ESTUDO PRELIMINAR SOBRE ILHA DE CALOR NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO Bárbara Helga da Silva; Bruno P. Marques; Fábio C. Tartau; Flávia C. Fabião; Giovana S. Vieira; Giselle S. Arruda; Loren S. de Almeida; Mariana P. Silva; Priscila C. Luz; Renato R. Aguiar; Sérgio F. Cardoso Jr.; Suzane A Oliveira e Talita A. Pereira Alunos do Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio de Janeiro Christiane Osório Machado Professora do Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio de Janeiro e-mail: [email protected] ABSTRACT In this work the average, air, maximum and minimum temperature and precipitation are examined for some meteorological stations located in Rio de Janeiro, over a 5 year period (1993-1997). The results suggest that the configuration of air temperature and maximum temperature isotherms are mainly resultant from diurnal heating. As a consequence the maximum nuclei were observed in the western part of the city. However, the minimum temperature seemed to be largely influenced by urbanization. It occurred further from the coastline and in the most built area. The intensity of the heat island is highest in the winter and of the order of 0,8°C. Introdução Um dos impactos observados no clima devido a atuação do homem é a degradação do meio ambiente atmosférico nas cidades. A substituição da cobertura natural, a construção de fábricas, rodovias e prédios destroi o microclima existente dando origem a um novo, de grande complexidade (Lutgens, 1979). Os efeitos destes processos foram sentidos nas grandes cidades européias após a Revolução Industrial, quando o crescimento acelerado deu origem a redução de visibilidade e aumento da temperatura. Este fenômeno de temperatura mais elevadas no centro das cidades em comparação com os subúrbios, denominado de ilha de calor, foi tratado por diversos autores sendo que o maior número de trabalhos são para as cidades de clima temperado, segundo Oke, citado em Jáuregui (1988). Desde a década de 50 a cidade do Rio de Janeiro tem apresentado um intenso processo de metropolização e urbanização, devido principalmente a industrialização da região Sudeste (Adas, 1989) e agravado pela estrutura fundiária (Müller, 1971) perversa. Monteiro (1988), mostra o efeito da urbanização no clima de algumas cidades brasileiras, entre elas o Rio de Janeiro. A Cidade O Rio de Janeiro, capital do estado de mesmo nome foi, até 1960, capital do país, e hoje é a segunda maior cidade. Os principais órgãos reguladores de importação e exportações estão localizados na cidade, possuindo ainda o segundo maior porto e centro financeiro do país. O setor de serviços domina a economia, embora o setor de turismo e entretenimento também tenha grande importância econômica (Grolier, 1996) A cidade está situada no trecho em que o litoral brasileiro se desvia na direção leste-oeste, possuindo cerca de 1171 km2 de área. O município é limitado ao norte pela baixada fluminense, ao sul pelo Oceano Atlântico, a oeste e leste respectivamente pelas baías de Sepetiba e Guanabara, onde nesta última estão as ilhas do Fundão, Governador e Paquetá. Os habitantes estão espalhados por 157 bairros, sendo a Barra da Tijuca o bairro com maior área, cerca de 175km 2. Copacabana é o bairro com maior densidade populacional enquanto Bangu possui o maior número de habitantes (IPLAN, 1994) da cidade. Circulação Situado na costa leste da América do Sul, a cidade encontra-se sob o domínio quase permanente do Anticiclone do Atlântico Sul, predominando ventos fracos de norte e nordeste. Com o avanço das frentes frias, esta circulação é substituída pelos ventos pré-frontais de noroeste, seguidos dos ventos de sul-sudeste ou sul-sudoeste, conforme a trajetória marítima ou continental do anticiclone que precede a frente. Com o deslocamento deste anticiclone para nordeste a circulação de norte-nordeste volta a predominar. A proximidade do oceano faz com que as brisas sejam o vento dominante na orla marítima. Segundo Serra (1970), a brisa marítima se intensifica no período de setembro a abril tendo início às 13 e cessando às 18 horas. A terrestre no entanto, ocorre com maior freqüência no inverno devido ao intenso resfriamento noturno, mas com velocidade inferior a marítima e geralmente das 20 horas às 9 horas. Dados Atualmente existem 11 estações meteorológicas em operação na cidade, quatro delas são utilizadas para fins climatológicos, o mesmo número para fins aeronáuticos e três são para fins didáticos. Para este trabalho foram disponibilizados a tempo hábil somente os dados de sete destas estações, sendo estes os valores médios de temperatura máxima e mínima, temperatura do ar e a precipitação total em 24 horas. O período analisado refere-se aos últimos cinco anos, quando há um maior número de estações em operação. O pequeno período disponível para análise, deve-se a redução do número de estações da rede nacional de meteorologia nos últimos 50 anos e a interrupção das observações. Localização das estações As estações estão assim distribuídas pela cidade: duas localizadas na zona oeste, Bangu e Santa Cruz, três na zona norte, Alto da Boa Vista, Maracanã e UFRJ, uma no centro Santos Dumont e outra na zona sul, Jardim Botânico. A estação de Bangu encontra-se instalada no terreno da Fábrica de Tecidos Bangu localizada na área comercial do bairro, em uma das principais vias de acesso ao bairro. As estações do Maracanã e do Fundão estão instaladas em campus universitário, sendo que a primeira está rodeada por vários prédios da própria universidade, entre outros residenciais, e próxima a rua com intenso movimento de veículos. A estação do Fundão está instalada em uma ilha de mesmo nome no interior da Baía de Guanabara, sofrendo pouca influência de prédios e vias asfaltadas. As estações do Alto da Boa Vista e do Jardim Botânico estão localizadas em duas grandes áreas verdes da cidade. A primeira está localizada em uma floresta urbana, localizada no maciço da Tijuca, que separa a zona sul da zona norte da cidade. A outra, encontra-se instalada no jardim botânico da cidade, localizado em um bairro bem arborizado da zona sul, situado a barlavento do maciço da Tijuca. Figura 1.1: Localização das Estações Meteorológicas na Cidade do Rio de Janeiro Resultados Temperatura do Ar - a temperatura é maior nas estações localizadas na zona oeste, e menores nas estações localizadas no litoral. Embora a zona oeste não apresente uma área edificada extensa como ocorre nas zonas sul e norte, a pouca cobertura vegetal e o predomínio de ventos continentais de noroeste, parecem contribuir para o aumento da temperatura média. A configuração para o ano de 1995, é mostrada na figura 1.2. Figura 1.2: Temperatura Média (°C) - 1995 Temperatura Máxima - é possível identificar duas zonas de temperatura, uma quente e outra fria. A temperatura é maior nas estações localizadas nas zonas norte e oeste, do que nas estações próximas ao litoral e elevadas, que são afetadas pela brisa marítima. A sotavento dos maciços este efeito é inverso, como é o caso das estações do Maracanã, Bangu e Santa Cruz. A estação da UFRJ embora esteja situada em uma ilha no interior da Baía de Guanabara parece não ser influenciada pelo efeito da brisa marítima. Bangu seguido da estação do Maracanã apresenta os maiores valores de temperatura ao longo dos meses, exceto durante os meses de inverno, quando a temperatura da estação da UFRJ é superior a das duas outras. A diferença de temperatura entre as estações Bangu e Maracanã é pequena ao longo dos meses, sendo inferior a 0,8°C. Temperatura Mínima - os menores valores são observados na estação do Alto da Boa Vista, enquanto os maiores ocorrem na estação Santos Dumont seguido pela Maracanã. A figura 1.3 apresenta a diferença entre as temperaturas mínimas observadas para duas estações localizadas em áreas mais edificadas e uma no subúrbio, onde o número de casas é maior. Os maiores valores são observados durante os meses de maio a agosto, quando a ocorrência de calmarias e um maior número de noites claras ocasiona um contraste térmico máximo. A maior diferença de temperatura ocorre em julho, em geral o mês mais frio (INMET, 1991) na cidade. Durante a primavera esta diferença diminui, voltando a aumentar com o início do verão e da estação chuvosa. Vários autores (Jáuregui, 1988), identificaram a formação de ilhas de calor em cidades de clima tropical e com estação chuvosa, durante a noite na estação seca. 1,4 Maracanã - Bangu (1994) 1,2 Santos Dumont - Bangu (1993) 1 °C 0,8 0,6 0,4 0,2 0 J F M A M J J A S O N D Mês Figura 1.3: Diferença de Temperatura Mínima (Tn) Precipitação Acumulada - a distribuição é a mesma para todos os anos estudados. O núcleo máximo, de origem orográfica, ocorre na estação do Alto da Boa Vista, localizada no maciço da Tijuca, diminuindo em direção ao litoral e aumentando novamente para o inteiro nas zonas oeste e norte onde existe maior instabilidade. Os maiores totais de precipitação acumulada foram observados no ano de 1996, considerado ano de La Niña. As isoietas deste ano são mostradas na figura 1.4. Figura 1.4: Precipitação Total (mm) – 1996 Alguns autores associam a intensificação da precipitação, em torno de 5 a 10%, com a urbanização, devido ao ar quente ascendente e o aumento dos núcleos de condensação. As poucas estações existentes e o curto período analisado, sendo este com três eventos de El Niño e um de La Niña, dificultam a identificação do fenômeno. Conclusão O efeito do continente é determinante no aquecimento diurno, como pode ser visto na distribuição da temperatura do ar e da temperatura máxima. A temperatura mínima no entanto, é mais elevada no litoral devido a proximidade do mar que conserva o aquecimento diurno, irradiando pouco a noite. Este fato é observado durante todos os anos na estação Santos Dumont. A ocorrência de temperaturas mínimas elevadas na estação Maracanã, durante todo o ano, com maior intensidade nos meses de inverno sugere a formação de ilha de calor na área edificada da cidade. A magnitude da ilha de calor é da ordem de 0,8°C para esta época do ano. A distribuição da precipitação, em termos médios, parece não ser influenciada pela urbanização, sendo caracterizada pelo efeito orográfico. Os valores extremos de temperatura máxima e de precipitação, serão utilizados no prosseguimento do trabalho, bem como os dados de umidade relativa a fim de poder caracterizar a formação de ilha de calor. O pequeno número de estações em operação e má distribuição pela cidade também é um fator determinante nos resultados. Agradecimentos: Os dados meteorológicos foram gentilmente cedidos pelo Instituto Nacional de Meteorologia - 6 Disme, Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária, Universidade Federal do Rio de Janeiro e Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Bibliografia Adas, Melhem, Panorama Geográfico do Brasil: aspectos físicos, humanos e econômicos. 2 ed., Ed. Moderna, 1985, São Paulo. INMET, Normais Climatológicas (1961-1990), Instituto Nacional de Meteorologia, Brasília, 1992. IPLAN, Instituto de Planejamento Anuário Estatístico 1993/1994, Rio de Janeiro, 1994. Jáuregui, Ernesto. Los Climas Urbanos Tropicales: Revision e Evaluacion. La Climatologia Urbana y sus Aplicaciones con Especial Referencia a las Regiones Tropicales, Conferencia Técnica, OMM N° 652, Organização Meteorológica Mundial, 1988, Genebra. —, Ernesto. Aspects of Heat Island Development in Guadalajara, México. Atmospheric Environment, Vol 26B, n° 3, pp391-396, 1992. Lutgens, F.K. & Tarbuck, E. J. The Atmosphere: na introduction to meteorology, Prentice-Hall, 1979. Monteiro, Carlos Augusto de F. El Estudio de los Climas en las Regiones Tropicales de America del Sur: la contribucion brasileña. La Climatologia Urbana y sus Aplicaciones con Especial Referencia a las Regiones Tropicales, Conferencia Técnica, OMM N° 652, Organização Meteorológica Mundial, 1988, Genebra. Müller, Nice Lecocq, A urbanização na América Latina, Geografia Urbana, Instituto de Geografia, Cad. 6,1971. Serra, Adalberto. Clima da Guanabara. Boletim Geográfico, Fundação IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia, n° 214, ano 29, janeiro/fevereiro, 1970, Rio de Janeiro.