Língua Portuguesa I.p65 - Universidade Castelo Branco

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VICE-REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO E CORPO DISCENTE
COORDENAÇÃO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
LÍNGUA
PORTUGUESA I
Rio de Janeiro / 2006
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS À
UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO
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U n3p
Universidade Castelo Branco.
Língua Portuguesa I. –
Rio de Janeiro: UCB, 2006.
36 p.
ISBN 85-86912-09-3
1. Ensino a Distância. I. Título.
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Responsáveis Pela Produção do Material Instrucional
Coordenadora de Educação a Distância
Prof.ª Ziléa Baptista Nespoli
Coordenador do Curso de Graduação
Denilson P. Matos - Letras
Conteudista
Neyde Lúcia de Freitas Souza
Atualizado por
Denilson P. Matos
Supervisor do Centro Editorial – CEDI
Joselmo Botelho
Apresentação
Prezado(a) Aluno(a):
É com grande satisfação que o(a) recebemos como integrante do corpo discente de nossos cursos de graduação,
na certeza de estarmos contribuindo para sua formação acadêmica e, conseqüentemente, propiciando
oportunidade para melhoria de seu desempenho profissional. Nossos funcionários e nosso corpo docente
esperam retribuir a sua escolha, reafirmando o compromisso desta Instituição com a qualidade, por meio de uma
estrutura aberta e criativa, centrada nos princípios de melhoria contínua.
Esperamos que este instrucional seja-lhe de grande ajuda e contribua para ampliar o horizonte do seu
conhecimento teórico e para o aperfeiçoamento da sua prática pedagógica.
Seja bem-vindo(a)!
Paulo Alcantara Gomes
Reitor
Orientações para o Auto-Estudo
O presente instrucional está dividido em quatro unidades programáticas, cada uma com objetivos definidos e
conteúdos selecionados criteriosamente pelos Professores Conteudistas para que os referidos objetivos sejam
atingidos com êxito.
Os conteúdos programáticos das unidades são apresentados sob a forma de leituras, tarefas e atividades
complementares.
As Unidades 1 e 2 correspondem aos conteúdos que serão avaliados em A1.
Na A2 poderão ser objeto de avaliação os conteúdos das quatro unidades.
Havendo a necessidade de uma avaliação extra (A3 ou A4), esta obrigatoriamente será composta por todos os
conteúdos das Unidades Programáticas 1, 2, 3 e 4.
A carga horária do material instrucional para o auto-estudo que você está recebendo agora, juntamente com os
horários destinados aos encontros com o Professor Orientador da disciplina, equivale a 60 horas-aula, que você
administrará de acordo com a sua disponibilidade, respeitando-se, naturalmente, as datas dos encontros
presenciais programados pelo Professor Orientador e as datas das avaliações do seu curso.
Bons Estudos!
Vania Alcantara
Coordenadora Acadêmica de Educação a Distância
Dicas para o Auto-Estudo
1 - Você terá total autonomia para escolher a melhor hora para estudar. Porém, seja
disciplinado. Procure reservar sempre os mesmos horários para o estudo.
2 - Organize seu ambiente de estudo. Reserve todo o material necessário. Evite
interrupções.
3 - Não deixe para estudar na última hora.
4 - Não acumule dúvidas. Anote-as e entre em contato com seu monitor.
5 - Sempre que tiver dúvidas entre em contato com o seu monitor através do e-mail
[email protected].
6 - Não pule etapas.
7 - Faça todas as tarefas propostas.
8 - Não falte aos encontros presenciais. Eles são importantes para o melhor aproveitamento
da disciplina.
9 - Não relegue a um segundo plano as atividades complementares e a auto-avaliação.
10 - Não hesite em começar de novo.
SUMÁRIO
Quadro-síntese do conteúdo programático...............................................................................................................
11
Contextualização da disciplina ....................................................................................................................................
12
UNIDADE I
LÍNGUA E LINGUAGEM
1.1 - Conceituação e função social da língua .........................................................................................................
1.2 - O processo de comunicação e elementos do ato comunicativo ...............................................................
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14
UNIDADE II
O SIGNO LINGÜÍSTICO E AS VARIAÇÕES LINGÜÍSTICAS
2.1 - Língua, fala e escrita ..........................................................................................................................................
2.2 - Estrutura do signo lingüístico .....................................................................................................................
2.3 - Variações lingüísticas ...........................................................................................................................................
18
19
19
UNIDADE III
GRAMÁTICA, USO E NORMA
3.1 - Gramática: descrição e norma ............................................................................................................................
3.2 - Norma padrão e norma não-padrão .................................................................................................................
23
24
U
NIDADE IV
UNIDADE
ASPECTOS DE PRODUÇÃO TEXTUAL
4.2 - Correção gramatical ..............................................................................................................................................
26
26
Glossário ..........................................................................................................................................................................
30
Gabarito ..........................................................................................................................................................................
34
Referências bibliográficas .........................................................................................................................................
35
4.1- Aspectos básicos de coesão e coerência .........................................................................................................
Quadro-síntese do conteúdo
programático
Unidades de Programa
Objetivos
1 - Língua e Linguagem
Conceituar língua e compreender sua função social.
2 - O Signo Lingüístico e as Variações
Reconhecer a língua portuguesa nas suas modalidades falada
e escrita.
Lingüísticas
3 - Gramática, Uso e Norma
Conceituar gramática, uso e norma.
4 - Aspectos de Produção Textual
Empregar adequadamente elementos de correção gramatical.
11
12
Contextualização da Disciplina
O estudo de uma língua é importante para qualquer pessoa que deseje reconhecer o mundo a sua volta e
reconhecer-se. Afinal, as relações sociais se dão através da linguagem (verbal ou não), codificada em uma
língua.
Assim, todo cidadão pode, através dela, manifestar-se socialmente. Desta feita, qualquer indivíduo que domine
este código terá maiores chances de alcançar melhores lugares.
No caso da língua portuguesa não é diferente. Todas as necessidades sociais podem ser atenuadas quando se
tem maior domínio do vernáculo. Ao ler-se uma bula, ao exigir-se direitos do consumidor, ao conversar com o
chefe ou em uma entrevista de trabalho, terá destaque aquele que demonstrar domínio lingüístico. Isso é um
fato.
E é por isso que o estudo da língua (estrutura, uso, história, etc.) fascina a todos que dedicam tempo a tal
empreitada desde a idade antiga e, principalmente, a partir do final do século XIX, com a criação da ciência da
Linguagem (Lingüística).
Na mesma direção pode-se afirmar que qualquer disciplina, exata ou não, precisa de língua (código) para
manifestar-se. Não é por acaso que professores de matemática afirmam que na maioria das vezes a dificuldade
dos alunos para resolverem um problema matemático, não é o cálculo, mas a capacidade de ler e entender o texto
que apresenta o problema.
Assim, como apoio, como intermédio, como caminho, a língua portuguesa lida com todas as áreas de
conhecimento.
UNIDADE I
13
LÍNGUA E LINGUAGEM
1.1- Conceituação e Função Social da Língua
A história da comunicação se inicia com os sons
guturais trocados entre os homens pré-históricos.
Desde o período mais remoto da existência do homem
na Terra, ele manifesta seu instinto gregário e
estabelece regras básicas de vida em grupo a partir
da criação efetiva de meios que permitissem a
comunicação entre os membros de um mesmo grupo,
tornando-os instrumento comum de expressão de
suas idéias, emoções e sentimentos. Exprimindo-se
inicialmente por meio de sons elementares, gestos,
imitação de animais e desenhos, o homem
desenvolveu algo que o faz ser diferente dos outros
animais: a linguagem verbal, necessária à
comunicação com seu grupo.
Travaglia (2004: 21) diz que a “capacidade de usar
a língua é característica e caracterizadora da raça
humana”. A linguagem verbal é a matéria do
pensamento e o veículo de comunicação social,
portanto, assim como não há sociedade sem
linguagem, não há sociedade sem comunicação.
Nas cavernas em que viveram os homens primitivos,
descobriram-se desenhos de animais, cenas de
caçadas, figuras variadas gravadas nas paredes das
rochas (desenhos rupestres). Surgia o código
iconográfico (de ícone = imagem+gráfico = escrito),
que deve ter dado origem à língua escrita.
Alguns povos antigos usavam, para escrever, os
ideogramas, isto é, sinais que representavam objetos
e que, ainda hoje, são modelos de escrita, como, por
exemplo, o da escrita chinesa.
“Mas a evolução trouxe a fonetização da escrita,
passando-se ao uso de sinais que representam não
os objetos, mas os sons. Daí à escrita silábica foi um
passo. Em seguida, os indo-europeus chegaram à
escrita alfabética, que os gregos aperfeiçoaram
através da vocalização. Hoje, embora as línguas
ocidentais apresentem diferenças significativas de
som, usam todas o mesmo alfabeto básico. O tipo
das letras, contudo, varia bastante” (Cândida
Georgopoulos).
Assim, durante muitos séculos toda a transmissão
da cultura se assentou na oralidade e na
representação simbólica ou pictórica, até a invenção
de uma forma mais precisa de registrar a história dos
próprios grupos: a escrita.
Entre os códigos e signos, o homem aperfeiçoou a
língua escrita, os códigos artísticos, criou o método
Braille e o Morse e descobriu a existência de outros
meios de comunicação.
O registro dos fatos através do código escrito
constitui-se em marco fundamental para qualquer povo,
estabelecendo o início da sua História propriamente
dita.
A linguagem verbal (verbo = palavra) é a mais rica e
mais completa das formas de comunicação. A música,
com sons; a pintura, com as cores e as formas; a
arquitetura, com as linhas; a mímica, com o gesto, o
jogo fisionômico, a expressão corporal, também
comunicam, mas provocam, sobretudo, reações
emocionais. A comunicação verbal vai além do mundo
emocional e opera com o mundo das idéias.
Quando falamos, exprimimos os nossos estados
mentais através de um sistema de signos vocais
chamado língua. Essa capacidade que o homem tem de
se comunicar através de um sistema de signos vocais
(língua) chama-se linguagem.
Língua não se confunde com linguagem. A língua faz
parte da linguagem. A língua é um produto social da
linguagem e um conjunto de convenções necessárias
adotada pelo corpo social que permite a comunicação
entre os indivíduos do mesmo grupo.
Para Saussure (nome importante dos estudos
lingüísticos do século XX), a linguagem é “heteróclita
e multifacetada”, pois abrange vários domínios; é ao
mesmo tempo física, fisiológica e psíquica; pertence ao
domínio individual e social, enquanto a língua é um
objeto unificado e suscetível de classificação, sendo
também exterior ao indivíduo; não pode ser modificada
por ele, pois obedece às leis de contrato social
estabelecidas pelos membros da comunidade (apud
FIORIN, 2005: 14).
14
A língua pode ser chamada de nacional ou comum.
Assim a língua comum da França é o francês, no Japão
é o japonês. Existem casos diferenciados, como na
Suíça em que há três línguas nacionais, por outro
lado a língua portuguesa é língua nacional de Portugal
e Brasil.
Segundo Saussure, a língua é social e essencial,
sendo gravada pelo indivíduo de maneira passiva e
não intencional (mecanismo de interiorização). A fala,
por sua vez, é individual e acidental, constituindo-se
em ato da vontade e da inteligência que implica
escolha de dentro da língua ou código (mecanismo
de exteriorização).
O desenvolvimento da língua como código comum
e necessário à comunicação ocorreu a partir de sua
característica de expressar o próprio processo do
pensamento. Se o pensamento evolui em sua
elaboração, naturalmente sua expressão tem que se
adaptar para representá-lo. Segundo Wittgenstein,
“não é pensável nem exprimível aquilo que não for
um fato do mundo, pois a linguagem é a figuração
lógica do mundo, não existindo nenhum campo que
funcione como mediador entre o mundo e a linguagem.
O pensamento e linguagem se equivalem, têm a mesma
extensão”.
Esse processo evolutivo da língua tem grande
importância porque retratando a realidade – o
momento histórico, composto do político, do social,
do econômico, entre outros, como a própria cultura e
a arte – documenta o estágio de evolução das
sociedades.
Neste sentido, o universo da Escola, com a
sistematização e a organização dos conhecimentos
muitas vezes de forma estanque, artificialmente
compartimentadas nas disciplinas ou áreas de estudo,
é bem restrito se comparado à forma livre da vida.
Como agente de transmissão de um saber
constantemente acrescido ao já acumulado pelas
gerações anteriores. Assim, a Escola deve capacitar o
aluno a dominar criticamente seus conteúdos, tornandoo um falante cada vez mais apto criticamente a fazer
opções adequadas e resolver situações novas.
Cabe também à Escola possibilitar ao aluno o exercício
da expressão, a fim de que – desenvolvendo sua
capacidade de elaboração do pensamento – este sujeito
falante, enriqueça cada vez mais a linguagem como
forma de expressão. O domínio amplo desse código,
decorrente da necessidade de nomear novos elementos,
leva o aluno à constante incorporação de termos já
existentes na língua ou neologismos, visto que a
linguagem utilizada por qualquer indivíduo (a língua é
social, mas a linguagem é individual) reflete o nível de
desenvolvimento de seu próprio pensamento – com
sua lógica, clareza e precisão.
Na mesma direção, Bechara alerta que o falante dever
ser poliglota em sua própria língua, isto é, o falante
deve ter habilidade com a língua para usá-la nos mais
diferentes contextos de uso.
Para Geraldi saber a língua é “dominar as habilidades
de uso da língua em situações concretas de interação,
entendendo e produzindo enunciados adequados aos
diversos contextos, percebendo as dificuldades entre
uma forma de expressão e outra” (2000: 89).
Nesse sentido, é importante lembrar que a linguagem
oral e escrita, como criação cultural humana, interfere
no desenvolvimento cognitivo e nas relações sociais
de cada indivíduo. Sendo assim, torna-se indispensável
à atuação da escola no sentido de integrar a criança a
uma sociedade letrada que se comunica cada vez mais
da linguagem escrita.
A Escola deve ampliar a possibilidade de participação
do aluno, fornecendo instrumentos para sua
interferência na realidade, de forma crítica e segura.
1.2 – O Processo de Comunicação e os Elementos
do Ato Comunicativo
O processo de comunicação se realiza, normalmente,
com riqueza e diversificação de recursos: a palavra
escrita e falada (o verbal); os símbolos, notações,
sinais ( não-verbal, gráfico); a expressão do corpo,
os sons; o próprio corpo, objetos e demais elementos
da natureza (não-verbal, não-gráfico). Esses recursos
constituem o código, o “material” da comunicação que
se vale de signos próprios na transmissão das
mensagens. A pintura usa cores e linhas, combinadas
pelo artista que transmite sua visão de mundo pessoal.
A pintura corporal, nos rituais indígenas, representa
crenças e mitos da comunidade. As placas de trânsito
são símbolos gráficos convencionados internacionalmente.
Para uma boa comunicação é necessário, pois,
identificar e compreender a especificidade – vocabular,
temática ou outra – da informação. Se a mensagem que
se deseja transmitir não atingir seu destinatário através
de seu conteúdo nocional original, o processo terá
falhas que deverão ser detectadas e corrigidas de
imediato. Se houver falhas, ruídos, a mensagem não
atingirá seu destinatário, portanto não haverá
comunicação.
De grande auxílio nesse momento é o elemento
referencial, que estabelece o fecho no circuito da
comunicação, funcionando como esclarecedor,
situando a informação no seu contexto específico.
O elemento referencial (a realidade de que se fala) é
um dos componentes do processo de comunicação
em que o sujeito emissor elabora a mensagem
(essência da comunicação) a ser transmitida segundo
certo código que, forçosamente, terá que ser comum,
conhecido por emissor e receptor.
A mensagem se transmite por um determinado canal
( meio físico transportador da mensagem) que permite
sua chegada ao receptor.
A dinâmica do processo faz com que esse receptor,
ao exprimir sua resposta ao estímulo liberado na
primeira mensagem, transforme-se então no novo
sujeito emissor, e assim sucessivamente. Na Escola,
essa dinâmica de troca de interlocutor se verifica a
cada momento nas relações professor-aluno.
O processamento da comunicação, mediante emissão,
transmissão e recepção de mensagens, pode receber
interferências diversas que impeçam a comunicação
ou alterem seu nível de qualidade por meio de ruídos,
distração do sujeito, queda de freqüência de um
transmissor ou utilização de código parcialmente
desconhecido, constituindo-se em elemento
perturbador de natureza física, afetiva ou cultural.
Como conseqüência, a mensagem original codificada
pelo emissor chega ao seu destino de uma forma
incorreta ou parcial, podendo tornar-se uma outra, ou
uma nova mensagem.
Vamos agora identificar os elementos básicos que compõem o ato comunicativo, considerando o trecho abaixo
(a fala de um professor de português, durante a aula):
“Os falantes de uma língua têm domínio suficiente da mesma para se comunicar”
Reconhecemos os seguintes elementos:
EMISSOR - professor de português
RECEPTOR - leitores
CÓDIGO - língua portuguesa
MENSAGEM - a fala do professor
CANAL - o ar (que permite que o som se propague)
REFERENTE - a informação sobre a capacidade do falante em se comunicar
Acrescente-se o elemento denominado “RUÍDO” ou
“INTERFERÊNCIA”, que pode ocorrer, acarretando
prejuízo ou mesmo impedindo a comunicação. No caso
presente, poderia influir a má impressão do artigo,
através do emprego de letras apagadas ou manchadas,
por exemplo.
Numa conversa telefônica, poderia concorrer um
ruído, o que forçaria o emissor a falar mais alto ou
levaria o receptor a repetir:
“Não estou ouvindo! Fale mais alto!”
Observe, então, que além do emissor, do receptor e
do código, identificamos ainda o canal como veículo
condutor daquilo que é transmitido (a linha telefônica),
isto é, a mensagem, que diz ou se refere a alguma
coisa (o referente).
Até o presente momento nada se pode provar sobre
um modo de expressão animal que, mesmo de forma
elementar, possua as características e funções da
linguagem humana. Os animais que emitem sons
característicos não chegam a transmitir mensagens
“faladas”, faltando condições fundamentais para
comunicação lingüística. O código de sinais utilizado
pelas abelhas operárias para indicar às companheiras
onde se encontra o alimento e a comunicação entre os
golfinhos, por exemplo, não podem ser considerados
como linguagem porque não permitem decomposição.
Não sendo analisáveis, não levam ao diálogo nem
conhecem respostas, condições essenciais à
efetivação da linguagem humana.
“Só podemos manejar uma fala quando a destacamos
na língua; (...) a língua só é possível a partir da fala:
historicamente, os fatos de fala precedem sempre os
15
16
fatos de língua. A língua é, em suma, o produto e o
instrumento da fala, ao mesmo tempo” (Barthes, R.,
citando Brondal).
Recapitulando:
Linguagem é a utilização oral (fala) ou escrita da
língua. Mais genericamente, linguagem seria qualquer
sistema de sinais de que se valem os indivíduos para
se comunicarem.
Língua – “O conjunto das palavras e das expressões
usadas por um povo, por uma nação, e o conjunto de
regras de sua gramática; idioma”.
pessoas. A forma de expressão pela linguagem própria
de um indivíduo, de um grupo, de uma classe etc.;
linguagem infantil,; linguagem erudita; a linguagem
de um documento jurídico. O vocábulário específico
usado numa ciência, numa arte, numa profissão etc.;
língua”.
Lingüística – “A ciência da linguagem e, em
particular, da linguagem articulada”.
Aurélio B. de Holanda Ferreira
Os conceitos de língua, linguagem, fala ou discurso,
didaticamente separados, englobam o material que vem
a constituir o fenômeno da comunicação humana.
Linguagem – “O uso da palavra articulada ou escrita
como meio de expressão e de comunicação entre
Exercícios de Auto-Avaliação
1 – Atenção ao diálogo abaixo:
Professor: Escusado dizer que a eficiência consiste no extirpar-lhes a moléstia que os acomete: preguiça.
Aluno: Qual é a da parada, fessô?
Professor: Mas eu não parei ainda!
a) Discuta a distinção entre língua e linguagem a partir do diálogo acima:
b) Comente sobre o ‘ruído’ ou ‘ interferência’ de acordo com o estudo feito no tópico ‘2’.
2- Leia a tira abaixo:
A partir da tira acima, comente a frase de Aristóteles: “Somente o homem é um animal político, isto é, social e
cívico, porque somente ele é dotado de linguagem”, levando em consideração os objetivos que pretende
alcançar o autor da tira.
3- Com base no que foi estudado, identifique os elementos componentes nos atos de comunicação a seguir:
A- Um político falando pela televisão: “Garanto ao povo brasileiro que este ano tudo vai ser diferente”.
B- Um locutor de rádio: “Caros ouvintes da rádio Camanducaia, muito obrigado pela atenção dispensada.”
C- O inspetor de exame: “Atenção, candidatos: queiram entrar nas salas do primeiro andar”.
4 – Imagine a seguinte situação: Um anúncio de emprego determina, como critério de avaliação de candidatos,
o desempenho em prova de redação e entrevista pessoal.Você considera que quem escreve e fala “melhor” será
um funcionário mais capaz? Justifique sua resposta a partir dos conteúdos transmitidos e levando em
consideração a frase de Gnerre: “a linguagem constitui o arame farpado mais poderoso de acesso ao poder”.
5- “ (...) o sucesso da educação lingüística é transformar ‘o aluno’ num ‘poliglota’ dentro de sua própria
língua nacional (...)”. Evanildo Bechara
Partindo do comentário do gramático Evanildo Bechara, o estudante deve ter em mente que seu aprendizado
de língua portuguesa deve estar enquadrado às realidades sociais em que esta se realiza, observando que, às
vezes, o domínio da norma culta pode ser decisivo.
Diante do exposto, imagine que um candidato redija uma carta para o diretor de uma empresa, solicitando um
estágio. Ao retirarmos um trecho desta carta, a opção que melhor se enquadra ao contexto é:
(a) “moço, preciso uma oportunidade de quaisquer jeito, sei que houveram vagas para preencher”
(b) “Vossa Senhoria, preciso de qualquer modo de uma oportunidade, sei que há vagas para preencher”
(c) “Vossa reverendíssima, preciso de qualquer modo uma oportunidade, soube que houveram vagas para
serem preenchidas”
(d) “Vosso Senhorio, preciso de uma oportunidade de quaisquer modo, sei que há vagas para preencher”
(e) “Vossa Senhoria, preciso de uma oportunidade de qualquer modo, sei que hão vagas para serem preenchidas”
6 – Leia a crônica “O gigolô das palavras” de Luís Fernando Veríssimo que poderá ser encontrada no livro
Língua e liberdade de Celso Pedro Luft (bibliografia básica) e responda qual é a posição do autor sobre o uso
da língua e a atividade comunicativa.
Atividade Complementar
Selecione e recorte um artigo de jornal.
Situe-o no jornal e diga:
· de que se trata;
· por que o escolheu;
· o que acrescentou aos seus conhecimentos.
Não esqueça!
Caso você tenha encontrado dificuldades na solução dos exercícios e atividades propostos, procure seu tutor.
17
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UNIDADE II
O SIGNO LINGÜÍSTICO E AS VARIAÇÕES
LINGÜÍSTICAS
2.1– Língua, Fala e Escrita
Cada vez que falamos, fazemos uso do código geral
que é a língua portuguesa. Isto não quer dizer,
entretanto, que todas as pessoas falem exatamente
igual. Apesar da obediência ao código (língua),
podemos combinar de modo pessoal o material
lingüístico que ele põe à nossa disposição e, dessa
forma, criar a fala, ou seja, o uso que cada pessoa faz
do código lingüístico.
Nesse sentido, é interessante salientar que a escrita
tem caráter de preservação da língua, pois “a língua
evolui sem parar, ao passo que a escrita permanece
imóvel” (SAUSSURE, 1975:37).
Saussure afirma que “a linguagem tem um lado
individual e um lado social, sendo impossível
conceber um sem o outro”. São esses lados a langue
(língua) e a parole (fala), sendo a língua homogênea,
social e psíquica, enquanto a fala heterogênea,
individual e física (1975: 27).
Seja a linguagem oral ou escrita, ela é uma criação
cultural humana, e interfere no desenvolvimento
cognitivo e nas relações sociais de cada indivíduo.
A língua se realiza através da fala, a linguagem se
realiza na língua. Saussure acrescenta que a “a língua
é necessária para que a fala seja inteligível e produza
todos os seus efeitos; mas esta é necessária para
que a língua se estabeleça” (1975: 27).
É fato que a comunicação entre as pessoas se dá
muito mais através da fala, contudo não se pode deixar
de lado o ato comunicativo expresso através da
escrita, que tem importância indiscutível numa
sociedade grafocêntrica. A fala e a escrita são duas
modalidades de uso da língua, possuindo cada uma
delas características próprias.
Saussure acrescenta “a língua tem, pois, uma tradição
oral independente da escrita e bem diversamente fixa;
todavia, o prestígio da forma escrita nos impede de
vê-la” (1975:35).
Não se trata de valorizar ou desvalorizar uma
modalidade outra, mas antes evidenciar que:
A fala (enquanto manifestação da prática oral) é
adquirida naturalmente em contextos informais do
dia-a-dia e nas relações sociais e dialógicas que se
instauram desde o momento que a mãe dá seu
primeiro sorriso ao bebê (...). Por outro lado, a
escrita (enquanto manifestação formal do
letramento), em sua faceta institucional, é adquirida
em contextos formais: na escola. Daí também seu
caráter mais prestigioso como bem cultural
desejável (MARCUSCHI, 2004:18).
A escrita é o resultado de um processo, portanto
estática, ao passo que a fala é processo, portanto
dinâmica.
O uso particular que cada falante faz da língua pode
variar bastante, segundo seu nível de instrução,
condição socioeconômica, idade, região e a situação
em que se produz o ato da fala.
Uma criança não fala igual a um adulto; um professor
em sala de aula não fala como se estivesse em casa
conversando com a família; um analfabeto certamente
não fala como um médico; um nortista não fala
exatamente como um sulista etc.
Por outro lado, é preciso não esquecer que os signos
devem ser combinados com certa ordem para que
ganhem significados. Às vezes, pode-se combiná-los
de várias formas sem que o significado da mensagem
se perca.
Ex.: Ele chegará mais tarde provavelmente.
Provavelmente, ele chegará mais tarde.
Ele, provavelmente, chegará mais tarde.
Entretanto, uma construção do tipo ‘Chegará
provavelmente tarde ele mais’ é inaceitável, pois,
contrariando as regras de combinação da língua
portuguesa, não foi capaz de gerar significado.
Em síntese, a língua é um sistema de signos
organizados a partir de certas combinações. É um
sistema de caráter social, embora só se concretize nos
atos da fala produzidos por cada falante.
Os signos lingüísticos, por sua vez, apresentam
aspectos distintos: um material (significante), um
conceitual (significado) e um puramente convencional,
a relação existente entre eles (referente ou referencial).
2.2 – Estrutura do Signo Lingüístico
Vejamos como funciona: poderemos ter para o signo
lingüístico “casa” diferentes significantes house
[haus] em inglês ou maison [måzo] em francês e [kaza]
em português, contudo manterá nas diferentes línguas
o mesmo significado.
De acordo com Martinet “um enunciado como tenho
uma dor de cabeça, ou uma parte desse enunciado
que faz sentido, como tenho uma dor ou dor ou
cabeça, denomina-se por signo lingüístico” (apud
MAROTE e FERRO, 1994:10).
Observemos como esse fenômeno se dá no dia-adia: quando numa atividade esportiva escolar, em meio
a um jogo de vôlei, faz-se ouvir o som de um apito, os
alunos imediatamente “reagem” paralisando a jogada;
o professor que emitiu o sinal – a mensagem: Pare! –
supõe que seus alunos (os receptores) dominem o
código desse esporte (som da arbitragem, regras do
jogo). A imagem sonora ou acústica (o apito), no caso
em questão, é o significante - a ele corresponde
automaticamente uma noção que lhe é inerente,
indissociável, seu significado, a realidade do jogo,
“o pano de fundo” do momento, denota seu referente
ou referencial: as três faces do signo lingüístico.
Esse circuito contínuo estabelecido de uma imagem
(sonora, visual, gestual, gráfica, olfativa, tátil...)
associada a uma idéia, um conceito ou um nome e
situada em determinada realidade é a base da
denotação, da significação primeira. Dela podem
decorrer outras significações, oriundas de processos
diversos, resultando na conotação. Na situação
exemplificada, o Pare como decorrência do toque na
rede, não permitido pela regra do jogo de vôlei, levaria
à associação da imagem sonora rede ao objeto
necessário ao referido jogo. Sem a especificação do
referencial jogo, vários outros significados poderiam
ser associados ao significante rede, como, por exemplo,
malhas utilizadas para apanhar peixes ou insetos, ou
ainda para prender cabelos; conjunto de meios de
comunicação ou de informação (rede de TVs
Educativas) ou conjunto de estabelecimentos,
agências, prestadoras de serviços (rede bancária);
canalização de água, de esgoto de uma cidade; tipo de
leito, feito de tecido, muito popular no Norte e Nordeste
do país.
A um significante não mais corresponderia um
significado, mas vários, pelos variados referenciais
(polissemia). O poder simbólico da palavra estaria
evidenciado, em suas múltiplas capacidades de
representação ou evocação da realidade, através,
sobretudo, da releitura ou leitura múltipla.
Portanto, um signo lingüístico por si só, sem um
referencial (contexto), torna-se neutro. Observe:
O signo lingüístico “papagaio” tem como significante
[papagaio], contudo terá várias possibilidades de
significados:
· ave, espécie dos psitaformes ou psitacídeos
· pessoa tagarela
· brinquedo feito de armação de bambu coberto por
papel fino
Muitas vezes a variação do significado dependerá de
questões de ordens geográficas, socioculturais ou de
estilo (expressividade).
2.3 – Variações Lingüísticas
Pertencendo a comunidades ou grupos sociais, a
língua só pode ser por eles modificada. Cada
indivíduo, porém, pode utilizar a língua segundo sua
vontade, o que dá origem à fala ou discurso, que deve
conter significação, servindo ao ato de comunicar.
O código da língua é codificado pelo emissor
(“arrumado” com determinada intenção) e decodificado
pelo receptor (entendido ou analisado).
Não há língua que seja em toda a sua amplitude, um
sistema uno, invariável, rígido. No entanto, é certo
que toda língua tem um caráter uno — as regras que
garantem entendimento entre falantes de diferentes
grupos de uma mesma língua nacional. E por outro
lado a língua tem variedades que são reveladas quando
é posta em uso por diferentes grupos.
As variáveis lingüísticas internas a uma língua podem
ser agrupadas em três tipos:
• regionais ou geográficos: dialeto ou falar (língua de
menor alcance geográfico que a nacional), também
chamada de diatópica: Que fome arretada! Ele vai não,
por exemplo;
• de níveis socioculturais: culto, popular (também
chamada de diastrática/estrato social);
• de modalidades expressivas ou de estilo: escrita,
literária, oral; jornalística, feminina (conhecida também
por diafásica).
Essa compreensão das diversidades – devida ao
avanço dos estudos lingüísticos – alterou o rígido
19
20
conceito de erro e acerto no uso de uma língua, já que
esta expressa a organização do pensamento, a partir
da realidade dos seus usuários.
Não se deve, portanto, considerar uma variedade
superior à outra, mas antes compreender as diferenças
em suas formas de construção. De acordo com Bakthin
(apud JUNQUEIRA, 2003: 71) “todas as esferas da
atividade humana, por mais variadas que sejam, estão
sempre relacionadas com a utilização da língua” e por
isso “não é de se surpreender que o caráter e os modos
dessa utilização sejam tão variados como as próprias
esferas da atividade humana”.
Pertencendo ao domínio social – ela é de todos os
falantes – a língua não se pode furtar, entretanto, o
papel de instrumento segregador para os que a
desconhecem; as várias línguas existentes também
constituem uma barreira à comunicação dos povos
como um todo. Além disso, mesmo no interior de um
grupo que utilize a mesma língua, as linguagens
diferem, denunciando, inclusive, níveis sociais
diversos dos sujeitos falantes; um maior ou menor
acesso às instituições escolares. Assim, a linguagem
específica do agricultor ou da cozinheira difere daquela
usada pelo médico ou pelo bancário.
Existem outros aspectos dentro da língua,
determinados, sobretudo, por regionalismos,
modismos e até pela idade do sujeito falante ou ainda
o jargão, a gíria profissional, característicos de setores
de atividades: numa conversa entre mecânicos de
automóvel ou entre enfermeiros, por exemplo, não há
necessidade de explicações suplementares para que
haja entendimento.
integrantes do grupo é fenômeno inerente às línguas,
ocorre naturalmente.
A palavra caseiro pode oferecer duas acepções:
aquele que toma conta de uma casa (substantivo) e o
indivíduo que gosta tanto de ficar em casa que evita
sair (adjetivo). Seu signo lingüístico leva à formação
de conceitos psicológicos nos quais a imagem de casa
está involuntariamente presente. A palavra casinha,
porém, que em linguagem afetiva significa simples,
despretensiosa, recebe em certos locais do país o
conceito de instalação sanitária, sem o lirismo
presente na acepção anterior: “Tu não te lembras da
casinha/Pequenina/Onde osso amor nasceu?”(canção
popular brasileira)
A comunicação mediante um linguajar próprio,
hermético, não é, pois, privilégio de quem passa pela
Escola. A partir da compreensão dos significados – da
semantização – pertinentes a cada área de
conhecimento, será possível promover seu interrelacionamento, ou seja, sua leitura nos diversos
contextos, nas diferentes áreas, sempre partindo repita-se – da realidade. Como exemplo, tomemos o
elemento fônico ou sonoro (o significante) /seboliña/
que corresponde à grafia “cebolinha”. Para um
mecânico de automóvel, será uma peça; para o público
infantil, representará uma personagem de sua literatura;
para quem pratica a culinária, poderá ser um tipo de
tempero longo, ou ainda uma cebola pequena.
Assim, o usuário da língua pode incorporar esses
novos significados à prática do seu cotidiano, que lhe
exige comunicar seu pensamento, integrar-se ao grupo,
situar-se, calcular, jogar, sentir, criar, viver, enfim.
A existência de significação específica a cada nível
de linguagem dominada pelos sujeitos falantes
Exercícios de Auto-Avaliação
1 – Combine as frases a seguir de outra maneira, sem comprometer a comunicação:
“ Eu te peço perdão por te amar de repente” (Vinicius de Moraes).
“Eu faço versos como quem chora” (Manuel Bandeira).
“De minha varanda vejo, entre árvores e telhados, o mar” (R. Braga).
“Perdi o bonde e a esperança” (Carlos Drummond de Andrade).
“A minha alma partiu-se como um vaso vazio” (Fernando Pessoa).
2 – Considerando a conceituação do signo lingüístico, complete:
significante
significado
referencial
via secundária à esquerda
código de trânsito
a) /m e z a/ ou
...................................
..............................
b) / m ã g a/
...................................
.............................
3- Considerando a conceituação de signo lingüístico, explique significante, significado e referencial a partir da
figura abaixo.
4 – De acordo com os vários referenciais, dê significados para os significantes:
a) /e s k a l a/ b) regência 5 – Leia:
Neologismo
Beijo pouco, falo menos ainda.
Mas invento palavras
Que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana.
Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
Intransitivo:
Teadoro, Teodora.
( Manuel Bandeira)
Comente o neologismo criado pelo poeta no aspecto formal e no aspecto semântico (do sentido).
21
22
6 – Leia a tira:
a) A partir da tira acima, discuta sobre variedade lingüística, levando em consideração os três tipos de ‘variáveis
lingüísticas’ estudadas nessa unidade.
b) Observando a última fala do robô “Pra começar não me dirija a palavra em lugares públicos”, comente
qual é o opinião dele sobre a linguagem utilizada pelo motorista, considerando o fato de a língua ‘ser instrumento
segregador para os que a desconhece’.
Atividade Complementar
Assista a um dos seguintes filmes:
“O Quatrilho”
“Kramer x Kramer”
“Dona Flor e seus dois maridos”
1 – Faça um resumo da história ou enredo.
2 – Comente:
o tempo (a época e o que permite identificá-lo);
o espaço (interno ou externo).
3 – Qual o papel da mulher na instituição casamento?
4 – É possível observar aspectos de variação lingüística entre as várias personagens do filme (seja no aspecto
diastrático, diafásico ou diatópico).
UNIDADE III
23
GRAMÁTICA, USO E NORMA
3.1- Gramática: Descrição e Norma
A Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB) emprega
a palavra gramática com o sentido de uma disciplina
de natureza didática que tem como fim codificar as
regras da língua culta.
A gramática compreende o conjunto de regras que
especificam os padrões (fonológicos, morfológicos,
sintáticos e semânticos) de funcionamento de uma
língua. Segundo Antunes, “toda língua tem uma
gramática ou, noutra perspectiva, toda gramática
regula os modos de realização da língua a que
pertence” (apud BAGNO, 2002: 129).
Contemporaneamente, numa divisão pedagógica,
poderíamos estabelecer a existência de dois tipos de
gramática: a gramática natural e a gramática teorética.
Sendo a primeira inerente a qualquer língua, um todo
sistêmico, preparado, combinado que não pode ser
tocado, e a segunda uma tentativa hipotética de
traduzir a gramática natural.
A gramática teorética abrange por um lado o estudo
normativo (gramática normativa - é prescritiva, dita o
que julga ser correto) e por outro, o estudo descritivo
(gramática descritiva - não atribui juízo de valor,
apenas analisa).
Na visão de Possenti, a gramática normativa é
“conjunto de regras que devem ser seguidas”, são
compêndios destinados a fazer com que seus leitores
aprendam a “falar e escrever corretamente”, apresenta
um conjunto de regras, “relativamente explícitas e
relativamente coerentes” (2004: 64). Este é o tipo de
gramática que prescreve o uso, recomenda como usar
e proíbe determinados usos na língua (ex.: Não se
podem usar pronomes oblíquos em início de frases,
ou ainda, o verbo assistir é transitivo indireto no
sentido de ver, presenciar, portanto precisa da
preposição ‘a’).
Já a gramática descritiva, Possenti define como
“conjunto de regras que são seguidas — é a que
orienta o trabalho dos lingüistas, cuja preocupação é
descrever e/ou explicar as línguas tais como elas são
faladas” (2004: 65). Este tipo explica o funcionamento
e descrição da língua, estando aberta a qualquer dialeto
ou registro da língua (ex.: Numa perspectiva descritiva,
constata-se que, no português de hoje, existem pelo
menos três maneiras de dizer ‘eles puseram’: eles
puseram, eles pusero e eles pôs).
A gramática natural é chamada de ‘gramática
internalizada’ por Possenti, e ele a define como o
“conjunto de regras que o falante domina” e que lhe
permite “produzir frases ou seqüências de palavras
que são compreensíveis e reconhecidas como
pertencendo a uma língua” (2004:69). Esta gramática
funciona como um depósito virtual, sem pesar o falante
usa seus conhecimentos lingüísticos adquiridos
durante a vida (ex.: jamais veremos um falante natural
da língua portuguesa construir uma seqüência como
‘O menina bonito não vem hoje’).
Para Luft, a gramática natural é aquela que
aprendemos durante a vida convivendo com os outros
falantes da língua, isto é, um “sistema de regras que
os falantes internalizam ouvindo e falando” (2004: 19).
Na mesma direção, Perini afirma que “qualquer falante
de português possui um conhecimento implícito
altamente elaborado da língua” e que esse
conhecimento “foi adquirido de maneira tão natural e
espontânea quanto a nossa habilidade de andar”
(2000:13).
Em linhas gerais, diríamos que a gramática normativa
leva em consideração apenas usos dos bons escritores,
depreciando outras variedades; a gramática descritiva
expõe com detalhes as várias possibilidades de
comunicação, aceitando novas formas de uso; a
natural desenvolve-se com o tempo e que para essa
não há erro, mas sim inadequações de uso.
24
3.2- Norma Padrão e Norma Não-Padrão
Bechara diz que a ‘norma’ “contém tudo que na
língua não é funcional, mas que é tradicional, comum
e constante, ou em outras palavras, tudo o que se diz
“assim, e não de outra maneira” (2000: 42).
Para Câmara Jr., norma é “conjunto de hábitos
lingüísticos vigentes no lugar ou na classe social
mais prestigiosa no país”, e acrescenta que “a norma
é uma força conservadora na linguagem, mas não
impede a evolução lingüística”. Do ponto de vista da
norma, “a variabilidade que a contraria constitui
ERRO” (1999: 177).
A partir do advento da lingüística que tem como
objeto de estudo a língua e a linguagem em uso,
passa-se a ver a natureza da linguagem separada de
vínculos de valor com o poder político, com a
importância social e com beleza estética. Assim
aprendeu-se, com a ciência lingüística, “a separar o
social do lingüístico e ao mesmo tempo a considerar
o social no uso da língua” conforme Neves (2004:
34).
Dentro dessa nova perspectiva, valoriza-se a língua
em uso, portanto os usos passam a estabelecer novos
padrões, e as variações lingüísticas não representam
mais o certo e o errado, mas o reconhecimento de que
existem usos diferentes para situações diferentes.
Contudo, pensar que se pode fazer uso de qualquer
variedade sem sofrer algum tipo de prejuízo é idealizar
uma sociedade que não existe. Nesse sentido Câmara
Jr. alerta:
(...) cada um de nós tem de saber uma boa linguagem
para desempenhar o seu papel de indivíduo humano
e de membro de uma sociedade humana. Não se pode
admitir que um instrumento tão essencial seja mal
conhecido e mal manejado (1983:12).
Além disso, não se pode esquecer que “a variedade
padrão é parte da língua portuguesa em sua totalidade
e não ensiná-la seria mais uma forma de exclusão — a
mesma que acontece quando as outras variedades
lingüísticas são desconsideradas nas aulas de
português” (JUNQUEIRA, 2003: 68).
É fato que para aprender o uso informal e cotidiano
da língua não se precisa ir à escola, por outro lado, “a
função da escola é o enriquecimento do conhecimento
cotidiano dos participantes a fim de capacitálos”(SIMÕES, 2004:142). Afinal, já se sabe que a
linguagem não é utilizada apenas para veicular
informação, mas também para comunicar àquele que
ouve a posição que o falante ocupa na sociedade.
Desse modo, não é possível negligenciar a
aprendizagem da língua padrão nas escolas, alerta
Simões (2004:144), mesmo porque se sabe que é a norma
padrão que será usada contra os alunos de hoje, quando
eles se tornarem adultos (SOARES, 1987).
Exercícios de Auto-Avaliação
1- David Cristal diz que “as pessoas já falam gramaticalmente”; comente esta frase baseando-se nas discussões
expostas do tópico “Gramática: descrição e norma”.
2- David Cristal explica que não existe forma ‘certa’ ou ‘errada’ de se falar, pois esta é uma questão social.
Explique esta opinião, levando em consideração o que foi aprendido nessa unidade.
3- Discuta a frase de Maurízio Gnerre “Uma variedade lingüística vale o que valem seus falantes na sociedade”
4- Leia o texto a seguir:
Há pessoas até que exageram, e o resultado é que normalmente não são entendidas. Tenho um amigo, um
professor de português, que só fala a língua exemplar, padrão. Uma vez, saindo do Pedro II, foi assaltado. Gritou,
e não apareceu ninguém. Ele ficou aborrecidíssimo. Voltou ao Pedro II e reclamou:
“Mas você não gritou? Não pediu socorro?”, perguntaram.
“Eu gritei, mas não apareceu ninguém!”
“Mas o que você disse?”
“Eu gritei ‘Peguem-no! Peguem-no!’”.
O limite é a adequação.
(Bechara, Evanildo. “Não sou poliglota, sou linguarudo”)
a) Discuta ‘norma’ e ‘uso’ a partir dessa narrativa de Bechara.
b) Para Travaglia é dever da escola desenvolver a ‘competência comunicativa’ do falante entendida por ele
como “capacidade de utilizar o maior número possível de recursos da língua de maneira adequada a cada
situação de interação comunicativa”. Discuta o comportamento do professor em relação a opinião de Travaglia.
5- Leia a tira a seguir:
Discuta o uso do verbo ‘assistir’ na tira acima levando em consideração as gramáticas normativa, descritiva e
natural.
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26
UNIDADE IV
ASPECTOS DE PRODUÇÃO TEXTUAL
4.1- Aspectos Básicos de Coesão e Coerência
A construção de um texto envolve uma intenção, e
seu entendimento envolve não só o conteúdo
semântico como também a decodificação da intenção
de quem produziu.
depende de conhecimentos partilhados entre os
interlocutores. Já a coesão “é a manifestação lingüística
da coerência” e é estabelecida por meio de mecanismos
gramaticais e lexicais (1999:5-6).
Para Val, “texto ou discurso é ocorrência lingüística
falada ou escrita, de qualquer extensão, dotada de
unidade sociocomunicativa, semântica e formal”
(1999: 3). Por outro lado, Guimarães (1999: 130) diz
que “um texto revela uma conexão entre as intenções,
as idéias e as unidades lingüísticas que o compõem,
por meio de um encadeamento de enunciados dentro
do quadro estabelecido pela enunciação”.
Koch diz que a coerência é “a organização reticulada
ou tentacular do texto” (2003: 21), enquanto Charolles
acrescenta que seria ela a “qualidade que têm os textos
pela qual os falantes os reconhecem como bem
formados” (apud Koch: 2003:22).
Entender-se-á por texto uma unidade básica de
manifestação da linguagem, dotada de propriedades
estruturais específicas, que comprometem fatos de
natureza sintática e de natureza semântica
constituindo um todo significativo.
A produção de um texto não costuma ser uma tarefa
simples, pois conforme alerta Câmara Jr. ao escrever
devemos “além de nos fazermos entender pelos
outros, temos de nos entender a nós mesmos”
(1983:14).
Nesse sentido, dois fatores têm grande importância
na construção da textualidade – conjunto de
características que fazem com que um texto seja um
texto, e não apenas uma seqüência de frases – e que
estão centrados no texto, são eles a coerência e
coesão.
A coerência é responsável pelo sentido do texto e
envolve não só “aspectos lógicos e semânticos, mas
também cognitivos”, isso se dá, porque o sentido
Uma seqüência não coerente pode ser exemplifica
assim “Chega a carruagem das rainhas é a mais bela
de todas as carruagens. Tem barracas de tiro e de
pastéis. E a festa se acaba”, o texto não progride, não
há continuidade, nem relação de sentido entre as
partes.
A coesão, na opinião de Koch, é a responsável pela
concatenação das idéias do texto, e ocorre através de
mecanismos lexicais e gramaticais (pronomes relativos,
pessoais e demonstrativos, conjunções, a elipse, a
concordância, numerais, advérbios).
Uma seqüência com problemas de coesão pode ser
exemplificada assim “Tenho prova hoje, por isso não
estudei coisa alguma porque vou tirar nota baixa”.
Nota-se que a simples troca das expressões ‘por isso’
e ‘porque’ pelos mecanismos ‘porém’ e ‘portanto’
respectivamente na seqüência citada resolveria o
problema de construção, contudo é interessante
perceber que a coesão mal feita torna o texto incoerente,
o que nos leva a entender que a coesão e a coerência
concorrem simultaneamente no processo de produção
e compreensão do texto.
4.2- Correção Gramatical
O estudo feito sobre coesão e coerência torna mais
claro o que significa um texto que segue o raciocínio
lógico e linear e o quanto esse aspecto é importante na
construção do sentido do texto, contudo não podemos
deixar de observar que as questões relacionadas à
correção gramatical continuam tendo seu espaço
garantido no julgamento objetivo das redações na hora
de atribuir nota aos textos produzidos.
Carneiro comenta que:
Ainda que a etimologia dos vocábulos possa
justificar o emprego de algumas letras no sistema
ortográfico do português, hoje, a maioria dos alunos
não têm mais condições de contar com esses
conhecimentos, desde que o estudo do latim foi
abandonado. Como em muitos outros idiomas,
também na língua portuguesa, não há
correspondência perfeita entre grafema e fonema, o
que agrava o problema de grafar corretamente (2001:
203).
Câmara Jr. confirmando a questão da força da norma,
acrescenta que “o cuidado com a correção gramatical
evita que se afronte um sentimento lingüístico
enraizado” (1983: 14).
É nesse sentido que se faz necessário tomar alguns
cuidados com algumas palavras ou expressões que
causam dúvidas no dia-a-dia daquele que precisa expor
seus pensamentos e idéias por escrito.
Dificuldades Lingüísticas
Por que/por quê/porque/porquê
1. Escreve-se por que separado (preposição por
seguida do pronome interrogativo que):
2. conjunção temporal (equivale a logo que/assim que)
Mal chegou, já arrumou briga.
Mal acordei, vi que estava chovendo.
Acerca de/há cerca de
a) Quando equivale a pelo qual e suas flexões.
Não encontrei o caminho por que passei ontem.
b) Quando em sentenças interrogativas (estando
explícita ou subentendida a palavra razão)
Por que razão você não foi à festa?
Por que ela não compareceu à reunião?
Não sabemos por que ela faltou.
Você não veio por quê? (obs.:Em final de frase,
deverá ser acentuado)
2. Escreve-se porque (junto sem acento) quando
for conjunção explicativa ou causal.
Ana faltou à festa porque estava doente.
Não saia hoje, porque vai chover muito.
3. Escreve-se porquê (junto com acento) quando se
tratar de um substantivo. Nesse caso, virá precedido
de artigo ou outro determinante.
Ninguém entendeu o porquê da briga.
Onde/aonde
1- Emprega-se aonde com verbos que não dão idéia
de movimento (equivale a para onde) é combinação
da preposição ‘a’ + onde.
Aonde você vai com tanta pressa. ( Quem vai, vai
‘a’)
Aonde você quer chegar? (Quem chega, chega ‘a’)
2- Com os verbos que não indicam movimento,
empregamos onde.
Onde você fica nas férias?
Não sei onde você mora.
Mal/mau
Mau é sempre um adjetivo (é antônimo de bom),
liga-se, portanto, a substantivos.
O senhor não é mau aluno.
Escolheste um mau momento para sair.
Mal pode ser:
1. advérbio de modo (antônimo de bem)
Ela comportou-se mal.
Ele estava passando mal.
Acerca de é locução prepositiva, equivale a ‘a respeito
de’.
Discutíamos acerca de uma melhor saída para
educação.
Há cerca de é uma expressão que indica tempo
transcorrido (há \ haver).
Há cerca de uma semana, discutíamos assuntos da
gramática normativa.Estamos lhe esperando há cerca
de uma hora.
Tampouco/tão pouco
Tampouco é advérbio e significa ‘também não’.
Não fez o trabalho, tampouco estudou para prova.
Já em tão pouco, temos o advérbio de intensidade ‘tão’
modificando ‘pouco’ (que poderá ser advérbio ou
pronome indefinido).
Tenho tão pouco entusiasmo pelo trabalho.
(pouco - pronome indefinido)
Estudamos tão pouco esta semana.
(pouco - advérbio)
Mas/mais
Mas é conjunção adversativa (equivale a porém).
Foi à praia, mas não mergulhou.
Estudou muito, mas saiu-se mal.
Mais pode ser pronome ou advérbio de intensidade
(opondo-se a ‘menos’).
Foi ele quem mais tentou, mas não conseguiu.
Ela sempre teve mais bonecas que eu.
Afim/a fim
Afim é um adjetivo que significa ‘igual’, ‘semelhante’.
Elas têm idéias afins.
A fim surge na locução a fim de, que equivale a ‘para’,
indica finalidade.
Estudou muito a fim de passar no vestibular.
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28
Exercícios de Auto-Avaliação
1- Reescreva as frases a seguir de modo a eliminar as ambigüidades.
a) A empregada lavou as roupas que encontrou no tanque.
b) A professora deixou a turma entusiasmada.
c) O cão enterrou os ossos que encontrou no jardim.
d) Se você tivesse ido à festa com José, encontraria sua namorada.
2- Indique as ambigüidades recorrentes nas frases, originadas pela má colocação das palavras grifadas. A
seguir, reescreva-as eliminando a ambigüidade.
a) O juiz declarou ter julgado o réu errado.
b) Conheço uma professora de literatura inglesa.
c) Comprou o carro rápido.
d) Confessou os erros que cometeu com franqueza.
3- Os pronomes relativos são usados como mecanismos de coesão e evitam a repetição de termos. Una as
sentenças abaixo evitando a repetição do termo em destaque.
a) Gostei muito do romance de Lygia Fagundes Telles. Lygia Fagundes Telles é uma de nossas melhores
romancistas.
b) Morei durante muito tempo na Espanha. Na Espanha eu fui feliz.
c) Comprei uma camisa de seda no eldorado. O preço da camisa foi muito alto.
d) Falei com Maria e Pedro. Maria é minha amiga.
4- No texto a seguir, de Millôr Fernandes, o humorista utilizou intencionalmente a repetição. Reescreva-o de
modo a reduzir o número de ocorrências do vocábulo em destaque.
A senhora, uma dona de casa, estava na feira, no caminhão que vende galinhas. O vendedor ofereceu a ela uma
galinha. Ela olhou para a galinha, passou a mão embaixo das asas da galinha, apalpou o peito da galinha, alisou
as coxas da galinha, depois tornou a colocar a galinha na banca e disse para o vendedor “Não presta!”. Aí
vendedor olhou para ela e disse “Também, madame, num exame assim nem a senhora passava”.
5- Sem alterar a idéia contida no período dado, construa um novo, a partir do inicio proposto. Use o elemento
de coesão adequado, indicado entre parênteses.
a) A companhia era chata e a viagem tornou-se aborrecida.
A companhia era tão chata ______________________________________.
(portanto – que – por isso)
b) Faltando-lhe dinheiro para viagens, lia livros.
Lia livros, _______________________________________________.
(porém – por isso- uma vez que)
6- Complete as lacunas escolhendo a forma adequada entre parênteses.
a) _____________ você não compareceu à escola ontem? (porque – por que – por quê)
b) Não compareci, _________________ estava com febre. (por que – porque – porquê)
c) E você não me avisou ________________?
(porque – por quê – por que)
d) Não entendi o _________________ de sua preocupação. (porque – porquê – por que)
e) ____________ você pensa que vai?
(onde – aonde)
f) Quero saber __________ você ficou nas férias. (onde – aonde)
g) Quanto ______ você me maltrata, ______ eu gosto. (mais – mas)
h) Eles me avisaram, ________ fingi que não escutei. (mas – mais)
i) Você ________ entrou aqui e já está me aborrecendo. (mal – mau)
j) Ela está lhe esperando _______ dois dias.
(há – a)
l) Faça o que mandei, _________ você estará encrencado. (senão – se não)
m) Trabalhei muito ______________ de terminar o serviço. (afim – a fim)
Atividade Complementar
1- Pesquise, em pelo menos duas gramáticas diferentes, outras dificuldades lingüísticas. Assim, você ampliará
seu conhecimento gramatical e diminuirá suas dificuldades diante de situações em que você precise utilizar o
registro padrão da língua.
29
Se você:
1)
2)
3)
4)
concluiu o estudo deste guia;
participou dos encontros;
fez contato com seu tutor;
realizou as atividades previstas;
Então, você está preparado para as
avaliações.
Parabéns!
30
Glossário
Concatenação - acto ou efeito de concatenar; encadeamento; ligação; conexão.
Etimologia - parte da gramática que trata da origem e formação das palavras.
Fisionômico - relativo à fisionomia.
Hermético - encimado por um busto ou cabeça de Mercúrio; fechado por forma tal que não deixe entrar o ar;
misterioso; confuso; obscuro; aquele que pratica a ciência da transmutação dos metais e da medicina hermética.
Heteróclito - que se afasta das regras comuns da analogia gramatical ou das regras vulgares da arte; estranho;
ridículo; extravagante; esquisito.
Implícito - que está envolvido ou contido, mas não expresso claramente; não expresso em palavras,
subentendido; tácito.
Lexiais - relativo ao léxico ou aos vocábulos de uma língua.
Neologismo - palavra ou termo de formação nova, a partir de elementos gramaticais da própria língua ou
estrangeiros; acepção nova de uma palavra já existente na língua; doutrina ou teoria nova.
Nocional - relativo a noção; que tem o carácter de noção.
Poliglota - que está escrito em muitas línguas; pessoa que fala muitas línguas.
Teorética - teórico.
Gabarito
Unidade I
1- a) O professor e o aluno utilizam a mesma língua nacional para se comunicarem, isto é o mesmo sistema de
códigos, contudo a linguagem do professor se difere da linguagem do aluno por questões socioculturais. O
professor utiliza uma linguagem erudita e o aluno uma linguagem popular (com gírias, por exemplo), vê-se,
portanto, que a língua é social (de todos, para todos) e a linguagem é individual (cada um terá a sua).
b) O ruído ou interferência na comunicação ocorre quando por algum motivo a mensagem não é decodificada
e, portanto, não há resposta, e consequentemente não há comunicação efetiva. No caso do diálogo entre o
professor e o aluno, o ruído foi causado pelo código utilizado (a linguagem) pelos sujeitos que era tanto para um
quanto para outro parcialmente desconhecido, o que provocou a falta de entendimento, isto é, não houve
comunicação efetiva.
2- Observemos num primeiro momento que o papagaio, que apenas imita sons, reproduz palavras soltas,
ensinadas pelo homem e o cachorro rosna, mostra os dentes e altera o olhar para se ‘comunicar’. Até então tudo
normal. Contudo, no último quadrinho, para construir o humor da tira, o papagaio é capaz de raciocinar e criar
uma frase que atenda a sua necessidade, adquirindo, nesse momento, uma característica que é própria do ser
humano: dotado de linguagem; capaz de produzir um enunciado inteligível.
3- A- emissor (o político); receptor (todos da população brasileira que estiverem assistindo a rede transmissora);
código (língua portuguesa); mensagem (a fala do político); canal (televisão) e o referente (a promessa de que
tudo será diferente).
B- emissor (o locutor); receptor (os ouvintes da rádio em questão); código (língua portuguesa); mensagem
(a fala do locutor); canal (o rádio) e o referente (o agradecimento e a despedida do locutor).
C- o emissor (o inspetor); o receptor (os candidatos); código (língua portuguesa); mensagem (a fala do
inspetor); canal (o ar que permite a propagação do som) e o referente (a ordem dada para que entrem nas salas
do primeiro andar).
4- A capacidade de alguém ser medida pelo fato de escrever e falar bem, vai depender da função que a pessoa
vai ocupar. Se para tal função é necessária uma prova de escrita (avaliação da capacidade de produzir textos
inteligíveis) e uma entrevista (avaliação da capacidade de produzir textos orais inteligíveis), o fator linguagem
deve ter um peso considerável na decisão. É nesse sentido que a frase de Gnerre serve de parâmetro para se
imaginar que aqueles que conseguirem produzir os melhores textos e passarem pela entrevista podem ser mais
capazes para determinada função.
5- B
6- Para Luis Fernando Veríssimo o que importa é comunicar. Ele diz que a linguagem é meio de comunicação,
portanto aquele que usa a língua e consegue se comunicar de forma clara está praticando a atividade
comunicativa, independente de usar religiosamente as regras gramaticais. O autor afirma que algumas regras
são dispensáveis no ato comunicativo.
- Por te amar demais, eu te peço perdão.// Eu, por te amar demais, peço-te perdão.
- Como quem chora, eu faço versos.
- Entre árvores e telhados, vejo de minha varanda o mar.// Entre árvores e telhados, vejo de minha varanda o
mar.
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Unidade II
1- Por te amar demais, eu te peço perdão.// Eu, por te amar demais, peço-te perdão.
- Como quem chora, eu faço versos.
- Entre árvores e telhados, vejo de minha varanda o mar.// Entre árvores e telhados, vejo de minha varanda o
mar.
- O bonde e a esperança perdi.// Perdi a esperança e o bonde.
- Como um vaso vazio, a minha alma partiu-se.// A minha alma, como um vaso vazio, partiu-se.
2- a- móvel de superfície plana apoiada em um ou mais pés
b- parte da roupa sobre o braço
- cozinha residencial
- camisa masculina
3- Temos três significantes diferentes /fogu/, /fai?i/ e /fuegu/, que se referem ao mesmo significado ‘combustão
com emissão de luz, calor e chama’, para o referencial ‘incêndio’ num prédio, por exemplo. Contudo, se
mudássemos o referencial o significado provavelmente mudaria também.
4- a) referencial (aeroporto) – significado (parada de aviões durante uma viagem)
referencial (quartel) - significado (tabela de horário de trabalho)
b) referencial (gramática) – significado (fenômeno que analisa a relação entre termos de uma oração.)
referencial (orquestra) – significado (condução de execução musical feita por maestro)
5- No aspecto formal, temos um vocábulo composto por justaposição, o pronome oblíquo ‘te’ unido ao verbo
‘adorar’ no infinitivo, criando o verbo ‘teadorar’; já no aspecto semântico, percebe-se que o poeta diz ser
intransitivo o verbo ‘teadorar’, portanto não necessita de complemento para lhe completar o sentido, já que no
próprio radical do verbo já está tudo de que o eu lírico necessita para lhe completar a vida: a ‘teodora’.
6- a) No primeiro quadrinho, vemos pelos trajes da personagem que se despede “Voltem sempre, certo?”,
tratar-se de indivíduo da região rural, o que se comprova pelo linguajar utilizado pelo motorista que deixa
subentendido que de tanto conversar com o pessoal daquela região acabou ficando contaminado pela variedade
lingüística utilizada por eles. Estamos diante de um choque cultural que se dá pela variedade lingüística diatópica
(dialeto ou falar regional), tal dialeto é conhecido por alguns como falar caipira.
b) Na tira, vemos o motorista utilizando uma variedade lingüística que é rejeitada pelo robô, que exige do
motorista não lhe dirigir a palavra em público. Deste modo, nota-se que tal variedade não é vista com bons olhos
por parte da sociedade, ou seja, é discriminada, não sendo considerada prestigiosa. Nesse sentido, comprovase a idéia de que a língua é um instrumento segregador, isto é, um instrumento que divide a sociedade e põe a
parte os que não conhecem o “bom uso” da língua (o padrão formal).
Unidade III
1- A partir da frase de David Cristal entendemos que as pessoas adquirem, durante a vida, no convívio com
outros falantes da língua, a habilidade de falar ou escrever, respeitando as regras desta língua. Isso ocorre de
forma natural e espontânea. Nesse sentido, podemos observar que os falantes naturais da língua portuguesa
jamais construiriam uma frase do tipo “A menino foi ao escola”, exatamente porque essa não é a construção
comumente utilizada pelas pessoas com quem convive. Portanto, dizer que “as pessoas já falam gramaticalmente”
é, em outras palavras, dizer que “qualquer falante do português possui um conhecimento implícito altamente
elaborado da língua”, conforme afirma Perini (2004:19).
2 - A partir dos estudos lingüísticos que têm como objeto de estudo a língua e a linguagem em uso, vislumbrase a natureza da língua dissociada de valores sociais, políticos ou de beleza estética. Desse modo, passa-se a
valorizar a língua em uso e a se analisar as variações lingüísticas existentes dentro de uma mesma língua. Dentro
desta perspectiva, reconhece-se que não se deve pensar em ‘certo’ ou ‘errado’ sobre as formas de falar, mas,
antes, reconhecer que dentro de uma sociedade existem usos diferentes da língua para situações diferentes de
uso. Poder-se-ia pensar em formas ‘adequadas’ ou ‘inadequadas’ de se falar para esta ou aquela situação de
uso.
3- A afirmação de que “uma variedade lingüística vale o que valem seus falantes na sociedade” é uma crítica
que se faz a própria sociedade que valoriza aquilo que parece ter valor. Se você é reconhecido, famoso e
aclamado pela sociedade, mas comete erros na hora de falar, poderá ser considerado descuidado, desatento ou
irreverente por ir de encontro ao que é normativo. Contudo se você é pobre, uma pessoa comum e desconhecida
será tachada de ignorante, iletrada, pessoa sem cultura. Por outro lado, se você, mesmo sendo da classe menos
favorecida, demonstrar bom conhecimento lingüístico e domínio da variedade padrão da língua não sofrerá,
pelo menos, esse tipo de exclusão social, e terá grandes chances de romper algumas barreiras de acesso ao
poder.
4- Questões a e b: O texto exemplifica claramente a questão da adequação linguagem e a confirmação de que
o importante não é o domínio exclusivo de norma, mas, além dela, ter-se o domínio, também, da maior quantidade
de variações possíveis, pois, desta forma, estaremos preparados para todas as situações sociais que nos
acometerem, como no exemplo do professor do texto. No caso, provavelmente, ele não foi socorrido porque
ninguém entendeu o que ele disse (“peguem-no”). Assim, nem sempre o uso da norma é eficiente em todas as
situações comunicativas.
5- No 1º balão, a frase “não assisti o jogo” apresenta erro gramatical, pois de acordo com a gramática normativa
o verbo ‘assistir’ no sentido de ‘ver’, ‘presenciar’ rege a preposição ‘a’, portanto o correto seria “...não assisti
ao jogo”. Já a gramática descritiva analisa e percebe que os falantes ao utilizarem o verbo assistir sem preposição
‘a’, o fazem por associação ao verbo ‘ver’ que não rege a preposição ‘a’ (Não vi o jogo); e, ainda que, ao
pronunciarem a frase “não assisti o jogo” o falante produz um enunciado perfeitamente capaz de comunicar
aquilo que é desejado, sem causar falha na comunicação. Do mesmo modo, a gramática natural, que é o
conhecimento internalizado que cada falante natural têm de sua língua, permite a esse falante emitir tal enunciado,
pois para ele tal construção é perfeitamente reconhecível, inteligível e aceitável entre aqueles com quem convive.
Unidade IV
1-a) A empregada lavou, no tanque, as roupas que encontrou.
No tanque, a empregada lavou as roupas que encontrou.
A empregada encontrou as roupas no tanque e levou-as.
b) A professora, entusiasmada, deixou a turma.
A entusiasmada professora deixou a turma.
A professora deixou a turma que estava entusiasmada.
c) O cão enterrou, no jardim, os ossos que encontrou.
Os ossos, que encontrou no jardim, o cão enterrou.
O cão encontrou os ossos no jardim e enterrou-os.
d) Você encontraria sua namorada se tivesse ido à festa com José.
Se você tivesse isso à festa com José, encontraria a namorada dele.
2-a) O juiz julgou de forma errada ou o réu é quem estava errado?
O réu foi declarado errado pelo juiz. (réu errado)
O juiz fez um julgamento errado acerca do réu. (juiz errado)
3-a) Gostei muito do romance de Lygia Fagundes Telles que é uma de nossas melhores romancistas.
Lygia Fagundes Telles, de quem gostei muito, é uma de nossas melhores romancistas.
b) Morei durante muito tempo na Espanha onde fui feliz.
Na Espanha, onde morei muito tempo, fui feliz.
c) No Eldorado, comprei uma camisa de seda cujo preço foi muito alto.
O preço da camisa de seda, que comprei no Eldorado, foi muito alto.
d) Falei com Maria que é minha amiga e com Pedro.
Falei com Pedro e com Maria que é minha amiga.
4- A senhora, uma dona de casa, estava na feira, no caminhão que vende galinhas. O vendedor ofereceu a ela
uma das aves. Ela olhou para o animal, passou a mão embaixo de suas asas, apalpou o peito, alisou as coxas,
depois tornou a colocou-a na banca e disse para o vendedor “Não presta!”. Aí o vendedor olhou para ela e disse
“Também, madame, num exame assim nem a senhora passava”. (existem outras possibilidades)
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5- a) (...) que a viagem se tornou aborrecida.
b) (...) uma vez que lhe faltava dinheiro para viagens.
6- a) Por que (separado sem acento)
b) porque (junto sem acento)
c) por quê (separado com acento)
d) porquê (junto com acento)
e) Aonde
f) onde
g) mais – mais
h) mas
i) mal
j) há
l) se não
m) a fim
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