cuidados de enfermagem à criança com doença crônica: relato de

ISSN: 1981-8963
Silva EC da, Lima CLJ de, Batista JM et al.
DOI: 10.5205/reuol.4688-38583-1-RV.0802201430
Cuidados de enfermagem a criança com doença…
ARTIGO RELATO DE EXPERIÊNCIA
CUIDADOS DE ENFERMAGEM À CRIANÇA COM DOENÇA CRÔNICA: RELATO DE
EXPERIÊNCIA
NURSING CARE OF THE CHILD WITH A CHRONIC DISEASE: EXPERIENCE REPORT
CUIDADOS DE ENFERMERÍA AL NIÑO CON ENFERMEDAD CRÓNICA: RELATO DE EXPERIÊNCIA
Eliane Cristina da Silva1, Carla Lidiane Jácome de Lima2, Janine Marques Batista3, Kenya Lima Silva4, Marta
Miriam Lopes Costa5
RESUMO
Objetivo: relatar a experiência de acadêmicas de enfermagem sobre o processo ensino-aprendizagem no
cuidado a uma criança hospitalizada acometida por uma doença crônica e a sua família. Método: estudo
descritivo desenvolvido a partir da vivência de acadêmicas de enfermagem durante as atividades assistenciais
na disciplina de Atenção à saúde da criança e adolescente II. Estas foram realizadas em novembro de 2010 na
clínica pediátrica de um hospital-escola da cidade de João Pessoa, Paraíba. O projeto de pesquisa foi
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, Protocolo 222/09. Resultados: após a descrição das vivências
emergiram quatro momentos: aproximação do binômio para construção da história, o foco do cuidado de
enfermagem ao binômio, avaliação da assistência, a sensação de missão cumprida. Conclusão: a assistência à
criança com doença crônica colaborou com o processo de ensino-aprendizado do acadêmico, pois, exigiu o
aprofundamento de habilidades técnico-cientificas e humanas para as ações de cuidado. Descritores:
Cuidados de Enfermagem; Enfermagem Pediátrica; Criança Hospitalizada.
ABSTRACT
Objective: reporting the experience of nursing students about the teaching-learning process in caring for a
hospitalized child affected by a chronic illness and its family. Method: A descriptive study developed from the
experience of nursing students during activities of assistance in the discipline of health attention to children
and adolescents II. These were held in November 2010 at the pediatric clinic of a teaching hospital in the city
of João Pessoa, Paraíba. The research project was approved by the Research Ethics Committee, Protocol
222/09. Results: after describing the experiences four moments emerged: the approximation of the binomial
to make the history, the focus of nursing care to the binomial, evaluation of care, the feeling of
accomplishment. Conclusion: The care to children with chronic illnesses collaborated with the teachinglearning of the academic; therefore, required the deepening of scientific-technical and human skills to care
actions. Descriptors: Nursing Care; Pediatric Nursing; Hospitalized Child.
RESUMEN
Objetivo: presentar la experiencia de los académicos de enfermería en el proceso de enseñanza-aprendizaje
en el cuidado de un niño hospitalizado afectado por una enfermedad crónica y su familia. Método: estudio
descriptivo desarrollado a partir de la experiencia de los estudiantes de enfermería durante las actividades de
ayuda a la disciplina de la atención a la salud de los niños y adolescentes II. Éstas se celebraron en noviembre
de 2010 en la clínica pediátrica de un hospital universitario de la ciudad de João Pessoa, Paraíba. El proyecto
de investigación fue aprobado por el Protocolo de Ética de la Investigación 222/09. Resultados: después de
describir las experiencias surgieron cuatro momentos: la aproximación binomial para la construcción de la
historia, el foco de la atención de enfermería al binomio, la evaluación de la atención, la sensación de logro.
Conclusión: la atención de los niños con enfermedades crónicas colaboró con el académico en el proceso de
enseñanza-aprendizaje, por lo tanto requiere la profundización de conocimientos científico-técnicos y
humanos para atender las acciones de atención. Descriptores: Cuidados de Enfermería; Enfermería
Pediátrica; Niño Hospitalizado.
1
Enfermeira, Licenciada em Enfermagem, Universidade Federal da Paraíba/UFPB. João Pessoa-PB, Brasil. E-mail:
[email protected];2Enfermeira, Licenciada em Enfermagem, Universidade Federal da Paraíba/UFPB. João Pessoa-PB, Brasil. Email: [email protected]; 3Enfermeira. Licenciada em Enfermagem, Universidade Federal da Paraíba/UFPB. João Pessoa-PB,
Brasil. E-mail: [email protected]; 4Enfermeira, Doutoranda em Enfermagem, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem
Fundamental, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/PPGENF/EERP/USP. Professora, Departamento de Enfermagem em Saúde Pública
e Psiquiatria, Universidade Federal da Paraíba/UFPB. João Pessoa-PB, Brasil. E-mail: [email protected]; 5Enfermeira, Professora
Doutora, Departamento de Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal da Paraíba/UFPB. João
Pessoa-PB, Brasil. E-mail: [email protected]
Português/Inglês
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ISSN: 1981-8963
Silva EC da, Lima CLJ de, Batista JM et al.
INTRODUÇÃO
A incidência de doenças crônicas na
população
infantil
tem
aumentado
significativamente nas últimas décadas,
tornando a hospitalização uma realidade
recorrente
na
vida
de
crianças
e
adolescentes.1 Essa é definida como uma
condição que afeta as funções do indivíduo em
suas atividades diárias por mais de três meses,
podendo causar hospitalização. Geralmente,
deixa sequelas, limita as funções do indivíduo,
possui tratamento curativo disponível, mas
que, no entanto, pode falhar.2-3
Crianças acometidas por doenças crônicas,
geralmente, necessitam de tratamentos
longos e complexos, cuidados constantes em
relação à terapêutica, além de estarem
susceptíveis a determinantes que podem
agravar o seu estado de saúde,1 podendo,
assim, provocar na família sentimentos de
fragilidade,
associado
à
preocupação
constante, culpa e medo, seguidos da
sobrecarga gerada pela dependência de
cuidados contínuos.3
Durante as atividades teórico-práticas da
disciplina de Enfermagem na Atenção à Saúde
da Criança e do Adolescente (DESCA-II), do
curso de graduação em enfermagem de uma
instituição pública, o aluno é inserido no
cenário de prática a fim de aprofundar seus
conhecimentos e se corresponsabilizar pela
assistência ao binômio. Assim, a disciplina
buscar ir além de estimular o pensamento
crítico-reflexivo
do
acadêmico
de
enfermagem. Corroborando com alguns
autores4-5,
ela
também
estimula
sua
autonomia, a tomada de decisão e iniciativa,
bem como a adquirir responsabilidade da
prestação da assistência de modo integral num
cenário real da prática de enfermagem.
É durante as atividades teórico-práticas
que o aluno é inserido no universo assistencial
para lidar com as dificuldades e os desafios
impostos ao enfermeiro, principalmente no
que concerne ao cuidado à criança e ao
adolescente hospitalizado, e desse modo
desenvolver, além das habilidades técnicas
para o cuidado, competências e atitudes para
lidar com as diversidades do mundo do
trabalho. Neste contexto, foi prestada a
assistência de enfermagem a uma criança
acometida por mielodisplasia linfóide durante
o desenvolver das atividades teórico-práticas
da DESCA-II.
As Síndromes Mielodisplásicas (SMD) se
caracterizam como um grupo heterogêneo de
doenças hematológicas que têm em comum
um
defeito
nas
células
progenitoras
hematopoéticas e um risco aumentado de
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evolução para Leucemia Mielóide Aguda. Sua
incidência é mais frequente em idosos,
contudo, quando em crianças e jovens elas
geralmente são secundárias a anomalias
hematológicas congênitas.6-7
As SMD, assim como outras doenças
crônicas, são grandes geradoras de estresse
para a criança acometida e sua família, bem
como para o profissional que as assiste.1,8-9
Considerando a imaturidade do aluno dentro
do processo assistencial, esse é um momento
único de aprendizado, onde é exigido do
mesmo lidar com questões psicológicas e
emocionais da família que vivencia essa
doença. Além disso, será preciso aprender a
lidar com a incerteza da terapêutica, pois,
nessa patologia, a terapia baseia-se no
suporte
hemoterápico
e
controle
de
hemorragias, todavia, o tratamento curativo
só se dá por meio de transplante de medula
óssea, associado à quimioterapia intensiva.6,8
Este estudo tem como objetivo relatar a
experiência de acadêmicas de enfermagem
sobre o processo ensino-aprendizagem no
cuidado a uma criança hospitalizada
acometida por uma doença crônica e a sua
família.
MÉTODO
Estudo
descritivo,
tipo
relato
de
experiência, desenvolvido a partir das ações
de cuidado realizadas por acadêmicas do
curso de graduação em Enfermagem a uma
criança acometida por uma condição crônica e
a sua família. Considerando o mesmo como
um instrumento para dialogar e refletir sobre
o processo de ensino-aprendizagem.
As ações assistenciais foram vivenciadas na
Clínica Pediátrica de um Hospital Escola
durante
as
atividades
teórico-práticas
realizadas no mês de novembro de 2010, sob a
orientação e o acompanhamento das docentes
da disciplina de Enfermagem na Atenção à
Saúde da Criança e do Adolescente II, além
das monitoras da disciplina e da colaboração
das enfermeiras assistenciais do referido
setor.
A instituição é referência para o
tratamento de crianças com doenças crônicas
e constitui-se como campo rico para o
processo de formação profissional, uma vez
que, possibilita o aprimoramento de
competências,
habilidades
e
atitudes
necessárias
à
prática
profissional,
contribuindo com o processo de ensino
aprendizagem no que tange a reflexão critica
das situações vivenciadas.
Ressalta-se ainda, que o relato atendeu aos
princípios éticos da Resolução 466/12 do
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Conselho Nacional de Saúde (CNS), que trata
das Diretrizes e Normas Regulamentadoras de
Pesquisas envolvendo Seres Humanos, e ao
Código de Ética dos Profissionais de
Enfermagem, regulamentado através da
Resolução 311/2007. Salienta-se que, o
mesmo é resultante do projeto de pesquisa
desenvolvido com crianças e adolescentes com
doença crônica, aprovado pelo Comitê de
Ética em Pesquisa do hospital sob o protocolo
nº 222/09, CAAE-0052.0.126.000-09 o qual se
encontra vinculada ao Grupo de Estudos e
Pesquisa em Saúde da Criança e do
Adolescente e o Grupo de Estudos e Pesquisa
Fundamentação
da
Assistência
de
Enfermagem, ambos vinculado ao Programa de
Pós-graduação
em
Enfermagem,
da
Universidade
Federal
da
Paraíba/PPGENF/UFPB.
O processo da construção da vivência
apresenta-se pautado no cuidado de
enfermagem no contexto da realidade
assistencial do serviço de saúde em âmbito
hospitalar. Para tanto, a dinâmica de
descrição da experiência é fundamentada nas
fases
do
processo
de
enfermagem
considerando os pressupostos da teoria das
necessidades humanas básicas de Horta, sendo
as ações de cuidado fundamentadas a partir
de literatura pertinente à temática.
DESCRIÇÃO DA VIVÊNCIA
O processo de hospitalização pode gerar
sentimentos dúbios na família e na criança,
pois, estes podem estar relacionados ao
sofrimento, mas também representar a
possibilidade de cura. Nessa perspectiva a
proposta de ensino/aprendizagem por meio da
assistência de enfermagem direta ao binômio
no período de hospitalização, proporciona ao
aluno considerar o processo saúde/doença, e,
portanto, as reações da criança e família
frente à hospitalização com a finalidade de
promover uma assistência holística e
humanizada. Seguindo essa perspectiva, a
construção da vivência se deu de forma
cronológica e linear, tomando por base o
processo de cuidar da criança e sua família.
Entretanto, para a descrição desta foram
considerados quatro momentos: 1º momento:
Aproximação do binômio para construção da
história, 2º momento: O foco do cuidado de
enfermagem ao binômio, 3º momento:
Avaliação da assistência, 4º momento: A
sensação de missão cumprida.
1º Momento: Aproximação do binômio
para construção da história
O processo de aproximação com a criança
foi iniciado por meio da investigação do
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prontuário, a fim de se obter uma visão mais
abrangente do estado geral da mesma e
compreender melhor a história do seu
adoecimento.
Em
decorrência
da
vulnerabilidade clínica, devido à anemia, a
plaquetopenia e a neutropenia característicos
da patologia, bem como, da presença de
sinais de infecção, a criança se encontrava em
isolamento protetor de contato. 10 Devido a
isso, além do uso de equipamentos de
proteção individual e restrições de visitas, a
criança e sua acompanhante deixaram de
frequentar locais de socialização existente no
serviço a exemplo da brinquedoteca e o
refeitório. O que contribuiu também para o
surgimento sentimentos de solidão e medo
relatados muitas vezes pela mãe da criança.
Esse é um momento frágil, no qual quem
assiste, neste caso, as discentes também
vivenciaram uma série de sentimentos, a
exemplo
do
o
medo
de
situações
desconhecidas e a insegurança técnica e
emocional marcantes no primeiro contato com
o binômio. Contudo, o sentimento de empatia
pela criança e sua família, e as experiências
pessoais das alunas com as próprias perdas
facilitou a compreensão do sofrimento do
outro e a formação de uma relação de
confiança que permeou toda assistência de
enfermagem.
Apesar da gravidade do quadro e por
demonstrar-se pouco ativa, a criança
permanecia alegre e participativa nas
atividades recreativas propostas no leito.
Entretanto, para formular um plano de
cuidados de enfermagem era preciso
compreender melhor a patologia e as
limitações impostas pela mesma, como a
fadiga e o risco para hemorragias.
Considerando, que o cuidado era ao binômio
foi
preciso
direcionar
o
olhar
a
acompanhante, pois, todo o processo
vivenciado pela criança tornou-se desgastante
para ela. Com a inserção da família no
hospital, o objeto de cuidado da enfermagem
é ampliado para o binômio criança-família,
desencadeando a necessidade de novos
instrumentos de trabalho para dar conta
dessas novas características da prática
assistencial.11
O momento de aproximação com a mãe foi
importante para compreender a situação
social, econômica e espiritual vivenciada pelo
binômio
(criança/mãe).
Isso
permitiu
direcionar o olhar as necessidades da família e
criar um vínculo de confiança pautado na
empatia com o objetivo de permear as
relações interpessoais necessárias ao cuidado.
Neste contexto, os sentimentos, valores e
experiências compartilhadas facilitaram o
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processo de ensino-aprendizagem e de
adaptação referente ao cuidado à criança em
situação de hospitalização. A compreensão do
contexto sociocultural onde o binômio esta
inserido gerou o desejo de ajudar e
impulsionou a procura e aprofundamento do
conhecimento a cerca da doença crônica, do
tratamento, da qualidade da assistência e do
apoio espiritual a criança e a família. Diante
disso, o processo de ensino-aprendizagem
englobou o aprimoramento das habilidades
técnicas e teóricas, mas também, a
habilidades interpessoais com o paciente e sua
família, e a equipe de saúde.
Esse foi um momento singular no qual foi
possível visualizar que para promover ações
de cuidado efetivas é preciso compreender o
universo em que a família esta inserida e os
atores envolvidos no mesmo. Permitindo
entender, que o processo de ensinoaprendizagem se constrói a todo o momento,
e amplia-se a partir da conscientização do
discente de que ele é parte desse processo e
expande-se com a avaliação das suas ações
assistenciais.
2º Momento: O foco do cuidado de
enfermagem ao binômio
Durante o período de assistência o quadro
clínico da criança se agravou e as alterações
hematológicas se intensificaram devido à
plaquetopenia
acentuada.
A
mesma
apresentou gengivorragia, melena, petéquias
e equimoses difusas pelo corpo, além de
fadiga e febre. Neste momento foi preciso
compreender que as necessidades fisiológicas
suplantavam as demais, pois a vida da criança
encontrava-se em situação de risco.
Neste momento a sensação de perda
iminente surgiu nos discentes e o medo da
finitude do ser humano e a angustia de não
saber como lidar com essa situação foram os
sentimentos predominantes. Essa foi à
primeira vez, no decorrer da formação
acadêmica, que esses sentimentos foram
vivenciados. Um estudo12 indica que a
intensidade desses sentimentos varia de
acordo com a maturidade psicológica do
indivíduo, justificando, portanto, a sensação
de insegurança, impotência e culpa vivenciada
pelas discentes.
O cuidado de enfermagem, neste momento
direcionou-se principalmente a terapêutica
com hemoderivados. A monitorização da
infusão desses componentes permite a
identificação precoce de reações adversas,
principalmente nos primeiros 15 minutos, pois
é quando ocorrerem à maioria das reações.13
Assim, se fez indispensável a verificação dos
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sinais
vitais
procedimento.
antes
e
durante
esse
Em decorrência da fragilidade dos vasos,
ocorreram obstruções intermitentes durante a
infusão do mesmo, provocando na criança o
sentimento de medo e ansiedade, deixando-a
assustada e chorosa, mas, no entanto,
cooperativa por compreender a necessidade
do procedimento.
O cuidado com o acesso venoso também
mostrou-se um estressor para a criança,
principalmente em decorrência das obstruções
durante a infusão do hemoderivado, o que
causava desconforto e dor na criança e
angustia na mãe. Neste sentido, a inserção de
cateteres
venosos
periféricos
é
um
procedimento invasivo que compete à
enfermagem, e como tal é passível de
complicações. Assim, a monitorização se torna
um importante cuidado de enfermagem.
Estudos14-15 demonstram que a obstrução do
vaso, infiltração, sinais flogísticos e flebites
são as complicações mais frequentes na
terapia endovenosa, resultando na remoção
do cateter e em uma nova punção e causando
desconforto no paciente.
Durante a prestação do cuidado, a
obstrução foi à complicação mais frequente,
sendo realizado, para tanto, diversas lavagem
do cateter com solução salina com o objetivo
de deixá-lo permeável. A lavagem dos
cateteres é indispensável para evitar a
formação de coágulos, evitar o contato entre
drogas incompatíveis e ainda garantir a
infusão completa de toda a medicação
administrada.14
Um estudo15 evidenciou que a incidência de
infecções locais ou sistêmicas associadas ao
acesso venoso periférico é baixa em qualquer
paciente, no entanto, a presença de infecções
decorrente do acesso venoso em uma criança
imunodeprimida poderia agravar o seu estado
geral. É importante ressaltar que em
pacientes neutropenicos a resposta imune
encontra-se diminuída e, portanto pode não
se mostrar de maneira convencional, exigindo
mais atenção do enfermeiro a outros sinais e
sintomas.13 Assim, a monitorização desse
acesso no tocante à presença de sinais
flogísticos se fez um cuidado de enfermagem
indispensável nesse paciente para prevenir
possíveis
infecções.
Nesse
contexto,
atentamos para o cuidado com o acesso
venoso buscando prevenir complicações que
aumentassem a morbidade e o tempo de
permanência da criança no hospital.
Nesta ocasião foi possível compreender que
apesar de didaticamente aprendermos sobre
os níveis da teoria de Horta de modo separado
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e do foco do cuidado se pautar nas
necessidades psicobiológicas, durante as ações
de cuidados estes se dão de forma
entrelaçada, uma vez que nesse instante de
cuidado também foi necessário direcionar o
olhar para as necessidades psicossociais de
maneira a aliviar o sofrimento da criança. Em
decorrência de a assistência ser prestada ao
binômio foi preciso buscar apoio na fé da
genitora para compreender aquele momento e
com isso focar também o cuidado na
necessidade psicoespiritual.
O cuidado direcionado ao conforto
emocional e espiritual faz-se sempre
necessário, uma vez que o enfermeiro deve
focar além do corpo biológico adoecido. A
espiritualidade emerge neste sentido, como
sendo um importante mecanismo de
enfrentamento, um refúgio capaz de
promover consolo à família e à criança
durante a hospitalização.17
É visível, neste contexto, a complexidade
do cuidar, no qual o conhecimento técnico é
importante, mas, não é soberano. Logo, é
preciso compartilhar, apoiar e respeitar as
necessidades
emocionais
e
espirituais.
Contudo, essa é uma ação que demanda o
envolvimento humano entre paciente e
profissional (acadêmico) e consequentemente
a necessidade de um olhar diferenciado para o
processo saúde-doença.
3º Momento: Avaliação da assistência
A avaliação da assistência é uma ação de
cuidado diferenciada, pois deve proporcionar
a melhora do quadro de saúde da criança, mas
também, um retorno ao processo de
aprendizagem.
É
preciso
que
seja
compartilhado, a fim de visualizar as
potencialidades para o aprendizado em
serviço
que
se
mostram
além
das
possibilidades do cuidado ao binômio.
Em decorrência, esse momento foi
vivenciado em roda de conversa, na qual era
discutido de modo crítico-reflexivo o quadro
clínico da criança, as ações de cuidado
realizadas, bem como aquelas que poderiam
subsidiar
a
assistência,
a
fim
de
complementar o cuidado e proporcionar mais
conforto ao binômio. Esta forma de
aprendizado
propicia
a
troca
de
conhecimentos, na qual a relação docente e
discente é envolvida por ensinamentos
mútuos, em que ambos aprendem e
ensinam.18
Diante da reflexão- discussão do cuidado,
avaliamos a assistência prestada de forma
positiva, onde os cuidados paliativos
centrados no biológico caminharam junto com
o conforto emocional e espiritual prestado ao
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binômio criança-família. Nessa perspectiva, o
cuidado ao binômio torna-se peculiar e
intenso, o que exige muito da enfermeira no
âmbito assistencial e emocional.19 E mesmo
que durante esse processo tenha surgido em
nós à insegurança e o medo, conseguimos
durante a assistência compreender o paciente
em toda sua singularidade.
4º Momento: A sensação de missão
cumprida
A vivência do processo de ensino
aprendizagem por meio do cuidado em serviço
possibilitou o conhecimento/acompanhamento
do cotidiano da assistência ao binômio
(família-criança hospitalizada), onde foi sendo
possível perceber o contexto em que o mesmo
estava inserido. Deste modo, é possível
implementar uma assistência de forma
sistemática estabelecendo um planejamento
adequado e viável, e implementando ações de
cuidado de forma holística e humanizada
capazes de suprir as necessidades da família.20
Foi possível descrever a sensação de missão
cumprida, uma vez que, o processo de
aprendizado foi capaz de despertar no aluno a
percepção do ser enfermeiro, antes de iniciar
a trajetória profissional. A prática diária fez
perceber que as dimensões afetivas, sociais e
culturais do cuidado são tão significativas
quanto os aspectos técnico-científicos.
CONCLUSÃO
Ao proporcionar ao aluno exercitar a
ação/reflexão/ação o professor proporciona
ao mesmo vivenciar o mundo do trabalho e
dar a oportunidade de vincular teoria à
prática facilitando assim o processo de ensinoaprendizagem, levando-o a converter os
conceitos abstratos da assistência em
vivencias concretas.
Acreditamos ser oportuno e necessário
aprofundar as reflexões acerca do processo de
aprendizagem por meio do cuidado em
serviço, pois, este proporciona compreender o
cuidar e refletir sobre as necessidades da
assistência e a singularidade de cada caso.
Além, de desenvolver no aluno a capacidade
de aprender a aprender e aperfeiçoar cada
vez a busca pelo conhecimento técnicocientífico e a compreender as mudanças
necessárias para sua inserção no mundo do
trabalho.
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Submissão: 04/11/2013
Aceito: 26/11/2013
Publicado: 01/01/2014
Correspondência
Carla Lidiane Jácome de Lima
Rua Farmacêutico Antônio Leopoldo Batista
Bairro Jardim São Paulo
CEP: 58051-110 − Joao Pessoa (PB), Brasil
Português/Inglês
Rev enferm UFPE on line., Recife, 8(2):464-70, fev., 2014
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