FÉ: A PORTA DA VIDA ETERNA! Pregação no Retiro dos Casais da

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FÉ: A PORTA DA VIDA ETERNA!
Pregação no Retiro dos Casais da Pastoral Familiar - Semana Nacional da Família
Pe. Aldo Fernandes
Paróquia Nossa Senhora de Copacabana, Rio de Janeiro, 14 de agosto de 2014.
Memória do martírio de São Maximiliano Maria Kolbe.
Rezemos com a Palavra de Deus: Jo 17,3 – “Pai, a vida eterna é esta: que todos te
conheçam a ti, como único Deus verdadeiro, e aquele que enviaste, Jesus Cristo”.
(silêncio para escuta... meditação... oração).
O que entendemos quando falamos de Fé? Para responder a esta pergunta,
partamos da Palavra de Deus, e consideremos a única definição bíblica de Fé, que
encontramos na Carta aos Hebreus 11,1: “A fé é uma posse antecipada do que se espera,
um meio de demonstrar as realidades que não se veem”. Crer é a atitude de dar-se, dar o
coração (“cor dare”), tomando posse do que ainda não se tem, mas se espera alcançar. Fé
e esperança estão sempre coligadas. Pela fé também se pode falar de realidades
experimentáveis que, porém, não são controláveis pela ciência e pelos seus instrumentos
de verificação. Todavia, a fé não exclui a razão. São João Paulo II introduziu a Encíclica
Fides et Ratio com a seguinte declaração: “A fé e a razão (fides et ratio) constituem como
que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade.
Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade e, em
última análise, de O conhecer a Ele, para que, conhecendo-O e amando-O, possa chegar
também à verdade plena sobre si próprio (cf. Ex 33, 18; Sal 2726, 8-9; 6362, 2-3; Jo 14,
8; 1 Jo 3, 2)”.
O Catecismo da Igreja Católica é a condensação dos conteúdos da Fé Católica.
Está dividido em 4 partes: a fé professada (I - A profissão da fé); a fé celebrada (II - Os
sacramentos da fé); a fé vivida (III - A vida da fé); e a fé interiorizada (IV - A oração na
vida da fé). Em sua primeira parte, o Catecismo é introduzido com a resposta à pergunta
sobre a Fé: “A fé é a resposta do homem a Deus que se revela a ele e a ele se doa, trazendo
ao mesmo tempo uma luz superabundante ao homem em busca do sentido último da sua
vida” (n. 26). Na Encíclica “Lumen Fidei” (A Luz da Fé), do Papa Francisco, a fé é
definida como dom de luz, trazido ao mundo por Jesus, luz que ilumina a realidade escura,
que penetra onde a luz razão não conseguiu chegar (n. 1). Embora Nietzsche tenha dito à
sua irmã Elisabeth que os dois caminhos se separam: “se queres alcançar a paz da alma e
a felicidade, contenta-se com a fé; mas se queres ser uma discípula da verdade, então
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investiga”, como se a fé se opusesse à investigação (n. 2), a verdade da Revelação é dada
a conhecer pela luz da Fé. Faltando a fé, falta a luz para o conhecimento de Deus, do bem
e do mal (n. 3). A fé nasce do encontro com Deus vivo (n. 4), e é uma luz que abre os
olhos para a visão do futuro de Deus, que entrou no presente por meio da Criação e da
Vida, Morte e Ressurreição do Seu Filho Jesus.
Fé é dom de Deus, virtude sobrenatural por Ele infundida, Amor oferecido,
Palavra que nos é dirigida por Deus, e esta Palavra é Jesus Cristo. A resposta a esta
Palavra é resposta de Fé do crente, feita de diálogo respeitoso e livre. A fé não força
ninguém a nada. É um relacionamento de liberdade e alegria entre dois amantes livres e
responsáveis, que se doam e que se recebem, num amoroso diálogo e doação (n. 7).
A Criação da Natureza é uma primeira palavra e uma primeira conversa de Deus
com a humanidade. A História é o caminho deste diálogo, que almeja pacto, Aliança,
fidelidade recíproca, mas também conhece declínios, infidelidades da parte da
humanidade, advertências, punições, sinais de morte e infelicidade, dores e morte. Ao
mesmo tempo, a história da humanidade, interpretada na Fé, é História da Salvação,
oferecida por Deus na promessa realizada por seu Filho Jesus. Se o Antigo Testamento
foi a imagem da Antiga Aliança, o Novo Testamento é a realização da Nova e eterna
Aliança de Deus com a Humanidade. Pela adesão de fé, Cristo se torna o centro
catalizador da nossa resposta a Deus: por Cristo, com Cristo, em Cristo... Nossa fé é
resposta de quem se entrega, confia, acolhe, é salvo e se sente amado por Deus em Cristo.
A Fé é a vida da pessoa e determina a conduta da pessoa e da comunidade. São
Paulo expressou isso, dizendo aos Filipenses: “Para mim, o viver é Cristo, e o morrer é
lucro!” (Fl 1,21). E aconselhou a comunidade dos crentes a “viver somente vida digna do
Evangelho de Cristo” (Fl 1,27). A vida impõe perguntas existenciais que só a fé pode
responder. Trata-se das perguntas mais profundas do ser humano: de onde eu venho? Para
onde eu vou? Para que serve esta vida? O que é que tem depois da morte? Por que o mal?
A estas perguntas, ou a tantas outras, que às vezes afloram no nosso coração, as ciências
não podem dar uma resposta, pelo simples fato que não pertencem ao campo de seu
domínio e de sua investigação. Será necessário recorrer a outros meios para responder a
estas interrogações: os meios da fé. Abrindo o Ano da Fé (2012-2013), o então Papa Bento
XVI escreveu a bela Carta Apostólica Porta Fidei (A Porta da Fé). Ele disse que a fé é
dado que não se pode pressupor, pois corre o risco de ficar esquecida e até negada. Disse
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o Papa Bento XVI: A fé é como uma porta, que devemos transpor, e que está sempre
aberta para quem quer por ela passar (cf. PDF 1).
A fé é dado comunitário, acolhido dentro de uma Comunidade, que é a Igreja e a
Família. A Igreja é nossa família e garante nossa identidade. Temos a Fé da Igreja
Católica, e não outra, e nem admitimos confundir ou confrontar nossa Fé Católica com
qualquer outra, embora respeitemos todos os modos de procurar os caminhos para o
encontro com Deus. A fé é transmitida de geração a geração (do latim tradaere, daí a
palavra Tradição), de pais para filhos: nossa fé é a Fé de Abraão, de Isaac, de Jacó, de
Maria, em vista do encontro para, finalmente, dizer - como São Pedro - a Cristo: “Senhor,
a quem iremos? Tens palavras de vida eterna, e nós cremos e reconhecemos que tu és o
Santo de Deus” (Jo 6,68-69). A nossa é a Fé dos nossos Pais, que nos testemunharam com
os ensinamentos e a vida deles.
Nossa fé é dom de santificação eclesial, acolhida no Batismo, como nossa
passagem por uma primeira porta (porta da fé), desenvolvida pela Catequese familiar e
eclesial, nutrida pela Eucaristia, recuperada pela Reconciliação, amadurecida e
confirmada pela Crisma, doada na amorosa consagração de si ao outro, no Matrimônio
ou no Sacerdócio, força que vem ao encontro da pessoa diante da finitude de sua vida, da
doença e da morte, pela Unção dos Enfermos. Os Sacramentos são fontes alimentadoras
da fé Católica. Também a Piedade Popular, doméstica e paroquial, com suas ricas
manifestações, particularmente no culto de veneração à Virgem Maria, aos Santos e aos
Anjos, alimenta um vivo desejo de santidade que influencia a vida pessoal, familiar e
social, e que acaba por criar uma cultura de santidade coletiva fartamente enriquecedora
na Igreja e na Sociedade.
Sendo una, a Fé da Igreja não se divide, e se fortalece pela unidade com o Papa,
nossos Bispos, e com todas as nossas Lideranças em comunhão com a Verdade do Reino
de Deus, comunicada pela Igreja Católica. Sendo católica, a fé é aberta a todos, sem
intolerância, missionária, dirigida ao mundo inteiro, para tornar Jesus Cristo conhecido,
amado, seguido por todos (cf. Mt 28,19-20). Sendo apostólica: é transmitida pelos
Apóstolos, cujos herdeiros nos transmitiram a mesma Fé que salva e santifica. Nossa Fé
não se intimida com análises estatísticas e confrontos com o avanço proselitista de outras
denominações religiosas! Isso interessa a agências de pesquisa. A fé Católica não precisa
ser confrontada com nenhuma outra, em análise numérica, mas precisa de uma constante
revisão qualitativa, uma conversão das atitudes dos seus membros, para que se
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identifiquem com Jesus Cristo na sua fidelidade ao Evangelho e à indicação dada pela
Autoridade Eclesiástica competente. Dizia Bento XVI: a Igreja Católica não cresce por
proselitismo, mas por atração! É inútil discutir conceitos, axiomas e aporias religiosas,
pois para quem quer acreditar, pouco é suficiente; para quem não quer, jamais se deixa
convencer!
A fé é atitude celebrada na riqueza litúrgica: ouvida na Palavra de Deus e
fortalecida pela unidade do culto e da autoridade eclesiástica. A fé atua por meio da
Caridade (Gl 5,6). A fé e as obras da Caridade são inseparáveis: ter fé significa também
amar a Deus e aos irmãos e irmãs e por meio do amor ela é atestada, pois a fé sem as
obras morre em seu isolamento (Tg 2,17). A fé Católica deve ser professada com alegria;
aprofundada com rigor científico nos estudos da Teologia, testemunhada com
generosidade na Caridade pessoal, familiar e comunitária (por exemplo, o Dízimo fiel!);
interiorizada pela oração (Rosário, devoções, piedade popular), ascese (luta interior e
exterior para combater o pecado e o mal) e aquisição das virtudes (prática das aptidões
que o Espírito motiva para a glória de Deus e o bem dos outros – virtudes pessoais e
sociais); e defendida dos desvios e confusões a que continuamente está submetida, com
minimalismos emocionais, superficialidades verbais, superstições sincréticas, e
reducionismos conceituais (“para mim...”, “eu acho”, “já que”, “eu penso”).
A fé não admite soberba no crente: é sabedoria que se faz humilde, se partilha
com os outros na simplicidade e respeito, abre-se para acolher o dom do outro; alegrase com o bem do outro e chora com a sua angústia. A fé exige preparação para ser
comunicada, com mansidão e respeito (1Pd 3,15). Nossas Universidades de Teologia,
Editoras Católicas, Teólogos e Teólogas, servem de incentivo ao ingresso de tantos outros
membros de nossas famílias na ciência da Fé; bem como se deve motivar
aprofundamentos bíblicos, teológicos, morais, litúrgicos, místicos e pastorais em círculos
menores e frequente com congressos, fóruns, simpósios, rodas de conversa, círculos
bíblicos, ou partilha escrita, ou audiovisual da produção e reflexão teológica que cada um
possa oferecer na Paróquia. A produção teológica há de ser sempre analisada e aprovada
pela autoridade eclesiástica competente.
Do mesmo modo, a Catequese é o ensino da fé oferecida aos que se preparam para
aderir a Cristo, ou querem aprofundar os conteúdos do rico patrimônio da Fé Católica.
Ler sempre, ler muito, refletir à luz da Palavra, confrontando-se com nossos Padres e
Ministros, ajudará cada um a produzir comunhão na Fé (fides) e na Verdade (veritas). Faz
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parte da pedagogia da fé a Lectio Divina, o Círculo Bíblico, as Jornadas de
Espiritualidades, os Retiros, de Oração, Adoração, de silêncio. Como também a fé é
comunicada pelos encontros de formação, destinados a todas as categorias de pessoas de
boa vontade: políticos, cientistas, intelectuais, casais, jovens, profissionais liberais,
crianças, pessoas carentes, mas também em ambientes onde os poderes e
responsabilidades públicas, comerciais, econômicas, legislativas e do mundo da
Comunicação formam mentalidades e lideranças. Todos os lugares e tempos, então,
respeitadas as devidas proporções e permissões, são lugares e tempos propícios à partilha
da Fé. Após sua ressurreição, Jesus mandou os discípulos lançarem suas redes para a
pesca em águas profundas, e realizaram uma pesca vantajosa, com 153 grandes peixes
(Jo 21,1-14): como discípulos de Cristo, em que águas nós pescamos pessoas? Pescamos
pessoas ou apenas conflitos inúteis? Pescamos em oceanos ou em aquários? Gostamos
de peixes grandes ou de piabas? Somos pescadores da noite escura e do mar a dentro, ou
peixeiros que esperam o peixe chegar na manhã ensolarada na beira da praia? Há muita
diferença em tudo isso, que define o progresso sadio de nossa caminhada de Fé!
A fé é a Vida na Graça atuando no cristão. O Espírito Santo cultiva e impele cada
um a correr sempre mais pelas estradas da Fé e da “alegria do evangelho”. O Papa
Francisco, em sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium nos anuncia que: “A alegria
do evangelho enche o coração e a vida daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se
deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do
isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria” (EG 1).
A fé leva os crentes à coragem do martírio e à fascinante santidade, que contagia
e alegra, enriquece o mundo e a humanidade. Uma pessoa que vive sua fé com audácia e
perseverança não deixa mais ser a mesma a realidade em que frequenta! A santidade é
percebida por todos, como ação da Graça divina, do Espírito Santo que atua na pessoa
que crê em Cristo e por Ele e pelos irmãos está disposto a gastar-se até com heroísmo, ao
ponto de sofrer e morrer por fidelidade às causas de sua Fé. Sendo a primeira das três
virtudes teologais, a Fé conduz a pessoa à Esperança operosa na vida eterna, relativizando
tudo ao Reino e à glória de Deus, sabendo-se sempre aquém da meta a que é chamada: a
assumir em sua vida a plena estatura da pessoa de Cristo, de quem traz em seu próprio
corpo e em seu espírito as sagradas marcas, e sabe-se de Cristo intrépido discípulo e feliz
missionário (cf. At 28,31)! Que a Virgem Maria, tipo e modelo da Fé da Igreja, no
seguimento de Cristo, nos ajude com sua amiga e materna intercessão! Amém.
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