a equipe de enfermagem frente aos riscos ocupacionais

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SAÚDE DO TRABALHADOR: A EQUIPE DE ENFERMAGEM FRENTE AOS
RISCOS OCUPACIONAIS EM UMA UNIDADE DE HEMODIÁLISE
WORKER'S HEALTH: THE NURSING TEAM IN LIGHT OF OCCUPATIONAL
HAZARDS OF A HEMODIALYSIS UNIT
Carla Fernanda Barbosa
Discente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário de Anápolis – UniEVANGÉLICA.
[email protected]
Giselle Silva Alves
Discente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário de Anápolis – UniEVANGÉLICA.
[email protected]
Luciano Ramos de Lima
Enfermeiro. Mestre em Enfermagem-UFG, Especialista em UTI-EEUFMG. Professor adjunto do
Curso de Enfermagem do Centro Universitário de Anápolis – UniEVANGÉLICA.
[email protected]
Karla Prado de Souza Cruvinel
Enfermeira. Mestre em
[email protected]
Medicina
Tropical-UFG
(Área
de
concentração:
Microbiologia).
RESUMO
Os trabalhadores da saúde que atuam em unidades de hemodiálise se encontram constantemente
expostos a diversas situações de riscos ocupacionais devido à complexidade do setor e ao contato
próximo e frequente com os fluidos orgânicos. Sabe-se que nessas unidades o profissional trabalha
diretamente com pacientes portadores de patologias infecto-contagiosas, podendo implicar na
transmissão de doenças crônicas e letais. Mediante o fato que o risco biológico é o de maior
destaque e preocupação entre os profissionais das unidades de hemodiálise, esse estudo teve como
objetivo descrever a percepção dos trabalhadores da equipe de enfermagem a respeito dos riscos
biológicos a que estão expostos em uma unidade de hemodiálise. A amostra foi composta por 11
profissionais da equipe de enfermagem, que responderam a uma entrevista estruturada. Da análise
das falas dos sujeitos, emergiram três categorias temáticas que permitiram constatar o conhecimento
destes profissionais de enfermagem mediante os riscos biológicos a que estão expostos, bem como a
necessidade do uso de equipamentos de proteção individual (EPI’S). Os dados também apontam a
fragilidade dos conhecimentos destes profissionais para as condutas a serem adotadas mediante a
ocorrência de acidentes ocupacionais relacionados à exposição a fluidos corpóreos. Por fim, trazem à
tona a reflexão/aprendizado desses trabalhadores, considerando suas vivências com acidentes
envolvendo materiais biológicos no ambiente hemodialítico. Portanto se faz necessário investir em
educação do trabalhador de enfermagem que atua no setor de hemodiálise, voltada para uma visão
prevencionista relacionado aos riscos ocupacionais em que estão expostos.
PALAVRAS- CHAVE: Saúde do Trabalhador. Biossegurança. Risco Ocupacional. Unidade de
Hemodiálise.
ABSTRACT
The health of workers with responsibilities in hemodialysis units are constantly exposed to different
occupational risk situations due to the complexity of the sector and the close and frequent contact with
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body fluids. It is known that in these units the professionals work in direct contact with patients having
infectious-contagious pathologies, which may imply in the transmission of chronic and lethal diseases.
Because of the fact that the biohazard is the most prominent and a concern among those working in
the hemodialysis units, this study aimed todescribe the perception of the nursing staff regarding the
biological risks to which they are exposed in a hemodialysis unit. The sample consisted of 11
professionals of the nursing staff who answered a structured interview. From the analysis of what the
subjects said arose three themes that gave evidence of the knowledge of these nursing professionals
regarding the biological risks to which they are exposed, as well as the need for using PPEs. The data
also point to the fragility of the knowledge of these professionals about the actions to be taken in the
case of occupational accidents occurring related to exposure to body fluids. And lastly, it brings up the
reflection/lessons learned of these workers considering their experience with accidents involving
biological materials in a hemodialysis environment. Therefore it is necessary to invest in the education
of nursing staff who work in the hemodialysis area with a focus on a preventative vision related to the
occupational hazards that they are exposed.
KEY WORDS: Occupational Health, Biosafety, Occupational Risk, Hemodialysis Unit.
INTRODUÇÃO
A equipe de enfermagem constitui a maior representatividade de pessoal
dentro do hospital, e sua atividade primordial caracteriza-se na promoção,
prevenção e recuperação da saúde de um número elevado de pessoas (SILVA;
ZEITOUNE, 2009). Os trabalhadores da saúde que atuam em unidades de
hemodiálise se encontram constantemente expostos a diversas situações de riscos
ocupacionais devido à complexidade do setor e ao contato próximo e frequente com
fluidos orgânicos, muitas vezes de pacientes portadores de microrganismos
veiculados pelo sangue, podendo implicar na transmissão de doenças crônicas e
letais (SILVA; ZEITOUNE, 2009).
Devido às baixas remunerações, em muitos casos, os trabalhadores de
enfermagem atuam em dois ou mais empregos, resultando em uma sobrecarga de
trabalho (RITTER; STUMM; KIRCHER, 2009). Em consequência, esses profissionais
podem estar expostos a fortes pressões físico-emocionais e a baixa atenção ao
trabalho, situações essas que somadas as condições de segurança inadequadas no
trabalho, podem ser responsáveis por acidentes de trabalho e doenças
ocupacionais, as quais podem levar a incapacidade temporária ou definitiva do
trabalhador. Daí a importância desses trabalhadores aprenderem a cuidar de si,
evitando e/ou reduzindo os danos desta ocupação e, consequentemente,
preservando a saúde, com condições plenas de proporcionar uma assistência
adequada aos usuários (RITTER; STUMM; KIRCHER, 2009).
Na Portaria nº 3.214 de 08 de junho de 1978, foram aprovadas as Normas
Regulamentadoras (NRs), relacionadas à Segurança e Medicina do Trabalho, que
são de observância obrigatória pelas empresas públicas e privadas. As NRs foram
criadas e ampliadas para assegurar condições ideais de trabalho através da redução
ou eliminação dos riscos existentes. A NR 32, criada no final da década de 90,
estabelece diretrizes básicas para implantação de medidas de proteção em relação
à segurança e à saúde dos trabalhadores, bem como daqueles que exercem
atividades de promoção e assistência à saúde em geral (PINHEIRO; ZEITOURE,
2008).
De acordo com a Norma Regulamentadora nº 9 (NR-9) do Ministério do
Trabalho e Emprego (MTE), consideram-se riscos ambientais os agentes físicos,
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químicos e biológicos existentes nos ambientes de trabalho, que, em função de sua
natureza, concentração ou intensidade e tempo de exposição, são capazes de
causar danos à saúde do trabalhador. O conhecimento sobre fatores de riscos tornase importante no estabelecimento de medidas para evitá-los ou corrigi-los
(BRASIL,1978).
A saúde do trabalhador pode ser entendida como o processo saúde e doença
dos grupos humanos, em sua relação com o trabalho, representando um esforço de
compreensão desse processo – como e porque ocorre - e do desenvolvimento de
alternativas de intervenção que levem à transformação em direção à apropriação
pelos trabalhadores, da dimensão humana do trabalho, numa perspectiva teleológica
(MENDES; DIAS, 1991).
Os riscos biológicos ocupam lugar de destaque sobre os demais riscos
ocupacionais na unidade de hemodiálise, expondo perigos ao trabalhador de
enfermagem. Tais riscos são definidos como aqueles causados por microrganismos
patogênicos como bactérias, fungos e vírus, que são capazes de desencadear
doenças devido à contaminação e pela própria natureza do trabalho (BRASIL, 1978).
De acordo com Silva e Zeitoune (2009) a exposição aos riscos biológicos é
preocupante, uma vez que são causadores de muitos problemas de saúde dos
trabalhadores, pois ao executarem atividades que envolvem o cuidado direto e
indireto aos pacientes, estão frequentemente expostos às infecções transmitidas por
microrganismos presentes no sangue ou outros fluidos orgânicos. O risco químico
também é considerado importante no setor de hemodiálise, pois os trabalhadores
permanecem em contato diário com uma série de substâncias químicas como o
hipoclorito de sódio a 2% e o proxitane, usados para desinfecção das máquinas de
hemodiálise e esterilização dos dialisadores.
Diante disso a adoção de medidas de biossegurança é, de fato, muito
importante para que haja uma prevenção efetiva de acidentes e doenças
ocupacionais advindas dos riscos biológicos. Para isso o uso de equipamentos de
proteção individual (EPI) como máscaras, gorro, óculos, capote e botas torna-se
obrigatório a todos os trabalhadores (SILVA; ZEITOUNE, 2009).
O acidente de trabalho é caracterizado como aquele que advém do exercício
do trabalho provocando lesão corporal que pode levar a morte, perda ou diminuição
transitória ou permanente da capacidade funcional (PAULINO; LOPES; ROLIM,
2008). Estes acidentes representam um grave problema nas instituições de saúde
em geral e a equipe de enfermagem identifica-se em diversas situações de risco em
consequência da rotina de procedimentos constantes, exposição a fatores químicos,
físicos, mecânicos, biológicos, ergonômicos e até mesmo os psicossociais que com
o passar do tempo podem desencadear doenças ocupacionais e acidentes de
trabalho. Os acidentes que envolvem perfurocortantes, principalmente agulhas, são
alguns dos principais problemas para aquisição de infecções, pois são responsáveis
pela maioria das transmissões de doenças infecciosas entre os profissionais da
saúde (ALMEIDA et al., 2009).
Os acidentes de trabalho e as doenças ocupacionais manifestam-se em
consequência da utilização ou não das medidas de proteção e segurança de acordo
com o tipo de trabalho exercido. É importante refletir sobre o treinamento e a
educação do trabalhador, resgatando aspectos de promoção da saúde e prevenção
de doenças, tendo que a prevenção das exposições ao sangue ou a outros materiais
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biológicos é a principal e mais eficaz medida para evitar a transmissão de doenças
por meio desses fluidos.
É estimado pela Organização Internacional do Trabalho-OIT (2011) que entre
os anos de 2003 e 2008 o número de enfermidades mortais relacionadas aos
acidentes de trabalho aumentaram de 1,95 milhão para 2,02 milhões. Isto equivale a
uma média de mais de 6.300 mortes diárias relacionadas com o trabalho e cerca de
317 milhões de trabalhadores feridos em acidentes de trabalho a cada ano,
representando uma média de cerca de 850.000 lesões diárias.
O objetivo desse estudo foi descrever a percepção dos trabalhadores da
equipe de enfermagem a respeito dos riscos biológicos de uma unidade de
hemodiálise em uma cidade do interior de Goiás.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo do tipo descritivo com uma abordagem qualitativa. A
pesquisa foi realizada em uma unidade de hemodiálise em um município do interior
do Estado de Goiás. A clínica de diálise possui um total de 31 trabalhadores na
equipe de enfermagem, sendo 27 técnicos e quatro enfermeiros. O setor conta com
30 máquinas dialisadoras e trabalha com dois turnos de seis horas diárias cada um.
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa com seres Humanos
(CEP) do Centro Universitário de Anápolis – UniEVANGÉLICA, através do Parecer
Consubstanciado nº 0012/2011. A pesquisa seguiu critérios de confidencialidades,
sigilo, fidedignidade e anonimato dos sujeitos conforme as orientações da Resolução
196/96 do Conselho Nacional de Saúde sobre pesquisa com seres humanos.
A amostragem foi do tipo não probabilística, por conveniência, composta por 11
profissionais de Enfermagem, sendo 27 técnicos e quatro enfermeiros. Inicialmente
os sujeitos foram convidados a participar da pesquisa, sendo que aqueles que
aceitaram efetivaram o aceite através da assinatura do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE). Foram incluídos na pesquisa os profissionais que atuam
na instituição estudada no setor de hemodiálise há pelo menos seis meses e com
idade igual ou superior a 18 anos.
O instrumento de coleta de dados foi composto por questões abertas e
fechadas e adotou-se um roteiro para entrevista estruturada com dez perguntas
padronizadas focalizadas nas questões norteadoras para a análise de conteúdo, que
foram respondidas pelos participantes através da escrita. A coleta de dados foi
realizada entre os meses de abril e maio de 2011.
Após a coleta dos dados, todo o material obtido foi analisado, com a finalidade
de retirar das informações toda a validade e qualidade, abstraindo com exatidão
toda sua essência.
A análise dos dados foi realizada através de leituras repetitivas das narrativas
com a finalidade de realizar uma busca mais profunda das respostas dos sujeitos,
para uma melhor analise de conteúdo das falas (MINAYO, 1994). Deste modo foi
possível fazer a ordenação dos dados onde os sujeitos foram agrupados de acordo
com a ordem das perguntas seguidos de suas respectivas respostas, e a
classificação dos dados, de onde surgiu a formulação de três categorias temáticas
definidas para uma análise final (BARDIN, 1977).
A apresentação juntamente com a análise e a interpretação dos resultados foi
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formulada com a finalidade de responder os objetivos do estudo. Os relatos dos
sujeitos foram submetidas à análise temática passando por três etapas: inicialmente
a pré-análise onde foi realizada a organização do material e leitura flutuante das
falas, posteriormente a descrição analítica onde foram realizadas leituras exaustivas
das falas com a descrição dos achados; e por fim a análise inferencial onde os
dados foram organizados e categorizados (BARDIN, 1977).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Das falas dos sujeitos, emergiram três categorias temáticas que estão descritas
adiante.
O vivido e o observado: relatos de acidentes com materiais biológicos
Para a primeira categoria identificou-se os seguintes núcleos de sentido:
acidentes ocupacionais relacionados ao manuseio de perfurocortante e acidentes
relacionados a outros procedimentos de rotina. Os sujeitos do estudo relatam sobre
experiências que sofreram ou presenciaram durante ocorrência de acidentes
ocupacionais relacionados ao manuseio de materiais perfurocortantes ou a
procedimentos de rotina que envolvesse material biológico. Embora a tentativa fosse
explorar todas as formas de acidentes ocupacionais presente na instituição, notouse que a grande maioria dos profissionais estudados associaram acidentes
ocupacionais apenas com aqueles que envolviam material biológico e/ou material
perfurocortante, como se pode observar nos relatos a seguir:
Eu já sofri um acidente com perfurocortante, quando fui colher sangue de
um paciente para exame acabei perfurando minha mão acidentalmente,
com a seringa cheia de sangue. Sujeito 1.
Eu mesma participei de um acidente, durante um procedimento com
perfurocortante, perguntei se minha colega precisava de ajuda, ao virar para
o lado com uma agulha na mão, acabei contaminando esta colega com um
furo no bumbum. Sujeito 3.
Eu já presenciei um acidente como espectadora. Uma funcionária ao
término do curativo de um paciente saiu com as agulhas na mão procurando
um galão (descartex) e no caminho furou as nádegas de uma colega.
Sujeito 7.
Eu já sofri um acidente, na hora de devolver o sangue do paciente, uma
linha venosa se rompeu e espirou sangue para todo o lado, ao espirrar caiu
sangue para todo lado inclusive embaixo da viseira atingindo meus olhos.
Sujeito 10.
Os participantes demonstram ter sofrido ou presenciado acidentes
ocupacionais com material biológico, especificamente com sangue, através da via
percutânea e mucosa. Ciorlia e Zanetta (2004) ao realizarem uma pesquisa no
Hospital de Base de São José do Rio Preto constataram que o material biológico
mais frequentemente envolvido nos acidentes foi o sangue com 70,2% dos casos,
seguido pelos demais fluidos corpóreos com 20%.
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Gomes et al. (2009) relataram que na maioria dos acidentes ocorridos, a
agulha com lúmem foi o objeto causador. As situações mais frequentes de
ocorrência foram na punção vascular, seguida pela administração de medicamentos.
Verificou-se também que a maioria dos profissionais usavam Equipamentos de
Proteção Individual (EPI) no momento do acidente.
Durante a entrevista aos sujeitos, pode-se notar o conhecimento dos
profissionais acerca dos riscos ocupacionais aos quais estão expostos e a
consciência da importância do uso dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI's).
Porém mesmo cientes de tal importância, alguns sujeitos desconsideram o uso dos
EPI's, justificando como motivos de não adesão a falta de costume, incômodo
durante os procedimentos de rotina e a sobrecarga de trabalho.
Estamos correndo riscos em quase todos os procedimentos que realizamos.
Ex: Punção venosa, curativos e paracentese. A instituição disponibiliza:
Luvas, viseiras, óculos, avental, máscaras e jaleco. Tenho dificuldade de
usar a viseira e a máscara porque incomodam e por falta de costume.
Sujeito 1.
A clínica disponibiliza os EPI’s. Sempre utilizo alguns para minha proteção.
Os que uso todos os dias são as luvas e a viseira. O que tenho maior
dificuldade para usar é a viseira, pois sempre me atrapalha na punção das
fístulas. Sujeito 5.
Estamos expostos a situações de riscos biológicos durante o contato com o
sangue dos pacientes. Sempre utilizo os EPI’s porque é norma da empresa
e também um meio para me proteger. O que tenho maior dificuldade para
utilizar é o óculos porque me da tontura. Sujeito 6.
Nem sempre utilizo os EPI’s devido o tempo corrido. Não tem nenhum que é
difícil para usar. Simplesmente é a correria. Sujeito 8.
No estudo de Nishide e Benatti (2004) as máscaras e o avental eram utilizados
pela maioria dos trabalhadores. Entre os entrevistados nesse estudo que nem
sempre utilizam as máscaras (40%) e o avental (55%), o motivo principal de tal
negligência foi a falta de hábito/disciplina. Segundo Nishide e Benatti (2004), esses
motivos retratam a não valorização e a falta de conscientização sobre o uso de EPI
como fator de proteção para os trabalhadores.
Almeida, Pagliuca e Leite (2005) destacam que a proteção e o cuidado do
profissional consigo mesmo são fundamentais. Deve-se considerar que todos os
pacientes são potenciais portadores de hepatite B, do vírus HIV, ou outros
patógenos. Assim, os trabalhadores devem exercitar-se ininterruptamente no uso
dos EPI’s, sendo essencial para o bem-estar e a saúde do trabalhador, além da
adoção de medidas de proteção e barreira no caso de exposições de pele e
mucosas ao sangue, ou outros líquidos corporais, como também durante
procedimentos invasivos. Nesses casos, faz-se necessário o uso de protetores para
os olhos, rosto, cabeça e membros.
Balsamo e Felli (2006) enfatizam que de fato a aplicação das precauções não é
suficiente para garantir as medidas de prevenção, devendo fazer parte das
estratégias as reflexões a respeito das mudanças de comportamento e as causas
dos acidentes. Enfatiza-se que a não-adesão ou a baixa adesão às recomendações
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da utilização de barreiras de proteção é uma realidade, o que leva à indagação
sobre outros fatores que podem estar contribuindo para este tipo de comportamento.
A manipulação de artigos contaminados por fluidos corpóreos é fato na
profissão dos trabalhadores de enfermagem. Isso deve-se pelo contato contínuo
com os pacientes, o que demanda o uso de EPI’s de forma sistemática e correta,
visando eliminar os riscos de ocorrência dos acidentes biológicos.
Balsamo e Felli (2006) destacam que os acidentes ocorrem
predominantemente no ato inadequado da realização do procedimento, onde as
situações em que o comportamento do trabalhador foi, em parte, o responsável pelo
desencadeamento do acidente. Seguidos pela proporção dos acidentes que ocorrem
durante o procedimento, os que estão relacionados à atividade propriamente dita,
onde a imprevisibilidade esteve presente.
No estudo de Alves, Joanir e Tocantins (2009) em um hospital municipal do Rio
de Janeiro, observou-se que para a prevenção de acidentes durante o desempenho
das atividades de enfermagem com material perfurocortante, a atenção foi
considerada a mais importante pelos pesquisados (54%), o uso de EPI/luvas (48%)
e o uso da técnica correta (21%).
Maia, Maia e Cruvinel (2011) ao avaliarem as principais vias de transmissão
das hepatites B e C e os grupos mais vulneráveis a essas infecções, alertaram que
os profissionais da saúde estão relacionados em várias pesquisas como população
exposta ao risco de contrair os vírus da hepatite B e/ou C, devido ao risco
ocupacional advindo das próprias atividades da profissão. Também apontaram o
déficit de conhecimento sobre as formas de transmissão das mesmas, evidenciado
nos acadêmicos da área de saúde e profissionais que já atuam nesta área.
O conhecimento teórico sobre os riscos ocupacionais, em especial àquelas
envolvendo material biológico, e as formas de prevenção a estes são de grande
valia, porém a atenção durante a manipulação de material biológico e a educação
contínua a respeito dos riscos são de grande relevância para a promoção da saúde
dos trabalhadores de enfermagem. Somados a isso, destaca-se a importância da
Educação continuada dos trabalhadores abordando a temática ocupacional,
especialmente em unidades de alto risco como o setor de hemodiálise.
Condutas frente a ocorrência de acidentes ocupacionais com material
biológico
Esta categoria surgiu a partir dos relatos dos sujeitos que emergiram três
pontos de condutas utilizados pelos profissionais frente aos acidentes ocupacionais
que foram: condutas relacionadas aos cuidados locais, condutas relacionadas a
profilaxia e relacionadas a comunicação do acidente mediante a hierarquia da
Instituição.
O Ministério da Saúde disponibiliza protocolos com o objetivo de sistematizar o
atendimento a vítimas de acidentes biológicos, nos diferentes níveis de
complexidade. Este atendimento deve estar organizado de forma que permita o
diagnóstico, notificação da exposição a material biológico, além de condutas e
medidas preventivas, prioritariamente na transmissão do vírus da imunodeficiência
humana (HIV), do vírus da hepatite B (HBV) e do vírus da hepatite C (HCV)
(BRASIL, 2006).
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Pinheiro e Zeitoune (2008) demonstraram que 59,1% dos pesquisados tinham
conhecimento de como proceder em caso de acidente com perfuro cortante e 40,9%
não tinham esse conhecimento. Os dados assemelham-se ao presente estudo, uma
vez que os relatos a seguir mostram um conhecimento genérico por parte dos
profissionais da Unidade de Hemodiálise estudada, a respeito das condutas a serem
tomadas diante da ocorrência de acidentes com material biológico. Poucos foram os
relatos que deixaram transparecer segurança nas condutas a serem tomadas no
caso de acidentes.
Na mesma hora fui comunicar com a enfermeira chefe, antes de comunicar
passei uma gaze com álcool no local. Sujeito 3.
Ao acidentar-se a pessoa precisa tomar as medidas necessárias que é
Fazer os exames. Sujeito 4.
Frente ao acidente com o material biológico deve-se comunicar a chefia e
fazer os devidos exames. Sujeito 5.
Diante de acidentes com material biológico a conduta dever ser encaminhar
ao laboratório. Sujeito 8.
Através dos relatos pode-se observar que, para eles as condutas relacionadas
a exposição a material biológico implicam-se em comunicar a chefia de enfermagem
e realizar exames para profilaxia.
De acordo com o protocolo de atendimento do Ministério da Saúde (BRASIL,
2006) mediante exposição ao material biológico, recomenda-se os cuidados com a
área exposta, tais como a lavagem do local com água e sabão nos casos de
exposição percutânea ou cutânea, e no caso de exposição da mucosa deve-se
utilizar água ou solução fisiológica salina. Deve-se identificar o material biológico
envolvido, buscando conhecer a fonte, caracterizando-a como infectada, se exposta
a situação de risco ou desconhecida. Em caso de fonte conhecida, mas sem
informação de seu status sorológico, é necessário orientar o profissional acidentado
sobre a importância da realização dos exames para o Antígeno de Superfície da
Hepatite B (HBsAg), Anticorpo do core da Hepatite B (Anti-HBc) em suas frações
Total e IgM, anticorpo para o Vírus da Hepatite C (Anti-HCV), e anticorpo para o HIV
(Anti-HIV) 1 e 2 , além do teste rápido para HIV. Quando a fonte é desconhecida
deve-se levar em conta a probabilidade clínica e epidemiológica de infecção pelo
HIV, HCV, HBV, identificando suas prevalências de infecção na população, local
onde o material perfurante foi encontrado (emergência, bloco cirúrgico e diálise),
procedimento ao qual ele esteve associado, presença ou não de sangue.
Mello et al. (2007) ao avaliarem um centro de diálise em Recife, buscaram
estimar a soroprevalência da infecção pelo vírus da hepatite C em 250 pacientes
submetidos a hemodiálise. A prevalência do HCV aumenta de acordo com o tempo
de hemodiálise, sendo que a positividade de anti-HCV de 14% em pacientes com
cinco anos ou mais de tratamento e 5,1% com menos de cinco anos. Tendo em vista
que os trabalhadores de saúde têm contato direto com os pacientes hemodialíticos
ao realizarem os procedimentos de rotina e considerando os resultados encontrados
por Mello et al. (2007), pode-se concluir que o setor de hemodiálise oferece riscos
de acidentes e agravos ocupacionais importantes aos trabalhadores de saúde,
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portanto é importante que essas unidades, disponibilizem informações e
treinamentos para prevenção de acidentes e maiores consequências aos
trabalhadores, uma vez que estes são de sua responsabilidade.
O protocolo de atendimento do Ministério da saúde disponibiliza orientações e
aconselhamentos ao acidentado em relação: ao risco do acidente, o possível uso de
quimioprofilaxia, a necessidade do consentimento para realização de exames
sorológicos, comprometimento do acidentado com seu acompanhamento durante
seis meses e a importância de observar sintomas sugestivos de soroconversão
aguda. Além de informações sobre o registro do acidente em Comunicação de
Acidente de Trabalho (CAT) e preenchimento da ficha de notificação do Sistema de
Informação de Agravos de Notificação-SINAN (BRASIL, 2006).
Alguns participantes demonstraram um maior conhecimento em relação a
temática como pode-se observar nas falas:
As condutas diante de acidente com material biológico devem ser: Lavar
com água e sabão em água corrente, notificar, comunicar ao Enfermeiro
responsável para encaminhar a fazer exames e acompanhar o paciente
enquanto puder. Sujeito 1.
As condutas ao acidenta-se com material biológico são: Primeiramente
comunicar o responsável pela empresa, e fazer todos os exames
adequados e se limpar rapidamente. Sujeito 6.
Após o acidente com material biológico lavamos com água e sabão o local
afetado e encaminhamos para fazer o teste rápido de HIV, hepatite B e C.
Sujeito 7.
Em caso de acidente com material biológico deve-se relatar ao superior,
fazer a notificação, avaliar a situação do paciente se for o caso: realizar
teste rápido e conforme resultado iniciar medidas cabíveis. Sujeito 11.
Evitar o acidente por exposição ocupacional é um caminho importante para
prevenir a transmissão de microorganismos veiculados pelo sangue. Entretanto, a
realização das condutas adequadas pós-exposição ao material biológico é
fundamental para a minimização de complicações provenientes destas. Portanto,
julga-se necessária a realização de treinamentos contínuos visando atualização e
enriquecimento dos conhecimentos dos profissionais do setor quanto a essas
condutas, objetivando minimizar as consequências advindas da exposição
ocupacional.
Para controle e diminuição da ocorrência de acidentes e doenças ocupacionais,
torna-se imprescindível a realização de educação em saúde para todos os
trabalhadores envolvidos com o setor. A educação, no ambiente de trabalho, serve
de suporte para que os trabalhadores possam desempenhar suas funções com mais
segurança e qualidade, constituindo-se uma exigência de todos os serviços de
assistência à saúde (ALAM; CEZAR-VAZ; ALMEIDA, 2005).
O aprendizado com o infortúnio: reflexões mediante os acidentes biológicos
Os medos relacionados a possibilidade de contaminação; as reflexões dos
sujeitos relacionados a atenção durante o cuidado prestado ao cliente; e aqueles
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relacionados ao uso de EPI’s foram os núcleos de sentido que emergiram para a
construção da terceira categoria temática desse estudo. A vivência do acidente
ocupacional com exposição a material biológico, seja como vítima ou expectador,
desperta nos trabalhadores de enfermagem um momento de reflexão a respeito das
consequências provenientes destes.
Fiquei desesperada, mesmo sabendo que era uma paciente que não
apresentava risco diagnosticados, me assustei muito porque a seringa
estava cheia de sangue e eu não estava com luvas no momento do
acidente. Sujeito 1.
Fiquei assustada, pensei que tinha me contaminado, mas o paciente não
tinha nenhuma doença contagiosa. Sujeito 3.
Me preocupei. Hoje eu imagino o que esta amiga está passando com a
doença ocupacional que adquiriu com o acidente. Sujeito 8.
Eu pensei que poderia ter adquirido alguma doença. Na hora, a gente fica
muito nervoso, você só consegue pensar que pode ter se contaminado. E
depois refletimos o quanto nossa profissão é arriscada, pois qualquer erro
pode ser fatal. Sujeito 10.
Com certeza no momento fiquei receoso de ter me contaminado com algum
agente biológico. E com certeza posterior a gente fica mais atento.
Sujeito11.
Nos relatos, a crença sobre a seriedade da doença ficou evidente referida pela
percepção do grau de complexidade que uma determinada doença tem sobre o
funcionamento fisiológico, mental, psicológico e social. Os trabalhadores de
enfermagem também demonstraram o apego e a valorização da vida diante da
ameaça vivenciada ou assistida, após uma reflexão maior, a cautela e a atenção
tornam-se uma das atitudes que acabam fazendo parte do cotidiano das atividades
dos trabalhadores que vivenciaram ou presenciaram a ocorrência de acidentes
ocupacionais. Tais reflexões levam os profissionais de enfermagem a rever suas
ações e postura com enfoque de garantir uma maior segurança em suas atividades.
Sarquis et al. (2004) em um estudo realizado em uma Unidade de Saúde do
trabalhador em Curitiba, detectaram os sentimentos dos trabalhadores diante de
acidentes ocupacionais envolvendo material biológico. O estudo demonstrou que os
sentimentos vividos pelos profissionais no momento da exposição vão além da
interrupção da integridade física ou respingo em mucosas. Os participantes
expressaram sentimentos muito profundos como o medo de perder o emprego;
preocupação em relação a possibilidade de transmissão das patologias para entes
queridos; seguidos pela indecisão de partilhar ou não o fato do acidente com a
família alegando que as recomendações podem desencadear conflitos familiares e
conjugais, por exemplo o uso de preservativo nas relações sexuais. Também
destacaram a raiva, revolta e culpa pelo desencadeamento do acidente. Os
avaliados demonstraram que esses sentimentos são capazes de alterar o convívio
social, a integridade moral e a dinâmica familiar, com a possível chance de adoecer
pelo vírus HIV, HVB e HCV. Os autores destacaram que os sentimentos de medo,
insegurança e culpa após a exposição ocupacional, são gerados pelas condições de
trabalho e constituem cargas psíquicas que levam ao comprometimento mental.
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Sarquis et al. (2004) e Prado et al. (1999), relatam que além do risco da
transmissão do vírus HIV, o acidente de trabalho causado por exposição a material
biológico é preocupante também pela possibilidade de transmissão dos vírus da
Hepatite B (vírus HBV) e Hepatite C (vírus HCV). Sailer e Marziale (2007) relatam
que além das infecções, os acidentes com exposição a material biológico afetam
psicológica e emocionalmente o trabalhador acidentado devido à espera dos
resultados dos testes sorológicos e a possibilidade de soroconversão.
Com a experiência dos anos de trabalho, profissionais do setor de enfermagem
normalmente realizam atividades de maior risco. Isso pode contribuir para que haja
maior exposição a situações de risco de acidentes de trabalho, sendo que as
chances em se acidentar aumentam até 4% para cada ano trabalhado (CIORLIA;
ZANETTA, 2004). Assim, torna-se imprescindível a atualização dos conhecimentos
dos profissionais de enfermagem através de capacitações, visando adesão
sistemática às precauções padrão.
No estudo de Lopes et al. (2002) realizado com 152 profissionais de nove
unidades de hemodiálise, um sujeito foi confirmado para infecção pelo vírus da
hepatite C que relatou possuir mais de cinco anos de trabalho em unidade de
hemodiálise, com ocorrência de vários acidentes com lesão percutânea, não
fazendo uso regular de EPI’s. Destacando assim, a importância das unidades de
hemodiálise na disseminação ocupacional de agravos à saúde do profissional de
enfermagem, corroborando com Alves et al. (2009), que apontam a Enfermagem
enquanto profissão de alto risco.
Segundo Sarquis et al. (2004), a implementação de campanhas educacionais
para o profissional de saúde sobre prevenção de doenças transmissíveis
nosocomiais (vacinação e o uso de equipamento de proteção individual) seriam
fundamentais para diminuir o risco de aquisição e transmissão de certas doenças
infecciosas.
Sailer e Marziale (2007) recomendam as ações que minimizem os acidentes
biológicos, uma vez que os mesmos provocam importantes mudanças nos aspectos
físicos, pessoais e emocionais.
Observa-se que entre os sujeitos avaliados, alguns vivenciaram momentos de
importante reflexão pessoal e profissional ao relembrarem de acidentes sofridos ou
presenciados durante o desenvolvimento de suas atividades em unidades de
hemodiálise. O trabalho em ambiente hemodialítico expõe os profissionais a vários
riscos ocupacionais principalmente os biológicos. E devido a correria do trabalho e
ao excesso de confiança durante o cuidado ao paciente, muitas vezes os
profissionais se esquecem dos riscos aos quais estão expostos, desprezando as
normas de biossegurança e entregando-se a desatenção. Sendo assim, julga-se
importante que o setor de trabalho proporcione momentos em que a equipe possa
partilhar suas experiências de forma a contribuir com a conscientização dos colegas
a respeito da importância da prevenção dos riscos aos quais estão expostos na
unidade de hemodiálise e as consequências provenientes destes.
CONCLUSÃO
Os resultados permitiram compreender que a maioria dos profissionais
estudados possuía conhecimento satisfatório a respeito dos riscos biológicos e
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consciência da importância do uso dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI's).
Porém mesmo cientes de tal importância, alguns sujeitos desconsideram o uso dos
EPI's, justificando como motivos de não adesão a falta de costume, incômodo
durante os procedimentos de rotina e a sobrecarga de trabalho. Em relação as
condutas diante acidentes com material biológico, o estudo mostrou um
conhecimento superficial e insuficiente dos profissionais.
Percebe-se também que ao relembrar suas vivências diante de acidentes
ocupacionais com exposição a material biológico, quer seja como vítima ou
espectador, os profissionais experimentaram momentos de profunda avaliação dos
fatos ocorridos, corroborando para a reflexão sobre os riscos ocupacionais
presentes na unidade de hemodiálise. Com evidência, os dados apontam para a
necessidade de educação do trabalhador de enfermagem dessas unidades, voltada
para uma visão prevencionista relacionada aos riscos ocupacionais a que estão
expostos.
Considerando a importância do contexto de acidentes ocupacionais e a alta
frequência de exposição dos trabalhadores de enfermagem a todos os fatores de
riscos, constata-se o quanto a saúde do profissional de enfermagem encontra-se
comprometida. Nesse contexto, o presente estudo favorece a elaboração de
medidas preventivas com relação ao risco ocupacional, como forma de promover um
declínio dos acidentes de trabalho. Este também representa um importante
instrumento para a elaboração de recursos para identificação dos riscos no ambiente
de trabalho e o incentivo ao treinamento e conscientização de práticas seguras aos
trabalhadores do setor de hemodiálise e da área da saúde em geral.
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