questão social em notícia: a violência sob a ótica do jornal a crítica

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QUESTÃO SOCIAL EM NOTÍCIA: a violência sob a ótica do jornal A Crítica, na cidade de
Manaus-AM
Waldriane Nascimento da Silva1
Danielle da Silva Barbosa2
RESUMO
A finalidade deste trabalho é analisar a violência, como
expressão da questão social, em Manaus a partir das
publicações do Jornal A Crítica, principal e mais antigo
periódico veiculado na cidade, verificando as faces mais
eminentes dessa problemática, bem como as respostas
dadas pelo poder público. O estudo aborda as diferentes
expressões da violência discutindo-a como resultado das
contradições entre capital e trabalho.
Palavras-chave: Capitalismo. Questão Social. Violência.
Jornal A Crítica
ABSTRACT
The purpose of this paper is to analyze the violence as an
expression of the social question in Manaus from the
publications of the Journal Criticism, main and oldest
journal posted on the city, checking the most prominent
faces of this problem and the answers given by the power
public. The study addresses the different expressions of
violence discussing it as a result of the contradictions
between capital and labor.
Keywords: Capitalism, Social Issues. Violence. The
Journal Review
1
2
Estudante. Universidade Federal do Amazonas (UFAM). E-mail: [email protected]
Estudante. Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
1. INTRODUÇÃO
Para a contextualização acerca da discussão sobre violência e suas múltiplas
expressões na contemporaneidade, verifica-se a necessidade de incitar o debate acerca da
sociedade capitalista, sua abundância e escassez retratando a face desigual de um sistema
que possui uma contradição fundamental: o trabalho é cada vez mais coletivo, social e a
apropriação privada dos frutos do trabalho. E isso está na origem do fato que o
desenvolvimento nesta sociedade redunda entre o progresso que traz no seu avesso à
escassez e a miséria. (IAMAMOTO, 2009).
Segundo Netto e Braz (2006. p. 95) “o modo de produção e reprodução
capitalista substituiu o modo de produção feudal e hoje se configura como um sistema de
produção mundializado”. O capitalismo tem como base a propriedade privada dos meios de
produção e a divisão social do trabalho, onde o trabalhador assalariado vende sua força de
trabalho em troca de um salário para manutenção de suas necessidades. Além disso, o
objetivo a ser perseguido na sociedade do capital é a obtenção de ganhos monetários, já
que visa à acumulação de bens e gera as contradições inerentes ao próprio sistema
capitalista, pois na sociedade do capital legitimasse a dominação de uma classe sobre a
outra, a exploração do homem pelo próprio homem.
Assevera-se que a violência caracteriza-se como um fenômeno social, tendo
múltiplas manifestações (física, social, simbólica, psicológica, etc) e implicações na
sociedade, seguindo modelos culturais, de acordo com determinados momentos históricos,
a prática da violência adquire características históricas, dependendo da época em questão,
uma atitude pode ser aceita ou não em determinada sociedade. (ARENDT, 1985).
Do exposto, é salutar destacar que a criminalidade e a violência se expandiram
concomitantemente ao ritmo do desenvolvimento da sociedade capitalista, sendo mais um,
entre inúmeros efeitos desse desenvolvimento que por vezes é predatório e excludente. Ela
acompanha as desigualdades oriundas do sistema econômico vigente, onde a distribuição
da riqueza socialmente construída limita-se a um determinado grupo. Assim, essa
apropriação da riqueza por uma minoria afeta a forma como os sujeitos se relacionam.
2. SERVIÇO SOCIAL, VIOLÊNCIA E MEIOS DE COMUNICAÇÃO
A violência caracteriza-se pelo uso da força, do poder e de privilégios para
dominar, submeter e provocar danos a outros. Cada vez mais, configura-se como um
problema social, está presente em todas as camadas sociais nas suas variadas
manifestações (psicológica, física, simbólica, estrutural, institucional, ou a associação entre
elas) provocando impactos significativos no tecido social, alterando as relações sociais e de
poder, exigindo que o Estado interfira para sanar ou apaziguar os conflitos gerados.
Na cidade de Manaus, diariamente os jornais veiculam as diversas expressões
da questão social, dentre elas a violência que ganha destaque quer seja por ser uma
problemática social relevante, quer seja pelo apelo social e mercadológico que esse tipo de
informação possui.
Os jornais manauaras em suas publicações diárias noticiam diversas expressões
da questão social, no entanto, a análise das publicações dominicais do Jornal A Crítica do
ano de 2001 a 2010, nos mostrou que a violência expressa em homicídios, sequestros,
tráfico de drogas, roubos, furtos assaltos, crimes de trânsito dentre outros, foi a expressão
da questão social mais noticiada sendo, portanto, necessário pensar possibilidades de ação
diante desta problemática.
Entendemos que, essa problemática necessita ser analisada à luz de uma
vertente teórico-metodológica que se pauta na perspectiva da totalidade e que leve em
consideração a violência como fruto de relações sociais e de poder dentro dos âmbitos:
econômico, político, social, ambiental e cultural.
A Organização Mundial da Saúde (2002), caracteriza a violência como o uso
intencional da força física ou do poder, real ou ameaça, contra si próprio, contra outra
pessoa ou contra um grupo ou comunidade que resulte ou tenha grande possibilidade de
resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação.
A violência nas suas diferentes facetas (física, sexual, psicológica, estrutural,
institucional, social) está presente cotidianamente na vida social, nas diferentes classes
sociais, idades, etnias, religiões, culturas, cor, orientação sexual. Ela (a violência) se faz
presente nos diferentes espaços sociais urbanos desde menos favorecidos até os mais
abastados.
Apesar de muitas vezes mascarada, justificada (naturalizada) a violência existe e
necessita ser entendida como um produto social e histórico, mutável e multicausal que é
resultado das relações humanas – políticas, econômicas, culturais, sociais e de poder que
compõem o tecido social.
Nessa direção, Odalia (2004) afirma que a pobreza, o ato rotineiro de
desigualdade entre os homens, onde uns podem usufruir dos bens socialmente produzidos
muito mais que outros, a negação do direito de desfrute igualitário da riqueza social, é uma
violência.
A desigualdade social reproduzida em problemáticas de precariedade da saúde,
sucateamento da educação, falta de infraestrutura e saneamento, desemprego e tantos
outros problemas que são postos nos espaços sócio-ocupacionais dos assistentes sociais
são formas de violência (violência social) e geram violência, já que geram lutas e conflitos
em busca de soluções.
O Serviço Social reconhece os processos pelos quais se gesta a dominação.
Sua prática se dá na tensão entre a produção da desigualdade, rebeldia e na resistência dos
trabalhadores. Por isso, Figueiredo (2009, p. 327), fala que “a reflexão sobre a comunicação
no exercício profissional do assistente social é um desafio”.
Tendo ciência de que, na contemporaneidade, os meios de comunicação são
parte das forças produtivas – atuando diretamente como meio de consolidação de
hegemonia da classe dominante – e que as informações jornalísticas têm grande influência
diante das relações, é necessário, então, esclarecer como a socialização das informações
pode atuar na emancipação ou alienação do sujeito.
A violência, como expressão da questão social, tem seu crescimento noticiado
diariamente nos meios de comunicação em geral, contudo, isso deve ser analisado a partir
de dois enfoques distintos: no primeiro, os jornais e meios de comunicação como
responsáveis por colocar em xeque as demandas sociais; o segundo, a partir da face
mercadológica dos meios comunicacionais já que esse tipo de é conteúdo tem muito apelo
social.
Nessa direção, Silva (2009) fala que a mídia, como testemunha macro e
privilegiada, é capaz de atribuir sentidos próprios aos atos de violência (quando seleciona e
classifica imagens e falas para explicá-la). Desse modo é que influencia diretamente a
formação de juízos sobre a notícia. Se a mídia é capaz de dar sentido próprio aos fatos que
são expostos por ela e influencia diretamente na formação da identidade pessoal e coletiva
dos cidadãos, logo ela pode influenciar ideologicamente para que os problemas sociais por
ela mostrados também adquiram outra conotação diferentemente daquela que a sua
verdadeira.
O assistente social, trabalhando diariamente com a questão social e conhecendo
o papel da ideologia na criação de consensos, precisa construir estratégias de ação que
possibilitem a realização de seu trabalho com vistas a emancipar socialmente os cidadãos.
A comunicação surge dentro dessa perspectiva como um mecanismo bastante apropriado,
pois se consolida como um espaço de disputas.
A informação, na modernidade, se configura como uma forma eficiente de
controle social. A partir da democratização da comunicação e da socialização das
informações é que as desigualdades sociais podem ser passadas para a esfera pública –
por meio de ações políticas dos sujeitos sociais – exigindo que o Estado se amplie,
incorporando respostas às necessidades sociais das maiorias.
3. A VIOLÊNCIA COMO EXPRESSÃO DA QUESTÃO SOCIAL SOB A ÓTICA DO
JORNAL A CRÍTICA
A análise e a discussão da violência como uma expressão da questão social
deve perpassar a questão do acesso aos bens socialmente produzidos dentro de um
sistema de acumulação profundamente desigual, como é o capitalismo. Desse modo, é
necessário levar em consideração aspectos econômicos e sociais que são influenciadores
dessa problemática.
Sobre os aspectos influenciadores da violência, Baierl (2004, p. 52) afirma que
fatores como “as desigualdades sociais, a pobreza, o meio familiar e intrafamiliar e cultural
colocam os espoliados, os desempregados mais vulneráveis ao envolvimento com o mundo
da criminalidade”.
Para além da afirmação anterior, acreditamos que os sujeitos que sofrem com as
desigualdades não somente estão mais vulneráveis ao envolvimento com o crime, mas são
também os mais ameaçados e criminalizados pelo aparelho repressivo do Estado que os
responsabiliza pela violência.
A violência é um problema crescente na cidade de Manaus. Cada dia mais,
presenciamos notícias relacionadas a esses problemas nas publicações dos jornais da
cidade, são homicídios, assaltos, estupros, mortes no trânsito, rebeliões e muitas outras
facetas dessa expressão da questão social, que são denunciadas pelas matérias dos
jornais.
Com a finalidade de explicitar o quantitativo de notícias exibidas pelo Jornal A
Crítica nas suas publicações dominicais na década 2000 de forma detalhada –
demonstrando quais problemas dentro da categoria violência se destacam – elaboramos um
quadro onde estão presentes variadas facetas da violência exibidas nas matérias
jornalísticas que analisamos.
Quadro 1 – Quantitativo de publicações relacionadas ao problema da violência nas suas variadas facetas
presentes nas publicações dominicais do Jornal A Crítica na década 2000
Violência
Agressões pela
PM
Assaltos
Assassinatos de
policiais
Assedio sexual
Ataques
de
galeras
Corrupção
policial
Discriminação
de deficientes
Facilitação
de
fuga pela PM
Falta
de
estrutura
e
equipamentos
para PM
Homicídios
Homicídios
relacionados ao
tráfico
Homicídios
de
adolescentes e
crianças
Homicídios
passionais
Assassinatos de
homoafetivos
Latrocínio
Mortes
no
trânsito
Mortes
pela
polícia
Pistolagem
Rebelião
Roubos e furtos
Sequestro
Tentativas
de
homicídio
Tráfico
de
drogas
Tráfico na escola
Tráfico:
envolvimento da
PM
Vandalismo:
danos
ao
patrimônio
Violência
na
escola
Violência
polícias
entre
Violência sexual
contra mulher
Violência física
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
Total
%
2
1
1
1
3
-
-
1
-
-
9
1,5%
4
5
4
3
3
21
7
3
-
12
62
10%
1
2
-
3
1
2
2
-
2
2
15
2,5%
-
-
-
1
-
-
-
-
-
-
1
0,1%
6
9
6
7
3
2
2
1
5
1
42
7%
-
-
2
4
5
1
1
2
5
-
20
3%
1
-
-
-
-
-
-
-
-
-
1
0,1%
-
-
1
-
-
-
-
-
-
-
1
0,1%
-
-
-
-
4
-
-
-
-
-
4
0,6%
12
16
19
10
25
48
12
21
12
22
197
32%
-
2
-
-
-
1
2
1
2
1
9
1,5%
5
4
2
-
-
-
1
-
-
-
12
2%
3
2
1
1
-
-
-
-
1
-
8
1,3%
-
1
-
-
-
-
-
1
-
-
2
0,3%
-
2
1
-
1
1
1
-
3
1
10
1,6%
1
1
1
-
2
13
1
-
1
2
22
3,5%
4
3
2
1
1
1
-
2
1
-
15
2,5%
2
1
-
2
2
3
1
4
2
-
5
2
1
2
1
3
3
2
3
1
1
1
4
-
1
1
-
2
1
4
20
17
10
0,5
3%
2,8%
1,5%
-
3
1
-
1
-
-
-
-
-
5
0,8%
8
16
8
2
1
3
-
2
2
3
45
7,5%
1
1
-
-
-
-
-
-
-
-
2
0,3%
2
-
-
-
-
-
-
-
-
2
0,3%
-
-
-
-
2
-
-
1
2
-
5
0,8%
-
-
1
1
-
-
1
-
-
-
3
0,4%
1
-
-
-
1
-
-
-
-
-
2
0,3%
1
-
-
-
1
2
-
1
1
-
6
0,9%
1
3
-
-
-
-
1
-
2
1
8
1,3%
contra mulher
Violência sexual
5
4
infantil
Violência física
2
2
infantil
Violência
psicológica
3
infantil
Violência física
contra idoso
Violência dentro
1
dos presídios
FONTE: Pesquisa de campo, 2013.
2
1
3
2
2
-
1
2
2
1
-
2
3
22
3,5%
1
13
2%
-
-
-
-
-
-
-
-
3
0,4%
-
-
-
2
-
1
-
-
3
0,4%
2
-
-
-
-
-
-
-
3
0,4%
Como pudemos verificar, as publicações dominicais do Jornal A Crítica nos
forneceram muitos dados durante toda a década que analisamos, mas alguns problemas
merecem destaque pela sua recorrente exibição. Dentre as facetas da questão social aquela
que mais se destacou, foram os homicídios com 272 notícias registradas. Nesse dado estão
inseridos os casos de pistolagem, homicídios por envolvimento com tráfico de drogas,
passionais, de homossexuais, latrocínios, homicídios de crianças e adolescentes e
homicídios praticados por policiais etc.
Quadro acima nos indica um nítido crescimento da violência na cidade, não
obstante, pensamos que para analisar a violência é necessário levar em consideração a
questão do acesso aos bens socialmente produzidos, bem como a existência de relações
antagônicas entre capital e trabalho.
As facetas da violência tais como assaltos, homicídios, tráfico de drogas,
violência entre jovens e muitas outras podem simbolizar uma luta pelo acesso aos bens
produzidos de modo coletivo, numa sociedade amplamente desigual, além disso, pensamos
que nos casos da violência juvenil isso pode estar ligado a questão do reconhecimento
social, uma luta contra sua invisibilização perante a sociedade.
No caso do tráfico de drogas, muitas vezes essa é única alternativa encontra
pelos sujeitos para proverem sua existência material. Pode-se inferir também que o
crescimento de atividades ilícitas deve-se a não oferta de empregos para todos, ao não
acesso à educação enfim a inacessibilidade da riqueza que é socialmente produzida, mas
que é usurpada por somente uma classe social.
A violência, segundo Baierl (2004, p. 206), “é um fenômeno multifacetado, que
exige ações integradas, se não para solucioná-lo, pelo menos para reduzir seus índices e
impactos na vida das pessoas, dos grupos e da sociedade”. Trata-se de um fenômeno
transversal que perpassa o conjunto das instituições e organizações sociais, políticas e
econômicas e, portanto, deve ser compreendido e explicado numa perspectiva de totalidade
para que haja um real enfrentamento dos problemas.
A divulgação da violência pelos jornais contribui para a criação de uma aura de
medo que altera profundamente a sociabilidade humana. Nessa direção Baierl (2004 p. 20)
afirma que o medo causado pelas publicações jornalísticas do crescimento da violência
“vem alterando profundamente o território e o tecido social e, consequentemente, a vida da
população. Todos se sentem afetados, ameaçados e correndo perigo”.
O medo social, segundo a autora, se instaura num contexto em que o Estado
não consegue assumir seu papel, não consegue gerenciar as problemáticas que se
apresentam. Baierl (2004, p. 136) expõe o exemplo do tráfico de drogas e acredita que ele
ocupa, de alguma forma, os espaços deixados pela ausência de políticas sociais
públicas no campo da assistência social, educação, saúde, habitação,
empregabilidade, segurança e lazer. Nessa direção, gera empregos no campo da
ilegalidade, admitindo muitas crianças e adolescentes para mais variadas funções
no mundo do tráfico. Assume o papel de garantir a “ordem e a segurança” nos
lugares por ele ocupados apresentando características de uma parte de mercado de
trabalho “ilegal e ilícito”, mas tolerado.
O crescimento da violência na cidade de Manaus é nítido, contudo temos
conhecimento da escassez de recursos para o enfrentamento desta problemática social, que
cada vez mais perde espaço para os investimentos na economia. Para compreender como
aconteceu o enfrentamento da violência na cidade de Manaus na década em estudo,
elaboramos um quadro a partir das publicações jornalísticas dominicais do Jornal A Crítica.
Quadro 2 – Quantitativo de notícias concernentes ao enfrentamento da violência na cidade de Manaus na
década 2000.
Enfrentamento
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Total %
da violência
Operações de
19
14,9%
2
2
8
1
1
2
3
combate ao
tráfico de
drogas
Operações de
11
8,6%
2
3
1
1
2
2
combate à
criminalidade
Prisões por
1
0,7%
1
sequestro
Prisões por
25
19,6%
5
14
1
2
1
1
1
tráfico de
drogas
Prisões
8
6,2%
3
1
1
2
1
relacionadas à
roubos e furtos
Prisões por
13
10,2%
1
2
2
3
2
1
2
assaltos
Prisões por
2
1,5%
1
1
latrocínio
Prisões por
1
0,7%
1
tráfico humano
Prisões por
2
homicídio
Delegacia
coíbe invasão
Inauguração de
1
delegacia
Reforço no
2
policiamento
Investimento
1
em segurança
pública
Esporte para
combate à
criminalidade
juvenil
Desarticulação
1
de quadrilhas
Campanhas
1
antiviolência
Campanhas
1
contra
violência no
trânsito
Ações contra
3
2
ociosidade na
prisão
Diminuição de
1
índices de
violência
Campanhas
1
contra viol.
Infanto-juvenil
Parceria para
combate à
violência
infantil
Ame a vida:
programa de
combate a
violência
contra mulher
PM na escola
1
1
FONTE: Pesquisa de campo, 2013.
5
1
-
2
1
1
2
1
15
11,8%
-
1
-
1
-
-
-
-
2
1,5%
-
-
-
-
-
-
-
-
1
0,7%
-
1
-
-
-
-
-
-
3
2,3%
-
-
-
-
-
2
1
-
4
3,1%
-
1
-
-
-
-
-
-
1
0,7%
-
-
-
1
-
-
-
-
2
1,5%
-
-
-
-
-
-
-
-
1
0,7%
-
-
-
-
-
-
-
-
1
0,7%
-
-
-
-
-
-
-
-
5
3,9%
-
-
-
-
-
-
-
-
1
0,7%
1
-
-
1
-
-
-
-
3
2,3%
1
-
-
-
-
-
-
-
1
0,7%
-
-
-
-
-
-
-
2
2
1,5%
1
1
-
1
-
-
-
-
5
3,9%
O quadro acima nos expõe as ações realizadas pelo poder público para o
enfrentamento da violência, a área que mais se destaca é aquela que se relaciona ao tráfico
de drogas com operações de combate e prisões por tráfico de drogas que somadas temos
44 notícias relacionando ações desse tipo. As operações de combate a criminalidade,
prisões por assaltos3, roubos4, furtos5 e homicídios também foram muito expressivas,
contudo, não suficientes para sanar tais problemas.
Tivemos também notícias sobre construção de delegacias, reforço no
policiamento, investimentos em segurança pública, campanhas antiviolência, parcerias para
3
Subtração de algo ou objeto de forma violenta, por meio de utilização de armas de fogo ou branca.
Subtração de algo ou objeto de forma violenta, imprimindo medo na ação.
5 Subtração de algo ou objeto sem imprimir na ação a violência, surrupiar.
4
o combate a violência infantil e muitas outras ações que são muito pertinentes como
estratégia de enfrentamento da violência como expressão da questão social.
Não obstante, pensamos o enfrentamento da violência deve ser feito com
medidas que possam ir além da repressão, da coibição dessas problemáticas, as ações de
enfrentamento dessa problemática devem estar imbricadas com ações de reconhecimento
social, de oferta de educação de qualidade, oportunidade de emprego formal e de mudança
de vida.
A violência, como já falamos, é multifacetada e suas causas são diversas. A
discussão dessa problemática deve levar em consideração as desigualdades engendradas
pelo capitalismo durante seu processo evolutivo ou de reestruturação.
Sobre as causas da violência, uma matéria do Jornal A Crítica de 19 de março
de 2006 constata que o envolvimento dos jovens nas chamadas galeras6 denuncia a
fragilidade das políticas governamentais implementadas com a finalidade de incluir esse
segmento da população em espaços nos quais pudessem estabelecer outra perspectiva de
vida.
Conforme a publicação do Jornal A Crítica (2006), estudos mostram que parcela
expressiva dos integrantes das galeras é formada de jovens ou adolescentes que
conheceram, desde muito cedo, o significado de ser colocado à margem, de ter direitos
básicos negados e de não encontrar respostas mais eficientes às suas carências e aos seus
sonhos.
A matéria nos indica que os jovens não são de fato vistos pelo poder público,
ficando em segundo plano. A ausência ou inoperância de politicas públicas direcionadas
para o público jovem nos explicita que eles não são uma urgência para o poder público e
não estão nas primeiras pautas dos governos.
Sobre a violência na juventude Sales (2009, p. 106) explana que “alguns jovens
premidos pela cultura fetichista e pela alienação do desejo a que são obrigados a se
submeter na sociedade do capital, resolvem muitas vezes esse tipo de impasse no cotidiano
de maneira individualista e violenta”.
Ainda sobre este assunto, a matéria do Jornal A Crítica relata que o não
investimento dos gestores em políticas direcionadas a essa parcela da população
representa um incentivo a sua participação nesses grupos que praticam ilicitudes, visto que
essa é uma possibilidade de afirmação diante da sociedade.
6
Galeras é o nome dado vulgarmente aos grupos compostos por jovens que praticam pequenos atos
ilícitos.
A função que teria que ser exercida pelo Estado passa a ser reivindicada por
esses grupos que tentam se afirmar por via da violência generalizada, canalizando seus
potenciais para o culto à desordem. A marginalização das classes subalternas e a falta de
oportunidade muitas vezes são as principais causadoras da violência, já que esses sujeitos
sociais não reconhecem o diálogo como uma forma de resolução das problemáticas.
Um dado que gera bastante discussão (não desmerecendo os demais) trata das
situações de violência tanto praticadas quanto sofridas por crianças e adolescentes, o que
se percebe é que direitos não estão sendo resguardados, pelo menos em sua totalidade, a
violência crescente entre os jovens é um reflexo disso.
Pensamos que o agir violento dos jovens perpassa uma necessidade de
reconhecimento, de visibilidade perante a sociedade. O não acesso á direitos como
educação, saúde, segurança, lazer e muitos outros se inserem em um plano maior que traz
a discussão do acesso dos aos bens que são produzidos socialmente, que diga-se de
passagem são apropriados pela classe dominante.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) fala que é dever da família, da
sociedade e do Estado prover direitos essenciais tais como, educação, alimentação, saúde,
lazer, respeito, liberdade, convivência familiar e comunitária, resguardando os jovens de
situações de negligência, discriminação, violência, crueldade e opressão.
A análise dos dados obtidos nos provocou muitas reflexões a respeito de
diversas problemáticas, contudo, a questão da violência juvenil é algo preocupante do ponto
de vista de que falta de políticas públicas direcionadas para os jovens aliada a oferta de uma
educação sucateada tende a agravar cada vez mais essa problemática.
Pensamos que para o enfrentamento da violência são necessárias ações
combinadas envolvendo os diversos setores e organizações da esfera de poder (Legislativo,
Executivo e Judiciário) que devem estar articuladas à sociedade civil. Julgamos que a
educação seja um elemento central nesse processo de enfrentamento não somente dos
problemas relativos à violência, mas em todas as áreas que se fazem presentes facetas da
questão social.
4. CONCLUSÃO
Os meios de comunicação não apenas veiculam notícias; eles cumprem função
importante na construção e difusão de ideologias e consensos. Por essa razão, julgamos
pertinente estudar um jornal escrito, que existe há mais de 60 anos, e continua a se
destacar pela variedade de seus cadernos de notícia e por manter em arquivo digital as
edições de anos anteriores, que permitem a realização de pesquisas em seu acervo.
Dentre as notícias difundidas,
percebemos nitidamente que diferentes
expressões da questão social são postas em destaque, em especial a violência, seja para
chamar o interesse dos leitores/compradores, seja porque incomodam a sociedade.
Contudo, o fato de gerarem transtornos à vida da sociedade, nem sempre faz com que tais
problemas mereçam atenção do poder público.
A análise dos jornais e a categorização das informações jornalísticas da década
em estudo nos permitiu constatar que os problemas sociais mais noticiados se referem à
violência como, por exemplo, tráfico de drogas, homicídios, violência urbana e violência
sexual infantil. São noticiados também outros tipos de problemas, mas não com tanta
frequência.
O crescimento da violência nas suas variadas expressões segundo as
publicações do Jornal A Crítica é real, contudo, o enfrentamento da problemática não
cresce, ou pelo menos não foi noticiado na mesma intensidade, o que se vê são ações
pontuais, por parte do poder público, ligadas principalmente à função punitiva do Estado.
A
violência
apresenta-se
como
um
acontecimento
multifacetado,
excepcionalmente material que revela as tramas desconhecidas da vida social, interferindo
na economia, na política e nas relações sócioculturais, dessa maneira, o assistente social
tem no seu trabalho uma grande responsabilidade, já que é incumbido de elaborar
estratégias que visem o seu enfrentamento.
No enfrentamento da violência, cabe ao assistente social pensar formas
interventivas e eficazes para dar respostas pratico-conscientes às demandas postas, buscar
e cobrar do poder público a elaboração e implementação de políticas públicas que tratem
essa problemática na sua essência e, ainda, contribuam para a ampliação da cidadania, das
oportunidades e dos direitos para todos.
Nessa
direção,
a
análise
das
múltiplas
expressões
da
violência
na
contemporaneidade relacionando-as com as contradições presentes nas relações de capital
e trabalho faz-se extremamente necessária para que possamos construir alternativas
eficazes de intervenção profissional para o enfrentamento dessa problemática.
Tendo ciência de que as informações contidas nos jornais podem ser tomadas
como fontes bibliográficas, os assistentes sociais podem realizar pesquisas que auxiliem
suas reflexões sobre a violência como um fenômeno multifacetado e multicausal isso de
certo oferecerá subsídios para uma análise de conjuntura e, por conseguinte, ampliará a
possibilidade de uma melhor intervenção profissional.
5. REFERÊNCIAS
ARENDT, Hanna. Da violência. Trad. Maria Cláudia Drumond Trindade. Brasília: Editora da
Universidade de Brasília, 1985.
BAIERL, Maria de Fátima. Medo Social: da violência visível ao invisível da violência. São
Paulo: Cortez, 2004.
FIGUEIREDO, Kênia Augusta. O assistente social na era das comunicações. In: Sales,
Mione Apolinário (Org.). Mídia, questão social e Serviço Social. Cortez, 2009.
IAMAMOTO, Marilda Villela. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e
formação profissional. São Paulo: Cortez, 2009.
NETTO, José Paulo; BRAZ, Marcelo. Economia Política: uma introdução crítica. São
Paulo: Cortez, 2006.
ODALIA, Nilo. O que é Violência. São Paulo: Editora Brasiliense, 2004.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Relatório Mundial sobre Violência e Saúde.
Genebra, 2002.
SALES, Mione Apolinário. Mídia e questão social: o direito à informação como ética da
resistência. In: Sales, Mione Apolinário (Org.). Mídia, questão social e Serviço Social.
Cortez, 2009.
SILVA, José Fernando Siqueira da. Violência e Serviço Social: notas críticas. Revista
Katálysis. Vol. 11, nº02, Jul/Dez, Florianópolis, 2008.
___________. Alguns apontamentos sobre a intervenção profissional do assistente
social na área da violência urbana. Revista V.
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