12 l O País l Quinta - feira, 09 de Outubro de 2014 Quinta - feira, 09 de Outubro de 2014 l O País l 13 opinião Boom dos recursos naturais não renováveis: Quais são os Potenciais Impactos na Competitividade da Agricultura? Maria Dengo [email protected] As perspectivas indicam que a expansão da indústria extractiva vai de facto mudar o espaço económico em Moçambique. Como o aumento substancial das receitas resultantes da economia extractiva (gás, carvão e outros minerais) na economia, ceteri paribus, o metical tenderá a apreciar e isso pode levar a um declínio na competitividade de sectores de bens transaccionáveis , como é o caso da agricultura. O sector agrícola de Moçambique fornece alimentos e outros produtos agrícolas para mais de 25 milhões de consumidores domésticos, bem como matéria-prima a uma agro-indústria em crescimento. De acordo com a revista Business Monitor International (BMI) o valor de mercado de agro negócio em Moçambique deve crescer 2,3% anualmente entre 2013-2017 . O sector agrícola está intrinsecamente ligado e é influenciado por mercados da região, Europa, Ásia e do resto do mundo através de produtos exportados e produtos e insumos importados. Nos últimos seis anos, as exportações agrícolas têm contribuído consistentemente com cerca de 20 % do valor total das exportações de Moçambique. Isto acontece num contexto de crescimento rápido das exportações, com maior peso das exportações de recursos minerais. Entre 2008 e 2013 as exportações do país cresceram cerca de 60 por cento . O papel do sector agrícola, sem dúvida, não pode ser ignorado, é um sector que tem crescido em paralelo à recuperação e ao crescimento da economia, com taxas de crescimento médio anual de 8%, desde meados da década de 1990. Para continuar a desempenhar o seu (agricultura) papel importante na economia do país e contribuir para o crescimento e desenvolvimento mais sustentável, os agricultores em Moçambique devem orientar a sua produção ao mercado e reforçar a sua competitividade. Produtividade, rentabilidade e acesso a mercados são fundamentais para a competitividade da agricultura em Moçambique. aumento substancial das receitas resultantes da economia extractiva (gás, carvão e outros minerais) na economia, ceteri paribus, o metical tenderá a apreciar e isso pode levar a um declínio na competitividade de sectores de bens transaccionáveis , como é o caso da agricultura. Este fenómeno conhecido como “Doença Holandesa”, no contexto de maldição dos recursos naturais, tem sido experimentado em outros países, tal como a Venezuela (petróleo), Angola (diamantes, petróleo), a República Democrática do Congo (diamantes), para mencionar alguns. Se a “Doença Holandesa” ocorrer em Moçambique, o que poderia significar para o pequeno agricultor que produz arroz no Xai-Xai? algodão no Niassa ou Nampula? tomates no Distrito de Moamba? soja na Zambézia, ou para a agro industria? Com mais de 70% da população Moçambicana dependente da agricultura, qual seria o pior cenário da “Doença Holandesa”, e de que forma se poderiam mitigar os seus piores efeitos? O que deve Moçambique fazer agora para proteger a agricultura do impacto potencial da “Doença Holandesa” susceptível acontecer com o “boom” de indústrias de recursos não renováveis (gás, carvão e outros minerais)? Para avaliar a resiliência ou vulnerabilidade da agricultura em Moçambique face as possíveis pressões da “Doença Holandesa”, o estudo acima citado analisaram cinco cadeias de valores seleccionados em consulta com as partes interessadas na indústria agrícola. As cadeias de valor seleccionadas representam um corte transversal de cadeias de valor agrícola em Moçambique, vistas sob diferentes ângulos: Muito embora predomine uma percepção de prevalência de um sector agrário paralisado, de facto existem sinais positivos de uma agricultura com grandes possibilidades de desenvolvimento. Existem sinais de aumento do uso de insumos melhorados, sinais de diversificação para novas cadeias de valor (soja - avicultura) e aumento de rendimentos em algumas culturas (exemplo: algodão e arroz). Há evidência de novo investimento estrangeiro que em parceria com investidores nacionais têm investido em culturas de exportação (tal é o caso da banana) e de substituição de importações (arroz). Naturalmente, nem tudo é um quadro róseo. Impedimentos permanecem afectando o crescimento do sector agrícola em Moçambique. A dificuldade de acesso à terra limita (não estimula) o investimento a agricultura comercial. Custos associados a transporte e logística (armazenamento, estradas, energia, etc.) dificultam o acesso ao mercado e ao desenvolvimento da agro-indústria. Os mercados financeiros e as instituições de financiamento rural ainda são inadequados. Estes factores ameaçam condenar agricultura a uma indústria atrasada e pouco competitiva. Moçambique terá de resolver estas questões, de modo a capitalizar as oportunidades existentes e promover o desenvolvimento do sector. No contexto do boom de recursos naturais não renováveis, o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Económico e Empresarial (da sigla Inglesa SPEED ), em colaboração com a Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), tem realizado estudos que exploram os potenciais impactos da expansão da economia dos recursos minerais na competitividade do mercado do trabalho e dos principais sectores tradicionais da sua economia incluindo a agricultura. O estudo específico sobre os potenciais impactos da expansão da economia dos recursos não renováveis na competitividade da agricultura esta disponível no site do SPEED. As perspectivas indicam que a expansão da indústria extractiva vai de facto mudar o espaço económico em Moçambique. Como o A competitividade agrícola está condicionada à produtividade e aos mercados. Assim, uma produção agrícola competitiva deve, pelo menos, satisfazer as condições de rentabilidade económica, ou seja, produzir a custos competitivos. O que o mercado procura e quanto o mercado está disposto a pagar ira determinar a competitividade da cadeia de valor agrícola, em função da sua produtividade e rentabilidade. Sendo Moçambique um “pequeno jogador” no mercado agrícola global é de facto um “price-taker”, sem nenhuma possibilidade de afectar o preço de mercado. Deste modo, as taxas de câmbio do metical com moedas globais e os preços regionais e internacionais têm uma grande influência nos incentivos, nas opções e na competitividade de culturas produzidas e nos investimentos a fazer na agro-indústria. A avaliação dos factores que impulsionam a competitividade assentou essencialmente num modelo baseado na analise de custos e rentabilidade das cadeias de valor seleccionadas; e cenários foram explorados dos potenciais impactos do “boom” da indústria extractiva, nas suas diferentes dimensões, tal como o efeito da taxa cambial e outras dimensões qualitativas, como a produtividade ou a “inovação”, qualidade, serviços de agro- processamento, entre outros. Os resultados não são alarmantes. O sector agrícola Moçambicano (representados pelas cadeias de valor analisadas) é relativamente é relativamente competitivo, excepto na cadeia de valor do arroz. A situação muda no contexto de um metical com valor excessivamente apreciado vis outras moedas internacionais. Algum resultados do estudo indicam: ... a agricultura moçambicana pode competir se politicas e estratégias implementadas contribuírem para elevar a fronteira tecnológica e de mercado nas diferentes cadeias de valor; se as actuais “barreiras” ao investimento no sector de agricultura forem relaxados, e se a gestão prudente das receitas do “boom” de recursos esperados apoiar a competitividade da economia Moçambicana no geral e da agricultura em particular. - Bananas e Tomates são extremamente competitivos em ambos os cenários de custos financeiros e económicos, mesmo que o metical aprecie significativamente. A industria da banana esta em crescimento, atraindo investidores, particularmente Sul-Africanos, que em joint ventures com investidores nacionais produzem banana à escala comercial, sobretudo para a exportação. Riscos e desafios enfrentados incluem patologias vegetais (exemplo: a doença do Panamá). A produção de tomate é competitiva nas condições actuais de “proibição de importação” na base de um acordo não oficial vigente na época da produção do tomate em Moçambique. Limitações na produção em escala e durante todo o ano incluem baixos níveis de investimento e falta de capacidade de processamento. - Arroz, aos actuais níveis de rendimento o arroz não é competitivo; mesmo simulando a produção com rendimentos de 4 toneladas por hectare. Num cenário com o metical apreciado, a não competitividade agrava-se. Num cenário com uma taxa de câmbio de 20 MT / $, seria necessário um aumento de rendimento de 9 toneladas por hectare, o que é extremamente ambicioso a curto -médio prazo. Contudo, há evidência de tecnologias promissoras na província de Gaza, onde a cooperação Chinesa está assistindo agricultores moçambicanos seleccionados melhores técnicas que permitem obter-se rendimentos que variam entre 5 às 10 toneladas por hectare. Será possível multiplicar e ampliar esta experiencia? A cadeia de valor do arroz traz a superfície questões de política agrária e alimentar que merecem ser analisadas para a escolha de opções políticas mais adequadas. - Algodão e Soja, ambas as cadeias de valor são competitivos com a actual taxa de câmbio. Os cenários são baseados em sistemas de uso moderado de insumos e rendimentos relativamente altos. Uma apreciação do metical pode tornar a cadeia de valor do algodão não competitiva. A cadeia de valor da soja fica com uma rentabilidade limítrofe, quase não competitivo. Pode-se argumentar que as empresas de descaroçamento do algodão que fornecem serviços agrícolas e garantem a comercialização do algodão deveriam enfocar a sua colaboração e assistência técnica aos produtores de algodão “emergentes”, que actualmente já alcançam rendimentos relativamente altos. Esta estratégia poderia ser expandida para outras culturas orientadas ao mercado. A soja, muito embora competitivo com as actuais taxas de câmbio, poderá ser ameaçada se a indústria avícola Moçambicana não acompanhar a taxas de crescimento da soja. Contudo, a fronteira do mercado da cadeia de valor da soja pode expandir explorando os mercados regionais e investindo no processamento da soja. Que outros aspectos influenciam a competitividade agrícola no pais? A produtividade e rentabilidade são factores chave da competitividade. O crescimento da produtividade é fundamental para o fortalecimento da competitividade da agricultura Moçambicana. A combinação de um metical mais forte e um aumento dos rendimentos restaura rentabilidade para as culturas tradicionais, tais como o algodão. No entanto, os desafios para que o arroz Moçambicano possa competir com as importações dos países Asiáticos e de outros é enorme, requer uma escolha de políticas sustentáveis, investimentos que permitam alcançar rendimentos altos, incluindo uma mudança profunda na cultura de trabalho dos produtores. A produtividade é um factor incontornável, se a agricultura moçambicana vai competir. A história do desenvolvimento das cadeias de valor da soja e da banana são realmente promissoras! Se a produção de arroz (5-10 toneladas / hectare) experimentada com a assistência da Wambao em Gaza pode ser multiplicada e ampliada, se a produtividade do algodão e da soja continuarem a subir, então Moçambique poderia avançar para uma agricultura mais competitiva! Os elevados custos de transporte e logística, as cadeias de valor da agricultura continuam a enfrentar altos custos de transporte, ineficiências portuárias, energia eléctrica inadequada para o processamento. Estes custos elevados impõem desafios pesados (encarecem) as exportações de culturas, como a banana e o algodão -fibra. Eles também impõem uma “protecção natural” contra a circulação de mercadorias no interior do país, tal é o caso da soja e do arroz, cujos mercados principais em Maputo e outros centros urbanos do litoral são prontamente fornecidos por importações. Os investimentos em infra-estrutura (por exemplo, transporte e electricidade) são fundamentais para reduzir os custos de produção agro industrial, da comercialização e para atrair investimentos agro-industriais, contribuindo assim para o desenvolvimento de um sector agrícola mais competitivo. Os custos de transporte e de facilitação do comércio actuais prejudicam a competitividade do sector agrícola. Os custos de Processamento, muito embora as cadeia de valor agrícolas de Moçambique são ainda muito básicas, cadeias de valor do algodão e arroz com algum nível de processamento são pouco eficientes. É conhecido que as taxas de descaroçamento de algodão são relativamente baixas se comparadas com as regionais. Custos de processamento de arroz são considerados altos, devido a reduzida escala de produção, entre outros. Estes e outros problemas enfrentados na indústria agrícola carecem de uma análise e resolução integrada. Sim, a agricultura moçambicana pode competir se politicas e estratégias implementadas contribuírem para elevar a fronteira tecnológica e de mercado nas diferentes cadeias de valor; se as actuais “barreiras” ao investimento no sector de agricultura forem relaxados, e se a gestão prudente das receitas do “boom” de recursos esperados apoiar a competitividade da economia Moçambicana no geral e da agricultura em particular.