ARS VETERINARIA, Jaboticabal, SP, Vol. 20, nº 1, 044-051, 2004. ISSN 0102-6380 INFLUÊNCIA DO SEXO E DO PESO SOBRE MENSURAÇÃO DO COMPRIMENTO AXIAL DO BULBO OCULAR NO CÃO (EFFECT OF SEX AND BODY WEIGHT ON THE OPTIC AXIS OF THE EYE IN DOGS) (INFLUENCIA DEL SEXO Y DEL PESO SOBRE LA MENSURACIÓN DE LA LONGITUD AXIAL DEL BULBO OCULAR EN EL PERRO) J. J. T. RANZANI1, G. R. SAMPAIO*2, G. A. O. CAVALCANTI3, A. J. CROCCI4 RESUMO A catarata, especialmente na espécie canina, é uma doença oftálmica importante. Seu tratamento é eminentemente cirúrgico, mas a perda do cristalino resulta em alta hipermetropia e a visão fica comprometida. A correção pode ser feita com a utilização de uma lente intra-ocular (LIO), porém, a mensuração do comprimento axial do bulbo ocular é essencial para a determinação do poder dióptrico de uma LIO. Este estudo teve por objetivo colher dados biométricos que pudessem fornecer subsídios para a produção de LIOs a serem aplicadas em cães facectomizados, visando à restauração de visão adequada nos animais acometidos por catarata. Foram selecionados 120 cães de ambos os sexos, sadios ao exame clínico e sem evidência de doença ocular ao exame oftálmico de rotina. O estudo biométrico, pela ultra-sonografia modo-A, estabeleceu a distância da córnea à retina. Essa distância foi correlacionada com o peso e com o sexo dos animais, bem como entre os olhos direito e esquerdo. Essa variável apresentou algumas diferenças quando comparada entre os olhos direito e esquerdo e entre machos e fêmeas, mas o principal parâmetro que influencia o comprimento axial do bulbo ocular no cão é o peso. PALAVRAS-CHAVE: Cão. Olho. Biometria. Ultra-sonografia modo-A. SUMMARY Cataract is an important ophthalmic disease in dogs. Treatment is often surgical, but the removal of the lens produces hypermetropia and vision is impaired. Correction is usually performed with an intraocular lens (IOL) and knowledge of the distance from the cornea to the retina is essential for calculation of the dioptric power of the intraocular lens. This study aimed to provide biometric data to support the production of IOL in dogs submitted to removal of the lens, in order to provide a good vision to the dogs after surgery. One hundred and twenty dogs of both sexes, clinicaly healthy and free from ophthalmic disease were used. A biometric study was performed by A-mode ultrasonography to determine the distance between the cornea and retina. This distance was correlated with weight and sex and left and right eyes. Although some differences were observed between left and right eyes and males and females, body weight was the most important variable to influence the distance between the cornea and retina in dogs. KEY-WORDS: Dog. Eye. Biometry. A-mode ultrasonography. 1 Professor Assistente Doutor da FMVZ/Unesp, Campus de Botucatu/SP. Professor da Universidade Federal de Lavras/MG. Caixa Postal 37. CEP. 37200-000. End. Eletrôn.: [email protected] 3 Professor Universidade Federal de Lavras / MG. 4 Professor – Instituto de Biociências da FMVZ/Unesp, Campus de Botucatu/SP. 44 *2 J.J.T. RANZANI, G. R. SAMPAIO, G. A. O. CAVALCANTI, A. J. CROCCI. Influência do sexo e do peso sobre mensuração do comprimento axial do bulbo ocular no cão./ Effect of sex and body weight on the optic axis of the eye in dogs./ Influencia del sexo y del peso sobre la mensuración de la longitud axial del bulbo ocular en el ferro. Ars Veterinaria, Jaboticabal, SP, Vol. 20, nº 1, 044-051, 2004. RESUMEN La catarata es una enfermedad oftálmica importante, especialmente en el perro. Su tratamiento es eminentemente quirúrgico, pero la pérdida del cristalino resulta en fuerte hipermetropía lo que compromete la visión. La corrección puede ser hecha con la utilización de un lente intraocular (LIO), sin embargo la mensuración de la longitud axial del bulbo ocular es esencial para la determinación del poder diotrópico de un LIO. Este estudio tubo como objetivo recoger datos biométricos que pudiesen suministrar informaciones útiles para la producción de LIOs para su aplicación en perros, sometido a cirurgia de catarata, buscando la restauración de la visión adecuada. Fueron seleccionados 120 perros, machos o hembras, saludables al examen clínico y sin evidencia de alteraciones oculares en el examen oftálmico de rutina. En el estudio biométrico, realizado por medio de ultrasonografía en el modo A, se estableció la distancia de la córnea a la retina. Esa distancia fue correlacionada con el peso y con el sexo de los animales, como también entre los ojos derecho e izquierdo. Esa variable presentó algunas diferencias en la comparación entre los ojos derecho e izquierdo y entre machos y hembras, pero el principal parámetro que influye en la longitud axial del bulbo ocular en el perro es el peso. PALABRAS CLAVE: Perro. Ojo. Biometría. Ultrasonografía modo A. INTRODUÇÃO Dentre as doenças oculares dos animais, a catarata, especialmente na espécie canina, ocupa lugar de destaque. Catarata é o nome que se dá à opacidade do cristalino. O cristalino é uma lente biconvexa que possui alto poder de convergência e que auxilia no mecanismo da visão, promovendo a refração convergente dos raios luminosos que penetram no olho. A opacidade do cristalino no cão pode decorrer de várias causas: primária (congênita e hereditária), juvenil, senil, tóxica, metabólica, infecciosa, traumática e secundária (SLATTER, 1990a; SEVERIN, 1991; PETERSEN-JONES, 1993; STADES et al., 1999). Qualquer que seja a causa, a catarata resulta em baixa visão que se acentua progressivamente, chegando a impossibilitar totalmente o contato visual com o meio ambiente. O tratamento da catarata é eminentemente cirúrgico. Porém, a remoção desta poderosa lente biconvexa torna o olho alto hipermétrope, porque o ponto focal do olho afácico, que conta com o poder refrativo apenas da córnea, é atrás da retina, prejudicando o resultado visual da correção cirúrgica (GAIDDON et al., 1991). Os primeiros relatos sobre a cirurgia da catarata em cães datam dos anos 50 e 60 e falam da possibilidade de execução e do sucesso da técnica em restaurar a visão, dando-se os cirurgiões por satisfeitos com a visão afácica hiperópica dos seus pacientes, a qual se restringe a habilidade de evitar colisões e de reconhecer pessoas e objetos. A correção desta alta hipermetropia em animais e a obtenção de visão mais adequada, só é possível com a colocação de lentes intra-oculares (LIOs) (GAIDDON et al., 1991). A primeira citação de aplicação de LIO foi feita em humanos, por Ridley, citado por RUBIN & HOPE (1996), e data de 1949. A descoberta revolucionou a oftalmologia nestes últimos anos. A partir dessa data, muito se tem pesquisado a respeito do desenho e das técnicas de implante da lente, o que minimizou, em muito, as complicações pós-cirúrgicas, tornando rotineiro o uso de LIOs em humanos. Porém, o cristalino dos animais é diferente do cristalino dos seres humanos. Sua forma varia nas diversas espécies, sendo, geralmente, mais esférico (SEVERIN, 1991) e mais espesso (RUBIN & KOCH, 1968), comparativamente ao homem. Entretanto, a oftalmologia veterinária carece de informações mais precisas sobre esse assunto pois, para que se possa fabricar estas lentes, há necessidade de se conhecerem as medidas intra-oculares para se efetuar o cálculo correto do poder dióptrico necessário. PEIFFER & GAIDDON (1991) preocuparam-se em propiciar uma melhor acuidade visual a cães facectomizados, aplicandolhes uma LIO. Estudaram não somente o desenho, mas também quando e como implantá-las. É necessário conhecer o poder dióptrico exato do cristalino e a correlação existente entre o seu tamanho e o tamanho do animal, para que possa ser corrigida, a contento, a afacia. GOLDBERG et al. (1967) estudaram as aplicações da ultra-sonografia em oftalmologia humana, após anestesia tópica, necessitando da colocação do transdutor perpendicularmente à córnea para evitar que pequenos desvios causassem alterações na amplitude da onda do ultra-som. RUBIN & KOCH (1968), após anestesia tópica, sedação e tranqüilização, empregaram a ultra-sonografia modo-A, com transdutor de 7,5 Mhz, para mensurar o eixo axial do bulbo ocular de cães. Relataram que a mensuração mais significativa foi um comprimento axial de 21,5 mm em 45 J.J.T. RANZANI, G. R. SAMPAIO, G. A. O. CAVALCANTI, A. J. CROCCI. Influência do sexo e do peso sobre mensuração do comprimento axial do bulbo ocular no cão./ Effect of sex and body weight on the optic axis of the eye in dogs./ Influencia del sexo y del peso sobre la mensuración de la longitud axial del bulbo ocular en el ferro. Ars Veterinaria, Jaboticabal, SP, Vol. 20, nº 1, 044-051, 2004. uma fêmea da raça Labrador Retriever. SCHIFFER et al. (1982) utilizaram o ultra-som modo –A, com transdutor de 10 Mhz, em 17 cães vivos, machos e fêmeas, sem raça definida, normais ao exame oftálmico, com mais de seis meses de idade. Realizaram anestesias tópica e dissociativa, com sulfato de atropina, cloridrato de xilazina e cloridrato de quetamina. Concluíram não haver diferença significativa entre o comprimento axial dos olhos direito e esquerdo, sendo significativamente maior nos olhos dos machos em relação às fêmeas, com extensão média de 21,91 e 21,29 mm, respectivamente. GELATT et al. (1983) realizaram um estudo em 42 cães da raça Schnauzer miniatura, filhotes e adultos, para determinar características da catarata e da microftalmia congênitas nessa raça. Para tanto, utilizaram anestesia geral e midríase para medir o eixo ântero-posterior do bulbo ocular pela ultra-sonografia modo-A. NOWAK & NEUMANN (1987) utilizaram a ultrasonografia modo-A em 50 olhos de cães não sedados e consideraram que a cicloplegia não influenciou os resultados, obtendo um comprimento axial médio de 20,9 mm. COTTRILL et al. (1989) compararam os aspectos normais do olho e da órbita de cães mesocefálicos e dolicocefálicos por ultra-som modo-A, com transdutor de 10 Mhz, após eutanásia e coleta dos olhos e das órbitas. Os cães tiveram sua idade estimada entre um e cinco anos e eram normais ao exame oftálmico. O comprimento axial do bulbo ocular foi significativamente mais longo em cães dolicocefálicos. Em cães dolicocefálicos e mesocefálicos essa variável não diferiu significativamente entre machos e fêmeas e entre os olhos direito e esquerdo. SHARMA & GUPTA (1990) realizaram um estudo com 15 crânios macerados e limpos de cães adultos e relataram que a profundidade da órbita não variou muito entre as raças diferentes de cães, apesar da forma e do tamanho total do crânio poderem variar, e constataram que o comprimento do eixo óptico era em média 3,22+/0,06 centímetros. GAIDDON et al. (1991) determinaram o comprimento axial de ambos os olhos de 62 cães machos e fêmeas de várias raças, tamanhos e idades, à ultrasonografia modo-A. Realizaram os exames sob anestesia com tiamilal sódico ou com cloridrato de xilazina associado ou não com cloridrato de quetamina. O comprimento axial médio foi de 20,43+/-1,48 mm, significativamente maior em cães de raças grandes, não diferindo significativamente entre olhos direito e esquerdo, entre machos e fêmeas, ou entre idades variadas. MURPHY et al. (1992) realizaram ultra-sonografia modo-A após cicloplegia em 240 cães fácicos de 11 raças 46 diferentes, incluindo cães da raça Pastor Alemão. Os animais não apresentavam doenças oculares e os dados foram analisados por raça, idade e sexo. A média do comprimento axial do bulbo foi 21,92+/-0,54 mm entre cães da raça Pastor Alemão. A ultra-sonografia modo-A também foi realizada, após cicloplegia, em 191 cães por DAVIDSON et al. (1993), para determinar que poder de LIO implantada melhor se aproximava da emetropia em olhos pseudofácicos, mas, neste estudo, a raça e o tipo constitucional dos cães e a refração realizada, individualmente, não foram considerados. Os autores concluíram que cães têm um comprimento axial do bulbo ocular menor que humanos, o que torna necessária a avaliação específica para estes animais. EKESTEN (1994) utilizou o ultra-som modo-A, com transdutor de 10 Mhz, para determinar o comprimento axial do bulbo ocular de 40 cães puros da raça Samoieda, de ambos os sexos, entre dois e cinco anos de idade, saudáveis aos exames clínico e ocular. Médias de medidas consecutivas foram obtidas de cinco sonogramas aceitáveis de cada olho. Alguns animais foram tranqüilizados com 0,01 mg/kg de hidrocloridrato de medetomidina e outros não foram sedados. Foram realizadas a cicloplegia e a anestesia tópica em todos os olhos. As médias do comprimento axial foram 27,2 mm para os animais tranqüilizados e 16,1 mm para os não sedados, mostrando que a sedação é vantajosa na obtenção de resultados mais precisos. WILLIAMS et al. (1996) realizaram uma ampla revisão de literatura com relação à utilização de LIOs em humanos e cães. Segundo estes autores, os cães normais geralmente são emétropes ou baixo míopes e o poder das lentes para olhos com catarata deve ser calculado, para que esses olhos não venham a sofrer refração. A biometria por meio de ultra-som modo-A tornou possível a mensuração do eixo ocular, sendo este uma varíavel fundamental nas fórmulas específicas utilizadas para cálculo de poder dióptrico de LIO. Diante do exposto, com esse estudo objetivou-se estabelecer o comprimento axial dos bulbos oculares de cães, cuja mensuração não é bem estabelecida, mas é essencial para a determinação do poder dióptrico de uma LIO, e correlacionar essa variável com o peso, o sexo e o olho, direito ou esquerdo, dos animais. MATERIAL E MÉTODOS Foram selecionados 120 cães (240 olhos), os quais foram fornecidos pelo Biotério Central da UNESP - Campus J.J.T. RANZANI, G. R. SAMPAIO, G. A. O. CAVALCANTI, A. J. CROCCI. Influência do sexo e do peso sobre mensuração do comprimento axial do bulbo ocular no cão./ Effect of sex and body weight on the optic axis of the eye in dogs./ Influencia del sexo y del peso sobre la mensuración de la longitud axial del bulbo ocular en el ferro. Ars Veterinaria, Jaboticabal, SP, Vol. 20, nº 1, 044-051, 2004. de Botucatu/SP, sem raça definida, sadios ao exame clínico, de ambos os sexos, com idades entre dois a seis anos. Realizou-se exame ocular externo, descartando-se os animais que apresentaram anormalidades do bulbo ocular. Constituíram-se seis grupos, segundo o peso, de acordo com os seguintes critérios: - grupo 1 (20 animais pesando entre 1,0 e 5,0 kg), - grupo 2 (20 animais pesando entre 5,1 e 10,0 kg), - grupo 3 (20 animais pesando entre 10,1 e 15,0 kg), - grupo 4 (20 animais pesando entre 15,1 e 20,0 kg), - grupo 5 (20 animais pesando entre 20,1 e 25,0 kg) - grupo 6 (20 animais pesando acima de 25,1 kg). Cada grupo, por sua vez, foi dividido em subgrupos, de 10 animais cada, de acordo com o seu sexo. Realizou-se a seguinte seqüência experimental: 1) pesagem do animal; 2) medicação pré-anestésica intravenosa com Cloridrato de Levomepromazina (Neozine® – Rhodia - Grupo RhônePoulenc), na dose de 1 mg/kg de peso; 3) manutenção com anestesia dissociativa com 0,3 mg/kg de peso de Midazolam® (Dormonid - Produtos Roche Químicos e Farmacêuticos S.A.) associado com 2 mg/kg de peso de Cloridrato de Quetamina® (Ketalar. - ParkeDavis – Aché Laboratórios Farmacêuticos S.A.), via intravenosa; 4) anestesia tópica com colírio de Cloridrato de Tetracaína 10mg® (Anestésico “Oculum” colírio - Labs. Frumtost S.A.); 5) realização da mensuração do comprimento axial do bulbo ocular, utilizando a ultra-sonografia modo-A com transdutor de 10 Mhz, por meio de ecobiômetro (Echoscan US - 800, NIDEK). Para o procedimento estatístico, foi utilizada análise multivariada de perfil (MORRISON, 1990). RESULTADOS Análise dos dados contidos na Tabela 1: a) Comparação entre olhos direito e esquerdo nos seis grupos: a comparação entre olhos direitos e esquerdos nos animais de todos os grupos experimentais revelou valores semelhantes, exceto as fêmeas do grupo 5, nas quais os comprimentos axiais foram significativamente maiores nos olhos direito, em relação ao esquerdo; b) Comparação entre grupos para olhos direitos dos machos: b1) os comprimentos axiais dos olhos dos animais do grupo 1 foram significativamente menores que os dos grupos 2, 3, 4, e 5 e não apresentaram diferença significativa em relação ao grupo 6, Tabela 1 - Médias de 10 repetições do comprimento axial do bulbo ocular do cão segundo grupos de peso (grupos 1, 2, 3, 4, 5 e 6) e sexo (machos e fêmeas), para cada olho (direito e esquerdo), e resultados do teste estatístico Coeficiente de correlação de Pearson entre as variáveis olho direito e olho esquerdo: r=0,6757 (P<0,01). Para cada sexo: • Letras maiúsculas: para cada grupo, médias de olho seguidas de letras iguais não diferem significativamente (P>0,05); • Letras minúsculas: para cada “olho”, médias de grupos seguidas de letras iguais não diferem significativamente (P>0,05). 47 J.J.T. RANZANI, G. R. SAMPAIO, G. A. O. CAVALCANTI, A. J. CROCCI. Influência do sexo e do peso sobre mensuração do comprimento axial do bulbo ocular no cão./ Effect of sex and body weight on the optic axis of the eye in dogs./ Influencia del sexo y del peso sobre la mensuración de la longitud axial del bulbo ocular en el ferro. Ars Veterinaria, Jaboticabal, SP, Vol. 20, nº 1, 044-051, 2004. Tabela 2 - Médias do comprimento axial do bulbo ocular do cão segundo grupos de peso (grupos 1, 2, 3, 4, 5 e 5) e sexo (machos e fêmeas), e resultados do teste estatístico, independente do olho (direito ou esquerdo) • Letras maiúsculas: para cada sexo, médias de grupos seguidas de letras iguais não diferem significativamente (P>0,05); • Letras minúsculas: para cada grupo, médias de sexo seguidas de letras iguais não diferem significativamente (P>0,05). b2) os comprimentos axiais dos olhos dos animais dos grupos 2, 3, 4, 5 e 6 não apresentaram diferença significativa entre si; c) Comparação entre grupos para olhos esquerdos dos machos: c1) os comprimentos axiais dos olhos dos animais do grupo 1 foram significativamente menores que os dos grupos 2, 3, 4, e 5 e não apresentaram diferença significativa em relação ao grupo 6, c2) os comprimentos axiais dos olhos dos animais dos grupos 2, 3, 4, 5 e 6 não apresentaram diferença significativa entre si; d) Comparação entre grupos para olhos direitos das fêmeas: não houve diferença significativa entre os comprimentos axiais dos olhos dos animais dos grupos 1, 2, 3, 4, 5 e 6; e) Comparação entre grupos para olhos esquerdos das fêmeas: não houve diferença significativa entre os comprimentos axiais dos olhos dos animais dos grupos 1, 2, 3, 4, 5 e 6. Análise dos dados contidos na Tabela 2: a) Comparação entre grupos, independente de olho, para machos: a1) não houve diferença significativa entre os comprimentos axiais dos olhos dos animais dos grupos 2, 3, 4, 5 e 6, a2) os comprimentos axiais dos olhos dos animais do grupo 1 foram significativamente menores que os grupos 2, 3, 4 e 5 e não apresentaram diferença significativa para o grupo 6; b) Comparação entre grupos, independente de olho, para fêmeas: os comprimentos axiais dos olhos dos animais dos grupos 1,2,3,4,5 e 6 não apresentaram diferença significativa entre si; c) Comparação entre machos e fêmeas: os comprimentos axiais apresentaram diferenças apenas nos animais do grupo 5, onde foram significativamente maiores nos olhos dos machos, em relação às fêmeas. 48 DISCUSSÃO A perda do cristalino resulta em alta hipermetropia e comprometimento da visão. A correção pode ser feita com a utilização de lente intra-ocular (LIO), porém, a medida do comprimento axial do bulbo ocular ainda não está estabelecida para o cão, sendo essencial para a determinação do poder dióptrico de uma LIO. Em um experimento como este, o tamanho da amostra é sempre importante, pois amostras que servirão de base para estudos futuros devem ser representativas. Utilizaram-se médias de mensurações repetidas para a maior fidedignidade dos resultados. Os animais não tinham raça definida pela dificuldade em se conseguirem animais de uma mesma raça; fato de menor importância, pois o formato do crânio, segundo SHARMA & GUPTA (1990), não interfere com as medidas do bulbo ocular. Selecionaram-se animais sem doenças sistêmicas ou oftálmicas, para não haver interferência nas mensurações, como fizeram SCHIFFER et al. (1982), COTTRILL et al. (1989), MURPHY et al. (1992) e EKESTEN (1994). A utilização de cães de ambos os sexos teve como objetivo a verificação de possível influência deste parâmetro sobre as mensurações dos olhos. SCHIFFER et al. (1982) concluíram que o comprimento axial dos olhos dos machos é significativamente maior que nas fêmeas, resultado comprovado no presente estudo em relação apenas aos animais do grupo 5. COTTRILL et al. (1989) e GAIDDON et al. (1991) constataram que não há diferença significativa entre o comprimento axial dos olhos entre machos e fêmeas, resultado comprovado por este estudo, em relação aos animais dos grupos 1, 2, 3, 4 e 6. Os animais foram divididos em grupos de acordo com o peso, uma vez que animais mais pesados também podem ser maiores, o que poderia influenciar as mensurações. Este tipo de separação dos animais em grupos foi preconizada por GAIDDON et al. (1991), que afirmaram que o comprimento axial é significativamente J.J.T. RANZANI, G. R. SAMPAIO, G. A. O. CAVALCANTI, A. J. CROCCI. Influência do sexo e do peso sobre mensuração do comprimento axial do bulbo ocular no cão./ Effect of sex and body weight on the optic axis of the eye in dogs./ Influencia del sexo y del peso sobre la mensuración de la longitud axial del bulbo ocular en el ferro. Ars Veterinaria, Jaboticabal, SP, Vol. 20, nº 1, 044-051, 2004. maior em cães grandes, mas no presente estudo não foi observada esta mesma correlação positiva. Foram realizadas mensurações, em separado, para olhos direito e esquerdo, pois esse parâmetro poderia influenciar os resultados finais. SCHIFFER et al. (1982), COTTRILL et al. (1989) e GAIDDON et al. (1991) concluíram não haver diferença significativa entre o comprimento axial total dos olhos direito e esquerdo, o que foi comprovado por este estudo, com exceção dos resultados obtidos para as fêmeas do grupo 5. Estabeleceu-se a idade mínima dos animais, em dois anos, pois, segundo KIRK & BISTNER (1987), cães de raças pequenas têm seu crescimento cessado aos 18 meses e cães de raças grandes aos 24 meses. Essa idade foi a escolhida visando a diminuir as chances de se utilizarem animais com bulbos oculares ainda não totalmente formados, como sugeriu EKESTEN (1994). A idade máxima dos animais utilizados foi de seis anos, pois, conforme KIRK & BISTNER (1987), SLATTER (1990b) e GELATT (1991), após essa idade iniciam-se eventos como esclerose nuclear e doenças oftálmicas, como catarata senil. As mensurações foram realizadas em animais vivos, como feito pela maioria dos autores, com exceção de COTTRILL et al. (1989) e SHARMA & GUPTA (1990), os quais constataram que as alterações post-mortem afetavam as mensurações oculares. A pré-anestesia e a anestesia dissociativa utilizadas neste experimento foram adotadas por provocarem mínimas alterações na pressão intra-ocular, por manterem o bulbo ocular centralizado pelo tempo necessário às mensurações e por terem uma duração efetiva curta, proporcionando uma rápida volta da anestesia nos animais, como realizado por RANZANI et al. (1990), diferindo de SCHIFFER et al. (1982), GELATT et al. (1983), GAIDDON et al. (1991) e EKESTEN (1994). A anestesia tópica, como utilizada por GOLDBERG et al. (1967), RUBIN & KOCH (1968), SCHIFFER et al. (1982) e EKESTEN (1994), facilitou a realização do exame. Midríase e cicloplegia, previamente à realização dos exames, foram empregadas por SCHIFFER et al. (1982), MURPHY et al. (1992), DAVIDSON et al. (1993) e EKESTEN (1994). Neste estudo, elas não foram utilizadas pois, de acordo com NOWAK & NEUMANN (1987), essas condições não influenciam os resultados finais, já que se estudaram medidas para cálculo de LIO. O aparelho utilizado foi o ecobiômetro, aparelho de ultra-sonografia modo-A, como preconizado por GOLDBERG et al. (1967), RUBIN & KOCH (1968), SCHIFFER et al. (1982), GELATT et al. (1983), NOWAK & NEUMANN (1987), COTTRILL et al. (1989), GAIDDON et al. (1991), MURPHY et al. (1992), EKESTEN (1994) e WILLIAMS et al. (1996). A sonda do aparelho foi colocada de forma perpendicular à córnea para evitar desvios, que poderiam causar alterações na amplitude da onda ultrasonográfica, como indicaram GOLDBERG et al. (1967). Segundo EKESTEN (1994), médias de medidas repetidas podem ser usadas para abordar o verdadeiro valor, sugerindo a obtenção de cinco sonogramas consecutivos e aceitáveis de cada olho; no presente estudo, a média final da variável mensurada foi obtida a partir de seis sonogramas. O comprimento axial do bulbo ocular foi significativamente maior nos olhos direitos, comparativamente aos esquerdos, em fêmeas com peso entre 20,1 e 25 kg, e que essa diferença, embora existente, provavelmente não deve exercer influência clínica; e que os machos desse mesmo peso tiveram um comprimento axial significativamente maior que as fêmeas correspondentes. SCHIFFER et al. (1982) observaram não haver diferença entre o comprimento axial do olho direito para o olho esquerdo, assim como GAIDDON et al. (1991) afirmaram não haver diferença significativa entre olhos direito e esquerdo ou machos e fêmeas. No presente experimento, o comprimento axial para machos variou de 18,0 a 20,4 mm e para fêmeas de 18,5 a 19,9 mm, de acordo com o tamanho desses animais. Foram discretamente diferentes dos valores de 21,91 e 21,29 mm encontrados, respectivamente, em olhos de machos e fêmeas por SCHIFFER et al. (1982). O valor máximo encontrado para os machos neste estudo, de 20,4 mm, foi próximo ao valor de 20,9 mm encontrado por NOWAK & NEUMANN (1987), apesar desses autores não terem especificado o peso e o sexo de esses animais para uma comparação mais efetiva. Os valores encontrados estavam próximos ao comprimento axial médio de 20,43+/-1,48 mm, encontrado por GAIDDON et al. (1991). Os valores encontrados para machos e fêmeas acima de 25 kg foram, respectivamente, 19,0 e 19,9 mm, diferindo da média de 21,92+/-0,54 mm encontrada por MURPHY et al. (1992) em cães da raça Pastor Alemão, que são animais, normalmente, com mais de 25 kg de peso. Os valores obtidos, tanto em machos quanto em fêmeas, foram muito diferentes da média de 27,2 mm em cães sedados e da média de 16,1 mm em cães não sedados, encontradas por EKESTEN (1994). Segundo esse autor, a média de 16,1 mm encontrada por ele foi influenciada, provavelmente, pelo desconforto demonstrado pelos animais sem sedação. CONCLUSÕES Nas condições experimentais adotadas, concluiuse que, de acordo com os resultados obtidos, há 49 J.J.T. RANZANI, G. R. SAMPAIO, G. A. O. CAVALCANTI, A. J. CROCCI. Influência do sexo e do peso sobre mensuração do comprimento axial do bulbo ocular no cão./ Effect of sex and body weight on the optic axis of the eye in dogs./ Influencia del sexo y del peso sobre la mensuración de la longitud axial del bulbo ocular en el ferro. Ars Veterinaria, Jaboticabal, SP, Vol. 20, nº 1, 044-051, 2004. semelhança entre os comprimentos axiais dos bulbos oculares mensurados quando comparados entre os sexos e entre os olhos, direito e esquerdo, sendo o peso o principal parâmetro que influencia na mensuração desta variável no cão. MORRISON, D.H. Multivariate statistical methods. 3. ed. New York: Mc Graw – Hill, 1990. 495 p. MURPHY, C.J., ZADNIK, K., MANNIS, M.J. Myopia and refractive error in dogs. Investigative Ophthalmology and Visual Science, v. 33, n. 8, p. 2459 – 2463, 1992. 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