VICE-REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO E CORPO DISCENTE COORDENAÇÃO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA LÍNGUA PORTUGUESA I Rio de Janeiro / 2006 TODOS OS DIREITOS RESERVADOS À UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO Todos os direitos reservados à Universidade Castelo Branco - UCB Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, armazenada ou transmitida de qualquer forma ou por quaisquer meios - eletrônico, mecânico, fotocópia ou gravação, sem autorização da Universidade Castelo Branco - UCB. U n3p Universidade Castelo Branco. Língua Portuguesa I. – Rio de Janeiro: UCB, 2006. 36 p. ISBN 85-86912-09-3 1. Ensino a Distância. I. Título. CDD – 371.39 Universidade Castelo Branco - UCB Avenida Santa Cruz, 1.631 Rio de Janeiro - RJ 21710-250 Tel. (21) 2406-7700 Fax (21) 2401-9696 www.castelobranco.br Responsáveis Pela Produção do Material Instrucional Coordenadora de Educação a Distância Prof.ª Ziléa Baptista Nespoli Coordenador do Curso de Graduação Denilson P. Matos - Letras Conteudista Neyde Lúcia de Freitas Souza Atualizado por Denilson P. Matos Supervisor do Centro Editorial – CEDI Joselmo Botelho Apresentação Prezado(a) Aluno(a): É com grande satisfação que o(a) recebemos como integrante do corpo discente de nossos cursos de graduação, na certeza de estarmos contribuindo para sua formação acadêmica e, conseqüentemente, propiciando oportunidade para melhoria de seu desempenho profissional. Nossos funcionários e nosso corpo docente esperam retribuir a sua escolha, reafirmando o compromisso desta Instituição com a qualidade, por meio de uma estrutura aberta e criativa, centrada nos princípios de melhoria contínua. Esperamos que este instrucional seja-lhe de grande ajuda e contribua para ampliar o horizonte do seu conhecimento teórico e para o aperfeiçoamento da sua prática pedagógica. Seja bem-vindo(a)! Paulo Alcantara Gomes Reitor Orientações para o Auto-Estudo O presente instrucional está dividido em quatro unidades programáticas, cada uma com objetivos definidos e conteúdos selecionados criteriosamente pelos Professores Conteudistas para que os referidos objetivos sejam atingidos com êxito. Os conteúdos programáticos das unidades são apresentados sob a forma de leituras, tarefas e atividades complementares. As Unidades 1 e 2 correspondem aos conteúdos que serão avaliados em A1. Na A2 poderão ser objeto de avaliação os conteúdos das quatro unidades. Havendo a necessidade de uma avaliação extra (A3 ou A4), esta obrigatoriamente será composta por todos os conteúdos das Unidades Programáticas 1, 2, 3 e 4. A carga horária do material instrucional para o auto-estudo que você está recebendo agora, juntamente com os horários destinados aos encontros com o Professor Orientador da disciplina, equivale a 60 horas-aula, que você administrará de acordo com a sua disponibilidade, respeitando-se, naturalmente, as datas dos encontros presenciais programados pelo Professor Orientador e as datas das avaliações do seu curso. Bons Estudos! Vania Alcantara Coordenadora Acadêmica de Educação a Distância Dicas para o Auto-Estudo 1 - Você terá total autonomia para escolher a melhor hora para estudar. Porém, seja disciplinado. Procure reservar sempre os mesmos horários para o estudo. 2 - Organize seu ambiente de estudo. Reserve todo o material necessário. Evite interrupções. 3 - Não deixe para estudar na última hora. 4 - Não acumule dúvidas. Anote-as e entre em contato com seu monitor. 5 - Sempre que tiver dúvidas entre em contato com o seu monitor através do e-mail [email protected]. 6 - Não pule etapas. 7 - Faça todas as tarefas propostas. 8 - Não falte aos encontros presenciais. Eles são importantes para o melhor aproveitamento da disciplina. 9 - Não relegue a um segundo plano as atividades complementares e a auto-avaliação. 10 - Não hesite em começar de novo. SUMÁRIO Quadro-síntese do conteúdo programático............................................................................................................... 11 Contextualização da disciplina .................................................................................................................................... 12 UNIDADE I LÍNGUA E LINGUAGEM 1.1 - Conceituação e função social da língua ......................................................................................................... 1.2 - O processo de comunicação e elementos do ato comunicativo ............................................................... 13 14 UNIDADE II O SIGNO LINGÜÍSTICO E AS VARIAÇÕES LINGÜÍSTICAS 2.1 - Língua, fala e escrita .......................................................................................................................................... 2.2 - Estrutura do signo lingüístico ..................................................................................................................... 2.3 - Variações lingüísticas ........................................................................................................................................... 18 19 19 UNIDADE III GRAMÁTICA, USO E NORMA 3.1 - Gramática: descrição e norma ............................................................................................................................ 3.2 - Norma padrão e norma não-padrão ................................................................................................................. 23 24 U NIDADE IV UNIDADE ASPECTOS DE PRODUÇÃO TEXTUAL 4.2 - Correção gramatical .............................................................................................................................................. 26 26 Glossário .......................................................................................................................................................................... 30 Gabarito .......................................................................................................................................................................... 34 Referências bibliográficas ......................................................................................................................................... 35 4.1- Aspectos básicos de coesão e coerência ......................................................................................................... Quadro-síntese do conteúdo programático Unidades de Programa Objetivos 1 - Língua e Linguagem Conceituar língua e compreender sua função social. 2 - O Signo Lingüístico e as Variações Reconhecer a língua portuguesa nas suas modalidades falada e escrita. Lingüísticas 3 - Gramática, Uso e Norma Conceituar gramática, uso e norma. 4 - Aspectos de Produção Textual Empregar adequadamente elementos de correção gramatical. 11 12 Contextualização da Disciplina O estudo de uma língua é importante para qualquer pessoa que deseje reconhecer o mundo a sua volta e reconhecer-se. Afinal, as relações sociais se dão através da linguagem (verbal ou não), codificada em uma língua. Assim, todo cidadão pode, através dela, manifestar-se socialmente. Desta feita, qualquer indivíduo que domine este código terá maiores chances de alcançar melhores lugares. No caso da língua portuguesa não é diferente. Todas as necessidades sociais podem ser atenuadas quando se tem maior domínio do vernáculo. Ao ler-se uma bula, ao exigir-se direitos do consumidor, ao conversar com o chefe ou em uma entrevista de trabalho, terá destaque aquele que demonstrar domínio lingüístico. Isso é um fato. E é por isso que o estudo da língua (estrutura, uso, história, etc.) fascina a todos que dedicam tempo a tal empreitada desde a idade antiga e, principalmente, a partir do final do século XIX, com a criação da ciência da Linguagem (Lingüística). Na mesma direção pode-se afirmar que qualquer disciplina, exata ou não, precisa de língua (código) para manifestar-se. Não é por acaso que professores de matemática afirmam que na maioria das vezes a dificuldade dos alunos para resolverem um problema matemático, não é o cálculo, mas a capacidade de ler e entender o texto que apresenta o problema. Assim, como apoio, como intermédio, como caminho, a língua portuguesa lida com todas as áreas de conhecimento. UNIDADE I 13 LÍNGUA E LINGUAGEM 1.1- Conceituação e Função Social da Língua A história da comunicação se inicia com os sons guturais trocados entre os homens pré-históricos. Desde o período mais remoto da existência do homem na Terra, ele manifesta seu instinto gregário e estabelece regras básicas de vida em grupo a partir da criação efetiva de meios que permitissem a comunicação entre os membros de um mesmo grupo, tornando-os instrumento comum de expressão de suas idéias, emoções e sentimentos. Exprimindo-se inicialmente por meio de sons elementares, gestos, imitação de animais e desenhos, o homem desenvolveu algo que o faz ser diferente dos outros animais: a linguagem verbal, necessária à comunicação com seu grupo. Travaglia (2004: 21) diz que a “capacidade de usar a língua é característica e caracterizadora da raça humana”. A linguagem verbal é a matéria do pensamento e o veículo de comunicação social, portanto, assim como não há sociedade sem linguagem, não há sociedade sem comunicação. Nas cavernas em que viveram os homens primitivos, descobriram-se desenhos de animais, cenas de caçadas, figuras variadas gravadas nas paredes das rochas (desenhos rupestres). Surgia o código iconográfico (de ícone = imagem+gráfico = escrito), que deve ter dado origem à língua escrita. Alguns povos antigos usavam, para escrever, os ideogramas, isto é, sinais que representavam objetos e que, ainda hoje, são modelos de escrita, como, por exemplo, o da escrita chinesa. “Mas a evolução trouxe a fonetização da escrita, passando-se ao uso de sinais que representam não os objetos, mas os sons. Daí à escrita silábica foi um passo. Em seguida, os indo-europeus chegaram à escrita alfabética, que os gregos aperfeiçoaram através da vocalização. Hoje, embora as línguas ocidentais apresentem diferenças significativas de som, usam todas o mesmo alfabeto básico. O tipo das letras, contudo, varia bastante” (Cândida Georgopoulos). Assim, durante muitos séculos toda a transmissão da cultura se assentou na oralidade e na representação simbólica ou pictórica, até a invenção de uma forma mais precisa de registrar a história dos próprios grupos: a escrita. Entre os códigos e signos, o homem aperfeiçoou a língua escrita, os códigos artísticos, criou o método Braille e o Morse e descobriu a existência de outros meios de comunicação. O registro dos fatos através do código escrito constitui-se em marco fundamental para qualquer povo, estabelecendo o início da sua História propriamente dita. A linguagem verbal (verbo = palavra) é a mais rica e mais completa das formas de comunicação. A música, com sons; a pintura, com as cores e as formas; a arquitetura, com as linhas; a mímica, com o gesto, o jogo fisionômico, a expressão corporal, também comunicam, mas provocam, sobretudo, reações emocionais. A comunicação verbal vai além do mundo emocional e opera com o mundo das idéias. Quando falamos, exprimimos os nossos estados mentais através de um sistema de signos vocais chamado língua. Essa capacidade que o homem tem de se comunicar através de um sistema de signos vocais (língua) chama-se linguagem. Língua não se confunde com linguagem. A língua faz parte da linguagem. A língua é um produto social da linguagem e um conjunto de convenções necessárias adotada pelo corpo social que permite a comunicação entre os indivíduos do mesmo grupo. Para Saussure (nome importante dos estudos lingüísticos do século XX), a linguagem é “heteróclita e multifacetada”, pois abrange vários domínios; é ao mesmo tempo física, fisiológica e psíquica; pertence ao domínio individual e social, enquanto a língua é um objeto unificado e suscetível de classificação, sendo também exterior ao indivíduo; não pode ser modificada por ele, pois obedece às leis de contrato social estabelecidas pelos membros da comunidade (apud FIORIN, 2005: 14). 14 A língua pode ser chamada de nacional ou comum. Assim a língua comum da França é o francês, no Japão é o japonês. Existem casos diferenciados, como na Suíça em que há três línguas nacionais, por outro lado a língua portuguesa é língua nacional de Portugal e Brasil. Segundo Saussure, a língua é social e essencial, sendo gravada pelo indivíduo de maneira passiva e não intencional (mecanismo de interiorização). A fala, por sua vez, é individual e acidental, constituindo-se em ato da vontade e da inteligência que implica escolha de dentro da língua ou código (mecanismo de exteriorização). O desenvolvimento da língua como código comum e necessário à comunicação ocorreu a partir de sua característica de expressar o próprio processo do pensamento. Se o pensamento evolui em sua elaboração, naturalmente sua expressão tem que se adaptar para representá-lo. Segundo Wittgenstein, “não é pensável nem exprimível aquilo que não for um fato do mundo, pois a linguagem é a figuração lógica do mundo, não existindo nenhum campo que funcione como mediador entre o mundo e a linguagem. O pensamento e linguagem se equivalem, têm a mesma extensão”. Esse processo evolutivo da língua tem grande importância porque retratando a realidade – o momento histórico, composto do político, do social, do econômico, entre outros, como a própria cultura e a arte – documenta o estágio de evolução das sociedades. Neste sentido, o universo da Escola, com a sistematização e a organização dos conhecimentos muitas vezes de forma estanque, artificialmente compartimentadas nas disciplinas ou áreas de estudo, é bem restrito se comparado à forma livre da vida. Como agente de transmissão de um saber constantemente acrescido ao já acumulado pelas gerações anteriores. Assim, a Escola deve capacitar o aluno a dominar criticamente seus conteúdos, tornandoo um falante cada vez mais apto criticamente a fazer opções adequadas e resolver situações novas. Cabe também à Escola possibilitar ao aluno o exercício da expressão, a fim de que – desenvolvendo sua capacidade de elaboração do pensamento – este sujeito falante, enriqueça cada vez mais a linguagem como forma de expressão. O domínio amplo desse código, decorrente da necessidade de nomear novos elementos, leva o aluno à constante incorporação de termos já existentes na língua ou neologismos, visto que a linguagem utilizada por qualquer indivíduo (a língua é social, mas a linguagem é individual) reflete o nível de desenvolvimento de seu próprio pensamento – com sua lógica, clareza e precisão. Na mesma direção, Bechara alerta que o falante dever ser poliglota em sua própria língua, isto é, o falante deve ter habilidade com a língua para usá-la nos mais diferentes contextos de uso. Para Geraldi saber a língua é “dominar as habilidades de uso da língua em situações concretas de interação, entendendo e produzindo enunciados adequados aos diversos contextos, percebendo as dificuldades entre uma forma de expressão e outra” (2000: 89). Nesse sentido, é importante lembrar que a linguagem oral e escrita, como criação cultural humana, interfere no desenvolvimento cognitivo e nas relações sociais de cada indivíduo. Sendo assim, torna-se indispensável à atuação da escola no sentido de integrar a criança a uma sociedade letrada que se comunica cada vez mais da linguagem escrita. A Escola deve ampliar a possibilidade de participação do aluno, fornecendo instrumentos para sua interferência na realidade, de forma crítica e segura. 1.2 – O Processo de Comunicação e os Elementos do Ato Comunicativo O processo de comunicação se realiza, normalmente, com riqueza e diversificação de recursos: a palavra escrita e falada (o verbal); os símbolos, notações, sinais ( não-verbal, gráfico); a expressão do corpo, os sons; o próprio corpo, objetos e demais elementos da natureza (não-verbal, não-gráfico). Esses recursos constituem o código, o “material” da comunicação que se vale de signos próprios na transmissão das mensagens. A pintura usa cores e linhas, combinadas pelo artista que transmite sua visão de mundo pessoal. A pintura corporal, nos rituais indígenas, representa crenças e mitos da comunidade. As placas de trânsito são símbolos gráficos convencionados internacionalmente. Para uma boa comunicação é necessário, pois, identificar e compreender a especificidade – vocabular, temática ou outra – da informação. Se a mensagem que se deseja transmitir não atingir seu destinatário através de seu conteúdo nocional original, o processo terá falhas que deverão ser detectadas e corrigidas de imediato. Se houver falhas, ruídos, a mensagem não atingirá seu destinatário, portanto não haverá comunicação. De grande auxílio nesse momento é o elemento referencial, que estabelece o fecho no circuito da comunicação, funcionando como esclarecedor, situando a informação no seu contexto específico. O elemento referencial (a realidade de que se fala) é um dos componentes do processo de comunicação em que o sujeito emissor elabora a mensagem (essência da comunicação) a ser transmitida segundo certo código que, forçosamente, terá que ser comum, conhecido por emissor e receptor. A mensagem se transmite por um determinado canal ( meio físico transportador da mensagem) que permite sua chegada ao receptor. A dinâmica do processo faz com que esse receptor, ao exprimir sua resposta ao estímulo liberado na primeira mensagem, transforme-se então no novo sujeito emissor, e assim sucessivamente. Na Escola, essa dinâmica de troca de interlocutor se verifica a cada momento nas relações professor-aluno. O processamento da comunicação, mediante emissão, transmissão e recepção de mensagens, pode receber interferências diversas que impeçam a comunicação ou alterem seu nível de qualidade por meio de ruídos, distração do sujeito, queda de freqüência de um transmissor ou utilização de código parcialmente desconhecido, constituindo-se em elemento perturbador de natureza física, afetiva ou cultural. Como conseqüência, a mensagem original codificada pelo emissor chega ao seu destino de uma forma incorreta ou parcial, podendo tornar-se uma outra, ou uma nova mensagem. Vamos agora identificar os elementos básicos que compõem o ato comunicativo, considerando o trecho abaixo (a fala de um professor de português, durante a aula): “Os falantes de uma língua têm domínio suficiente da mesma para se comunicar” Reconhecemos os seguintes elementos: EMISSOR - professor de português RECEPTOR - leitores CÓDIGO - língua portuguesa MENSAGEM - a fala do professor CANAL - o ar (que permite que o som se propague) REFERENTE - a informação sobre a capacidade do falante em se comunicar Acrescente-se o elemento denominado “RUÍDO” ou “INTERFERÊNCIA”, que pode ocorrer, acarretando prejuízo ou mesmo impedindo a comunicação. No caso presente, poderia influir a má impressão do artigo, através do emprego de letras apagadas ou manchadas, por exemplo. Numa conversa telefônica, poderia concorrer um ruído, o que forçaria o emissor a falar mais alto ou levaria o receptor a repetir: “Não estou ouvindo! Fale mais alto!” Observe, então, que além do emissor, do receptor e do código, identificamos ainda o canal como veículo condutor daquilo que é transmitido (a linha telefônica), isto é, a mensagem, que diz ou se refere a alguma coisa (o referente). Até o presente momento nada se pode provar sobre um modo de expressão animal que, mesmo de forma elementar, possua as características e funções da linguagem humana. Os animais que emitem sons característicos não chegam a transmitir mensagens “faladas”, faltando condições fundamentais para comunicação lingüística. O código de sinais utilizado pelas abelhas operárias para indicar às companheiras onde se encontra o alimento e a comunicação entre os golfinhos, por exemplo, não podem ser considerados como linguagem porque não permitem decomposição. Não sendo analisáveis, não levam ao diálogo nem conhecem respostas, condições essenciais à efetivação da linguagem humana. “Só podemos manejar uma fala quando a destacamos na língua; (...) a língua só é possível a partir da fala: historicamente, os fatos de fala precedem sempre os 15 16 fatos de língua. A língua é, em suma, o produto e o instrumento da fala, ao mesmo tempo” (Barthes, R., citando Brondal). Recapitulando: Linguagem é a utilização oral (fala) ou escrita da língua. Mais genericamente, linguagem seria qualquer sistema de sinais de que se valem os indivíduos para se comunicarem. Língua – “O conjunto das palavras e das expressões usadas por um povo, por uma nação, e o conjunto de regras de sua gramática; idioma”. pessoas. A forma de expressão pela linguagem própria de um indivíduo, de um grupo, de uma classe etc.; linguagem infantil,; linguagem erudita; a linguagem de um documento jurídico. O vocábulário específico usado numa ciência, numa arte, numa profissão etc.; língua”. Lingüística – “A ciência da linguagem e, em particular, da linguagem articulada”. Aurélio B. de Holanda Ferreira Os conceitos de língua, linguagem, fala ou discurso, didaticamente separados, englobam o material que vem a constituir o fenômeno da comunicação humana. Linguagem – “O uso da palavra articulada ou escrita como meio de expressão e de comunicação entre Exercícios de Auto-Avaliação 1 – Atenção ao diálogo abaixo: Professor: Escusado dizer que a eficiência consiste no extirpar-lhes a moléstia que os acomete: preguiça. Aluno: Qual é a da parada, fessô? Professor: Mas eu não parei ainda! a) Discuta a distinção entre língua e linguagem a partir do diálogo acima: b) Comente sobre o ‘ruído’ ou ‘ interferência’ de acordo com o estudo feito no tópico ‘2’. 2- Leia a tira abaixo: A partir da tira acima, comente a frase de Aristóteles: “Somente o homem é um animal político, isto é, social e cívico, porque somente ele é dotado de linguagem”, levando em consideração os objetivos que pretende alcançar o autor da tira. 3- Com base no que foi estudado, identifique os elementos componentes nos atos de comunicação a seguir: A- Um político falando pela televisão: “Garanto ao povo brasileiro que este ano tudo vai ser diferente”. B- Um locutor de rádio: “Caros ouvintes da rádio Camanducaia, muito obrigado pela atenção dispensada.” C- O inspetor de exame: “Atenção, candidatos: queiram entrar nas salas do primeiro andar”. 4 – Imagine a seguinte situação: Um anúncio de emprego determina, como critério de avaliação de candidatos, o desempenho em prova de redação e entrevista pessoal.Você considera que quem escreve e fala “melhor” será um funcionário mais capaz? Justifique sua resposta a partir dos conteúdos transmitidos e levando em consideração a frase de Gnerre: “a linguagem constitui o arame farpado mais poderoso de acesso ao poder”. 5- “ (...) o sucesso da educação lingüística é transformar ‘o aluno’ num ‘poliglota’ dentro de sua própria língua nacional (...)”. Evanildo Bechara Partindo do comentário do gramático Evanildo Bechara, o estudante deve ter em mente que seu aprendizado de língua portuguesa deve estar enquadrado às realidades sociais em que esta se realiza, observando que, às vezes, o domínio da norma culta pode ser decisivo. Diante do exposto, imagine que um candidato redija uma carta para o diretor de uma empresa, solicitando um estágio. Ao retirarmos um trecho desta carta, a opção que melhor se enquadra ao contexto é: (a) “moço, preciso uma oportunidade de quaisquer jeito, sei que houveram vagas para preencher” (b) “Vossa Senhoria, preciso de qualquer modo de uma oportunidade, sei que há vagas para preencher” (c) “Vossa reverendíssima, preciso de qualquer modo uma oportunidade, soube que houveram vagas para serem preenchidas” (d) “Vosso Senhorio, preciso de uma oportunidade de quaisquer modo, sei que há vagas para preencher” (e) “Vossa Senhoria, preciso de uma oportunidade de qualquer modo, sei que hão vagas para serem preenchidas” 6 – Leia a crônica “O gigolô das palavras” de Luís Fernando Veríssimo que poderá ser encontrada no livro Língua e liberdade de Celso Pedro Luft (bibliografia básica) e responda qual é a posição do autor sobre o uso da língua e a atividade comunicativa. Atividade Complementar Selecione e recorte um artigo de jornal. Situe-o no jornal e diga: · de que se trata; · por que o escolheu; · o que acrescentou aos seus conhecimentos. Não esqueça! Caso você tenha encontrado dificuldades na solução dos exercícios e atividades propostos, procure seu tutor. 17 18 UNIDADE II O SIGNO LINGÜÍSTICO E AS VARIAÇÕES LINGÜÍSTICAS 2.1– Língua, Fala e Escrita Cada vez que falamos, fazemos uso do código geral que é a língua portuguesa. Isto não quer dizer, entretanto, que todas as pessoas falem exatamente igual. Apesar da obediência ao código (língua), podemos combinar de modo pessoal o material lingüístico que ele põe à nossa disposição e, dessa forma, criar a fala, ou seja, o uso que cada pessoa faz do código lingüístico. Nesse sentido, é interessante salientar que a escrita tem caráter de preservação da língua, pois “a língua evolui sem parar, ao passo que a escrita permanece imóvel” (SAUSSURE, 1975:37). Saussure afirma que “a linguagem tem um lado individual e um lado social, sendo impossível conceber um sem o outro”. São esses lados a langue (língua) e a parole (fala), sendo a língua homogênea, social e psíquica, enquanto a fala heterogênea, individual e física (1975: 27). Seja a linguagem oral ou escrita, ela é uma criação cultural humana, e interfere no desenvolvimento cognitivo e nas relações sociais de cada indivíduo. A língua se realiza através da fala, a linguagem se realiza na língua. Saussure acrescenta que a “a língua é necessária para que a fala seja inteligível e produza todos os seus efeitos; mas esta é necessária para que a língua se estabeleça” (1975: 27). É fato que a comunicação entre as pessoas se dá muito mais através da fala, contudo não se pode deixar de lado o ato comunicativo expresso através da escrita, que tem importância indiscutível numa sociedade grafocêntrica. A fala e a escrita são duas modalidades de uso da língua, possuindo cada uma delas características próprias. Saussure acrescenta “a língua tem, pois, uma tradição oral independente da escrita e bem diversamente fixa; todavia, o prestígio da forma escrita nos impede de vê-la” (1975:35). Não se trata de valorizar ou desvalorizar uma modalidade outra, mas antes evidenciar que: A fala (enquanto manifestação da prática oral) é adquirida naturalmente em contextos informais do dia-a-dia e nas relações sociais e dialógicas que se instauram desde o momento que a mãe dá seu primeiro sorriso ao bebê (...). Por outro lado, a escrita (enquanto manifestação formal do letramento), em sua faceta institucional, é adquirida em contextos formais: na escola. Daí também seu caráter mais prestigioso como bem cultural desejável (MARCUSCHI, 2004:18). A escrita é o resultado de um processo, portanto estática, ao passo que a fala é processo, portanto dinâmica. O uso particular que cada falante faz da língua pode variar bastante, segundo seu nível de instrução, condição socioeconômica, idade, região e a situação em que se produz o ato da fala. Uma criança não fala igual a um adulto; um professor em sala de aula não fala como se estivesse em casa conversando com a família; um analfabeto certamente não fala como um médico; um nortista não fala exatamente como um sulista etc. Por outro lado, é preciso não esquecer que os signos devem ser combinados com certa ordem para que ganhem significados. Às vezes, pode-se combiná-los de várias formas sem que o significado da mensagem se perca. Ex.: Ele chegará mais tarde provavelmente. Provavelmente, ele chegará mais tarde. Ele, provavelmente, chegará mais tarde. Entretanto, uma construção do tipo ‘Chegará provavelmente tarde ele mais’ é inaceitável, pois, contrariando as regras de combinação da língua portuguesa, não foi capaz de gerar significado. Em síntese, a língua é um sistema de signos organizados a partir de certas combinações. É um sistema de caráter social, embora só se concretize nos atos da fala produzidos por cada falante. Os signos lingüísticos, por sua vez, apresentam aspectos distintos: um material (significante), um conceitual (significado) e um puramente convencional, a relação existente entre eles (referente ou referencial). 2.2 – Estrutura do Signo Lingüístico Vejamos como funciona: poderemos ter para o signo lingüístico “casa” diferentes significantes house [haus] em inglês ou maison [måzo] em francês e [kaza] em português, contudo manterá nas diferentes línguas o mesmo significado. De acordo com Martinet “um enunciado como tenho uma dor de cabeça, ou uma parte desse enunciado que faz sentido, como tenho uma dor ou dor ou cabeça, denomina-se por signo lingüístico” (apud MAROTE e FERRO, 1994:10). Observemos como esse fenômeno se dá no dia-adia: quando numa atividade esportiva escolar, em meio a um jogo de vôlei, faz-se ouvir o som de um apito, os alunos imediatamente “reagem” paralisando a jogada; o professor que emitiu o sinal – a mensagem: Pare! – supõe que seus alunos (os receptores) dominem o código desse esporte (som da arbitragem, regras do jogo). A imagem sonora ou acústica (o apito), no caso em questão, é o significante - a ele corresponde automaticamente uma noção que lhe é inerente, indissociável, seu significado, a realidade do jogo, “o pano de fundo” do momento, denota seu referente ou referencial: as três faces do signo lingüístico. Esse circuito contínuo estabelecido de uma imagem (sonora, visual, gestual, gráfica, olfativa, tátil...) associada a uma idéia, um conceito ou um nome e situada em determinada realidade é a base da denotação, da significação primeira. Dela podem decorrer outras significações, oriundas de processos diversos, resultando na conotação. Na situação exemplificada, o Pare como decorrência do toque na rede, não permitido pela regra do jogo de vôlei, levaria à associação da imagem sonora rede ao objeto necessário ao referido jogo. Sem a especificação do referencial jogo, vários outros significados poderiam ser associados ao significante rede, como, por exemplo, malhas utilizadas para apanhar peixes ou insetos, ou ainda para prender cabelos; conjunto de meios de comunicação ou de informação (rede de TVs Educativas) ou conjunto de estabelecimentos, agências, prestadoras de serviços (rede bancária); canalização de água, de esgoto de uma cidade; tipo de leito, feito de tecido, muito popular no Norte e Nordeste do país. A um significante não mais corresponderia um significado, mas vários, pelos variados referenciais (polissemia). O poder simbólico da palavra estaria evidenciado, em suas múltiplas capacidades de representação ou evocação da realidade, através, sobretudo, da releitura ou leitura múltipla. Portanto, um signo lingüístico por si só, sem um referencial (contexto), torna-se neutro. Observe: O signo lingüístico “papagaio” tem como significante [papagaio], contudo terá várias possibilidades de significados: · ave, espécie dos psitaformes ou psitacídeos · pessoa tagarela · brinquedo feito de armação de bambu coberto por papel fino Muitas vezes a variação do significado dependerá de questões de ordens geográficas, socioculturais ou de estilo (expressividade). 2.3 – Variações Lingüísticas Pertencendo a comunidades ou grupos sociais, a língua só pode ser por eles modificada. Cada indivíduo, porém, pode utilizar a língua segundo sua vontade, o que dá origem à fala ou discurso, que deve conter significação, servindo ao ato de comunicar. O código da língua é codificado pelo emissor (“arrumado” com determinada intenção) e decodificado pelo receptor (entendido ou analisado). Não há língua que seja em toda a sua amplitude, um sistema uno, invariável, rígido. No entanto, é certo que toda língua tem um caráter uno — as regras que garantem entendimento entre falantes de diferentes grupos de uma mesma língua nacional. E por outro lado a língua tem variedades que são reveladas quando é posta em uso por diferentes grupos. As variáveis lingüísticas internas a uma língua podem ser agrupadas em três tipos: • regionais ou geográficos: dialeto ou falar (língua de menor alcance geográfico que a nacional), também chamada de diatópica: Que fome arretada! Ele vai não, por exemplo; • de níveis socioculturais: culto, popular (também chamada de diastrática/estrato social); • de modalidades expressivas ou de estilo: escrita, literária, oral; jornalística, feminina (conhecida também por diafásica). Essa compreensão das diversidades – devida ao avanço dos estudos lingüísticos – alterou o rígido 19 20 conceito de erro e acerto no uso de uma língua, já que esta expressa a organização do pensamento, a partir da realidade dos seus usuários. Não se deve, portanto, considerar uma variedade superior à outra, mas antes compreender as diferenças em suas formas de construção. De acordo com Bakthin (apud JUNQUEIRA, 2003: 71) “todas as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam, estão sempre relacionadas com a utilização da língua” e por isso “não é de se surpreender que o caráter e os modos dessa utilização sejam tão variados como as próprias esferas da atividade humana”. Pertencendo ao domínio social – ela é de todos os falantes – a língua não se pode furtar, entretanto, o papel de instrumento segregador para os que a desconhecem; as várias línguas existentes também constituem uma barreira à comunicação dos povos como um todo. Além disso, mesmo no interior de um grupo que utilize a mesma língua, as linguagens diferem, denunciando, inclusive, níveis sociais diversos dos sujeitos falantes; um maior ou menor acesso às instituições escolares. Assim, a linguagem específica do agricultor ou da cozinheira difere daquela usada pelo médico ou pelo bancário. Existem outros aspectos dentro da língua, determinados, sobretudo, por regionalismos, modismos e até pela idade do sujeito falante ou ainda o jargão, a gíria profissional, característicos de setores de atividades: numa conversa entre mecânicos de automóvel ou entre enfermeiros, por exemplo, não há necessidade de explicações suplementares para que haja entendimento. integrantes do grupo é fenômeno inerente às línguas, ocorre naturalmente. A palavra caseiro pode oferecer duas acepções: aquele que toma conta de uma casa (substantivo) e o indivíduo que gosta tanto de ficar em casa que evita sair (adjetivo). Seu signo lingüístico leva à formação de conceitos psicológicos nos quais a imagem de casa está involuntariamente presente. A palavra casinha, porém, que em linguagem afetiva significa simples, despretensiosa, recebe em certos locais do país o conceito de instalação sanitária, sem o lirismo presente na acepção anterior: “Tu não te lembras da casinha/Pequenina/Onde osso amor nasceu?”(canção popular brasileira) A comunicação mediante um linguajar próprio, hermético, não é, pois, privilégio de quem passa pela Escola. A partir da compreensão dos significados – da semantização – pertinentes a cada área de conhecimento, será possível promover seu interrelacionamento, ou seja, sua leitura nos diversos contextos, nas diferentes áreas, sempre partindo repita-se – da realidade. Como exemplo, tomemos o elemento fônico ou sonoro (o significante) /seboliña/ que corresponde à grafia “cebolinha”. Para um mecânico de automóvel, será uma peça; para o público infantil, representará uma personagem de sua literatura; para quem pratica a culinária, poderá ser um tipo de tempero longo, ou ainda uma cebola pequena. Assim, o usuário da língua pode incorporar esses novos significados à prática do seu cotidiano, que lhe exige comunicar seu pensamento, integrar-se ao grupo, situar-se, calcular, jogar, sentir, criar, viver, enfim. A existência de significação específica a cada nível de linguagem dominada pelos sujeitos falantes Exercícios de Auto-Avaliação 1 – Combine as frases a seguir de outra maneira, sem comprometer a comunicação: “ Eu te peço perdão por te amar de repente” (Vinicius de Moraes). “Eu faço versos como quem chora” (Manuel Bandeira). “De minha varanda vejo, entre árvores e telhados, o mar” (R. Braga). “Perdi o bonde e a esperança” (Carlos Drummond de Andrade). “A minha alma partiu-se como um vaso vazio” (Fernando Pessoa). 2 – Considerando a conceituação do signo lingüístico, complete: significante significado referencial via secundária à esquerda código de trânsito a) /m e z a/ ou ................................... .............................. b) / m ã g a/ ................................... ............................. 3- Considerando a conceituação de signo lingüístico, explique significante, significado e referencial a partir da figura abaixo. 4 – De acordo com os vários referenciais, dê significados para os significantes: a) /e s k a l a/ b) regência 5 – Leia: Neologismo Beijo pouco, falo menos ainda. Mas invento palavras Que traduzem a ternura mais funda E mais cotidiana. Inventei, por exemplo, o verbo teadorar. Intransitivo: Teadoro, Teodora. ( Manuel Bandeira) Comente o neologismo criado pelo poeta no aspecto formal e no aspecto semântico (do sentido). 21 22 6 – Leia a tira: a) A partir da tira acima, discuta sobre variedade lingüística, levando em consideração os três tipos de ‘variáveis lingüísticas’ estudadas nessa unidade. b) Observando a última fala do robô “Pra começar não me dirija a palavra em lugares públicos”, comente qual é o opinião dele sobre a linguagem utilizada pelo motorista, considerando o fato de a língua ‘ser instrumento segregador para os que a desconhece’. Atividade Complementar Assista a um dos seguintes filmes: “O Quatrilho” “Kramer x Kramer” “Dona Flor e seus dois maridos” 1 – Faça um resumo da história ou enredo. 2 – Comente: o tempo (a época e o que permite identificá-lo); o espaço (interno ou externo). 3 – Qual o papel da mulher na instituição casamento? 4 – É possível observar aspectos de variação lingüística entre as várias personagens do filme (seja no aspecto diastrático, diafásico ou diatópico). UNIDADE III 23 GRAMÁTICA, USO E NORMA 3.1- Gramática: Descrição e Norma A Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB) emprega a palavra gramática com o sentido de uma disciplina de natureza didática que tem como fim codificar as regras da língua culta. A gramática compreende o conjunto de regras que especificam os padrões (fonológicos, morfológicos, sintáticos e semânticos) de funcionamento de uma língua. Segundo Antunes, “toda língua tem uma gramática ou, noutra perspectiva, toda gramática regula os modos de realização da língua a que pertence” (apud BAGNO, 2002: 129). Contemporaneamente, numa divisão pedagógica, poderíamos estabelecer a existência de dois tipos de gramática: a gramática natural e a gramática teorética. Sendo a primeira inerente a qualquer língua, um todo sistêmico, preparado, combinado que não pode ser tocado, e a segunda uma tentativa hipotética de traduzir a gramática natural. A gramática teorética abrange por um lado o estudo normativo (gramática normativa - é prescritiva, dita o que julga ser correto) e por outro, o estudo descritivo (gramática descritiva - não atribui juízo de valor, apenas analisa). Na visão de Possenti, a gramática normativa é “conjunto de regras que devem ser seguidas”, são compêndios destinados a fazer com que seus leitores aprendam a “falar e escrever corretamente”, apresenta um conjunto de regras, “relativamente explícitas e relativamente coerentes” (2004: 64). Este é o tipo de gramática que prescreve o uso, recomenda como usar e proíbe determinados usos na língua (ex.: Não se podem usar pronomes oblíquos em início de frases, ou ainda, o verbo assistir é transitivo indireto no sentido de ver, presenciar, portanto precisa da preposição ‘a’). Já a gramática descritiva, Possenti define como “conjunto de regras que são seguidas — é a que orienta o trabalho dos lingüistas, cuja preocupação é descrever e/ou explicar as línguas tais como elas são faladas” (2004: 65). Este tipo explica o funcionamento e descrição da língua, estando aberta a qualquer dialeto ou registro da língua (ex.: Numa perspectiva descritiva, constata-se que, no português de hoje, existem pelo menos três maneiras de dizer ‘eles puseram’: eles puseram, eles pusero e eles pôs). A gramática natural é chamada de ‘gramática internalizada’ por Possenti, e ele a define como o “conjunto de regras que o falante domina” e que lhe permite “produzir frases ou seqüências de palavras que são compreensíveis e reconhecidas como pertencendo a uma língua” (2004:69). Esta gramática funciona como um depósito virtual, sem pesar o falante usa seus conhecimentos lingüísticos adquiridos durante a vida (ex.: jamais veremos um falante natural da língua portuguesa construir uma seqüência como ‘O menina bonito não vem hoje’). Para Luft, a gramática natural é aquela que aprendemos durante a vida convivendo com os outros falantes da língua, isto é, um “sistema de regras que os falantes internalizam ouvindo e falando” (2004: 19). Na mesma direção, Perini afirma que “qualquer falante de português possui um conhecimento implícito altamente elaborado da língua” e que esse conhecimento “foi adquirido de maneira tão natural e espontânea quanto a nossa habilidade de andar” (2000:13). Em linhas gerais, diríamos que a gramática normativa leva em consideração apenas usos dos bons escritores, depreciando outras variedades; a gramática descritiva expõe com detalhes as várias possibilidades de comunicação, aceitando novas formas de uso; a natural desenvolve-se com o tempo e que para essa não há erro, mas sim inadequações de uso. 24 3.2- Norma Padrão e Norma Não-Padrão Bechara diz que a ‘norma’ “contém tudo que na língua não é funcional, mas que é tradicional, comum e constante, ou em outras palavras, tudo o que se diz “assim, e não de outra maneira” (2000: 42). Para Câmara Jr., norma é “conjunto de hábitos lingüísticos vigentes no lugar ou na classe social mais prestigiosa no país”, e acrescenta que “a norma é uma força conservadora na linguagem, mas não impede a evolução lingüística”. Do ponto de vista da norma, “a variabilidade que a contraria constitui ERRO” (1999: 177). A partir do advento da lingüística que tem como objeto de estudo a língua e a linguagem em uso, passa-se a ver a natureza da linguagem separada de vínculos de valor com o poder político, com a importância social e com beleza estética. Assim aprendeu-se, com a ciência lingüística, “a separar o social do lingüístico e ao mesmo tempo a considerar o social no uso da língua” conforme Neves (2004: 34). Dentro dessa nova perspectiva, valoriza-se a língua em uso, portanto os usos passam a estabelecer novos padrões, e as variações lingüísticas não representam mais o certo e o errado, mas o reconhecimento de que existem usos diferentes para situações diferentes. Contudo, pensar que se pode fazer uso de qualquer variedade sem sofrer algum tipo de prejuízo é idealizar uma sociedade que não existe. Nesse sentido Câmara Jr. alerta: (...) cada um de nós tem de saber uma boa linguagem para desempenhar o seu papel de indivíduo humano e de membro de uma sociedade humana. Não se pode admitir que um instrumento tão essencial seja mal conhecido e mal manejado (1983:12). Além disso, não se pode esquecer que “a variedade padrão é parte da língua portuguesa em sua totalidade e não ensiná-la seria mais uma forma de exclusão — a mesma que acontece quando as outras variedades lingüísticas são desconsideradas nas aulas de português” (JUNQUEIRA, 2003: 68). É fato que para aprender o uso informal e cotidiano da língua não se precisa ir à escola, por outro lado, “a função da escola é o enriquecimento do conhecimento cotidiano dos participantes a fim de capacitálos”(SIMÕES, 2004:142). Afinal, já se sabe que a linguagem não é utilizada apenas para veicular informação, mas também para comunicar àquele que ouve a posição que o falante ocupa na sociedade. Desse modo, não é possível negligenciar a aprendizagem da língua padrão nas escolas, alerta Simões (2004:144), mesmo porque se sabe que é a norma padrão que será usada contra os alunos de hoje, quando eles se tornarem adultos (SOARES, 1987). Exercícios de Auto-Avaliação 1- David Cristal diz que “as pessoas já falam gramaticalmente”; comente esta frase baseando-se nas discussões expostas do tópico “Gramática: descrição e norma”. 2- David Cristal explica que não existe forma ‘certa’ ou ‘errada’ de se falar, pois esta é uma questão social. Explique esta opinião, levando em consideração o que foi aprendido nessa unidade. 3- Discuta a frase de Maurízio Gnerre “Uma variedade lingüística vale o que valem seus falantes na sociedade” 4- Leia o texto a seguir: Há pessoas até que exageram, e o resultado é que normalmente não são entendidas. Tenho um amigo, um professor de português, que só fala a língua exemplar, padrão. Uma vez, saindo do Pedro II, foi assaltado. Gritou, e não apareceu ninguém. Ele ficou aborrecidíssimo. Voltou ao Pedro II e reclamou: “Mas você não gritou? Não pediu socorro?”, perguntaram. “Eu gritei, mas não apareceu ninguém!” “Mas o que você disse?” “Eu gritei ‘Peguem-no! Peguem-no!’”. O limite é a adequação. (Bechara, Evanildo. “Não sou poliglota, sou linguarudo”) a) Discuta ‘norma’ e ‘uso’ a partir dessa narrativa de Bechara. b) Para Travaglia é dever da escola desenvolver a ‘competência comunicativa’ do falante entendida por ele como “capacidade de utilizar o maior número possível de recursos da língua de maneira adequada a cada situação de interação comunicativa”. Discuta o comportamento do professor em relação a opinião de Travaglia. 5- Leia a tira a seguir: Discuta o uso do verbo ‘assistir’ na tira acima levando em consideração as gramáticas normativa, descritiva e natural. 25 26 UNIDADE IV ASPECTOS DE PRODUÇÃO TEXTUAL 4.1- Aspectos Básicos de Coesão e Coerência A construção de um texto envolve uma intenção, e seu entendimento envolve não só o conteúdo semântico como também a decodificação da intenção de quem produziu. depende de conhecimentos partilhados entre os interlocutores. Já a coesão “é a manifestação lingüística da coerência” e é estabelecida por meio de mecanismos gramaticais e lexicais (1999:5-6). Para Val, “texto ou discurso é ocorrência lingüística falada ou escrita, de qualquer extensão, dotada de unidade sociocomunicativa, semântica e formal” (1999: 3). Por outro lado, Guimarães (1999: 130) diz que “um texto revela uma conexão entre as intenções, as idéias e as unidades lingüísticas que o compõem, por meio de um encadeamento de enunciados dentro do quadro estabelecido pela enunciação”. Koch diz que a coerência é “a organização reticulada ou tentacular do texto” (2003: 21), enquanto Charolles acrescenta que seria ela a “qualidade que têm os textos pela qual os falantes os reconhecem como bem formados” (apud Koch: 2003:22). Entender-se-á por texto uma unidade básica de manifestação da linguagem, dotada de propriedades estruturais específicas, que comprometem fatos de natureza sintática e de natureza semântica constituindo um todo significativo. A produção de um texto não costuma ser uma tarefa simples, pois conforme alerta Câmara Jr. ao escrever devemos “além de nos fazermos entender pelos outros, temos de nos entender a nós mesmos” (1983:14). Nesse sentido, dois fatores têm grande importância na construção da textualidade – conjunto de características que fazem com que um texto seja um texto, e não apenas uma seqüência de frases – e que estão centrados no texto, são eles a coerência e coesão. A coerência é responsável pelo sentido do texto e envolve não só “aspectos lógicos e semânticos, mas também cognitivos”, isso se dá, porque o sentido Uma seqüência não coerente pode ser exemplifica assim “Chega a carruagem das rainhas é a mais bela de todas as carruagens. Tem barracas de tiro e de pastéis. E a festa se acaba”, o texto não progride, não há continuidade, nem relação de sentido entre as partes. A coesão, na opinião de Koch, é a responsável pela concatenação das idéias do texto, e ocorre através de mecanismos lexicais e gramaticais (pronomes relativos, pessoais e demonstrativos, conjunções, a elipse, a concordância, numerais, advérbios). Uma seqüência com problemas de coesão pode ser exemplificada assim “Tenho prova hoje, por isso não estudei coisa alguma porque vou tirar nota baixa”. Nota-se que a simples troca das expressões ‘por isso’ e ‘porque’ pelos mecanismos ‘porém’ e ‘portanto’ respectivamente na seqüência citada resolveria o problema de construção, contudo é interessante perceber que a coesão mal feita torna o texto incoerente, o que nos leva a entender que a coesão e a coerência concorrem simultaneamente no processo de produção e compreensão do texto. 4.2- Correção Gramatical O estudo feito sobre coesão e coerência torna mais claro o que significa um texto que segue o raciocínio lógico e linear e o quanto esse aspecto é importante na construção do sentido do texto, contudo não podemos deixar de observar que as questões relacionadas à correção gramatical continuam tendo seu espaço garantido no julgamento objetivo das redações na hora de atribuir nota aos textos produzidos. Carneiro comenta que: Ainda que a etimologia dos vocábulos possa justificar o emprego de algumas letras no sistema ortográfico do português, hoje, a maioria dos alunos não têm mais condições de contar com esses conhecimentos, desde que o estudo do latim foi abandonado. Como em muitos outros idiomas, também na língua portuguesa, não há correspondência perfeita entre grafema e fonema, o que agrava o problema de grafar corretamente (2001: 203). Câmara Jr. confirmando a questão da força da norma, acrescenta que “o cuidado com a correção gramatical evita que se afronte um sentimento lingüístico enraizado” (1983: 14). É nesse sentido que se faz necessário tomar alguns cuidados com algumas palavras ou expressões que causam dúvidas no dia-a-dia daquele que precisa expor seus pensamentos e idéias por escrito. Dificuldades Lingüísticas Por que/por quê/porque/porquê 1. Escreve-se por que separado (preposição por seguida do pronome interrogativo que): 2. conjunção temporal (equivale a logo que/assim que) Mal chegou, já arrumou briga. Mal acordei, vi que estava chovendo. Acerca de/há cerca de a) Quando equivale a pelo qual e suas flexões. Não encontrei o caminho por que passei ontem. b) Quando em sentenças interrogativas (estando explícita ou subentendida a palavra razão) Por que razão você não foi à festa? Por que ela não compareceu à reunião? Não sabemos por que ela faltou. Você não veio por quê? (obs.:Em final de frase, deverá ser acentuado) 2. Escreve-se porque (junto sem acento) quando for conjunção explicativa ou causal. Ana faltou à festa porque estava doente. Não saia hoje, porque vai chover muito. 3. Escreve-se porquê (junto com acento) quando se tratar de um substantivo. Nesse caso, virá precedido de artigo ou outro determinante. Ninguém entendeu o porquê da briga. Onde/aonde 1- Emprega-se aonde com verbos que não dão idéia de movimento (equivale a para onde) é combinação da preposição ‘a’ + onde. Aonde você vai com tanta pressa. ( Quem vai, vai ‘a’) Aonde você quer chegar? (Quem chega, chega ‘a’) 2- Com os verbos que não indicam movimento, empregamos onde. Onde você fica nas férias? Não sei onde você mora. Mal/mau Mau é sempre um adjetivo (é antônimo de bom), liga-se, portanto, a substantivos. O senhor não é mau aluno. Escolheste um mau momento para sair. Mal pode ser: 1. advérbio de modo (antônimo de bem) Ela comportou-se mal. Ele estava passando mal. Acerca de é locução prepositiva, equivale a ‘a respeito de’. Discutíamos acerca de uma melhor saída para educação. Há cerca de é uma expressão que indica tempo transcorrido (há \ haver). Há cerca de uma semana, discutíamos assuntos da gramática normativa.Estamos lhe esperando há cerca de uma hora. Tampouco/tão pouco Tampouco é advérbio e significa ‘também não’. Não fez o trabalho, tampouco estudou para prova. Já em tão pouco, temos o advérbio de intensidade ‘tão’ modificando ‘pouco’ (que poderá ser advérbio ou pronome indefinido). Tenho tão pouco entusiasmo pelo trabalho. (pouco - pronome indefinido) Estudamos tão pouco esta semana. (pouco - advérbio) Mas/mais Mas é conjunção adversativa (equivale a porém). Foi à praia, mas não mergulhou. Estudou muito, mas saiu-se mal. Mais pode ser pronome ou advérbio de intensidade (opondo-se a ‘menos’). Foi ele quem mais tentou, mas não conseguiu. Ela sempre teve mais bonecas que eu. Afim/a fim Afim é um adjetivo que significa ‘igual’, ‘semelhante’. Elas têm idéias afins. A fim surge na locução a fim de, que equivale a ‘para’, indica finalidade. Estudou muito a fim de passar no vestibular. 27 28 Exercícios de Auto-Avaliação 1- Reescreva as frases a seguir de modo a eliminar as ambigüidades. a) A empregada lavou as roupas que encontrou no tanque. b) A professora deixou a turma entusiasmada. c) O cão enterrou os ossos que encontrou no jardim. d) Se você tivesse ido à festa com José, encontraria sua namorada. 2- Indique as ambigüidades recorrentes nas frases, originadas pela má colocação das palavras grifadas. A seguir, reescreva-as eliminando a ambigüidade. a) O juiz declarou ter julgado o réu errado. b) Conheço uma professora de literatura inglesa. c) Comprou o carro rápido. d) Confessou os erros que cometeu com franqueza. 3- Os pronomes relativos são usados como mecanismos de coesão e evitam a repetição de termos. Una as sentenças abaixo evitando a repetição do termo em destaque. a) Gostei muito do romance de Lygia Fagundes Telles. Lygia Fagundes Telles é uma de nossas melhores romancistas. b) Morei durante muito tempo na Espanha. Na Espanha eu fui feliz. c) Comprei uma camisa de seda no eldorado. O preço da camisa foi muito alto. d) Falei com Maria e Pedro. Maria é minha amiga. 4- No texto a seguir, de Millôr Fernandes, o humorista utilizou intencionalmente a repetição. Reescreva-o de modo a reduzir o número de ocorrências do vocábulo em destaque. A senhora, uma dona de casa, estava na feira, no caminhão que vende galinhas. O vendedor ofereceu a ela uma galinha. Ela olhou para a galinha, passou a mão embaixo das asas da galinha, apalpou o peito da galinha, alisou as coxas da galinha, depois tornou a colocar a galinha na banca e disse para o vendedor “Não presta!”. Aí vendedor olhou para ela e disse “Também, madame, num exame assim nem a senhora passava”. 5- Sem alterar a idéia contida no período dado, construa um novo, a partir do inicio proposto. Use o elemento de coesão adequado, indicado entre parênteses. a) A companhia era chata e a viagem tornou-se aborrecida. A companhia era tão chata ______________________________________. (portanto – que – por isso) b) Faltando-lhe dinheiro para viagens, lia livros. Lia livros, _______________________________________________. (porém – por isso- uma vez que) 6- Complete as lacunas escolhendo a forma adequada entre parênteses. a) _____________ você não compareceu à escola ontem? (porque – por que – por quê) b) Não compareci, _________________ estava com febre. (por que – porque – porquê) c) E você não me avisou ________________? (porque – por quê – por que) d) Não entendi o _________________ de sua preocupação. (porque – porquê – por que) e) ____________ você pensa que vai? (onde – aonde) f) Quero saber __________ você ficou nas férias. (onde – aonde) g) Quanto ______ você me maltrata, ______ eu gosto. (mais – mas) h) Eles me avisaram, ________ fingi que não escutei. (mas – mais) i) Você ________ entrou aqui e já está me aborrecendo. (mal – mau) j) Ela está lhe esperando _______ dois dias. (há – a) l) Faça o que mandei, _________ você estará encrencado. (senão – se não) m) Trabalhei muito ______________ de terminar o serviço. (afim – a fim) Atividade Complementar 1- Pesquise, em pelo menos duas gramáticas diferentes, outras dificuldades lingüísticas. Assim, você ampliará seu conhecimento gramatical e diminuirá suas dificuldades diante de situações em que você precise utilizar o registro padrão da língua. 29 Se você: 1) 2) 3) 4) concluiu o estudo deste guia; participou dos encontros; fez contato com seu tutor; realizou as atividades previstas; Então, você está preparado para as avaliações. Parabéns! 30 Glossário Concatenação - acto ou efeito de concatenar; encadeamento; ligação; conexão. Etimologia - parte da gramática que trata da origem e formação das palavras. Fisionômico - relativo à fisionomia. Hermético - encimado por um busto ou cabeça de Mercúrio; fechado por forma tal que não deixe entrar o ar; misterioso; confuso; obscuro; aquele que pratica a ciência da transmutação dos metais e da medicina hermética. Heteróclito - que se afasta das regras comuns da analogia gramatical ou das regras vulgares da arte; estranho; ridículo; extravagante; esquisito. Implícito - que está envolvido ou contido, mas não expresso claramente; não expresso em palavras, subentendido; tácito. Lexiais - relativo ao léxico ou aos vocábulos de uma língua. Neologismo - palavra ou termo de formação nova, a partir de elementos gramaticais da própria língua ou estrangeiros; acepção nova de uma palavra já existente na língua; doutrina ou teoria nova. Nocional - relativo a noção; que tem o carácter de noção. Poliglota - que está escrito em muitas línguas; pessoa que fala muitas línguas. Teorética - teórico. Gabarito Unidade I 1- a) O professor e o aluno utilizam a mesma língua nacional para se comunicarem, isto é o mesmo sistema de códigos, contudo a linguagem do professor se difere da linguagem do aluno por questões socioculturais. O professor utiliza uma linguagem erudita e o aluno uma linguagem popular (com gírias, por exemplo), vê-se, portanto, que a língua é social (de todos, para todos) e a linguagem é individual (cada um terá a sua). b) O ruído ou interferência na comunicação ocorre quando por algum motivo a mensagem não é decodificada e, portanto, não há resposta, e consequentemente não há comunicação efetiva. No caso do diálogo entre o professor e o aluno, o ruído foi causado pelo código utilizado (a linguagem) pelos sujeitos que era tanto para um quanto para outro parcialmente desconhecido, o que provocou a falta de entendimento, isto é, não houve comunicação efetiva. 2- Observemos num primeiro momento que o papagaio, que apenas imita sons, reproduz palavras soltas, ensinadas pelo homem e o cachorro rosna, mostra os dentes e altera o olhar para se ‘comunicar’. Até então tudo normal. Contudo, no último quadrinho, para construir o humor da tira, o papagaio é capaz de raciocinar e criar uma frase que atenda a sua necessidade, adquirindo, nesse momento, uma característica que é própria do ser humano: dotado de linguagem; capaz de produzir um enunciado inteligível. 3- A- emissor (o político); receptor (todos da população brasileira que estiverem assistindo a rede transmissora); código (língua portuguesa); mensagem (a fala do político); canal (televisão) e o referente (a promessa de que tudo será diferente). B- emissor (o locutor); receptor (os ouvintes da rádio em questão); código (língua portuguesa); mensagem (a fala do locutor); canal (o rádio) e o referente (o agradecimento e a despedida do locutor). C- o emissor (o inspetor); o receptor (os candidatos); código (língua portuguesa); mensagem (a fala do inspetor); canal (o ar que permite a propagação do som) e o referente (a ordem dada para que entrem nas salas do primeiro andar). 4- A capacidade de alguém ser medida pelo fato de escrever e falar bem, vai depender da função que a pessoa vai ocupar. Se para tal função é necessária uma prova de escrita (avaliação da capacidade de produzir textos inteligíveis) e uma entrevista (avaliação da capacidade de produzir textos orais inteligíveis), o fator linguagem deve ter um peso considerável na decisão. É nesse sentido que a frase de Gnerre serve de parâmetro para se imaginar que aqueles que conseguirem produzir os melhores textos e passarem pela entrevista podem ser mais capazes para determinada função. 5- B 6- Para Luis Fernando Veríssimo o que importa é comunicar. Ele diz que a linguagem é meio de comunicação, portanto aquele que usa a língua e consegue se comunicar de forma clara está praticando a atividade comunicativa, independente de usar religiosamente as regras gramaticais. O autor afirma que algumas regras são dispensáveis no ato comunicativo. - Por te amar demais, eu te peço perdão.// Eu, por te amar demais, peço-te perdão. - Como quem chora, eu faço versos. - Entre árvores e telhados, vejo de minha varanda o mar.// Entre árvores e telhados, vejo de minha varanda o mar. 31 32 Unidade II 1- Por te amar demais, eu te peço perdão.// Eu, por te amar demais, peço-te perdão. - Como quem chora, eu faço versos. - Entre árvores e telhados, vejo de minha varanda o mar.// Entre árvores e telhados, vejo de minha varanda o mar. - O bonde e a esperança perdi.// Perdi a esperança e o bonde. - Como um vaso vazio, a minha alma partiu-se.// A minha alma, como um vaso vazio, partiu-se. 2- a- móvel de superfície plana apoiada em um ou mais pés b- parte da roupa sobre o braço - cozinha residencial - camisa masculina 3- Temos três significantes diferentes /fogu/, /fai?i/ e /fuegu/, que se referem ao mesmo significado ‘combustão com emissão de luz, calor e chama’, para o referencial ‘incêndio’ num prédio, por exemplo. Contudo, se mudássemos o referencial o significado provavelmente mudaria também. 4- a) referencial (aeroporto) – significado (parada de aviões durante uma viagem) referencial (quartel) - significado (tabela de horário de trabalho) b) referencial (gramática) – significado (fenômeno que analisa a relação entre termos de uma oração.) referencial (orquestra) – significado (condução de execução musical feita por maestro) 5- No aspecto formal, temos um vocábulo composto por justaposição, o pronome oblíquo ‘te’ unido ao verbo ‘adorar’ no infinitivo, criando o verbo ‘teadorar’; já no aspecto semântico, percebe-se que o poeta diz ser intransitivo o verbo ‘teadorar’, portanto não necessita de complemento para lhe completar o sentido, já que no próprio radical do verbo já está tudo de que o eu lírico necessita para lhe completar a vida: a ‘teodora’. 6- a) No primeiro quadrinho, vemos pelos trajes da personagem que se despede “Voltem sempre, certo?”, tratar-se de indivíduo da região rural, o que se comprova pelo linguajar utilizado pelo motorista que deixa subentendido que de tanto conversar com o pessoal daquela região acabou ficando contaminado pela variedade lingüística utilizada por eles. Estamos diante de um choque cultural que se dá pela variedade lingüística diatópica (dialeto ou falar regional), tal dialeto é conhecido por alguns como falar caipira. b) Na tira, vemos o motorista utilizando uma variedade lingüística que é rejeitada pelo robô, que exige do motorista não lhe dirigir a palavra em público. Deste modo, nota-se que tal variedade não é vista com bons olhos por parte da sociedade, ou seja, é discriminada, não sendo considerada prestigiosa. Nesse sentido, comprovase a idéia de que a língua é um instrumento segregador, isto é, um instrumento que divide a sociedade e põe a parte os que não conhecem o “bom uso” da língua (o padrão formal). Unidade III 1- A partir da frase de David Cristal entendemos que as pessoas adquirem, durante a vida, no convívio com outros falantes da língua, a habilidade de falar ou escrever, respeitando as regras desta língua. Isso ocorre de forma natural e espontânea. Nesse sentido, podemos observar que os falantes naturais da língua portuguesa jamais construiriam uma frase do tipo “A menino foi ao escola”, exatamente porque essa não é a construção comumente utilizada pelas pessoas com quem convive. Portanto, dizer que “as pessoas já falam gramaticalmente” é, em outras palavras, dizer que “qualquer falante do português possui um conhecimento implícito altamente elaborado da língua”, conforme afirma Perini (2004:19). 2 - A partir dos estudos lingüísticos que têm como objeto de estudo a língua e a linguagem em uso, vislumbrase a natureza da língua dissociada de valores sociais, políticos ou de beleza estética. Desse modo, passa-se a valorizar a língua em uso e a se analisar as variações lingüísticas existentes dentro de uma mesma língua. Dentro desta perspectiva, reconhece-se que não se deve pensar em ‘certo’ ou ‘errado’ sobre as formas de falar, mas, antes, reconhecer que dentro de uma sociedade existem usos diferentes da língua para situações diferentes de uso. Poder-se-ia pensar em formas ‘adequadas’ ou ‘inadequadas’ de se falar para esta ou aquela situação de uso. 3- A afirmação de que “uma variedade lingüística vale o que valem seus falantes na sociedade” é uma crítica que se faz a própria sociedade que valoriza aquilo que parece ter valor. Se você é reconhecido, famoso e aclamado pela sociedade, mas comete erros na hora de falar, poderá ser considerado descuidado, desatento ou irreverente por ir de encontro ao que é normativo. Contudo se você é pobre, uma pessoa comum e desconhecida será tachada de ignorante, iletrada, pessoa sem cultura. Por outro lado, se você, mesmo sendo da classe menos favorecida, demonstrar bom conhecimento lingüístico e domínio da variedade padrão da língua não sofrerá, pelo menos, esse tipo de exclusão social, e terá grandes chances de romper algumas barreiras de acesso ao poder. 4- Questões a e b: O texto exemplifica claramente a questão da adequação linguagem e a confirmação de que o importante não é o domínio exclusivo de norma, mas, além dela, ter-se o domínio, também, da maior quantidade de variações possíveis, pois, desta forma, estaremos preparados para todas as situações sociais que nos acometerem, como no exemplo do professor do texto. No caso, provavelmente, ele não foi socorrido porque ninguém entendeu o que ele disse (“peguem-no”). Assim, nem sempre o uso da norma é eficiente em todas as situações comunicativas. 5- No 1º balão, a frase “não assisti o jogo” apresenta erro gramatical, pois de acordo com a gramática normativa o verbo ‘assistir’ no sentido de ‘ver’, ‘presenciar’ rege a preposição ‘a’, portanto o correto seria “...não assisti ao jogo”. Já a gramática descritiva analisa e percebe que os falantes ao utilizarem o verbo assistir sem preposição ‘a’, o fazem por associação ao verbo ‘ver’ que não rege a preposição ‘a’ (Não vi o jogo); e, ainda que, ao pronunciarem a frase “não assisti o jogo” o falante produz um enunciado perfeitamente capaz de comunicar aquilo que é desejado, sem causar falha na comunicação. Do mesmo modo, a gramática natural, que é o conhecimento internalizado que cada falante natural têm de sua língua, permite a esse falante emitir tal enunciado, pois para ele tal construção é perfeitamente reconhecível, inteligível e aceitável entre aqueles com quem convive. Unidade IV 1-a) A empregada lavou, no tanque, as roupas que encontrou. No tanque, a empregada lavou as roupas que encontrou. A empregada encontrou as roupas no tanque e levou-as. b) A professora, entusiasmada, deixou a turma. A entusiasmada professora deixou a turma. A professora deixou a turma que estava entusiasmada. c) O cão enterrou, no jardim, os ossos que encontrou. Os ossos, que encontrou no jardim, o cão enterrou. O cão encontrou os ossos no jardim e enterrou-os. d) Você encontraria sua namorada se tivesse ido à festa com José. Se você tivesse isso à festa com José, encontraria a namorada dele. 2-a) O juiz julgou de forma errada ou o réu é quem estava errado? O réu foi declarado errado pelo juiz. (réu errado) O juiz fez um julgamento errado acerca do réu. (juiz errado) 3-a) Gostei muito do romance de Lygia Fagundes Telles que é uma de nossas melhores romancistas. Lygia Fagundes Telles, de quem gostei muito, é uma de nossas melhores romancistas. b) Morei durante muito tempo na Espanha onde fui feliz. Na Espanha, onde morei muito tempo, fui feliz. c) No Eldorado, comprei uma camisa de seda cujo preço foi muito alto. O preço da camisa de seda, que comprei no Eldorado, foi muito alto. d) Falei com Maria que é minha amiga e com Pedro. Falei com Pedro e com Maria que é minha amiga. 4- A senhora, uma dona de casa, estava na feira, no caminhão que vende galinhas. O vendedor ofereceu a ela uma das aves. Ela olhou para o animal, passou a mão embaixo de suas asas, apalpou o peito, alisou as coxas, depois tornou a colocou-a na banca e disse para o vendedor “Não presta!”. Aí o vendedor olhou para ela e disse “Também, madame, num exame assim nem a senhora passava”. (existem outras possibilidades) 33 34 5- a) (...) que a viagem se tornou aborrecida. b) (...) uma vez que lhe faltava dinheiro para viagens. 6- a) Por que (separado sem acento) b) porque (junto sem acento) c) por quê (separado com acento) d) porquê (junto com acento) e) Aonde f) onde g) mais – mais h) mas i) mal j) há l) se não m) a fim Referências Bibliográficas BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37 ed. (revista e ampliada). Rio de Janeiro: Lucerna, 1999. CUNHA, Celso & CINTRA, Lindley. Gramática do Português contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. FARACO, Carlos Alberto. Escrita e Alfabetização. 2 ed. São Paulo: Contexto, 1994. KOCH, Ingedore G. Villaça. A coesão textual. 18 ed. São Paulo: Contexto, 2003. LEMLE, Miriam. Guia Teórico do alfabetizador. São Paulo: Ática, 1991. LUFT, Celso Pedro. Língua e Liberdade. São Paulo: Ática, 1994. MARCUSCHI, Luiz Antonio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2004. 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