Trabalho

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XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.
CONSIDERAÇÕES FARMACOLÓGICAS SOBRE A Thevetia
peruviana (pers.) K. Schum
Adelaide Caroline Primo da Silva1, Fernanda Bezerra Sant'Ana 2, Idalina Cavalcanti do Nascimento2, Marianne Rafaelle
Braz Xavier2, Raffaela Maria Dias Rodrigues Amorim 2, George Chaves Jimenez 3, Daniela de Souza Bastos3.

Introdução
A espécie Thevetia peruviana (pers.) K. Schum é conhecida popularmente como chapéu-de-napoleão sendo
originária da América Central, mas largamente distribuída em todas as regiões tropicais devido ao seu aspecto
ornamental (Schvartsman, 1979).
A facilidade de acesso a esta planta e a atração que suas sementes suscitam, tornam-na grande causadora de
intoxicações principalmente para animais domésticos. Alguns autores assinalam que todas as partes da planta são
tóxicas, principalmente as folhas. O látex possui intensa ação emética e purgativa, além de ser altamente cáustica
(Schvartsman, 1979). Esta característica nos chamou a atenção, suscitando a hipótese de que a disposição e o acesso
desta planta aos animais que habitam e pastejam as imediações do Departamento de Medicina Veterinária, onde é
encontrada em abundância, podem gerar quadro de intoxicação, além de outras respostas importantes.
Considerando-se que a pesquisa em produtos naturais é fundamental para a busca de novos fármacos e para
construção de uma autonomia nacional na área de produção de novos medicamentos (Rates, 2001), este trabalho teve
por objetivo determinar o potencial antioxidante e o perfil da atividade espontânea em camundongos Mus musculus,
albino suíço, estimulados com estrato metanólico da folha de Thevetia peruviana (Pers.) K. Schum.
Material e métodos
A. Produção do extrato
1. O material biológico (folhas de Thevetia peruviana) foi obtido a partir do jardim do Hospital Veterinário da
Universidade Federal Rural de Pernambuco (DMV-UFRPE), situado na Rua Dom Manuel de Medeiros s/n, Dois
Irmãos, Recife, Pernambuco, latitude Sul 9°01’ e longitude 34°08’ (Albuquerque, 2009). O material foi submetido a um
processo de seleção prévia e limpeza, seguido de trituração.
2. Após esta etapa 2,471g do material foi devidamente pesado e colocado em um recipiente com um volume de 100
mL de álcool metílico como solvente extrator sendo deixado para maceração por sete dias.
3. Após esta etapa, o material foi submetido a um processo de filtragem com filtros de 10,75 μ, sendo recolhido o
filtrado. Em seguida uma alíquota de 200μL foi retirada e colocada para evaporação, a fim de se verificar a massa do
extrato bruto, obtendo-se a concentração final de C=60mg/mL.
B. Atividade antioxidante
1. Uma alíquota de 1 mL do filtrado foi retirado da solução original, e colocada em um tubo de ensaio até a
evaporação em temperatura ambiente. Após este período, o resíduo foi novamente suspenso acrescentando-se
aproximadamente 0,3 mL de TWEEN 80 como dispersante e solução 1 mL de água deionizada.
2. A esse volume novamente suspenso foi acrescido a 50 μL de peróxido de hidrogênio, aguardando-se a reação por
15 minutos. Em seguida foram acrescidos 0,02 mL de iodeto de potássio a 2,5%. e 0,02 mL de solução saturada de
molibdato de Sódio. Após cinco minutos foram adicionado 3 mL de clorofórmio, agitando-se o tubo de ensaio e
aguardando por 5 minutos. Após esta etapa foi efetuada a leitura da porção orgânica da reação (parte inferior do tubo),
em espectrofotômetro a 560nm, contra dois tubos de referência, um padrão (com peróxido sem o extrato), e o branco
(contendo os demais reagentes, mas sem extrato e sem o peróxido de hidrogênio).
3. Para, enfim, promover a determinação da atividade antioxidante, a razão entre a leitura do extrato e a leitura do
padrão foi obtida, resultando em um número adimensional, que se maior do que um, a reação seria considerada como
oxidante, e se menor do que um, como antioxidante.
C. Teste de toxicidade celular
1. Dez unidades de sementes de alface (Lechuga Victoria de Verano) livre de aditivos foram acondicionadas em
recipientes contendo 10g de algodão hidrofílico umedecido. Um recipiente recebia um volume de 1mL de extrato do
vegetal novamente suspenso em água bidestilada na concentração de 60mg/mL. Em outro recipiente, amostras de
semente recebiam somente hidratação equivalente (controle). Após um período de quatro dias, o brotamento das
1
Primeiro Autor é graduando do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros s/n,
Dois Irmãos, Recife-PE, CEP: 52171-900. E-mail: [email protected].
2
Segundo Autor é discente de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros s/n, Dois Irmãos,
Recife-PE, CEP: 52171-900.
3
Terceiro Autor é docente do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manuel de Medeiros, s/n,
Dois Irmãos, Recife, PE, CEP: 52171-900.
XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.
sementes foi verificado, tomando-se com referência o total de sementes germinadas como parâmetro para se
dimensionar o nível de toxicidade do extrato vegetal avaliado.
D. Bioensaios preliminares para atividade espontânea
1. Três animais (camundongos Mus musculus, albino suíço, machos, pesando cerca de 40g), após a devida
marcação, foram submetidos a um sistema de campo aberto, recebendo cada animal um volume de 0,1mL ip do extrato
devidamente ajustado em água deionizada numa dose de 300mg/kg.
2. A atividade espontânea dos animais foi registrada a cada 10 minutos até completar o período de 60 minutos de
observação.
Os dados foram tabelados considerando os intervalos temporais de observação das principais respostas, utilizando-se
como referência os descritores de Malone (1987).
Resultados e Discussão
Considerando-se que as principais respostas de atividade espontânea podem ser visualizadas na figura 1, pode-se
dizer que as primeiras reações após o extrato vegetal ter sido injetado na região abdominal foram defecação e micção,
reações de defesa do organismo, considera-se que os animais estavam com o metabolismo mais lento, visto que foram
submetidos ao experimento pela manhã sendo estes animais de hábitos noturnos. Ainda assim exibiram reações
excitatórias, estimulantes do sistema nervoso central (SNC).
As respostas de maior evidência nos animais foram o prurido, comportamento exploratório, autolimpeza,
encolhimento e o ato de farejar os demais companheiros de grupo. O prurido é uma resposta associada à presença de um
estímulo nociceptivo, cujo período de ocorrência máxima entre 20 e 40 minutos. Como também aos 60 minutos. Esta
resposta veio acompanhada de comportamento de encolhimento no recinto, uma resposta tipicamente depressora,
provavelmente associada a uma diminuição da atividade motora para diminuir a intensidade do prurido, como também
atividade de autolimpeza, uma resposta de característica excitatória. Apesar disto, os animais não deixaram de exibir,
intermitentemente, atividade exploratória, cuja intensidade aumentou no intervalo de 40 a 60 minutos. Associada a este
último comportamento observou-se uma atividade olfatória também intermitente, considerando-se que esta espécie de
animal utiliza-se do faro para a identificação dos companheiros, bem como de algumas características do ambiente.
De maneira geral, pode-se argumentar que os ritmos de ocorrência das principais respostas observadas foram
característicos e relacionados com a presença de substâncias ativas no extrato, uma vez que estes comportamentos foram
observados num intervalo temporal após os dez primeiros minutos de bioensaio, período este relacionado com respostas
devido ao estresse de manipulação. Isto por si só justifica a necessidade de se realizar estudos mais pormenorizados
sobre os possíveis efeitos estimulatórios e depressores sobre o SNC decorrentes de substâncias ativas presentes no
extrato metanólico de Thevetia peruviana.
Além do bioensaio preliminar para atividade espontânea, foram realizados os testes de citotoxicidade e a atividade
antioxidante. Como resultado do teste de citotoxicidade obteve-se um valor de 0,15; significando uma ligeira reação de
toxicidade em relação aos resultados obtidos para o grupo controle. Este resultado, de certa forma, já era esperado uma
vez que há na literatura relatos de toxicidade pela presença de glicosídeos cardíacos, (Ellenhorn & Barceloux, 1988;
Rates & Bridi, 2001). Estes glicosídeos podem ser subdivididos em dois grupos, um com compostos de cadeias de vinte
e três carbonos, os carbonolídeos, e outro composto de cadeias de vinte e quatro carbonos, os bufadienolídeoestes s.
Seus efeitos inibitórios sobre a atividade cardíaca estão associados à presença de uma cadeia insaturada de lactona e à
estereoquímica da molécula (Vickery & Vickery, 1981). A Thevetia peruviana apresenta no mínimo cinco destes
glicosídeos (Ellenhorn & Barceloux, 1988). Esses glicosídeos são usados na medicina para o tratamento da insuficiência
cardíaca, e intoxicações, que podem ocorrer depois do consumo de chás preparados por partes de plantas ou depois do
consumo de flores, folhas ou sementes de plantas quem contêm substratos estas estruturas moleculares (Vickery &
Vickery, 1981).
A maioria das espécies do gênero Aspidosperma são objetos de extensas investigações na busca de novas
substâncias com atividades biológicas (Di Stasi & Hiruma-Lima, 2002). Do ponto de vista químico já foram submetidas
a algum estudo de isolamento e identificação do princípio ativo presente nas mais diversas partes das plantas. Já do
ponto de vista farmacológico poucos testes foram realizados até então (Oliveira et al., 2009).
No que diz respeito à atividade antioxidante, a solução desta planta apresentou valor igual a 0,4, deixando claro que
a substância é considerada antioxidante, pois apresentou resultado numérico menor que uma unidade, como descrito na
metodologia.
A exploração dos princípios ativos da Thevetia peruviana constitui um exemplo da ampla utilização da
biodiversidade em prol do bem-estar do ser humano e dos animais. Os compostos provenientes da natureza continuam
sendo produtos indispensáveis e de alto valor agregado para a saúde.
Referências
Albuquerque, M. de J.B.; Barreto, T.N.A.; Buonora, E.; Oliveira, É. da C.; Duarte, H.H.F.; Silva, J.W. de L.;
Rabelo, F. R. de C.; Meunier, I.M. Diagnóstico ambiental preliminar do campus de Dois Irmãos da UFRPE como
XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.
subsídio ao zoneamento ambiental. In: XIII Jornada de Ensino, Pesquisa e Extensão, 2009, Recife.
<http://www.eventosufrpe.com.br/jepex2009/cd/resumos/R0094-1.pdf> 16 Set. 2013.
Di Stasi, L.C. Asteridae medicinais na Amazônia e na Mata Atlântica. In: Di Stasi, L. C.; Hiruma-Lima, C. A. Plantas
medicinais na Amazônia e na Mata Atlântica. 2. ed. São Paulo: UNESP, 2002.
Ellenhorn, M.J. & Barceloux, D.G. Medical Toxicology: diagnosis and treatment of human poisoning. New York:
Elsevire, 1988.
Malone, M.H. The Pharmacological Evaluation of Natural Products General and specific approache To Screening
ethnopharmaceuticals; Journal of Ethnopharmacology 8, 1987.
Oliveira, V.B.; Freitas, M.S.M.; Mathias, L.; Braz-Filho, R.; Vieira, I.J.C. Atividade biológica e alcaloides indólicos do
gênero Aspidosperma (Apocynaceae): uma revisão. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v.11, n.1, p.92-99, 2009.
<http://www.scielo.br/pdf/rbpm/v11n1/15.pdf>. 16 Set. 2013.
Rates, S.M.K. & Bridi, R. Heterosídeos cardioativos. In: Simões, C.M.O.; Schenkel, E.P.; Gosmann, G.; Mello, J.C.P.;
Mentez, L.A.; Petrovick, P.R. Farmacognosia: da planta ao medicamento. 3. ed. Porto Alegre: Universidade/UFRGS,
2001.
Rates, S.M.K. Promoção do uso racional de fitoterápicos: uma abordagem no ensino de farmacognosia. Revista
Brasileira de Farmacologia, v.11, n.2, p. 57-69, 2001. <http://www.scielo.br/pdf/rbfar/v11n2/a01v11n2.pdf>. 17 Set.
2013.
Schvartsman, Samuel. Plantas venenosas. São Paulo, SP: Sarvier, 1979.
Vickery, M.L. & Vickery, B. Secondary Plant Metabolism. Hong Kong: The Macmillan Press Ltd, 1981.
Figura 1. Atividade espontânea em camundongos sob o efeito do extrato metanólico de Thevetia peruviana (pers.)K. Schum.
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