TEIA TEIA DO DO SABER SABER 2005 GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DIRETORIA DE ENSINO - REGIÃO DE RIBEIRÃO PRETO Av. Nove de Julho no. 378 - Ribeirão Preto Fundação de Apoio às Ciências: Humanas, Exatas e Naturais METODOLOGIA DE ENSINO DE DISCIPLINAS DA ÁREA DE CIÊNCIAS DA NATUREZA, MATEMÁTICA E SUAS TECNOLOGIAS DO ENSINO MÉDIO: FÍSICA, QUÍMICA E BIOLOGIA TURMA DE CONTINUIDADE A Questão da Linguagem no Ensino de Ciências Profa. Dra. Soraya Maria Romano Pacífico Prof. Dr. Marcelo Tadeu Motokane E Material Pedagógico para uso do professor Venda Proibida (16) 3602-3670 e-mail:[email protected] Acompanhe a programação pela internet: http://sites.ffclrp.usp.br/laife Coordenação Geral Prof. Dr. Mauricio dos Santos Matos TEIA DO SABER 2005 Metodologia de Ensino de Disciplinas da Área de Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias do Ensino Médio: Física, Química e Biologia (Tuma de Continuidade) A questão da Linguagem no Ensino de Ciências Profa. Dra. Soraya Maria Romano Pacífico e Prof. Dr. Marcelo Tadeu Motokane APRESENTAÇÃO DOS PROFESSORES DO MÓDULO DE ENSINO ( PROFA. DRA. SORAYA MARIA ROMANO PACÍFICO: Formada em Letras. Mestre em Lingüística e Língua Portuguesa pela UNESP. Doutora em Ciências pela FFCLRP/USP. É atualmente docente do Depto. de Psicologia e Educação da FFCLRP/USP e responsável pelas disciplinas de Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa; Alfabetização e Métodos; Escrita, Alfabetização e Letramento: Uma Abordagem Histórica; Leitura e produção de texto. Ministra, também, uma disciplina na pós-graduação, Argumentação e autoria: investigações sobre a aquisição da linguagem escrita. Suas áreas de pesquisa são: análise do discurso, argumentação e autoria & Letramento e Alfabetização. Já atuou como professora de Ensino Fundamental e Médio. Foi docente dos cursos de Psicologia, Pedagogia, Direito, Propaganda e Marketing, Letras (UNIP e Faculdade de Ed. De São Luís). ( PROF. MS. MARCELO MOTOKANE: Formado em Ciências Biológicas pelo Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo. Mestre e Doutorando em Ensino de Ciências pela Faculdade de Educação da USP. Atuou no ensino fundamental e médio como Professor de Biologia e Ciências de escolas públicas (Colégio de Aplicação da USP) e particulares (Escola da Vila). É docente do Depto. de Psicologia e Educação da FFCLRP/USP e responsável pelas disciplinas de Prática de Ensino de Biologia e Metodologia do Ensino de Ciências. Autor de livros didáticos de ciências naturais pela editora FTD e do material para Educação de Jovens e Adultos do Telecurso 2000. É membro do Conselho Científico-Pedagógico do LAIFE desenvolvendo projetos de ensino, pesquisa e extensão na área de ensino de ciências. TEIA DO SABER 2005 Metodologia de Ensino de Disciplinas da Área de Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias do Ensino Médio: Física, Química e Biologia (Tuma de Continuidade) 2 APRESENTAÇÃO DAS ATIVIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS y Caros professores: Este material de apoio do Programa Teia do Saber abrange o tema “A Questão da Linguagem no Ensino de Ciências”. Nele você encontrará uma síntese do tema, contendo textos, transparências e sugestões de atividades para serem realizadas em sala de aula. Pretende-se, aqui, discutir questões de linguagem que perpassam as atividades ligadas ao estudo de Ciências. Sabendo que a linguagem faz parte da constituição histórica do sujeito e que, o homem está fadado a interpretar, a produzir sentidos, consideramos pertinente discutir alguns conceitos lingüísticos que são mobilizados pelo aluno, em sua produção textual, principalmente no texto argumentativo, o qual exige do produtor uma multiplicidade de conhecimentos, a disputa do objeto discursivo, bem como, que ele assuma a responsabilidade pelo dizer. Diante disso, fundamentados em uma perspectiva discursiva, queremos refletir sobre as expectativas que o professor de Ciências pode/deve ter em relação aos textos que seus alunos produzirão e como pode ser o trabalho com a linguagem para que essa produção aconteça. Vamos tratar da produção de textos complexos analisando o percurso de uma seqüência didática procurando refletir sobre as principais dificuldades encontradas por professores e alunos nesse tipo de trabalho. Finalizaremos com uma atividade de síntese sobre os assuntos abordados durante o curso Bom trabalho a todos! Soraya e Marcelo TEIA DO SABER 2005 Metodologia de Ensino de Disciplinas da Área de Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias do Ensino Médio: Física, Química e Biologia (Tuma de Continuidade) 3 ROTEIRO DE TRABALHO PARTE 01 Atividade 01: Analisando textos de livros didáticos com o tema ÁGUA. Reúna-se em grupos de até 4 pessoas. Escolha um texto extraído de livro didático e reflita sobre: 1. O que o autor quer que o aluno aprenda? 2. O que você acha que o aluno vai entender? 3. Para que serve o texto do livro didático? - Língua e linguagem - Noção de texto - Concepção de linguagem - A significação da palavra: denotação e conotação (textos científicos e literários) - Tipologia discursiva - Discurso pedagógico - Análise de livros didáticos - Redação sobre Água da UNICAMP INTERVALO PARTE 02 - Objetivos da produção do texto escolar em ciências. - Etapas da organização do trabalho com produção de textos. - Comunicação dos objetivos aos alunos. - Caracterização do texto argumentativo. - Critérios de avaliação de texto argumentativo. TEIA DO SABER 2005 Metodologia de Ensino de Disciplinas da Área de Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias do Ensino Médio: Física, Química e Biologia (Tuma de Continuidade) 4 PARTE 03 - Atividade 02: Dê uma sugestão de trabalho com texto de escolares de ciências, considerando que a produção de texto argumentativo requer a presença de um discurso polêmico, porém, como se trata de um texto de ciências, não é possível desconsiderar que a polissemia deve ser contida. CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM Fundamentalmente, três concepções podem ser apontadas: (In: GERALDI, W. O texto na sala de aula) - A linguagem é a expressão do pensamento: essa concepção ilumina, basicamente, os estudos tradicionais. Se concebemos a linguagem como tal, somos levados a afirmações – coerentes – de que pessoas que não conseguem se expressar não pensam. - A linguagem é instrumento de comunicação: essa concepção está ligada à teoria da comunicação e vê a língua como código (conjunto de signos que se combinam segundo regras) capaz de transmitir ao receptor certa mensagem. Em livros didáticos, é a concepção confessada nas instruções ao professor, nas introduções, nos títulos, embora em geral seja abandonada nos exercícios gramaticais. - A linguagem é uma forma de interação: mais do que possibilitar uma transmissão de informações de um emissor a um receptor, a linguagem é vista como um lugar de interação humana. Por meio dela, o sujeito fala pratica ações que não conseguiria levar a cabo, a não se falando; com ela o falante age sobre o ouvinte, constituindo compromissos e vínculos que não preexistiam à fala. TEIA DO SABER 2005 Metodologia de Ensino de Disciplinas da Área de Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias do Ensino Médio: Física, Química e Biologia (Tuma de Continuidade) 5 TIPOLOGIA DO DISCURSO Características Lúdico Polêmico Reversibilidade Total Ocorre Autoritário sob certas Tende a Zero condições Polissemia Aberta Simetria/Assimetria Inexistente Função Referencial È a Tende à simetria Tende às assimetria e Determinado disputada e Pólo da polissemia Equilíbrio e imposto (diz o Pólo da paráfrase mesmo e o novo) Polissemia Mudança de foco Contida menos Respeitada importante Paráfrase Controlada Livre Permitido Proibida relativamente O DISCURSO PEDAGÓGICO (DP): A CIRCULARIDADE (Eni P. Orlandi) - Tipologia discursiva – discurso lúdico, polêmico e autoritário. - Processo parafrásicos e polissêmicos da linguagem. - Orlandi – DP é do tipo autoritário. - A (professor) ensina R (referente) a B (aluno) em X (escola – AIE) - R. Barthes – discurso pedagógico é o discurso do poder, discurso que cria a noção de erro. TEIA DO SABER 2005 Metodologia de Ensino de Disciplinas da Área de Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias do Ensino Médio: Física, Química e Biologia (Tuma de Continuidade) 6 FORMAÇÕES IMAGINÁRIAS QUEM ENSINA O QUÊ PARA QUEM ONDE Imagem do professor (A) Inculca Imagem do referente (R) Image m do aluno (B) Escola (AIE) (X) Na escola: A ensina B = A influencia B. A ESCOLA E AS LEIS DO DISCURSO (O. Ducrot) - Metalinguagem usada no livro didático: definições rígidas, conclusões exclusivas e dirigidas – discurso diluidor e diluído em relação ao objeto. - DP – transmissão de informação e fixação. Pretende-se científico: metalinguagem; apropriação do cientista pelo professor, que “apaga” seu papel de mediador. - Reprovação da conduta discordante. Saber institucionalizado; conhecido homogêneo. - DP – apaga a historicidade dos conceitos. PARA QUEM É O DISCURSO PEDAGÓGICO? (Eni P. Orlandi) - A linguagem é um fato social. - Discurso: efeito de sentido entre os interlocutores. - Todo discurso nasce de outro discurso e remte a outro (processo discursivo). Guilherme Arantes - Planeta Água Água que nasce na fonte serena do mundo E que abre um profundo grotão TEIA DO SABER 2005 Metodologia de Ensino de Disciplinas da Área de Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias do Ensino Médio: Física, Química e Biologia (Tuma de Continuidade) 7 Água que faz inocente riacho e deságua na corrente do ribeirão Águas escuras dos rios que levam a fertilidade ao sertão Águas que banham aldeias e matam a sede da população Águas que caem das pedras no véu das cascatas, ronco de trovão E depois dormem tranqüilas no leito dos lagos, no leito dos lagos Água dos igarapés, onde Iara, a mãe d'água é misteriosa canção Água que o sol evapora, pro céu vai embora, virar nuvem de algodão Gotas de água da chuva, alegre arco-íris sobre a plantação Gotas de água da chuva, tão tristes, são lágrimas na inundação Águas que movem moinhos são as mesmas águas que encharcam o chão E sempre voltam humildes pro fundo da terra, pro fundo da terra REDAÇÃO ACIMA DA MÉDIA – UNICAMP 2000 Nome: CAROLINA RAQUEL DUARTE MELLO JUSTO Cidade: CAMPINAS-SP Candidato ao curso (1ª opção) de: CIÊNCIAS ECONÔMICAS (N) Tipo Estabelecimento - Ensino Médio: SOMENTE ESTABELECIMENTO PÚBLICO A água como problema social Historicamente, a água tem recebido diversas representações, significações e valorações pelos povos no mundo. Há um ponto, contudo, em que não há divergência entre eles: a importância essencial da água para a sobrevivência humana. Com base neste ponto, as muitas culturas atribuíram as mais variadas gradações de funções da água para a sociedade, desde as que valorizam seu caráter divino-mitológico, passando pelas que privilegiam seu papel essencialmente econômico para o desenvolvimento (como no caso da fertilidade do solo, necessária à agricultura, base das grandes civilizações antigas como Egito e Mesopotâmia) até aquelas que a enfatizam como símbolo da higiene, da limpeza e da “civilidade” – na Alemanha Nazista, os judeus eram comparados com ratos, eram tidos como sujos não pertencentes à civilização humana. Para diferenciar-se deles, a limpeza e a higiene foram colocadas como lema TEIA DO SABER 2005 Metodologia de Ensino de Disciplinas da Área de Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias do Ensino Médio: Física, Química e Biologia (Tuma de Continuidade) 8 para os alemães. Até recentemente, neste país, ainda era costume a lavagem das ruas com desinfetantes e shampoos perfumados. Percebe-se aqui, portanto, uma questão fundamental quando se fala em água: o seu aspecto social. O problema primordialmente colocado sobre a água, nos dias atuais, e que aparece normalmente como “ambiental” é, antes, um problema social. A poluição dos mananciais e/ou a escassez de água são problemas socialmente construídos e, logo, requerem uma solução do mesmo tipo. No século XVIII, de acordo com a construção da cultura burguesa, a água, assim como a limpeza e a higiene de que é símbolo, passaram a ser valorizadas como elementos de distinção entre as classes superiores e as inferiores da sociedade. Nos dias de hoje, quando se observa que os índices de mortalidade infantil, derivados das más condições de saneamento básico, são bem maiores entre as populações faveladas do que os observados para as camadas mais altas da população, verifica-se que o “divisor das águas” entre elas permanece também pelo tipo de acesso à água: a exposição das camadas mais pobres à água suja, contaminada, não-tratada é um sinal das desigualdades sociais e deve ser combatida, inclusive, porque ela é fator de perpetuação das discriminações sociais, já que os pobres continuam a ser vistos, por conta disso, como “incivilizados”. E nisso há o gérmen de uma cultura de intolerância. Assim, a preservação e tratamento de mananciais é uma questão de caráter público e que como tal deve ser tratada. Requer, portanto, a construção de uma cultura que rompa com a visão puramente utilitarista sobre a água e com a de que a solução para os problemas que ela envolve sejam atributos de técnicos, engenheiros e autoridades específicas. Sendo problemas sociais, todas as discussões sobre a água requerem um debate público para o seu equacionamento. A solução conjunta para o “problema da água” é uma questão de integração cidadã. A água, como necessidade essencial à vida, é um direito universal, o qual cabe ao Estado garantir. Mas, na medida em que este tem falhado no desempenho de seus papéis, cabe à população organizada fazer valer os seus direitos na prática (e não apenas formalmente). E isto requer uma “publicização” e uma conscientização geral do problema da água na sociedade, para que esta se envolva como um todo neste problema e para que se tomem, de forma conjunta, decisões que visem à sua solução da melhor maneira possível. Uma solução que não se limite à satisfação de segmentos da sociedade. TEIA DO SABER 2005 Metodologia de Ensino de Disciplinas da Área de Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias do Ensino Médio: Física, Química e Biologia (Tuma de Continuidade) 9 BIBLIOGRAFIAS FARIA, Ana Lúcia G. Ideologia no livro didático. São Paulo: Cortez, 2002. GERALDI, W. O texto na sala de aula.São Paulo: Ática, 1999. ORLANDI, E.P. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. Campinas, SP:Pontes, 1996. ORLANDI, E.P. “Silêncio e implícito (Produzindo a monofonia)”. In: GUIMARÃES, E, (org.) História e sentido na linguagem. Campinas, SP: Pontes, p.39-46, 1989. PACÍFICO, Soraya M.R. Argumentação e autoria: o silenciamento do dizer. Tese de doutorado. FFCLRP-USP. Ribeirão Preto, SP, 2002.