teoria do erro. a liberdade. definição da ideia clara e distinta

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PRINCÍPIOS DA FILOSOFIA
PRINCÍPIOS DA FILOSOFIA
V
Artigos 24 a 28
REVELAÇÃO E LUZ NATURAL.
FINITO, INFINITO E INDEFINIDO. CAUSAS FINAIS
24. Que depois de ter conhecido que Deus é, para passar ao conhecimento das
criaturas, é necessário lembrar que o nosso entendimento é finito e o
poder de Deus infinito.
Depois de assim ter conhecido que Deus existe e que é o autor de tudo o
que é ou que pode ser, seguiremos, sem dúvida, o melhor método de que nos
podemos servir para descobrir a verdade se, do conhecimento que temos da
sua natureza, passarmos à explicação das coisas que ele criou e se
procurarmos deduzi-la das noções que estão naturalmente nas nossas almas,
de tal modo que tenhamos uma ciência perfeita, isto é, que conheçamos os
efeitos pelas suas causas. Mas, a fim de que possamos empreendê-lo com
mais segurança, recordaremos, todas as vezes que quisermos examinar a
natureza de alguma coisa, que Deus, que é o seu autor, é infinito e que nós
somos inteiramente finitos.
25. E que é necessário crer em tudo o que Deus revelou, ainda que esteja
poderíamos imaginar uma extensão tão grande que não concebêssemos, ao
mesmo tempo, que pode haver uma maior, diremos que a extensão das
coisas possíveis é indefinida. E porque não se poderia dividir um corpo em
partes tão pequenas que cada uma dessas partes não possa ser dividida
noutras mais pequenas, pensaremos que a quantidade pode ser dividida em
partes cujo número é indefinido. E porque não podemos imaginar tantas
estrelas que Deus não possa criar mais, suporemos que o seu número é
indefinido, e assim por diante.
27. Que diferença há entre indefinido e infinito.
E chamaremos a estas coisas indefinidas em vez de infinitas, a fim de
reservar apenas para Deus o nome de infinito; tanto porque não notamos
limites nas suas perfeições, como também porque estamos muito seguros de
que os não pode haver. No que diz respeito às outras coisas, sabemos que
elas não são assim absolutamente perfeitas, porque, ainda que nelas
notemos, algumas vezes, propriedades que nos parecem não ter limites, não
deixamos de conhecer que isso procede da imperfeição do nosso
entendimento e não da sua natureza.
28. Que não é necessário examinar para que fim fez Deus cada coisa, mas
somente por que meio quis que fosse produzida.
acima do alcance do nosso espírito.
De tal modo que, se ele fez a graça de nos revelar, a nós ou a alguns de
nós, coisas que ultrapassam o normal alcance do nosso espírito, tais como os
mistérios da Encarnação e da Trindade, não causaremos dificuldade em
acreditá-las, ainda que não as compreendamos, talvez, muito claramente.
Com efeito, não devemos achar estranho que haja na sua natureza, que é
imensa, e no que ele fez, muitas coisas que ultrapassam a capacidade do
nosso espírito.
26. Que não é necessário tentar compreender o infinito, mas somente pensar
que tudo aquilo em que não encontramos nenhum limite é indefinido.
Assim nunca nos embaraçaremos com as disputas acerca do infinito,
visto que seria ridículo que nós, que somos finitos, empreendêssemos
determinar-lhe alguma coisa e, por esse meio, supô-lo finito ao tentar
compreendê-lo. É por isso que não nos preocuparemos em responder
àqueles que perguntam se a metade de uma linha infinita é infinita, e se o
número infinito é par ou não par, e outras coisas semelhantes, porque só
aqueles que imaginam que o seu espírito é infinito parecem dever examinar
tais dificuldades. Pela nossa parte, ao vermos coisas nas quais, segundo certo
sentido, não notamos limites, não garantiremos por isso que são infinitas,
mas considerá-las-emos somente como indefinidas. Assim, porque não
Também não nos deteremos a examinar os fins que Deus se propôs ao
criar o mundo, e rejeitaremos inteiramente da nossa filosofia a procura das
causas finais: porque não devemos presumir tanto de nós próprios que
possamos acreditar que Deus nos tenha querido participar os seus desígnios.
Mas, considerando-o como o autor de todas as coisas, tentaremos somente
encontrar, através da faculdade de raciocinar que ele pôs em nós, como é que
aquelas que apreendemos por intermédio dos nossos sentidos puderam ser
produzidas; e estaremos seguros, por aqueles seus atributos de que ele quis
que tivéssemos algum conhecimento, que aquilo que tivermos uma vez
apreendido, clara e distintamente, como pertencente à natureza dessas coisas
tem a perfeição de ser verdadeiro.
VI
Artigos 29 a 47
TEORIA DO ERRO. A LIBERDADE.
DEFINIÇÃO DA IDEIA CLARA E DISTINTA
29. Que Deus não é a causa dos nossos erros.
E o primeiro dos seus atributos que parece dever ser aqui considerado
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