Mortalidade e morbidade por câncer de mama feminino na região

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Mortalidade e morbidade por câncer de mama feminino na região
Sudeste do Brasil (segundo UF’s): uma análise para 1998 e 2003*
Maria Elizete Gonçalves•
Alexandar de Brito Barbosa♦
Palavras-chave: mortalidade; morbidade; neoplasias; câncer de mama feminino.
RESUMO
Este estudo, de caráter descritivo, teve por objetivo apresentar uma visão sobre a
mortalidade e a morbidade por neoplasias, especificamente, o câncer de mama feminino, na
região Sudeste brasileira (segundo UF’s), nos anos de 1998 e 2003.
Na atualidade, a região Sudeste é a que apresenta a maior taxa de incidência de câncer de
mama feminino, no país (73.68 casos por 100.000). A análise revelou que, no período analisado,
houve um crescimento substancial no número de óbitos por câncer de mama feminino em todas
as UF’s estudadas, sendo que a maioria das mulheres falecidas por esta neoplasia era casada e da
cor branca. Em todas as UF’s, à exceção de Minas Gerais, tem havido uma elevação nas taxas de
mortalidade entre as mulheres mais idosas (80 anos e mais), nos últimos anos. Os dados
apontaram, também, um aumento significativo de internações por câncer de mama entre as
mulheres jovens (até 29 anos), no período.
Os resultados sugerem a necessidade de uma implementação mais eficaz de políticas de
saúde pública voltadas para a mulher, como a prevenção e a identificação precoce do câncer de
mama; sobretudo considerando-se o aumento da mortalidade por este tipo de câncer entre a
população idosa num país cujo processo de envelhecimento populacional está se aprofundando.
* “Trabalho apresentado no XV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambú- MG
– Brasil, de 18 a 22 de setembro de 2006”
•
CEDEPLAR/UFMG.
♦
Secretaria Estadual da Saúde de Minas Gerais.
Mortalidade e morbidade por câncer de mama feminino na região
Sudeste do Brasil (segundo UF’s): uma análise para 1998 e 2003*
Maria Elizete Gonçalves•
Alexandar de Brito Barbosa♦
INTRODUÇÃO
No Brasil vem se configurando um padrão epidemiológico que reflete os efeitos do
processo de envelhecimento populacional: tem aumentado o número de mortes relacionadas às
doenças do sistema circulatório, doenças respiratórias e neoplasias. Considerando-se que o
processo de envelhecimento tenderá a se aprofundar nas próximas décadas, torna-se ainda mais
relevante a realização de estudos que contemplem estes grupos de causas.
Neste sentido, este estudo contemplará a mortalidade e a morbidade por neoplasias na
região Sudeste; de forma mais específica, o câncer de mama feminino, por ser o tipo de câncer
mais predominante entre as mulheres.
Segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA), em 2006 ocorrerão
472.050 novos casos de câncer no país, sendo que deste total 55,6% ocorrerão entre as mulheres.
A região Sudeste concentrará cerca de 53% destes casos. Dentre estes novos casos estimados
para a região, aproximadamente 23% são cânceres de mama.
As estatísticas citadas expressam a importância deste estudo, que pode contribuir para
melhor evidenciar a atual situação da mortalidade e morbidade por câncer de mama feminino na
região Sudeste. Em 2003 esta região apresentou a maior taxa de incidência de câncer feminino,
no Brasil.
Trata-se de um estudo de natureza descritiva, que contempla os anos de 1998 e 2003. A
fonte de dados utilizada é proveniente do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do
Ministério da Saúde e do Sistema de Informações Hospitalares do Sistema único de Saúde (SIHSUS).
* “Trabalho apresentado no XV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambú- MG
– Brasil, de 18 a 22 de setembro de 2006”
•
Doutoranda em Demografia pelo CEDEPLAR/UFMG.
♦
Secretaria Estadual da Saúde de Minas Gerais.
1
METODOLOGIA
Fonte de dados e variáveis
Para a análise da mortalidade, foram utilizados os dados do CD-ROM do Sistema de
Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, referente aos anos de 1998 e
2003, para as UF’s da região Sudeste do Brasil. As variáveis utilizadas foram idade, sexo, estado
civil, raça/cor, causa básica de morte e unidade da federação. A idade foi agrupada em intervalos
de 10 em 10 anos, a partir dos 20 anos de idade. O sexo analisado foi o feminino. O estado civil
abrangeu as categorias solteira, casada, viúva, separada e ignorado. A raça/cor foi categorizada
em branca, parda, preta e amarela/indígena.
Para a análise da morbidade, foram utilizados os dados do Sistema de Informações
Hospitalares do Sistema único de Saúde (SIH-SUS), anos 1998 e 2003. Além da taxa de
incidência por câncer de mama feminino, analisou-se também o número de internações
hospitalares.
Considerou-se óbitos por câncer de mama as declarações de óbito codificadas de acordo
com a Classificação Internacional de Doenças CID-10 (10ª revisão), que abrangeu os códigos
C50.0 a C50.9.
2
QUALIDADE DO REGISTRO DE ÓBITOS SEGUNDO CAUSAS DE MORTES
A distribuição dos óbitos segundo as causas permite traçar o perfil epidemiológico de
uma população. Assim, é necessário ter dados provenientes de estatísticas vitais. Entretanto,
geralmente há problemas relacionados à qualidade, além da questão do sub-registro destes dados.
Estes problemas são observados principalmente nas regiões menos desenvolvidas, sobretudo na
área rural, e entre as crianças menores de 1 ano.
Neste trabalho é utilizado o indicador percentual de óbitos classificados como mal
definidos para avaliar a qualidade do registro de óbitos segundo as causas. Se este percentual é
elevado, as demais causas de morte ficam subestimadas. Neste caso, o perfil epidemiológico
traçado pode divergir do verdadeiro perfil caso não existissem problemas relacionados à
codificação da causa básica de morte. Segundo CHACKIEL (1986), regiões cujo percentual de
óbitos classificados como mal definidos é inferior a 10% apresentam registros adequados para
fins de processamento estatístico. Na região Sudeste, o percentual de óbitos mal definidos foi de
10,44% e 9%, em 1998 e 2003, respectivamente (TAB. 3 e 4 , anexo). Ou seja, o percentual para
1998 praticamente se enquadra dentro da classificação proposta pelo autor, sendo que em 2003 o
percentual está abaixo dos 10%. Como a análise será feita através da desagregação por UF’s, é
apresentado o GRÁF. 1.
Gráfico 1: Percentual de óbitos por causas mal
definidas sobre o total de causas de morte
feminina, região Sudeste (UF's), 1998 e 2003.
0,30
2
0,
2
0,
07
0,
13
12
0,
0,
11
07
0,
0,
06
0,20
15
0,
0,10
0,00
SP
RJ
MG
1998
ES
2003
Fonte: Ministério da Saúde. Sistema de Informações sobre Mortalidade.
De acordo com a classificação proposta por CHACKIEL (1986), apenas São Paulo
apresenta registros de óbitos adequados para estudo, em ambos os anos. Nos demais estados
3
observa-se uma melhoria nos registros, entre 1998 e 2003, sendo esta melhoria bem mais
acentuada no Espírito Santo.
A deficiência na qualidade do registro de óbitos para os estados do Rio de Janeiro, Minas
Gerais e Espírito Santo sugere uma cautela na análise dos resultados obtidos neste estudo.
MORTALIDADE POR CÂNCER DE MAMA FEMININO, REGIÃO SUDESTE.
Nas últimas décadas, no Brasil, tem havido um aumento significativo do número de
óbitos relacionados às doenças do sistema circulatório, neoplasias e doenças respiratórias. Os
óbitos1 por estas três causas de morte (que acometem sobretudo a população idosa)
representaram, em 2003, mais da metade de todos os óbitos registrados no país (56%), como
pode ser visto pela TAB. 1.
Tabela 1: Proporção das principais causas de morte segundo as regiões brasileiras, 2003.
Grupo de causas: CID-10
IX. Doenças do aparelho circulatório
II. Neoplasias (tumores)
X. Doenças do aparelho respiratório
IV. Doenças endócrinas nutricionais e metabólicas
I. Algumas doenças infecciosas e parasitárias
XX. Causas externas de morbidade e mortalidade
XI. Doenças do aparelho digestivo
XVI. Algumas afec originadas no período perinatal
XVIII.Sint sinais e achad anorm ex clín e laborat
Outras causas
Norte Nordeste Sudeste
0,22
0,25
0,33
0,11
0,11
0,16
0,09
0,08
0,12
0,06
0,07
0,07
0,06
0,05
0,04
0,06
0,04
0,05
0,03
0,03
0,04
0,07
0,04
0,02
0,23
0,28
0,09
0,07
0,05
0,07
Sul
C.Oeste
0,35
0,32
0,18
0,16
0,11
0,10
0,07
0,07
0,04
0,06
0,05
0,07
0,04
0,05
0,02
0,04
0,07
0,06
0,07
0,08
Total
0,31
0,15
0,11
0,07
0,04
0,05
0,04
0,03
0,14
0,07
Fonte: Ministério da Saúde. Sistema de Informações sobre Mortalidade.
Uma análise por região mostra que as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste detiveram os
maiores percentuais de óbitos nos grupos das doenças do aparelho circulatório, das neoplasias e
das doenças do aparelho respiratório. As regiões Norte e Nordeste apresentaram percentuais
menores nestes grupos de causas, mas estes percentuais podem estar subestimados devido à alta
percentagem de óbitos classificados como mal definidos (sintomas, sinais e achados anormais de
exames clínicos e de laboratório).
1
Não foi feito a correção para o sub-registro de óbitos.
4
Especificamente com relação às neoplasias, os maiores percentuais de óbitos
concentraram-se, também, nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. A região Sudeste será
contemplada neste estudo, por apresentar, na atualidade, a maior taxa de incidência de câncer de
mama feminino do país, como será visto adiante.
Entre 1998 e 2003 houve um aumento significativo no número de óbitos por câncer de
mama, em todas as UF’s estudadas. Este aumento foi da ordem de 12%, 6% e 22% para São
Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, respectivamente. Quanto ao Espírito Santo, o número de
óbitos duplicou (Quadro 1, anexo). Deve ser ressaltado que é necessário cautela na análise destes
dados, considerando-se a melhoria da cobertura no período.
Os gráficos seguintes apresentam o percentual de óbitos por câncer de mama feminino,
0,00
0,00
SP
RJ
MG
80+
SP
ES
RJ
MG
70-79
5,00
60-69
5,00
50-59
10,00
40-49
10,00
30-39
15,00
20-29
15,00
70-79
20,00
60-69
20,00
50-59
25,00
40-49
25,00
30-39
Gráfico 3: Percentual de óbitos por câncer de
mama feminino, região Sudeste, 2003
30,00
20-29
Gráfico 2: Percentual de óbitos por câncer
de mama feminino, região Sudeste, 1998
30,00
80+
nas UF’s da região, nos anos de 1998 e 2003.
ES
Fonte: Ministério da Saúde. Sistema de Informações sobre Mortalidade.
Observa-se que, em ambos os anos estudados, a estrutura das curvas é quase a mesma
para as UF’s de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, sendo que o estado do Espírito Santo
apresenta um comportamento bastante diferenciado. O maior percentual de óbitos concentrou-se
na faixa etária de 50-59 anos para todas as UF’s, exceto para o Espírito Santo, cujo percentual
mais elevado equivale à faixa etária de 40-49 anos. De uma forma geral, este Estado concentra
um maior percentual de óbitos nas faixas etárias mais jovens e um menor percentual nas faixas
etárias mais envelhecidas, em relação aos demais estados. Em São Paulo, houve uma redução de
5
óbitos nas faixas etárias mais jovens e um aumento nas faixas etárias mais elevadas (a partir dos
70 anos). Este aumento também foi observado em Minas Gerais. No Rio de Janeiro chama a
atenção o aumento de óbitos nas faixas etárias mais jovens (de 30 a 49 anos). No Espírito Santo,
ao contrário, houve uma redução de óbitos nas faixas etárias mais jovens (até 39 anos) e um
aumento expressivo nas faixas etárias de 40 a 59 anos.
O GRÁF. 4 mostra as taxas específicas de mortalidade por câncer de mama feminino, nas
UF’s da região, no período de 1998 a 20022.
São Paulo
0 a 29
30 a 39
Rio de Janeiro
40 a 49
Minas Gerais
50 a 59
60 a 69
2002
2001
2000
1999
1998
2002
2001
2000
1999
1998
2002
2001
2000
1999
1998
2002
2001
2000
1998
180
160
140
120
100
80
60
40
20
0
1999
Gráfico 4: Taxas específicas de mortalidade por câncer de
mama feminino, Sudeste, 1998 a 2002
Espírito Santo
70 a 79
80 e mais
Fonte: Ministério da Saúde. Sistema de Informações sobre Mortalidade.
De acordo com o gráfico acima, entre outros aspectos, observa-se que no período
analisado, as taxas de mortalidade por câncer de mama entre as mulheres com 50 anos e mais de
idade são bastante superiores em São Paulo e Rio de Janeiro, em relação à Minas Gerais e
Espírito Santo. Observa-se também que no Rio de Janeiro as taxas de mortalidade nas idades
mais jovens (30 a 49 anos de idade) são mais altas em relação às demais UF’s. É possível notar
que nos últimos anos tem havido um aumento as taxas de mortalidade entre as mulheres mais
idosas (80 anos e mais de idade) em São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Nesta última UF
evidencia-se, também, um crescimento gradual das taxas de mortalidade entre as mulheres de 40
a 59 anos de idade.
2
Dados não disponíveis para 2003.
6
Na seqüência, será analisado o perfil das mulheres falecidas com câncer de mama nos
anos de 1998 e 2003, segundo a cor e o estado civil. Esta análise baseia-se na TAB. 2.
Tabela 2: Distribuição percentual de óbitos por câncer de mama feminino, segundo a cor e o
estado civil, região Sudeste, 1998 e 2003.
Ano
Va riá ve is /UF's
Cor
b ra n ca
p a rd a
p re ta
a m a re la /in d íg e n a
s e m in fo rm a çã o
N
Es ta do Civil
s o lte ira
ca s a d a
viu va
s e p a ra d a
ig n o ra d o /s e m in fo rm
N
SP
1998
RJ
MG
6 7 ,3 8
8 ,2 4
2 ,8 0
1 ,5 2
2 0 ,0 6
2572
6 2 ,8 0
1 8 ,0 7
1 1 ,4 5
0 ,1 5
7 ,5 3
1328
4 6 ,8 3
2 0 ,7 5
4 ,7 6
0 ,7 2
2 6 ,9 5
694
1 9 ,0 1
4 6 ,9 3
2 8 ,0 3
2 ,3 7
3 ,6 5
2572
2 3 ,3 4
3 8 ,4 8
2 9 ,2 9
4 ,8 2
4 ,0 7
1328
2 2 ,0 5
4 6 ,2 5
2 4 ,7 8
3 ,4 6
3 ,4 6
694
SP
2003
RJ
MG
4 0 ,4 8
2 0 ,2 4
3 ,5 7
0 ,0 0
3 5 ,7 1
84
8 2 ,5 0
9 ,1 5
5 ,4 6
1 ,3 9
1 ,5 0
2874
6 4 ,6 9
1 7 ,5 5
1 2 ,7 4
0 ,1 4
4 ,8 8
1413
5 6 ,7 5
1 9 ,4 3
7 ,8 2
0
1 6 ,0 0
844
4 3 ,6 0
1 6 ,2 8
5 ,2 3
0
3 4 ,8 8
172
2 2 ,6 2
4 5 ,2 4
2 3 ,8 1
3 ,5 7
4 ,7 6
84
2 4 ,4 6
4 0 ,8 8
2 6 ,2 0
5 ,8 8
2 ,5 7
2874
2 4 ,2 7
3 7 ,3 0
2 8 ,9 5
6 ,4 4
3 ,0 4
1413
2 5 ,1 2
4 2 ,5 4
2 2 ,5 1
6 ,2 8
3 ,5 5
844
2 0 ,9 3
4 2 ,4 4
1 9 ,7 7
4 ,0 7
1 2 ,7 9
172
ES
ES
Fonte: Ministério da Saúde. Sistema de Informações sobre Mortalidade.
Considerando-se a variável raça/cor, evidencia-se que a maior ocorrência de óbitos por
câncer de mama foi verificada entre as mulheres brancas, sobretudo nos estados de São Paulo e
Rio de Janeiro. O aumento observado em 2003 no percentual de óbitos associados às mulheres
brancas, nestes estados, pode ser atribuído à melhoria na cobertura, pois houve uma redução
expressiva nos casos para os quais não havia informação sobre a cor da mulher, principalmente
em São Paulo. Em Minas Gerais e no Espírito Santo também nota-se o predomínio de óbitos por
câncer de mama entre as mulheres brancas, embora em menor magnitude, que pode ser atribuída
ao grande percentual de casos sem informação sobre a cor. Em Minas Gerais também pode ser
notada a melhoria na qualidade das informações no período. No Espírito Santo basicamente
manteve-se constante o percentual de casos sem informação sobre a cor da mulher. Em todos os
casos, os resultados devem ser analisados cautelosamente, considerando-se a grande
miscigenação da população estudada, entre outros aspectos.
7
A análise por estado civil aponta que, em ambos os anos, a maioria das mulheres
falecidas por câncer de mama era casada. Em todas as UF’s houve uma redução na percentagem
de mulheres falecidas por esta neoplasia, que eram casadas, entre 1998 e 2003. Em contrapartida,
à exceção do Espírito Santo, notou-se um aumento na percentagem de mulheres falecidas
solteiras no período. Inferências sobre este resultado poderiam ser feitas caso houvesse
informações sobre a fecundidade destas mulheres. Também foi bastante significativo, nos dois
anos, o número de óbitos por câncer de mama entre as mulheres viúvas. Em geral, as mulheres
viúvas têm idade mais avançada. Em 2003, na região Sudeste, 85% das mulheres viúvas tinham
60 anos e mais de idade (TAB. 5, anexo). Então, é possível inferir que um número significativo
de óbitos por câncer de mama vem ocorrendo entre as mulheres mais velhas. Em todas as UF’s
observou-se, também, um aumento de óbitos entre as mulheres separadas. Na região como um
todo, cerca de 2/3 das mulheres separadas tinham entre 40 e 59 anos de idade, em 2003 (TAB.
5).
Na seção seguinte será feita a análise da morbidade por câncer de mama feminino, na
região estudada.
MORBIDADE POR CÂNCER DE MAMA FEMININO, REGIÃO SUDESTE
Como afirmado anteriormente, a região Sudeste apresentou, em 2003, a maior taxa de
incidência de câncer de mama feminino do país, conforme será evidenciado pelo GRÁF. 5. De
acordo com as estimativas do INCA (2006), esta tendência prevalecerá para o ano de 2006.
8
Gráfico 5: Taxa de incidência por câncer de m am a
fem inino (casos por 100.000 hab), segundo regiões
brasileiras, 1998 e 2003
80,00
60,00
40,00
1998
C.Oeste
Sul
Sudeste
Nordeste
0,00
Norte
20,00
2003
Fonte: Instituto Nacional do Câncer.
Como verificado, nas regiões Norte, Nordeste e Sul houve uma redução expressiva na
taxa de incidência por câncer de mama feminino, entre 1998 e 2003. Esta taxa permaneceu
estável na região Centro-Oeste, aumentando significativamente na região Sudeste. Há um grande
diferencial nas taxas, por região, entre os dois anos estudados, o que requer uma cautela na
análise destes resultados.
No Sudeste, em 2003, a UF com a maior taxa de incidência de câncer de mama feminino
foi o Rio de Janeiro (103,89 por 100.000 hab.), seguida por São Paulo (78,69 por 100.000 hab),
Minas Gerais (44,01 por 100.000 hab) e Espírito Santo (40,44 por 100.000 hab)3.
Um outro indicador que dá uma idéia a respeito da morbidade por câncer de mama
feminino é o número de internações por esta neoplasia.
O número de internações por câncer de mama na região Sudeste passou de 11.949 em
1998 para 17.377 em 2003, ou seja, houve um aumento de cerca de 45% no período (TAB.6,
anexo). Os gráficos 5 e 6 mostram o percentual de internações por UF’s, segundo grupos de
idade.
3
Vide GRÁF. 8, anexo.
9
0,15
0,15
0,10
0,10
0,05
0,05
0,00
0,00
SP
RJ
MG
SP
ES
RJ
MG
80+
70-79
60-69
50-59
40-49
30-39
< 20
20-29
Gráfico 7 : Internações por câncer de mama,
região Sudeste, 2003
80+
70-79
0,20
60-69
0,20
50-59
0,25
40-49
0,25
30-39
0,30
20-29
0,35
0,30
< 20
Gráfico 6: Internações por câncer de mama,
região Sudeste, 1998
0,35
ES
Fonte: Ministério da Saúde. Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS).
Entre 1998 e 2003 observa-se um aumento significativo no percentual de internações por
câncer de mama entre as mulheres mais jovens (até 29 anos de idade), em todas as UF’s. Em
1998, para a faixa etária de 30 a 39 anos, o percentual de internações foi o mesmo para São
Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, reduzindo-se em 2003, nas três UF’s, principalmente no
Rio de Janeiro. Em 1998 pode ser verificado que o pico das curvas ocorre na faixa etária de 40 a
49 anos de idade, para todas as UF’s. Entretanto, no Rio de Janeiro, em 2003, ocorre uma
mudança importante: uma maior concentração de internações por câncer de mama entre as
mulheres de 50 a 59 anos de idade. Esta UF destaca-se também por apresentar uma redução
significativa nas internações entre as mulheres mais jovens em relação às demais UF’s, além de
um aumento entre as mulheres mais velhas (a partir dos 60 anos de idade). Evidencia-se também
que, em ambos os anos, o Espírito Santo teve um maior percentual de internações entre as
mulheres jovens (30 a 49 anos de idade) e um menor percentual entre as mulheres de idade mais
avançada, em relação às outras UF’s.
10
CONSIDERAÇOES FINAIS
O estudo realizado aponta para a deficiência na qualidade dos registros de óbitos,
especificamente óbitos por câncer de mama feminino, na quase totalidade da região Sudeste.
Esta deficiência impede uma análise mais precisa acerca dos indicadores de mortalidade e
morbidade por esta neoplasia. Além disso, traz grandes limitações à análise do perfil das
mulheres falecidas por esta neoplasia. No entanto, foi constatada uma melhoria na qualidade
destes registros, no período sob análise.
Deve ser ressaltado que os resultados aqui obtidos não correspondem ao quadro real do
câncer de mama na região Sudeste, pois foram analisados apenas os casos registrados pelo
Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM). Os casos diagnosticados e acompanhados pelo
sistema privado de saúde estão excluídos desta análise.
Entre 1998 e 2003 constatou-se um aumento expressivo no volume de óbitos e
internações por câncer de mama feminino, nas UF’s da região Sudeste. Enquanto o maior
percentual de óbitos concentrou-se entre as mulheres de 50 a 59 anos, as internações
predominaram entre as mulheres mais jovens, de 40 a 49 anos de idade. A análise do perfil das
mulheres falecidas por esta neoplasia revelou que a maior parte delas é casada e da cor branca.
Entretanto, tem havido um crescimento substancial do número de mulheres viúvas falecendo por
câncer de mama, o que permite inferir que tem ocorrido uma maior incidência desta neoplasia
entre as mulheres idosas (já que a maior parte das mulheres viúvas são idosas).
As maiores taxas de mortalidade e de incidência de câncer de mama foram observadas
nas UF’s mais desenvolvidas, São Paulo e Rio de Janeiro. Esse resultado pode ser parcialmente
atribuído à qualidade dos registros sobre os óbitos e à cobertura. Estas UF’s apresentaram taxas
de mortalidade por esta neoplasia bastante elevadas em relação às demais UF’s, principalmente
para a população idosa. Este dado é preocupante, considerando-se que nestas UF’s estão
concentradas grandes proporções de idosos. Com o processo de envelhecimento populacional, a
tendência é um agravamento deste quadro, caso medidas específicas não sejam adotadas.
Os resultados obtidos sinalizam para a necessidade de adoção de um conjunto de políticas
de saúde pública voltadas para a mulher, de forma a viabilizar o seu acesso aos serviços de
saúde, como a prevenção do câncer de mama, visando a identificação precoce desta neoplasia,
fator fundamental para um tratamento com êxito.
11
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CHAKIEL, J. Studies of causes of death in Latin América current situation and future
perspectives. International Union for the Scientific Study of Population and Institute of Statistics.
University of Siena, Siena, Italy, jul.1986.
CUNHA, E.M.G.P. Os neoplasmas malignos na população feminina brasileira. Anais do XI
Encontro da Associação Brasileira de Estudos Populacionais, Caxambu-MG, 1998.
INCA – Instituto Nacional de Câncer. Estimativa 2006. Incidência de Câncer no Brasil. http:
//inca.gov.br
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Datasus/SIM. Sistema de Informação sobre Mortalidade, 1998.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Datasus/SIM. Sistema de Informação sobre Mortalidade, 2003.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Datasus/SIM. Sistema de Informações Hospitalares do Sistema
Único de Saúde, 1998.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Datasus/SIM. Sistema de Informações Hospitalares do Sistema
Único de Saúde, 2003.
OMS. CID-10. Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à
Saúde. Décima Revisão. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1994.
PEREIRA, W. M. M. Mortalidade e sobrevida por câncer de mama, no estado do Pará.
[Mestrado] Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública; 2001. 90 p.
SIMÃO, A B. SOUZA, L.M. A evolução da morbidade e mortalidade por câncer de mama entre
a população feminina de Minas Gerais – 1995 a 2001. Anais do XIII Encontro da Associação
Brasileira de Estudos Populacionais, Ouro Preto, nov. 2002.
12
ANEXOS
13
Tabela 3: Proporção das principais causas de morte segundo as regiões brasileiras, 1998.
Grupo Causas - CID10
Norte NordesteSudeste
I. Algumas doenças infecciosas e parasitárias
6,39
5,72
4,69
II. Neoplasias (tumores)
10,08
8,53 14,40
IV. Doenças endócrinas nutricionais e metabólicas
4,49
5,54
6,01
IX. Doenças do aparelho circulatório
20,54
23,40 34,26
X. Doenças do aparelho respiratório
8,32
7,50 11,60
XI. Doenças do aparelho digestivo
2,90
2,80
3,88
XVI. Algumas afec originadas no período perinatal
8,76
4,33
3,63
XVIII.Sint sinais e achad anorm ex clín e laborat
25,65
33,34 10,44
XX. Causas externas de morbidade e mortalidade
6,48
4,18
5,07
Outras causas
6,40
4,65
6,02
Fonte: Ministério da Saúde. Sistema de Informações sobre Mortalidade.
Sul
C Oeste
3,47
6,62
16,50
13,72
5,21
5,57
36,79
29,97
12,34
10,25
4,01
3,72
2,79
5,21
8,02
10,58
4,94
7,44
5,92
6,90
Tabela 4: Proporção das principais causas de morte segundo as regiões brasileiras, 2003.
Grupo de causas: CID-10
Norte Nordeste Sudeste
IX. Doenças do aparelho circulatório
0,22
0,25
0,33
II. Neoplasias (tumores)
0,11
0,11
0,16
X. Doenças do aparelho respiratório
0,09
0,08
0,12
IV. Doenças endócrinas nutricionais e metabólicas
0,06
0,07
0,07
I. Algumas doenças infecciosas e parasitárias
0,06
0,05
0,04
XX. Causas externas de morbidade e mortalidade
0,06
0,04
0,05
XI. Doenças do aparelho digestivo
0,03
0,03
0,04
XVI. Algumas afec originadas no período perinatal
0,07
0,04
0,02
XVIII.Sint sinais e achad anorm ex clín e laborat
0,23
0,28
0,09
Outras causas
0,07
0,05
0,07
Fonte: Ministério da Saúde. Sistema de Informações sobre Mortalidade.
Sul
C.Oeste
0,35
0,32
0,18
0,16
0,11
0,10
0,07
0,07
0,04
0,06
0,05
0,07
0,04
0,05
0,02
0,04
0,07
0,06
0,07
0,08
Quadro 1: Número de óbitos e taxa de crescimento, UF’s da região Sudeste, 1998 e 2003
U F /A N O
1998
2003
% C R E S C .
S P
2572
2874
0 ,1 2
R J
1327
1413
0 ,0 6
M G
694
844
0 ,2 2
E S
84
172
1 ,0 5
Fonte: Ministério da Saúde. Sistema de Informações sobre Mortalidade.
Tabela 5: Distribuição percentual de óbitos por câncer de mama feminino, segundo a idade e o e
estado civil, Sudeste, 2003.
F x . E t á ria
2 0 -2 9
3 0 -3 9
4 0 -4 9
5 0 -5 9
6 0 -6 9
7 0 -7 9
80+
To ta l
s o lt e ira
0 ,0
0 ,1
0 ,2
0 ,2
0 ,1
0 ,1
0 ,0
1 ,0
2
0
4
5
7
4
9
0
c as ada
0 ,0
0 ,0
0 ,2
0 ,2
0 ,2
0 ,1
0 ,0
1 ,0
0
9
4
9
3
2
3
0
14
viú va
0 ,0
0 ,0
0 ,0
0 ,1
0 ,2
0 ,3
0 ,3
1 ,0
0
0
3
1
0
3
2
0
s e p a ra d a
0 ,0 0
0 ,0 7
0 ,2 8
0 ,3 8
0 ,1 8
0 ,0 7
0 ,0 4
1 ,0 0
ig n o ra d o
0 ,0 1
0 ,1 1
0 ,3 0
0 ,1 6
0 ,2 0
0 ,1 7
0 ,0 4
1 ,0 0
Fonte: Ministério da Saúde. Sistema de Informações sobre Mortalidade.
Gráfico 8: Taxa de incidê ncia por câncer de
m am a fe m inino (cas os por 100.000 hab),
re gião Sude ste (UF's), 2003
40,44
78,69
44,01
103,89
SP
RJ
MG
ES
Fonte: Ministério da Saúde. Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS).
Tabela 6: Nº internações por câncer de mama feminino, Sudeste, 1998 e 2003.
F x . E t á ria
N º In t e r n a ç o e s 1 9 9 8 N º In t e r n a ç o e s 2 0 0 3
< 20
174
386
1514
3077
2852
2180
1343
423
11949
2 0 -2 9
3 0 -3 9
4 0 -4 9
5 0 -5 9
6 0 -6 9
7 0 -7 9
80+
TO TA L
386
880
1950
4598
4256
2886
1762
659
17377
Fonte: Ministério da Saúde. Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS).
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