UM HOLOCAUSTO EM VIDA Prof. Daniel Frances

UM HOLOCAUSTO EM VIDA
Durantes anos da minha vida convivi indiretamente com a tragédia que foi o Holocausto. Meu pai
era de origem judaica e toda sua família com exceção dele e um irmão foi morta por nazista na sua frente.
Na minha infância homens estranhos, pois já eram velhos conversavam com meu pai em minha casa e
choravam ao falar do holocausto e tinham estranhas marcas no braço como se fosse uma tatuagem. Eram
na verdade, descobri com o tempo, a numeração do campo de concentração onde estiveram presos e suas
lágrimas foi pro terem escapado e não podido salvar seus filhos, pais ou esposas. Quando a TV transmitiu
a série Holocausto, meu pai saia da sala e ia ao quarto chorar baixinho, mas como nossa casa era pobre e
as paredes eram de madeira ouvia seu choro e suas lágrimas doíam em mim. Cresci respeitando muitas
de suas tradições mesmo tendo outras convicções religiosas, mas segui seus passos e respeitei sua dor.
Hoje vejo que os anos passaram e que aos poucos na memória de muitos o Holocausto é algo
distante e impreciso, como se na verdade não tivesse até acontecido. Nos noticiários vemos o presidente
do Irã Mohamed Almadinejah dizer que ele foi uma invenção do povo judeu para obter a criação de seu
estado de Israel. Vemos escritores tentando desmerecer o sofrimento de um povo e execrar sua dor. Não
precisamos de muita inteligência nem sensibilidade para entender o que foi o regime nazista e toda sua
loucura, com seus monstros tirânicos perpetuando horrores em pessoas inocentes – ou alguém pode me
explicar que culpa uma criança de cinco anos tem de ter nascido judia? E que direito alguém tem de
barbarizá-la e matá-la com requintes de crueldade?
Quando as portas dos campos de concentração foram abertas aos olhos do mundo e as pilhas de
corpos que não haviam sido ainda cremadas apareceram e outras milhares de pessoas cambaleando de
fome e fraqueza apareceram o humanidade gritou: Meu Deus! Que horror! Minah mãe que foi enfermeira
na II Guerra contava que seu uniforme branco da Cruz Vermelha ficava cheio de manchas pretas os
passar perto de áreas que tinham campos de concentração. Eram os restos dos corpos humanos que
caiam com a neve no frio d Polônia.
O Holocausto esta vivo no povo judeu, o holocausto se perpetua nas ruas na miséria de centenas
de pessoas e nos maus tratos a outras milhares. Se crescermos sem memória seremos como gado num
pasto esperando apenas nossa vez de ser comido pela história. Cruel história! Que pode dizimar suas
próprias páginas com o poder de rasgá-las dos livros do saber ou pode nos fazer amadurecer para
entender que somos todos culpados, até mesmo por aquele que morre longe a centenas de milhares de
quilômetros de nossa casa. Porque ao não agirmos em busca da consciência matamos em nós a chama de
sermos humanos.
Prof. Daniel Frances