BATISTA, I.A.M. et al. O Papel do Enfermeiro na Prevenção da Farmacorresistência das Micobactérias Tuberculosas Entre os Pacientes Alcoolistas The Role of the Nurse in the Prevention of Pharmacological Resistance of Tuberculous Mycobacteria among Patients Alcoholics Ivanete Alves Mauricio Batistaa; Larissa Rodriguesa; Rafaela Toledo de Almeidaa; Alexandro Marcos Menegócioa* a Faculdade Anhanguera Educacional. Curso de Enfermagem. SP, Brasil. E-mail:[email protected] * Resumo O objetivo deste estudo foi identificar a relação entre o alcoolismo e o desenvolvimento da Tuberculose multirresistente, buscando fundamentar a atuação do enfermeiro em suas intervenções junto a essa clientela. Realizou-se uma revisão bibliográfica sistematizada utilizando as bases de dados indexadas no Portal de Pesquisa da BVS. Foram selecionados 24 artigos científicos, após a supressão das duplicatas, dos artigos não apresentados na íntegra, dos textos em língua estrangeira e cuja temática não contemplava a abordagem desse estudo. Não se identificou relação direta entre o alcoolismo e o desenvolvimento da resistência bacteriana. No entanto, evidenciaram-se exaustivamente índices aumentados de não adesão e abandono do tratamento, que, comprovadamente, constituem fatores de risco importantes para o desenvolvimento da Tuberculose Resistente, tornando imprescindível que o enfermeiro busque novos saberes acerca dessa problemática, o que lhe propiciará a oportunidade de prestar uma assistência mais eficaz junto a esta clientela específica. Palavras-chave: Tuberculose Multidroga Resistente. Alcoolismo. Papel do Enfermeiro. Fatores de Risco. Abstract The objective of this study was to identify the relationship between alcoholism and the development of multidrug-resistant tuberculosis, aimed to support the work of the nurses in their interventions with patients. A systematic review using the databases indexed in the VHL Research Portal was carried out, and 24 scientific articles were selected. No direct relationship between alcoholism and the development of bacterial resistance was observed. However, increased rates of non-compliance and noncompliance with treatment were observed, with important risk factors for the development of resistant TB. Thus, it is essential that nurses seek new knowledge about this issue, which will provide opportunities to a more effective assistance to the patients. Keywords: Tuberculosis. Multidrug-Resistant. Alcoholism. Nurse’s Role. Risk Factors. 1 Introdução Para as civilizações antigas, as doenças eram consideradas castigos dos deuses. Não foi diferente com a tuberculose, doença tão antiga que quase se confunde com a própria história da humanidade. Segundo Kritski, Conde e Souza (2005) coube a Hipócrates o entendimento de que a tuberculose era uma doença natural, e passou a denominá-la tísica - que traz consumpção. Com o desenvolvimento das civilizações e o aumento de aglomerados e aldeias, a doença passa a ser mais citada, pois quanto maior o número de pessoas em áreas fechadas, maior a possibilidade de contaminação. Com as guerras, os povos aumentavam seus domínios e disseminavam o bacilo da tuberculose TB, e assim a doença foi se espalhando mundo afora, entre indivíduos antes nunca expostos, consequência das conquistas e da miséria causada pelas guerras. Durante a revolução Industrial, com a urbanização crescente, a mortalidade era muito alta. Ainda segundo Kritski, Conde e Souza (2005) nesse momento socioeconômico especial, a mortalidade por tuberculose na primeira metade do século XIX em Londres atingiu 1.100 por 100 mil habitantes. Ensaios Cienc., Cienc. Biol. Agrar. Saúde, v.19, n.2, p. 65-74, 2015 25% dos óbitos nas cidades do oeste da Europa eram atribuídos à tuberculose e praticamente toda a população ficou infectada. Era a chamada Grande Peste Branca. A partir de 1800, começa uma nova época de entendimento da tuberculose. Conforme relata Long (2008), na data de 24 de março de 1882, o médico alemão Robert Koch, em Berlim, Prússia, descobre o agente causador da tuberculose, chamado hoje de bacilo de Koch. Seus estudos lhe renderam o Prêmio Nobel em 1905 por seu trabalho em tuberculos. Em 1885, Roentgten descobre a radiografia, facilitando o diagnóstico e acompanhamento da doença. O tratamento da época baseava-se em isolamento em sanatórios, repouso em clima de montanha, boa alimentação, medicamentos a base de quinino, creosoto, enxofre, cálcio, ouro, bismuto entre outros (KRITSKI; CONDE; SOUZA, 2005). Em 1921, Albert Calmette e Camile Gerrin iniciaram seus estudos clínicos com uma vacina desenvolvida por eles constituída pelo causador da tuberculose bovina, o Mycobacterium bovis, atenuado. A vacina ficou conhecida como BCG (Bacilo Calmette Guerrin) e a partir de 1950 já era recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) (ANDERSEN; DOHERT, 2005). 65 O Papel do Enfermeiro na Prevenção da Farmacorresistência das Micobactérias Tuberculosas Entre os Pacientes Alcoolistas Com o advento de antibióticos e quimioterápicos, associados a melhorias nas condições de vida da população, os países desenvolvidos alcançaram redução significativa no impacto da doença em seus territórios. “Em nível mundial, tem sido adotada a estratégia DOTS, que engloba: compromisso político das autoridades com o programa, rede de laboratórios acessível, garantia de medicamentos, normas atualizadas, registro e notificação de casos que permita o acompanhamento adequado e o tratamento supervisionado” conforme relataram Dalcolmo, Andrade e Picon (2007). Ainda segundo Dalcomo, Andrade e Picon (2007), a estratégia “DOTS” foi lançada pela Organização Mundial da Saúde - OMS na metade da década de 1990, contemplando cinco pilares considerados essenciais para o controle da doença: a) Compromisso político e suporte financeiro por parte dos países e regiões; b) Provimento adequado e regular de medicamentos, com controle de qualidade dos fármacos; c) Detecção precoce de casos com bacteriologia de boa qualidade; d) Esquemas de tratamento padronizados e aplicados sob observação direta aos pacientes, com o objetivo de assegurar a regularidade na ingestão dos medicamentos; e) Monitoramento e avaliação do sistema de informação e impacto das medidas adotadas. Nos países em desenvolvimento, no entanto, a deterioração dos programas de controle da tuberculose resultou em grandes desafios no terreno das doenças infecciosas. Apesar de tratar-se de uma das doenças mais antigas de que se tem conhecimento, a tuberculose ainda se mantém como importante problema de saúde pública mundial, permanecendo até os dias atuais como a principal causa de morbidade (adoecimento) e mortalidade no mundo. “Em 1993 a OMS chegou a declarar a tuberculose como uma emergência mundial, fundamentando-se nos altos índices de incidência e mortalidade existentes, principalmente em países com piores condições socioeconômicas” como nos lembram Hijjar, Procópio e Freitas (2005). Atualmente, com o alto índice de movimentos migratórios, mesmo nas regiões onde a tuberculose não era mais considerada como prioridade nas políticas de saúde pública, ela vem ressurgindo. Outro fator agravante desse quadro foi a pandemia de infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana - HIV, que mudou a história natural da tuberculose tornando-a uma das principais comorbidades entre os doentes de Aids. Esperanças de que a doença pudesse ser completamente eliminada foram frustradas desde o surgimento de cepas de bacilos multiresistentes aos tuberculostáticos nos anos 1980. O Aurélio, em sua oitava edição, conceitua resistência como a capacidade de um organismo de resistir a uma força ou ação; que não se deteriora com o passar do tempo; durável. O conceito de TBMR adotado até o presente momento 66 é: resistência à rifampicina, isoniazida e a mais um terceiro medicamento dos esquemas padronizados. Mais recentemente, em 2006, surge a forma denominada XDRTB (tuberculose extensivamente resistente), definida como: resistência à rifampicina, a isoniazida, a uma quinolona e a um fármaco injetável de segunda linha (amicacina, canamicina ou capreomicina), conforme informações do Guia de Vigilância Epidemiológica sobre Tuberculose Multirresistente publicado pelo Ministério da Saúde em 2007. O uso inadequado dos medicamentos padronizados de primeira linha para o tratamento dos casos de tuberculose está diretamente relacionado ao aparecimento de cepas de Mycobacterium tuberculosis resistentes a um ou mais medicamentos. Quando a resistência envolve principalmente as medicações mais potentes (rifampicina e isoniazida) são necessários outros esquemas terapêuticos alternativos para seu controle, que usualmente apresentam menor taxa de cura, prognóstico menos favorável, mais efeitos colaterais e custo mais elevado (BRASIL 2007). Conceitualmente, um paciente diagnosticado como portador de tuberculose que inicia o tratamento quimioterápico tanto pode ter suas lesões colonizadas por bacilos que adquiriram resistência durante o tratamento, como pode ser portador de M. tuberculosis que, desde o processo de infecção, já eram resistentes a uma ou mais drogas. A primeira situação é denominada resistência adquirida e a segunda resistência primária. A resistência adquirida é um indicador sensível para avaliar se tanto o médico como o paciente seguem as recomendações padronizadas para o tratamento da tuberculose (CAMPOS, 1999). Segundo Dalcolmo, Andrade e Picon (2007), a multirresistência é considerada um fenômeno biológico iatrogênico, decorrente da aplicação inadequada dos regimes de tratamento de curta duração – especialmente os compostos pela associação de rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol. A estratégia de prevenção da multirresistência é a correta aplicação dos tratamentos chamados de primeira linha e de curta duração, aí implicados fundamentalmente os componentes da chamada estratégia Directly Observed Treatment Short course - DOTS, ou tratamento diretamente observado. O alcoolismo exerce influência sobre o prognóstico e o tratamento da tuberculose, visto que há alta incidência de casos e formas mais avançadas de TB pulmonar entre pacientes alcoolistas (ANDRADE; VILLA; PILLON, 2005). Detectar o consumo de álcool ou sua dependência durante o tratamento da TB é importante para evitar possíveis complicações, tais como o aumento do efeito tóxico e ou aceleração do metabolismo da Rifampicina, e o aumento do risco de hepatite medicamentosa e polineuropatias periféricas pela Isoniazida, conforme informações publicadas nas bulas das duas principais drogas utilizadas no tratamento. Para Bertucchi (2007), do ponto de vista médico, o alcoolismo é uma doença crônica, com aspectos comportamentais e socioeconômicos, caracterizada pelo Ensaios Cienc., Cienc. Biol. Agrar. Saúde, v.19, n.2, p. 65-74, 2015 BATISTA, I.A.M. et al. consumo compulsivo de álcool, na qual o usuário se torna progressivamente tolerante á intoxicação produzida pela droga e desenvolve sinais e sintomas de abstinência quando a mesma é retirada. Apesar de sua estrutura química simples, do ponto de vista farmacológico o etanol apresenta um complexo mecanismo de ação, podendo ocasionar efeitos muito variados no organismo humano. O álcool etílico, quando ingerido, é absorvido no trato gastrointestinal e passa por vários processos bioquímicos no organismo humano (CUPPARI, 2002). A absorção do álcool etílico se inicia na boca, passa ao longo do esôfago e no estômago, mas é principalmente absorvido no intestino delgado e cólon, por difusão, sem sofrer nenhum processo específico de transporte ativo (OLIVEIRA; LUCHESI, 2010). Segundo Anderson, Diblle e Turkki (1988), o efeito tóxico do etanol já inicia-se a partir de sua ingestão, através dos danos causados no trato gastrointestinal e continua após ser absorvido e metabolizado. Segundo Medeiros, Medeiros e Maciel (2007) um indivíduo, ao ingerir pequenas quantidades de etanol pode sofrer excitamento mental, depressão, vômitos ou náuseas. No entanto, os maiores danos são causados quando o etanol é ingerido em grandes quantidades. Devido a sua toxicidade direta ao cérebro, fígado e trato digestivo, o álcool pode provocar vômitos e impedir a absorção de medicamentos, comprometendo o tratamento clínico e trazendo complicações severas a indivíduos portadores de doenças infecciosas e outras patologias. O metabolismo de drogas compreende as seguintes fases: absorção, transporte no sangue, captação hepática, transporte intracelular, formação bioquímica e excreção. O etanol pode aumentar o metabolismo de drogas nas seguintes fases do seu metabolismo: absorção, ligação de proteínas com drogas no plasma, fluxo sanguíneo hepático, distribuição e captação hepática (MINCIS; MINCIS, 2011). Para Silva, Lafaiete e Donato (1979), o alcoolismo crônico, em razão de estar associado à queda da imunidade, desnutrição, fragilidade social, exposições a situações de risco, entre outros, exerce forte influência sobre o prognóstico e o tratamento da tuberculose. Os alcoolistas apresentaram probabilidade quase quatro vezes maior de abandonar o tratamento. O consumo de bebidas alcoólicas é bem aceito e até estimulado pela sociedade. No entanto não se pode esquecer de que, mesmo em pequenas quantidades, o álcool é uma substância tóxica com efeitos importantes sobre o metabolismo humano. Para os pacientes em tratamento contra a tuberculose o cuidado deve ser redobrado, especialmente para aqueles que fazem uso crônico da bebida. Como beber é uma das contraindicações do tratamento da doença, assim que desaparecem os sintomas e passa a sentir-se melhor, o alcoolista crônico tende a deixar de tomar os remédios e retomar o hábito da bebida. A resistência às drogas é uma ameaça aos programas de Ensaios Cienc., Cienc. Biol. Agrar. Saúde, v.19, n.2, p. 65-74, 2015 controle da TB em todo o mundo. Pacientes infectados com cepas resistentes a múltiplas drogas têm menor probabilidade de se curar. Os profissionais diretamente envolvidos no manejo do tratamento necessitam inserir-se mais ativamente, com ações educativas e continuadas, de maneira a integrar a família e a comunidade na prevenção e minimização de danos aos doentes e à população. Ao enfermeiro, na grande maioria das vezes, como líder da equipe, cabe a função de levantar dados e traçar perfis epidemiológicos; implementar ações para prevenção e controle de agravos e complicações à saúde dos pacientes, familiares e comunidade; promover ações de educação continuada aos colaboradores da equipe multidisciplinar e aos usuários dos serviços; além de atuar na assistência direta aos pacientes, no plano operativo. Para Caminero (2013), com uma boa gestão de caso clínico e operacional, todas as formas de tuberculose resistente a medicamentos - TBDR têm o potencial de cura, incluindo os casos com extenso padrão de resistência. Foram objetivos deste estudo: identificar, na literatura publicada, a associação entre alcoolismo e tuberculose e levantar relação entre o alcoolismo e o desenvolvimento de resistência à quimioterapia tuberculostática pelo Mycobacterium tuberculosis. Buscar evidências que fundamentem e estimulem o enfermeiro para uma atuação pró ativa nos Programas de Combate à Tuberculose. 2 Desenvolvimento 2.1 Metodologia A metodologia utilizada para elaboração deste trabalho foi a revisão bibliográfica sistematizada. Segundo Linde e Willich (2003), uma revisão sistemática, assim como outros tipos de estudo de revisão, é uma forma de pesquisa que utiliza como fonte de dados a literatura sobre determinado tema. Esse tipo de investigação disponibiliza um resumo das evidências relacionadas a uma estratégia de intervenção específica, mediante a aplicação de métodos explícitos e sistematizados de busca, apreciação crítica e síntese da informação selecionada. As revisões sistemáticas são particularmente úteis para integrar as informações de um conjunto de estudos realizados separadamente sobre determinada terapêutica/ intervenção, que podem apresentar resultados conflitantes e/ ou coincidentes, bem como identificar temas que necessitam de evidência, auxiliando na orientação para investigações futuras. Para o alcance dos objetivos propostos, foram selecionadas publicações em português registradas a partir do ano de 2005 utilizando as seguintes bases de dados informatizadas: a) Scientific Electronic Library Online - SciELO: é uma biblioteca eletrônica que abrange uma coleção selecionada de periódicos científicos brasileiros.A SciELO é o resultado de um projeto de pesquisa da Fapesp - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, em parceria 67 O Papel do Enfermeiro na Prevenção da Farmacorresistência das Micobactérias Tuberculosas Entre os Pacientes Alcoolistas com a Bireme - Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde. A partir de 2002, o Projeto conta com o apoio do CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. O Projeto tem por objetivo o desenvolvimento de uma metodologia comum para a preparação, armazenamento, disseminação e avaliação da produção científica em formato eletrônico. Com o avanço das atividades do projeto, novos títulos de periódicos estão sendo incorporados à coleção da biblioteca. b) Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências Sociais e da Saúde - Lilacs: é um diretório, parte de um conjunto de instrumentos que compõe a metodologia criada pela BIREME / OMS / OPAS para a construção de uma base de dados de literatura latino americana e do Caribe em ciências da saúde. Está disponível desde 1983, com periodicidade quadrimestral e tem indexadas publicações nos idiomas português e espanhol. Para acesso às publicações almejadas utilizamos o Portal de Pesquisa da BVS. Durante a consulta foram utilizados os seguintes descritores: tuberculose multidroga resistente, alcoolismo, papel do enfermeiro e, fatores de risco. Os descritores foram lançados na base de dados individualmente e de forma cruzada. Como critérios de inclusão bibliográfica, utilizamos artigos com texto completo disponível, publicados em língua portuguesa, e com publicações realizadas a partir do ano de 2005. Procedemos então à localização do material e à realização inicial de uma leitura exploratória através da análise dos títulos e resumos para o reconhecimento dos artigos de interesse. Em seguida foi realizada a leitura seletiva dos artigos previamente selecionados, na íntegra, para efetuar-se uma nova seleção, identificando-se os artigos de maior relevância para o assunto, os quais foram submetidos à leitura interpretativa. Também foram consultados Manuais, Informativos e Normas Técnicas sobre o assunto, publicados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), pela Organização Panamericana de Saúde (OPAS), pelo Ministério da Saúde e pelo Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) “Prof. Alexandre Vranjac” da Secretaria Estadual de Saúde do Governo do Estado de São Paulo, e outras informações disponibilizadas nas respectivas páginas eletrônicas destas Organizações. O bulário disponibilizado pelos laboratórios produtores dos medicamentos utilizados pelo Programa Nacional de Controle da Tuberculose também foram consultados. Em virtude da natureza da pesquisa, não foi necessária a solicitação de aprovação à Coordenação do Curso ou Comitê de Ética em Pesquisa. 2.2 Discussão Considerando a pesquisa com descritores isolados e aplicados os critérios de exclusão, para o descritor Tuberculose Multidroga Resistente foram obtidos 46 artigos; para o descritor Alcoolismo foram localizadas 590 publicações; para Papel do Enfermeiro obteve-se 432 artigos e para Fatores de Risco foram localizadas 677.169 publicações. Na combinação dos descritores Tuberculose Multidroga Resistente e Alcoolismo, após a seleção dos filtros desejados, foram encontrados 2 artigos; para as combinações Tuberculose Multidroga Resistente e Papel do Enfermeiro ou Tuberculose Multidroga Resistente e Fatores de Risco, não obteve-se nenhuma publicação em língua portuguesa; para Alcoolismo e Papel do Enfermeiro obteve-se 6 artigos como resultado; com os descritores Alcoolismo e Fatores de Risco encontrouse 110 publicações e para Papel do Enfermeiro e Fatores de Risco foram encontrados 10 artigos. Aplicando a combinação de 3 ou 4 descritores e considerando-se os filtros indicados nessa pesquisa, não foram encontrados documentos disponíveis na base de dados. Após a supressão das duplicatas, dos artigos não apresentados na íntegra e cuja temática não contemplava a abordagem desse estudo, permaneceram 24 artigos científicos, conforme mostram os Quadros 1 e 2. Quadro 1: Descrição dos artigos de pesquisa selecionados apresentados em ordem cronológica crescente Continua... Autor / Ano Sujeitos Intervenções Conclusões Os fatores associados com maior percentual foram o etilismo e 189 prontuários de Estudo seccional tabagismo (associados ou não a outros fatores, tais como drogas, Ferreira et al. pacientes com idade de base secundária contágio direto, desnutrição, abandono de esquema, pneumonia (2005) acima de 25 anos não tratada ou doença de Chohn), com 20,6%. 473 culturas com Estudo tipo O fator de risco que se mostrou independentemente associado ao Souza, Antunes crescimento de M. caso-controle, desenvolvimento de tuberculose multirresistente neste estudo foi a e Garcia (2006) tuberculosis retrospectivo presença de um ou mais tratamentos prévios para tuberculose. A recidiva da tuberculose foi mais frequente nos pacientes 610 pacientes com Estudo de casoHIV-positivos e naqueles que não aderiram ao tratamento Picon et al. tuberculose pulmonar coorte com revisão auto-administrado. Para prevenir a não adesão ao tratamento (2007) bacilífera dos prontuários da tuberculose, a alternativa seria a utilização de tratamento supervisionado. Estudo Observou-se neste estudo que comorbidades (etilismo, tabagismo, 57 casos de TBMR do retrospectivo uso de drogas ilícitas e outras) parecem estar associadas a um Vieira et al. Espírito Santo, entre com revisão de desfecho desfavorável do tratamento, como abandono, óbito e (2007) 2000 e 2004 prontuários falência, embora nem todos os casos tenham sido encerrados. 68 Ensaios Cienc., Cienc. Biol. Agrar. Saúde, v.19, n.2, p. 65-74, 2015 BATISTA, I.A.M. et al. Continuação. Autor / Ano Sujeitos Intervenções Conclusões Estudo longitudinal não concorrente de duas coortes de tratamento de tuberculose A estratégia tratamento supervisionado reduziu a taxa de abandono e produziu bons resultados quanto ao desfecho do tratamento, mesmo nos pacientes com fatores de risco para abandono como na coorte tratamento auto-administrado. Paula (2008) 41 casos e mais 3 controles para cada caso Estudo tipo casocontrole não pareado alinhado a uma coorte prospectiva As proporções de casos atribuíveis para fatores associados ao retratamento por abandono foram:17,1% para TBMDR, 37,1% para co-infecção com HIV, 62% para alcoolismo e 55,2% para internação por complicações de TB. Nogueira et al. (2008) 22 prontuários de pacientes acompanhados entre 2002 a 2006 Pesquisa documental retrospectiva Chama atenção que 95% dos casos tinham história de tratamento anterior, sugerindo a necessidade de adoção de medidas que aumentem o rendimento das ações de controle da TB, em especial à implementação da supervisão terapêutica para casos sensíveis, evitando o aparecimento da resistência. Lima, Braga e Gubert (2010) 20 participantes de Estudo descritivo um grupo Alcoólicos de abordagem Anônimos de Fortaleza, qualitativa Ceará 173 pacientes com tratamento Vieira e Ribeiro auto-administrado e 187 pacientes (2008) com tratamento supervisionado O enfermeiro deve considerar a inclusão da família do alcoolista em suas intervenções, aproximando-se de seus membros por meio de ações educativas e visitas domiciliares, haja vista que o apoio social promove autonomia dos sujeitos diante dos processos sobre seu estado de saúde. Carneiro População em situação Relato de Jr., Jesus e de rua da cidade de São experiência Crevelim (2010) Paulo Observa-se prevalência maior de algumas condições na população de rua quando comparada às da população geral, como gestações seis vezes; alcoolismo 30 vezes e tuberculose 57 vezes demonstrando, proporcionalmente, o grau de vulnerabilidade desse grupo. Estudo de casoCampani, 2.098 pacientes sendo controle com Moreira e 218 em situação de revisão dos Tietbohel (2011) abandono do tratamento prontuários Na população estudada, alcoolismo, infecção por HIV e o fato de o paciente não residir com familiares foram os fatores preditores mais importantes para o abandono do primeiro tratamento da tuberculose pulmonar. Silva, Lafaiete e 19 pacientes em Donato (2011) tratamento da TB Os sujeitos percebem o consumo de álcool negativamente e os profissionais nem sempre orientam de forma contínua, mostrando que a enfermagem deve se inserir mais ativamente com ações educativas, de forma compreensiva. Estudo descritivo qualitativo França e Siqueira (2011) Alcoolistas ingressantes no tratamento ambulatorial do PAAHUCAM-UFES A maioria dos participantes (40%) considerava essencial a Pesquisa descritiva motivação para o indivíduo manter-se abstinente, outros julgavam e exploratória, que a falta de motivação é fator predisponente para a recaída com abordagem (20%). Tais achados justificam-se, pois a aderência ao tratamento quali-quantitativa depende da motivação do indivíduo. Orofino et al. (2012) 311 pacientes com tuberculose tratados entre 2004 e 2006 Estudo longitudinal de coorte O alcoolismo é um conhecido fator de risco para os desfechos desfavoráveis da tuberculose, e esforços para uma abordagem multidisciplinar nesses casos devem ser empreendidos para contornar as dificuldades de adesão e tolerância desses pacientes. Bastos et al. (2012) 209 prontuários de pacientes com tuberculose pulmonar Estudo transversal exploratório de análise de prontuários A elevada taxa de resistência primária em pacientes sem fatores de risco conhecido ou em pacientes provenientes de áreas com elevada taxa de incidência e de abandono deve ser motivo de reflexão pelas autoridades no Brasil. Braga et al. (2012) 434 indivíduos (92 casos e 342 controles) Estudo tipo casocontrole O abandono foi relacionado com a baixa adesão ao tratamento e a presença da equipe de saúde completa contribui para uma maior adesão ao tratamento. Augusto et al. (2013) 47.285 casos notificados no SINAM entre 2002 e 2009 Estudo epidemiológico descritivo No período estudado, o número de casos novos, de abandono e de óbitos foi elevado, as comorbidades foram relevantes, e os exames básicos não foram realizados adequadamente para o diagnóstico da tuberculose. Fonte: Dados da pesquisa. Ensaios Cienc., Cienc. Biol. Agrar. Saúde, v.19, n.2, p. 65-74, 2015 69 O Papel do Enfermeiro na Prevenção da Farmacorresistência das Micobactérias Tuberculosas Entre os Pacientes Alcoolistas Quadro 2: Descrição dos artigos de revisão selecionados apresentados em ordem cronológica crescente Autor / Ano Localidade Descritores Conclusões Andrade, Villa e São Paulo - Brasil Pillon (2005) Tuberculose; Alcoolismo; Prognóstico; Tratamento O alcoolismo deve ser mais valorizado pela equipe de saúde que trabalha diretamente no tratamento de pessoas com TB, buscando encontrar meios mais precisos de identificar esses pacientes e oferecer tratamento concomitante para alcoolismo após a identificação de serviços existentes na comunidade para esse fim. Toda orientação em relação ao uso das medicações por esse tipo de paciente deve enfatizar que a ingestão de bebidas alcoólicas aumenta o risco para o desenvolvimento de efeitos colaterais. Dalcolmo, Andrade e Picon (2007) Rio de Janeiro - Brasil TBMDR, prevenção e controle. TBMDR, história. Avaliação de resultado de intervenções terapêuticas. Vigilância epidemiológica. Programas nacionais de saúde. Brasil. Evitar a seleção de resistência é sabidamente a mais importante premissa no tratamento da TB. Some-se a complexidade da doença per se e a dificuldade no manejo do paciente com tratamentos longos e de eficácia menor do que os esquemas convencionais, ao alto custo dos fármacos e da propedêutica necessária ao acompanhamento do tratamento. Além disso, há o sofrimento humano resultante da gravidade das sequelas dessa forma de TB, que muitas vezes excluem o paciente do mercado de trabalho por incapacidade funcional, na sua idade mais produtiva. Pernambuco - Brasil No Brasil, a TBMR se destaca não em seu número, mas no seu potencial de disseminação, pois apesar do número de casos não Tuberculose resistente serem alarmantes, o número de novos casos pode ser associado a dificuldades dos sistemas públicos de saúde. Os regimes de a múltiplas drogas. tratamento adotados são ambulatoriais e auto administrativos, Vigilância Epidemiológica. Perfis logo, a irregularidade e o abandono do tratamento juntamente epidemiológicos. com o uso inadequado da medicação possibilita a seleção de bacilos e assim a resistência adquirida e por consequência a tuberculose multirresistente. São Paulo – Brasil Os fatores preditivos foram: alcoolismo, não supervisão e sexo Tuberculose, resultado masculino. Nas produções brasileiras, a maior preocupação de tratamento e foi a não continuidade do tratamento e apontaram a falta de publicações científicas supervisão como agravante. Nas produções internacionais, a e técnicas multidrogarresistência foi apontada como o grande problema. Covilhã - Portugal Tuberculose multirresistente, resistência aos antibacilares, epidemiologia, co-infecção HIV, prevenção e tratamento. Os fatores de risco de resistência aos antibacilares são diversos e, com base na análise de vários estudos publicados, verificase que os fatores apontados com maior frequência são: o tratamento anterior, a não adesão ao tratamento, a pobreza, indivíduos sem abrigo e alcoolismo. Ceará - Brasil Alcoolismo; Características da Família; Atenção Primária à Saúde. O vínculo estabelecido entre os profissionais, em âmbito familiar, pode potencializar a aceitação de relação de ajuda entre profissionais e família. Por isso, faz-se necessária a capacitação de Enfermeiros, para a identificação e manejo de problemas relacionados ao álcool já no nível de atenção básica. Tuberculose; Inequidade Social; Enfermagem A intervenção da enfermagem é enfocada desde o desenho das políticas públicas, com base em estudos epidemiológicos, mediante a implementação de programas multissetoriais, até a assistência direta e a educação dos usuários no plano operativo. Diferentes instituições profissionais da enfermagem podem desenvolver atuação decisiva para a abordagem integral do problema, no âmbito nacional e internacional, devendo, para isso, estabelecer redes de apoio integradas às dimensões educativas, social, técnica e política. Bases genéticas, resistência bacteriana, resistência natural, resistência adquirida e combate à resistência O uso inadequado de antibióticos, bem como o não cumprimento da prescrição ajuda à aquisição de resistências. Também preocupa um possível exagero de profilaxia, questionando-se o seu impacto na resistência antimicrobiana. Medeiros, Medeiros e Maciel (2007) Villa et al. (2008) Gomes (2008) Oliveira e Luchesi (2010) Oblitas et al. (2010) Lima – Peru Baptista (2013) Lisboa - Portugal Fonte: Dados da pesquisa. 70 Ensaios Cienc., Cienc. Biol. Agrar. Saúde, v.19, n.2, p. 65-74, 2015 BATISTA, I.A.M. et al. Reconhecidamente, o alcoolismo representa alto percentual entre os fatores predisponentes para a tuberculose, demonstrando um maior risco de adoecimento e maior dificuldade no tratamento. Para Andrade, Villa e Pillon (2005) o alcoolismo, por si só, exerce influência sobre o prognóstico e tratamento da Tuberculose, porém, esse vem associado com baixa qualidade de vida, identificada por más condições higiênicas, má distribuição de renda, má nutrição, baixa resistência imunológica, pouco desejo de viver e pouca aceitação do tratamento, o que intensifica ainda mais um desfecho desfavorável em relação ao tratamento da TB. Ferreira et al. (2005) publicaram um estudo com 189 pacientes com idade acima de 25 anos, onde observaram que os principais fatores associados à doença foram etilismo e tabagismo (20,6%), tabagismo (19,8%), e etilismo (16,7%). O etilismo foi também associado a outros fatores, tais como desnutrição, uso drogas ilícitas, contágio direto e abandono de esquema terapêutico. Em estudo realizado por Picon et al. (2007) com 610 pacientes, observou-se que 22% destes eram alcoolistas, fato que comprometeu a adesão ao tratamento com apresentação de uso irregular da medicação. O mesmo estudo indica o tratamento irregular como principal fator de risco para recidiva da doença. Vieira et al. (2007) apontam outro aspecto observado em relação ao abandono do tratamento, foi que, quanto maior o número de contatos não examinados, maior a frequência de casos que não concluíram o tratamento. Portanto, supõese que o suporte social e familiar é capaz de influenciar positivamente nos desfechos dos tratamentos. Em sua revisão bibliográfica, Villa et al. (2008) concluíram que os fatores preditivos para o desfecho desfavorável do tratamento da TB foram: alcoolismo, não supervisão e sexo masculino. Nas produções brasileiras, a maior preocupação foi a não continuidade do tratamento e apontaram a falta de supervisão como agravante. Nas produções internacionais, a multidrogarresistência foi apontada como o grande problema. Estudo publicado por Vieira e Ribeiro (2008) sinalizava que assegurar a regularidade na tomada dos medicamentos e a manutenção do tratamento pelo tempo recomendado tem sido o ponto crítico para o sucesso dos esquemas terapêuticos padronizados para a TB e do controle da cadeia de transmissão, fato comprovado em seu estudo realizado em Carapicuíba, SP, onde observaram que a taxa de abandono diminuiu significativamente de 13,3% no esquema de tratamento auto-administrado para 5,9% quando em tratamento supervisionado. No mesmo estudo, apontaram o alcoolismo como a co-morbidade de maior prevalência e como importante fator de risco para um mau prognóstico e desfecho desfavorável do tratamento da TB. Campani, Moreira e Tietbohel (2011) chegaram à mesma conclusão em estudo realizado na cidade de Porto Alegre, com 2098 pacientes dos quais 10,4% abandonaram o tratamento, Ensaios Cienc., Cienc. Biol. Agrar. Saúde, v.19, n.2, p. 65-74, 2015 sendo o etilismo, com ou sem a concomitância do uso de drogas ilícitas, a principal causa desse abandono. Silva, Lafaiete e Donato (2011) realizaram estudo na cidade do Rio de Janeiro com entrevista a 19 pacientes e relataram a percepção destes em relação ao consumo de álcool durante o tratamento da tuberculose, onde todas as falas refletiam a visão do mau prognóstico ao tratamento com vários relatos de exacerbação dos efeitos adversos dos medicamentos, quando associados ao consumo de bebidas alcoólicas e aumento do desconforto a ponto de comprometer a adesão à terapia medicamentosa. Orofino et al. (2012) também apontaram o alcoolismo como fator de risco para desfecho desfavorável da tuberculose, reduzindo a probabilidade de cura por abandono do tratamento. Augusto et. al. publicaram em 2013 um estudo com 47.285 casos da doença, notificados no estado de Minas Gerais entre 2002 e 2009, onde o alcoolismo foi identificado em 17,1% dos casos, evidenciando que ainda se faz necessária uma atuação multidisciplinar para a ampliação da estratégia TDO e um melhor controle da doença. Quando pensamos na Tuberculose Multirresistente, observamos um consenso entre vários autores de que o fator de risco mais comumente associado ao desenvolvimento da multirresistência é a presença de um ou mais tratamentos prévios para tuberculose. Tal afirmação é corroborada por Souza, Antunes e Garcia (2006), nos lembrando ainda que embora a incidência de MRTB seja relativamente baixa, é preocupante, pois o diagnóstico de tuberculose multirresistente não só diminui as probabilidades de cura, como também aumenta o tempo do tratamento e a sua toxicidade. Seu custo eleva-se cerca de 700 vezes, em comparação com esquemas usados na tuberculose multissensível. Para Medeiros, Medeiros e Maciel (2007), no Brasil, a TBMR se destaca em seu número, mas no seu potencial de disseminação, pois apesar do número de casos não serem alarmantes, o número de novos casos pode ser associado a dificuldades dos sistemas públicos de saúde. Dalcolmo, Andrade e Picon (2007) reforçam que evitar a seleção de resistência é sabidamente a mais importante premissa no tratamento da TB. Conforme demonstra Paula (2008), em estudo tipo casocontrole com 41 pacientes, o alcoolismo foi apontado em 62% dos casos de retratamento por abandono. Também em 2008, Nogueira et al. (2008) realizaram estudo com 22 pacientes com diagnóstico de tuberculose resistente às drogas em João Pessoa, PB, demonstrando que 95% dos casos tinham história de tratamento anterior, sugerindo a necessidade de adoção de medidas que aumentem o rendimento das ações de controle da TB, em especial a implementação da supervisão terapêutica para casos sensíveis, evitando o aparecimento da resistência. Estudo realizado por Vieira e Ribeiro (2008) no Espírito Santo com 67 pacientes de TBMR destacou a não adesão como principal fator relacionado ao surgimento de multirresistência 71 O Papel do Enfermeiro na Prevenção da Farmacorresistência das Micobactérias Tuberculosas Entre os Pacientes Alcoolistas a drogas, ressaltando que, apesar de não haver evidências da associação direta entre etilismo e o desenvolvimento de TBMR, a associação entre este e a não adesão ao tratamento mostra-se estatisticamente significativa. O mesmo estudo aponta ainda uma alta proporção de casos de TBMR adquirida relacionada a falhas no sistema de saúde, em especial pela sua incapacidade de levar a bom termo um tratamento. Nogueira et al. (2008) realizaram estudo em 2008 com pesquisa documental retrospectiva em prontuários de 22 pacientes com diagnóstico de tuberculose resistente a medicamentos em João Pessoa, PB, evidenciando que 95% dos casos realizaram tratamento anterior para tuberculose. Verificaram também que o surgimento de novos casos de TBMR está diretamente relacionado à ineficiência dos serviços de saúde por sua incapacidade de detectar casos novos da doença e pela ocorrência de tratamentos com desfechos desfavoráveis, como abandono e falência. Ainda em 2008, em Covilhã, Portugal, Gomes (2008), baseados na análise de vários estudos, concluíram que os fatores de risco de resistência aos antibacilares apontados com maior frequência são: o tratamento anterior, a não adesão ao tratamento, a pobreza, indivíduos sem abrigo e alcoolismo. Braga et al. (2012) também nos lembram que conhecer o abandono do tratamento da TB no contexto da atenção básica é fundamental para o aperfeiçoamento da es­tratégia de tratamento. Nesse estudo, apontaram que o abandono foi relacionado com a baixa adesão ao tratamento e a presença da equipe de saúde completa contribui para uma maior adesão ao tratamento. Bastos et al. (2012) realizou estudo exploratório em 209 prontuários de pacientes com TB pulmonar e apontou elevada taxa de resistência primária em pacientes sem fatores de risco conhecido provenientes de áreas com elevada taxa de incidência e de abandono. Uma elevada taxa de abandono resulta em surgimento da resistência adquirida. Ao ser transmitida, a resistência adquirida leva ao aparecimento da resistência primária. Ao enfermeiro é relevante a compreensão desses processos e seus efeitos sobre a saúde, sendo o profissional da enfermagem quem deve assumir o papel de protagonista na prevenção e controle da Tuberculose. Baptista (2013), em sua tese de mestrado sobre mecanismos de resistência aos antibióticos, relata que o uso inadequado de antibióticos, bem como o não cumprimento da prescrição ajudam à aquisição de resistências. Também preocupa um possível exagero de profilaxia, questionando-se o seu impacto na resistência antimicrobiana. Andrade, Villa e Pillon (2005) nos apontam que o alcoolismo deve ser mais valorizado pela equipe de saúde que trabalha diretamente no tratamento de pessoas com TB, buscando encontrar meios mais precisos de identificar esses pacientes e oferecer tratamento concomitante para alcoolismo após a identificação de serviços existentes na comunidade para esse fim. Toda orientação em relação ao uso das medicações 72 por esse tipo de paciente deve enfatizar que a ingestão de bebidas alcoólicas aumenta o risco para o desenvolvimento de efeitos colaterais. Para Oblitas et al. (2010), a intervenção da enfermagem é enfocada desde o desenho das políticas públicas, com base em estudos epidemiológicos, mediante a implementação de programas multissetoriais, até a assistência direta e a educação dos usuários no plano operativo. Diferentes instituições profissionais da enfermagem podem desenvolver atuação decisiva para a abordagem integral do problema, no âmbito nacional e internacional, devendo, para isso, estabelecer redes de apoio integradas às dimensões educativas, social, técnica e política. Oliveira e Luchesi (2010) lembram ainda que “o vínculo estabelecido entre os profissionais, em âmbito familiar, pode potencializar a aceitação de relação de ajuda entre profissionais e família. Por isso, faz-se necessária a capacitação de Enfermeiros, para a identificação e manejo de problemas relacionados ao álcool já no nível de atenção básica”. Para Lima, Braga e Gubert (2010), o enfermeiro deve considerar a inclusão da família do alcoolista em suas intervenções, aproximando-se de seus membros por meio de ações educativas e visitas domiciliárias, haja vista que o apoio social promove autonomia dos sujeitos diante dos processos sobre seu estado de saúde. Para França e Siqueira (2011) é imprescindível que ocorra a motivação para a mudança, isto é, o estado de prontidão ou vontade de mudar como estratégia fundamental para a continuação no novo comportamento, uma vez que a motivação permeia todo o processo de mudança. É papel do enfermeiro atuar como facilitador do processo de mudança, ao mostrar para o sujeito a possibilidade que ele tem de recomeçar, e incentivá-lo a fim de que ele encontre motivos para trilhar um novo caminho. 3 Conclusão Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, em 2012, em nível mundial, 3,6% dos casos de tuberculose e 20% dos casos de retratamento da doença correspondiam a TBMR. Segundo o mesmo relatório, 9,6% dos casos de TBMR são TBXDR, modalidade notificada em 94 países. No Brasil, 500 casos novos de TBMDR foram notificados em 2013, correspondendo à aproximadamente 0,7% do total de casos de tuberculose notificados em território nacional. Embora os números não sejam tão elevados, a situação é preocupante, pois o diagnóstico de tuberculose multirresistente aumenta o custo, a toxicidade e o tempo do tratamento, além de diminuir as probabilidades de cura, em comparação com esquemas usados na tuberculose multissensível. Neste estudo, não identificamos relação direta entre o alcoolismo e o desenvolvimento da resistência bacteriana aos medicamentos utilizados no tratamento da TB. No entanto, evidenciaram-se exaustivamente índices aumentados de não Ensaios Cienc., Cienc. Biol. Agrar. Saúde, v.19, n.2, p. 65-74, 2015 BATISTA, I.A.M. et al. adesão e abandono do tratamento entre pacientes alcoolistas, estes sim, comprovadamente, constituem-se em fatores de risco importantes para o desenvolvimento da Tuberculose Resistente. Comprovou-se também que o alcoolismo, por favorecer comprometimento imunológico e nutricional, constitui-se em importante fator de risco para a contaminação e adoecimento por Tuberculose, seja na sua forma multissensível, seja na forma multirresistente. O alcoolismo é uma doença crônica, que tem fatores genéticos, psicossociais e ambientais influenciando seu desenvolvimento e suas manifestações. Diante do impacto causado pelo alcoolismo à saúde individual e coletiva, torna-se imprescindível que o enfermeiro busque novos saberes acerca dessa problemática, o que lhe propiciará a oportunidade de prestar uma assistência mais eficiente e eficaz a esta clientela específica. O enfermeiro desempenha papel de grande relevância no Programa Nacional de Controle da Tuberculose, cabendo a ele, como líder da Equipe de Saúde, organizar e cumprir as recomendações do Ministério da Saúde, desde o diagnóstico até o encerramento do caso. Um grande avanço no tratamento da tuberculose, que deve ser adotado pelo Enfermeiro como ferramenta de apoio, foi a estratégia DOTS comprovadamente efetiva na ampliação de adesão ao tratamento e na redução das taxas de abandono. A tuberculose ocorre preponderantemente nas populações vulneráveis, como no caso dos alcoolistas, nosso objeto de estudo. A Enfermagem, em sua filosofia, busca contribuir para que a pessoa, sujeito da sua atenção, possa alcançar nível de qualidade de vida adequado, tornando-se necessária uma avaliação completa dessa clientela (estado nutricional, hábitos alimentares, estilos de vida, situação socioeconômica) para planejamento das intervenções a serem implementadas com enfoque integral: biológico, social e cultural. O enfermeiro necessita, ainda, ampliar sua atuação para além do plano assistencial, realizando atividades educativas nos casos em que o tratamento já tenha sido completado e nos casos em que houve o abandono do tratamento, oferecendo informações e resgatando os potenciais abandonos. Educação em saúde é um leque de conhecimentos práticos, cujo objetivo é integrar os vários saberes (científico, popular e do senso comum), facilitando aos sujeitos envolvidos uma visão ampla e critica, para uma maior participação com responsabilidade e autonomia. No primeiro atendimento, o enfermeiro pode identificar problemas associados ao consumo de álcool e deve estar atento às queixas do paciente, identificando os padrões de consumo da bebida. Deve-se viabilizar a comunicação entre profissionais da saúde e os usuários do serviço para o desenvolvimento das ações de saúde. Ainda hoje, grande parte dos profissionais de saúde desenvolve processo educativo de forma imperativa. É imprescindível, no entanto, que, nesse Ensaios Cienc., Cienc. Biol. Agrar. Saúde, v.19, n.2, p. 65-74, 2015 processo, ocorra a motivação para a mudança, favorecendo o desenvolvimento da autonomia. Nesse sentido, as ações existentes devem ser integrais, sendo que as intervenções devem ser entendidas e executadas com essa visão por todos os profissionais envolvidos, desde gestores até os profissionais do nível operativo. Referências ANDERSEN, P.; DOHERTY, T.M. The success and failure of BCG: implications for a novel tuberculosis vaccine. Nature, v.3 2005. ANDERSON, L.; DIBLLE, M.V.; TURKKI, P.R. Nutrição. São Paulo: Guanabara, 1988. ANDRADE, R.L.P.; VILLA, T.C.S.; PILLON, S. A influência do alcoolismo no prognóstico e tratamento da tuberculose. Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog., v.1, n.1, 2005. AUGUSTO, C.J. Características da tuberculose no estado de Minas Gerais entre 2002 e 2009. J. Bras. Pneumol., v.39, n.3, 2013 BAPTISTA, M.G.F.M. 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