Abril Iniciando Abril (dia 06) vemos uma tentativa de balanceamento com as relações entre Rússia e EUA principalmente em relação ao escudo antimíssil quando, no dia 6, “Medvedev promete continuar com o avanço das relações entre EUA e Rússia”, assim como fez seu antecessor, Putin. Segundo Medvedev, nos últimos anos, muito foi feito para o avanço das relações entre os países, o que foi fundamental para a segurança internacional. Na agenda de reunião estão temas de interesses comuns como a segurança, a não-proliferação de armas de destruição em massa, a economia e a luta contra o terrorismo. Entretanto, paralelamente, o presidente americano, George Bush conseguiu sinal verde da OTAN para a construção do antimíssil que os EUA pretendem construir na Polônia e na República Tcheca, o que seria uma ameaça ao território russo. Seguindo com as relações Rússia e Ucrânia do final de Fevereiro e início de Março, temos no dia 07 que a “Entrada da Geórgia e Ucrânia na OTAN causa divergências”. Além do papel ucraniano nesta relação, surge um novo ator neste cenário que terá importância crucial posteriormente. Voltando à notícia, temos a afirmação da secretária de Estado dos Estados Unidos, Condoleezza Rice, que disse que as portas da OTAN estão abertas para que a Geórgia e a Ucrânia tornem-se membros. A Rússia, entretanto, tem convicções diferentes (reiteradas por um grupo de países europeus liderados por Alemanha e França), de que tais países não satisfazem os critérios mínimos para a entrada na Organização. Ainda no dia 7, “Rússia pode dobrar a produção de armas convencionais”, que demonstra a intenção russa em aumentar, para além do dobro a produção de armamentos convencionais. Dia 13, temos um enfoque ambiental em que um “Prefeito quer fechar cidade tóxica na Rússia”. Chapayevsk, que no passado contou com grande número de indústrias que produziam armas químicas na região, teve seus lençóis freáticos contaminados o que fez com que cerca de 96% das crianças da cidade tivessem problemas de saúde. Deste modo, o prefeito viu como única solução viável, simplesmente abandoná-la para evitar maiores danos aos habitantes. Mais uma notícia do cenário político, no dia 16 temos: “Putin concentra poder antes de deixar a presidência”. Putin se aliou ao maior partido de coalizão do seu governo, o “Rússia Unida”. Este partido será liderado por ele no Duma, que consiste na Câmara Baixa do Parlamento Russo. Esta ação foi decisiva para que a organização obtivesse mais de 2/3 dos lugares no Duma. Esta é uma estratégia deliberada para continuar a ser a principal figura política do país e ter uma maior influência sobre o novo presidente. Reforçado pela notícia do dia 19 de Março, temos mais uma face econômica da Rússia e uma clara relação de cooperação comercial e tecnológica com os países integrantes do grupo BRICs: “Brasil e Rússia assinam acordo para construção de foguetes e aviões” que prevê também cooperação para o lançamento de satélites. Segundo autoridades russas, o Brasil é um país estratégico na América Latina e um programa de tal magnitude contemplaria um treinamento avançado na área cibernética e seria essencial para a defesa e evolução da tecnologia brasileira. No campo das relações bilaterais, no dia 21, “Rússia perdoa antiga dívida da Líbia”. Precisamente, cerca de 70% da dívida da Líbia para com Rússia será perdoada – cerca de 4,6 bilhões. Entretanto, este perdão se dará em troca de contratos governamentais benéficos para empresas russas atuarem no país, prevendo-se a construção de uma ferrovia, cujo custo chegará a 2,2 bilhões, que será realizada por uma estatal russa. Vê-se, então, o beneficio que a Rússia terá em perdoar a dívida. Ainda no dia 21 e depois, no dia 28, temos uma reaparição de um ator importante na atual conjuntura: Geórgia; temos: “Geórgia acusa Rússia de quebra de soberania após derrubada de avião” e “Geórgia anuncia que bloqueará entrada da Rússia na OMC”, respectivamente. Na primeira notícia, a Geórgia pediu uma reunião na ONU alegando quebra de soberania depois da derrubada de avião, mesmo que a ação tivesse sido reivindicada por uma região separatista da Geórgia, a Abkházia. Antes do ocorrido já havia uma movimentação russa no sentido de fortalecer seus laços com regiões separatistas da Geórgia. Por conta disso, a Geórgia tentaria bloquear a entrada da Rússia na OMC. Estas questões terão grande importância futuramente e são diretamente ligadas à Guerra entre Rússia e Geórgia que eclodiria em Agosto. Podemos ver, entretanto, o desenvolver desta meses antes. Maio O mês de maio pode parecer um mês sem importancia no ano de 2008 para a atual conjuntura da Rússia. Mas se analisarmos muito bem as noticias, podemos perceber que no mês e maio já aconteciam determinadas coisas que se desenvolveriam mais intensamente com o decorrer do tempo. Neste mês assuntos relacionados à fontes energéticas foram discutidos, principalmente com Japão e Ucrânia, sobre o petróleo e gás respectivamente, um assunto de total importância pois a Europa é grande consumidora do gás russo e um corte deste fornecimento poderia causar sérios problemas pros países europeus. Em maio também vemos o inicio de um conflito entre Rússia e Geórgia, onde acusações sobre o abatimento de alguns aviões foi o motivo pra esse possivel conflito. Um desfile militar também foi feito neste mês para comemorar a vitória da Rússia na segunda Guerra Mundial, mostrando assim que ainda possuem um forte poder militar. Outros dois pontos muito importantes que podem ser destacados neste mês são relacionados à crise de alimentos e ao escudo anti-mísseis dos EUA. A crise dos alimentos foi discutida entre o BRIC, intensificando seus laços, pois estes 4 países se encontram na lista dos 10 países mais populosos do mundo e assim necessitam de grande quantidade de alimentos. Moscou importa 70% de seus alimentos, mas este fato foi relacionado à falta de capacidade dos produtores de gado da região. O escudo anti-mísseis gerou tensões entre Rússia e EUA, pois a Rússia acredita que o escudo é desnecessário e a instalação deste desequilibraria o poder da Ásia, sentindo-se assim ameaçada. Rússia conta com o apoio da China neste ponto e acredita que a solução do problema com a Coréia do Norte deve ocorrer de forma pacifica. Podemos notar aqui que o mês de maio apresenta fatos que viriam a desenvolver ao decorrer do tempo, chegando a gerar um conflito armado de grande importância. Junho O mês de junho começa com três reportagens relevantes à política externa russa. Apesar de apresentarem manchetes que aparentemente focarão diversos assuntos, dão ênfase ao começo das tensões em relação à Geórgia devido às suas tentativas de adesão à OTAN. Sendo todas referentes ao dia 06/06, são elas: “Rússia diz que adesão da Geórgia à OTAN motivará separatistas”; “Medvedev se reúne com líderes da ex-União Soviética”; e “Rússia alerta sobre países vizinhos sobre eventual ingresso na OTAN”. Na primeira, o chanceler Sergei Lavrov declara que iniciativas georgianas de entrada na OTAN não resolveriam seus conflitos com as regiões separativas da Ossétia do Sul e da Abkházia. Ele condena essas iniciativas e diz que o Presidente Dmitry Medvedev pressionará o presidente georgiano a não usar a força contra essas regiões. Moscou declara que a adesão à OTAN ameaçaria a segurança russa, dado que a Geórgia faz parte de sua esfera de influência. Na segunda reportagem, também do dia 06/06, Dmitry Medvedev encontra-se com líderes da Comunidade dos Estados Independentes (CEI), sendo esta sua primeira reunião de grande expressão desde que assumiu a presidência, sendo seguida por reuniões informais com cada líder. A reunião ocorreu em meio às tensões de Moscou em relação às tentativas de ingresso de Geórgia e Ucrânia à OTAN. Ainda no mesmo dia na terceira reportagem, fala-se claramente sobre a posição russa em relação à situação dos países indicados na reportagem anterior. Em relação à Geórgia, a Rússia declara que a adesão do tratado apenas servirá para criar uma espiral de conflitos e presenciar mais um derramamento de sangue. Em relação à Ucrânia, declara que se este país aderisse ao tratado, à Ucrânia destruiria o pacto de amizade com os russos e criariam problemas para a segurança da Rússia. Analistas acreditam que se essa relação bilateral entre esses países se rompesse, a Rússia contestaria a soberania ucraniana sobre a península da Criméia. No dia 19/06, mais um acontecimento agrava as tensões entre Rússia e Geórgia. Na reportagem intitulada: “Rússia adverte Geórgia por ‘provocação’ na prisão de soldados”, o general russo declara que se “provocações” continuarem, os soldados mantenedores da paz em Abkházia, mudarão sua postura. As “provocações” fazem referência à breve prisão de quatro soldados, que segundo autoridades georgianas, portavam armas não-autorizadas. Em contrapartida, o general Burutin afirma que os mantenedores da paz têm todo o direito de se defender. Essa situação reforça a crescente tensão entre esses países nas últimas semanas. No dia 25/06, na reportagem “Novo homem do Kremlin segue em estilo diferente de Putin”, afirma-se que o novo presidente transmite a mensagem de Moscou de modo contrastante ao de Putin. Em seu discurso, ele enfatizou a liberdade, o direito à propriedade privada e a lei. Não fez ataques ao Ocidente e não mencionou sua posição em relação ao projeto americano de escudo antimísseis ou ao ingresso na OTAN de4 Ucrânia ou Geórgia. No entanto, mesmo tendo um discurso diferente de Putin, isso não significa que sua política será nova. Para tanto, é necessário reforçar que durante campanha eleitoral este sempre afirmou que daria continuidade às políticas do governo na época vigente. No dia 27/06, a reportagem “U.E. e Rússia laçam negociações para novo pacto” mostra o começo das negociações com União Européia para uma nova cooperação estratégica. Para as questões de segurança, o presidente russo aproveitou para criticar os EUA e seu projeto de implantação do escudo antimísseis e declarou que a União Européia não deveria deixar a cargo de outros países a garantia da segurança no bloco. Essas negociações têm objetivo de substituir o pacto que expirou em 2007. Elas foram paralisadas pela primeira vez pela Polônia, quando esta contestava o embargo de importação para a Rússia de carnes e derivados produzidos em território polonês. A segunda a paralisar as negociações foi à Lituânia, que pedia um debate sobre o apoio russo às regiões separatistas da Geórgia e Moldávia.