Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC Centro de Ciências da Administração e Socio-Econômicas - ESAG Departamento de Administração Pública INSTRUÇÕES PARA A PROVA (LEIA COM ATENÇÃO): • • A prova é individual. Seja objetivo em suas ideias, respondendo ao que se pede, sempre apoiando os seus argumentos nos textos utilizados na disciplina, e referenciando-os adequadamente quando for o caso. BOA PROVA! ALUNO(A):____________________________________________________________________ A. Segundo o GIFE (2010) em seu site: Investimento social privado é o repasse voluntário de recursos privados de forma planejada, monitorada e sistemática para projetos sociais, ambientais e culturais de interesse público. Incluem-se neste universo as ações sociais protagonizadas por empresas, fundações e institutos de origem empresarial ou instituídos por famílias, comunidades ou indivíduos. Os elementos fundamentais - intrínsecos ao conceito de investimento social privado – que diferenciam essa prática das ações assistencialistas são: • preocupação com planejamento, monitoramento e avaliação dos projetos; • estratégia voltada para resultados sustentáveis de impacto e transformação social; • envolvimento da comunidade no desenvolvimento da ação. O Investimento Social Privado pode ser alavancado por meio de incentivos fiscais concedidos pelo poder público e também pela alocação de recursos não-financeiros e intangíveis. Consiste, para muitos, exemplo de ação de Responsabilidade Social. Para outros, é a única forma de um agir socialmente responsável. Isto significou, por muito tempo, que investir em Responsabilidade Social significava repassar, investir ou despender quantias financeiras ou recursos de outra natureza. Desta forma, particularmente no Brasil, as micro e pequenas empresas excluem-se em vários momentos da história da Responsabilidade Social, alegando ser “coisa de empresa grande” ou, algo “muito caro”. 1) Explique como este ideal de Responsabilidade Social se relaciona com a história da consolidação do tema no Brasil, destacando quem são as instituições que trazem os principais conceitos e disseminam as idéias, como esta história no país difere da forma como o conceito é discutido na América Latina e em demais países do mundo. 2) Transcreva a definição do Instituto Ethos para Responsabilidade Social, e diga qual o significado deste conceito para você, tentando acrescentar mais alguma idéia ao conceito que o torne mais fácil de ser compreendido por todos os públicos. 3) Destaque, por fim, o que você acredita ser possível fazer para que as micro e pequenas empresas possam agir de forma socialmente responsável, sugerindo formas de agir ou pensar sobre o assunto. B. Na visão tradicional do desenvolvimento econômico: As relações econômicas são determinadas pela Oferta/Procura; A visão é dominante é de que o lucro é o fim maior das empresas; e o poder de compra do consumidor determina o seu nível de consumo. Já em uma visão ampliada pela percepção da sustentabilidade: As relações econômicas consideram o impacto no meio natural; As empresas e os consumidores devem buscar relações sustentáveis na natureza; o equilíbrio nas relações comerciais deve estar baseado no conhecimento mútuo; e as relações com a natureza envolvem o uso consciente de recursos, descarte adequado de resíduos, etc. 4) Você acredita que é possível uma empresa continuar a ganhar – ou até lucrar mais – agindo de forma sustentável? Por que? 5) Qual o papel dos governos na relação com as empresas para um maior equilíbrio na produção mais sustentável? Disciplina: Gestão da Responsabilidade Socioambiental Professor: Daniel Pinheiro, MSc. Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC Centro de Ciências da Administração e Socio-Econômicas - ESAG Departamento de Administração Pública 6) Qual a importância para a sociedade da adoção por parte das empresas do conceito da Produção Mais Limpa (PmaisL)? 7) Apesar de ser amplamente difundida entre as empresas, existem várias críticas à implantação de normas ambientais, pois a exemplo da série ISO14000, geralmente os Sistemas de Gestão Ambiental não contemplam um processo verdadeiramente educativo, e apenas priorizam a solução de problemas ou a adequação a legislação. Como você vê possíveis saídas para as empresas para a sua gestão ambiental, e de que maneira elas podem evoluir em seus processos? Procure exemplos práticos para ilustrar a sua ideia. C. TEXTO PARA AS QUESTÕES 8, 9 E 10 A VIDA NA TERRA PROMETIDA[1] 8 horas a pé. Esse era o trabalho de José. Aliás, saía de casa com Maria, sua companheira, e 2 filhos, Maria Lúcia (de 1 ano) e a pequena Terezinha (de 3 anos). Em casa, ou melhor, no lugar em que moravam ficavam outras 2 crianças. Bem, pelo menos às vezes. A realidade da família de José e Maria não era desconhecida. Naquela comunidade moravam pouco mais de 400 famílias. A renda média das famílias (cada uma com 4 pessoas por residência, geralmente) era de R$410,00. Resolvi, no último encontro, contar isso a Maria, que riu com os dentes que lhe sobraram. Pudera, sua família sobrevivia (?!) com apenas R$100,00 por mês. E como ela dizia, já foi pior. Alguns indicadores naquela comunidade me chamaram a atenção. Das famílias que ali moravam, a maioria não tinha acesso à estrutura mínima de esgotamento sanitário. Perceba que, quando falo em mínima, quero dizer praticamente inexistente, pois ali a rede sanitária só atinge 15% das casas, as únicas regularizadas. As outras estão em área de invasão. Invasão, pois, não tinham aonde ir segundo eles mesmos contam. Ah, o esgoto. Não posso esquecer. Sabe para onde vai o esgoto? Para o mesmo lugar que as outras 2 crianças do José e da Maria, nos momentos em que não estão em casa: na rua. E o que estas crianças fazem na rua? Nada, apenas perambulam sem destino. Junto com bêbados, drogados, pesquisadores, desempregados… Pessoas sem perspectiva de futuro, não porque não saibam que existirá um futuro. É que eles mesmos não acreditam poder está lá. Nessa comunidade tem um padre, João Batista. Bonito nome, pessoa de atitude. E é ali, na Igreja, que muitas coisas acontecem. O pároco tenta mostrar ao seu rebanho que cada um ali deve tentar se ver no futuro, mas é difícil. Muito difícil. Os poucos que conseguem ir naquela igrejinha choram ao ver Jesus, sentindo-se crucificados, com dor e fome. Alguns tentam ressuscitar. Jesus, um rapaz de 19 anos, é um deles. Está terminando o ensino médio numa comunidade ao lado da sua. “O problema é à noite!”, diz ele. Tem que caminhar quase 40 minutos entre vielas, escadas, becos, traficantes e usuários para chegar à escola. Ou em casa. “Maria, mulher de José, sempre me pede pra conversar com os filhos dela. Aliás, sempre digo que eles deviam é parar de ter filhos. A vida é muito dura. Não dá pra estudar, ter futuro, sem deixar que as pobres crianças não vejam nem uma creche”. Realmente, ali não tem creche. Tem perto, na comunidade vizinha. Dava até pra levar as crianças, pois é o caminho que eles fazem todos os dias para sair cidade afora buscando papel e latinha. Mas eles não têm a “comprovação”. Pois é, na casa deles, como na de uns 5% das pessoas que moram ali, não chega luz, nem água. Não oficialmente. Então, não tinha como deixar na creche. Maria conta que parece que a creche é boa, o pessoal é bom, pensa em ir conversar com as professoras, deixar suas crianças, mas tem medo de se sentir “inexistente”. Maria não tem documento. Nem José. Para os dois filhos mais novos conseguiu tirar a certidão: “foi num dia Disciplina: Gestão da Responsabilidade Socioambiental Professor: Daniel Pinheiro, MSc. Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC Centro de Ciências da Administração e Socio-Econômicas - ESAG Departamento de Administração Pública em que veio todo mundo, teve até ‘paiaço’, foi uma festa, cortei os cabelos. O Zé foi, mas não conseguiu o documento dele, teve vergonha de dizer que não sabia assinar. Eu também fiquei com vergonha”. Para ir ao postinho de saúde até que não é difícil. Basta andar um pouco, entre becos, desempregados, crianças e traficantes, para chegar numa rua maior, que tem umas casas bonitas. Nessa rua, como diz o Jesus, “tem até doutor que mora aqui na rua debaixo. Quero ser como ele, ter carro, casa, cachorro e filho bonito correndo no jardim. Só não vou deixar que eles fiquem presos o dia todo em casa, faz mal”. É a mesma rua que vai terminar lá no posto de saúde. O atendimento não é bom. Dá pra perceber que muitos só estão ali por que gostam do que fazem, não pelo salário. “Mas tem gente da comunidade que sempre reclama”, diz Cleuza, enfermeira chefe. Tudo bem, deve ser difícil para uma comunidade com apenas 31% de seus moradores que tem seu emprego registrado em carteira imaginar que ser doutor é ruim. Lixo na rua, muito barulho, insegurança. Bem, aqueles que ganham um pouco mais, vivem com medo de que os que ganham um pouco menos entrem em sua casa. Os que ganham um pouco menos vivem com medo que os que ganham muito mais os tirem de seus barracos. Quem vive do tráfico, do roubo e da violência também está ali, e todos conhecem. Mas ninguém conhece. E como eles nos deixaram entrar e ver a realidade, eu também digo que não conheço. Mas eles estão lá, se um dia vocês forem. Bem, não é fácil viver ali. O José, que era agricultor, e a Maria, que desde que se fez gente foi mulher do José, acham que não falta muito. “Mais R$40,00 e resolvia tudo”. Essa é a perspectiva de vida deles. As crianças na rua, a falta de futuro e de comida decente. Comida? De um momento de lazer, de sentir que tem vizinhos, amigos, isso eles não sabem. Nem sonham. Quanto à ajuda, bem. Já teve associação, já teve empresa, agora tem o padre querendo botar uma horta pra todo mundo. Alguns dizem que não dá pra plantar comida pra todo mundo. Outros se ofereceram pra “distribuir” os produtos. Ultimamente tem ido um pessoal, da Prefeitura, lá na Terra Prometida. “É que disseram que tâmo sujando o rio deles”, contou Jesus. Isso é verdade. Estão sujando mesmo. O rio tem ligação com a lagoa, que vai pro parque, um dos pontos mais movimentados por pessoas da cidade e de fora dela. A água suja também vai parar lá em casa. A sujeira, também, tem ido passear em outros rios, em outros pontos turísticos e noutras casas. Todo mundo reclama que a Prefeitura não faz nada. Agora quer fazer, e certamente vai tirar o pessoal da invasão. Enfim, teriam outros “causos” do lugar pra contar, mas isso é só pra mostrar um pequeno pedaço da vida de muitos Josés e Marias que vivem por aí. De um Jesus que ressuscitou e, sozinho, foi estudar, pois a mãe achava que era bobeira, que pobre nasce e morre mais pobre ainda, porque pede até a dignidade, ainda quando criança. QUESTÕES 8) O que você entende por empreendedorismo social? Explique o conceito. 9) Você consegue ver algum potencial “empreendedor social” neste caso? Quem seria e por que? 10) Considerando que o empreendedor social usa do conhecimento sobre o local para propor sugestões e interferir na realidade da comunidade. Você seria capaz de, á luz destes dados, propor um projeto social para o desenvolvimento da comunidade? Descreva-o. [1] Os dados utilizados neste texto são fictícios, fazendo alusão à realidade de comunidades estudadas em várias localidades no Paraná e Santa Catarina. A comunidade, os moradores ou situações específicas são meramente ilustrativos, elaborados com fim exclusivamente didático. Disciplina: Gestão da Responsabilidade Socioambiental Professor: Daniel Pinheiro, MSc.