COMPROMISSO SOCIAL Projeto com patrocínio de FURNAS forma jovens instrumentistas para o mercado de trabalho e cidadania em Mato Grosso O trompetista convidado Nailson Simões à frente da Orquestra de Sopros do Projeto Ciranda texto Eduardo Franklin A Orquestra de Sopros do Projeto Ciranda – Música e Cidadania, apoiado por FURNAS em Cuiabá (MT) desde 2004, realizou dois concertos nos dias 14 e 15 de junho, na capital mato-grossense e na Chapada dos convidado Nailson Simões, professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro e primeiro trompetista brasileiro com mestrado e doutorado nos Estados Unidos. Foto: Márcio Oliveira Guimarães (MT), tendo como solista Revista FURNAS - Ano XXXIV - Nº 355 - Agosto 2008 19 COMPROMISSO SOCIAL À esquerda, Weverson da Costa toca tímpano e reconhece que o projeto lhe abriu novas perspectivas; no detalhe, o baterista Wender Couto, que decidiu cursar a Faculdade de Música Fotos: Márcio Oliveira Evolução A exemplo dos vários músicos convidados pelo projeto – os próximos serão o contra-baixista Itiberê Zwarg e o trombonista Vittor Santos - Nailson Simões O Projeto Ciranda é a única escola ministrou oficinas de trompete e ensaiou com a orquestra durante uma de instrumentos musicais de Mato semana. “É um projeto de extrema importância e já reconhecido em todo o país Grosso, e beneficia 220 crianças e como modelo de oportunidade e incentivo para crianças e jovens conhecerem jovens, em sua maioria de regiões as possibilidades da música e da arte de um modo geral, apoiando também sua carentes da capital e municípios da formação como cidadão. Acompanho a evolução desses novos talentos e posso Baixada Cuiabana, que recebem au- afirmar que logo teremos uma estrela surgindo por aqui”, afirmou Simões ao las gratuitas com empréstimo do ins- fim do concerto em Cuiabá. trumento de sua preferência, ofici- O maestro da orquestra Murilo Alves, disse que o patrocínio de FURNAS é nas de teoria musical, vale-transpor- fundamental para a manutenção e difusão do projeto que, em sua opinião te, material didático e uniforme. Eles “tem um valor imensurável para a vida desses jovens que assim podem contam também com biblioteca, es- desenvolver seu potencial artístico, conviver com nomes consagrados e incor- túdio de gravação, palco coberto para porar valores profissionais e de cidadania”. ensaios e apresentações; e têm como Grazielle Louzada, 23 anos, no projeto há três anos, toca sax-tenor e já se critério básico para ingresso e perma- apresenta com grupos de samba e choro nos bares e restaurantes de Cuiabá. nência no curso o aproveitamento es- “O Ciranda dá oportunidade para quem quer aprender e se profissionalizar, colar constantemente monitorado. conhecer músicos de renome e abrir caminhos para outras possibilidades. Eu, Os alunos que mais se destacam passam a integrar os grupos de Música 20 por exemplo, entrei para a faculdade de Licenciatura em Música e pretendo estudar muito ainda”. de Câmara, a Orquestra de Sopros e o Talento precoce, o flautista Danilo Morais Castro, dez anos, entrou para o Coral Infantil, que realizam concertos projeto há dois anos, e hoje descobriu que “em vez de ser jogador de futebol didáticos em escolas da rede pública. prefiro mil vezes ser músico”. Sua mãe, a comerciante Janine, soube do projeto Muitos jovens que participaram do pro- por meio de uma reportagem de jornal e lembra que conseguiu inscrever o filho jeto tocam profissionalmente em or- no último dia. “No início, Danilo gostava mais do convívio, de conhecer músicos questras, bandas, grupos musicais, de- famosos, mas desde que entrou para a orquestra ele não pára de estudar, fica senvolvem carreira-solo ou se dedicam tirando as músicas que tocam na televisão. É um banho de cultura e tudo que ao ensino da música. ele aprende aqui é para a vida toda”, reconhece ela. Revista FURNAS - Ano XXXIV - Nº 355 - Agosto 2008 Grazielle Louzada já se apresenta profissionalmente com seu sax-tenor; no detalhe, Danilo Castro, um talento precoce da flauta aos dez anos Exemplo Weverson Barros da Costa, 19 anos, já tinha estado no Ciranda e teve que abandonar para trabalhar e ajudar a família. Mas a vocação falou mais alto e ele, mesmo com dificuldades, voltou a fazer o que mais gosta, “tocar tímpano e todo tipo de percussão, tirar peças novas, aprender com os músicos convidados, fazer um bom espetáculo. Sem o projeto, eu jamais teria a chance de me apresentar fora de Cuiabá arcando com uniforme, instrumento, transporte e hospedagem”, admite. O baterista Wender Miranda Couto, 17 anos, disse nunca poder imaginar que teria “a oportunidade de uma formação musical completa, com leitura de partitura, gravação em estúdio, sem falar nas novas amizades”, anunciando que pretende fazer vestibular para a Faculdade de Música. A coordenadora do Ciranda, Elisangela Passos, acredita que o sucesso do projeto “estimule outras empresas a seguir o exemplo de FURNAS apoiando cirandas musicais pelo país afora”, atestando que a iniciativa representa “uma grande contribuição para a formação de cidadãos com poucas perspectivas e, muitas vezes, sem mesmo o apoio da família”. Ela acrescenta que são também visíveis os progressos dos alunos no aproveitamento escolar, na disciplina, responsabilidade, sociabilidade e auto-estima. Revista FURNAS - Ano XXXIV - Nº 355 - Agosto 2008 21