QUESTÃO SOCIAL EM NOTÍCIA: a violência sob a ótica do jornal A Crítica, na cidade de Manaus-AM Waldriane Nascimento da Silva1 Danielle da Silva Barbosa2 RESUMO A finalidade deste trabalho é analisar a violência, como expressão da questão social, em Manaus a partir das publicações do Jornal A Crítica, principal e mais antigo periódico veiculado na cidade, verificando as faces mais eminentes dessa problemática, bem como as respostas dadas pelo poder público. O estudo aborda as diferentes expressões da violência discutindo-a como resultado das contradições entre capital e trabalho. Palavras-chave: Capitalismo. Questão Social. Violência. Jornal A Crítica ABSTRACT The purpose of this paper is to analyze the violence as an expression of the social question in Manaus from the publications of the Journal Criticism, main and oldest journal posted on the city, checking the most prominent faces of this problem and the answers given by the power public. The study addresses the different expressions of violence discussing it as a result of the contradictions between capital and labor. Keywords: Capitalism, Social Issues. Violence. The Journal Review 1 2 Estudante. Universidade Federal do Amazonas (UFAM). E-mail: [email protected] Estudante. Universidade Federal do Amazonas (UFAM). 1. INTRODUÇÃO Para a contextualização acerca da discussão sobre violência e suas múltiplas expressões na contemporaneidade, verifica-se a necessidade de incitar o debate acerca da sociedade capitalista, sua abundância e escassez retratando a face desigual de um sistema que possui uma contradição fundamental: o trabalho é cada vez mais coletivo, social e a apropriação privada dos frutos do trabalho. E isso está na origem do fato que o desenvolvimento nesta sociedade redunda entre o progresso que traz no seu avesso à escassez e a miséria. (IAMAMOTO, 2009). Segundo Netto e Braz (2006. p. 95) “o modo de produção e reprodução capitalista substituiu o modo de produção feudal e hoje se configura como um sistema de produção mundializado”. O capitalismo tem como base a propriedade privada dos meios de produção e a divisão social do trabalho, onde o trabalhador assalariado vende sua força de trabalho em troca de um salário para manutenção de suas necessidades. Além disso, o objetivo a ser perseguido na sociedade do capital é a obtenção de ganhos monetários, já que visa à acumulação de bens e gera as contradições inerentes ao próprio sistema capitalista, pois na sociedade do capital legitimasse a dominação de uma classe sobre a outra, a exploração do homem pelo próprio homem. Assevera-se que a violência caracteriza-se como um fenômeno social, tendo múltiplas manifestações (física, social, simbólica, psicológica, etc) e implicações na sociedade, seguindo modelos culturais, de acordo com determinados momentos históricos, a prática da violência adquire características históricas, dependendo da época em questão, uma atitude pode ser aceita ou não em determinada sociedade. (ARENDT, 1985). Do exposto, é salutar destacar que a criminalidade e a violência se expandiram concomitantemente ao ritmo do desenvolvimento da sociedade capitalista, sendo mais um, entre inúmeros efeitos desse desenvolvimento que por vezes é predatório e excludente. Ela acompanha as desigualdades oriundas do sistema econômico vigente, onde a distribuição da riqueza socialmente construída limita-se a um determinado grupo. Assim, essa apropriação da riqueza por uma minoria afeta a forma como os sujeitos se relacionam. 2. SERVIÇO SOCIAL, VIOLÊNCIA E MEIOS DE COMUNICAÇÃO A violência caracteriza-se pelo uso da força, do poder e de privilégios para dominar, submeter e provocar danos a outros. Cada vez mais, configura-se como um problema social, está presente em todas as camadas sociais nas suas variadas manifestações (psicológica, física, simbólica, estrutural, institucional, ou a associação entre elas) provocando impactos significativos no tecido social, alterando as relações sociais e de poder, exigindo que o Estado interfira para sanar ou apaziguar os conflitos gerados. Na cidade de Manaus, diariamente os jornais veiculam as diversas expressões da questão social, dentre elas a violência que ganha destaque quer seja por ser uma problemática social relevante, quer seja pelo apelo social e mercadológico que esse tipo de informação possui. Os jornais manauaras em suas publicações diárias noticiam diversas expressões da questão social, no entanto, a análise das publicações dominicais do Jornal A Crítica do ano de 2001 a 2010, nos mostrou que a violência expressa em homicídios, sequestros, tráfico de drogas, roubos, furtos assaltos, crimes de trânsito dentre outros, foi a expressão da questão social mais noticiada sendo, portanto, necessário pensar possibilidades de ação diante desta problemática. Entendemos que, essa problemática necessita ser analisada à luz de uma vertente teórico-metodológica que se pauta na perspectiva da totalidade e que leve em consideração a violência como fruto de relações sociais e de poder dentro dos âmbitos: econômico, político, social, ambiental e cultural. A Organização Mundial da Saúde (2002), caracteriza a violência como o uso intencional da força física ou do poder, real ou ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa ou contra um grupo ou comunidade que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação. A violência nas suas diferentes facetas (física, sexual, psicológica, estrutural, institucional, social) está presente cotidianamente na vida social, nas diferentes classes sociais, idades, etnias, religiões, culturas, cor, orientação sexual. Ela (a violência) se faz presente nos diferentes espaços sociais urbanos desde menos favorecidos até os mais abastados. Apesar de muitas vezes mascarada, justificada (naturalizada) a violência existe e necessita ser entendida como um produto social e histórico, mutável e multicausal que é resultado das relações humanas – políticas, econômicas, culturais, sociais e de poder que compõem o tecido social. Nessa direção, Odalia (2004) afirma que a pobreza, o ato rotineiro de desigualdade entre os homens, onde uns podem usufruir dos bens socialmente produzidos muito mais que outros, a negação do direito de desfrute igualitário da riqueza social, é uma violência. A desigualdade social reproduzida em problemáticas de precariedade da saúde, sucateamento da educação, falta de infraestrutura e saneamento, desemprego e tantos outros problemas que são postos nos espaços sócio-ocupacionais dos assistentes sociais são formas de violência (violência social) e geram violência, já que geram lutas e conflitos em busca de soluções. O Serviço Social reconhece os processos pelos quais se gesta a dominação. Sua prática se dá na tensão entre a produção da desigualdade, rebeldia e na resistência dos trabalhadores. Por isso, Figueiredo (2009, p. 327), fala que “a reflexão sobre a comunicação no exercício profissional do assistente social é um desafio”. Tendo ciência de que, na contemporaneidade, os meios de comunicação são parte das forças produtivas – atuando diretamente como meio de consolidação de hegemonia da classe dominante – e que as informações jornalísticas têm grande influência diante das relações, é necessário, então, esclarecer como a socialização das informações pode atuar na emancipação ou alienação do sujeito. A violência, como expressão da questão social, tem seu crescimento noticiado diariamente nos meios de comunicação em geral, contudo, isso deve ser analisado a partir de dois enfoques distintos: no primeiro, os jornais e meios de comunicação como responsáveis por colocar em xeque as demandas sociais; o segundo, a partir da face mercadológica dos meios comunicacionais já que esse tipo de é conteúdo tem muito apelo social. Nessa direção, Silva (2009) fala que a mídia, como testemunha macro e privilegiada, é capaz de atribuir sentidos próprios aos atos de violência (quando seleciona e classifica imagens e falas para explicá-la). Desse modo é que influencia diretamente a formação de juízos sobre a notícia. Se a mídia é capaz de dar sentido próprio aos fatos que são expostos por ela e influencia diretamente na formação da identidade pessoal e coletiva dos cidadãos, logo ela pode influenciar ideologicamente para que os problemas sociais por ela mostrados também adquiram outra conotação diferentemente daquela que a sua verdadeira. O assistente social, trabalhando diariamente com a questão social e conhecendo o papel da ideologia na criação de consensos, precisa construir estratégias de ação que possibilitem a realização de seu trabalho com vistas a emancipar socialmente os cidadãos. A comunicação surge dentro dessa perspectiva como um mecanismo bastante apropriado, pois se consolida como um espaço de disputas. A informação, na modernidade, se configura como uma forma eficiente de controle social. A partir da democratização da comunicação e da socialização das informações é que as desigualdades sociais podem ser passadas para a esfera pública – por meio de ações políticas dos sujeitos sociais – exigindo que o Estado se amplie, incorporando respostas às necessidades sociais das maiorias. 3. A VIOLÊNCIA COMO EXPRESSÃO DA QUESTÃO SOCIAL SOB A ÓTICA DO JORNAL A CRÍTICA A análise e a discussão da violência como uma expressão da questão social deve perpassar a questão do acesso aos bens socialmente produzidos dentro de um sistema de acumulação profundamente desigual, como é o capitalismo. Desse modo, é necessário levar em consideração aspectos econômicos e sociais que são influenciadores dessa problemática. Sobre os aspectos influenciadores da violência, Baierl (2004, p. 52) afirma que fatores como “as desigualdades sociais, a pobreza, o meio familiar e intrafamiliar e cultural colocam os espoliados, os desempregados mais vulneráveis ao envolvimento com o mundo da criminalidade”. Para além da afirmação anterior, acreditamos que os sujeitos que sofrem com as desigualdades não somente estão mais vulneráveis ao envolvimento com o crime, mas são também os mais ameaçados e criminalizados pelo aparelho repressivo do Estado que os responsabiliza pela violência. A violência é um problema crescente na cidade de Manaus. Cada dia mais, presenciamos notícias relacionadas a esses problemas nas publicações dos jornais da cidade, são homicídios, assaltos, estupros, mortes no trânsito, rebeliões e muitas outras facetas dessa expressão da questão social, que são denunciadas pelas matérias dos jornais. Com a finalidade de explicitar o quantitativo de notícias exibidas pelo Jornal A Crítica nas suas publicações dominicais na década 2000 de forma detalhada – demonstrando quais problemas dentro da categoria violência se destacam – elaboramos um quadro onde estão presentes variadas facetas da violência exibidas nas matérias jornalísticas que analisamos. Quadro 1 – Quantitativo de publicações relacionadas ao problema da violência nas suas variadas facetas presentes nas publicações dominicais do Jornal A Crítica na década 2000 Violência Agressões pela PM Assaltos Assassinatos de policiais Assedio sexual Ataques de galeras Corrupção policial Discriminação de deficientes Facilitação de fuga pela PM Falta de estrutura e equipamentos para PM Homicídios Homicídios relacionados ao tráfico Homicídios de adolescentes e crianças Homicídios passionais Assassinatos de homoafetivos Latrocínio Mortes no trânsito Mortes pela polícia Pistolagem Rebelião Roubos e furtos Sequestro Tentativas de homicídio Tráfico de drogas Tráfico na escola Tráfico: envolvimento da PM Vandalismo: danos ao patrimônio Violência na escola Violência polícias entre Violência sexual contra mulher Violência física 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Total % 2 1 1 1 3 - - 1 - - 9 1,5% 4 5 4 3 3 21 7 3 - 12 62 10% 1 2 - 3 1 2 2 - 2 2 15 2,5% - - - 1 - - - - - - 1 0,1% 6 9 6 7 3 2 2 1 5 1 42 7% - - 2 4 5 1 1 2 5 - 20 3% 1 - - - - - - - - - 1 0,1% - - 1 - - - - - - - 1 0,1% - - - - 4 - - - - - 4 0,6% 12 16 19 10 25 48 12 21 12 22 197 32% - 2 - - - 1 2 1 2 1 9 1,5% 5 4 2 - - - 1 - - - 12 2% 3 2 1 1 - - - - 1 - 8 1,3% - 1 - - - - - 1 - - 2 0,3% - 2 1 - 1 1 1 - 3 1 10 1,6% 1 1 1 - 2 13 1 - 1 2 22 3,5% 4 3 2 1 1 1 - 2 1 - 15 2,5% 2 1 - 2 2 3 1 4 2 - 5 2 1 2 1 3 3 2 3 1 1 1 4 - 1 1 - 2 1 4 20 17 10 0,5 3% 2,8% 1,5% - 3 1 - 1 - - - - - 5 0,8% 8 16 8 2 1 3 - 2 2 3 45 7,5% 1 1 - - - - - - - - 2 0,3% 2 - - - - - - - - 2 0,3% - - - - 2 - - 1 2 - 5 0,8% - - 1 1 - - 1 - - - 3 0,4% 1 - - - 1 - - - - - 2 0,3% 1 - - - 1 2 - 1 1 - 6 0,9% 1 3 - - - - 1 - 2 1 8 1,3% contra mulher Violência sexual 5 4 infantil Violência física 2 2 infantil Violência psicológica 3 infantil Violência física contra idoso Violência dentro 1 dos presídios FONTE: Pesquisa de campo, 2013. 2 1 3 2 2 - 1 2 2 1 - 2 3 22 3,5% 1 13 2% - - - - - - - - 3 0,4% - - - 2 - 1 - - 3 0,4% 2 - - - - - - - 3 0,4% Como pudemos verificar, as publicações dominicais do Jornal A Crítica nos forneceram muitos dados durante toda a década que analisamos, mas alguns problemas merecem destaque pela sua recorrente exibição. Dentre as facetas da questão social aquela que mais se destacou, foram os homicídios com 272 notícias registradas. Nesse dado estão inseridos os casos de pistolagem, homicídios por envolvimento com tráfico de drogas, passionais, de homossexuais, latrocínios, homicídios de crianças e adolescentes e homicídios praticados por policiais etc. Quadro acima nos indica um nítido crescimento da violência na cidade, não obstante, pensamos que para analisar a violência é necessário levar em consideração a questão do acesso aos bens socialmente produzidos, bem como a existência de relações antagônicas entre capital e trabalho. As facetas da violência tais como assaltos, homicídios, tráfico de drogas, violência entre jovens e muitas outras podem simbolizar uma luta pelo acesso aos bens produzidos de modo coletivo, numa sociedade amplamente desigual, além disso, pensamos que nos casos da violência juvenil isso pode estar ligado a questão do reconhecimento social, uma luta contra sua invisibilização perante a sociedade. No caso do tráfico de drogas, muitas vezes essa é única alternativa encontra pelos sujeitos para proverem sua existência material. Pode-se inferir também que o crescimento de atividades ilícitas deve-se a não oferta de empregos para todos, ao não acesso à educação enfim a inacessibilidade da riqueza que é socialmente produzida, mas que é usurpada por somente uma classe social. A violência, segundo Baierl (2004, p. 206), “é um fenômeno multifacetado, que exige ações integradas, se não para solucioná-lo, pelo menos para reduzir seus índices e impactos na vida das pessoas, dos grupos e da sociedade”. Trata-se de um fenômeno transversal que perpassa o conjunto das instituições e organizações sociais, políticas e econômicas e, portanto, deve ser compreendido e explicado numa perspectiva de totalidade para que haja um real enfrentamento dos problemas. A divulgação da violência pelos jornais contribui para a criação de uma aura de medo que altera profundamente a sociabilidade humana. Nessa direção Baierl (2004 p. 20) afirma que o medo causado pelas publicações jornalísticas do crescimento da violência “vem alterando profundamente o território e o tecido social e, consequentemente, a vida da população. Todos se sentem afetados, ameaçados e correndo perigo”. O medo social, segundo a autora, se instaura num contexto em que o Estado não consegue assumir seu papel, não consegue gerenciar as problemáticas que se apresentam. Baierl (2004, p. 136) expõe o exemplo do tráfico de drogas e acredita que ele ocupa, de alguma forma, os espaços deixados pela ausência de políticas sociais públicas no campo da assistência social, educação, saúde, habitação, empregabilidade, segurança e lazer. Nessa direção, gera empregos no campo da ilegalidade, admitindo muitas crianças e adolescentes para mais variadas funções no mundo do tráfico. Assume o papel de garantir a “ordem e a segurança” nos lugares por ele ocupados apresentando características de uma parte de mercado de trabalho “ilegal e ilícito”, mas tolerado. O crescimento da violência na cidade de Manaus é nítido, contudo temos conhecimento da escassez de recursos para o enfrentamento desta problemática social, que cada vez mais perde espaço para os investimentos na economia. Para compreender como aconteceu o enfrentamento da violência na cidade de Manaus na década em estudo, elaboramos um quadro a partir das publicações jornalísticas dominicais do Jornal A Crítica. Quadro 2 – Quantitativo de notícias concernentes ao enfrentamento da violência na cidade de Manaus na década 2000. Enfrentamento 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Total % da violência Operações de 19 14,9% 2 2 8 1 1 2 3 combate ao tráfico de drogas Operações de 11 8,6% 2 3 1 1 2 2 combate à criminalidade Prisões por 1 0,7% 1 sequestro Prisões por 25 19,6% 5 14 1 2 1 1 1 tráfico de drogas Prisões 8 6,2% 3 1 1 2 1 relacionadas à roubos e furtos Prisões por 13 10,2% 1 2 2 3 2 1 2 assaltos Prisões por 2 1,5% 1 1 latrocínio Prisões por 1 0,7% 1 tráfico humano Prisões por 2 homicídio Delegacia coíbe invasão Inauguração de 1 delegacia Reforço no 2 policiamento Investimento 1 em segurança pública Esporte para combate à criminalidade juvenil Desarticulação 1 de quadrilhas Campanhas 1 antiviolência Campanhas 1 contra violência no trânsito Ações contra 3 2 ociosidade na prisão Diminuição de 1 índices de violência Campanhas 1 contra viol. Infanto-juvenil Parceria para combate à violência infantil Ame a vida: programa de combate a violência contra mulher PM na escola 1 1 FONTE: Pesquisa de campo, 2013. 5 1 - 2 1 1 2 1 15 11,8% - 1 - 1 - - - - 2 1,5% - - - - - - - - 1 0,7% - 1 - - - - - - 3 2,3% - - - - - 2 1 - 4 3,1% - 1 - - - - - - 1 0,7% - - - 1 - - - - 2 1,5% - - - - - - - - 1 0,7% - - - - - - - - 1 0,7% - - - - - - - - 5 3,9% - - - - - - - - 1 0,7% 1 - - 1 - - - - 3 2,3% 1 - - - - - - - 1 0,7% - - - - - - - 2 2 1,5% 1 1 - 1 - - - - 5 3,9% O quadro acima nos expõe as ações realizadas pelo poder público para o enfrentamento da violência, a área que mais se destaca é aquela que se relaciona ao tráfico de drogas com operações de combate e prisões por tráfico de drogas que somadas temos 44 notícias relacionando ações desse tipo. As operações de combate a criminalidade, prisões por assaltos3, roubos4, furtos5 e homicídios também foram muito expressivas, contudo, não suficientes para sanar tais problemas. Tivemos também notícias sobre construção de delegacias, reforço no policiamento, investimentos em segurança pública, campanhas antiviolência, parcerias para 3 Subtração de algo ou objeto de forma violenta, por meio de utilização de armas de fogo ou branca. Subtração de algo ou objeto de forma violenta, imprimindo medo na ação. 5 Subtração de algo ou objeto sem imprimir na ação a violência, surrupiar. 4 o combate a violência infantil e muitas outras ações que são muito pertinentes como estratégia de enfrentamento da violência como expressão da questão social. Não obstante, pensamos o enfrentamento da violência deve ser feito com medidas que possam ir além da repressão, da coibição dessas problemáticas, as ações de enfrentamento dessa problemática devem estar imbricadas com ações de reconhecimento social, de oferta de educação de qualidade, oportunidade de emprego formal e de mudança de vida. A violência, como já falamos, é multifacetada e suas causas são diversas. A discussão dessa problemática deve levar em consideração as desigualdades engendradas pelo capitalismo durante seu processo evolutivo ou de reestruturação. Sobre as causas da violência, uma matéria do Jornal A Crítica de 19 de março de 2006 constata que o envolvimento dos jovens nas chamadas galeras6 denuncia a fragilidade das políticas governamentais implementadas com a finalidade de incluir esse segmento da população em espaços nos quais pudessem estabelecer outra perspectiva de vida. Conforme a publicação do Jornal A Crítica (2006), estudos mostram que parcela expressiva dos integrantes das galeras é formada de jovens ou adolescentes que conheceram, desde muito cedo, o significado de ser colocado à margem, de ter direitos básicos negados e de não encontrar respostas mais eficientes às suas carências e aos seus sonhos. A matéria nos indica que os jovens não são de fato vistos pelo poder público, ficando em segundo plano. A ausência ou inoperância de politicas públicas direcionadas para o público jovem nos explicita que eles não são uma urgência para o poder público e não estão nas primeiras pautas dos governos. Sobre a violência na juventude Sales (2009, p. 106) explana que “alguns jovens premidos pela cultura fetichista e pela alienação do desejo a que são obrigados a se submeter na sociedade do capital, resolvem muitas vezes esse tipo de impasse no cotidiano de maneira individualista e violenta”. Ainda sobre este assunto, a matéria do Jornal A Crítica relata que o não investimento dos gestores em políticas direcionadas a essa parcela da população representa um incentivo a sua participação nesses grupos que praticam ilicitudes, visto que essa é uma possibilidade de afirmação diante da sociedade. 6 Galeras é o nome dado vulgarmente aos grupos compostos por jovens que praticam pequenos atos ilícitos. A função que teria que ser exercida pelo Estado passa a ser reivindicada por esses grupos que tentam se afirmar por via da violência generalizada, canalizando seus potenciais para o culto à desordem. A marginalização das classes subalternas e a falta de oportunidade muitas vezes são as principais causadoras da violência, já que esses sujeitos sociais não reconhecem o diálogo como uma forma de resolução das problemáticas. Um dado que gera bastante discussão (não desmerecendo os demais) trata das situações de violência tanto praticadas quanto sofridas por crianças e adolescentes, o que se percebe é que direitos não estão sendo resguardados, pelo menos em sua totalidade, a violência crescente entre os jovens é um reflexo disso. Pensamos que o agir violento dos jovens perpassa uma necessidade de reconhecimento, de visibilidade perante a sociedade. O não acesso á direitos como educação, saúde, segurança, lazer e muitos outros se inserem em um plano maior que traz a discussão do acesso dos aos bens que são produzidos socialmente, que diga-se de passagem são apropriados pela classe dominante. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) fala que é dever da família, da sociedade e do Estado prover direitos essenciais tais como, educação, alimentação, saúde, lazer, respeito, liberdade, convivência familiar e comunitária, resguardando os jovens de situações de negligência, discriminação, violência, crueldade e opressão. A análise dos dados obtidos nos provocou muitas reflexões a respeito de diversas problemáticas, contudo, a questão da violência juvenil é algo preocupante do ponto de vista de que falta de políticas públicas direcionadas para os jovens aliada a oferta de uma educação sucateada tende a agravar cada vez mais essa problemática. Pensamos que para o enfrentamento da violência são necessárias ações combinadas envolvendo os diversos setores e organizações da esfera de poder (Legislativo, Executivo e Judiciário) que devem estar articuladas à sociedade civil. Julgamos que a educação seja um elemento central nesse processo de enfrentamento não somente dos problemas relativos à violência, mas em todas as áreas que se fazem presentes facetas da questão social. 4. CONCLUSÃO Os meios de comunicação não apenas veiculam notícias; eles cumprem função importante na construção e difusão de ideologias e consensos. Por essa razão, julgamos pertinente estudar um jornal escrito, que existe há mais de 60 anos, e continua a se destacar pela variedade de seus cadernos de notícia e por manter em arquivo digital as edições de anos anteriores, que permitem a realização de pesquisas em seu acervo. Dentre as notícias difundidas, percebemos nitidamente que diferentes expressões da questão social são postas em destaque, em especial a violência, seja para chamar o interesse dos leitores/compradores, seja porque incomodam a sociedade. Contudo, o fato de gerarem transtornos à vida da sociedade, nem sempre faz com que tais problemas mereçam atenção do poder público. A análise dos jornais e a categorização das informações jornalísticas da década em estudo nos permitiu constatar que os problemas sociais mais noticiados se referem à violência como, por exemplo, tráfico de drogas, homicídios, violência urbana e violência sexual infantil. São noticiados também outros tipos de problemas, mas não com tanta frequência. O crescimento da violência nas suas variadas expressões segundo as publicações do Jornal A Crítica é real, contudo, o enfrentamento da problemática não cresce, ou pelo menos não foi noticiado na mesma intensidade, o que se vê são ações pontuais, por parte do poder público, ligadas principalmente à função punitiva do Estado. A violência apresenta-se como um acontecimento multifacetado, excepcionalmente material que revela as tramas desconhecidas da vida social, interferindo na economia, na política e nas relações sócioculturais, dessa maneira, o assistente social tem no seu trabalho uma grande responsabilidade, já que é incumbido de elaborar estratégias que visem o seu enfrentamento. No enfrentamento da violência, cabe ao assistente social pensar formas interventivas e eficazes para dar respostas pratico-conscientes às demandas postas, buscar e cobrar do poder público a elaboração e implementação de políticas públicas que tratem essa problemática na sua essência e, ainda, contribuam para a ampliação da cidadania, das oportunidades e dos direitos para todos. Nessa direção, a análise das múltiplas expressões da violência na contemporaneidade relacionando-as com as contradições presentes nas relações de capital e trabalho faz-se extremamente necessária para que possamos construir alternativas eficazes de intervenção profissional para o enfrentamento dessa problemática. Tendo ciência de que as informações contidas nos jornais podem ser tomadas como fontes bibliográficas, os assistentes sociais podem realizar pesquisas que auxiliem suas reflexões sobre a violência como um fenômeno multifacetado e multicausal isso de certo oferecerá subsídios para uma análise de conjuntura e, por conseguinte, ampliará a possibilidade de uma melhor intervenção profissional. 5. REFERÊNCIAS ARENDT, Hanna. Da violência. Trad. Maria Cláudia Drumond Trindade. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1985. BAIERL, Maria de Fátima. Medo Social: da violência visível ao invisível da violência. São Paulo: Cortez, 2004. FIGUEIREDO, Kênia Augusta. O assistente social na era das comunicações. In: Sales, Mione Apolinário (Org.). Mídia, questão social e Serviço Social. Cortez, 2009. IAMAMOTO, Marilda Villela. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. São Paulo: Cortez, 2009. NETTO, José Paulo; BRAZ, Marcelo. Economia Política: uma introdução crítica. São Paulo: Cortez, 2006. ODALIA, Nilo. O que é Violência. São Paulo: Editora Brasiliense, 2004. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Relatório Mundial sobre Violência e Saúde. Genebra, 2002. SALES, Mione Apolinário. Mídia e questão social: o direito à informação como ética da resistência. In: Sales, Mione Apolinário (Org.). Mídia, questão social e Serviço Social. Cortez, 2009. SILVA, José Fernando Siqueira da. Violência e Serviço Social: notas críticas. Revista Katálysis. Vol. 11, nº02, Jul/Dez, Florianópolis, 2008. ___________. Alguns apontamentos sobre a intervenção profissional do assistente social na área da violência urbana. Revista V.