A CATEGORIA TRABALHO EM MARX: ALGUNS APONTAMENTOS SOBRE SUA CENTRALIDADE ONTOLÓGICA George Amaral1 1- Introdução Um esforço primeiro dessa reflexão é procurar se aproximar o máximo possível do que anotou Karl Marx sobre a categoria trabalho. Isso é central para compreendermos o pensamento do autor, o seu desenvolvimento em meio a exposição para extrair o movimento do capital enquanto dimensão hegemônico de demiurgo societal. Notadamente, queremos ressaltar também, que apesar de produções de grande relevo sobre a obra do filósofo alemão, o afastamento que o marxismo apresentou na história, ocasionou uma específica interpretação de Marx que o coloca como determinista e economicista. Entre outros ataques para relegar sua obra revolucionária ao plano do esquecimento e desconhecimento, fragmentar o autor em departamentos e até mesmo invalidar seu postulado como querem os intelectuais dos paradigmas pós-modernos. Um dos alvos é impostação de que a categoria trabalho foi superada pela sociedade do conhecimento. Nesse caso, consideramos a centralidade da categoria trabalho na análise da sociedade capitalista e, por isso, Marx defendeu a concepção de trabalho emancipado, através da superação do capitalismo. Esse é o nosso ponto de partida, pois o trabalho na sociedade capitalista é a essência subjetiva da propriedade privada que é estranha ao homem e à natureza e, assim, à consciência e à vida. Através desse fio condutor, podemos compreender melhor os fenômenos sociais, mesmo aqueles que não se constituíram em objetos específicos de estudo na obra marxiana. Advém daí, a necessidade de rastrearmos na obra do próprio Marx a centralidade da categoria trabalho. Por esse prisma, a perspectiva sua ontológica basilar fundadora do ser social e da totalidade histórica, vinculada ao complexo do trabalho. Ao passo que, com surgimento da sociedade burguesa, pôs margem, o trabalho abstrato-estranhado assalariado da produção social da existência alienadora da constituição essencial do ser humano: o trabalho como forma de liberdade. 2- Metodologia Esta pesquisa é de caráter bibliográfico, com a pretensão de capturar alguns dos principais apontamentos de Marx acerca da centralidade da categoria trabalho e a perspectiva ontológica lukacsiana extraída de suas obras como esforço principal de realinhar o marxismo nos trilhos delineados postulado pelo filósofo. Fizemos estudo partindo dos Manuscritos Econômico-Filosóficos de 1844 (2010) e da obra prima, O Capital (2013), volume 1. Também nos apoiamos em Lucáks ( 2012; 2013) dedicado a interpretar a teoria marxiana e outros autores marxistas. 3- Discussões e resultados: O trabalho e os elementos de sua legalidade ontológica: apontamentos centrais de Marx O trabalho conforme Marx é a base fundamental para que o ser humano se constituísse como ser social, superando a esfera do ser dominado pela natureza para o ser que pensa e a transforma para garantir sua existência. Desse modo, o trabalho assume o caráter mediador 1 Mestrando em Educação e Ensino pelo MAIE-FAFIDAM/FECLESC (UECE). Bolsista da FUNCAP-CE. E-mail: [email protected] da relação homem e natureza, ao mesmo tempo em que transforma a natureza, transforma o próprio homem. Ao converter a natureza em meios de subsistência ou de produção, o homem atua de forma consciente e intencional, controlando e executando sua ação através de seus membros corpóreos contra os elementos da natureza. Com efeito, surgem novas características na constituição de um ser que passar a dominar habilidades, desenvolver técnicas através de conhecimentos adquiridos no intercâmbio com meio natural. Conforme Marx (2013, p. 255), “o trabalho é, antes de tudo, um processo entre homem e a natureza, processo este em que o homem, por sua própria ação, medeia, regula e controla seu metabolismo com a natureza”. No legado marxiano o trabalho é uma atividade tipicamente humana, porque implica a existência de ação previamente concebida no plano das ideias que orientam a ação a ser efetivada para alcançar um fim estabelecido. Para Marx (2013), o que diferencia o trabalho, do ponto de vista ontológico, de qualquer atividade natural desenvolvida por outros seres, é o ato do homem idealizar o resultado final do trabalho antes de sua objetivação. Ao converter a natureza através de sua ação, o faz por meio de sua força física e de sua potência espiritual. Ao se referir ao trabalho, Marx assinala. Pressupomos o trabalho numa forma em que ele diz respeito unicamente ao homem. Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e uma abelha envergonha muitos arquitetos com estrutura de sua colmeia. Porém, o que desde o início distingue o pior arquiteto da melhor abelha é o fato de que primeiro tem a colmeia em sua mente antes de construí-la com a cera. No final do processo de trabalho, chega-se a um resultado que já estava presente na representação do trabalhador no início do processo, portanto, um resultado que já existia idealmente (MARX, 2013, p. 255-256). Através dessa concepção, podemos compreender que não existe ser social sem o trabalho. Suas análises revelam as referências dos elementos essenciais e universais do trabalho como categoria mediadora entre o mundo dos homens e à natureza. De sua natureza essencial, faz o trabalho ter como função social transformar a natureza para criar os bens materiais necessários à existência humana, permitindo os desdobramentos de transformações na base do ser. Com isso ele se constitui no fundamento ontológico do ser social. Ou como prefere Lukács (2012), o trabalho é protoforma do ser social. Em outras palavras, o legado onto-histórico de Marx assinala que é no e a partir do trabalho, pelo qual o homem produz na materialidade sua existência, que ele salta da natureza e supera seus limites naturais. Essa questão expõe de acordo com Lukács (2012, p. 286) o caráter duplo da transformação. “Por um lado, o próprio ser humano que trabalha é transformado por seu trabalho; ele atua sobre a natureza exterior e modifica, ao mesmo tempo, sua própria natureza, desenvolve as 'potências que nela se encontram latentes' e sujeita as forças da natureza a 'seu próprio domínio”. O trabalho começa quando o ser humano na interação com a natureza elabora instrumentos para suprir suas necessidades de sobrevivência. Posteriormente, o trabalho se diversificou, foi sendo aperfeiçoado de geração em geração, estendendo-se cada vez mais a novas atividades. Ao objetivar um ideal previamente concebido, o trabalho desencadeia uma série de mudanças sobre a natureza e sobre o próprio homem. A mudança desencadeada por esse processo desperta potencialidades adormecidas, possibilita o surgimento e refinamento de habilidades que só o homem desenvolveu. O trabalho é o ponto de partida da humanização do homem, do refinamento de suas faculdades, processo do qual não se deve esquecer o domínio sobre si mesmo e transformação do meio natural. Nesse sentido, essa categoria na teoria marxiana participa do processo de humanização do homem, transformando-se no modelo de toda a práxis social, realizando-se pela relação entre teleologia e movimentos de séries causais (LUKÁCS, 2012). Partindo de Marx e balizado por Lukács, consideramos que a história humana objetiva-se mediante o ato de produção de sua existência material, que se realiza pelo trabalho. Nisso, Marx posicionou a base do desenvolvimento histórico dos homens. O mundo objetivo é, em primeira instância, produzido pelo trabalho. Ele é a categoria fundante do ser social, pois sobre a natureza o homem imprimiu sua vontade realizando a si mesmo através do trabalho, afastando das barreiras naturais e fundando a sociedade humana. 4- Considerações finais Embora seja o ponto de partida, em um momento particular, histórico, sobre as bases da propriedade privada, surge o modo de produção capitalista e com ele o trabalho assalariado, produtor de mercadorias. Por conseguinte, foi a sociedade burguesa, de modo mais preciso, a formação social que promoveu o aviltamento do trabalho transformando-o em mera atividade de subsistência, de satisfação de carências imediatas. Marx argumenta que na sociedade burguesa o trabalho tem sido utilizado essencialmente para produzir bens, mercadorias, base para a obtenção de lucro a partir da exploração da classe trabalhadora. É sobre a extração do trabalho excedente o pilar centrar de acumulação da riqueza e da separação do homem da verdadeira essência do trabalho: a que é base de libertação das imposições da natureza sobre sua existência. A alienação consubstanciada no processo de compra e venda da força de trabalho torna o homem uma mercadoria e o torna “tanto mais pobre quanto mais riqueza produz, quanto mais a sua produção aumenta em poder e extensão” (MARX, 2010, p. 80). 5- Referências bibliográficas LUCÁKS, Georg. Para uma ontologia do ser social I. São Paulo: Boitempo, 2012. ______. Para uma ontologia do ser social II. São Paulo: Boitempo, 2013. MARX, Karl. O capital: crítica da economia política: Livro I: o processo de produção do capital; [ tradução de Rubens Enderle]. São Paulo : Boitempo, 2013. ______. Manuscritos econômicos-filosóficos. São Paulo: Boitempo, 2010.