Discurso do Prof. Dr. Pe. Álvaro Pimentel SJ, Diretor do Departamento de Filosofia, representando o Magnífico Reitor da FAJE, Prof. Dr. Pe. Jaldemir Vitório SJ, por ocasião da colação de grau da turma de Filosofia de 2011 Prezado Prof. Delmar Cardoso, coordenador do curso de filosofia, Prezado Prof. João Mac Dowell, paraninfo, Prezado Prof. Celso Messias de Oliveira, secretário Geral da FAJE, Prezados colegas professores aqui presentes, Prezados membros do corpo técnico-administrativo da FAJE, Caros Formandos! Seguindo a tradição da Companhia de Jesus, começo pelo agradecimento. Recebam minha viva gratidão todas as pessoas que participam da missão da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia. Agradeço de modo especial aos colegas professores, ao corpo técnico-administrativo, aos funcionários que se dedicam à manutenção e conservação de nossas instalações, aos colaboradores da biblioteca, aos membros da sociedade civil que nos apoiam voluntariamente e, finalmente, mas não em menor intensidade, ao nosso corpo discente, por sua identificação com nossa Faculdade. Proponho agora uma breve meditação sobre o sentido da formação filosófica perseguida em nossa instituição, valendo-me para tanto da alegria que nos contagia nesta noite, sempre em tom de gratidão. Mais uma turma de filósofos conclui sua formação acadêmica na FAJE. E bem mais do que a mera satisfação por uma tarefa cumprida, uma meta alcançada ou um sucesso conquistado, com seriedade e trabalho árduo, convidoos a experimentar uma outra modalidade de sentimentos, sem desprezar os que acabo de elencar. Trata-se daquela “serena alegria da inteligência”; inteligência agora compartilhada em diferentes graus por todos nós. Uma alegria que nasce para nós do caminho trilhado num curso de filosofia: primeiramente, nesses anos de estudos sérios, avançamos na compreensão da vida e do mundo, das relações humanas mais íntimas e dos desafios da realidade política; alcançamos também maior clareza sobre as grandes questões que trabalham de modo permanente a consciência humana; travamos contato, enfim, com o pensamento das mentes mais brilhantes que habitaram a terra, desde a antiguidade até os nossos dias. Tornamo-nos assim herdeiros de uma longa e ininterrupta tradição. A tradição filosófica. Acolhemos, dessa maneira, um traço fundamental de nossa cultura, que, infelizmente, tem sido fortemente reprimido nas últimas décadas. Eis a gratidão, portanto: essa modalidade da alegria voltada para as experiências do passado. Somos gratos pela herança filosófica, que ilumina e eleva nossos espíritos, guiando-nos na busca da verdade e do bem. Mas há também a alegria experimentada na abertura do futuro. Alegria contida e austera como a própria inteligência. Pois não é fácil a tarefa do filósofo no mundo, mesmo que se trate apenas de exercê-la como um professor ou professora de filosofia. A situação de nossa civilização contemporânea tem provocado perplexidade em muitos pensadores próximos de nós. Há, sem dúvida, hoje, uma redução do horizonte da existência humana à promoção do consumo, à criação de mitos voláteis, como são os produtos lançados no mercado, dia-a-dia, com suas micronarrativas de “plena” satisfação. Os sentimentos mais elevados, a criatividade pessoal, a argumentação rigorosa encontram-se ameaçados por um mundo de domínio e manipulação. Nessa civilização em crise, muitas reações emergem de todos os campos da realidade humana (da política, da vida social, da vida científica, da produção artística etc). E é nesse movimento criativo e humanizante que nós desejamos nos inserir, oferecendo nossa contribuição de filósofos e estudiosos da filosofia. E nesse projeto comum, a alegria de uma abertura ao futuro se insinua, discreta e contida como a própria inteligência. O nome dessa modalidade da alegria é a esperança. Ela nos ensina a ver para além dos obstáculos presentes, um futuro de superação. E é sob esse aspecto da esperança que ouso definir diante de vocês, caros formandos, a meta perseguida por nossa faculdade e por este departamento de Filosofia. Formar pensadores para um mundo em que pouco se reflete, um mundo, por isso mesmo, necessitado da coragem de pensar; um mundo, enfim, que se encontra em construção. Essa meta traduz de modo simples a experiência de Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus, que viu na importância dos estudos e na aquisição de um modo pessoal e rigoroso de apreciar a realidade instrumentos fundamentais para promover os valores cristãos numa época conturbada. Cada um de nós, por seu contato com a tradição filosófica, que vem refinando nosso espírito ao longo desses anos de convivência acadêmica, encontra-se, portanto, desafiado a pensar corajosamente o próprio tempo. Isso significa não apenas repetir ou comentar célebres pensadores, mas também promover e exercer a capacidade humana de pensar e discutir, avaliar e planejar o mundo que queremos. Eis a esperança que ratifica mais uma vez a alegria experimentada nessa noite e define o que consideramos ser a meta de um curso de filosofia. Levar ao nosso mundo um pouco mais de clareza, de rigor e de lucidez quanto ao que realmente conta para a realização de nossa humanidade. Sejam portadores, caros formandos, do bom nome da FAJE. Promovamna por onde passarem, não para a glória vã de uma instituição, mas para que mais pessoas se abram à esperança e à coragem de pensar. Álvaro Mendonça Pimentel, sj.