Comunicado de Imprensa 22 de Maio: Dia Internacional da Biodiversidade Desenvolvimento Económico só é possível através da salvaguarda da Biodiversidade No Dia Internacional da Biodiversidade, instituído a 22 de Maio como forma de assinalar o aniversário da adopção da Convenção das Nações Unidas para a Diversidade Biológica, a Liga para a Protecção da Natureza vem salientar a necessidade de se preservar a diversidade biológica por forma a promover um Desenvolvimento Sustentável - com ecossistemas saudáveis, maior Bem-Estar Social e Competitividade Económica. O estado actual No último ano o destaque atribuído às alterações climáticas e a ascensão desta problemática às prioridades máximas da agenda política internacional, através da sua relação com a política energética, trouxe consigo a necessidade de procurar reflectir sobre os problemas ambientais da actualidade, de forma estratégica e integrada. No entanto, se olharmos para o panorama actual da política portuguesa, por um lado, e da política internacional, por outro, constatamos que o mesmo empenho e prioridade não estão efectivamente a ser atribuídos aos outros grandes desafios ambientais que o nosso planeta enfrenta. Portugal, em conjunto com uma grande maioria de outros países, assumiu a meta de travar o declínio da Biodiversidade até 2010, ao aderir ao compromisso “Countdown 2010” lançado pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Actualmente, são variadas as convenções internacionais, directivas europeias e leis nacionais, ao abrigo das quais a protecção e salvaguarda da biodiversidade deveria estar a ser efectivamente implementada. No entanto, os estudos mais recentes revelam ainda um cenário preocupante. Com efeito, de acordo com dados publicados na Avaliação do Milénio de Ecossistemas (MEA), cerca de 12% das espécies de aves identificadas no planeta, estão actualmente ameaçadas de extinção. Valores tão ou mais preocupantes foram obtidos para outras classes de vertebrados. Por exemplo, cerca de 23% das espécies de mamíferos e pelo menos 32% das espécies de anfíbios, estarão também ameaçadas de extinção. O grupo dos anfíbios poderá estar ainda em pior situação se considerarmos que, para este conjunto de organismos, a quantidade de informação disponível é substancialmente menor do que a existente para as aves ou mamíferos, por exemplo. Este grau de desconhecimento abrange também muitos outros grupos de organismos. É importante salientar ainda que a taxa à qual se está a dar o decréscimo de muitas espécies actualmente, é efectivamente superior à taxa à qual se deram os decréscimos no passado, mesmo aqueles que hoje conhecemos como episódios de extinção em massa, resultantes de catástrofes naturais. As causas As causas subjacentes ao declínio da biodiversidade, são hoje mais facilmente reconhecíveis do que seriam há alguns anos atrás. A destruição e fragmentação dos habitat naturais, a desertificação, a poluição por resíduos ou pesticidas, as alterações climáticas, a sobre-exploração, a introdução de espécies exóticas e as doenças, têm sido identificadas como sendo as principais causas de declínio, sendo que a maior parte decorre directa ou indirectamente da acção humana. Na Europa e em Portugal, as principais causas do declínio da biodiversidade são sobretudo a alteração do uso do solo, a destruição, deterioração e fragmentação dos habitats. Biodiversidade: vida, sociedade e economia A importância da biodiversidade para a sustentabilidade dos sistemas ambientais, o aumento do bem-estar social das populações humanas e economia mundial está hoje cientificamente demonstrado. Efectivamente, muitos dos aspectos relativos à estabilidade, funcionamento e sustentabilidade dos ecossistemas dependem da biodiversidade. É essa mesma biodiversidade que sustenta o fornecimento dos chamados “serviços dos ecossistemas”. Serviços de aprovisionamento, como os próprios alimentos, de regulação como a captação do dióxido de carbono atmosférico pelas plantas, de suporte como a polinização que muitos insectos providenciam ou até os chamados serviços culturais, de lazer, e religiosos que providenciam. O valor económico total dos serviços de ecossistema que a biodiversidade sustenta no mundo inteiro, foi estimado há alguns anos como estando na ordem dos 33 biliões (1012) de dólares americanos por ano, um valor muito acima do que seria a soma total dos Produtos Nacionais Brutos de todos os países do mundo, na altura cerca de 18 biliões de dólares americanos, por ano. Portugal: o que fazer? Em Portugal o decréscimo da biodiversidade dá-se a vários níveis. São conhecidos os exemplos de espécies como o lince-ibérico (o felino mais ameaçado do mundo) ou o lobo-ibérico que, apesar de apenas existirem na península ibérica e deles depender um equilíbrio sensível, sofreram decréscimos populacionais muito graves e conhecidos do grande público. Muitas são também as espécies de aves e peixes de água doce que actualmente se encontram seriamente ameaçados. Para além das convenções e leis existentes, que determinam estatutos de protecção para as espécies e diversas áreas do país, e das quais fazem parte documentos como a Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e da Biodiversidade ou as leis que estabelecem a Rede Nacional de Áreas Protegidas (que integram a Rede Natura 2000) e as que transpõem para lei nacional as Directivas Habitats e Aves – os principais instrumentos legais de protecção da biodiversidade na Europa. No entanto, configuram-se actualmente em Portugal diversas situações, relativamente às quais a LPN vem manifestar algumas mensagens: Programa Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico NÃO permite cumprir as metas estabelecidas O Programa Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico, projectado para produzir apenas 3,3% do consumo energético português, não integra o custo imenso associado à perda de biodiversidade que daí advém. A utilização de argumentos segundo os quais apenas essas estruturas podem servir para armazenar a energia recolhida dos parques eólicos dada a dimensão que esta começa já a representar, tem atrasado o desenvolvimento de outras opções de armazenamento menos danosas. Por outro lado, se a motivação subjacente é a de combater as alterações climáticas, este combate não se deve justificar apenas com a preservação da civilização humana, mas sim com a preservação dos ecossistemas mundiais face a essas alterações climáticas. Quando ao abrigo destes objectivos se aposta em grandes infraestruturas com forte impacto na biodiversidade, está-se no fundo a exercer maior impacto sobre muitas espécies do que aquele que as próprias alterações climáticas iriam representar, pervertendo o objectivo inicial. Mais uma vez, o aumento da eficiência e poupança energéticas deveriam constituir a prioridade em matéria de política energética face à necessidade de conciliação com as políticas de protecção da biodiversidade. Projectos de Interesse Nacional NÃO reflectem o interesse comum de todos O processo de atribuição de estatuto de “Projecto de Interesse Nacional” a alguns dos projectos com maior impacto na biodiversidade que ainda subsiste em Portugal, reflecte a falta de lógica e capacidade de planeamento a longo-prazo que deveria estar na base das decisões que se tomam hoje. Com efeito, são diversos os projectos actualmente em curso aos quais a atribuição deste estatuto apenas se deveu aos elevados montantes que se pretendem investir. O interesse nacional deveria no entanto corresponder a projectos cujo resultado beneficiasse o país no seu todo, para isto não basta um investimento avultado inicial – investimento esse que terá sido desperdiçado se economicamente o projecto falhar – mas sim algo que providencie um rendimento sustentável a longo-prazo, sem danificar a biodiversidade que sustenta a sociedade no qual o projecto assenta. Só assim se podem garantir empregos estáveis e crescer de forma económica e sustentável. Mais Ordenamento, Melhor Agricultura Em Portugal o desordenamento territorial é um facto conhecido. A desafectação de áreas protegidas (Reserva Ecológica Nacional) para fins de construção urbana continua a acontecer e a adensar um problema que urge resolver. Para tal o governo central e os órgãos locais têm que apostar na implementação séria da lei e das directivas, excluindo de vez a possibilidade de desafectar áreas que, ao serem protegidas, salvaguardam bens naturais que são bens públicos – ou seja, de todos. Da mesma forma, apostar numa Agricultura sustentável, pagando e compensando os serviços ambientais prestados pelos proprietários e agricultores que integram medidas ambientais, não deixando de produzir o alimento de que o país cada vez mais necessita, é uma obrigação a cumprir! Mais educação ambiental, Melhor Futuro Se há erros a corrigir, para isso é necessário contar também com as próximas gerações. Em Portugal, a educação deve preparar os jovens para os problemas que poderão vir a enfrentar – ambientais, sociais e económicos. Mas a integração destes princípios de salvaguarda pela biodiversidade estão ainda demasiado concentrados em matérias de carácter científico. É preciso alargar este conceito. Mais educação, formação e sensibilização ambiental por via do estado, das autarquias, em parcerias alargadas com os privados e a sociedade civil. Em suma, a LPN vem manifestar mais uma vez a necessidade de integrar verdadeiramente os objectivos de conservação da biodiversidade em todos os domínios da vida pública e privada em Portugal. Todas as decisões devem ser tomadas considerando o impacto que têm e a irreversabilidade das consequências. Só salvando a biodiversidade podemos manter um planeta saudável, um clima equilibrado e a estabilidade necessária para o desenvolvimento económico e o verdadeiro aumento do bem-estar social para todos. Para mais informações: Carlos MGL Teixeira 969 123 210 Eugénio Sequeira 968 029 499 Liga para a Protecção da Natureza | Estrada do Calhariz de Benfica, n.º 187 1500-124 Lisboa; www.lpn.pt 217 780 097 | 217 740 155 | 217 740 176 A Direcção Nacional da Liga para a Protecção da Natureza Lisboa, 21 de Maio de 2008 A Liga para a Protecção da Natureza (LPN), fundada em 1948, é uma Organização Não Governamental de Ambiente (ONGA) de âmbito nacional. É uma Associação sem fins lucrativos com estatuto de Utilidade Pública. A LPN é membro da IUCN (The World Conservation Union), do EEB (European Environmental Bureau), do CIDN (Conselho Ibérico para a Defesa da Natureza), do MIO-ECSDE (Mediterranean Information Office for Environmental Culture and Sustainable Development) e do SAR (Seas at Risk).