DESCAMINHOS DO PARTIDO DOS - joinpp

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM POLÍTICAS PÚBLICAS
III JORNADA INTERNACIONAL DE POLÍCAS PÚBLICAS
QUESTÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO NO SÉCULO XXI
UFMA
DESCAMINHOS DO PARTIDO DOS TRABALHADORES:
uma virada à direita
Ana Carolina Martins de Alencar Araújo1
RESUMO
O presente artigo aborda a transformação ideológica do Partido dos
Trabalhadores, ou seja, sua virada à direita. Para tanto, procura analisar a
influência dos projetos revolucionário e reformista na trajetória teóricoprogramática e político-partidária do PT. Discute também o deslocamento,
pelos partidos de esquerda, da centralidade do trabalho para a centralidade
política. Por fim, apresenta os descaminhos da classe trabalhadora no
horizonte da emancipação humana.
Palavras-Chave: Partido dos Trabalhadores, projetos revolucionário e
reformista, centralidade do trabalho, centralidade política, transformação
ideológica, classe trabalhadora.
ABSTRACT
The present article approaches the transformation ideological of the Party of
the Workers, that is, its turn to the right. For in such a way, it looks for to
analyze the influence of the projects revolutionary and reformist in the
trajectory theoreticial-programatic and politician-partisan of the PT. The
displacement also argues, for the parties of left, of the centralized of the work
for the centralized politics. Finally, it presents the embezzlements of the
working class the horizon of the emancipation human being.
Keywords: Party of the Workers, projects revolutionary and reformist,
centralized of the work, centralized politics, ideological transformation,
working class.
1 INTRODUÇÃO
A virada à direita do Partido dos Trabalhadores representa mais uma vitória do
capital sobre o trabalho. Um partido que se dizia representante dos interesses da classe
trabalhadora, mostrou-se durante sua trajetória cada vez mais distante da luta operária e
dos movimentos populares, limitando sua atuação a vida política. Vale ressaltar, que o PT,
em meados da década de 90, tornou-se um partido eleitoreiro e personalista e começou a
formar alianças com partidos burgueses, principalmente nas últimas eleições para a
Presidência.
Assim, neste texto discorreremos sobre a transformação ideológica do PT, antes,
porém, abordaremos os fundamentos das teorias revolucionária e reformista, do marxismo,
que surgiram num contexto de crítica ao capitalismo, pois estes tiveram influência na
trajetória teórica do PT. Sendo assim, buscaremos a partir dessa discussão compreender o
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Assistente Social e mestranda em Serviço Social do programa de Pós-graduação em Serviço Social, da
Faculdade de Serviço Social da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), sob orientação da Profª Drª Maria
Cristina Soares Paniago.
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quadro contemporâneo do Partido dos Trabalhadores, na tentativa de vislumbrar os
desdobramentos futuros.
É interessante destacar que esta fragilização da esquerda, concomitantemente
ao enfraquecimento das lutas sociais, não é uma realidade apenas brasileira. Segundo
Tonet (s/d: 2),
inúmeros países, especialmente dos mais desenvolvidos, partidos que se
proclamavam de esquerda assumiram o poder, prometendo combater o
neoliberalismo e realizar profundas mudanças sociais. No entanto, o que se viu e
está vendo é que todos eles acabaram contribuindo para impor mudanças que
favorecem o capital e vão contra os interesses da classe trabalhadora.
Diante desse cenário, assistimos ao distanciamento, cada vez maior, da
perspectiva revolucionária dos partidos de esquerda, que foram se aproximando da proposta
reformista, ou convertendo para direita, com a proposta liberal-burguesa. Outro ponto que
nos parece imprescindível mencionar é que, “tanto no caso do caminho reformista quanto no
caso do caminho revolucionário, o que aconteceu foi um deslocamento da centralidade do
trabalho em direção à centralidade da política” (TONET, s/d: 4). Desta maneira, a
possibilidade da superação do capital foi arrancada da classe trabalhadora, que passou a
acreditar que através da cidadania e da democracia - com a igualdade de direitos -, ou seja,
pelo âmbito da política, atingirão uma humanidade melhor. Contudo,
a retomada da perspectiva revolucionária não está sendo nada fácil. Exige um
gigantesco esforço – teórico e prático. E exige, de modo especial, que se procurem
entender os caminhos que levaram a esquerda a concentrar, cada vez mais, todos
os seus esforços no parlamento e no Estado, acreditando que, com isso, estaria
caminhando no sentido da construção de um mundo autenticamente humano
(TONET, s/d :3).
Desta forma, consideramos indispensável, para compreensão da problemática
delineada, o exame do significado da centralidade do trabalho, posto que este tem um
“papel decisivo na transformação revolucionária da sociedade capitalista” (TONET, s/d : 4).
Assim, tomamos como parâmetro a teoria social de Marx.
2 A CATEGORIA TRABALHO EM MARX
No século XIX, quando a estrutura da ordem burguesa está consolidada, e temse a generalização da miséria, emergem a questão da revolução operária. A partir daí o
proletariado percebe-se como sujeito histórico e coletivo, com uma consciência política. Este
momento é caracterizado pelo movimento revolucionário de 1848 que coloca uma nova
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perspectiva de classe, do ponto de vista dos trabalhadores, que põe um novo horizonte para
a humanidade. Assim, coloca-se a possibilidade e a necessidade de surgimento de um novo
patamar científico e filosófico, de uma nova compreensão da realidade que desvele a
contradição entre capital e trabalho, inerente ao sistema capitalista, revelando os seus
instrumentos de exploração, opressão e reprodução.
É neste contexto que surge Marx com uma teoria social sob a ótica da classe
proletária. Com efeito, não há nenhuma dúvida de que a obra marxiana “inaugura um modo
radicalmente novo de compreender a sociedade burguesa – compreendê-la para suprimi-la”
(NETTO, 2006: 18). Desta forma, a obra do Marx pretendeu ser uma tradução radicalmente
crítica e revolucionária do mundo, ou seja, uma mudança do mundo até a sua raiz, pois,
quando Marx pensa, na sua elaboração, a revolução é no sentido ontológico. Ele queria
entender a realidade social. Portanto, Marx identificou que o primeiro elemento a ser
examinado era o trabalho com ato humano.
Neste exame, Marx constata, inicialmente, que o trabalho é um intercâmbio do
homem com a natureza, desta maneira, o homem é um ser natural. No entanto, ele percebe
também que “o homem não é, unicamente um ser natural; é um ser natural humano” (MARX
apud TONET, 2005a: 57). Faz-se necessário distinguir o trabalho humano do trabalho
animal, pois há também animais que produzem seus meios de vida2. Tonet (2005a: 58)
explica que a diferença essencial é que atividade animal possui um limite instransponível: o
animal jamais chegará a ser sujeito da sua atividade, já o homem tem a possibilidade de se
distanciar da sua atividade imediata e estabelecer seus próprios fins, orientando sua
atividade com o objetivo de alcançá-los. E ainda, segundo Lukács (apud TONET, 2005a:
59), este distanciamento do homem da sua atividade imediata é a capacidade de
generalização, por isso, “é também a capacidade de generalização que permite que a
reprodução do ser social se caracterize como uma produção permanente do novo e não
como uma reposição do mesmo, como no caso dos animais”.
Resumindo: o ato do trabalho é o ato que funda o ser social, é um ato que
implica prévia ideação e causalidade, mediadas pela objetivação, isto é a práxis. Assim, a
práxis é, para Marx (apud TONET, 2005a: 54) a “atividade humana sensível”, a “atividade
real, sensível”. Enfim, o trabalho é uma síntese entre teleologia e causalidade, como
demonstra Lukács. Outro aspecto relevante do pensamento de Marx que Lukács (1978)
chama atenção, é o papel decisivo da consciência na realização do salto do ser orgânico
2
Marx (2004: 211-212) afirma, em uma conhecida passagem de O Capital, que “Pressupomos o trabalho sob
forma exclusivamente humana. Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha supera
mais de um arquiteto ao construir sua colméia. Mas o que distingue o pior arquiteto da melhor abelha é que ele
figura na mente sua construção antes de transformá-la em realidade. No fim do processo do trabalho aparece um
resultado que já existia antes idealmente na imaginação do trabalhador”.
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para o ser social. Segundo ele, “Marx entendia a consciência como um produto tardio do
desenvolvimento do ser material” (LUKÁCS, 1978: 3).
Desta maneira, é o trabalho “a categoria decisiva da autoconstrução humana, da
elevação dos homens em níveis cada vez mais desenvolvidos de sociabilidade” (LESSA,
2002: 28). E é esta a centralidade do trabalho da qual referíamos, o “trabalho enquanto
categoria ontológica-fundante do mundo dos homens” (LESSA, 2002: 28), e daí decorre a
análise da sociedade que possibilitou Marx propor a superação do capital em direção ao
comunismo.
Dessa forma, a superação do capital terá que repor uma nova forma de trabalho,
pois qualquer nova forma de sociabilidade exige isto. De acordo com Tonet (s/d: 20-21), no
caso da sociedade capitalista, a superação deste modo de produção “só se poderá efetivar
com a entrada em cena do trabalho associado, cabendo à política preparar as condições
para isso”, ou seja, a “construção de uma forma superior de sociabilidade deveria,
necessariamente, repousar sobre essa nova organização do trabalho e não sobre a política”.
A centralidade política não pode se sobrepor à centralidade do trabalho, pois a revolução
exige uma ruptura com esta forma de trabalho do capitalismo, este deve ser o eixo central
da luta social, pois toda revolução é social na medida em que destrói o sistema vigente. O
que significa dizer que a revolução política é apenas o primeiro momento da revolução, pois
o objetivo último é a transição do capitalismo ao comunismo.
Portanto, a classe trabalhadora tem que aglutinar todas as lutas voltadas para a
superação do capital. Assim, a luta não deve ser exclusivamente política porque “nem o
parlamento poderia ser o locus privilegiado da luta social, nem o Estado poderia conduzir
positivamente a construção de uma sociedade comunista” (TONET, s/d ), como querem os
integrantes da social-democracia.
3 FUNDAMENTOS DA TEORIA REVOLUCIONÁRIA E DA TEORIA REFORMISTA
Marx ao inaugurar sua teoria científico-filosófica forneceu a base para o
desenvolvimento da tradição marxista, bem como o reconhecimento de classe e
organização do movimento operário. Na Primeira Internacional (entre 1864 e 1871) as
propostas revolucionárias de Marx se afirmaram e se consolidaram no interior do movimento
operário. A Segunda Internacional, fundada em 1889, tornou acessível o pensamento
marxista de forma massiva e simplificadora. A partir daí, surge duas correntes do marxismo:
de um lado, a social-democracia, de caráter reformista, e de outro, o comunismo, de caráter
revolucionário. A Terceira Internacional, em 1919, caracterizou-se pela conversão da teoria
marxiana em dogma, com a institucionalização do marxismo.
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Segundo Tonet (s/d: 5), “a perspectiva reformista (social-democrata, via
democrática para o socialismo) atribuía à política o papel de eixo norteador da luta pelo
socialismo na totalidade do processo”. Eles buscavam a conquista de espaço no poder
Estatal, “até porque os reformistas entendiam que se tratava de uma caminhada lenta e
gradual, não comportando, em momento algum, uma ruptura radical”. Para os reformistas a
transição para o socialismo se daria por meio das conquistas trabalhistas, em que o Estado
é a própria sociedade, ou seja eles defendiam um socialismo democrático. Assim, nesta
perspectiva reformista há uma mudança da centralidade do trabalho à centralidade da
política.
As principais idéias reformistas foram realizadas por Kautsky e Bernstein que
apresentaram, em meados da década de 1890, o Programa de Erfurt ao SPD. Nesta
proposta eles defendiam que a transição ao socialismo seria realizada pela classe
trabalhadora assumindo o controle do poder político e transformando a propriedade privada
em propriedade social. Há, “nas teorias de Kautsky e Bernstein, um manifesto abandono do
processo revolucionário em nome do que poderia ser chamado de um novo paradigma da
centralidade da democracia, isto é, a centralidade da política reformista, cujo aspecto
fundamental encontra-se na teoria dos campos progressivos” (Tonet, s/d : 40). Com efeito, o
que prevaleceu no projeto social-democrata foi a luta pela democracia e cidadania, pela
evolução do Estado, obscurecendo a função social do Estado e o antagonismo de classe.
Paralela e contrariamente a teoria reformista, a perspectiva revolucionária foi
colocada como um horizonte possível com a Revolução Russa de 19173. Surgia, assim, uma
proposta concreta da nova ordem socialista, tendo como líder Lênin. Com ascensão dos
bolcheviques ao poder, estes, fundam a União Soviética, novo Estado, onde ocorreu a III
Internacional. Entretanto, quando Stalin assume a direção mundial do movimento comunista
inicia-se um período de repressão e violência, de terror e medo. Stalin reduziu o marxismoleninismo ao dogmatismo, como “o verdadeiro marxismo”, só ele conhecia o caminho ao
comunismo.
Segundo Hobsbawn (2003: 379) “foi Stalin quem transformou os sistemas
políticos comunistas em monarquias não hereditárias”4.
O fato é que a Rússia era um país com um atraso econômico e social, cujas
condições não favoreciam a revolução. Como afirma Hobsbawn (2003: 366), “os fundadores
do marxismo supunham que a função da Revolução Russa só podia ser a de provocar a
explosão revolucionária nos países industriais mais avançados, onde estavam presentes as
3
Segundo Tonet (s/d: 42) “a vitória dos revolucionários russos, portanto, pareceu ser, também, a vitória da
perspectiva revolucionária cujo eixo era o trabalho. Entretanto, a ausência de condições objetivas, nacionais e
internacionais, levou a revolução soviética a contribuir, também, para o deslocamento da centralidade do
trabalho para a centralidade da política, embora de modo muito diferente daquele da social-democracia”.
4
“A semelhança com a monarquia é indicada pela tendência de alguns desses Estados a ir na direção da
sucessão hereditária, um fato que teria parecido absurdamente inconcebível aos primeiros socialistas e
comunistas. A Coréia do Norte e a Romênia eram dois casos assim” (Hobsbawn, 2003: 379).
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condições para a construção do socialismo”. Segundo este autor, a saída para os
bolcheviques era transformar sua economia e sua sociedade avançadas o mais breve
possível. Desta maneira, iniciou-se às ‘escuras’ uma tentativa de construir o comunismo. No
entanto, “[...] era evidente que o Comunismo de Guerra, por mais necessário que fosse no
momento, não podia continuar, [...] em parte porque esse regime não oferecia meios
eficazes de restaurar uma economia praticamente destruída” (HOBSBAWN, 2003: 368).
Portanto, diante da escassez das condições materiais, ficou bastante difícil a
realização da revolução. É importante destacar que a crise do socialismo é uma crise da
exaustão das suas estruturas socioeconômicas e do seu sistema político,“[...] não é,
portanto, a crise do projeto socialista revolucionário nem a infirmação da possibilidade da
transição socialista: é a crise de uma forma histórica precisa de transição, a crise de um
padrão determinado de ruptura com a ordem burguesa – justamente aquele que se erigiu
nas áreas em que esta não se constituíra plenamente” (NETTO, 2001: 23).
Enfim, podemos concluir a partir dos elementos levantados até aqui que tanto a
teoria revolucionária, quanto a teoria reformista foram perdendo ao longo da história, o
referencial fundante da obra de Marx, a centralidade do trabalho, e foram se deslocando
para centralidade da política. E assim, o horizonte, proposto por Marx, de uma nova
sociabilidade autenticamente humana foi se distanciando5.
4 A INFLUÊNCIA DOS PROJETOS REFORMISTA E REVOLUCIONÁRIO NA FUNDAÇÃO
DO PARTIDO DOS TRABALHADORES: uma análise de sua trajetória teóricoprogramática e político-partidária
A origem do Partido dos Trabalhadores se deu neste contexto de plena ditadura
militar com fortes repressões políticas. O PT surge com uma proposta de ser um partido dos
trabalhadores e não para os trabalhadores6. Segundo Gadotti & Pereira (1989: 49), “por ser
um partido pensado pelas bases, os anos de formação do PT levaram seus organizadores a
sucessivas discussões em torno de sua constituição, como partido e organização interna,
sempre privilegiando o direito de voz e voto de seus militantes e filiados em processo de
consulta”.
O primeiro documento da formação do PT foi a Carta de Princípios, elaborado
por uma Comissão Nacional Provisória, em 19797. Nesta, eles apresentam o quadro
conjuntural brasileiro, denunciando o modelo econômico vigente, onde se sobressaia o
5
Para Tonet (s/d: 5) “o defeito principal daqueles caminhos a que acima nos referimos, é a perda, tanto pelos
reformistas quanto pelos revolucionários, daquilo que era o eixo estruturador do pensamento de Marx: o homem
em seu processo de autoconstrução. Seu foco se tornaram as categorias políticas e/ou econômicas
desconectadas desse processo de tornar-se homem do homem”.
6
Na Era Vargas foi criado o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) para a classe trabalhadora, um partido pronto,
criado de “cima para baixo” e o PT, todavia, surge da vontade dos trabalhadores, construído por eles.
7
Cf. Gadotti e Pereira (1989).
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arrocho salarial, a superexploração dos trabalhadores, a exaustão dos setores sociais com o
governo militar com a miséria material e a opressão política. Ao mostrarem este cenário
evidenciava a necessidade de um instrumento político-partidário dos trabalhadores.
Criticava o MDB por: 1) ser um partido de exclusiva atuação parlamentar; 2) pela direção e
programa que não incorporavam os interesses dos trabalhadores; 3) pela sua origem de
composição social essencialmente contraditória e heterogênea – industriais e operários,
fazendeiros e peões etc. 4) pelo caráter democrático da classe dominante. Rechaçava a
subordinação dos interesses políticos e sociais da classe trabalhadora a uma direção liberalconservadora. Diz que o PT entende que a emancipação dos trabalhadores é obra dos
próprios trabalhadores, devendo lutar pela democratização do país e contra o domínio do
capital, mas não uma democracia formal e parlamentar, fruto de acordo com a elite
dominante. Afirmava o PT como partido que tinha como objetivo acabar com a exploração
do homem pelo homem, e seu compromisso com a democracia plena exercida pelos
trabalhadores, almejando uma sociedade socialista e democrática. Definia-se como um
partido dos trabalhadores e sem patrões.
A Declaração Política do PT (1979), reuniu diversos integrantes de mais de seis
estados, a questão mais polêmica referia-se a inclusão ou não do termo ‘socialismo’.
Embora concordassem com a luta pelo socialismo, muitos argumentavam que podia ser mal
interpretada. Assim, chegaram a um consenso e decidiram colocar da seguinte maneira: “O
PT luta para que todo o poder econômico e político venha a ser exercido diretamente pelos
trabalhadores, única maneira de pôr fim à exploração e à opressão” (GADOTTI & PEREIRA,
1989: 42). Estavam lançadas as bases programáticas e organizativas para a fundação do
PT. A partir destes documentos o PT conseguiu a adesão de muitos trabalhadores e dos
movimentos populares. Desta forma, em 1980, tem-se a fundação do PT, e a elaboração
dos documentos oficiais básicos do partido: Manifesto, Programa e Estatuto.
Embora dentro do PT, desde a sua formação, existissem várias tendências,
marcadas por divergências, a que predominou, na década de 80, foi a perspectiva da socialdemocracia. Nos documentos do PT, acima mencionados, observa-se claramente que o
objetivo do partido era a conquista pelos trabalhadores do Estado e através dele promover a
ordem democrática e a partir das transformações sociais, gradualmente, chegariam ao
socialismo. Em sua Plataforma Política há uma série de reivindicações para a conquista de
direitos civis, políticos e sociais. Portanto, o caminho do PT, na sua origem, foi de caráter
reformista. Além disso, em sua Carta de Princípios não menciona a extinção do Estado. Na
perspectiva radicalmente revolucionária de Marx, acabando o antagonismo de classe, o
Estado se autodestrói. O projeto socialista do PT se limitou à luta por reformas sociais e pela
democratização política do Estado e não pela superação do capitalismo.
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Contudo, a partir dos anos 90 (século XX) o PT foi se transfigurando para a direita.
De acordo com Boito Jr. (2003: 13-14) “ocorreu um processo político e social no Brasil ao longo
dos anos 90 que resultou na implantação de uma nova hegemonia burguesa em nosso país,
baseada no discurso e na prática do modelo capitalista neoliberal dependente. [...] a ‘conversão’
do PT ao credo do livre mercado aparece como mais um episódio”. Portanto, essa guinada do
PT foi sendo realizada paulatinamente, começando pelos governos petistas estaduais e
municipais, com base na ideologia neoliberal.
A partir destas considerações, situando o Partido dos Trabalhadores nesse
movimento da esquerda de deslocamento da centralidade do trabalho à centralidade política,
vale ressaltar os desafios da nova esquerda face ao governo Lula que vem aprofundando alguns
aspectos deste modelo capitalista neoliberal. Segundo Petras (2005: 40) “se nós pudermos
considerar Cardoso um neoliberal ortodoxo, o governo Lula pode ser considerado talibã”.
5 CONCLUSÃO
A transformação ideológica do Partido dos Trabalhadores representou uma mudança
radical no rumo político-partidário e programático-estratégico do PT, que apresentava uma
proposta social-democrata, na sua origem, com uma ação política social, foi ao longo dos anos
assumindo uma proposta liberal-burguesa, com uma ação exclusivamente parlamentar. Com
isso traça-se um novo rumo da esquerda no Brasil.
Contudo, cabe ressaltar que os partidos de esquerda no mundo, face ao fim do
socialismo real, têm aderido a proposta da social-democracia como se fosse o único caminho
possível. Ao situar-se neste campo, a esquerda foi perdendo o horizonte da emancipação
humana, da superação revolucionária do capitalismo. Nesta perspectiva reformista não cabe a
construção de uma sociedade comunista.
Diante da tempestade de interpretações da obra marxiana que foram ocorrendo ao
longo destes cento e cinqüenta anos, tem-se, hoje, um leque de perspectivas teóricas que
utilizam categorias marxianas, que muitas vezes, não correspondem ao significado original
proposto por Marx. Alastrou-se, assim, inúmeras vertentes do marxismo. Por isso, parece-nos
imprescindível resgatar o verdadeiro espírito da obra de Marx, de forma a corrigir as
deformações que o dogmatismo e o ecletismo marxista produziram. Como afirma Tonet (2005b:
26),
não se trata só de defesa, de correções, de atualizações e muito menos o
entrecruzamento com outras correntes de pensamento. Considerando as variadas
interpretações, extravios e deformações que este pensamento sofreu ao longo da
sua trajetória, como resultado de todo um processo histórico impõe-se, hoje, ao
nosso ver, a necessidade de recomeçar ab initio, vale dizer, daquelas questões que
estabelecem os fundamentos deste novo modo de pensar.
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Neste início do século XXI, em que se assiste ao deslocamento da centralidade
do trabalho para a centralidade da política, por parte esquerda, que confere
necessariamente um caráter reformista ou, pelo menos não radicalmente revolucionário.
Repetimos as palavras de Chasin (1983: 44) “é preciso fazer – não ‘alguma coisa’ - , mas a
coisa certa. Re-começar. [...] o re-começo é antes de tudo um re-encontro de classe,uma retomada do proletariado como centro da ação política. [...] O re-começo é necessário e
simultaneamente também um re-encontro com Marx”. Com efeito, passadas duas décadas
de tal afirmação, esta nos parece ainda mais pertinente neste momento histórico.
E, embora a ideologia dominante, que se apresenta na atualidade, seja a pósmodernidade, acreditamos que “irrecusavelmente, o marxismo é, esteja ele certo, esteja ele
atravessado por equívocos, a expressão mais alta de todo pensamento ocidental” (CHASIN,
s.d.: 6). Porque somente a perspectiva crítica e revolucionária da tradição marxista nos
permite compreender a realidade social até a raiz e superar a ordem burguesa.
Sendo assim, somente a partir do resgate do pensamento de Marx e da
reposição da centralidade do trabalho, a esquerda poderá vislumbrar uma forma de
sociabilidade autenticamente humana. De acordo com Tonet (s/d), para Marx, o comunismo
implicava, necessariamente uma mudança radical na forma do trabalho, a esta ele chamou
de “trabalho associado”. Para alcançar o comunismo a classe trabalhadora terá que teórica
e praticamente centrar sua luta para superação do capital.
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