter. Surgery, Gynecology & Obstetrics 1976. Cole JJ, Scribne BH. A Silicone rubber atrial catheter for prolonged parenteral alimentation. Surgery, Gynecology & Obstetrics 1973. ¡ artigo 03.pmd 120 30/04/03, 18:43 Enfermagem Brasil Março / Abril 2003;2(2) Revisão Processo saúde-doença no envelhecimento Health-disease process in aging Proceso salud-enfermedad en el hacerce viejo Elza Maria Pacheco Dias Assistente Social, Especialista em Saúde do Trabalhador e Gerontologia Social, Coordenadora da Política de Saúde do Idoso - Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre/RS, Professora de Políticas de Saúde do Curso de Pós - Graduação em Saúde Púbica da Faculdade Integrada São Camilo, RS Resumo O presente estudo trata de uma pesquisa bibliográfica dos aspectos gerais sobre a inserção do idoso na sociedade, com enfoque nas características epidemiológicas, demográficas, culturais e de vulnerabilidade social, além de estudos de morbidade e mortalidade realizados pela autora no Sistema Único de Saúde de Porto Alegre Palavras-chave: Idoso, serviços de saúde. Abstract This is a bibliographic research about general aspects of elderly people within our society. It focus on epidemiological, demographic, cultural and social vulnerability characteristics, besides studies of morbidity and mortality performed by the author in Health system of Porto Alegre. Key-words: Elderly, health services. Resumen El presente estudio trata de una pesquisa bibliográfica de los aspectos generales sobre la inserción de los ancianos en la sociedad, con enfoque en las características epidemiológicas, demográficas, culturales y vulnerabilidad social. Se incluyen además, estudios de la morbidad y mortalidad realizados por la autora en el Sistema Único de Salud de Porto Alegre. Palabras-clave: Ancianos, servicios de salud. Artigo recebido em 1 de março de 2003; aceito em 20 de março de 2003. Endereço para correspondência: Rua Euclides da Cunha, 120/27 Partenon 90620-210 Porto Alegre RS. Tel: (51) 3339 7283/9827 0564, E-mail: [email protected] artigo 04.pmd 121 30/04/03, 18:43 Enfermagem Brasil Março / Abril 2003;2(2) Introdução Tabela I - Dados populacionais População geral População idosa % Neste novo milênio o envelhecimento da população vem constituindo uma nova agenda não só para o sistema público, mas também para a sociedade em função das mudanças do perfil demográfico da população em vários países. Ano 1996 Brasil RS POA 157.071.163 9.634.688 1.285527 12.810.101 949.451 144.631 8,15 9,85 11,25 No Brasil, esta agenda foi contemplada pela Constituição Federal de 1988 que no art. 230 refere a família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantido-lhes o direito à vida. Regulamentada pela Lei 8842/94 que criou a Política Nacional do Idoso e pela Portaria 1395/99 do Ministério da Saúde que determina as diretrizes operacionais para implantação da Política de Saúde do Idoso nos municípios[1,2]. A evolução histórica do perfil demográfico brasileiro evidencia o crescimento gradual da população idosa decorrente dos avanços nas Ciências Humanas e na melhoria das condições de vida da área urbana, conforme Terra [3]; em 1900, os idosos representavam 3,2% da população geral; em 1960 eram 4,7% e 9% em 2000; levando o Brasil a ocupar o sexto lugar no mundo, com uma estimativa para o ano de 2025 de 32 milhões (15%) de pessoas com idade superior a 60 anos (OMS). Estudos realizados pelo IBGE-2000, demonstram que Porto Alegre destaca-se como uma das capitais do Brasil com a maior proporção de idosos representando 11,8% da população. É válido mencionar que somente em 56 comunidades de baixa renda, onde foi implantado o Programa de Saúde da Família, existem aproximadamente 10.000 idosos, correspondendo a 7% da população total de idosos.[4] Historicamente a forma como se comportam as faixas etárias da população no Brasil vêm alterando a representação da pirâmide populacional. Até 1960, todos os grupos etários apresentavam crescimento sob o mesmo parâmetro de igualdade, a partir desta década (60), o grupo dos idosos passou a liderar este crescimento. Nos países desenvolvidos, esta transição ocorreu lentamente com um intervalo de tempo aproximado de cem anos. É válido mencionar que o envelhecimento no Brasil é um fenômeno predominantemente urbano chegando a 82% da população; isto ocorre em função do movimento migratório provocado pela industrialização que propicia maior acesso aos serviços de saúde e saneamento. Fonte: IBGE - 1996. Ano 2000 População geral População idosa Brasil 169.799.170 14.536.029 8,56% RS 10.187.798 1.065.484 10,45% POA 1.360.590 160.541 11,08% Fonte: [4]. A expectativa de vida ao nascer, dos brasileiros vem crescendo substancialmente. Em 1900 era de 40 anos, em 1990 aumentou para 70 anos. A cidade de Porto Alegre vem acompanhando este crescimento, uma vez que a expectativa de vida da população no período de 1995 a 1997 atingiu 71,4 anos, considerada elevada para os padrões brasileiros. No entanto a diferença para expectativa de vida feminina e masculina é de 10 anos, atingindo 76,2 anos as mulheres e 66,2 os homens[5]. Breve diagnóstico da realidade do idoso da cidade de Porto Alegre Para realizarmos o diagnóstico das necessidades desta população consideramos as múltiplas variáveis, abrangendo questões sócio-econômicas, políticas, culturais, epidemiológicas e individuais. Em 1996, foi realizada uma pesquisa em Porto Alegre pelo Conselho Estadual do Idoso a qual constatou que 19% da população idosa nunca tinha freqüentado a escola e 30% tinha apenas o primário incompleto[5]. A mesma pesquisa demonstrou ainda que 10% da população idosa não possuía nenhum tipo de renda e 30% ganhava menos de um salário mínimo. Referiram como a principal despesa pessoal, a alimentação e medicamentos. No ano 2000, estudo realizado pela Pontifícia Universidade Católica em uma comunidade de baixa renda de Porto Alegre, demonstrou que 39% dos idosos nunca tinham freqüentado a escola e que 16% tinham apenas um ano de estudo[6]. Neste mesmo ano o IBGE divulgou que 6,2% dos idosos de Porto Alegre viviam em situação de pobreza e que 62,4% a única renda do núcleo familiar artigo 04.pmd 122 % 30/04/03, 18:43 Enfermagem Brasil Março / Abril 2003;2(2) eram seus vencimentos. Em relação aos idosos que vivem só e que são responsáveis pela sua manutenção, entre as principais capitais brasileiras (Rio de Janeiro, Curitiba, São Paulo, Florianópolis) Porto Alegre lidera com 27,01%. Além da transição demográfica mencionada anteriormente, existe ainda transição epidemiológica que tem alterado o perfil de morbimortalidade da população. As doenças infecto-contagiosas em 1950, apresentavam 40% das mortes registradas no País, enquanto que as doenças cardiovasculares, neste mesmo período, foram responsáveis por 12% dos óbitos. Atualmente a situação é inversa, são as doenças cardiovasculares que representam mais de 40% dos óbitos. A transição demográfica no Brasil exige, cada vez mais, novas estratégias visando responder a demanda de morbidades que exige tratamento de alto custo, com um perfil de idosos dependentes, de baixa renda, além da necessidade constante de ampliação e manutenção dos serviços de saúde. Em 2001, internaram-se nos hospitais do Sistema SUS de Porto Alegre 39.090 idosos representando 24,35% da população desta faixa etária (Tabela II). No entanto, devemos considerar que nestes hospitais também internam idosos oriundos de outros municípios. Em contraponto a este alto número de internações, estudos realizados no ano 2000, na Secretaria Municipal de Saúde-SMS de Porto Alegre, sobre o impacto da vacinação em idosos, demonstrou uma redução significativa nas internações decorrentes de problemas respiratórios[7]. Tabela II -Internações no Sistema SUS de Porto Alegre, de paciente s com idade superior a 60 anos Ano Número de internações % 1997* 33.155 22,9 1998* 31.407 21,7 1999 34.582 23,9 2000 39.698 24,7 2001 39.090 24,5 Fonte: [5] Entre os anos de 97-98*, observamos que houve uma redução no número das internações, apesar de não haver um estudo mais aprofundado sobre o assunto. Associamos o fato à implantação de programas tais como: de Vacinação, Prevenção de Doenças Respiratórias e principalmente em função de que neste período houve um grande crescimento dos Grupos de Convivências na maioria dos municípios do Estado do Rio Grande do Sul. Dentre as doenças predominantes aparece a demência que consiste nas alterações do raciocínio, como a perda da capacidade de abstração e a repetição contínua de idéias, primeiro a pessoa começa repetindo uma frase, com o tempo o idoso pode repetir apenas uma palavra tornando-se incapaz de formar uma frase inteira. Ainda existe o Mal de Alzheimer que é a doença que mais tem desafiado a medicina nos últimos anos, pois trata-se de uma doença neurológica degenerativa, lenta, progressiva, que apresenta uma crescente dificuldade para memorizar, decidir e agir, locomoverse, comunicar-se, alimentar-se. Ainda é valido mencionar que, 10% da população com mais de 65 anos, possui algum tipo de demência e 60% destes, possui Mal de Alzheimer. A doença de Mal de Parkison é uma patologia degenerativa do sistema nervoso central, doença limitante que provoca grandes estigmas principalmente devido aos tremores crescentes que provocam no paciente, dificultando a aceitação da família e amigos. A depressão é uma doença que ocorre em todas as faixas etárias. Percebemos que está freqüentemente associada às vivências próprias do idoso, como a baixa da auto-estima provocada pelas mudanças físicas, como rugas, gordura, cabelos brancos, musculatura hipotensa, falta de dentes, solidão advinda de separações ou viuvez, tristeza, desânimo, perturbações do sono, desinteresse pela vida, perda de apetite, somatização, dores físicas irritabilidade, dificuldade de concentração, isso tudo pode vir acompanhado do risco de suicídio [8,9]. As questões sociais, como falta de moradia, renda, perda da capacidade funcional, em geral contribuem para o desmoronamento da autoimagem, da altivez, autonomia, independência. O não ser mais capaz de provoca um profundo vazio e uma necessidade de reorganização dos referênciais, que nem sempre acontecem, provocando no indivíduo uma fragilidade psíquica muito grande. Os acidentes por quedas, também são um evento muito freqüente em idosos. Assim como as conseqüências podem ser leves ou graves, são inevitáveis, causando múltiplos problemas, desde a incapacidade de locomoção, como a perda da autoestima, o isolamento social, além do risco de adquirir pneumonias e trombose em função da falta de movimento físico. Estudos realizados no Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre indicam que, do geral dos acidentes por quedas, a maior prevalência é em pacientes com idade superior a 60 anos. Os fatores que determinam as quedas são diversos, porém, assim como estas podem ser causadas em função do simples desequilíbrio, também ! artigo 04.pmd 123 30/04/03, 18:43 Enfermagem Brasil Março / Abril 2003;2(2) podem ser decorrentes de múltiplas patologias, sendo que devemos considerar que em grande parte, as quedas estão associadas à inadequação de ambientes domésticos e públicos. Enquanto que nas outras faixas etárias são mais freqüentes pela exposição ao trânsito, no trabalho, na escola, outros. Com a idade diminui a habilidade do olho em responder à escuridão, ao sentar em um quarto escuro ou sair à noite; isto pode ser contornado com a iluminação adequada do ambiente. A catarata, doença relativamente freqüente, leva à intolerância `a claridade intensa e a um declínio na percepção de profundidade, espessura e altura. A perda progressiva da audição pode levar a quedas pela inabilidade em detectar sons atrás de si isto pode ser aliviado com o uso de próteses auditivas. Entre as doenças que podem facilitar as quedas, podemos citar a desidratação, hemorragia, osteoartrose, anemia e deformidades nos pés [3]. O estudo realizado pelo CEI-1996, Porto Alegre, citado anteriormente, demonstrou que 89% das mulheres e 82% dos homens de Porto Alegre possui algum tipo de agravo à sua saúde. Quanto às doenças predominantes aparecem as alterações visuais 80%, doenças reumáticas 60%, hipertensão arterial 60%, alteração na marcha e equilíbrio 50%, doenças cardíacas 40%, incontinência urinária 30%, alterações auditivas 30%, quedas 30%, bronquite 30%, sintomas depressivos 30%, diabetes 15%, colesterol 25%, fraturas 15%, derrame cerebral 11% e câncer 8%. No que se refere à institucionalização de idosos, é válido mencionar que as internações em asilos ou casa similares atualmente vêm sendo questionadas, inclusive nos países desenvolvidos, onde estes serviços são prestados com qualidade. Ao contrário dos países subdesenvolvidos em que o atendimento, além de ser precário, os programas de atenção social são aquém da demanda. Na área de saúde, a estratégia para reduzir os indicadores de agravos é criar uma estrutura para o atendimento domiciliar, uma vez que esta visa a reduzir a demanda da institucionalização. Em 2002, foi realizada uma pesquisa sobre o perfil epidemiológico dos idosos, institucionalizados em Porto Alegre. Verificou- se que as doenças degenerativas atingem 45% dos idoso (cardiovasculares, reumatismo, câncer). A diminuição da audição e da visão em 49% e os demais problemas em 6% dos idosos estudados. Além dos problemas de saúde referidos, 24% dos entrevistados são portadores de doenças mentais, tais como o Mal de Parkinson, Mal de Alzheimer e demência senil [10]. A pesquisa acima citada é uma leitura da capital gaúcha, porém sabe-se que esta é uma realidade enfrentada em muitos países do mundo. No entanto, o poder público parece pouco preocupado com o elevado índice de vulnerabilidade social. Com os avanços da saúde pública aparecem novos conceitos mais adequados para instrumentalizar e operacionalizar a atenção à saúde dos idosos. Ações preventivas assistenciais e de reabilitação buscam a melhoria da capacidade funcional ou, no mínimo, a sua manutenção e, sempre que possível, a recuperação, quando esta estiver comprometida. As implicações do processo de envelhecimento, em grande parte, estão associadas a manutenção da capacidade funcional que consiste em manter as habilidade físicas e mentais necessárias para uma vida independente e autônoma [2]. Para garantir a independência, por maior tempo possível, significa a preservação e a valorização da autonomia e da autodeterminação. No entanto devemos considerar que tanto as doenças físicas quanto as mentais poderão levar o indivíduo a perder sua capacidade funcional por conseqüência a dependência . Geralmente as doenças crônicas ocorrem em função da fragilidade orgânica, tendo na própria idade um grande fator de risco. Envelhecer sem nenhuma doença crônica é uma exceção. No entanto, a presença de uma doença crônica não significa que o idoso não possa gerir sua própria vida e encaminhar o seu diaa-dia de forma totalmente independente. Estudos populacionais revelam que cerca de 40% dos indivíduos com 60 anos ou mais, precisam de algum tipo de ajuda para realizar pelo menos uma tarefa do tipo: fazer compras, cuidar das finanças, preparar refeições e limpar a casa. Uma parcela menor, mas significativa, em torno de 10%, requer auxilio para, realizar tarefas básicas como tomar banho, vestirse, ir ao banheiro, sentar-se e levantar-se. É imprescindível que, na prestação de cuidados aos idosos, as famílias estejam devidamente orientadas, em relação à atividade de vida diária. Tanto a dependência física, quanto a mental, constituem fatores de risco significativo para a morbimortalidade [2]. Uma grande parte dos idosos possui condições para administrar sua vida, sem depender de ajuda de quem quer que seja. Segundo os mais modernos gerontólogos, este grupo possui autodeterminação sem a necessidade de recorrer à ajuda ou à supervisão, para o desenvolvimento de suas atividades. Processo de envelhecimento O Brasil ainda não deu o salto necessário no que se refere às condições de vida em que se encontram as pessoas idosas. Trata-se de uma realidade cientificamente pouco explorada. " artigo 04.pmd 124 30/04/03, 18:43 Enfermagem Brasil Março / Abril 2003;2(2) Estudiosos afirmam que a partir do próximo milênio a população brasileira vai ser predominantemente idosa. As autoridades governamentais estão começando a se preocupar com o problema, não em função da questão humana, mas sim em prol dos interesses econômicos, à medida que futuramente o desenvolvimento da sociedade vai depender também da força de trabalho deste grupo etário. Ao analisarmos, do ponto de vista do conjunto das demais políticas públicas, historicamente não houve preocupação social sobre a produção de conhecimento científico voltado para processo de envelhecimento, pois, o fato do Brasil possuir uma população predominantemente jovem contribuiu significativamente para o atraso dos estudos sobre o envelhecimento. No Brasil, os estudos iniciaram-se a partir de 1930, porém só avançaram após 1970, com objetivos voltados para descobrir uma forma de permanecer jovem. Mas, como os resultando das pesquisas não abriram expectativa para o rejuvenescimento, os estudos foram direcionados para a longevidade, buscando prolongar a expectativa de vida com qualidade. Velhice define-se como um processo dinâmico e progressivo onde as modificações tanto morfológicas como funcionais, bioquímicas e psicológicas determinam a perda progressiva da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidência de processos patológicos[3]. Geralmente a idade cronológica aparece associada ao afastamento do indivíduo das funções produtivas, isto é um tanto contraditório, pois esta relação não corresponde à realidade, à medida que o processo de envelhecimento varia consideravelmente entre os indivíduos e suas peculiaridades. Os estudos referem que em grande parte o processo de mutação biológica é que determina o estado de velhice, ou seja, o desgaste físico que os anos produzem nos indivíduos. Em coerência com este pensamento Salgado [10], cita duas etapas distintas do desenvolvimento humano: a do acréscimo e a do decréscimo. Para este autor, o processo do envelhecimento é demarcado a partir do nascimento, ou seja na fase do decréscimo. Durante o período em que o indivíduo encontra-se no útero materno, a do acréscimo adquire nutrientes para sua formação e fortificação; ao nascer passa a desenvolver um processo de mutação biológica de desgaste orgânico em função do simples contato com o meio ambiente. Conclusão Consideramos que uma parcela da população idosa possui acesso aos serviços de saúde, educação, habitação, alimentação, lazer e socialização etc, mas por outro lado existe outro grupo em situação de vulnerabilidade social em função das múltiplas dificuldades que enfrentam. Os idosos em situação de vulnerabilidade social requerem um olhar diferenciado para a situação de agravo social, sendo muito difícil entender como a sociedade acomoda, uma grande parcela da população idosa vivendo em condições subumanas. A fragilidade geralmente é resultado da classe social que a pertence. A adoção de hábitos saudáveis ao logo da vida, influencia na qualidade de vida das pessoas em idade avançada . É válido mencionar que o desenvolvimento social, político e econômico de uma sociedade está diretamente relacionado com as condições de vida da população. Visando melhorar a situação de vulnerabilidade social do idoso em nossa sociedade, faz-se necessário a união de esforços no sentido de mobilizar a sociedade, entidades públicas e privadas na busca planejada instrumentalizada e eficiente para a mudança do processo de mentalidade sobre o envelhecimento, bem como promover um trabalho interdisciplinar visando a democratização das ações voltadas para os idosos, com um olhar integral sobre o aspecto físico, mental e social. A linha de ação básica é promover o acesso aos serviços de atenção social aos idosos, como também contribuir significativamente para a socialização e a manutenção da sua autonomia, assegurando desta forma a qualidade de vida da população idosa Referências 1. 2. Brasil. Constituição Federativa do Brasil - 1998. Brasil. Portaria 1395 - Política Nacional de Saúde do idoso - MS.1999. 3. Terra NL. Envelhecimento com qualidade de vida Programa Geron 4. Brasil. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE - Porto Alegre 2000. 5. Relatórios de Indicadores Sociais PMPA/2000 6. PUCRS Porto Alegre: Edipuc; 2001. 7. Relatório do Comitê de Estudos para a Promoção á Saúde do Idoso - SMS /2001) 8. Zimermann G. Velhice - Aspectos Biopsicossociais. Porto Alegre: Artes Médicas Sul;2000. 9. Leger JM. Psicopatologia do Envelhecimento. Petrópolis:Vozes;1994. 10. Nery MES, Vazin AS. Perfil social e epidemiológico de gerontos internados em geriatrias na cidade de Porto Alegre RS. 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Resumo O presente trabalho tem por objetivo relatar o estudo de caso de um paciente vítima de acidente de trem internado em uma Unidade Terapia Intensiva de um hospital estadual localizado na cidade de Itapevi, onde permaneceu internado no período de 10/07/2002 a 25/ 07/2002. Para o alcance dos objetivos estabelecidos, desenvolvemos uma pesquisa descritiva do tipo estudo de caso e quantitativa. Durante a internação na UTI, o paciente foi submetido à escala de coma de Glasgow, durante o exame físico, para testar o nível de consciência para poder realizar a entrevista ou não. O instrumento de coleta de dados constou do exame físico, mas não foi possível realizar a entrevista, pois o paciente estava inconsciente. As informações referentes à coleta de dados foram registradas na folha de Sistematização da Assistência de Enfermagem utilizada na UTI. Foi realizado o levantando os Diagnósticos de Enfermagem, segundo Taxonomia l da NANDA (North American Diagnosis Association),em que foram encontrado 6 diagnósticos de enfermagem e 21 características definidoras. Através do trabalho, podemos concluir que aplicar o Processo de Enfermagem e Taxonomia NANDA em pacientes politraumatizado é tão viável como em qualquer outro tipo de paciente, desde que se disponha de tempo, conhecimento técnico e cientifico, de recurso profissional, de material e acima de tudo vontade da equipe envolvida em desenvolver o diagnóstico de enfermagem. Palavras-chave: Lesões craniocerebrais, diagnóstico de enfermagem. Artigo recebido em 15 de janeiro de 2003; aceito em 15 de março de 2003. Endereço para correspondência: Geraldo Magela Salomé, Av. Francisco de Paula Quintaninha Ribeiro, 280/134, bl.01, Jabaquara 04330-020 São Paulo SP, E-mail: [email protected] $ artigo 05.pmd 126 30/04/03, 18:43 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) Abstract The aim of this work was the study case of a patient victim of train accident interned in a Intensive Care Unit of a state hospital located in the city of Itapevi (São Paulo), raising the nursing diagnosis according to Taxonomy l of NANDA (North American Diagnosis Association), where had been found 6 nursing diagnosis e 21 defining parameters. Through this work we can conclude that the use of nursing process and taxonomy NANDA in poly-traumatized patients is so viable as in any another type of patient since we have time, technic and scientific knowledge, professional and material resource, and, above of all, team involved in developing the nursing diagnosis. Key-words: Brain injuries, nursing diagnosis. Resumen El objetivo del presente trabajo ha sido relatar el estudio de caso de un paciente víctima de accidente de tren internado en una Unidad de Terapia Intensiva de un hospital estatal ubicado en la ciudad de Itapevi (São Paulo), donde permaneció internado en el período de 10/07/2002 al 25/07/2002. Para alcanzar los objetivos establecidos, desarrollamos una pesquisa descriptiva del tipo de estudio de caso y cuantitativa. Durante la internación en la UTI, el paciente fue sometido a la escala de coma de Glasgow, durante el examen físico, para determinar el nivel de conciencia para poder realizar o no la entrevista. El instrumento de colecta de datos constó de examen físico, pero no fue posible realizar la entrevista, pues el paciente estaba inconsciente. Las informaciones referentes a la colecta de datos fueron registradas en la hoja de Sistematización de Asistencia de Enfermería utilizada en la UTI. Fue realizado un levantamiento de los Diagnósticos de Enfermería, según Taxonomía l de NANDA (North American Diagnosis Association), en el cual fueron encontrados 6 diagnósticos de enfermería y 21 características definidoras. A través del trabajo, podemos concluir que aplicar el Proceso de Enfermería y Taxonomía NANDA en pacientes politraumatizados, es tan viable como en cualquier otro tipo de paciente, desde que se disponga de tiempo, conocimiento técnico y científico, de recurso profesional, de material y, además de todo, voluntad del equipo comprometido en desarrollar el diagnóstico de enfermería. Palabras-clave: Traumatismos cerebrales, diagnóstico de enfermería. Introdução O homem sempre esteve sujeito a realização de diferentes atividades com implicação de risco físico. Em sua maior parte, estes perigos traduzem suas possibilidades de sofrer traumatismo [1]. Por outro lado, até o aparecimento da moderna cirurgia e da utilização dos raios X, as conseqüências dos traumatismos supunham, em quase todos os casos, a invalidez dos membros afetados, de fato, não se podia, muitas vezes, diferenciar entre a fratura ou uma luxação, aplicando-se o mesmo tratamento em ambas patologias. Os acidentes de trânsito de veículos a motor são uma causa comum de morbidade e invalidez, sendo apontado como a causa mais freqüente de morte em indivíduos entre 15 a 40 anos de idade, em quase todos os serviços de emergência dos grandes hospitais, representando entre 15 a 25% das internações. Constitui um grave problema de saúde pública. Isto se deve, principalmente, a maior utilização de veículos motorizados e ao aumento da industrialização [2]. A vítima que sofre um trauma deve ser considerada sempre um paciente de alto risco pelo desconhecimento imediato das lesões ocorridas e pela facilidade, podendo por breve período de tempo ter suas funções vitais deterioradas. O trauma pode resultar em enormes custos tanto para a pessoa, como para a sociedade. Principalmente nos casos em que ocorrem lesões com seqüelas irreversíveis, há que se ressaltar a possível alteração na qualidade de vida, dada a deficiência, limitações ou % artigo 05.pmd 127 30/04/03, 18:43 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) desvantagens que dificultam a realização das atividades da vida diária. Em vista disso, é imprescindível que os profissionais da área de saúde unam os esforços necessários ao atendimento destes clientes, para assistilos de modo efetivo e eficaz, em tempo hábil, de modo a prevenir e reduzir as complicações e com isso o paciente poderá assumir o seu papel na sociedade e no seu lar. A estatística demonstra que o paciente com trauma faz parte do dia-a-dia dos grandes hospitais, que possuem pronto atendimento, nas grandes cidades. Nos Estados Unidos, um cliente morre de Traumatismo Crânio-Encefálico (TCE) a cada 12 minutos e mais de 75% dos TCEs sérios são atribuídas às altas velocidades dos veículos nos acidentes com automotores, que causam traumatismo transacionais severos que resultam em lacerações do tecido cerebral [3]. Para Santos et al. [4], no Brasil o trauma crânio encefálico é uma das maiores causas de invalidez em indivíduos menores de 50 anos. O dano resulta de fratura do crânio ou de aceleração ou desaceleração rápida do cérebro, que lesa o tecido no local do impacto, ou na região oposta e difusamente ao longo dos lobos frontal e temporal. No Brasil, no ano de 1994 as causas externas ocuparam o terceiro lugar na mortalidade geral sendo superado apenas pelas doenças do aparelho circulatório e por sinais de afecções mal definidas. Os acidentes de trânsito foram responsáveis neste mesmo ano por 26.627 mortes, estando os nossos índices entre os mais elevados do mundo. Justificada a importância do assunto, percebemos a necessidade de que sejam elaboradas diretrizes para os enfermeiros que atuam em UTI, para que possam ajudar a avaliar, do ponto de vista da enfermagem as condições das vitimas de traumas e a iniciar as intervenções necessárias de forma rápida, eficiente, objetiva. Acredito que a sistematização da assistência pode contribuir para a melhora da qualidade da assistência de enfermagem ao paciente de vítima de trauma. Sabemos que o processo de enfermagem é um instrumento metodológico que tem assegurado a aplicabilidade na prática profissional dos referenciais teóricos próprios de enfermagem, os quais guiam decisões específicas sobre o que questionar e diagnosticar, como intervir e o que avaliar. No Brasil, a expressão diagnóstico de enfermagem foi introduzida por Wanda Horta, na década de 60, e constitui-se em uma das etapas do processo de enfermagem proposto por esta autora [2]. Atualmente, este tema tem sido objeto de discussão em vários eventos, visando melhorar compreensão e aplicação da Taxonomia I dos diagnósticos de enfermagem propostos pela Nanda (North American Nursing Diagnosis Association) [6]. Confor me Jesus [7], o diagnóstico de enfermagem tem sua evolução histórica marcada por mudanças em toda a forma de pensar e agir do enfermeiro e, atualmente, está caracterizada por ser um guia ao planejamento, implementação e avaliação da assistência de enfermagem. Um dos principais aspectos que tem contribuído para a sua aplicação é o fato de ter se originado, no bojo da prática de enfer magem e na necessidade de sistematizar a assistência prestada ao cliente, família, ou comunidade. Segundo Gordon [8], diagnósticos são códigos que se referem a um conjunto de sinais e sintomas que ocorrem como uma entidade clínica. O diagnóstico de enfermagem descreve problemas de saúde nos quais a responsabilidade para as decisões terapêuticas poderá ser assumida por um enfermeiro. Em geral esses problemas envolvem distúrbios potenciais ou atuais nos processos de vida, padrões, funções ou desenvolvimento, incluindo aqueles que ocorrem secundariamente a doença. Para Carpenito [9], o termo diagnóstico de enfermagem tem sido utilizado em três principais contextos: como a segunda etapa do processo de enfermagem, como rótulos para uma lista de diagnóstico e como parte de uma afirmação sobre a resposta do indivíduo ao problema de saúde. A definição de diagnóstico de enfermagem pela Nanda deve ser um julgamento clínico das respostas do individuo, família ou comunidade aos processos vitais ou aos problemas de saúde atuais ou potenciais, os quais fornecem a base para a seleção das intervenções de enfermagem, para atingir os resultados pelos quais o enfermeiro é responsável [6]. O diagnóstico de enfermagem é simplesmente, um ponto de apoio para a determinação de resultados e das intervenções do enfermeiro para atingí-lo, como também um ponto de apoio que deriva do levanta-mento e análise dos dados clínicos do cliente. Portanto, o diagnóstico só tem significado no contexto do processo de enfermagem como um elo entre o levantamento de dados e a determinação de objetivos e intervenções [10]. Já este diagnóstico de enfermagem propicia um mecanismo útil para estruturar o conhecimento de enfermagem e para definir um único papel para os profissionais. Nesse estudo, utilizamos a Taxonomia e a definição de Nanda, para diagnóstico de enfermagem. & artigo 05.pmd 128 30/04/03, 18:43 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) Este trabalho baseia-se nos princípios científicos que norteiam a Sistematização da Assistência de Enfermagem, na tentativa de dar autonomia e independência a enfermagem que tem como objetivo: identificar os diagnósticos de enfer magem e respectivas características definidoras mais freqüentes no paciente portador de politrauma, internado em uma UTI de acordo com Nanda. Metodologia Para o alcance dos objetivos estabelecidos, desenvolvemos uma pesquisa descritiva do tipo estudo de caso e quantitativa. O estudo descreve um paciente politraumatizado, vítima de atropelamento por trem, internado na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Sanatório de Itapevi, localizado na cidade de Itapevi. Permaneceu internado no período de 10\07\2002 a 25\07\2002. Durante a internação na UTI, o paciente foi submetido à escala de coma de Glasgow durante o exame físico, para testar o nível de consciência para poder realizar a entrevista ou não. O instrumento de coleta de dados constou do exame físico, entretanto não foi possível realizar a entrevista, pois o paciente estava inconsciente. As informações referentes à coleta de dados foram registradas na folha de Sistematização da Assistência de Enfermagem utilizada na UTI. Estudo de caso do paciente vítima de politrauma Ao dar entrada na UTI encontrava-se inconsciente com escala de Braden de 06 e Glasgow de 03, agitado, palidez cutânea, sonda nasogástrica aberta com grande quantidade de secreção biliosa, entubado em ventilação mecânica por Inter 5 em modo ventilatório de pressão controlada. Pressão de suporte de 39, freqüência cardíaca de 120 bat\mim, Fio2 de 50%, PEEP de 6, Po 2 e Pco 2 de 0, com saturação de 93%, freqüência respiratória de 20, pressão arterial de 60x33mmhg, verificada em MSE com o cliente em decúbito dorsal, temperatura axilar de 36º, suturas em região temporal, do sub cilio direito, da face lado direito, hematoma em joelho direito, hematoma em flanco direito, diurese por sonda vesical de demora, curativo ocluso em MMII, porém em MID tinha dreno de Penrose com presença em grande quantidade de secreção sanguinolenta. Foi realizada reposição volêmica com soro Ringer Lactado 1500ml, dopamina 5 ampola com soro fisiológico de 200ml infundindo 20ml\horas. Com 6 horas de internado na UTI, havendo melhora do estado do paciente, então foi realizado o seguinte exame: tomografia e RX de crânio e MMIISS onde se detectou fratura em região temporal do crânio. Hemograma, creatinina, uréia, Hb e Ht, potássio, sódio, com resultados normais, porém a gasometria com resultado de acidose metabólica, administrado 80 ml de bicarbonato de sódio a 8,4% por veia periférica em MSD com calibre 16. Número do registro hospitalar: 45501 Resultados G. A. R, 40 anos, masculino, casado, branco, desempregado, deu entrada no setor de emergência no dia 10 de julho de 2002, procedente da via pública. Vítima de atropelamento por trem com amputação traumática de membros inferiores e traumatismo craniano. Ao dar entrada no Pronto atendimento, o paciente foi encaminhado para o centro cirúrgico onde foi realizada limpeza cirúrgica, amputação do coto 1/3 médio distal da perna direita, 1/3 medial da coxa do membro inferior esquerda, realizada suturas dos ferimentos da face lado direito e sub cílio direito, e hematoma em joelho direito, o mesmo apresentou Parada Cardio-respiratório sendo realizada manobras cardio-respiratório com sucesso. O resultado apresentado levou-nos a identificar e a nomear o diagnóstico de enfermagem, indicando a seriedade dos problemas enfrentados pelo paciente com politrauma, vítima de acidente de trem. Foram encontrados os seguintes diagnósticos de enfermagem para o paciente com politrauma: 1 Troca de gases prejudicada O conceito diagnóstico troca de gases é definido pela Nanda[6], como excesso ou déficit na oxigenação ou eliminação de dióxido de carbono na membrana capilar. Foram encontradas 04 características definidoras. ' artigo 05.pmd 129 30/04/03, 18:43 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) Quadro 1 Características definidoras encontradas para a identificação do diagnóstico de enfermagem troca de gases prejudicada. Características definidoras - Taquicardia - Agitação - Gases sanguíneos arteriais anormais - PH anormal 2 - Incapacidade para manter ventilação espontânea É a incapacidade para manter a respiração espontânea. É o estado em que o individuo é incapaz de manter a respiração adequada para sustentação da vida [11, 12]. No quadro 2 são apresentados três características definidoras. Quadro 2 Características definidoras encontradas para a identificação do diagnóstico de enfermagem incapacidade para manter ventilação espontânea. Características definidoras - PO2 diminuída - Saturação diminuída - Freqüência cardíaca aumentada 3 - Risco para sspiração É o estado no qual o individuo apresenta o risco de entrada de secreções gastrointestinais, secreções orofaríngeas, sólidas ou líquidas na via traqueobrônquica [13]. Quadro 3 - Características definidoras encontradas para a identificação do diagnóstico de enfermagem risco para aspiração Características definidoras - Escala de Glasgow número 03 - Uso de sonda nasogástrica - Trauma facial 4 Risco para infecção Estado no qual o individuo está com risco de ser invadido por agente oportunista ou patogênico de fontes externas, endógenas ou exógenas [9]. Muitos pacientes que sobrevivem a traumatismos graves podem, no entanto, vir a falecer em função de septicemia, a segunda causa de morte em paciente póstrauma [3]. Quadro 4 - Características definidoras encontradas para a identificação do diagnóstico de enfermagem risco para infecção. Características definidoras - Laceração de tecidos em região frontal e MMIIs Uso de sonda nasogástrica Uso de sonda vesical de demora Trauma facial Punção venosa em membro superior esquerdo Entubação 05 - Integridade da pele prejudicada Segundo Sparks et al. [14], estado no qual o individuo apresenta perda da integridade da pele. Quadro 5 - Características definidoras encontradas para a identificação do diagnóstico de enfermagem integridade da pele prejudicada. Características definidoras - Ruptura da superfície cutânea - Destruição das camadas da pele - Hematoma 06 - Integridade tissular prejudicada Paciente apresenta lesão das mucosas ou córneas, da pele ou dos tecidos subcutâneos. As lesões provocadas durante o atropelamento foram as mais variadas. Encontramos lesões do tipo lacerações, cortes profundos, fraturas abertas e hematomas. Quadro 6 - Características definidoras encontrados para a identificação do diagnóstico de enfermagem integridade tissular prejudicadas. Características Definidoras - Hematoma facial Ferimento na região ocular direita (sutura) Edema em MMMIs Fratura de crânio Laceração de tecidos em região dos MMIIs Discussão Os enfermeiros devem utilizar um método cientifico de trabalho. O diagnóstico de enfermagem ! artigo 05.pmd 130 30/04/03, 18:43 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) proporciona o desenvolvimento da enfermagem como arte e ciência, conferindo cientificidade a um modelo que tem raízes no funcionalismo. Quando optamos pela utilização do Processo de Enfermagem e da Taxonomia de Nanda conseguimos verificar como torna-se eficiente a assistência de enfermagem, pois estes mostram-se verdadeiros indicadores de objetivos e condutas a serem estabelecidos e são facilitadores do cuidado a ser prestado a cada um dos pacientes [15]. Segundo Rocha [16], o atendimento sistematizado tem como objetivo evitar um alto índice de óbito e seqüelas graves. É por isso que cada vez mais as equipes estão preparando protocolos de atendimento e trabalhos em equipe multidisciplinar. Frente à realidade que estamos vivenciando no Brasil, é fundamental que desenvolvam serviços de atendimentos eficazes em analisar a cena do acidente observando os mecanismos que produziram o trauma. Desta forma é possível detectar precocemente as lesões e o tratamento das vitimas. Segundo Oliveira et al. [17] um atendimento préhospitalar e hospitalar correto e a tempo reduz o número de óbitos em 20 a 50%, além de diminuir expressivamente as seqüelas temporárias ou definitivas. É importante que os enfermeiros realizem o diagnóstico de enfermagem nos pacientes vítimas de trauma pois, através deste poderemos elaborar a intervenção e a prescrição de enfermagem. Este procedimento deve ser realizado com base cientifica e é responsabilidade do enfermeiro. Através deste procedimento estaremos fortalecendo e desenvolvendo os nossos conhecimentos e prestando um assistência de enfermagem com qualidade e acima de tudo humanizada. Portanto aplicar o Processo de Enfermagem e Taxonomia Nanda em pacientes politraumatizado é tão viável, como em qualquer outro tipo de paciente, desde que se disponha de tempo, conhecimento técnico e cientifico, recurso profissional, material e acima de tudo vontade da equipe envolvida em desenvolver o diagnóstico de enfermagem. 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São Paulo: Atheneu; 2001. p.305. ¡ ! artigo 05.pmd 131 30/04/03, 18:43 Enfermagem Brasil Março / Abril 2003;2(2) Resumos de Trabalhos *Ana Paula de Assis Sales da Silva, *Maria Angélica Marcheti Barbosa, **Danilo Bertoloto dos Anjos, **Jannayna Hammoud Brandão, **Liliane Bastos Magalhães de Almeida *Docentes do Curso de Enfermagem da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal, **Acadêmicos do Curso de Enfermagem da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal Endereço para correspondência: Ana Paula de Assis Sales da Silva, Rua Luís Ceciliano Vilares, 402 Monte Líbano 79004-280 Campo Grande MS, Tel: (67) 384-1887, E-mail: [email protected] Ações educativas em saúde: relato de experiência dos acadêmicos de enfermagem da universidade para o desenvolvimento do estado e da região do pantanal Introdução: Relato de experiência de atividade desenvolvida dentro de um projeto de extensão universitária da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal por meio do Curso de Enfermagem em convênio com a Cooperativa dos Agentes Recicladores Vida Nova no Município de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Objetivos: Contribuir para o desenvolvimento de ações educativas em saúde; instrumentalizar o aluno nas práticas pedagógicas oportunizando o planejamento, execução, ação e avaliação das mesmas, construindo uma visão crítica reflexiva; conhecer e contribuir com a Cooperativa dos Recicladores suprindo a demanda solicitada de ações educativas em saúde. Material e métodos: O estudo é de natureza exploratória e descritiva, desenvolvido em duas fases distintas no segundo semestre de 2002. Na primeira fase foi realizado um encontro entre os 30 cooperados que estavam ativos na época do projeto, 30 acadêmicos do 2o e 3o semestres do curso enfermagem, dois acadêmicos do 4o semestre do curso de fisioterapia e a professora responsável pelo projeto de extensão. O primeiro momento teve a intenção de determinar as ações educativas que seriam realizadas. Determinados os temas e calendário de atividades, os acadêmicos tiveram a liberdade em optar pela metodologia a ser colocada em ação. Em uma segunda fase, foram realizadas as ações educativas em encontros semanais durante oito segundas-feiras entre outubro e dezembro. Os temas abordados foram: diagnóstico precoce de câncer de mama e colo uterino; imunização infantil, desnutrição e doenças respiratórias; doenças do trabalho: lesão por esforço repetitivo e doença osteomuscular relacionada ao trabalho; reaproveitamento de alimentos; diagnóstico precoce de câncer de próstata; direitos reprodutivos; qualidade de vida e saúde mental. Resultados e discussão: Ao final do semestre letivo, realizou-se avaliação sobre o nível de satisfação dos cooperados com a proposta desenvolvida pelos acadêmicos e satisfação do acadêmico com a realização da atividade. Os resultados mostraram que o acadêmico ao ser instigado a realizar ações educativas em saúde, tendo a liberdade de desvelar-se, sente-se estimulado a refletir e ser sujeito do seu aprendizado, podendo assim, despertar uma consciência crítica reflexiva contribuindo para o conhecimento da profissão por meio de um compromisso social e político com a comunidade. Percebemos que as ações entre cooperados e acadêmicos revelou-se em um compartilhar de conhecimentos. ! resumos.pmd 132 30/04/03, 18:43 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) Normas de publicação Enfermagem Brasil A revista Enfermagem Brasil é uma publicação com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à Enfermagem. Os artigos publicados em Enfermagem Brasil poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições. A revista Enfermagem Brasil assume o estilo Vancouver (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals, N Engl J Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são resumidas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2001. Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/ e-mail) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. 1. Editorial Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um de seus membros. Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman) com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências. 2. Artigos originais São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados originais de descobertas com relaçaõ a aspectos experimentais ou observacionbais de característica médica, bioquímica e social, e inclui análise descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes itens: Introdução, Métodos, Resultados, Discussão e Conclusão. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/Word. Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em PowerPoint, Excel, etc. Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bibliográficas. Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, interesse profissional, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. 3. Revisão São trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à Enfermagem, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais. 4. Atualização ou divulgação São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre tema de interesse dos profissionais de Enfermagem (novas técnicas, legislação, por exemplo) e que têm características distintas de um artigo de revisão. 5. Relato de caso São artigos de representan dados descritivos de um ou mais casos explorando um método ou problema através de exemplo. Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal. 6. Comunicação breve Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power Point, Excel, etc Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências bibliográficas. 5. Resumos Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas. 6. Correspondência Esta seção publicará correspondência recebida, sem que necessariamente haja relação com artigos publicados, porém relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras. PREPARAÇÃO DO ORIGINAL 1. Normas gerais 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word, Wordperfect, etc), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto, !! Normas de publicação + Eventos.pmd 133 30/04/03, 18:43 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma. 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com qualidade ótima (qualidade gráfica 300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e o espanhol e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, zipdrive, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor, incluir informação dos arquivos, tais como o processador de texto utilizado e outros programas e sistemas. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português, inglês e espanhol. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e E-mail. - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3. Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words) Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol. O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavraschave (ou unitermos) para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes. 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas: Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto. Exemplo: 1. Phillips SJ. Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78. Artigos Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al. Exemplo: Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: Jean-Louis Peytavin Atlantica Editora Rua da Lapa, 180/1103 - Lapa 20021-180 Rio de Janeiro RJ Tel: (21) 2221 4164 E-mail: [email protected] !" Normas de publicação + Eventos.pmd 134 30/04/03, 18:43 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) Calendário de eventos 2003 maio 14 a 17 de maio de 2003 XII Encontro de Provedores, Diretores e Administradores Hospitalares de Santas Casas e Entidades Filantrópicas do Estado de São Paulo XII Mostra de Materiais, Equipamentos e Serviços Hospitalares VI Encontro de Saúde Mental Mendes Convention Center Santos SP Informações: www.fesehf.org.br/eventos Tel: (11)3242-8111 24 a 27 de maio de 2003 Vo Congresso Nacional da Rede Unida, Io Fórum Nacional de Redes em Saúde e IIo Mostra Paranaense de Produção em Saúde da Família Informações: (43) 324.2340 e-mail [email protected] http://www.redeunida.org.br 25 a 27 de julho de 2003 8o Congresso brasileiro multiprofissional e multidisclinar em diabetes UNIP, Av Marques de São Vicente, 3001 São Paulo Informações: ANAD www.anad.org.br Tel: (11) 5549 6704/6559 29 de julho a 2 de agosto de 2003 VIIo Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva ABRASCO Campus da Universidade de Brasília (UnB), Brasília DF Informações: [email protected] 7 a 9 de agosto de 2003 XII Congresso da Sociedade Brasileira de Hipertensão Piramîde Palace Hotel, Natal RN Tel: (84) 234 6175 E-mail: [email protected] setembro junho 10 a 13 de junho de 2003 Hospitalar 2003 10º Feira Internacional de Produtos, Equipamentos, Serviços e Tecnologia para Hospitais, Laboratórios, Clínicas e Consultórios Expo Center Norte -São Paulo SP Informações: (11) 3897-6199 www.hospitalar.com julho 1º Congresso Nordestino de Conselhos de Enfermagem Informações: Tel: (83) 221-8758 E-mail: [email protected] 8 a 12 de setembro de 2003 6o CBCENF Congresso Brasileiro dos Conselhos de Enfermagem Florianópolis SC Informações: www.cbcenf.com.br novembro 13 a 18 de julho de 2003 Educação, ciência e tecnologia para a inclusão social 55º Reunião Anual da SBPC Sociedade para o Progresso da Ciência Universidade Federal de Pernambuco Recife PE E-mail: [email protected] 10 a 15 de novembro de 2003 55º CBEn - Congresso Brasileiro de Enfermagem 11º CPEn Congreso Panamericano de enfermería Informações: ABEn Rio de Janeiro Av. Presidente Vargas 590/418, 20071-000 Rio de Janeiro RJ Tel: (21) 2263 5471/2516 9496 E-mail: [email protected] !# Normas de publicação + Eventos.pmd 135 30/04/03, 18:43 EnfermagemBrasil Enfermagem Brasil Março / Abril 2003;2(2) Índice Volume 2 número 3 - Maio / Junho de 2003 E DITORIAL A arte de saber comunicar-se, Maria da Graça Piva .................................................................................... 137 A RTIGOS ORIGINAIS Infecção hospitalar: conhecimento dos acadêmicos de enfermagem, Viviane Guimarães Gomes, Roberta Marques de Aguiar, Monique de Almeida Hingel, Rita Batista Santos .......................................... 141 O uso do floral rescue remedy em um grupo de estudantes sob estresse, Aspásia Basile Gesteira Souza, Agnesa Confuorto, Anna Elisa T. Oliveira, Suzane Oliveira .................. 150 As expectativas do acompanhante em unidade pediátrica sobre o papel do enfermeiro, Aspásia Basile Gesteira Souza, Heloísa R Dias, Luciana Rezende, Michele Mota ...................................... 155 Comunicando com o corpo do cuidado a partir das emoções: acadêmicos de enfermagem testam sua prática, Ronilson Gonçalves Rocha, Priscila de Castro Handem, Nébia Maria Almeida de Figueiredo ................................................................. 161 Preparo do corpo pela equipe de enfermagem (reflexões a partir de objetos pessoais que identificam um ser humano), Maria Aparecida de Luca Nascimento, Adriana Santos Mello, Rogê de Oliveira Candido, Sabrina Santos da Silva .......................................................................................... 167 Sentimentos dos pacientes enfartados durante o período de internação em uma UTI, Geraldo Magela Salomé, Cleide Aparecida Guerra .......................................................................................... 171 REVISÃO Alterações oculares na hanseníase, Thaís Evangelista Fernandes Brito .................................................. 177 AT UA L I Z A Ç Ã O Fitoterapia na comunidade: realidade ou ficção? Maria da Graça Piva .............................................. 182 PUBLICAÇÕES .......................................................................................................... 187 NORMAS DE PUBLICAÇÃO................................................................................... 188 CALENDÁRIO DE EVENTOS .................................................................................. 191 Os assinantes receberão com a edição de julho/agosto o cd-rom da coleção completa da revista Diabetes Clínica (anos 1997-2002) !% sumario+indice.pmd 137 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) EDITOR CIENTÍFICO - PRESIDENTE DO CONSELHO CIENTÍFICO (2003-2004) Profa. Dra. Maria da Graça Piva (ULBRA -RS) EDITORIALISTA Gilberto Linhares Teixeira CONSELHO CIENTÍFICO Prof. Dr. Carlos Bezerra de Lima (UFPB Paraíba) Profa. Dra. Clarice Heiko Muramatsu (USP São Paulo) a a Prof . Dr . Margarete Rego (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) Profa. Dra. Maria Helena da Silva Nery (UFRGS Rio Grande do Sul) Profa. Dra. Rita Batista Santos (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) Profa. Dra. Rita de Cássia Tapié Martins (USP São Paulo) Prof. Dr. Sérgio Ribeiro dos Santos (UFPB Paraíba) Profa. Dra. Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler (FAMERP São José do Rio Preto São Paulo) GRUPO DE ASSESSORES Profa Ms. Andréia Saccol Lourenço (Escola Técnica de Enfermagem São Francisco Rio Grande do Sul) Profa Ms. Dóris Maria Volquind (Clínica de Florais de RAFF Rio Grande do Sul) Profa Ms. Dulce Dirclair Huf (UFMS Mato Grosso do Sul) a Prof Ms. Gisele Cristina Tertuliano (Secretária Municipal de Saúde de Cachoerinha Rio Grande do Sul) Profa Ms. Hortência Maria de Santana (COREN Sergipe) a Prof Ms. Louize Maria Holtz Santos de Oliveira (COFEN Sergipe) Profa Ms. Sonia Maria Ponciano dos Santos (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) Profa. Ms. Almerinda Moreira (Escola de Enfermagem Alfredo Pinto UniRio Rio de Janeiro) Rio de Janeiro Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 - Rio de Janeiro - RJ Tel/Fax: (21) 2221-4164 / 2517-2749 e-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br São Paulo Praça Ramos Azevedo, 206/1910 01037-010 - São Paulo - SP Tel: (11) 3362-2097 Assinaturas 6 números ao ano 1ano: R$ 108,00 Rio de Janeiro: (21) 2221-4164 Representante de Assinatura: A.Shalon (11) 3361-5595 Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Editor assistente Bárbara de Assis Jorge Publicidade e marketing René Caldeira Delpy Jr. Editoração e arte Andréa Vichi Gerente comercial Stevenson Gusmão [email protected] tel. (21) 9174-5322 Atendimento ao assinante Ingrid Haig Redação e administração (Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço) Jean-Louis Peytavin Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 - Rio de Janeiro - RJ Tel/Fax: (21) 2221-4164 [email protected] Publicidade e marketing Rio de Janeiro René C. Delpy Jr [email protected] (21) 2221-4164 São Paulo Cynthia Breviglieri [email protected] (11) 3362-2097 Atlântica Editora edita as revistas Diabetes Clínica, Fisioterapia Brasil e Nutrição Brasil. Ilustração da capa: Ilustração da capa: Anônimo, Baraquiel, séc. XVII, óleo sobre tela, (164 x 115 cm), Igreja de Calamarca, La Paz I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. !& sumario+indice.pmd 138 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) EDITORIAL A arte de saber comunicar-se Maria da Graça Piva Editor científico O homem é essencialmente um ser social, um ser-com-os-outros. A sua necessidade de comunicar-se surgiu com a formação dos primeiros grupos sociais quando o homem já discursava, registrando seus pensamentos nas paredes das cavernas. Na vida com os outros, o ser humano constrói seu mundo de experiências, de vivências, de conhecimentos. Ele se comunica e isto ele o faz através de determinados códigos. Segundo especialistas, dois terços da comunicação cotidiana entre os homens ocorrem sem que eles recorram às palavras; o terço restante utiliza a linguagem verbal, ou seja, a forma de comunicação que se manifesta através delas. Vivendo numa dinâmica de dar e receber, o homem usa a palavra, fruto de uma atividade mental superior e criadora, como a ponte que o liga ao outro, constituindo a mesma uma das características humanas especiais. A linguagem é, portanto, um instrumento de comunicação cuja utilidade encontra-se na maior ou menor capacidade de proporcionar um entendimento, uma compreensão. Esta última só resultará plena quando, os que dialogam, souberem visualizar o horizonte da existência, da cultura, do conhecimento e terem sensibilidade de escutar a linguagem mútua. A linguagem escrita tem a capacidade de superar o tempo e o espaço, porém, na atualidade, a língua falada vem, pouco a pouco, ocupando um lugar de maior prestígio. Escrever, para muitos, é lutar inutilmente contra as palavras que parecem nunca atingir plenamente os objetivos pretendidos, por isso a língua escrita supõe uma preparação prévia que a torne mais organizada e precisa, embora menos espontânea. Escrever bem não é somente fazê-lo de forma gramaticalmente correta, ou de forma culta e elaborada. Escrever bem é fazê-lo de forma adequada à situação em que o ato de comunicação vai-se realizar, seguindo uma estratégia conveniente. E como se consegue escrever bem? Dizem que só se aprende a escrever bem escrevendo. E ler muito e de forma proveitosa com certeza enriquece indiretamente a experiência humana e amplia a capacidade vocabular. Julien Green escreveu um dia que o pensamento voa e as palavras andam a pé. Deve ser por isso que dentro da rotina da enfermagem temos um exemplo que expressa esta afirmativa: os enfermeiros observam muito e escrevem pouco. Se os profissionais de enfermagem, durante o exercício de suas funções, dessem-se conta da importância da comunicação clara e precisa, colocar-se-iam a salvo de situações constrangedoras. Quantos têm sofrido processos !' sumario+indice.pmd 139 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Março / Abril 2003;2(2) éticos por falta de registro de determinadas ocorrências que, presentes no seu pensamento, não foram traduzidas em palavras escritas nas evoluções! Como esta dádiva maravilhosa que o homem recebeu de Deus, que é a de poder comunicar-se, tem sido desperdiçada!... A rotina, a técnica, a sobrecarga de atribuições, a falta de tempo e outras tantas constatações da vida profissional do enfermeiro fazem com que ele pense: já faço tanto, por que ainda me dizem que devo escrever mais? E a resposta é uma só: fomos feitos para crescer; a singularidade de cada um de nós orienta as escolhas que fazemos: parar ou aperfeiçoar? Se é tão importante saber comunicar-se bem, por que não aperfeiçoar nossa maneira de escrever, por que não transformar esta linguagem técnico-teórica de que somos privilegiados possuidores, em palavras que, escritas, traduzam correta e detalhadamente ocorrências das quais poderão depender a preservação de uma vida que a nós foi confiada profissionalmente. Escrever e, principalmente, escrever bem exige a formação de hábitos de aprendizagem capazes de produzir estratégias de comunicação adequadas às circunstâncias destes hábitos. Como já dissemos, é o hábito da leitura que ajuda a pensar, a estruturar o raciocínio, a entender o universo em que se vive. No campo específico da escrita, a leitura contribui para aumentar o vocabulário e fixar a forma das palavras. Segundo Richard Steele, a leitura é para a mente o que o exercício é para o corpo. Se dela advém o aumento de nosso vocabulário, vamos procurar usá-la como um instrumento que nos torne cada vez mais dignos de nossa condição de homens. Para tanto existe a revista Enfermagem Brasil. Usem e abusem desse espaço. Registrem suas descobertas e dividam com todos o teu saber. " sumario+indice.pmd 140 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) Artigo original Infecção hospitalar: conhecimento dos acadêmicos de enfermagem Hospital Infection: nursing students knowledge Infección hospitalaria: conocimiento de los académicos de graduación en enfermería Viviane Guimarães Gomes*, Roberta Marques de Aguiar*, Monique de Almeida Hingel*, Rita Batista Santos** *Aluna do 6o período do Curso de Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Enfermeira, Professora Adjunto do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro Resumo Trata-se de um estudo exploratório acerca do conhecimento dos alunos do 6º período do curso de graduação em enfermagem sobre medidas de prevenção e controle das infecções hospitalares, relacionando-os com as técnicas e práticas necessárias para sua prevenção e controle. Os objetivos foram: identificar os conhecimentos dos alunos sobre infecção hospitalar, discutir as medidas de prevenção, controle e transmissão de infecção hospitalar e relacionar o conteúdo teórico daqueles alunos com a sua aplicação na assistência nos cenários de prática do estágio supervisionado. A coleta de dados ocorreu de maio a junho de 2001. O instrumento para coleta de dados foi um questionário com perguntas abertas e fechadas, que as próprias estudantes preencheram, compreendendo um conjunto de questões, logicamente relacionadas com a transmissão, prevenção e controle das infecções hospitalares. Onze (11) acadêmicas responderam ao questionário, apontando as mãos como o principal veículo de propagação das infecções hospitalares e o uso de antibióticos como principal tratamento para bactérias multirresistentes, apesar de terem encontrado dificuldades em responder algumas questões como o que se entende por precaução padrão e uso adequado do alcoolgel. Palavras-chave: Infecção hospitalar, educação em enfermagem. Artigo recebido em 15 de dezembro de 2002; aceito em 15 de maio de 2003. Endereço para correspondência: Viviane Guimarães Gomes, Alojamento Universitário, 303B, Cidade Universitária, Ilha do Fundão 21949-900 Rio de Janeiro RJ, E-mail: [email protected] " artigo 08.pmd 141 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) Abstract This is an exploratory study concerning nursing students knowledge about prevention and control of hospital infections and relation between this knowledge and techniques or practices for prevention and control of this kind of infection. The objectives were to identify the knowledge of nursing students about hospital infection, argue measures of prevention, control and transmission of this kind of infection and link the theorical knowledge with assistential work during supervised training period. The data collection occurred on 2001 May to June. The data collection instrument was a questionnaire with opened and closed questions, performed by students, including a questions set logically related to transmission, prevention and control of hospital infections. 11 students answered to the questionnaire, pointing hands as main propagation vehicle of hospital infections and antibiotics use as main treatment of resistant bacteria, in spite of difficulties to answer questions about standard precautions and adequate use of alcoolgel. Key-words: Hospital infection, education nursing. Resumen Es un estudio exploratorio referente al conocimiento de los alumnos del 6to. período del curso de graduación en enfermería, sobre las técnicas y prácticas necesarias para la prevención y control de las infecciones hospitalarias, de forma más detallada y estructurada. Los objetivos fueron: identificar los conocimientos sobre la infección hospitalaria, discutir las medidas de prevención, control y transmisión de este tipo de infección y relacionar el contenido teórico de los alumnos del 6to período de graduación en enfermería con su aplicación en la practica del aprendizaje supervisado. La colecta de datos ocurrió de mayo a junio de 2001. El instrumento para la colecta de datos era un cuestionario con preguntas abiertas y cerradas, que el propio estudiante realizó, comprendiendo un conjunto de cuestiones lógicamente relacionadas con la transmisión, la prevención y el control de las infecciones hospitalarias. Once (11) académicas respondieron al cuestionario, apuntaron para las manos como el principal vehículo de propagación de las infecciones hospitalarias y el uso de los antibióticos como principal tratamiento para las bacterias multiresistentes, a pesar de haber encontrado dificultad en responder algunas cuestiones como lo que se entiende por precaución padrón y uso adecuado del gel de alcohol. Palabras-clave: Infección hospitalaria, educación en enfermería. Introdução Nos cenários de prática de estágio supervisionado nos deparamos com um surto infeccioso causado por bactérias gram negativas multirresistentes na Unidade Pediátrica de Internação (UPI) de um Instituto de Puericultura e Pediatria de uma universidade pública. No Setor de Doenças Infecto-Parasitárias de um hospital da mesma universidade verificamos a contradição entre a onipotência do discurso sobre as medidas de prevenção e controle da infecção hospitalar e a inoperância da prática e técnica desenvolvidas para tal entre os alunos do 6º período de graduação em enfermagem, principalmente em relação a como agir dentro e fora do ambiente hospitalar frente a situações que requerem a utilização dessas medidas. Martins [1], define as infecções hospitalares (IH) ou infecções nosocomiais como infecções adquiridas no hospital que não são manifestas ou estão fora do período de incubação no ato da admissão, a menos que estejam relacionados à internação prévia no mesmo hospital. Já Zanon [2], considera-as um conjunto de patologias mal classificadas com pouca coisa em comum, exceto a condição de incidirem em pacientes hospitalizados. A enfermeira Florence Nightingale, em 1856, padronizou os procedimentos de cuidado de enfermagem, dando ênfase às questões de higiene e limpeza no hospital Joseph Lister e em 1876 e 1882 publicou dois trabalhos sobre antissepsia e assepsia e introduziu conceitos de cirurgia asséptica, provocando uma substancial redução nas IH. Segundo Veronesi [3], é necessário ampliar os " artigo 08.pmd 142 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) programas de orientação para prevenção e controle das infecções hospitalares, quando se trabalha com profissionais de saúde que se consideram carentes de conceitos básicos. Acrescenta que são fundamentais programas de educação continuada. Um outro caminho apontado pelo autor é a incorporação da disciplina de epidemiologia hospitalar nos currículos dos cursos de formação de profissionais de saúde. Define epidemiologia hospitalar como uma disciplina que estuda a freqüência, distribuição, fatores de risco e agentes etiológicos das infecções hospitalares, além do desenvolvimento de qualidade nas instituições de saúde. O problema, ou seja, a nossa inquietação é saber qual o conhecimento das alunas do 6º período de graduação em enfermagem sobre infecção hospitalar e como correlacionam os conhecimentos teóricos, com a sua aplicação na prática da assistência de enfermagem naqueles cenários de estágio supervisionado. Por conseguinte, nosso objeto de estudo é o conhecimento das acadêmicas sobre infecção hospitalar, visto que essas estão em contato inicial com situações que requerem o conhecimento e a observação de medidas de controle e prevenção das infecções hospitalares. Para captar as questões necessárias à investigação do objeto e problema do estudo, elaboramos os seguintes objetivos: identificar os conhecimentos das acadêmicas do 6o período do curso de graduação em enfermagem sobre infecção hospitalar; discutir as medidas de prevenção e controle da infecção hospitalar, assim como os meios de transmissão; relacionar o conteúdo teórico das informações sobre infecção hospitalar, com a aplicação na sua prevenção e controle naqueles cenários de prática. A finalidade do estudo é discutir a necessidade de integração do conteúdo de epidemiologia hospitalar no curso de graduação em enfermagem, reforçando a necessidade e preocupação das acadêmicas quanto a sua aplicação na assistência de enfermagem hospitalar. Essa idéia é discutida por Veronesi [3] que a estende aos outros cursos envolvidos na assistência à saúde nesse âmbito tais como medicina, fisioterapia, administração hospitalar, entre outros. Metodologia Os cenários de estudo foram os setores de DIP/ HUCFF e UPI/IPPMG, supondo que os alunos de graduação em enfermagem têm um conhecimento prévio sobre prevenção e controle de infecções hospitalares para exercerem suas atividades práticas. O universo do estudo consistiu nos 66 alunos do 6o período do curso de graduação em enfermagem de uma Universidade Federal e a amostra deste estudo foram os alunos que estavam passando por aqueles setores, no momento da coleta de dados. A coleta de dados ocorreu de maio a junho de 2001. Para a elaboração do instrumento foram reunidos documentos que fazem parte da fundamentação teórica desse estudo, a saber: Portaria 930 do Ministério da Saúde [4], que trata das normas para prevenção e controle das infecções hospitalares; a Resolução no 196/96 do Conselho Nacional de Saúde [4], que trata dos critérios para pesquisa em seres humanos; e o currículo mínimo de um curso de graduação em enfermagem desses alunos, além do levantamento bibliográfico sobre infecções hospitalares. O instrumento para coleta de dados (Anexo I) foi um questionário com perguntas abertas e fechadas, que o próprio aluno preencheu, compreendendo um conjunto de questões, logicamente relacionadas com a transmissão, prevenção e controle das infecções hospitalares e que permitem alcançar os objetivos desse estudo com melhor exatidão. Estabelecemos o conjunto de categorias e optamos pelos princípios definidos por Selltiz apud Minayo [5], em que o conjunto de categorias deve ser estabelecido a partir de um princípio de classificação, devendo ser exaustivo (permitindo inclusão de qualquer resposta numa das categorias do conjunto) e que uma resposta não pode ser incluída em mais de duas categorias, ou seja, são mutuamente exclusivas. O critério utilizado para avaliação dos acadêmicos será uma escala de cores, que corresponderá ao amarelo, laranja e vermelho conforme as respostas dadas em relação a cada categoria estabelecida para infecção hospitalar. A representação do amarelo será dada para as respostas erradas, o laranja foi utilizado para as respostas incompletas e o ver melho para as respostas corretas. A escolha das cores ocorreu através da variação de tonalidade que elas possuem. O amarelo, por possuir uma tonalidade menos intensa representa, neste estudo, pouco conhecimento; o vermelho com uma tonalidade mais vibrante e intensa representa um grande conhecimento do aluno a respeito do assunto proposto e o laranja, por ser uma cor intermediária entre o vermelho e o amarelo representará um nível médio de conhecimento. As perguntas abertas e fechadas foram comparadas para análise dos resultados. As perguntas abertas corresponderam ao conhecimento teórico do acadêmico e as perguntas fechadas à prática no estágio supervisionado, por este motivo as perguntas abertas "! artigo 08.pmd 143 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) e fechadas foram comparadas a fim de alcançar o terceiro objetivo desse estudo. Os resultados foram organizados em tabelas, em que as palavras citadas nas frases das alunas foram classificadas e analisadas em relação ao seu significado no contexto das técnicas e procedimentos para controle e prevenção da infecção hospitalar. Para discuti-los foram observados os conceitos de infecção hospitalar e seu ensino no currículo de graduação em enfermagem. Os resultados do estudo foram apresentados como requisito de avaliação do Programa Curricular Interdepartamental em que as alunas estavam inseridas e sob a forma de pôster na Jornada de Iniciação Científica da Universidade. Resultados Análise e discussão Foram entrevistadas 11 acadêmicas de enfermagem com idade entre 21 e 22 anos As experiências extracurriculares das acadêmicas distribuíram-se entre estágio acadêmico bolsista em Hospital Militar e em Hospital Municipal, auxiliar de enfermagem e extensão universitária. Das acadêmicas entrevistadas 7 não possuem nenhum tipo de atividade extracurricular. As mãos foram o principal veículo de propagação das infecções hospitalares (tabela I), segundo a opinião das 11 acadêmicas de enfermagem. Estudos de microorganismos cultivados a partir das mãos de profissionais de saúde provam que a lavagem das mãos é o procedimento mais importante na prevenção de infecções hospitalares. Este procedimento simples pode reduzir em muito a disseminação de patógenos de um paciente a outro. A remoção mecânica de microorganismos esfregando-se toda a superfície das mãos ensaboadas, por pelo menos 10 segundos, e enxaguando-as sob água corrente e limpa antes e após o contato com cada paciente geralmente é suficiente. A interrupção do ciclo de infecção é efetuada principalmente na etapa de transmissão, porque os fatores do hospedeiro e dos agentes são mais difíceis de serem controlados e portanto se faz necessário que os profissionais da saúde conscientizem-se da importância e dos benefícios da lavagem das mãos. No plano corporal o uso das mãos significa apanhar, agarrar, possuir habilidades manuais e ter capacidade de expressão: Então o uso das mãos como principal veículo de propagação de infecções hospitalares também evidencia uma atitude de interesse diante da vida de todos envolvidos. A mão pode atuar de modo inumano, demoníaco, desleal e suspeito, tornando esse cuidado simples como uma fonte de desconfiança na prática das precauções padrão. É importante reconhecer que o domínio do conhecimento das mãos como principal veículo de propagação das infecções hospitalares vislumbra a intenção de manter a vida, a saúde e o bem estar, uma atitude de compromisso, de aprendizado que conduz a recuperação satisfatória dos clientes hospitalizados sob seus cuidados, como descrito no depoimento abaixo: A propagação das infecções hospitalares se dá através de mãos contaminadas dos profissionais de saúde, principalmente dos acompanhantes ou qualquer pessoa que manipule o paciente. Pode se dar também através de objetos contaminados, e de técnicas que deveriam ser realizadas assepticamente e não são. A administração de antibióticos (tabela II) foi o principal tratamento escolhido para bactérias multirresistentes na opinião das 11 acadêmicas de enfermagem. Em todas as áreas da saúde, a prevenção deveria ser priorizada em vez de simplesmente tratar os pacientes portadores de infecções causadas por bactérias multirresistentes. Para isso fazem-se necessários alguns cuidados como: evitar o uso indiscriminado de antibióticos, utilizar dosagens Tabela I Distribuição das respostas das 11 acadêmicas segundo as formas de propagação das infecções hospitalares, Rio de Janeiro, 2001. Formas de propagação das infecções hospitalares Respostas Mãos 10 Direto 5 Acadêmico, objetos* 4 Pessoa, profissional-cliente, indireto, paciente-cliente* 3 Assepsia, ustensílios, acompanhantes, equipamentos* 2 Paciente, orientação, higiene, materiais, precauções, ar, gotículas e contato 1 *cada uma "" artigo 08.pmd 144 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) Tabela II Distribuição das respostas das 11 acadêmicas a respeito do tratamento utilizado para bactérias multirresistentes, Rio de Janeiro, 2001. Tratamento para bactérias multirresistentes Respostas Administrar antibiótico 5 Amplo espectro 3 Não responderam, cipro, bactéria* 2 Identificar bactéria, horários certos, dias certos, tempo certo, tratamento, última geração, não sei, imipinem, descolonização, paciente, EPI* *cada uma suficientemente altas de antibiótico apropriado para debelar rapidamente a infecção, usar antibióticos de eficiência comprovada, entre outros. Para prevenir casos de propagação de infecções hospitalares, geralmente em conseqüência do uso inadequado de antibióticos, esses também são poderosas armas contra tal problema, se bem utilizados. De acordo com as respostas das 11 acadêmicas (tabela III), o uso de luvas é o principal meio de precaução padrão, porém sabemos que a lavagem das mãos é prioritária em relação ao uso de luvas. O uso de luvas não substitui a lavagem das mãos, porque as luvas podem ter pequenos orifícios inaparentes, podem rasgar-se durante o uso e, além disso, as mãos podem tornar-se contaminadas durantes a retirada das mesmas. De acordo com Potter [6] as precauções padrão são aquelas que se aplicam a sangue, fluídos corporais, excreções, pele não intacta e membranas mucosas. As mãos são lavadas entre os contatos diretos e/ou indiretos da enfermeira com o paciente ou outros, e após a luva ser retirada. No plano corporal, o cuidado no contato com sangue e fluídos corporais, significa medo ou pouca disposição para o seu cumprimento. Afloram sentimentos de medo fundamental, uma perda da força vital, um esforço ou sobrecarga inconsciente e permanente, em que ocorre uma busca contínua de purificação do corpo a partir do contato com os poros da pele e com a perda pelo fluxo sanguíneo. As luvas evitam a transmissão de patógenos pelo contato direto e indireto e os enfermeiros devem 1 utilizar luvas quando em risco de exposição ao material infectado. O uso de luvas na liturgia católica e o de luvas brancas na maçônica simbolizam a pureza. A luva evita o contato direto e imprudente com a matéria impura. Pele significa simbolicamente uma fronteira (externa), fixação de limite, intermediar contato e ternura, respiração (de pele). Serve como escudo de proteção, para constituir camada isolante, o que para a alma vem a se configurar como prisão: sentir na própria pele e estar na pele de; contato: intermediar o calor e o dar-se humanos, toque; percepção: tato, comunicar; expressão: espelho do mundo interior da alma, ficar vermelho de vergonha, como indicador de reações e evoluções psíquicas; por a pele em risco (por assumir determinada posição), ser/estar sensível. Para abordar a importância do uso correto de luvas entre as acadêmicas sugere-se alertá-las para o próprio medo do contato com sangue e fluídos corporais e da consciência do incômodo que esse cuidado inclui, ou seja, o contato com sangue, mucosas e fluidos corporais como veículo de doença. O sangue simboliza todos os valores solidários com o fogo, o calor e a vida que tenham relação com o sol. O sangue é universalmente considerado o veículo da vida, o princípio da geração. Corresponde ainda ao calor vital e corporal, em oposição à luz, que corresponde ao sopro e ao espírito. A mucosa tem significado simbólico de capa protetora, fronteira interna, segundo limiar para o interior: barreira entre o exterior interno e para o Tabela III Distribuição das respostas das 11 acadêmicas conforme seus conhecimentos sobre precaução padrão, Rio de Janeiro, 2001. Precaução padrão Luva Sangue, todos os pacientes* Respostas 5 4 Fluidos corporais Descartex, mucosas, doença, proteger, precauções universais* Cuidados básicos, álcool 70%, cliente colonizado, equipamentos únicos, prevenção, 3 2 controle, infecção, lavagem das mãos, pele não intacta, não reencapar agulhas.* *cada uma 1 "# artigo 08.pmd 145 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) Tabela IV Distribuição das respostas das 11 acadêmicas de enfermagem a respeito de seus conhecimentos sobre precauções por contato, Rio de Janeiro, 2001. Precauções por contato Respostas Capote 9 Luvas 8 Paciente, precauções* 6 Contato 5 Profissional 3 Isolamento, acadêmico, prevenir contaminação, doente, contato direto 2 Cliente colonizado, utensílios, EPI, pessoas, não entendi, microorganismo, assistência, medidas de controle, pele, instrumentos, contato indireto, lavagem das mãos 1 * cada uma mundo efetivamente interno; membrana de recepção; o muco como símbolo de abundância. A doença é considerada um processo mórbido, que se acompanha de um certo número de manifestações constantes ou não, tendo uma etiologia, uma patogenia, uma patologia e uma terapêutica mais ou menos definida e que pode evoluir rapidamente ou lentamente e prolongada. No plano corporal, o organismo inteiro pode ser afetado por uma infecção [7]. Proteger o paciente da infecção e da doença significa ajudá-lo, auxiliá-lo, preservá-lo do mal, defendê-lo, socorrê-lo, ter no seu cuidado o interesse de favorecê-lo e beneficiá-lo na sua saúde. A maioria das acadêmicas respondeu que o capote é o principal meio de proteção do paciente nas precauções por contato (tabela IV). De acordo com Potter [6], a razão básica para o encapotamento é prevenir que as roupas sejam sujas durante o contato com o paciente, protegendo assim a equipe de saúde e os visitantes do contato com material infectado, com o sangue ou fluído corporal. Os capotes são usados para prevenir à contaminação das roupas e para proteger a pele do pessoal de saúde contra sangue e líquidos corpóreos, devendo ser usados durante os cuidados com os pacientes infectados com microorganismos epidemiologicamente importantes; para reduzir também a transmissão dos patógenos para outros pacientes ou superfícies. Quando os capotes são usados para este propósito devem ser removidos logo após o uso e as mãos devem ser lavadas. Contudo não temos dados disponíveis relacionados à eficácia do uso do capote para este propósito As luvas foram o segundo item mais relatado entre as precauções padrão. São usadas nos hospitais para fornecer uma barreira protetora, prevenir a contaminação grosseira das mãos com sangue e fluídos corporais, reduzir a possibilidade de transmissão de microorganismos das mãos do pessoal de saúde para os pacientes durante a realização de procedimentos invasivos ou outros cuidados que envolvam a manipulação de mucosas ou pele não íntegra e também devem ser usadas para reduzir a possibilidade de transmissão de microorganismos de um paciente para outro, através do profissional de saúde. Nestas situações deve-se trocar as luvas entre o contato com os pacientes e Tabela V Distribuição das respostas das 11 acadêmicas de enfermagem a respeito de seus conhecimentos sobre precauções com o ar, Rio de Janeiro, 2001. Precauções com o ar Respostas Paciente 7 Máscara bico de pato, Precauções 6 Quarto de isolamento 5 Microorganismo transmitido pelo ar 4 Máscara 3 * Evitar contaminação, Movimentação do paciente utilizando máscara cirúrgica, 2 Máscara cirúrgica, Partículas leves que ficam suspensas no ar* Profissional, EPI, Filtrar o ar, Evitar infecção, Não entendi, Patologia, Assistência, Gotículas suspensas no ar são inaladas, Contato* 1 *cada uma "$ artigo 08.pmd 146 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) Tabela VI Distribuição das respostas das 11 acadêmicas de enfermagem a respeito de seus conhecimentos sobre precauções com gotículas, Rio de Janeiro, 2001. Precauções com gotículas Respostas Máscara cirúrgica 8 Paciente em isolamento respiratório 6 Precaução 4 Gotículas expelidas pela tosse, fala e aspiração, Contato 3 Contato próximo ao cliente, Assistência 2 Profissional, Fômites dos doentes, Contato direto, Contaminação, na movimentação utilizar máscara cirúrgica, Máscara N95, Não entendi, Patologia, Microorganismo, Gotículas inaladas *cada uma lavar as mãos antes e após o uso das mesmas. O uso de luvas implica a lavagem das mãos antes e depois de seu uso (ver tabela III). Então, a maiorias das acadêmicas deram uma resposta incompleta acerca desse tipo de prevenção, já que o correto seria a lavagem das mãos, o uso de luvas e o uso de capotes para lidar com os pacientes que requerem esse tipo de prevenção. A máscara bico de pato e o termo paciente foram os principais elementos que as acadêmicas de enfermagem relacionaram a precaução por ar (tabela V). As máscaras devem ser utilizadas quando um jato de sangue ou um fluido corporal em direção à face pode ser previsto. Além disso, a máscara protege o enfermeiro da inalação de microorganismos provenientes do trato respiratório do cliente e evita a transmissão de patógenos do trato respiratório para o enfermeiro para o cliente. A máscara bico de pato protege contra núcleos de perdigotos de pequenas partículas que permanecem suspensos no ar e percorrem longas distâncias. As máscaras podem evitar a transmissão da infecção pelo contato direto com membranas mucosas. O termo paciente é definido como pessoas designadas, conformada, que espera serenamente um 1 resultado. Pessoa que padece doente ou que está sob cuidado médico. O elemento ar é simbolicamente associado ao vento. Representa o mundo sutil intermediário entre o céu e a terra, o mundo da expansão que, é insuflado pelo sopro necessário a subsistência dos seres. O elemento ar é um símbolo sensível da vida invisível, um móbil universal e um purificador. Na tabela VI, a máscara cirúrgica foi o principal elemento citado no que se refere precaução por gotículas. Máscara cirúrgica é definida como peça retangular de pano ou de outro material destinado a cobrir boca e nariz de médicos e pessoal de enfermagem nas salas de operação, salas de tratamento intensivo, berçário e etc. A máscara cirúrgica geralmente é usada pelo pessoal de saúde para se proteger contra a disseminação de gotículas infectantes que são transmitidas pelo contato íntimo ou uma curta distância (menor que 1 metro) do paciente infectado que está tossindo ou espirrando. Sobre o alcoolgel (tabela VII) cabe salientar que este se caracteriza por ser o álcool que existe em combinação com os ácidos orgânicos sob a forma de gorduras. É um líquido límpido, incolor, espesso, de gosto adocicado. Dissolve muitas substâncias, tem Tabela VII Distribuição das respostas das 11 acadêmicas de enfermagem a respeito de seus conhecimentos sobre a utilização do alcoogel, Rio de Janeiro, 2001. Utilização do alcoolgel Reajustes Pode ser usado antes da verificação dos sinais vitais nas mãos do examinador 11 Pode ser usado para higienizar as mãos antes da troca de fraldas 9 Pode ser um método alternativo para higienizar as mãos, por exemplo, na sala de vacinações de um posto de saúde 8 Pode ser utilizado para higienizar as mãos antes de punção venosa em veia periférica 3 Pode ser usado para higienizar as mãos antes de punção venosa em veia profunda, pode substituir a degermação das mãos* 1 Foi desenvolvido para ser prático, podendo ser utilizado na antissepsia do local a ser puncionado 1 "% artigo 08.pmd 147 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) a qualidade de absorver água, e diminui a congestão das zonas que entra em contato. Conclusão O estudo apontou os principais meios de transmissão, prevenção, controle da infecção hospitalar (assunto que ainda não estava claro para as alunas), além de fornecer em sua revisão de literatura informações a respeito da infecção hospitalar, esclarecendo o saber de enfermagem sobre o assunto. As acadêmicas, que responderam ao questionário, possuem um bom conhecimento teórico quando apontaram as mãos como o principal veículo de propagação das infecções hospitalares e o uso de antibióticos como principal tratamento para bactérias multirresistentes, apesar de terem encontrado dificuldades em responder a algumas questões como o que se entende por precaução padrão e uso adequado do alcoolgel. O estudo foi importante, porque a partir de seu resultado final, pode-se fazer um auto-questionamento acerca da construção do saber da enfermagem sobre infecção hospitalar, contribuindo para a qualidade da assistência prestada. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Martins MA. Manual de infecções hospitalares. prevenção e controle. Rio de Janeiro: Medsi; 1993. Zanon U, Neves J. Infecções hospitalares: prevenção, diagnóstico e tratamento. Rio de Janeiro: Medsi; 1987. Veronesi R. Tratado de infectologia. São Paulo: Atheneu; 1997. Brasil - Ministério da Saúde. Portaria 930 e Resolução 196. Brasília: Centro de Documentação do MS/ DOU; 1992. Minayo MSS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo/ Rio de Janeiro: Abrasco; 1992. Potter PAP, Perry AG. Fundamentos de Enfermagem: conceitos, processos e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1999. Dahlke R. A doença como símbolo: pequena enciclopédia de psicossomática. São Paulo;1993. ¡ "& artigo 08.pmd 148 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) Anexo I Universidade Federal do Rio de Janeiro Centro de Ciências da Saúde Escola de Enfermagem Anna Nery Programa Curricular Interdepartamental VIII Cuidados de Enfermagem a Clientes Hospitalizados II Instrumento de coleta de dados Questionário Nome: Idade: Sexo: Possui experiência profissional extracurricular? Qual? Comente as forma de propagação das Infecções Hospitalares (IHs)e como um acadêmico pode facilitá-la. Comente o tratamento para bactérias multirresistentes. O que você entende por precauções padrão? Discuta sobre precauções por contato: Discuta sobre precauções por ar: Discuta sobre precauções por gotículas: Assinale quais as alternativas são corretas na utilização do álcool 70% glicerinado (álcoolgel): ( ) Pode ser usado antes da verificação dos sinais vitais nas mãos do examinador. ( ) Pode ser usado para higienizar as mãos antes da troca de fraldas. ( ) Pode substituir a degermação das mãos. ( ) Pode ser usado para higienizar as mãos antes de punção venosa em veia periférica. ( ) Pode ser usado para higienizar as mãos antes de punção venosa em veia profunda. ( )Pode ser um método alternativo para higienizar as mãos, por exemplo, na sala de vacinações de um posto de saúde. ( ) Foi desenvolvido para ser prático, podendo ser utilizado na antissepsia do local a ser puncionado. "' artigo 08.pmd 149 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) Artigo original O uso do floral rescue remedy em um grupo de estudantes sob estresse Use of floral rescue remedy in a group of students on stress El uso del floral rescue remedy em un grupo de estudiantes bajo estrés Aspásia Basile Gesteira Souza*, Agnesa Confuorto**, Anna Elisa T. Oliveira**, Suzane Oliveira** *Mestre em Enfermagem, Professora das Disciplinas de Semiologia e Semiotécnica da Universidade Cidade de São Paulo (UNICID) e Saúde da Criança, Faculdade Santa Marcelina (FASM), **Graduandas da Faculdade de Enfermagem, UNICID. Resumo Este estudo teve como objetivo verificar a eficácia do Floral de Bach Rescue Remedy, em graduandos de Enfermagem que estavam em situação de estresse antes da realização de uma avaliação. Optou-se por uma pesquisa quantitativa, exploratória, com 22 estudantes participantes, que responderam a um formulário com quatro questões antes e após a administração do floral. A maioria (64%) da população estudada relatou alterações em seu estado emocional, como: calma, tranqüilidade, leveza, sonolência e preguiça. Porém parte da amostra (36%) não referiu percepção de mudança em seu comportamento. Palavras-chave: Enfermagem, terapias naturais, terapias alternativas. Abstract This aim of this study was to verify the efficiency of Bach Floral Rescue Remedy in students of Nursing who were living a situation of stress before the period of school evaluations. An exploratory quantitative research was carried out with 22 students who answered a questionary with four questions before and after the floral (prescription) administration. The majority, 64% of the population investigated, reported alterations in their emotional state, such as placidness, tranquility, lightness, drowsiness and laziness. However, part of the sample, 36%, did not express the perception of change in their behavior. Key-words: Nursing, natural therapy, alternative therapy. Artigo recebido em 21 de dezembro de 2002; aceito em 15 de maio de 2003 Endereço para correspondência: Aspásia Basile Gesteira Souza, Rua Cesáreo Galeno, 448-6º andar, bloco alfa Tatuapé 03071-000 São Paulo SP, Tel: (11) 61901341, E-mail: [email protected] # artigo 05.pmd 150 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) Resumen Este estudio tuvo como objetivo verificar la eficacia del Floral de Bach Rescue Remedy, en alumnos graduados de Enfermería que estaban en situación de estres antes de la realización de una evaluación. Se optó por una investigación cuantitativa, exploratoria, con 22 alumnos participantes, que respondieron a un formulario con cuatro preguntas antes y después de la administración del floral. La mayoría (64%) de la población estudiada relató alteraciones en su estado emocional, como: calma, tranquilidad, luminosidad, somnolencia y pereza. Sin embargo, parte de la muestra (36%) no detectó señal de cambio en su comportamiento. Palabras-chave: Enfermería, terapias naturales, terapias alternativas, cuidado de enfermería. Introdução Nas últimas décadas, as terapias ditas alternativas vêm ganhando espaço no processo pela busca da cura, em que se evidencia o olhar holístico sobre o homem, percebendo-o como um conjunto de corpo, alma e psique. Recentemente a medicina tradicional reconheceu práticas como a homeopatia e acupuntura. O uso de agentes fitoterápicos vem sendo visto como de grande utilidade no tratamento de doença e sintomas, especialmente nas populações nas quais o acesso a fármacos torna-se restrito. A história das essências florais teve início com Dr. Edward Bach, na Inglaterra. Em 1917, já formado em medicina, descobriu que estava com câncer; nessa época uniu-se à homeopatia, encantado pelos trabalhos de Hahnemann, que afirmava: O paciente é o fator mais importante na cura de si mesmo [1]. Com o passar do tempo, o Dr. Bach começou a discordar do processo homeopático, no qual o agente agressor passa a ser o curador, acreditando que seria necessário buscar na natureza um antídoto positivo para reverter o padrão negativo, originado do estado psicológico e não do estado físico do indivíduo, acreditando ser este um estágio à frente da homeopatia. De acordo com Brennan [2], há um campo de energia em torno das pessoas, e é este campo que fornece uma estrutura da matriz energética sobre a qual crescem as células, o que se torna importante para a compreensão dos processos de saúde e doença, pois como o corpo físico surge a partir do campo energético, qualquer desequilíbrio ou distorção neste campo de energia poderia provocar doenças no corpo físico que ele rege. Da mesma forma, a cura das distorções no campo energético produziria cura no corpo físico [2]. Para Bach [3], as essências florais mostram o caminho a tomar para trabalhar os elementos internos, ajudando a superar os padrões psicológicos habituais e as formas de pensamento negativas que cristalizamos em nosso interior. A terapia floral tem uma compreensão clara e abrangente do homem e do significado da doença, pois o ser humano possui diferentes corpos, entre os quais o físico, denso e perceptível e outros mais sutis, dos quais emanam pensamentos e emoções, onde atuariam as essências de Bach [4] . Em 1928, Bach começou a desenvolver seu novo trabalho surgindo, assim, suas três primeiras essências florais: Mimulus, Impatiens e Clematis, através de sua pesquisa pelos campos e depois testando em si próprio os efeitos das mesmas experimentando, então, os padrões emocionais para os quais elas teriam indicação, para depois administrar em seus pacientes [5]. Em 1930, deixou a Inglaterra e foi para o País de Gales, onde viveu no campo, em meio à natureza, procurando novas essências que pudessem atuar sobre outros estados da psique. Foi dessa maneira que ele descreveu suas doze primeiras essências, que atuavam em estados emocionais diferentes [6]. Ainda na década de 30, desenvolveu um trabalho utilizando a flor em preparos energéticos e o seu uso sob a forma de essência, que são preparados a partir de uma infusão solar de flores silvestres em uma vasilha com água, que é posteriormente diluída, potencializada e conservada em conhaque. Como não tem nenhum componente ativo em sua formulação, a essência não provocaria reação direta sobre a bioquímica do corpo. Entretanto, por causa da energia vital proveniente das flores, que vibram em freqüências mais sutis, quando o ser humano entra em contato com a essência floral, os padrões vibratórios seriam então absorvidos pelo corpo físico, reequilibrando-o onde houve desarmonia [7]. Bach elaborou sete essências auxiliares e, em 1935, descreveu mais dezenove, complementando, então, as trinta e oito essências conhecidas até hoje. Bach faleceu, em 1936, dormindo depois de realizar o que desejara: encontrar um sistema de cura simples, fácil de ser compreendido e que atuava no interior e no estado mental do indivíduo [8], classificando suas 38 essências em sete grupos de atuação: # artigo 05.pmd 151 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) Para o medo: Rock Rose, Mimulus, Cherry Plum, Aspen e Red Chestnut. Para a incerteza Cerato, Scleranthus, Gentian, Gorse, Hornbeam e Wild Oat. Para a falta de interesse pelas circunstâncias atuais: Clematis, Honeysuckle, Wild Rose, Olive, White Chestnut, Mustard e Chestnut Bud. Para a solidão: Water Violet, Impatiens e Heather. Para as pessoas demasiadas e suscetíveis a influências e idéias: Agrimony, Centaury, Walnut e Holly. Para o desânimo ou para o desespero: Larch, Pine, Elm, Sweet Chesnut, Star of Bethlehem, Willow, Oak e Crab Apple. Para a preocupação excessiva com o bem-estar dos outros: Chicory, Vervain, Vine, Beech e Rock Water (sendo esta última a única essência que não é de flor, mas água). Uma vez estabelecidos o diagnóstico da doença e do paciente (identificação dos medicamentos florais correspondentes), começa a etapa da prescrição. Quanto mais profundamente se conhecer o caso, menor será o número de medicamentos utilizados [9]. Os sintomas a serem considerados para a prescrição floral são os conscientes para o paciente e os manifestados por ele. É então uma tarefa de pesquisa muito delicada que o profissional deverá exercer diante de cada paciente. A dose de floral que Bach aconselhava é de 4 gotas, mesmo que haja profissionais que prescrevam maior número, sendo a freqüência mais comum de 4 vezes ao dia. Após desaparecidos todos os sintomas, convêm continuar o tratamento durante mais 30 ou 60 dias [3,5]. A compreensão dessa linguagem vibracional só não foi ainda melhor esquadrinhada pela ciência moderna, porque temos baseado a validação dessa experiência partindo de conceitos de saúde, cura e doença, que precisam ser revistos através de novas referências e novos padrões. Cada gota de essência floral contém a configuração completa do arquétipo da planta e cada planta representa diferentes níveis de consciência expressos na terra. As essências florais não têm significado bioquímico e não apresentam contraindicações. A ação dos florais, por sua natureza vibracional, dá-se como um catalisador do processo de cura, e não na supressão ou controle dos sintomas. Eles tratam a pessoa e não a doença, aliando a essência floral à situação específica do indivíduo, ativando nossa imensa e inata capacidade de cura. Para o preparo das essências florais é utilizada a flor da planta, pois é na floração que as quantidades máximas da natureza juntam-se à forma e substância da planta. Dentre os vários florais, escolhemos o Rescue Remedy, devido a sua ação e resultados imediatos, trazendo benefícios em momentos de grande estresse e angústia, focos de nossa atenção. Segundo Bach, o Rescue Remedy é um composto floral desenvolvido para situações de emergência e para os primeiros socorros. É utilizado quando se está sob forte tensão física, psíquica ou emocional. Deve ser tomado após um acidente, antes de ir ao dentista, fazer uma prova, após a perda de um ente querido, etc. Os componentes do floral Rescue Remedy são: Star of Bethlehem: trauma e entorpecimento Rock Rose:terror e pânico Impatiens: irritabilidade e tensão Cherry Plum: medo de perder o controle Clematis: tendência a desmaiar, que precedem a inconsciência A terapia com Rescue Remedy não deve tornarse uma forma rotineira de medicação, não servindo de compensação a um estilo de vida que ameace destruir a personalidade através da falta de bom senso ou medidas incapazes de superar as dificuldades. Usa-se externamente, em compressas, emplastros, queimaduras, picadas, inchaços ou pancadas, etc. O uso de Rescue Remedy não substitui a busca de socorro médico de urgência ou medidas para controle do estresse, mas pode ser utilizado como terapia complementar naquelas situações [10]. Percebemos a importância do tratamento do indivíduo e não da doença, buscando novos caminhos para uma prática cuidativa realmente holística. Assim, vemos na terapia com Florais de Bach, uma possibilidade para este cuidar, integrando diversas terapias, alternativas ou não, que visem, sobretudo, ações efetivas e abrangentes que contemplem as diversas faces do processo saúde/doença. Objetivo Este estudo foi elaborado com o seguinte objetivo: Verificar a eficácia do floral Rescue Remedy em um grupo de alunos sob estresse físico e emocional. Material e Método Tipo de estudo Este estudo utilizou o método quantitativo, para atingir seus objetivos. Este recurso metodológico é apropriado para este tipo de pesquisa pela necessidade de mensurar os dados, quantificando-se. É exploratório por reportar-se ao fenômeno estudado de maneira fiel, sem manipulação [11,12]. # artigo 05.pmd 152 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) Local de estudo Esta pesquisa foi realizada em uma instituição de ensino superior, privada, situada no município de São Paulo. Gráfico 1 - Demonstrativo do número de estudantes que referiram estar em situação de estresse. São Paulo, 2001. População e amostra Participaram deste estudo 22 graduandos do 2º ano de Enfermagem. A escolha dos participantes ocorreu aleatoriamente após exposição do objetivo do estudo, em que os interessados manifestaram interesse em participar. Foi estabelecido como critérios para participação no estudo: considerar-se em situação de desconforto emocional, estresse ou tensão e concordância em participar da pesquisa. Coleta de dados O procedimento de coleta deu-se após encaminhamento do resumo do projeto de pesquisa para avaliação e autorização da direção da instituição, em dia pré-agendado, em que os alunos estariam realizando avaliação formal de uma das disciplinas, no mês de setembro de 2001. Para a anuência dos participantes elaborou-se o Termo de Consentimento informado acompanhado de um texto com esclarecimentos sobre a terapia floral utilizando o Rescue Remedy e garantia do anonimato. Uma das autoras fez curso de iniciação em terapia com florais de Bach, terapeuta floral, com formação em psicologia, sendo consultada para certificação de dose e procedimentos técnicos. Para coleta de dados desta investigação optamos por formulário, com 4 perguntas abertas, sendo que as questões 1 e 2 deveriam ser respondidas antes da administração do floral Rescue Remedy com caracterização do estado emocional/psíquico percebido pelos entrevistados e as questões 3 e 4 em até 1 hora após, contendo informações sobre percepção de mudanças no comportamento. Tratamento dos dados Os dados analisados foram apresentados sob forma de gráficos e tabelas, com números relativos e absolutos. Resultados Após coleta e análise dos dados obtivemos os seguintes resultados que serão apresentados a seguir. Como podemos observar no gráfico 1 do total de participantes da pesquisa, 22 graduandos (100%) referiram estar em situação de estresse ou tensão emocional, condição para participar do estudo com o Rescue Remedy. Para Battison [13] e Baccaro [14], estresse é um termo usado para descrever os sintomas produzidos pelo organismo, em resposta à tensão crescente. Um certo nível de estresse é normal para enfrentar desafios. O estresse contínuo, entretanto, apresenta como sintomas: cefaléia, fadiga, má concentração, irritabilidade, agressividade, palpitações, indigestão, problemas de pele, ansiedade, entre outros. A população reconhece estar em situação de estresse, por perceberem alguns destes sinais que os leva à tensão ou ao desconforto emocional. Gráfico 2 - Freqüência das respostas quanto à percepção de efeito após administração do floral Rescue Remedy. São Paulo, 2001. Para Bach [3] o Rescue Remedy é o floral que pode ter efeito verificado quase que imediatamente. Como demonstrado no gráfico 2, 14 indivíduos (64%) referem alteração em sua percepção quanto ao estresse após terem recebido Rescue Remedy. Porém, 8 indivíduos (36%) referem não ter reconhecido nenhum efeito após administração daquele floral. Tabela I - Demonstrativo das alterações percebidas pelos estudantes após administração de Rescue Remedy. São Paulo, 2001. N= 24 Sensações observadas Calma e tranqüilidade Leveza e sonolência Preguiça e cabeça pesada Epigastralgia Total N 12 7 4 1 24 % 50 9 17 4 100 #! artigo 05.pmd 153 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) Devido à característica da questão, obtivemos mais de uma resposta totalizando 24 sensações enumeradas na tabela I. Como o Rescue Remedy é uma composição de 5 florais, o efeito desejado desta terapia seria calma e tranqüilidade. Observamos nos relatos dos participantes deste estudo, a sensação de calma e tranqüilidade que aparecem em 12 citações, provenientes da ação do Rescue Remedy, particularmente dos florais Rock Rose e Impatiens [15]. Atribuímos também 7 citações de sensações de leveza e sonolência, devido ao componente Rock Rose. Obtivemos 4 citações de preguiça e cabeça pesada atribuída, provavelmente, ao efeito do Rock Rose [16]. Outro efeito percebido por um dos participantes, foi epigastralgia. Porém este não está relacionado ao floral, pois, os Florais de Bach não causam nenhum efeito colateral, podendo ser tomado em grandes quantidades, conforme a necessidade do indivíduo. Acreditamos também que o uso destas terapias ganhe credibilidade por atender aos anseios de uma população que almeja novas formas de ser cuidado. Desta maneira, vimos neste estudo oportunidade para trilharmos um caminho diferente compartilhando experiências com o paciente para alcançar o bem-estar e saúde com ações criativas, menos diretivas e mais humanizadas. Conclusão 6. A análise dos dados possibilitou-nos concluir que 64% dos indivíduos perceberam alteração nas emoções ou comportamento após a administração do Rescue Remedy, passando da sensação de estresse e angústia para calma, tranqüilidade, leveza, sonolência e preguiça. Todavia 36%da população não observaram alterações em seu estado emocional. Acreditamos que o tema possa ser melhor explorado aumentando-se a amostra e elaborando novo instrumento para ampliar a avaliação do estresse de forma mais objetiva. Das terapias alternativas às tradicionais, como os Florais de Bach, utilizados como recurso e meio para o cuidar de Enfer magem, poderiam contemplar holisticamente o cliente que, em situação de crise aguda, necessita de algo a mais, além da terapêutica convencional. Os cursos de for mação nesta área vêm ganhando espaço entre os profissionais de Enfermagem por abrirem novas perspectivas no atendimento às demandas de saúde da população. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. Venancio D. A terapia floral - escritos selecionados de Edward Bach: sua filosofia, pesquisa, remédios, vida e obra. São Paulo: Ground; 1991. Brennan BA. Luz emergente a jornada da cura pessoal. São Paulo: Pensamento; 1993. Bach E. Medicina floral. Rio de Janeiro: Arte e Cultura; 1990. Kaminski P, Katz R. Repertório das essências florais. São Paulo: Triom; 1994. Howard J. Os remédios florais do Dr. Edward Bach passo a passo. São Paulo: Pensamento; 1995. Gimenes OMPV. Essências Florais: Uma Linguagem Vibracional de Cura. Nursing 1998;7:6. Gimenes OMPV, Silva MJP. Florais - Uma Alternativa Saudável. São Paulo: Gente; 1999. Monari CL. Participando da vida com os florais de Bach: uma visão mitológica e prática. São Paulo: Roca; 1997. Bach E. Dicionário dos remédios - Florais de Bach. 13ª ed. São Paulo: Pensamento; 1997. Jones TWH. Dicionário dos remédios florais do Dr. Bach aspectos positivos e negativos. 6ª ed. São Paulo: Pensamento; 1992. Polit DF, Hungler BP. Fundamentos de pesquisa em Enfermagem. 3ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 1995. Cervo AL, Bervian PA. Metodologia científica. 4ªed. São Paulo: Makron Books; 1996. Battison T. Vença o estresse. São Paulo: Manole; 1998. Baccaro A. Vencendo o estresse: como detectá-lo e superá-lo. 4ª ed. Rio de Janeiro: Vozes; 1997. Kripper V. Terapia floral Bach aplicada à psicologia. 5ª ed. São Paulo: Gente; 1992. Scheffer M. Teoria floral do Dr. Bach teoria e prática. 6ª ed. São Paulo: Pensamento;1992. Bibliografia consultada Chancellor PM. Manual ilustrado dos remédios florais do Dr. Bach. São Paulo: Pensamento; 1991. ¡ #" artigo 05.pmd 154 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) Artigo original As expectativas do acompanhante em unidade pediátrica sobre o papel do enfermeiro Expectative of companion in pediatric unit about nurse part Las expectativas del acompañante en unidad pediátrica a respecto del papel del enfermero Aspásia Basile Gesteira Souza*, Heloísa R Dias**, Luciana Rezende**, Michele Mota** *Mestre em Enfermagem pediátrica. Professora adjunta das disciplinas de Semiologia e Semiotécnica da Universidade Cidade de São Paulo (UNICID) e Saúde da Criança e do adolescente, Faculdade Santa Marcelina-SP, **Graduandas do 2º ano de Enfermagem, UNICID Resumo Esta pesquisa utilizou o método quantitativo, descritivo, para entrevistar, através de questionário, 35 acompanhantes em unidades pediátricas de dois hospitais, sobre suas expectativas quanto ao papel do enfermeiro. Os principais resultados apontam para a não identificação do enfermeiro pelos familiares e, ao mesmo tempo, para a expectativa de receberem atenção, amor e carinho deste profissional. Palavras-chave: Enfermagem pediátrica, família, relações profissional-familiares, acompanhante. Abstract This search was based on a descriptive quantitative analysis of 35 interviews companions in two hospitals pediatric unit about the work nursing expectation. The main results point out that parents do not identify the nurses and at the same time, they expect to receive attention, love and affection from this professional. Key-words: Pediatric nursing, family, family-professional relationship, companion. Artigo recebido em 31 de janeiro de 2003; aceito em 15 de maio de 2003. Endereço para correspondência: Aspásia Basile Gesteira Souza, Rua Cesáreo Galeno, 448, 6º andar, bloco alfa Tatuapé 03071-000 São Paulo SP, Tel: (11)6190-1200, E-mail: [email protected] ## artigo 04.pmd 155 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) Resumen Esta investigación utilizó el método cuantitativo, descriptivo, para entrevistar, a través de cuestionario, a 35 acompañantes en unidades pediátricas de 2 hospitales, sobre las expectativas en cuanto al papel del enfermero. Los principales resultados señalan la no-identificación del enfermero por los familiares y, al mismo tiempo, la expectativa de recibir atención, amor y cariño de este profesional. Palabras-clave: Enfermería pediátrica, familia, relaciones enfermería-familiar, acompañante. Introdução Por muito tempo estar internado significava estar sozinho. Poder estar acompanhado durante a internação era um evento raro e dependia, basicamente, de autorização do enfermeiro responsável [1]. Em um mundo tão particular, como do hospital, seria necessário preservar o vínculo familiar para dar suporte aos aspectos envolvidos nesta experiência, que neste contexto poderia sofrer interferências. Estar acompanhado, portanto, seria um direito do cliente numa assistência humanizada que privilegia o cliente e não as instituições. Pensando nestas questões, algumas leis tentaram garantir esses direitos, contemplando, à princípio, crianças, adolescentes [2,3] . Spitz [4], ressalta a importância do vínculo materno infantil durante momentos de crise, pois verificou, especialmente, nas crianças entre 1 e 3 anos (infantes), que o trauma da separação levava a manifestações de ordem psicológica como agressividade e depressão. No transcorrer do crescimento e desenvolvimento infantil a hospitalização pode estar presente em diversas situações: doenças infecto-contagiosas, traumatismos entre outros. Autores destacam que a criança acompanhada pelo responsável tem maior aceitação dos procedimentos, diminuindo também o período de hospitalização [4]. A criança precisa da família como seu próprio referencial. Segundo Boehs [5] a família tem diversas funções, entre elas destacamos a proteção à saúde de seus membros. Sendo assim além dos aspectos psicossociais que a proximidade entre famíliacriança suscita, temos nesta integração um dever ético e legal a ser respeitado. Pensando na especificidade do ser, enquanto criança e adolescente e procurando atender suas necessidades biopsíquicas espirituais, o Estatuto da Criança e Adolescente [7], em seu artigo 7 destaca o direito do menor em ter um familiar responsável acompanhando sua internação por todo período. Sendo assim, a figura da família tornou-se freqüente nas unidades pediátricas e o contato entre equipe de enfermagem e família, uma constante. O enfermeiro poderia desempenhar, através deste contato, o papel singular do cuidado à família no contexto hospitalar. Cuidar significaria estar próximo e atender as demandas reais ou potenciais da família. Sabemos que esta relação, entretanto, perpassa por algumas dificuldades nos aspectos que envolvem o relacionamento enfermeira-familiar como o distanciamento entre ambos, disputa de poder pelo cuidado/autoridade, supervisão dos cuidados prestados pela equipe, lidar com medos e ansiedades, entre outros [6,7]. Acreditamos, porém, que ações facilitadoras possam promover melhor integração entre equipefamília. Entre estas ações, destacamos o conhecimento das expectativas do familiar acompanhante sobre o enfermeiro, clarificando para o profissional o que se espera dele, no que o familiar precisa de auxílio, dando-nos assim indícios e caminhos para corresponder àquelas expectativas. Entre tantos procedimentos e cuidados no contexto hospitalar, voltamos nosso olhar para esta questão, já que vislumbramos a importância dessa interação. Percebemos que o atendimento à família não é foco no curso de graduação, especialmente porque as instituições onde os alunos praticam o ensino em campo clínico, excetuando-se a unidade de pediatria, raramente dão oportunidade para a presença contínua da família, diminuindo assim as possibilidades do futuro enfermeiro vivenciar esta relação, de grande importância para nosso cotidiano profissional. #$ artigo 04.pmd 156 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) Assim, suscitou-nos o interesse em aprofundarnos no tema, na tentativa de conhecermos meios para o enfrentamento positivo desta situação no contexto hospitalar. Objetivo Esta pesquisa tem como objetivo: Identificar se o acompanhante reconhece o profissional enfermeiro da unidade pediátrica Conhecer as expectativas do acompanhante sobre o papel desenvolvido pelo enfermeiro em clínica pediátrica. Método Este estudo utilizou o método quantitativo, para atingir os objetivos. Este recurso metodológico, segundo Leopardi [8] é apropriado nos trabalhos em que se faz necessário objetividade nos achados, intenção de medir, mensurar, classificar os dados coletados ou mesmo quantificálos, tornando-se assim de caráter descritivo analítico, por explorar aquele evento reportando-se a eles de maneira fidedigna, analisando e correlacionando fatos e variáveis sem manipulá-los [9,l0]. Local de estudo: Para a coleta de dados foram escolhidas duas instituições hospitalares, uma pública e outra privada (filantrópica) localizadas no município de São Paulo e caracterizadas por acolher o familiar acompanhante nas unidades de Pediatria em conformidade com o Estatuto da Criança e Adolescente [7]. Foi encaminhado à direção da instituição projeto do estudo e documento solicitando a autorização para as entrevistas bem como, conforme resolução 196/ 96 [11], elaborado Termo de Consentimento livre e esclarecido aos sujeitos. População e amostra: Como critérios de inclusão estabelecemos a condição de estar na condição de acompanhante há mais de um dia e permanecer com o menor em período integral ou maior de seis horas, possibilitando assim contato com a figura do enfermeiro, além de sua anuência através do Termo de consentimento, perfazendo assim a amostra de pesquisa. Coleta de dados: Foi realizada após aprovação dos Comitês de Ética e Pesquisa da Universidade ao qual as autoras encontram-se vinculadas e das instituições participantes, utilizando-se questionário, com duas questões abertas levantando dados sobre como identificam o profissional e quais as expectativas em relação ao enfer meiro, além de dados para caracterização da população. O instrumento foi aplicado pelas autoras, individualmente, em um único dia em um dos hospitais e em dois dias no segundo, após autorização do enfermeiro da unidade. A abordagem do acompanhante foi feita em cada leito, em que se questionava o tempo de internação conjunta seguida da apresentação do pesquisador, exposição sobre os objetivos do trabalho, deixando-se claro que não se tratava de avaliação de desempenho da equipe ou enfermeiro e solicitação de autorização para participação através do Termo de consentimento, garantindo-lhes anonimato. Foram entrevistados trinta e cinco acompanhantes, de um total de quarenta e quatro. Dos nove familiares que não fizeram parte desta amostra, sete eram recém-admitidos ou revezaram-se, recentemente, como acompanhantes e dois saiam de alta hospitalar no momento. Resultados e discussão Após análise dos dados coletados obtivemos os seguintes resultados que apresentamos a seguir: Gráfico 1 - Distribuição da freqüência do período, em dias, em que o familiar acompanhava a internação da criança, nas unidades pediátricas das instituições pesquisadas. São Paulo, 2002. O gráfico 1 apresenta o número de dias em que o acompanhante vivencia a internação da criança. Como observamos, a maioria da amostra estudada, 80% (28) estavam acompanhando a criança há mais de três dias, período este que consideramos suficiente para conhecer os enfermeiros da unidade. O acompanhante, ao conhecer o enfermeiro responsável por cada plantão, ganharia maior confiança nos cuidados a serem desenvolvidos com a criança, por saber a quem se reportar em suas dúvidas podendo, assim, promover uma integração mais rápida com a equipe de enfermagem e uma internação com menor chance de conflitos. #% artigo 04.pmd 157 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) Gráfico 2 - Distribuição do período, em horas, em que o entrevistado permanecia com a criança, nas unidades pediátricas pesquisadas. São Paulo, 2002. Observamos no gráfico 2, que 83% (29) dos entrevistados permanecem por 24 horas como familiar acompanhante, dando oportunidade de estabelecer um elo com o enfermeiro, de algum período/turno. Mesmo permanecendo por menos tempo, 6 a 12 horas, a inter-relação entre enfermeiro e família seria, de certo modo, mantida continuamente pelo revezamento entre os plantões. Tabela I - Distribuição da freqüência de internações anteriores onde o familiar entrevistado permaneceu como acompanhante. São Paulo, 2002. N=35 Freqüência % 18 51 12 34 03 09 01 03 01 03 35 100 Internações anteriores Nenhuma 12 34 56 + de 6 TOTAL A tabela I apresenta o número de internações anteriores dos entrevistados como acompanhante. A pesquisa mostrou que 51% (18) dos respondentes nunca haviam experimentado esta situação anteriormente. Acreditamos que a presença do enfermeiro próximo à família poderia transmitir a segurança necessária aos que vivenciam este evento pela primeira vez. Experimentar internações anteriores, por outro lado, facilitaria a identificação do enfermeiro pelo acompanhante e servir de parâmetro para comparações e expectativas. O gráfico 3 mostra-nos um número grande de entrevistados, 60% (20) que relatam não conhecer o enfermeiro responsável da unidade onde permanece internado acompanhando seu familiar, sendo também elevado o número da população deste estudo que relatou ter dúvidas quanto reconhecer o enfermeiro, 13% (5). Entre os 15 (27%) acompanhantes que afirmaram conhecer o profissional de Enfermagem, conforme demonstrado na tabela II, não obtivemos Gráfico 3 - Distribuição das respostas quanto a identificação do enfermeiro pelo acompanhante, nas unidades pediátricas pesquisadas. São Paulo, 2002. Tabela II - Distribuição das respostas quanto à forma de identificação do enfermeiro pelo acompanhante, nas instituições pesquisadas. São Paulo, 2002. N=15 Fator de identificação Freqüência % Não sabe quem é o enfermeiro, não sabe o nome 4 27 Uso de roupa/ colete azul-marinho 6 40 Atividades praticadas 2 13 Pessoa que se encontra no posto de enfermagem 1 Características físicas 2 13 TOTAL 15 100* * As casas decimais foram aproximadas. N.A. nenhuma resposta citando nominalmente o enfermeiro, sendo quatro respostas (27%) referindo não recordarem o seu nome e citações como a pessoa que usa blusa/colete azul marinho. O uso de uniforme diferenciado prevaleceu em 40% das respostas. Os demais relatos 60% (9) mencionavam as atividades de medicar, verificar temperatura, colocar soro, entre outras, como caracterizadoras de quem acreditavam ser o enfermeiro da unidade, ficando clara a confusão do acompanhante entre quem é o enfermeiro e quem é o auxiliar ou técnico de Enfermagem, já que nas instituições onde realizamos a pesquisa, estes cuidados eram exercidos por aqueles profissionais. Os enfermeiros foram freqüentemente confundidos com outros elementos da equipe de enfermagem nesta pesquisa, o que para Stacciarini [12] descaracteriza-o como profissional. É importante e necessária a apresentação formal do enfermeiro ao familiar/acompanhante para que não haja dúvidas quem seja e quais as atividades por ele desenvolvidas. Esta apresentação deveria ser pessoal, nominal e no primeiro dia da internação, criando assim uma rotina na qual se incluiria conhecer o acompanhante das crianças e fazer-se reconhecer por este. É difícil pensar em comunicação e relaciona- #& artigo 04.pmd 158 7 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) Tabela III - Distribuição da freqüência das respostas quanto às expectativas do acompanhante sobre o papel do enfermeiro. São Paulo,2002. N=75 equipe de enfermagem, confundindoo, na maioria das vezes, com os auxiliares de enfermagem. Por usarem roupas diferenciadas dos Expectativas mencionadas Freqüência % outros membros da equipe, acabam sendo Atenção para seu filho 16 21,3 reconhecidos como o enfermeiro-chefe Tratar bem a criança 12 16 Tenha amor e carinho com a criança 09 12 da unidade, por alguns acompanhantes. Atenção quanto à medicação 09 12 A apresentação pessoal, indiviPaciência 06 8 dualizada e a presença do enfermeiro Competência profissional 05 6,7 constantemente perto da criança e sua Esclarecimento sobre a doença 05 6,7 família poderiam contribuir para que esta Amor à profissão 04 5,3 o perceba como elemento único da equipe. Atender às necessidades do paciente 03 4 Acreditamos que além de ser Respeito à criança 03 4 reconhecido pelo nome, o profissional Fornecer informação na ausência do médico 02 2,6 deve ser apontado por sua competência, Atender prontamente o chamado 01 1,4 planejamento de ações e atividades e não TOTAL 75 100 somente pela cor do colete, como muitas vezes é identificado. mento terapêutico em situações em que uma das Nos deparamos, assim, com o questionamento: partes desconhece ou tem dúvidas de quem é outra como o acompanhante pode ter expectativas do como destaca Whaley et al. [13]. profissional que não conhece/identifica? A tabela III apresenta as respostas sobre às Notadamente a resposta mais significativa expectativas dos familiares quanto ao papel do apresentada pelos acompanhantes foi a expectativa de enfermeiro, objeto deste estudo. Gostaríamos de atenção, carinho e o tratar bem sua criança, mostrando, esclarecer que algumas respostas foram baseadas, mais uma vez, o caráter humanitário que emana da obviamente, no que acreditam ser o profissional profissão e identificado pela população que, entretanto, enfermeiro, como mostrado nos gráficos e tabelas não destaca outras competências necessárias para o anteriores. Assim, algumas atitudes referidas dizem desempenho profissional como planejar, liderar, decidir. respeito ao cuidado e trato com o filho/criança. A partir desta pesquisa gostaríamos de despertar Pela característica da pergunta obtivemos mais no enfermeiro a importância de observar a família, não de uma resposta de cada entrevistado. somente pela doença de sua criança, mas também se Observamos em 21,3% (16) dos relatos a importando com o olhar lançado sobre nós, por aqueles cobrança para o profissional quanto à atenção a clientes, captando as mensagens silenciosas sobre suas ser dispensada a seu filho. A família sente-se expectativas em relação ao nosso desempenho e a duplamente atingida quando seu filho é internado e importância de não sermos mais os desconhecidos que sofre com os procedimentos realizados. Por isso, citam agem, tocam, decidem sem sequer ser identificados. o tratar bem a criança (16%,12), cuidar com amor e carinho (12%,9) como focos de suas expectativas, Referências seguidos pela atenção quanto à medicação (12%, 9). Pensamos que esses aspectos possam servir como alerta, no sentido de que precisamos melhorar 1. Shiotsu CH, Takahashi RT. O acompanhante na unidade hospitalar: significados e percepções. Esc Enf USP a percepção profissional junto aos acompanhantes 2000;34(1):99-107. que, em alguns estudos como[7], também 2. Brasil - Ministério da Justiça. Estatuto da criança e do reclamam por atenção às suas necessidades, nem adolescente. Brasília; 1990. sempre satisfeitas, especialmente quanto ao tempo 3. Brasil - Ministério da Saúde. Política Nacional do Idoso. relatado como insuficiente para o cuidado da criança 2aed. Ministério da Previdência e Assistência Social. DF. e demora em responder aos chamados. Lei 8842. Diário Oficial. 4 Janeiro de 1998. 4. Conclusão 5. Após a realização desta pesquisa concluímos que aquela população não identifica o enfermeiro, não conseguindo distingui-lo de outros membros da 6. Schimitz EM. A problemática da hospitalização infantil. In Schimitz EM. Enfermagem em pediatria e puericultura. São Paulo: Atheneu; 2000. p181-196 Boehs AE. Construindo um marco conceitual e um processo de enfermagem. In Elsen I. (Org) Marcos para a prática de enfermagem com família. Florianópolis: UFSC; 1994. Costenaro RGS, Daros A, Arruda EN. O cuidado na #' artigo 04.pmd 159 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) perspectiva do acompanhante de crianças e adolescentes hospitalizados. Rev Enferm Esc Anna Nery 1998;2(1/2):111-26. 7. Pai MM, Soares MAL. Percepção da função de cuidador por um grupo de enfermeiras e cuidadores. Esc Enf USP 2000;33(3):231-35. 8. Leopardi MT. Metodologia da pesquisa na saúde. Santa Maria: Pallotti; 2001. 9. Cervo AL, Bervian PA. Metodologia científica. 4a ed. São Paulo: Makron Books; 1996. 10. Polit DF, Hungler BP. Fundamentos de pesquisa em enfermagem. 3a ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 1995. 11. Brasil - Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução 196/96. Brasília. Diário Oficial. 10 de outubro de 1996. 12. Stacciarini JM et al. Quem é o enfermeiro?. Revista eletrônica de Enfermagem - Universidade Federal de Goíás [periódico online] 1999;1(1) Disponível em: URL: http// www.fen.ufg.br. 13. Whaley P, Wong DL. Enfermagem pediátrica: elementos essenciais a intervenção efetiva. 5aed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1999. p.11-14. ¡ $ artigo 04.pmd 160 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) Artigo original Comunicando com o corpo do cuidado a partir das emoções: acadêmicos de enfermagem testam sua prática Communication with the patient body through emotions: nursing students test their practice La comunicación con el cuerpo cuidado apartir de las emociones: los estudiantes de enfermaría colocan en prueba su práctica Ronilson Gonçalves Rocha*, Priscila de Castro Handem**, Nébia Maria Almeida de Figueiredo*** *Acadêmico de Enfermagem do 7º período da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto Bolsista AT/CNPq - Universidade do Rio de Janeiro, **Acadêmica de Enfermagem do 8º período da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto - Bolsista IC/CNPq Universidade do Rio de Janeiro, ***Professora Titular do Departamento de Enfermagem Fundamental da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade do Rio de Janeiro, Doutora em Enfermagem pela UFRJ Resumo Pesquisa quase-experimental, na concepção de Polit & Hungler, vivida ao construir um boneco para apresentação e discussão, por acadêmicos de graduação em enfermagem da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, quando desenvolviam a disciplina Paradigmas do Saber em Enfermagem II. Objetivos: Explorar as emoções sentidas na confecção do boneco a partir dos sentidos paladar e tato; Investigar se a construção de um boneco como corpo do cuidado leva os acadêmicos a refletirem sobre a melhor forma de cuidar do corpo humano. Apresenta abordagem qualitativa e confeccionamos um instrumento para entrevista direcionada aos acadêmicos que participaram da construção deste boneco, surgindo duas categorias, nomeadas: a contenção das emoções do corpo do estudante ao criar um boneco como corpo do cuidado; a expressão das emoções do corpo do estudante ao criar um boneco como corpo do cuidado. Concluímos assim que a imaginação construiu a tentativa do boneco-gente em que existe uma racionalidade que é mediadora do sensível e do inteligível. Palavras-chave: Comunicação, emoções. Artigo recebido em 15 de maio de 2003; aceito em 10 de junho de 2003. Endereço para correspondência: Ronilson Gonçalves Rocha, Rua Gustavo Sampaio, 98/202 Leme 22010-010 Rio de Janeiro RJ, E-mail: [email protected] $ artigo 02.pmd 161 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) Abstract This work is an almost experimental study, based upon Polit & Hunglers standpoint, consisting of making a small-scale figure of a human body (dummy), by a group of undergraduate nursing students from Alfredo Pinto Nursing School, when they were attending the course of Nursing II Knowledge Paradigm. Objectives: To analyze the emotions felt during the creation of the dummy using the senses of taste and touch; to investigate if the construction of a dummy as a patient body, will lead the students to think about the choice of the best way for taking care of the human body. The qualitative approach was presented and participating students on the creation of the dummy were called in for an interview. Two categories were established form the interview namely: The contention of the emotion of the students body when he created the dummy to be used as a patient body; The expression of the emotion of the students body when he created a dummy as a patient body. We realized that trough this during, exits a rationality acting as a mediator between sensible and intelligible. Key-words: Nursing, communication, care, emotions. Resumen Esta investigación casi experimental, en la concepción de Polit & Hungler, surgió al construir un muñeco para la presentación y discusión hecha por alumnos de graduación en enfermería de la Escuela de Enfermería Alfredo Pinto, Universidad de Rio de Janeiro, cuando cursaban la asignatura Paradigmas del Saber en Enfermería II. Objetivos: Explorar las emociones surgidas al construir un muñeco a partir de los sentidos paladar y tacto; investigar si la construcción de un muñeco y hacer de él un cuerpo a ser cuidado, lleva a los alumnos a reflexionar sobre la mejor forma de cuidar el cuerpo humano. Se utilizó el abordaje cualitativo y fue elaborado un instrumento para entrevista dirigida a los estudiantes que participaron en la construcción del muñeco, de lo cual surgieron las siguientes categorías: La contención de las emociones del estudiante al crear un muñeco que representa un cuerpo a ser cuidado; la expresión de las emociones del estudiante al crear un muñeco como un cuerpo a ser cuidado. Se concluye que la imaginación construyó la tentativa del muñeco-gente donde existe una racionalidad que es mediadora entre lo sensible y lo inteligible. Palabras-clave: Comunicación, emociones. Introdução O interesse por este estudo surgiu no decorrer da disciplina Paradigmas do Saber em Enfermagem II, que é oferecida durante o 5o período do curso de graduação em Enfermagem na Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade do Rio de Janeiro (UNIRIO). Nesta disciplina nos foi proposta a confecção de um boneco que representasse o corpo do cuidado, enfocando, dentre os cinco sentidos humanos, o paladar e o tato. O processo de criação deste boneco despertounos para a importância e complexidade dos sentidos, fato que não identificamos em nossas atividades diárias por nos apropriarmos dessas sensações de forma tão natural. Essa nova percepção a respeito do tato e paladar, torna evidente a necessidade de reconhecer não só as diversas sensações relacionadas a estes, tais como sabor, prazer, culpa, dor, mas também suas inter-relações com a visão, audição e o olfato. Guyton e Hall [1] afirmam que: A gustação é, sobretudo, uma função dos corpúsculos gustativos da boca, mas é experiência comum que o sentido do olfato contribui fortemente para a percepção do gosto. Além disso, a textura da comida, tal como é detectada pelos sentidos táteis da boca, e a presença de substâncias como a pimenta na comida, que estimula terminações de dor, condiciona muito a experiência gustativa. A partir daí, selecionamos a questão do estudo: as emoções de criar um boneco como corpo do cuidado. $ artigo 02.pmd 162 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) Diante da necessidade de representar o tato no boneco, optamos por fixar no seu corpo diferentes tipos de materiais tais como: plásticos porosos, tecidos finos, grossos e ásperos. Sendo assim, ressaltamos que o toque da enfermeira pode ser feito de diversas formas e provocar sensações diferentes, porém, sempre visando a melhora da saúde de seu cliente, podendo oferecer atenção, tranqüilidade, alívio, amparo e carinho. Caldas e Figueiredo [2] destacam a importância da utilização de todos os sentidos objetivos e subjetivos durante a prestação do cuidado pela enfermeira, salientam ainda as diversas maneiras de tocar: É tocar com a mão, tocar com o corpo, tocar com o cheiro, tocar com o olhar, tocar com a voz, tocar com a sensibilidade, tocar com amor, tocar com estética, tocar com ética. Para configurar o paladar em nosso boneco utilizamos três faces que caracterizam expressões distintas. As duas primeiras são referentes aos sabores que os diferentes alimentos nos proporcionam, em que uma traz a satisfação e a outra o desagrado, e a última traz a importância da higiene bucal para apreciarmos esses sabores. Derivando de Ackerman [3], o gosto que sentimos e a composição de nossa saliva são individuais, assim, não existem duas pessoas que sintam o mesmo gosto. Nos diz ainda que o alimento deve ser gostoso e recompensar-nos, estimulando-nos a comer para viver. Vale destacar que a opção pelo paladar e o tato, foi devido a distribuição da turma em 4 (quatro) grupos para construir 4 (quatro) bonecos sob diferentes olhares acerca dos cinco sentidos. Nós ficamos com estes dois, até porque o objetivo da disciplina é nos ensinar a olhar o todo a partir do paradigma cartesiano. Desta forma, estabelecemos como objeto do estudo a construção de um boneco para apresentação e discussão sobre o corpo do cuidado. Objetivos do estudo Explorar quais as emoções sentidas na confecção do boneco a partir dos sentidos paladar e tato. Investigar se a construção de um boneco como corpo de cuidado leva os acadêmicos a refletir sobre qual é a melhor forma de cuidar do corpo humano. Justificativa Através da construção deste boneco verificamos a amplitude de aspectos que o cuidar do corpo envolve. Manipular o corpo do cliente ou apenas abordá-lo verbalmente requer a compreensão não só de seu estado físico ou das emoções sentidas por ele, mas também dos significados das ações da enfermagem para este cliente. A partir destas premissas, passamos a reconhecer a melhor forma de oferecer conforto a este corpo. Os sentidos paladar e tato permitem que o corpo perceba o mundo ao seu redor, decifrando seus significados. Quando tocamos através do paladar e identificamos sabores e sensações, ou através da pele que recobre todo o corpo, possuindo grande importância para o tato, estamos conhecendo nossos limites, sentindo a vida. A partir dos sentidos, a enfermagem pode ler as expressões dos clientes, como respostas aos seus cuidados, fato essencial para a comunicação enfermeirocliente, auxiliando na aplicação do cuidado a este corpo. Bittes Jr e Matheus [4] ressaltam que a comunicação não-verbal faz-se importante para a compreensão do que se quer dizer, já que esta pode ampliar o entendimento sobre o que foi verbalizado. Afirmam que a comunicação não-verbal pode: ...contradizer, enfatizar, substituir, oferecer indícios sobre emoções ou mesmo controlar ou regular um relacionamento Abordagem teórico metodológica A abordagem metodológica utilizada para este estudo foi a qualitativa, devido a impossibilidade de mensurar emoções vivenciadas por um determinado grupo. Haja vista, que estamos estudando as transformações da emoção como prática e como ciência, para isso, torna-se inviável quantificar tais fenômenos. De acordo com Minayo [5]: A pesquisa qualitativa se preocupa, nas ciências sociais com nível de realidade que não pode ser quantificado, ou seja, ela trabalha com o universo dos significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das reações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser realizados à operacionalização das variáveis Considerando que a característica do estudo é de uma pesquisa quase-experimental, buscamos em Polit e Hungler [6] apoio sobre a característica desta modalidade: A pesquisa que utiliza o projeto quaseexperimental parece-se muito com um experimento. Tal como nos experimentos, os quase-experimentos envolvem a manipulação de uma variável independente, isto é, a instituição de um tratamento. Sendo assim, a metodologia utilizada privilegia a variável independente como aquela relativa às emoções sentidas, tendo como método a construção de um boneco como corpo do cuidado. Participaram desta pesquisa dez acadêmicos de enfermagem com faixa etária que varia de 20 a 25 $! artigo 02.pmd 163 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) anos, que haviam cursado o 5o período da graduação de enfermagem na Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade do Rio de Janeiro, onde na disciplina de Paradigmas do Saber em Enfermagem II construíram um boneco como corpo do cuidado, voltado para os sentidos paladar e tato. Sendo solicitada a autorização para a utilização de suas falas e garantido por nós o anonimato. Elaboramos um instrumento contendo perguntas abertas que utilizamos como roteiro para gravar as falas dos acadêmicos. Gravamos as entrevistas em fitas cassete que posteriormente foram transcritas para a organização das categorias emergentes das falas. Resultados Após leitura das falas dos estudantes participantes do estudo, destacamos expressões que se aproximavam e deste trabalho de organização das informações surgiram categorias de análise que chamamos de: 1) A contenção das emoções do corpo do estudante ao criar um boneco como corpo do cuidado. 2) A expressão das emoções do corpo do estudante ao criar um boneco como corpo do cuidado. Discussão A primeira categoria: A contenção das emoções do corpo do estudante ao criar um boneco como corpo do cuidado. Esta categoria concentra informações sobre as emoções sentidas, guardadas ou não-ditas de dois participantes do estudo, assim registradas: Entrevista 1: ...não senti nada...(2) , ...ééé...(3) ...eu não sabia o que ia encontrar...(3), ...não sabia nem como...fazer com que o boneco expressasse o paladar e o tato... , ...não consegui...muito obstáculo, não sei nem como falar direito... Entrevista 7: ...eu não vi nada demais que pudesse fazer eu pensar em algum tipo de cuidado..., ...não vem nada à mente...que eu me lembre de...de boneco, essas coisas... São falas que falam do sentir, mesmo que aparentemente o sentir não seja nada e este modo pode ser também um silêncio sobre a experiência que viveram, porque ela não fazia parte do comum, do que estão acostumados. A uma prática de ensino que estimula o raciocínio (racional) e esquece das ressonâncias (subjetividades) que estão na vida e no viver. Isto tem feito com que os estudantes distanciemse da atividade de sonhar, criar porque isto não é ciência, não lhes dá status e por isso negam, mesmo quando foram capazes de criar um boneco e se sensibilizarem com sua criação, emocionaram-se a ponto de cuidar do boneco como se fosse gente. Apesar de construírem um boneco onde foram explorados os sentidos humanos, de perceberem a essencialidade deste em suas vidas, não conseguiram apropriar-se de sua sensibilidade o que os impulsionou a restringir, no imaginário, seus sentimentos. Mas a emoção é parte do sensível e está em todos os nossos sentidos, quando me emociono ao ver algo que me agrada ou o que me constrange e me faz sofrer; me emociono quando ouço uma música, a voz de alguém querida; me emociono quando sinto o cheiro de alguém, de algum perfume que me lembra momentos; me emociono quando alguém me toca. No entanto não estamos acostumados a assumir isto. Ninguém tem associado ao sensível o conhecimento sensitivo e que segundo Johas [7], este só pode ser útil à inteligência para que criem conceitos intelectivos e a essência do ser sensível é o objeto formal próprio da inteligência humana. A própria linguagem utilizada pelos alunos dá som ao que aparentemente parece-nos silêncio sobre a experiência vivida por eles. E o corpo que silencia por que não se deixa invadir pela expressão que criar provoca em nossos corpos contidos e calados pela disciplina, pelo poder do racional sobre o emocional que nos é incutido na universidade. Quanto a isso Le Breton [8] diz que: se a linguagem e silêncio se misturam na expressão da palavra, podemos dizer também que todo enunciado nasce do silêncio interior do indivíduo em permanente diálogo consigo mesmo. Para ele, o silêncio questiona os limites de qualquer palavra e por que não o compreendemos acabamos nos esbarrando com ele. Mesmo assim, podemos ousar dizer que as informações desta categoria não são vazias, por que nos permite ouvir suas ressonâncias nas reticências, nos: ...eu não sabia o que ia encontrar ..., ...não consegui..., muito obstáculo..., nem sei como falar direito..., eu não vi nada demais..., nelas circulam sentidos, emoções, elos de algo que eles não conseguem falar. Nelas existem encadeamentos de dificuldades que eles não conseguem ultrapassar quando tentam falar sobre a experiência. Não dizer nada pode ser uma escolha, uma opção, às vezes inconsciente, uma defesa, não assumir algo que lhe fez bem por que pode enfraquecer-se e assim parece um corpo sem sentido aparente, nesta experiência de criar o corpo do cuidado o boneco a partir do sentido paladar e do tato. Enfim, nos parece que os sujeitos desta categoria, apesar da ação de criar o boneco, a experiência lhes foi mais crucial $" artigo 02.pmd 164 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) que prazerosa, mesmo sabendo que o organismo tem uma estrutura neural sensível motora, mas neste momento eles se apresentam mais limitados do que livres pela possibilidade de criar. São corpos do devir - das possibilidades e como diz Bezerra Jr [9]: é o corpo da emergência onde os alunos dependem de aquisição, por parte dos organismos humanos, de uma habilidade especial: a de configurar a sua experiência no mundo por meio de significações. Assim é possível assumir, agora, que são corpos ainda sem sentido, mas que podem estar em processo de reconstrução ou de transformação de uma experiência concreta para uma experiência subjetiva. A segunda categoria: A expressão das emoções do corpo do estudante ao criar um boneco como corpo do cuidado. As informações desta categoria contêm as informações de quatro estudantes e assim foram registradas: Entrevista 2: ...construir um boneco eee...(3) , ...disciplina diferente, inovadora...foi um lazer...brincar, desenvolver junto com os colegas , ...usar a criatividade, sair da rotina, da grade das disciplinas, momento de descontração..., ...jogo de criatividade... Entrevista 3: ...senti impacto porque era completamente diferente de tudo que já tinha visto na escola..., ...uma viagem construir um boneco(2)...usar a criatividade..., ...fizemos o possível ééé...(9), ...o tato foi testado nos vários tecidos diferentes...tocar a boneca, o tecido podia ter bolhas no corpo, estar ressecada ou estar macia...quando a gente toca alguém a gente observa e a gente relata... Entrevista 6: ...achei muito interessante...foi uma dinâmica diferente... , ...a gente nunca teve a possibilidade de fazer...nunca pensou nisso de direcionar o nosso ensino em outros coisas que o próprio paciente pode mostrar para a gente tanto no tato e no paladar... , ...a construção do boneco me deu outra, outra visão de como a gente pode ver esse paciente... Entrevista 9: ...a gente se divertia muito...descobri coisas novas...as coisas iam se transformando bem perto do que a gente imaginava... , ....ficamos muito satisfeitos com o resultado... , ...foi divertido construir...chegava super a vontade, descontraído...uma terapia... A linguagem utilizada por eles é a de um corpo descontraído, de um corpo sensível, de corpos que fizeram da experiência vivida uma brincadeira, ...sair da rotina..., ...descontrair..., ....inovação..., ...diversão..., ...de satisfação.... Nos parece que este é o corpo que pensa que criar pode ser o caminho para aprender a cuidar a partir de experiências mais sensíveis. A identificação, o envolvimento dos acadêmicos, no decorrer da atividade de criação do boneco, ocorreu tão intensamente que possibilitou a descoberta de novos métodos de aprendizagem, a compreensão de que através das expressões seus clientes emitem mensagens, a percepção de que os sentidos direcionam o indivíduo a comportamentos diferentes. O que identificamos é que a experiência vivida demonstra que os alunos reconhecem a importância desta abordagem pedagógica e que ela deu a eles um outro sentido de aprender, seriamente sobre o cuidado, através da brincadeira. Também é possível identificar nas falas que eles tiveram um impacto afetivo como afirma Platino [10], e, continuo dizendo que este impacto produz mudanças de atitude que pode ser pensada como afirmação de hegemonia de Eros (vida) sobre a pulsão de morte, encarnada na anorexia desvitalizante. Diríamos a anorexia de estratégias no ensino que permanece rijo, sem graça, sem prazer. Os alunos reafirmam que a disciplina Paradigma II, é um paradigma emergente, pois, estamos incluindo (docentes) e nós (discentes) outros saberes e outras práticas para pensar o cuidado de enfermagem. Criar não é parte do conteúdo teóricoprático da enfermagem. A criação que se fala nas salas de aula trata de habilidades e destrezas ao preparar os materiais do cuidado. Ao trabalhar a criação do boneco os alunos disseram: ...juntos, ...o impacto, ...o uso da criatividade, ...tiveram possibilidades nunca pensadas, ...ser um agente da imaginação. O que indica que ao viverem a experiência desenvolveram um espírito novo como diz Bachelard [12] é préentendida de diversas formas de pensar, conhecer que depende de experiência sensorial dos estudantes os falantes, que também dão sentido as suas experiências ao criar o boneco, que são carregadas de expressões de emoção, entendido por Costa [13] que este sentido emoção está causalmente conectado a processos confiáveis de discriminação pré-verbal de sentimentos ou sensações cruas, mas tudo, também, envolve uma questão de linguagem que merece muita teorização, que este texto não suporta enquanto número de páginas exigidas para que o trabalho seja aceito para apresentação em eventos científicos. Brincar, construindo o corpo do cuidado é fazer com que os alunos sonhem com um cliente que não conhecem, não sabem onde ele está e se o encontrarão do modo como o moldaram, criaram, representaram. Para Bachelard [11] sonhar e ver concordam pouco: quem sonha muito livremente perde o olhar, quem desenha sucessivamente bem o que vê perde os sonhos da profundidade. Ao contemplar o boneco como sua obra de criação e ao fazê-lo eles brincavam, $# artigo 02.pmd 165 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) saíam do tédio cotidiano e do cansaço do estágio, eles devem ter entrado em devaneios, pois os devaneios são características dos jovens. Como pergunta Bachelard [11] o espaço do sonho é o espaço de repouso?. Mas repensa e diz que o sonho é fragmento de espaço onírico, feito de marés que não condizem a lugares e tempos. Sonharam os estudantes? Perguntamos. Talvez sim, talvez não, sonhar pode estar ligado ao sono e nesta brincadeira eles se mantiveram acordados, no claro, durante o dia ou permaneceram numa zona intermediária entre o dia e a noite, mesmo que simbolicamente? O que sentimos é que as falas/mensagens dos alunos indicam desdobramentos de seus pensamentos sobre suas experiências de criar e automaticamente pode ser o desdobramento de seu próprio ser, a nostalgia de ser dois, disse Bachelard [11]. O que identificamos como indicadores de que a experiência mexeu com seus corpos é de que eles se descobriram emoção - fonte oculta em seus eus e puderam verificar que nada é separado. A experiência deve ter feito seus corpos se efervescerem de curiosidades, de possibilidades ou de indiferenças o que importa é que essa efervescência é entendida por Bachelard [12] como alegria indicadora de ludicidade, de um momento privilegiado de recomeço por meio do jogo criador. Referências 1. 2. Conclusão Pudemos identificar o quanto pode ser difícil expressar as emoções sentidas, negando-as. Observamos ainda, a importância da expressão dessas emoções e como a criatividade e o brincar enriqueceram o aprendizado. Deste modo, consideramos que a construção do boneco como corpo do cuidado, além de salientar a necessidade de conhecer os sentidos paladar e tato e de exercitar, desenvolvem a criatividade, despertou inúmeras emoções, que alguns acadêmicos conseguiram expressar, porém, outros não, sendo que reconhecê-las torna-se essencial na prática assistencial do enfermeiro. Do ponto de vista da aprendizagem, a experiência produziu nos alunos uma forma de construir conhecimento a partir de atividades de expressão do sensível que existia dentro deles e entendido como morador, diferente. Isto significa que o estímulo à criação e à imaginação é uma pedagogia sensível de ensinar a jovens a cuidar dos outro e assim fomos obrigados a mergulhar nas profundezas abissais da arte, Bachelard [12]. Foi a imaginação que construiu a tentativa do boneco-gente onde existe uma racionalidade que é mediadora do sensível e do inteligível. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. Gyuton AC, Hall JE. Tratado de Fisiologia Médica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1997. p. 3-178. Caldas LMR, Figueiredo NMA. O cuidado que embala o berço: cinco olhares da enfermeira para tocar a criança. Caderno de Pesquisa: Cuidado é Fundamental. Rio de Janeiro: Núcleo de Pesquisa e Experimentação em Enfermagem Fundamental da EEAP-UNIRIO 1998; 2(1):70-104. Ackerman D. Uma história natural dos sentidos. 2aed. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil;1996. p.360. Bittes JR.A, Matheus MCC. Comunicação. In: Cianciarrullo TI. (Org). Instrumento básico para o cuidar: um desafio para a qualidade de assistência. 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Rio de Janeiro: Rios Ambiciosos/Marca dagua; 2001. p. 199-218. ¡ $$ artigo 02.pmd 166 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) Artigo original Preparo do corpo pela equipe de enfermagem (reflexões a partir de objetos pessoais que identificam um ser humano) Preparation of a lifeless body (reflections about personal objects that identify a human being) La preparación del cadaver por el equipo de enfermería (reflexiones apartir de lãs pertenencias que identifican um ser humano) Maria Aparecida de Luca Nascimento*, Adriana Santos Mello**, Rogê de Oliveira Candido**, Sabrina Santos da Silva** *Professor Adjunto do Departamento de Enfermagem Materno Infantil (DEMI) da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP) da Universidade do Rio de Janeiro (UNIRIO) Doutora em Enfermagem, **Enfermeiros recém egressos da EEAP da UNIRIO Alunos da especialização nos moldes de residência da UNIRIO Resumo Reflexão teórico-filosófica realizada a partir de dinâmica apresentada por um grupo de acadêmicos da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, da Universidade do Rio de Janeiro (UNIRIO), em um hospital geral situado na mesma cidade. Tendo como objetivo fornecer subsídios para que a equipe de enfermagem reflita sobre o procedimento técnico do preparo do corpo, os autores tecem comentários sobre a inadequação do termo pacote utilizado para caracterizá-lo e apresentam o resultado da dinâmica em referência, através de um quadro onde foram afixados objetos retirados de um invólucro que simulava um corpo sem vida preparado, com a intenção de mostrar toda a subjetividade que envolve o procedimento técnico do preparo do corpo. O referencial teórico utilizado foi o da comunicação, de Materlat. Ao final deste estudo, é apresentada uma mensagem à equipe de enfermagem. Palavras-chave: Enfermagem, procedimento técnico, reflexão. Artigo recebido em 15 de maio de 2003; aceito em 10 de junho de 2003 Endereço para correspondência: Maria Aparecida de Luca Nascimento, Avenida Marechal Rondon 300, bloco 2 , apto 310 São Francisco Xavier 20950-000 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 25749149, E-mail: [email protected] $% artigo 03.pmd 167 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) Abstract Its about a philosophical theoretical reflection substantiated on the dynamics and put forward by Alfredo Pinto Nursing Schools students of Rio de Janeiro (UNIRIO) highly carried out in a general hospital located in Rio de Janeiro. The aim of this work was to supply ideas in order to make the nursing staff review the technical procedures, concerning a lifeless bodys preparation. In the meantime, the authors comment on the inadequate term package intended for portraying a lifeless body and submit as a dynamic outcome, a board wherein several objects were settled on, have been removed from an involucre dressing up a fake lifeless body, in the sense of demonstrating the whole subjectivity which underlies the technical planning known as the body preparation. The theoretical framework applied in this study, referred to Materlat´s communication studies. At the end of this work, a message is being highlighted to the nursing staff. Key-words: Nursing, technical procedures, reflections. Resumen Reflexión teórico-filosófica realizada a partir de una dinámica preparada por un grupo de alumnos de enfermería de la facultad de Enfermería Alfredo Pinto de la Universidad de Rio de Janeiro (UNIRIO) en un hospital general ubicado en la misma ciudad. Tiene como objetivo inducir la reflexión del equipo de enfermería acerca del procedimiento técnico denominado preparación del cadáver. Los autores comentan sobre lo inadecuado del término paquete, utilizado para denominarlo y presentan el resultado de la dinámica en referencia, a través de un cuadro donde fueron fijados objetos retirados de lo que simulaba ser un cuerpo sin vida, con la intención de mostrar toda la subjetividad que envuelve el referido procedimiento técnico de la preparación del cadáver. El referencial teórico tuvo como base la comunicación de Materlat. Los autores concluyen el estudio con un mensaje dirigido al equipo de enfermería. Palabras-clave: Enfermería, procedimiento técnico, reflexión. Introdução Este estudo surgiu de uma proposta pedagógica que é desenvolvida durante a disciplina Abordagens Metodológicas da Pesquisa em Enfermagem I e II, que são oferecidas ao 6º e 7º períodos respectivamente, no Curso de Graduação da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP) da Universidade do Rio de Janeiro (UNIRIO). A proposta pedagógica supra-referenciada, descrita por Nascimento et al [1], consiste em solicitar ao acadêmico de enfermagem que escolha, a partir de um tema de sua preferência, um estudo da autoria de um professor da EEAP para que, em grupos de três, apresentem-no sob a forma de seminário em sala de aula, a produção de um artigo, sobre o mesmo tema. Sendo assim, os acadêmicos e autores do presente estudo, elegeram o artigo intitulado O pacote e a enfermagem (Análise crítica de uma cena de morte), Cruz et al. [2], para o desenvolvimento da citada proposta. Durante a apresentação do seminário, o grupo em apreço utilizou uma estratégia para induzir a reflexão dos presentes. Porém, o impacto da apresentação foi de tal modo positivo, que ela foi reproduzida, a pedido, em um hospital geral de grande porte, sendo apresentada a um grupo de profissionais da equipe de enfermagem. Objetivo Fornecer subsídios para que a equipe de enfermagem reflita acerca do procedimento técnico do preparo do corpo, a partir de uma dinâmica apresentada em um hospital geral. Descrevendo a dinâmica sobre o preparo do corpo Tendo em vista que o presente artigo baseia-se no resultado da dinâmica que havia sido desenvolvida em sala de aula e que, posteriormente, foi desenvolvida em um hospital geral, passamos a descrevê-la. $& artigo 03.pmd 168 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) A princípio, o grupo posicionou-se em volta de uma mesa para a apresentação sob a forma de seminário, todos vestidos de preto, dando à apresentação um tom lúgubre. Porém, estrategicamente, foi deixado em um canto da sala, à vista da platéia, um embrulho, similar a um corpo, envolto pelo mesmo invólucro utilizado para o transporte de cadáver nos hospitais. Durante todo o tempo da apresentação, o citado embrulho permaneceu sem ser mencionado. Os componentes do grupo circulavam em volta da mesa, revezando-se em suas falas, porém, sem a ele fazerem alusão. Após a apresentação do seminário, todos os componentes do grupo levantaram-se e se encaminharam ao embrulho que permanecia no canto da sala. Chegando lá, abriram o zíper e começaram a retirar o seu conteúdo, composto de pequenos vasos de flores, que no mesmo instante eram oferecidos à platéia. Após a entrega das flores, o grupo solicitou que cada pessoa da platéia fosse até ao embrulho aberto e retirasse de lá, objetos pessoais que permaneciam em seu interior. Na medida em que os objetos foram entregues aos acadêmicos, estes passaram a compor uma exposição em um quadro de cortiça idealizado para esse fim. O primeiro objeto a ser retirado foi uma bandeira do Brasil, a seguir, uma foto de casamento, um casaquinho de bebê, a xérox de uma carteira profissional, um chaveiro, um maço de cigarros, e assim sucessivamente. Ao final, os componentes do grupo vestiram um jaleco branco, como se para atenuar o preto da roupa que vestiam e começaram a tecer comentários acerca do quadro construído a partir do conteúdo do embrulho. Referencial teórico Tendo em vista que o embrulho foi utilizado como uma forma de comunicação, remetendo a platéia à idéia de que ali havia um corpo sem vida, através da sua forma e estrutura, valemo-nos de Materlat [3], para nos apoiar nesse estudo, quando diz que a noção de comunicação recobre uma multiplicidade de sentidos. Segundo ele, a comunicação é uma figura emblemática da sociedade do Terceiro Milênio. Todavia, já nos anos 40, as ciências cognitivas formavam-se nos Estados Unidos, tendo no centro da hipótese cognitivista, a noção de representação. Segundo Materlat [3], a representação induz uma maneira de compreender o funcionamento do cérebro como dispositivo de tratamento da informação, que reage de maneira seletiva ao meio, à informação proveniente do mundo exterior. Desse modo, a informação gerada nos profissionais que assistiam à dinâmica, a partir de um embrulho, comunicou ao cérebro deles que ali havia um corpo sem vida. Aspectos reflexivos da aplicação da dinâmica e do quadro construído a partir dela A aplicação da dinâmica de que trata o presente estudo, permitindo observar que dentro do invólucro não havia um corpo, e sim objetos que poderiam identificar um ser humano, possibilitaram que houvesse por parte da platéia uma mobilização centrada na surpresa, o que pode estar diretamente relacionado ao que diz Ghezzi, apud Almeida e Leite [4]; ...ao analisar o currículo de enfermagem em relação ao morrer, constatou-se que a abordagem do morrer limitavase tão somente a um preparo do corpo, conseqüentemente, gerando uma assistência de enfermagem centrada em aspectos predominantemente técnicos. Outro aspecto a ser considerado com relação ao procedimento técnico, diz respeito ao modo pelo qual a equipe de saúde refere-se ao corpo sem vida ao tratálo pelo termo pacote. Diante disso, os apresentadores da dinâmica enfatizaram a inadequação do seu uso para esse fim, haja vista que ele se refere a pequeno fardo ou maço, embrulho [5]. A partir do quadro construído com os objetos descritos anteriormente, quais sejam, entre outros; uma bandeira do Brasil, uma foto de casamento, um casaquinho de bebê, a xérox de uma carteira profissional, um chaveiro, um maço de cigarros, e assim sucessivamente, foi possível levar à platéia a imaginar alguns sentimentos que compõem subjetivamente um ser humano, muitas vezes bem próximo de nós. Sendo eles, a sua nacionalidade, incluindo aí a sua cidadania, a família que ele teve, e conseqüentemente os elos que os unem, a criança que ele foi e/ou o filho pequeno que ele tinha, o seu posicionamento social através do seu trabalho, o seu empenho em adquirir uma casa, e a sua vontade de parar de fumar. Todas as subjetividades acima descritas foram fornecidas como subsídio à reflexão do grupo de profissionais de enfermagem, no sentido de mostrar como são comuns os sentimentos que fazem parte das pessoas que amamos e que depois de mortos não gostaríamos de os ver desconsiderados através de um tratamento frio, como se ele fosse um pacote. Ao considerarmos a dimensão ética que permeia o procedimento técnico do preparo do corpo, e também a dinâmica descrita neste estudo, utilizada $' artigo 03.pmd 169 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) para alcançar o objetivo proposto, apoiamo-nos em Germano quando diz: ... não é possível estruturar o ensino de ética sem a compreensão da realidade social e sem o exercício da crítica sistemática às questões mais gerais da saúde e da sociedade que repercutem no dia a dia da profissão e na assistência que dispensamos aos doentes [6]. Considerações finais Ao término da dinâmica, o grupo leu a seguinte mensagem, utilizada como mais um subsidio para reflexão, escrita especialmente para o evento, por Rogê de Oliveira Candido, um dos autores deste estudo. Aos que me cuidaram; NADA. Não sou mais nada! Que estranho, e pensar que um dia aprendi a falar, andar, brincar, adolescer e apaixonar-me loucamente tantas vezes. Tive uma família, construí outra a partir de mim. Tive profissão, é verdade! Contribui para o meu país, que orgulho! Fui amigo, solidário, torci por um time, chorei, sorri, fui também algumas vezes injusto, falso, era o jogo da vida. Foi bom, muito bom! Porém, há algum tempo, a doença foi deteriorando meu corpo, destruindo o meu status e a minha dignidade. Neste momento fui medicado, fiz exames, fui cuidado, recebi carinho e atenção de todos. Contudo, apesar de todo o esforço, restoume apenas o status negativo, o de um homem, que por não poder retornar à normalidade funcional, encontra-se literalmente dependente. Que cuidados terei daqui por diante? Não sei, tenho medo! Espero no mínimo, respeito. Curioso, não consigo ver aqui nenhum daqueles que um dia ajudei a justificar-se como profissionais de saúde, onde estão? Não conheço mais suas ações!!! Ah! Mas que bobagem cara, você já morreu, como disse Sartre, nadifiquei-me. Mas tenho certeza que estou protegido pelos códigos deontológicos ou por leis do exercício profissional que asseguram dignidade nos cuidados com a vida e com a morte. Mas que falatório, que tantos risos, porque se negam a preparar-me? Ah! Pobres mortais se tivessem a dimensão que esse processo natural nos mostra a absoluta igualdade entre os homens, nivelando-nos a um mesmo destino (independente de credo, raça, sexo, classe social). Projetem-se em mim pessoal, um dia vocês estarão aqui, no meu lugar, todos vocês!!!! Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. Nascimento MAL, Figueiredo NMA, Porto FR. Estímulo à pesquisa em enfermagem: criando pontes entre a graduação e a pós-graduação. Enferm UERJ 2002;10(1):25-28. Cruz C, Garofalo, RC, Sabino T, Nascimento MAL. O pacote e a enfermagem (análise crítica de uma cena de morte). Bras. Enferm 2000; 53(3):467-471. Materlat A, Materlat M. Histórias das teorias da comunicação, São Paulo: Loyola 2001; p.9. Almeida MFPV, Leite JL. Um mergulho no cotidiano do ser-enfermeira-com-a-criança em fase terminal, Rio de Janeiro: Minister; 1997. p. 88. Nascentes A. Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Bloch; 1988. p. 667. Germano RM. A ética e o ensino de ética na enfermagem do Brasil, São Paulo: Cortez; 1993. p.141. ¡ % artigo 03.pmd 170 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) Artigo original Sentimentos dos pacientes enfartados durante o período de internação em uma UTI Feelings of infarcted patients during the period of internment in a ICU Sentimientos de los pacientes infartados durante el período de internación en una UTI Geraldo Magela Salomé*, Cleide Aparecida Guerra** *Especialista em UTI, pela Faculdade São Camilo, Mestrando em enfermagem pela Universidade do Grande ABC, Enfermeiro Assistencial do Hospital Sanatórios, **Mestrando em enfermagem pela Universidade do Grande ABC, Enfermeira da Educação Continuada do Hospital Emilio Ribas. Resumo Este trabalho teve como objetivo identificar e caracterizar os sentimentos dos pacientes enfartados, relacionado a sua internação em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O estudo foi realizado na UTI de um Hospital Estadual, da cidade de São Paulo. A população deste estudo foi constituída pelos pacientes que atenderam aos seguintes critérios: ambos os sexos, todos maiores de 18 anos, conscientes, alfabetizados ou não, estar internado na UTI do hospital onde foi realizado o estudo, estar no 3° dia com diagnóstico de Infarto Agudo do Miocárdio. Os dados nos possibilitaram compreender que é importante, que os profissionais da área de saúde durante quaisquer procedimentos evitem deixar o paciente exposto durante o banho, necessidades fisiológicas, alimentação e outros procedimentos, e orientá-lo quando ao procedimento que será realizado. Palavras-chave: Infarto agudo do miocárdio, sentimentos. Abstract The aim of the present study has been to identify and to characterize the feelings of infarcted patients, related internment in ICU (Intensive Care Unit). The study was carried out in the ICUof a State Hospital, São Paulo. The population of this study was constituted by patients with following criteria: both sex, all above 18 years, conscientious, literate or not, interned in the ICU of the hospital where the study was carried out, to be in the third day with diagnosis of Acute Infarct of Myocardium. The data make possible to understand that it is important, that the professionals of the health area during any procedures must prevent to leave the patient displayed during bath, physiological necessities, feeding and other procedures. Key-words: Acute infarct of the myocardium, feelings. Artigo recebido em 15 de maio de 2003; aceito em 10 de junho de 2003. Endereço para correspondência: Geraldo Magela Salomé, Av. Francisco de Paula Quintaninha Ribeiro, 280/134, bol. 01, Jabaquara 04330-020 São Paulo SP, E-mail: [email protected] % artigo 07.pmd 171 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) Resumen Este trabajo tuvo como objetivo identificar y caracterizar los sentimientos de los pacientes infartados, relacionado a su internación en una UTI. El estudio fue realizado en la Unidad de Terapia Intensiva de un hospital estatal, de la ciudad de São Paulo. La población de este estudio estuvo constituida por pacientes que atendieron a los siguientes criterios: ambos sexos, todos mayores de 18 años, conscientes, alfabetizados o no, estar internados en la Unidad de Terapia Intensiva del hospital donde el estudio fue realizado, estar en el 3er día con diagnostico de Infarto agudo de miocardio. Los datos nos posibilitaron entender, que es importante que los profesionales del área de la salud, durante cualquier procedimiento, eviten dejar el paciente expuesto durante el baño, necesidades fisiológicas, alimentación y otros procedimientos. Orientar a respecto del procedimiento que será realizado. Palabras-clave: Infarto agudo de miocardio, sentimentos. Introdução A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é uma área de grande dinamismo, que pode propiciar maior vigilância e controle dos pacientes e, pela centralização dos recursos materiais e humanos, permite um atendimento pronto e eficaz, com base numa filosofia de trabalho definida, em que a atuação da equipe multiprofissional deve estar voltada para um objetivo comum, a recuperação do doente gravemente enfermo [1]. O Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) passou a ser clinicamente reconhecido no início do século XX e permanece até os dias atuais como uma das maiores causas de morte no mundo ocidental. Os maiores progressos no tratamento do IAM foram o advento das unidades coronarianas e mais tarde os chamados métodos de reperfusão do miocárdio, entre eles a terapêutica trombolítica. Graças a esses avanços conseguiu-se reduzir a mortalidade intra-hospitalar do IAM de 20% a 30% para 8% a 10% [2]. Um dos aspectos mais importantes da assistência ao paciente com IAM é a avaliação feita pela enfermagem. O enfermeiro leva informações sobre o estado atual do paciente, e sofre também a parte emocional, psicológica, relacionada ao ambiente e tratamento recebido pelos profissionais de saúde, tratamento que está recebendo. Estas observações contribuem para identificar complicações precoces. Com todo o aparato tecnológico existente para salvar vida dos pacientes com IAM, é necessário profissional capacitado para estabelecer diagnósticos precisos quanto à necessidade do cuidar, apoiado no conhecimento científico e na observação das manifestações de sinais e sintomas decorrentes da doença, olhar o paciente não só como uma máquina, mas também como um ser humano que tem sentimento que necessita de carinho, apoio, encorajamento para poder vencer o momento de tanta dor e medo de morrer. É neste momento que devemos ser humanos e dar apoio psicológico e de orientações sobre a sua doença e tratá-lo com respeito em fim, como ser humano. Segundo Sawada et al [3], o homem, como um ser social, organizado dentro de proximidade física relaciona-se com outros em um ambiente físico, o que afeta significativamente a interação social e a comunicação interpessoal. O homem sai de seu lar onde possui domínio do espaço, está acostumado a ser dono de sua vida, não receber ordem (horário para tomar banho, para comer, fazer necessidades fisiológicas e outros), ao ser admitido em uma UTI, em que muitas vezes necessita dividir o espaço territorial com pessoas estranhas, tendo sua privacidade diminuída, sem controle do próprio corpo, ficando nas mãos de profissionais da saúde, pois a doença o afasta da sociedade e dos familiares. O pior é que são pessoas estranhas que estão prestando assistência a enfermagem, às vezes não o chama pelo nome, fazendo o paciente sentir-se uma máquina. Diante desses fatos, questiona-se quais são os sentimentos destes pacientes enfartados, perante a sua internação em uma UTI. % artigo 07.pmd 172 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) Objetivo 1. Identificar e caracterizar os sentimentos dos pacientes enfartados, relacionados a sua internação em uma UTI. Relacionado ao barulho dos equipamentos hospitalares ligados à noite e durante o dia; Durante a higienização no leito pela enfermagem; Durante a realização das necessidades fisiológica do paciente ao lado de outros pacientes. Metodologia Análise dos dados Tipo de pesquisa Os dados serão apresentados em números absolutos e dispostos em gráficos para interpretações das informações de cada variável analisada. Esta pesquisa é caracterizada como descritiva, exploratório, de campo transversal, com abordagem quantitativa. Local de estudo O estudo foi realizado na UTI de um Hospital Estadual Geral da cidade de São Paulo. A UTI é constituída de 8 leitos e atendem pacientes adultos, tanto clínicos quanto cirúrgicos. Durante o mês em que foi realizada a pesquisa a taxa de ocupação foi de 100%. População A população deste estudo foi constituída pelos pacientes que atenderam aos seguintes critérios: Ambos os sexos; Todos maiores de 18 anos; Conscientes; Alfabetizados ou não; Estar internado na UTI do hospital onde foi realizado o estudo; Todos os sujeitos aceitaram participar das entrevistas, que foram realizadas no período de 02 de setembro á 02 de novembro, totalizando 16 participantes na pesquisa. Os resultados Os dados serão apresentados de acordo com os objetivos propostos para este estudo. Resultado No gráfico 1 observamos que 68% dos entrevis-tados eram do sexo masculino e 32% do sexo feminino. Segundo Fernanda [4], em seu trabalho relata que as mulheres estão sendo afetadas por doenças coronarianas na mesma proporção que os homens. Até a alguns anos acreditava-se que o Infarto era mal unicamente do sexo masculino, mas as estatísticas provam que o sexo feminino vem morrendo cada vez mais do que os homens de IAM. A mortalidade hospitalar, em conseqüência do IAM em mulheres é 2,5 maior que a dos homens. Gráfico 1 - Distribuição da freqüência dos pacientes enfartados internados em uma UTI, segundo sexo. São Paulo, 2001. Coleta de dados Elegeu-se a entrevista como técnica de coleta de dados. Foi elaborado for mulário com 09 perguntas, não gravada, divididas somente em uma parte e fechada a fim de saber o que o paciente sentia na seguinte situação durante a sua internação. As perguntas estão relacionadas abaixo: Quando foi comunicado que tinha sofrido um infarto; Quando a enfermagem foi passar o paciente da maca para o leito da UTI; Quando o profissional da área de saúde acendia a luz enquanto o paciente dormia; O gráfico 2 mostra que 50% dos sujeitos que participaram da pesquisa estavam com a faixa etária entre 30 a 50 anos. A idade de risco para o IAM também está %! artigo 07.pmd 173 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) relataram que neste momento eles sentiram a sua saúde entregue em mãos desconhecidas, em uma situação estranha (medo, ansiedade, tristeza), sem infor mação concreta sobre o que estava acontecendo e o que será feito com ele. A internação em uma UTI promove, quase invariavelmente, um desequilíbrio emocional no paciente. As respostas de ansiedade, medo e depressão nos pacientes são facilmente observadas e estão entre os principais diagnósticos psicológicos. A ansiedade é uma resposta normal do ser humano ao desconhecido, podendo-se manifestar com baixando, 5% dos enfartados têm idade entre 30 a estado ansioso, circunstancial e transitório, 40 anos. Negros e brancos são atingidos na mesma caracterizada por sentimentos desagradáveis de proporção, mas estudos comprovam que os tensão e apreensão [5]. estados do Sul e Sudeste têm maior incidência da É importante que o paciente familiarize-se com doença [4]. as rotinas da unidade, conheça a equipe e seja No gráfico 3, podemos observar que 80% orientado quanto a sua situação e procedimentos, dos entrevistados tiveram seus sentimentos para que a ansiedade, medo e depressão comecem alterados durante o momento que receberam sa a ceder. noticia do seu diagnóstico. O sujeitos da pesquisa Inaba et al. [6], em seu estudo, concluem que para bem cuidar é necessário o bem comunicar, Gráfico 3 - Classificação do que sente o paciente ou seja que a comunicação seja vista em toda sua enfartado internado em uma UTI, ao ser informado do amplitude e possibilidades, já que é a ponte que torna seu diagnóstico. São Paulo, 2001. comuns nossos objetivos. No gráfico 4 podemos observar que somente 19% dos sujeitos que participaram da pesquisa não tiveram seus sentimentos alterados durante a passagem da maca para a cama da UTI. As alterações de sentimento foram devido ao desconhecimento, falta de comunicação e orientação, levando em consideração que eles estavam chegando em um ambiente e conhecendo pessoas estranhas. Ferreira [7] lembra que comunicar significa tornar comum, comunicar idéias, pensamentos estabelecer relações. O sucesso de uma boa comunicação está em realizá-la Gráfico 4 - Classificação do sentimento do paciente infartado,durante a bem feita, com carinho e amor. passagem da maca para o leito da UTI. São Paulo, 2001. No gráfico 5, podemos obser var que 50% sentem indiferença ao barulho, 31 sentem irritabilidade, 13% sentem nervosismo e 6 % ansiedade com o barulho constante dos equipamentos ligados para monitoramento dos sinais vitais. Não conseguiram dormir direito, pois conversas em voz alta e barulhos incomodaram, deixando-os às vezes com alteração de sentimento. Gráfico 2 - Distribuição da freqüência dos pacientes enfartados internados em uma UTI, segundo a idade. São Paulo, 2001. %" artigo 07.pmd 174 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) Gráfico 5 - Distribuição de freqüência dos pacientes enfartados internação em uma UTI quanto ao sentimento causado pelo barulho dos equipamentos hospitalares ligados. São Paulo, 2001. Gráfico 6 - Distribuição da frequência dos pacientes enfartados internados em uma UTI, quanto ao que sentem quando são tocados sem permissão. São Paulo, 2001. Gráfico 7 - Distribuição da frequência dos pacientes enfartados internados em uma UTI, quanto ao que eles sentem quando acendem a luz durante o seu sono. São Paulo, 2001. Gráfico 8 - xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Porém este barulho faz com que a equipe fique alerta, os pacientes sentem-se cuidados. No gráfico 6, observamos que 44% dos pacientes sentem indiferença quando o profissional da saúde toca-lhe sem permissão, 6% sentem irritabilidade e 25% sentem constrangimento e 25% nervosismo. Eles justificaram que neste momento é como tirassem a suas identidades, como se fossem animais irracionais. Fernandes [8] relata em seu estudo que tocar a pessoa pode constituir uma experiência desagradável, particularmente quando não são considerados os aspectos biopsicossociais ou humanitários envolvidos na internação entre o ser que toca e o que é tocado, pois quando tocamos em alguém, realizamos esse ato para passar algo e para sentir algo. Por isso que é importante antes de tocarmos, pedirmos licença e comunicarmos o que irá ser realizado. Podemos observar no gráfico 7 que 32% dos pacientes ficam indiferentes quando acedem a luz durante o sono do paciente, 18% ficam nervosos e 50% sentem irritabilidade, pois atrapalharam o sono deles. Observamos no gráfico 8 que 13% sentem indiferença quando é higienizado por outra pessoa, 74% sentem constrangimento e 13% sentem irritabilidade. Segundo Vorttherns [9], as regiões mais confortáveis para serem tocadas são as mãos, os braços, os ombros, enquanto as demais são consideradas inapropriadas. Demonstra preocupação com o controle do seu corpo, o que constitui um valor cultural e portanto um direito individual. Quanto ao realizarem as necessidades fisiológicas no lado de outros pacientes, 44% ficam envergonhados, 12% indiferentes e 44% constrangidos. %# artigo 07.pmd 175 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) Conclusão Referências Através desde trabalho, posso concluir que 68% dos entrevistados eram do sexo masculino e 32% do sexo feminino. 50% dos sujeitos que participaram da pesquisa estavam com a faixa etária entre 30 a 50 anos, 25%, 50 a 60 anos e 25%, 60 a 80 anos. 44% dos entrevistadas tiveram medo de morrer no momento que receberam a noticia do seu diagnóstico. 19% dos sujeitos que participaram da pesquisa não tiveram seus sentimentos alterados durante a passagem da maca para a cama da UTI. 32% dos pacientes ficaram indiferentes quando acendem a luz durante o sono do paciente, 18% ficam nervosos e 50 sentem irritabilidade. 13% sentem indiferença quanto é higienizado por outra pessoa, 74% sentem constrangimento e 13% sentem irritabilidade. Ao realizarem as necessidades fisiológicas ao lado de outros pacientes, 44% ficam envergonhados, 12% indiferentes e 44% constrangidos. Com o resultado concluí ser importante que os profissionais da área de saúde durante quaisquer procedimentos evitem deixar o paciente exposto durante o banho, necessidades fisiológicas, alimentação e outros procedimentos. Oriente quanto aos procedimentos que serão realizados. Enfim com este trabalho podemos fazer intervenções para modificar a situação, conforme a humanização da assistência. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. Castro MLB, Graziani KV. Identificação dos sentimentos de paciente consciente em uma UTI quanto á sua privacidade. São Paulo: Rev Cadernos - Centro Universitário São Camilo 2001;7(1):27- 31. Nicolau NP. Infarto agudo do miocárdio. In. Porto Celmo C. Doenças do coração: Prevenção, tratamento e reabilitação. Rio de Janeiro: Guanabara e Koagan; 1998. p.608- 614. Sawada NM. et al. 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J Gerontolo Nurs 1991;17(5):6-9. ¡ %$ artigo 07.pmd 176 26/06/03, 15:23 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) Revisão Alterações oculares na hanseníase Ocular alterations in the leprosy Alteraciones oculares en la lepra Thaís Evangelista Fernandes Brito* *Bacharel em Enfermagem pela Universidade Estadual Vale do Acaraú, Enfermeira assistencial da Unidade de Emergência do Hospital das Forças Armadas, Brasília DF Resumo As alterações oculares na hanseníase representam uma parcela considerável de casos evitáveis de cegueira. Assim, faz-se imprescindível que o profissional de enfermagem possua conhecimentos e habilidades que lhe permitam identificar precocemente estas alterações e instituir a assistência adequada. O presente estudo objetivou investigar a literatura existente sobre as alterações oculares na hanseníase, bem como, descrever estas alterações e suas implicações para a enfermagem. Palavras-chave: hanseníase, alterações oculares. Abstract The ocular alterations in leprosy get represent a considerable parcel of cases prevented of blindness. Thus, it becomes essential that the nursing professional knowledge and abilities that allow to identify these alterations precociously and to institute adequate assistance. The aim of this study was to investigate existing literature on the ocular alterations in leprosy, as well as, to describe these alterations and its implications for nursing. Key-words: leprosy, ocular alterations. Artigo recebido em 7 de abril de 2003; aceito em 15 de maio de 2003. Endereço para correspondência: QRSW 01 LT 01/202 Ed. Silco I, Sudoeste 70675-100 Brasília DF, E-mail: [email protected] %% artigo 01.pmd 177 26/06/03, 15:24 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) Resumen Las alteraciones oculares en la lepra representan un porcentaje considerable de los casos evitables de ceguera. Así, se hace imprescindible que el profesional de enfermería tenga capacidad y conocimientos que permitan identificar precozmente estas alteraciones y suministrar la ayuda adecuada. El objetivo del presente estudio ha sido investigar la literatura existente sobre las alteraciones oculares en la lepra, así como, describir estas alteraciones y sus implicaciones para el oficio de enfermera. Palabras-clave: lepra, alteraciones oculares. Introdução É consensual entre os autores [1,2,3,4] a elevada prevalência de comprometimentos oculares em pacientes portadores de hanseníase. O cientista norueguês Armanuer Hansen, descobridor do Mycobacterium leprae, já referia em 1873 que não há doença que tão freqüentemente dá origem a lesões oculares como a lepra [5]. Contudo dados epidemiológicos sobre o envolvimento ocular na hanseníase são variáveis, em virtude dos diferentes métodos de avaliação e da falta de padronização das pesquisas existentes. Além destas divergências operacionais, a incidência dos comprometimentos oculares é influenciada por vários fatores, especialmente a forma clínica e o tempo de evolução da doença. Um dos raros estudos sobre o tema que utilizou protocolo e formulário padronizados [6] envolveu 33 países onde a hanseníase é endêmica, incluindo o Brasil. O estudo estimou que 20 a 50% dos pacientes portadores de hanseníase apresentam alguma alteração ocular, sendo que 10% já desenvolveram cegueira decorrente da enfermidade. Nestes países, a hanseníase é apontada como uma das principais causas de cegueira na população. Alterações oculares na hanseníase O envolvimento ocular na hanseníase é conhecido desde 1873, época do descobrimento do M. leprae, e foi muito documentado em todo o mundo até a década de 40, quando se destacaram, no Brasil, os trabalhos de Barros [7] e Vale [8]. Nas décadas seguintes, somente são encontrados escassos relatos sobre o tema em compêndios especializados. No início da década de 80, porém, as alterações oculares causadas pela hanseníase voltaram a despertar o interesse científico em vários países do mundo, inclusive do Brasil, que teve o Instituto Lauro de Souza Lima, em São Paulo, como principal expoente no estudo e na assistência aos comprometimentos oculares na hanseníase. Muitos dos trabalhos publicados no Brasil, neste período, foram desenvolvidos no referido instituto, incluindo-se os de Cristofolini [9-12] e Vieth et al. [1]. Desde então, pesquisas vêm sendo realizadas em todo o território nacional. Ressaltamos a escassez de literatura de enfermagem direcionada ao tema; os estudos existentes praticamente limitam-se a publicações da década de 80, predominantemente de autoria de Cristofolini [9-12], e, mais recentemente, de Capelo [13-15]. Cintra et al. [16] ressaltam que os enfermeiros têm subestimado seu potencial de atuação na área de saúde ocular, deixando importantes lacunas na assistência prestada ao paciente. Devemos lembrar que a enfermagem caracteriza-se pela humanização do atendimento ao paciente e que, sob a ótica holística, em que o ser humano é visto como um todo complexo e indivisível, a avaliação dos comprometimentos oculares e de suas potenciais conseqüências para o indivíduo e sua família não podem ser negligenciadas durante a assistência de enfermagem. Os comprometimentos oculares na hanseníase podem ocorrer devido a diversos mecanismos, quais sejam: lesão causada pela infiltração do bacilo nos olhos e anexos, ocasionando processos inflamatórios, traumáticos e/ou irritativos [17], lesão dos troncos nervosos, motores ou sensoriais, em especial, dos V e VII pares cranianos trigêmeo e facial, responsáveis pela sensibilidade da córnea e mobilidade dos músculos da mímica facial [2]; estados reacionais, que, por agressão direta ou indireta, podem desencadear inflamação dos anexos e bulbo oculares [3,18]; e utilização de clofazimina no tratamento quimioterápico da %& artigo 01.pmd 178 26/06/03, 15:24 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) hanseníase, que pode produzir alterações pigmentares na mácula, córnea e mucosa conjuntival [19,20]. As lesões oculares hansênicas destacam-se por sua evolução insidiosa, com pouca ou nenhuma sintomatologia; conseqüentemente, seu diagnóstico é tardio, quando geralmente já estão instalados quadros graves, que levarão à diminuição progressiva da acuidade visual ou mesmo à cegueira. Embora a hanseníase possa comprometer quase todas as estruturas oculares, sua predileção é pelo segmento anterior do globo ocular, sendo raro o envolvimento do segmento posterior, uma vez que o microrganismo desenvolve-se melhor em baixas temperaturas. Estudos realizados por Oréfice & Campos [21], Talhari & Neves [22] e Vaughan & Asbury [23] evidenciaram que a temperatura do segmento anterior do olho é 3ºC mais fria que a corpórea, justificando, assim, o tropismo do M. leprae por esta estrutura. As principais alterações causadas pela hanseníase envolvendo estruturas oculares (cílios e supercílios, pálpebras, aparelho lacrimal, esclera, córnea e úvea) e suas implicações para a enfermagem são descritas a seguir. Cílios e supercílios A região superciliar é freqüentemente acometida por hansenomas, infiltrados difusos, placas reacionais e manchas. Por sua vez, a infiltração palpebral provoca atrofia dos tecidos que apóiam os folículos pilosos dos cílios causando a madarose, queda dos referidos pêlos, a qual se constitui numa alteração bastante freqüente, principalmente em pacientes com a forma virchowiana [6]. O profissional de enfermagem deve considerar que a madarose, além do significado estético para o paciente, implica na perda de uma proteção natural do olho, uma vez que os cílios atuam filtrando a poeira e detritos em suspensão no ar, evitando que entrem em contato com a superfície ocular, e os supercílios desviam do olho o suor que porventura escoe da fronte [24]. Como é de caráter permanente, o tratamento é feito cirurgicamente através de enxertos pediculados ou livres de couro cabeludo. A triquíase é caracterizada pela má implantação dos cílios, que ficam voltados para o interior do globo ocular, causando atrito e provocando ardor, sensação de corpo estranho, hiperemia conjuntival e lacrimejamento. Ocorre, principalmente, devido à presença de nódulos, cicatrizes ou lesões nas bordas palpebrais ou, posteriormente à madarose ciliar, quando, então, os cílios crescem em direções alteradas [1]. Uma vez detectada a triquíase, o profissional de enfermagem deve realizar a retirada manual dos cílios mal implantados com o auxílio de uma pinça, lubrificar artificialmente os olhos e adotar, como rotina, a avaliação do rebordo palpebral. Em alguns casos, há a necessidade de encaminhar ao oftalmologista para intervenção cirúrgica. Pálpebras As principais alterações palpebrais causadas pela hanseníase são o lagoftalmo, o ectrópio e o entrópio. O lagoftalmo pode ser classificado em inicial ou avançado. O lagoftalmo inicial caracteriza-se pela diminuição da força muscular no fechamento das pálpebras, podendo ser avaliado pela presença de uma fenda palpebral de 1 a 2 mm ao fechar suavemente os olhos ou pelo teste de força muscular. O ressecamento da córnea pode ocorrer no lagoftalmo inicial, principalmente durante o sono, quando o paciente permanece várias horas com o olho ligeiramente aberto, provocando, ao levantar-se, sensação de corpo estranho, ardor, lacrimejamento e hiperemia conjuntival [17]. No lagoftalmo avançado ocorre a paralisia do músculo orbicular, o paciente é impossibilitado de realizar todos os movimentos necessários para a lubrificação da córnea, como o piscar e o fechar completamente os olhos (fenda superior a 2 mm), podendo ocasionar o olho seco e posteriormente, cegueira irreversível. Woods [24] lembra que quando houver lagoftalmo estará presente o fenômeno de Bell ao tentar fechar os olhos o globo ocular roda para cima, numa tentativa de colocar a córnea embaixo da pálpebra. O enfermeiro deve sempre atentar se o fenômeno de Bell é completo ou incompleto o globo gira para cima e a seguir desce, ficando a córnea exposta, pois nesta situação o paciente correrá risco aumentado de perder a visão, principalmente, se apresentar a sensibilidade corneana reduzida. A enfermagem tem papel fundamental na prevenção do lagoftalmo, mediante a orientação do paciente para as seguintes práticas: lubrificação artificial dos olhos utilizando-se colírios, pomadas oftálmicas ou soro fisiológico; exercícios diários de fechamento das pálpebras visando reforçar a musculatura orbicular (pede-se ao paciente para fechar os olhos suavemente, depois com força por 10 segundos, posteriormente, relaxar a musculatura, abrir as pálpebras, olhar para cima sem movimentar a cabeça, relaxar e repetir o exercício várias vezes ao dia); proteção diurna dos olhos utilizando óculos escuros com hastes laterais largas para reduzir a intensidade de exposição à luz solar; proteção noturna com oclusão dos olhos por meio de lenço limpo ou óculos de espuma e avaliação ocular periódica [25, 26]. O entrópio e o ectrópio são posições patológicas da pálpebra que favorecem o ressecamento da córnea. %' artigo 01.pmd 179 26/06/03, 15:24 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) O entrópio é inversão da margem palpebral superior ou inferior, provocando lacrimejamento, hiperemia conjuntival e lesões na córnea e conjuntiva, seu tratamento é cirúrgico [27]. O ectrópio é a eversão e desabamento da borda palpebral superior ou inferior podendo ocorrer somente no canto temporal ou nasal, provocando, neste caso, a epífora, ou seja, a eversão do ponto lacrimal. No ectrópio avançado ou completo ocorre a eversão total da pálpebra. Como não existem meios de prevenir o surgimento do ectrópio ou entrópio, a enfermagem deve voltar-se para a detecção precoce e para o tratamento paliativo, através da lubrificação artificial e proteção ocular diurna e noturna. Para o tratamento curativo, o paciente deve ser encaminhado ao oftalmologista para realizar a blefaroplastia. Aparelho lacrimal Os pacientes portadores das formas multibacilares da hanseníase podem apresentar redução na produção lacrimal, principalmente os que fazem uso de clofazimina [24]. Quando esta alteração ocorre nos indivíduos que mantém a sensibilidade corneana preservada, os mesmos costumam referir sensação de ardor ocular. A enfermagem, por sua vez, deverá orientar a lubrificação artificial dos olhos com colírios ou soro fisiológico, atentando para a técnica correta de instilação ocular. Os pacientes com alterações da mucosa nasal ou com paralisia do músculo orbicular tendem a desenvolver a dacriocistite, em virtude da retenção das lágrimas no saco lacrimal que favorecem a infecção por pneumococos ou pseudomonas [24]. Os sintomas são edema do saco lacrimal, hiperemia conjuntival e refluxo purulento pelo ponto lacrimal. Como prevenção, o enfermeiro deve orientar a higiene nasal com soro fisiológico; para o tratamento, orientar a higienização nasal e ocular e encaminhar ao oftalmologista [17]. Esclera A inflamação da esclera ocular ou esclerite caracteriza-se por hiperemia conjuntival localizada e dor a movimentação dos olhos; sua evolução pode levar a alterações funcionais e, raramente, à perda anatômica dos olhos. Na hanseníase a afecção pode manifestar-se sob a forma de episclerite, esclerite anterior, nodular, difusa, uni ou bilateral, geralmente recidivante, que acomete pacientes em tratamento ou em alta medicamentosa [3]. A conduta de enfermagem na esclerite é realizar higiene ocular com soro fisiológico gelado, instilar colírios antibióticos com corticóides, sob orientação médica, e encaminhar ao oftalmologista [17]. Córnea O ressecamento da córnea (olho seco), muito comum em pacientes com hanseníase, pode ser causado pelo lagoftalmo, triquíase, ectrópio ou pela baixa produção lacrimal. Os sintomas do olho seco são ardor, dor, prurido, lacrimejamento, sensação de corpo estranho, embaçamento da visão, dificuldade na movimentação das pálpebras e produção de muco espesso [1]. Os olhos secos são propensos a infecções como conjuntivites, blefarites e ceratites, e a evolução do quadro pode levar ao desenvolvimento de uma ceratoconjuntivite seca, envolvendo a córnea e a conjuntiva de forma crônica. A prevenção e o tratamento são os mesmos do lagoftalmo. A ceratite de exposição pode-se desenvolver sempre que a córnea for inadequadamente umedecida e protegida pelas pálpebras [27]. A fixação das pálpebras com esparadrapo ou a colocação de um leve tampão sobre o olho lubrificado, naqueles que apresentam diminuição sensorial, são procedimentos de enfermagem que ajudam a proteger a córnea. Mesmo assim, paciente deve ser encaminhado ao oftalmologista para um tratamento eficaz. Com freqüência, os pacientes hansenianos são acometidos de úlceras corneanas causadas, em geral, por infecções, ressecamento ou traumatismos. Estas lesões podem evoluir para cegueira e devem ser consideradas como urgência oftalmológica, devendo o profissional de enfermagem aplicar pomada oftálmica no olho atingido, fazer curativo oclusivo com gaze limpa, tendo o cuidado de fixar a pálpebra para impedir a sua abertura sob o curativo e encaminhar ao oftalmologista, o mais breve possível [17]. A córnea também funciona como meio dióptrico e possui vital importância para a acuidade visual; assim, pequenas alterações na córnea causadas por acidentes ou enfermidades podem provocar grandes comprometimentos na acuidade visual [28]. Estes aspectos devem ser atentados pela enfermagem durante o exame ocular, devendo-se dar atenção especial principalmente na busca de sinais de irritação, corpos estranhos e inflamações não percebidas pelo próprio paciente. Úvea Uma das principais causas de cegueira na hanseníase é a uveíte [19], uma inflamação do trato uveal, que pode afetar a íris, o corpo ciliar e a coróide. Os pacientes com esta enfermidade queixam-se de dor, visão embaçada, fotofobia, hiperemia conjuntival e miose. O desconforto e a dor são causados, principalmente, por espasmos dos músculos do corpo ciliar [28]. & artigo 01.pmd 180 26/06/03, 15:24 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) A assistência de enfermagem deve ser o encaminhamento urgente ao oftalmologista, a orientação do paciente para a proteção ocular com o uso de óculos escuros e o acompanhamento com avaliação ocular periódica. Considerações finais Considerando que a visão é responsável por cerca de 80% das informações perceptivas do ser humano [29], sua perda parcial ou total, temporária ou permanente, implica em prejuízo da qualidade de vida do indivíduo, decorrente de distúrbios físicos, psicológicos, sociais e econômicos. Para a sociedade, representa encargo oneroso e perda da força de trabalho. Na hanseníase, estes defeitos se exacerbam, uma vez que os comprometimentos oculares, freqüentemente, vêm associados à insensibilidade de mãos e pés, tornando os portadores mais vulneráveis a traumas, ferimentos e mutilações. Esperamos que o presente estudo impulsione o desenvolvimento de futuras pesquisas nesta área de conhecimento, a fim de enriquecer as informações disponíveis sobre o tema e, sobretudo, contribuir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas afetadas pela doença. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. Vieth A, Salotti SRA, Passerotti S. Avaliação e tratamento do olho seco na hanseníase. Rev Bras Enfermagem 1987;40:118-122. Rolim BC, Silva SEM. Avaliação dos comprometimentos oculares em hansenianos virgens de tratamento. Rev Bras Enfermagem 1991;44:123-129. Campos WR et al. 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Fitoterapia en la comunidad: Maria da Graça Piva *Doutora em Enfermagem, Professora de Enfermagem da Universidade Luterana do Brasil, Diretora da Escola de Profissionais São Francisco de Assis, Presidente do COREN - RS. Resumo O trabalho aqui descrito apresenta dados sobre a utilização da Fitoterapia, terapêutica natural que utiliza plantas medicinais como instrumento de ação. Trata especificamente sobre a participação de uma enfermeira e professora da ULBRA, nos estágios na área de saúde comunitária do curso de Enfermagem, assim como dos critérios mínimos para que tal tratamento se desenvolva com sucesso numa dada população. Ainda é importante ressaltar que o mesmo compreende um guia prático para a implantação de um programa fitoterápico ao nível de saúde pública. Palavras-chave: Fitoterapia, participação comunitária. Abstract This text presents data about the use of phytotherapy, a natural therapeutic that uses medicinal plants as the instrument of action. It treats mainly about the participation of a nurse and professor of the Lutherian Brazilian University (ULBRA) in the training of community and also about the rules for success in development of this treatment in population. It is also a practical guide for the establishment of the phytoterapic program in a public health level. Key-words: Phytotherapy, consumer participation.. Artigo recebido em 15 de maio de 2003; aceito em 10 de junho de 2003. Endereço para correspondência: Maria da Graça Piva, Escola de Enfermagem São Francisco de Assis, Rua Moreira Cesar, 2067 - 95034-000 Caxias do Sul - RS, E-mail: [email protected] & artigo 06.pmd 182 26/06/03, 15:24 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) Resumen El trabajo aquí descripto, presenta datos sobre la utilización de la FISIOTERAPIA, terapéutica natural que utiliza plantas medicinales como instrumento de acción. Trata específicamente sobre la participación de una enfermera y profesora de la Universidad de Brasil (ULBRA), en las prácticas en el área de salud comunitaria del curso de enfermería, así como de los criterios mínimos para que tal tratamiento se desarrolle con éxito en una población dada. Aún es importante resaltar que el mismo comprende una guía práctica para la implementación de un programa fitoterapeutico al nivel de salud publica. Palabras-clave: Fitoterapia, participación comunitaria. Introdução Como enfermeira e professora universitária, portanto educadora, doutoranda em Biologia de Sistemas e Meio Ambiente pela Universidade de Leon (Espanha), participante dos problemas que atingem a nossa comunidade nos aspectos relativos a educação e saúde, questiono a minha efetiva participação nos processos sociais. Ao tentar descrever as atividades que desempenho até hoje, utilizando a fitoterapia como medida alternativa no tratamento e prevenção dos aspectos de saúde, doume conta de quanto é real a influência do enfermeiro sanitarista, como educador e quão importante é a realização de estágios supervisionados tanto para os acadêmicos como para o próprio supervisor que com ele trabalha diretamente, dentro do contexto universitário onde atuo como professora de saúde coletiva. Considero, portanto indispensável descrever essas atividades, para que o próprio leitor julgue, e mais ainda, desperte no sentido de que, um a um, pouco a pouco, ao fazermos a nossa parte é possível obter-se resultados inimagináveis. Nos locais onde a medicina tradicional é bem assimilada pelas comunidades, faz bastante sentido adotar as práticas tradicionais seguras e úteis, e incorporá-las ao planejamento e implementação nos sistemas formais de saúde. Contudo isto significa elevar a medicina tradicional às bases científicas. Os países devem fazer um exame crítico da matéria médica e das práticas locais, identificar corretamente as plantas e outras substâncias naturais utilizadas, decidir quais remédios e práticas são úteis e suprir aqueles que evidentemente são eficazes ou perigosos. Isto significa muito trabalho, mas vale a pena. É fato inegável que no mundo atual os medicamentos à base de plantas medicinais têm um papel vital nos cuidados da saúde para grande parte da população mundial, especialmente nos países em desenvolvimento; em muitos casos esse medicamentos suprem a lacuna entre a disponibilidade e a demanda de medicamentos modernos (OMS 1989). À visão do texto acima associa os objetivos iniciais que me levaram a trabalhar com plantas medicinais: como atuante da área de saúde junto às comunidades carentes, deparei-me com o problema de carência de recursos econômicos, bem como a falta de acesso aos serviços de saúde e, ainda hoje, vejo-me frente a uma realidade incontestável: a baixa resolutividade no atendimento à saúde da população. Desenvolvimento Um estudo sistemático com as plantas medicinais vem sendo desenvolvido, por mim, desde 1987, incluindo, como já foi exposto, um trabalho comunitário. Neste período detectei como etapas importantes, para o sucesso das ações de saúde quando da utilização de fitoterapia, na prevenção de doenças e na promoção da saúde pública, as quais cito nos parágrafos abaixo: Estudo das plantas de maior incidência de utilização pela população de minha comunidade, incluindo aquelas existentes nos jardins das casas, apartamentos ou comumente usadas como temperos; Identificação visual das plantas citadas acima; Definição das indicações mais freqüentes das plantas em relação às patologias, isto é, as mais indicadas para problemas no aparelho respiratório, circulatório, digestivo, entre outros; &! artigo 06.pmd 183 26/06/03, 15:24 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) Determinação das formas de utilização mais comuns das plantas medicinais, incluindo a relação da eficácia com a manipulação ou preparo das mesmas. Observamos que as pessoas costumam utilizar misturas de plantas antagônicas ou homônimas, que podem potencializar ou anular o efeito de uma planta medicinal. Também verificamos que uma mesma planta, se utilizada erroneamente (a folha em vez da casca, a infusão em vez da maceração ou uma dosagem inconveniente para a idade e para o problema que se quer combater) poderá perder totalmente a sua eficácia. Dentro deste aspecto, salientamos ainda que a população também utiliza as plantas medicinais mais comumente sob for ma de infusão, maceração e decocção, desconhecendo que as mesmas têm muitas outras formas de preparo, como por exemplo: banhos, tinturas, inalações, compressas, cataplasmas e até mesmo no chimarrão. Dentro desse trabalho devemos, ainda, levar em conta o estado de conservação das espécies medicinais antes de serem utilizadas, a respeito do tempo de validade da mesma, assim como o local de procedência, enfim, todos os fatores que independentes ou associados podem interferir direta ou indiretamente na eficácia do medicamento in natura. Nesta etapa da pesquisa completa-se a identificação visual das plantas, determinadas pelos grupos em estudo, incluindo o estudo morfológico e uma exaustiva revisão bibliográfica das mesmas. Também se deve buscar esclarecer os diferentes nomes populares ou indicações que encontra-se para uma mesma planta medicinal, impedindo que as pessoas sejam ludibriadas ao adquirir e utilizar os diferentes fitoterápicos. Questionamentos principais Para que essas etapas possam se concretizar com maior rapidez e eficácia devem preceder as tarefas acima o seguinte questionamento: Como avaliar ou realizar um estudo etnobotânico da comunidade onde vivo ou trabalho? Sugiro seguir as indicações a seguir: Identificar os profissionais que gostem do tema, para juntos trabalharem o assunto, organizando ou participando de cursos a fim ou estruturando grupos de estudo (auto-didatas) com bibliografia atual; Organizar, no local de trabalho, salas de espera: reunião informal de clientes que, enquanto aguardam atendimento de saúde, possam falar sobre o assunto em questão, aproveitando para identificar os herboristas ou curandeiros da região, captando-os para que atuem junto aos profissionais de saúde com seu conhecimento popular; reconhecer e divulgar o tema entre os presentes, que servirão de multiplicadores, mesmo que nem todos fiquem membros efetivos do grupo que se pretende formar; realizar entrevistas individuais, preferencialmente nas casas dos conhecedores do assunto, determinando o perfil dos mesmos e buscando o resgate do conhecimento popular. São importantes as visitas domiciliares: elas favorecem o intercâmbio entre os profissionais e a comunidade, identificando as espécies botânicas medicinais utilizadas pela mesma, coletando eccicatas (amostras) e mudas, aproveitando para divulgar o trabalho a ser desenvolvido no local de origem do entrevistador: Para a realização de entrevistas domiciliares sugiro modelo de questionário do anexo I; Organizar bibliografia para consulta na própria unidade de trabalho, com auxílio dos clientes; Incentivar formação de grupos que trabalhem; Plantio de mudas das referidas plantas, organizando o horto medicinal local; Confecção da farmácia caseira, em que o cliente aprende a limpar, separar, guardar e identificar corretamente as plantas coletadas, deixando parte delas na unidade de saúde, para que outros tenham acesso ao tratamento. Neste item incluem-se o preparo e manuseio de fórmulas caseiras simples como: pomadas, xaropes, tinturas, etc; Organizar o Manual da Comunidade, sobre as plantas medicinais por eles utilizadas, registrando assim todo o trabalho desenvolvido; Oferecer a consulta de enfermagem, por patologia, com ficha de identificação e acompanhamento, para posterior controle de casos; em relação à eficácia do tratamento; Proporcionar a troca de experiência com outros grupos de objetivos idênticos, como instituições de saúde, escolas, fundações, etc; Filmar e fotografar as pessoas e os trabalhos desenvolvidos, completando assim o registro de todo o trabalho desenvolvido; Divulgar o trabalho entre colegas (equipe multiprofissional) para reconhecimento do mesmo e valorização através de encaminhamentos; Estimular a divulgação externa, para auxiliar no desenvolvimento de pesquisas na área. Conclusão No decorrer do trabalho, ao utilizar o tratamento fitoterápico, surpreendi-me com a eficácia obtida, além &" artigo 06.pmd 184 26/06/03, 15:24 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) de que, esse tipo de terapia estimula a cura através do auto-cuidado, o qual fazia parte também de minhas prioridades. Atualmente, buscando a conclusão da tese de Doutorado, na qual estou realizando um aprofundamento científico do tema, através de um estudo Etnobotânico das Plantas Medicinais mais utilizadas pela comunidade italiana da região da serra gaúcha, objetivo a recuperação do patrimônio cultural e viso à melhoria da qualidade de vida da população em geral. Através desta investigação também pretendo obter uma diferenciação entre as plantas aclimatizadas, isto é, trazidas por colonizadores, daquelas nativas do estado, uma vez que pouco se escreve sobre o uso medicinal de nossa flora. Com o desenvolvimento e ampliação de meus conhecimentos etnobotânicos (plantas utilizadas por determinadas populações), poderei colaborar de forma mais efetiva no reconhecimento da fitoterapia como terapêutica natural de tratar a saúde da população, e, assim atingir o objetivo inicial descrito neste trabalho: Proporcionar as comunidades um maior conhecimento sobre saúde, desenvolvendo o auto cuidado, dando o devido valor ao conhecimento popular, através da identificação de fitoterápicos tradicionalmente utilizados pelo nosso povo no tratamento de algumas doenças. Com isso obtendo a diminuição dos custos em relação à terapêutica tradicional, na busca de harmonia com a tradição popular, estabelecendo a relação entre o que é crença e o que é eficaz. Assim tornaremos os serviços de saúde pública mais factíveis e eficazes, diminuindo a distância imposta pelo saber dos profissionais de saúde, até então o único com reconhecimento científico, mais amplo e próximo da nossa realidade social. Divulgar o conhecimento popular de forma organizada, se possível, com constatação científica laboratorial, registrando-o de forma que o mesmo se perpetue, independente da existência ou não de pessoas que detenham o conhecimento atual, evitando uma perda considerável de informações, muitas delas eficazes a ponto de prevenir e curar enfermidades. E em suma, obter a integração dos conhecimentos científicos e populares, atingindo a finalidade última, que é a praticidade da ciência em função da melhoria das condições da vida do homem. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. Almeida ER. Plantas medicinais brasileiras. São Paulo: Hemus; 1993. Arruda CMTL. Medicina popular: aspectos metodológicos para pesquisa, garrafada, objeto de pesquisa, componentes medicinais de origem vegetal, animal e mineral. São Paulo: Almed; 1985. Berlinguer M. Medicina y política. Buenos Aires: Cuarto Mundo; 1973. Bosquet M. Ecologia y revolución. 1 aed. Buenos Aires: Nueva Vision; 1975. 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Simões CMO, Mentz LA, Schenkel EP et al. Plantas da medicina popular no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 1996. Zurlo C, Brandão M. As ervas comestíveis: descrição, ilustrações e receitas. Rio de Janeiro: Globo; 1989. ¡ &# artigo 06.pmd 185 26/06/03, 15:24 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) Anexo I Questionário Modelo Ficha de avaliação do uso de plantas medicinais em uma comunidade: 1.Você usa chá como remédio? ( ) Sim ( ) Não 2.Quais as plantas medicinais que mais utiliza na sua vida diária e para que servem? Nome Indicação a) a) b) b) c) c) d) d) e) e) f) f) g) g) h) h) 2.1Outras: 3. Quem o ensinou a usar as plantas? 4. Costuma ter algumas espécies plantadas no seu jardim? ( ) Sim ( ) Não Cite algumas: 5. Como se prepara um chá? &$ artigo 06.pmd 186 26/06/03, 15:24 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) Publicações Práticas de Enfermagem é uma nova coleção com 6 volumes publicados, voltada para a formação profissional e a educação continuada de profissionais técnicos e de nível superior, da renomada Profª. Drª. Nébia Maria Almeida de Figueiredo (Diretora do Departamento de Pós-Graduação da Universidade do Rio de Janeiro - UNIRIO), com a colaboração de Doutores e Mestres profissionais de enfermagem e de ciências da saúde (Edição Difusão Paulista de Enfermagem www.dufusaoonline.com.br) Cada volume 300 a 400 páginas (aprox.) Administração de Medicamentos vem atender a todos os que necessitam aprender as noções básicas do assunto de maneira aprofundada ou mesmo aqueles que necessitam reciclar os conhecimentos fundamentais de enfermagem, posicionando o profissional de enfermagem dentro do contexto correto de suas responsabilidades diante da sociedade e dos demais Ensinando A Cuidar de Clientes em Situações Clínicas e Cirúrgicas ajudará a preencher os conhecimentos e a atualizar a demanda existente na área de enfermagem. Aborda cuidados específicos em relação a clientes de enfermagem, utilizando a semiologia própria desta função para situar seus profissionais nos mais diversos cenários de cuidados clínicos e cirúrgicos. Ensinando a Cuidar da Mulher, do Homem e do Recém-nascido ensina as técnicas de cuidados nas diversas situações que envolvem a mulher e o recém-nascido. Aborda a enfermagem Obstetrícia e Ginecológica, descrevendo a mulher em seu ciclo reprodutivo, como retrato de um ser biomédico que necessita de cuidados especiais. Por fim, esta obra ainda apresenta o contraponto a esse universo do cuidado materno-infantil, que é o cuidar do corpo do homem. Fundamentos, Conceitos, Situações e Exercícios ajudará a responder a demanda do moderno sistema social globalizado. Os autores vão muito além do ensino e da técnica pura e simplesmente, fazem com que o leitor descubra sua infinita potencialidade realizadora, anexando a enfermagem aos processos sociais, enfatizando a importância da interdisciplinaridade no mercado de trabalho e assim, indicando o caminho certo para o exercício desta profissão com desenvoltura e competência. Ensinando a Cuidar de Crianças trata do cuidado voltado à criança em duas fases: durante o processo patológico e gozando da boa saúde. Destina-se a todos os profissionais de enfermagem que buscam constante atualização, pois cuidar de criança requer carinho, atenção e muito conhecimento. Ensinado a Cuidar em Saúde Pública aborda fundamentos e bases práticas para cuidar de clientes nas mais diversas situações, bem como instrumentos e modelos usados para gerenciar o ensino e o cuidado. Abordando de maneira didática e fácil de entender, assuntos fundamentais para a prática de enfermagem. &% Publicações.pmd 187 26/06/03, 15:24 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) Normas de publicação Enfermagem Brasil A revista Enfermagem Brasil é uma publicação com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à Enfermagem. Os artigos publicados em Enfermagem Brasil poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CDROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições. A revista Enfermagem Brasil assume o estilo Vancouver (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals, N Engl J Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2001. Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/e-mail) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. 1. Editorial Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um de seus membros. Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman) com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências. 2. Artigos originais São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados originais de descobertas com relação a aspectos experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes itens: Introdução, Material e métodos, Resultados, Discussão e Conclusão. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/Word. Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc. Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bibliográficas. Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, originalidade, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. 3. Revisão Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à Enfermagem, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais. 4. Atualização ou divulgação São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre tema de interesse dos profissionais de Enfermagem (novas técnicas, legislação, etc) e que têm características distintas de um artigo de revisão. 5. Relato de caso São artigo de dados descritivos de um ou mais casos explorando um método ou problema através de exemplo. Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal. 6. Comunicação breve Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power Point, Excel, etc. Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências bibliográficas. && Normas de publicação + Eventos.pmd 188 26/06/03, 15:24 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) 5. Resumos Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas. 6. Correspondência Esta seção publicará correspondência recebida, sem que necessariamente haja relação com artigos publicados, porém relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras. PREPARAÇÃO DO ORIGINAL 1. Normas gerais 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma. 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português, inglês e espanhol. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e E-mail. - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3. Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. Os Editores podem solicitar justificativa para a inclusão de autores durante o processo de revisão do manuscrito, especialmente se o total de autores exceder seis. 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words) Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol. O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavraschave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço Internet seguinte: http:// decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes. 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas: Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, &' Normas de publicação + Eventos.pmd 189 26/06/03, 15:24 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto. com a lista das revistas nacionais, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al. Exemplo: 1. Phillips SJ. Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78. Exemplo: Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20. Artigos Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus ou Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: Jean-Louis Peytavin Atlantica Editora Rua da Lapa, 180/1103 - Lapa 20021-180 Rio de Janeiro RJ Tel: (21) 2221 4164 E-mail: [email protected] ' Normas de publicação + Eventos.pmd 190 26/06/03, 15:24 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2003;2(3) Calendário de eventos 2003 julho 13 a 18 de julho de 2003 Educação, ciência e tecnologia para a inclusão social 55º Reunião Anual da SBPC Sociedade para o Progresso da Ciência Universidade Federal de Pernambuco - Recife PE E-mail: [email protected] 25 a 27 de julho de 2003 8o Congresso brasileiro multiprofissional e multidisclinar em diabetes UNIP, Av Marques de São Vicente, 3001 São Paulo Informações: ANAD www.anad.org.br Tel: (11) 5549 6704/6559 29 de julho a 2 de agosto de 2003 VIIo Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva ABRASCO Campus da Universidade de Brasília (UnB), Brasília DF Informações: [email protected] agosto 2 a 5 de agosto de 2003 6º Congresso Brasileiro de Enfermagem Centro Cirúrgico, Recuperação Anestésica e Centro de Material e Esterilização Centro de Convenções Rebouças-SP Informações: SOBECC Tel: (11) 3341-4044 www.sobecc.org.br 5 a 7 de agosto de 2003 Simpósio Internacional: Inovação e Difusão do Conhecimento em Enfermagem Centro de Convenções Rebouças-SP Informações: Tel: (16) 602.3386 com Carla Arantes E-mail: [email protected] Tel: (16) 602-3444 com Valéria E-mail: [email protected] http://www.eerp.usp.br 7 a 9 de agosto de 2003 XII Congresso da Sociedade Brasileira de Hipertensão Piramîde Palace Hotel, Natal RN Tel: (84) 234 6175 E-mail:[email protected] 14 a 16 de agosto V Congresso Sudeste de Terapia Intensiva e IX Congresso de Terapia Intensiva do Estado do Rio de Janeiro Centro de Convenções do Hotel Glória-Rio de Janeiro-RJ Informações e inscrições: (21) 2512-9930 / 2249-1119 www.informed-eventos.com.br setembro 1º Congresso Nordestino de Conselhos de Enfermagem Informações: Tel: (83) 221-8758 E-mail: [email protected] 8 a 12 de setembro de 2003 6o CBCENF Congresso Brasileiro dos Conselhos de Enfermagem Florianópolis SC Informações: www.cbcenf.com.br novembro 10 a 15 de novembro de 2003 55º CBEn - Congresso Brasileiro de Enfermagem 11º CPEn Congreso Panamericano de enfermería Informações: ABEn Rio de Janeiro Av. Pres. Vargas 590/418, 20071-000 Rio de Janeiro RJ Tel: (21) 2263 5471/2516 9496 E-mail: [email protected] 26 a 30 de novembro de 2003 XIVº Congresso Brasileiro de Diabetes Centro de Convenções - Goiânia GO Informações: Evento All Av. República do Líbano, 1914/ sala 17 Setor Oeste 74115-070 Goiânia GO Email: [email protected] XIX Curso de Extensão na Área de Enfermagem Clínica e Cirúrgica 18 de agosto a 23 de dezembro de 2003 Inscrições: Inícia dia 01 de julho até 31 de julho de 2003 de 08:00 às 15:00 horas. Clientela: Técnicos e Auxiliares de Enfermagem com Registro no COREN Idade Mínima: 18 anos Taxa de inscrição: R$30,00 Documentos necessários:Original e cópia do certificado ou declaração de conclusão do curso de Aux. ou Téc. de Enfermagem e registro do COREN. Seleção: Prova Escrita (Classificatória) no dia 06 de agosto de 2003 (Eliminatória) Funcionários do HU isentos de taxa de inscrição. Informações e Inscrições: Hospital Universitário Clementino Fraga Filho - Serviço de Treinamento e Desenvolvimento Profº Rodolpho Paulo Rocco s/nº- Ilha do Fundão - sala 1 D42 - 1º andar Tel/Fax: (21) 590-6745 ou 2562-2228 Horário 8h s 15h. ' Normas de publicação + Eventos.pmd 191 26/06/03, 15:24 EnfermagemBrasil Julho / Agosto 2003;2(4) Enfermagem Brasil Índice Volume 2 número 4 - Julho / Agosto de 2003 E DITORIAL Valorização e reconhecimento da Enfermagem, Maria da Graça Piva ................................................ 195 A RTIGOS ORIGINAIS Autocuidado domiciliar em HIV/SIDA e o cuidado de enfermagem, Daniela de Oliveira Matias, Elaine Lopes da Silva, Elaine Sant Ana Alves , Rita Batista Santos .................. 197 Depressão em pacientes hospitalizados com infarto do miocárdio, Simone Maria Muniz da Silva Bezerra, Carlos Alberto Domingues Nascimento, Suely Angelo Matias, Fabíola Vera de Oliveira Lins ........................................................................................ 206 A importância do aleitamento materno na visão das mães, Mislene Maldonado dos Santos, Maria Rita Vieira Rodrigues .................................................................................................................................. 212 Risco de suicídio: um cuidado de enfermagem, Rosane Beatriz Lucena Saccaro ............................. 219 Níveis de estresse da equipe de enfermagem do serviço de Pronto-Socorro do Hospital Heliópolis em 2003, Maria Luisa Nishiwaki, Lourdes Margareth Leite Pizzoli, José Ronaldo Soares da Silva ................................................................................................................................ 233 Uma avaliação diagnóstica do tipo de liderança dos enfermeiros de um Hospital Estadual, Geraldo Magela Salomé, Roberto S. Camargo, Cleide Aparecida Guerra................................................. 240 REVISÕES Assistência de enfermagem ao paciente submetido à intervenção coronariana percutânea, Séfora Magaly da Cunha Diniz Hamada, Thais Evangelista Fernandes Brito ............................................ 246 Assistência de enfermagem ao paciente submetido ao desmame ventilatório: revisão da literatura, Caroline Davanso Dutra, Mariana Alvina dos Santos, Pedro Marco Karan Barbosa ...... 251 NORMAS DE PUBLICAÇÃO. ............................................................................................................. 257 PUBLICAÇÃO . .............................................................................................................................................. 259 CALENDÁRIO DE EVENTOS.............................................................................................................. 260 '! sumario+indice.pmd 193 02/09/03, 15:08 EnfermagemBrasil Julho / Agosto 2003;2(4) EDITOR CIENTÍFICO - PRESIDENTE DO CONSELHO CIENTÍFICO (2003-2004) Profa. Dra. Maria da Graça Piva (ULBRA -RS) EDITORIALISTA Gilberto Linhares Teixeira CONSELHO CIENTÍFICO Prof. Dr. Carlos Bezerra de Lima (UFPB Paraíba) Profa. Dra. Clarice Heiko Muramatsu (USP São Paulo) a a Prof . Dr . Margarete Rego (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) Profa. Dra. Maria Helena da Silva Nery (UFRGS Rio Grande do Sul) Profa. Dra. Rita Batista Santos (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) Profa. Dra. Rita de Cássia Tapié Martins (USP São Paulo) Prof. Dr. Sérgio Ribeiro dos Santos (UFPB Paraíba) Profa. Dra. Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler (FAMERP São José do Rio Preto São Paulo) GRUPO DE ASSESSORES Profa Ms. Andréia Saccol Lourenço (Escola Técnica de Enfermagem São Francisco Rio Grande do Sul) Profa Ms. Dóris Maria Volquind (Clínica de Florais de RAFF Rio Grande do Sul) Profa Ms. Dulce Dirclair Huf (UFMS Mato Grosso do Sul) a Prof Ms. Gisele Cristina Tertuliano (Secretária Municipal de Saúde de Cachoerinha Rio Grande do Sul) Profa Ms. Hortência Maria de Santana (COREN Sergipe) a Prof Ms. Louize Maria Holtz Santos de Oliveira (COFEN Sergipe) Profa Ms. Sonia Maria Ponciano dos Santos (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) Profa. Ms. Almerinda Moreira (Escola de Enfermagem Alfredo Pinto UniRio Rio de Janeiro) Rio de Janeiro Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 - Rio de Janeiro - RJ Tel/Fax: (21) 2221-4164 / 2517-2749 e-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br São Paulo Praça Ramos Azevedo, 206/1910 01037-010 - São Paulo - SP Tel: (11) 3362-2097 Assinaturas 6 números ao ano 1ano: R$ 108,00 Rio de Janeiro: (21) 2221-4164 Representante de Assinatura: A.Shalon (11) 3361-5595 Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Editor assistente Bárbara de Assis Jorge Publicidade e marketing René Caldeira Delpy Jr. Editoração e arte Andréa Vichi Gerente comercial Stevenson Gusmão [email protected] tel. (21) 9174-5322 Atendimento ao assinante Ingrid Haig Redação e administração (Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço) Jean-Louis Peytavin Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 - Rio de Janeiro - RJ Tel/Fax: (21) 2221-4164 [email protected] Publicidade e marketing Rio de Janeiro René C. Delpy Jr [email protected] (21) 2221-4164 São Paulo Cynthia Breviglieri [email protected] (11) 3362-2097 Atlântica Editora edita as revistas Diabetes Clínica, Fisioterapia Brasil e Nutrição Brasil. Ilustração da capa: Anjo com espiga, Anônimo, séc. XVII, óleo sobre tela, (161,3 x 109,2 cm), Igreja de Calamarca, La Paz. I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. '" sumario+indice.pmd 194 02/09/03, 15:08 EnfermagemBrasil Julho / Agosto 2003;2(4) EDITORIAL Valorização e reconhecimento da Enfermagem VI Congresso Brasileiro dos Conselhos de Enfermagem Florianópolis 2003 Maria da Graça Piva Editor científico De 8 a 12 de setembro, mais uma vez, enfermeiros de todo Brasil, do Mercosul, estudantes de Enfermagem, estarão reunidos em Congresso que terá como sede a cidade de Florianópolis, em Santa Catarina. Todo Congresso tem como objetivo possibilitar melhoramentos para a classe, tanto no sentido de formação como de informação. O que este, que agora se realiza, também trará como retorno aos participantes? A resposta desta pergunta está contida na própria participação de cada congressista no evento. Em primeiro lugar, cada um deve conscientizar-se que o Congresso é uma organização política e que urge que a Enfermagem se organize politicamente, levando em consideração que ela é contumaz em não envolver-se em processo de seleção para representação de sua própria classe. Razão desta omissão talvez seja o papel assumido historicamente pelo enfermeiro de ser o bom samaritano, o doador que não espera retorno, sem voz para chamar contra o erro e sem espaço para ocupar. Infelizmente, o que se tem notado em congressos ou quaisquer outros eventos em que reúnam a equipe de enfermagem é que eles formam bandos conforme seus interesses e preferências pessoais, fecham-se, não se incorporam em grupos com um objetivo a debater, com um traçado de metas a alcançar. É necessário que o enfermeiro se valorize mais, muito mais. Do Congresso Internacional de Enfermagem realizado em Genebra trouxemos esta visão: Nossos esforços recíprocos asseguram que a profissão de Enfermagem é altamente valorizada em toda parte e adequadamente utilizada, reconhecida, recompensada e representada em todo o sistema de atenção da saúde. Nossa mais alta recompensa é o conhecimento certo de que nosso trabalho está modelando um futuro de pessoas sadias em um mundo saudável. Se é este reconhecimento que o enfermeiro espera o Congresso de setembro de 2003 é o momento em que todos os profissionais presentes nele devem assumir-se como responsáveis por uma modificação urgente na visão construída até agora e que está muito em desacordo com aquela apresentada em Genebra. Exemplo disto é que nela se diz que a profissão de Enfermagem é altamente valorizada em todas as partes do mundo, enquanto aqui, quando as organizações de saúde pensam em reduzir gastos os primeiros cortes previstos são nos recursos destinados à Enfermagem. O que se pode fazer? O profissional da Enfermagem precisa estruturar-se, ser autêntico em suas reivindicações, reclamar, fundamentar suas propostas, assumir o que disser, não em grupinhos, mas no grande '# sumario+indice.pmd 195 02/09/03, 15:08 EnfermagemBrasil Julho / Agosto 2003;2(4) grupo porque o Congresso não é para ser individual, mas para ser o instrumento do pensamento da classe. Além disto, o Congresso deve ser uma oportunidade para que todos seus participantes se atualizem, realizem intercâmbio de suas vivências, tomem conhecimento de resoluções para muitos desconhecidas e por isso, não postas em prática. A enfermagem precisa conscientizar-se que sua missão é conduzir a nossa sociedade a uma saúde melhor. Sua atuação faz parte de uma estratégia correta para enfrentar a desigualdade, a violência e a injustiça que marcam fortemente o Brasil. Ele não pode deixar-se ficar como assistente deste processo que degrada a sociedade, nem passivamente tornar-se parte dele. Precisa agir para que mudanças venham a acontecer. E a primeira delas é quanto ao seu modo de ser. No momento em que ela conscientizar-se da grandeza e, ao mesmo tempo, da responsabilidade que a missão da enfermagem lhe traz, sua participação neste Congresso de Florianópolis terá uma razão de ser e ele sentirá que não é um ser isolado. Será sim um elo numa grande cadeia que, se atuar organizada e politicamente, colocará a Enfermagem, no lugar que por sua importância, lhe deveria ter sido sempre assegurado. A Revista Enfermagem Brasil é um dos espaços políticos para reivindicar científica e politicamente as grandes lutas que a categoria deve abraçar. Lute, mas lute sim, pelo que vale a pena. Não seja levado por impulsos momentâneos, nem busque promover pessoas. Nós merecemos muito mais! Use sua consciência política. Não deixem que a usem por você! '$ sumario+indice.pmd 196 02/09/03, 15:08 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2003;2(4) Artigo original Autocuidado domiciliar em HIV/SIDA e o cuidado de enfermagem Home assistance in HIV/AIDS and nursing care Asistencia domiciliar en HIV/SIDA y cuidado de enfermería Daniela de Oliveira Matias*, Elaine Lopes da Silva*, Elaine Sant Ana Alves*, Rita Batista Santos** Acadêmicas em Enfermagem da EEAN/UFRJ, **Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Profa Adjunto do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro * Resumo Trata-se de um estudo de caso qualitativo sobre o autocuidado dos pacientes com hiv/sida em assistência domiciliar. Os objetivos traçados foram descrever o desenvolvimento do autocuidado, a partir do cuidado de enfermagem e verificar as modalidades de autocuidado. A coleta de dados deu-se no mês de dezembro de 2002, mediante a observação dos prontuários dos pacientes do PADI Programa de Atendimento Domiciliar Interdisciplinar, com quatro sujeitos, sendo dois homens e duas mulheres, com idades entre 22 e 77 anos. A organização dos dados e a revisão crítica sobre o tema subsidiaram a elaboração de categorias: autocuidado, renda, grau de escolaridade, estado civil, importância do autocuidado em relação à adesão ao tratamento, relação dos hábitos de vida e estado emocional com o autocuidado, características dos cuidadores, locomoção ao hospital e condições de moradia. As categorias foram interpretadas pela técnica de análise temática, conformando a importância do atendimento e sua importância no contexto social. Palavras-chave: atendimento domiciliar, HIV/AIDS, autocuidado. Artigo recebido em 9 de junho de 2003; aceito em 1 de agosto de 2003. Endereço para correspondência: Profa Dra Rita batista Santos, Escola de Enfermagem Anna Nery, Rua Afonso Cavalcanti, 275 Cidade Nova 20211-110 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 2293-8098, E-mail: [email protected] '% artigo 01 Daniela Matias.pmd 197 02/09/03, 15:08 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2003;2(4) Abstract This work is a qualitative case study concerning the HIV/SIDA patients self-care in domiciliary assistance. The main objectives is to describe the development of the self-care, from the nursing care and to verify the self-care modalities. The collection of data took place in December 2002, by means of the comment of patients records of four citizens of PADI (Program of Domiciliar Interdisciplinar Assistance), two men and two women were evaluated, age range between 22 and 77 years. The data organization and critical revision of the subject help to elaborate following categories: self-care, income, school degree, maritus state, self-care importance in relation to adherence to treatment, report of life habits and emotional state, characteristics of the assistants, locomotion to the hospital and conditions of housing. The categories had been interpreted by the thematic analysis technique, conforming the importance of attendance and its importance in the social context. Key-words: domiciliary assistance, HIV/AIDS, self-care. Resumen Se trata de un estudio cualitativo, al respecto del autocuidado de los pacientes con HIV/SIDA durante la asistencia domiciliar. Los objetivos fueron describir el desarrollo del autocuidado, a partir del cuidado de enfermería y verificar las modalidades de autocuidado. La colecta de datos se dio en el mes de diciembre, mediante la observación de los registros de los pacientes del PADI (Programa de Asistencia Domiciliar Interdisciplinar), con cuatro sujetos, siendo dos hombres y dos mujeres, edad entre 22 y 77 años. La organización de los datos y la revisión crítica sobre el tema ayudaron la elaboración de categorías: autocuidado, renta, grado de escolaridad, estado civil, importancia del autocuidado en relación a la adhesión al tratamiento, relato de los hábitos de vida y estado emocional con el autocuidado, características de los cuidadores, locomoción al hospital y condiciones de vivienda. Las categorías fueron interpretadas por la técnica de análisis temática, confirmando la importancia de asistencia y su importancia en el contexto social. Palabras-clave: asistencia domiciliar, HIV/SIDA, autocuidado. Introdução O sistema de saúde brasileiro está passando por uma séria crise econômica, que afeta diretamente a qualidade da assistência prestada à população e a oferta de leitos. Dentro desse cenário surge a proposta da Assistência Terapêutica, como forma de repensar o modelo de assistência oficial, ao propor cuidar do doente em casa. O PADI busca a humanização e individualização do atendimento, tendo como pressuposto uma visão integral do homem. A Assistência Domiciliar Terapêutica é compreendida como a possibilidade de atender no domicilio, idosos, pessoas portadoras de doenças crônicas degenerativas transmissíveis e não transmissíveis (DCT e DCNT [1]), com internações prolongadas ou reinternações, que demandam atenção constante. Este atendimento proporciona um espaço de interdisciplinaridade, intervindo nos aspectos físicos, psicológicos, econômicos e sociais. Considerando que alguns pacientes mantidos em tratamento sob regime de internação, tem condição de continuá-lo em domicílio, sem risco para sua recuperação, e em consonância com a filosofia institucional do Hospital Universitário, qual seja, de prestar assistência à saúde direcionada ao atendimento das necessidades dos indivíduos em um contexto de eficiência e eficácia, a implantação do Programa de Assistência Domiciliar Interdisciplinar (PADI) no Hospital foi aprovada através de Portaria Interna N° 27 de 19/08/99 com a criação de uma equipe interdisciplinar composta por Assistentes Sociais (2), Médicos (2), Enfermeiras (2), Psicólogos (1), Nutricionista (1) e Técnicos de Enfermagem (2). Tem como idéia central a humanização do atendimento, mas também visa a otimização dos leitos e conseqüentemente redução dos custos hospitalares. Por conseguinte, o objetivo geral do PADI é desenvolver assistência aos pacientes no seu ambiente familiar, baseada em uma visão holística do homem, com enfoque para um trabalho interdisciplinar. '& artigo 01 Daniela Matias.pmd 198 02/09/03, 15:08 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2003;2(4) Os critérios de escolha para inserção no PADI são: ser portador de doença crônica - degenerativa ou doença maligna em fase terminal; apresentar incapacidade funcional provisória ou permanente; ter cuidador. Atualmente o PADI está em fase final de plano piloto, está sendo feito o fechamento de quantos pacientes foram atendidos até agora. Foram levantados dados de 10 óbitos (2 em oncologia, 1 com SIDA e 7 em geriatria). O número atual de paciente atendidos é 10, sendo 1 atendido pela oncologia, 5 com SIDA, 2 em geriatria e 2 fora do critério (os pacientes fora do critério são aqueles que não pertencem a área programática, porém possuem critérios clínicos e/ou administrativos). Um paciente recebeu alta. O critério para que os pacientes recebam alta é que ele próprio ou sua família consigam realizar o autocuidado. A idéia do programa é dar alta e acompanhálo de 20 em 20 dias. O paciente que recebe alta continua com acompanhamento médico do profissional responsável pelo seu atendimento no H.U., para que seja assegurada sua internação em caso de descompensação aguda. Estão sendo realizadas reuniões para definir propostas a serem levadas à direção do hospital para que o programa seja efetivamente implantado. O maior problema enfrentado pelo PADI é no que diz respeito aos recursos humanos, pois os profissionais que participam do programa não dedicam todo o seu tempo de trabalho a este. Somente a coordenadora trabalha em tempo integral. Objeto de estudo O interesse pelo autocuidado dos pacientes atendidos pelo Programa de Assistência Domiciliar foi despertado quando passamos alguns dias nos setores do H.U. No Setor de Doenças Infecciosas Parasitárias (DIP), verificamos uma alta prevalência de pacientes acometidos por infecções oportunistas decorrentes da SIDA, ocupando uma grande quantidade de leitos, (15 de 24 leitos). Durante a internação hospitalar o cuidado é prestado pela equipe de enfermagem, servindo assim como modelo para o autocuidado domiciliar. Para tanto é necessário que o paciente/cuidador tenha conhecimento e condições para sua realização. A partir deste contexto, tivemos a curiosidade de esclarecer como realizam o autocuidado no domicilio. Através dos prontuários tivemos a oportunidade de conhecer como funciona e a necessidade e realização de autocuidado no domicílio, além de identificarmos como se dá o uso das informações sobre o autocuidado efetivamente. O problema Desta forma a nossa preocupação é o conhecimento e aplicabilidade do autocuidado pelos pacientes atendidos no Programa de Assistência Domiciliar Interdisciplinar (PADI) do H.U. Objetivos Ao final deste estudo desejamos: Descrever o autocuidado domiciliar como uma forma de cuidado de enfermagem. Verificar as modalidades de autocuidado domiciliar. Identificar tendências de cuidado de enfermagem para promoção do autocuidado domiciliar. Material e método Trata-se de um estudo de caso para avaliar em profundidade o autocuidado dos portadores de HIV/ SIDA atendidos pelo PADI que permitiu alcançarmos a multiplicidade do atendimento domiciliar, requerendo de nós um nível elevado para sua compreensão, assim como esclarecimento dos aspectos de autocuidado. Este estudo foi dividido em quatro fases: na primeira delimitamos o estudo; na segunda, coletamos os dados; na terceira foi feita a análise dos dados e, por fim, elaboramos o relatório de pesquisa. Além dos pacientes portadores de SIDA/HIV são atendidos também pacientes com câncer, diabetes mellitus e geriátricos. Dentre estes pacientes escolhemos os portadores de SIDA, pois estivemos em contato com pacientes com esta enfermidade durante o estágio supervisionado de enfermagem VIII e nos foi aguçada esta temática. São quatro: dois homens e duas mulheres, que recebem atendimento domiciliar pela equipe interdisciplinar. Para coleta de dados foi utilizado um formulário (Instrumento de Coleta de Dados do paciente), onde garantimos o anonimato, dando a eles nomes fictícios (Vermelho e Amarelo para os homens e Rosa e Violeta para as mulheres). Coletamos dos prontuários os dados pessoais, história pregressa, condições de moradia e sócio-econômicas. Utilizamos também os dados dos cuidadores (Instrumento de Coleta de Dados do cuidador). A partir das informações obtidas passamos à análise temática dos dados. '' artigo 01 Daniela Matias.pmd 199 02/09/03, 15:08 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2003;2(4) Revisão crítica da literatura Programa de assistência domiciliar interdisciplinar (PADI) O sistema de saúde brasileiro está passando por uma séria crise econômica, que afeta diretamente a qualidade da assistência prestada à população e a oferta de leitos. Dentro desse cenário surge a proposta da Assistência Terapêutica, como forma de repensar o modelo de assistência oficial, ao propor cuidar do doente em casa, um trabalho que busca a humanização e individualidade do atendimento, tendo como pressuposto uma visão integral do homem. A Assistência Domiciliar Terapêutica é compreendida como a possibilidade de atender no domicilio, idosos, pessoas portadoras de doenças crônicas degenerativas, com internações prolongadas ou reinternações, que demandam atenção constante. È enfocado também como um espaço de interdisciplinaridade, coadunando para uma visão holística do homem, que exige o trânsito por aspectos físicos, psicológicos e econômicos e sociais para promoção do atendimento domiciliar. Síndrome da imunodeficiência adquirida A Síndrome da imunodeficiência Adquirida foi reconhecida em meados de 1981, nos EUA, a partir da identificação de um número elevado de pacientes adultos do sexo masculino, homossexuais e moradores de São Francisco ou Nova York. No Brasil, a AIDS foi identificada pela primeira vez em 1982, quando o diagnóstico foi feito em sete pacientes homo ou bissexual. Um caso foi reconhecido retrospectivamente, no estado de São Paulo, como tendo ocorrido em 1980. A Aids é causada pelo HIV (vírus da imunodeficiência humana), um vírus de RNA da família Retroviridae (retrovírus). A atividade enzimática é exercida pela transcriptase reversa, e o período de incubação é de 6 a 24 meses. O HIV ataca linfócitos, mais especificamente os linfócitos T, células responsáveis em parte pela defesa imunológica do organismo. A transcriptase reversa, presente no núcleo de HIV, responde pela conversão do RNA viral em DNA de dupla hélice, deslocando-se de citoplasma para o núcleo da célula parasitada (linfócitos T). Em seguida, incorpora-se e multiplica-se com o DNA celular, levando à morte ou inativação da célula. O ciclo vital do HIV na célula humana inicia-se com a ligação de glicoproteínas virais (gp 120) ao receptor específico da superfície celular (principalmente CD4). Em seguida ocorre a fusão do envelope do vírus com a membrana da célula hospedeira. A partir desta fusão dá-se a liberação do core do vírus para o citoplasma da célula hospedeira. Desta forma tornase possível a transcrição do RNA viral em DNA complementar, dependente da enzima transcriptase reversa. Acontece o transporte do DNA complementar para o núcleo da célula, onde pode haver integração no genoma celular (provírus), dependente da enzima integrase, ou permanecer em forma circular isoladamente. O provírus é reativo e produz RNA mensageiro viral indo então para o citoplasma da célula, onde as proteínas virais são produzidas e quebradas em subunidades por meio das enzimas proteases. As proteínas virais produzidas regulam a síntese de novos genomas virais e formam a estrutura externa de outros vírus que serão liberados pela célula hospedeira. Finalmente o vírus recémformado é liberado para o meio circundante da célula hospedeira, podendo per manecer no fluido extracelular ou infectar novas células. A transmissão, prevenção e controle são descritos a partir do isolamento do HIV no sangue, plasma, soro, sêmen, secreções vaginais e cervicais, saliva, lágrimas, liquor e leite materno. Sua transmissão ocorre principalmente por via sexual, contato homosexual, bissexual e/ou heterossexual; por sangue ou derivados; por transmissão vertical da mãe ao filho durante a gestação, parto e amamentação; por mecanismo não definido acidente de trabalho. A medida mais eficaz contra aids é a prevenção. Há necessidade de ressaltar que atualmente não há grupos de risco, e sim comportamento de risco. Os profissionais de saúde devem lembrar-se que nenhum paciente traz consigo o registro de sua soropositividade e que, portanto, é fundamental para prevenir e controlar a transmissão ocupacional adotar as medidas de precauções básicas. Os principais achados do quadro clínico são: sensível perda de peso sem motivo, fadiga, tosse seca, diarréia prolongada e linfadenomegalia. Os demais sinais e sintomas de Aids estarão correlacionados às infecções oportunistas e/ou neoplasias. A classificação clínica atualmente em uso para adultos comporta nove categorias, dependendo da presença de infecções e da dosagem dos linfócitos da categoria Cd4+ na Aids. A avaliação diagnóstica inclui a titulação de anticorpos contra o HIV que aparecem principalmente no soro ou no plasma de indivíduos infectados, em média, 3 a 12 semanas após a infecção. Os testes para detecção da infecção pelo HIV podem ser divididos basicamente em quatro grupos: testes de detecção de anticorpos, testes de antígenos, técnicas de cultura viral artigo 01 Daniela Matias.pmd 200 02/09/03, 15:08 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2003;2(4) e teste de amplificação do genoma do vírus. As técnicas rotineiramente utilizadas para o diagnóstico da infecção pelo HIV são baseadas na detecção de anticorpos contra o vírus. As outras três técnicas detectam diretamente o vírus ou suas partículas e são utilizadas em situações específicas, tais como: esclarecimento de exames sorológicos indiretamente ou duvidosos, acompanhamento laboratorial de pacientes, mensuração da carga viral para controle de tratamento etc. O tratamento específico é feito pela combinação de inibidores da transcriptase reversa nucleosídicos por via oral (AZT, DDI, DDC, 3TC) com os inibidores de proteases por via oral (indinavir, saquinavir, norvir, D4T) ou inibidores da transcripitase reversa nãonucleosídicos (nevirapina). O tratamento sintomático está relacionado às doenças secundárias, podendo utilizar por via oral ou parenteral antifúngicos, antibióticos, antivirais quimioterápicos. Em suma, a Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (AIDS) é a profunda depressão da imunidade mediada por células, em que microrganismos causadores de infecção se encontram no meio ambiente, causando doenças graves nesses hospedeiros que não possuem resistência. Autocuidado Os quadros relacionados as DCNT e DCT atendidos não têm cura ou imunização, sendo a solução definitiva, a responsabilidade de cada um por sua própria saúde. O portador de um problema crônico não perdeu sua saúde, mas deverá desenvolver o potencial para adquirir novas habilidades para se controlar adequadamente, reduzindo o risco de complicações e continuar a desempenhar os papéis e etapas do seu ciclo de vida. Este quadro leva a um grau de dependência sendo necessária a intervenção de um familiar ou um profissional qualificado. O autocuidado está diretamente relacionado com a capacidade do indivíduo em suprir suas necessidades, proporcionando melhoria para sua saúde. O autocuidado pode ser negligenciado por falta de condições, sendo necessário assistência direta de enfermagem. Neste contexto faz-se importante determinar o grau de dependência deste paciente, para determinar sua capacidade da realização do autocuidado. Horta [2] diz que (...) o grau de dependência pode ser total ou parcial. Na dependência total está explícita a extensão, e a natureza compreende tudo que a enfermagem faz pelo ser humano, quando este não tem condições de fazer por si, seja qual for à causa. Fica evidente que tanto o grau de dependência total como o parcial necessita de atendimento domiciliar. Dentro da visita domiciliar o mais importante é que o mesmo não estará sempre junto ao paciente/cuidador, como estaria no atendimento hospitalar. É necessário que a equipe responsável pelo atendimento domiciliar esclareça conceitos e dúvidas sobre a doença e o autocuidado com os portadores/ cuidadores com informações claras e simples, de forma segura. O autocuidado é visto como uma construção mais social do que biológica, porque recebe mais interferências de fatores ligados à convivência dos sujeitos com o seu trabalho e seu meio ambiente social, que tanto modificam como podem ser transformados em benefício das ações de autocuidado desses sujeitos. Através da representação social do familiar/portador da enfermidade poderá captar representações sobre o modo de como surgiu a doença, de onde ela vem, ajudando a entender como se relacionam com o autocuidado, ou seja, que cuidados tomam, quando tomam, porque motivo, por que não tomam determinados cuidados e o que é finalmente o autocuidado para o familiar/portador. O autocuidado é uma parte importante da vida de uma pessoa, está relacionado ao fato desta existir, a preservação do seu corpo e do ser vivente que suporta a existência individual. Realmente é algo social que vai influenciar no corpo e higidez do indivíduo. A enfermagem mostra-se importante neste contexto uma vez que em seu atendimento ao sujeito, deve ver o indivíduo de forma holística, ou seja como um todo, já que a função da enfermeira é ao mesmo tempo assistencial, científica e social. A equipe do projeto de saúde do Canadá lista cinco recursos básicos de modelo de promoção da saúde centrada no sujeito que enfrenta um problema e deseja melhorar ou manter sua saúde: o próprio sujeito, outras pessoas, o profissional de saúde, a informação e o meio ambiente. Daí analisa o autocuidado como a ação associada ao uso do sujeito como recurso, cuidando da sua própria saúde e agindo de for ma autônoma. Baseia-se na teoria de enfermagem do déficit de autocuidado, desenvolvida por Dorothea Orem, entre os anos de 1958 e 1965, que formou uma base para a pesquisa, formação curricular e organização dos departamentos de enfermagem em hospitais e serviços de saúde comunitários no Canadá. Entretanto, reconhece que um número de modificações nos determinantes da saúde deve ser considerado quando se planejam artigo 01 Daniela Matias.pmd 201 02/09/03, 15:08 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2003;2(4) estratégias para influenciar o estado de saúde da população, identificando três grandes desafios: a redução das iniqüidades, a melhoria da prevenção, e estímulo da capacidade dos sujeitos em lidar com condições crônicas e outros problemas de saúde. Esta equipe apresenta um modelo denominado pirâmide de autocuidado em que o autocuidado está localizado no ápice, representando sua preeminência como primeiro recurso do sujeito em face dos problemas de saúde. A família e o cuidado prestado por voluntários localizam-se num ângulo e no outros ângulo, os profissionais e as instituições/serviços de saúde. O gráfico 1 ilustra a pirâmide de autocuidado [3]: Autocuidado Família/Cuidado de voluntários Profissional/Serviços de saúde Neste contexto, a enfermeira é uma coparticipante do autocuidado dos sujeitos. O indivíduo possui habilidades para aprender e desenvolver seu autocuidado. Essas possibilidades são motivadas pelo seu ambiente interno e externo. A enfermeira tem papel importante na estimulação desses aspectos de autocuidado, para esclarecimento e atendimento. Essa co-participação deve ser de forma a mostrar como deve ser realizado o autocuidado partindo da assistência de enfermagem, ou seja, utilizando o cuidado de enfermagem como modelo. A enfermagem deve promover e manter a qualidade de vida e saúde desses sujeitos. Resultados e discussão Os dados foram coletados a partir dos prontuários do PADI e foram divididos em categorias. Foram analisados os dados de quatro participantes do PADI portadores de SIDA, sendo dois do sexo masculino e dois do sexo feminino. Autocuidado A partir dos dados observamos que a SIDA, debilita bastante a pessoa interferindo na sua capacidade para o autocuidado. O grau de dependência vai desde independente ou totalmente dependente. Uma das participantes é totalmente dependente do seu cuidador. E os outros são dependentes em pelo menos um dos tópicos seguintes: para comer e beber; tomar banho; vestir-se e arrumar-se; uso do sanitário; mobilidade no leito; transferência; deambulação; subir escadas; fazer compras; cozinhar; realizar manutenção do lar ou mobilidade física. Além de ser independente ou totalmente dependente para as atividades de vida diária (Escala de Atividade Diária - AVD ou Escala de Katz Modificada), eles são também classificados como: necessita de equipe auxiliar; auxílio de outros ou auxílio de uma pessoa da equipe. O grau de dependência do paciente em relação aos cuidados de enfermagem pode ser total ou parcial. Na dependência total está implícito tudo aquilo que a enfermagem ou o cuidador faz pelo ser humano quando este não tem condições de fazer por si, seja qual for a causa. Em havendo dependência parcial, a assistência de enfermagem e de outro cuidador pode situar-se em termos de ajuda, orientação, supervisão e encaminhamento, havendo uma ordenação seqüencial e inter relacionada desta assistência. A renda dos pacientes De acordo com os dados, dois pacientes são aposentados e dois não tem renda própria, vivem da renda do companheiro ou marido. Ainda, os aposentados o são, pela idade e tempo de serviço ou são aposentados por invalidez. Alguns dos entrevistados pela evolução da doença, já não podem se locomover ou realizar outras tarefas sem auxílio. A renda mensal de aproximadamente 2 salários mínimos é insuficiente para sustentar suas necessidades diárias, assim como as demandas para o tratamento. Por isso muitas vezes precisam de ajuda da comunidade e dos profissionais do próprio hospital. Com isso podemos observar a importância do PADI, na promoção da saúde traduzindo a amplitude social que interfere nestas dificuldades. De acordo com Kawamoto [4], os componentes do ciclo dinâmico da saúde são alimentação, habitação, saneamento, educação e emprego. A baixa produção do nosso país leva a salários suficientes apenas para subsistência, gerando nutrição deficiente, educação insuficiente e habitação inadequada. Esses fatores facilitam a instalação de doenças. A enfermeira deve saber lidar com a situação e a particularidade de cada indivíduo, tentando adequar suas orientações com a realidade de cada um. Além disto, deve estar atento às manifestações de ansiedade deste indivíduo pela preocupação com as condições artigo 01 Daniela Matias.pmd 202 02/09/03, 15:08 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2003;2(4) de sua família e se este paciente tem condições de se manter e continuar o tratamento no domicílio, uma vez que ele tem a particularidade de ficar limitado após o tratamento, muitas vezes perdendo o emprego. Grau de escolaridade O grau de escolaridade se faz importante neste caso para saber se estas pessoas têm condições de aprender as informações passadas pelos profissionais sobre o autocuidado. Se esta pessoa não puder assimilar estes novos conhecimentos até mesmo pelas suas limitações orgânicas, far-se-á necessário inserir a família e o cuidador neste contexto. Os pacientes analisados possuem no máximo o primeiro grau completo, sendo que o de menor escolaridade possui a segunda série primária. Estes dados são relevantes para a enfermeira, pois sua função é ser agente disseminadora de orientações pertinentes à promoção, prevenção e reabilitação da saúde de seus pacientes, bem como na melhoria da qualidade de vida desses. E, para o êxito nestes propósitos é importante que eles compreendam o conteúdo das orientações transmitidas, para assimilálas e praticá-las. Visando atingir estas metas, a enfermeira deve utilizar linguagem adequada e corrente ao nível de escolaridade e cultura do paciente ao expor suas orientações ou educação para a saúde, transmitindo as informações com clareza e objetividade. Estado civil O estado civil nos permite identificar a relação de parentesco dos pacientes com SIDA do PADI. Esta temática faz-se importante nos dias de hoje, pois cada vez mais mudam os padrões de relacionamento conjugal na sociedade. A maioria dos pacientes era solteiro, mas possuíam companheiros, os quais muitas vezes são os responsáveis pelos seus cuidados. Observamos também que não há nenhuma política para o acompanhamento destes parceiros, algumas vezes porque o próprio se recusa a realizar o exame. Importância do autocuidado em relação á adesão ao tratamento medicamentoso Os pacientes portadores Aids necessitam tomar medicamentos diariamente. A utilização de medicamentos em qualquer patologia visa acabar ou controlar a proliferação de microrganismos. A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida é causada por um vírus, que infecta as células de defesa e ainda não tem cura. Os medicamentos utilizados proporcionam apenas o controle da proliferação das partículas virais. Os indivíduos com AIDS fazem uso de fármacos que inibem o ciclo vital do vírus. Sendo que uns interferem na transcrição do RNA viral em DNA complementar, dependente de enzimas transcriptase reversa e outros nas proteínas virais que são produzidas e quebradas em subunidades por meio de enzimas proteases durante toda sua existência. Os fármacos anti-retrovirais são de suma importância para a vida do portador do vírus da imunodeficiência adquirida, pois mantém a carga viral em um nível tolerável. Mesmo sendo importante a utilização de fármacos específicos para o HIV, vemos em um caso, que a administração da medicação se faz de modo irregular. Apesar dos medicamentos contra o vírus da Aids serem distribuídos pelo Ministério da Saúde, alguns pacientes reclamaram da falta do medicamento, já que por terem uma condição sócio-econômica desfavorável não podem comprá-los. Vale lembrar, que a interrupção da utilização do fármaco, causando resistência dificulta, desta forma o controle da proliferação do vírus. Os hábitos de vida como autocuidado Foi possível detectar que os hábitos de vida estão diretamente relacionados com o estado de saúde. Assim podemos afirma que a saúde é a resultante de influência dos fatores sócio-econômico-culturais: alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde [4]. Sobretudo porque os pacientes do PADI têm condições socioeconômicas precárias, moram em áreas de difícil acesso, em comunidades carentes com situação de violência freqüente. Podemos citar outros fatores que interferem diretamente na recuperação e assistência do indivíduo com AIDS: sua nutrição, condições de saneamento básico, capacidade de locomoção, condições de higiene pessoal e do ambiente, dentre outros. O atendimento no PADI é um método de trabalho em enfermagem que tem como objetivo principal levar ao paciente/cuidador no seu domicílio, assistência e orientação sobre saúde melhorando de forma significativa a sua qualidade de vida. Estado emocional Vários pacientes se sentiam tristes e sozinhos e alguns deles acham que o cuidador deveria preencher esta lacuna. No relato da paciente Violeta, sua principal ! artigo 01 Daniela Matias.pmd 203 02/09/03, 15:08 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2003;2(4) preocupação é com a atenção da cuidadora, pois à tarde ela normalmente fica só. De acordo com Ministério da Saúde as mulheres com AIDS também se sentem inseguras e administram, com sofrimento, o resultado do exame, a perda do parceiro, os filhos, a casa, o trabalho e a vida. Tudo parece adquirir um significado diferente. O impacto inicial é vivido concomitantemente com a demanda de respostas. A temática da solidão é muito freqüente na vida das pessoas de um modo geral, e mais intensamente aparece no cotidiano de pessoas com AIDS, seja pelo preconceito que leva à exclusão, pela morte de pessoas próximas ou por um sentimento de estar vivendo uma experiência profundamente significativa, difícil de compartilhar. Então se faz necessário também um acompanhamento psicológico destas pessoas, para que elas não entrem em depressão e possam viver com qualidade e dignidade. Através do cuidado de enfermagem hospitalar e da promoção do autocuidado domiciliar a enfermeira poderá identificar os papéis de autocuidado afetados pelos aspectos emocionais e psicológicos e encaminhálos, ou ser preparada pelo psicólogo, que faz parte da equipe de forma efetiva, avançando no cuidado ou metodologia da assistência de enfermagem ao paciente/cuidador. Características dos cuidadores O principal cuidador é quase sempre o companheiro ou companheira, o que mostra que mesmo diante de uma doença que é transmitida por via sexual, estas pessoas não foram abandonadas por seus companheiros e oferecem toda a ajuda necessária. Além disso, são pessoas com baixo nível de escolaridade e que na maioria das vezes trabalham para sustentar a casa. Mostram-se também bastante preocupados em cuidar da pessoa que está doente e do lar. Locomoção para o hospital O modo como este paciente chega ao hospital é importante, pois muitos deixam de realizar o tratamento por dificuldade de chegar ao hospital, seja por dificuldade de locomoção ou por falta de dinheiro para o transporte. A locomoção destes pacientes até o hospital é dificultada pelo comprometimento neurológico que alguns já têm e que irá interferir na deambulação. Em se tratando de uma comunidade carente estes pacientes não possuem veículos próprios, o que irá dificultar ainda mais a sua ida até o hospital, trazendo maior gasto com o transporte; além de terem que ir com acompanhantes. O paciente vermelho recebe ajuda da igreja para se locomover até o hospital. Daí a dificuldade de locomoção ser um critério clínico importante para eleição e inserção do paciente no PADI. Condições de moradia destes pacientes São moradias com água, luz e saneamento básico. Este dado é de fundamental importância, já que é alta a taxa de doenças provocadas pela falta de saneamento básico [4]. Apesar de não serem de muitos cômodos, as moradias são suficientes para as pessoas que ali habitam. Estas impressões são registradas pelos profissionais do PADI que atendem nas residências. O número de cômodos relacionado à quantidade de moradores nos dá uma noção de como vive este paciente, ou seja, se a casa dele tem espaço para locomoção ou um repouso confortável. Isto porque uma casa com poucos cômodos e muitas pessoas ou uma casa muito pequena, pode dificultar o tratamento, assim como diminuir a qualidade de vida deste paciente. Ele estará mais propenso a contrair infecções oportunistas e complicações agudas. A enfermeira tendo estes dados pode orientar o cuidador no domicílio deste paciente e mesmo intervir no sentido de melhorar a qualidade de vida de todos que ali vivem. A moradia destes pacientes quase sempre é em áreas de baixa renda, o que traz um obstáculo ao PADI, pois os atendimentos domiciliares às vezes são feitos em lugares de difícil acesso, além de oferecer risco a vida dos profissionais. Mas a assistência a estes pacientes deve ser priorizada, já que contam com este tipo de ajuda. Considerações finais A AIDS está posta como grande enfrentamento da humanidade, em se falando de doença e de problema social. Ela é definida como a forma mais grave de um contínuo de doenças associadas à infecção pelo vírus da imunodeficiência humana. Evidenciamos que os pacientes têm um alto grau de dependência, devido ao acometimento pela doença, necessitando tanto do atendimento da equipe de saúde quanto de cuidadores. Esses pacientes mostram-se muito deprimidos. E este foi um dos fatores que dificultaram a realização do autocuidado. " artigo 01 Daniela Matias.pmd 204 02/09/03, 15:08 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2003;2(4) O paciente/cuidador tem inúmeras inquietações, diferentes sentimentos, dificuldades e limitações quanto aos cuidados com o ser, em casa ou no hospital, que requerem ajuda e orientação da enfermagem para possível enfrentamento e um estar melhor. Por isso o processo de cuidado de enfermagem deve ser colaborativo, cooperativo e evolutivo, na medida em que os sujeitos dominam for mas alternativas de autocuidado, mais capazes de modificar seu perfil de saúde. É um processo compartilhado, livre e aberto, assim como é a sua avaliação. Portanto prevê a participação voluntária e consentida em todo o processo, acompanhamento e verificando sua mudança. Assim, estarão preparados cognitiva e emocionalmente para descobrir as causas e conseqüências dos fenômenos que afetam sua existência [5]. Isso nos permitiu vislumbrar a importância do atendimento domiciliar interdisciplinar e sua importância no contexto social. Por isso possibilita uma vida com melhor qualidade para os portadores de doenças crônicas. O programa teria um desenvolvimento melhor se os profissionais trabalhassem nele em tempo integral. Outro problema importante é a disponibilidade do transporte para o atendimento. Recentemente houve a doação de uma Kombi, que necessitava de reparos. Além disso, existe a violência urbana que também interfere no seu andamento. Referências 1. 2. 3. 4. 5. Lessa I. Doenças crônicas não transmissíveis. In: Lessa I. O adulto brasileiro e as doenças da modernidade. São Paulo: Hucitec/Abrasco; 1998. p.29-42. Horta WA. Processo de enfermagem. São Paulo: EPU; 1979. 99 p. Health promotion and programs branch. Supporting self-care: the contribution of nurses and physicians. Minister of public works and government services Canada; 1977; 126 p. Kawamoto EE, Santos MCH, Mattos TM. Enfermagem comunitária. São Paulo: EPU; 1995. Santos RB. Autocuidado, trabalho e diabetes mellitus: uma abordagem de enfermagem. [Tese]. São Paulo: Coordenação de Pós-Graduação em Enfermagem da UNIFESP/EPM; 2001. 283 p. K # artigo 01 Daniela Matias.pmd 205 02/09/03, 15:08 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2003;2(4) Artigo original Depressão em pacientes hospitalizados com infarto do miocárdio Depression in hospitalized patients with myocardial infarction Depresión en pacientes hospitalizados con infarto de miocardio Simone Maria Muniz da Silva Bezerra*, Carlos Alberto Domingues Nascimento**, Suely Angelo Matias***, Fabíola Vera de Oliveira Lins*** *Bacharel em Enfermagem e Obstetrícia pela Universidade de Brasília, Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica, *Professor Assistente da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Professor Auxiliar IV da Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças, Universidade de Pernambuco (FENSG/UPE) Mestre e Doutoranda em Ciências/USP, **Professor Assistente da Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças/ Universidade de Pernambuco (FENSG/UPE) Doutor em Lingüística/UFPE, ***Acadêmicas de enfermagem da FENSG/UPE Resumo Trata-se de pesquisa quantitativa, descritiva e exploratória para caracterizar os aspectos demográficos e clínicos dos pacientes com Infarto do Miocárdio (IM) e avaliar se o IM está associado a um quadro depressivo. Os dados foram coletados através de dois questionários: um referente à identificação e fatores de riscos para cardiopatias, e o Inventário de BECK para depressão Os cálculos estatísticos foram feitos através do SPSS 10.0 e análise da variância (ANOVA) significância de 5% (p = 0,05) Os principais resultados mostraram que a maioria dos entrevistados possuía idade entre 61 a 70 anos, correspondente a 51,42%, eram católicos 87,28%, raça branca 88,57%, casados 68,57% e apenas 11,42% possuía escolaridade. A probabilidade de depressão associada ao (IM) a partir da escala de BECK, apresentou uma freqüência: mínima ou inexistente 50,42%, depressão leve 40,00%, moderada 9,58%. Concluímos que o tratamento da depressão associada a uma cardiopatia é importante, porque o transtorno afetivo compromete a qualidade de vida. A intervenção reduz a utilização desnecessária dos cuidados de saúde, diminui a mortalidade e prolonga a sobrevida do paciente. Palavras-chave: depressão, doença cardíaca coronariana, infarto do miocárdio. Artigo recebido em 22 de julho de 2003; aceito em 1 de agosto de 2003. Endereço para correspondência: Simone Maria Muniz da Silva Bezerra, Rua Teles Júnior 155/301 Rosarinho 52040-050 Recife PE, Tel: (81) 34267670, E-mail: [email protected] $ artigo 02 Simone Bezerra.pmd 206 02/09/03, 15:08 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2003;2(4) Abstract A quantitative, descriptive and exploratory study was conducted in order to obtain some demographic and clinical aspects of hospitalized patients with myocardial infarction (MI) to evaluate their association with depressive set. The data collection instrument was two questionnaires: one related to identification and cardiopathy risk and the BECK Inventory for depression. For statistic treatment was used SPSS 10.0 and the analyses through ANOVA, 5% (P = 0.05). The main results had shown that most of the patients studied were aged between 61 to 70, corresponding to 51.42%; 87.28% were catholic, 88.57% white skin, 68.57% had married status and just 11.42% had formal education. The probability of depression associated to (MI) through BECK scale showed no risk 50.42%, low risk 40.00% and medium risk 9.58%. In conclusion, the support treatment to depression is important to patients with (MI) considering that this circumstances would disturb the quality of these patients life. The intervention reduces the unnecessary use of health care, reduction of mortality and offers a longer life to the patients. Key-words: cardiology, nursing assistance. Resumen Se trata de una pesquisa cuantitativa, descriptiva y exploratoria para caracterizar los aspectos demográficos y clínicos de los pacientes con infarto de miocardio (IM), y evaluar si el (IM) está asociado a un estado depresivo. Los datos fueron colectados a través de dos cuestionarios: uno referente a la identificación y factores de riesgo para cardiopatías y el otro sobre el Inventario de depresión de Beck. Para los cálculos estadísticos utilizamos el programa SPSS 10.0 y el análisis de la varianza (ANOVA), valor de significancia de 5% (p = 0,05). Los principales resultados demostraron que la mayoría de los pacientes estudiados tenían edad entre 61 y 70 años, correspondiente al 51,42%, eran católicos 87,28%, raza blanca 88,57%, casados 68,57%, y apenas 11,42% con enseñanza básica. La probabilidad de depresión asociada al (IM) a partir de la escala de Beck, presentó la siguiente frecuencia: mínima o inexistente 50,42%, depresión leve 40,00%, y moderada 9,58%. Concluimos que el tratamiento de la depresión asociada a una cardiopatía es importante, porque el trastorno afectivo compromete la calidad de vida de los pacientes. La intervención reduce la utilización desnecesaria de los cuidados de la salud, disminuyendo la mortalidad y prolongando la sobrevida del paciente. Palabras-clave: depresión, enfermedad cardíaca coronaria, infarto de miocardio. Introdução A doença coronariana, produtora do infarto do miocárdio (IM), é uma das principais causas de mortalidade no Brasil e no mundo [1], e sua incidência nos países ocidentais está aumentando nos últimos anos [2]. Diversos estudos existentes na literatura apontam para uma correlação entre Infarto do Miocárdio (IM) e depressão [1,3,4,5,6]. Sendo a depressão um fator de morbidade e mortalidade comum em pacientes com doença cardíaca coronariana, especialmente após infarto do miocárdio, e estando associada a um fator de risco quatro vezes maior de mortalidade em 6 meses nesses pacientes [1]. Estudos epidemiológicos mostraram que 10 a 20% dos pacientes com doenças clínicas apresentam sintomas depressivos significativos, sendo que cerca de 5% deles apresenta quadros mais graves e que receberiam o diagnóstico de depressão em maior grau [7]. Além disso, outros estudos [8] demonstraram que a depressão é considerada um fator de risco isolado para as doenças cardiovasculares, pois quanto mais grave a depressão, maior a probabilidade de ocorrência de distúrbios cardiovasculares [9], o tratamento da depressão associada a uma cardiopatia é importante não só porque o transtorno afetivo pode comprometer a qualidade de vida, mais também porque a intervenção pode reduzir a utilização desnecessária dos cuidados de saúde, diminuir a mortalidade e prolongar a sobrevida do paciente [7]. Ballone et al. [10] consideram a participação de fatores constitucionais e ambientais um dos elementos mais importantes para o desenvolvimento da doença e que a depressão é um fator de risco independente, elevando mais de 2 vezes o risco relativo de doenças % artigo 02 Simone Bezerra.pmd 207 02/09/03, 15:08 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2003;2(4) das artérias coronárias (DAC) e do infarto do miocárdio (IM) [8]. A depressão contribui para aumentar esses riscos, aumentando da aderência e agregação plaquetária [11,12], liberação excessiva ou prolongada de catecolaminas e corticosteróides devido ao estresse ou ansiedade exagerada, que pode precipitar arritmias ventriculares e/ou morte súbita [12], as quais afetam o funcionamento cardiovascular [13]. O estado emocional que mais se associa à isquemia miocárdica, arritmias e o aparecimento de extra-sístoles que aparecem no período pós-infarto do miocárdio em pacientes depressivos seria conseqüência do efeito disrítmico da depressão [4]. Carney [3] reafirma esses dados, analisando pacientes com doença coronariana confir mada angiograficamente e com eletrocardiografia dinâmica, onde constata uma diminuição da variabilidade da freqüência cardíaca significativamente mais freqüente entre os pacientes depressivos do que os não depressivos. Diversos estudos reforçam que a depressão aumentaria a incidência das arritmias ventriculares, pelo predomínio do sistema nervoso simpático descarregado através da conexão entre córtex pré -frontal, e a amígdala e Markovitz [12] sugere ainda que a depressão possa afetar a coagulação e a trombogênese. Frasure-Smith [14], constatou que o substrato biológico, que envolve as emoções e esses tipos de lesões, no caso da doença coronáriana, repeteria no SNC/SNA alterações e na função serotoninérgica plaquetária, que ocorrem em pacientes depressivos e são causas atreladas a doenças cardiovasculares [15]. Investigações experimentais em animais e os estudos epidemiológicos e clínicos em humanos apontam para diferentes situações estressantes, agudas ou crônicas, podem precipitar isquemia cardíaca, arritmias e infarto do miocárdio e/ou morte súbita. Os que pacientes pós-infartados apresentaram sintomas de depressão e ansiedade durante o tratamento [16]. Segundo a Federação Mundial de Cardiologia, a depressão é considerada um fator de risco isolado para as doenças cardiovasculares, pois quanto mais grave a depressão maior a probabilidade de ocorrência de distúrbios cardiovasculares. Assim, pesquisas são necessárias para avaliar se o paciente pós-infarto, com estado emocional alterado poderia desenvolver um quadro de depressão no qual favoreceria predispor a um novo infarto, além do que se verifica que os pacientes após o (IM), passam a viver de maneira indiferente e que a ausência de assistência qualificada, visando as necessidades dos pacientes, constituem fatores relevantes para o desequilíbrio biopsicossocioespiritual [16]. Objetivo Caracterizar os aspectos demográficos e clínicos dos pacientes com infarto do miocárdio (IM) Avaliar se o (IM) está associado a um estado depressivo Método Para o nosso estudo selecionamos 35 pacientes, (15 mulheres e 20 homens, idade média de 65 anos); internados no Pavilhão Professor Antonio Figueira Hospital Universitário Osvaldo Cruz./HUOC; com diagnóstico de infarto agudo do miocárdio (IAM). Com intuito de termos todos os grupos com idades comparáveis, todos os entrevistados deveriam possuir idade superior a 30 anos. Os questionários foram aplicados por estudantes do curso de enfer magem da Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças Universidade de Pernambuco UPE, após assinatura do consentimento livre e esclarecido, obedecendo a Resolução nº196/96 sobre pesquisas envolvendo seres humanos [10] informado pelos pacientes, que responderam a dois questionários. Questionário geral com dados referentes à idade, sexo, estado civil, naturalidade, nacionalidade, profissão, escolaridade, procedência, religião, fatores de riscos cardiovasculares e antecedentes familiares associados a coronariopatias. O questionário de Beck para avaliação da depressão [17], mostrou a existência da depressão, sendo a pontuação menor que 10 correspondente a ausência de depressão ou depressão mínima; pontuação entre 10 e 18 equivalente a depressão leve; de 19 a 29 relacionada à depressão moderada; e os valores entre 30 e 63 indicativos de depressão grave [18]. Foram excluídos os pacientes terminais e os que apresentavam distúrbios psiquiátricos diagnosticados e eram incapazes de compreender as perguntas existentes nos questionários. Para análise estatística utilizamos o programa SPSS 9.0. O estudo entre as variáveis discretas e contínuas foi realizado através da análise de variância (Anova), e o estudo entre as variáveis discretas entre si foi realizado através de teste de Fisher. Para os cálculos estatísticos entre as características clínicas, demográficas e de depressão utilizamos valor de significância de 5% (p=0,05). & artigo 02 Simone Bezerra.pmd 208 02/09/03, 15:08 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2003;2(4) Resultados Análise e discussão Tabela I - Características demográficas dos pacientes estudados. Recife, 2003. No presente estudo levantamos a hipótese de que o paciente pós-infarto com estado emocional alterado poderia desenvolver um quadro de depressão o qual poderia predispor a um novo infarto. Ë importante ressaltar que os grupos foram homogêneos, no que se refere às características demográficas e clínicas. A co-morbidade com a depressão, em pacientes com doenças crônicas (hipertensão, diabetes, coronariopatias), tem efeito adverso que afeta o nível de funcionamento, a qualidade de vida, e dificulta o controle das doenças. Trata-se de uma doença com importantes repercussões sociais e individuais por afetar não somente o convívio social, impossibilitando uma rotina de vida satisfatória, mas também pelo risco inerente de morbidade, cronicidade e aumento da mortalidade, em decorrência de suicídios ou de complicações principalmente por doenças cardiovasculares. Há evidências de que a depressão exerça seus efeitos por meio de mecanismos comportamentais (estilos de vida não saudáveis, fumo e ausência de exercícios) ou por efeito fisiopatológico direto. Na depressão ocorrem hipercortisolemia, aumento da reatividade plaquetária, redução da variabilidade da freqüência cardíaca e prejuízo do controle vagal. Essas alterações explicariam, então um potencial arritmogênico e efeitos próaterogênicos da depressão, podendo elucidar o aumento de mortalidade por causas cardiovasculares descrito em pacientes com doença afetiva. Total (n=35) Idade média 31 40 anos 41 50 anos 51 60 anos 61 70 anos Masculino (n=20) Feminino (n= 15) 01 01 05 13 1 3 7 4 (5,00%) (5,00%) (25,00%) (65,00%) (6,66%) (20,00%) (46,66%) (26,66%) Estado civil Casado Não - casado 15 (75,00%) 05 (25,00%) 11 (73,33%) 04 (26,66%) Religião Católica Não-católica 17 (85,00%) 03 (15,00%) 15 (100,00%) 06 (30,00%) 05 (33,33%) 10 (50,00%) 11 (73,33%) Escolaridade Inferior ou igual ensino fundamental completo Superior a ensino fundamental Analfabetos 04 (20,00%) Raça Branca Não-branca 17 (85,00%) 03 (15,00%) 14 (93,33%) 01 ( 6,66%) Tabela II - Pontuação do questionário de BECK. Beck Sem depressão Depressão leve Depressão moderada Depressão grave Total (n = 35) 18 (51,42%) 14 (40,00%) 03 (8,57%) 00 (0,00%) Masculino (n = 20) 12 (34,28%) 07 (20,00%) 01 (2,85%) 00 (0,00%) Feminino (n = 15) 06 (17,14%) 07 (20,00%) 02 (5,71%) 00 (0,00%) Tabela III Fatores de risco associado às características clínicas dos pacientes com infarto do miocárdio (IM). Recife, 2003. características Total (n= 35) Masculino (n=20) Estresse Sim 24 (68,57%) 15 (75,00%) Não 11 (31,42%) 05 (25,00%) Diabetes mellitus Sim 17 (48,57%) 07 (35,00%) Não 18 (51,42%) 13 (65,00%) Obesidade Sim 19 (54,28%) 06 (30,00%) Não 16 (45,71%) 14 (70,00%) Tabagismo Sim 22 (62,85%) 13 (65,00%) Não 13 (37,14%) 07 (35,00%) Hipertensão Sim 27 (77,14%) 13 (65,00%) Não 08 (22,85%) 07 (35,00%) Dislipidemias Sim 31 (88,57%) 17 (75,00%) Não 04 (11,42%) 03 (15,00%) * os pacientes apresentaram mais de uma resposta Feminino (n= 15) 09 (60,00%) 06 (40,00%) 10 (66,66%) 05 (33,33%) 13 (86,66%) 02 (13,33%) 09 (60,00%) 06 (40,00%) 14 (93,33%) 01 (6,66%) 14 (93,33%) 01 (6,66%) ' artigo 02 Simone Bezerra.pmd 209 02/09/03, 15:08 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2003;2(4) Estudos têm demonstrado ligações importantes entre doenças cardiovasculares e desordem afetiva, incluindo: Pacientes com depressão têm maior risco de morte súbita cardiovascular Pacientes com depressão exibem maior prevalência de doença cardíaca isquêmica, com mortalidade muito maior comparado ao grupo controle sem depressão Pacientes pós-infartados e depressivos têm mortalidade maior comparados aos pós-infartados sem depressão. Características demográficas e clínicas dos pacientes estudados Tabela 1. A média de idade dos pacientes estudados foi de 61 a 70 anos, correspondente a 48,57% da amostra estudada. A grande maioria dos pacientes era católica e de raça branca (91,42% e 88,57%, respectivamente). 74,28% eram casados, e apenas 11,42% da população estudada eram analfabetos. Procuramos pesquisar a existência de correlação significativa entre os grupos estudados, observamos, então, que a pontuação do questionário de depressão de Beck foi significativa (p=0,04) Encontramos correlações estatísticas entre as pontuações dos questionários de Beck e idade, estado civil, religião, escolaridade. Tabela 2. Ao comparar faixa etária (60 a 70) com o grau de depressão, observa-se que com o avanço da idade o ser humano pode desenvolver o sentimento de que se inicia a última etapa da vida, desencadeando uma condição depressiva com a percepção do envelhecimento. É fundamental considerar a importância desses achados visto que a depressão atinge 15% dos idosos, com até 2% de casos graves. Há um problema de dimensão significativa quando se observa que o número de pessoas nesta faixa etária (60 a 70 anos) cresce rapidamente no Brasil. Tabela 3. Demonstra a associação entre fatores de risco e características clínicas dos pacientes em estudo demonstrando a relação quantitativa entre os fatores de risco tradicionais que tem a capacidade de induzir a doença cardiovascular aterosclerótica. Com relação aos níveis de depressão durante o período de internação observaram-se, curiosamente, alterações de humor e reações depressivas significativas do grau de depressão leve para moderada. Na literatura, porém as opiniões não diferem a esse respeito[14,13,5] encontraram altos níveis de depressão nos pacientes internados com diagnóstico (IM). São comuns pacientes com doença coronariana sentirem depressão [14]. A prevalência combinada de depressão maior ou menor nos pacientes pósinfartados é estimada em 45%. Depressão maior isoladamente afeta de 15% a 22% desses pacientes, mesmo quem não tenha história de (IM). Já com doença coronariana comprovada, a associação com a depressão maior afeta ao redor de 18% dos pacientes[14,5]. Em nosso estudo, mesmo analisando a tendência a níveis de pontuação mais altos, indicativos de depressão, observamos a prevalência do grau de depressão leve nos pacientes internados com diagnóstico de (IM) em 40,00% acreditamos ser essa uma tendência significativa.Um fato interessante foi a significativa correlação entre religião católica em comparação com o que foi encontrado para pacientes não católicos. Na literatura encontramos estudos que apontam para uma correlação positiva entre o bem estar espiritual e qualidade de vida em portadores de cardiopatias [19]. Talvez essas pessoas possam encontrar na religião maior segurança pessoal e estabeleçam um melhor vínculo entre suas relações interpessoais frente ao diagnóstico e seu tratamento.Os fatores de risco (estresse, obesidade, hipertensão, diabetes) associados às características clinicas corroboram com a literatura no que se refere as suas complicações, demonstrando o comprometimento da função cardíaca, precipitando eventos isquêmicos variáveis na intensidade e na evolução temporal favorecendo o aumento da mortalidade cardiovascular. Observa-se na mulher, maior prevalência devido às alterações metabólicas favoráveis das lipoproteínas da pré-menopausa, apesar da doença arterial resultar de mecanismos multifatoriais. O presente trabalho tem limitações, por ter estudado um pequeno número de pacientes, o que poderia contribuir para que não se evidenciassem correlações maiores entre a depressão e o infarto do miocárdio. Adicionalmente por termos apenas estudado pacientes nos primeiros 30 dias de internamento, não podemos excluir que tenham ocorrido efeitos significativos, porém mais tardios sobre o humor destes pacientes. Conclusão Concluímos que, apesar do pequeno número de pacientes estudados, o início da internação parece induzir um nível significativo de depressão nos pacientes internados pós-infartados. Assim, pesquisas artigo 02 Simone Bezerra.pmd 210 02/09/03, 15:08 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2003;2(4) adicionais são necessárias para descobrir a correlação entre a depressão e o IM, o grau de risco que a depressão acrescenta, além de outros fatores de risco no desenvolvimento das coronaropatias. Adicionalmente, o tratamento da depressão associada a uma cardiopatia é importante não só porque o transtorno afetivo pode comprometer a qualidade de vida, mais também porque a intervenção pode reduzir a utilização desnecessária dos cuidados de saúde, diminuir a mortalidade e prolongar a sobrevida do paciente. 9. 10. 11. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Ministério da Saúde. Resolução n° 196/96 sobre pesquisas envolvendo seres humanos. Brasília: Comissão Nacional de Ética em Pesquisa; 1996. Kendell apud. Stoppe Junior A, Louzã Neto M. Depressão Terceira Idade: Apresentação clínica e abordagem terapêutica. São Paulo: Lemos; [199?]. Carney RM, Blumenthal JA, Stein PK. Depression, heart rate variability and acute myocardial infarction. Circulation 2001;104:2024-28. Cunha JA, Fleck MPA. Estudo da validade de convergente do inventário de depressão de Beck com medidas de depressão baseada na avaliação clínica. Rev Psiquiatr Rio Gd do Sul. No prelo 1999. Herrmann M, Wallesch CW. 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K artigo 02 Simone Bezerra.pmd 211 02/09/03, 15:08 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2003;2(4) Artigo original A importância do aleitamento materno na visão das mães The breastfeeding importance in mothers view La importancia del amamantamiento materno en la visión de las madres Mislene Maldonado dos Santos*, Maria Rita Vieira Rodrigues** *Acadêmica em Enfermagem da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP),**Enfermeira, Mestre em Ciências da Saúde em Educação na Saúde da Criança, Chefe do Departamento de Enfermagem Especializado no Curso de Graduação em Enfermagem da Famerp, Chefe da Disciplina de Enfermagem Pediátrica, Supervisora do Aprimoramento e Aperfeiçoamento em Enfermagem Pediátrica, Docente responsável pela Disciplina: Saúde da Criança e do Adolescente na Especialização do PSF pelo Ministério da Saúde Resumo Objetivou-se com este estudo verificar o conhecimento das mães em relação ao aleitamento materno, por quanto tempo a criança foi amamentada e os motivos da não amamentação. A amostra final ficou constituída de 20 mulheres, todas residentes em São José do Rio Preto SP., que foram acompanhadas em 4 visitas domiciliares bimestrais no período de Junho de 2002 à Janeiro de 2003. Nos resultados verificou-se que as mulheres apresentavam um bom conhecimento sobre a importância do aleitamento materno, contudo a maioria delas iniciaram o desmame precoce, por volta do 2º e 4º mês de vida da criança e, apenas 6 mulheres amamentaram exclusivamente nos primeiros seis meses. Cabe ao profissional enfermeiro, estimular e preparar essas mulheres para a lactação. Palavras-chave: aleitamento materno, desmame, saúde da criança. Artigo recebido em 20 de julho de 2003; aceito em 1 de agosto de 2003. Endereço para correspondência: Mislene Maldonado dos Santos, Rua Paraná, 578, 15140-000 Bálsamo SP, Tel.: (17) 3264-7527, E-mail: [email protected] artigo 03 Mislene dos Santos.pmd 212 02/09/03, 15:08 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2003;2(4) Abstract The aim of this study is to verify the mothers knowledge about breastfeeding, how long the child was breast-fed and the reasons of the weaning. It treats mainly about the participation of 20 women, all resident in São José do Rio Preto SP, that were assisted during four home visits, bimonthly, from June 2002 to January 2003. As a result we verified that all women had a good knowledge about the breastfeeding importance, however most of them began an early wean around the second or fourth month of baby life, only 6 women breast-fed in the first 6 months. The professional nurse has a prime role in stimulate and prepare these women for the lactation. Key-words: breastfeeding, weaning, child health. Resumen El objetivo de este estudio fue verificar el conocimiento de las madres en relación al amamantamiento materno, por cuanto tiempo fue dado el leche materno y los motivos del destete. La muestra final fue constituida de 20 mujeres, todas residentes en São José do Rio Preto SP, que fueron acompañadas en 4 visitas domiciliares, bimestrales, en el periodo de Junio de 2002 a Enero de 2003. Según los resultados, se verificó que todas las mujeres presentaban un buen conocimiento sobre la importancia del amamantamiento materno, sin embargo la mayoría de ellas iniciaron el destete precoz alrededor del 2o y 4º mes de vida del niño y, apenas 6 mujeres amamantaron exclusivamente en los primeros seis meses. De esa manera, el profesional enfermero, pasa a tener un papel fundamental en la estimulación y preparación de esas mujeres para la lactación. Palabras-clave: amamantamiento materno, destete, salud del niño. Introdução Objetivos Assiste-se a uma crescente retomada de consciência sobre a superioridade e importância do leite humano. Pesquisas de campo em diversos países descobriram taxas de mortalidade e morbidade mais elevada entre crianças desmamadas precocemente [1]. O leite humano possui fatores biológicos imprescindíveis para o crescimento e desenvolvimento da criança e o ato da amamentação trás muitos benefícios para a mãe, inclusive menor risco de contrair câncer de mama. Lembrando também, que o aleitamento materno trás vantagens para o Planeta, pois os produtos utilizados para produção, armazenamento e distribuição dos leites industrializados, bem como mamadeiras e bicos, causam poluição e lixos muitas vezes não recicláveis. Apesar de existir muitas campanhas de incentivo ao aleitamento materno, educação no pré-natal, acompanhamento no alojamento conjunto, verificase ainda que o desmame precoce é muito alto [2]. Com o intuito de verificar se em nosso município este fator acontece, pretendeu-se realizar o presente estudo, pois com isto nos fornecerá subsídios para uma atuação de enfermagem dinâmica, precisa e eficaz. - Verificar o conhecimento das mães em relação ao aleitamento materno; - Verificar por quanto tempo a criança é amamentada ao seio e os motivos da não amamentação. Material e métodos Tipo de estudo Neste estudo foi utilizado o método descritivo, através do qual verificou-se o conhecimento das mães em relação ao aleitamento materno, a aceitação do aleitamento nos primeiros seis meses de vida e os motivos da não amamentação. O propósito da pesquisa descritiva é observar, descrever e explorar aspectos de uma situação, de tal modo que seja possível desvelar sua natureza e os processos que se inter-relacionam [3]. Questões éticas Antecedendo a coleta dos dados tomaram-se as providências recomendadas para pesquisas ! artigo 03 Mislene dos Santos.pmd 213 02/09/03, 15:08 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2003;2(4) envolvendo seres humanos, segundo Resolução 196/ 96 CNS, encaminhando para apreciação e autorização do Comitê de Ética em Pesquisa da FAMERP. Foi solicitado o consentimento da população do estudo após esclarecimento sobre a pesquisa. Local do estudo O estudo foi realizado inicialmente em um Hospital de Grande Porte, em unidade de internação e ambulatório, que se encontra na cidade de São José do Rio Preto/SP, localizada no noroeste paulista. É um hospital geral, com grande demanda de assistência filantrópica que atende às diferentes especialidades na área da saúde, e tem por finalidades a prestação de assistência, ensino e pesquisa. Após a concordância com a pesquisa, foi realizada uma entrevista e, posteriormente, visitas domiciliares bimestrais. População A população deste estudo se constituiu de mães, cujo parto foi realizado no Hospital de Base, e de gestantes que estavam em acompanhamento no prénatal no ambulatório, durante o mês de maio de 2002, com residência em São José do Rio Preto. Amostra A amostra ficou constituída, inicialmente, de 22 mães, sendo que uma pediu para ser retirada do estudo, o que foi respeitado; a outra mudou de cidade não sendo mais possíveis as visitas domiciliares. Com isto houve o acompanhamento com 20 mães, todas residentes em São José do Rio Preto. Período de coleta de dados O levantamento de dados foi realizado no período de Junho de 2002 à Janeiro de 2003. Procedimento de coleta de dados O instrumento utilizado foi um questionário semi-estruturado, com o intuito de verificar o conhecimento das mães em relação ao aleitamento materno; as possíveis dificuldades que estas poderiam apresentar no pré-natal e durante a lactação, e que de alguma forma as impediriam de amamentar; os motivos pela não aceitação do aleitamento materno e/ou desmame precoce. As entrevistas foram realizadas pela própria pesquisadora, sendo que no mês de maio foi feita no hospital com as mulheres que já tinham sido submetidas ao parto e no ambulatório com as mulheres que estavam em acompanhamento no pré-natal. De junho de 2002 a janeiro de 2003 foram feitas visitas domiciliares bimestrais. Estas entrevistas foram feitas de forma individual sendo transcritas suas palavras. Apresentação e análise dos resultados Os dados obtidos foram agrupados e relacionados segundo os objetivos deste estudo, analisando assim a visão das mães quanto a prática e a importância do aleitamento materno para a saúde do seu filho. As respostas foram apresentadas sobre a forma de tabelas ou descritiva para aquelas que não se adequaram a tal forma de apresentação. Resultados e discussão Dados relativos à caracterização da amostra A população estudada constitui-se de 20 mães cuja caracterização social foi feita segundo faixa etária, ocupação, estado civil, escolaridade e número de filhos. Verificou-se que onze (55%) mães não trabalham, tendo como recurso financeiro a remuneração do marido, pais ou companheiro; doze (60%) estão na faixa etária de 14 a 22 anos, sendo uma população jovem. Oito (40%) mães são solteiras, sete (35%) são amasiadas e cinco (25%) são casadas. Todas têm grau de instrução escolar facilitando o entendimento de orientações e para dez (50%) mães é o primeiro filho. Verifica-se que uma das vantagens importantes do aleitamento materno é o custo, pois uma criança alimentada nos seis primeiros meses de vida, com leite artificial consome cerca de 13% do salário mínimo. A amamentação é uma fonte de economia para a família, especialmente nos países em desenvolvimento, onde grande parte da população pertence aos níveis sócioeconômicos mais baixos [2]. Um outro fator que impede o aleitamento é a falta de suporte para a mulher no período pós-natal. Conhecimento das mães sobre o aleitamento materno A verificação do conhecimento foi feita sobre três questionamentos, o quê sabe sobre o aleitamento materno; se o leite materno tem todos os componentes necessários para o crescimento e desenvolvimento saudável da criança, e se o leite humano é fraco. " artigo 03 Mislene dos Santos.pmd 214 02/09/03, 15:08 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2003;2(4) Tabela I - Conhecimento das mães sobre o aleitamento materno. São José do Rio Preto, 2003. O saber sobre o aleitamento Freqüência A criança tem um desenvolvimento saudável N 3 3 3 3 2 1 1 1 1 1 1 % 15 15 15 15 10 5 5 5 5 5 5 x x x x x Previne doenças x x Essencial nos primeiros seis meses de vida Aumenta Principal fonte o vínculo de alimento nos mãe-filho primeiros seis meses de vida x x x x x x É econômico x x x x x Pela Tabela I verifica-se que 13 (65%) mães relatam a importância do aleitamento materno na prevenção de doenças, 50% relataram ser essencial até o sexto mês de vida, 9 (45%) referem a importância para o desenvolvimento saudável e apenas 2 ( 10%) relatam a importância para o vínculo mãe-filho. Sabe-se que o leite materno é fundamental para a saúde das crianças nos seis primeiros meses de vida, por ser um alimento completo, fornecendo inclusive água, com fatores de proteção contra infecções comuns da infância, isento de contaminação e perfeitamente adaptado ao metabolismo da criança [2]. O aleitamento materno tem papel relevante na prevenção das doenças infecciosas, além de constituir um fator de importância nutricional, bioquímica e imunológica para o crescimento e desenvolvimento das crianças no seu primeiro ano de vida [4]. É a única fonte de nutrientes para os seis primeiros meses de vida, uma vez que a alimentação do seio evita a introdução precoce, no trato gastrintestinal, de antígenos, fornecendo anticorpos que protegem o sistema imunológico da criança [5]. Durante a amamentação aprofunda-se o vínculo entre a mãe e o bebê, e estudos mostram que o leite natural dado até o primeiro ano de vida reduz a morte por diarréia em até quatorze vezes; diminui os casos de pneumonia em até quatro vezes, e o risco de hospitalização acaba sendo cinco vezes menor do que em bebês que não recebem leite materno. Inúmeras pesquisas mostram que todos os bebês precisam de afago, e que aqueles que não tiveram contato físico tem maior risco de adoecer e até morrer. Na amamentação, o contato físico é maior e proporciona à mãe e ao bebê um momento de proximidade diária. Essa ligação emocional muito x x x x forte e precoce pode facilitar o desenvolvimento da criança e seu relacionamento com as outras pessoas. Durante a amamentação tanto a mãe quanto a criança são beneficiadas e há uma possível proteção contra a síndrome da morte súbita, o diabete melito insulino-dependente, a doença de Crohn, a colite ulcerativa, o linfoma, as doenças alérgicas, o câncer de mama e de ovário na mulher que amamenta, além de otimizar o desenvolvimento neurológico da criança e promover o vínculo afetivo entre mãe e filho [6]. Quanto ao questionamento referente se o leite materno tem todos os componentes necessários para o crescimento e desenvolvimento saudável da criança, todas relataram que sim e na justificativa de suas respostas a maioria relatara: porque o leite materno é 100% natural ao contrário do leite industrializado que contém produtos químicos. porque todos dizem que é completo, ou seja, tem tudo que a criança precisa para se desenvolver. porque é completo tem tudo que a criança precisa, é por isso que existe tanta propaganda incentivando o aleitamento. porque segundo pesquisas, o leite materno protege 90% das crianças amamentadas, e igualmente são mais nutridas, saudáveis e protegidas contra vírus. ...porque possui proteínas e todos os componentes necessários para o crescimento e desenvolvimento saudável da criança. não dá diarréia, infecção e evita ressecamento. tem tudo que a criança precisa, não necessitando dar chá, leite ou outro complemento. Sabe-se que as características bioquímicas e imunológicas de especificidade próprias do leite # artigo 03 Mislene dos Santos.pmd 215 02/09/03, 15:08 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2003;2(4) humano lhe conferem uma composição ideal e incomparável a qualquer outro tipo de leite: bacteriologicamente é seguro e imunologicamente apresenta fatores de proteção e de defesa contra infecções, especialmente as gastrintestinais. Do ponto de vista nutricional, o leite humano é capaz de suprir todas as necessidades alimentares da criança durante os seis primeiros meses de vida, por ser considerado como uma solução altamente complexa, com cerca de 160 substâncias conhecidas, constituídas basicamente por proteínas, células, sais minerais e carboidratos, que contém gordura em suspensão [1]. O leite materno contém endorfina, substância química que ajuda a suprimir a dor, portanto, deve-se amamentar o bebê após a vacinação, pois além de ajudá-lo a superar a dor, o leite materno também reforça a eficiência da vacina. Contém também todos os nutrientes (água, proteína, lactose, ferro, sais, cálcio e fósforo), de que a criança precisa nos primeiros seis meses de vida na quantidade suficiente, e uma enzima especial (lipase) que digere gorduras, sendo facilmente digerido e absorvido, fazendo com que a criança queira uma nova mamada num intervalo menor do que aquela que está tomando mamadeira. Quanto à questão do leite fraco, todas referiram já ter conhecimento e, a atitude tomada neste caso, seria: Continuaria com o leite materno (65%) Acrescentaria a mamadeira (35%) Verificou-se que 65% das mães relataram que em caso de leite fraco só deve ser dado o leite materno, apesar disso 9 mães relataram existir leite fraco. Uma mãe disse não existir, mas disse que a mamadeira deve ser dada a partir do terceiro mês de vida. Outra referiu não existir porque o médico disse, mas não tem certeza. Todas a mães foram informadas de que não existe leite fraco, mesmo que sua aparência seja mais rala se comparado com o leite de vaca. Nos primeiros dias pós-parto, as mamas secretam o colostro, um leite amarelado, rico em anticorpos, que protege a criança contra a maior parte das bactérias e vírus, sendo suficiente nos primeiros dias de vida de uma criança normal. Em uma ou duas semanas, o leite aumenta em quantidade e muda seu aspecto e composição, fornecendo todos os nutrientes necessários para um crescimento e desenvolvimento saudável. O leite do começo surge no início da mamada, com aparência acinzentada e aguda. É rico em proteínas, lactose, vitaminas, minerais e água. Já o leite que surge no final da mamada parece mais branco do que o leite do começo porque contém mais gordura. A gordura torna o leite do fim mais rico em energia, correspondendo a metade da energia presente no leite materno. A criança precisa tanto do leite do começo quanto do fim, para crescer e se desenvolver, cabendo a mãe deixá-la parar espontaneamente de mamar. A interrupção da mamada pode fazer com que ela receba pequena quantidade do leite do fim e, conseqüentemente, menos gordura. Na época das amas de leite, essas mulheres eram obrigadas a alimentar primeiro os filhos dos patrões, e seus filhos recebiam apenas o leite do fim. Conseqüentemente recebiam toda a gordura, e muitas vezes eram castigadas porque seus filhos cresciam mais que os filhos dos patrões. Dados sobre o acompanhamento à domicílio Tabela II - Tipo de alimentação de acordo com a idade em meses. São José do Rio Preto, 2003. Tipo de alimentação Idade em meses 2 meses 4 meses N % N % Leite materno 13 65 8 40 Leite materno 5 25 e complemento 2 10 Outro leite 1 5 Leite materno e fruta 1 5 Leite materno, fruta, papa salgada e água 1 5 Leite materno e suco 1 5 Leite materno, complemento, suco e fruta 2 10 2 10 Leite materno, complemento, suco, papa salgada e fruta 216 5 25 2 10 4 20 Outro leite, papa salgada, suco e água 2 10 7 35 Outro leite, fruta, Suco e água 2 10 2 10 A Tabela II mostra que com 2 meses de vida 65% das crianças estavam sendo alimentadas somente com o leite materno, o que foi mudando a partir do $ artigo 03 Mislene dos Santos.pmd 6 meses N % 02/09/03, 15:08 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2003;2(4) 4º mês onde foram sendo introduzidos outros tipos de alimento, 25% estavam com leite materno mais complemento e 10% com outro tipo de leite, verificouse também que apenas 30% continuaram com o leite materno exclusivo até o sexto mês. Motivos para outro tipo de leite no 2º mês de vida Uma mãe relatou que tinha pouco leite e que este estava fraco, pois a criança chorava muito a cada mamada; a outra referiu ter apresentado fissuras na mama e sentia muita dor ao amamentar. Motivos para o leite materno mais o complemento no 2º mês de vida Todas relataram que o leite materno estava sendo insuficiente. Uma mãe, além disso, disse ter recebido orientação de sua mãe. Outras duas mães disseram estar iniciando o desmame, pois teriam que voltar ao trabalho. Motivos para o leite materno e outros tipos de alimento no 4º mês de vida Duas mães referiram que o leite materno estava sendo insuficiente. Uma Mãe relatou que outro alimento era bom para o desenvolvimento da criança e quem orientou foi sua mãe. Outra referiu que foi orientação médica pois logo retornaria ao serviço. Outra mãe relatou que retornou ao trabalho. E uma outra disse que era por causa das vitaminas que ajudam no crescimento. Motivos para outro tipo de leite e alimentos no 4º mês de vida Por terem iniciado o desmame no 2º mês de vida e pelo leite materno ser insuficiente. A amamentação é uma escolha individual que se desenvolve dentro de um contexto sociocultural, portanto influenciada pela sociedade e pelas condições de vida da mulher [7]. A prevalência do aleitamento materno é baixa, de curta duração e, o aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida é raro [2]. Há vários aspectos envolvidos com o ato de amamentar [8], dentre eles: - Mãe: condições psíquicas (experiências anteriores e significados e valores do aleitamento materno); - Meio: envolve as representações sociais sobre o aleitamento materno; - Condições biológicas: dor, enfermidades; - Apoio social: família, trabalho, berçários, creches, etc. Conceitua-se desmame a introdução de qualquer outro tipo de alimento além do leite materno. O desmame não é um momento e, sim, um processo que vai desde a introdução de um novo alimento até a suspensão completa do aleitamento materno [9]. Os dados sobre introdução de novos alimentos indicam que desde muito cedo já são oferecidos sucos, leites engrossados com farinhas e, gradualmente, sopas e caldo de feijão. Isso ocorre principalmente em função de uma percepção por parte das mães e familiares de que, embora o leite materno seja o alimento ideal para o bebê, nem sempre a mãe possui quantidade suficiente (pouco leite, leite que secou), ou qualidade adequada (leite fraco, leite ralo). Um estudo sobre realizado em Nova Zelândia com 1000 crianças e por um período de 18 anos provou que as crianças amamentadas ao seio eram mais inteligentes e tinham mais sucesso na escola e universidade [10]. Há relato também de que o desenvolvimento psicomotor e social dos bebês amamentados é claramente melhor e resulta, na idade de um ano, em vantagens significantes [11]. Conclusão Este trabalho levou-nos as seguintes conclusões: - Todas as mães têm um bom conhecimento sobre a importância do aleitamento materno no crescimento e desenvolvimento da criança; - A maioria inicia o desmame precoce, sendo os principais motivos a hipogalactia e a volta ao trabalho; - Apenas 30% amamentaram exclusivamente nos primeiros seis meses; - Apenas duas mães relataram que o aleitamento materno favorece o vínculo afetivo mãefilho; - As mães possuem uma instrução escolar boa, que favorece o entendimento das orientações dadas; - Na prática elas não estavam conscientizadas quanto ao seu papel de mãe fonte principal de alimento e amor para o seu filho. A meta de estender os benefícios do aleitamento materno para toda a sociedade, depende de muitos fatores, em geral nas áreas social, econômica, educacional, cultural, política, e também, do trabalho de todo o pessoal da área de saúde, atuando na união de esforços em estímulo e suporte eficazes. % artigo 03 Mislene dos Santos.pmd 217 02/09/03, 15:08 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2003;2(4) Todos os profissionais da área de saúde envolvidos com o binômio mãe-filho (pediatras, obstetras, enfermeiros e outros), devem ser bem informados e realmente convencidos da importância e da técnica do aleitamento materno, para então exercerem com competência seu vital papel de educadores para a saúde, acompanhando de perto mãe e filho, com tantos retornos forem necessários, partilhando com a mãe suas dificuldades, diminuindo suas dúvidas, passando informações, orientações claras e serenas e, conseqüentemente, contribuindo para uma amamentação segura e eficaz. Diante disso, cabe ao profissional de saúde uma atuação mais dinâmica e conscientizadora junto a essas mulheres, enfocando a prática do aleitamento materno durante a gestação, pós-parto, consultas de puericultura e até visita domiciliar. O profissional de enfermagem, em especial, tem um papel fundamental na conscientização e preparação dessas mulheres para a lactação, devendo incentivar, promover e restabelecer a superioridade e importância do aleitamento materno, pois, como vimos, este é o melhor alimento para uma criança crescer e se desenvolver saudavelmente. Este trabalho sugere que deve ser dada uma cobertura maior nestas orientações, não só para a gestante como também à família, comunidade e pessoas que convivem com estas gestantes, pois se verifica que estas recebem apoio no pré-natal e no alojamento conjunto, mas não em casa. Referências 1. Schmitz EM et al. A enfermagem em pediatria e puericultura. São Paulo: Atheneu; 1995. 2. Ministério da Saúde. Secretaria de política de saúde. Departamento de atenção básica. Saúde da criança: acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil. Brasil: Ministério da Saúde; 2002. 3. Polit DF, Hungler BP. Fundamentos de pesquisa em enfermagem. 3a ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 1995. 4. Ministério da Saúde. Assistência integral à saúde da criança: ações básicas. Brasília: Ministério da Saúde; 1984. 5. Bodinski LH. Dietoterapia: princípios & prática. São Paulo: Atheneu; 2000. 6. American Academy of Pediatrics. Work group on breastfeeding: breastfeeding and the use of human milk. Pediatrics 1997;100(6):1035-1039. 7. Ichisato SMT, Shimo AKK. Aleitamento materno e as crenças alimentares. Rev latinoam enfermagem 2001;9(5):70-6. 8. Rezende MA, Sigaud CHS, Veríssimo M, Dela OR; Chiesa AM, Bertolozzi MR. O Processo de comunicação na promoção do aleitamento materno. Rev latinoam enfermagem 2002;10(2):234-8. 9. Semana mundial do aleitamento materno mobiliza Ministério da Saúde. Nursing 2000;3(31). 10. Harwood and Fergusson. Breast feeding and later cognitive and academic outcomes: Pediatrics 1998;1001(1). 11. Baumgartner C. Psycomotor and social development of breastfeed and bottle babies during their first year of life. Acta Pediatrica Hungarica 1984. K & artigo 03 Mislene dos Santos.pmd 218 02/09/03, 15:08 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2003;2(4) Artigo original Risco de suicídio: um cuidado de enfermagem Suicide risk: nursing care Riesgo de suicidio: un cuidado de enfermería Rosane Beatriz Lucena Saccaro* *Acadêmica em Enfermagem da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP),**Enfermeira, Mestre em Ciências da Saúde em Educação na Saúde da Criança, Chefe do Departamento de Enfermagem Especializado no Curso de Graduação em Enfermagem da Famerp, Chefe da Disciplina de Enfermagem Pediátrica, Supervisora do Aprimoramento e Aperfeiçoamento em Enfermagem Pediátrica, Docente responsável pela Disciplina: Saúde da Criança e do Adolescente na Especialização do PSF pelo Ministério da Saúde Resumo Trabalhando com indivíduos portadores de distúrbios psiquiátricos, verificou-se a necessidade de se utilizar algum método que auxiliasse no cuidado ao paciente com risco de suicídio. O ato do suicídio é um fenômeno complicado, multidimensional, associado de forma esmagadora a doenças psiquiátricas concomitantes. A vítima potencial de suicídio pode ser identificada precocemente, pois a maioria destes pacientes informa a outra pessoa sobre as suas intenções suicidas. Risco é a probabilidade de um indivíduo apresentar um problema ou dano de saúde. Pode ser uma medida estatística de probabilidade de uma ocorrência futura geralmente indesejável. A complexidade dos fatos que leva uma pessoa a dar fim à própria vida dificulta bastante a predição do ato, mas o bom preparo e a sensibilidade do profissional que atende um suicida em potencial, podem ajudá-lo a identificar os indícios sutis da intenção. Como reflexo desta situação foi elaborado um instrumento que busca identificar os pacientes com risco, através da consulta de enfermagem, de um questionário para avaliação do risco e na elaboração de um plano terapêutico de cuidados. Este não é um trabalho acabado, mas o início de novas reflexões na tentativa de que outros profissionais passem, a partir desta experiência, a refletir e até mesmo sistematizar novos métodos para cuidar destas pessoas que gritam por socorro. Palavras-chave: suicídio, distúrbios psicológicos. Artigo recebido em 30 de junho de 2003; aceito em 1 de agosto de 2003. Endereço para correspondência: Rosane Beatriz Lucena Saccaro, Rua Ângelo Corso, 905 Ana Rech 95060-050 Caxias do Sul RS, Tel: (54) 283-1373, E-mail: [email protected] ' artigo 04 Rosane Beatriz.pmd 219 02/09/03, 15:08 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2003;2(4) Abstract Working with individuals of psychiatric diseases, it was verified necessity of using some method that assisted in the care to the patient with suicide risk. The act of the suicide is a complicated, multidimensional phenomenon, associated with concomitant psychiatric diseases. The potential victim of suicide can precociously be identified, because the majority of these patients informs to another person about its suicidal intentions. Risk is the probability of an individual of presenting a problem or damage of health. It can be a statistic measure of probability of future occurrence, generally, undesirable . The complexity of the facts that takes a person to put an end to his/her own life makes difficult the prediction of the act, but the good preparation and the sensitivity of the professional that takes care of a potencial suicidal , can help to identify the subtle indications of the intention. As reflected of this situation an instrument was elaborated that try to identify the patients with risk, through the consultation of nursing, a questionnaire for evaluation of the risk and in the elaboration of a therapeutical plan for assistance. This is not a concluding work, but the beginning of new reflections for other professionals to start reflecting and also systemize new methods to take care of these people who ask for help. Key-words: suicide, psychiatric diseases. Resumen Trabajando con individuos portadores de disturbios psicológicos, se verificó la necesidad de se utilizar algún método que auxiliase en el cuidado al paciente con riesgo de suicidio. El acto de suicidio es un fenómeno complicado, multidimensional, asociado a enfermedades siquiátricas concomitantes. La víctima potencial de suicidio puede ser identificada precozmente, pues la mayoría de estos pacientes informa a otra persona sobre sus intenciones suicidas. Riesgo es la probabilidad de un individuo presentar un problema o daño a la salud. Puede ser una medida estadística de probabilidad de una ocurrencia futura, generalmente, indeseable. La complejidad de hechos que lleva una persona a poner un fin a la propia vida dificulta bastante a la predicción del acto, pero el buen preparo y la sensibilidad del profesional que cuida de un suicida en potencial, pueden ayudarlo a identificar los indicios sutiles de la intención. Como reflejo de esta situación fue elaborado un instrumento que busca identificar los pacientes con riesgo, a través de un parecer de la enfermería, de un cuestionario para evaluación de riesgo y en la elaboración de un plan terapéutico de cuidados. Este no es un trabajo terminado, pero el inicio de nuevas reflexiones en la tentativa de que otros profesionales pasen, a partir de esta experiencia, a reflexionar y hasta mismo sistematizar nuevos métodos para cuidar de estas personas que piden ayuda. Palabras-clave: suicido, disturbios psicológicos. Introdução Este estudo foi idealizado para ajudar a atuação dos enfermeiros e da equipe de enfermagem na utilização de um instrumento que busca detectar e avaliar o grau de risco de suicídio para pacientes internados na Clínica Psiquiátrica Professor Paulo Guedes de Caxias do Sul. Quando falamos de risco de suicídio, lembramos das palavras: desesperança, doença, dor, luto, sofrimento e morte. O impacto que causa a todos mostra a complexidade dos aspectos que devem ser vistos e analisados, como: sociológicos, econômicos, filosóficos, religiosos, éticos, morais, jurídicos. Devemos analisar também o impacto na relação profissional e na relação do próprio Eu, como um Ser, com sentimentos e emoções. Esta análise de conceitos de si mesmo é indispensável para que o enfermeiro possa, através de suas intervenções, obter respostas empáticas na ajuda ao paciente. O enfermeiro, como um agente terapêutico, utilizase do processo de enfermagem para proporcionar ao paciente e seus familiares um cuidado pessoal e a sua independência. Este profissional e a sua equipe são os responsáveis diretos pelo cuidado preventivo focalizado na redução ou eliminações dos efeitos da doença. O cuidado inclui a triagem que é realizada pela consulta de enfermagem e pelo questionário de risco, artigo 04 Rosane Beatriz.pmd 220 02/09/03, 15:08 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2003;2(4) as intervenções em crises, a prevenção de suicídios e os cuidados na manutenção das necessidades humanas básicas através do plano terapêutico. Consulta de enfermagem A falta e a escassez de conteúdos bibliográficos que enfatizem o cuidado de enfermagem específico para esta situação é um dado relevante, o que dificulta a ação terapêutica. Segundo Stevenson [1] o ato do suicídio é um fenômeno complicado, multidimensional, associado de forma esmagadora a doenças psiquiátricas concomitantes. A vítima potencial de suicídio pode ser identificada precocemente, por isso o profissional que o assiste tem que estar atento aos sinais que esta pessoa em sofrimento demonstra. A maioria destes pacientes informam a outra pessoa sobre as suas intenções suicidas. Berkow [2], em análises de estudos sobre o assunto, refere que 80% dos pacientes que completaram o suicídio comunicaram a outros a sua intenção de cometer o ato. A complexidade dos fatos que levam uma pessoa a dar fim à própria vida dificulta muito a predição do ato, mas o bom preparo e a sensibilidade do profissional que atende um suicida em potencial, podem ajudá-lo a identificar os indícios sutis da intenção [3]. Risco é a probabilidade de um indivíduo apresentar um problema ou um dano de saúde. Pode ser uma medida estatística de probabilidade de uma ocorrência futura geralmente indesejável [4]. Como reflexo dessa situação, a procura pelo aperfeiçoamento do cuidado de enfermagem tem buscado a identificação dos pacientes com risco de suicídio, através da consulta de enfermagem e tem como objetivo adquirir informações específicas necessárias para o diagnóstico e o planejamento dos cuidados de enfermagem e facilitar a relação enfermeiro-paciente. Todas estas atividades são desenvolvidas na Clínica Professor Paulo Guedes que é uma entidade especializada no atendimento psiquiátrico e mantida pelo Sistema Único de Saúde. O primeiro contato do enfermeiro com o paciente acontece no setor de admissão com a consulta de enfermagem. O paciente e o acompanhante são recebidos pelo enfermeiro em uma sala localizada na área da portaria central, anexa à sala de consulta médica e recepção, disposta com escrivaninha e cadeira para uso do enfermeiro, e que contém formulários, maca para exame, carro de medicação de urgência e outros recursos destinados a procedimentos necessários, como termômetros, aparelho de pressão para verificação dos sinais vitais, cadeiras para acomodação do paciente e acompanhante, balança antropométrica para verificação de peso e altura, lavatório para as mãos. A estrutura da consulta de enfermagem (anexo I), difere dos tipos de entrevista executada por outros membros da equipe de saúde, uma vez que ela tem seu foco na identificação das reações e sintomas do paciente que podem ser tratados com as intervenções da enfermeira e da equipe de enfermagem. A ela são incorporados outros dados, como revisão do prontuário anterior, quando se tratar de pacientes com mais de uma internação, encaminhamentos, exames médicos, laboratoriais e radiológicos anteriormente realizados, medicações em uso, bem como dados da consulta médica atual. Como parte de sua estrutura, procede-se o levantamento de um breve histórico, com dados de identificação colhidos diretamente do paciente, dados clínicos que possam interessar ao enfermeiro e equipe de enfermagem e análise do prontuário anterior. Estes dados inicialmente coletados irão ajudar a determinar o estado de saúde atual do cliente. Numa segunda etapa da entrevista, o enfermeiro utiliza-se da observação sistemática, que envolve o uso dos sentidos (visão, olfato, audição e tato), para aquisição de outras informações sobre o paciente e pessoas próximas, com o objetivo de verificar como ele está interagindo com o ambiente. Os parâmetros averiguados iniciam com a observação do aspecto geral e do comportamento apresentado pelo cliente durante a consulta, em que se avaliam a aparência e condições de higiene, quadro nutricional, queixa principal (motivo ou problema que levou o cliente ao hospital). Feita a coleta dos dados sobre o paciente, além do interrogatório sobre antecedentes pessoais e familiares, o enfermeiro segue o processo de avaliação inicial com exame físico, que é realizado no sentido céfalo-caudal. O estado mental do cliente é avaliado seguindo uma ordem de questões estruturadas, que compreendem motricidade, fala, conteúdo da fala, alterações do humor, memória, orientação, sensopercepção e delírios. A consulta deve continuar até que chegue o momento de pesquisar idéias e planos suicidas. Devese introduzir o assunto desesperança, receios e medos, estimulando o paciente a falar sobre ele, e se for positivo continuar abordando a questão naturalmente. Oportunizando o cliente de falar se está pensando ou se já pensou em morte, em morrer ou em tirar a própria artigo 04 Rosane Beatriz.pmd 221 02/09/03, 15:08 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2003;2(4) vida. Como já foi citado, a quase totalidade das pessoas comunicam a esta intenção através de sua fala. Se durante esta busca estiverem presente sinais que levem a concluir que esta pessoa poderá de alguma forma atentar contra a sua vida, será então, incluído à consulta, um questionário que avaliará o potencial para o suicídio. Questionário de risco É um formulário padronizado (anexo II) que será utilizado durante a consulta de enfermagem para avaliar especificamente o grau de risco, sempre partindo da premissa de que o cliente de maior risco é aquele que já atentou ou que esboçou um plano que pareça praticável. Segundo estudos realizados por Kaplan e Sadock [5] cerca de 40 a 70% dos suicidas apresentam transtorno de humor e 40% dos pacientes deprimidos que cometem suicídio fizeram uma tentativa anterior. O risco de um paciente realizar uma segunda tentativa é mais alto dentro de três meses após a primeira tentativa. A abordagem é feita de uma maneira lenta e deliberada. O enfermeiro, atento a todas as comunicações dos pensamentos e as expressões do comportamento do cliente, busca identificar os sinais de aviso que podem ir desde expressões de desvalia ao desejo de morrer, não vale a pena continuar vivendo assim, estou cansado do mundo, sei que vou morrer logo, ou uma sugestão de intenção autodestrutiva até uma ameaça expressa ou uma afirmação deliberada. Segundo Giordano [6] o grito de socorro não é um fim em si mesmo, mas um meio, por isso não acontece uma única vez e, sim, muitas vezes, de diferentes formas. Juntamente com questionário de risco, o enfermeiro utiliza para auxiliá-lo na busca de pistas uma tabela com a relação dos fatores de risco. Fator de Risco: é considerado como qualquer característica ou evento verificável referente a uma pessoa e ao ambiente circundante que podem afetar de modo adverso ou até específico as reações da personalidade da pessoa. O fator é um elo numa cadeia de associação que conduzem a um evento mórbido ou indicador desses eventos [4]. Esta tabela (anexo III), classifica os fatores de risco em demográficos (idade, sexo, situação conjugal, empregos, relações interpessoais, estrutura familiar), saúde - física e mental; atividade suicida (ideação e tentativa de suicídio) e recursos pessoais e sociais. A entrevista executada pelo enfermeiro, na internação, tem um tempo aproximado de vinte artigo 04 Rosane Beatriz.pmd 222 minutos. A classificação e organização dos dados são os passos finais na fase de determinação do diagnóstico de enfermagem. Realizada a consulta de enfermagem, a enfermeira analisa e interpreta os dados coletados para identificar o diagnóstico. Diagnóstico de enfermagem: constitui a base para a seleção das intervenções de enfermagem, para que se chegue aos resultados pelos quais o enfermeiro é responsável [7]. O risco de suicídio é uma condição que varia de grau de severidade, em que os principais sinais e sintomas apresentados são tentativa anterior ou suicídio fantasiado, ansiedade, depressão, cansaço, disponibilidade de meios para o suicídio, preocupação com o efeito de suicídio sobre os familiares, ideação suicida verbalizada, preparação de um testamento, resignação após depressão agitada, crise vital próxima com o luto ou cirurgia iminente, história familiar de suicídio, pessimismo ou falta global de esperanças. (tabela com sinais e sintomas, anexo IV). Hipóteses de diagnóstico - Ajuste individual ineficaz; - Alterações da nutrição: menor (maior) do que as necessidades corporais; - Déficit do autocuidado: higiene, aparência pessoal, alimentação; - Distúrbio do padrão do sono; - Isolamento social; - Distúrbio da comunicação verbal; - Risco de violência: autodirigida; - Luto disfuncional; - Impotência; - Alterações dos processos do pensamento. Realizada a consulta de enfermagem e estabelecido o diagnóstico inicial, o enfermeiro planeja a assistência de enfermagem para o risco de suicídio através do plano terapêutico de cuidados (anexo V). Plano terapêutico de cuidados O plano terapêutico de cuidados é um roteiro de cuidados padronizados. De acordo com Mayes, descrito por Wanda Horta [8], um plano padronizado de cuidados é um protocolo de cuidados específicos que é adequado a clientes que apresentam os problemas usuais e esperados, associados a um determinado processo diagnóstico ou enfermidade. O plano terapêutico de cuidados é introduzido no prontuário do paciente na baixa ou diante de qualquer evento que coloque o paciente em situação 02/09/03, 15:08 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2003;2(4) de risco. Tem como objetivos desenvolver estratégias criadas para reforçar reações saudáveis do paciente e para prevenir, ou minimizar aquelas reações não saudáveis. Estas intervenções do enfermeiro e da equipe de enfermagem têm como base os cuidados prioritários que visam proteger o cliente de tendências autodestrutivas, encorajá-lo a discutir sobre os seus sentimentos e problemas e a realização das suas necessidades humanas básicas, fundamentadas na teoria comportamental de Maslow e Simon e aperfeiçoadas por Kalish, que as ordenou em necessidades fisiológicas, de sobrevivência e necessidades de estimulação, na qual Wanda Horta [8] baseia a sua teoria e o processo de enfermagem. Além de todos os cuidados é também incluído o nome deste cliente na lista de pacientes com Risco de Suicídio, que se encontra no posto de enfermagem da unidade a que ele pertence (anexo V). Conclusão Este trabalho é o fruto da atividade diária do enfermeiro junto ao sofrimento do desesperançado, na crença de que algum alívio poderá ser encontrado num trabalho onde o respeito à dignidade humana é preservado. Ele narra as lutas, conquistas e percalços, mas também mostra o quanto há avanço nessa conquista de implantação de atividades que abarquem o respeito à condição humana. Na utilização do processo de enfermagem, o enfermeiro procura identificar, através da percepção e da dinâmica das ações sistematizadas na intervenção direta, a redução ou eliminação dos efeitos da doença. A consulta de enfermagem, sendo o primeiro contato com o paciente, permite além da aquisição de informações e do exame físico, a facilitação na relação enfermeiro-paciente, criando uma oportunidade para o diálogo de suma importância para o sucesso da relação terapêutica. O questionário de risco, utilizado para aprofundar os dados e as situações, que colocam o paciente como um potencial suicida, tem ajudado em muito o aprimoramento do cuidado. Através de um plano de assistência direcionado para a prevenção, a enfermagem desenvolve estratégias e reforça as reações saudáveis do paciente, diminuindo as situações de risco. Como refere à poesia (em anexo), escrita por um doente mental, fala sobre sentimentos, fala da morte como alguém que enfim está só, finalmente livre, livre das dores, temores, rancores, enfim só. Como profissional, o enfermeiro deve sempre buscar novas alternativas que aprimorem o cuidado e façam com que as intervenções decorrentes ajudem de uma forma eficiente estas pessoas que sofrem. O presente trabalho está sujeito a mudanças e reflexões contínuas pela própria dinâmica dos fenômenos que o assunto envolve. Não é um trabalho acabado, mas o início de novas reflexões na tentativa de que outros profissionais passem, a partir destas experiências, a refletir e até mesmo sistematizar novos métodos para cuidar destas pessoas que gritam por socorro. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Stevenson IAN. La história clínica. Barcelona. Toray; 1974. Berkow R. El manual Merck de diagnóstico y terapeutica. Merck; 1978. Meleiro AMAS. Suicídio, um ato a ser evitado. Revista Viver 1998; p.26-28. Cassorla RM, Smeke M, Grunspun HS. Do suicídio. Estudos brasileiros. São Paulo: Papirus; 1991. Kaplan SG. Compêndio de psiquiatria. 6 ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 1993. Sonenreich C, Ken CF, Giordano E. Debates sobre o conceito de doenças afetivas. São Paulo: Manole; 1991. Iyer PW. Processo e diagnóstico em enfermagem. Porto Alegre: Artes Médicas; 1993. Horta AW. Processo de enfermagem. São Paulo: EDUSP; 1979. K ! artigo 04 Rosane Beatriz.pmd 223 02/09/03, 15:08 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2003;2(4) Anexos Anexo I Consulta de enfermagem Clínica Professor Paulo Guedes I Identificação ___________________________________________________________________ Idade ___________ Est. civil_______________ No filhos___________ Natural_________________ Cor (B) _____________________ (N) _________________________(Outros)__________________ Ocupação atual Grau de escolaridade Encaminhamento por _______________________________________________________________ Data______________ Hora _______________ II Avaliação clínica 1 Sinais vitais P.A. Altura P. R. T. BC. Peso 2 Condições em que veio ao hospital ( ) Sozinho ( ) Acompanhado ( ) Com quem? ( ) Contido fisicamente ( ) Contido mecanicamente ( ) Sedado Qual medicação 3 Atendimento ( ) Primeira vez ( ) Outras ( ) Quantas ______________________________________________ ( ) Já fez tratamento psiquiátrico? Data última internação ___________________________________ ( ) Atualmente faz acompanhamento? Onde? ____________________________________________ ( ) Faz uso de medicação? Qual? ______________________________________________________ ( ) Já fez tratamento clínico? Onde? ____________________________________________________ ( ) Faz uso de medicação? Qual? ______________________________________________________ 4 Exame físico a. (Cabeça /couro cabeludo /cavidade bucal) _____________________________________________ _________________________________________________________________________________ b. Membros superiores ______________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ c. Membros nferiores________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ d. Abdômen ______________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 5 Alimentação ___________________________________________________________________ 6 Eliminação a) Intestinal _______________________________________________________________________ b) Urinário _______________________________________________________________________ c) Menstruação ( ) Ciclo regular ( ) Irregular ( ) Menopausa " artigo 04 Rosane Beatriz.pmd 224 02/09/03, 15:08 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2003;2(4) Outras alterações _________________________________________________________________ Faz uso de hormônios _____________________________________________________________ Número filhos ___________ Tipo partos ______________________________________________ 7 Higiene corporal. a) Condições da roupa. ( ) Suja, ( ) Limpa, b) Higiene corporal. ( ) Limpo, ( ) Sujo ( ) Integra, ( ) Rasgada. 8 Sono / repouso. Tem adormecido com facilidade ( ) Sim ( ) Não Dorme toda à noite ( ) Sim ( ) Não Tem sono leve ( ) Sim ( ) Não Tem pesadelos. ( ) Sim ( ) Não Tem insônia ( ) Sim ( ) Não Tem medo do escuro ( ) Sim ( ) Não Acorda cedo ( ) Sim ( ) Não Usa medicação para dormir ( ) Sim ( ) Não Qual. ___________________________________________________________________________ 9 Alergias. ( ) Medicamentos.Qual? ____________________________________________________________ ( ) Alimentos.Qual? _______________________________________________________________ ( ) Outros. ______________________________________________________________________ 10 Drogas. ( ) Fumo ( ) Álcool Quantidade diária: ____________________________________________________ Quanto tempo iniciou? _________________________________________________ Quantidade diária? ____________________________________________________ Para alcoolistas. N. de internações? ____________________