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O QUE SÃO E COMO SE FORMAM OS
ARTEFATOS NAS IMAGENS DA TOMOGRAFIA
COMPUTADORIZADA DE FEIXE CÔNICO
WHAT THEY ARE AND HOW ARTIFACTS
ON CONE BEAM CT IMAGES ARE FORMED
Rodrigo Beledelli1, Paulo Henrique Couto Souza2
1
Professor de Radiologia Odontológica I e II da Faculdade de Odontologia da U.R.I. –Campus Erechim; Doutorando em Radiologia Odontológica PUC-PR, 2professor titular do Curso de Odontologia, da Escola de Saúde e Biociências da PUC –PR; Doutor em Cirurgia Bucomaxilofacial PUC-RS. Endereço para correspondência: Av. Tiradentes 1802 Bairro Esperança - Erechim
R.S. CEP 99700-000. Endereço de e-mail: [email protected]
RESUMO
A tomografia computadorizada de feixe
que são e como se formam os artefatos
cônico trouxe para a Odontologia novas
de imagem na tomografia de feixe côni-
possibilidades e informações no diag-
co, mostrando quais são seus aspectos
nóstico por imagem, levando para o coti-
e os principais fatores que determinam o
diano do cirurgião-dentista a realidade
seu aparecimento nas imagens.
das imagens tomográficas e suas inúmeras aplicações. Os recursos disponíveis
PALAVRAS-CHAVE: Tomografia compu-
para as imagens geradas pelos tomógra-
tadorizada de feixe cônico, artefatos,
fos permitem visualizações em planos e
diagnóstico por imagem.
trazem ferramentas para manipulação
das imagens que antes de seu advento
ABSTRACT
não eram possíveis. Porém, problemas
The Cone Beam Computed Tomography
em relação à qualidade de suas imagens
brought to Dentistry new possibilities and
surgem conforme sua crescente aplicabi-
information on image diagnosis, taking
lidade no dia a dia da prática odontológi-
the several applications of this technolo-
ca. Entre os obstáculos que aparecem
gy to the daily routine of the dental sur-
frente às imagens tomográficas desta-
geon. The resources available for cone
cam-se os artefatos de imagem, que
beam images allow plan visualizations
despontam como um dos maiores fato-
and bring advanced tools for their ma-
res de perda da qualidade diagnóstica
nipulations which were not possible be-
diante das imagens adquiridas nos to-
fore. However, problems relating to the
mógrafos de feixe cônico. O presente
quality of cone beam images appear ac-
artigo tem como finalidade esclarecer o
cording to their increasing use in the dai
Revista ABRO, v.13, n.1, p. 2-15, jan./jun. 2012.
2
ly dental practice. Among the obstacles
nico são consagrados por vários traba-
related to this technology, the image arti-
lhos realizados e publicados1,2,3,4,5,6. Sa-
facts are one of the main factors causing
be-se que sua dose de radiação é signi-
the loss of imaging quality and diagnosis
ficativamente baixa, em especial quando
ability. This article aims to explain what
comparada com tomógrafos da área
are and how image artifacts are formed
médica. Até mesmo os tomógrafos mé-
in cone beam CT scanners showing the
dicos de última geração, como os multis-
main factors which determine their ap-
lice de 64 canais, possuem uma dose de
pearance on these images.
radiação elevada quando comparados
aos tomógrafos de feixe cônico odonto-
KEYWORDS: Cone beam CT, image
artifacts, diagnostic imaging.
lógicos7.
As aplicações das imagens geradas nos tomógrafos de feixe cônico den-
1 INTRODUÇÃO
tro das especialidades odontológicas são
Com o advento da Tomografia
Computadorizada
de
Feixe
inúmeras. A realização de mensurações
Cônico
lineares para implantodontia, tanto de
(TCFC) e softwares específicos para a
altura quanto de espessura, trouxe mais
Odontologia,
avançadas
segurança e novas possibilidades em
para manipulação das imagens estão à
reabilitações bucais que necessitam da
disposição para os cirurgiões-dentistas
realização de implantes osseointegrá-
de todas as especialidades odontológi-
veis, com a localização exata de estrutu-
cas. Imagens em terceira dimensão
ras anatômicas e determinação da quan-
(3D), mensurações precisas, imagens
tidade óssea disponível. O uso das ima-
sem distorção ou sobreposição e novos
gens tomográficas adquiridas em apare-
planos de visualização para facilitar o
lhos de feixe cônico na endodontia, peri-
diagnóstico foram disponibilizados no dia
odontia, cirurgia ou ortodontia é ampla-
a dia da clínica odontológica. A imagem
mente estudado e baseado em diferen-
gerada pelos tomógrafos de feixe cônico
tes pesquisas e ensaios científicos, sen-
tem sido foco de inúmeros estudos para
do sua aplicabilidade e seus benefícios
seu melhor entendimento e utilização
importantes no diagnóstico e planeja-
dos recursos1,2.
mento para ações clínicas3,8.
ferramentas
Alguns aspectos sobre o funcio-
Porém, apesar das inúmeras van-
namento dos aparelhos e a aquisição
tagens apresentadas pelas imagens ad-
das imagens na tomografia de feixe cô-
quiridas nos tomógrafos de feixe cônico,
3
Revista ABRO, v.13, n.1, p. 2-15, jan./jun. 2012.
algumas limitações surgem frente aos
temente prejudica o diagnóstico por ima-
estudos e a aplicação clínica das mes-
gem nessa modalidade de exame.
mas. Neste aspecto, um problema seguidamente evidenciado é a formação
2 REVISÃO DE LITERATURA
de artefatos de imagem. Tal problema
surge devido a inúmeros fatores, como
quilovoltagem e miliamperagem baixas
2.1 Formação da imagem no tomógrafo de feixe cônico
utilizadas pelos tomógrafos de feixe cô-
Tomógrafos de feixe cônico pos-
nico na aquisição das imagens, gerando
suem uma baixa quilovoltagem e mili-
uma maior quantidade de radiação dissi-
amperagem, fazendo com que sua dose
pada frente a elementos de grande den-
de radiação seja significativamente baixa
sidade, fazendo com que, mesmo após a
em especial quando comparada com
reconstrução das imagens básicas pelos
tomógrafos médicos. A dose de radiação
softwares, onde se consegue filtrar al-
nos tomógrafos de feixe cônico varia
guns artefatos gerados, ainda apareçam
dependendo do protocolo utilizado no
alterações significativas, que em muitos
momento do escaneamento, sendo em
casos, comprometem a qualidade diag-
média equivalente a quatro radiografias
nóstica do exame1,4.
panorâmicas1,10.
Além disso, problemas na regula-
Os tomógrafos de feixe cônico
gem do aparelho, movimentação do pa-
disponíveis hoje no mercado possuem
ciente durante a tomada tomográfica e
um mesmo princípio em seu funciona-
limitações dos algoritmos utilizados na
mento. Fazem um giro parcial ou total ao
formação da imagem adquirida são fato-
redor do objeto a ser escaneado, utili-
res que influenciam e podem determinar
zando em sua maioria, um feixe de raios
alterações na imagem pela geração de
X de forma pulsátil, que atravessa e é
artefatos9. Portanto, o objetivo do pre-
atenuado pelo objeto até ser captado
sente artigo, é esclarecer o que são e
pelos sensores. Apenas em algumas
como são gerados os principais tipos de
marcas comerciais de tomógrafos de
artefatos em imagens tomográficas de
feixe cônico (Accuitomo, CB MercuRay,
feixe cônico, elucidando aspectos liga-
Iluma Ultra Cone e PreXion 3D) o feixe
dos a sua formação, características que
de raios X é contínuo ao invés de pulsá-
proporcionam às imagens e perspectivas
til. As unidades atuais de feixe cônico
de solução desse problema que constan-
podem ser divididos em dois grupos,
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com base no detector ou sensor de ima-
Voxel (Volume Element), que representa
gem: um intensificador de imagem com-
a menor unidade de volume formadora
binado com o dispositivo acoplado de
da imagem tomográfica, responsável
carga (IIT/CCD) ou um detector de ima-
assim pela resolução espacial da ima-
gens de tela plana (flat-panel), sendo
gem. O campo de visão, ou FOV, é a
que o detector de tela plana vem cada
área escaneada do paciente e varia de
vez mais sendo utilizado nos aparelhos
aparelho para aparelho, levando-se em
devido a melhor qualidade de imagem
consideração principalmente o tamanho
proporcionada
da área útil do detector ou sensor de
e
maior
número
de
bits1,11.
imagem. Há aparelhos em que o tama-
Durante o giro do aparelho ao re-
nho de área do sensor permite incidên-
dor do paciente, imagens básicas em
cias ou escaneamento de toda a cabeça
duas dimensões, semelhantes à telerra-
do paciente, sendo que esse tamanho
diografias laterais ou frontais são gera-
pode sofrer variação conforme a neces-
das, em um número que vai de 100 até
sidade de aquisição da imagem. Em ou-
mais de 600 imagens, dependendo do
tros aparelhos, a área é menor, tendo
protocolo e marca comercial utilizada.
capacidade de captar imagens, por
Essas imagens básicas são então pro-
exemplo, de apenas uma hemi-arcada
cessadas pelo software utilizando-se de
por vez. O fato é que quanto menor o
complexos cálculos algébricos com algo-
FOV, melhor é a qualidade da imagem
ritmos de Feldkamp (FDK). As imagens
adquirida, dando mais detalhes da estru-
em duas dimensões (2D) tomográficas
tura escaneada. O Voxel é a menor uni-
são formadas, recombinadas e unidas
dade de volume, formado pela união de
para formar o volume inicial ou a ima-
pixels (picture element), em um formato
gem em terceira dimensão (3D), que em
de cubo. O Voxel nos tomógrafos de fei-
formato de cilindro ou esfera, serve de
xe cônico é isotrópico, ou seja, formado
base para a aquisição dos cortes tomo-
por pixels de mesmo tamanho em todas
gráficos axiais, coronais e sagitais (re-
as suas faces. Sua função é determi-
construção multiplanar)1,3,9,12.
nante na qualidade da imagem, pois
Outros fatores inerentes à forma-
quanto menor seu tamanho maior é o
ção e qualidade da imagem nos tomó-
detalhe e melhor a definição. Em alguns
grafos dizem respeito ao tamanho do
aparelhos tomográficos o tamanho do
campo de visão (FOV- Field Of View), ou
Voxel é fixo, em outros é ajustável, vari-
área a ser escaneada e ao tamanho do
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ando conforme o protocolo utilizado
isso, não seu aspecto na imagem tomo-
(0,4mm a 0,0176mm) 1,13.
gráfica, mas sim principalmente, o fator
A qualidade da imagem obtida a
responsável por sua origem. Entre os
partir do volume inicial (em formato cilín-
principais artefatos encontrados desta-
drico ou esfera) poderá então ser melho-
cam-se:
rada através de equações matemáticas
para tentar reduzir a quantidade de arte-
2.2.1 Artefatos em anel
fatos existentes. Esse é um fator predis-
Artefatos em anel são visíveis
ponente que acaba prejudicando na
como imagens circulares claras centra-
busca da diminuição dos artefatos, pois
das em torno da localização do eixo
o ideal, seria reduzi-los antes da forma-
principal de rotação (figura 1). Aparen-
ção do volume inicial e não após, como
temente, são causados por defeito da
é hoje realizado pelos sistemas tomográ-
não calibração do detector de imagem,
ficos9.
que perde os valores de referência e no
momento de aquisição da imagem acaba
2.2 Conceito de artefato de imagem
fazendo uma “imagem fantasma” de um
Um artefato de imagem pode ser
anel junto ao centro da mesma. O seu
definido como uma estrutura visualizada
formato de anel no plano axial deve-se
junto a imagem formada através dos da-
devido à trajetória circular do processo
dos usados na reconstrução que não
de aquisição das imagens. Sua resolu-
está presente no objeto cuja tomada foi
ção passa por um adequado ajuste ou
realizada. De modo geral, artefatos são
calibração do detector de imagem9,15.
induzidos por discrepâncias entre a reais
condições físicas e a formatação matemática utilizada para fazer a reconstru-
Figura 1- Artefatos em forma de anel. Imagem
axial adquirida em um phantom.
ção em três dimensões (3D)9,14.
Há diferentes tipos de artefatos
que podem estar presentes nas imagens
tomográficas, sendo que cada um possui
um fator determinante para seu aparecimento. Para melhor entendimento pode-se fazer divisões dos principais tipos
de artefatos encontrados em tomografia
de feixe cônico, considerando-se para
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2.2.2 Artefatos de movimento
Este erro está intimamente relaci-
raios X em relação ao detector de ima-
onado a um desalinhamento de qualquer
gem faz com que o mesmo tipo de inco-
um dos três componentes básicos para a
erências descritas acima, venham a a-
formação da imagem tomográfica – fonte
contecer1,9,16.
de raios X, objeto e detector. O problema
em si é de fácil compreensão. Se um
objeto se move durante o processo de
Figura 2- Artefato de movimento com alterações
significativas na imagem (corte transaxial).
digitalização, a reconstrução não conta
com uma informação estática correta do
objeto em si. O movimento é integrado
no processo de reconstrução fazendo
surgir uma imagem não correspondente
ao objeto. Assim, as linhas pelas quais
houve a detecção não correspondem às
linhas ao longo da qual a atenuação sofrida pelos raios X deveria ter sido gravada, simplesmente porque o objeto moveu-se durante a aquisição da imagem.
O tempo de aquisição nos tomógrafos
cone beam varia entre 6 a 20 segundos
(em média), portanto, há tempo suficiente para o paciente realizar movimentações consideráveis que possam vir a
prejudicar a formação da imagem. Obviamente, quanto menor o tamanho voxel
(ou seja, quanto maior a resolução espacial), menor o movimento necessário
para causar um artefato na imagem. Em
outras palavras, quanto maior a resolução nominal, mais provável artefatos de
movimento estão sujeitos a aparecer.
Também, desalinhamento da fonte de
7
2.2.3 Artefatos gerados por materias
muito densos
Os artefatos produzidos no tomógrafo de feixe cônico em presença de
corpos muito densos formam imagens
que dificultam e podem até impossibilitar
o diagnóstico em algumas áreas. Tal
artefato é denominado beam hardening
artifact ou artefato do efeito de endurecimento do feixe de raios X (sua energia
média aumenta porque os fótons de menor energia são absorvidos em detrimento de fótons de energia mais elevada).
Isso faz com que ao ser examinado, a
imagem dos limites do objeto metálico
tenha a aparência mais brilhante do que
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no centro. O resultado nas imagens são
faixas claras e brilhantes, que dificultam
a visualização anatômica da região1,12.
Figura 3 - Artefatos de endurecimento do feixe
causados por implante e coroa protético (beam
hardening artifact – seta branca e streaks artifacts ou dark bands - seta preta) em corte axial.
Outro tipo de artefato relativo ao
endurecimento do feixe, são manchas ou
faixas escuras entre objetos metálicos
de uma região – streaks artifacts ou dark
bands. Em imagens dentais, este tipo de
artefato pode ser visualizado entre dois
implantes osseointegraveis. Isso ocorre
porque a porção do feixe de raios X que
passa pelo centro dos objetos muito
densos é atenuado abruptamente, diferente da porção do raio que passa na
superfície do objeto, fazendo com que as
áreas próximas a estruturas muito densas percam qualidade na formação da
imagem15,16.
Artefatos raiados causados por
objetos metálicos são também comuns
nas imagens adquiridas nos tomógrafos
de feixe cônico. Objetos metálicos, tais
como restaurações dentárias, placas ou
pinos cirúrgicos e marcadores radiográficos podem causar esse tipo de artefato.
Em imagens geradas pelos tomógrafos
cone beam, os artefatos raiados ocorrem
em todas as direções a partir do objeto
2.2.4 Artefatos de ruído
O ruído é um fator de perda da
qualidade de imagem gerando artefatos
importantes. Quando o detector de imagem é exposto a um feixe uniforme de
raios X, espera-se que a imagem gerada
também fosse uniforme. Mas a densidade varia de uma região para a outra, não
sendo uniforme durante o escaneamento
do paciente. É importante lembrar que
somente os fótons absorvidos pelo sensor produzem informação de imagem.
Devido à natureza estocástica (estatística) dos processos de atenuação (absorção e espalhamento), o número real de
fótons absorvidos varia em cada pixel.
Então cada pequena área do sensor absorve uma diferente quantidade de fó-
de alta densidade, devido a forma de
tons. Este padrão aleatório de fótons,
cone do feixe de raios X15,17.
chamado de ruído quântico, ou randômico, é sobreposto ao sinal, que é o padrão de estruturas do paciente. Se o ruído é muito grande, ele obscurece os detalhes da imagem (figura 3). Portanto, o
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ruído reduz a visibilidade de sombras de
xe cônico, pois são utilizadas uma quilo-
baixo contraste, principalmente se elas
voltagem e miliamperagem baixas, fa-
ocupam uma área pequena. Quanto
zendo com que haja uma atenuação dos
maior o número de fótons absorvidos,
raios X de forma inconstante, chegando
menor é o ruído da imagem. Outro ruído
pouca quantidade de fótons aos detecto-
é o eletrônico, devido ao movimento ale-
res, causando alterações consideráveis
atório dos elétrons nos circuitos resisti-
nos valores calculados para a formação
vos e fotoelétricos. Em outras palavras,
do volume inicial, resultando em uma
um alto índice de ruído é esperado em
interpretação incorreta dos dados obti-
imagens geradas em tomógrafos de fei-
dos1,4,9,18.
Figura 4 - Desenho esquemático de imagem com alto grau de ruído (A), médio (B) e sem artefato de
ruído - imagem uniforme (C).
A
2.2.5
B
C
Artefatos de espalhamento ou
dispersão
Artefatos por espalhamento ou
or o FOV utilizado, maior a probabilidade
dispersão aparecem como um importan-
de que fótons espalhados ocorram, de-
te causa na geração de artefatos em
vido a grande área que há para ser sen-
forma de linhas ou raios claros na ima-
sibilizada, sendo mais suscetíveis a o-
gem. São causados por aqueles fótons
correr artefatos por espalhamento1,9,19.
que são difratados a partir de seu trajeto
original após interação com a matéria.
2.2.6 Artefatos de extinção
Essa parcela adicional de fótons disper-
Também denominados de artefa-
sos ou espalhados resulta em aumento
tos de valor em falta. São assim deno-
na intensidade das áreas medidas nos
minados pois no momento da aquisição
sensores, uma vez que os fótons espa-
da imagem o sensor não recebe fótons
lhados vão adicionar ao fóton primário
incidentes em sua superfície, registrando
um maior sinal, fazendo com que haja
para a formação da imagem um fator
uma superestimação dos fótons naquela
zero ou muito próximo a zero de incidên-
região. Quanto maior o detector, ou mai-
cia de raios X. Tal fenômeno também é
9
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conhecido como photon starvation, o que
pixels da parte exterior do detector pos-
gera artefatos em forma de estrias ou
suem um registro de menor atenuação,
faixas escuras – streaks artifacts ou dark
enquanto mais informações são regis-
bands. Isso ocorre quando o material no
tradas para objetos projetados na porção
qual os feixes de raios X incidem contém
central do detector, o que resulta em
muito material absorvente, por exemplo,
distorção nas laterais da imagem. Artefa-
coroas protéticas de ouro. Uma coroa
tos em forma de estrias e maior ruído
protética de ouro típica tem em média 2
são registrados e prejudicam a qualidade
mm a 3 mm de espessura. Isso resulta
na periferia da imagem¹,9.
em uma absorção da energia média de
90% a 97%, consequentemente, como o
3 DISCUSSÃO
fator linear da imagem não pode ser
Scarfe relatou que as imagens ge-
computado pelo sensor, ha formação de
radas pelos tomógrafos de feixe cônico
artefatos no volume da imagem inici-
são de grande validade diagnóstica e
al1,9,18.
estão a disposição para auxiliar na prática diária do cirurgião-dentista. Estas
2.2.7 Artefatos de efeito do feixe cô-
imagens acrescentam qualidade e novas
nico
possibilidades de informação diagnósti-
O efeito de feixe em forma de co-
ca. Porém, falando do funcionamento do
ne é uma fonte potencial de artefatos,
tomógrafo de feixe cônico, explanou que
especialmente nas porções periféricas
muitas vezes há ocorrência de artefatos
da imagem por causa da divergência do
que acabam por prejudicar informações
feixe de raios X. Ao girar em torno do
fundamentais nas imagens tomográficas,
paciente, em um plano horizontal os fó
sendo esse um problema encontrado
comumente em tomografia de feixe côni-
tons incidentes no detector são então
co1,3.
registrados e processados para a forma-
Uma das aplicações das imagens
ção de imagem tomográfica. A quanti-
adquiridas nos tomógrafos de feixe côni-
dade de dados adquiridos corresponde à
co é na detecção de cáries, segundo
quantidade total de raios X atenuados,
estudo de Haiter Neto, tendo a possibili-
que são então gravados pelo detector ao
dade de visualizar o elemento dental nos
longo do processo de escaneamento. A
diferentes planos de imagem e também
quantidade total de informação para es-
em terceira dimensão (3D). Porém, Tsu-
truturas periféricas é reduzida, pois os
chida, Araki e Okano mostraram que
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para detecção de cáries em faces proxi-
realizados. Mas, devido ao surgimento
mais, fatores como o tamanho do campo
de artefatos, em decorrência da alta
de visão (FOV) e a espessura dos cortes
densidade dos implantes, ressalvas são
utilizados para realizar o diagnóstico de-
feitas sobre as imagens que surgem, em
vem ser observados e são fatores de-
especial no controle pós-operatório dos
terminantes para um correto diagnóstico
procedimentos realizados. O diagnóstico
e adequada qualidade da imagem
20,21
.
deve ser realizado em conjunto com ra-
Draenert mostrou que artefatos
diografias, pois o surgimento de artefa-
por endurecimento do feixe (beam har-
tos, podem dificultar um correto diagnós-
ding artefacts) ocorrem em grande quan-
tico da região óssea adjacente aos im-
tidade nos tomógrafos de feixe cônico
plantes13,19.
quando na presença de cilindros de im-
Segundo Schulze, um artefato é
plante na área escaneada, o que preju-
qualquer distorção ou erro na imagem
dica em muito a qualidade diagnóstica
que não está relacionada ao objeto em
das imagens nas regiões próximas aos
estudo, prejudicando com isso, o correto
implantes. O estudo revelou também que
diagnóstico do exame tomográfico. Al-
há maior formação de artefatos nas ima-
guns artefatos como os que são causa-
gens adquiridas em um tomógrafo de
dos pela movimentação do paciente du-
feixe cônico do que em um tomógrafo
rante o escanemento ou os artefatos em
médico com multidetectores (multislice).
forma de anel gerados por uma deficien-
Azevedo em seu estudo comprovou a
te calibração do tomógrafo, são de fácil
formação de artefatos significantes ao
resolução e apresentam pequena por-
redor de implantes de titânio que preju-
centagem em relação aos problemas
dicam significativamente a qualidade da
ocasionados por artefatos de imagem
imagem tomográfica adquirida em tomó-
nos tomógrafos de feixe cônico9.
grafo de feixe cônico, prejudicando o
Katsumata relatou que a utilização
diagnóstico nas áreas adjacentes aos
de protocolos com um menor campo de
implantes
19,22
.
visão (FOV), maior tempo de aquisição e
Segundo os trabalhos de Draenert
menor tamanho de voxel (volume ele-
e Vandenberghe a aplicabilidade das
ment) são medidas práticas que tendem
imagens tomográficas na implantodontia,
a reduzir a formação de artefatos, me-
tornou-se rotina, sendo indispensável
lhorando consideravelmete a resolução e
para um correto planejamento e maior
qualidade das imagens. Porém Ludlow e
segurança dos procedimentos a serem
Ivanovic lembraram que ao utilizar proto-
11
Revista ABRO, v.13, n.1, p. 2-15, jan./jun. 2012.
colos com maior tempo de exposição e
ajuda a melhorar a qualidade da imagem
menor voxel, têm-se uma maior dose de
e a reduzir a formação de artefatos, em
radiação ao paciente e um maior tempo
especial os gerados na periferia do vo-
de reconstrução das imagens, prejudi-
lume inicial, quando se utiliza campos de
cando a relação dose/paciente e dimi-
visão (FOV) maiores. Além disso detec-
nuindo a versatilidade na utilização e
tores de flat panel possuem maior núme-
formação do volume inicial das imagens,
ro de bits, o que propicia maior escala de
o que pode ser um obstáculo para a es-
cinza, melhorando a qualidade geral da
colha dessa modalidade de protocolo7,16.
imagem tomográfica. Isso faz com que
Schulze citou que é importante
sua nitidez seja melhorada propiciando
lembrar que os tomógrafos médicos ge-
uma imagem de melhor visualização e
ram em suas imagens menos artefatos
conquesqüente maior valor diagnósti-
do que os tomógrafos de feixe cônico.
co11.
Uma comparação anterior equivocada foi
Uma das questões que mais es-
feita, em especial, devido a utilização de
tão em estudo para se diminuir a quanti-
janelas ou filtros incorretos para a aqui-
dade de artefatos na tomografia de feixe
sição das imagens. Na realidade a to-
cônico diz respeito aos algoritmos utili-
mografia de feixe cônico gera artefatos
zados na formação da imagem. Schulze
adicionais como os gerados pela diver-
relata que o algoritmo Feldkamp, que é o
gência do feixe cônico e aqueles causa-
mais utlizado atualmente pelos apare-
dos pelo ruido, que é maior nos tomógra-
lhos de feixe cônico, só possui uma boa
fos de feixe cônico em comparação aos
qualidade de imagem no plano central
médicos multislice. Tal fato da geração
de incidência dos raios X no detector,
maior de artefatos nos tomógrafos de
em especial quando se utiliza um campo
feixe cônico é amplamente difundido
de visão (FOV) de grande volume. Há
atualmente como em estudos realizados
algoritmos que poderiam ser utilizados
por Loubele, que comparou as imagens
para reduzir os artefatos, porém alguns
obtidas nos tomógrafos de feixe cônico
exigem que a fonte de raios X seja de
em relação aos tomógrafos médicos
forma helicoidal como o introduzido por
multislice8,9.
Katsevich, o que impossibilita sua utili-
Segundo Naitoh, a utilização de
zação nos tomógrafos de feixe cônico.
detectores de flat panel ao invés dos
Além disso tais algoritmos tem uma ne-
IIT/CCD utilizados nos primeiros tomó-
cessidade de um sistema computacional
grafos de feixe cônico, é um fator que
com enorme capacidade e velocidade
Revista ABRO, v.13, n.1, p. 2-15, jan./jun. 2012.
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para sua utilização o que faz com que na
Com os equipamentos e softwa-
prática, seu uso seja restrito, impossibili-
res atuais, existem algumas medidas
tando sua utilização de forma comercial9.
práticas que podem ser tomadas para
Tohnak mostrou em sua pesquisa
conseguir atenuar o aparecimento de
a utilização de um algoritmo capaz de
artefatos. Utilizar um campo de visão
reduzir a formação de artefatos utilizan-
(FOV-fiel of view) e tamanho de voxel
do técnicas de substituição de partes da
(volume element) pequenos, além de
imagem pela retroprojeção corrigida,
aumentar o tempo de aquisição são me-
fazendo com que áreas que seriam pre-
didas que podem ser utilizadas para re-
judicadas na imagem pela geração de
duzir a quantidade de artefatos, em es-
artefatos, sejam substituídas por outras
pecial, os gerados por metal ou materias
semelhantes de cortes adjacentes, con-
de grande densidade. Uma calibração
seguindo uma redução considerável nos
adequada do aparelho além de orienta
artefatos gerados por metal em imagens
ção ao paciente sobre o procedimento a
tomográficas, tendo um ganho de quali-
ser realizado devem sempre ser medi-
dade importante para manter uma boa
das adotadas para diminuir o apareci-
imagem mesmo na presença de metais
mento de artefatos e também, evitar a
na área escaneada23.
exposição do paciente a dose de radiação desnecesária por repetição do pro-
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
cedimento.
A produção de artefatos nas i-
A utilização de novos algoritmos
magens adquiridas em aparelhos tomo-
além dos de Feldkamp, mostram pro-
gráficos de feixe cônico é um constante
missoras melhorias na redução de arte-
e importante fator prejudicial para a ava-
fatos. Pesquisas e estudos em relação a
liação das imagens geradas nestes to-
algoritmos alternativos a esses utilizados
mógrafos. Em determinadas situações,
na formação das imagens devem ser
artefatos podem vir a prejudicar as ima-
realizados, visando a melhoria na quali-
gens em determinado grau que podem
dade da imagem gerada nos tomógrafos
levar a um diagnóstico equivocado caso
computadorizados de feixe cônico.
não se tenha algum outro exame por
imagem complementar como radiografias.
Revista ABRO, v.13, n.1, p. 2-15, jan./jun. 2012.
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