O CAPITAL INTELECTUAL E O PROCESSO DE ESTIMAÇÃO DE CUSTOS E FORMAÇÃO... 2 O CAPITAL INTELECTUAL E O PROCESSO DE ESTIMAÇÃO DE CUSTOS E FORMAÇÃO DE PREÇOS EM EMPRESAS DE PRODUÇÃO POR ENCOMENDA Ricardo Lanna Campos1 1- INTRODUÇÃO A identificação e o gerenciamento dos ativos intangíveis é fundamental, principalmente em Empresas de Produção por Encomenda, devido às suas especificidades. As Empresas de Produção por Encomenda (EPEs) possuem a particularidade de fabricar seus produtos a partir de pedidos de clientes, sendo cada pedido um novo produto a ser fabricado. Independentemente de ser intensiva em conhecimento ou não, esse tipo de empresa atua em um processo de constante inovação, em virtude dos requisitos de sua demanda. Outra particularidade é que as EPEs concorrem com outras empresas para ganhar pedidos de fabricação. Como cada pedido corresponde a um novo produto, não existe um preço final pré-estabelecido para ser repassado ao cliente. O preço é definido a partir da estimação de custos que a empresa espera incorrer durante a produção. Se os custos estimados forem demasiadamente altos, o preço também será elevado e a empresa oferecerá ao cliente uma proposta menos competitiva em relação aos concorrentes. Por outro lado, se o custo estimado for inferior ao ideal, a empresa, provavelmente, irá incorrer em custos de produção superiores aos estimados e, desta forma, terá prejuízos ao cumprir o contrato de produção firmado com o cliente. Assim, quanto mais precisa a estimação dos custos de produção, mais coerente será o preço a ser repassado para o cliente e, conseqüentemente, maiores as chances da empresa receber um pedido de fabricação. 1 Mestre em Administração, Professor das disciplinas de Administração de Sistemas de Informação e Estágio Supervisionado. Coordenador do Curso de Bacharelado em Administração da Faculdade de Ciências Administrativas de Curvelo. 25 REVISTA DA FACULDADE DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS DE CURVELO Entretanto, a precisão no processo de Estimação de Custos e Formação de Preços (EC/FP) está diretamente relacionada a diversos fatores intangíveis, como o conhecimento aplicado nesse processo, a experiência do estimador de custos, a existência de sistemas de informação, o relacionamento com os clientes. A correta determinação do preço só será realizada se a empresa conseguir identificar e mensurar os ativos intangíveis inerentes a esse processo. Este artigo apresenta os resultados finais da dissertação “O Capital Intelectual e o Processo de Estimação de Custos e Formação de Preços em Empresas de Produção por Encomenda”, defendida em fevereiro de 2003, objetivando identificar os principais ativos intangíveis inerentes ao processo de estimação de custos e formação de preços em empresas de produção por encomenda. A pesquisa descreve, qualitativamente, o processo de estimação de custos e formação de preços em duas empresas de produção por encomenda, identificando, de forma quantitativa, a importância dos ativos intangíveis inerentes ao processo identificado nas duas empresas. Os resultados obtidos dos casos fornecem instrumentos suficientes, tanto para a identificação do Capital Intelectual, quanto para avaliação da compatibilidade dos investimentos realizados pelas empresas com as necessidades do processo decisório. 2- ASPECTOS METODOLÓGICOS Para a realização deste estudo foram selecionadas, por conveniência, duas empresas de produção por encomenda, sendo uma de construções metálicas, a MINAÇO, e a outra do setor de fundição, a COMEC. Nas duas empresas pesquisadas foram entrevistadas as pessoas direta ou indiretamente relacionadas ao processo de estimação de custos e formação de preços. A análise das entrevistas possibilitou modelar o processo de estimação de custos e formação de preços, levantar os principais setores envolvidos nesse processo e suas respectivas decisões, em cada uma das empresas estudadas. Posteriormente, foi aplicado um questionário para cada um dos responsáveis pelos setores envolvidos no processo de estimação de custos e formação de preços. Esse questionário teve por objetivo identificar a relevância dos ativos intangíveis em todas as etapas do processo. Foram avaliados diversos fatores inerentes aos três tipos de Capital Intelectual, propostos por Stewart (1998), conforme descrito abaixo: 26 O CAPITAL INTELECTUAL E O PROCESSO DE ESTIMAÇÃO DE CUSTOS E FORMAÇÃO... Os fatores de cada uma das formas de capital intelectual foram avaliados numa escala de 1 a 7, segundo o grau de importância, sendo 1 “sem importância” e 7 “de importância máxima”. Posteriormente, os fatores de Capital Intelectual foram ordenados, segundo a importância relativa que um fator apresentava em relação a outro. A utilização de questionários para apuração do grau de importância atribuído aos ativos intangíveis inerentes ao processo de estimação de custos e formação de preços é inovadora, para essa finalidade. Barbosa&Gomes (2002) utilizaram métodos quantitativos semelhantes, mas com o objetivo de verificar o grau de importância concedido por empresas brasileiras selecionadas aos seus diversos ativos / recursos intangíveis. 27 REVISTA DA FACULDADE DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS DE CURVELO 3- MODELAGEM DO PROCESSO DE ESTIMAÇÃO DE CUSTOS E FORMAÇÃO DE PREÇOS As duas empresas analisadas apresentam características semelhantes quanto aos métodos utilizados para se estimar custos e determinar o preço de seus produtos. Com base em Needles&Caldwell (1994), Maher (2001) e De Souza (1995), foi possível observar que as empresas não utilizam métodos específicos para estimar o custo de seus produtos. Ao contrário, apresentam características de três metodologias diferentes: as Estimativas de Engenharia, o Método Baseado na Intuição e na Experiência e o Sistema de Estimação de Custos Computadorizados. O processo de estimação de custos da MINAÇO é centrado no Setor de Engenharia, e leva em consideração a quantidade de materiais, as horas de trabalho e as máquinas requeridas para a produção. Entretanto, diferentemente do Método das Estimativas de Engenharia, a MINAÇO considera o custo histórico em suas estimações, e não as condições ótimas de produção. São utilizados Sistemas de Estimação de Custos Computadorizados, baseados em planilhas eletrônicas, alimentados com os custos reais ocorridos em situações anteriores, ou seja, os custos históricos. O Método Baseado na Intuição e na Experiência também é utilizado, na MINAÇO, principalmente para as decisões sobre a viabilidade de se fabricar o produto, e para a determinação da margem de segurança aplicada sobre os custos estimados. Os três métodos de estimação de custos citados para a MINAÇO, também podem ser observados na COMEC. As Estimativas de Engenharia são responsáveis pela determinação da quantidade de material e das horas de mão-de-obra de Calderaria e Usinagem necessárias para a fabricação do produto. A COMEC, assim como a MINAÇO, também utiliza Sistemas de Estimação de Custos Computadorizados, baseados em planilhas eletrônicas. O Método Baseado na Intuição e na Experiência é utilizado, principalmente, na confirmação das horas de mão-de-obra de calderaria e usinagem estimadas pelo Chefe de Orçamentos. Para a determinação do preço dos produtos, tanto a MINAÇO quanto a COMEC utilizam o Método de Formação de Preços Baseado nos Custos. Em ambas as empresas, os custos estimados recebem o acréscimo do mark up que, segundo Bernardi (1998) é uma margem fixa referente aos impostos, despesas e lucro desejado. 28 O CAPITAL INTELECTUAL E O PROCESSO DE ESTIMAÇÃO DE CUSTOS E FORMAÇÃO... Segundo a classificação proposta por Santos (1994), a MINAÇO utiliza o método do preço com base no custo pleno, já que os preços estabelecidos equivalem ao custo total da produção, acrescidos de despesas de venda, de administração e da margem de lucro desejada. A COMEC utiliza o mesmo método, mas faz referência ao método do preço com base nos custos marginais, visando obter uma maior flexibilidade na determinação dos preços, quando a empresa apresenta capacidade produtiva ociosa. A seguir serão descritas todas as etapas do processo de estimação de custos e formação de preços nas duas empresas analisadas. 3.1 MINAÇO A MINAÇO é uma empresa de fundição e usinagem localizada na Cidade de Várzea da Palma, Minas Gerais, com escritório comercial em Belo Horizonte. A empresa iniciou suas atividades em 1989, em uma área industrial própria de 3.750.000 metros quadrados e com capacidade total de 2.000 toneladas / mês na fundição. Conforme a classificação de Slack (1997), a MINAÇO apresenta o processo produtivo do tipo jobbing, com alta variedade de produtos, baixo volume de produção e utilização das mesmas máquinas, ferramentas e matérias primas para a confecção dos diversos tipos de produtos, como por exemplo, para a produção de discos de freio para diferentes modelos de carros. A MINAÇO conta com 380 funcionários, sendo 320 contratados pela própria empresa e 60 provenientes de empresas terceirizadas. O volume mensal de negócios gira em torno de 1.700 toneladas e o movimento financeiro é, em média, de R$ 3 milhões de reais por mês, apresentando rentabilidade que varia entre 11 e 15%. Para modelar o processo de estimação de custos e formação de preços foi necessária uma série de entrevistas. A aplicação e análise dessas entrevistas permitiram a identificação das diversas etapas que compõem o processo de estimação de custos e formação de preços, conforme as etapas descritas a seguir: 1ª Etapa – Pedido do Cliente: o cliente envia o pedido para a área comercial, localizada em Belo Horizonte. Normalmente, o pedido inclui o projeto, contendo todas as especificações para a fabricação do produto. 29 REVISTA DA FACULDADE DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS DE CURVELO 2ª Etapa – Abertura da Ficha de Inclusão: recebido o pedido, a área comercial abre a Ficha de Inclusão para um novo produto. Nessa ficha, coloca-se o nome do cliente, a peça, o código, a quantidade por mês, o volume a ser usinado, a classe do produto e algumas normas gerais. Posteriormente, essa Ficha de Inclusão é enviada à área industrial, em Várzea da Palma. 3ª Etapa – Análise Crítica de Inclusão: a área de Engenharia recebe a Ficha de Inclusão à qual anexa uma Análise Crítica de Inclusão. Nessa análise, identifica-se se é um novo produto ou alteração de algum produto já existente. Posteriormente, essa análise é submetida a todas as áreas que participarão do processo produtivo: controle da qualidade, planejamento e controle da rodução, fusão / moldagem / macharia, acabamento e usinagem. Cada uma dessas áreas verifica a viabilidade de se fabricar o pedido do cliente. 4ª Etapa – Revisão e coleta de dados dos equipamentos: após a aprovação por todas as áreas que participarão da produção daquela peça, a Análise Crítica de Inclusão é enviada para o Setor de Engenharia, que revisará a necessidade dos equipamentos para a produção e as quantidades de mão-de-obra e matéria-prima necessárias. Esses dados serão encaminhados ao Setor de Orçamento. A revisão e coleta de dados dos equipamentos se baseiam nas informações disponibilizadas pelos setores que participaram da Análise Crítica de Inclusão. O objetivo dessa revisão é identificar os equipamentos disponíveis na empresa e verificar a necessidade de se investir em novos equipamentos e máquinas para se atender o pedido do cliente. 5ª Etapa – Apuração do custo: o Setor de Orçamento, com base nas informações enviadas pela Engenharia, prepara as estimativas de custo e as submete ao Gerente Industrial e à Diretoria. As estimativas são preparadas com o auxílio de planilhas eletrônicas. 6ª Etapa – Revisão do custo estimado: o Gerente Industrial, ou a Diretoria, revisam o custo estimado, e estabelecem uma margem de segurança, que vai depender da importância estratégica do cliente e do volume a ser produzido. A margem de segurança é um percentual que se agrega ao custo estimado, de forma a garantir que a empresa não incorra em prejuízo, caso o custo real seja superior ao estimado. “... já tem essa planilha aqui pré-determinada (...) ela apenas foi calibrada para ficar entre 5 a 10% mais alta do que a gente acaba realizando...” (Gerente Industrial – MINAÇO). Esse novo custo estimado é enviado à Área Comercial em Belo Horizonte. 30 O CAPITAL INTELECTUAL E O PROCESSO DE ESTIMAÇÃO DE CUSTOS E FORMAÇÃO... 7ª Etapa – Submissão da proposta: a Área Comercial, após definir o preço de venda, acrescentando as despesas administrativas, encargos financeiros e margem de lucro, submete a proposta ao cliente. 8ª Etapa - Negociação: Se o cliente aprova a proposta, é realizada uma análise aprofundada das especificações para se produzir a peça. Caso contrário, o custo estimado é revisado pelo Gerente Industrial e pela Diretoria para a apresentação de uma nova proposta. 9ª Etapa – Revisão do custo estimado: a revisão do custo estimado é realizada pelo Gerente Industrial, juntamente com o Analista de Custo. Normalmente, busca-se uma redução da margem de segurança incidente sobre o custo estimado. 10ª Etapa – Submissão de uma nova proposta: se o cliente aprova a nova proposta, realiza-se uma análise aprofundada das especificações para se produzir a peça. Caso contrário, o custo estimado é novamente revisado pelo Gerente Industrial e pela Diretoria para a submissão de uma nova proposta. 3.2 COMEC A COMEC é uma empresa de construções metálica e civil, fundada em 1981. Segundo a classificação cruzada de Schroeder de sistemas produtivos (tipo de fluxo de produto x tipo de atendimento ao cliente), citada por Moreira (2001), a COMEC apresenta fluxo de projetos orientados por encomenda. A variedade de produtos fabricados pela empresa é alta, com um baixo volume de produção, seguindo as especificações dos clientes. Atualmente, a empresa conta com 160 funcionários distribuídos numa área de 22.000 metros quadrados. Nos últimos dois anos, a COMEC apresentou um aumento no faturamento na ordem de 20% ao ano. Entretanto, a expectativa é que o faturamento sofra uma redução, também de 20%, no ano de 2002. A modelagem do processo de estimação de custos e formação de preços da COMEC obedece às seguintes etapas: 1ª Etapa – Pedido do cliente: o cliente realiza uma coleta de preços junto a diversas empresas e solicita uma proposta da COMEC para a realização de um determinado produto. 31 REVISTA DA FACULDADE DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS DE CURVELO 2ª Etapa – Avaliação inicial: a Área Comercial da COMEC recebe a solicitação do cliente e faz uma avaliação inicial do pedido, verificando a viabilidade de se fabricar o produto. Caso a fabricação não seja viável, a COMEC encerra o processo e não submete nenhuma proposta. Caso tenha condições de atender à solicitação do cliente, a Área Comercial envia a solicitação da proposta para o Setor de Orçamento. 3ª Etapa - Quantidade de Horas de Mão-de-obra / Materiais / Serviços de Terceiros: o Chefe de Orçamento estima a quantidade de horas de mão-de-obra necessária de Usinagem e Calderaria, o volume de materiais que serão gastos e a necessidade de se terceirizar algum serviço.. Enquanto a Calderaria lida com a fabricação, montagem e solda das estruturas metálicas, a Usinagem é responsável pela lapidação e acabamento dos produtos. Quando necessários, são terceirizados os serviços de Calderaria ou Usinagem. Normalmente, a terceirização ocorre quando o pedido do cliente ultrapassa o limite da capacidade produtiva da empresa. O serviço de pintura também pode ser terceirizado. “Aqui hoje nós estamos com a casa cheia; nossa caldeiraria e usinagem tá muito cheia hoje, tá superlotado, então nós estamos subempreitando o trabalho de caldeiraria para uma empresa que mexe com caldeiraria que é de pequeno porte e eles fazem o trabalho pra nós”. (Gerente Administrativo Financeiro) 4ª Etapa – Confirmação das informações: o tempo estimado de horas de mão de obra que serão gastas de Usinagem e Calderaria é confirmado pelo Chefe de Usinagem e Calderaria. 5ª Etapa – Valorização dos custos: para valorizar os recursos produtivos estimados (mão de obra, materiais e serviços de terceiros), o Chefe de Orçamento consulta o Gerente Administrativo, o Chefe de Compras e Fornecedores. Com base no balancete do mês anterior, o Gerente Administrativo Financeiro fornece os valores referentes ao custo de mão-de-obra e o Chefe de Compras, fornece o custo dos materiais. Sempre que necessário, o Chefe de Orçamentos consulta alguns fornecedores para estipular os valores referentes aos serviços de terceiros. 6ª Etapa – Acréscimo do mark up: o custo de produção, identificado na etapa anterior, recebe o acréscimo do mark up. O mark up é definido com base nas alíquotas de Imposto de Renda, ICMS, PIS/CONFINS, no lucro desejado e no percentual de despesas administrativas, apurado com base nos gastos ocorridos no passado. Esses gastos são apurados em balancetes dos meses anteriores e analisados conforme a porcentagem que representam frente às receitas. 32 O CAPITAL INTELECTUAL E O PROCESSO DE ESTIMAÇÃO DE CUSTOS E FORMAÇÃO... 7ª Etapa – Submissão da proposta: depois de acrescida do mark up, a proposta é submetida ao cliente. Caso o cliente aprove, é elaborado um contrato de prestação de serviços e são iniciados os procedimentos para se fabricar o produto. 8ª Etapa - Negociação: caso o cliente não aprove a proposta inicial, inicia-se um processo de negociação, ocasião em que a COMEC busca adequar o preço final às expectativas do cliente, realizando revisões no mark up. 9ª Etapa – Revisão do mark up: a negociação por parte da COMEC é realizada buscando-se alterações na margem de lucro que integra o mark up. Verifica-se, também, a quantidade de encomendas que a empresa está atendendo para prever variações sobre o mark up. Se a empresa está atendendo a poucos pedidos, por exemplo, procura-se estipular uma margem próxima ao orçamento, para, pelo menos, cobrir os custos fixos da empresa. 10ª Etapa – Submissão de uma nova proposta: após realizadas as revisões expostas sobre o mark up, é submetida uma nova proposta ao cliente. Caso o cliente aprove, é elaborado um contrato de prestação de serviços, e a COMEC inicia os procedimentos para se fabricar o produto. Caso contrário, retorna-se ao processo de negociação. 4– IDENTIFICAÇÃO DOS PRINCIPAIS ATIVOS INTELECTUAIS O resultado obtido para os três tipos de Capital Intelectual – Capital Estrutural, Humano e de Clientela, refere-se às médias das notas atribuídas aos diversos fatores de avaliação de cada tipo de Capital Intelectual. O Capital Intelectual do tipo Estrutural, por exemplo, foi dividido nos seguintes fatores: “sistema de informações”, “documentos internos ou e-mails”, “padronização de procedimentos” e “certificações de qualidade”. As notas foram atribuídas numa escala de 1 a 7, onde o valor “1” significa sem importância, e o valor “7”, de importância máxima. Todas as considerações sobre os resultados obtidos se referem apenas ao processo de estimação de custos e formação de preços. Ou seja, os resultados e as considerações não podem ser generalizadas para a empresa como um todo, e sim, para os setores que participam do processo de estimação de custos e formação de preços. 33 REVISTA DA FACULDADE DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS DE CURVELO As médias demonstradas na tabela abaixo não significam que uma empresa possui um tipo de Capital Intelectual maior que a outra. Significa que determinado tipo de Capital Intelectual foi considerado mais importante em uma empresa do que em outra. Dessa forma, o Capital Estrutural e o Capital Humano foram considerados mais importantes, na MINAÇO do que na COMEC, pelos responsáveis pelo processo de estimação de custos e formação de preços das duas empresas. Por outro lado, a Capital de Clientela foi considerado mais importante na COMEC. Tabela: Importância dos diferentes tipos de Capital Intelectual nas empresas analisadas Algumas inferências podem ser feitas a partir dos dados apresentados. Inicialmente, considerando que o principal papel da gerência, segundo Sveiby (1998), é transformar o Capital Humano em Capital Estrutural, verifica-se que as empresas analisadas não possuem mecanismos suficientes para identificar, codificar e difundir o conhecimento de seus funcionários. Se existissem esses mecanismos, provavelmente, a importância atribuída ao Capital Estrutural seria maior que a atribuída ao Capital Humano. Provavelmente, também, problemas como o ocorrido com o Analista de Custos da MINAÇO teriam sido contornados sem prejudicar a lucratividade da empresa. Outra análise que pode ser feita é que existência de certificações de qualidade contribuiu para que o Capital Estrutural da MINAÇO recebesse maior média de importância que na COMEC. Além de ser uma garantia da qualidade do produto fabricado pela empresa, a certificação de qualidade pode ser analisada sob a ótica de melhoria dos procedimentos internos de uma organização e de padronização de atividades, o que não deixa de ser uma forma de codificação de conhecimento. Por outro lado, a ausência de certificações de qualidade pode ter conduzido a COMEC a desenvolver relacionamentos mais estreitos com os clientes, como forma de suprimir a ausência de um documento formal que garantisse a qualidade dos produtos. Com isso, a importância atribuída ao Capital de Clientela foi maior na COMEC. 34 O CAPITAL INTELECTUAL E O PROCESSO DE ESTIMAÇÃO DE CUSTOS E FORMAÇÃO... Para Santos (1994), a experiência proporciona importante ponto de referência para a determinação de preços com base nos custos estimados. Como foi observado nas avaliações realizadas, a experiência sempre esteve entre os principais ativos intangíveis inerentes ao processo de estimação de custos e formação de preços. De maneira análoga, o Capital Humano foi o principal tipo de Capital Intelectual na MINAÇO e o segundo mais importante na COMEC. Segundo Stewart (1998), o Capital Humano é baseado em pessoas que agregam muito valor a seus serviços e que são difíceis de serem substituídas. A importância do Capital Humano pôde ser comprovada na MINAÇO, durante o período em que o Analista de Custos, principal responsável pelo processo de estimação de custos, esteve ausente. Nesse período, de acordo com as entrevistas realizadas, a empresa apresentou uma significativa queda em sua lucratividade. Nenhuma das duas empresas estudadas apresentam iniciativas de gerenciamento de seus ativos intangíveis. Entretanto, esse trabalho contribui para a compreensão dos componentes de Capital Intelectual que demonstram ter capacidade para criação e obtenção de valor. Essa seria a primeira etapa da Gestão do Capital Intelectual, proposta por Edvinsson&Malone (1998). As outras três etapas, descritas no Capítulo 6 (Capital Intelectual), são a alavancagem, o foco e a capitalização dos componentes levantados na primeira etapa, que poderiam ser foco de estudos posteriores. 5– CONSIDERAÇÕES SOBRE CERTIFICAÇÕES DE QUALIDADE As duas empresas pesquisadas apresentam características diferentes no que se refere a certificações de qualidade. Enquanto a MINAÇO possui a certificação ISO 9002 e está à espera de ser certificada na ISO TS949 2, a COMEC não tem planos de obtenção de nenhum tipo de certificação de qualidade, mas garante a confiabilidade de seus produtos. Para o Gerente Administrativo Financeiro da COMEC, o setor em que a empresa atua não faz exigências de certificações de qualidade como outros setores mercadológicos. “... o ISO não é um instrumento de venda nesse segmento nosso. Pode ser para pneu, produtos seriados, cola, telha, computador. No segmento da COMEC, em que cada produto é diferente do outro (...) cada dia é uma criação diferente.” (Gerente Administrativo Financeiro – COMEC) 2 A ISO TS 949 engloba todas as outras certificações de qualidade do setor automobilístico. 35 REVISTA DA FACULDADE DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS DE CURVELO Ambas as empresas concordam que a certificação de qualidade não exerce nenhuma influência sobre o preço cobrado para se fabricar uma determinada peça. De acordo com o Gerente do Sistema de Qualidade da MINAÇO, os principais benefícios das certificações de qualidade são o atendimento das exigências dos clientes, a abertura do mercado obtida com a certificação e a maior confiabilidade para o cliente interno. “... na verdade quando você fala que tá passando mais segurança é também para o cliente interno. Com as exigências você acaba tendo um sistema mais forte internamente, a cadeia de clientes internos que você tem começa a ser melhor atendida (...) você acaba tendo exigências de redução de custos, de melhorias. Então o ganho interno é até maior que o externo, à medida que as ferramentas vão sendo implementadas (...) se fosse parar pra pensar como era um pouco antes a diferença é imensa e pra melhor. ...” (Gerente do Sistema de Qualidade - MINAÇO) A certificação de qualidade também envolve a padronização de processos, já que todas as atividades devem ser documentadas, ou seja, devem ter seus procedimentos detalhados. Além disso, uma cópia do detalhamento de cada atividade deve ser disponibilizada no local onde ela é executada. Essa é uma forma de codificação, armazenamento e difusão de conhecimento. Nesse sentido, as certificações de qualidade são uma forma de Capital Estrutural que contribui significativamente para uma Gestão do Conhecimento bem sucedida. “... numa empresa maior (a certificação de qualidade) é de imensa valia, porque fica mais fácil pra treinamento, as instruções de trabalho são simples, mas importantes. Eu acredito que a gente deve cobrir 99,9% das atividades sindicais, por ter o trabalho documentado.” (Gerente do Sistema de Qualidade - MINAÇO) 6– CONSIDERAÇÕES FINAIS Este artigo buscou identificar os principais ativos intangíveis inerentes ao processo de EC/FP nas EPEs em análise. Para a modelagem desse processo, foi realizado um estudo qualitativo, sendo as informações coletadas em entrevistas semi-estruturadas. Pôde-se perceber que os dados históricos exercem grande influência na previsão dos custos de ambas as empresas. Devido ao fato de não haver produtos similares no mercado, busca-se, por meio 36 O CAPITAL INTELECTUAL E O PROCESSO DE ESTIMAÇÃO DE CUSTOS E FORMAÇÃO... de dados de custos passados, base para a definição do custo estimado para um novo produto. Apesar disso, não são utilizadas técnicas estatísticas, como os métodos lineares ou a análise de regressão, para a previsão de custos. A estimação de custos, em ambas as empresas, baseia-se nas estimativas de engenharia, na experiência dos estimadores e em planilhas eletrônicas. A formação de preço nas duas empresas estudadas se baseia nos custos estimados. A COMEC demonstrou uma visão integrada entre custos e preços ao ressaltar os custos marginais para a determinação do preço de seus produtos. Com isso, ela consegue uma maior competitividade em suas propostas, garantindo pedidos para, pelo menos, cobrir seus custos fixos. As entrevistas semi-estruturadas também permitiram identificar as decisões referentes ao processo de EC/FP. Foi possível verificar que as decisões na MINAÇO são menos centralizadas, envolvendo uma quantidade maior de setores, que na COMEC. A maioria das decisões, em ambas as empresas, são estruturadas. A utilização de planilhas eletrônicas e documentos padronizados, auxilia essa estruturação. Entretanto, algumas decisões poderiam ser classificadas como não-programadas, devido à influência de diversos fatores. A decisão sobre a margem de segurança acrescida ao custo estimado é um exemplo de decisão não-programada. Para a identificação dos principais ativos intangíveis inerentes ao processo de EC/FP, foi realizado um estudo quantitativo, sendo os questionários aplicados com o auxílio da técnica de protocolos verbais. Os resultados demonstram que, enquanto a MINAÇO valoriza, principalmente, o Capital Humano, a COMEC avalia o Capital de Clientela como o mais importante. A MINAÇO prioriza o recrutamento interno, preenchendo suas necessidades de recursos humanos com funcionários da própria empresa. Apesar disso, não foi possível perceber políticas claras de valorização do Capital Humano. A COMEC, apesar de ter avaliado o Capital de Clientela como o tipo de Capital Intelectual mais importante, também não apresentou políticas claras de investimentos no relacionamento com cliente, no desenvolvimento de fornecedores, ou no conhecimento de mercado, de uma maneira geral. A presente pesquisa gerou resultados relevantes sobre a identificação dos ativos intangíveis mais importantes no processo de EC/ FP em EPEs. Considerando que a maior parte do valor das empresas na Era da Informação é advindo do conhecimento, esse estudo pode ser utilizado como um instrumento de reflexão e desenvolvimento da Gestão do Conhecimento nas empresas estudadas, proporcionando-lhes vantagens competitivas sustentáveis. 37 REVISTA DA FACULDADE DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS DE CURVELO 7– BIBLIOGRAFIA BARBOSA, J. G.P.; GOMES, J. S. Um Estudo Exploratório do Controle Gerencial dos Ativos e Recursos Intangíveis em Empresas Brasileiras. Rio de Janeiro: Revista de Administração Contemporânea, v.1, n. 1, jan/abr. 2002. BERNARDI, Luiz A. Política e Formação de Preços: uma abordagem competitiva, sistêmica e integrada. São Paulo: Editora Atlas, 1998. DE SOUZA, A. A., Developing a Knowlegde-Based Decision Support System to Aid Make-to-Order Companies in Cost Estimation and Pricing Decisions. Tese de Doutorado, University of Lancaster, 1995. EDVINSSON, L., MALONE, M. S. 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