UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA - UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS – CCT DEPARTAMENTO DE FÍSICA – DFIS A Equação de Stefan-Boltzmann Prof. Dr. José Fernando Fragalli Departamento de Física – Centro de Ciências Tecnológicas Universidade do Estado de Sana Catarina 1. As Leis da Termodinâmica aplicada a Radiação de Cavidade Seja uma cavidade cujas paredes estejam a uma temperatura T; consideramos que esta cavidade está em equilíbrio termodinâmico com o meio que a cerca. Por conta da temperatura, as paredes da cavidade irradiam energia, tal que dentro da cavidade coexistem em equilíbrio a radiação eletromagnética e a matéria que origina esta radiação. Nesta situação, tratamos a radiação eletromagnética dentro da cavidade como uma máquina térmica. Podemos então aplica a esta radiação de cavidade as Leis da Termodinâmica. A Primeira Lei da Termodinâmica expressa a Conservação da Energia e é dada por [1] dU = ∂Q − ∂W 1 Na Equação 1 U é a energia interna da cavidade, Q é a quantidade de calor existente na cavidade e W o trabalho mecânico produzido pela radiação eletromagnética. Já a Segunda Lei da Termodinâmica [2] relaciona a quantidade de calor existente na cavidade com a temperatura da cavidade e com a entropia S produzida pela radiação eletromagnética. ∂Q = T ⋅ dS 2 Por sua vez, associamos o trabalho mecânico produzido pela radiação eletromagnética com a variação de volume da cavidade dV provocada pela pressão de radiação das ondas eletromagnéticas, isto é [3] ∂W = P ⋅ dV 3 Substituímos a Equação 2 e a Equação 3 na Equação 1 e após uma manipulação simples obtemos T ⋅ dS = dU + P ⋅ dV 4 2. A Energia Interna da Radiação de Cavidade Usamos agora o fato da energia interna da cavidade ser uma propriedade extensiva [4]; desta forma, podemos escrever o elemento de energia interna em termos da densidade de energia u, tal que dU = u ⋅ dV 5 Fazemos agora a hipótese que a cavidade representa muito bem o corpo negro. Desta forma, UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA - UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS – CCT DEPARTAMENTO DE FÍSICA – DFIS ao descrevermos a densidade de energia da cavidade, estamos também descrevendo a densidade de energia do corpo negro. Para um corpo negro sabemos que a densidade de energia depende apenas da temperatura do corpo [5], isto é u = u (T ) 6 Desta forma, dado que a energia interna é uma função de estado [6], podemos escrever U (T ,V ) = u (T ) ⋅ V 7 Tomamos a diferencial em ambos os lados da Equação 7 e escrevemos dU = u (T ) ⋅ dV + V ⋅ du 8 Uma vez que a densidade de energia do corpo negro depender apenas da sua temperatura, temos que du du = ⋅ dT dT 9 Substituímos então a Equação 9 na Equação 8 e obtemos du dU = u (T ) ⋅ dV + V ⋅ ⋅ dT dT 10 Por fim, substituímos a Equação 10 na Equação 4 e obtemos du T ⋅ dS = u (T ) ⋅ dV + V ⋅ ⋅ dT + P ⋅ dV dT 11 Simplificamos a Equação 11 ao agruparmos os termos em comum na diferencial dV e obtemos du T ⋅ dS = [u (T ) + P ] ⋅ dV + V ⋅ ⋅ dT dT 12 3. A Pressão de Radiação de Cavidade Na Equação 12, P é a pressão de radiação sobre as paredes da cavidade; esta pressão de radiação pode ser escrita em termos da densidade de energia da radiação na cavidade tal que [7] P= 1 ⋅ u (T ) 3 Substituímos a Equação 13 na Equação 12 e obtemos 13 UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA - UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS – CCT DEPARTAMENTO DE FÍSICA – DFIS u (T ) du T ⋅ dS = u (T ) + ⋅ dV + V ⋅ ⋅ dT 3 dT 14 Uma manipulação simples da Equação 14 nos leva a dS = V du 4 ⋅ u (T ) ⋅ dV + ⋅ ⋅ dT T dT 3⋅T 15 4. A Entropia como Função de Estado Termodinâmico Como sabemos também a entropia S é uma função de estado, isto é S = S (V , T ) 16 A partir da Equação 16 escrevemos a diferencial da entropia como ∂S ∂S dS = ⋅ dV + ⋅ dT ∂V ∂T 17 A partir da comparação entre a Equação 15 e a Equação 17, é fácil concluir que ∂S 4 ⋅ u (T ) = 3⋅T ∂V ∂S V du = ⋅ ∂T T dT 18a 18b Usamos agora o fato que derivadas parciais de segunda ordem são intercambiáveis [8], isto é ∂2S ∂2S = ∂V ⋅ ∂T ∂T ⋅ ∂V 19 As derivadas contidas na Equação 19 são fáceis de serem calculadas. A derivada descrita no lado esquerdo da Equação 19 é calculada derivando a Equação 18a em relação à temperatura. ∂ 2 S ∂ 4 ⋅ u (T ) d 4 ⋅ u (T ) = = ∂V ⋅ ∂T ∂T 3 ⋅ T dT 3 ⋅ T 20 Usamos então as regras das derivadas de multiplicação de funções [9]e obtemos ∂ 2 S 4 1 du u (T ) = ⋅ ⋅ − 2 ∂V ⋅ ∂T 3 T dT T 21 Já a derivada descrita no lado direito da Equação 19 é calculada derivando a Equação 18b em relação ao volume. UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA - UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS – CCT DEPARTAMENTO DE FÍSICA – DFIS ∂2S ∂T ⋅ ∂V ∂ V ⋅ du 1 du dV = = ⋅ ⋅ ⋅ ∂V T dT T dT dV 22 O cálculo simples da derivada no último termo da Equação 22 nos conduz a ∂2S ∂T ⋅ ∂V 1 du = ⋅ T dT 23 5. A Equação de Stefan-Boltzmann Igualamos então as derivadas calculadas na Equação 21 e na Equação 23 e obtemos 4 1 du u (T ) 1 du ⋅ ⋅ = ⋅ − 3 T dT T 2 T dT 24 Aplicamos a propriedade distributiva no primeiro termo da Equação 24 e obtemos 4 1 du 4 u (T ) 1 du ⋅ ⋅ = ⋅ − ⋅ 3 T dT 3 T 2 T dT 25 Redistribuímos os termos na igualdade e obtemos 4 1 du 1 du 4 u (T ) ⋅ ⋅ − ⋅ = ⋅ 3 T dT T dT 3 T 2 26 A subtração no primeiro termo da Equação 26 nos leva a 1 1 ⋅ 3 T du 4 u (T ) ⋅ = ⋅ 2 dT 3 T 27 Cancelamos o termo 1/3⋅T em cada termo da Equação 27 e obtemos u (T ) du = 4⋅ T dT 28 Invertemos os termos dT e u na Equação 28 e obtemos du dT = 4⋅ u T Integramos os dois termos da Equação 29 e obtemos 29 UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA - UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS – CCT DEPARTAMENTO DE FÍSICA – DFIS du dT = 4⋅∫ u T 30 ln u = 4 ⋅ ln T + ln γ 31 ∫ O resultado destas integrações nos leva a Na Equação 31 lnγ é uma constante de integração, adequadamente escrita na forma do logaritmo de uma constante. Usamos as propriedades dos logaritmos [10] e obtemos ( ln u (T ) = ln γ ⋅ T 4 ) 32 Igualamos os termos dentro de cada logaritmo da Equação 32 e finalmente obtemos que u (T ) = γ ⋅ T 4 33 Por fim, lembramos que a radiância R(T) e a densidade de energia u(T) estão relacionadas através de [11] R= c ⋅u 4 R (T ) = γ ⋅c 34 Desta forma, obtemos finalmente que 4 ⋅T 4 35 A Equação de Stefan-Boltzmann é expressa na forma R (T ) = σ ⋅ T 4 36 Observamos que a Equação 35 é a Equação de Stefan-Boltzmann com a constante de StefanBoltzmann σ expressa na forma σ= γ ⋅c 4 37 6. A Entropia da Radiação na Cavidade Para finalizar, vamos calcular a entropia da radiação na cavidade partindo da Equação 17. Com o resultado obtido pela Equação 33, escrevemos a Equação 18a na forma 4 ∂S ⋅γ ⋅T 4 = ∂V 3 ⋅ T Simplificamos a Equação 38 e obtemos 38 UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA - UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS – CCT DEPARTAMENTO DE FÍSICA – DFIS ∂S 4 3 = ⋅γ ⋅T ∂V 3 39 Também com o resultado obtido pela Equação 33, escrevemos a Equação 18b na forma 4 ⋅ γ ⋅V 3 ∂S V d ( ⋅T γ ⋅T 4 ) = = ⋅ T ∂T T dT 40 Simplificamos o último termo da Equação 40 e obtemos ∂S 2 = 4 ⋅ γ ⋅V ⋅ T ∂T 41 Substituímos a Equação 38 e a Equação 41 na Equação 17, e obtemos dS = ( 4 4 ⋅ γ ⋅ T 3 ⋅ dV + 4 ⋅ γ ⋅ V ⋅ T 2 ⋅ dT = ⋅ γ ⋅ T 3 ⋅ dV + 3 ⋅ V ⋅ T 2 ⋅ dT 3 3 ) 42 Uma análise do último termo da Equação 42 mostra que (T 3 ) ( ⋅ dV + 3 ⋅ V ⋅ T 2 ⋅ dT = d V ⋅ T 3 ) 43 Assim, escrevemos a diferencial de entropia dS como sendo dS = ( ) 4 4 ⋅ γ ⋅ d V ⋅ T 3 = d ⋅ γ ⋅ V ⋅ T 3 3 3 44 Integramos ambos os lados da Equação 44, lembrando que a condição de contorno para a entropia impõe que S(T = 0) = 0 [12]. Assim, obtemos finalmente que S (V , T ) = 4 ⋅ γ ⋅V ⋅ T 3 3 45 Em termos da constante de Stefan-Boltzmann (γ = 4⋅σ/c) a entropia é dada por S (V , T ) = 16 ⋅ σ ⋅V ⋅ T 3 3⋅c 46 Bibliografia [1] – NUSSENZVEIG, H. M. – Curso de Física Básica – Volume 2 (Fluidos, Oscilações, Ondas e Calor) – 3a Edição – páginas 175-178 – Editora Edgard Blücher Ltda. – São Paulo, 1997. [2] – NUSSENZVEIG, H. M. – Curso de Física Básica – Volume 2 (Fluidos, Oscilações, Ondas e Calor) – 3a Edição – página 221 – Editora Edgard Blücher Ltda. – São Paulo, 1997. [3] – REITZ, J. R., MILFORD, F. J. e CHRISTY, R. W. – Fundamentos da Teoria Eletromagnética UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA - UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS – CCT DEPARTAMENTO DE FÍSICA – DFIS – 3a Edição – pg. 329 – Editora Campus – Rio de Janeiro, 1982. [4] – NUSSENZVEIG, H. M. – Curso de Física Básica – Volume 2 (Fluidos, Oscilações, Ondas e Calor) – 3a Edição – página 224 – Editora Edgard Blücher Ltda. – São Paulo, 1997. 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