História do Brasil Colônia Aula II Objetivo: A expansão europeia e os descobrimentos. A) O processo de expansão europeia (XII - XVI). Para se entender o descobrimento do Brasil deve-se buscar compreender o processo de expansão europeia, diretamente relacionada à expansão comercial, iniciada nos séculos XI e XII, que valorizou a formação de rotas comerciais na Europa, e nos seus arredores. É o momento da formação das ligas comerciais nas cidades europeias, como a liga Hanseática, associação de mercadores das cidades alemãs (Bergen, Berlin, Hamburgo). O processo de expansão sofreria uma breve desaceleração no século XIV motivado pela "Peste Negra", que levou a uma diminuição da população europeia em 1/3, e ao prejuízo das rotas comerciais devido a forte migração dos que fugiam da peste. Outro elemento dessa desaceleração foi a guerra entre as cidades italianas de Gênova e Veneza, motivada pela desaceleração econômica. A derrota de Gênova, além de provocar uma diminuição no comércio internacional, acabou por incentivar a navegação ibérica, pois os genoveses, experientes navegadores, passaram a se empregar a quem os pagasse. Por fim, a guerra dos cem anos entre a França e a Inglaterra completou o quadro de instabilidade geral na Europa. A desaceleração do século XIV, no entanto, não prejudicou com o processo da expansão europeia, pois os índices demográficos do século XIII eram extremamente altos (40-60 habitantes por km²). Ou seja, após a crise o patamar restante se mostrou suficiente para manter a economia aquecida. Na política, o período de expansão da Europa foi caracterizado pelo surgimento da centralização monárquica em países como Portugal, Espanha, Inglaterra, França e Prússia. Não constituía um absolutismo, pois os monarcas tinham de conviver com outras forças políticas como a nobreza, o clero e as corporações de ofícios. A centralização, no entanto, era reforçada pelo surgimento de uma burocracia embrionária, formada pelos funcionários reais, pelo surgimento de uma legislação real, baseada no direito romano, sobrepondo os tributos e o direito local, e, finalmente, pela manutenção de exércitos permanentes, mesmo não constituindo grandes efetivos. No campo intelectual, o surgimento da filosofia nominalista, com Guilherme de Occam, proporcionou a separação entre os estudos das coisas divinas (a sabedoria) e o estudo das coisas naturais e humanas (a ciência). A crítica nominalista ao defender o estudo científico dos fenômenos se configurou em uma das bases das pesquisas e do progresso das ciências dos séculos XV e XVI, extremamente importantes no processo de transição para a modernidade. B) A expansão marítima portuguesa. Os conhecimentos técnicos que favoreceram as grandes navegações como a bússola, o leme central e os portulanos, já eram conhecidos, pelo menos, cem anos antes do início das grandes navegações portuguesas, contudo, esses conhecimentos, oriundos da experiência dos pescadores, comerciantes e piratas, demoraram a ser assimilados pelos escolares e governantes. Os conhecimentos de astronomia e de geografia penetraram no mundo ibérico através dos muçulmanos, que mantiveram muitas das doutrinas gregas, como a da circunferência da terra. Os árabes estimavam a circunferência da terra em 33.000 km, número bem próximo dos 40.076 km reais. Os judeus exerceram um importante papel neste processo, traduzindo os tratados árabes para os ibéricos. A existência de conhecimento técnico e de mão de obra especializada se aliou a fatores econômicos como a queda da produção aurífera na Europa, base de uma crise monetária, no momento de explosão do comércio com o oriente. O conhecimento da existência de minas de ouro na África, exploradas pelos comerciantes muçulmanos, atiçou a cobiça dos portugueses. A valorização da escravidão em Portugal, motivada pela diminuição da oferta de mão-de-obra e pela valorização da mercadoria escravo, funcionaria, também, como um motivador econômico. O espírito cruzadista, também, atuaria de forma relevante, inspirando reis e nobres portugueses a combater os infiéis no norte da África, impedindo assim a propagação do “erro muçulmano”. A benção papal a estas ações contribuiu para revesti-las de uma sanção oficial. Além dos interesses econômicos e religiosos, havia também um forte componente ligado ao imaginário. Havia elementos que serviam como entrave, como a ideia do “mar tenebroso”, e outros que funcionavam como propulsores. Dentre estes merece destaque a crença da existência material do “Jardim do Éden”, e nos mitos do “Eldorado”, e do “Reino de Preste João”, que chegou a possuir duas versões, uma asiática e outra africana, tendo D. Manuel, rei de Portugal na época do descobrimento do Brasil, citado em carta ao rei de Espanha que a esquadra de Cabral havia, dentre outros feitos, localizado indícios da localização deste reino. Os primeiros anos da expansão marítima portuguesa devem ser vistos, portanto, como frutos de vários processos históricos, e dos interesses de diversos agentes históricos. Nesse sentido, não é correto limitar a expansão marítima à ação do Infante D. Henrique e a sua Vila, situada próxima ao Cabo de Sagres. Os objetivos do Infante na expansão estavam vinculados aos interesses comerciais, oriundos da sua posição de governador de Ceuta e do Algarve, além do aumento das rendas da Ordem de Cristo, da qual era chefe, com a conquista de terras aos infiéis. De 1415 a 1460 (ano da morte do Infante) cerca de 30% das viagens marítimas portuguesas foram de sua iniciativa. Se por um lado revela a importância da sua atuação, por outro demonstra que não era o único interessado nas viagens. Nesta fase da expansão marítima portuguesa, até 1460, o alvo não era o caminho para as Índias. Os objetivos se centravam no fortalecimento comercial, e no ataque ao domínio muçulmano no continente africano, umbilicalmente ligados. A expansão se enquadrava, assim, na lógica da cruzada contra os infiéis e do ideal de reconquista de Jerusalém. Essa característica rendeu a Portugal o apoio da Igreja, expresso em várias bulas papais que beneficiavam a expansão portuguesa, conferindo direitos sobre as terras e povos descobertos. Os portugueses entraram em choque com o Reino de Castela, que também se lançava ao mar. A disputa era mediada pela diplomacia e pela Igreja que a princípio favoreceu Portugal. A partir do papado do aragonês Alexandre VI (1492-1503), a situação se inverteria, passando a favorecer os espanhóis. Os dois principais tratados dessa fase foram o Tratado de Alcáçovas (1479) que instituiu o princípio da descoberta como determinante de posse, e estabeleceu o paralelo sobre as ilhas Canárias como limite horizontal entre as possessões portuguesa e castelhana, e o Tratado de Tordesilhas (1494) que estipulava que as terras a 370 léguas a oeste de Cabo Verde pertenciam a Portugal, e as demais à Espanha. Este tratado consolidava o domínio espanhol sobre as terras recém-descobertas por Cristóvão Colombo (1492), e garantia a Portugal o caminho para o oriente por meio do périplo africano. É considerado o marco inicial da diplomacia moderna, pois foi elaborado sem a participação da igreja, que somente o ratificou. C) A viagem de Cabral e o Descobrimento do Brasil. O caminho para as Índias foi possibilitado pelas viagens de Bartolomeu Dias, em 1488 (ultrapassando o Cabo das tormentas), e Vasco da Gama, em 1498 (alcançando Calicute, na Índia). Em 1500 Portugal organizou uma nova expedição para consolidar a rota para as Índias. O comando desta expedição coube a Pedro Álvares Cabral, que tinha como objetivo secundário verificar os recorrentes boatos sobre a existência de terras a oeste das ilhas atlânticas. A esquadra de Pedro Álvares Cabral foi a maior formada por Portugal até então; 13 naus e 1.500 homens entre soldados, religiosos, escrivães, interpretes, cosmógrafos e médicos. Em 22 de abril de 1500 Cabral chega à terra que vai denominar de "Ilha de Santa Cruz". Toma posse e segue para as índias. Existem três relatos sobre o descobrimento, a “Carta de Pero Vaz de Caminha” que retrata a estada no Brasil, a “Carta do Mestre João” também escrita durante a estada no Brasil, e a “Relação do piloto anônimo” que trata da viagem de Cabral a Calicute, e dedica algumas páginas ao descobrimento. Em comum entre os três relatos existe a ausência de comunicação direta com os “índios”, esta se dava através do visual e da interpretação dos gestos. Outra característica do primeiro contato com os nativos foi o uso dos degredados, forma usual entre os portugueses. Considerados elementos de pouco valor se tornavam, na prática, o escalão mais baixo dos funcionários reais. Eram três as funções dos degredados, que muitas vezes eram abandonados nas terras descobertas. Deviam aprender os usos e costumes dos índios, obter informações sobre as riquezas da terra e propagar a fé Cristã. Os primeiros anos da colonização foram marcados pelo desinteresse português, principalmente, devido à lucratividade das rotas africanas e do oriente. A situação só mudaria com o aumento dos lucros do comércio do pau-brasil, e a presença constante de contrabandistas franceses e espanhóis que ameaça os interesses dos comerciantes portugueses que haviam arrendado à Coroa portuguesa este comércio. A contestação por parte da França dos Tratados de Alcáçovas e Tordesilhas, justificava as suas ações. Após apelar para expedições punitivas, o assunto foi resolvido diplomaticamente, no reinado de D. João III, através do Tratado de Saragoça (1529) com os espanhóis, e através de um acordo financeiro com os franceses que estavam em dificuldades com sua economia. Somente em 1530, com a expedição de Martim Afonso de Souza, começaria a colonização efetiva das novas terras.