Mortalidade e morbidade por câncer de mama feminino na região Sudeste do Brasil (segundo UF’s): uma análise para 1998 e 2003* Maria Elizete Gonçalves• Alexandar de Brito Barbosa♦ Palavras-chave: mortalidade; morbidade; neoplasias; câncer de mama feminino. RESUMO Este estudo, de caráter descritivo, teve por objetivo apresentar uma visão sobre a mortalidade e a morbidade por neoplasias, especificamente, o câncer de mama feminino, na região Sudeste brasileira (segundo UF’s), nos anos de 1998 e 2003. Na atualidade, a região Sudeste é a que apresenta a maior taxa de incidência de câncer de mama feminino, no país (73.68 casos por 100.000). A análise revelou que, no período analisado, houve um crescimento substancial no número de óbitos por câncer de mama feminino em todas as UF’s estudadas, sendo que a maioria das mulheres falecidas por esta neoplasia era casada e da cor branca. Em todas as UF’s, à exceção de Minas Gerais, tem havido uma elevação nas taxas de mortalidade entre as mulheres mais idosas (80 anos e mais), nos últimos anos. Os dados apontaram, também, um aumento significativo de internações por câncer de mama entre as mulheres jovens (até 29 anos), no período. Os resultados sugerem a necessidade de uma implementação mais eficaz de políticas de saúde pública voltadas para a mulher, como a prevenção e a identificação precoce do câncer de mama; sobretudo considerando-se o aumento da mortalidade por este tipo de câncer entre a população idosa num país cujo processo de envelhecimento populacional está se aprofundando. * “Trabalho apresentado no XV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambú- MG – Brasil, de 18 a 22 de setembro de 2006” • CEDEPLAR/UFMG. ♦ Secretaria Estadual da Saúde de Minas Gerais. Mortalidade e morbidade por câncer de mama feminino na região Sudeste do Brasil (segundo UF’s): uma análise para 1998 e 2003* Maria Elizete Gonçalves• Alexandar de Brito Barbosa♦ INTRODUÇÃO No Brasil vem se configurando um padrão epidemiológico que reflete os efeitos do processo de envelhecimento populacional: tem aumentado o número de mortes relacionadas às doenças do sistema circulatório, doenças respiratórias e neoplasias. Considerando-se que o processo de envelhecimento tenderá a se aprofundar nas próximas décadas, torna-se ainda mais relevante a realização de estudos que contemplem estes grupos de causas. Neste sentido, este estudo contemplará a mortalidade e a morbidade por neoplasias na região Sudeste; de forma mais específica, o câncer de mama feminino, por ser o tipo de câncer mais predominante entre as mulheres. Segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA), em 2006 ocorrerão 472.050 novos casos de câncer no país, sendo que deste total 55,6% ocorrerão entre as mulheres. A região Sudeste concentrará cerca de 53% destes casos. Dentre estes novos casos estimados para a região, aproximadamente 23% são cânceres de mama. As estatísticas citadas expressam a importância deste estudo, que pode contribuir para melhor evidenciar a atual situação da mortalidade e morbidade por câncer de mama feminino na região Sudeste. Em 2003 esta região apresentou a maior taxa de incidência de câncer feminino, no Brasil. Trata-se de um estudo de natureza descritiva, que contempla os anos de 1998 e 2003. A fonte de dados utilizada é proveniente do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde e do Sistema de Informações Hospitalares do Sistema único de Saúde (SIHSUS). * “Trabalho apresentado no XV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambú- MG – Brasil, de 18 a 22 de setembro de 2006” • Doutoranda em Demografia pelo CEDEPLAR/UFMG. ♦ Secretaria Estadual da Saúde de Minas Gerais. 1 METODOLOGIA Fonte de dados e variáveis Para a análise da mortalidade, foram utilizados os dados do CD-ROM do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, referente aos anos de 1998 e 2003, para as UF’s da região Sudeste do Brasil. As variáveis utilizadas foram idade, sexo, estado civil, raça/cor, causa básica de morte e unidade da federação. A idade foi agrupada em intervalos de 10 em 10 anos, a partir dos 20 anos de idade. O sexo analisado foi o feminino. O estado civil abrangeu as categorias solteira, casada, viúva, separada e ignorado. A raça/cor foi categorizada em branca, parda, preta e amarela/indígena. Para a análise da morbidade, foram utilizados os dados do Sistema de Informações Hospitalares do Sistema único de Saúde (SIH-SUS), anos 1998 e 2003. Além da taxa de incidência por câncer de mama feminino, analisou-se também o número de internações hospitalares. Considerou-se óbitos por câncer de mama as declarações de óbito codificadas de acordo com a Classificação Internacional de Doenças CID-10 (10ª revisão), que abrangeu os códigos C50.0 a C50.9. 2 QUALIDADE DO REGISTRO DE ÓBITOS SEGUNDO CAUSAS DE MORTES A distribuição dos óbitos segundo as causas permite traçar o perfil epidemiológico de uma população. Assim, é necessário ter dados provenientes de estatísticas vitais. Entretanto, geralmente há problemas relacionados à qualidade, além da questão do sub-registro destes dados. Estes problemas são observados principalmente nas regiões menos desenvolvidas, sobretudo na área rural, e entre as crianças menores de 1 ano. Neste trabalho é utilizado o indicador percentual de óbitos classificados como mal definidos para avaliar a qualidade do registro de óbitos segundo as causas. Se este percentual é elevado, as demais causas de morte ficam subestimadas. Neste caso, o perfil epidemiológico traçado pode divergir do verdadeiro perfil caso não existissem problemas relacionados à codificação da causa básica de morte. Segundo CHACKIEL (1986), regiões cujo percentual de óbitos classificados como mal definidos é inferior a 10% apresentam registros adequados para fins de processamento estatístico. Na região Sudeste, o percentual de óbitos mal definidos foi de 10,44% e 9%, em 1998 e 2003, respectivamente (TAB. 3 e 4 , anexo). Ou seja, o percentual para 1998 praticamente se enquadra dentro da classificação proposta pelo autor, sendo que em 2003 o percentual está abaixo dos 10%. Como a análise será feita através da desagregação por UF’s, é apresentado o GRÁF. 1. Gráfico 1: Percentual de óbitos por causas mal definidas sobre o total de causas de morte feminina, região Sudeste (UF's), 1998 e 2003. 0,30 2 0, 2 0, 07 0, 13 12 0, 0, 11 07 0, 0, 06 0,20 15 0, 0,10 0,00 SP RJ MG 1998 ES 2003 Fonte: Ministério da Saúde. Sistema de Informações sobre Mortalidade. De acordo com a classificação proposta por CHACKIEL (1986), apenas São Paulo apresenta registros de óbitos adequados para estudo, em ambos os anos. Nos demais estados 3 observa-se uma melhoria nos registros, entre 1998 e 2003, sendo esta melhoria bem mais acentuada no Espírito Santo. A deficiência na qualidade do registro de óbitos para os estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo sugere uma cautela na análise dos resultados obtidos neste estudo. MORTALIDADE POR CÂNCER DE MAMA FEMININO, REGIÃO SUDESTE. Nas últimas décadas, no Brasil, tem havido um aumento significativo do número de óbitos relacionados às doenças do sistema circulatório, neoplasias e doenças respiratórias. Os óbitos1 por estas três causas de morte (que acometem sobretudo a população idosa) representaram, em 2003, mais da metade de todos os óbitos registrados no país (56%), como pode ser visto pela TAB. 1. Tabela 1: Proporção das principais causas de morte segundo as regiões brasileiras, 2003. Grupo de causas: CID-10 IX. Doenças do aparelho circulatório II. Neoplasias (tumores) X. Doenças do aparelho respiratório IV. Doenças endócrinas nutricionais e metabólicas I. Algumas doenças infecciosas e parasitárias XX. Causas externas de morbidade e mortalidade XI. Doenças do aparelho digestivo XVI. Algumas afec originadas no período perinatal XVIII.Sint sinais e achad anorm ex clín e laborat Outras causas Norte Nordeste Sudeste 0,22 0,25 0,33 0,11 0,11 0,16 0,09 0,08 0,12 0,06 0,07 0,07 0,06 0,05 0,04 0,06 0,04 0,05 0,03 0,03 0,04 0,07 0,04 0,02 0,23 0,28 0,09 0,07 0,05 0,07 Sul C.Oeste 0,35 0,32 0,18 0,16 0,11 0,10 0,07 0,07 0,04 0,06 0,05 0,07 0,04 0,05 0,02 0,04 0,07 0,06 0,07 0,08 Total 0,31 0,15 0,11 0,07 0,04 0,05 0,04 0,03 0,14 0,07 Fonte: Ministério da Saúde. Sistema de Informações sobre Mortalidade. Uma análise por região mostra que as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste detiveram os maiores percentuais de óbitos nos grupos das doenças do aparelho circulatório, das neoplasias e das doenças do aparelho respiratório. As regiões Norte e Nordeste apresentaram percentuais menores nestes grupos de causas, mas estes percentuais podem estar subestimados devido à alta percentagem de óbitos classificados como mal definidos (sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e de laboratório). 1 Não foi feito a correção para o sub-registro de óbitos. 4 Especificamente com relação às neoplasias, os maiores percentuais de óbitos concentraram-se, também, nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. A região Sudeste será contemplada neste estudo, por apresentar, na atualidade, a maior taxa de incidência de câncer de mama feminino do país, como será visto adiante. Entre 1998 e 2003 houve um aumento significativo no número de óbitos por câncer de mama, em todas as UF’s estudadas. Este aumento foi da ordem de 12%, 6% e 22% para São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, respectivamente. Quanto ao Espírito Santo, o número de óbitos duplicou (Quadro 1, anexo). Deve ser ressaltado que é necessário cautela na análise destes dados, considerando-se a melhoria da cobertura no período. Os gráficos seguintes apresentam o percentual de óbitos por câncer de mama feminino, 0,00 0,00 SP RJ MG 80+ SP ES RJ MG 70-79 5,00 60-69 5,00 50-59 10,00 40-49 10,00 30-39 15,00 20-29 15,00 70-79 20,00 60-69 20,00 50-59 25,00 40-49 25,00 30-39 Gráfico 3: Percentual de óbitos por câncer de mama feminino, região Sudeste, 2003 30,00 20-29 Gráfico 2: Percentual de óbitos por câncer de mama feminino, região Sudeste, 1998 30,00 80+ nas UF’s da região, nos anos de 1998 e 2003. ES Fonte: Ministério da Saúde. Sistema de Informações sobre Mortalidade. Observa-se que, em ambos os anos estudados, a estrutura das curvas é quase a mesma para as UF’s de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, sendo que o estado do Espírito Santo apresenta um comportamento bastante diferenciado. O maior percentual de óbitos concentrou-se na faixa etária de 50-59 anos para todas as UF’s, exceto para o Espírito Santo, cujo percentual mais elevado equivale à faixa etária de 40-49 anos. De uma forma geral, este Estado concentra um maior percentual de óbitos nas faixas etárias mais jovens e um menor percentual nas faixas etárias mais envelhecidas, em relação aos demais estados. Em São Paulo, houve uma redução de 5 óbitos nas faixas etárias mais jovens e um aumento nas faixas etárias mais elevadas (a partir dos 70 anos). Este aumento também foi observado em Minas Gerais. No Rio de Janeiro chama a atenção o aumento de óbitos nas faixas etárias mais jovens (de 30 a 49 anos). No Espírito Santo, ao contrário, houve uma redução de óbitos nas faixas etárias mais jovens (até 39 anos) e um aumento expressivo nas faixas etárias de 40 a 59 anos. O GRÁF. 4 mostra as taxas específicas de mortalidade por câncer de mama feminino, nas UF’s da região, no período de 1998 a 20022. São Paulo 0 a 29 30 a 39 Rio de Janeiro 40 a 49 Minas Gerais 50 a 59 60 a 69 2002 2001 2000 1999 1998 2002 2001 2000 1999 1998 2002 2001 2000 1999 1998 2002 2001 2000 1998 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 1999 Gráfico 4: Taxas específicas de mortalidade por câncer de mama feminino, Sudeste, 1998 a 2002 Espírito Santo 70 a 79 80 e mais Fonte: Ministério da Saúde. Sistema de Informações sobre Mortalidade. De acordo com o gráfico acima, entre outros aspectos, observa-se que no período analisado, as taxas de mortalidade por câncer de mama entre as mulheres com 50 anos e mais de idade são bastante superiores em São Paulo e Rio de Janeiro, em relação à Minas Gerais e Espírito Santo. Observa-se também que no Rio de Janeiro as taxas de mortalidade nas idades mais jovens (30 a 49 anos de idade) são mais altas em relação às demais UF’s. É possível notar que nos últimos anos tem havido um aumento as taxas de mortalidade entre as mulheres mais idosas (80 anos e mais de idade) em São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Nesta última UF evidencia-se, também, um crescimento gradual das taxas de mortalidade entre as mulheres de 40 a 59 anos de idade. 2 Dados não disponíveis para 2003. 6 Na seqüência, será analisado o perfil das mulheres falecidas com câncer de mama nos anos de 1998 e 2003, segundo a cor e o estado civil. Esta análise baseia-se na TAB. 2. Tabela 2: Distribuição percentual de óbitos por câncer de mama feminino, segundo a cor e o estado civil, região Sudeste, 1998 e 2003. Ano Va riá ve is /UF's Cor b ra n ca p a rd a p re ta a m a re la /in d íg e n a s e m in fo rm a çã o N Es ta do Civil s o lte ira ca s a d a viu va s e p a ra d a ig n o ra d o /s e m in fo rm N SP 1998 RJ MG 6 7 ,3 8 8 ,2 4 2 ,8 0 1 ,5 2 2 0 ,0 6 2572 6 2 ,8 0 1 8 ,0 7 1 1 ,4 5 0 ,1 5 7 ,5 3 1328 4 6 ,8 3 2 0 ,7 5 4 ,7 6 0 ,7 2 2 6 ,9 5 694 1 9 ,0 1 4 6 ,9 3 2 8 ,0 3 2 ,3 7 3 ,6 5 2572 2 3 ,3 4 3 8 ,4 8 2 9 ,2 9 4 ,8 2 4 ,0 7 1328 2 2 ,0 5 4 6 ,2 5 2 4 ,7 8 3 ,4 6 3 ,4 6 694 SP 2003 RJ MG 4 0 ,4 8 2 0 ,2 4 3 ,5 7 0 ,0 0 3 5 ,7 1 84 8 2 ,5 0 9 ,1 5 5 ,4 6 1 ,3 9 1 ,5 0 2874 6 4 ,6 9 1 7 ,5 5 1 2 ,7 4 0 ,1 4 4 ,8 8 1413 5 6 ,7 5 1 9 ,4 3 7 ,8 2 0 1 6 ,0 0 844 4 3 ,6 0 1 6 ,2 8 5 ,2 3 0 3 4 ,8 8 172 2 2 ,6 2 4 5 ,2 4 2 3 ,8 1 3 ,5 7 4 ,7 6 84 2 4 ,4 6 4 0 ,8 8 2 6 ,2 0 5 ,8 8 2 ,5 7 2874 2 4 ,2 7 3 7 ,3 0 2 8 ,9 5 6 ,4 4 3 ,0 4 1413 2 5 ,1 2 4 2 ,5 4 2 2 ,5 1 6 ,2 8 3 ,5 5 844 2 0 ,9 3 4 2 ,4 4 1 9 ,7 7 4 ,0 7 1 2 ,7 9 172 ES ES Fonte: Ministério da Saúde. Sistema de Informações sobre Mortalidade. Considerando-se a variável raça/cor, evidencia-se que a maior ocorrência de óbitos por câncer de mama foi verificada entre as mulheres brancas, sobretudo nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. O aumento observado em 2003 no percentual de óbitos associados às mulheres brancas, nestes estados, pode ser atribuído à melhoria na cobertura, pois houve uma redução expressiva nos casos para os quais não havia informação sobre a cor da mulher, principalmente em São Paulo. Em Minas Gerais e no Espírito Santo também nota-se o predomínio de óbitos por câncer de mama entre as mulheres brancas, embora em menor magnitude, que pode ser atribuída ao grande percentual de casos sem informação sobre a cor. Em Minas Gerais também pode ser notada a melhoria na qualidade das informações no período. No Espírito Santo basicamente manteve-se constante o percentual de casos sem informação sobre a cor da mulher. Em todos os casos, os resultados devem ser analisados cautelosamente, considerando-se a grande miscigenação da população estudada, entre outros aspectos. 7 A análise por estado civil aponta que, em ambos os anos, a maioria das mulheres falecidas por câncer de mama era casada. Em todas as UF’s houve uma redução na percentagem de mulheres falecidas por esta neoplasia, que eram casadas, entre 1998 e 2003. Em contrapartida, à exceção do Espírito Santo, notou-se um aumento na percentagem de mulheres falecidas solteiras no período. Inferências sobre este resultado poderiam ser feitas caso houvesse informações sobre a fecundidade destas mulheres. Também foi bastante significativo, nos dois anos, o número de óbitos por câncer de mama entre as mulheres viúvas. Em geral, as mulheres viúvas têm idade mais avançada. Em 2003, na região Sudeste, 85% das mulheres viúvas tinham 60 anos e mais de idade (TAB. 5, anexo). Então, é possível inferir que um número significativo de óbitos por câncer de mama vem ocorrendo entre as mulheres mais velhas. Em todas as UF’s observou-se, também, um aumento de óbitos entre as mulheres separadas. Na região como um todo, cerca de 2/3 das mulheres separadas tinham entre 40 e 59 anos de idade, em 2003 (TAB. 5). Na seção seguinte será feita a análise da morbidade por câncer de mama feminino, na região estudada. MORBIDADE POR CÂNCER DE MAMA FEMININO, REGIÃO SUDESTE Como afirmado anteriormente, a região Sudeste apresentou, em 2003, a maior taxa de incidência de câncer de mama feminino do país, conforme será evidenciado pelo GRÁF. 5. De acordo com as estimativas do INCA (2006), esta tendência prevalecerá para o ano de 2006. 8 Gráfico 5: Taxa de incidência por câncer de m am a fem inino (casos por 100.000 hab), segundo regiões brasileiras, 1998 e 2003 80,00 60,00 40,00 1998 C.Oeste Sul Sudeste Nordeste 0,00 Norte 20,00 2003 Fonte: Instituto Nacional do Câncer. Como verificado, nas regiões Norte, Nordeste e Sul houve uma redução expressiva na taxa de incidência por câncer de mama feminino, entre 1998 e 2003. Esta taxa permaneceu estável na região Centro-Oeste, aumentando significativamente na região Sudeste. Há um grande diferencial nas taxas, por região, entre os dois anos estudados, o que requer uma cautela na análise destes resultados. No Sudeste, em 2003, a UF com a maior taxa de incidência de câncer de mama feminino foi o Rio de Janeiro (103,89 por 100.000 hab.), seguida por São Paulo (78,69 por 100.000 hab), Minas Gerais (44,01 por 100.000 hab) e Espírito Santo (40,44 por 100.000 hab)3. Um outro indicador que dá uma idéia a respeito da morbidade por câncer de mama feminino é o número de internações por esta neoplasia. O número de internações por câncer de mama na região Sudeste passou de 11.949 em 1998 para 17.377 em 2003, ou seja, houve um aumento de cerca de 45% no período (TAB.6, anexo). Os gráficos 5 e 6 mostram o percentual de internações por UF’s, segundo grupos de idade. 3 Vide GRÁF. 8, anexo. 9 0,15 0,15 0,10 0,10 0,05 0,05 0,00 0,00 SP RJ MG SP ES RJ MG 80+ 70-79 60-69 50-59 40-49 30-39 < 20 20-29 Gráfico 7 : Internações por câncer de mama, região Sudeste, 2003 80+ 70-79 0,20 60-69 0,20 50-59 0,25 40-49 0,25 30-39 0,30 20-29 0,35 0,30 < 20 Gráfico 6: Internações por câncer de mama, região Sudeste, 1998 0,35 ES Fonte: Ministério da Saúde. Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS). Entre 1998 e 2003 observa-se um aumento significativo no percentual de internações por câncer de mama entre as mulheres mais jovens (até 29 anos de idade), em todas as UF’s. Em 1998, para a faixa etária de 30 a 39 anos, o percentual de internações foi o mesmo para São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, reduzindo-se em 2003, nas três UF’s, principalmente no Rio de Janeiro. Em 1998 pode ser verificado que o pico das curvas ocorre na faixa etária de 40 a 49 anos de idade, para todas as UF’s. Entretanto, no Rio de Janeiro, em 2003, ocorre uma mudança importante: uma maior concentração de internações por câncer de mama entre as mulheres de 50 a 59 anos de idade. Esta UF destaca-se também por apresentar uma redução significativa nas internações entre as mulheres mais jovens em relação às demais UF’s, além de um aumento entre as mulheres mais velhas (a partir dos 60 anos de idade). Evidencia-se também que, em ambos os anos, o Espírito Santo teve um maior percentual de internações entre as mulheres jovens (30 a 49 anos de idade) e um menor percentual entre as mulheres de idade mais avançada, em relação às outras UF’s. 10 CONSIDERAÇOES FINAIS O estudo realizado aponta para a deficiência na qualidade dos registros de óbitos, especificamente óbitos por câncer de mama feminino, na quase totalidade da região Sudeste. Esta deficiência impede uma análise mais precisa acerca dos indicadores de mortalidade e morbidade por esta neoplasia. Além disso, traz grandes limitações à análise do perfil das mulheres falecidas por esta neoplasia. No entanto, foi constatada uma melhoria na qualidade destes registros, no período sob análise. Deve ser ressaltado que os resultados aqui obtidos não correspondem ao quadro real do câncer de mama na região Sudeste, pois foram analisados apenas os casos registrados pelo Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM). Os casos diagnosticados e acompanhados pelo sistema privado de saúde estão excluídos desta análise. Entre 1998 e 2003 constatou-se um aumento expressivo no volume de óbitos e internações por câncer de mama feminino, nas UF’s da região Sudeste. Enquanto o maior percentual de óbitos concentrou-se entre as mulheres de 50 a 59 anos, as internações predominaram entre as mulheres mais jovens, de 40 a 49 anos de idade. A análise do perfil das mulheres falecidas por esta neoplasia revelou que a maior parte delas é casada e da cor branca. Entretanto, tem havido um crescimento substancial do número de mulheres viúvas falecendo por câncer de mama, o que permite inferir que tem ocorrido uma maior incidência desta neoplasia entre as mulheres idosas (já que a maior parte das mulheres viúvas são idosas). As maiores taxas de mortalidade e de incidência de câncer de mama foram observadas nas UF’s mais desenvolvidas, São Paulo e Rio de Janeiro. Esse resultado pode ser parcialmente atribuído à qualidade dos registros sobre os óbitos e à cobertura. Estas UF’s apresentaram taxas de mortalidade por esta neoplasia bastante elevadas em relação às demais UF’s, principalmente para a população idosa. Este dado é preocupante, considerando-se que nestas UF’s estão concentradas grandes proporções de idosos. Com o processo de envelhecimento populacional, a tendência é um agravamento deste quadro, caso medidas específicas não sejam adotadas. Os resultados obtidos sinalizam para a necessidade de adoção de um conjunto de políticas de saúde pública voltadas para a mulher, de forma a viabilizar o seu acesso aos serviços de saúde, como a prevenção do câncer de mama, visando a identificação precoce desta neoplasia, fator fundamental para um tratamento com êxito. 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHAKIEL, J. Studies of causes of death in Latin América current situation and future perspectives. International Union for the Scientific Study of Population and Institute of Statistics. University of Siena, Siena, Italy, jul.1986. CUNHA, E.M.G.P. Os neoplasmas malignos na população feminina brasileira. Anais do XI Encontro da Associação Brasileira de Estudos Populacionais, Caxambu-MG, 1998. INCA – Instituto Nacional de Câncer. Estimativa 2006. 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Anais do XIII Encontro da Associação Brasileira de Estudos Populacionais, Ouro Preto, nov. 2002. 12 ANEXOS 13 Tabela 3: Proporção das principais causas de morte segundo as regiões brasileiras, 1998. Grupo Causas - CID10 Norte NordesteSudeste I. Algumas doenças infecciosas e parasitárias 6,39 5,72 4,69 II. Neoplasias (tumores) 10,08 8,53 14,40 IV. Doenças endócrinas nutricionais e metabólicas 4,49 5,54 6,01 IX. Doenças do aparelho circulatório 20,54 23,40 34,26 X. Doenças do aparelho respiratório 8,32 7,50 11,60 XI. Doenças do aparelho digestivo 2,90 2,80 3,88 XVI. Algumas afec originadas no período perinatal 8,76 4,33 3,63 XVIII.Sint sinais e achad anorm ex clín e laborat 25,65 33,34 10,44 XX. Causas externas de morbidade e mortalidade 6,48 4,18 5,07 Outras causas 6,40 4,65 6,02 Fonte: Ministério da Saúde. Sistema de Informações sobre Mortalidade. Sul C Oeste 3,47 6,62 16,50 13,72 5,21 5,57 36,79 29,97 12,34 10,25 4,01 3,72 2,79 5,21 8,02 10,58 4,94 7,44 5,92 6,90 Tabela 4: Proporção das principais causas de morte segundo as regiões brasileiras, 2003. Grupo de causas: CID-10 Norte Nordeste Sudeste IX. Doenças do aparelho circulatório 0,22 0,25 0,33 II. Neoplasias (tumores) 0,11 0,11 0,16 X. Doenças do aparelho respiratório 0,09 0,08 0,12 IV. Doenças endócrinas nutricionais e metabólicas 0,06 0,07 0,07 I. Algumas doenças infecciosas e parasitárias 0,06 0,05 0,04 XX. Causas externas de morbidade e mortalidade 0,06 0,04 0,05 XI. Doenças do aparelho digestivo 0,03 0,03 0,04 XVI. Algumas afec originadas no período perinatal 0,07 0,04 0,02 XVIII.Sint sinais e achad anorm ex clín e laborat 0,23 0,28 0,09 Outras causas 0,07 0,05 0,07 Fonte: Ministério da Saúde. Sistema de Informações sobre Mortalidade. Sul C.Oeste 0,35 0,32 0,18 0,16 0,11 0,10 0,07 0,07 0,04 0,06 0,05 0,07 0,04 0,05 0,02 0,04 0,07 0,06 0,07 0,08 Quadro 1: Número de óbitos e taxa de crescimento, UF’s da região Sudeste, 1998 e 2003 U F /A N O 1998 2003 % C R E S C . S P 2572 2874 0 ,1 2 R J 1327 1413 0 ,0 6 M G 694 844 0 ,2 2 E S 84 172 1 ,0 5 Fonte: Ministério da Saúde. Sistema de Informações sobre Mortalidade. Tabela 5: Distribuição percentual de óbitos por câncer de mama feminino, segundo a idade e o e estado civil, Sudeste, 2003. F x . E t á ria 2 0 -2 9 3 0 -3 9 4 0 -4 9 5 0 -5 9 6 0 -6 9 7 0 -7 9 80+ To ta l s o lt e ira 0 ,0 0 ,1 0 ,2 0 ,2 0 ,1 0 ,1 0 ,0 1 ,0 2 0 4 5 7 4 9 0 c as ada 0 ,0 0 ,0 0 ,2 0 ,2 0 ,2 0 ,1 0 ,0 1 ,0 0 9 4 9 3 2 3 0 14 viú va 0 ,0 0 ,0 0 ,0 0 ,1 0 ,2 0 ,3 0 ,3 1 ,0 0 0 3 1 0 3 2 0 s e p a ra d a 0 ,0 0 0 ,0 7 0 ,2 8 0 ,3 8 0 ,1 8 0 ,0 7 0 ,0 4 1 ,0 0 ig n o ra d o 0 ,0 1 0 ,1 1 0 ,3 0 0 ,1 6 0 ,2 0 0 ,1 7 0 ,0 4 1 ,0 0 Fonte: Ministério da Saúde. Sistema de Informações sobre Mortalidade. Gráfico 8: Taxa de incidê ncia por câncer de m am a fe m inino (cas os por 100.000 hab), re gião Sude ste (UF's), 2003 40,44 78,69 44,01 103,89 SP RJ MG ES Fonte: Ministério da Saúde. Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS). Tabela 6: Nº internações por câncer de mama feminino, Sudeste, 1998 e 2003. F x . E t á ria N º In t e r n a ç o e s 1 9 9 8 N º In t e r n a ç o e s 2 0 0 3 < 20 174 386 1514 3077 2852 2180 1343 423 11949 2 0 -2 9 3 0 -3 9 4 0 -4 9 5 0 -5 9 6 0 -6 9 7 0 -7 9 80+ TO TA L 386 880 1950 4598 4256 2886 1762 659 17377 Fonte: Ministério da Saúde. Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS). 15