FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ECONOMIA E FINANÇAS - FUCAPE MARCELO GOMES DE OLIVEIRA O EFEITO DO RELACIONAMENTO BANCÁRIO NO ACESSO AO CRÉDITO PARA AS MICROS E PEQUENAS EMPRESAS VITÓRIA 2015 MARCELO GOMES DE OLIVEIRA O EFEITO DO RELACIONAMENTO BANCÁRIO NO ACESSO AO CRÉDITO PARA AS MICROS E PEQUENAS EMPRESAS Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Ciências Contábeis, da Fundação Instituto Capixaba de Pesquisas em Contabilidade, Economia e Finanças (FUCAPE), como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências Contábeis – Nível Profissionalizante, na área de concentração Finanças. Orientador: Prof. Dr. Fábio Moraes da Costa VITÓRIA 2015 MARCELO GOMES DE OLIVEIRA O EFEITO DO RELACIONAMENTO BANCÁRIO NO ACESSO AO CRÉDITO PARA AS MICROS E PEQUENAS EMPRESAS Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis, da Fundação Instituto Capixaba de Pesquisas em Contabilidade, Economia e Finanças (FUCAPE), como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências Contábeis – Nível Profissionalizante, na área de concentração Finanças. Aprovada em 29 de Outubro de 2015. COMISSÃO EXAMINADORA __________________________________________ Prof. Dr. Fábio Moraes da Costa Fundação Instituto Capixaba de Pesquisas em Contabilidade, Economia e Finanças (FUCAPE) Orientador __________________________________________ Prof. Dra. Arilda Teixeira Fundação Instituto Capixaba de Pesquisas em Contabilidade, Economia e Finanças (FUCAPE) Membro da banca __________________________________________ Prof. Dr. Danilo Soares Monte-mor Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Espirito Santo (IFES) Membro da banca “Se alguém está sentado na sombra hoje é porque alguém plantou uma árvore há um bom tempo” (Warren Buffet) AGRADECIMENTOS Ao meu pai Bernardino Souza, a minha mãe Marileyde Gomes, ao meu irmão Leonardo Gomes, pelo apoio. A minha esposa Daiane Sales e meu Filho Bernardo Sales pela paciência e companheirismo. Ao meu orientador, Prof. Dr. Fábio Moraes, pelos conselhos e inspiração. A quem sou muito grato e me inspira como exemplo profissional. Aos meus professores Aridelmo Teixeira, Arilton Teixeira e Arilda Teixeira que contribuíram muito com a minha formação desde o início do primeiro período da graduação! A todos do corpo diretivo da FUCAPE por viabilizar a existência e a experiência de ter vivenciado todo esse tempo de aprendizado como uma experiência única da graduação ao mestrado. RESUMO O objetivo deste trabalho é analisar como a taxa de juros e a maturidade de contratos de dívida de microempresas estão associadas com determinadas características do relacionamento bancário, tais como já possuir conta corrente no banco, possuir diversas contas em diversas instituições financeiras e já possuir serviço financeiro contratado anteriormente. Nesta pesquisa foram utilizadas informações de micro e pequenas empresas do sul da Bahia, no período de 2008 a 2012, coletadas em uma empresa de contabilidade mediante contrato de confidencialidade. As análises indicam que quanto maior o nível de relacionamento bancário, menor seria a taxa efetiva de juros. Entretanto, não foi possível identificar relação estatisticamente significante para a maturidade dos contratos. Desta forma, as evidências indicam que micro e pequenas empresas que pretendem captar podem se beneficiar ao realizar a contratação de serviços bancários para assim terem acesso, em média, a linhas de crédito com taxas de juros efetivas menores. Palavras-chave: Relacionamento Bancário; Taxa de Juros; Maturidade. 8 ABSTRACT The aim of this study is to analyze how the effective interest rate and the maturity of debt contracts of micro-sized entities are linked to some bank relationship characteristics, such as number of accounts and banking services. In this study, proprietary data from small businesses at Southern Bahia were collected from a bookkeeping firm through a confidentiality agreement. The analysis indicate that there is a negative relation between effective interest rates and the characteristics of banking relationship. On the other hand, there was no indication of such a relationship for maturity. Thus, micro and small-sized entities seeking to raise funds in the future with banks can benefit from enhancing their relationship with the financial institution in order to have access, on average, to credit lines with lower effective interest rates. Keywords: Banking Relationship; Effective Interest Rates; Maturity. 9 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO......................................................................................................... 8 2 REFERENCIAL TEÓRICO..................................................................................... 11 3 METODOLOGIA.................................................................................................... 14 4 RESULTADOS....................................................................................................... 18 5 CONCLUSÃO........................................................................................................ 24 6 REFERÊNCIAS...................................................................................................... 26 8 1. INTRODUÇÃO O objetivo desta dissertação é avaliar como as características dos contratos de dívida (Taxa de Juros Efetiva e Maturidade do Contrato) de micro e pequenas empresas estão associadas com o relacionamento bancário (possuir conta corrente no banco, possuir algum serviço financeiro contratado entre outras). Em busca de gerar novos investimentos e para se manter na concorrência crescente no mercado, as micros e pequenas empresas necessitam de captar recursos para se estruturar na aquisição de novos ativos imobilizados (máquinas, móveis, prédio, ferramentas) e também em financiar o capital de giro para sustentar as operações do dia-a-dia (SEBRAE, 2014). Um desafio no sistema financeiro global são as exigências das instituições financeiras na cessão de créditos para as micros e pequenas empresas, derivadas da assimetria informacional entre credores e demandantes de capital (PELTONIEMI e VIERU, 2013). Os problemas decorrentes da assimetria de informação nas relações de crédito podem ser amenizados por meio da geração de informação e de escolha de termos de empréstimo. Diversos estudos têm avaliado como o risco do tomador de crédito influencia na disponibilidade, taxas e garantias impostas pelos bancos (por exemplo, PETERSEN e RAJAN, 1994; BERGER e UDELL, 1995; BLACKWELL e WINTERS, 1997; e ELSAS e KRAHNEN de 1998). Degryse e Ongena (2001) entendem que o relacionamento bancário é uma “interação íntima e sem interrupções” entre empresa e o banco e assim proporcionar da redução da assimetria informacional. 9 Ao observar as diferenças entre as características de cada porte empresarial, é possível observar algumas peculiaridades das Micro e Pequenas Empresas no Brasil, como: a falta de recursos financeiros, que é apontada como uma das maiores dificuldades com que convivem as Micro e Pequenas Empresas; problemas de gerenciamento decorrente da falta de capacitação dos gestores; Proximidade dos sócios com o mercado e o cliente; Limitação de recursos humanos capacitados; Baixo grau de diversificação produtiva; e infraestrutura pequena (SEBRAE, 2014). Os problemas elencados no parágrafo anterior também foram discutidos na mídia, como por exemplo, o jornalista especializado em small business nos Estados Unidos da América, Andrew Beattie (2015), que elenca como as principais dificuldades a captação de crédito nos bancos e falta de capacitação dos empreendedores na gestão dos negócios. Segundo o SEBRAE (2014), existem 6,4 milhões de estabelecimentos no Brasil, destes 99% são micro e pequenas empresas. As Micro e Pequenas Empresas respondem por 25% do PIB Brasileiro, 52% dos empregos formais e 40% da massa salarial. Segundo o IBGE (2003) as Micro e Pequenas Empresas têm como características maior dificuldade de acesso ao financiamento de capital de giro. Isso ocorre devido as diferentes tecnologias utilizadas pelas instituições financeiras na concessão de empréstimos para as empresas de grande porte e para as Micro e Pequenas Empresas, que são impactadas pelos diferentes níveis de assimetrias de informações financeiras existentes (BEHR, NORDEN e NOTH, 2013). Este trabalho, por meio de um banco de dados estruturado por micro e pequenas empresas, identificou quais características do Relacionamento Bancário são relevantes para o estabelecimento da taxa de juros e também da maturidade 10 dos contratos de dívida. As características estudadas foram a quantidade de contas correntes em bancos diferentes, o tempo de relacionamento com a instituição financeira e a contratação de serviços financeiros (Título de Capitalização, Seguro, Previdência, entre outros). Os resultados obtidos indicam que o relacionamento bancário em especial a contratação de serviços financeiros tem relação negativa com a taxa efetiva de juros, portanto, ter serviços financeiros já contratados nos bancos onde é solicitado o crédito, faz com que esta linha tenha na média de juros efetivos mais baixos do que em bancos onde a empresa não possui serviço financeiro contratado. Não foram encontradas relações estatisticamente significantes em relação a maturidade do empréstimo. Não foi possível identificar relação estatisticamente significante entre as variáveis de relacionamento bancário e a maturidade, podendo ser institucionalizado pelas instituições financeiras o prazo máximo de cada linha de crédito, não sendo uma variável impactada pelo relacionamento bancário. Portanto, os resultados indicam que gestores de micro e pequenas empresas que buscam gerar relacionamento bancário por meio de contratação de serviços financeiros tem acesso a linhas de crédito com menor taxa de juros. Sendo assim, neste trabalho fica evidente que o relacionamento bancário melhora a capacidade de financiamento das micros e pequenas empresas, pois reduz o custo de monitoramento das instituições financeiras. Este trabalho está estruturado em cinco seções: a primeira trata da revisão da literatura, a segunda expõe a metodologia adotada, a terceira apresenta a amostra e 11 a estatística utilizada, a quarta demonstra os resultados obtidos, e a quinta, a conclusão. 12 2.REFERENCIAL TEÓRICO Para evitar o risco de inadimplência, as instituições financeiras elaboram análises do retorno financeiro oriundo de uma operação de empréstimo com base na mensuração do risco para apreçar seus serviços. Esse tipo de análise é relevante, pois ao avaliar os riscos envolvidos antes da liberação de recursos poderão ser previstas possíveis situações de não reaver os recursos emprestados (BEHR, NORDEN e NOTH. 2013; RUDIO, 2009). Caouette, Altman e Narayanan (1998) observaram que os bancos gerenciam os créditos quase que integralmente por meio de procedimentos de análises multidimensionais, ou seja, por meio de dados contábeis e questionários para a realização da liberação do crédito. Em busca de amenizar a assimetria informacional na concessão de crédito, as instituições financeiras utilizam de sistema de mensuração de risco, chamado rating. Quanto menos risco tiver uma operação de crédito, melhor será a sua classificação de rating (SECURATO, 2002). A classificação do rating é usualmente feita por intermédio da obtenção de informações sobre o perfil do cliente, consistindo em uma ferramenta de verificação da probabilidade da capacidade de cumprir com o acordo contratual (CAOUETTE et al. 2000). Quando a assimetria informacional entre os clientes desconhecidos é significativa, os bancos tendem a gastar mais recursos e esforços no rastreamento e monitoramento dessas empresas devido à falta de informações disponíveis publicamente (CHEN e MARTIN, 2011). 13 O “Relacionamento Bancário” aparece na literatura como a estrutura inibidora da inadimplência perante a redução da assimetria informacional. Ao longo da relação o Banco passar a acessar as informações privadas da empresa (Bharath et al, 2007; Degryse e Ongena, 2001; Boot, 2000a). Uma forma de reduzir a assimetria informacional, segundo Johnson (1998) e Athavale e Edmister (1999), estaria baseada no histórico de transações com o cliente, o que poderia diminuir o custo de monitoramento pelo banco e, consequentemente, possibilitar que as empresas tenham melhorias nas condições de crédito. Sharpe (1990) e Rajan (1992) concluem que o relacionamento bancário a longo prazo aumenta o acesso a linhas crédito e melhora também as condições de financiamento para as Micro e Pequenas Empresas. Segundo Kirschenamnn e Norden (2012), grande parte dos financiamentos concedidos pelas instituições financeiras para as pequenas e médias empresas são analisados com base no relacionamento de crédito, havendo uma comparação entre o relacionamento com o banco e as transações efetuadas, sendo uma prática utilizada em diversos países. O estudo de Peltoniemi e Vieru (2013) indica que o relacionamento bancário tem sido capaz de reduzir alguns dos problemas de assimetrias informacionais, especialmente as que dizem respeito à disponibilidade de crédito e custo do crédito. Esse âmbito de relacionamento e transações podem ser definidos como a amplitude da relação (anos de conta bancária), o número de serviços financeiros que a empresa possui com o banco (empréstimos, depósitos, contas de poupança, serviços de gestão financeira, etc.). 14 Assim, a partir dos estudos de Peltoniemi e Vieru (2013), Sharpe (1990), Rajan (1992), Kirschenamn e Norden (2012) e Chen e Martin (2011), foi elaborada a hipótese a ser testada para investigar a influência do relacionamento bancário com as condições financeiras do crédito recursado. Hipótese Geral: Existe relação estatisticamente significante entre relacionamento bancário com a estrutura dos contratos de dívida. A hipótese geral foi segmentada para auxiliar o teste de relacionamento bancário com as duas principais variáveis das estruturas dos contratos de dívida, Taxa de Juros Efetiva e Maturidade. Hipótese 1: existe relação negativa e estatisticamente significante entre o relacionamento bancário com a Taxa de Juros Efetiva Contratada. Hipótese 2: existe relação positiva e estatisticamente significante entre o relacionamento bancário com a Maturidade do Contrato de Dívida. Athavale & Admister (1999) concluem que quanto maior a concentração de crédito junto ao banco financiador está associada a menores custos do crédito e/ou a maior acesso ao crédito ou mesmo mais crédito concedido. Bédué & Lévy (1997) apresentam como conclusão que quanto mais a empresa canalizar suas atividades bancárias em apenas um banco, menos elevado será o seu custo do crédito. Worthington (1999) vai ao encontro de Bédué & Levy (1999) com o resultado que a taxa de juros contratada concedida a um cliente novo era mais alto que a ofertada para cliente que já possuíam relacionamento com o banco. 15 3. METODOLOGIA Este trabalho tem natureza descritiva e utiliza-se de dados secundários. O acesso a informações sobre microempresas é restrito, dado que não há obrigatoriedade de as mesmas publicarem suas demonstrações contábeis. Apesar disso, qualquer empresa formal brasileira deve possuir escrituração contábil, conforme artigo 1.180 e 1.181 do Novo Código Civil. A estratégia para elaboração da base de dados consistiu na solicitação de informações a um escritório de contabilidade localizado ao sul do estado da Bahia. As coletas destes dados foram efetuadas através de uma garantia de sigilo das informações. A base de dados é formada por 266 contratos de dívida de 44 empresas localizadas em uma microrregião do sul do estado da Bahia de 2008 a 2012 e também foram coletados os dados das demonstrações financeiras e contábeis destas empresas. Os tipos de contratos coletados da base de dados foram empréstimos de capital de giro, financiamentos e Leasing. Assim, o modelo contempla três dimensões: relacionamento bancário, características do contrato e características da empresa. Na Tabela 1, a seguir, estão descritas as variáveis que buscam capturar cada dimensão. 16 TABELA 1: VARIÁVEIS DE RELACIONAMENTO BANCÁRIO Variável Sinal Esperado Sinal Esperado H1 H2 + - - + - + Fórmula Nº de Contas Bancárias em Quantidade de Contas diferentes instituições financeiras Se possuía relacionamento Relacionamento com Banco com o Banco igual 1, caso contrário 0. Contratou outros serviços Outros Serviços Contratados financeiros se sim igual a 1, caso contrário 0. Fonte: Elaborado pelo autor Os sinais esperados para cada uma das hipóteses para cada uma das variáveis de estudo são baseados nos estudos destacados no referencial teórico. Athavale & Admister (1999), Bédué & Lévy (1997) e Worthington (1999) destacam que quanto mais concentrada são suas atividades bancárias menor serão seus custos de financiamento, portanto, na hipótese 1 é esperado o sinal positivo para a variável quantidade de contas por se tratar de uma descentralização. Sharpe (1990) e Rajan (1992) em seus estudos mostram que o relacionamento bancário e contratação de serviços financeiros acarretam no acesso a melhores linhas de crédito. 17 Na Tabela 2 estão descritas as variáveis que representam as características do contrato de dívida a partir dos estudos de SRINIVASAN et al (2008) e SRINIVASAN et al (2009) TABELA 2: VARIÁVEIS DE CARACTERISTICAS DO CONTRATO Variável Fórmula Taxa de Juros Efetiva Taxa de Juros Mensal Efetiva do Contrato Maturidade Ln (Quantidade de Dias do contrato) Se possui garantia real igual 1, caso Dummy Garantia contrário 0. Razão entre Valor da Garantia pelo Valor Collateral do Contrato de Dívida Razão entre Valor do Contrato de Dívida Commitment pelo Ativo Total Dummy que possuí como base o tipo Tipo de Contrato de Empréstimo e a dtipo2 sendo Dívida Financiamento e dtipo3 Leasing. Dummy Banco não Bancos que não são integralmente Privado privados são iguais a 1, caso contrário 0. Montante Ln (Valor do Contrato de Dívida) Fonte: Elaborado pelo autor Na Tabela 3 estão descritas as variáveis que representam as características da empresa, formula e os sinais esperados para cada uma das hipóteses sugeridas. 18 TABELA 3: VARIÁVEIS DE CARACTERISTICAS DA EMPRESA Variável Fórmula Razão entre Soma do Passivo (exceto Alavancagem Patrimônio Líquido) pelo o Ativo Total Razão entre Ativo Circulante pelo Passivo Índice de Solvência Circulante Tamanho da Empresa Ln (Ativo Total) Faturamento Ln (Receitas Totais) RoA Razão entre Lucro Líquido pelo Ativo Total Fonte: Elaborado pelo autor Para buscar a resposta às hipóteses da pesquisa foi estabelecido o Modelo (1), baseado em Srinivasan et al. (2008), em que se estima a relação entre ou da Taxa de Juros Efetiva (Hipótese 1) ou da Maturidade da dívida (Hipótese 2) com as variáveis que buscam capturar o Relacionamento Bancário. O modelo também contempla variáveis de controle, que consistem em características da empresa e também do próprio contrato supracitados. O modelo é apresentado a seguir: (1) Taxa de Juros Efetivaitou Maturidadeit= α0 + ∑βit(Relacionamento Bancário) + ∑βit (Características da Empresa) + ∑βit (Características do Contrato) + εit 19 Apresentados em quatro submodelos sendo o primeiro apenas com o grupo relacionamento bancário, o segundo com os grupos de relacionamento bancário e características da empresa, o terceiro com os grupos de relacionamento bancário e características do contrato e por fim o quarto submodelo que contempla os três grupos. 4. RESULTADOS Na TABELA 4 observam-se as estatísticas descritivas das variáveis dependentes e as de estudo utilizadas nos modelos. TABELA 4 - ESTATÍSTICA DESCRITIVA Desvio Variável Observações Média Padrão Mínimo Máximo Taxa de Juros Efetiva 266 0,0157 0,0089 0,0036 0,0520 Maturidade 265 6,5643 1,0059 1,0986 8,2985 Quantidade de Contas 266 4,1729 1,7741 0,0000 7,0000 Dummy Tempo de Relacionamento 266 0,5113 0,5008 0,0000 1,0000 Dummy Serviço Financeiro 266 0,3459 0,4765 0,0000 1,0000 Fonte: Elaborado pelo autor Na base de dados coletada para esta pesquisa a variável Taxa de Juros Efetiva possui 266 observações, média de 1,57% ao mês ou 20,56% ao ano, analisando com a SELIC1 de Abril/15, desvio padrão 0,0089, valor mínimo de 0,36% ao mês ou 4,41% ao ano e valor máximo 5,20% ao mês ou 83,73% ao ano. A média da taxa de juros contratada é 7,81 p.p. maior que a taxa básica de juros do Brasil em março/15 que foi de 12,75% ao ano. 1 Disponível em: http://www.bcb.gov.br/htms/selic/selicdia.asp 20 A variável Maturidade na tabela 4 está classificada por ano, com 265 observações, média de 6,5643, desvio padrão de 1,0059, valor mínimo de 1,0986 e máximo de 8,2985. “Quantidade de Contas” possui 266 observações, média de 4,1729 contas, desvio padrão de 1,7741, mínimo de nenhuma conta bancária aberta antes do acesso ao crédito e máximo de 7 contas abertas. Segundo Bédué & Lévy (1997) empresas que canalizam suas atividades bancárias faz com que elas tenham acesso a melhores linhas de crédito. A Dummy de Tempo de Relacionamento possui 266 observações sendo essas 51,13% com tempo de relacionamento, desvio padrão de 0,5008 e como característica das dummies valor mínimo de 0 e máximo de 1, notasse também a baixa utilização dos serviços bancários pelo fato que aproximadamente 49% das empresas na amostra não possuíam quaisquer relacionamentos bancários antes de recursar o crédito. A Dummy de Serviço Financeiro possui 266 observações sendo essas 34,59% tinham algum serviço contratado junto ao banco que estavam solicitando a linha de crédito, desvio padrão de 0,4765 e como característica das dummies valor mínimo de 0 e máximo de 1, aproximadamente 65% das empresas na amostra não possuíam um serviço financeiro já contratado no banco onde foram recursas o crédito. Na primeira coluna da Tabela 5 onde não foram utilizados os grupos de variáveis de controle, os resultados deste modelo são todos estatisticamente significantes e vão de encontro com os estudos anteriores no que tange a Quantidade de Contas e Dummy Tempo de Relacionamento pelo fato que o sinal esperado era positivo e o sinal do modelo foi negativo, então na primeira coluna 21 sugere que quanto maior o número de contas bancárias abertas pela empresa menor será a Taxa de Juros Efetiva contratada por esta, e a Dummy de Relacionamento Bancário onde o sinal esperado era o negativo o resultado foi positivo, logo o modelo utilizado na primeira coluna sugere que um relacionamento bancário aumentaria a Taxa de Juros. Apenas a Dummy de Serviço Financeiro foi ao encontro da expectativa que era o sinal negativo, sugerindo que contratar outros serviços financeiros do banco onde está contratando o crédito acarretará em uma redução da Taxa de Juros Efetiva. TABELA 5 - RESULTADOS DA REGRESSÃO Variável Dependente: Taxa de Juros Efetiva Variáveis Explicativas (1) (2) (3) -0.0009 *** 0.0003 0.0086 ** Quantidade de Contas (0.0003) (0.0003) (0.0004) (0.0003) Dummy Tempo de Relacionamento 0.0031 *** -0.0002 0.0027 ** 0.0007 (0.0012) (0.0010) (0.0012) (0.0010) Dummy Serviço Financeiro -0.0071 *** -0.0052 *** -0.0063 *** -0,0052 *** (0.0010) (0.0009) (0.0011) (0,0010) Características do Contrato NÃO SIM NÃO SIM Características da Empresa NÃO NÃO SIM SIM ANO SIM SIM SIM SIM 0.0237 *** 0.0576 *** 0.0585 *** 0.0612 *** (0.0027) (0.0045) (0.0084) (0.0083) 265 264 265 264 Relacionamento Bancário Grupo Constante Nº Observações P-Valor (4) 0.0005 0.0000 0.0000 0.0000 0.0000 R² 0.2189 0.5955 0.3407 0.6196 Observações: ***, ** e * correspondem a 1%, 5% e 10% de significância estatística. Desvios padrões entre parênteses. Fonte: Elaborado pelo autor 22 Além das variáveis de estudo, foram inclusas variáveis de controle (grupo de características do contrato e características da empresa) com o objetivo de reduzir o viés decorrente da omissão de variáveis relevantes do modelo. Fazendo que os efeitos das variáveis de estudo sobre a variável dependente sejam o mais fidedigno possível. Já na segunda coluna foi incluído o grupo de variáveis de Características do Contrato como controle, apenas a Dummy de Serviço Financeiro foi estatisticamente significante e o resultado foi ao encontro da literatura utilizada por este estudo, o resultado sinal negativo como na primeira coluna. Na terceira coluna onde foi incluso o grupo de variáveis de Características da Empresa como controle, todas as variáveis do grupo de relacionamento bancário foram estatisticamente significantes. O sinal positivo da variável “Quantidade de Contas” sugere, assim como Bédué & Lévy (1997), que a não fidelização bancária gera dificuldade para acesso a melhores linhas de crédito ofertadas pelo banco. O sinal positivo da dummy de relacionamento bancário vai de encontro com a literatura como na primeira coluna e a dummy de Serviço Financeiro vai ao encontro da literatura com o sinal negativo como na primeira coluna. O Modelo (1) que está na quarta coluna possui os dois grupos de variáveis de controle Características da Empresa e do Contrato, das variáveis de estudo apenas a Dummy de Serviço Bancário foi estatisticamente significante e com o sinal negativo que vai ao encontro da literatura como todas as colunas anteriores. Com isso é possível inferir que a contratação de serviços bancários nos bancos pode gerar benefícios no momento da contratação de uma dívida. 23 TABELA 6 - RESULTADOS DA REGRESSÃO Variável Dependente: Longevidade Variáveis Explicativas (5) (6) (7) 0,0995 *** -0,0149 -0,0586 Quantidade de Contas (0,0360) (0,0266) (0,0444) (0,0414) -0,2176 0,0546 -0,1429 0,0443 (0,1346) (0,1178) (0,1263) (0,1317) 0,2589 ** -0,1147 0,1615 -0,1331 (0,1205) (0,1088) (0,1235) (0,1207) Características do Contrato NÃO SIM NÃO SIM Características da Empresa NÃO NÃO SIM SIM ANO SIM SIM SIM SIM 5,6763 *** 4,608 *** 2,3824 ** 4,1087 *** (0,3314) (0,7125) (1,032) (1,1513) 265 264 265 264 Relacionamento Bancário Grupo Dummy Tempo de Relacionamento Dummy Serviço Financeiro Constante Nº Observações (8) -0,0232 P-Valor 0,0000 0.0000 0.0000 0.0000 R² 0,1184 0,5268 0,2045 0,5342 Observações: ***, ** e * correspondem a 1%, 5% e 10% de significância estatística. Desvios padrões entre parênteses. Fonte: Elaborado pelo autor Na primeira coluna da Tabela 6 as variáveis de estudo Quantidade de Contas e Dummy Serviço Financeiro foram estatisticamente significantes, sendo a Quantidade de Contas vai de encontro com a literatura que apresenta que a concentração das atividades bancárias em menos bancos facilitaria o acesso a melhores linhas de crédito, então, o sinal esperado seria o negativo, entretanto, o resultado obtido foi positivo que sugere que quanto mais contas bancárias a empresa tiver maior será a Maturidade do contrato de dívida e a Dummy de Serviço 24 Financeiro vai ao encontro da literatura onde o sinal esperado era o positivo, pelo fato da contratação de outros serviços abriria linhas melhores de crédito. Como já comentado na descrição da tabela 5, neste modelo também foram inclusas variáveis de controle com a finalidade da redução do viés das variáveis de estudo por omissão de variáveis relevantes no modelo. Já nas demais colunas da Tabela 6 as variáveis de estudo não foram estatisticamente significantes, portanto, não é possível inferir como o relacionamento bancário pode gerar ou não benefícios nos contratos de dívidas das MPEs. Entretanto, é possível inferir que as linhas de crédito possuem características prédeterminadas pelas entidades bancárias e que a única variável em que está na alçada de poder dos gerentes que trabalham com MPEs é a taxa de juros efetiva dos contratos. 25 5. CONCLUSÃO A partir dos resultados obtidos a partir dos modelos estatísticos sugeridos na metodologia foi possível avaliar como as variáveis de estudos (Quantidade de Contas, Dummy de Relacionamento Bancário e Dummy de Serviço Financeiro) explicam as variáveis dependentes (Taxa de Juros Efetiva e Maturidade). A única variável que se mostrou estatisticamente significantes em todos os modelos onde a variável depende era a Taxa de Juros Efetiva foi a dummy de serviços bancários, que se apresentou sempre com o sinal negativo conforme os estudos apresentados no referencial teórico, sugerindo então, que quando a empresa possui outros serviços bancários contratados junto ao banco em que quer contratar a dívida, as empresas têm acesso a linhas crédito melhores. Os modelos que tem a variável dependente como a Maturidade, as variáveis de estudo relacionamento bancário não foram estatisticamente significantes quando utilizados as variáveis de controle, portanto, não é possível tirar conclusões com relação a estas variáveis. Portanto, as Micro, Pequenas e Médias empresas que pretendem no futuro captar recursos com Bancos, podem se beneficiar ao buscarem estruturara um relacionamento bancário ao realizarem contratações de serviços bancários (Seguros, Títulos de Capitalização, Previdências e etc.) para quanto precisarem captar recursos junto as instituições financeiras ter acesso a linhas de crédito com taxas de juros efetivas menores na média. Sendo assim, neste trabalho as evidências indicam que o relacionamento bancário pode fazer parte de uma estratégia para a melhora a capacidade de financiamento das micros e pequenas empresas, pois reduz o custo de 26 monitoramento das instituições financeiras, permitindo o acesso a menores taxas de juros. Esta dissertação tem como limitação a base de dados com pouca diversidade de empresas, pois todas elas são de apenas uma microrregião do Brasil e para os próximos passos desta pesquisa é necessário fazer um matching do rating em que os bancos classificam os clientes com os reais dados da empresa e as variáveis de relacionamento bancário. 27 REFERÊNCIAS ATHAVALE, M.; EDMISTER, R. Borrowing relationships, monitoring and the influence of loan rates, Journal of Finance Research, 22(3), p. 341-352, 1999. BEATTIE, Andrew. 5 Biggest challenges facing you small business. Oakland: Investopedia, [2015?]. Disponível em: http://www.investopedia.com/articles/pf/12/small-business-challenges.asp BÉDUÉ, A.; LÉVY, N. Relation banque-entreprise et cout du crédit. Revue d'Économie Financière, 39(1), pp, 179-200, 1997. BEHR, Patrick; NORDEN, Lars; NOTH, Felix. Financial constraints of private firms and bank lending behavior. Journal of Banking & Finance, v. 37, issue 9, p. 3472– 3485, may, 2013. 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