estudos experimentais em vegetação de cerrado

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RESUMO
EXPANDIDO
XVIII Simpósio
de Mirmecologia
ECOLOGIA COMPORTAMENTAL NA INTERFACE FORMIGA-PLANTA-HERBÍVORO:
ESTUDOS EXPERIMENTAIS EM VEGETAÇÃO DE CERRADO
P.S. Oliveira, S.F. Sendoya & A.V.L. Freitas
Universidade Estadual de Campinas, Departamento de Zoologia, Rua Charles Darwin s/no, CEP 13083-863,
Campinas, SP, Brasil. E-mail: [email protected]
As formigas são talvez os animais mais abundantes de ecossistemas terrestres, e sua supremacia numérica é evidente tanto no chão como na vegetação.
Especialmente nos trópicos, centenas de espécies de
plantas possuem órgãos que induzem a visitação e/
ou colonização por formigas. O pequizeiro do cerrado
- Caryocar brasiliense (Caryocaraceae) — possui
nectários extraflorais nas sépalas dos botões florais e
nas margens das folhas jovens. Os nectários do
pequizeiro são atrativos para mais de 30 espécies de
formigas que visitam a planta de dia e/ou à noite em
busca de secreções açucaradas. A borboleta Eunica
bechina (Nymphalidae) habita os cerrados do centro e
sudeste do Brasil e suas larvas se alimentam das
folhas jovens do pequizeiro. O comportamento agressivo das formigas visitantes dos nectários reduz significativamente a infestação da planta pela borboleta,
uma vez que algumas espécies nectarívoras também
atacam e/ou predam as lagartas. Este efeito negativo
das formigas constitui um fator determinante para a
seleção da planta hospedeira por parte da borboleta,
afetando sua biologia e comportamento, especialmente durante o processo de oviposição. Em nossos
estudos experimentais no cerrado, investigamos se a
presença freqüente de formigas sobre C. brasiliense
pode afetar a seleção de locais para oviposição por E.
bechina, e se fêmeas desta borboleta são capazes de
discriminar visualmente diferentes partes da planta
hospedeira em função da presença de espécies de
formigas com diferentes aspectos morfológicos e diferentes graus de agressividade.
Através de experimentos em ramos pareados do
pequizeiro, testamos a preferência da borboleta por
locais de oviposição ocupados por diferentes tipos de
insetos. Os experimentos demonstraram que a presença de outro herbívoro especialista do pequizeiro
(Edessa rufomarginata, Pentatomidae), ou da formiga
não-agresssiva Cephalotes pusillus, não afetam o comportamento de oviposição da borboleta em relação a
ramos sem insetos (controle). Por outro lado, há uma
redução significativa da freqüência de oviposição em
ramos ocupados por formigas agressivas (Camponotus
spp.) em relação ao controle sem insetos. Experimentos com ramos pareados ocupados por diferentes
espécies de formigas sugerem que a borboleta Eunica
bechina utilize o tamanho e a forma das formigas como
pistas de reconhecimento para mediar sua decisão de
oviposição na planta hospedeira. Esta discriminação
visual permite que as fêmeas de Eunica bechina reduzam a probabilidade de sua prole ser atacada por
formigas agressivas durante a fase larval na planta.
A capacidade discriminatória das fêmeas adultas de
E. bechina, além dos vários mecanismos comportamentais e morfológicos das lagartas, é aparentemente
fundamental para permitir que esta espécie de borboleta se especialize numa planta hospedeira intensamente patrulhada por formigas e, portanto, tão arriscada para a sobrevivência das larvas.
Biológico, São Paulo, v.69, suplemento 2, p.5, 2007
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