HISTÓRIAS COM PERSONAGENS PRINCIPAIS Élida Miranda dos Santos Aos 06 anos começa a história de protagonismo de Élida Miranda dos Santos. Nesse época, acompanhando sua mãe no seu trabalho de Arte-Educadora, no projeto Arte na Rua, tomava contato com a realidade social do nosso país. Com o olhar de criança Élida via e seguia os passos de sua mãe. Com o falecimento de seu pai, sua mãe teve que ocupar mais papéis dentro da família, o que impediu que continuasse com o trabalho de Arte- Educadora. Algum tempo afastada dos projetos sociais, no qual acompanhava sua mãe, ao chegar a juventude Élida sentiu que algo estava faltando para completar a sua vida. Era a vontade de atuar na sociedade, de se tornar uma protagonista juvenil. Então a adolescente começou a se engajar nos projetos sociais. O primeiro foi o Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua (MNMMR), que havia se associado ao Arte na Rua. Pouco a pouco Elida começava a ampliar sua linha de ação. Começou a atuar no projeto GT Jovem, na UNAIDS, no Apita Teen, no Instituto Sou da Paz além de começar a freqüentar o Fórum Regional da Freguesia do O. Hoje, com 17 anos Élida está bastante envolvida com os projetos. "Ficar trancado no nosso mundo não muda nada. O jovem tem que se engajar na questão social para estar mudando." No MNMMR Élida encontrou espaço para se expressar. "Lá funciona em núcleos de base. Espaço para os jovens estarem debatendo e levantado propostas no campo da arte, cultura e política. Os educadores tem a função de facilitadores." Élida acredita que o jovem deve debater os seus próprios problemas, como é feito no MNMMR. Ninguém melhor para falar do que a pessoa que está vivendo a situação". Ainda segundo ela, o papel do adulto, neste caso, é no campo da ação e da defesa do jovem. O conceito "de rua" significa para ela "de quem é violado os direitos da cidadania". Como brasileira e jovem ela se identifica com este definição. Por isso sente a necessidade de aprender e repassar, o que é ensinado no MNMMR, de ser uma multiplicadora. Uma das maiores lições que aprendeu nesse período é que "espaço não se dá, se constrói." Outro ação voluntária que ela participa é a UNAIDS. "O trabalho lá é de pesquisar como as entidades estão trabalhando a questão da prevenção e tratamento da AIDS, para estar levantando propostas de políticas públicas." Élida está certa que tem que se haver reflexões políticas para mudar a realidade, para que de fato os direitos humanos sejam cumpridos. As maiores dificuldades para se trabalhar no Brasil é a de recursos financeiros. Élida só conseguiu dinheiro para ir para ao Fórum Social Mundial na véspera do evento, o que causou surpresa nas pessoas que a conheciam. A omissão de Governos autoridades é outra de suas preocupações. Segundo ela o jovem não é o futuro e sim o presente. "A luta não pode acabar. Um jovem tem que dar continuidade ao trabalho de outro, numa espécie de trabalho de formiguinha . Para isso, o sonho de uma humanidade justa e igualitária deve permanecer". Marcella de Araújo Marcella, uma jovem envolvida em inúmeros projetos sociais e que acredita na força transformadora da juventude. Nesta entrevista ela nos fala como iniciou nos trabalhos sociais e deixa claro seu sonho atual para nossa sociedade. Nome: Marcella de Araújo Barbosa Idade: 23 anos Cidade: São Paulo - SP Que fazes da vida? Na verdade vou parecer uma múltipla personalidade aqui. Vamos começar do começo... sou psicóloga, trabalho no consultório com psicoterapia corporal e para ser uma boa psicóloga eu faço uma especialização em psicoterapia corporal. Meio período também trabalho em um instituto de pesquisa coordenando pesquisas sociais. São pesquisas grandes e sobre temas variados (juventude, drogas, mulheres etc). Fora isto trabalho numa creche e com algumas jovens num projeto de articulação no meu bairro, o Real Park em São Paulo. E por que Psicologia? Várias razões. Adoro trabalhar com gente. Já faço trabalho voluntário há algum tempo, participei de acampamentos, viagens e uma coisa é que sempre adorava ouvir histórias. Sempre gostei de ouvir as pessoas, imaginar e sonhar juntos e fazer as coisas juntas. Fazer psicologia foi uma coisa de unir a vontade de estudar Filosofia, Antropologia, Sociologia com ouvir histórias. Como você começou a trabalhar como voluntária? Começou há muito tempo. Ainda na escola, acho que quarta série, em um colégio cristão, éramos estimulados a contribuir com bazar para funcionários e ajudar em visitas a creches, eram trabalhos assistencialistas. Depois que saí desta escola passei um tempo sem fazer trabalhos voluntários e quando fui fazer intercâmbio nos Estados Unidos eu meio que retomei isso fazendo teatro. Desde que retornei do intercâmbio eu passei a me envolver mais. Minha faculdade tinha um enfoque social muito grande, a gente estava sempre fazendo estágio com pessoas carentes. Daí eu meio que alimentei isso e virou um vício. Agora é uma paixão. Quando você começa a fazer trabalho social não deixa de existir pessoas precisando de você e é um dever da sociedade ajudar. E hoje? Em que tipo de trabalhos sociais você está envolvida? Conheci a Rede Jovem através de um outro movimento social, Juventude Latina, um grupo de discussões com jovens, onde conheci várias pessoas que estavam trabalhando em movimentos sociais. Hoje em dia meu trabalho na Rede é animar os trabalhos, esclareço e incentivo discussões para que seja um processo enriquecedor. É um pouco do que faço na terapia e alguns brincam dizendo que eu sou terapeuta em todos os lugares e acho que é verdade. Tenho um pouco desta função de trabalhar com comunicação, além de animar a rede na Internet participo de eventos como o Fórum Social Mundial, Faxinal do Céu e outros. Vou aos eventos com a intenção de trazer mais pessoas para participar da Rede. É um trabalho de articulação. O que é Aliança? E Rede Jovem? Aliança é um movimento internacional de cidadãos da Terra que querem discutir e opinar como sociedade civil. Ela nada mais é que uma grande rede de articulação com as pessoas que querem discutir o futuro do planeta. E dentro da Aliança há três tipos de agrupamentos: grupos de discussão temática, grupos de geopolítica - questões mais locais e canteiros. Os canteiros vêm da imagem do semear para brotar, então a idéia é semear temas comuns para que se desenvolvam, pois são importantes para o Planeta. Eles não surgiram a partir de uma centralização da Aliança, surgiram da própria necessidade da sociedade civil. E um dos canteiros foi Juventude, onde os próprios jovens queriam discutir questões especificas da situação social do jovem. E na verdade a Rede Jovem nasceu, há uns quatro anos, como uma forma de atuação do canteiro de juventude aqui no Brasil. O que você acha do pensamento que coloca a juventude como o futuro e esquece do presente? Acho essa relação perigosa, pois o jovem é presente. Nós somos a maior parte da população brasileira. Somos a maior parte no consumo, deveríamos ser na participação política, em termos de gastos públicos deveríamos ser. E no caso da responsabilidade social, principalmente, pois se queremos um futuro melhor precisamos formar as consciências desde agora. O jovem não deve ser estimulado a ser responsável por ser jovem, mas sim por ser cidadão. Falta no brasileiro esta consciência do que é ser cidadão, do que é lutar por seus direitos e construir uma democracia. Como podemos fazer isso? Como o jovem pode tornar-se realmente presente? A forma mais fantástica é dividir conhecimento. Exemplo é no campo das humanas, coisas que são simples dentro da universidade são muito distantes da realidade social. Principalmente de muitos jovens que são líderes comunitários e estão super engajados. Acredito que se estas coisas simples fossem compartilhadas poderíamos dinamizar forças incríveis. Na minha visão devemos parar de atribuir isso um pouco a educação e responsabilizar mais nossos canais de comunicação na questão de compartilhar conhecimento. Está muito claro, coisa que vi no Fórum Social Mundial, o conceito de Rede de Troca de Saber. Se eu sei escrever, já tenho um conhecimento a passar. E se todo mundo, principalmente de classe média e classe média alta, tivesse essa consciência nós poderíamos dinamizar muita coisa só dividindo o que a gente conhece, o que a gente sabe. Isso é muito simples e gera uma transformação social muito maior do que esperar a educação transformar o país. Acho que está na "sementinha" de cada um de nós. E os meios de comunicação? São fundamentais. É uma via de mão dupla. Nós mantemos os meios de comunicação como eles estão hoje. Precisamos nos tornar leitores, público crítico. Cada vez mais exigentes e comprometidos com o que estamos assistindo. Temos que desligar a TV, temos que parar de comprar o jornal, devemos mandar carta do leitor. Essa participação é muito importante. Muitos dizem que o jovem é alienado. O que pensa disso? Não concordo de jeito nenhum. Acho que o jovem é um eterno sonhador. Ele tem o "gás" para fazer e se não está fazendo é porque ou criou uma baixa auto-estima de que não pode fazer ou pensa que está sozinho na vontade de mudar o mundo. No primeiro caso é culpa da sociedade, pois colocou na cabeça do jovem que ele não pode fazer, essa é uma sociedade doente. No caso do jovem que sente-se sozinho falta a escola, a família e a comunidade para mostrar que ele não está sozinho. Todos esses movimentos em que os jovens se engajam são positivos neste sentido. Devemos aproveitar essa tendência do jovem estar em grupo e mostrar o lado positivo da sociedade. Cabe à sociedade dar oportunidade ao jovem para que ele não acabe caindo no ócio, na violência, na droga. Sonhos. Que tipo de sonhos você tem para nossa sociedade? Tenho muitos. Falo do meu momento atual, estou trabalhando com questão de gênero e está claro o tanto que nossa geração é responsável por dar um salto qualitativo em respeito. Respeitar as diferenças. Meu grande sonho é que nossa juventude realmente se responsabilize por essa mudança do um a um e do que eu posso fazer para mudar. E que faça, que comece, experimente, tente, mas sempre respeitando as diferenças. Não importa a tribo, importa a vontade de ter uma sociedade melhor. Se o Brasil conseguir sacar que a diversidade cultural é a maior riqueza que ele tem, nós podemos superar qualquer outro país. Não é só a questão econômica, falta no mundo valores, falta carinho, afeto e acho que o brasileiro tem uma busca maior. Ele quer ser feliz, tem uma relação com a questão do despojamento, da informalidade. A nossa diversidade cultural é uma grande arma para trabalhar a solidariedade, a sensibilidade pelo outro. Acho que precisamos aproximar as linguagens. O sonho é que as pessoas comecem a apreciar cada vez mais as diferenças e não se distanciem por elas. O que você fala para as pessoas que estão aí de braços cruzados? Acho que devemos estimular a criatividade. Todo mundo é criativo. Todo mundo é criativo para alguma coisa. Diversidade criativa. Todo mundo está aí para fazer alguma coisa, pode não estar para ser voluntário, mas para tocar rock, em gostar de dançar. Sei lá! Alguma coisa ele gosta e o legal é usar essa habilidade para transformar uma realidade. O legal é utilizar a criatividade para transformar uma realidade, fazer uma coisa simples e que você goste ser útil e que possa ajudar alguém. As pessoas estão abertas a receber, basta sabermos direcionar o que podemos oferecer. Você por você mesma. Sou extremamente sonhadora, batalhadora. Acredito que nosso país precisa de mudanças lentas, mas como uma boa jovem fico completamente desesperada para resolver tudo em cinco minutos. Inclusive uma coisa que venho trabalhando nessa atuação social é a paciência e a persistência. Tento aliar essas coisas: colocar gás nas pessoas, incentivá-las a fazer; persistência; paciência e sonhos. E assim vamos criando o futuro. Entrevistas retiradas do site www.protagonismojuvenil.org.br História de Ruby Bridges Ruby Bridges morava em Nova Orleans em 1960. Naquele ano, a Suprema Corte americana ordenou que as escolas públicas passassem a aceitar alunos negros. Ruby tinha seis anos de idade quando foi matriculada na escola elementar Frantz. A polícia local se recusou a protegê-la, portanto delegados federais foram designados para acompanhá-la, ajudando-a a passar por uma multidão de cidadãos revoltados, todos os dias. Os manifestantes gritavam com ela, balançavam os punhos cerrados, ameaçavam matá-la. Durante todo o ano letivo, Ruby foi a única criança a freqüentar aquela escola. Todos os outros se afastaram. Em 1960, o Dr. Robert Coles, psiquiatra e professor da escola de medicina de Harvard, estava fazendo pesquisas sobre o estresse e decidiu analisar o caso de Ruby Brigdes. Ele viajou até Nova Orleans para entrevistar a garota, seus familiares e seus professores. Para surpresa do Dr. Coles, ele não encontrou nenhum sinal de estresse nos membros daquela família. Em conversa com o médico, o professor de Ruby mencionou que aquela garotinha de seis anos parecia falar com a multidão, todas as manhãs, quando ia para escola, e todas as tardes, quando voltava para casa. O Dr. Coles perguntou a Ruby o que ela dizia. Ela declarou que orava por todos. O psiquiatra descobriu que Ruby e seus familiares oravam juntos todas as noites em favor dos manifestantes. O pastor da igreja que freqüentavam disse que, quando Jesus sofreu, orou dizendo: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. Portanto Ruby fazia essa prece todos os dias, rogando por aqueles que gritavam com ela. O Dr. Coles não conseguia deixar de pensar naquela garota de apenas seis anos. Por causa da influência que Ruby teve em sua vida, ele começou uma busca pessoal até finalmente se entregar a Jesus Cristo. A história de Ruby não terminou com a liberação das escolas para alunos negros no sul dos eua, ou com o impacto que a menina causou sobre um famoso psiquiatra infantil. Ela tinha a visão de uma América do Norte muito diferente e mostrou a toda a nação como realizar esse sonho. Em uma noite de domingo, em 28 de janeiro de 1998, trinta e oito anos depois, um documentário especial transmitido pela rede de televisão ABC relatou novamente aquele caso para os americanos. Ruby Bridges agiu como líder e demonstrou o tipo de atitude exemplar de que necessitamos no século XXI. Extraído de "Leadership that works" de Leith Anderson .