POLÍTICAS EDUCACIONAIS NA SOCIEDADE CAPITALISTA

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POLÍTICAS EDUCACIONAIS NA SOCIEDADE CAPITALISTA:
PARTICULARIDADE BRASILEIRA
Severina Mártyr Lessa de Moura
Resumo
Este artigo pretende contribuir com o debate sobre a política educacional no contexto da sociedade
capitalista, no que diz respeito às imposições dos organismos financeiros internacionais sobre os
governos dos países periféricos, tomando como análise central a particularidade brasileira _o período
Lula da Silva. A concepção de que os problemas gerais da educação serão solucionados a partir de
vontade política está cada vez mais se tornando hegemônica de norte a sul do planeta. Como sabemos,
as agências financiadoras elaboram estratégias, planos de ações e até legislações para a educação dos
países dependentes economicamente ao passo que assistimos cada vez mais o estreitamento da relação
do Estado com os interesses dos grupos privados. Este estudo orienta-se pelas abordagens críticas que
denunciam a tendência reformista dos denominados governos de esquerda que, sofrendo um tipo de
mutação ideológica, distanciando-se do ideal socialista operam o deslocamento da centralidade do
trabalho para a centralidade da política. Assim, reafirmamos com Marx que o trabalho é o ato fundante
do ser social e que a solução para os problemas gerais da educação não se dará através da centralidade
da política, então reformista. Na esteira marxista tributaremos dos estudos desenvolvidos por Netto
(2010); Arcary (2011); Tonet (2009) Jimenez (2010); Bertoldo e Leher (2010).
Palavras-chave: Politica educacional; reformismo; capitalismo.
Introdução
Estudos que investigam as políticas educacionais dos países periféricos da América
Latina e, particularmente, o Brasil, denunciam as estratégias políticas e ideológicas impostas
aos sistemas de ensino desses países pelos organismos internacionais em conformidade com
os governos nacionais. Desde a Educação Para Todos em Jomtien (1990, na Tailândia), aos
dias atuais, tais imposições permanecem atuantes através de órgãos poderosos como o Banco
Mundial (BM) e o Fundo Mundial de Investimentos (FMI), sobre os governos dos países do
capitalismo periférico. Ao passo que se observa o estreitamento da relação do Estado com os
interesses dos grupos privados, consolida-se as políticas públicas assistencialistas. Neste
contexto, vai delineando-se a tendência reformista do período de governo Lula da Silva,
denominado governo de esquerda, que sofrendo um tipo de mutação ideológica distancia-se
do ideal socialista, comungando com o imperialismo econômico cumprindo o papel
reformador do ensino no Brasil, na primeira década do século XXI. O fenômeno do crescente
movimento antirrevolucionário, então reformista, no pensamento e nas práticas políticas da
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esquerda mundial que lutavam ao lado da classe trabalhadora, tem motivado estudos e
pesquisas que procuram cercar o fenômeno a partir de diversas abordagens críticas. Neste
espaço, tributaremos das contribuições de intelectuais que discutem a problemática do
reformismo das políticas púbicas no contexto da sociedade capitalista em crise e o papel do
Estado enquanto complexo social guardião dos interesses da sociedade burguesa. Para tanto,
tomaremos como metodologia teórica a ontológica do ser social em Marx, reafirmando com a
estudiosa marxista Suzana Jimenez :
Entendemos que buscar alcançar a raiz mais funda quanto à politica
educacional vigente, em qualquer das suas manifestações implica
destrinchar-se, sobre o pano de fundo das relações entre o trabalho, a
educação e o complexo da reprodução social, em que medida e através de
que mediações tais paradigmas e políticas situar-se-iam na trilha das
exigências colocadas pelo sistema diante da crise atual. (JIMENEZ, 2010, p.
16).
Assim, priorizaremos como fio condutor da nossa reflexão o pensamento radical de
Marx que identifica o trabalho como o ato fundante do ser social e a necessária compreensão
sobre os complexos sociais exigidos pelo trabalho na reprodução do ser social.
1 O trabalho: ato fundante do ser social
Há 166 anos, Marx colocando no centro do debate a necessidade de que a realidade do
objeto histórico fosse apreendida em sua essência, desenvolve a crítica aos idealistas alemãs
chamando a atenção para que esses vissem o mundo sensível ao seu redor e percebessem que
as mudanças que o mundo sofria eram produtos da indústria e do comércio. Desde então, são
apresentados três pressupostos da atividade social. Para fazer história os homens precisam
estar vivos, condição que exige, primordialmente, a satisfação das necessidades básicas,
biológicas (comida, bebida, proteção do sol e da chuva) e sociais (roupas e instrumentos de
uso imediato).
O primeiro ato histórico é, pois, a produção dos meios para a satisfação
dessas necessidades, a produção da própria vida material, e este é, sem
dúvida, um ato histórico, uma condição fundamental de toda a história, que
ainda hoje, assim como há milênios, tem de ser cumprida diariamente, a cada
hora, simplesmente para manter os homens vivos (MARX, 2011, p. 33).
Em um segundo momento, após as necessidades básicas satisfeitas, a atividade social
de satisfazê-las e a apropriação dos instrumentos de satisfação “conduzem a novas
necessidades e essa produção de novas necessidades constitui o primeiro ato histórico” (idem,
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2011, p. 33), a própria vida renovando-se diariamente. O terceiro momento é a criação dos
outros homens, com o acasalamento e a procriação quando se instala a relação familiar entre
pais e filhos. Desses pressupostos surge outro momento que é o da produção da vida como
uma atividade duplamente caracterizada: de um lado, como uma relação natural e do outro
como uma relação social, uma relação de cooperação entre os indivíduos que independe das
condições, da forma e dos interesses dessa produção.
Segue-se daí que um determinado modo de produção ou uma determinada
fase industrial estão sempre ligados a um determinado modo de cooperação
ou a uma determinada fase social - modo de cooperação que é, ele próprio,
uma “força produtiva” - que a soma das forças produtivas acessíveis ao
homem condiciona o estado social e que, portanto, a “história da
humanidade” deve ser estudada e elaborada sempre em conexão com a
história da indústria e das trocas. (ibid, 2011, p. 34).
O determinado modo de produção, onde determinados indivíduos atuam em
cooperação e produzem materialmente, funda relações sociais e políticas determinadas. “O
mesmo vale para a produção espiritual, tal como ela se apresenta na linguagem da política,
das leis, da moral, da religião, da metafísica etc. de um povo” (ibid, 2011, p. 94). Reafirma-se
a ideia de que os homens enquanto produtores de suas representações as produzem
condicionados pelo modo de produção de sua vida material. “Não têm história, nem
desenvolvimento; mas os homens, ao desenvolverem sua produção e seu intercâmbio
materiais, transformam também, com esta sua realidade, seu pensar e os produtos de seu
pensar” (idem, 2011, p. 94). Contrapondo-se ao idealismo alemão, centro da crítica nestes
termos, Marx e Engels entendem que as representações mentais, resultantes do ato histórico
fundante do ser social, a própria produção da vida material, são dependentes deste.
A produção de ideias, de representações, da consciência, está, em princípio,
imediatamente entrelaçada com a atividade material e com o intercâmbio
material dos homens, com a linguagem da vida real. O representar, o pensar,
o intercâmbio espiritual dos homens ainda aparecem, aqui, como emanação
direta de seu comportamento material. O mesmo vale para a produção
espiritual, tal como ela se apresenta na linguagem da política, das leis da
moral, da religião, metafísica etc. de um povo (MARX, 2007, p. 94).
Como vimos, a natureza radicalmente crítica do pensamento de Marx afirma que o
trabalho é o elemento mediador entre o homem e a natureza, sendo o ato fundante do ser
social e o meio pelo qual são produzidos os bens materiais necessários à sobrevivência dos
indivíduos. É sob o trabalho que se edificará qualquer forma de organização social.
Totalmente ao contrário da filosofia alemã, que desce do céu para a terra,
aqui se eleva da terra para o céu. Quer dizer, não se parte daquilo que os
homens dizem, imaginam ou representam, tampouco dos homens pensados,
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imaginados e representados para, a partir daí, chegar aos homens de carne e
osso; parte-se dos homens realmente ativos e, a partir de seu processo de
vida real, expõe-se também o desenvolvimento dos reflexos ideológicos e
dos ecos desse processo de vida (MARX, 2007, p. 94).
Chega-se ao entendimento de que o trabalho como ato originário do ser social não
esgota a natureza humana e que outras atividades surgem da necessidade da reprodução do ser
social.
A produção de ideias, de representações, da consciência, está, em princípio,
imediatamente entrelaçada com a atividade material e com o intercâmbio
material dos homens, com a linguagem da vida real. O representar, o pensar,
o intercâmbio espiritual dos homens ainda aparecem, aqui, como emanação
direta de seu comportamento material. O mesmo vale para a produção
espiritual, tal como ela se apresenta na linguagem da política, das leis da
moral, da religião, metafísica etc. de um povo (MARX, 2007, p. 94).
Até aqui, os pressupostos filosóficos de Marx nos levam a compreender que o trabalho
é o ato fundante do ser social e, que, as demais atividades sociais (linguagem, arte, política,
educação, religião, entre outras) surgem da necessidade de reprodução do ser social,
operando-se uma relação de dependência ontológica destas com o trabalho, sem contudo
negar-lhes uma autonomia relativa.
Apesar do instrumental teórico de Marx e da ontologia do ser social
desenvolvida por G. Lukács afirmarem em seus pressupostos que o trabalho
é a única categoria que produz os bens materiais necessários à existência
humana e, que as demais esferas da atividade social, em suas
especificidades, exercem outras funções na reprodução do ser social, é um
fato a existência de pensadores 1 no universo acadêmico e científico com
significativa aceitação, inclusive nas produções com estatuto marxista, que
tendem a considerar as atividades da linguagem, da educação, da política,
entre outras, como trabalho. (MOURA, 2011, p.6).
Tratando da questão da reprodução do ser social, na especificidade da educação,
Lukács nos auxilia na compreensão sobre o surgimento das demais esferas da atividade do ser
social, dizendo que
1
Bertoldo (2009) no livro “Trabalho e Educação no Brasil: da centralidade do trabalho à centralidade da
política” faz a crítica à tendência de importantes teóricos marxistas, no campo da educação brasileira, por ela
analisados, quando abordam em suas produções o trabalho abstrato em suas diferentes formas na atual
sociabilidade do capital. Deslocamento, também, do trabalho ontologicamente compreendido, para a centralidade
da política. “Como vimos, as perspectivas resultantes das análises de Nosella, Kuenzer, Machado e Frigotto,
mesmo levando em conta suas diversas abordagens, acabam vislumbrando formas de educação que consistem na
preparação de cidadãos críticos, inseridos no mercado de trabalho. Eles pretendem uma cidadania e uma
democracia ampliadas, sendo a participação política fundamental para a transformação social. No nosso ver, esta
forma de encaminhamento da questão indica um deslocamento da centralidade ontológica do trabalho para a
centralidade da política” (BERTOLDO, 2009, p.150).
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Estas novas categorias, estando atreladas àquela base que as originou, não
são redutíveis ao trabalho, uma vez que elas não têm como função a
transformação da natureza, conforme verificamos anteriormente. Estas
constituem as chamadas posições teleológicas secundárias, uma vez que seu
objetivo consiste em “incidir sobre as consciências dos outros homens para
impeli-los a executar as posições desejadas” (LUKÁCS, 1981b, apud
BERTOLDO, 2009, p.103).
Para melhor consolidar a compreensão sobre a relação entre trabalho e as outras
categorias da atividade social
podemos dizer que entre o trabalho e as outras atividades existe uma relação
de dependência ontológica, de autonomia relativa e de determinação recíproca.
Dependência ontológica de todas elas em relação ao trabalho, pois este
constitui o fundamento. Autonomia relativa, pois cada uma delas cumpre uma
função que não resulta mecanicamente de sua relação com o trabalho.
Determinação recíproca, pois todas elas, inclusive o trabalho, se relacionam
entre si e se constituem mutuamente nesse processo. (TONET, 2009, p.7).
No livro “Descaminhos da esquerda, da centralidade do trabalho para à centralidade da
política” Tonet e Nascimento (2007) elaboram uma crítica contundente aos reformistas e aos
próprios revolucionários que perderam o fio condutor do pensamento de Marx, retirando da
classe trabalhadora a possibilidade revolucionária.
_ o proletariado_ que por sua própria natureza _ histórica e socialmente
constituída_ punha a perspectiva de emancipação real para toda a
humanidade. É essa classe trabalhadora, pelo próprio ser, que indica que o
trabalho é a matriz fundante do ser social e que a revolução que pretenda
efetivar as possibilidades por ela tracejadas deve ter no trabalho associado o
seu eixo fundamental. (TONET; NASCIMENTO, 2009, p. 21).
Ao criticar o idealismo Alemão, Marx já indicava o proletariado como a classe que
trazia em sua essência o movimento capaz de destruir o legado da classe burguesa _ a classe
que por sua natureza contraditória só encontrava (e só encontra) o caminho de sua própria
manutenção no poder. A história mostra em sua concretude que dentro da lógica do capital_ a
exploração sem precedente do trabalhador, o que resta aos trabalhadores são as migalhas. Em
cada momento da continuidade do sistema metabólico incorrigível, nos termos de Mészáros
(2007), programas e ações políticas de um Estado criado para sustentar os interesses
burgueses _ a defesa da propriedade privada_ são elaboradas estratégias ideológicas e
políticas no campo do assistencialismo ou da punição, portanto de caráter reformista.
Nas Glosas Críticas, ao criticar Arnold Ruge quando este escreveu o artigo “ O Rei
da Prússia e a Reforma Social” utilizando a categoria intelecto politico para apontar os limites
dos alemães em compreender a revolta dos trabalhadores na Silésia, Marx diz que
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O princípio da política é a vontade. Quanto mais unilateral, isto é, quanto
mais perfeito é o intelecto político, tanto mais ele crê na onipotência da
vontade e tanto mais é cego frente aos limites naturais e espirituais da
vontade e, consequentemente, tanto mais incapaz de descobrir a fonte dos
males sociais (MARX, 2010, p. 15).
Naqueles termos, Marx já definia o Estado como a própria organização da sociedade
civil e, que, este não admitia a origem dos males sociais em suas próprias estruturas, em suas
próprias impotências.
O Estado não pode eliminar a contradição entre função e a boa vontade da
administração, de um lado, e os seus meios e possibilidades, de outro, sem
eliminar a si mesmo, uma vez que repousa sobre essa contradição. Ele
repousa sobre a contradição entre vida pública e privada, sobre a contradição
entre os interesses gerais e os interesses particulares. (MARX, 2010, p.60).
Na plenitude do século XXI, 168 anos após as contribuições do pensamento de Marx
sobre as políticas de Estado, encontramos a história em sua concretude, no que diz respeito
como solucionar os problemas sociais em suas diferentes dimensões ( pobreza absoluta,
desemprego, depredação ambiental, falta de saúde, déficit habitacional, violência urbana e
rural, analfabetismo, drogas entre outros) ainda na perspectiva da centralidade política. O que
se apresenta é uma continuidade histórica na forma de se tratar os males sociais. Com Marx é
possível compreender a essência deste fato quando ele afirma,
Com efeito, essa dilaceração, essa infâmia, essa escravidão da sociedade
civil é o fundamento natural em que se apoia o Estado moderno, assim como
a sociedade civil da escravidão era o fundamento no qual se apoiava o
Estado antigo [...] Se o Estado moderno quisesse acabar com a impotência da
sua administração, teria de acabar com a atual vida privada. Se ele quisesse
eliminar a vida privada, deveria eliminar a si mesmo, uma vez que ele só
existe como antítese dela. (MARX, 2010, p.60-61).
E qual o caminho tomar? Na esteira de Marx e na leitura do pensador marxista Ivo
Tonet que vem contribuindo, entre outros, para o debate da impossibilidade da conquista da
emancipação humana através da centralidade da política, aponta-se a classe trabalhadora
como “o sujeito fundamental da revolução”.
Nessa luta, outras classes ou segmentos de classe ou indivíduos poderiam ser
arrastados a apoiá-la. Mas, sendo ela, de fato a única que produz a riqueza
material e que, pelo processo de expropriação, se vê privada dela, somente
ela pode ser a responsável fundamental pela extirpação dessa situação. Para
a classe trabalhadora não se trata de distribuir melhor a riqueza produzida,
porque a forma da distribuição já está pressuposta na forma de produção.
Trata-se de instaurar uma nova forma de produção que, então sim, implica
uma distribuição de acordo com as necessidades humanas e não com a
reprodução do capital. (TONET; NASCIMENTO, 2009, p.38).
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Na perspectiva dos intelectuais marxistas que continuam trabalhando com a
centralidade do trabalho como categoria de análise crítica aos fenômenos sociais de essência
burguesa, aqui colocado como a política educacional dos países periféricos e as políticas
reformistas do governo Lula da Silva, o debate não pode prescindir da necessária premissa em
Mészáros (2007) a educação para além do capital, em outras palavras,
[...] às margens corretivas interesseiras do capital significa abandonar de
uma só vez, conscientemente ou não, o objetivo de transformação
qualitativa. [...] É por isso que é necessário romper com a lógica do capital
se quisermos contemplar a criação de uma alternativa educacional
significativamente diferente. (MÉSZÁROS, 2007, p. 27).
Necessário se faz o rompimento radical da lógica do capital através do trabalho
associado, colocando-se para a política a tarefa de preparar as condições para que isto
aconteça. Assim, compreende-se que as proposições das políticas públicas empreendidas pelo
Estado, quer seja na América Latina, quer seja no Brasil, estão na direção contrária ao que
Marx pensou sobre as possibilidades da emancipação humana.
2 O capitalismo e seus representantes oficiais: Banco Mundial e o FMI
A atuação do Banco Mundial sobre o chamado Terceiro Mundo acontece desde os
últimos anos da década de 60 dentro da lógica do império norte-americano em desenvolver
estratégias de controle ao expansionismo comunista e aos movimentos de tensão social na
América Latina, momento em que “O Banco volta-se para programas que atendam
diretamente as populações possivelmente sensíveis ao ‘comunismo’, por meio de escolas
técnicas, programas de saúde e controle da natalidade [...]” (LEHER, 2010, p.22 ). Já na
década de 70, com a crise estrutural do capital anunciada e a dívida dos países periféricos
aumentada “o Banco Mundial emprestou e avalizou empréstimos segundo propósitos
estratégicos, gerando dívidas acima da capacidade de pagamento dos países tomadores”
(LEHER, 2010, p. 22), aqui no Brasil sentimos a realidade concreta desses empréstimos e o
quanto custou à classe trabalhadora nossa inserção no universo neoliberal.
O Brasil da década de 90 que, em um processo de continuidade histórica, vivencia
efetivamente às determinações do capital em crise, através do Banco Mundial, no que diz
respeito às políticas educacionais quando em 1996 foi sancionada a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional, Lei nº 9.394, a conhecida LDB.
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Em Saviani vamos encontrar a caracterização do significado dessa Lei:
Considerando-se a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional como a
lei maior da educação do país, por isso mesmo chamada, quando se quer
acentuar sua importância, de “carta magna da educação”, ela situa-se
imediatamente abaixo da Constituição, definindo as linhas mestras do
ordenamento geral da educação brasileira. Dado esse caráter de uma lei
geral, diversos de seus dispositivos necessitam ser regulamentados por meio
de legislação específica de caráter complementar. E é precisamente nesse
contexto que se vai processando, por iniciativas governamentais, o
delineamento da política educacional que se busca implementar.(SAVIANI,
2008, p.2).
Como sabemos, as agências financiadoras e os organismos internacionais elaboram
estratégias, planos de ações e até legislações para a educação dos países periféricos, que é o
caso do Brasil, objetivando cada vez mais naturalizar a educação como uma atraente
mercadoria.
Os relatórios resultantes das conferências, reuniões e fóruns a partir da Conferencia
Mundial de Educação para Todos demonstram os objetivos e as metas dos organismos
internacionais para com a educação nos países pobres.
A Conferencia Mundial de Educação para Todos, ocorrida em Jomtien, na
Tailândia, em 1990, contou com a representatividade de 155 países e 120
organizações não governamentais (ONG’s) que assinaram e aprovaram a
Declaração Mundial sobre Educação para Todos e o Esquema de Ação para
Satisfazer as Necessidades Básicas de Aprendizagem (NEBAS), que assume
como objetivo assegurar a universalização da educação básica e garantir a
toda a sociedade os conhecimentos necessários a uma vida digna, humana e
justa. (MENDES SEGUNDO, 2007, p.135-136).
De 1990 para os dias atuais outras reuniões aconteceram em Nova Delhi, Dakar,
Cochabamba, Tirija e Brasília guiadas pelo ideal de Educação para Todos e promovidas,
segundo relatório UNESCO, por PNUD, UNICEF, Banco Mundial e por ela própria. No
Brasil a marca dessas organizações estão visíveis na própria legislação educacional, quer seja
na já citada LDB, quer seja na sua legislação complementar como é o caso do Plano Nacional
de Educação (PNE/2001), e no mais recente Plano de Desenvolvimento da Educação
(PDE/2007). Sendo o carro chefe do governo Lula da Silva o Plano de Desenvolvimento da
Educação – PDE configura-se na crítica de Jimenez como “o instrumento político com que o
Estado Brasileiro vem atualmente penalizando a educação pública em benefício da
acumulação privada” (2010, p. 17). Ao longo de uma década os problemas gerais da
educação no Brasil estão longe de serem solucionados. Ora, se nos anos 40 do século passado
foi necessário ordenar o sistema monetário internacional a partir da criação de regras e de
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instituições formais em Bretton Woods, na atualidade os ajustes financeiros em favor da
sustentação da crise estrutural do capital chegam aos limites do tolerável. As políticas
assistencialistas que envolvem os setores educacionais, isto é, diretamente a instituição
escolar, e outros setores sociais imbricados em programas que integram o PDE distanciam-se
cada vez mais da tão propagada educação de qualidade social,
[...] este se pulveriza em uma parafernália de programas que preveem ações
de natureza, abrangência e implicações absolutamente desiguais [...] O
“Caminho da Escola” _que traduz, por exemplo, um simples e necessário
programa de transporte escolar; “ Luz para Todos”, “ Olhar Brasil”; “Gosto
de Ler [...]” (JIMENEZ, 2010, p. 26).
Quando olhamos para os programas de democratização do acesso ao ensino superior
encontramos o Programa Universidade Para Todos (PROUNI) e o Fundo de Financiamento
ao Estudante do Ensino Superior (FIES), o primeiro utiliza o mecanismo de isenções fiscais
para as instituições privadas e o segundo utiliza o mecanismo de financiamento para o aluno
cuja renda familiar não permite seu ingresso na rede privada. Exemplos de programas
desenvolvidos com a orientação das agencias financeiras e, claro, com o aval do
MEC/BRASIL, que selam definitivamente o pacto da esfera pública com os interesses da
esfera privada.
Entendemos que o quadro das políticas e ações públicas orientadas pelo MEC ao
longo do período governo brasileiro, aqui mencionado, trilhou o caminho do reformismo
social, fortalecendo o pacto entre o Estado e os interesses dos grupos privados, cumprindo,
assim, a lógica do sistema capitalista que historicamente vem resolvendo suas crises ao sabor
da miséria da classe trabalhadora.
3 Considerações finais
Para além das contribuições críticas sobre o fenômeno da “mutação ideológica”
(ARCARY, 2011) e da “íntima relação com o par governabilidade-segurança” (LEHER,
2007), discutidas dentro do campo da política econômica do capital periférico, para
entendermos o fenômeno do movimento antirrevolucionário do pensamento e das práticas
políticas da esquerda mundial e, particularmente, no Brasil com o governo Lula da Silva, é
fundamental atentarmos para as análises críticas desenvolvidas no campo da ontologia do ser
social propriamente dita, isto é, as contribuições que trabalham com a categoria _
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deslocamento da centralidade do trabalho para a centralidade da política. E nesta direção
reafirmamos que:
A compreensão desse deslocamento da Centralidade do Trabalho para a
Centralidade da Política, que confere necessariamente um caráter reformista
ou, pelo menos não radicalmente revolucionário, a todos os esforços que
pretendem construir uma sociedade justa e igualitária, passa pelo exame
inicial do que Marx pensou a esse respeito. (TONET; NASCIMENTO, 2009,
p.19).
As consequências dos equívocos vivenciados pelo pensamento e pela prática
revolucionária, até então desenvolvidas, são extremamente maléficas, pois, desanimadoras
para os movimentos que lutam ao lado dos trabalhadores. No campo teórico conservador e,
também, no considerado campo de esquerda, acentuam-se as tentativas de negação da
essência e das contribuições do pensamento de Marx. Estudos importantes foram e estão
sendo desenvolvidos por pesquisadores brasileiros tais como Sergio Lessa, IvoTonet, José
Paulo Netto, entre outros, sobre esta questão crucial para o destino da classe trabalhadora.
Nesta tarefa é fundamental assegurar o fio condutor e a radicalidade do pensamento
marxista _ o trabalho é o ato fundante do ser social. Estando no âmbito filosófico, este fio
condutor fundamental exige a compreensão sobre a ontologia do ser social que, em nossa
compreensão, é a origem do método de Marx para desenvolver qualquer análise crítica sobre
um fenômeno de natureza social dentro da lógica do capital.
O distanciamento sofrido pelos ideais revolucionários de intelectuais renomados e
partidos políticos que lutavam ao lado da classe trabalhadora, empenhando-se em políticas
públicas e ações sociais de natureza reformista, negam que é através do trabalho que o homem
produz sua existência social e alcança sua própria criação. Negam a essência da classe
trabalhadora enquanto sujeito revolucionário.
REFERÊNCIAS
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reforma: uma crítica marxista do governo Lula em defesa da revolução brasileira. São Paulo:
Sundermann, 2011, p. 138-158.
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JEMENEZ, Suzana. A política educacional brasileira e o Plano de Desenvolvimento da
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RABELO,Jackline; SEGUNDO, Maria das Dores Mendes (Orgs). Marxismo, educação e
luta de classes: pressupostos ontológicos e desdobramentos ídeo-políticos. Fortaleza: Eduece,
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MARX, Karl. A ideologia Alemã: critica da mais recente filisofia alemã em seus
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MÉSZÁROS, István. Educação para além do capital. São Paulo: Boitempo, 2007.
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