Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS REVIEW ARTICLE ANALGESIA EM PACIENTES COM DOR CRÔNICA ONCOLÓGICA José Carlos Carvalho Miele Junior, Samuel De Souza Ferreira1, Múcio José Breckenfeld Lopes Fernandes2 RESUMO Este trabalho tem como objetivo investigar e pesquisar a importância, os principais e mais eficazes métodos de sanar ou controlar a dor de forma eficiente em pacientes oncológicos que apresentam dor crônica. O quadro de dor é um achado importante na maioria dos pacientes que apresentam neoplasias, e está intimamente ligada a diminuição da qualidade de vida desse grupo de pacientes. No corpo dessas análise será explicitado os principais métodos de controle da dor e melhoria da qualidade de vida em pacientes oncológicos. Palavras-chave: Analgesia ;Dor crônica; Oncologia; Opióides. 1 Graduandos do curso de Medicina pela Universidade Federal do Tocantins. e-mail: [email protected]; [email protected] . José Carlos Carvalho Miele Junior. Endereço para correspondência: Quadra 404 norte, Alameda 28, n. 1, Plano diretor norte, CEP. 77006-450 Palmas –TO. 2 Professor orientador: Médico, Bacharel em Direito, licenciatura em Ciências Biológicas e Filosofia. Especialização em Saúde da Família e Saúde Coletiva. 103 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS REVIEW ARTICLE: ANALGESIA IN PATIENTS WITH CHRONIC PAIN ONCOLOGIC ABSTRACT This study aims to investigate and research the importance, the main and most effective methods to cure or control pain effectively in cancer patients with chronic pain. The painful condition is an important finding in most patients with cancer, and is closely linked to decreased quality of life of these patients. In the body of these analyzes will be explained the main methods of controlling pain and improving the quality of life in cancer patients. Keywords: Analgesia; Chronic pain; Oncology; Opioids . 104 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS obtêm INTRODUÇÃO analgesia adequada. A prevalência diária mundial de dor A dor é, atualmente, definida neoplásica é de 4 milhões de pessoas e a como uma experiência sensorial e prevalência anual é de 19 milhões. emocional desagradável, relacionada a (Hammack). dano tecidual real ou potencial, sendo A dor associada ao câncer pode sempre uma experiência subjetiva. A ser devida ao tumor primário ou suas percepção da dor envolve, portanto, metástases, à terapia anti cancerosa e é dois componentes: o estímulo doloroso descrita como “dor total”, pois além da (nocicepção) e a reação emocional à dor nocicepção, (MELZACK). emocionais, sociais e espirituais influem O sistema fatores físicos, central na gênese e na expressão da queixa (SNC), juntamente com outras inúmeras (Saunders CM).Seu controle merece ser estruturas pela tratado como prioridade devido a vários percepção dolorosa, e essa sensação é fatores, primeiramente o não tratamento mediada da dor causa sofrimento desnecessário, são nervoso outros responsáveis por neurotransmissores realizam a inúmeros diferentes função bioquímica que levando a uma dificuldade de realizar as de atividades diárias e certa exclusão social transmitir a dor. e dependência do paciente a família e Uma das principais causas de cuidadores. dor crônica no mundo é aquela dor Com base nos fatores definidos relacionada com neoplasias. Dentre os anteriormente, desconfortos pelos importância dos sintomas dolorosos no pacientes com câncer, a dor é apontada contexto do binômio saúde-doença, como muito frequente, acometendo tem-se cerca de 50% dos pacientes em todos os sintoma estágios da doença e em torno de 70% doenças, principalmente aqueles com daqueles neoplásicas. Esse estudo de revisão da experimentados com doença avançada a motivado em a revisão pacientes desse várias literatura milhões de pessoas, nos EUA, sofriam melhores métodos de sanar a dor de de algum tipo de neoplasia. Entretanto, pacientes com câncer que apresentam dados demonstram que 50% a 80% dos esse quadro. 105 como com da (BONICA, 1990). Em 1991, cerca de 7 pacientes portadores de neoplasias não tem observação enfoque os Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS Degrau 1 DISCUSSÃO Pacientes que não estão sob tratamento A Organização de analgésico e com dor leve a moderada Saúde (OMS) lançou, em 1986, uma deve ser tratada com drogas anti- norma de conduta para controle de dor inflamatórias. As drogas empregadas em pacientes oncológicos, que é usada incluem até hoje como parâmetro apesar de já inflamatórios não hormonais (AINES). existirem outras condutas paliativas e A baixa potência associada aos efeitos alternativas a escada analgésica da colaterais desses medicamentos, como OMS. Esse método, quando aplicado de gastropatia, forma correta, tem sucesso em cerca de hepatopatia, limitam sua eficiência. 90% (OMS) dos casos Mundial (VENTAFRIDDA, paracetamol e insuficiência anti- renal e 1990). Existem basicamente cinco Degrau 2 princípios que devem ser considerados nesse algoritmo que são: Via Oral: Em pacientes com dor preferencialmente a medicação deve ser moderada, a despeito do uso dos AINE, oferecida pela via oral; Tempo de devemos Administração: opióides fracos como tramadol ou É respeitarmos o fundamental intervalo de codeÌna. adicionar ao Alguns tratamento investigadores administração, de acordo com a meia preconizam o uso precoce do degrau 2, vida para pacientes com dor moderada e sem de cada droga; Avaliação individual: uma avaliação contínua deve ser empregada tratamento, adversos e durante todo tratamento prévio.(OMS) o antecipando os efeitos corrigindo as doses; Degrau 3 Respeitar a escada analgésica da OMS; O degrau 3 é reservado para os Orientação correta: Orientar o paciente pacientes que não obtiveram controle da e aos cuidadores é fundamental. dor com o uso de opióides fracos e A escada é formada pelos AINES. Nesse degrau, substituímos os seguintes degraus: opióides fracos por opióides fortes como morfina, metadona, oxicodona ou fentanil. (OMS) 106 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS A morfina é o opióides mais utilizado para o controle da dor oncológica, sendo o fígado o principal sítio de metabolismo da droga. Além da via oral, podemos subcutânea, domiciliar, para utilizar o a via tratamento respeitando sempre os princípios básicos da administração de OPIÓIDES FORTES Os opióides fortes mais fentaniltransdérmico, metadona e avaliação oxicodona. individual, Outra droga bastante utilizada é o fentaniltransdérmico. Apesar de alguns estudos utilizarem a droga no receptores opióides. Estes existem em tratamento da dor aguda, seu uso deve neurônios de algumas zonas do cérebro, ser recomendado apenas durante o medula espinal e nos sistemas neuronais tratamento da dor crônica. Ele é do intestino. utilizado geralmente em pacientes com receptores opióides são tumor importantes na regulação normal da pelos opióides de cabeça e pescoço, impossibilitados de ingerir analgésicos sensação da dor. A sua modulação é pela via oral, seu uso é bem indicado. endógenos Outros grupos que se beneficiam da (fisiológicos), como as endorfinas e as droga são crianças e pacientes com encefalinas. Os administração, de medicação. Os opióides são agonistas dos feita intervalo a orientação correta sobre o uso da (VENTAFRIDDA, 1990). Os o respeitar a escada analgésica da OMS e empregados no nosso meio são a morfina, analgésicos: efeitos colaterais severos à morfina, opióides endógenos são como delírio, constipação e vômitos peptídeos, ou seja, possuem caráter (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001). protéico, já os fármacos opióides usados Outro em terapia não são proteínas, porém têm bastante conformações semelhantes em solução opióide que ganhou notoriedade nos últimos tempos foi a oxicodona. Ele possui às dos opióides endógenos, ativando os características que o fazem um bom receptores em substituição destes. fármaco, como o como baixo custo, 107 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 excelente ausência SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS biodisponibilidade de metabólitos oral, ativos PROCEDIMENTOS INVASIVOS e facilidade de administração. Infelizmente, cerca de 10% dos pacientes EFEITOS COLATERAIS DOS não satisfatória OPIÓIDES obtém com analgesia medicamentos considerados refratários ao tratamento, enquanto que outros não toleram os O uso crônico dos opióides esta efeitos colaterais como a sedação associado a uma grande variedade de excessiva, náuseas, vômito e delírios. efeitos colaterais. Os mais comuns são Neste náuseas, distúrbios procedimentos invasivos podem ser cognitivos. A prevalência desses efeitos empregados como bloqueios de nervos, é influenciada pela extensão da doença, analgesia idade cirúrgicas. (PANCHAL, 2000). vômitos do e paciente, presença de grupo de pacientes, espinhal e alguns intervenções insuficiência renal ou hepática, o uso de O principal método invasivo outros medicamentos, dose e via de utilizado pelos anestesistas para esses administra-o do opióides (MAHONY, casos é a Neurólise Química do Eixo 2001). Simpático, Sintomas gastrointestinais são empregados que são como procedimentos adjuvantes no bastante frequentes. Náusea e vômitos controle da dor de origem visceral. Os são comuns no início do tratamento, principais bloqueios são realizados no mas plexo hipogástrico superior e no plexo tolerância a esse efeito se desenvolve rapidamente, por outro lado, celíaco. a constipação intestinal persiste ao longo do Plexo concomitante de laxativos é quase empregado em pacientes com dor universal. Nesses pacientes, uma dieta pélvica de difícil controle, como, por rica pelo exemplo, no tumor de útero. O plexo nutricionista é importante. (BRUERA, hipogástrico superior é uma estrutura 1989) bilateral e retroperitoneal localizada em orientada o do Hipogástrico Superior é usualmente fibras, e bloqueio uso em tratamento, O nível do terço inferior de L5 e do terço superior de S1. A interrupção das fibras nervosas aferentes que inervam as 108 Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS estruturas pélvicas e que caminham ao ESTIMULAÇÃO longo de nervos simpáticos e gânglios é TRANSCUTÂNEA o (TENS) objetivo da técnica.(PANCHAL, ELÉTRICA DO NERVO 2000). O bloqueio do Plexo Celíaco é A estimulação elétrica pode normalmente empregado nos pacientes trazer inúmeros com dor abdominal localizada no andar indicada no controle da dor oncológica, superior do abdome, como no tumor de pois, com a redução da dor, o paciente pâncreas. O plexo celíaco também é aumenta o seu nível de função e responsável pela inervação do fígado, atividade, pode participar de programas vesícula biliar, omento e o trato de exercícios físicos e melhorar a sua alimentar desde o estômago até a porção qualidade de vida. É um recurso não transversa do cólon. O plexo celíaco invasivo e de fácil aplicação, que pode esta situado no espaço retroperitoneal, ser utilizado em pacientes jovens, em nível de T12 e L1, envolvendo a adultos e idosos, com possibilidades de aorta e as artérias celíaca e mesentérica. induzir analgesia provoca ANALGESIA ESPINHAL benefícios efeitos quando prolongada. Não colaterais, tem pouquíssimas contraindicações e não apresenta A administração intraespinhal de custo elevado (PENA; BARBOSA; ISHIKAWA, 2007). opióides ganhou importância após o Existem vários subsídios que descobrimento de receptores opióides tentam explicar como a TENS pode na substância gelatinosa da medula, em atuar como adjuvante no controle da dor 1976 consequentemente oncológica, porém, concluem que muito reconhecimento de que os opióides se tem a discutir e descobrir sobre o real possuem ação analgésica supra-espinhal papel desta modalidade analgésica uma e espinhal. A indicação mais aceita vez que a maioria dos estudos enfatiza sobre a utilização da via espinhal, em que a dor associada ao câncer é pacientes com câncer, é a incapacidade multifatorial e, por isso, a grande de obter um balanço satisfatório entre dificuldade de encontrar comprovações analgesia científicas mais concretas para tal e com o efeitos adversos dos opióides.(ONOFRIO, 1990). tratamento (PENA; ISHIKAWA, 2007). 109 BARBOSA; Rev Pat Tocantins V. 3, n. 04, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS 2.DAUT. R.L.; CLEELAND, C.S. The CONCLUSÃO prevalence and severity of pain in Sendo assim o controle da dor cancer.. PubMed, 50:1913-1918, nov. no paciente oncológico é de extrema 1982. Disponível em: < importância http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/7 para o sucesso do 116316>. Acesso em: 03 set. 2016. tratamento e para a manutenção da qualidade de vida desse grupo de pacientes. Estão surgindo várias terapias 3.MAHONY S, Coyle N.; PAYNE, R. inovadoras que tentam substituir o uso Current management of opioid -related de opióides ou outros analgésicos side devido ao seu grande número de reações effects. Oncology, 15(1): 61-81, 2001. colaterais indesejáveis. Cabe ao profissional de saúde se situar nesse 4.MINISTÉRIO DA SAÚDE. 2001. mundo de inovações e utilizar aquelas Instituto Nacional de Câncer: cuidados que são comprovadamente eficazes no paliativos oncológicos controle da dor. tratamento desse sintoma. Portanto a Rio de Janeiro, 2001. 130 p. Disponível atualização médica no estudo, manejo e em: conduta relacionada à dor é de extrema http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicaco importância acadêmica e profissional. es/inca/manual_cuidados_oncologicos.p df. Acesso em: 03 set. 2016. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 5.OLIVEIRA, Charles. Escada 1.BRUERA E, Macmillan K, Hanson J. analgésica da dor de câncer (OMS). The cognitive effects of the Campinas, SP: 2010. 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