Núcleo de Educação Popular 13 de Maio - São Paulo, SP . CRÍTICA SEMANAL DA ECONOMIA www.criticadaeconomia.com.br EDIÇÃO Nº1264 – Ano 29; 3ª Semana de Setembro 2015. Crise nos Brics: o capital foge da China e do Brasil como o diabo foge da cruz. JOSÉ MARTINS Bem antes do rebaixamento do Brasil pela Standard &Poor’s, os próprios capitalistas já haviam antecipado a desclassificação do crédito brasileiro. Bem antes da desvalorização do Yen e da desclassificação do Real o capital imperialista já havia carimbado a China e o Brasil com a sinistra sentença: marcados para morrer. . Queda na taxa de lucro, derrocada da produção industrial e desvalorização da moeda nacional são ingredientes venenosos para os investimentos externos diretos e em carteira, em qualquer economia. Em particular nas economias dominadas dos Brics (Brazil, Rússia, Índia, China, South Africa). Sem moeda conversível, baixa produtividade e altamente dependentes de fundos externos para seus investimentos, os efeitos desses corrosivos ingredientes da superprodução de capital são ampliados e fulminantes no desequilíbrio das condições de produção e emprego da economia. Dados mais recentes mostram fuga recorde de capitais na China e Brasil, os dois maiores receptadores de investimentos externos diretos dentre os Brics. Na China, o governo aumenta as medidas administrativas para evitar a intensa saída de capitais externos iniciada neste ano. A repentina queda das suas enormes reservas externas é o melhor indicador dessa perigosa tendência em seu balanço de pagamentos. Segundo o The Wall Street Journal, alguns dos maiores bancos do país, incluindo o Bank of China Ltd. e o China Citic Bank Corp., estão reforçando seus controles sobre mega conversões cambiais de grandes empresas. Enquanto isso, os reguladores do mercado financeiro, juntamente com as forças policiais do país, apertam a vigilância sobre os intermediários ilegais (no Brasil, os populares “doleiros”) que ganham a vida ajudando os capitalistas a transferir dinheiro para fora do país. Evidentemente, os números oficiais não contabilizam essas “operações informais” de fuga de capitais. 1 O enfraquecimento das condições de valorização do capital instalado na China e no Brasil (e nos demais Brics, por supuesto), nos últimos dois anos, são as causas mais profundas da crise financeira que atingem essas economias. A queda da taxa de lucro se manifesta na queda da produção industrial, do consumo interno, das exportações, e outras esferas da produção e circulação da economia real. E agora impulsionam a debandada de capitais para o exterior. Dados divulgados no início de setembro sobre o setor de manufatura da China mostraram o nível de atividade industrial mais baixo em três anos, fazendo despencar bolsas de valores em todo o mundo. No Brasil ocorre a mesma derrocada industrial. Apesar das dificuldades de se obter números precisos sobre saída de dinheiro da China, economistas ouvidos pelo The Wall Street Journal apontam que as reservas da China em moeda estrangeira, por exemplo, que atingiram quase US$ 4 trilhões no ano passado, encolheram em mais de US$ 341 bilhões desde então. O Goldman Sachs Group Inc. menciona em nota a seus clientes a estabilidade do Yuan e a fuga de capital como suas “maiores preocupações”. O banco estima que o volume de dinheiro que deixou a China desde a inesperada desvalorização do Yuan, em 11 de agosto, pode ter saltado para um valor entre US$ 150 bilhões e US$ 200 bilhões. Já o banco J.P. Morgan Chase & Co. estima que os fluxos de saída atingiram o que ele chama de a “notável cifra” de US$ 340 bilhões entre o terceiro trimestre de 2014 e o segundo trimestre deste ano. O economista Larry Hu, do banco de investimentos Macquarie Group. Ltd. calcula, por sua vez, um montante de US$ 264 bilhões para o mesmo período. No Brasil, o processo de fuga de capitais no mesmo período não fica nada atrás da China. Em termos relativos ao tamanho da produção nacional, é ainda maior que na maior montadora industrial do mundo. Dados atualizados do Banco Central do Brasil sobre a posição de investimento internacional indicam que no período Setembro/2014 a Julho/2015, o estoque de investimento externo direto (IED) no país caiu de US$784,908 bilhões para US$681,126 bilhões. Em menos de um ano, mais de 13% do estoque de IED bateu azas e voou. Isso tem uma imensa importância qualitativa para entender a natureza da crise no Brasil e na China. Essas saídas de IED das economias são compostas quase 100% de “participações no capital”, quer dizer, na propriedade de empresas não financeiras. Os chamados “investimentos em carteira”, menos importantes qualitativamente que os primeiros, também estão em revoada da economia brasileira. Foram expatriados US$ 130 bilhões no período acima, cerca de 22% do volume internalizado. Dentre essa categoria de “investimentos externos em 2 carteira”, os investimentos em ações foram os mais atingidos com uma redução de US$ 95 bilhões (30% do volume anterior). Todos esses dados foram contabilizados pelo Banco Central antes do rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela Standard &Poor’s, há menos de uma semana. Depois disso, os capitalistas certamente vão pisar mais forte no acelerador para ficar o mais rapidamente possível longe da economia das economias imergentes. Nem precisava deste incentivo da Standard &Poor’s. Bem antes, os próprios capitalistas já tinham antecipado a desclassificação do crédito brasileiro. Bem antes da desvalorização do Yen e da desclassificação do Real o capital imperialista já havia carimbado a China e o Brasil com a sinistra sentença: marcados para morrer. 3