Ação nº3 Turma 3 de 2012 Registo de Acreditação: CCPFC/ACC - 66518/11 Formadores: Maria Filomena Rodrigues e Rui Fernandes Formanda: Maria Alice Domingues Gonçalves Comunicação Aumentativa Comunicação Aumentativa "A linguagem é a roupagem do pensamento" Samuel Johnson Reflexão sobre a ação Motivação - O que me levou a inscrever na Ação Na escola onde leciono há uma UAAM com crianças portadoras de multideficiência. Estas crianças trabalham com a Professora do Ensino especial, com técnicos da CERCI (cada vez em menor número, infelizmente) que lhes asseguram as terapias e integram as turmas de referência em contextos de atividades comuns, de visitas de estudo e com o objetivo fundamental de socializar. Nunca tive uma criança com estas características inscrita na minha turma, mas se tivesse, o facto de eu não saber comunicar com ela seria um problema para mim, pois as minhas limitações em termos de comunicação alternativa seriam um impeditivo a uma comunicação eficaz e seria sem dúvida uma experiência frustrante. Nesse sentido e logo que soube desta ação solicitei a minha inscrição porque se alguma vez tiver na turma uma criança com dificuldades de comunicação, desafio-me a comunicar com ela, entendê-la e fazer-me entender, ou seja, para que possamos efetivamente comunicar entre nós e com os restantes alunos. Comunicação Aumentativa Reflexão sobre a Ação - Reflexão sobre as sessões A comunicação é das necessidades mais inerentes a qualquer indivíduo. O ser humano é por si só um ser comunicativo que se encontra em contínua interação com o que o rodeia; é essa interação que lhe dá sentido, funciona como uma identidade formada por uma série de símbolos comuns, quer de origem verbal, quer não verbal. O que lhe importa é efetivamente comunicar! Essa comunicação é feita através do gesto, da fala, da dinâmica corporal, do olhar, do choro, do sorriso, da ausência dele, de uma linguagem que expressa sentimentos, vontades, inquietudes. É feita de um para outro interlocutor com uma linguagem que os dois conhecem e quando isso não acontece, um deles acaba por se fechar no mundo só seu, onde ainda sim comunica com registos muito próprios, registos esses que constituem formas de expressão que poucos entendem, como é o caso dos indivíduos autistas. Quando vulgarmente se fala em comunicação pressupõem-se à partida que a fala assuma o papel principal, mas de facto quando refletimos sobre todos os seus intervenientes percebemos que algo de mais profundo está na sua génese e a comunicação passa a assumir o papel de indispensabilidade no indivíduo. Quando falo em indispensabilidade refiro-me ao facto de desde que nasce, o ser humano comunica a fome. a sede, o desconforto e fá-lo através de sons, gestos, fazendo da fala uma fase posterior. A comunicação prossupõe ainda uma relação de dependência entre os interlocutores e está presente em todos os setores da nossa vida. É ela a responsável pela aprendizagem, pela evolução do ser social e sociável em que nos tornamos. Se recuarmos no tempo podemos aperceber-nos do papel de a linguagem assumiu e esse papel foi tão preponderante que conduziu até ao aumento do córtex cerebral. A capacidade de representar através do desenho (pinturas rupestres), de memorizar, de contar, de construir uma identidade cultural a um povo constituiu uma aprendizagem levou o ser humano a uma aprendizagem coletiva. Exemplos disso são ainda os ditados populares, os dialetos, os discursos memoráveis, as cantilenas, as rimas, as mnemónicas... Comunicação Aumentativa Quando falamos em comunicação e em linguagem associamo-las a um processo dinâmico e expressivo que se desenrola entre pessoas que dominam a oralidade e a escrita, mas quando existem dificuldades em oralizar criaram-se sistemas alternativos, como é o caso dos que aprendemos a utilizar nesta ação. Esses sistemas permitem potenciar aquilo que a criança ou jovem já sabem, se estivermos em contexto de aprendizagem na sala de aula. Nesta ação tivemos a oportunidade de explorar vários sistemas de comunicação alternativa, de origem tecnológica que têm por objetivo dizer através de instrumentos adaptados o que cada um dos interlocutores pensa e sente. Antes de começar a apresentar os instrumentos que trabalhámos ao longo da ação, gostaria fazer referência à edição no passado ano de uma brochura sobre Comunicação Aumentativa feita em parceria entre o Instituto Politécnico de Leiria e a DREC. Esta brochura foi distribuída gratuitamente em toda a região centro e só tive conhecimento da mesma através da televisão, o que lamento pois considero que deveria ter sido disseminada por todo o país, como forma de sensibilização à população em geral. É importante divulgar este tipo de iniciativas como forma de alerta e de respeito e de aceitação que todos devemos ter pela diferença. Decoramos tantos símbolos nas ruas, nas estradas, nos meios de transporte e porque não sabermos o significado de outros que pertencem também a uma simbologia universal ( são utilizados em 44 países) e que têm por objetivo aproximar pessoas? Esta linguagem simbólica pode ser trabalhada nas nossas salas de aula, pelo seu caráter eficaz e operante face às tarefas do dia a dia. Para mim é muito mais funcional atribuir um símbolo a uma palavra do que fazer corresponder quatro grafemas a um só fonema. A brochura que acabo de referir tem no seu início uma frase de Daniel Webster que considero imensamente rica de conteúdo e que ilustra a importância da comunicação e sobretudo da comunicação com pessoas com limitações. “Se perdesse todas as minhas capacidades, todas elas menos uma, escolheria ficar com a capacidade de comunicar, porque com ela depressa recuperaria todo o resto…" Conhecer cada criança. saber as suas capacidades e partir daí para um trabalho individualizado é o primeiro passo para adaptar os programas mais indicados às suas necessidades. Comunicação Aumentativa Trabalhámos alguns deles, que passo a abordar de uma forma sucinta uma vez que nunca os trabalhei e não tenho um conhecimento a fundo de todas as suas potencialidades. Posso dizer que me deram uma nova perspetiva do que é comunicar. Estes programas e materiais que têm por objetivos: otimizar a comunicação; exprimir; interagir; comunicar intencionalmente; compreender a linguagem; comunicar necessidades básicas. Destinam-se a qualquer pessoa independentemente da situação, quer tenha ou não deficiências. A título de exemplo auxilia qualquer pessoa a comunicarmos no estrangeiro, com uma Língua diferente da sua. Programas e Materiais Digitalizadores - Têm por função gravar e guardar mensagens de voz para serem utilizadas em diversas situações. Dependendo da sua função e sobretudo da criança a quem se aplica, o digitalizador pode gravar uma simples mensagem que é repetida aquando do seu toque e constitui um dos primeiros passos na aprendizagem do nome, de uma cor, de um fruto, etc. Diana Ex: BIGmac k Existem digitalizadores mais complexos, que guardam mais mensagens distribuídas por células que ao serem pressionadas pelo toque reproduzem a mensagem gravada. São simples, fáceis de transportar, leves e versáteis. Podem servir como lembrete, conter mensagens simples (pois têm pouco tempo de gravação), identificar objetos numa sala e podem ainda ter imagens sobrepostas com velcro por cima da Comunicação Aumentativa capa de plástico permitindo à criança uma melhor identificação do que quer dizer. estes Talking Brix podem ser usados individualmente ou em conjunto, permitindo a construção de uma frase ou de uma sequência. Ex: Talking Brix; de 3 e 5 mensagens Ex: Existem ainda diversos manípulos que servem para gravar uma sequência de mensagens, canções ou histórias simples. É o caso dos manípulos Passo a Passo: Ex: Comunicador Passo a Passo mensagens Os manípulos apresentados têm a vantagem de serem utilizados por crianças com problemas motores ao nível dos membros superiores, mas que não os impeça de clicar. Existem ainda outros digitalizadores mais complexos, que englobam mais células e portanto mais mensagens. Têm por função gravar e guardar uma sequência de mensagens, explorar um tema específico, servem para ir a uma loja comprar algum produto e permitem substituir nas células os símbolos mais adequados a cada situação. Têm ainda a vantagem de serem facilmente transportados. Vão desde a versão de bolso a outras maiores ( A4) São eles: GoTalk GoTalk Pocket Comunicação Aumentativa Super Talker - Comunicador Progressivo Comunicador S32 omunicador S32 Speaking Dynamically pro Boardmaker - São partes de um mesmo programa que trabalham em separado, mas que partilham os mesmos símbolos, ferramentas e criação de quadros. A sua simbologia é universal, está adaptada a qualquer idade, está dividida em categorias, o que possibilita uma comunicação e aprendizagem de diversos conceitos e serve para trabalhar variados temas que vão desde a motivação à fala até à aprendizagem da gramáticas e dos constituintes da frase. Permite atribuir uma variedade de ações a botões de qualquer quadro criado para que se possa utilizar o computador como um poderoso equipamento para a Comunicação. Os quadros criados no BM podem ser utilizados pelo SDP e viceversa. Poderão ainda ser criadas criar atividades interativas para utilização na escola, na terapia da fala, etc. Permite a criação de tabelas de comunicação que podem variar conforme a a necessidade de cada circunstância, É um poderoso instrumento de comunicação, o melhor que aprendi na ação, dado a sua versatilidade e adaptação á vida social, pessoal e escolar Comunicação Aumentativa Grid 2 -Um dos programas que também considero interessante e versátil, pela capacidade que tem em termos de simbologia e permite ao professor e ao utilizador "formar" a sua própria comunicação. Pode ser adaptado a cada utilizador e pode ainda reproduzir-se para trabalhar em vários computadores ao mesmo tempo, o que em termos económicos é bastante atrativo. Este programa consiste num sistema de teclados no ecrã, que pode substituir as funções de um teclado convencional ou rato, através de qualquer dispositivo apontador (trackball, joystick, tracker, etc) ou de qualquer processo de varrimento, daí a sua vantagem para poder ser utilizado por pessoas com comprometimento motor. Utiliza qualquer biblioteca de símbolos, o que também lhe confere uma fácil utilização. permite ainda a memorização de algumas palavras e mensagens para serem utilizadas posteriormente. Na ação fizemos alguns exercícios que nos permitiram perceber melhor a utilização e funcionalidades dos Programas. Constituíram um bom ponto de partida, para que a partir daqui possamos criar tabelas de comunicação individualizadas, adequadas à particularidade de cada utilizador. Para além destes programas, há ainda outros programas de autor, que permitem a construção de uma comunicação adequada à necessidade específica de cada criança (ex. JCLIK). Para além da mais valia de alguns destes programas serem utilizados por crianças com necessidades especiais, podem ser utilizados pelas outras crianças da turma, o que permite uma interação de todos com todos. Comunicação Aumentativa Considerações finais De facto quando trabalhamos com crianças com multideficiência ou com limitações a vários níveis, apercebemo-nos de que um olhar, uma vocalização pode ser uma partilha connosco e o tempo por vezes tão longo de reação pode ser uma evolução considerável. Como não trabalho com crianças com necessidades especiais a este nível, há muitos aspetos que me passam despercebidos, mas quando visito a sala UAAM da minha escola e observo a diversidade de crianças, cada uma com uma forma muito própria de expressão valorizo cada vez mais o trabalho com elas desenvolvido. A ajuda de instrumentos é um bom suporte, mas a disponibilidade do professor, das auxiliares é preponderante. O carinho não pode ser transmitido através de um objeto, mas sim através da presença, do afeto e de uma entrega total de um para um. É quase um ambiente mágico que permite que a aprendizagem e sobretudo a comunicação aconteça. Considerei muito importante termos experimentado comunicar algumas mensagens (frases) através dos vários instrumentos. Para mim, que nunca tinha utilizado tabelas de comunicação foi difícil a princípio, mas com a continuação fui percebendo que o conteúdo quanto mais simples e preciso for, mais compreensível é para a criança. Muitas vezes complicamos o que é simples! O facto de uma criança não conseguir falar não quer dizer que tenha problemas cognitivos ou sensoriais, por isso o adulto que trabalha com estas crianças tem que ter um profundo conhecimento e ir adaptando as suas práticas às reações que as crianças vão tendo. Se pudesse resumir numa frase o que mais me "tocou" nesta ação é que de facto, comunicar é muito mais do que falar. Perdemos muito quando limitamos a comunicação à fala!