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Anais da XVII Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão –
Universidade e Comunidade: em busca da transformação social
v.1, nº. 1, 2016. ISSN – 2448-1319
OFICINAS TEMÁTICAS ENQUANTO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NO
PROEJA DO IF BAIANO – CAMPUS GUANAMBI
Bárbara Katharinne Alves Borges Lessa
IF Baiano – Campus Guanambi
[email protected]
Resumo
A pretensão deste documento consiste em apresentar o relato de uma experiência de intervenção nas
turmas do PROEJA - Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica
na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos, ofertado pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia Baiano, Campus Guanambi. Tal ensaio possibilitou repensar as práticas pedagógicas dessa
modalidade concernentes às ações docentes com suporte metodológico das Oficinas Temáticas com o
objetivo de prover a construção em conjunto do conhecimento, de análise da realidade, de confronto e
troca de experiências. Para, além disso, atender aos anseios dos alunos dessa modalidade no sentido de
viabilizar atividades que estimulem vivências diferenciadas de aprendizagens.
Palavras-Chave: Praticas Pedagógicas. Oficinas Temáticas. PROEJA.
Introdução
A perspectiva que ilumina a decisão de apresentar este relato de experiência
como contribuição à XVII Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão e I
Seminário de Pesquisa e Extensão do DEDC XII, surgiu do desejo de compartilhar
estratégias e alternativas diferenciais de ensino e aprendizagem direcionadas para os
alunos do curso técnico em Informática na modalidade Educação Profissional de Jovens
e Adultos, consubstanciado pelo PROEJA - Programa Nacional de Integração da
Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e
Adultos, ofertado pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano,
Campus Guanambi.
Enveredar pela práxis educativa de sujeitos que pelos mais variados motivos não
conseguiriam completar o processo de escolarização na idade regular condiz em
reconhecer um fazer docente voltado as experiências sociais, a associação dessas com a
proposta curricular, além de considerar as exigências de um cenário social em constante
transformação. Ao entender o programa dentro das especificidades da EJA, bem como a
angústia de alguns colegas que não foram chamados a lidar no período de formação com
tal modalidade de ensino, a Coordenação de Curso em parceria com a Coordenação
Geral do Campus propôs ao coletivo de professores discutir as necessidades formativas
que entre outras atividades culminou numa abordagem das práticas pedagógicas a partir
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da utilização de Oficinas Temáticas.
O eixo para intervenção junto ao corpo docente teve o intuito de possibilitar que cada
um dos professores do grupo de trabalho, percebesse a possibilidade de criação de
mecanismos de elaboração de ações frente ao fazer docente intercalada às premissas das
políticas públicas da modalidade, gerando um processo, em que militância e
constituição da docência em EJA caminham juntas.
Objetivos

Refletir as necessidades formativas dos professores face ao contexto da
educação profissional de jovens e adultos;

Sistematizar vivências de crescimento pessoal e motivador aos alunos.
Referencial Teórico
Pensar uma escola de sucesso é prover meios de promulgar entre seu corpo docente
discutir propostas, estratégias que viabilizem ao aluno completa integração com a
Escola, tanto no âmbito da escolarização quanto no aspecto social. E como nas demais
modalidades, a atenção didático-pedagógica voltada à EJA deve contemplar ações
pedagógicas que venham dar subsídios teóricos-práticos aos professores, buscando
atender a essa clientela com características distintas que carece de respeito nas suas
diversidades sócio-histórico-culturais.
Isso significa que as experiências, os conteúdos, as políticas educacionais voltadas ao
ensino da EJA, os sujeitos e os contextos, se constituem como aspectos de extrema
relevância para configurar um processo de avaliação com foco na aprendizagem, com
contribuições assumidas individual e coletivamente pelos profissionais de educação de
uma instituição.
O quadro delineado com a implementação do PROEJA, embora seja marcado por
especificidades locais, faz parte de uma trajetória que se constituiu no bojo do processo
de reordenamento de políticas educacionais no Brasil, desencadeada pela Constituição
Federal de 1988 (BRASIL, 1988), a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional 9394/96 (BRASIL, 1996), bem como o Decreto do PROEJA nº
5.478, de 24 de junho de 2005, em seguida substituído pelo Decreto nº 5.840, de 13 de
julho de 2006, que introduz novas diretrizes que ampliam a inclusão da oferta de cursos
PROEJA para o público do ensino fundamental da EJA integrado ao ensino
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profissional.
Conforme Duarte (2003) do ponto de vista sociocultural, jovens e adultos se
caracterizam como grupo heterogêneo, operários da construção civil, donas de casa,
agricultores, empregadas domésticas, porteiros, lixeiros, balconistas, faxineiros,
operários. A maioria passou em algum momento pela escola o que nem sempre significa
mais conhecimentos. A heterogeneidade é consequência de aprendizagem e
experiências em diferentes contextos sociais, com seus conceitos, crenças, valores,
atitudes e procedimentos construindo processos diferenciados de aprendizagem,
conhecimentos e formas de pensamento.
Neste sentido as práticas educativas atuais defrontam-se com as circunstâncias legadas e
transmitidas pelo passado de dominação e opressão de classes e grupos. Nesta
perspectiva vivenciar a prática pedagógica na EJA, é produzir seus novos paradigmas
pedagógicos, considerando quem são esses sujeitos, implica pensar sobre as
possibilidades de transformar a escola que os atende em instituição aberta, que valorize
seus interesses, conhecimentos e expectativas, que favoreça sua participação na
sociedade como cidadãos e não somente como objeto de aprendizagem. É neste ir e vir
que se concretiza a práxis educativa, na mediação entre o mundo vivido e o proposto
pelo currículo prescrito, não se esgotando, portanto, na relação eu – tu Freire (2005).
Vale ressaltar que a prática pedagógica voltada para oficinas temáticas deu-se por
caracterizá-las como um fazer significativo, dinâmico e acima de tudo feita com
seriedade, compromisso e responsabilidade para fazer a diferença no contexto
educacional. Freire (apud Beisiegel, 2010, p. 50), ele utilizava palavras que tivesse
significado para os alunos, de acordo com sua realidade que fizesse parte do seu
cotidiano, de vida social.
Sacristán (2008) reconhece essa multidimensionalidade ao considerar que o currículo
oficial prescrito é traduzido por meio de uma práxis, que em um determinado contexto
se concretiza na interação teoria e prática. Tardif (2002), ao analisar a existência de uma
dimensão da constituição docente que se dá por meio da própria prática profissional,
considera que a reflexão leva à existência de um currículo em ação, o qual vai ao
encontro das elaborações realizadas pelos docentes.
Essas reflexões permitiram o entendimento de que haveria na EJA, independentemente
da existência de um currículo prescrito, um currículo em ação (SACRISTÁN, 2008),
constituído pela confluência das práticas pedagógicas. A proposição de enfatizar as
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oficinas temáticas pressupõe:

(Re)pensar estratégias para a criação de espaços e tempos de reflexão sobre as
percepções teóricas que permeiam as práticas pedagógicas.

Otimizar ações que propiciem um currículo em movimento coadunado com as
especificações da EJA e a pesquisa como princípio educativo;
São muitas as abordagens que contribuem para o processo de ensino/aprendizagem.
Entre elas destacamos as Oficinas Temáticas como instrumento facilitador para a
integração de diferentes concepções práticas que potencializam a dimensão pedagógica
e social. A construção de estratégias de integração entre pressupostos teóricos e práticas,
é o que, fundamentalmente, caracteriza as oficinas pedagógicas (PAVIANI, 2009).
A oficina é, portanto, uma oportunidade de vivenciar situações concretas. A ênfase em
atividades que promovam questionamentos, discussões, reflexão acerca dos conceitos e
aplicação dos conhecimentos científicos pode proporcionar aos alunos, aprendizagens
de conhecimentos científicos de forma significativa.
Metodologia
A priori elencou-se mediante consulta prévia à Coordenação Geral de Ensino do campus
as demandas mais emergenciais que recobriam as práticas docentes nas turmas do curso
Técnico em Informática- PROEJA. Após esse diálogo, a coordenação do respectivo
curso apresentou a proposta de iniciarmos o semestre letivo com atividades díspares das
desenvolvidas no decorrer do período acadêmico É bom que se diga que tal iniciativa
além de ter nascido das narrativas dos professores de como desencadear atividades
pedagógicas referentes às peculiaridades desses alunos, comungou da angustias destes
próprios de se sentirem desmotivados em relação à monotonia das aulas de modo geral.
O momento do retorno às aulas foi crucial para lançarmos a proposta já que este é
sempre caracterizado pela renovação das expectativas por parte dos alunos e reflexão
sobre as práticas em sala de aula pelos professores.
Cientes das necessidades de ressignificação de suas práticas os professores tomaram
para si a responsabilidade de assumir o projeto Oficinas Temáticas, como ministrantes
de uma oficina mediante afinidade com o tema sugerido pela Coordenação de Curso.
O período de realização das oficinas deu-se entre os dias 28/03 à 01/04/2016. Durante
toda semana cinco oficinas diferentes foram realizadas:

Tema 1 - Leitura e Escrita: Foco nos aspectos pedagógicos da aquisição da
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leitura e escrita de jovens e adultos.
 Tema 2 - Educação Matemática: Possibilita a discussão prática da educação
matemática em sala de aula.
 Tema 3 - Educação e Cultura: Favorece a organização de oficinas que interagem
no processo de aprendizagem com a cultura local das comunidades atendidas.
 Tema 4 - Tecnologias no ensino: Espaço para a apresentação de atividades que
possibilitem a discussão e o uso das novas tecnologias e suas ferramentas no
processo educacional.
 Tema 5 - Educação Inclusiva na perspectiva dos surdos: Momento de discutir o
uso da LIBRAS no processo de socialização dos alunos.
Ao final das oficinas os alunos proferiram avaliação das atividades, numa roda de
conversa sobre a participação e construção de saberes a partir dessa pratica. Esse
momento foi conduzido pela Coordenação de Curso.
Discussão e Resultados
Na escuta aos professores, em um primeiro momento, discutiu-se sobre como o
Programa vinha funcionando e quais seriam os principais problemas de cunho
metodológico que estavam acontecendo. Procedimento semelhante foi relatado pelos
alunos, provocações que enriqueceram ainda mais a sugestão das Oficinas Temáticas
como salientado por Zabala (2002) as oficinas, como dispositivo pedagógico
proporcionam uma concepção de ensino e de aprendizagem que aproxima as
constituições didáticas com a práxis docente num conglomerado que utiliza experiências
e instrumentos no intuito de construir uma interpretação subjetiva.
No intuito de contemplar as singularidades e perfil dos alunos da EJA é que o professor
deve se fazer atento a sua prática pedagógica promovendo um ambiente acolhedor para
a aprendizagem significativa dos alunos reconhecendo-os como grupo homogêneo,
entretanto, respaldados pela heterogeneidade que permeia essa modalidade de educação.
Para fins de avaliação da coordenação de curso sobre a percepção dos alunos sobre as
Oficinas Temáticas foi proposto uma roda de conversa com as turmas. Foi um momento
muito tranquilo de discussão conduzido pelo coordenador de curso.
Pelas narrativas dos alunos ficou claro que quanto mais se abre o espaço de discussão
para elaboração de atividades com o alunado, mais estes sentem-se engajados em
participar. Percebeu-se em falas como: “professora eu passei a ver sentido em coisas
que o professor falava antes que eu não entendi”; “é bom termos atividades
diferenciadas das aulas até para sentir mais estimulada a continuar”, o quanto as oficinas
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conseguiram minimizar os anseios dos alunos pelo reconhecimento de sua
participação na instituição.
A educação de adultos está condicionada às possibilidades de uma transformação real
das condições de vida do aluno-trabalhador. [...] Os programas de educação de jovens e
adultos estarão a meio caminho do fracasso se não levarem em conta essas premissas,
sobretudo na formação do educador [...] (GADOTTI, 2005, p. 31-32). A linguagem e a
lógica que preside na escola precisa dialogar com as dos alunos jovens, sejam eles
provenientes de quaisquer dificuldades que impossibilitou a escolarização no tempo
regular. Ademais é mister que a maioria das propostas curriculares, a própria
organização e seleção de conteúdos para a EJA sigam a complexidade do estar no
mundo, da vida cotidiana e das aprendizagens que nela ocorrem.
Conclusões
Falar da Educação de Jovens e Adultos é perceber que a aprendizagem se dá de forma
contínua ao longo da vida, é analisar a realidade social, cultural e econômica dos
sujeitos que integram essa modalidade e criar uma politica de ensino que se identifique
com as características próprias da EJA, sem que esta esteja a quem dos demais
seguimentos das instituições.
No seio de uma escola de ensino profissional essa situação ainda é mais gritante, em
especial num espaço que congrega além das turmas em ensino regular, cursos de
profissionais pós-médio e ensino superior. Parece estranho quando assim é colocado.
Contudo neste cenário onde os discentes em tese, e por tradição, estão em idade escolar
regular, prover um ambiente indenitário para os alunos da EJA é uma árdua batalha,
afinal, grosso modo trata-se de subjetividades, de sentimento de pertença.
A escola necessita entender esses sujeitos a partir de suas diferenças culturais e
cognitivas, aliando ao processo ensino-aprendizagem conteúdos e conhecimentos
práticos que sirvam para a vida social dos indivíduos e que os permitam atuarem de
forma crítica e reflexiva na sociedade em que estão inseridos. Cada um tem uma forma
própria e singular de imprimir saberes através dos modos como atribui sentido às
informações recebidas, estabelecendo conexões entre os fios e tessituras anteriores e os
novos.
Referências
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BEISIEGEL, Celso Rui. Paulo Freire, Recife: Fundação Joaquin Nabuco Editora:
Massangana, 2010.
BRASIL. Senado Federal. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasilia:
DF, Senado Federal, 1988.
BRASIL, MEC. Diretrizes para uma política nacional de Educação de Jovens e
Adultos. Brasília, MEC/ SEF 1994. (Série Cadernos de Educação Básica)
DUARTE, N. Conhecimento tácito e conhecimento escolar na formação de professores
(Por que Donald Schön não entendeu Luria). Educação & Sociedade, Campinas, v. 24,
n. 83, p. 601-625, 2003.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 48. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.
GADOTTI, Moacir e José E. Romão. (orgs). Educação de Jovens e Adultos: teoria,
prática e proposta. 7 ed. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2005.
PAVIANI, Jayme. Interdisciplinaridade: conceito e distinções. Caxias do Sul: Educs;
Porto Alegre: Pyr, 2009.
SACRISTÁN, J. Gimeno. O Currículo – uma reflexão sobre a prática. Porto Alegre:
Artmed, 2008.
TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2002.
ZABALA, Antoni. A prática educativa: Como ensinar. Porto Alegre, Artmed, 2002.
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