A influência dos fragmentos verdes intra

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Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
A INFLUÊNCIA DOS FRAGMENTOS VERDES INTRA-URBANOS
NO CAMPO TÉRMICO NO ALTO RIO JOANA - RJ
Edson Soares Fialho 1
Ernesto Gomes Imbroisi 2
1. Introdução
O processo de urbanização ocorrido nas cidades do Brasil, principalmente na
segunda metade do século XX, gerou alterações profundas no ambiente natural. O
crescimento acelerado das cidades, a impermeabilização dos solos, a construção de
viadutos e edificações, a retirada das coberturas vegetais alteraram completamente o
balanço hídrico e energético do clima nos espaços urbanos. Os atributos climáticos
(temperatura, precipitação, qualidade do ar, etc) que antes eram regidos pelos controles
climáticos ou fatores geográficos naturais, passam a ser alterados pelas novas formas, usos
do solo e materiais utilizados pelo homem no espaço.
As estações climatológicas foram confeccionadas para obter os dados climáticos
sem sofrer as influências dos objetos geográficos criados pelo homem. Mas com o decorrer
do tempo foi necessário estudar e entender essas alterações climáticas em escala local. Na
medida em que as cidades se expandiram, os registros das estações climatológicas foram
se tornando insuficientes para abarcar essa nova realidade de ambientes semiconfinados,
necessitando de novos métodos de análise para compreender a influência do uso do solo
(Yokohari et. al., 1997 e 2001); o grau de obstrução dos prédios a luz solar (Salvi-Sakamoto,
1994), da topografia (Fialho e Brandão 2000), da cobertura vegetal (Sukopp, 2004), da
geometria urbana (Eliasson, 1996), de novos fatores geográficos que interferem nos
atributos climáticos nas escalas micro e topoclimáticas, muitas vezes de forma a prejudicar a
qualidade de vida dos urbanitas.
Por isso, a necessidade de se estudar o clima urbano levando em consideração os
sistemas atmosféricos que vão ser responsáveis pelas sucessões de tempos, com os
Mestre em Geografia pela UFRJ.
Professor Agregado do Departamento de Geografia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro (PUC-Rio);
Professor Titular do Curso de Licenciatura em Geografia na Fundação Educacional de Duque de Caxias
(FEUDUC);
Professor do Colégio Estadual Rotary.
E-mail: [email protected]
2
Graduando em Geografia do 6º Período.
Bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET)
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
E-mail: [email protected]
1
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controles climáticos antropogênicos. Isso mostra o papel importante da ação humana na
modificação do clima em escalas meso, topo e microclimáticas. Para Mendonça (2000:168):
“...As atividades socio-econômicas urbanas, de maneira geral,
são fatores de formação do clima urbano, sendo que a
intensidade do adensamento humano e urbano e a localização
geográfica da cidade desempenham forte influência em tal
formação...”.
As diferenças sociais e culturais dos homens, suas relações de trabalho e o modo de
produção vão determinar suas ações no espaço geográfico, ocasionando diferentes
resultantes nas formas e funções dos objetos construídos. Além de destacarmos a
importância do sítio aonde estão inseridas as cidades vão configurar o clima urbano de um
dado local.
Tarifa e Armani (2001:48) corroboram a definição de clima urbano acima, mostrando
que os climas urbanos:
“...não podem ser tratados como processos puramente físicos,
mas, em todas as suas interações com os fatos associados à
produção do espaço através das práticas sociais no cotidiano
desta sociedade urbana...”.
Outro que aborda as interações dos sistemas sinópticos com o ambiente construído
para formar o clima urbano é Amorim (2003:226), que considera o clima das cidades como
produto da relação integrada entre o ar atmosférico e o ambiente urbano edificado pelo
homem.
Essas definições explicitadas acima se enquadram no Sistema Clima Urbano criado
por Monteiro (1976), onde o clima urbano é tratado de forma sistêmica para hierarquizar as
relações entre ambiente urbano e as alterações ocorridas nos elementos climáticos sobre a
cidade. O autor define o clima urbano como um sistema que abrange o clima de um dado
espaço terrestre e a sua urbanização, sendo, portanto, um sistema singular, aberto,
evolutivo, dinâmico, adaptativo e passível de auto regulação, que abrange um fato natural
(clima local) e um fato social (cidade).
Nesse sentido o estudo do clima urbano se torna muito importante, e por isso é o
principal foco de pesquisa da climatologia geográfica brasileira. Neste trabalho procuramos
dar esse enfoque, integrando as condições sinóticas, que denunciam o ritmo do tempo e sua
interação com as atividades antrópicas da área de estudo escolhida, que se refere ao alto
da bacia hidrográfica do rio Joana.
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2. A compreensão da produção social do espaço geográfico no Alto rio Joana e sua
relação com as amenidades climáticas
A bacia do alto rio Joana compreende os bairros do Grajaú e do Andaraí. O
desenvolvimento urbano ali ocorrido foi de maneira diferenciada, surgindo para atender os
objetivos e interesses do capital imobiliário e fabril, o que proporcionou uma diferenciação
entre esses dois bairros. O modo de produção capitalista atua em função da sua própria
lógica, a obtenção de lucro, fazendo com que as transformações espaciais que ocorram na
sociedade carioca sejam por ela determinado.
Nesse sentido, o espaço construído seguirá a lógica desigual do seu movimento,
onde os indivíduos ocuparão os espaços de acordo com sua classe social. Abreu (1987:11)
fala sobre o distanciamento espacial das classes sociais no Rio de Janeiro, onde:
“...o alto grau de estratificação social do espaço metropolitano
do Rio de Janeiro, na atualidade, é apenas a expressão mais
acabada de um processo de segregação das classes
populares que vem se desenvolvendo no Rio a bastante
tempo...”.
Segundo Cardoso (1988:101) a ideologia de criação de espaços diferenciados entre
ricos e pobres também cunhou o processo de produção do espaço geográfico do bairro do
Grajaú, propiciando o surgimento de diferenças internas em relação ao tipo de uso do solo,
da geometria urbana, da densidade demográfica, da densidade de construções
verticalizadas e da intensidade de áreas verdes dentro do bairro.
O capital imobiliário ao atuar na área, que hoje representa o Grajaú, se apresentou
de maneira diversificada, na medida em que, o primeiro loteamento que originou o bairro
(1912) foi de responsabilidade da Empresa Companhia Brasileira de Imóveis e Construções.
Procurando aproveitar a condição do sítio (sopé do Maciço da Tijuca), que propiciava um
maior frescor (amenidade), criando uma imagem de bairro bairro-jardim, com calçadas
largas e arborizadas, cujas exigências implicavam em cuidados urbanísticos mais refinados,
responsabilizando-se, portanto, por todas as obras de arruamento e infra-estrutura. Visando
atender as elites abastadas da Zona Norte 3 .
O projeto inicial era de lotes regulares (geometria urbana em forma de tabuleiro) e
uso residencial unifamiliar, que se mantém ainda hoje em grande parte, exceto nas ruas de
ligação com os bairros vizinhos, como a Barão de Mesquita, Uberaba e Barão do Bom
Os bairros que se desenvolveram na Zona Norte do Rio de Janeiro ficam a sotavento do Maciço da
Tijuca, propiciando um maior aquecimento, em razão da maior luminosidade fornecida as vertentes
das encostas voltadas para o quadrante norte, gerando por conseguinte, maiores temperaturas do ar
em comparação as do quadrante sul, situadas a barlavento.
3
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Retiro, onde o trânsito é mais intenso, diferenciando-se das demais ruas que apresentam
pouco fluxo de veículos automotores.
O segundo loteamento (1920) foi realizado pela T. Sá e Companhia Limitada em uma
área conhecida como Vila América que não fazia parte do Grajaú, a empresa só tinha o
objetivo de vender os terrenos e não se incomodou com as obras de infra-estrutura ou com
benfeitorias urbanísticas. A Vila América passa a fazer parte do Grajaú após o Decreto n°
3.157/81, incorporando-se aos espaços dos terrenos e casas valorizados daquele bairro
(Leite:2003). Parte do Grajaú, referente a Vila América apresenta um padrão dos lotes
bastante irregular, diferente, portanto, do tabuleiro original do bairro. Nessa parte existem
algumas características do primeiro loteamento, como a cobertura florestal mas, no geral,
tem a forte presença de prédios altos, condicionando a presença de mais concreto.
Vizinho ao bairro do Grajaú, o do Andaraí teve uma formação diferente constituído a
partir do final do século XIX, um bairro operário, alugando a fábricas de diversos ramos que
ali se instalaram pelo baixo preço dos terrenos e pela abundância de recursos hídricos.
Era um bairro com casas populares e vilas operárias (Leite e Fabião, 2003) onde o
conforto e as amenidades ambientais não eram o propósito do capital industrial, que
procurava manter sua força de trabalho próximo ao local de serviço.
A geometria urbana do Andaraí não segue nenhum padrão específico, há uma
predominância de prédios, principalmente, nas ruas de passagem Barão de Mesquita,
Uruguai e Maxwell e nas ruas próximas a Tijuca e a Vila Isabel, assim como apresentam um
forte fluxo de veículos.
Como hoje se apresenta as diferenças nas formações dos dois bairros levam-nos a
formular o presente trabalho que objetiva verificar se as amenidades divulgadas, no Grajaú,
como fator de atração de um grupo social abastado persistem em relação ao Andaraí. Ao
realizar essa comparação, o trabalho irá demonstrar a influência das áreas verdes intraurbanas no campo térmico do alto rio Joana, onde se inserem os dois bairros.
3. Importância das Áreas Verdes Intra-Urbanas no Controle Térmico das Cidades
O Grajaú e o Andaraí apresentam diferenças na intensidade de áreas verdes. O
primeiro é um local famoso pela arborização de suas ruas e quintais das casas, conhecido
como “Bairro Jardim”, contando com a presença de cinco praças e uma Reserva Florestal.
No a presença de árvores mostra-se de maneira fragmentada e menos intensa, onde suas
ruas principais e as de passagem apresentam vegetação de baixa intensidade ou nenhuma,
embora nos logradouros públicos secundários e terciários possamos encontrar uma
considerável presença de árvores.
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Pode-se ver que existem diferenças significativas em relação à intensidade de áreas
verdes nos dois bairros. Elas são muito importantes nas áreas urbanas, locais onde as
alterações ambientais são graves devido as ações antrópicas. As áreas verdes intraurbanas são fatores que controlam os atributos climáticos mais importantes, como a
temperatura, tendo diversas funções benéficas para melhorar a qualidade de vida dos
urbanitas, além da do conforto térmico, funcionando como filtro para a contaminação do ar e
para a diminuição da intensidade de som (Romero, 2001:62).
As vegetações em ambientes urbanos funcionam para sombrear, purificar e gerar
amenidades térmicas. A radiação solar incidente em ambientes urbanos é absorvida,
refletida e emitida de acordo com os materiais, as cores, as formas e os tipos de controles
climáticos existentes. Nas folhas a radiação é na maior parte retida, devido a um alto
coeficiente de absorção para a radiação solar (Romero, 2001:86). Os raios solares incidem
sobre a copa das árvores, cuja maior parte é absorvida pelas folhas, uma pequena parte é
refletida e uma outra que não é utilizada pela planta é emitida na direção do chão. Esse
processo faz com que se crie um ambiente microclimático com uma temperatura mais baixa
que o entorno. (ver figura 1)
Figura 1
Extraído de Romero, 2001
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Em bairros ou cidades onde a intensidade de áreas verdes é alta como o Grajaú
espera-se encontrar ali condições mais favoráveis para uma melhor qualidade de vida.
No estudo feito no Vale do Rio Aricanduva, Jardim (2001:197) concluiu que “...as
áreas com predomínio de elementos construídos registraram valores mais elevados de
temperatura do ar quando comparadas a áreas com maior cobertura de vegetação...”. Isso
acontece pelas características intrínsecas da vegetação. Ela tem pouca capacidade
calorífica e condutibilidade térmica, albedo baixo, grande absorção da radiação solar e altas
taxas de evaporação. A regulação térmica que ela ocasiona é devido a essas
características, onde a radiação solar é pouco refletida para o ambiente, e sim mais
consumida. A emissão de ondas longas pelas folhas para o ambiente não é a mesma dos
ambientes construídos e a evapotranspiração libera o calor para longe do ambiente
construído.
4. Procedimentos Metodológicos
Foram realizados levantamentos térmicos, segundo os preceitos metodológicos de
Fialho (2002), através de um transecto móvel, com um termohigrômetro digital de leitura
direta (Minipa - Modelo MT-214) a uma altura de 1,5m em relação ao solo (figura 2) 4 , com
16 pontos ao longo do percurso de 8km, numa velocidade de aproximadamente 50 km-h,
totalizando em média 50 minutos, com seu início no Parque Estadual do Grajaú (com 0.55
km2, que se estende sobre a encosta nordeste da Serra dos Três Rios até os limites do
Parque Nacional da Tijuca) até o Shopping Iguatemi (Andaraí), como pode ser visto no
mapa 1.
As leituras foram realizadas em intervalos de três horas, entre os dias 13 de maio de
2004, quando as mensurações começaram às 15 horas às 21 horas; continuando no dia 14,
das 6 horas às 15 horas. Neste período, a condição sinótica era de aquecimento pré-frontal
com alta nebulosidade, oscilando entre 4/8 e 8/8 e ventos fracos com direção predominante
do quadrante sul.
Figura 2 – Instrumentos de Campo
O Termohigrômetro foi utilizado, juntamente com um receptáculo, confeccionado por tubos e
conexões de PVC. (Observação: O comprimento do cano que se anexa as conexões é de 1 metro).
4
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Fotografia tirada em 15 de Julho de 2004 por Ana Valéria Freire Allemão Bertolino
Quanto à análise dos dados adotou-se a metodologia empregada por Jonhson
(1985) e Fialho (2003) para obter as taxas de aquecimento e resfriamento, que serão os
elementos necessários para a identificação dos núcleos de inércia térmica. As taxas de
aquecimento foram obtidas pela subtração da medida das 12horas pela das 9 horas do dia
14/5/2004 e o resultado foi dividido por seis, o intervalo de horas entre as duas medidas.
Quanto a taxa de resfriamento foi realizado o mesmo procedimento. Subtraiu-se a medida
das 15 horas pela das 21 horas do dia 13/5/2004, dividindo o resultado pelo intervalo de
horas entre as mensurações.
Mapa1 – Localização da Área de Estudo e dos Pontos de Mensuração
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5. Análise do Campo Térmico do Alto Rio Joana em Situação Sazonal de Outono
No dia 13/5/2004, o município do Rio de Janeiro encontrava-se sob o domínio de um
Anticiclone Tropical do Atlântico, pouca nebulosidade e ventos calmos. No dia 14/5/2004 a
situação sinótica era de um aquecimento pré-frontal com nebulosidade oscilando entre 4 e
8/8 e ventos fracos do quadrante sul até as 12 horas, aumentando a intensidade.
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Por volta das 13 horas a temperatura entrou em declínio e o céu ficou totalmente
coberto, influenciando a medida das 15 horas (gráfico 2 e mapa 8), resultando numa
homogeneização dos registros térmicos, e por conseguinte, não apresentando condições
que propiciassem a identificação de uma Ilha de Calor superior a 1ºC (fraca intensidade) 5 .
Tal observação de campo é corroborada com os resultado obtidos por Brandão (2003),
quando da realização de um experimento de campo, realizado no outono de 1994, mais
precisamente, no dia 19 de abril, sob as mesmas condições atmosféricas.
A despeito das observações térmicas do dia 14/05/2004, constatam que a ilha de
calor fora de forte intensidade às 9 horas, de 4.5ºC, e de intensidade moderada às 12 horas,
3,5ºC, na rua Ernesto de Sousa (ponto 14) no Andaraí, com pode ser verificado no gráfico 2
e nos mapas 6 e 7. De acordo com algumas causas hipotéticas da ilha de calor formuladas
por Oke e citado por Hasenack e Flores (1992:61) e corroborada por Sette (2002:34) essa
rua apresenta algumas possíveis condições para a formação das ilhas de calor, com uma
cobertura vegetal quase nula; há uma grande liberação de calor e material particulado em
decorrência da movimentação de veículos, intensa nos dois horários e pelas obras do Rio
Cidade; e muita quantidade de espaço construído que nas palavras de Oke, citado por
Hasenack e Flores (1992:61) quer dizer “...maior armazenamento de calor diurno devido as
propriedades térmicas dos materiais urbanos...”.
No dia 13/05/2004 a intensidade máxima da Ilha de calor ocorreu no Andaraí, e foi de
2.7ºC na rua Uruguai (ponto 15), seguido do Iguatemi (ponto 16) e da Teodoro da Silva
(ponto 8) com 2.5ºC, ambos às 21 horas (gráfico 1 e mapa 4). Esses resultados mostram
que existe uma ilha de calor noturna de média intensidade nos pontos acima assinalados,
provavelmente, devido a influência de poluição. Por que tais pontos apresentam um
movimento intenso de carros durante o dia. A poluição aprisiona durante à noite a radiação
de ondas longas emitida pelo resfriamento da superfície terrestre (Oke citado por Hasenack
e Flores 1992:61). Essa afirmação é corroborada por Sette (2002:34) “...os aerossóis, as
poeiras e as fumaças sobre uma cidade originam um “efeito estufa” que limita durante a
noite a perda de radiação terrestre para a atmosfera.
Quanto à mobilidade espacial do core da ilha de calor no dia 13/05/2004 foi muito
pequena, ela esteve às 15 e 18 horas (ver mapas 2 e 3) ao longo da Av. Teodoro da Silva
(ponto 7 e 8) com intensidade de 2° C e 2,5° C respectivamente, ainda no Grajaú 6 , e passou
às 21 horas (ver mapa 4) para próximo a rua Uruguai com Maxwell (ponto 15) e o shopping
Iguatemi (ponto 16) com intensidade de 3° C, já no bairro do Andaraí.
De acordo com Gomes (1993) as ilhas de calor podem ser em quatro categorias de intensidade:
fraca (0 a 2°C), moderada (2 a 4°C), de forte (4 a 6°C) e muito forte (maior que 6°C).
6
Originalmente o ponto 7 e 8 faziam parte do Andaraí, mas pela valorização dos imóveis do Grajaú
foram incorporados a esse bairro.
5
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Isso demonstra que a ilha de calor aumentou a sua intensidade ao longo do dia de
fraca para moderada, formando uma ilha de calor noturna às 21 horas. Esse resultado
também foi encontrado em Londrina (Mendonça:2000:177), mas com uma intensidade muito
elevada, em torno de 10° C, por comparar uma cidade com seu entorno rural. Brandão
(2000) também encontrou ilhas de calor noturnas em diversos pontos do Rio de Janeiro. As
áreas mais densamente construídas têm maior capacidade de conservar calor na massa
dos edifícios ao longo do dia e distribuí-los gradativamente ao longo da noite. Outro
agravante é que nesses pontos a geração de calor pelas atividades humanas e pelo fluxo
dos automóveis agrava o quadro (Brandão:2000 e Romero:2001:90).
No dia 14/05/2004 o core da ilha de calor apresentou um comportamento parecido.
Manteve-se no Andaraí o tempo todo, inicialmente esteve às 6 horas entre o ponto 15 (rua
Uruguai com rua Maxwell) e o ponto 16 (Shopping Iguatemi), com intensidade moderada de
3° C. Depois se deslocou para a Ernesto de Sousa (ponto 14), com intensidade alta de 4,5°
C e se manteve às 12 horas nesse mesmo ponto, com a intensidade moderada de 3,5° C
(ver mapas 5, 6 e 7). Como já foi mencionado anteriormente às 15 horas o efeito da ilha de
calor ficou reduzido a 1° C, por que as situações sinópticas prevaleceram sobre os controle
climáticos (ver mapa 8).
Observando-se os gráficos 1 e 2 podemos constatar que a ilha de frescor se
encontrou na maioria dos casos no ponto 1 (entrada da reserva do Grajaú), somente no dia
14/05/2004 às 9 horas no ponto 4 (rua Visconde de Santa Isabel) e no ponto 6 (rua Araxá)
às 9, 12 e 15 horas, com intensidade de –0,4°C às 15 horas e o restante, -0,3° C. Esses
dados demonstra a importância de se ter áreas verdes nos espaços intra-urbanos para
regular a temperatura com o intuito de melhorar o conforto térmico dos espaços vividos.
Quanto às taxas de resfriamento e aquecimento, demonstradas no gráfico 3 e nos
mapas 9 e 10, constata-se que o aquecimento é mais lento, nas ruas Araxá (ponto 6),
Teodoro da Silva (ponto 8), Nossa Senhora de Lourdes (ponto 9) e Iguatemi (ponto 16),
embora apresentem características de uso do solo distintas. O ponto 6 e o 9 são
arborizados (consomem energia) e apresentam alguns prédios altos dificultando a chegada
da radiação solar.
Apresentam também um tráfego pequeno de veículos, enquanto os demais pontos
não, mas tem uma relação altura de prédios e largura da via maior, propiciando a formação
de ambientes claustrofóbicos ou de recolhimento, onde a maior parte da radiação solar é
absorvida muito acima do nível do solo ou a radiação refletida atinge a parede de outros
edifícios (Romero:2001:91).
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Gráfico 1 - Intensidade da Ilha de Calor ao Longo do
Trasnseto Grajaú-Andaraí no dia 13/5/2004
3,0
2,5
2,0
1,5
ºC
1,0
0,5
0,0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
Pontos de Mensuração
15 horas
18 horas
21 horas
Gráfico 2 - Intensidade da Ilha de Calor ao Longo do
Transeto Grajaú-andaraí no dia 14/05/2004
5,0
4,0
3,0
ºC
2,0
1,0
0,0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
-1,0
Pontos de Mensuração
6 horas
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9 horas
12 horas
15horas
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Gráfico 3 - Taxas de Aquecimento e Resfriamento ao Longo do Trasnseto
Grajaú-Andaraí, realizado entre os dias
13 e 14 de Maio de 2004
1,90
0,80
Tx. de Aquecimento (ºC/h)
0,70
1,70
0,65
1,60
0,60
1,50
0,55
0,50
1,40
0,45
1,30
0,40
1,20
Taxa de Resfriamento (ºC/h)
0,75
1,80
0,35
1,10
0,30
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
Pontos de Mensuração
Taxa de aquecimento
Taxa de Resfriamento
Em relação as taxas de resfriamento (mapa 9), de maneira geral, estas apresentam
um decaimento contínuo desde a rua Visconde de Santa Isabel (ponto 4) até a rua
Caçapava (ponto12). Ocorre um pequeno aumento do índice a partir da rua Gastão Penalva
(ponto 13) localizada no Andaraí. O que representa uma maior perda de energia para a
atmosfera com mais rapidez, porém, as taxas de resfriamento voltam a decair nas ruas
Uruguai (ponto 15) e no Shopping Iguatemi (ponto 16).
Estes resultados permitem constatar que os pontos de medida apresentam maior
resfriamento no Grajaú em relação ao Andaraí, confirmam a influência da arborização
urbana, sendo corroborados pelos estudos desenvolvidos por Brandão (2000), quando do
estudo do campo térmico, na cidade do Rio de Janeiro, ao longo de um transecto, que ia do
Centro até o bairro de Santa Cruz. O bairro do Grajaú registrou as maiores taxas de
resfriamento no dia 19/04/1994 em todo os transecto e no dia 29/05/1995.
Mapa 2
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Mapa 3
Mapa 4
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Mapa 5
Mapa 6
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Mapa 7
Mapa 8
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Mapa 9
Mapa 10
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5. Considerações Finais
Portanto, pode-se perceber que as diferenciações intrínsecas entre os dois bairros
geraram controles climáticos distintos que acarretaram climas urbanos diferentes. O Grajaú
por ter sido formulado para atender a uma classe nobre, tornou-se um bairro residencial e
muito arborizado, já o Andaraí foi feito para ser um bairro operário, onde as benfeitorias
urbanas e os melhoramentos urbanísticos não eram necessários.
De acordo com as análise do campo térmico do Alto rio Joana, pode-se perceber que
realmente há um desconforto térmico no Andaraí em comparação ao Grajaú. As ilhas de
calor registradas nos horários do experimento mostram que bairro do Andaraí é mais
quente. Elas se formaram basicamente no dia 14/05/2004 na rua Ernesto de Sousa (ponto
14), e era de moderada a forte intensidade, e no dia 13/05/2004 transitou pelos pontos 16
(Iguatemi), 15 (rua Uruguai) e 8 (rua Teodoro da Silva), e foi de intensidade moderada. Isso
ocorre no Andaraí devido ao alto fluxo de veículos, de densidade de construções e de
edificações e principalmente pela falta de cobertura florestal nas calçadas e quintais.
As ilha de frescor foi registrada principalmente no ponto 1 (entrada da reserva do
Grajaú) e as temperaturas absolutas mais baixas foram encontradas geralmente no primeiro
loteamento do bairro. A arborização do bairro regula as altas temperatura da cidade
ocasionadas pelas atividades humanas, gerando uma percepção térmica nos transeuntes de
amenidade climática.
A própria taxa de resfriamento denuncia a importância da vegetação no controle
climático de ambientes urbanos. Ela foi maior nos pontos do Grajaú, mostrando que a
cobertura vegetal intra-urbana consome essa energia calorífica produzida nas cidades,
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impedindo que se forme ilha de calor noturna, como aconteceu no dia 13/05/2005 no horário
das 9 no ponto 15. Isso ocorre devido ao aprisionamento do calor nos canyons urbanos ou/e
pelos poluentes da atmosfera.
6. Questionamentos
Além dos resultados obtidos, algumas questões ficaram sem respostas e outras
surgiram, a partir observação do fenômeno da ilha de calor:
a) O core da ilha de calor pode apresentar uma nova área nas demais estações do
ano ?
b) Como os ventos catabáticos (vales de montanha) interferem no campo térmico ?
c) A espacialidade do campo térmico do alto rio Joana pode apresentar uma nova
configuração espacial ?
REFERÊNCIAS
ABREU, M. de. A Evolução Urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IPLANRIO, Jorge Zahar Editor, 1987.
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