Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo A INFLUÊNCIA DOS FRAGMENTOS VERDES INTRA-URBANOS NO CAMPO TÉRMICO NO ALTO RIO JOANA - RJ Edson Soares Fialho 1 Ernesto Gomes Imbroisi 2 1. Introdução O processo de urbanização ocorrido nas cidades do Brasil, principalmente na segunda metade do século XX, gerou alterações profundas no ambiente natural. O crescimento acelerado das cidades, a impermeabilização dos solos, a construção de viadutos e edificações, a retirada das coberturas vegetais alteraram completamente o balanço hídrico e energético do clima nos espaços urbanos. Os atributos climáticos (temperatura, precipitação, qualidade do ar, etc) que antes eram regidos pelos controles climáticos ou fatores geográficos naturais, passam a ser alterados pelas novas formas, usos do solo e materiais utilizados pelo homem no espaço. As estações climatológicas foram confeccionadas para obter os dados climáticos sem sofrer as influências dos objetos geográficos criados pelo homem. Mas com o decorrer do tempo foi necessário estudar e entender essas alterações climáticas em escala local. Na medida em que as cidades se expandiram, os registros das estações climatológicas foram se tornando insuficientes para abarcar essa nova realidade de ambientes semiconfinados, necessitando de novos métodos de análise para compreender a influência do uso do solo (Yokohari et. al., 1997 e 2001); o grau de obstrução dos prédios a luz solar (Salvi-Sakamoto, 1994), da topografia (Fialho e Brandão 2000), da cobertura vegetal (Sukopp, 2004), da geometria urbana (Eliasson, 1996), de novos fatores geográficos que interferem nos atributos climáticos nas escalas micro e topoclimáticas, muitas vezes de forma a prejudicar a qualidade de vida dos urbanitas. Por isso, a necessidade de se estudar o clima urbano levando em consideração os sistemas atmosféricos que vão ser responsáveis pelas sucessões de tempos, com os Mestre em Geografia pela UFRJ. Professor Agregado do Departamento de Geografia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio); Professor Titular do Curso de Licenciatura em Geografia na Fundação Educacional de Duque de Caxias (FEUDUC); Professor do Colégio Estadual Rotary. E-mail: [email protected] 2 Graduando em Geografia do 6º Período. Bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET) Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). E-mail: [email protected] 1 5170 Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo controles climáticos antropogênicos. Isso mostra o papel importante da ação humana na modificação do clima em escalas meso, topo e microclimáticas. Para Mendonça (2000:168): “...As atividades socio-econômicas urbanas, de maneira geral, são fatores de formação do clima urbano, sendo que a intensidade do adensamento humano e urbano e a localização geográfica da cidade desempenham forte influência em tal formação...”. As diferenças sociais e culturais dos homens, suas relações de trabalho e o modo de produção vão determinar suas ações no espaço geográfico, ocasionando diferentes resultantes nas formas e funções dos objetos construídos. Além de destacarmos a importância do sítio aonde estão inseridas as cidades vão configurar o clima urbano de um dado local. Tarifa e Armani (2001:48) corroboram a definição de clima urbano acima, mostrando que os climas urbanos: “...não podem ser tratados como processos puramente físicos, mas, em todas as suas interações com os fatos associados à produção do espaço através das práticas sociais no cotidiano desta sociedade urbana...”. Outro que aborda as interações dos sistemas sinópticos com o ambiente construído para formar o clima urbano é Amorim (2003:226), que considera o clima das cidades como produto da relação integrada entre o ar atmosférico e o ambiente urbano edificado pelo homem. Essas definições explicitadas acima se enquadram no Sistema Clima Urbano criado por Monteiro (1976), onde o clima urbano é tratado de forma sistêmica para hierarquizar as relações entre ambiente urbano e as alterações ocorridas nos elementos climáticos sobre a cidade. O autor define o clima urbano como um sistema que abrange o clima de um dado espaço terrestre e a sua urbanização, sendo, portanto, um sistema singular, aberto, evolutivo, dinâmico, adaptativo e passível de auto regulação, que abrange um fato natural (clima local) e um fato social (cidade). Nesse sentido o estudo do clima urbano se torna muito importante, e por isso é o principal foco de pesquisa da climatologia geográfica brasileira. Neste trabalho procuramos dar esse enfoque, integrando as condições sinóticas, que denunciam o ritmo do tempo e sua interação com as atividades antrópicas da área de estudo escolhida, que se refere ao alto da bacia hidrográfica do rio Joana. 5171 Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo 2. A compreensão da produção social do espaço geográfico no Alto rio Joana e sua relação com as amenidades climáticas A bacia do alto rio Joana compreende os bairros do Grajaú e do Andaraí. O desenvolvimento urbano ali ocorrido foi de maneira diferenciada, surgindo para atender os objetivos e interesses do capital imobiliário e fabril, o que proporcionou uma diferenciação entre esses dois bairros. O modo de produção capitalista atua em função da sua própria lógica, a obtenção de lucro, fazendo com que as transformações espaciais que ocorram na sociedade carioca sejam por ela determinado. Nesse sentido, o espaço construído seguirá a lógica desigual do seu movimento, onde os indivíduos ocuparão os espaços de acordo com sua classe social. Abreu (1987:11) fala sobre o distanciamento espacial das classes sociais no Rio de Janeiro, onde: “...o alto grau de estratificação social do espaço metropolitano do Rio de Janeiro, na atualidade, é apenas a expressão mais acabada de um processo de segregação das classes populares que vem se desenvolvendo no Rio a bastante tempo...”. Segundo Cardoso (1988:101) a ideologia de criação de espaços diferenciados entre ricos e pobres também cunhou o processo de produção do espaço geográfico do bairro do Grajaú, propiciando o surgimento de diferenças internas em relação ao tipo de uso do solo, da geometria urbana, da densidade demográfica, da densidade de construções verticalizadas e da intensidade de áreas verdes dentro do bairro. O capital imobiliário ao atuar na área, que hoje representa o Grajaú, se apresentou de maneira diversificada, na medida em que, o primeiro loteamento que originou o bairro (1912) foi de responsabilidade da Empresa Companhia Brasileira de Imóveis e Construções. Procurando aproveitar a condição do sítio (sopé do Maciço da Tijuca), que propiciava um maior frescor (amenidade), criando uma imagem de bairro bairro-jardim, com calçadas largas e arborizadas, cujas exigências implicavam em cuidados urbanísticos mais refinados, responsabilizando-se, portanto, por todas as obras de arruamento e infra-estrutura. Visando atender as elites abastadas da Zona Norte 3 . O projeto inicial era de lotes regulares (geometria urbana em forma de tabuleiro) e uso residencial unifamiliar, que se mantém ainda hoje em grande parte, exceto nas ruas de ligação com os bairros vizinhos, como a Barão de Mesquita, Uberaba e Barão do Bom Os bairros que se desenvolveram na Zona Norte do Rio de Janeiro ficam a sotavento do Maciço da Tijuca, propiciando um maior aquecimento, em razão da maior luminosidade fornecida as vertentes das encostas voltadas para o quadrante norte, gerando por conseguinte, maiores temperaturas do ar em comparação as do quadrante sul, situadas a barlavento. 3 5172 Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo Retiro, onde o trânsito é mais intenso, diferenciando-se das demais ruas que apresentam pouco fluxo de veículos automotores. O segundo loteamento (1920) foi realizado pela T. Sá e Companhia Limitada em uma área conhecida como Vila América que não fazia parte do Grajaú, a empresa só tinha o objetivo de vender os terrenos e não se incomodou com as obras de infra-estrutura ou com benfeitorias urbanísticas. A Vila América passa a fazer parte do Grajaú após o Decreto n° 3.157/81, incorporando-se aos espaços dos terrenos e casas valorizados daquele bairro (Leite:2003). Parte do Grajaú, referente a Vila América apresenta um padrão dos lotes bastante irregular, diferente, portanto, do tabuleiro original do bairro. Nessa parte existem algumas características do primeiro loteamento, como a cobertura florestal mas, no geral, tem a forte presença de prédios altos, condicionando a presença de mais concreto. Vizinho ao bairro do Grajaú, o do Andaraí teve uma formação diferente constituído a partir do final do século XIX, um bairro operário, alugando a fábricas de diversos ramos que ali se instalaram pelo baixo preço dos terrenos e pela abundância de recursos hídricos. Era um bairro com casas populares e vilas operárias (Leite e Fabião, 2003) onde o conforto e as amenidades ambientais não eram o propósito do capital industrial, que procurava manter sua força de trabalho próximo ao local de serviço. A geometria urbana do Andaraí não segue nenhum padrão específico, há uma predominância de prédios, principalmente, nas ruas de passagem Barão de Mesquita, Uruguai e Maxwell e nas ruas próximas a Tijuca e a Vila Isabel, assim como apresentam um forte fluxo de veículos. Como hoje se apresenta as diferenças nas formações dos dois bairros levam-nos a formular o presente trabalho que objetiva verificar se as amenidades divulgadas, no Grajaú, como fator de atração de um grupo social abastado persistem em relação ao Andaraí. Ao realizar essa comparação, o trabalho irá demonstrar a influência das áreas verdes intraurbanas no campo térmico do alto rio Joana, onde se inserem os dois bairros. 3. Importância das Áreas Verdes Intra-Urbanas no Controle Térmico das Cidades O Grajaú e o Andaraí apresentam diferenças na intensidade de áreas verdes. O primeiro é um local famoso pela arborização de suas ruas e quintais das casas, conhecido como “Bairro Jardim”, contando com a presença de cinco praças e uma Reserva Florestal. No a presença de árvores mostra-se de maneira fragmentada e menos intensa, onde suas ruas principais e as de passagem apresentam vegetação de baixa intensidade ou nenhuma, embora nos logradouros públicos secundários e terciários possamos encontrar uma considerável presença de árvores. 5173 Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo Pode-se ver que existem diferenças significativas em relação à intensidade de áreas verdes nos dois bairros. Elas são muito importantes nas áreas urbanas, locais onde as alterações ambientais são graves devido as ações antrópicas. As áreas verdes intraurbanas são fatores que controlam os atributos climáticos mais importantes, como a temperatura, tendo diversas funções benéficas para melhorar a qualidade de vida dos urbanitas, além da do conforto térmico, funcionando como filtro para a contaminação do ar e para a diminuição da intensidade de som (Romero, 2001:62). As vegetações em ambientes urbanos funcionam para sombrear, purificar e gerar amenidades térmicas. A radiação solar incidente em ambientes urbanos é absorvida, refletida e emitida de acordo com os materiais, as cores, as formas e os tipos de controles climáticos existentes. Nas folhas a radiação é na maior parte retida, devido a um alto coeficiente de absorção para a radiação solar (Romero, 2001:86). Os raios solares incidem sobre a copa das árvores, cuja maior parte é absorvida pelas folhas, uma pequena parte é refletida e uma outra que não é utilizada pela planta é emitida na direção do chão. Esse processo faz com que se crie um ambiente microclimático com uma temperatura mais baixa que o entorno. (ver figura 1) Figura 1 Extraído de Romero, 2001 5174 Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo Em bairros ou cidades onde a intensidade de áreas verdes é alta como o Grajaú espera-se encontrar ali condições mais favoráveis para uma melhor qualidade de vida. No estudo feito no Vale do Rio Aricanduva, Jardim (2001:197) concluiu que “...as áreas com predomínio de elementos construídos registraram valores mais elevados de temperatura do ar quando comparadas a áreas com maior cobertura de vegetação...”. Isso acontece pelas características intrínsecas da vegetação. Ela tem pouca capacidade calorífica e condutibilidade térmica, albedo baixo, grande absorção da radiação solar e altas taxas de evaporação. A regulação térmica que ela ocasiona é devido a essas características, onde a radiação solar é pouco refletida para o ambiente, e sim mais consumida. A emissão de ondas longas pelas folhas para o ambiente não é a mesma dos ambientes construídos e a evapotranspiração libera o calor para longe do ambiente construído. 4. Procedimentos Metodológicos Foram realizados levantamentos térmicos, segundo os preceitos metodológicos de Fialho (2002), através de um transecto móvel, com um termohigrômetro digital de leitura direta (Minipa - Modelo MT-214) a uma altura de 1,5m em relação ao solo (figura 2) 4 , com 16 pontos ao longo do percurso de 8km, numa velocidade de aproximadamente 50 km-h, totalizando em média 50 minutos, com seu início no Parque Estadual do Grajaú (com 0.55 km2, que se estende sobre a encosta nordeste da Serra dos Três Rios até os limites do Parque Nacional da Tijuca) até o Shopping Iguatemi (Andaraí), como pode ser visto no mapa 1. As leituras foram realizadas em intervalos de três horas, entre os dias 13 de maio de 2004, quando as mensurações começaram às 15 horas às 21 horas; continuando no dia 14, das 6 horas às 15 horas. Neste período, a condição sinótica era de aquecimento pré-frontal com alta nebulosidade, oscilando entre 4/8 e 8/8 e ventos fracos com direção predominante do quadrante sul. Figura 2 – Instrumentos de Campo O Termohigrômetro foi utilizado, juntamente com um receptáculo, confeccionado por tubos e conexões de PVC. (Observação: O comprimento do cano que se anexa as conexões é de 1 metro). 4 5175 Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo Fotografia tirada em 15 de Julho de 2004 por Ana Valéria Freire Allemão Bertolino Quanto à análise dos dados adotou-se a metodologia empregada por Jonhson (1985) e Fialho (2003) para obter as taxas de aquecimento e resfriamento, que serão os elementos necessários para a identificação dos núcleos de inércia térmica. As taxas de aquecimento foram obtidas pela subtração da medida das 12horas pela das 9 horas do dia 14/5/2004 e o resultado foi dividido por seis, o intervalo de horas entre as duas medidas. Quanto a taxa de resfriamento foi realizado o mesmo procedimento. Subtraiu-se a medida das 15 horas pela das 21 horas do dia 13/5/2004, dividindo o resultado pelo intervalo de horas entre as mensurações. Mapa1 – Localização da Área de Estudo e dos Pontos de Mensuração 5176 Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo 5. Análise do Campo Térmico do Alto Rio Joana em Situação Sazonal de Outono No dia 13/5/2004, o município do Rio de Janeiro encontrava-se sob o domínio de um Anticiclone Tropical do Atlântico, pouca nebulosidade e ventos calmos. No dia 14/5/2004 a situação sinótica era de um aquecimento pré-frontal com nebulosidade oscilando entre 4 e 8/8 e ventos fracos do quadrante sul até as 12 horas, aumentando a intensidade. 5177 Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo Por volta das 13 horas a temperatura entrou em declínio e o céu ficou totalmente coberto, influenciando a medida das 15 horas (gráfico 2 e mapa 8), resultando numa homogeneização dos registros térmicos, e por conseguinte, não apresentando condições que propiciassem a identificação de uma Ilha de Calor superior a 1ºC (fraca intensidade) 5 . Tal observação de campo é corroborada com os resultado obtidos por Brandão (2003), quando da realização de um experimento de campo, realizado no outono de 1994, mais precisamente, no dia 19 de abril, sob as mesmas condições atmosféricas. A despeito das observações térmicas do dia 14/05/2004, constatam que a ilha de calor fora de forte intensidade às 9 horas, de 4.5ºC, e de intensidade moderada às 12 horas, 3,5ºC, na rua Ernesto de Sousa (ponto 14) no Andaraí, com pode ser verificado no gráfico 2 e nos mapas 6 e 7. De acordo com algumas causas hipotéticas da ilha de calor formuladas por Oke e citado por Hasenack e Flores (1992:61) e corroborada por Sette (2002:34) essa rua apresenta algumas possíveis condições para a formação das ilhas de calor, com uma cobertura vegetal quase nula; há uma grande liberação de calor e material particulado em decorrência da movimentação de veículos, intensa nos dois horários e pelas obras do Rio Cidade; e muita quantidade de espaço construído que nas palavras de Oke, citado por Hasenack e Flores (1992:61) quer dizer “...maior armazenamento de calor diurno devido as propriedades térmicas dos materiais urbanos...”. No dia 13/05/2004 a intensidade máxima da Ilha de calor ocorreu no Andaraí, e foi de 2.7ºC na rua Uruguai (ponto 15), seguido do Iguatemi (ponto 16) e da Teodoro da Silva (ponto 8) com 2.5ºC, ambos às 21 horas (gráfico 1 e mapa 4). Esses resultados mostram que existe uma ilha de calor noturna de média intensidade nos pontos acima assinalados, provavelmente, devido a influência de poluição. Por que tais pontos apresentam um movimento intenso de carros durante o dia. A poluição aprisiona durante à noite a radiação de ondas longas emitida pelo resfriamento da superfície terrestre (Oke citado por Hasenack e Flores 1992:61). Essa afirmação é corroborada por Sette (2002:34) “...os aerossóis, as poeiras e as fumaças sobre uma cidade originam um “efeito estufa” que limita durante a noite a perda de radiação terrestre para a atmosfera. Quanto à mobilidade espacial do core da ilha de calor no dia 13/05/2004 foi muito pequena, ela esteve às 15 e 18 horas (ver mapas 2 e 3) ao longo da Av. Teodoro da Silva (ponto 7 e 8) com intensidade de 2° C e 2,5° C respectivamente, ainda no Grajaú 6 , e passou às 21 horas (ver mapa 4) para próximo a rua Uruguai com Maxwell (ponto 15) e o shopping Iguatemi (ponto 16) com intensidade de 3° C, já no bairro do Andaraí. De acordo com Gomes (1993) as ilhas de calor podem ser em quatro categorias de intensidade: fraca (0 a 2°C), moderada (2 a 4°C), de forte (4 a 6°C) e muito forte (maior que 6°C). 6 Originalmente o ponto 7 e 8 faziam parte do Andaraí, mas pela valorização dos imóveis do Grajaú foram incorporados a esse bairro. 5 5178 Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo Isso demonstra que a ilha de calor aumentou a sua intensidade ao longo do dia de fraca para moderada, formando uma ilha de calor noturna às 21 horas. Esse resultado também foi encontrado em Londrina (Mendonça:2000:177), mas com uma intensidade muito elevada, em torno de 10° C, por comparar uma cidade com seu entorno rural. Brandão (2000) também encontrou ilhas de calor noturnas em diversos pontos do Rio de Janeiro. As áreas mais densamente construídas têm maior capacidade de conservar calor na massa dos edifícios ao longo do dia e distribuí-los gradativamente ao longo da noite. Outro agravante é que nesses pontos a geração de calor pelas atividades humanas e pelo fluxo dos automóveis agrava o quadro (Brandão:2000 e Romero:2001:90). No dia 14/05/2004 o core da ilha de calor apresentou um comportamento parecido. Manteve-se no Andaraí o tempo todo, inicialmente esteve às 6 horas entre o ponto 15 (rua Uruguai com rua Maxwell) e o ponto 16 (Shopping Iguatemi), com intensidade moderada de 3° C. Depois se deslocou para a Ernesto de Sousa (ponto 14), com intensidade alta de 4,5° C e se manteve às 12 horas nesse mesmo ponto, com a intensidade moderada de 3,5° C (ver mapas 5, 6 e 7). Como já foi mencionado anteriormente às 15 horas o efeito da ilha de calor ficou reduzido a 1° C, por que as situações sinópticas prevaleceram sobre os controle climáticos (ver mapa 8). Observando-se os gráficos 1 e 2 podemos constatar que a ilha de frescor se encontrou na maioria dos casos no ponto 1 (entrada da reserva do Grajaú), somente no dia 14/05/2004 às 9 horas no ponto 4 (rua Visconde de Santa Isabel) e no ponto 6 (rua Araxá) às 9, 12 e 15 horas, com intensidade de –0,4°C às 15 horas e o restante, -0,3° C. Esses dados demonstra a importância de se ter áreas verdes nos espaços intra-urbanos para regular a temperatura com o intuito de melhorar o conforto térmico dos espaços vividos. Quanto às taxas de resfriamento e aquecimento, demonstradas no gráfico 3 e nos mapas 9 e 10, constata-se que o aquecimento é mais lento, nas ruas Araxá (ponto 6), Teodoro da Silva (ponto 8), Nossa Senhora de Lourdes (ponto 9) e Iguatemi (ponto 16), embora apresentem características de uso do solo distintas. O ponto 6 e o 9 são arborizados (consomem energia) e apresentam alguns prédios altos dificultando a chegada da radiação solar. Apresentam também um tráfego pequeno de veículos, enquanto os demais pontos não, mas tem uma relação altura de prédios e largura da via maior, propiciando a formação de ambientes claustrofóbicos ou de recolhimento, onde a maior parte da radiação solar é absorvida muito acima do nível do solo ou a radiação refletida atinge a parede de outros edifícios (Romero:2001:91). 5179 Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo Gráfico 1 - Intensidade da Ilha de Calor ao Longo do Trasnseto Grajaú-Andaraí no dia 13/5/2004 3,0 2,5 2,0 1,5 ºC 1,0 0,5 0,0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 Pontos de Mensuração 15 horas 18 horas 21 horas Gráfico 2 - Intensidade da Ilha de Calor ao Longo do Transeto Grajaú-andaraí no dia 14/05/2004 5,0 4,0 3,0 ºC 2,0 1,0 0,0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 -1,0 Pontos de Mensuração 6 horas 5180 9 horas 12 horas 15horas Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo Gráfico 3 - Taxas de Aquecimento e Resfriamento ao Longo do Trasnseto Grajaú-Andaraí, realizado entre os dias 13 e 14 de Maio de 2004 1,90 0,80 Tx. de Aquecimento (ºC/h) 0,70 1,70 0,65 1,60 0,60 1,50 0,55 0,50 1,40 0,45 1,30 0,40 1,20 Taxa de Resfriamento (ºC/h) 0,75 1,80 0,35 1,10 0,30 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 Pontos de Mensuração Taxa de aquecimento Taxa de Resfriamento Em relação as taxas de resfriamento (mapa 9), de maneira geral, estas apresentam um decaimento contínuo desde a rua Visconde de Santa Isabel (ponto 4) até a rua Caçapava (ponto12). Ocorre um pequeno aumento do índice a partir da rua Gastão Penalva (ponto 13) localizada no Andaraí. O que representa uma maior perda de energia para a atmosfera com mais rapidez, porém, as taxas de resfriamento voltam a decair nas ruas Uruguai (ponto 15) e no Shopping Iguatemi (ponto 16). Estes resultados permitem constatar que os pontos de medida apresentam maior resfriamento no Grajaú em relação ao Andaraí, confirmam a influência da arborização urbana, sendo corroborados pelos estudos desenvolvidos por Brandão (2000), quando do estudo do campo térmico, na cidade do Rio de Janeiro, ao longo de um transecto, que ia do Centro até o bairro de Santa Cruz. O bairro do Grajaú registrou as maiores taxas de resfriamento no dia 19/04/1994 em todo os transecto e no dia 29/05/1995. Mapa 2 5181 Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo Mapa 3 Mapa 4 5182 Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo Mapa 5 Mapa 6 5183 Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo Mapa 7 Mapa 8 5184 Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo Mapa 9 Mapa 10 5185 Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo 5. Considerações Finais Portanto, pode-se perceber que as diferenciações intrínsecas entre os dois bairros geraram controles climáticos distintos que acarretaram climas urbanos diferentes. O Grajaú por ter sido formulado para atender a uma classe nobre, tornou-se um bairro residencial e muito arborizado, já o Andaraí foi feito para ser um bairro operário, onde as benfeitorias urbanas e os melhoramentos urbanísticos não eram necessários. De acordo com as análise do campo térmico do Alto rio Joana, pode-se perceber que realmente há um desconforto térmico no Andaraí em comparação ao Grajaú. As ilhas de calor registradas nos horários do experimento mostram que bairro do Andaraí é mais quente. Elas se formaram basicamente no dia 14/05/2004 na rua Ernesto de Sousa (ponto 14), e era de moderada a forte intensidade, e no dia 13/05/2004 transitou pelos pontos 16 (Iguatemi), 15 (rua Uruguai) e 8 (rua Teodoro da Silva), e foi de intensidade moderada. Isso ocorre no Andaraí devido ao alto fluxo de veículos, de densidade de construções e de edificações e principalmente pela falta de cobertura florestal nas calçadas e quintais. As ilha de frescor foi registrada principalmente no ponto 1 (entrada da reserva do Grajaú) e as temperaturas absolutas mais baixas foram encontradas geralmente no primeiro loteamento do bairro. A arborização do bairro regula as altas temperatura da cidade ocasionadas pelas atividades humanas, gerando uma percepção térmica nos transeuntes de amenidade climática. A própria taxa de resfriamento denuncia a importância da vegetação no controle climático de ambientes urbanos. Ela foi maior nos pontos do Grajaú, mostrando que a cobertura vegetal intra-urbana consome essa energia calorífica produzida nas cidades, 5186 Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo impedindo que se forme ilha de calor noturna, como aconteceu no dia 13/05/2005 no horário das 9 no ponto 15. Isso ocorre devido ao aprisionamento do calor nos canyons urbanos ou/e pelos poluentes da atmosfera. 6. Questionamentos Além dos resultados obtidos, algumas questões ficaram sem respostas e outras surgiram, a partir observação do fenômeno da ilha de calor: a) O core da ilha de calor pode apresentar uma nova área nas demais estações do ano ? b) Como os ventos catabáticos (vales de montanha) interferem no campo térmico ? c) A espacialidade do campo térmico do alto rio Joana pode apresentar uma nova configuração espacial ? REFERÊNCIAS ABREU, M. de. A Evolução Urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IPLANRIO, Jorge Zahar Editor, 1987. 160 p. AMORIM, M. C. de C. T. Ilha de Calor Noturna em Episódios de Verão. Caderno Prudentino de Geografia. Presidente Prudente, n. 25, p. 225-237, 2003. BRANDÃO, A. M. de P. M. A Ilha de Calor de outono na cidade do Rio de Janeiro: Configurações em situações sazonais contrastantes. In: SANT´ANNA NETO, João Lima; ZAVATINI, João Afonso (orgs.).: Variabilidade e Mudanças Climáticas: Implicações ambientais e socio-econômicas. 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