Controle de Tensão de um Compensador Estático de Reativos Conectado a uma Rede de Baixa Tensão Felipe Augusto Ferreira de Almeida1, Flávio Alessandro Serrão Gonçalves2 Fernando Pinhabel Marafão2 e Eduardo Verri Liberado2 1 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo - IFSP Câmpus Boituva 2 Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP Instituto de Ciência e Tecnologia de Sorocaba [email protected] , [email protected] Abstract. This paper aims to present the operation analysis of a Static Var Compensator (SVC), which consists of a Thyristor Controlled Reactor (TCR) and a Fixed Capacitor (FC), connected to a low voltage network in order to assess its operating limits to the power quality disturbances and compliance with regulations, such as voltage regulation. A new application of this compensator is studied at low voltage for reactive power compensation in a given point of common coupling (PCC), to aim the voltage profile control at the connection point between the feeder and the network. The results were obtained by software simulations. Resumo. Este artigo tem como objetivo apresentar a análise de operação de um Compensador Estático de Reativos (SVC), que consiste em um Reator Controlado a Tiristor (TCR) e um capacitor fixo (FC), conectado a uma rede de baixa tensão a fim de avaliar seus limites operacionais em relação aos distúrbios de qualidade de energia e conformidade com os regulamentos, como por exemplo, regulação de tensão. Uma nova aplicação desse compensador é estudada em baixa tensão para compensação de potência reativa em um determinado ponto de acoplamento comum (PAC), visando o controle do perfil de tensão no ponto de conexão entre o alimentador e a rede. Os resultados foram obtidos através das simulações em software. 1. Introdução O SVC (Static Var Compensator) ou Compensador Estático de Reativos é uma arquitetura de compensação estabelecida, usado principalmente para a regulação de tensão por absorção de energia reativa em redes de alta/média tensão [1]. Tem como principal função utilizar elementos passivos, tais como reatores e capacitores, que são devidamente ajustados para controlar a tensão e a potência reativa nos sistemas de transmissão. Para este tipo de compensação, é necessário um controle dinâmico com a utilização de dispositivos eletrônicos de potência, como tiristores, que possibilitam o controle da corrente que flui no reator, controlando as perdas reativas. A potência necessária para um SVC dedicado à regulação de tensão depende da quantidade de flutuação de tensão a ser compensada e da impedância de curto circuito da rede [2]. A Figura 1 mostra o circuito equivalente de uma rede, contemplando a fonte de energia, a impedância de linha e um SVC para estabilizar a tensão do lado da carga. IS= IL + Iq R X FONTE VL VF Iq IL CARGAS SVC Figura 1 – Circuito equivalente da rede, SVC e carga. O comportamento da regulação de tensão em função da corrente reativa injetada Iq é dado pelas equações (1) e (2). 𝑉𝐿 = 𝑉𝑟𝑒𝑓 + 𝑋 ∙ 𝐼𝑞 (1) 𝑉𝐿 = 𝑉𝐹 − 𝑋 ∙ (𝐼𝑞 + 𝐼𝐿 ) (2) Onde X é a reatância, equivalente da linha, a qual o efeito pode ser avaliado pela razão (∆VL / ∆Iq ). Os diagramas de fasores apresentados nas Figuras 2 e 3 mostram que a tensão na final da linha, VL, pode ser regulada através do controle da injeção de corrente reativa, Iq. A Figura 2 demonstra que na ausência de corrente injetada pelo SVC a tensão resultante na carga, VL, é menor que a tensão na fonte, VF. VF Iativa VL < V F X.IS R.IS IS=IL Ireativa Figura 2 – Diagrama de fasores de uma rede sem compensação. Quando há injeção de corrente reativa, Iq, pelo SVC na quantidade suficiente para compensar a corrente reativa drenada pela carga, a tensão no final da linha aumenta, porém não alcança o valor na origem da linha VF. Para alcançar o valor nominal no final da linha, uma corrente reativa Iq maior que Ireativa deve ser injetada, como observado na Figura 3. Assim, o controle de tensão no lado da carga é baseado no controle da corrente reativa injetada pelo SVC. Iq VF IS Iativa Ireativa VL = V F X.IS R.IS IL Figura 3 – Diagrama de fasores com VL = VF. 2. Estrutura do SVC O Reator Controlado a Tiristor (Thyristor Controlled Reactor - RCT) consiste de um circuito formado por uma indutância L e dois tiristores em antiparalelo, conforme pode ser visto na Figura 4. Os tiristores são comandados para condução considerando o emprego do mesmo ângulo de disparo, mas devido a existência de sincronismo com a forma de onda tensão do ponto de conexão, para garantir a região de polarização direta, ocorrendo em instantes defasados de meio período. De acordo com a variação do ângulo de disparo dos tiristores, existe uma variação correspondente na corrente do indutor. Figura 4 – Reator Controlado a Tiristor O Compensador Estático de Reativos (Static Var Compensator – SVC) é formado pelo arranjo de um RCT em paralelo com capacitores fixos. Através da ação de controle dos ângulos de disparo apresentados aos tiristores a corrente é controlada de forma que o arranjo se comporte como uma susceptância variável, com uma faixa abrangendo desde valores capacitivos até indutivos. O SVC é uma tecnologia estabelecida e utilizada em aplicações na transmissão de energia elétrica com o objetivo principal de controle rápido da tensão nos pontos fracos da rede [4]. Uma das vantagens do SVC comparado com tecnologias que utilizam PWM consiste no fato de que no SVC o chaveamento dos interruptores semicondutores é realizado em baixa frequência e com sistema de controle mais simples, que podem contribuir de forma positiva na relação de custo da estrutura. A topologia SVC em um arranjo trifásico é apresentada na Figura 5. O SVC proposto possui três circuitos de Reatores Controlados por Tiristor (RCT), conectados em delta e representados pelos pares de tiristores e pelas indutâncias (LTCR), cada um em paralelo com um capacitor fixo (CSVC). Deste modo pode-se conseguir que a região de trabalho do RCT inclua uma faixa capacitiva. Para monitoramento e controle devem ser medidas três tensões de linha (u12, u32, u31) e três correntes de fase (i1, i2, i3). i1C u31 1 u12 CSVC CSVC LTCR LTCR LTCR i3C 3 2 i2C CSVC u23 Figura 5 – Topologia do SVC [5]. 2.1 Controle do SVC O controle do ângulo de disparo dos tiristores causa um controle de corrente, fazendo com que o SVC se comporte como uma susceptância variável, com uma faixa desde valores capacitivos até indutivos. α = 90° α = 180° A Figura 6A mostra a curva característica de operação V-I do SVC. O comportamento da curva demonstra que quando o ângulo de disparo dos tiristores é configurado para estar em 180°, capacitor fixo é responsável pela produção de corrente reativa total, pois o RCT não está operando. Por outro lado, quando o ângulo de disparo dos tiristores está em 90°, o indutor LTCR está totalmente inserido e o SVC se encontra no limite de absorção de corrente reativa. V Vref Limite de absorção BSVC = BCsvc + BL α = 90° Limite de produção BSVC = BCsvc α = 180° ISVC Faixa de controle Capacitivo Figura Indutivo 6 – Característica de operação do SVC A susceptância equivalente fundamental do RCT é uma função do ângulo de disparo α, determinada por (3), enquanto a reatância equivalente do SVC pode ser determinada por (4). BL 2 2 sin 2 (3) XL Onde: BL é a Susceptância do RCT e XL é a Reatância do indutor do RCT. X SVC , L, C ..L 2 sin 2 2 L.C (4) Onde: L é a indutância do SVC do RCT, C é a capacitância do SVC e XSVC é a reatância equivalente do SVC. 2.2 Harmônicos gerados pelo SVC Uma das limitações do SVC são as correntes harmônicas de baixa ordem que surgem através do controle do ângulo disparo dos tiristores. As amplitudes das correntes harmônicas (ILn) em função do ângulo de disparo (α) podem determinadas por (5). 𝑉∙4 sin 𝛼 cos(𝑛𝛼)−𝑛 cos∝sin(𝑛𝛼) 𝐼𝐿𝑛 (∝) = 𝜔𝐿𝜋 { 𝑛(𝑛2 −1) (5) } Onde: 𝑛 = 2𝑘 + 1, 𝑘 = 2, 3, 4, … , L é o valor da indutância do SVC e α é o Ângulo de disparo dos tiristores. A Figura 7 apresenta o comportamento das amplitudes de correntes harmônicas de ordens ímpares, diferentes da fundamental, normalizadas por (L/V), em função do ângulo de disparo (α). A obtenção destas curvas leva em consideração uma rede de tensão senoidal. Amplitude de Harmônica de Corrente Normalizada [%] 15 3a. ordem 5a. ordem 7a. ordem 9a. ordem 11a. ordem 13a. ordem 12 9 6 3 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 Ângulo de Disparo (Graus) Figura 7 – Amplitude das ordens ímpares das componentes harmônicas de corrente normalizadas em função do ângulo de disparo α.[1] 3. Metodologia e resultados obtidos Para a simulação foi utilizado o software Matlab/Simulink. Na configuração demonstrada na Figura 8, temos as medições de correntes no PAC (iPACa, iPACb, iPACc), as medições de tensões no PAC (Va, Vb, Vc), as medições de correntes no SVC (iSVCa, iSVCb, iSVCc) e as medições de correntes na carga (iCa, iCb, iCc). Figura 8 – Circuito esquemático empregado para a simulação. A malha de controle do SVC elaborada com o objetivo de compensação de tensão é apresentada na Figura 9. A malha de controle emprega um compensador do tipo Proporcional - Integral para cada uma das fases. Em situações operacionais em que o sistema é equilibrado, a existência um laço de controle para cada fase poderia ser simplificada. Entretanto, em simulações apresentando características de desequilíbrio de tensão a existência destas é justificada. Figura 9 – Malha de controle de tensão do SVC. Os parâmetros de configuração dos blocos do sistema de controle da malha relacionada com uma das fases são apresentados na Tabela 1. Tabela 1 – Parâmetros da malha de controle. Tensão de referência Vref Ganho Kp Ganho Ki 380V 0,5 300 A Figura 10 apresenta o diagrama de blocos do circuito de geração dos sinais de disparo dos tiristores para cada fase. Cada fase gera os sinais de disparo dos tiristores de forma independente sincronizados com a tensão de linha ao qual estão conectados. Figura 10 – Circuito de disparo e sincronismo dos tiristores do SVC. Os capacitores foram dimensionados para compensar a energia reativa indutiva da carga, e o indutor do RTC foi dimensionado para compensar a energia reativa equivalente aos capacitores. Os valores da capacitância total (Cbanco) e da indutância do RCT (L) podem ser determinados através de (6) e (7), onde Q representa a potência reativa, V é o valor eficaz da tensão de linha e f é a frequência da rede. 𝐶𝑏𝑎𝑛𝑐𝑜 = 𝐿= 𝑄 (6) 2𝜋𝑓𝑉 2 ×3 1 (7) (𝜔)2 𝐶𝑏𝑎𝑛𝑐𝑜 A susceptância fundamental equivalente do RCT em função do ângulo de disparo é mostrada em (3), onde BL é a susceptância do RCT, α é o ângulo de disparo e XL é a reatância indutiva. A Tabela 2 apresenta os parâmetros de potência e de circuito empregados no sistema de energia avaliado. Tabela 2 – Configuração do sistema de energia. Configuração do sistema Carga Balanceada Impedância de Linha Tensão de Linha Potência Reativa Carga Potência Ativa Potência Aparente Capacitor do SVC Indutor SVC L = 5,4mH, R=3,268Ω L=0,23mH; R=0,115Ω 380 V 38,9 kVAr 63,75 kW 72,48 kVA 476,36 µF 295,4 mH O capacitor do SVC foi dimensionado para compensar uma potência reativa de 77,8 kVAr, correspondente ao dobro da potência reativa da carga. A especificação considerando esta relação garante que a possibilidade da compensação da queda de tensão devido à carga e à impedância de linha. De forma análoga, o valor do indutor do SVC é dimensionado para corresponder a uma compensação de um décimo da potência reativa da carga, ou seja, igual a 3,89 kVAr. A rede de energia foi simulada considerando que no instante 0,2 segundos a carga sofre uma alteração, modificada para possuir o dobro do seu valor inicial, e no instante 0,7 segundos o SVC é conectado à rede para compensar a queda de tensão. Os valores do ângulo de disparo do RCT da fase A, da tensão de linha Vab, da potência reativa (Q) e do fator de potência podem ser vistos na Figura 11. Figura 11 – Valores de ângulo alfa, tensão de linha Vab, potência reativa Q e Fator de Potência. É possível notar que o valor do ângulo se estabiliza após alguns segundos. A tensão de linha também se estabiliza e é compensada, chegando ao valor de referência adotado. O fator de potência, apesar de não ser o objetivo do controle, também tem seu valor aumentado. A potência reativa no PAC diminui, pois o SVC está gerando potência reativa capacitiva para a compensação da tensão. A tabela 3 contém os valores antes e após a compensação. Tabela 3 – Resultados obtidos. Ângulo alfa (º) Tensão de linha Vab Potência Reativa no PAC (kVAr) Fator de Potência Sem compensação 180 358 35,15 0,84 Com compensação do SVC 135 380 37,71 0,85 Na figura 12 é possível observar o comportamento das correntes e tensões no PAC antes e após a compensação. Figura 12 –Correntes e Tensões no PAC. A Tabela 4 apresenta os valores resultantes das distorções harmônicas totais de tensão e de corrente após a realização da compensação pelo SVC. É possível notar que o SVC insere no sistema distorção harmônica de corrente. Os limites de distorção harmônica de tensão recomendado pelo IEEE e pela ANNEL [13], não foram ultrapassados. Tabela 4 – Configuração do sistema. Grandeza Valor THDv (%) 0,12% THDi (%) 0,41% 4. Conclusões Este artigo apresentou análises da operação de um Compensador Estático de Reativos (SVC), composto por um Reator Controlado a Tiristor (TCR) e um capacitor fixo (FC), conectado a uma rede de baixa tensão, a fim de avaliar características operacionais vantajosas deste sistema voltado para a regulação de tensão. A operação do SVC insere harmônicos na rede, pois o disparo dos tiristores geram correntes harmônicas de baixas ordens. Entretanto, de acordo com a relação de potências envolvidas entre SVC e carga e impedância de linha, as componentes harmônicas resultantes podem não afetar de forma severa a forma de onda de corrente, mantendo a distorção harmônica total de corrente em níveis baixos. Caso contrário, com o efeito das harmônicas de corrente distorcendo de forma severa a forma de onda de corrente, o emprego de elementos compensadores de harmônicos, por exemplo, filtros passivos ou ativos, poderiam ajudar a atenuar de forma parcial ou integral este efeito. Por fim, conclui-se que o SVC, largamente utilizado em redes de alta e média tensão, mantém suas propriedades em redes de baixa tensão, se mostrando eficiente no controle de tensão, podendo representar uma solução de menor complexidade de implementação e custo para a finalidade de compensação de perfil de tensão, quando confrontada às soluções baseadas em chaveamento em elevadas frequências convencionalmente empregadas para esta finalidade em redes de baixa tensão. 5. Referências [1] N. G. Hingorani, L. Gyugyi, “Understanding Facts: Concepts and Technology of Flexible AC Transmission Systems”, IEEE Series on Power Engineering Society; Mohamed E. El-Hawary, Series Editor, 2000. [2] Balcells, J; Bogonez-Franco, P., " Voltage control in a LV microgrid by means of na SVC" in Industrial Electronics (ISIE), In IECON Proceedings (Industrial Electronics Conference). pp. 6027-6030, 2011. 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