Revista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Craniomaxilofacial BRAZILIAN JOURNAL OF CRANIOMAXILLOFACIAL SURGERY publicação oficial da sociedade brasileira de cirurgia craniomaxilofacial ISSN 1980-1823 Editor Editor Associado Nivaldo Alonso Hospital das Clínicas Faculdade de Medicina Universidade de São Paulo Dov Goldenberg Hospital das Clínicas Faculdade de Medicina Universidade de São Paulo Conselho Editorial Nacional Antonio Richieri-Costa Marcus Vinicius Martins Collares Diógenes Laércio Rocha Maria Rita Bueno Passos Eduardo Grossmann Max Domingues Pereira Elisa Altmann Omar Gabriel Hamilton Matsushita Renato da Silva Freitas Luís Paulo Kowalski Ricardo Lopes da Cruz Luiz Ubirajara Sennes Sérgio Moreira da Costa Marcos Roberto Tavares Vera Nocchi Cardim Conselho Editorial Internacional Daniel Marchac (França) Juan Maria Chavanne (Argentina) Eric Arnaud (França) Pedro Dogliotti (Argentina) Ian Thomas Jackson (EUA) Assessoria Editorial Rosangela Monteiro Normas para publicação Revista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Craniomaxilofacial BRAZILIAN JOURNAL OF CRANIOMAXILLOFACIAL SURGERY INFORMAÇÕES AOS AUTORES A Revista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Craniomaxilofacial é o órgão oficial de divulgação da Sociedade Brasileira de Cirurgia Craniomaxilofacial (SBCC). Trata-se de publicação semestral, que vem sendo editada desde 1998. Os trabalhos enviados para publicação na Revista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Craniomaxilofacial devem versar sobre temas relacionados à cirurgia para correção de deformidades craniofaciais, tendo como objetivo registrar a produção científica na área, fomentar o estudo, aperfeiçoamento e atualização dos profissionais da especialidade. A revista publica as seguintes categorias de artigos: editorial, artigo original, artigo de revisão, relato de caso, comunicação breve, carta ao editor, artigo especial, debates, panorama internacional e imagem em Medicina. A Revista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Craniomaxilofacial adota as normas de Vancouver Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals, organizadas pelo International Committee of Medical Journal Editors, disponíveis em www.icmje.org , cuja última atualização foi realizada em fevereiro de 2006. O respeito às instruções é condição obrigatória para que o trabalho seja considerado para análise. A abreviatura de seu título é Rev. Soc. Bras. Cir. Craniomaxilofac., a qual deve ser empregada em notas de rodapé e em referências e legendas bibliográficas. CATEGORIAS DE ARTIGOS Editoriais – geralmente referem-se a artigos selecionados em cada número da Revista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Craniomaxilofacial pela sua importância para a comunidade científica. São encomendados a profissionais de reconhecida experiência nas áreas em questão. O Conselho Editorial poderá, eventualmente, considerar a publicação de editoriais submetidos espontaneamente. Artigos originais – incluem estudos controlados e randomizados, estudos observacionais, bem como pesquisa básica com animais de experimentação. Os artigos originais deverão conter, obrigatoriamente, Introdução, Método, Resultados, Discussão, Conclusões, Referências, Resumo e Summary. Seu texto deve ter entre 2000 e 3000 palavras, excluindo tabelas e referências; o número de referências não deve exceder a 30. Artigos de revisão – avaliações críticas e ordenadas da literatura em relação a um certo tema de importância clínica. Profissionais de reconhecida experiência em assuntos de interesse especial para os leitores são, em geral, convidados a escrever estas revisões. Além dos artigos encomendados, a Revista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Craniomaxilofacial também aceita revisões enviadas espontaneamente pela comunidade científica, as quais devem limitar-se a 6000 palavras, excluindo referências e tabelas. As referências deverão ser atuais e em número mínimo de 30. Relatos de casos – descrição de pacientes ou situações singulares, doenças especialmente raras ou nunca descritas, assim como formas inovadoras de diagnóstico ou tratamento. O texto é composto por uma introdução breve que situa o leitor em relação à importância do assunto e apresenta os objetivos do relato do(s) caso(s) em questão; o relato resumido do caso e os comentários no qual são abordados os aspectos relevantes, os quais são comparados com a literatura. O número de palavras deve ser inferior a 2000, excluindo referências e tabelas. O número máximo de referências é 15. Recomenda-se a inclusão de, no máximo, duas ilustrações. Comunicação breve – pequenas experiências que tenham caráter de originalidade, não ultrapassando 1500 palavras e dez referências bibliográficas. Cartas ao editor – são sempre altamente estimuladas. Em princípio, devem comentar, discutir ou criticar artigos publicados na Revista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Craniomaxilofacial, mas também podem versar sobre outros temas de interesse geral. Recomenda-se tamanho máximo 1000 palavras, incluindo referências bibliográficas, que não devem exceder a seis. Sempre que possível, uma resposta dos autores será publicada junto com a carta. Artigos especiais – são textos não classificáveis nas categorias anteriores, que o Conselho Editorial julgue de especial relevância. Sua revisão admite critérios próprios, não havendo limite de tamanho ou exigências prévias quanto ao número de referências bibliográficas. Panorama internacional – resumos de artigos recentes e de relevância prática, seguidos de comentários. Imagem em Medicina – m a t e r i a l d e i n t e r e s s e ilustrativo, como fotos, ilustrações, exames, acrescidos de até 25 linhas explicativas sobre o assunto, além do nome do autor, serviço onde foi realizado e bibliografia obrigatória. Debate – seção em que os cirurgiões experientes serão convidados pelo editor para discutirem um tema polêmico, emitindo suas opiniões em um formato padronizado, respondendo a perguntas realizadas pelo próprio editor ou por um convidado. POLÍTICA EDITORIAL Avaliação pelos pares Todos os trabalhos enviados à Revista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Craniomaxilofacial serão submetidos à avaliação dos pares (peer review) por pelo menos três revisores selecionados entre os membros do Conselho Editorial. A aceitação será feita com base na originalidade, significância e contribuição científica. Os revisores farão comentários gerais sobre o trabalho e informarão se o mesmo deve ser publicado, corrigido segundo as recomendações ou rejeitado definitivamente. De posse destes dados, o Editor tomará a decisão final. Em caso de discrepâncias entre os avaliadores, poderá ser solicitada uma nova opinião para melhor julgamento. Quando forem sugeridas modificações, as mesmas serão encaminhadas ao autor principal e, em seguida, aos revisores, para estes verificarem se as exigências foram satisfeitas. Em casos excepcionais, quando o assunto do manuscrito assim o exigir, o Editor poderá solicitar a colaboração de um profissional que não faça parte do Conselho Editorial para fazer a avaliação. A decisão sobre a aceitação do artigo para publicação ocorrerá, sempre que possível, no prazo de três meses a partir da data de seu recebimento. Pesquisa com seres humanos e animais Os autores devem, na seção Método, informar se a pesquisa foi aprovada pela Comissão de Ética em Pesquisa de sua Instituição, em consoante à Declaração de Helsinki (Disponível em: http://www.wma.net/e/policy/ b3.htm). Nos trabalhos experimentais envolvendo animais, as normas estabelecidas no “Guide for the Care and Use of Laboratory Animals” (Institute of Laboratory Animal Resources, National Academy of Sciences, Washington, D.C., 1996) e os Princípios éticos na experimentação animal do Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA) devem ser respeitados. Direitos autorais Os manuscritos deverão vir acompanhados de carta assinada por todos os autores, transferindo os direitos autorais para a Sociedade Brasileira de Cirurgia Craniomaxilofacial e declarando que revisaram e aprovaram a versão final do manuscrito que está sendo submetida. Todos os artigos publicados tornam-se propriedade permanente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Craniomaxilofacial e não podem ser publicados sem o consentimento por escrito de seu presidente. Critérios de Autoria Sugerimos que sejam adotados os critérios de autoria dos artigos segundo as recomendações do International Committee of Medical Journal Editors. Assim, apenas aquelas pessoas que contribuíram diretamente para o conteúdo intelectual do trabalho devem ser listadas como autores. Os autores devem satisfazer a todos os seguintes critérios, de forma a poderem ter responsabilidade pública pelo conteúdo do trabalho: 1. ter concebido e planejado as atividades que levaram ao trabalho ou interpretado os resultados a que ele chegou, ou ambos; 2. ter escrito o trabalho ou revisado as versões sucessivas e participado do processo de revisão; 3. ter aprovado a versão final. Exercer posição de chefia administrativa, contribuir com pacientes e coletar e agrupar dados, embora importantes para a pesquisa, não são, por si só, critérios para autoria. Outras pessoas que tenham dado contribuições substanciais e diretas para o trabalho, mas que não possam ser consideradas autores, podem, com sua permissão, ser citadas na seção Agradecimentos; se possível, suas contribuições específicas devem ser descritas. INSTRUÇÕES PARA ENVIO DE MATERIAL PARA PUBLICAÇÃO A Revista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Craniomaxilofacial dá preferência ao envio de material submetido à publicação por correio eletrônico (e-mail). Entretanto, na impossibilidade de envio pela Internet, três cópias do material, incluindo texto e ilustrações, bem como disquete e/ou CD identificado, poderão ser enviadas por correio comum. Caso sejam submetidas figuras ou fotografias cuja resolução não permita uma impressão adequada, a secretaria editorial poderá solicitar o envio dos originais ou cópias com alta qualidade de impressão. E-mail: [email protected] Endereço para envio dos artigos: Revista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Craniomaxilofacial Rua Urano, 213 CEP 01529-010 São Paulo – SP – Brasil Os arquivos devem permitir a leitura pelos programas do Microsoft Office® (Word, Excel e Access). Todos os artigos devem vir acompanhados por uma Carta de Submissão, sugerindo a Seção em que o artigo deva ser incluído, declaração do autor e dos co-autores de que todos estão de acordo com o conteúdo expresso no trabalho, explicitando presença ou não de conflito de interesse e a inexistência de problema ético relacionado. Referências As referências devem ser citadas quando de fato consultadas, em algarismos arábicos em forma de potenciação e numeradas por ordem de citação no texto. Devem ser citados todos os autores, quando até seis; acima deste número, citam-se os seis primeiros seguidos de et al. O periódico deverá ter seu nome abreviado segundo o Cummulated Index Medicus/ Medline. PREPARAÇÃO DE ORIGINAIS Primeira página - Identificação Deve conter o título do trabalho de maneira concisa e descritiva, em português e inglês, o nome completo dos autores e o nome e endereço da instituição onde o trabalho foi elaborado. A seguir, deve ser informado o nome do autor correspondente, juntamente com o endereço, telefone, fax e e-mail. Se o trabalho foi apresentado em congresso, devem ser mencionados o nome do congresso, local e data da apresentação. Segunda página – Resumo e Summary O resumo deve ser estruturado em quatro seções: Objetivo, Método, Resultados e Conclusões. A elaboração deve permitir compreensão sem acesso ao texto. Da mesma forma, deve ser preparado o Summary que represente uma versão literal do Resumo, seguindo a mesma estrutura: Purpose, Method, Results e Conclusions. Também devem ser incluídos até 3 descritores (palavras chave), assim com a respectiva tradução para os Key words (Descriptors). Esses descritores podem ser consultados nos endereços eletrônicos: http:// decs.bvs.br/, que contém termos em português, espanhol ou inglês, ou www.nlm.nih.gov/mesh, para termos somente em inglês. Corpo do Artigo Deve ser dividido em Introdução, Método, Resultados e Discussão. As Referências devem ser citadas numericamente, por ordem de aparecimento no texto, sob a forma de potenciação. Idioma Os artigos devem ser redigidos em português obedecendo à ortografia vigente, empregando linguagem fácil e precisa. Artigos em inglês e espanhol serão aceitos se os autores forem estrangeiros ou, se brasileiros, estiverem radicados no exterior. Agradecimentos Se desejados, devem ser apresentados ao final do texto, mencionando-se os nomes de participantes que contribuíram, intelectual ou tecnicamente, em alguma fase do trabalho, mas não preencheram os requisitos para autoria, bem como, às agências de fomento que subsidiaram as pesquisas que resultaram no artigo publicado. Artigo de Revista Wolff KD, Kesting M, Thurmuller P, Bockmann R, Holzle F. The anterolateral thigh as a universal donor site for soft tissue reconstruction in maxillofacial surgery. J Craniomaxillofac Surg. 2006;34(6):323-31. Instituição como Autor American Association of Oral and Maxillofacial Surgeons. Estimating future workforce and training requirements for oral and maxillofacial surgeons. Patient Service Needs Committee of the American Association of Oral and Maxillofacial Surgeons. J Oral Maxillofac Surg. 1997;55(8):906-9. Capítulo de Livro Alonso N. Trauma de face. In: Costa SS, Cruz OLM, Oliveira JAA, eds. Otorrinolaringologia: princípios de prática. 2ª ed. São Paulo:Artmed;2006. p.1094-101. Livro Ward-Booth P, Eppley B, Schmelzeisen R. Maxillofacial trauma and esthetic facial reconstruction. Londres: Churchill Livingston;2003. 750p. Melega JM. Cirurgia plástica: fundamentos e arte. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;2004. 784p. Tese Guion-Almeida ML. Hipertelorismo e defeitos de linha média facial: estudo genético-clínico de uma amostra de pacientes [Tese de doutorado]. Campinas: Universidade Estadual de Campinas;2000. 247p. Obs.: uma lista completa de exemplos de citações bibliográficas pode ser encontrada na Internet, em http:// www.icmje.org/ Tabelas e Ilustrações Devem ser numeradas por ordem de aparecimento no texto, conter um título e estar em páginas separadas, ordenadas após as Referências. As tabelas não devem conter dados redundantes já citados no texto. As ilustrações devem estar acompanhadas de suas respectivas legendas. As abreviações usadas nas ilustrações devem ser explicitadas nas legendas. sumário EDITORIAL Trabalho científico e diferentes tipos de publicação Scientific papers and different types of publication NIVALDO ALONSO ARTIGOS ORIGINAIS / ORIGINAL ARTICLES Aspectos epidemiológicos das fraturas de mandíbula Epidemiologic aspects of the jaw’s fractures ALEXANDRE SIQUEIRA FRANCO FONSECA, DOV CHARLES GOLDENBERG, ENDRIGO BASTOS, GUSTAVO FLOSI STOCCHERO, DIANA CRUZ, NIVALDO ALONSO ............................................................... 29 Fendas lábio-palatais: rotina para anestesia e analgesia pós-operatória Cleft lip and palate: routine for anesthesia and postoperative analgesia DIOGO FRANCO, ANDRÉIA FORTINI, LÚCIO AULER .............................................................................. 34 Reconstrução de orelha utilizando uma única cartilagem costal: descrição modificada da técnica Ear reconstruction using only one costal cartilage: modified description of the technique RENATO DA SILVA FREITAS, GILVANI AZOR DE OLIVEIRA CRUZ, ÁLVARO FAGOTTI FILHO, NIVALDO ALONSO ..................................................................................................................... 39 RELATO DE CASO / CASE REPORT Mandibular dislocation of the mandibular condyle into middle cranial fossa: should it be closed reduction an option of treatment? Deslocamento mandibular do côndilo mandibular para a fossa cranial medial: redução fechada deveria ser uma opção de tratamento? EMMANUELA NADAL, PEDRO L. DOGLIOTTI, MARIANA SABAS .................................................................. 48 EDITORIAL Trabalho científico e diferentes tipos de publicação Scientific papers and different types of publication A publicação de artigos em revistas especializadas constitui a forma mais importante de comunicação entre os membros da comunidade científica. O principal benefício obtido com a publicação dos resultados de uma pesquisa – e, sem dúvida, mais honroso e louvável – é o progresso da ciência. Ela é construída passo-a-passo, sendo cada passo alicerçado e impulsionado pelas pesquisas de outros. Além disso, por meio da publicação é que as idéias e experiências são difundidas, levando ao crescimento e ao amadurecimento científico e tecnológico das sociedades médicas. A publicação de um artigo é a finalização de várias etapas da pesquisa científica, que devem ser seguidas de forma seqüencial. Pode-se dividir esta série de atividades em: identificação de um tema; revisão bibliográfica; definição de uma abordagem de estudo; planejamento e execução dos experimentos; coleta, análise e interpretação dos dados obtidos; divulgação dos resultados. Os resultados de uma pesquisa podem ser apresentados sob várias formas, determinadas pela natureza da mensagem que se pretende veicular, bem como pela estrutura geral do trabalho realizado, como desenho do estudo, população, técnicas, métodos, entre outros. Com pequenas exceções, praticamente todas as revistas adotam um padrão semelhante de formato de artigo científico, explicitado nas suas normas para publicação. A maior parte das investigações nas ciências biológicas, em especial na área médica, corresponde a artigos originais, desenvolvidos e estruturados nos seguintes itens: Introdução, Método, Resultados, Discussão, Conclusão e Referências. Relatos de casos interessantes, raros, com apresentação clínica não usual, com particularidades no diagnóstico, bem como inovações técnicas para o tratamento, também representam um tipo de artigo aceito na maior parte das revistas científicas. Outra categoria de artigo bastante comum é representada pelas revisões, que têm por finalidade responder a perguntas importantes, concernentes a temas específicos, com base na avaliação crítica da literatura, estabelecendose o estado da arte naquela área de conhecimento. Se a revisão da literatura for realizada de acordo com metodologia padronizada e reprodutível, ela é denominada de revisão sistemática. Dados quantitativos de diferentes estudos que constituem uma revisão sistemática podem ser integrados, visando conclusões generalizáveis, correspondendo à metanálise. Todas as formas de publicação aqui mencionadas (e outras listadas nas Normas para Publicação) são aceitas em nossa Revista, que representa o principal veículo para discussão de idéias e divulgação de experiência pelos colegas que atuam na Cirurgia Craniomaxilofacial. Esperamos a sua contribuição! Nivaldo Alonso Editor ARTIGO ORIGINAL Aspectos epidemiológicos das fraturas de mandíbula Epidemiologic aspects of the jaw’s fractures ALEXANDRE SIQUEIRA FRANCO FONSECA1, DOV CHARLES GOLDENBERG2, ENDRIGO BASTOS3, GUSTAVO FLOSI STOCCHERO4, DIANA CRUZ1, NIVALDO ALONSO5 RESUMO SUMMARY Foi realizado estudo epidemiológico prospectivo, entre fevereiro de 2001 e novembro de 2004, com pacientes atendidos no pronto-socorro do HC-FMUSP, vítimas de fratura de face. Neste período, foram atendidos 170 pacientes, que tiveram seus dados tabulados e analisados. Selecionamos o grupo de pacientes que apresentavam fratura de mandíbula, puras ou associadas a outras fraturas de face. Foram obtidos dados referentes ao mecanismo de trauma, número e localização dos traços de fratura, nos diferentes grupos, sendo calculado um índice fratura/paciente. A análise dos dados obtidos revela números interessantes, principalmente no que se refere à relação das fraturas de mandíbula com o uso de capacete em motos e bicicletas, o uso ou não do cinto de segurança em automóveis e a diferença de energia de impacto entre as fraturas de face com e sem fraturas de mandíbula. A prospective epidemiologic study was performed, from February 2001 through November 2004, with patients that arrived at the emergency room of HCFMUSP, victims of facial fracture. During this time, 170 patients were attended, and their data was standardized and analyzed. We selected a group of patients that had jaw fracture, isolated or associated with others facial fractures. Data were collected about mechanism of trauma, the number and localization of fracture lines in the different groups, and a fracture/patient index was calculated. The data analysis shows interesting numbers, mostly about the relation between the jaw´s fracture with helmets and seat belts, and the impact power difference between the facial fractures with and without jaw’s fractures. Descritores: Fraturas mandibulares, epidemiologia. Ossos faciais, lesões. Fraturas ósseas, epidemiologia. Descriptors: Mandibular fractures, epidemiology. Facial bones, injuries. Fractures, bone, epidemiology. 1.Médico-Residente da Divisão de Cirurgia Plástica e Queimaduras do HC-FMUSP. 2.Médico-Assistente, responsável pelo Setor de Cirurgia de Emergências da Divisão Cirurgia Plástica e Queimaduras do HC-FMUSP. 3.Médico-Preceptor da Divisão de Cirurgia Plástica e Queimaduras do HC-FMUSP. 4.Médico-Residente da Disciplina de Cirurgia Geral do HC-FMUSP. 5.Professor Livre-Docente responsável pelo Setor de Cirurgia Craniomaxilofacial da Divisão de Cirurgia Plástica e Queimaduras do HC-FMUSP. Correspondência: Alexandre Siqueira Franco Fonseca Alameda Lorena, 532, ap.81 – Jardim Paulista –São Paulo – SP CEP 01424-000 E-mail: [email protected] Rev Soc Bras Cir Craniomaxilofac 2005; 8(2): 29-33 29 Fonseca ASF et al. INTRODUÇÃO • Moto/Bicicleta 1. com capacete 2. sem capacete • Atropelamento 2. Ferimento por arma de fogo 3. Agressão 4. Queda 5. Outros Os estudos epidemiológicos publicados mostram uma correlação do mecanismo de trauma com o padrão e a freqüência das fraturas de face. Isso é comprovado por distintas estatísticas encontradas em trabalhos de diferentes locais no mundo1-3. Buscando conhecer o padrão das fraturas de face em nosso meio, foi aplicado um protocolo prospectivo com coleta de dados e análise de todas as fraturas de face atendidas pelo nosso serviço, entre fevereiro de 2001 e novembro de 2004. Foram estudados os casos com fraturas de mandíbula e suas relações com os mecanismos de trauma. RESULTADOS As 170 fraturas de face, de acordo com os mecanismos de trauma, apresentaram a seguinte distribuição: A. Acidente automóvel – 38; B. Acidente moto/bicicleta – 34; C. Ferimentos por arma de fogo – 21; D. Agressão – 29; E. Atropelamento – 18; F. Queda – 19; G. Outros – 11. Dentre os 170 pacientes com fratura de face, foram selecionados 68 com fratura de mandíbula, sendo 61 do sexo masculino e 7 do feminino. Destes 68 pacientes, 32 apresentaram, exclusivamente, fratura de mandíbula, e outros 36 possuíam outras fraturas associadas. Dividindo os pacientes em grupos, segundo os mecanismos de trauma, tivemos: A. Acidente automóvel – 16; B. Acidente moto/bicicleta – 16; C. Ferimentos por arma de fogo – 12; D. Agressão – 8; E. Atropelamento – 7; F. Queda – 5; G. Outros – 4. Dividimos, então, cada grupo acima (exceto o grupo “outros”, justamente por não apresentar mecanismo de trauma comum), conforme o tipo de fratura: de mandíbula isolada ou associada a outras fraturas de face. Os resultados são apresentados na Tabela 1. Para os grupos acidente automóvel e acidente moto/ bicicleta foi adicionada outra variável: o uso ou não de dispositivos de segurança: cinto de segurança e capacete, respectivamente (Tabela 2). Foi aplicado o índice fratura/paciente para cada grupo e subgrupo, como medida indireta da energia de impacto. O índice é calculado dividindo-se o número obtido pela soma de traços de fratura de determinado grupo pelo número de pacientes deste mesmo grupo. Os resultados são apresentados na Tabela 3. MÉTODO Durante o período de fevereiro de 2001 a novembro de 2004, 170 pacientes com fratura de face, comprovada radiologicamente por meio de tomografia computadorizada, foram avaliados e seus dados foram coletados para preenchimento de um protocolo, com dados pessoais, história clínica, exame físico e diagnóstico detalhado das fraturas de face. Foram selecionados apenas os casos que apresentavam fraturas de mandíbula, isoladas ou associadas a outras fraturas de face, totalizando 68 casos. Estes foram então divididos inicialmente em cinco grupos, conforme o mecanismo de trauma: acidentes de trânsito, ferimento por arma de fogo, agressão, queda e outros. Os pacientes vítimas de acidentes de trânsito foram subdivididos em três subgrupos: ocupantes de automóveis, ocupantes de moto/bicicleta e vítimas de atropelamento, pois em cada um destes subgrupos os mecanismos de trauma são diferentes. No caso dos ocupantes de automóvel e de moto/ bicicleta, foi ainda analisado o uso ou não do cinto de segurança e do capacete, respectivamente. Cada grupo/subgrupo foi analisado quanto ao número de fraturas, o número de fraturas de mandíbula isolada versus fratura de mandíbula associada a outras fraturas de face, calculado o índice fratura/paciente, que é uma medida indireta da energia de trauma. Por último, foi realizada uma análise epidemiológica, interpretando os dados obtidos. 1. Acidentes de trânsito • Automóvel 1. com cinto 2. sem cinto Rev Soc Bras Cir Craniomaxilofac 2005; 8(2): 29-33 30 Aspectos epidemiológicos das fraturas de mandíbula Tabela 1 – Fraturas da mandíbula de acordo com o mecanismo de trauma comum Isoladas Associadas Total Acidente automóvel 4 12 16 Acidente moto/bicicleta 5 11 16 Ferimento por arma de fogo 10 2 12 Agressão 6 2 8 Atropelamento 1 6 7 Queda 4 1 5 Total 26 38 64 Tabela 2 – Fraturas da mandíbula causadas por acidente automóvel e moto/bicicleta e sua relação com o uso ou não dos respectivos dispositivos de segurança Isoladas Associadas Total Acidente automóvel com cinto 1 2 3 Acidente automóvel sem cinto 3 10 13 Acidente moto/bicicleta com capacete 3 4 7 Acidente moto/bicicleta sem capacete 2 7 9 DISCUSSÃO Tabela 3 – Índice fratura/paciente O primeiro dado que este trabalho apresenta é a relevância do tema abordado, uma vez que dos 170 pacientes estudados com fraturas de face, 68 apresentavam fratura de mandíbula, o que representa 40% dos pacientes. Quando dividimos os pacientes por mecanismo de trauma, observa-se que os acidentes de trânsito, ou seja, a soma dos casos de acidentes envolvendo automóvel, moto, bicicleta e atropelamentos, representa 57,35% do total, ferimentos por arma de fogo, 17,64%, agressão, 11,76% e queda, 7,35%. Tal distribuição dos pacientes confirma um padrão cosmopolita, onde as pessoas estão mais expostas ao trânsito e à violência urbana, sendo a população masculina a mais afetada, com 89,7%. Separando as fraturas em isoladas e associadas a outras fraturas, temos 47,05% de fraturas de mandíbula isoladas e 52,95% associadas a outras fraturas de face, mostrando um equilíbrio na distribuição. Como em cada mecanismo de trauma os fatores envolvidos são diferentes, como intensidade e direção do impacto, presença ou não de dispositivos de segurança, extensão da área afetada e natureza do trauma, é importante que se faça uma análise de cada grupo4,5. Em acidentes com automóveis, as fraturas de mandí- Índice fratura/ paciente Acidente automóvel com cinto 3,34 Acidente automóvel sem cinto 5,07 Acidente moto/bicicleta com capacete 4,42 Acidente moto/bicicleta sem capacete 5,00 Ferimento por arma de fogo 1,67 Agressão 1,63 Atropelamento 3,42 Queda 3,80 Total 3,59 bula estão presentes em 41,02% do total. Além disso, a intensidade de energia (medida pelo índice fratura/ paciente) nos acidentes em que o paciente fratura a mandíbula é 21,18% maior do que em acidentes com automóveis em que não há fratura de mandíbula (índice fratura/ paciente é de 4,75 fraturas por paciente e 3,92 fraturas por paciente, respectivamente), ou seja, as fraturas de mandíbula em ocupantes de automóveis estão relacionadas a Rev Soc Bras Cir Craniomaxilofac 2005; 8(2): 29-33 31 Fonseca ASF et al. acidentes com maior quantidade de energia. Quando analisada a influência do uso do cinto de segurança, verifica-se que ocorre uma redução brusca de 13 para 3 casos, do grupo sem cinto para o grupo com cinto, ou 76,92%, confirmando o uso do cinto de segurança como um fator de proteção para a mandíbula. As fraturas de mandíbula associadas às outras fraturas de face predominam nos dois grupos, mostrando que, para passageiros de automóveis, a fratura de mandíbula isoladamente não parece ser um evento freqüentemente relacionado. De um total de 35 pacientes vítimas de acidente com moto/bicicleta com fraturas de face, 16 (45,71%) deles têm fratura de mandíbula. O índice fratura/paciente para pacientes em moto/bicicleta com fratura de face é 3,45, enquanto para aqueles em moto/bicicleta com fratura de mandíbula é 4,75, o que mostra ser necessário um acidente com moto/bicicleta de maior energia de impacto para provocar uma fratura de mandíbula, assim como em acidentes de automóvel. Ao incluir na análise a influência do uso de capacete, percebemos que, ao contrário do que se imagina, o uso não demonstra ser tão eficaz na proteção da mandíbula. Foram nove aqueles sem capacete e com fratura de mandíbula, com índice fratura/paciente de 5,00, enquanto foram sete os com capacete e fratura de mandíbula, com índice fratura/paciente de 4,42. Nos pacientes que não usavam capacete, ocorreu proporcionalmente um maior número de fraturas de mandíbula associadas a outras fraturas de face, confirmando que, nestas condições, todo o segmento cefálico está vulnerável. Em contrapartida, no grupo de pacientes que usavam capacete, ocorreu uma redução apenas no número de pacientes com fraturas associadas, fato que sugere que o capacete não protege a mandíbula. Os pacientes com fratura de face por atropelamento somam 18 pacientes. Destes, 38,89% têm fratura de mandíbula. Comparando os índices fratura/paciente, não se notam grandes diferenças, com 3,42 fraturas por paciente, no grupo de fratura de face e 3,33 fraturas por paciente, no grupo de fratura de mandíbula. O número de fraturas associadas neste grupo é muito maior (seis) do que o número de fraturas isoladas (uma), mostrando que no atropelamento todo o segmento cefálico é atingido. Os ferimentos por arma de fogo que resultaram em fraturas de face somam 21 casos, sendo que 12 destes, ou 57%, cursaram com fratura de mandíbula. Considerando que ferimentos que atinjam o terço médio ou superior têm maior chance de culminar em óbito e não dar entrada no hospital, isso provavelmente aumente a porcentagem de ferimentos por arma de fogo em mandíbula presente em nossa estatística. O índice fratura/paciente é baixo (1,67 fraturas por paciente), pois é um impacto localizado. Por isso mesmo, o número de fraturas de mandíbula isoladas é cinco vezes maior do que o de fraturas associadas. Agressão é considerado um mecanismo clássico para fratura de mandíbula. Apesar disso, representa apenas o 4° mecanismo de trauma em freqüência para fratura de mandíbula. O índice fratura/paciente é de 1,625 fraturas por paciente, mostrando ser um trauma de baixa energia de impacto. O trauma por agressão provoca um número maior de fraturas de mandíbula isoladas, cerca de três vezes maior que o de fraturas associadas (6 contra 2). Das seis fraturas isoladas, quatro tiveram apenas um traço de fratura, e as outras duas ocorreram com um traço de fratura na parassínfise direita, associada a outro traço no ramo esquerdo, assim como o clássico mecanismo de fratura em dois pontos da mandíbula por impacto lateral. Quedas foram responsáveis por cinco casos de fratura de mandíbula, sendo quatro quedas da própria altura e uma de grande altura (maior que 2 metros). As quedas da própria altura seguiram um padrão, sendo todas fraturas isoladas, e três dos quatro pacientes tiveram fraturas do côndilo associada à fratura de outro segmento da mandíbula, outro mecanismo clássico de fratura do arco da mandíbula próximo ao local de impacto (geralmente frontal) e fratura ou impactação dos côndilos à distância. CONCLUSÃO • • • • • • • Fraturas de mandíbula são freqüentes. Os acidentes de trânsito são responsáveis por 57,35% das fraturas de mandíbula. O uso do cinto de segurança é um fator de proteção para a mandíbula. Nos acidentes com automóvel ou moto/bicicleta, onde ocorre fratura de mandíbula, a energia de impacto é maior. O capacete é fator de proteção contra fraturas de face, mas não contra fraturas de mandíbula. Ferimentos por arma de fogo estão freqüentemente relacionados à fratura de mandíbula isoladamente. Os mecanismos já conhecidos de impacto frontal e lateral se firmaram nos casos de fratura de mandíbula por queda e agressão, respectivamente. Rev Soc Bras Cir Craniomaxilofac 2005; 8(2): 29-33 32 Aspectos epidemiológicos das fraturas de mandíbula fractures and related injuries: a ten-year retrospective analysis. J Craniomaxillofac Trauma. 1998;4(2):44-8. 4. Murphy RX Jr, Birmingham KL, Okunski WJ, Wasser T. The influence of airbag and restraining devices on the patterns of facial trauma in motor vehicle collisions. Plast Reconstr Surg. 2000;105(2):516-20. 5 . Simoni P, Ostendorf R, Cox AJ 3rd. Effect of air bags and restraining devices on the pattern of facial fractures in motor vehicle crashes. Arch Facial Plast Surg. 2003;5(1):113-5. REFERÊNCIAS 1. Almeida OM, Alonso N, Fogaca WC, Rocha DL, Ferreira MC. Facial fractures: analysis of 130 cases. Rev Hosp Clin Fac Med São Paulo. 1995; 50 (Suppl):10-2. 2. Brookes C, Wang S, McWilliams J. Maxillofacial injuries in North American vehicle crashes. Eur J Emerg Med. 2003;10(1):30-4. 3 . Carlin CB, Ruff G, Mansfeld CP, Clinton MS. Facial Trabalho realizado na Divisão de Cirurgia Plástica e Queimaduras do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP. Rev Soc Bras Cir Craniomaxilofac 2005; 8(2): 29-33 33 Franco D et al. ARTIGO ORIGINAL Fendas lábio-palatais: rotina para anestesia e analgesia pós-operatória Cleft lip and palate: routine for anesthesia and postoperative analgesia DIOGO FRANCO 1, ANDRÉIA FORTINI 2, LÚCIO AULER, TSA 3 RESUMO SUMMARY Objetivos: Descrever a rotina para anestesia e analgesia pós-operatória em pacientes fissurados. Método: Cinqüenta pacientes foram submetidos à cirurgia reparadora de lábio leporino e/ou fenda palatal sob anestesia geral inalatória combinada ao bloqueio dos nervos infra-orbitário (lábio) e/ou bloqueio dos nervos palatinos maiores (palato) ambos com 0,5 a 1 ml de bupivacaína a 0,5% com adrenalina 1:200.000. Foram avaliados os tempos cirúrgicos e anestésicos, assim como a evolução no pós-operatório e a incidência de complicações. Resultados: Dos 50 pacientes, um apresentou broncoespasmo leve e outro sofreu extubação acidental, sendo ambas prontamente resolvidas, sem maiores conseqüências. O tempo total da anestesia variou de 43 a 270 minutos, e o tempo total cirúrgico ficou entre 20 e 150 minutos.A analgesia foi considerada satisfatória pelo despertar e pós-operatório tranqüilo na enfermaria. Conclusões: O adequado manuseio anestésico e analgesia pós-operatória se traduzem em segurança e conforto aos pacientes e médicos, além de menor risco de intercorrências. Objectives: To describe the routine for anesthesia and postoperative analgesia in cleft lip and palate patients. Method: Fifty patients had been submitted to cleft lip or cleft palate repair under combined general anesthesia and infraorbital or palatal nerves block with 0.5 to 1 ml of 0.5% bupivacaine with 1:200.000 epinephrine. The surgical and anesthesia times had been evaluated, as well as the evolution in postoperative and the incidence of complications. Results: Of the 50 patients, one presented broncoespasm and another one suffered accidental extubation, being both readily detected, with no consequences. The total time of anesthesia varied from 43 to 270 minutes, and the surgical total time was between 20 and 150 minutes. The analgesia was considered satisfactory by the calm postoperative period and no necessity of painkiller medication. Conclusion: Correct anesthesia and postoperative analgesia mean security and comfort to the patients and doctors, with low complications rate. Descritores: Fissura palatina,cirurgia. Fenda labial, cirurgia. Analgesia. Anestesia. Descriptors: Cleft palate, surgery. Cleft lip, surgery. Analgesia. Anesthesia. 1.Professor Adjunto do Serviço de Cirurgia Plástica do HUCFF– UFRJ; Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica; Doutor em Cirurgia Plástica pela UFRJ. 2. Anestesiologista do Serviço de Anestesiologia do HUCFF – UFRJ. 3.Anestesiologista do Serviço de Anestesiologia do Instituto de Pediatria e Puericultura Martagão Gesteira (IPPMG) – UFRJ. Correspondência: Dr. Diogo Franco Praia de Botafogo, 528 – apto. 1304-A Rio de Janeiro – CEP 22250-040 Tel/Fax: (21) 2295-6223 E-mail:[email protected] Rev Soc Bras Cir Craniomaxilofac 2005; 8(2): 34-8 34 Fendas lábio-palatais: rotina para anestesia e analgesia pós-operatória INTRODUÇÃO Após a venóclise, realizamos a intubação orotraqueal com bloqueadores neuromusculares do tipo atracúrio, rocurônio ou succinilcolina. Na população mais jovem, por vezes, não utilizamos bloqueadores neuromusculares quando mantemos sob ventilação espontânea em sistema de ventilação de baixa resistência, como Mappleson D, Bain ou Jackson-Rees. A analgesia pós-operatória pode ser feita de formas diferentes. De rotina administramos na sala de cirurgia dipirona na dose de 30 a 50 mg/kg via intravenosa ou retal, como preemptiva, associada, ou não, a anti-inflamatório não esteróide, como acetoaminofeno 40 mg/kg via retal. Realizamos o bloqueio loco-regional das áreas manipuladas com bupivacaína 0,5 % da seguinte forma: nas fendas labiais, infiltramos 0,5 a 1 ml de solução na emergência dos nervos infra-orbitários (Figura 1) e, nas fendas palatais, infiltramos 1 ml em cada ponto de saída dos nervos palatinos maiores e 0,5 ml para o nervo nasopalatino (Figura 2). No despertar, quando necessário, utilizamos a nalbufina por via intravenosa, titulada na dose de 0,05 a 0,1 mg/kg. O tratamento das fendas lábio-palatais é multidisciplinar, composto por equipe de cirurgiões plásticos, dentistas, fonoaudiólogos e anestesistas entre outros profissionais. O número de pacientes fissurados atendidos no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), da Universidade Federal do Rio de Janeiro, tem crescido muito nos últimos anos, o que nos fez criar uma subdivisão responsável pelo tratamento de portadores de má formações congênitas, principalmente fendas lábio-palatais e microtias, chamada de Projeto Fendas. Dentro desta Unidade, organizamos a participação de todas as especialidades necessárias para o adequado acompanhamento. Notamos que, muitos dos detalhes técnicos incorporados à nossa rotina são observados pelos residentes e visitantes com interesse maior. Estes “complementos” não costumam ser descritos detalhadamente nos textos médicos publicados que, habitualmente, enfatizam somente as técnicas operatórias e anestésicas 1-3 e, muitas vezes, despertam mais dúvidas do que o procedimento em si. Para o iniciante no atendimento a fissurados, é imprescindível a capacidade de observação dos meios utilizados pelos mais experientes para que, através de um procedimento seguro, haja obtenção de um bom resultado. Figura 1 – O tubo endotraqueal deve estar centralizado (sem desvios das comissuras labiais) e as pálpebras ocluídas. A marcação em azul mostra que o bloqueio infra-orbitário é feito no ponto médio entre a comissura labial e a pupila. Anestesia e analgesia Em cirurgias de fendas lábio-palatais, utilizamos como técnica a anestesia geral inalatória, com intubação orotraqueal. É dada preferência ao tubo angulado (RAE tube) nas cirurgias de fendas labiais, o que deixa livre o acesso ao cirurgião, e facilita a fixação, sem risco de obstrução por acotovelamento. Já nas palatoplastias, optamos pelo tubo aramado devido à sua flexibilidade e à menor possibilidade de colabamento pelo abridor de boca. O tubo deve ser posicionado na linha média da boca, sem desvios da língua ou das comissuras labiais. Associadamente, o cirurgião infiltra solução de lidocaina 0,5% com adrenalina a 1/200.000, no lábio e a 1/100.000, no palato. A indução da anestesia é feita por via inalatória, nas crianças com idade inferior a dez anos, e por via venosa, nas maiores. A monitorização do paciente é feita com cardioscópio, oxímetro de pulso, capnógrafo, pressão arterial não-invasiva, temperatura corpórea e estetoscópio precordial. Na indução inalatória, utilizamos como agentes a combinação de oxigênio / óxido nitroso / sevoflurano. Rev Soc Bras Cir Craniomaxilofac 2005; 8(2): 34-8 35 Franco D et al. A escolha dos prontuários para análise foi aleatória e todos os pacientes haviam sido submetidos às rotinas e cuidados apresentados neste trabalho. Figura 2 – O bloqueio palatal principal é feito na proximidade da emergência dos feixes nervosos. O ponto de saída do feixe principal (nervo palatino maior) localiza-se na projeção do segundo molar. O tronco vásculo-nervoso e seu trajeto estão assinalados RESULTADOS Dos 50 pacientes analisados, 2 apresentaram complicações anestésicas consideráveis. Um paciente de 1 ano de idade sofreu extubação acidental, no momento de colocação do abridor de boca para palatoplastia, sendo reintubado prontamente. Outro paciente de 9 anos de idade apresentou broncoespasmo leve na indução anestésica, sendo revertido, sem comprometer o procedimento. A duração da anestesia variou de 43 a 270 minutos, com média de 128 minutos. O tempo de cirurgia oscilou entre 20 a 150 minutos, com média de 80 minutos. Apesar de prescrita, não foi necessária a administração de analgésicos no pós-operatório. Não houve complicações cirúrgicas significativas. DISCUSSÃO O tratamento multidisciplinar dos fissurados é considerado o ideal. Cada vez mais, se faz necessário o conhecimento dos conceitos e procedimentos realizados pelas diferentes especialidades que trabalhem com o intuito de melhorar as condições dos portadores de fendas labiais e/ou palatais4-8. O cirurgião plástico costuma ser visto pelos familiares e portadores de fendas como o responsável pelo tratamento em geral5. Aquele que, de fato, atua sobre a deformidade em si. De certa forma, é verdade, mas não devemos desconsiderar a participação e opinião dos outros especialistas, caindo no erro de perder a interdisciplinaridade necessária para o adequado acompanhamento. No per-operatório, devemos estar atentos aos fatos que possam interferir no bom andamento da cirurgia. A intubação deve ser sempre orotraqueal. Caso fosse feita endonasal, atrapalharia o descolamento e reposicionamento nasal realizado nas queiloplastias ou impediria a sutura mediana feita nas palatoplastias. A fixação do tubo orotraqueal deve ser feita de forma a não desviar as comissuras, o que pode interferir na marcação dos retalhos labiais. Nas palatoplastias, o tubo deve acompanhar a linha média da língua até a valécula, pois se assim não o fizer pode haver desvio da língua ao se É nossa rotina utilizar a dexametasona 0,5 mg/kg (dose máxima de 10mg) via intravenosa, como anti-emético. MÉTODO Foram avaliados os prontuários de 50 pacientes estado físico ASA I, com idade entre 4 meses e 15 anos. Todos eram portadores de fendas labiais e/ou palatais, sendo vinte e seis pacientes do sexo masculino e foram operados no período de janeiro a julho de 2003. A rotina, já descrita em parte anteriormente, consiste em indução inalatória com sevoflurano, veiculados em mistura de O2 e N 2 O a 50%, seguidos de venóclise e intubação orotraqueal, com ou sem o uso de bloqueadores neuromusculares, a critério do anestesiologista. Utilizou-se, como de rotina em nosso hospital, monitorização contínua com cardioscópio, oxímetro de pulso, capnógrafo, pressão arterial não-invasiva, temperatura corpórea e estetoscópio precordial. Foram avaliados os tempos cirúrgicos e anestésicos, assim como a evolução e analgesia no pós-operatório e a incidência de complicações. Rev Soc Bras Cir Craniomaxilofac 2005; 8(2): 34-8 36 Fendas lábio-palatais: rotina para anestesia e analgesia pós-operatória posicionar o abridor de boca e queda da mesma sobre o campo operatório. O posicionamento da borracha entre o abaixador de língua e os dentes reduz a pressão sobre a língua e evita que o tubo seja comprimido, principalmente se não estivermos utilizando tubo aramado. A posição de Rose e o tamponamento de orofaringe reduzem as possibilidades de descida de sangue e secreções pela traquéia9. O manuseio anestésico das crianças é mais susceptível a variações que o do adulto. As possibilidades de complicações são maiores e reais, o paciente é mais instável e o anestesista não tem acesso direto às vias aéreas. Tudo isso concorre para aumentar o estresse e a atenção necessária ao procedimento. Sendo assim, o respeito a essa condição faz-se vital para o entendimento da equipe e controle do paciente. A infiltração de lidocaína na queiloplastia não deve ser demasiada, caindo no risco de se deformar o lábio e finalizar o procedimento com assimetrias. A finalidade desta infiltração é de vasoconstricção e hidrodissecção dos tecidos. Há quem não infiltre nenhuma solução durante a queiloplastia e apresente resultados muito bons, evidentes já no pós-operatório imediato. Nestes casos, apesar da ausência de vasoconstrictor, não observamos aumento exagerado no sangramento. Na palatoplastia, infiltramos um volume um pouco maior de anestésico para que proporcionemos expansão dos tecidos e facilitação de aproximação destes. Preferimos infiltrar o segmento que vai ser manipulado, ao invés de infiltrar, de uma só vez, todo o palato. Desta forma, infiltramos a mucosa nasal e a descolamos; seguimos com infiltração da área de descolamento muscular e realização deste; e, por fim, infiltramos o retalho oral em toda sua extensão e o liberamos. Esta conduta permite que o anestésico seja absorvido e metabolizado, reduzindo-se os riscos de intoxicação. O bloqueio loco-regional tem aspectos interessantes. Os benefícios da associação de anestesia regional com anestesia geral são consideráveis. Esta associação pode reduzir a necessidade de anestésicos inalatórios e venosos, acelerar o retorno às condições de consciência préanestésicas e possibilitar analgesia pós-operatória efetiva 10,11. Além disso, autores referem a redução da necessidade de opiódes, da incidência de náuseas e vômitos, e do tempo de permanência na sala de recuperação anestésica 10,12,13. O procedimento é tecnicamente simples, mas não deixa de ser arriscado. O bloqueio infraorbitário pode determinar edema palpebral pela dissecção do tecido frouxo local, o que deve ser evitado com compressão, por alguns minutos, no ponto de infiltração. No bloqueio palatal, é preciso estar atento ao risco de lesão das artérias palatinas que emergem junto aos feixes nervosos. O comprometimento do pedículo vascular pode levar a isquemia e necrose dos retalhos palatais, com resultado catastrófico. Estudos realizados descrevem parâmetros anatômicos que orientam os bloqueios locoregionais 14 e referem analgesia efetiva no pós-operatório por, até, 8 horas15. Na prática, observamos facilidade na realização dos bloqueios e tranqüilidade no pós-operatório. O tamponamento palatal com hemostático absorvível (surgicel) melhorou, consideravelmente, as condições de hemostasia e higiene oral pós-operatória. O surgicel é de fácil manuseio, confere boa hemostasia, evita o odor fétido no pós-operatório e não precisa ser retirado, já que é absorvido em poucos dias. Em pacientes de maior idade, onde o sangramento palatal é mais abundante e pode se traduzir em problemas, acrescentamos o curativo compressivo no palato. Nestes casos, devemos atentar para o fato de não utilizarmos volume muito grande de gaze comprimindo o palato, pois esta pode se manter como um estímulo ao vômito. A compressão também não deve ser demasiada, para não proporcionarmos isquemia aos retalhos palatais (Figura 3). O uso de material absorvível facilitou, enormemente, os cuidados pós-operatórios. Todos que trabalham com crianças, sabem das dificuldades existentes na retirada de pontos e limpeza das feridas, principalmente de bebês. Com esses detalhes técnicos incorporados à nossa rotina, observamos maior integração entre os cirurgiões e os anestesistas, melhor controle do paciente no per-operatório e os cuidados pós-operatórios ficaram Figura 3 – Em pacientes adultos submetidos a palatoplastia, além do surgicel, utilizamos curativo compressivo, com gaze, nas primeiras 24 horas de pós-operatório Rev Soc Bras Cir Craniomaxilofac 2005; 8(2): 34-8 37 Franco D et al. [Dissertação Mestrado]. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro;2000. 6. Franco D, Gonçalves LF, Franco T. Perfil do tratamento de fissurados no Brasil. Rev Soc Bras Cir Plast. 2000;15(3):21-32. 7. Canady JW, Means ME, Wayne I, Thompson SA, Richman LC. Continuity of care: University of Iowa cleft lip/palate interdisciplinary team. Cleft Palate Craniofac J. 1997; 34(5):443-6. 8. Figueiredo JCA, Freitas AG. Fissuras labiais. In: Mélega JM, ed. Cirurgia plástica: fundamentos e arte – Cirurgia reparadora de cabeça e pescoço. Rio de Janeiro:Medsi;2002. p.89-109. 9. Garambone MA, Sardenberg KM, Ferreira EC, Kreimer G. Anestesia para operações de lábio e palato. In: Tratamento das fissuras labiopalatinas. 2a ed. Rio de Janeiro: Revinter;1996. p.53-8. 10. Markakis DA. Regional anesthesia in pediatrics. Anesthesiol Clin North America. 2000;18(2):355-81. 11. Suresh S, Wheeler M. Practical pediatric regional anesthesia. Anesthesiol Clin North America. 2002;20(1):83-113. 12. Maxwell LG, Yaster M. Perioperative management issues in pediatric patients. Anesthesiol Clin North America. 2000;18(3):601-32. 13. Suresh S, Barcelona SL, Young N, Heffner CL, Cote CJ. Postoperative pain management in children undergoing tympanomastoid surgery: is a local block better than intravenous opioid? Anesthesiology. 1999;91:A1281-93. 14. Bösenberg AT, Kimble FW. Infraorbital nerve block in neonates for cleft lip repair: anatomical study and clinical application. Br J Anesth. 1995;74(5):506-8. 15. Prabhu KP, Wig J, Grewal S. Bilateral infraorbital nerve block is superior to peri-incisional infiltration for analgesia after repair of cleft lip. Scand J Plast Reconstr Surg Hand Surg. 1999;33(1):83-7. mais simples, principalmente aos familiares. As crianças certamente agradeceriam se soubessem do que foram poupadas. Os avanços tecnológicos têm nos fornecido facilidades que antes não eram disponíveis. A qualidade dos resultados obtidos tem melhorado. Provavelmente, isto se deve, sobretudo, ao aumento no número de pacientes atendidos e profissionais ligados a esse atendimento. Mas, não podemos negar o fato de que, com material adequado, estamos capacitados a trabalhar melhor. REFERÊNCIAS 1. Bardach J, Morris HL. Multidisciplinary management of cleft lip and palate. Philadelphia: W.B. Saunders;1990. 2. Goldman LJ. Anesthetic uptake of sevoflurane and nitrous oxide during an inhaled induction in children. Anesth Analg. 2003;96(2):400-6. 3. Politis GD, Frankland MJ, James RL, ReVille JF, Rieker MP, Petree BC. Factors associated with successful tracheal intubation of children with sevoflurane and no muscle relaxant. Anesth Analg. 2002;95(3):615-20. 4. Franco T, Franco D, Cintra H. Malformações congênitas. In: Franco T, Franco D, Gonçalves LFF, eds. Princípios de cirurgia plástica. Rio de Janeiro: Atheneu;2002. p.301-54. 5. Oliveira DFV. Fendas lábio-palatais: tratamento multidisciplinar Trabalho realizado no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro (HUCFF – UFRJ). Rev Soc Bras Cir Craniomaxilofac 2005; 8(2): 34-8 38 Reconstrução de orelha utilizando uma única cartilagem costal ARTIGO ORIGINAL Reconstrução de orelha utilizando uma única cartilagem costal: descrição modificada da técnica Ear reconstruction using only one costal cartilage: modified description of the technique RENATO DA SILVA FREITAS1, GILVANI AZOR DE OLIVEIRA CRUZ1, ÁLVARO FAGOTTI FILHO1, NIVALDO ALONSO1 RESUMO SUMMARY A cartilagem costal autóloga tem sido utilizada para a reconstrução de orelha em pacientes com microtia. O uso de três cartilagens (6º, 7º e 8º arcos costais) é o tratamento clássico nas reconstruções auriculares, porém resulta em operação mais prolongada, havendo relatos de deformidades torácicas. Este estudo descreve a técnica de reconstrução de orelha, em 525 pacientes portadores de microtia, nos quais foi utilizada somente uma cartilagem costal. Os resultados estéticos foram satisfatórios e não houve seqüelas torácicas. The autogenous costal cartilage has been used to the ear reconstruction in patients with microtia. The use of three cartilages (6th, 7th and 8th) is the classical treatment in the auricular reconstructions, however, the procedure is more prolonged, with some thoracic deformities reports. This study describes the ear reconstruction technique, in 525 patient with microtia, with only one costal cartilage. The aesthetic results were satisfactory, without thoracic sequels. Descritores: Orelha externa, anormalidades. Orelha externa, cirurgia. Cartilagem, transplante. Procedimentos cirúrgicos reconstrutivos, métodos. Descriptors: Ear, external, abnormalities. Ear, external, surgery. Cartilage, transplantation. Reconstructive surgical procedures, methods. 1.Disciplina de Cirurgia Plástica e Reparadora da Universidade Federal do Paraná. Centro de Atendimento Integral ao Fissurado Lábio Palatal (CAIF). Correspondência: Renato da Silva Freitas Rua 25 de janeiro, 2460, casa 23 – Quatro Barras – PR CEP: 83420-000 E.mail: [email protected] Rev Soc Bras Cir Craniomaxilofac 2005; 8(2): 39-47 39 Freitas RS et al. INTRODUÇÃO MÉTODO As má formações da orelha externa podem ser classificadas em cinco tipos, incluindo anotia, microtia, hipoplasias de terço médio ou de terço superior e orelha em abano1. Excluindo a orelha em abano, a microtia consiste na deformidade auricular mais comum, caracterizando-se pelo subdesenvolvimento da orelha externa, com um lóbulo deformado e o restante do pavilhão quase completamente ausente, podendo estar associado à atresia de conduto auditivo externo. Diferentes métodos de reconstrução podem ser aplicados na orelha, sendo necessária, inicialmente, a confecção do arcabouço cartilaginoso, seguida da reconstrução do lóbulo e, posteriormente, do sulco retroauricular. O material mais utilizado como arcabouço de suporte é a cartilagem costal, autóloga ou homóloga, e a cartilagem conchal. Têm-se, também, relatos do uso de materiais inorgânicos, como implante de polipropileno de alta densidade e silicone. Tanzer 2 descreveu dois tempos operatórios para a reconstrução auricular, em que, no primeiro tempo, realizava a retirada de restos conchais, confecção e implante do novo arcabouço e rotação do lóbulo; e, no segundo tempo, liberava a orelha com uso de enxertia de pele retroauricular. Brent3 propôs três tempos operatórios, com retardamento da rotação do lóbulo para um tempo intermediário entre a confecção do arcabouço e a confecção do sulco retroauricular. O uso de três cartilagens costais – sexto, sétimo e oitavo arcos - tornou-se padrão na confecção do arcabouço da orelha. A sexta e a sétima cartilagens são mantidas unidas e formam a estrutura da concha, anti-hélice e a fossa triangular. A oitava cartilagem, mantida com o pericôndrio, é utilizada para a confecção da hélice. Brent3 propôs a utilização de somente uma cartilagem para a confecção do arcabouço em casos de adultos com deformidade de orelha pós-queimadura. Em nosso Serviço, uma cartilagem tem sido utilizada por um dos autores (G.A.O.C.) há quase uma década, com bons resultados. Revisamos os pacientes portadores de microssomia craniofacial atendidos no Centro de Atendimento Integral ao Fissurado Lábio Palatal e no Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, que apresentavam microtia e foram submetidos à reconstrução auricular somente com o uso da oitava cartilagem costal. É demonstrada a técnica cirúrgica modificada que tem sido utilizada na confecção do arcabouço e os resultados obtidos. Foram revisados os prontuários dos pacientes portadores de microssomia craniofacial atendidos no Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná e no Centro de Atendimento Integral ao Fissurado Lábio Palatal (CAIF), pelo autor (RSF), no período de 1996 a 2003. A reconstrução auricular foi realizada em 52 pacientes. Foram analisados os dados referentes ao tipo de deformidade, os tempos operatórios, as áreas doadoras de cartilagem e de pele, a reconstrução do conduto e as complicações. Na avaliação inicial dos casos, observou-se o tamanho do apêndice auricular para a definição quanto à rotação deste para a formação do neo-lóbulo. Nos casos em que o tamanho era suficiente, o apêndice foi rodado no primeiro tempo operatório, como preconizado por Tanzer2. Optou-se pela rotação em segundo tempo cirúrgico nos casos onde o apêndice era pequeno. Foi feito molde da orelha contralateral com o desenho sobre plástico transparente. Não houve preferência de lado para a retirada do enxerto costal. A oitava cartilagem costal foi a escolhida na maioria dos pacientes por apresentar comprimento suficiente para a reconstrução. Definiu-se que extensão da cartilagem deveria ser equivalente ao comprimento da hélice, desde o lóbulo até a raiz da mesma, medido na orelha normal contralateral. Nos casos bilaterais, optou-se pela confecção de molde de dimensões médias, compatível com a orelha de um adulto. A escultura da cartilagem foi feita sobre suporte de madeira. Foi realizada a bipartição quase completa da cartilagem (Figuras 1A, 1B e 1C), da qual a parte externa conformou a futura hélice (Figura 1D) e a extensão interna foi detalhada para a conformação da anti-hélice e das cruzes superior e inferior (Figuras 1E, 1F e 1G). As sobras da extensão interna foram ressecadas e separadas. O segmento interno da cartilagem foi novamente bipartido, no seu extremo superior, para que a fossa triangular fosse formada entre as cruzes superior e inferior (Figura 1F). A sutura das cruzes à parte externa teve a função de curvar a futura hélice, realizando-se num plano mais profundo para que a hélice tivesse maior projeção (Figura 1G). Nos últimos casos, temos optado pela superprojeção da hélice utilizando um segmento longo e fino de cartilagem costal, retirado do mesmo bloco paralelo à hélice já descrita (Figura 1H). O arcabouço modelado foi introduzido na bolsa confeccionada através da incisão anterior aos resquícios auriculares, ressecando os restos da cartilagem e colocando dreno para a aspiração a vácuo. Rev Soc Bras Cir Craniomaxilofac 2005; 8(2): 39-47 40 Reconstrução de orelha utilizando uma única cartilagem costal Figura 1 – Técnica cirúrgica. A: Oitava cartilagem costal ressecada; B: Programação da modelagem; C: Bipartição quase completa da cartilagem; D: Arqueamento da hélice; E: Ressecção do segmento interno; F: Confecção das cruzes superior e inferior; G: Posicionamento mais interno das cruzes auriculares; H: aspecto final com a reconstrução do trágus. A B C D E G Rev Soc Bras Cir Craniomaxilofac 2005; 8(2): 39-47 41 F Freitas RS et al. Nos pacientes em que se optou por três tempos cirúrgicos, a rotação do lóbulo foi realizada três meses após o primeiro tempo e, após seis meses, realizou-se a liberação da orelha com a colocação de enxerto de pele para a confecção do sulco retroauricular, com área doadora preferencialmente em couro cabeludo. Realizou-se curativo compressivo por quatro dias. engenharia tecidual, pode ser possível a pré-fabricação de um arcabouço com cartilagem autóloga, porém ainda existe a limitação de se colocar um arcabouço tridimensional em um envelope de pele bidimensional pouco expansivo. Outra limitação do arcabouço pré-fabricado é a dificuldade de se produzir diferentes tamanhos e formas para maior semelhança com a orelha contralateral. Quando esculpido diretamente da cartilagem costal, estas limitações não existem, pois o cirurgião pode moldar o tamanho e a forma para cada reconstrução. Em muitos centros, realiza-se a reconstrução auricular com o uso de três cartilagens costais, necessitando de maior tempo operatório, com maior dificuldade cirúrgica, maior risco de perfuração pleural e deformidade costal residual quando comparada à reconstrução com uma cartilagem. Ohara et al.7 observaram 50% de deformidade torácica após retirada de cartilagem costal. As deformidades foram maiores nos pacientes abaixo de 10 anos ou quando duas ou mais cartilagens foram retiradas. Poucas deformidades de tórax foram observadas quando somente uma cartilagem foi retirada. Especificamente nas reconstruções bilaterais, onde a utilização de três cartilagens para cada orelha pode trazer grave deformidade residual na área doadora, o uso de uma única cartilagem para cada lado proporcionou menor dano ao paciente. A utilização de enxertia de pele para a reconstrução do sulco retroauricular pode ser feita com áreas doadoras na região inguinal, abdominal inferior e supraclavicular. Há três anos, temos utilizado somente o couro cabeludo, pois permite suficiente tecido, com mínima seqüela da área doadora, desde que não se resseque folículos pilosos. A rotação do lóbulo no primeiro tempo ocorreu praticamente na metade dos pacientes. Acreditamos que não se deve correr o risco de exposição da cartilagem enxertada realizando-se a rotação de um lóbulo hipotrófico, que poderia não cobrir totalmente a extremidade inferior do arcabouço cartilaginoso. Talvez nenhuma área na cirurgia plástica demande mais atenção nos detalhes do que a cirurgia reconstrutiva da orelha. A experiência do cirurgião e as condições locais do paciente são de grande importância. Os resultados da reconstrução auricular, muitas vezes, são decepcionantes para o cirurgião, porém se observa que os pacientes ficam bastante satisfeitos com a neo-orelha. O uso de única cartilagem costal proporcionou resultados estéticos bastantes satisfatórios, com poucas complicações e ausência de deformidades torácicas (Figuras 2 a 5). RESULTADOS Foram tratados 105 casos de microssomia craniofacial, no período de 1996 a 2003. Revisamos estes casos com enfoque nas deformidades auriculares. Quanto ao sexo, 58% eram homens e 42% mulheres. Em 47 (44,8%) pacientes, a má formação estava presente no lado direito, em 40 (38%), no lado esquerdo e em 18 (17,2%) casos, bilateralmente. O pavilhão auricular normal foi evidenciado em 10% dos pacientes. Entre as alterações auriculares (94 pacientes), a microtia correspondeu a 81%, anotia a 12,6%, orelha constricta a 6,3%, duplicidade a 4,2%, question mark ear a 4,2% e ausência do lóbulo em 1%. O meato acústico estava ausente em 65,7% dos pacientes e atrésico em 2,8%. Foram operados 55 casos de reconstrução de orelha nos últimos sete anos, sendo 52 destes pela técnica aqui descrita. DISCUSSÃO As cartilagens costais autólogas são a primeira escolha na confecção do arcabouço, por apresentarem resultados estéticos mais favoráveis, poucas complicações e resistência ao trauma. Cartilagem homóloga sofre absorção e não é mais usada em nosso serviço para a reconstrução auricular. Os materiais aloplásticos, como o silicone e o Porex®, geralmente falham por não resistirem ao trauma e há relatos de infecções tardias 4. A confecção do arcabouço cartilaginoso por meio da escultura da cartilagem costal, além de ser procedimento relativamente demorado, exige habilidade artística do cirurgião. A idéia de arcabouço pré-fabricado foi introduzida por Peer 5 e Young 6. A cartilagem costal era cortada em pequenos pedaços, colocados em um molde fenestrado que era inserido na parede abdominal. Após alguns meses, havia tecido conectivo entre os fragmentos de cartilagens. Os resultados não foram bons devido à contração do tecido fibroso e à distorção do arcabouço. Atualmente, com modernas técnicas de Rev Soc Bras Cir Craniomaxilofac 2005; 8(2): 39-47 42 Reconstrução de orelha utilizando uma única cartilagem costal Figura 2 – Caso clínico 1. A: Pré-operatório com programação da rotação do lóbulo no primeiro tempo; B: Resultado imediato; C: 3 anos de seguimento; e D: orelha contralateral B A D C Rev Soc Bras Cir Craniomaxilofac 2005; 8(2): 39-47 43 Freitas RS et al. Figura 3 – Caso clínico 2. A: Orelha contralateral; B: Pré-operatório; C: Resultado pós-implante do arcabouço cartilaginoso; e D: Rotação do lóbulo em segundo tempo. B A D C Rev Soc Bras Cir Craniomaxilofac 2005; 8(2): 39-47 44 Reconstrução de orelha utilizando uma única cartilagem costal Figura 4 – Caso clínico 3. A: Orelha contralateral; B: Pré-operatório; C: Visão frontal no pós-operatório; e D: visão lateral. A B C D Rev Soc Bras Cir Craniomaxilofac 2005; 8(2): 39-47 45 Freitas RS et al. Figura 5 – Caso clínico 4. A: Microtia direita; B: Após reconstrução do arcabouço e rotação do lóbulo; C: Pós-operatório na visão lateral; e D: Pós-operatório na visão posterior. A B C D Rev Soc Bras Cir Craniomaxilofac 2005; 8(2): 39-47 46 Reconstrução de orelha utilizando uma única cartilagem costal 4. Brent B. Technical advances in ear reconstruction with autogenous rib cartilage grafts: personal experience with 1200 cases. Plast Reconstr Surg. 1999;104(2):319-38. 5. Peer LA. Diced cartilage grafts: new method for repair of skull defects, mastoid fistula and other deformities. Arch Otolaryngol. 1943;38:156. 6. Young F. Cast and precast cartilage grafts. Surgery. 1944;15:735. 7. Ohara K, Nakamura K, Ohta E. Chest wall deformities and thoracic scoliosis after costal cartilage graft harvesting. Plast Reconstr Surg. 1997;99(4):1030-6. REFERÊNCIAS 1. Tanzer RC. Microtia: a long-term follow-up of 44 reconstructed auricles. Plast Reconstr Surg. 1978;61(2):161-6. 2 . Ta n z e r R C . To t a l r e c o n s t r u c t i o n o f t h e a u r i c l e : t h e evolution of a plan of treatment. Plast Reconstr Surg. 1971;47(6):523-33. 3 . Brent B. Reconstruction of ear, eyebrow and sideburn in the burned patient. Plast Reconstr Surg. 1975;55(3): 312-7. Trabalho realizado na Disciplina de Cirurgia Plástica e Reparadora da Universidade Federal do Paraná. Centro de Atendimento Integral ao Fissurado Lábio Palatal (CAIF). Rev Soc Bras Cir Craniomaxilofac 2005; 8(2): 39-47 47 Nadal E et al. RELATO DE CASO Mandibular dislocation of the mandibular condyle into middle cranial fossa: should it be closed reduction an option of treatment? Deslocamento mandibular do côndilo mandibular para a fossa cranial medial: redução fechada deveria ser uma opção de tratamento? EMMANUELA NADAL1, PEDRO L. DOGLIOTTI2, MARIANA SABAS3 RESUMO SUMMARY Apresentamos o caso de uma menina de 17 anos, que sofreu um deslocamento do côndilo mandibular para a fossa cranial medial após uma queda acidental. O exame físico e a tomografia computadorizada (TC) não revelaram sintomas ou sinais neurológicos. Durante redução aberta via abordagem extra/intracraniana, percebemos a presença de lesões no lobo temporal. TC é considerada a base dos estudos de imagem para demonstrar deslocamento e hemorragia intracraniais ou dano cerebral. Entretanto, no caso relatado, somente identificamos isto durante a redução aberta por via préauricular, combinada com uma abordagem intracranial. Embora a redução fechada com manipulação manual seja considerada uma opção de tratamento por alguns autores, nós acreditamos que não é uma opção segura de tratamento, que pode ter implicações neurológicas e ameaçadoras à vida, em casos nos quais dano neurológico não é diagnosticado. We present the case of a 17 years old girl, who suffered a dislocation of the mandibular condyle into the middle cranial fossa after an accidental fall-down. Nor clinical examination neither computed tomography (CT) showed a neurological symptoms or signs. During open reduction via extra intracranial approach, we realized the presence of dural tears and temporal lobe damage. CT is considered the mainstay of imaging studies to demonstrate intracranial dislocation and to rule out signs of dural tear, intracranial haemorrhage or cerebral damage, but in the case reported we only recognized it during the open reduction via preauricular, combined with an intracranial approach. Although closed reduction with manual manipulation is considered an option of treatment by some authors, we believe that it is not a safe option of treatment that can have neurological and lifethreatening implications in case in which neurological injury is misdiagnosed. Descritores: Côndilo mandibular, lesões. Fraturas mandibulares. Osso temporal. Luxações. Descriptors: Mandibular condyle, injuries. Mandibular fractures. Temporal bone. Dislocations. 1. MD, Hospital de Pediatría SAMIC Prof. Dr. Juan P. H.Garrahan – Buenos Aires, Argentina. 2. MD, Hospital de Pediatría SAMIC Prof. Dr. Juan P. H.Garrahan – Buenos Aires, Argentina. 3. DMD, Hospital de Pediatría SAMIC Prof. Dr. Juan P. H.Garrahan – Buenos Aires, Argentina. Correspondência: Emmanuela Nadal Fray Justo Santa María de Oro 2976, 5B – 1425 Ciudad Autónoma de Buenos Aires – Argentina E-mail:[email protected] Rev Soc Bras Cir Craniomaxilofac 2005; 8(2): 48-52 48 Mandibular dislocation of the mandibular condyle into middle cranial fossa INTRODUCTION down due to loss of consciousness. Physical examination showed pain in the region of the left temporomandibular joint, limited mouth opening, maximal mouth opening was 6 mm, with marked mandibular deviation to the left side (Figure 1). There were no signs of neurological deficit. Conventional and panoramic radiographs failed to show the left condyle, but a computed tomography (CT) showed dislocation of the left condyle into de middle cranial fossa (Figure 2). A week later, we performed an open reduction procedure through left coronal and preauricular incision. After making the incision, we identified the zigomatic arch and the anatomical site of the temporomandibular site. First of all, we tried a fracture reduction by downward traction but it was difficult to manipulate the mandible and it was impossible to turn back the condyle to its original position. At that moment, we elevated the temporal muscle, we did a temporal craniotomy and elevated the temporal left lobe. The condilar head was observed into the middle cranial fossa, the roof of the glenoid fossa was fragmented, the dura mater was injured with leak of cerebrospinal fluid, and we found osseous fragments into the temporal lobe. Mandibular condylar fractures are presented as fracture of the condylar neck or dislocation of the temporomandibular joint. Fractures of the condylar process are common after trauma and account for 25-40% of all mandibular fractures1. Dislocation of the condyle has been described as the clinical condition when the condyle head is displaced out of the glenoid fossa, but still remains within the capsule of the joint. Dislocation of the mandibular condyle into de middle cranial fossa is a rare complication of facial trauma, and it can have serious neurological and life-threatening consequences1,2. The diagnosis of condylar dislocation into the middle cranial fossa is difficult, because there are usually no particular symptoms or neurological sign, and clear radiologic images. Treatment may vary from closedreduction to open-reduction. CASE REPORT We present a 17 years old girl, who suffered an injury in the region of the mandibular symphysis after a fall- Figure 1 – A: Preoperative view illustrates marked mandibular deviation to the left side. B and C: Preoperative occlusion and limited preoperative mouth opening B A C Rev Soc Bras Cir Craniomaxilofac 2005; 8(2): 48-52 49 Nadal E et al. DISCUSSION We did a minimal craniectomy at the floor of temporal fossa to reduce the condyle to its position. The neurosurgeon did the treatment of cerebral tissue damage and the dural tears. An osteocartilaginous bone graft taken from the navicular at de zone of the intermediate cuneiform joint, which had the same shape of the glenoid fossa, of the right food was used to repair the defect of the glenoid fossa. Finally, impressions were taken for a mandibular splint with left posterior wedge. The aim of the splint was to prevent the elevation of the condyle in the fossa. The patient must wear it continuously for 4 weeks to protect the osteocartilaginous bone graft used to reconstruct the roof of the glenoid fossa and the cranial contents. The postoperative course was uneventful, and the patient was discharged at third postoperative day. Six month after surgery occlusion was stable, with a minimal deviation to the affected side, and the range of mouth opening was adequate (Figure 3). Control panoramic radiography demonstrated restored temporomandibular joint position and posterior facial height, and minimal interincisal deviation. Computed tomography (CT) showed the reconstructed glenoid fossa (Figure 4). Dislocation of the mandibular condyle into the middle cranial fossa is a rare condition. Spanio et al. had made a review and they had found only 43 cases reported since 1834 1. Anatomical studies showed that the pyramidal basis of the temporal squama is the primary buttress that prevents condylar penetration into the middle cranial fossa. Although a limited portion of the roof of the glenoid fossa is formed by a thin lamina, the condylar head is bigger than this less resistant area. Furthermore, the condylar neck is thin and weak and it is the first anatomical structure to suffer the force of the impact 1. There are some factors that can predispose to such injury. Fonseca 3 showed that a small round condyle can penetrate the roof of the glenoid fossa because it has less surface area available for ligament attachment, creating a situation in which a superiorly directed force may cause the condyle to penetrate through the thinnest part of the glenoid fossa. Other factor predisposing to penetration into the middle cranial fossa includes a thin condylar neck, increased Figure 2 – A and B: Coronal and axial computed tomography illustrating fracture of the left glenoid fossa, and condylar penetration into de middle cranial fossa A Rev Soc Bras Cir Craniomaxilofac 2005; 8(2): 48-52 50 B Mandibular dislocation of the mandibular condyle into middle cranial fossa Figure 3 – A: Postoperative frontal, view six month after open reduction. B and C: Postoperative mouth opening and dental occlusion B A C Figure 4 – A and B: Control panoramic radiography demonstrated restored temporomandibular joint position and posterior facial height, and minimal interincisal deviation and coronal computed tomography illustrating glenoid fossa reconstruction A Rev Soc Bras Cir Craniomaxilofac 2005; 8(2): 48-52 51 B Nadal E et al. reduction should be considered in some patients, specially those who are diagnosed and treated early 1,5, and dural tear or neurologic injury is a rare complication, there were only four cases of dura mater lesion reported in the literature 1, we disagree with them because the patient described here had no evidence of neurologic injury, nor clinical neither radiological, but after condylar reduction to its original position, via an intracranial approach, we realized that she had a dural tear, a leak cerebrospinal fluid, and cerebral tissue damage. We agree with management principles proposed by Choung 6. These principle include anatomic restoration of the occlusion and joint mobility, reconstruction of bony and soft tissue anatomy, and adequate surgical access for possible craniotomy as well as bone graft procurement. pneumatization of the temporal bone, lack of posterior dentition and an open mouth position during impact 1,2. Although most of the symptoms and signs observed in isolate condylar fractures are similar of those observed in cases with intracranial penetration, clinical suspicion of this condition should be raised, if the patient has a history of severe trauma to the chin, limitation of jaw mobility, inability to reach stable and reproducible occlusion, deviation of the chin towards the side affected, premature occlusion of the side injured, a leak of cerebrospinal fluid or haemorrhage from the external auditory canal, and focal neurologic signs2. Diagnosis by conventional radiology of intracranial dislocation of the mandibular condyle is difficult. In 21 of the 43 cases reported from the literature by Spanio et al.1 diagnosis was not reached on first examination, and in some cases it was established only after failure of the initial treatment. Computed tomography (CT) had proven to be essential in the diagnosis of condylar dislocation into cranial fossa, and to investigate possible intracranial lesions, particularly intracranial lesion of the middle meningeal artery, because the inferior area of the temporal lobe is relatively silent clinically 1,2,4. At physical examination, our patient did not present any neurological sign, and CT scan did not show any sign of dural tear, intracranial haemorrhage or cerebral damage. A variety of surgical treatments have been considered, from close reduction with manual manipulation to open reduction via preauricular, combined with intracranial approach, when the condyle can not be reduced extracranially, there is a sign of dural tear or temporal lobe injury, or an indication of intracranial bone grafting to reconstruct the glenoid fossa 2. Although some authors considered that closed REFERENCES 1. Spanio S, Baciliero U, Fonezza U, Pinna V, Toffanin A, Padula E. Intracranial dislocation of the mandibular condyle: report of two cases and review of the literature. Br J Oral Maxillofac Surg. 2002;40(3):253-5. 2. Barron RP, Kainulainen VT, Gusenbauer AW, Hollenberg R, Sandor GK. Management of traumatic dislocation of the mandibular condyle into the middle cranial fossa. J Can Dent Assoc. 2002;68(11):676-80. 3. Fonseca GD. Experimental study on fractures of the mandibular condylar process (mandibular condylar process fractures). Int J Oral Surg. 1974;3(3):89-101. 4. van der Linden WJ. Dislocation of the mandibular condyle into the middle cranial fossa: report of a case with 5 years CT followup. Int J Oral Maxillofac Surg. 2003;32(2):215-8. 5. Melugin MB, Indresano AT, Clemens SP. Glenoid fossa fracture and condylar penetration into the middle cranial fossa: report of a case and review of the literature. J Oral Maxillofac Surg. 1997;55(11):1342-7. 6. Choung R. Management of mandibular condyle penetration into the middle cranial fossa: case report. J Oral Maxillofac Surg. 1994;52(8):880-4. Trabalho realizado no Plastic Department and Unit Burns - Hospital de Pediatría SAMIC Prof. Dr. Juan P. H.Garrahan - Buenos Aires, Argentina. Rev Soc Bras Cir Craniomaxilofac 2005; 8(2): 48-52 52