Como as estações do ano se inscrevem no cérebro Toda a gente pode observar como o comportamento dos seres vivos varia com as estações do ano, desde a floração ao cair dos frutos e das próprias folhas dalgumas plantas, às migrações sazonais e ao acasalamento dos animais, podendo-se ainda notar nestes a sucessão da acumulação e consumo de reservas energéticas. Também o Homem sente a mudança das estações. E se as concomitantes alterações do seu comportamento são mais aparatosas quando ele trabalha numa relação íntima com a natureza, elas existem sempre, ainda que por vezes subtis. Um aspecto menos agradável dessas alterações é o que diz respeito à ocorrência de patologias, como a depressão, ou o agravamento dalgumas doenças crónicas, em determinadas estações. Um trabalho agora publicado na Science (Dulcis e colab: Neurotransmitter Switching in the Adult Brain Regulates Behavior. Science 340: 449, 2013) relativo a um estudo experimental, no Rato, revela um achado interessantíssimo: um determinado grupo de células nervosas do hipotálamo, uma região do sistema nervoso central, tem como neurotransmissor (molécula libertada por essas células e que vai desencadear acções nessas e noutras células) dopamina ou somatostatina conforme a duração do período luminoso / período nocturno é maior (como acontece no Verão) ou menor (como no Inverno). Esse predomínio de dopamina ou somatostatina vai ter uma série de consequências comportamentais, algumas delas na dependência directa da produção de CRF (factor libertador de corticotrofina, hormona que influencia a produção de ACTH ou hormona corticotrófica e, consequentemente, de corticosteróides). Ou seja, o simples facto de o dia e a noite serem de maior ou mais curta duração tem consequências sobre o funcionamento do hipotálamo (órgão central de coordenação neuro-hormonal), nomeadamente sobre a produção de hormonas do stresse. Se este for um mecanismo geral nos mamíferos, incluindo o Homem, como é provável, poderemos vir a compreender melhor o estado das pessoas, suas fragilidades e o seu comportamento na dependência das estações do ano e/ou da latitude em que se encontram. Isabel Azevedo