Os budahs no Afeganistão Representante do Talibã diz que destruição de Budas foi vingança BARBARA CROSSETE DO "THE NEW YORK TIMES" Com a onda de indignação internacional ainda fresca pela destruição de duas estátuas milenares de Buda no Afeganistão, um enviado aos Estados Unidos do Talibã, grupo extremista islâmico que controla 90% do território afegão, afirmou que o governo tomou essa decisão em reacção à oferta, por uma delegação estrangeira, de ajuda para preservar as obras "enquanto milhões de afegãos enfrentam a fome". "Quando suas crianças estão morrendo na sua frente, você não vai se preocupar com uma obra de arte", afirmou Sayed Rahmatullah Hashimi, em entrevista ao "The New York Times" na última sexta feira (16/mar/2001). Rahmatyllah está nos Estados Unidos em uma missão para melhorar as relações e reduzir o isolamento do governo liderado pelo Taleban, reconhecido internacionalmente apenas por Paquistão, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Rahmatullah não expressou nenhum remorso pela destruição das duas estátuas gigantes de Buda esculpidas na rocha na região central do Afeganistão há mais de 1.500 anos. O Taleban usou o argumento da condenação islâmica à adoração de ídolos para ordenar a destruição das estátuas, embora o país não tenha população budista. A destruição das estátuas aconteceu apesar dos apelos internacionais e das ofertas de diversos museus e países para comprar ou guardar as relíquias. Segundo a versão de Rahmatullah, assessor do líder do Taleban, Mohamad Omar, um conselho de sábios religiosos ordenou a destruição das estátuas por "indignação". Segundo ele, a destruição foi provocada pela visita, no mês passado, de uma delegação de enviados europeus, em sua maioria, e de um representante da UNESCO (agência da ONU para cultura), que ofereceram dinheiro para proteger as estátuas gigantes em Bamyian, onde o Taleban estava ocupado em combater uma aliança oposicionista. Outras versões, porém, dizem que os líderes religiosos estariam debatendo a destruição por meses e que recentemente decidiram que as estátuas representavam idolatria e deveriam ser destruídas. "Os sábios disseram a eles que no lugar de gastar dinheiro com estátuas, por que não ajudavam nossas crianças que estão morrendo de desnutrição? Eles rejeitaram dizendo que o dinheiro era "só para as estátuas", afirmou Rahmatullah. "Os sábios ficaram tão zangados que disseram: â??Se vocês estão destruindo nosso futuro com sanções económicas, vocês não podem se preocupar com nosso património??. E então decidiram que as estátuas deveriam ser destruídas." "O que você poderia esperar de um país se você apenas o repudia e o isola e o ataca com mísseis enquanto suas crianças estão morrendo?", questionou Rahmatullah. "Vocês não reconhecem nosso governo. Esse é um tipo de ressentimento que está crescendo no Afeganistão." Um pouco da História, para nos fazer perceber o porquê. No dia primeiro de Março de 2001 o grupo extremista islâmico Talibã, que controla 90% do Afeganistão, iniciou a destruição de centenas de estátuas com valor cultural inestimável, por considera-las ofensivas a um preceito muçulmano contrário a adoração de imagens. Um dos principais centros da campanha lançada pelo governo do Talibã para destruição das imagens, é a cidade de Bamiyan, que abriga duas estátuas gigantes de Buda datadas do século V e classificadas pela ONU como património da humanidade. Uma delas, com 53 metros, é considerada a maior imagem de Buda em pé do mundo. Segundo o ministro da Informação e Cultura do Talibã, Qudratullah Jamal, a destruição também atingirá o museu de Cabul, que abriga mais de 6 mil estátuas. Apesar dos vários apelos internacionais, inclusive de países muçulmanos, a intolerância com pretextos religiosos não poupou as estátuas. Após doze dias de tentativas frustradas de negociação, a UNESCO (Organização das Nações Unidas para Educação Ciência e Cultura) confirmou a destruição de várias relíquias, incluindo as estátuas gigantes do Buda. Nesse período, a Unesco chegou a enviar um telegrama para o líder do Taleban, Mohammad Omar, pedindo para que ele reconsiderasse a decisão, enquanto que embaixadores de vários países islâmicos, que também são contra a atitude, apelaram Elaborado por Denise Garcia Os budahs no Afeganistão inutilmente. "É um absurdo tão grande que custamos a crer. É um caso grave de extremismo. A religião cegou a inteligência desses dirigentes", disse revoltado o vice-diretor cultural da Unesco, Mounir Bouchenaki, frente a esse verdadeiro crime que o governo afegão do Talibã está cometendo contra o património histórico-cultural da humanidade. Na verdade, a destruição de imagens budistas no Afeganistão, é apenas mais um capítulo da insanidade que toma conta do fanatismo religioso ou ideológico, que em nome de Deus ou do povo, são capazes de cometer os mais hediondos crimes contra a cultura e contra a história. Desde a época de Cristo, a humanidade já convivia com esse tipo de barbárie. Foi assim que no ano 70 os romanos destruíram o Segundo Templo em Jerusalém, um dos locais mais sagrados para os judeus, onde se encontra hoje o Muro das Lamentações. No Oriente Próximo sob domínio bizantino, os iconoclastas procuraram destruir todas as imagens religiosas, argumentando que a idolatria era contrária aos princípios do verdadeiro cristianismo. Ao longo da Idade Média os crimes prosseguiram, destacando-se uma série de ataques cristãos contra obras muçulmanas durante a Guerra de Reconquista e a demolição de todas as esfinges astecas no Novo Mundo pelos colonizadores espanhóis. Na modernidade, obras dos dois maiores escultores do Mediterrâneo helênico, os gregos Fídias e Miron, foram espedaçadas por saqueadores otomanos, que assim tinham melhores condições de transporte para o contrabando. Hoje existe um verdadeiro acervo de partes dessas relíquias em museus da França e da Inglaterra. Na primeira década do século XIX o império francês de Napoleão Bonaparte também destruiu e saqueou obras de povos conquistados. Já o século XX marcado pela guerra fria também mostrou sua face de barbárie, quando na Rússia bolchevique igrejas foram destruídas, quase ao mesmo tempo em que os nazistas queimavam livros e sinagogas na Alemanha. A Mongólia comunista destruiu cerca de 600 monastérios budistas, o mesmo aconteceu na China dos anos 60 durante a Revolução Cultural. Mais recentemente, a península balcânica também foi palco de destruição, quando nos anos 90 o ódio racial dos sérvios iniciou uma verdadeira faxina étnica, não poupando nem as mesquitas na região muçulmana do Kosovo. A própria Índia, hoje revoltada com a destruição das obras budistas no Afeganistão, também foi palco do fanatismo religioso, quando em 1991, nacionalistas hindus atacaram a mesquita de Babri, sob o argumento de que a mesma teria sido construída sobre as ruínas de um templo destruído por invasores muçulmanos no mítico local do nascimento do deus Rama. Como se vê, o ato demente do Talibã encontra eco no passado histórico das mais diferentes civilizações. O argumento de que as obras de arte destruídas no Afeganistão representavam uma tentativa de idolatria, prática condenada no islamismo, não procede. Primeiro, não existem budistas no país para representar idolatria aos monumentos. Segundo, o profeta Muhammad, fundador do islamismo, destruiu os ídolos de Meca, excepto a pedra negra há 1.400 anos durante o nascimento da religião, no sentido de consolidar uma visão religiosa de carácter monoteísta entre os árabes. Terceiro, o islamismo é uma religião de paz e tolerância como pode se comprovar ao longo da história, como a Espanha na Idade Média, que após sete séculos de domínio muçulmano permaneceu católica e falando uma língua latina. Destaca-se ainda a preservação do rico legado faraónico no Egipto e de ruínas pré-islâmicas na Turquia, Irão, Síria e Iraque entre outros. Nesse sentido, a crítica do ocidente ao Talibã não pode assumir uma postura etnocêntrica, que venha alimentar ainda mais o preconceito ocidental frente ao islamismo. Deve sim mostrar, que a violência do Talibã nada tem a ver com a doutrina pregada por Maomé, assim como os crimes cometidos pela Igreja Católica durante séculos de inquisição, também nada tinham a ver com os princípios pregados por Jesus Cristo. In história net Quanto a minha opinião pessoal em relação a destruição dos budahs, eu penso que nada nem ninguém sobre qualquer pretexto, seja ele politico ou religioso, deveria destruir obras de arte de património mundial construídas no sec v. ou em qualquer época de marco histórico. É um património único, uma marca de um passado histórico da região outrora budista. Se o país se encontra em dificuldades económicas terá que se aliar a comunidade europeia e pedir ajuda aos demais, mas como a sua politica e religião não permite, é mais fácil destruir património que vai Elaborado por Denise Garcia Os budahs no Afeganistão contra os seus ideais, isto, considerando verdade a causa da destruição dos budahs, o que eu duvido. Para mim , foi mais um acto terrorista e de fanatismo religioso. Esperemos que mundialmente situações como estas não se voltem a repetir, tem que ser imposta uma sanção para que os restantes países de carácter religioso não sigam as iniciativas de destruição provocadas pelos Talibãs. Não concordo de forma nenhuma com este tipo de acções que vão contra todo o nosso património histórico e de identidade mundial, que pertence a todos nós, obras que jamais voltarão a ser refeitas com o mesmo empenho , valor e causa das originais. Mas na questão dos Talibãs eu dificilmente vou conseguir entender o nível do pensamento a que eles se obrigam. Felizmente as estátuas estão a ser reconstruídas , mas até quando vamos permitir que sequer seja possível qualquer cidadão comum decidir que património destruir no seu país???? Até quando a organização mundial do património nos vai deixar ser violados por religiões, e crenças descabidas??? Quando se perderem as identidades patrimoniais, como vamos reconhecer a nossa história? Elaborado por Denise Garcia